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ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA ESPORTIVO NAS DISFUNÇÕES TRAUMÁTICAS DO COMPLEXO PERNA-PÉ Profº M.Sc Pedro Alves Oliveira Profº M.Sc Pedro Alves Oliveira OBJETIVOS identificar os tipos de fraturas do complexo perna- pé; orientar o paciente sobre os cuidados a serem adotados no pós-operatório imediato; promover o ganho de amplitude de movimento (ADM) da articulação acometida com segurança; revisar as fases de evolução do processo de reabilitação; utilizar os métodos de avaliação para quantificar a evolução da reabilitação. INTRODUÇÃO As fraturas em atletas de alta performance necessitam de uma abordagem eficiente, cujo objetivo é promover a restauração da função de forma precoce para que o atleta possa retornar às suas atividades com o mínimo possível de sintomas adversos. A redução precisa da fratura, a imobilização adequada, a descarga de peso, o ganho de ADM e a recuperação diferem em boa parte da abordagem de fraturas na população atlética em comparação com a população em geral devido à necessidade de retorno às atividades físicas de alta demanda.1 INTRODUÇÃO • As fraturas de tornozelo estão entre as mais frequentes dos membros inferiores (MMII) e entre os tipos mais prevalentes de fraturas pelo mundo. • Em relação à população adulta, as fraturas de tornozelo e de metatarsos ocupam a quarta e quinta maior incidência. • Apresentam uma distribuição etária bimodal com picos de homens jovens e mulheres mais velhas com taxa de 100 a 150 por mil pessoas/ano.2,3 INTRODUÇÃO • São inúmeros os tipos de fraturas do complexo perna e pé. • Diante dessa situação, foram criados métodos de classificação (Lauge-Hansen, Danis-Weber e Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen com o intuito de padronizar os tipos de fraturas com base em traço de fratura, local da fratura, quantidade de fragmentos e presença ou não de instabilidade. • A partir dessas informações, podem direcionar para o tratamento cirúrgico ou conservador.4,5 EPIDEMIOLOGIA As fraturas dos MMII correspondem a 25% de todas as fraturas relacionadas ao esporte, sendo que os cinco tipos mais comuns estão relacionados ao complexo perna e pé (fraturas de tornozelo, metatarso, falanges, diáfise da tíbia e fíbula).1 As evidências começaram a gerar dados de comparação entre o tratamento cirúrgico e o tratamento conservador. MECANISMO DE LESÃO Há várias cinemáticas de traumas do complexo perna-pé que estão presentes durante a prática esportiva. Os traumas vão desde entorses em atividades de baixa energia (queda da própria altura) até traumas em atividades de alta energia (acidentes em esportes automobilísticos). Para facilitar a forma de conduzir esses traumas, foram desenvolvidas algumas formas de classificação. MECANISMO DE LESÃO Jeong e colaboradores11 realizaram um estudo para identificar a relação entre fratura de tornozelo e lesão do ligamento deltoide por meio da ressonância magnética e encontraram que as fraturas com mecanismos de trauma em pronação ou supinação associadas à rotação lateral culminaram com 78,3% de lesão do ligamento deltoide. Nas fraturas bimaleolares após entorse de tornozelo com a cinemática de trauma em supinação e rotação lateral, foi observado um percentual de 50% de ruptura do ligamento deltoide.10 MECANISMO DE LESÃO Weber e colaboradores13 realizaram um estudo de coorte entre 2002–2013 e, após a reunião dos critérios de inclusão, conseguiram uma amostra de 4.940 de 148.498 pacientes registrados. A amostra de 4.940 pacientes compreende 2 mil indivíduos com fratura fechada de tíbia (40,5%) e 2.940 com fratura aberta de tíbia (59,5%) e está associada a traumas de alta energia, como as fraturas abertas encontradas particularmente em pacientes motociclistas.13 CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS CLASSIFICAÇÃO DE LAUGE-HANSEN • A classificação de Lauge-Hansen (Figuras 1A–D) procura correlacionar os traços de fraturas do tornozelo com o mecanismo de trauma, sendo o primeiro termo utilizado para indicar a posição do pé e o segundo termo para indicar a direção da força aplicada sobre o pé no momento do trauma. • Com base nesses parâmetros, as fraturas foram classificadas em quatro grupos:4,5 1. supinação-adução; 2. supinação-eversão; 3. pronação-eversão; 4. pronação-abdução. CLASSIFICAÇÃO DE LAUGE-HANSEN CLASSIFICAÇÃO DE DANIS-WEBER • A classificação de Danis-Weber (Figuras 2A–C) é norteada pela localização do principal traço de fratura da fíbula. • As fraturas são classificadas em três grupos:4,5 1. tipo A (abaixo do nível da sindesmose); 2. tipo B (ao nível da sindesmose); 3. tipo C (acima da sindesmose). CLASSIFICAÇÃO DE DANIS-WEBER CLASSIFICAÇÃO DE ARBEITSGEMEINSCHAFT FÜR OSTEOSYNTHESEFRAGEN A classificação de AO (Figura 3) visa classificar as fraturas com base na localização das linhas de fratura e no grau de cominuição, o que a torna mais abrangente que as outras formas de classificação mencionadas e, com isso, gera limitações de confiabilidade inter e intraobservadores. Esse modelo de classificação permite avaliar a gravidade e o grau de instabilidade.4,5 CLASSIFICAÇÃO DE ARBEITSGEMEINSCHAFT FÜR OSTEOSYNTHESEFRAGEN AVALIAÇÃO POR IMAGEM Lavrador Filho e colaboradores15 desenvolveram um estudo para verificar a aplicabilidade do protocolo de Ottawa nos atendimentos de urgência e emergência no Brasil. Nessa pesquisa, uma concordância moderada interobservador foi encontrada para as variáveis de palpação do maléolo medial, do maléolo lateral e da base do quinto metatarso e navicular, enquanto identificaram uma excelente concordância interobservador ao analisarem a incapacidade de deambular.15 AVALIAÇÃO POR IMAGEM Com base nessas variáveis, houve uma redução de 30% no total de exames solicitados.15 Por outro lado, quando há necessidade de maior detalhe das estruturas ósseas, pode ser solicitada uma tomografia computadorizada e, se o objetivo for avaliar tecidos moles com maior precisão, a ressonância magnética será o exame indicado.16 AVALIAÇÃO POR IMAGEM Em casos de entorse com a necessidade de ressonância magnética, além de fratura da tíbia distal, fíbula distal, base do quinto metatarso e navicular, 92% dos casos identificaram lesões associadas, como:16 lesão sindesmótica; lesão osteocondral; contusão óssea do tálus; estiramento do ligamento deltoide; lesões tendinosas; lesões ligamentares do médio pé. CRITÉRIOS DE OTTAWA Os critérios de Ottawa (Quadro 1) foram desenvolvidos por Stiell e colaboradores17 com o intuito de racionalizar o uso de radiografias após traumas de tornozelo por meio de critérios que avaliam a capacidade de realizar carga e dor sob palpação de áreas anatômicas predefinidas.18 CRITÉRIOS DE OTTAWA CRITÉRIOS DE OTTAWA Com base nos critérios de Ottawa, as radiografias deverão ser solicitadas nos casos de trauma torcional (rotação) no tornozelo com dor maleolar referida associada a um ou mais dos seguintes critérios:15,19 dor maleolar lateral à palpação óssea (6cm distais na região posterior); dor maleolar medial à palpação óssea (6cm distais na região posterior); incapacidade de apoiar o membro (imediatamente após o trauma e por quatro passos consecutivos). CRITÉRIOS DE OTTAWA Além desses critérios, as radiografias também deverão ser solicitadas nos casos de trauma rotacional com dor referida no médio pé associada a um ou mais dos seguintes critérios:15,19 dor à palpação óssea da base do quinto metatarso; dor à palpação óssea do navicular; incapacidade de apoiar o membro (imediatamente após o trauma e por quatro passos consecutivos), conforme Figura 4. CRITÉRIOS DE OTTAWA FRATURAS DO PILÃO TIBIAL No pós-operatório, o membro inferior é imobilizado, e alguns cirurgiões preferem suspender medicamentos anti-inflamatórios não esteroides por aproximadamente 3 meses, com o intuito de reduzir o risco de retardo de consolidação ou pseudoartrose. O ganhode ADM é progressivo (passivo, ativo-assistido e ativo) e, para evitar posição viciosa, como o pé equino, o paciente é orientado a fazer uso de órtese à noite e durante o repouso.9 A descarga de peso é realizada por volta de 12 semanas com uso de imobilizador (robofoot). Dependendo da capacidade funcional do paciente, este poderá usar bengalas, muletas e andadores. Uma das características clínicas que podem perdurar por vários meses é o edema residual, que pode ser amenizado com o uso de meias elásticas.9 FÍBULA Hasami e colaboradores2 realizaram uma revisão sistemática com metanálise e encontraram que o uso de placas bloqueadas para fixação de fraturas do maléolo lateral não promoveu melhores resultados em relação à função do tornozelo, à taxa de complicações pós- operatórias ou à quantidade de remoções de material de osteossíntese. As fraturas fibulares isoladas são raras e normalmente ocorrem por trauma direto ou queda com carga sobre a lateral da perna.9 FRATURAS DO CALCÂNEO Algumas fraturas graves são decorrentes de traumas de alta intensidade, que podem ocorrer por queda de altura (por exemplo, escada) ou acidentes de trânsito.20 As fraturas do calcâneo estão entre as mais comuns dos ossos do tarso. FRATURAS DOS METATARSOS Goodloe e colaboradores21 realizaram uma revisão sistemática para avaliar os desfechos clínicos e radiológicos, a frequência de retorno ao esporte e as complicações após diferentes tratamentos cirúrgicos para fratura do quinto metatarso exclusivamente em atletas de elite. Encontraram 12 estudos que contabilizaram 280 fraturas do quinto metatarso e, dessas fraturas, 47,9% foram tratadas com fixação com parafuso intramedular.21 A descarga de peso parcial foi identificada em 11 estudos com uma média de início após 19 dias. O tempo médio de consolidação observado em sete estudos foi de 9,19 semanas e a frequência rápida de retorno ao esporte foi de 11,15 semanas.21 LESÃO DA SINDESMOSE A lesão da sindesmose tibiofibular distal (STFD), na maioria dos casos, está associada a fraturas do tornozelo. O tratamento convencional consiste no tratamento da fratura e fixação da sindesmose com parafusos estabilizadores.24 AVALIAÇÃO CLÍNICA Ao avaliar o atleta, é importante buscar algumas informações, como: qual esporte pratica; quando ocorreu o trauma (se é o primeiro trauma ou se é trauma recorrente); qual o mecanismo de trauma; se houve presença de lesões ligamentares e/ou fraturas; quais estruturas ósseas afetadas; quais exames realizados; qual a sintomatologia atual. PONTOS QUE GERAM DISCUSSÃO NO TRATAMENTO DOS CASOS DE FRATURA DO COMPLEXO PERNA-PÉ DO ATLETA • A seguir, serão apresentados os pontos que geram discussão no tratamento dos casos de fratura do complexo perna-pé do atleta. DESCARGA DE PESO A descarga de peso é orientada de forma gradual por 6 semanas na maioria dos protocolos. Nos casos de fraturas (AO-44B1 e AO- 44C1) tratadas com estabilização sindesmótica, a descarga parcial é recomendada na sexta semana de pós- operatório, enquanto, nos protocolos com abordagem cirúrgica sem estabilização sindesmótica, a carga total é recomendada na sexta semana.3 IMOBILIZAÇÃO VERSUS MOBILIZAÇÃO A maioria dos protocolos analisados recomenda três formas relacionadas à conduta a ser adotada referente à ADM do tornozelo:3 imobilização completa; ADM de -10º a +10º; ADM livre. IMOBILIZAÇÃO VERSUS MOBILIZAÇÃO Os seguintes termos são indicados para determinar as medidas que devem ser adotadas como conduta para a redução de dor, edema, melhora da ADM e descarga de peso:37 RICE (repouso, gelo, compressão e elevação); PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação); POLICE (proteção, otimização de carga, gelo, compressão e elevação); PEACE AND LOVE (proteção, elevação, evitar anti-inflamatórios, compressão, educação, carga, otimismo, vascularização, exercício). ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA APÓS TRATAMENTO CIRÚRGICO • A seguir, serão apresentadas as fases da abordagem fisioterapêutica após tratamento cirúrgico da fratura. FASE INICIAL — PÓS-OPERATÓRIO No período pós-operatório imediato, o atleta será orientado a não realizar descarga de peso por um período entre 2 e 6 semanas, dependendo do tipo de fratura e da cirurgia a que foi submetido. Após ser liberada a descarga de peso parcial, o atleta deverá retirar a muleta (dispositivo auxiliar da marcha) do lado do membro acometido e permanecer com a muleta do lado sadio (Figuras 11A e B). Reabilitação Reabilitação Ao retirar a muleta do lado lesionado, o centro de gravidade será deslocado para o membro sadio. No momento da deambulação, o membro sadio irá receber a carga total, e o membro acometido irá dividir a carga com a muleta do lado contralateral. Ao subir/descer escadas, há uma frase simples para auxiliar durante esse momento, que é: “Os bons sobem e os maus descem”. Ao subir, deverá iniciar com o membro sadio e depois avançar com o membro lesionado e a(s) muleta(s). Após posicionar os dois membros no mesmo degrau, deverá repetir a sequência com o membro sadio e depois o lesionado para o degrau seguinte. Ao descer, deverá iniciar o movimento com o membro lesionado e a(s) muleta(s), controlando a descida com o membro sadio. Depois de apoiar o membro acometido e a(s) muleta(s) no degrau inferior, o membro sadio será descolado para o degrau inferior e assim sucessivamente (Figuras 12A–C e 13A–C). Reabilitação Reabilitação Reabilitação os movimentos circulatórios próximos às cicatrizes cirúrgicas e os movimentos que aproximam as bordas das cicatrizes devem ser realizados para evitar aderência cicatricial (Figuras 14A–C). Após a retirada da bota gessada ou nos casos em que o atleta estiver imobilizado com bota ortopédica que possa ser retirada durante o tratamento fisioterapêutico, Reabilitação Reabilitação Reabilitação Os exercícios para quadril, joelho e dedos podem ser introduzidos nas primeiras semanas (Figuras 16A e B, 17A e B, 18A e B, 19A–C e 20A e B). A introdução de exercícios deve ser realizada o mais cedo possível, respeitando a particularidade de cada caso, podendo seguir algumas regras como iniciar com exercícios isométricos e evoluir para exercícios dinâmicos ou iniciar com exercícios passivos e evoluir para exercícios ativos. Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação SEGUNDA FASE — INTENSIFICAR OS EXERCÍCIOS DA FASE INICIAL São critérios para iniciar a segunda fase: capacidade de realizar descarga de peso no membro afetado sem dor; cicatrização da ferida cirúrgica; ADM normal ou próxima da normalidade; sensibilidade normal; exames radiográficos comprovando o processo de consolidação; consenso com o médico responsável pelo atleta para a liberação de descarga de peso. Reabilitação Após ser comprovada a consolidação por meio dos exames radiológicos de controle e após a descarga de peso total ser liberada, o processo de recuperação poderá evoluir com maior segurança e progredir com os exercícios de fortalecimento e treinamento sensoriomotor, como: exercícios aeróbicos (bicicleta estacionária com evolução para os aparelhos elípticos e finalmente esteira); treinos de mobilidade (Figuras 25A e B e 26A e B); treino de equilíbrio no colchão (Figuras 27A e B); progressão dos exercícios de fortalecimento (Figuras 28A e B e 29A–C); treinos de mudança de direção em linha reta e laterolateral com movimentos lentos com o objetivo de promover maior consciência corporal (Figuras 30A e B e 31). Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação TERCEIRA FASE — RETORNO AO ESPORTE São critérios de retorno ao esporte: fratura consolidada;ausência de dor e edema; ADM normal; força muscular simétrica entre os MMII (diferença de força de até 10%); testes funcionais e questionários funcionais com escores dentro da normalidade. Reabilitação Na terceira fase, o atleta terá que aumentar a intensidade dos treinos de fortalecimento, potência e resistência, além de melhorar a coordenação e treinar o gesto esportivo. A seguir, estão listados exemplos de exercícios que podem ser realizados nessa fase, como: progressão dos exercícios de mudança de direção (Figuras 32, 33A– C, 34A e B, 35A e B e 36A e B); progressão dos treinos de força (Figuras 37A e B, 38 e 39A e B); treinos pliométricos (Figuras 40A–C e 41A e B); treinos dos gestos esportivos (Figuras 42 e 43). Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Reabilitação Obrigado! Até a próxima!
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