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6 Concurso de Pessoas

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DIREITO PENAL 
PARTE GERAL CONCURSO DE PESSOAS 
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1. CONCEITO 
 
É a nomenclatura utilizada para definir a colaboração de duas ou mais pessoas para a 
prática de crime ou contravenção penal. 
 
 
2. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 
 
2.1. Monossubjetivos / Unissubjetivos / Concurso Eventual 
 
São aqueles que podem ser praticados tanto por uma só pessoa como por mais 
de uma (o concurso pode não ocorrer). 
 
Ex.: Estupro 
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção 
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 
Pena - reclusão, de 6 a 10 anos. 
 
 
2.2. Prurissubjetivos / Plurilaterais / Concurso Necessário 
 
São aqueles que só podem ser praticados por mais de uma pessoa (o concurso 
deve ocorrer). 
 
Ex.: Associação Criminosa 
Art. 288. Associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: 
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos. 
 
• Nos crimes plurissubjetivos, o concurso é necessário e já está previsto no 
próprio tipo penal, não sendo necessária a aplicação de norma de extensão, 
sendo, portanto, caso de adequação típica imediata; 
 
 
3. REQUISITOS 
 
P Pluralidade de agentes. 
R Relevância causal das condutas. 
I Identidade de infração. 
L Liame subjetivo. 
 
• Em regra, todos os agentes serão enquadrados no mesmo tipo penal (teoria 
monista); 
 
• O liame subjetivo ocorre quando uma pessoa adere à conduta da outra, ainda 
que esta não saiba da adesão, e não é necessário o prévio ajuste entre os agentes, 
podendo ocorrer também de forma concomitante (coautoria sucessiva); 
 
 
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4. TEORIAS 
 
4.1. Teoria Monista / Unitária (Regra) 
 
Todos que concorrem para o crime respondem por um único tipo penal, na 
medida de sua culpabilidade. 
 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
 
• O princípio da individualização da pena é um mitigador dessa teoria, visto 
que deve ser aplicada a pena do crime menos grave no caso de o colaborador 
querer praticar apenas este; 
 
4.2. Teoria Pluralista (Exceção) 
 
Apesar de concorrerem para a prática do crime, cada agente responde de forma 
autônoma por um crime próprio. 
 
Ex.: No crime de aborto praticado com consentimento da gestante, esta responde pelo 
crime previsto no art. 124 e o terceiro que pratica o crime responde em conformidade 
com o art. 126. 
 
4.3. Teoria Dualista (Exceção) 
 
Haverá a atribuição de um crime para o autor, que desempenha a atividade 
principal, e outro para o partícipe, que desempenha a atividade acessória. 
 
Art. 29, § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-
á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido 
previsível o resultado mais grave. 
 
 
5. FORMAS DE PRATICAR O CRIME QUANTO AO SUJEITO 
 
5.1. Autoria 
 
TEORIAS PARA DIFERENCIAR AUTOR DE PARTÍCIPE 
Teorias 
Unitárias 
Teoria Subjetiva/Unitária – Todos são considerados autores. 
Teoria Extensiva – Todos são autores, mas estabelece a diminuição 
de pena para a atuação de menor importância. 
Teorias 
Diferenciadoras 
Teoria Objeivo-formal – Autor é aquele que executa o núcleo do 
tipo penal. Partícipe é aquele que concorre de qualquer forma 
para o crime. São diferenciados com base nos atos executórios. 
Teoria Objetivo-material – Autor é quem dá a contribuição objetiva 
mais importante para a prática do crime. Partícipe é o concorrente 
de conduta menos relevante. 
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Teoria do domínio do fato – Autor é quem tem o pleno controle 
do fato, decidindo seu início, execução e cessação. Partícipe é 
quem não exerce domínio sobre a situação. 
 
• Pela Teoria do domínio do fato, autor não é necessariamente o executor da 
ação e partícipe é aquele que não executa o crime e não tem o 
domínio/controle da atuação. Essa teoria não se aplica aos crimes culposos, 
pois o agente não possui domínio de um resultado que ele não previu; 
 
• O pleno controle do fato é inerente àquele que tem o domínio da própria 
vontade (autor propriamente dito), que tem o domínio da parcela que lhe 
foi atribuída no conjunto das atividades criminosas (coautor funcional), que 
usa terceira pessoa como instrumento do crime (autor mediato) e que tem a 
coordenação do crime (autor intelectual); 
 
• Configura a autoria por convicção o fato de uma mãe, por convicção 
religiosa, não permitir a transfusão de sangue indicada por equipe médica para 
salvar a vida de sua filha, mesmo diante da necessidade desse procedimento; 
 
 
5.2. Autoria Mediata / Indireta 
 
É caracterizada quando o agente, sem realizar diretamente a conduta descrita 
no tipo penal, comete o fato típico por ato de outra pessoa (imputável ou não) 
utilizada como seu instrumento. 
 
• Não cabe autoria mediata em crime de mão própria, visto que o próprio tipo 
penal determina quem deve ser o sujeito ativo; 
 
HIPÓTESES DE AUTORIA MEDIATA 
1 Execução do fato por inimputável. 
2 Coação moral irresistível. 
4 Obediência hierárquica. 
4 Provocação de erro determinado por terceiro. 
 
• Caso a autoria seja praticada valendo-se de um inimputável, o executor atua 
sem dolo, culpa ou culpabilidade, sendo a conduta principal atribuída ao autor 
mediato: 
 
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: 
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-
punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; 
 
• Caso a conduta criminosa seja praticada em caso de coação moral irresistível, 
aquele que coage responderá como autor mediato e o coagido terá sua 
culpabilidade afastada por inexigibilidade de conduta diversa: 
 
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Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a 
ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da 
coação ou da ordem. 
 
• Aquele que determina ordem ilegal (não manifestamente) responde por 
autoria mediata e o coagido terá sua culpabilidade afastada por inexigibilidade 
de conduta diversa: 
 
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a 
ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da 
coação ou da ordem. 
 
• Aquele que determina dolosamente o erro de outro responde por autoria 
mediata: 
 
Erro determinado por terceiro 
Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. 
 
 
QUESTÕES PERTINENTES 
1 É possível autoria mediata em crime culposo? 
Não, pois não há como o agente ter o controle do resultado que sequer teve a 
possibilidade de prever. 
2 É possível autoria mediata em crime próprio? 
Sim, desde que o autor mediato possua as qualidades ou condições especiais 
exigidas pelo tipo penal. 
3 É possível autoria mediata em crime de mão própria? 
Não, pois o tipo penal especifica diretamente quem deve ser o autor do crime, 
sendo uma conduta infungível. 
 
 
5.3. Coautoria 
 
É a autoria compartilhada de um crime, em que os agentes, ligados 
subjetivamente, atuam em conjunto para a produção do resultado, podendo ser 
por meio de ação ou omissão. 
 
• Se não houver liame subjetivo entre os agentes, descaracteriza-se o concurso 
de pessoas e caracteriza-se a autoria colateral; 
 
• Para avaliar se a conduta se enquadra em caso de coautoria ou participação, 
observa-se a teoria da conditio sine qua non, de forma a avaliar se a conduta 
foi essencial para a prática do núcleo do tipo (coautoria) ou acessória 
(participação); 
 
QUESTÕES PERTINENTES 
1 É possível coautoria em crime próprio? 
Sim, sendo irrelevante se ambos reúnem a qualidade especial, porém é indispensável 
que pelo menos um a tenha e que o comparsa a conheça. 
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2 É possível coautoria em crime de mão própria? 
Em regra, não, pois o sujeito ativo é definido diretamente pela lei (conduta infungível). 
Sãoexceções os crimes de falsa perícia, quando praticado dolosamente por mais de 
um perito e o falso testemunho induzido pelo advogado – STF/STJ. 
 
 
5.4. Multidão Delinquente 
 
Ocorre quando o crime é praticado em decorrência de influência de indivíduos 
reunidos e desprovidos de preceitos éticos e morais. 
 
• Em virtude da dificuldade de individualização das condutas, esta se torna 
dispensável, sendo suficiente a demonstração da contribuição de cada agente 
para causar o resultado; 
 
 
5.5. Participação 
 
É uma conduta acessória na prática de um crime, geralmente anterior à sua 
execução, podendo ser material ou moral. 
 
• Para avaliar se a conduta se enquadra em caso de participação ou coautoria, 
observa-se a teoria da conditio sine qua non, de forma a avaliar se a conduta 
foi essencial para a prática do núcleo do tipo (coautoria) ou acessória 
(participação); 
 
a) Material 
 
O agente auxilia na prática do crime, fornecendo meios ou condições para a 
concretização do delito. 
 
Ex.: emprestar o carro para um roubo. 
 
b) Moral 
 
O agente induz (faz nascer a ideia) ou instiga (reforça ideia já existente) o 
autor a praticar o fato delituoso. 
 
Ex.: incitar a prática de suicídio a outrem. 
 
TEORIAS PARA PUNIR A PARTICIPAÇÃO 
1 Acessoriedade Mínima 
Para que o partícipe seja punido, é suficiente a 
prática de fato típico. 
2 Acessoriedade Limitada 
Para que o partícipe seja punido, é suficiente a 
prática de fato típico e ilícito. 
3 Acessoriedade Máxima 
Para que o partícipe seja punido, é necessário a 
prática de fato típico e ilícito, por agente culpável. 
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4 Hiperacessoriedade 
Para que o partícipe seja punido, é necessário a 
prática de fato típico, ilícito, por agente culpável e 
que seja efetivamente punido. 
 
 
5.6. Autoria Colateral 
 
Ocorre quando mais de um agente atua para a obtenção do resultado, 
inexistindo liame subjetivo entre eles, ocorrendo o resultado em virtude do 
comportamento de apenas um deles. 
 
Ex.: dois matadores atiram na vítima simultaneamente, sendo que um não sabe da 
existência do outro. 
 
• Afasta a ocorrência de concurso de pessoas, respondendo um dos autores 
por crime consumado e o outro por crime tentado; 
 
• Se não for possível a identificação do agente que atingiu o resultado, haverá 
responsabilização por crime tentado para ambos (autoria incerta); 
 
• Se a conduta de um dos autores for caso de crime impossível e não for 
possível identifica-lo, deverá ser utilizado o princípio do in dubio pro reo e 
ambos serão isentos de responsabilidade; 
 
 
6. PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS 
 
6.1. Participação de menor importância 
 
Art. 29, § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída 
de 1/6 a 1/3. 
 
• Quando a participação não possui relevância, de forma a não contribuir em 
nada para o resultado, não será punida (participação inócua); 
 
 
6.2. Cooperação dolosamente distinta 
 
Art. 29, § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-
á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido 
previsível o resultado mais grave. 
 
VARIAÇÕES POSSÍVEIS NA COOPERAÇÃO 
1 
O agente quer praticar crime menos grave e 
o resultado mais grave é imprevisível. 
O agente responde pelo crime 
menos grave. 
2 
O agente quer praticar o crime menos grave 
e o resultado mais grave é previsível. 
O agente responde pelo crime 
menos grave, mas com pena 
aumentada até a metade. 
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3 
O agente quer praticar o crime menos grave, 
mas previu e aceitou o crime mais grave. 
O agente responde pelo crime 
mais grave. 
 
 
7. QUESTÕES COMPLEMENTARES 
 
7.1. Pressuposto da punição 
 
A participação só é punida se o autor da conduta principal incorrer, ao menos, 
na tentativa. 
 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em 
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. 
 
• O partícipe responde se o autor praticar um fato típico e ilícito, ainda que 
este não seja culpável (teoria da acessoriedade limitada – adotada); 
 
 
7.2. Comunicabilidade de elementares e circunstâncias 
 
As circunstâncias e os elementos que integram o tipo penal são aplicáveis 
(comunicáveis) a todos os agentes que contribuíram para a infração. 
 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. 
 
1 Elementares 
São os componentes básicos do tipo penal e, desaparecendo, 
desconfigura o crime (ex.: subtração no crime de furto). 
Objetiva Dizem respeito ao fato criminoso. 
Subjetiva Dizem respeito ao agente. 
2 Circunstâncias 
São itens acessórios que interferem na pena prevista para o delito 
e, desaparecendo, não desconfiguram o crime. 
Objetiva Dizem respeito ao fato (ex.: furto no repouso noturno). 
Subjetiva Dizem respeito ao agente (ex.: antecedentes). 
 
• As elementares objetivas e subjetivas se estendem aos coautores e partícipes, 
desde que se tenha conhecimento delas; 
 
Ex.: A condição de funcionário público é elementar do peculato, comunicando-se ao 
partícipe (cidadão comum), que também responderá pelo delito se tiver conhecimento 
da condição. 
 
• As circunstâncias objetivas se estendem aos coautores e partícipes, desde que 
se tenha conhecimento delas; 
 
• As circunstâncias subjetivas não se estendem aos coautores e partícipes, pois 
elas dizem respeito ao agente e não ao fato (ex.: reincidência); 
 
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7.3. Participação por omissão 
 
1ª Situação 
Se o omitente tem o dever de evitar o resultado, pode ser considerado partícipe 
por omissão (crime omissivo impróprio). 
2ª Situação 
Se o omitente não tem o dever legal de evitar o resultado, não responde como 
partícipe por ele e sim como autor de um crime autônomo (omissão própria). 
 
QUESTÕES PERTINENTES 
1 É possível coautoria em crime omissivo próprio? 
Não, respondendo cada agente por um crime de forma individual. 
2 É possível participação em crime omissivo próprio? 
Sim, pois o partícipe pode induzir outrem a não praticar uma conduta. 
3 É possível coautoria em crime omissivo impróprio? 
Sim, desde que os coautores sejam agentes garantidores e decidam não agir. 
2 É possível participação em crime omissivo impróprio? 
Sim, pois o partícipe pode instigar um agente garantidor a não praticar seu dever. 
 
 
7.4. Concurso de pessoas em crime culposo 
 
A coautoria é possível, mas a participação em crime culposo é incabível, visto 
que o tipo penal é aberto e aquele que concorre para crime culposo assume a 
condição de coautor (posição majoritária). 
 
 
7.5. Colaboração em crime já consumado 
 
Nessa hipótese, não há caracterização de coautoria ou participação no crime 
ocorrido, mas o agente pode responder por crime autônomo. 
 
Ex.: quem recebe o bem furtado não é partícipe do furto, mas autor da receptação. 
 
• Se antes do crime, o agente se compromete a ajudar o infrator após o delito, 
pode se caracterizar a participação por instigação;

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