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DIREITO PENAL PARTE GERAL CONCURSO DE PESSOAS 2 1. CONCEITO É a nomenclatura utilizada para definir a colaboração de duas ou mais pessoas para a prática de crime ou contravenção penal. 2. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 2.1. Monossubjetivos / Unissubjetivos / Concurso Eventual São aqueles que podem ser praticados tanto por uma só pessoa como por mais de uma (o concurso pode não ocorrer). Ex.: Estupro Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 a 10 anos. 2.2. Prurissubjetivos / Plurilaterais / Concurso Necessário São aqueles que só podem ser praticados por mais de uma pessoa (o concurso deve ocorrer). Ex.: Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos. • Nos crimes plurissubjetivos, o concurso é necessário e já está previsto no próprio tipo penal, não sendo necessária a aplicação de norma de extensão, sendo, portanto, caso de adequação típica imediata; 3. REQUISITOS P Pluralidade de agentes. R Relevância causal das condutas. I Identidade de infração. L Liame subjetivo. • Em regra, todos os agentes serão enquadrados no mesmo tipo penal (teoria monista); • O liame subjetivo ocorre quando uma pessoa adere à conduta da outra, ainda que esta não saiba da adesão, e não é necessário o prévio ajuste entre os agentes, podendo ocorrer também de forma concomitante (coautoria sucessiva); 3 4. TEORIAS 4.1. Teoria Monista / Unitária (Regra) Todos que concorrem para o crime respondem por um único tipo penal, na medida de sua culpabilidade. Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. • O princípio da individualização da pena é um mitigador dessa teoria, visto que deve ser aplicada a pena do crime menos grave no caso de o colaborador querer praticar apenas este; 4.2. Teoria Pluralista (Exceção) Apesar de concorrerem para a prática do crime, cada agente responde de forma autônoma por um crime próprio. Ex.: No crime de aborto praticado com consentimento da gestante, esta responde pelo crime previsto no art. 124 e o terceiro que pratica o crime responde em conformidade com o art. 126. 4.3. Teoria Dualista (Exceção) Haverá a atribuição de um crime para o autor, que desempenha a atividade principal, e outro para o partícipe, que desempenha a atividade acessória. Art. 29, § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 5. FORMAS DE PRATICAR O CRIME QUANTO AO SUJEITO 5.1. Autoria TEORIAS PARA DIFERENCIAR AUTOR DE PARTÍCIPE Teorias Unitárias Teoria Subjetiva/Unitária – Todos são considerados autores. Teoria Extensiva – Todos são autores, mas estabelece a diminuição de pena para a atuação de menor importância. Teorias Diferenciadoras Teoria Objeivo-formal – Autor é aquele que executa o núcleo do tipo penal. Partícipe é aquele que concorre de qualquer forma para o crime. São diferenciados com base nos atos executórios. Teoria Objetivo-material – Autor é quem dá a contribuição objetiva mais importante para a prática do crime. Partícipe é o concorrente de conduta menos relevante. 4 Teoria do domínio do fato – Autor é quem tem o pleno controle do fato, decidindo seu início, execução e cessação. Partícipe é quem não exerce domínio sobre a situação. • Pela Teoria do domínio do fato, autor não é necessariamente o executor da ação e partícipe é aquele que não executa o crime e não tem o domínio/controle da atuação. Essa teoria não se aplica aos crimes culposos, pois o agente não possui domínio de um resultado que ele não previu; • O pleno controle do fato é inerente àquele que tem o domínio da própria vontade (autor propriamente dito), que tem o domínio da parcela que lhe foi atribuída no conjunto das atividades criminosas (coautor funcional), que usa terceira pessoa como instrumento do crime (autor mediato) e que tem a coordenação do crime (autor intelectual); • Configura a autoria por convicção o fato de uma mãe, por convicção religiosa, não permitir a transfusão de sangue indicada por equipe médica para salvar a vida de sua filha, mesmo diante da necessidade desse procedimento; 5.2. Autoria Mediata / Indireta É caracterizada quando o agente, sem realizar diretamente a conduta descrita no tipo penal, comete o fato típico por ato de outra pessoa (imputável ou não) utilizada como seu instrumento. • Não cabe autoria mediata em crime de mão própria, visto que o próprio tipo penal determina quem deve ser o sujeito ativo; HIPÓTESES DE AUTORIA MEDIATA 1 Execução do fato por inimputável. 2 Coação moral irresistível. 4 Obediência hierárquica. 4 Provocação de erro determinado por terceiro. • Caso a autoria seja praticada valendo-se de um inimputável, o executor atua sem dolo, culpa ou culpabilidade, sendo a conduta principal atribuída ao autor mediato: Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não- punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; • Caso a conduta criminosa seja praticada em caso de coação moral irresistível, aquele que coage responderá como autor mediato e o coagido terá sua culpabilidade afastada por inexigibilidade de conduta diversa: 5 Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. • Aquele que determina ordem ilegal (não manifestamente) responde por autoria mediata e o coagido terá sua culpabilidade afastada por inexigibilidade de conduta diversa: Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. • Aquele que determina dolosamente o erro de outro responde por autoria mediata: Erro determinado por terceiro Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. QUESTÕES PERTINENTES 1 É possível autoria mediata em crime culposo? Não, pois não há como o agente ter o controle do resultado que sequer teve a possibilidade de prever. 2 É possível autoria mediata em crime próprio? Sim, desde que o autor mediato possua as qualidades ou condições especiais exigidas pelo tipo penal. 3 É possível autoria mediata em crime de mão própria? Não, pois o tipo penal especifica diretamente quem deve ser o autor do crime, sendo uma conduta infungível. 5.3. Coautoria É a autoria compartilhada de um crime, em que os agentes, ligados subjetivamente, atuam em conjunto para a produção do resultado, podendo ser por meio de ação ou omissão. • Se não houver liame subjetivo entre os agentes, descaracteriza-se o concurso de pessoas e caracteriza-se a autoria colateral; • Para avaliar se a conduta se enquadra em caso de coautoria ou participação, observa-se a teoria da conditio sine qua non, de forma a avaliar se a conduta foi essencial para a prática do núcleo do tipo (coautoria) ou acessória (participação); QUESTÕES PERTINENTES 1 É possível coautoria em crime próprio? Sim, sendo irrelevante se ambos reúnem a qualidade especial, porém é indispensável que pelo menos um a tenha e que o comparsa a conheça. 6 2 É possível coautoria em crime de mão própria? Em regra, não, pois o sujeito ativo é definido diretamente pela lei (conduta infungível). Sãoexceções os crimes de falsa perícia, quando praticado dolosamente por mais de um perito e o falso testemunho induzido pelo advogado – STF/STJ. 5.4. Multidão Delinquente Ocorre quando o crime é praticado em decorrência de influência de indivíduos reunidos e desprovidos de preceitos éticos e morais. • Em virtude da dificuldade de individualização das condutas, esta se torna dispensável, sendo suficiente a demonstração da contribuição de cada agente para causar o resultado; 5.5. Participação É uma conduta acessória na prática de um crime, geralmente anterior à sua execução, podendo ser material ou moral. • Para avaliar se a conduta se enquadra em caso de participação ou coautoria, observa-se a teoria da conditio sine qua non, de forma a avaliar se a conduta foi essencial para a prática do núcleo do tipo (coautoria) ou acessória (participação); a) Material O agente auxilia na prática do crime, fornecendo meios ou condições para a concretização do delito. Ex.: emprestar o carro para um roubo. b) Moral O agente induz (faz nascer a ideia) ou instiga (reforça ideia já existente) o autor a praticar o fato delituoso. Ex.: incitar a prática de suicídio a outrem. TEORIAS PARA PUNIR A PARTICIPAÇÃO 1 Acessoriedade Mínima Para que o partícipe seja punido, é suficiente a prática de fato típico. 2 Acessoriedade Limitada Para que o partícipe seja punido, é suficiente a prática de fato típico e ilícito. 3 Acessoriedade Máxima Para que o partícipe seja punido, é necessário a prática de fato típico e ilícito, por agente culpável. 7 4 Hiperacessoriedade Para que o partícipe seja punido, é necessário a prática de fato típico, ilícito, por agente culpável e que seja efetivamente punido. 5.6. Autoria Colateral Ocorre quando mais de um agente atua para a obtenção do resultado, inexistindo liame subjetivo entre eles, ocorrendo o resultado em virtude do comportamento de apenas um deles. Ex.: dois matadores atiram na vítima simultaneamente, sendo que um não sabe da existência do outro. • Afasta a ocorrência de concurso de pessoas, respondendo um dos autores por crime consumado e o outro por crime tentado; • Se não for possível a identificação do agente que atingiu o resultado, haverá responsabilização por crime tentado para ambos (autoria incerta); • Se a conduta de um dos autores for caso de crime impossível e não for possível identifica-lo, deverá ser utilizado o princípio do in dubio pro reo e ambos serão isentos de responsabilidade; 6. PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS 6.1. Participação de menor importância Art. 29, § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a 1/3. • Quando a participação não possui relevância, de forma a não contribuir em nada para o resultado, não será punida (participação inócua); 6.2. Cooperação dolosamente distinta Art. 29, § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. VARIAÇÕES POSSÍVEIS NA COOPERAÇÃO 1 O agente quer praticar crime menos grave e o resultado mais grave é imprevisível. O agente responde pelo crime menos grave. 2 O agente quer praticar o crime menos grave e o resultado mais grave é previsível. O agente responde pelo crime menos grave, mas com pena aumentada até a metade. 8 3 O agente quer praticar o crime menos grave, mas previu e aceitou o crime mais grave. O agente responde pelo crime mais grave. 7. QUESTÕES COMPLEMENTARES 7.1. Pressuposto da punição A participação só é punida se o autor da conduta principal incorrer, ao menos, na tentativa. Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. • O partícipe responde se o autor praticar um fato típico e ilícito, ainda que este não seja culpável (teoria da acessoriedade limitada – adotada); 7.2. Comunicabilidade de elementares e circunstâncias As circunstâncias e os elementos que integram o tipo penal são aplicáveis (comunicáveis) a todos os agentes que contribuíram para a infração. Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. 1 Elementares São os componentes básicos do tipo penal e, desaparecendo, desconfigura o crime (ex.: subtração no crime de furto). Objetiva Dizem respeito ao fato criminoso. Subjetiva Dizem respeito ao agente. 2 Circunstâncias São itens acessórios que interferem na pena prevista para o delito e, desaparecendo, não desconfiguram o crime. Objetiva Dizem respeito ao fato (ex.: furto no repouso noturno). Subjetiva Dizem respeito ao agente (ex.: antecedentes). • As elementares objetivas e subjetivas se estendem aos coautores e partícipes, desde que se tenha conhecimento delas; Ex.: A condição de funcionário público é elementar do peculato, comunicando-se ao partícipe (cidadão comum), que também responderá pelo delito se tiver conhecimento da condição. • As circunstâncias objetivas se estendem aos coautores e partícipes, desde que se tenha conhecimento delas; • As circunstâncias subjetivas não se estendem aos coautores e partícipes, pois elas dizem respeito ao agente e não ao fato (ex.: reincidência); 9 7.3. Participação por omissão 1ª Situação Se o omitente tem o dever de evitar o resultado, pode ser considerado partícipe por omissão (crime omissivo impróprio). 2ª Situação Se o omitente não tem o dever legal de evitar o resultado, não responde como partícipe por ele e sim como autor de um crime autônomo (omissão própria). QUESTÕES PERTINENTES 1 É possível coautoria em crime omissivo próprio? Não, respondendo cada agente por um crime de forma individual. 2 É possível participação em crime omissivo próprio? Sim, pois o partícipe pode induzir outrem a não praticar uma conduta. 3 É possível coautoria em crime omissivo impróprio? Sim, desde que os coautores sejam agentes garantidores e decidam não agir. 2 É possível participação em crime omissivo impróprio? Sim, pois o partícipe pode instigar um agente garantidor a não praticar seu dever. 7.4. Concurso de pessoas em crime culposo A coautoria é possível, mas a participação em crime culposo é incabível, visto que o tipo penal é aberto e aquele que concorre para crime culposo assume a condição de coautor (posição majoritária). 7.5. Colaboração em crime já consumado Nessa hipótese, não há caracterização de coautoria ou participação no crime ocorrido, mas o agente pode responder por crime autônomo. Ex.: quem recebe o bem furtado não é partícipe do furto, mas autor da receptação. • Se antes do crime, o agente se compromete a ajudar o infrator após o delito, pode se caracterizar a participação por instigação;
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