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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Letícia Sangaletti Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 S225c Sangaletti, Leticia. Comunicação e expressão [recurso eletrônico] / Leticia Sangaletti, Laís Virginia Alves Medeiros; [revisão técnica: Laís Virginia Alves Medeiros] . – Porto Alegre: SAGAH 2018. ISBN 978-85-9502-215-7 1. Comunicação. 2. Língua Portuguesa. I. Medeiros, Laís Virginia Alves. II. Título. CDU 81’38 Revisão técnica: Laís Virginia Alves Medeiros Mestra em Letras – Estudos da Linguagem: Teorias do Texto e do Discurso Bacharela em Letras – Habilitação Tradutora: Português e Francês Teoria da Comunicação: elementos da comunicação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os elementos que compõem um evento comunicativo. � Identificar e selecionar elementos adequados para as situações co- municativas vivenciadas no cotidiano. � Perceber os ruídos que prejudicam a efetividade de um evento comunicativo. Introdução Neste texto, você explorará as bases da Teoria da Comunicação. Assim, sua tarefa será compreender os elementos envolvidos em todo e qualquer evento comunicativo, bem como os problemas que podem interferir no processo. Esse estudo deve tornar você mais hábil tanto nos momentos de produção quanto nos de compreensão daquilo que lê e ouve. Aproveite para melhorar sua comunicação. Elementos da comunicação Enquanto processo, a comunicação é indissociável do universo em que ocorre. Afinal, qualquer ato comunicativo está ligado a tudo (SOUSA, 2006). Mas, para compreender a realidade e os atos comunicativos, diversos teóricos desenvolveram modelos dos processos comunicacionais. Esses modelos são artefatos imaginativos, criados para compreender a realidade comunicacional. Portanto, você não deve entendê-los como espelho do real. Os elementos da comunicação foram evoluindo ao longo dos tempos e por meio de estudos. O primeiro foi proposto pelo filósofo Aristóteles (século IV a.C.), que apresentou um modelo básico. Este diz que para comunicar é preciso que exista alguém para transmitir a alguém um conteúdo, ou seja, três elementos: o emissor, o receptor e o conteúdo. Para Sousa (2006), todos os modelos são incompletos e imperfeitos, pois se tratam de reconstruções intelectuais e imaginativas da realidade. O autor cita inúmeros modelos entre os que propõem o estudo dos elementos de co- municação. Além do modelo de Aristóteles, há o modelo (ou paradigma) de Lasswell (1948), o modelo de Shanon e Weaver (1949), o Newcomb (1953), o modelo de Schramm (1954) e, ainda, o modelo de Roman Jakobson (1960). Outros modelos, como o da Escola de Palo Alto e o modelo de Maletzke, também são elencados. Entre os citados, você vai conhecer melhor o modelo de Roman Jakob- son (2005). Ele é o mais recente e o mais utilizado em muitas áreas, como a literatura. O teórico construiu um modelo direcionado para o estudo da comunicação sob o prisma da linguística. Considere que o principal objetivo da linguagem é transmitir uma informa- ção para um ou mais sujeitos. Para que essa comunicação ocorra, é necessário que haja compreensão dos elementos que fazem parte do processo comunica- tivo, certo? Conforme Jakobson, tais elementos são o emissor, o receptor, o canal, a mensagem, o código e o referente. O destinador envia uma mensagem ao destinatário. Para que seja operante, a mensagem precisa de um contexto para o qual remete. Esse contexto, apreensível pelo destinatário, ora é verbal, ora é suscetível de ser verbalizado. Posteriormente, a mensagem requer um código que seja comum aos dois, no todo ou, pelo menos, em parte. Enfim, a mensagem requer um canal físico e uma conexão psicológica entre destinador e destinatário, um contato que permita o estabelecimento da comunicação. A seguir, você pode ver esses fatores esquematizados na Figura 1. Figura 1. Modelo de comunicação por Jakobson. Fonte: Jakobson (2005, p. 123). Teoria da Comunicação: elementos da comunicação14 Esses atos comunicativos podem acontecer com alguma intenção, seja ela explícita ou não. Jakobson elaborou esse esquema para mostrar como seis fatores essenciais, os chamados elementos da comunicação, operam para que a comunicação aconteça. A seguir, você pode compreender melhor cada um desses elementos: � Emissor: também conhecido como referente, é quem emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo. � Mensagem: é o objeto da comunicação e é constituída pelo conteúdo das informações. Ou seja, é o conteúdo que o emissor quer transmitir. � Canal: é a via de circulação da mensagem (voz, ondas sonoras, uma folha de papel, um blog, um livro). É o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Pode ser por ar (ao falar), jornal, televisão, revista, internet, rádio, etc. Em Publicidade e Propaganda (PP), o canal se relaciona bastante com a mídia. � Código: é o conjunto de regras, de signos e códigos utilizados para for- mar a mensagem. Para que a comunicação seja bem-sucedida, é preciso que o receptor compreenda o código usado pelo emissor. Como exemplos de código, você pode considerar: letras, idiomas, código morse, etc. � Referente: é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos aos quais a mensagem está relacionada. � Destinatário: é aquele que recebe a mensagem, também chamado de receptor; pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas. Jakobson estabeleceu que cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem. O modelo mostra que a mensagem deve contar com um contexto, ou seja, precisa se referir a algo externo a ela. O modelo acrescenta, ainda, o contato. Este representa, simultaneamente, o canal físico em que a mensagem circula e as ligações psicológicas entre destinador e destinatário. Isso quer dizer que ambos só percebem a mensagem porque dominam o mesmo código. 15Teoria da Comunicação: elementos da comunicação No modelo proposto por Jakobson, a comunicação só se realiza se o receptor decodifica a mensagem transmitida pelo emissor. Ou seja, ela só acontece se o interlocutor entende a mensagem transmitida. Por exemplo, duas pessoas que vivem em países diferentes (Brasil e Japão) e que não conhecem a língua uma da outra utilizarão códigos diferentes. Portanto, a mensagem não será inteligível para ambas, impossibilitando o processo comunicacional. Mas, se, por exemplo, um brasileiro morador do Nordeste conversa com uma pessoa que vive no Sul, por mais que haja diferenças linguísticas, a comunicação ocorre, pois a língua é a mesma (no caso, a língua portuguesa). Situações comunicativas com elementos da comunicação Os elementos da comunicação podem aparecer em diferentes situações comuni- cativas, e um elemento específico pode se evidenciar como o mais importante. A seguir, você vai ver exemplos de situações que envolvem os elementos da comunicação, de acordo com alguns autores, especialmente Vanoye (1993). Em cada uma delas, um dos elementos é o principal da situação comunicativa. Exemplo 1: o governador de Santa Catarina envia uma mensagem à po- pulação do estado por meio de um porta-voz. Nesse caso, ele seria a fonte, e o porta-voz, o emissor. Exemplo 2: um professor envia um e-mail para os alunos avisando sobre o material para a próxima aula. Aqui, emissor e fonte são a mesma pessoa. Nesses casos, o foco da situação é o emissor da mensagem. Observe que a fonte é responsável pela codificação da mensagem que será enviada. Ela pode utilizar a comunicação oral, a escrita, bem como gestos, desenhos. Martins e Zilberknop (1997, p. 24) diferenciam o emissor da fonte da mensagem. Eles consideram que, em alguns contextos comunicativos, é possível perceber que a fonte (de onde se origina a mensagem) e o emissor (quem envia a mensagem) não são a mesma pessoa. Nos dois exemplos, a população de Santa Catarina e os alunos que re- ceberam o e-mail são os receptores, responsáveis pelo recebimentoe pela decodificação da mensagem. A comunicação só ocorre efetivamente quando tiver a incidência de um comportamento verbal ou de uma atitude sobre a ação do destinatário. Isso quer dizer que, se os alunos responderem o e-mail, a comunicação será efetivada. Mas, se não responderem, você pode considerar Teoria da Comunicação: elementos da comunicação16 que o ato comunicativo ocorreu da mesma forma, já que o silêncio também é uma forma de comunicação não verbal. Em outro exemplo de situação comunicativa, o foco é na mensagem. Esta possui o conteúdo das informações que foram codificadas para transmissão. Além disso, pode ser visual, auditiva, audiovisual. Por exemplo, uma mensagem visual pode ser escrita com o alfabeto que você utiliza cotidianamente: Olá! Tudo bem com você? Ou ainda pode ser uma imagem, uma fotografia, ou mesmo um emoticon, como =) ou <3. Já a auditiva pode ser uma música, um áudio gravado por redes sociais ou pelo celular. A audiovisual pode ser um vídeo gravado pelo próprio emissor, ou retirado da TV, da internet, etc. Para enviar essa mensagem, são necessários códigos verbais ou não verbais. Quanto mais próximos emissor e receptor estiverem do repertório que ambos usam, maior será a probabilidade de a comunicação ser bem-sucedida, pois a decodificação ficará mais fácil. De acordo com Barros (2004, p. 31), “[...] códigos diferentes impedem a comunicação (a não ser que ela se estabeleça por outro código, que não o verbal, por exemplo, como ocorre na comunicação gestual entre falantes de línguas diferentes).”. O código pode passar também por uma flutuação. É quando um mesmo significante pode gerar mais de um significado. Veja o seguinte exemplo: “Bombril, bom de cozinha e bom de copa.” (CESAD, c2017) (Propaganda veiculada durante o período da Copa Mundial de 1998) Aqui, o signo “copa” remete ao espaço de uma residência, mas também está relacionado à Copa Mundial de Futebol, já que a publicidade era veiculada no período da competição. Nesse contexto, o referente é o objeto ou a situação a que a mensagem remete ou se refere. Ele pode ser situacional ou textual. 17Teoria da Comunicação: elementos da comunicação O referente situacional engloba os elementos da situação do emissor, do receptor e do contexto em que se dá a comunicação. Por exemplo: � Venha aqui em casa e traga teus cadernos para estudarmos. O termo “aqui” se refere à situação espacial, e “venha e traga”, à temporal. O uso das palavras que mostram (pronomes demonstrativos, pronomes pessoais, tempos verbais, etc.) proporciona às línguas naturais uma grande agilidade. No entanto, as frases que veiculam esses elementos só podem ser compreendidas em estreita relação com determinadas situações. Já o referente textual engloba os elementos do contexto linguístico. Ou seja, ele surge quando se faz referência aos elementos contidos no próprio texto. Por exemplo: � A garota trouxe os lápis, a borracha e a régua e os pôs sobre a escrivaninha que está no escritório. � Compre tudo o que consta na lista: tomate, alface, pepino, pimentão e repolho. O canal é o meio pelo qual o emissor enviará a mensagem codificada para que o destinatário a descodifique. É todo e qualquer elemento físico usado para levar a mensagem até o receptor. O canal pode ser: natural ou tecnológico. O primeiro trata de meios sonoros (como a voz, as ondas sonoras, o ouvido); de meios visuais (como a excitação luminosa, a percepção da retina); de meios táteis (como a mão, a pele); de meio olfativo (o nariz); e ainda de meio gustativo (a língua). Já o canal tecnológico necessita de meios criados para transmitir a mensagem, como rádio, TV, telefone, entre outros. O canal deve ser escolhido considerando: � o conteúdo da mensagem; � os tipos de mensagem (isto é, se será verbal ou não verbal); � os objetivos do remetente; � as condições de recepção da mensagem, etc. Na comunicação, é necessário utilizar um código conhecido do destinatário e usar, preferencialmente, um código fechado. Nesse sentido, se deve respeitar a bagagem cultural de quem vai receber a mensagem, além, é claro, de escolher e utilizar o veículo adequado. Certos tipos de comunicação podem se dar por meio do uso simultâneo de diferentes códigos e canais de comunicação; é o caso do cinema. Teoria da Comunicação: elementos da comunicação18 Observe a Figura 2. Nela, você pode ver o emissor (o menino que fala com a menina), a mensagem (o que ele conversa com ela), o canal (que é natural, por meio da fala), além do código (que é um conjunto de signos verbais), do referente (que é textual) e do destinatário (que é a Mafalda). Figura 2. Os elementos da comunicação em uma tirinha da Mafalda. Fonte: Branco (c2017). Para saber mais sobre outros modelos de comunicação, leia Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media (SOUSA, 2006). Ruídos na comunicação Para que haja êxito na comunicação, todos os elementos precisam funcionar. Portanto, não podem ser perturbados por alguma barreira ou obstáculo. Quando 19Teoria da Comunicação: elementos da comunicação isso acontece, se fala que há um ruído na comunicação. O ruído se trata de qualquer perturbação que impeça a mensagem de chegar devidamente ao receptor, interferindo na comunicação como um todo. As causas dessas barreiras podem ser inúmeras. Sousa (2006) explica que qualquer tipo de comunicação pode sofrer com ruídos, e, por vezes, algumas barreiras chegam a impedir a comunicação ou mesmo afetar a fluidez das trocas comunicacionais. Conforme o autor, essas barreiras podem ser (SOUSA, 2006): � Físicas, como um obstáculo entre dois interlocutores que os impede de dialogar. Por exemplo: a queda no sinal de um telefone quando se está conversando via telefonia, ou a queda da internet, quando o diálogo se dá por redes sociais. � Culturais, como o desconhecimento do código de comunicação dentro de uma cultura (saber uma língua, por exemplo, nem sempre é garantia suficiente para interpretar adequadamente uma mensagem). Por exem- plo, um morador de Portugal e uma pessoa que vive no Brasil podem não se entender, mesmo falando a língua portuguesa. Isso ocorre pois em cada cultura determinados termos significam coisas diferentes, dificultando o entendimento. � Pessoais, como a maneira de estar, de ser e de agir de cada sujeito envolvido na relação de comunicação, bem como as capacidades ou deficiências físicas pessoais que facultam ou dificultam a comunica- ção, etc. Por exemplo: uma pessoa que não sabe a língua de sinais terá dificuldades para conversar com alguém que usa a Libras. � Psicossociais, como o estatuto e o papel social que os sujeitos envolvi- dos na relação comunicacional atribuem uns aos outros. Estes marcam uma dada distância social, ou a saturação dos sujeitos envolvidos na comunicação em relação ao tema que motiva o ato comunicacional. Problemas de relacionamento podem ser um exemplo de barreira causada por questões psicossociais. Veja o exemplo na Figura 3: Teoria da Comunicação: elementos da comunicação20 Figura 3. Um ruído no sinal telefônico pode ter feito o receptor compreender errado a mensagem. Fonte: Garcia (2016). BARROS, D. L. P. A comunicação humana. In.: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística – objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2004. BRANCO, A. C. C. Figuras de linguagem. [S.l.]: Emaze, c2017. Disponível em: <https:// www.emaze.com/@AWROCQFF/figuras-de-linguagem>. Acesso em: 27 set. 2017. CESAD. Teoria da comunicação e linguística. São Cristóvão: UFS, c2017. Disponível em: <http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/13132628042015Lingu istica_Aula_11.pdf>. Acesso em: 27 set. 2017. GARCIA, R. O que é comunicação? [S.l.]: SlideShare, 2016. Disponível em: <https:// pt.slideshare.net/prof.rosegarcia/o-que-comunicao-59401908>. Acesso em: 27 set. 2017. JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005. MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português instrumental.19. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1997. SOUSA, J. P. Elementos de teoria e pesquisa da comunicação e dos media. 2. ed. Porto: UFP, 2006. VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 9. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 21Teoria da Comunicação: elementos da comunicação Conteúdo: COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Letícia Sangaletti Teoria da Comunicação: funções da linguagem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Escolher o elemento da comunicação a ser enfatizado em seus textos. Distinguir as funções da linguagem. Estabelecer a função preponderante em um texto, associando-a a intenção do emissor. Introdução Neste texto, você explorará as funções da linguagem como aprofunda- mento da Teoria da Comunicação. Assim, você deve compreender que, dependendo da intenção comunicativa, o emissor de uma mensagem enfatiza um ou outro elemento da comunicação, tendo maiores chances de obter sucesso em seu objetivo. Assim, os seis elementos da comunicação se evidenciam para a leitura e a produção de textos. E você aproveitará a oportunidade para aplicar esses novos conhecimentos à sua linguagem oral e escrita. Elementos da comunicação É impossível falar sobre funções da linguagem sem abordar os elementos da comunicação. Afi nal, cada um deles dá origem a uma função linguística. Es- ses atos comunicativos podem acontecer de maneira intuitiva ou com alguma intenção, seja ela explícita ou não. Como você pode ver na Figura 1, Jakobson (2005) elaborou um esquema para explicar como operam os seis fatores essenciais para que a comunicação se realize, os chamados elementos da comunicação: Comunicacao_Expressao_Book.indb 13 12/08/2019 09:29:52 Figura 1. Modelo de comunicação por Roman Jakobson. Fonte: Jakobson (2005, p. 123). De acordo com o modelo, a mensagem precisa de um contexto. Ou seja, deve se referir a algo externo a ela mesma. Quanto ao contato, ele representa o canal físico em que a mensagem circula e as ligações psicológicas entre destinador e destinatário. Isso significa que ambos só percebem a mensagem porque dominam o mesmo código. Veja cada um dos elementos descritos: Emissor: também conhecido como referente, é quem emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo. Mensagem: é o objeto da comunicação e é constituída pelo conteúdo das informações. Ou seja, é o conteúdo que o emissor quer transmitir. Canal: é a via de circulação da mensagem (voz, ondas sonoras, uma folha de papel, um blog, um livro). É o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Pode ser por ar (ao falar), jornal, televisão, revista, internet, rádio, etc. Código: é o conjunto de regras, de signos e códigos utilizados para formar a mensagem. Para que a comunicação seja bem-sucedida, é preciso que o receptor compreenda o código usado pelo emissor. Como exemplo de código, você pode considerar: letras, idiomas, código Morse, etc. Referente: é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos aos quais a mensagem está relacionada. Destinatário: é aquele que recebe a mensagem, também chamado de receptor; pode ser uma pessoa ou grupo de pessoas. Para Jakobson (2005), cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem, como você verá na próxima seção. Teoria da Comunicação: funções da linguagem14 Comunicacao_Expressao_Book.indb 14 12/08/2019 09:29:52 Funções da linguagem por Roman Jakobson Lev Jakubinskij, em 1916, propôs, pela primeira vez, uma teoria que di- ferenciava um sistema de linguagem prática de um sistema de linguagem poética. Um pouco mais tarde, em 1921, Jakobson afi rmou ser a poesia uma linguagem que se valia da função estética, num sentido autônomo da pala- vra sintonia. Entre os anos de 1933 e 1934, o teórico identifi cou na poesia a função poética da linguagem, que se caracteriza como palavra e sintaxe que possui peso e valor próprios. Já em 1935, o formalista russo voltou a afi rmar que o uso dominante da função poética da linguagem é da natureza da poesia, num sentido em que a linguagem se apresenta orientada para o signo enquanto tal. Anos depois, em 1960, Jakobson retomou suas teorias sobre a função estética da linguagem no estudo “Linguística e poética”, com quadro teórico baseado na Linguística Geral e na Teoria da Comunicação (ANDRADE; MEDEIROS, 1997). Então, partindo dos seis elementos, Jakobson (2005) elaborou estudos sobre as funções da linguagem, necessárias para a análise e a produção de textos. De acordo com o autor, as seis funções da linguagem são (JAKOBSON, 2005): função referencial, função emotiva, função conativa ou apelativa, função fática, função metalinguística e função poética. Em todo processo de comunicação, a linguagem é expressa de acordo com a função que se deseja enfatizar. No momento em que se estabelece uma comunicação verbal, um dos elementos apresentados prevalece e determina uma das funções. De acordo com esse modelo, a mensagem é o elo entre emissor e receptor. Desse modo, o esquema de comunicação de Jakobson (2005), se preenchido pelas funções da linguagem no lugar dos elementos, ficaria como na Figura 2. Figura 2. As funções da linguagem no esquema de Jakobson. Fonte: Jakobson (2005). 15Teoria da Comunicação: funções da linguagem Comunicacao_Expressao_Book.indb 15 12/08/2019 09:29:52 Ou seja, cada elemento comunicativo possui intrinsecamente uma função. Observe a Tabela 1: Elemento de destaque Função Emissor Emotiva Receptor Conativa Referente Referencial Código Metalinguística Canal Fática Mensagem Poética Tabela 1. Elementos comunicativos e suas funções. A seguir, você pode conhecer melhor cada uma das funções da linguagem. Função referencial: está relacionada ao referente, que é o objeto ou a situ- ação de que a mensagem trata. A função referencial privilegia justamente o referente da mensagem, buscando transmitir informações objetivas sobre este. A função referencial, voltada ao contexto, predomina nos textos de caráter científico, em textos dissertativos, técnicos e instrucionais. Além disso, é privilegiada nos textos jornalísticos, como notícias, reportagens. Exemplo (G1 RS, 2017): Começa campanha de arrecadação para projeto de Memorial às Vítimas da Kiss Publicada em 21/08/2017 às 07h01m G1/RS A construção do Memorial às Vítimas da Kiss, para lembrar dos 242 mortos no incêndio da boate em Santa Maria em 2013, terá financiamento coletivo. Teoria da Comunicação: funções da linguagem16 Comunicacao_Expressao_Book.indb 16 12/08/2019 09:29:52 A arrecadação começa nesta segunda-feira (21), com o lançamento de uma campanha para levantar os fundos. Um evento na Praça Saldanha Marinho, no centro da cidade, marcou o início da campanha pela manhã. A captação de recursos deve ocorrer até outubro. A iniciativa é da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Função emotiva: com foco no emissor, é conhecida também como função expressiva. Imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal, de sua subjetividade, como emoções, avaliações, opiniões. Ao ler o texto, o leitor sente a presença do emissor. É geralmente escrita em primeira pessoa e usa pontuações como as reticências e a exclama- ção. Como exemplos, você pode considerar: músicas, depoimentos, relatos, poesias. Exemplo (SEIXAS, 1976): Eu nasci há dez mil anos atrás (Raul Seixas) Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada Com uma cuia de esmola e uma viola na mão O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas E cantou essa música, que contava uma história Que era mais ou menos assim: Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais Função conativa ou apelativa: procura organizar o texto de forma que o emissor se imponha sobre o receptor da mensagem, com o intuito de persuadi-lo, seduzi-lo, influenciá-lo, convencê-lo, manipulá-lo. Nas mensagensem que predomina essa função, se busca envolver o leitor com o conteúdo transmitido, o levando a adotar este ou aquele com- portamento. Alguns tipos de textos que possuem a função conativa ou apelativa são as campanhas publicitárias e as campanhas políticas. Observe um exemplo na Figura 3. 17Teoria da Comunicação: funções da linguagem Comunicacao_Expressao_Book.indb 17 12/08/2019 09:29:52 Figura 3. A função apelativa tem relação estreita com a publicidade. Fonte: Caires (2010). Função fática: está ligada ao canal de comunicação. Essa função acontece quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. Normalmente, é usada quando o emissor testa o canal, com o objetivo de manter a comunicação. Exemplo: “Alô”, “Oi?”, “Entendeu?”, “Hum”. Exemplo (MENDEZ, 2010): Trecho de “Fofinhos”, de Luís Fernando Veríssimo — Alô, boneca. Silêncio — Eu topo Mais silêncio. — Como é, vamos? — O senhor quer fazer o favor de me deixar em paz? — Ah, quer dizer que o decalco aí atrás é falso? — Por favor... — O tal “Siga-me, estou indo para o motel” é papo furado, hein? Teoria da Comunicação: funções da linguagem18 Comunicacao_Expressao_Book.indb 18 12/08/2019 09:29:53 Função metalinguística: nessa função, o emissor explica um código usando o próprio código. É a mensagem sobre a mensagem. A linguagem se volta sobre si mesma, se transformando em seu próprio referente. Quando isso acontece, ocorre a função metalinguística. Como exemplo, você pode considerar: textos sobre escrita, filmes sobre a indústria cinematográfica. Exemplo (DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS ONLINE, 2017): Verbete de dicionário Língua: s.f. Sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística. Função poética: essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. Ela se expressa na estrutura da mensagem. Assim, se utiliza da criação de ritmos, rimas, trocadilhos, tonalidade, etc. A ma- nifestação da função poética da linguagem ocorre quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Como exemplo, você pode considerar poesias e campanhas publicitárias, como a da Figura 4. Figura 4. Campanha publicitária Margs com poesia. Fonte: Angelo (2013). 19Teoria da Comunicação: funções da linguagem Comunicacao_Expressao_Book.indb 19 12/08/2019 09:29:53 Mesmo que cada função esteja ligada a um elemento comunicativo, elas não são exploradas isoladamente. De modo geral, ocorre a superposição de várias delas. O que acontece é que uma se sobressai, o que permite a identificação da finalidade principal do texto. Saiba mais sobre as funções da linguagem em Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação (INFANTE, 1998). Intenções do emissor Considerando o arcabouço teórico de Roman Jakobson (2005), você certamente já compreendeu que todo evento comunicativo se constitui por um emissor, que tem o intuito de transmitir determinada mensagem a um receptor, dentro de um determinado contexto. Para tanto, o emissor utiliza um código e envia sua mensagem por um canal. Para o estudioso, dependendo da intenção de quem fala ou escreve, ou seja, do emissor, um desses elementos comunicativos será enfatizado nesse circuito. Nessa esteira, para compreender a mensagem e aprimorar o processo de leitura e produção de textos, é imprescindível entender as intencionalidades do emissor. Tais intenções podem ser inúmeras, como emocionar, esclarecer, persuadir, informar, manter contato, encantar, manipular, entre outras. Por exemplo, se o emissor pretende emocionar o receptor, a ênfase será no uso de verbos em primeira pessoa. Além disso, ele falará dos seus sentimentos, emoções e posicionamentos. Ainda que o foco da ação comunicativa seja um só, no caso do exemplo, de emocionar, a mensagem pode servir para várias outras funções. Assim, você dificilmente encontrará uma única função da linguagem; o que terá é apenas a prevalência de uma sobre as outras. Sobre isso, Chalhub (1990, p. 8) diz que: Teoria da Comunicação: funções da linguagem20 Comunicacao_Expressao_Book.indb 20 12/08/2019 09:29:53 Numa mesma mensagem [...] várias funções podem ocorrer, uma vez que, atualizando concretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de linguagem. A emissão, que organiza os sinais físicos em forma de mensagem, colocará ênfase em uma das funções – e as demais dialogarão em subsídio. Nesse sentido, a ênfase dada a um dos elementos na construção da men- sagem não descarta o uso dos outros. O que ocorre é que a utilização de mais de um elemento colabora para o resultado final proposto pelo emissor. A partir da intencionalidade, o emissor fará escolhas linguísticas para chegar ao seu objetivo. Assim, ao enfatizar algum recurso, ele necessita ativar sua capacidade criativa e levar em consideração se o receptor terá capacidade de responder a ela. 21Teoria da Comunicação: funções da linguagem Comunicacao_Expressao_Book.indb 21 12/08/2019 09:29:53 ANDRADE, M. M.; MEDEIROS, J. B. Curso de língua portuguesa para a área de humanas. São Paulo: Atlas, 1997. ANGELO, R. C. A função poética da linguagem e os textos publicitários. Brasília, DF: Portal do Professor, 2013. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecni- caAula.html?aula=50632>. Acesso em: 27 set. 2017. CAIRES, A. Figuras de linguagem. [S.l.]: SlideShare, 2010. Disponível em: <https:// pt.slideshare.net/90566088/figuras-de-linguagemlamadre>. Acesso em: 27 set. 2017. CHALHUB, S. Funções da linguagem. 3. ed. São Paulo: Ática, 1990. (Série Princípios). DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS ONLINE. Significado de língua. [S.l.]: Dicionário do Aurélio, 2017. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/lingua>. Acesso em: 27 set. 2017. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010. Teoria da Comunicação: funções da linguagem22 Comunicacao_Expressao_Book.indb 22 12/08/2019 09:29:54 G1 RS. Começa campanha de arrecadação para projeto de Memorial às Vítimas da Kiss. G1, Rio de Janeiro, 21 ago. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/rs/ rio-grande-do-sul/noticia/comeca-campanha-de-arrecadacao-para-projeto-de- -memorial-as-vitimas-da-kiss.ghtml>. Acesso em: 27 set. 2017. INFANTE, U. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. 5. ed. São Paulo: Scipione, 1998. JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005. MENDEZ, A. F. A teoria da comunicação. Porto Alegre: Cultura de Travesseiro, 2010. Disponível em: <http://culturadetravesseiro.blogspot.com.br/2010/12/teoria-da- -comunicacao.html>. Acesso em: 27 set. 2017. OLIVEIRA, E. C. Lei contra a palmada: governo coloca os pais no banco dos réus. São Paulo: IPCO, 2010. Disponível em: <https://ipco.org.br/lei-contra-a-palmada-governo- -coloca-os-pais-no-banco-dos-reus/#.Wct1iGhSzIU>. Acesso em: 27 set. 2017. SEIXAS, R. Eu nasci há dez mil anos atrás. In: SEIXAS, R. Há 10 mil anos atrás. Amsterdam: Philips Records, 1976. 1 disco sonoro. Leitura recomendada SILVA, M. C. As funções da linguagem. São Paulo: Brasil Escola, c2017. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/redacao/as-funcoes-linguagem.htm>. Acesso em: 22 ago. 2017. 23Teoria da Comunicação: funções da linguagem Comunicacao_Expressao_Book.indb 23 12/08/2019 09:29:54 EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO Daysi Batista Pail Comunicação, expressão e diversidade linguística Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as variações da expressão linguística. Identificar os aspectos que diferenciam os modos de utilizar a língua. Comparar os contextos de produção e circulação dos textos. Introdução Neste capítulo, você estudará como as línguas apresentam variações, isto é, diferentes formas de falar, de utilizá-las, e verá que o passar do tempo provoca mudançasnestas, mas não sozinho, uma vez que o contato com outras línguas também influenciará essas variações. Esse princípio está relacionado à existência de diferentes línguas, mas é não restrito a isso. Uma mesma língua terá diferentes grupos, os quais terão variadas características linguísticas que os ligam e os separam, como o dialeto paulista, carioca, mineiro, gaúcho, entre outro. Além disso, haverá grupos dentro de grupos, como os formados de acordo com a idade, o gênero, a profissão. Você também estudará que uma língua, como o português, tem duas modalidades, isto é, duas formas de realização: por meio da oralidade (fala) ou da escrita. Estas funcionam como um conjunto, às vezes até mesmo sendo amalgamadas no uso. Entre variação linguística, modalidade e níveis de fala (variação de registro), é importante a adequação linguística, em que se escolhe qual norma (variedade linguística), qual modalidade (e se é preciso uma apenas) e qual nível de fala melhor atende aos objetivos da comunicação e ao contexto comunicativo. Variação linguística Uma língua viva sempre apresenta variações. Isso signifi ca que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e heterogênea (FARACO, 2008). Com o passar do tempo, ela passará por mudanças e, se estas forem grandes demais, pode até se tornar uma outra língua, ou outras, como aconte- ceu, por exemplo, com o Latim e as línguas românicas que dele se originaram. Se você ler um texto de épocas passadas, poderá encontrar diferenças, tais como aquelas encontradas em palavras, expressões, até mesmo na estrutura (para exemplos ver textos de romances do período Realista ou Naturalista, como os de Machado de Assis e Aluísio de Azevedo). Essa diferença pode ser observada também entre falantes de diferentes gerações. A língua também é influenciada pelo espaço. Pense em um lago e em atingir sua superfície atirando várias pedras. Cada uma delas gerará ondulações e, em alguns pontos, irão se encontrar e se afetar umas às outras. Com a língua ocorre um fenômeno análogo, zonas próximas apresentam maior similaridade e são reconhecidas e diferenciadas, porém, conforme se afastam, as diferenças vão se tornando maiores, devido à experiência dos falantes, assim como a influência de outras comunidades linguísticas, de outras línguas. Nesse aspecto, o processo de colonização, imigração e migração, assim como a presença de diferentes tribos autóctones, tem fortes consequências. É possível observar a distância entre as diferentes regiões do país, e, até mesmo, dentro dos estados. Outra grande variável que se pode elencar é quanto ao indivíduo. Nesta, é possível identificar a influência do lugar onde o indivíduo cresceu, seu grau de contato com a cultura letrada, seu círculo social (mais informal, menos informal, entre outros). Esse âmbito é o que permite a identificação de estilo de um indivíduo inserido em uma comunidade linguística, ou seja, o que o distingue linguisticamente (ainda que não exclusivamente). Comunicação, expressão e diversidade linguística2 Comunidade linguística é um agrupamento de falantes que têm características linguísticas em comum (BELINE, 2014). Qualquer língua que ainda seja natural (diferentemente de línguas arti- ficiais, como Klingon e Dothraki) tem variação, isto é, varia no tempo e no espaço (objeto de estudo da sociolinguística variacionista) e também de um indivíduo para outro, modificando-se até quando utilizada por um mesmo indivíduo em diferentes situações (objeto de estudo da sociolinguística inte- racional). Linguisticamente, não há uma variedade linguística melhor, mais bonita ou mais desenvolvida do que outra. Qualquer que seja a variedade, ela será igualmente válida, rica e desenvolvida. A valorização de uma em detrimento de outra é social, isto é, a sociedade (ou parte dela) que classifica uma variedade positiva ou negativamente. Algumas variedades são estigmatizadas, como, por exemplo, as do interior dos estados em relação às das regiões metropolitanas, as de classes sociais menos prestigiadas e menos escolarizadas em relação às mais prestigiadas e mais escolarizadas (BAGNO, 1999; FARACO, 2008; GÖRSKI; COELHO, 2009). É comum, com essa postura, encontrar afirmações como: “eu não sei português”, “fala feio”, “antes de aprender inglês, francês, tinha que aprender português”, “matou a língua portuguesa”; todas com relação a falantes nativos. Ao dizer isso, a pessoa expõe desconhecimento sobre a realidade linguística e também sobre o preconceito linguístico. De acordo com Görski e Coelho (2009, p. 82), “[...] muitas pessoas acham que falar uma variedade diferente da variedade padrão é um problema sério para a sociedade, uma manifestação de inferioridade. Sempre que isso acontece, a língua se torna um veículo de preconceitos e exclusões.” Segundo Faraco (2008), todas as variedades linguísticas têm uma própria norma, isto é, um conjunto de características que lhes são normais, envolvendo aspectos fonéticos (identificados no sotaque), lexicais, semânticos, sintáticos 3Comunicação, expressão e diversidade linguística e, às vezes, até pragmáticos. Contudo, saindo do âmbito linguístico, norma é entendida como um conjunto de regras que normatizam a forma como os falantes deveriam utilizar a língua. Esse tipo é chamado pelo autor de norma padrão, um “ideal” artificial que, apesar de defendido, nenhum falante utiliza de fato (é aquela encontrada nas gramáticas mais tradicionais, normativas e não linguísticas). Para ele, a norma associada aos grupos mais escolarizados é a norma culta. Essa seria comum aos falantes de áreas urbanas em situações mais formais, principalmente na escrita, e seria balizada pela linguagem urbana comum. Modalidades da língua Além da variação que as línguas apresentam, elas também podem ter mais de uma modalidade. A língua portuguesa, por exemplo, apresenta as modalidades oral e escrita, mas nem todas as línguas são assim. Algumas apresentam apenas a modalidade oral, sendo denominadas ágrafas. A modalidade oral, sempre primeira com relação à escrita, sofre e aceita mudanças muito mais rapidamente. Ela é mais dinâmica, seja por ser mais propensa à variação e à mudança, seja por causa do “jogo” comunicativo como palco e fonte. Ela influencia as mudanças na modalidade escrita, que, por sua vez, tem o poder de “frear” a modalidade oral. Com o advento da imprensa, esse poder foi intensificado. Entretanto, a modalidade escrita continua sendo uma representação da oral, dependendo de convenções para sua inteligibilidade (como ortografia e uso do mesmo alfabeto), bem como para questões políticas. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é, como o nome diz, uma língua, e não uma modalidade da língua portuguesa. A LIBRAS apresenta, como qualquer outra língua, os sistemas fonológico (em sentido um pouco diferente), morfológico, sintático e semântico. Além disso, ela é uma língua natural e, consequentemente, também apresenta variação. Comunicação, expressão e diversidade linguística4 Apesar de a modalidade oral ser mais identificada em registros mais informais, ela também ocorre em situações mais formais. Da mesma forma, a modalidade escrita, que é mais identificada em registros formais, ocorre em situações mais informais. Assim, uma conversa de texto por aplicativos e redes sociais irá se aproximar mais da oralidade, ao passo que uma palestra acadêmica, da escrita. Essa identificação advém de a oralidade permitir a realização da comunicação linguística de modo mais natural, menos rígido e menos regrada quando comparada com a escrita, principalmente quando se desconsidera a mudança que a cultura digital trouxe. Antes, por exemplo, não era considerado diálogo uma conversa que não fosse feita pessoalmente ou por telefone, entretanto, com a mudança de paradigma causada pela cultura digital, é contrassenso não considerar como diálogo as conversas por aplicativos, como Whatsapp, Messenger, entre outros. Desconsiderando-seum pouco o paradigma da cultura digital, qualquer produ- ção, seja oral ou escrita, tem uma audiência (um destinatário) real ou imaginário. Algumas manifestações permitem uma interação maior entre os envolvidos, que, então, intercalam-se no papel de locutor e interlocutor. Na modalidade oral, quanto mais informal for a situação, mais interrupções e sobreposições serão possíveis. Além disso, é comum mudanças de estilo estrutural, sentenças incompletas na oralidade, que, na escrita, tornam-se difíceis de compreender. A escrita, enquanto representação da fala, apresenta menor possibilidade de interferência, mas permite que se pense, planeje e revise o texto antes de liberá-lo. Adequação linguística No âmbito acadêmico e profi ssional, você terá de lidar com situações que exigirão uma ou outra modalidade (ou até as duas, em conjunto). Seja qual for a modalidade a ser usada e em qual situação, a adequação linguística será fundamental. O uso da língua por um falante é sempre infl uenciado por uma série de fatores, alguns dos quais foram mencionados anteriormente. Em certas situações, é esperado o uso de um nível de fala mais formal, assim como uma determinada norma, como a culta, ao passo que, em outras, ocorre o oposto. Essas escolhas seriam feitas tendo em vista um fi m comunicativo, em outras palavras, como atingir da melhor forma um objetivo (ou uma série deles). Quanto a isso, até mesmo a escolha por não seguir o que se esperaria pode ser um meio de conseguir sucesso. 5Comunicação, expressão e diversidade linguística Tipos de variação Variação diatópica é aquela que ocorre em decorrência da região, por exemplo: jerimum versus abóbora, mexerica versus bergamota, rótico velar (“erre” forte — comum no Rio Grande do Sul) versus rótico uvular (“erre” forte, caipira — comum no interior paulista), etc. Variação diastrática é aquela comum a estratos sociais, por exemplo: classes mais ou menos prestigiadas, advogados, influenciadores digitais (que ainda varia de acordo com o campo de interesse), etc. Variação diafásica é aquela que ocorre em função do contexto comunicativo, por exemplo: mais ou menos informal, mais ou menos afetiva, mais ou menos técnica, etc. Variação de registro é um tipo de variação diafásica e diz respeito ao nível de formalidade ou de informalidade. Para ler mais sobre alguns exemplos de variação linguística, acesse o link a seguir. https://goo.gl/3e1QYK A experiência permite que o falante force os limites entre normas e entre níveis de fala, do mais formal ao mais coloquial. Entretanto, quando ainda não se tem essa experiência, algumas orientações se tornam úteis. Algumas são mais ou menos assumidas como instintivas, outras já seguem certos padrões estabelecidos (por exemplo, por gêneros textuais ou por contexto comunicativo). O meio acadêmico apresenta uma grande variação de contextos comu- nicativos, de conversas informais com amigos a produções formais, como tese de doutorado e respectiva defesa oral. Considerando-se os textos e discursos comuns a esse meio, alguns permitirão uma linguagem coloquial, enquanto outros, não, de uma linguagem urbana comum à norma culta. No Quadro 1, são apresentados alguns gêneros textuais, uma breve definição e a linguagem esperada. Comunicação, expressão e diversidade linguística6 Gênero textual Caracterização Linguagem Memorial Do tipo acadêmico, é uma apresentação textual da trajetória acadêmica de uma pessoa de modo mais detalhado do que o currículo (que apresenta os dados através de tópicos). Norma culta. Resumo Apresenta as principais ideias de um outro texto ou trabalho, de modo conciso, objetivo, coeso e coerente. A linguagem tende a seguir o estilo do original, porém, do acadêmico, espera-se a norma culta. Entrevista É um diálogo a princípio planejado, pois pelo menos uma das partes terá se preparado. Consiste em perguntas feitas a um entrevistado. Ela pode ser feita inteiramente de forma oral, mista (quando as perguntas são passadas por escrito para que o entrevistado possa se preparar, ou quando é transcrita) ou escrita. A linguagem será determinada pelo contexto, mais informal ou mais formal. Em contexto acadêmico, é comum a entrevista de teóricos e pesquisadores, e, nesse caso, a linguagem será mais formal. Manifesto É um texto em que um grupo de pessoas ou entidades expressam sua opinião sobre uma situação-problema. A linguagem pode apresentar uma formalidade maior, por meio do uso da norma culta, ou um pouco menos formal, por meio da linguagem urbana comum. Quadro 1. Gênero textuais e níveis de linguagem (Continua) 7Comunicação, expressão e diversidade linguística Gênero textual Caracterização Linguagem Ensaio Consiste em um texto argumentativo acerca de um assunto. Norma culta. Procuração É um documento legal em que uma pessoa dá à outra o poder para tomar decisões, cuidar de propriedades ou negócios no seu lugar. Linguagem mais formal, preferência da norma culta. Editorial É um texto argumentativo que expressa a posição de um jornal ou revista sobre um assunto. Linguagem mais formal, podendo apresentar elementos coloquiais, bem como se manter na norma culta. Edital É um documento público que visa a comunicar, informar, convocar sobre determinado assunto. É comum em concursos, informando regras, requisitos, datas. Norma culta. Certificado É um documento comprobatório acerca da participação de alguém em algum evento ou acerca da verdade sobre algo. Norma culta. Ata É um registro resumido do que foi discutido ou tratado em uma reunião, assembleia, sessão. Linguagem mais formal, preferência da norma culta. Quadro 1. Gênero textuais e níveis de linguagem (Continuação) Comunicação, expressão e diversidade linguística8 BAGNO, M. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999. BELINE, R. A variação linguística. In: FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à linguística: objetos teóricos. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2014. v. 1. FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Edi- torial, 2008. GÖRSKI, E. M.; COELHO, I. L. Variação linguística e ensino de gramática. Working Papers em Linguística, v. 10, n. 1, p. 73-91, fev. 2010. Disponível em: <https://periodicos.ufsc. br/index.php/workingpapers/article/view/1984-8420.2009v10n1p73/12022>. Acesso em: 2 dez. 2018. Leituras recomendadas FIORAVANTI, C. "R" caipira é invenção dos brasileiros, conclui estudo linguístico. Re- vista Pesquisa Fapesp, abr. 2015. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ciencia/ ultimas-noticias/redacao/2015/04/12/em-200-anos-teremos-dificuldades-para-nos- -comunicar-com-portugueses.htm>. Acesso em: 2 dez. 2018. MESAN, L. Jornal Hoje — Sotaques do Brasil mostra os jeitos diferentes de falar brasileiro. Youtube, jul. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HwHfkuRCfl c&feature=youtu.be>. Acesso em: 2 dez. 2018. 9Comunicação, expressão e diversidade linguística COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Letícia Sangaletti Comunicação oral Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer elementos de variação linguística. Interpretar as modalidades de fala e o grau de formalidade. Identifi car os gêneros de cunho oral, textual e híbrido. Introdução A necessidade de comunicação é natural dos seres humanos e, para que esta ocorra, línguas são usadas para promover as trocas. Interagir, influen- ciar o próximo, explicitar sentimentos, trocar ideias são apenas algumas das formas usadas para estabelecer relações interpessoais. Enquanto a linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar e também todo e qualquer sistema de códigos que pode ser usado como meio de comunicação entre sujeitos, a língua é, entre eles, o código mais utilizado para estabelecer a comunicação. Já o código é o conjunto de possibilidades que proporciona a comunicação e, junto com a linguagem, permiteque se construa uma língua, caracterizando um povo, uma sociedade. Neste texto, você vai acompanhar todo o processo que compreende a comunicação oral e poder avaliar que não se trata de uma simples troca, mas que existem diferentes elementos de variação linguística, modalidades de fala e grau de formalidade, além de diferentes gêneros de cunhos oral, textual e híbridos que fazem parte da comunicação oral. A língua pode ser padrão (também chamada de linguagem formal e norma culta) ou informal (linguagem coloquial), ou seja, a que usamos no dia a dia. Assim, o uso que cada indivíduo faz da língua é a fala, que pode ser também formal ou informal. Como vivemos em um país multicultural, e é natural que as pessoas não falem da mesma forma, essa fala pode ser diferente de um lugar para outro, de uma época para outra, assinalando a diversidade que temos na língua e caracterizando o que chamamos de variação linguística. Comunicacao_Expressao_Book.indb 43 12/08/2019 09:29:56 Elementos de variação linguística A necessidade de se comunicar é natural aos seres humanos. A fi m de que diferentes formas de comunicação ocorram, ele utiliza linguagens. Por meio delas, é possível realizar trocas. A linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar. Ela pode ser verbal e não verbal. Para Jakobson (2008), a linguagem é um dos sistemas de signos que pode ser usado como meio de comunicação entre sujeitos. Já o código é o conjunto de possibilidades que proporciona a comunicação e, junto com a linguagem, vai permitir que se construa uma língua. Esta caracteriza um povo, uma sociedade. A língua pode ser padrão, (ou língua formal e norma culta) ou informal (ou linguagem coloquial, a que se usa no dia a dia). Assim, o uso que cada indivíduo faz da língua é a fala, que pode ser também formal ou informal. Variação linguística é a capacidade que a língua tem de se transformar e se adaptar de acordo com alguns componentes, como o histórico, o social, o regional e o estilo por meio do qual os indivíduos se manifestam verbalmente. Ela é um movimento natural da língua, já que o sistema linguístico não é uni- tário e comporta vários eixos de diferenciação. Assim, a variação pode ocorrer em um ou em vários subsistemas de uma língua, seja fonético, morfológico, fonológico, sintático, léxico ou semântico, promovendo a evolução da língua. Níveis de variação linguística Todo idioma se estabelece em vários níveis. Estes estão relacionados à forma de pronunciar as palavras, que seria o nível fonético-fonológico. Também se relacionam com a maneira de organizar os enunciados, no caso a sintaxe. Além disso, têm relação com a maneira de escolher as palavras, que tange ao lexical ou vocabular. Ainda estão em jogo o modo de dar sentido aos vocábulos, que é o nível semântico, ou mesmo a maneira como a palavra é escrita ou utilizada, no caso o nível morfológico. Observe alguns exemplos: Nível fonético-fonológico: está relacionado à diversificação das ma- neiras de pronunciar palavras ou expressões. Por exemplo, gaúchos, cariocas e nordestinos falam de forma diferente. Nível morfossintático: ocorre na variação da estrutura dos enunciados, como na organização em períodos. Também há a conjugação de verbos Comunicação oral44 Comunicacao_Expressao_Book.indb 44 12/08/2019 09:29:56 irregulares como se fossem regulares. Exemplo: “manteu” em vez de “manteve”, “ansio” quando o correto é “anseio”. Outro exemplo é o fato de que em algumas regiões do Brasil se fala “você vai” e em outras “tu vais” ou “tu vai”. Nível vocabular: diz respeito à utilização de diferentes palavras para representar o mesmo objeto, fenômeno ou ser. Por exemplo: os termos moleque, garoto, menino e guri significam a mesma coisa, assim como mandioca, aipim e macaxeira. Outro exemplo de nível vocabular de variação linguística é o uso de gírias. Nível semântico: esse nível está relacionado à variação no sentido que as palavras adquirem ao longo do tempo, do espaço ou em diferentes grupos sociais. Em Portugal, por exemplo, se usa a palavra alcatrão com um sentido diferente do uso brasileiro. Aqui, alcatrão é um dos componentes do cigarro; lá, se refere ao asfalto. Tipos de variação linguística No Brasil, a língua portuguesa possui diversos linguajares e é falada de várias maneiras. Essas variações linguísticas são bastante evidentes. Afi nal, cada região teve sua história socioeconômica e por isso possui peculiaridades linguísticas. Tais diferenças são compreendidas por meio dos elementos de variação linguística, como questões históricas, geográfi cas, sociais e de estilo. A variação linguística histórica é a maneira como a língua evolui ao longo do tempo. São as mudanças que a língua sofreu ao longo da história. Como exemplo, considere o pronome você. Ele se originou da expressão vossa mercê, passou para vosmecê, virou vancê e chegou ao termo que se usa atualmente: você. Isso quer dizer que a palavra evoluiu e se transformou ao longo do tempo. Já a variação regional é chamada também de diatópica. Ela está relacionada com palavras ditas em regiões diferentes, mas que significam a mesma coisa. Por exemplo: aipim, mandioca e macaxeira são três palavras diferentes usadas para designar a mesma coisa. Aqui também entra a parte fonética, como a forma de pronunciar certas letras. O “r” no meio das palavras, por exemplo, é pronunciado de forma diferente no Paraná e no Rio de Janeiro. Isso muda de acordo com a região. A variação social ou diastrática tem a ver com os diferentes grupos sociais e com os contrastes na linguagem. Pode ser por idade: quando o avô conversa com a neta, as falas são diferentes. Por exemplo: “Seu avô era um pão” e “Aquele menino é meu crush”. 45Comunicação oral Comunicacao_Expressao_Book.indb 45 12/08/2019 09:29:57 É difícil falar em diferenças culturais e variações de linguagem sem abordar o pre- conceito linguístico. O estudioso Marcos Bagno, em seu livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz, recusa a noção que separa o uso da língua em certo e errado. O autor apresenta alguns mitos sobre o preconceito linguístico, de modo a instigar seu combate no dia a dia. Para Bagno, o preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Para o autor, esse preconceito é alimentado diariamente, especialmente pela mídia e por livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”. Além disso, os instrumentos tradicionais de ensino da língua, que são a gramática normativa e os livros didáticos, também contribuem para esse preconceito. De acordo com Bagno (1999), o preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome. Esta seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Para Bagno (1999, p. 42): “Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática- -dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, ‘errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente’, e não é raro a gente ouvir que ‘isso não é português’. Um exemplo. Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta é tremendamente estigmatizada e às vezes é considerada até como um sinal do ‘atraso mental’ das pessoas que falam assim. Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de um traço de ‘atraso mental’ dos falantes ‘ignorantes’ do português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria língua portuguesa padrão.” Classe social também pode apontar variações de linguagem. Isso tem a ver com o tipo de cultura com que você tem contato. Além disso, o grupo social em que os indivíduos estão inseridos, como nerds, skatistas, surfistas, indica variação. Se você nãofaz parte de determinado grupo, pode não entender parte da linguagem utilizada por ele. A variação de estilo ou diafásica é a que tem relação com a situação de uso da língua, do que é e do que não é adequado. O estilo pode ser formal e informal, padrão e não padrão, coloquial e culto. O modo de usar a língua vai se adequar ao momento. Por exemplo: diante de um juiz, o sujeito vai formalizar a língua, mas quando está com a família, amigos ou em intimidade, a tendência é falar informalmente. Comunicação oral46 Comunicacao_Expressao_Book.indb 46 12/08/2019 09:29:57 Você pode encontrar os mesmos tipos de variação com outros termos, escritos por outros teóricos, como Marcos Bagno. O pesquisador explica que há diferenças entre os termos utilizados nas definições de variações linguísticas. Observe (BAGNO, 2007): Dialeto: uso da língua em determinada região. Socioleto: variedade linguística de determinado grupo com características (sociais, profissionais, econômicas) comuns. Cronoleto: variedade de certa faixa etária. Idioleto: modo de falar característico de um indivíduo. A transcrição da língua falada é um recurso cada vez mais explorado pela literatura, tendo em vista a vivacidade que dá ao texto. Observe, no trecho a seguir, algumas das características da língua falada. Você pode perceber, por exemplo, o uso de gírias e de expressões populares e regionais, além de incorreções gramaticais e repetições. “– Menino, eu nada disto sei dizer. A outro eu não falava, mas a ti eu digo. Eu não sei que gosto tem esse bicho de mulher. Eu vi Aparício se pegando nas danças, andar por aí atrás das outras, contar histórias de namoro. E eu nada. Pensei que fosse doença, e quem sabe não é? Cantador assim como eu, Bentinho, é mesmo que novilho capado. Tenho desgosto. A voz de Domício era de quem falava para se confessar: – Desgosto eu tenho, pra que negar?…” (REGO, 1979). Modalidades de fala e grau de formalidade As modalidades são as diferenças presentes entre fala e escrita. Isso porque na língua falada há, entre falante e ouvinte, uma interação direta. Já na língua escrita, a comunicação ocorre geralmente sem a presença de um dos sujeitos participantes. Estando próximos durante a troca, falante e ouvinte podem utilizar diversos outros elementos signifi cativos que complementam o discurso verbal no processo de comunicação. Há, por exemplo, gestos, entonação, expressões faciais, entre outros. Vistas como práticas sociais, já que o estudo da língua se funda em usos, as duas modalidades de fala da língua portuguesa são a oral e a escrita (MAR- CUSCHI, 2001, p. 1). Como manifestação da prática oral, a fala é adquirida 47Comunicação oral Comunicacao_Expressao_Book.indb 47 12/08/2019 09:29:57 de modo natural em contextos informais do dia a dia. Também se desenvolve nas relações sociais que se estabelecem desde o momento em que uma criança nasce e tem os primeiros contatos com a mãe. Desse modo, o uso da língua natural e o aprendizado são formas de socialização e inserção cultural. É necessário identificar os elementos que fazem parte da situação comu- nicativa para compreender e analisar adequadamente um texto, seja ele falado ou escrito. Nesse caso, os componentes seriam falante – ouvinte/escritor – e leitor. Além disso, é importante considerar as condições em que cada texto foi produzido. São elas que possibilitam a ação social ou de interação que é estabelecida entre os sujeitos. Além disso, elas são distintas em cada modali- dade. A fala, por exemplo, possui como características, entre outras tantas, o uso da palavra sonora e a interação face a face. Portanto, requer a presença dos interlocutores no mesmo espaço físico e de tempo; o planejamento simultâneo ou quase simultâneo à execução; a espontaneidade e o imediatismo. Além disso, pode ser repetitiva e redundante. Ela considera o contexto extralinguístico e possui recursos como signos acústicos e extralinguísticos, gestos, entorno físico e psíquico. No texto oral, você pode encontrar características inerentes à língua falada. Há, por exemplo, os marcadores conversacionais. Eles são elementos típicos da fala que não integram o conteúdo do texto, apresentando valor tipicamente interacional. Por exemplo: “bom”, “eu acho que”, “quer dizer”, “então”, “en- tende?” e “né?”). Há também as marcas prosódicas. Elas estão relacionadas à pronúncia. Um exemplo são os alongamentos, como nos termos “ouVIR::” e “faLAR::” (marcados com ::). Outros exemplos são a entonação enfática, assim como nas palavras do exemplo anterior, “ouVIR::” e “faLAR::” (marcado com ::); e as hesitações, como “na medida em que... ahn” (uso do marcador “ahn” associado ao alongamento é uma marca prosódica). Outra característica é a repetição. Por exemplo: “O rádio de pilha, né? Quer dizer, o rádio de pilha”. A correção é outra das características, por exemplo: “O rádio eu acho que tem um papel até... numa certa medida... ele provocou pelo alCANce que tem uma revolução até maiOr do que a televisão...”. E há ainda a paráfrase. Ela é a relação de equivalência semântica: “através do rádio de pilha... ele pôde se ligar ao resto do mundo, saber que existem outros lugares, outras pessoas, que existe um governo...” (ANDRADE, 2011). Você deve observar também os graus de formalidade que se usam na fala. Geralmente, em uma situação formal, o indivíduo culto procura seguir as regras da língua e conversar usando a norma culta, procurando também não Comunicação oral48 Comunicacao_Expressao_Book.indb 48 12/08/2019 09:29:57 usar vocabulário vulgar. Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão e a coloquial ou popular. Além dessas, a linguagem coloquial também é registrada quando há o uso de gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos regionalismos e dialetos. De acordo com Marcuschi (2000), tanto a variedade escrita quanto a falada apresentam: língua padrão/variedades não padrão; língua culta/língua coloquial; norma padrão/ normas não padrão. Afinal, a língua em si não é um sistema único e abstrato, mas heterogêneo e repleto de variação. Com relação às nomenclaturas, Bagno (2001) questiona a que tipo de norma culta se referem aqueles que lidam direta ou indiretamente com a língua portuguesa, já que há dois sentidos para o termo: (1) o que é norma, frequente e habitual; ou (2) o que é normativo, elaborado, regra imposta. De acordo com o teórico, o primeiro conceito está ligado à linguagem que é empregada para designar formas linguísticas existentes na realidade social. Já o segundo sentido é o mais difundido. Ele tem circulação maior na sociedade e já se tornou senso comum, virando mais um preconceito do que um conceito. Isso pois trata a língua como única e estática, como se existisse apenas uma maneira certa de falar ou discorrer. Bagno propôs novas nomenclaturas, pois percebeu alguns impasses no uso da norma culta. Observe: Norma-padrão: designa o modelo ideal de língua; algo que está fora e acima da atividade linguística dos falantes. Variedades prestigiadas: indicam as variedades linguísticas faladas pelo cidadão com alta escolarização e vivência urbana. Variedades estigmatizadas: assinalam as variedades linguísticas que caracterizam os grupos sociais desprestigiados do Brasil. Você pode observar essas distinções na Figura 1. 49Comunicação oral Comunicacao_Expressao_Book.indb 49 12/08/2019 09:29:57 Figura 1. Nomenclaturas propostas por Bagno. Fonte: Bagno (2001). Você pode observar que existe uma zona intermediária entre as variedades prestigiadas e as estigmatizadas. As influências de umas sobre as outras são intensas e constantes. Para Bagno (2001, p. 80), “Isso é mais do que natural numa sociedade complexa como a brasileira contemporânea, sobretudo por causa dos meios de comunicação de massa (principalmente a televisão e o rádio)”. A norma padrão fica no alto, na estratosfera da abstração, do virtual. Para o teórico, ela exerce umainfluência muito forte sobre o imaginário de todos os brasileiros. Porém, essa influência diminui na medida em que se afasta das camadas sociais privilegiadas. Essa norma-padrão está ligada à escola, ao en- sino formal. Só se aproximam dela os brasileiros que conseguiram passar pelo funil da educação formal, percorrendo até o fim o trajeto de formação escolar. Por outro lado, há autores que apontam três níveis de linguagem que co- laboram para compreender como o indivíduo falante pode se manifestar em diferentes situações. De acordo com Preti (1994), é possível dividir os níveis de fala em espécies. Observe: Formal (ou culta): usado em situações de formalidade, possui o pre- domínio de linguagem culta, ou seja, obedece à gramática normativa. Comunicação oral50 Comunicacao_Expressao_Book.indb 50 12/08/2019 09:29:57 Geralmente é usado em situações que exigem tal posicionamento do falante, como em discursos, sermões, apresentações de trabalhos científicos. Coloquial (ou informal): é habitual em situações familiares ou de menor formalidade. Tem predomínio de linguagem popular, linguagem afetiva, expressões obscenas. É a manifestação espontânea da língua. Nela, os falantes usam gírias, vocabulário às vezes pejorativo, formas subtraídas ou cortes das palavras e conjugação verbal inadequada. Também é pontuada por problemas de concordância verbal e nominal e outras marcas da oralidade, como “né”, “daí”, “a gente”, etc. Esse nível independe de regras e está presente nas conversas entre amigos e familiares, por exemplo. Na internet, é comum encontrar o nível coloquial em textos de diálogos, ou em redes sociais e em programas de mensagens instantâneas. Comum: recebe contribuições de um e de outro. Veja, na Figura 2, o nível de formalidade utilizado antigamente. Esse também é um exemplo de variação linguística histórica. Figura 2. Formalidade e variação linguística histórica. Fonte: Biblioteca Digital Luso-Brasileira. 51Comunicação oral Comunicacao_Expressao_Book.indb 51 12/08/2019 09:29:58 Gêneros de cunho oral, textual e híbrido Ao compreender como é a funcionalidade dos textos na interação dos indi- víduos, você também investiga os diferentes textos utilizados para a comu- nicação na sociedade. Isso leva a uma discussão sobre gêneros, já que eles estão presentes em todas as circunstâncias e ações humanas. Afi nal, em qualquer lugar em que exista linguagem, há gêneros textuais ou discursivos, orais ou escritos. Como as esferas de produção da linguagem são diversas, também há uma multiplicidade de gêneros em diferentes situações e em formatos diversos. No supermercado, por exemplo, você encontra panfletos, placas, indicações de ofertas e a conta no caixa. Desse modo, cada esfera elabora seus gêneros. E faz isso conforme aspectos sociais próprios, finalidades comunicativas e especificidades das situações de interação em que os enunciados estão sendo produzidos. A denominação de gênero discursivo foi apresentada pela primeira vez pelo autor russo Mikhail Bakhtin (1979). Ele caracterizou os gêneros como tipos relativamente estáveis de enunciados. De acordo com o teórico, os gê- neros de que os interlocutores sociais fazem uso nas interações verbais são tão variados e heterogêneos quanto a diversidade de esferas de circulação social nas interações verbais e as diferentes atividades humanas. Para Bakhtin (1979), nas inúmeras esferas de circulação, o uso da língua ocorre ou em forma de enunciados ou pela heterogeneidade de gêneros que os constitui. Você pode encontrar uma diversidade de gêneros discursivos que se modificam e se ampliam, dependendo dos contextos social e histórico em que circulam, conforme as condições e finalidades de cada uma das esferas. Circulando em diferentes esferas, os gêneros refletem o conjunto de temas e relações possíveis nas formas de enunciar ou dizer algo. Assim, o enunciado está sempre nas relações sociais. Ele constitui a unidade formal da língua e incorpora o estilo, a com- posição e o tema. Bakhtin considerava esses aspectos indissoluvelmente vinculados. Também afirmava que eles se concretizam em forma de gêneros. Comunicação oral52 Comunicacao_Expressao_Book.indb 52 12/08/2019 09:29:58 De acordo com o teórico Marcuschi (2005), os gêneros surgem como formas da comunicação para atender a necessidades de expressão do ser humano. Eles são conformados por influência do contexto histórico e social das diversas esferas da comunicação humana. Para o estudioso, os gêneros textuais são como “[...] entidades sociodiscursivas e formas de ação social incontornáveis de qualquer situação comunicativa [...]” (MARCUSCHI, 2005, p. 19). Isso quer dizer que os gêneros podem se modificar com o passar do tempo. Eles podem surgir e desaparecer, além de se diferenciar de uma cultura para outra. São dinâmicos e heterogêneos, variando de um diálogo informal até as teses de doutorado, por exemplo. Você pode encontrá-los nas formas oral, escrita e híbrida. Para Marcuschi (2008), não existe comunicação que não seja feita por meio de algum gênero. Mesmo um indivíduo falante que não possua saber técnico tem capacidade para se comunicar e ser compreendido por seu interlocutor. Marcuschi (2002, p. 22-23) explica que: Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. De acordo com o Marcuschi (2005), alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. Marcuschi (2008) explica que os gêneros orais e escritos estão relacionados, mas fala e escrita não são idênticas. O que dá tal classificação para cada uma é a forma em que se originou. Por exemplo, um texto jornalístico não deixa de ser um texto escrito por ter sido apresentado em um telejornal. 53Comunicação oral Comunicacao_Expressao_Book.indb 53 12/08/2019 09:29:58 Existem gêneros das culturas orais que nunca farão parte de culturas caracteristicamente escritas, e vice-versa. Também é importante você lembrar que a fala nem sempre reproduzirá a escrita, ou a escrita reproduzirá a fala. Elas podem caminhar juntas sem anular as peculiaridades de uma ou outra. Por outro lado, Marcuschi (2008) indica que os gêneros textuais não podem ser considerados estanques. Eles são como entidades dinâmicas da materialização de ações comunicativas. Podem ser híbridos, de modo a atingir determinados objetivos comunicativos. No link e no código a seguir, você pode assistir a uma reportagem do Jornal Hoje que trata da riqueza linguística do Brasil (ZIMMERMAN, 2014): https://goo.gl/0UxH5z Comunicação oral54 Comunicacao_Expressao_Book.indb 54 12/08/2019 09:29:59 ANDRADE, M. L. C. V. de O. Língua: modalidade oral/escrita. In: UNIVERSIDADE ESTA- DUAL PAULISTA. Caderno de formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 11, p. 50-67. BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007. BAGNO, M. Norma linguística e preconceito social: questões de terminologia. Veredas, Juiz de Fora, v. 5, n. 2, 2001. BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1999. BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1979. p. 277-326. BIBLIOTECA DIGITAL LUSO-BRASILEIRA. O Mercantil: jornal noticioso,commercial e político. 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Ou estamos em outro espaço de leitura, em que a relação com o texto está na construção de sentidos? Neste capítulo, você vai estudar as diferenças entre a leitura moderna e a tradicional. Além disso, vai conhecer dois tipos de leitura, vertical e horizontal, de acordo com os objetivos do leitor. Por fim, vai ver estratégias de leitura literal de textos. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal Nadia Studzinski E. de Castro Perspectivas de leitura: moderna e tradicional Quando falamos em leitura, construímos no nosso imaginário alguém lendo um jornal, uma revista, um livro (impresso ou digital), uma bula de remédio, um e-mail, etc. Nessa perspectiva, imaginamos o ato de ler como algo que está relacionado com a escrita. Assim, trata-se, muitas vezes, da leitura como decodificação de letras e códigos. Contudo, devemos nos perguntar: apenas a leitura da palavra e a decodificação do código bastam para o processo efetivo de ler? O processo de leitura se divide em três definições: geral, específico e conciliatório. Veja a seguir as características de cada um (LEFFA, 1996). � Geral: ■ leitura como processo de representação; ■ sentido da visão; ■ leitura por intermédio de outros elementos da realidade (espelhos); ■ reconhecer o mundo por meio de espelhos do que se observa; ■ leem-se as palavras e o mundo que nos cerca; ■ olhar e ver = leitura; ■ ler é usar segmentos da realidade para chegar a outros segmentos. � Específico: ■ de forma restritiva, ler é extrair significado do texto e atribuir sig- nificado ao texto; ■ extrair do texto — movimento do texto para o leitor (ênfase no texto); ■ atribuir ao texto — movimento do leitor para o texto (ênfase no leitor); ■ ler implica significado; logo, ao se usar o verbo extrair, põe-se o significado dentro do texto, e ao se usar o verbo atribuir, imprime- -se significado ao leitor. � Conciliatório: ■ ler é interagir com o texto; ■ não apenas leitor, não apenas texto, mas os dois polos e mais um terceiro elemento, que é a interação entre os dois; ■ é preciso afinidade e condições adequadas; ■ é necessário ter competências de leitura e a intenção de ler; ■ tentativa de colimação de um determinado objetivo em relação a um determinado texto. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal2 Em uma perspectiva tradicional, a leitura está diretamente relacionada à decodificação. Porém, a partir dos avanços nos estudos sobre a leitura, há uma abordagem moderna. Por essa via, a leitura está vinculada à construção de sentidos (MARTINS, 1988). Vamos entender um pouco mais a seguir sobre cada uma dessas perspectivas de leitura. Leitura tradicional Nessa interpretação da leitura, relacionamos o processo de ler à decodifi- cação do código. Ou seja, o conhecimento das palavras e dos significados a elas atrelados é o fator definitivo para a leitura do texto. O conhecimento da língua é o destaque para essa abordagem. A leitura tradicional pode ser entendida como um reflexo do que se ob- serva nas escolas mais tradicionais, baseadas em um ensino mais tradicional, onde se mantêm uma excessiva preocupação com a escrita e pouca atenção à leitura. Conforme explica Kato (2007, p. 7): A disseminação maior de métodos sintéticos nas escolas brasileiras — seja o b +a = ba, o ba + be + bi + bo + bu, ou ainda o fônico —, pode também ser motivada pela ênfase maior dada à atividade de escrita, a qual envolve, no início da aprendiza- gem, uma operação basicamente de composição, embora mais tarde ela possa ser acompanhada complementarmente por uma operação de decomposição mental do léxico visual já adquirido. A leitura, posterior à aprendizagem da escrita, acontece de forma linear. Ou seja, as palavras são lidas uma a uma de forma linear, e esse movimento configura a leitura. Estratégias de leitura não se fazem presentes nesse movimento. O conhecimento do código possibilitaria, portanto, a leitura e o entendimento do texto. A atividade de leitura, em uma abordagem tradicional, transforma o leitor em alguém passivo, pois ele busca significados nas letras, na construção das sílabas, nas palavras, nas sentenças e, então, no texto. O leitor deco- difica palavra por palavra, e o exercício está em encontrar na combinação de palavras o sentido do texto. Infere-se, nessa perspectiva, que os signos não são variáveis e flexíveis. Pelo contrário, são imutáveis e sempre estarão relacionados aos mesmos significados, o que gera uma séria limitação para o processo de leitura. Decodificar representa apenas a primeira etapa da leitura. Após essa etapa, há a compreensão, a interpretação, a ação e a retenção. Essa dinâmica entende o processo de leitura em uma perspectiva moderna. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal 3 Leitura moderna Não é apenas o conhecimento da língua que possibilita a leitura. Na verdade, fazem parte do processo de leitura todas as relações entre pessoas e entre elas com o mundo que as cerca, todas as relações entre as várias áreas doconhecimento, da expressão, das circunstâncias, etc. Quando os seres humanos começam a ler? É depois de conhecer as pa- lavras? Não, pois um bebê lê o mundo muito antes de conhecer o código. O bebê percebe o calor do colo da mãe, o conforto e a segurança dos lugares, entende e reage de acordo com os estímulos do ambiente e, em seguida, passa a dar sentido ao mundo que o cerca. Pense nas seguintes expressões: � Ler um gesto. � Ler o olhar de alguém. � Ler o tempo. Esses são apenas alguns exemplos que demonstram a complexidade do processo de leitura. Lemos as palavras, mas não apenas como uma ação de decodificar, pois, a partir de nossas experiências e vivências, imprimimos dife- rentes sentidos para os textos. Duas pessoas, por exemplo, podem ler o mesmo texto de formas diferentes, dependendo das experiências prévias de cada uma delas. Do mesmo modo, uma mesma mensagem escrita pode impactar de forma diferente cada leitor. Para além do entendimento tradicional de leitura, na perspectiva moderna, entendemos que a leitura está na construção de sentido, uma ação que ocorre entre o leitor e o texto. Por esse motivo, o mesmo texto pode ser lido de diferentes formas por diversos leitores. As expressões faciais, por exemplo, podem ser lidas e interpretadas de formas diferentes, mudando de acordo com o leitor (observador) e o contexto. Segundo Bakhtin (1986, p. 93): O essencial na tarefa de decodificação não consiste em reconhecer a forma linguística utilizada, mas compreendê-la num contexto preciso, compreender sua significação numa enunciação particular. Em suma, trata-se de perceber seu caráter de novidade e não somente sua conformidade à norma. Em outros termos, o receptor, pertencente à mesma comunidade linguística, também considera a forma linguística utilizada como um signo variável e flexível e não como um sinal imutável e sempre idêntico a si mesmo. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal4 Na perspectiva moderna, a leitura é entendida de forma mais ampla e pressupõe muito mais do que a decodificação e a leitura linear do texto. Essa perspectiva confere um espaço muito mais significativo para a construção de sentido. Não há uma preocupação excessiva com a decodificação do código linguístico, mas, sim, uma ênfase na autonomia semântica do leitor, em que os contextos sociais, históricos e culturais do indivíduo também são valorizados. Leituras verticais e horizontais e objetivos do leitor Na seção anterior, mencionamos a leitura linear, mas também existem as leituras vertical e horizontal. É importante conhecer essas estratégias para que elas sejam utilizadas de forma adequada ao propósito de leitura e aos objetivos do leitor, ou seja, a uma construção consciente dos sentidos da leitura. A leitura horizontal é classificada como superficial, estrutural, com base na observação de títulos e subtítulos. Ela é mais inspecional. Logo, tem como objetivo principal fazer com que o leitor se familiarize com o conteúdo, exa- minando partes-chave do texto (SOUZA, 2021). Em outras palavras, o objetivo da leitura horizontal é a familiarização com o conteúdo e um entendimento mais geral do tema do texto. A leitura horizontal pode ser caracterizada pela obtenção de uma informação de caráter geral. Solé (2014, documento on-line), sobre essa leitura mais geral, afirma que: Esta é a leitura que fazemos quando queremos “saber de que trata” um texto, “saber o que acontece”, ver se interessa continuar lendo... Quando lemos para obter uma informação geral, não somos pressionados por uma busca concreta, nem precisa- mos saber detalhadamente o que diz o texto; é suficiente ter uma impressão, com as ideias mais gerais. Poderíamos dizer que é uma leitura guiada sobretudo pela necessidade do leitor de aprofundar-se mais ou menos nela. Pense na leitura de um jornal, que pode ser impresso ou digital. O que lemos primeiro são as manchetes. Caso a notícia seja de nosso interesse (tenha uma chamada interessante), acessamos o conteúdo na íntegra e desen- volvemos a leitura completa. Caso contrário, seguimos na leitura horizontal, examinando apenas partes dos textos. Ao acessarmos o jornal da Universidade de São Paulo (USP, c2019) (Figura 1), lemos as imagens, nos apropriamos dos títulos e, quando a imagem e/ou o título chamam a nossa atenção de alguma forma (por interesse na temática, por exemplo), passamos a ler o descritivo do título (subtítulo). Confirmando Estratégias de leitura: leitura textual ou literal 5 a adesão aos nossos interesses de leitura (objetivo do leitor), acessamos o texto na íntegra e partimos para a leitura. Essa leitura pode ser horizontal em um primeiro momento, para a confirmação da pertinência do texto, ou pode ser diretamente vertical (uma leitura mais aprofundada do texto). Figura 1. Página inicial do jornal da USP, com manchetes e subtítulos. Fonte: Jornal da USP (c2019, documento on-line). A leitura vertical é profunda, reflexiva e analítica. É feita a observação de toda a estrutura linguística do texto. Para Souza (2021, documento on- -line), a leitura analítica é crítica “tanto no sentido de buscar mais detalhes, examinando os argumentos e conceitos fundamentais, quanto no sentido de realmente criticar o conteúdo, entendendo a posição do autor ao ponto de concordar ou discordar dele”. Na leitura vertical, buscamos aprender algo de forma a atribuir significado ao conteúdo proposto pelo texto. Existe, portanto, uma construção pessoal (por parte do leitor e seu contexto) sobre algo proposto objetivamente (o autor e o texto). Aquilo que está nas entrelinhas também é observado. Além do que se faz presente no texto, na leitura vertical, o leitor busca o que está implícito e procura estabelecer relações com o contexto, com outros textos e com conhecimentos prévios. Assim, o leitor pode construir o seu entendimento do texto e utilizá-lo de acordo com os seus objetivos. De acordo com Solé (2014, documento on-line), essa leitura possibilita: Ampliação do conhecimento prévio com a introdução de novas variáveis, modifica- ção radical do mesmo, estabelecimento de novas relações com outros conceitos... De qualquer forma, nosso conhecimento anterior sofreu uma reorganização, tornou-se mais completo e mais complexo, permitimos relacioná-lo a novos conceitos, e por isso podemos dizer que aprendemos. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal6 É importante conhecer as leituras horizontal e vertical, pois elas são úteis para o processo de aprendizagem. Pense, por exemplo, na construção de um trabalho de conclusão de curso. A princípio, reunimos um conjunto de textos, que são as referências em uma determinada área de pesquisa. Depois, lemos os títulos e subtítulos para selecionar aqueles que serão utilizados. Por fim, lemos o conteúdo total dos textos, com o objetivo de reorganizar noções e conceitos para construir uma escrita autoral. Estratégias de leitura literal As estratégias de leitura são utilizadas como instruções que ampliam a reali- zação do objetivo de leitura. São ações como itinerários, que, de certa forma ordenada, possibilitam o atingimento de determinada meta. Isso não significa que exista uma regra ou receita para a ordenação dessas estratégias, mas, sim, que elas, de alguma forma, facilitam o processo de leitura e interpretação de textos. Com as estratégias, o pensamento estratégico é praticado. Para Solé (2014, documento on-line), “a estratégia tem em comum com todos os demais procedimentos sua utilidade para regular a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação permite selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para conseguir a meta a que nos propomos”. As estratégias são necessárias para a formação de leitores autônomos. Elas são importantes para a formação de leitores capazes de efetivamente aprender a partir dos textos, com o objetivo de questionar o conhecimento e modificá-lo (SOLÉ, 2014). As estratégias são divididas em cognitivas e metacognitivas(KLEIMAN, 2002). As estratégias metacognitivas são as operações (e não regras) realizadas com objetivo previamente determinado. Sobre elas, temos controle cons- ciente, ou seja, temos condições de compreender a nossa ação. De acordo com Kleiman (2002, p. 50): As estratégias metacognitivas da leitura são, primeiro, autoavaliar constantemente a própria compreensão, e segundo, determinar um objetivo para a leitura. Devemos entender que o leitor que tem controle consciente sobre essas duas operações saberá dizer quando ele não está entendendo um texto e saberá dizer para que ele está lendo um texto. Isso significa que se o autor encontra alguma dificuldade de entendimento do texto, por exemplo, ele pode recorrer a palavras-chave, realizar buscas de significado dessas palavras ou retornar no texto e encontrar explicações para as dúvidas. De forma consciente, o leitor reconhece as dificuldades de Estratégias de leitura: leitura textual ou literal 7 alcance do objetivo de leitura e pratica determinadas ações para resolver esse problema, pois detecta as causas de sua dificuldade. As estratégias cognitivas, por sua vez, são inconscientes. Um exemplo, conforme Kleiman (2002), está no fatiamento sintático. Essa é uma ação necessária para a leitura, mas que não acontece de forma consciente. É um processamento em que procedimentos são utilizados, mas não temos domínio sobre eles. Vamos ampliar os conhecimentos sobre as estratégias para a formação de leitores proficientes. A princípio, temos o objetivo de leitura. De acordo com esse objetivo (ou objetivos), selecionamos os textos. A partir de conheci- mentos prévios sobre o assunto, selecionamos as leituras pertinentes. Nessa etapa, podemos realizar uma leitura mais horizontal/superficial, apenas para confirmar a aderência do texto ao objetivo proposto. Nessa estratégia (rela- cionada ao objetivo de leitura), estabelece-se uma análise de tipos de texto. Por exemplo, um romance romântico pode ser utilizado para determinado objetivo de aprendizagem, já uma pesquisa científica, para outro. De acordo com o objetivo proposto, vamos selecionar os tipos de textos que serão per- tinentes. Veja a seguir quais são esses tipos (SOLÉ, 2014, documento on-line). � Narrativo: há um desenvolvimento cronológico, com o objetivo de explicar alguns acontecimentos em uma determinada ordem. Alguns textos narrativos seguem uma organização (estado inicial > complicação > ação > resolução > estado final), já outros introduzem uma estrutura dialogal dentro da estrutura narrativa. São exemplos o conto, a lenda, o romance, entre outros. � Descritivo: descreve um objeto ou fenômeno com o uso de comparações e outras técnicas. Esse tipo de texto é frequente tanto na literatura quanto nos dicionários, em guias turísticos, em inventários, etc. � Expositivo: explica determinados fenômenos ou proporciona infor- mações sobre eles. Os livros didáticos e os manuais utilizam muito esse tipo de texto. � Instrutivo-indutivo: tem o objetivo de induzir a ação do leitor. São exemplos as palavras de ordem, as instruções de montagem ou de uso, etc. � Dissertativo: texto centrado na defesa de uma ideia. Com a apre- sentação de diferentes pontos de vista, o texto dissertativo aborda temas com profundidade reflexiva, convidando o leitor a construir conhecimentos sobre um tema específico. São exemplos o artigo de opinião, a redação dissertativa, entre outros. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal8 Após a seleção dos tipos de texto, de acordo com o objetivo de leitura, partimos para a leitura horizontal (mais superficial). Depois, seguimos, de acordo com a pertinência do texto, para a leitura vertical (aprofundamento dos tópicos), que é mais profunda, reflexiva e analítica. Nesse ponto, as estratégias utilizadas envolvem as leituras textual, con- textual e intertextual. Na textual, o leitor busca informações no texto. Na contextual, as pistas estão indicadas nas entrelinhas. Na intertextual, tam- bém chamada de cultural, o leitor estabelece relações intertextuais para o entendimento do seu objetivo de leitura. Para finalizar, é importante conhecer as estratégias de leitura de forma mais direta. A princípio, tem-se a identificação da ideia geral do texto em fun- ção dos objetivos propostos para leitura. Em seguida, busca-se a elaboração de resumos (ou fichas de leitura), com o intuito de encontrar o tema de um texto, as ideias principais e as secundárias. Para isso, quatro regras podem ser utilizadas pelo leitor: omitir, selecionar, generalizar e construir ou integrar (SOLÉ, 2014). Omitindo e selecionando, separamos as ideias importantes para o nosso objetivo de leitura daquelas que não são tão pertinentes. Após a seleção das informações, colocam-se em prática duas regras: gene- ralização e construção. Por meio da generalização, abstraímos uma sequência de ideias/informações e construímos/integramos uma ideia importante para o objetivo de leitura. Assim, uma nova informação é elaborada, muitas vezes contendo informações particulares que não estavam presentes no genérico. Lembre-se de que os resumos são construídos com base nos conhecimentos que já temos. Assim, temos as estratégias de construção de conceitos su- bordinados a partir de determinados conjuntos de informações (SOLÉ, 2014). Outra estratégia para uma leitura ativa está centrada na formulação de perguntas e respostas. Isso pode ocorrer oralmente ou de forma escrita. O leitor formula perguntas sobre o texto e, assim, regula o processo de leitura. Essas perguntas vão facilitar para o leitor a identificação do tema e das ideias principais do texto. Formular hipóteses é a estratégia integrante. A partir da leitura horizontal, hipóteses podem ser formuladas, Em seguida, a leitura vertical vai validando ou refutando as hipóteses, e as perguntas para o texto vão sendo formuladas. Com o desenvolvimento da leitura, as perguntas são respondidas e o resumo vai se construindo (SOLÉ, 2014). Utilizar as estratégias de leitura na prática é um movimento constante do leitor sobre o texto e vice- -versa. Nesse processo, há interação; logo, há construção de conhecimento. O ato de ler representa movimento, e o conhecimento não está fixo no texto, mas na interação do leitor com o texto a partir dos seus objetivos de leitura e do seu conhecimento prévio. Com a utilização das estratégias, o Estratégias de leitura: leitura textual ou literal 9 leitor amplia o processo de interpretação e apropriação do texto, construindo novos saberes. Em síntese, deve-se considerar a importância do leitor em assumir progressivamente o controle da leitura para utilizar as estratégias necessárias para uma leitura eficiente, alcançando os seus objetivos de leitura. Referências BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986. JORNAL da USP. Universidade de São Paulo (USP), c2019. Disponível em: https://jornal. usp.br/. Acesso em: 21 jun. 2022. KATO, M. A. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 2007. KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria & prática. São Paulo: Pontes, 2002. LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1996. MARTINS, M. H. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1988. SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2014. E-book. SOUZA, I. Estratégias de leitura para ler e compreender melhor. São Paulo: Ideia Books, 2021. E-book. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Estratégias de leitura: leitura textual ou literal10