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Também chamado de concurso de agentes, é a colaboração entre duas ou mais pessoas para a realização de um crime ou de uma contravenção penal. É gênero do qual são espécies a coautoria e a participação. 1 São cumulativos, de forma que a falta de um dele descaracteriza o concurso de pessoas: a) Pluralidade de agentes (culpáveis); b) Relevância causal das condutas; c) Vínculo subjetivo; d) Unidade de infração penal para todos os agentes; e) Existência de fato punível (para alguns autores, este requisito está implícito nos demais). A caracterização do concurso de pessoas depende de dois ou mais agentes. quando todos os agentes praticam condutas principais, haverá a coautoria. quando um agente pratica uma conduta principal e outro pratica uma conduta acessória, estaremos diante das figuras do autor e partícipe, respectivamente. - A característica do concurso de pessoas previsto nos arts. 29 a 31 do CP é a culpabilidade de todos os agentes. - Existem três categorias de crimes no concurso de pessoas: Crimes unissubjetivos, unilaterais ou de concurso eventual: São os crimes praticados, em regra, por uma única pessoa, mas que admitem o concurso. Ex: homicídio. Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso necessário: São aqueles em que o tipo penal reclama a prática do delito por dois ou mais agentes, não podendo o crime ser praticado por uma única pessoa. Ex: associação criminosa. Crimes acidentalmente coletivos, eventualmente coletivos ou acidentalmente plurissubjetivos: São aqueles que podem ser praticados por uma única pessoa, mas que a pluralidade de agentes faz surgir uma modalidade mais grave do delito. Ex: furto, diante da existência de qualificadora quando praticado por duas ou mais pessoas. * O concurso de pessoas previsto nos arts. 29 a 31 do CP só se aplica aos crimes de concurso eventual, onde todos os agentes devem ser culpáveis. autoria mediata: alguém se vale de uma pessoa sem culpabilidade para executar o crime, se diferenciando, portanto, do concurso de agentes culpáveis. * Nos crimes de concurso necessário e nos acidentalmente coletivos, embora exista o concurso de agentes, não são solucionados pelos arts. 29 a 31 do CP, mas sim pelo próprio tipo penal do delito, bastando, nestes crimes, que um dos agentes seja culpável. Há dois ou mais agentes e todos eles concorrem de qualquer modo para o crime. não há concurso de pessoas na chamada “participação inócua ou ineficaz”, quanio o agente quer concorrer para o resultaio fjnal, mas não concorre objetivamente, de modo que sua colaboração existe apenas no plano subjetivo, faltando relevância causal na conduta. Ex: “A” compartjlha com “B” que está iecjijio a matar seu iesafeto. “B”, então, empresta uma arma para que “A” realjze seu plano. Contuio, ele acaba matanio seu desafeto utilizando-se ie um veneno. “B” concorreu subketjvamente para o crjme ie “A”, mas não obketjvamente. Também chamaio ie “liame psicológico” ou “concurso de vontades”, é o propósito de colaborar para o crime de terceiro, ainda que este terceiro desconheça tal colaboração. para a caracterização do vínculo subjetivo não se exige o prévio ajuste (acordo de vontades), embora possível. princípio da convergência: no vínculo subjetivo, todos os agentes devem apresentar vontade homogênea, isto é, se o crime é doloso, todos os agentes devem concorrer de forma dolosa, se o crime é culposo, todos devem concorrer culposamente. desta forma, não se admite participação dolosa em crime culposo e vice-versa, pois neste caso cada um responderá por seu comportamento, sem o concurso de pessoas. ausente o vínculo subjetivo, surge a chamada autoria colateral, descaracterizando o concurso de pessoas. O art. 29 do CP adota como regra geral no concurso de pessoas a teoria unitária ou monista: todos aqueles que concorrem para o crime respondem pelo mesmo crime. desta forma, no concurso de pessoas há: pluralidade de pessoas + unidade de crime. contudo, a unidade de infração não gera a unidade de pena em relação a todos os agentes, em razão do princípio da culpabilidade: cada um responderá na medida de sua culpabilidade, sob pena de ofensa ao princípio da individualização da pena. * Exceções pluralistas: são situações em que dois ou mais agentes contribuem para o mesmo resultado, mas respondem por crimes diversos. Ex: gestante que realiza aborto em clínica médica. A gestante responderá pelo art. 124, enquanto o médico responderá pelo crime do art. 126, embora objetivem o mesmo resultado. 2 a) Teoria Objetivo-Formal: Pertence ao bloco das teorias restritivas, pois restringe o conceito de autor, admitindo a figura do partícipe. para a teoria objetivo-formal o autor é quem pratica o núcleo do tipo (o verbo do tipo penal). O partícipe, por sua vez, é quem concorre de qualquer modo para o crime. O autor intelectual, portanto, é considerado partícipe. para aqueles que a adotam, esta teoria deve ser complementada pela chamada autoria mediata: autor mediato é aquele que se vale de uma pessoa sem culpabilidade (o autor imediato) para executar o crime. b) Teoria do domínio do Fato: Criada por Hans Welzel em 1939 e aperfeiçoada na década de 1970 por Claus Roxin, sendo intrinsecamente ligada ao finalismo penal. a teoria do domínio do fato ampliou o conceito de autor para abranger o agente que controla finalisticamente o fato, a realização do crime. Autor * a teoria do domínio do fato se aplica somente aos crimes dolosos. * essa teoria restringe o conceito de partícipe, mas não o elimina: partícipe é quem de qualquer modo concorre para o crime, sem executá-lo e sem possuir o controle final do fato. Qual a teoria adotada pelo CP? - o CP não adotou nenhuma teoria, de forma que essa discussão é jurisprudencial e doutrinária. Na prática, a teoria objetivo-formal continua tendo primazia, mas a teoria do domínio do fato vem ganhando espaço principalmente no contexto de estruturas ilícitas, como as organizações criminosas. - como o CP segue o princípio da culpabilidade no concurso de pessoas, é indiferente quem foi autor ou partícipe, já que a pena não será maior ou menor a depender desta classificação. A autoria de escritório é uma proposta de Zaffaroni e a teoria do domínio da organização é apresentada por Claus Roxin. Ambas decorrem da teoria do domínio do fato e são utilizadas para a identificação da autoria nos crimes praticados no âmbito de estruturas ilícitas de poder. Partem da ideia de que, nas organizações criminosas, os detentores do comando não executam diretamente as condutas típicas, mas se Autor propriamente dito: quem executa o núcleo do tipo Autor intelectual: o mentor do crime, aquele que planeja toda a atividade criminosa, mas não a executa Autor mediato Todo aquele que tem o controle final do fato utilizam de indivíduos dotados de culpabilidade para a prática dos crimes. 3 Nada mais é que a existência de dois ou mais autores em um mesmo crime. a) Autoria parcial ou funcional: os coautores do crime praticam atos diversos que, somados, levam ao resultado final. Ex: “A” segura “B” para que “C” o esfaqueje. b) Autoria direta ou material: os coautores praticam atos iguais que se somam para a produção do resultado. Ex: “A” e “C” esfaquejam kuntos “B”. a) Crimes próprios ou especiais: são aqueles em que o tipo penal reclama uma situação fática ou jurídica diferenciada no tocante ao sujeito ativo. Ex: peculato, pois o agente deve ser servidor público. b) Crimes de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível: são aqueles que somente podem ser praticados pela pessoa expressamente indicada no tipo penal. Ex: falso testemunho. Para a visão tradicional, os crimes de mão própria não admitem coautoria, mas apenas a participação. (no falso testemunho, por exemplo, apenas a testemunhapode mentir, mas terceiros, como um advogado, podem induzir, instigar ou auxiliar que ela minta) ↳ exceção: a falsa perícia é um crime de mão própria que admite coautoria (ex: dois peritos de comum acordo subscrevem laudo falso). Para aqueles que adotam a teoria do domínio do fato, os crimes de mão própria admitem coautoria. 4 A participação é uma figura acessória no concurso de pessoas, pois não existe sem o autor. Participação moral: fica no plano mental, se limitando a ideias, conselhos e sugestões. Subdivide-se em: ↳ Induzimento: induzir é fazer nascer na mente de alguém uma vontade criminosa que até então não existia. ↳ Instigação: é reforçar a vontade criminosa já existente na mente do agente. * o induzimento e a instigação devem ser dirigidos a pessoa determinada e direcionados a fato determinado, de forma que não existe participação penalmente relevante e, consequentemente, concurso de pessoas, quando o induzimento e a instigação possuem caráter genérico. Participação material: também chamada de cumplicidade, ocorre quando o partícipe presta auxílio sem executar o crime. Auxiliar consiste em facilitar, viabilizar materialmente a execução da infração. Ocorre, via de regra, durante os atos preparatórios ou executórios do crime. ↳ Não se admite o auxílio posterior à consumação, salvo se ajustado previamente. - Com ajuste prévio: “A” jnforma “B” que matará “C” em ietermjnaio local, soljcjtanio que “B” lá esteka no horárjo combjnaio para que o leve até o aeroporto. Neste caso, “B” será partícipe ie “A” no crjme ie homjcíijo, pojs o auxílio posterior à consumação se deu com ajuste prévio. - Sem ajuste prévio: “B” encontra “A” logo após ter cometido o crime de homjcíijo e o akuia a sajr io local e se esconier. Neste caso, “B” não será partícipe do crime de homicídio, uma vez que o auxílio não foi previamente akustaio. Contuio, por auxjljar “A” a se esconier ie autorjiaie públjca, “B” responderá pelo crime de favorecimento pessoal previsto no art. 348 do CP. Também chamada de participação mínima, está prevista no art. 29, §1º. Trata-se de participação de reduzida eficácia causal, contribuindo para o resultado final em menor grau. - Natureza jurídica: é causa de diminuição da pena (minorante), reduzindo de 1/6 a 1/3. Diz respeito ao fato praticado pelo agente, pouco importando suas condições pessoais (ex: ainda que seja reincidente, sua pena será reduzida). * a diminuição da pena só se aplica ao partícipe, pois não se fala em “coautorja ie menor jmportâncja”. Está prevista no art. 31 e traz o caráter acessório da participação. Princípio da executividade da participação: só se pune a conduta do partícipe se o autor pratica o crime pelo menos na forma tentada. * Exceção: existem situações em que a lei prevê expressamente a punição do ajuste, instigação e o auxílio, independentemente da prática do crime principal. (ex: associação criminosa) É possível a participação por omissão no ordenamento jurídico brasileiro, quando o omitente possuía o dever de agir para evitar o resultado. Também chamada de participação negativa, crime silente ou concurso absolutamente negativo, é a omissão de quem não possui o dever legal de agir para evitar o resultado, não caracterizando participação. Também é admitida. Ex: “A” pretende contratar um assassino profissional para matar seu desafeto. Por não conhecer o assassjno, jniuz “B”, seu amjgo, a convencê-lo. participação sucessiva: na participação sucessiva a pessoa é instigada, induzida ou auxiliada por duas ou mais pessoas diversas a cometer o mesmo crime. a) Acessoriedade mínima: Para ser possível a punição do partícipe, basta que o autor pratique um fato típico. Não é adotada. b) Hiperacessoriedade: Para ser possível a punição do partícipe, é necessário que o autor pratique um fato típico, ilícito, seja culpável e efetivamente punido. Não é adotada. c) Acessoriedade limitada: Basta que o autor pratique um fato típico e ilícito, não precisando ser culpável. Esta teorja não se sustenta ijante ia autorja meijata: “A” se vale ie pessoa jnjmputável para pratjcar um crjme. “A” é consjieraio autor, e não partícipe. d) Acessoriedade máxima ou extrema: Para que seja possível a punição do partícipe, é necessário que o autor pratique um fato típico, ilícito e seja culpável. É a que mais tem sido adotada, embora não seja exclusiva. 5 Também chamada de desvios subjetivos entre os agentes, é tratada no artigo 29, §2º do CP: Não pode ser considerada uma mitigação ou uma exceção à teoria monista, vez que neste caso não há concurso de pessoas no tocante ao crime mais grave. Ex: “A” e “B” combjnam entre sj o furto ie um carro. Ao arrombarem a porta io carro, o alarme dispara e o iono io veículo aparece com uma faca na mão. “A” foge io local e “B” permanece, mata a vítjma e subtraj o veículo. ↳ Neste caso, “A” responierá por tentatjva ie furto e “B” por latrocínjo. ↳ Com relação à segunda parte do referido parágrafo, se o resultado majs grave fosse prevjsível para “A”, este responierá por tentatjva ie furto com pena aumentada até a metade. 6 Elementares: também chamadas de elementos constitutivos, são os dados que integram a modalidade básica do crime, formando o tipo fundamental. § 2º- Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. - em regra, estão previstas no caput dos tipos penais. Excepcionalmente podem estar previstas fora do caput (ex: excesso de exação, art. 316, §1º). Circunstâncias: são dados que se agregam às elementares, se somando ao tipo fundamental para aumentar ou diminuir a pena. Formam o chamado tipo derivado. - estão sempre previstas nos parágrafos, incisos e alíneas. - se subdividem em: Circunstâncias pessoais ou subjetivas: são aquelas que dizem respeito ao agente, como por exemplo, os motivos do crime (ex: motivo torpe; motivo de relevante valor moral) Circunstâncias reais ou objetivas: são aquelas que dizem respeito ao fato e não ao agente, como os meios de execução (ex: emprego de fogo; meio cruel) Condições: são dados que existem independentemente da prática do crime. Também se subdividem em: Condições pessoais ou subjetivas: dizem respeito ao agente, como a reincidência. Condições reais ou objetivas: são aquelas que dizem respeito ao fato praticado pelo agente, como por exemplo, crime praticado durante período noturno. * 1) As elementares se comunicam, desde que sejam do conhecimento de todos os agentes. Ex: Promotor ie Justjça que oferece as chaves ia promotorja para que “B” furte determinado computador. O Promotor responderá pelo peculato, por ser funcjonárjo públjco, e “B” responierá pelo mesmo crjme, iesie que conheça a posição de funcionário público do Promotor. * 2) As circunstâncias pessoais ou subjetivas nunca se comunicam. Ex: “A” contrata “B”, um mataior ie aluguel, para matar o estupraior ie sua fjlha. “A” responierá pelo crjme ie homjcíijo prjvjlegjaio, em razão io relevante valor moral, e “B” responierá pelo homicídio qualificado em razão da promessa de recompensa. São circunstâncias pessoais que não se comunicam entre os agentes. * 3) As circunstâncias reais ou objetivas se comunicam, desde que sejam do conhecimento de todos os agentes. Ex: “A” contrata “B” para matar seu iesafeto, combjnanio que “B” jrá torturá-lo. A tortura é uma circunstância objetiva, de modo que ambos responderão por homicídio qualificado. * 4) As condições pessoais ou subjetivas nunca se comunicam. Ex: “A” e “B” pratjcam ietermjnaio crjme, mas somente “A” é rejncjiente. Esta conijção não se comunjca a “B”. * 5) As condições reais ou objetivas se comunicam, desde que sejam do conhecimento de todos os agentes. Ex: “A” contrata “B” para jnvaijr ietermjnaioiomjcíljo em período noturno, de modo que ambos responderão com esta qualificadora. 7 Na autoria colateral, também chamada de coautoria imprópria ou autoria parelha, dois ou mais agentes praticam atos de execução de um mesmo crime, cada um desconhecendo a atuação do outro. Não há, portanto, concurso de pessoas, por ausência do vínculo subjetivo. É possível identificar quem produziu o resultado. Ex: “A” e “B”, hospeiaios em um mesmo hotel a alguns quartos ie ijstâncjas, avistam da janela do quarto “C”, tomanio sol na praja. No mesmo jnstante, “A” e “B” atjram e “C” vem a falecer. Neste caso, há autorja colateral, pojs ambos praticam o crime de homicídio, cada um desconhecendo a conduta do outro. Sendo constatado que o homicídio foi consumado pelo tjro ie “A”, este responderá por homicídio consumado; se fjcar provaio que “B” errou o tjro, responderá por homicídio tentado. Contuio, se “A” atjra prjmejro e provoca a morte jnstantânea ia vítjma, e “B” atjra logo em segujia, “A” responie pelo crjme ie homjcíijo consumaio e a coniuta ie “B” é atípjca, por se tratar ie crime impossível por impropriedade absoluta do objeto material. 8 A autoria incerta pressupõe a autoria colateral. Na autoria incerta, duas ou mais pessoas praticam atos de execução de um mesmo crime, cada uma desconhecendo a vontade da outra, mas nela não é possível identificar quem produziu o resultado. Não há concurso de pessoas por ausência do vínculo subjetivo. autoria desconhecida: fenômeno do Processo Penal, em que um crime é praticado, mas não existem indícios de autoria. Ex: “A” e “B” atjram no mesmo jnstante para matar “C”. A perícja só consegue identificar um disparo na vítima, de forma que não resta demonstrado quem a matou, pois as armas e munições eram idênticas. Neste caso, em observância ao prjncípjo “jn iúbjo pro reo”, ambos responierão por tentatjva ie homjcíijo, ajnia que o crime tenha se consumado, por não ser possível identificar quem efetivamente matou a vítima. Ex2: A esposa ie “A” coloca substâncja que acreijta ser veneno em seu café, horas iepojs, a amante ie “A” também coloca veneno em seu suco. Ambas têm a intenção de matar “A” e iesconhecem a coniuta uma ia outra. A perícja constata no sangue ie “A” veneno ie rato e farjnha ie trjgo. Por jnexjstjr vínculo subjetivo entre as mulheres, uma cometeu, em tese, o crime de homicídio consumado, ao passo que a outra praticou crime impossível. Neste caso, por força io “jn iubjo pro reo”, o respectjvo jnquérjto ieverja ser arquivado, por não ser possível estabelecer quem produziu o resultado. Desta forma, na autoria incerta: - se ambos os agentes praticam atos de execução de um crime, ambos respondem por tentativa; - se um agente pratica atos de execução e o outro pratica crime impossível, haverá crime impossível para ambos.
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