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228 MERCÚRIO EM PEIXES – FONTES E CONTAMINAÇÃO Daniele Kasper*, Daniele Botaro, Elisabete Fernandes Albuquerque Palermo & Olaf Malm Laboratório de Radioisótopos Eduardo Penna Franca, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Bloco G, Edifício do Centro de Ciências e da Saúde, Av. Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ilha do Fundão, CEP: 21941-902. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. *E-mail: daniele@biof.ufrj.br RESUMO O mercúrio ocorre naturalmente no meio ambiente, entretanto, devido aos diversos usos que se faz do metal, suas concentrações vêm aumentando no meio e consequentemente na biota. Este metal pode ocorrer como mercúrio metálico ou como diferentes espécies químicas orgânicas ou inorgânicas, sendo a espécie química deste metal importante para a compreensão da sua toxicologia. A forma do Hg mais tóxica é o metilmercúrio, e as condições e sítios propícios para a metilação do metal vem sendo estudados. Além da concentração e forma do metal no meio, para o entendimento das concentrações na biota também é importante a avaliação de fatores como idade, tamanho, hábito alimentar, sexo entre outros. Os fatores físico-químicos do ambiente também devem ser considerados por influenciar na metilação do Hg e na absorção deste metal pela biota. O estudo com peixes é importante quando se trata de ecossistema aquático porque estes organismos apresentam diferentes hábitos alimentares e de vida e ocupam diferentes nichos. Além disto, quando se trata de contaminação humana, peixes são o alimento mais contaminado por mercúrio que os homens consomem. Estudos sobre peixes cultivados em piscicultura vêm demonstrando que estes são menos contaminados do que os provenientes de ambientes naturais. No entanto, a ração fornecida a esses peixes pode representar uma importante fonte de contaminação e, portanto, deve ter um rígido controle. Palavras-chave: Mercúrio, peixe, aqüicultura, contaminação, ecossistema aquático. ABSTRACT MERCURY ON FISH – SOURCES AND CONTAMINATION. Mercury occurs naturally in the environment, however, due to the diverse array of its use, the concentrations have been increase in the environment and, consequently, in the biota. This metal can occur as metallic mercury or as different organic or inorganic chemical species, being these chemical classifications important criteria to the understanding of its toxicology. The most toxic mercury species is the methylmercury, and suitable conditions and sites for methylation have been studied. Besides the environmental concentrations and the chemical species, to understand the biota concentrations a wide range of factors are important to be assessed, as age, size, food habit, sex and others. The physic-chemic environmental factors must be considered because of their effects on the Hg methylation and biota absorption. Fish study is important if to deal with aquatic ecosystem because this organism presents different food and life habits and is engaged in different niches. Moreover, when deal with human contaminations, there are the most mercury contaminated food consumed. Studies on farmed fishes have showed these fishes less contaminated than those proceeding from natural environments. However, the supplied ration to those fishes can represent an important contamination source and, because of that, should have a strict control. Key-words: Mercury, fish, aquaculture, contamination, aquatic ecosystem. CONSIDERAÇÕES GERAIS O mercúrio (Hg) ocupa um lugar de destaque entre vários metais pesados, associados à contaminação do ambiente aquático devido a sua alta toxicidade. Os dados de intoxicação por mercúrio em humanos relatam que a principal via de intoxicação é através do consumo de peixes, este é o alimento normalmente consumido pelos homens que contém os maiores níveis desse metal (Kitahara et al. 2000). Devido ao consumo de pescados e mariscos contaminados por metilmercúrio (MeHg) episódios de contaminação Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 229 em massa ocorreram em Minamata (Japão), em 1953. No Iraque, em 1955 e 1971, foram consumidos pela população alimentos preparados com sementes tratadas com fungicidas mercuriais o que resultou em novas contaminações. No Brasil, o Hg é utilizado na mineração do ouro aluvial. Nesta atividade, o metal é lançado no meio ambiente em quantidades elevadas para a formação da amálgama com o ouro. Muitos estudos foram realizados para avaliar o impacto desta atividade sobre a biota e o ambiente e, também, sobre as populações que sobrevivem da mineração (Câmara et al. 2000, Malm et al. 1995a e b, Hylander et al. 2000, Bastos et al. 2004). O mercúrio tem muitas aplicações em diversas atividades humanas. Os antigos já faziam o uso terapêutico do metal, desconhecendo seus efeitos tóxicos. Durante a Idade Média, o Hg era usado em processos de amalgamação e na alquimia. Alguns usos atuais do mercúrio são: na indústria de cloro-soda, fabricação de aparelhos elétricos, em tintas, fungicidas, em instrumentos científicos, como catalisadores, em amálgama dentária, na amalgamação industrial, entre outros. No meio ambiente, os íons mercuroso (Hg2 2+) e mercúrico (Hg2+) podem formar diferentes compostos orgânicos e inorgânicos. O Hg inorgânico pode sofrer um processo de biometilação no ambiente aquático. Este processo pode ser realizado por microorganismos presentes nos corpos d’água associados aos sedimentos de fundo, material particulado em suspensão, plâncton ou às raízes da vegetação submersa (Quevauviller et al. 1996, Guimarães et al. 1998, Mauro et al. 1999). As propriedades físico-químicas das espécies mercuriais inorgânicas estão intimamente relacionadas ao ânion ao qual o metal se liga (Azevedo 2003). Das espécies orgânicas formadas, o MeHg é o mais comum e o mais importante do ponto de vista toxicológico, sendo listado pelo Programa Internacional de Segurança Química como um dos seis produtos químicos mais tóxicos ao meio ambiente de forma global (Gilbert & Grant-Webster 1995). Os compostos organometálicos de Hg têm grande afinidade com os grupamentos sulfidrílico e hidroxila das proteínas e são muito solúveis em lipídios, difundindo-se facilmente através das membranas celulares. Devido a essas características, esses compostos são absorvidos e acumulados facilmente pelas células, ocasionando uma maior capacidade de bioacumulação pela biota do que os compostos inorgânicos (WHO 1990). Aproximadamente 75% do mercúrio acumulado em tecido muscular de peixes de água doce estão na forma orgânica. Desse mercúrio orgânico, cerca de 100% é metilmercúrio, sendo esta a principal espécie orgânica de Hg presente em tecidos e fluidos biológicos (Filho & Campos 1999). Isto sugere que a transferência de mercúrio orgânico através da cadeia alimentar é mais efetiva quando comparada às formas inorgânicas (Wiener & Spry 1996, Palermo et al. 2002). Em alguns estudos, o Hg inorgânico mostrou comportamento oposto ao orgânico, apresentando menores concentrações em peixes predadores e maiores em peixes detritívoros (Palermo et al. 2002). Peixes são considerados bons indicadores para avaliação da poluição crônica. Mais especificamente, peixes não migradores tendem a refletir melhor as características do corpo d´água. Com isto eles se tornam um reflexo da variabilidade ambiental local (Jahanbakht et al. 2002, Belger & Forsberg 2006). Muitos estudos têm utilizado peixes para avaliação de contaminação. Na Europa, várias espécies de peixes foram usadas como bioindicadoras de contaminação de acordo com a região, ex, Abramis brama monitorando o rio Elba ou rio Weser, Leuciscus cephalus no rio Morava, Anguilla anguilla no rio Rhine ou Esox lucius em lagos da Finlândia. Geralmente, mais de uma espécie de peixe deve ser analisada para estudos ambientais comparativos (Svobodová et al. 1999). Portanto, o entendimento das concentrações de Hg orgânico e inorgânico nos peixes pode resultar em um grande avançono esclarecimento dos processos e parâmetros que possam estar influenciando a biodisponibilidade e a absorção do Hg pela biota. TRANSFERÊNCIA TRÓFICA O MeHg é um organometalico que além de se bioacumular também se biomagnifica ao longo das cadeias alimentares, ou seja, os organismos do topo da cadeia têm concentrações mais elevadas do que aqueles do início da cadeia. Como os peixes têm um amplo espectro alimentar, estudos de biomagnificação podem ser realizados analisando peixes com diferentes hábitos alimentares. Um estudo neste sentido foi conduzido por Svobodová et al. (1999) no reservatório de Kamýk, onde foram encontradas Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 MERCÚRIO EM PEIXES – FONTES E CONTAMINAÇÃO 230 concentrações de mercúrio no músculo dos peixes em ordem decrescente: predadores típicos, espécies bentófagas com uma porção substancial de peixe na alimentação, espécies tipicamente bentófagas, espécies planctófagas. Muitos outros estudos observam esse mesmo padrão em diferentes espécies de peixes, com os carnívoros tendo concentrações mais elevadas, muitas vezes superiores aos limites permitidos para o consumo, e os herbívoros e planctívoros com concentrações significativamente menores (Palermo et al. 2002, Palermo et al. 2004, Malm et al. 1995a, Zhou & Wong 2000). Peixes carnívoros, portanto, podem ser usados como bons indicadores para o monitoramento da poluição por mercúrio, enquanto as outras espécies com hábitos alimentares distintos podem ser usadas para monitorar os aspectos de saúde humana (Al-Majed & Preston 1999, Malm et al. 1995b). FATORES BIÓTICOS QUE PODEM INFLUEN- CIAR NA CONCENTRAÇÃO DE MERCÚRIO NOS PEIXES As diferenças na bioacumulação também podem estar relacionadas às diferentes necessidades nutricionais dos distintos estágios de vida dos organismos (Beckvar et al. 1996). Segundo Svobodová et al. (1999) pode haver um incremento nas concentrações de Hg em indivíduos juvenis e a exposição decrescer nos peixes adultos provavelmente devido a mudanças na dieta e possíveis substituições de itens alimentares mais contaminados por itens com menos Hg. Dessa forma, a idade do peixe é um importante fator devido às possíveis mudanças na alimentação e também ao tempo de exposição do animal ao Hg. Muitos estudos relacionam a idade, peso e comprimento do peixe às suas concentrações de Hg (Bache et al. 1971, Morrison & Thérien 1995, Monteiro et al. 1991, Kehrig et al. 2001a). As concentrações de Hg no músculo dos peixes em três reservatórios da Tanzânia (Mtera, Kidatu e Hale- Pangani) tiveram correlação positiva com seus pesos e comprimentos (Ikingura & Akagi 2003). Segundo os autores, em muitos casos é possível prever as concentrações de mercúrio total (THg) nos peixes através das relações entre peso e comprimento. Além dessa relação com o tecido muscular, alguns autores citam que esta relação entre concentração de Hg e comprimento e peso nos peixes também ocorre para o fígado (Svobodová et al. 1999). Variações nas concentrações de Hg também podem estar ligadas à migração dos peixes para áreas mais contaminadas, ou ainda, depender do tempo de residência nestas áreas (Al-Majed & Preston 1999, Francesconi & Lenanton 1992). Outros fatores que podem influenciar nas concentrações de Hg são: particularidades fisiológicas das espécies, quantidade de alimento ingerido e tamanho das presas ingeridas (Beckvar et al. 1996, Kim 1995, Goldstein et al. 1996). Diferenças de acumulação entre machos e fêmeas podem ser atribuídas a diferenças na dieta. Entretan- to, alguns autores consideram que as diferenças fi- siológicas entre os dois sexos são importantes para o entendimento destas concentrações, tendo as gônadas um papel na eliminação do Hg orgânico (Beckvar et al. 1996, Capelli et al. 1983, Kasper 2006). FATORES ABIÓTICOS QUE PODEM IN- FLUENCIAR NA CONCENTRAÇÃO DE MER- CÚRIO NOS PEIXES Apesar de a alimentação ser a principal via de entrada de Hg nos organismos, a influência de fatores abióticos também é importante para o entendimento das concentrações de Hg (Jernelöv & Lann 1971, Hylander et al. 2000). Alguns fatores ambientais podem influenciar a biodisponibilidade e acumulação do Hg nos peixes, tanto para formas orgânicas quanto inorgânicas. Ou ainda, certas condições abióticas, podem aumentar a metilação do mercúrio no ambiente e resultar em maior acumulação dessa espécie na biota (Beckvar et al. 1996). A metilação do mercúrio inorgânico é o passo- chave para a ciclagem do Hg nos ecossistemas aquáticos (Fitzgerald & Mason 1997) e ocorre tanto em ambientes naturais quanto impactados (Cossa et al. 1994a). A concentração de MeHg no ambiente reflete a diferença entre os processos de metilação e demetilação. A metilação é um processo que ocorre predominantemente nos sedimentos superficiais do corpo aquático, na camada redox da interface sedimento-água, e tende a diminuir com o aumento da profundidade do sedimento (Korthals KASPER, D. et al. Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 231MERCÚRIO EM PEIXES – FONTES E CONTAMINAÇÃO & Winfrey 1987, Matilainen 1995). Além deste sítio de metilação, alguns trabalhos demonstraram a ocorrência deste processo também em outros locais, entretanto com menor importância: na coluna d’água (Olson & Cooper 1974, Callister & Winfrey 1986, Xun et al. 1987), nas raízes das macrófitas flutuantes (Guimarães et al. 2000), no trato gastrointestinal de peixes (Spry & Wiener 1991) e na fina camada de muco que envolve o corpo dos peixes (Rudd 1995). A metilação pode ser biótica (por intermédio de microorganismos), abiótica, ou envolver uma mistura desses dois processos, como, por exemplo, a metilação bacteriana de estanho (IV) acompanhada da transferência abiótica do grupamento metil para o Hg. A importância relativa dos dois processos tem sido discutida e acredita-se que a metilação seja um processo predominantemente biótico (Ujlrich et al. 2001). Os organismos capazes de metilar o Hg têm sido encontrados entre os anaeróbios, anaeróbios facultativos e aeróbios, sendo as bactérias sulfato- redutoras as apontadas como maiores metiladoras (Compeau & Bartha 1985). Os estudos das condições que propiciam a metilação foram iniciados principalmente relacionando as concentrações no sedimento, água e biota com as mudanças nas condições ambientais. As condições favoráveis para a metilação são: anoxia, acidez da água, ou seja, em um ambiente redutor (WHO 1990). Os parâmetros físicos e químicos da água como pH, temperatura, salinidade, condutividade, potencial de oxiredução, concentração de oxigênio dissolvido, turbidez, presença de íons sulfeto e carbono orgânico dissolvido são fatores importantes para a avaliação da contaminação da biota por Hg (Ikingura & Akagi 2003, WHO 1990, Huchabee et al. 1979, Kehrig et al. 1998). Além disso, a concentração e a forma química do Hg na coluna d’água também são importantes (Kehrig et al. 2001b, WHO 1990). Segundo Svobodová et al. (1999), o pH da água em dois reservatórios da República Tcheca (Kamýk e Orlík) foi correlacionado negativamente com as concentrações de Hg no músculo dos peixes. A biota do reservatório de Kamýk (pH entre 6,0 - 6,5) teve maiores concentrações de Hg quando comparada à biota do outro reservatório, Orlík (pH variando de 6,7 a 7,3). Correlação similar foi encontrada nos peixes de quatro reservatórios da Tanzânia, onde, quanto maior o pH da água, menores foram as concentrações nos peixes (Ikingura & Akagi 2003). No entanto, esta correlação não é relatada somente para lagos artificiais, em dez lagos de Wisconsin, as concentrações de THg em perca amarela foram inversamente relacionadas ao pH (Cope et al. 1990). Vários outros estudos já demonstraram esta relação, podendo-se entender que esta variável é importante para a compreensão dos níveis de Hg na biota (Andersson et al. 1995, Sprenger et al. 1988). O carbono orgânico dissolvido tem um importante papel no transportee biodisponibilidade do Hg orgânico e inorgânico, afetando o acúmulo de Hg pelos peixes (Driscoll et al. 1994). Belger & Forsberg (2006) relacionaram as concentrações de Hg em dois peixes carnívoros (Cicla spp. e Hoplias malabaricus) ao tamanho da área de inundação do Rio Negro. O Hg no tecido muscular das duas espécies aumentou com a porcentagem de área de inundação, provavelmente devido a uma maior mobilização do Hg dos solos inundados para a coluna d’água e pelo provável aumento dos sítios de metilação do Hg. Nesse mesmo rio, também foi observada uma correlação positiva dos níveis de Hg no músculo de H. malabaricus com o carbono orgânico dissolvido (COD) na coluna d’água (Belger & Forsberg 2006). Outro estudo (Silva-Forsberg et al. 1999) realizado nessa mesma bacia hidrográfica (rios de águas pretas) mostrou que quanto maior COD do rio estudado, maiores eram os níveis de Hg no cabelo da população ribeirinha, provavelmente devido aos níveis mais elevados de Hg nos peixes consumidos por essas pessoas. O mercúrio presente na coluna d’água tende a se ligar ao material particulado em suspensão (MPS), tendo este um papel importante no transporte do metal nos corpos aquáticos. O mercúrio liga-se a partículas inorgânicas, partículas de matéria orgânica e partículas biogênicas como bactérias, algas e fitoplâncton. O MPS tende a se depositar no sedimento e carregar consigo grande parte do Hg da coluna d’água (Andren & Harriss 1975, Cossa et al. 1994b, Maurice-Bourgoin et al. 2000). Portanto, existe uma estreita relação entre as concentrações do metal presentes no MPS e no sedimento. Zhou & Wong (2000) observaram que as concentrações de Hg no músculo de Aristichthys nobilis (carpa cabeçuda) tinham correlação positiva com as concentrações no sedimento. Este peixe, de hábito alimentar filtrador, estaria refletindo, portanto, as concentrações de Hg no MPS e no sedimento devido Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 232 ao seu hábito alimentar. Essa correlação positiva também foi observada em estudos de Ikingura & Akagi (2003) em reservatórios artificiais da Tanzânia. O sedimento pode ser considerado um importante sítio de acumulação do Hg (e outros metais pesados) em ambientes aquáticos. Um perfil de sedimento pode então mostrar o histórico de contaminação de um local. Muitos estudos recentes utilizam radioisótopos para datar cada seção dos sedimentos e então poder entender as concentrações dos metais ao longo do perfil, podendo inclusive relacionar estes dados com o histórico de desenvolvimento, industrialização e urbanização daquele local (ex. Marques et al. 2006). Os ambientes anóxicos dos corpos d’água, propícios a metilação do Hg, podem provocar o aumento da mobilidade e disponibilidade do metal para a biota aquática. Uma correlação negativa foi encontrada entre as concentrações de THg em três espécies de peixes (Rutilus rutilus, Abramis brama, Perca fluviatilis) do reservatório de Kamýk e a concentração de oxigênio dissolvido na coluna d’água (Svobodová et al. 1999). TOXICOLOGIA DO MERCÚRIO Alguns eventos de contaminação em massa por metais pesados ocorreram, como os de Minamata, Iraque e Niigata (contaminação por Hg) e em Toyama (contaminação por Cd), entre outros. O acidente mais conhecido em relação à contaminação mercurial foi o ocorrido na Baía de Minamata (Japão) em 1953 devido ao consumo de pescado contaminado. Naquela época, a concentração de mercúrio nos sedimentos da baía alcançou níveis de até 2.010 mg/kg (peso seco) (Harada 1995). Diversos efeitos neurocomportamentais em humanos foram relacionados à contaminação, como por exemplo: falta de coordenação motora, tremores, redução do campo visual, distúrbios sensoriais, entre outros (Tsubaki & Irukyama 1976). Muito do que se conhece a respeito dos efeitos do Hg em humanos advém de estudos com a população contaminada (principalmente nos casos de contaminação em massa) e de estudos com outros mamíferos (como por exemplo baleias e golfinhos devido à sua proximidade filogenética com os humanos). Como exemplos podem ser citados os trabalhos de Lailson-Brito et al. (2002) e Dietz et al. (2000). A toxicocinética do Hg depende da via de exposição (respiratória, ingestão de alimento, cutânea) que atinge o organismo e da espécie do metal, por exemplo, a absorção do metal via trato gastrointestinal pode ser inferior a 0,01 ou 95% para o mercúrio metálico e o orgânico respectivamente (Hugunin & Bradley 1975). Quanto ao risco à saúde humana, as formas mais importantes do mercúrio são os vapores de mercúrio elementar e os alquilmercuriais de cadeia curta (OMS 1978). Em especial pode-se citar o metilmercúrio devido a sua alta capacidade de incorporação pelas células. O MeHg é lipossolúvel e, portanto, atravessa facilmente membranas celulares. Esta forma do metal possui ainda uma baixa velocidade de eliminação por ter uma meia-vida muito longa, por exemplo, sua meia-vida biológica é de cerca de 70 dias em seres humanos (Neathery & Miller 1975) e de 1.000 dias em peixes (Azevedo 2003). O mercúrio age como inibidor e modificador das atividades protéicas mesmo em baixas concentrações devido a sua afinidade com grupos sulfidrila presentes em proteínas e sistemas enzimáticos de diferentes tecidos e órgãos (Azevedo 2003). Por meio de testes toxicológicos, alguns efeitos neurocomportamentais dos organismos podem ser avaliados. Em experimento com a adição de cloreto de metilmercúrio (CH3HgCl) na água de aquários contendo peixes, foi observado que estes organismos tiveram mudanças neurocomportamentais após a exposição, como: perda da habilidade de natação, natação em círculos, perda de movimento, falta de coordenação e nadadeira caudal fazendo movimentos circulares (Jahanbakht et al. 2002). Alguns efeitos toxicológicos do Hg em peixes incluem danos cerebrais, letargia, diminuição da capacidade predatória, diminuição dos reflexos, danos nas brânquias e deficiência reprodutiva. No entanto, a toxicidade pode ser influenciada pelo estágio de vida do animal (idade) e pela sensibilidade ou tolerância do organismo a esse contaminante (que pode diferir entre espécies diferentes) (Beckvar et al. 1996, Oliveira Ribeiro et al. 2000). MERCÚRIO NA AQÜICULTURA SITUAÇÃO ATUAL DA AQÜICULTURA Atualmente a aqüicultura converteu-se em uma atividade consolidada capaz de abastecer à incessante demanda por produtos pesqueiros, KASPER, D. et al. Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 233MERCÚRIO EM PEIXES – FONTES E CONTAMINAÇÃO frente à diminuição da produtividade pesqueira observada desde o final dos anos 80. Tal fato pode ser justificado pelos índices médios anuais de crescimento de 9,2% que a aqüicultura mundial vem apresentando a partir de 1970, comparados com apenas 1,4% da pesca e 2,8% da produção de animais terrestres (IBGE 2001). A importância que a aqüicultura tem para o homem moderno baseia- se no fato desta servir como promissora alternativa para o extrativismo pesqueiro o qual chegou ao seu limite máximo sustentável em 1995, com um total de 100 milhões de toneladas ao ano. A produção mundial de pescado em 2002 foi em torno de 133 milhões de toneladas, sendo que a produção proveniente da aqüicultura foi de 39,8 milhões de toneladas, onde o cultivo continental representou 60% e o marinho 40%. No ranking da América do Sul, o Brasil encontra-se em segundo lugar, com 210 mil toneladas, sendo superado apenas pelo Chile (FAO 2004). O MERCÚRIO EM SISTEMAS AQUÍCOLAS DE PRODUÇÃO Os principais caminhos de entrada do mercúrio em sistemas aquícolas de produção são através da alimentação fornecida e dos processos que ocorrem no ambiente aquático local. Como a metilação do Hg é um processo que ocorre geralmente associado à decomposição da matéria orgânica, o grande aporte de ração em aqüiculturas pode aumentar as concentrações desse composto. Peixes criados em tanques, também podem estar expostos ao mercúrio proveniente da deposiçãoatmosférica e dos lençóis freáticos (Hurley & Binkowski 2006). Devido à existência de controle na qualidade de água e o uso de rações de boa qualidade, alguns estudos comprovam que peixes de pisciculturas apresentam menores níveis de mercúrio do que peixes em ambientes naturais. Dasgupta et al. (2004) ao avaliarem as concentrações de metilmercúrio em paddlefish de pisciculturas e de ambientes naturais nos Estados Unidos, observaram concentrações entre 0,02 e 0,05ppm para peixes criados e 0,12 a 0,14ppm para peixes de ambientes naturais. Morgano et al. (2005) observaram concentrações de THg em peixes de pisciculturas no estado de São Paulo, abaixo dos limites estabelecidos pela legislação brasileira vigente. Nesse estudo, o tambaqui apresentou as menores concentrações de mercúrio (0,0003 - 0,012ppm), seguido pela carpa (0,063ppm), matrinxã (0,0003 - 0,074ppm), pacu (0,0003 - 0,078ppm), piauçu (0,0003 - 0,183ppm) e pela tilápia que apresentou as maiores concentrações de Hg (0,0003 - 0,217ppm). Em um trabalho realizado com trutas e salmões cultivados e de ambiente natural, (Dewailly et al. 2007) foram encontradas concentrações de THg menores em filés de salmão de pisciculturas do que nos peixes de ambiente natural. Salmões e trutas criados no Reino Unido apresentaram baixas concentrações de Hg, sendo a máxima concentração encontrada de 0,103ppm (Knowles et al. 2003). Muitos estudos sobre contaminantes têm como foco o salmão do Atlântico (Salmo salar). Um trabalho realizado por Hites et al. (2004) teve grande repercussão mundial, pois mostrou maiores níveis de contaminantes orgânicos (bifenilas policloradas, difenil éteres polibromados e dioxinas) em peixes cultivados do que peixes de ambiente natural. Entretanto, um estudo de comparação da concentração de metais nesses mesmos peixes, indicou que a concentração (menos de 0,01ppm) é equivalente nos dois tipos de ambiente. A produção de salmão é uma potencial fonte de alteração na ciclagem do mercúrio. Algumas rações de peixes têm mostrado conter altos níveis desse metal (Choi & Cech 1998) e fazendas de peixes produzem zonas de sedimentos anóxicos (Brooks et al. 2003, Brooks et al. 2004), uma condição que pode favorecer o processo de metilação do mercúrio inorgânico (Gagnor et al. 1996, Compeau & Bartha 1985). Os sedimentos enriquecidos com a atividade de piscicultura passam a ter uma alta produção e concentração de pequenos invertebrados como zooplâncton (Pearson & Rosenberg 1978), atraindo altas densidades de peixes demersais (Carss 1990, Dempster et al. 2003) e outros carnívoros (Glucusoy & Savas 2003), aumentando a transferência de contaminantes associados ao sedimento para os níveis tróficos mais altos. Os efeitos sistemáticos de uma criação de peixes são geralmente considerados localizados e transitórios, mas mudanças na ciclagem de mercúrio podem ter um longo tempo de persistência nas espécies e ser mais abrangente, podendo atingir todo o ambiente local (Debruyn et al. 2006). Em estudo com rockfishs coletados Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 234 próximo a criação de salmão em tanques-rede, Debruyn et al. (2006) observaram que o aumento na posição trófica observada nos três locais próximos às criações é suficiente para aumentar os níveis de mercúrio no músculo do rockfish. Além da contaminação proveniente de atividades humanas como indústrias e garimpos, os peixes cultivados estão expostos a poluentes através da ração fornecida. Isso ocorre devido ao uso de ingredientes na formulação dessas rações, os quais podem ser potenciais fontes de contaminação, como por exemplo, a farinha de peixe. Este ingrediente é de excelente qualidade nutricional e tem sido usada amplamente em rações para peixes. Jacobs et al. (2002) estimaram que o uso total de farinha de peixe só na criação de salmão, subiu 36,3% desde 1995. A farinha de peixe pode ser proveniente de duas fontes: a de pescado capturado somente para a produção desse ingrediente e a de subprodutos da pesca (Dorea 2006). Assim, altos níveis de mercúrio têm sido encontrados em farinhas de peixe, por não haver fiscalização da matéria prima utilizada. Além do local de coleta e espécie de peixe, deve ser considerado que partes deste peixe são utilizadas para a fabricação da farinha, visto que os diferentes órgãos e tecidos dos peixes têm concentrações de Hg diferentes dependendo da espécie (Kasper 2006). Johnston & Savage (1991) encontraram níveis de 20 a 7700ppb em silagem e farinha de peixe e Julshamn et al. (2004) observaram níveis de 10ppb para farinhas de peixe produzidas a partir de peixes capturados no Mar de Barents e no Mar da Noruega. Essa fonte de contaminação pode ser evitada utilizando ingredientes alternativos na formulação dessas rações. Farelos e óleos de soja e milho são os exemplos mais comumente utilizados para substituir a farinha de peixe e óleos de origem animal em rações comerciais para peixes. Para não comprometer o desempenho e nem diminuir o crescimento dos peixes, a utilização de aminoácidos sintéticos tem sido uma alternativa para o uso desses farelos, visto que estes possuem qualidade nutricional inferior à farinha de peixe (Botaro et al. 2007). Várias agências internacionais de saúde pública determinam o risco da ingestão de metilmercúrio para a população em geral. A U.S.EPA, reavaliando os dados de contaminação do Iraque, propôs uma redução da dose de referência oral para o nível de 0,1ppm por dia (EPA 1997). A Agência de Registro de Substâncias Tóxicas e de Doenças dos EUA propôs uma ingestão de 0,3ppm por dia como nível de risco mínimo (Davidson et al. 1998). No Brasil a tolerância fixada é de 0,5ppm, para pescado não-predador e 1,0ppm, para pescado predador (Brasil 1998). Apesar de existirem limites como estes acima citados definidos, a quantidade de mercúrio acumulada pelo homem a partir da ingestão do peixe varia em função da quantidade e da freqüência com que o peixe é consumido e dos níveis de Hg presentes nesses peixes. Portanto as concentrações no alimento são importantes, mas a freqüência de consumo deste também o é. Portanto, populações com diferentes culturas e hábitos consumirão mais ou menos peixe tendo maior ou menor acumulação. A quantidade de Hg absorvida pelo homem, a partir do consumo de peixes com diferentes concentrações de Hg, pode ser calculada, como ilustrado na Tabela I. Tabela I. Quantidade de Hg absorvida pelo trato digestivo do homem por dia em função do consumo de peixe (consumo médio, alto e muito alto) e dos níveis de Hg nos peixes (abaixo dos limites máximos permitidos, igual aos limites para peixes não-piscívoros-500 µg/kg e piscívoros-1000 µg/kg e acima dos limites). Abaixo dos Limites Limites* Acima doslimites Concentração de Hg no peixe (µg / kg) 100 200 500 1000 2000 Consumo de Peixe Absorção de Hg (µg / dia) 20 g por dia (médio) 2 4 10 20 40 100 g por dia (alto) 10 20 50 100 200 300 g por dia (muito alto) 30 60 150 300 600 Os valores em destaque indicam uma alta quantidade de Hg absorvido e representam riscos a saúde. * Limites máximos permitidos de 500 µg de Hg por kg de peixe (peixes não predadores) e de 1000 µg de Hg por kg de peixe (peixes predadores). KASPER, D. et al. Oecol. Bras., 11 (2): 228-239, 2007 235MERCÚRIO EM PEIXES – FONTES E CONTAMINAÇÃO Observando a Tabela I pode-se perceber claramente que uma população que tenha alto consumo de peixe deveria ter os limites máximos reduzidos. Pode-se perceber que mesmo dentro dos limites estabelecidos pela legislação brasileira, uma população com alto consumo apresenta uma alta taxa de acúmulo de Hg no organismo. O Amazonas, por exemplo, é o estado brasileiro onde se consome a maior quantidade de peixe por ano. Uma pessoa chega a ingerir aproximadamente 155g de peixe por dia. Ao ano, o consumo individual neste estado chega a 55kg de pescado, enquanto a média do Brasil é de 7kg (Jesus 2007). As diferenças nas concentraçõeslimite das diversas agências nacionais e internacionais advêm dos diferentes estudos nos quais são baseadas, dos fatores de incerteza considerados por cada uma das agências que efetuaram os respectivos estudos e também da média de consumo do peixe por aquela população. CONCLUSÕES As concentrações de Hg nos peixes podem variar de acordo com fatores bióticos e abióticos. Portanto, o hábito alimentar, o estágio de vida, o tamanho e sexo são importantes para o entendimento dos níveis do metal nesses organismos. Além disso, parâmetros como o pH, temperatura, condutividade, oxigênio dissolvido podem influenciar não somente a absorção do Hg pelo peixe quanto a biodisponibilidade deste metal por propiciar a sua metilação. Diferentes efeitos tóxicos por contaminação mercurial já foram observados para diversos organismos, no entanto, por questões de saúde pública a maioria dos estudos refere-se a toxicologia humana ou de mamíferos. São necessários mais estudos com peixes provenientes de pisciculturas em diversas regiões a fim de se evitar possíveis contaminações de todo o ecossistema aquático e conseqüentemente da biota. Órgãos reguladores também devem fazer a inspeção de ingredientes utilizados em rações destinadas à criação de peixes e análise da água utilizada em tanques de piscicultura. Além disto, os limites estabelecidos pela legislação para o consumo devem ser revistos de acordo com a cultura e hábito de cada população. AGRADECIMENTOS: A CAPES e ao CNPq pelo fomento a pesquisa e ao Rafael Pereira Leitão pela revisão. REFERÊNCIAS AL-MAJED, N.B. & PRESTON, M. 1999. An assessment of the total and methylmercury content of zooplankton and fish tissue collected from Kuwait territorial waters. Marine Pollution Bulletin, 40(4): 298-307. ANDERSSON, P.; BORG, H. & KARRHAGE, P. 1995. Mercury in fish muscle in acidified and limed lakes. Water Air and Soil Pollution, 80: 889-892. ANDREN, A.W. & HARRIS, R.C. 1975. Observations on the association between mercury and organic matter dissolved in natural waters. Geochimica & Cosmochimica Acta, 39: 1253- 1275. AZEVEDO, F.A. 2003. Toxicologia do Mercúrio. Rima, São Carlos, São Paulo. BACHE, C.A.; GUTEMANN, W.H. & LISH, D.J. 1971. Residues of total mercury and methylmercuric salts in lake trout as a function of age. Science, 172: 951-953. BASTOS, W.R.; FONSECA, M.F.; PINTO, F.N.; REBELO, M.F.; SANTOS, S.S.; SILVEIRA, E.G.; TORRES, J.P.M.; MALM, O. & PFEIFFER, W.C. 2004. 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Página | 149 https://periodicos.utfpr.edu.br/rebrapa Contaminação fúngica em especiarias desidratadas comercializadas no Mercado do Porto de Cuiabá-MT RESUMO Adriana Paiva Oliveira adriana.oliveira@blv.ifmt.edu.br IFMT Campus Cuiabá-Bela Vista, Cuiabá- MT, Brasil Gevanil Lene Arruda vanil_lenny@hotmail.com IFMT Campus Cuiabá-Bela Vista, Cuiabá- MT, Brasil Francisca Graciele Gomes Pedro fran_graciele@hotmail.com IFMT Campus Cuiabá-Bela Vista, Cuiabá- MT, Brasil José Carlos de Oliveira jdl_cba@hotmail.com IFMT Campus Cuiabá-Bela Vista, Cuiabá- MT, Brasil Rosane Hahn rchahn@terra.com.br Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil Doracilde Takahara doraterumi@gmail.com Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, Brasil Condimentos são produtos de origem natural, com ou sem valor nutritivo, empregados nos alimentos com a finalidade de modificar ou exaltar o sabor. Porém, estes podem ser contaminados por bactérias e fungos durante a estocagem, transporte ou mesmo manipulação. O objetivo deste trabalho foi realizar a pesquisa de fungos filamentosos em quatro tipos de temperos desidratados mais comercializados no mercado do Porto, Cuiabá-MT: orégano (Origanum vulgare L.), alecrim (Rosmarinus officinalis L.), manjericão (Ocimum basilicumL.) e pimenta-do-reino (Piper nigrum L.). Para isso, foram adquiridos 200 g de cada especiaria e a coleta foi feita em três períodos de tempo, nos meses de fevereiro, julho e dezembro do ano 2014, totalizando 12 amostras. As espécies fúngicas foram inoculadas com Ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol, com posterior contagem fúngica e micromorfologia dos gêneros fúngicos. O manjericão e a pimenta do reino foram os condimentos que apresentaram maior contagem fúngica (>100 UFC/g) e, o alecrim a menor contagem (2,8 x 101 UFC/g). Foram isolados os seguintes fungos filamentosos: Absidia spp; Alternaria spp; Aspergillus spp; Cladosporium spp; Micelia sterilia; Mucor spp; Paecylomyces spp e Penicillium spp, sendo que o genêro Aspergillusfoi o mais frequente (n=165/67%). A presença de diferentes tipos de fungos filamentosos sugere que as condições de produção, armazenamento e manipulação no ponto de venda analisado não são apropriadas, tornando as especiarias avaliadas susceptíveis à contaminação microbiológica. PALAVRAS-CHAVE: condimentos, fungos, contaminação. https://periodicos.utfpr.edu.br/rebrapa mailto:adriana.oliveira@blv.ifmt.edu.br mailto:vanil_lenny@hotmail.com mailto:fran_graciele@hotmail.com mailto:jdl_cba@hotmail.com mailto:rchahn@terra.com.br mailto:doraterumi@gmail.com Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 150 INTRODUÇÃO Condimentos ou temperos são produtos constituídos de uma ou diversas substâncias, de origem natural, com ou sem valor nutritivo, empregados nos alimentos com o fim de modificar ou exaltar o seu sabor. Também são apreciados pela culinária de diversos países desde a antiguidade, sobretudo ao proporcionar o incremento das propriedades sensoriais dos alimentos (GERMANO; GERMANO, 2011). As plantas são cultivadas e colhidas em condições sanitárias inadequadas, em locais com umidade e temperaturas elevadas, submetendo tais alimentos a uma potencial contaminação microbiológica. Além disso, o processo de secagem ocorre em ambientes abertos ou empilhadas umas sobre as outras em embalagens inapropriadas. Neste contexto, os condimentos podem ser importantes portadores de contaminação microbiana, consequentemente os alimentos que os contêm são mais propensos à deterioração, o que ode também exercer efeitos nocivos à saúde humana (CUNHA NETO; SILVA; MACHADO, 2013; HASHEM; ALAMRI, 2010). Os fungos são seres eucariotos, heterotróficos, essencialmente aeróbios e com capacidade anaeróbica que possuem um núcleo definido e que contém omaterial genético da célula (DNA) e podem ser unicelulares ou multicelulares e são divididos basicamente em leveduras ou filamentosos, de acordo com a sua morfologia (TORTORA; FUNKE; CASE, 2000; PEREIRA, 2012). Os fungos, principalmente os filamentosos, são considerados contaminantes microbiológicos predominantes em condimentos, sendo estes provavelmente residentes comensais da planta que sobreviveram ao processo de secagem e armazenamento inadequados. As espécies fúngicas podem ser responsáveis pela deterioração dos condimentos e dos alimentos que os contém em sua formulação e, também pela produção de diferentes tipos de micotoxinas aos seres humanos (SILVA et al., 2012). Os fungos filamentosos dos gêneros Aspergillus e Penicillium são os que estão presentes em especiarias com maior frequência, sendo que,algumas espécies pertencentes a esses gêneros são conhecidas pela capacidade de produzir diferentes micotoxinas como aflatoxinas e ocratoxinas que apresentam efeitos tóxicos, cancerígenos, mutagênicos e teratogênicos em seres humanos e animais (HASHEM; ALAMRI, 2010). As doenças transmitidas por alimentos (DTAs) estão entre as principais causas de morte no mundo inteiro. Essas são causadas por agentes químicos, físicos ou biológicos, sendo o último o maior causador das DTAs, que entram no organismo humano por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados (AMSON; HARACEMIV; MASSON, 2006). As infecções fúngicas causadas por ingestão de alimentos contaminados é um tipo de DTA causada pelos agentes biológicos e podem causar reações sob a forma de hemorragias e necroses. Além disso, podem acometer órgãos e tecidos, sendo o fígado, os rins e o sistema nervoso os mais atingidos, além de serem agressivos à saúde de pacientes imunocomprometidos (TEIXEIRA-LOYOLA et al., 2014). Neste contexto, os condimentos podem ser fontes de transmissão de microrganismos patogênicos ao ser humano, sendo possíveis fatores Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 151 responsáveis por doenças transmitidas pelos alimentos. Deve-se ressaltar que, a flora microbiana natural das especiarias acrescenta-se aquela obtida em consequência da falta de práticas adequadas de colheita, ausência de boas condições higiênico-sanitárias de manipulação e processamento em locais impróprios (GERMANO; GERMANO, 2011). Ante ao exposto, o objetivo deste trabalho foi a pesquisa de fungos filamentosos nos temperos desidratados orégano, alecrim, manjericão e pimenta-do-reino moída comercializados no mercado do Porto de Cuiabá, Mato Grosso. MATERIAL E MÉTODOS Foram adquiridos 200 g de quatro tipos de temperos desidratados, sendo eles: orégano (Origanum vulgare L.), alecrim (Rosmarinus officinalis L.), manjericão (Ocimum basilicum L.) e pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), provenientes do mercado do Porto, Cuiabá-MT. Uma única amostra de cada especiariafoi coletada nos meses de fevereiro, julho e dezembro do ano 2014, totalizando 12 amostras, correspondendo à três de cada especiaria (n=3). As especiarias eleitas corresponderam às mais comercializadas no seu ponto de venda com base nas informações fornecidas pelo proprietário, de acordo com a popularidade do uso das mesmas. Todas as amostras coletadas eram comercializadas no ponto de venda a granel. Em seguida, as amostras foram acondicionadas em suas embalagens originais, identificadas e transportadas para o Laboratório de Investigação (LI) da Faculdade de Medicina (FM/UFMT), situado na cidade de Cuiabá-MT, onde foram armazenadas em recipiente de plástico em local seco, arejado e isento de iluminação. As amostras coletadas foram preparadas de acordo com a Instrução Normativa Nº 62, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),25 g de cada amostra foram pesadas, acrescido volume igual à 225 mL de solução salina peptonada 0,1% para posterior diluições (10-1, 10-2, 10-3). Para a semeadura foi utilizada a técnica de spread plate inoculando 0,1 mL de cada diluição na superfície de placas de Petri contendo ágar Sabouraud (Difco) acrescido de cloranfenicol (100 mg/L) (Inlab). Em seguida, as placas foram incubadas em estufa de D.B.O (Eletrolab / 101 M/3) a 27 °C por 7 dias. Todas as análises foram realizadas em triplicata. Após crescimento das colônias fúngicas, foi realizada a contagem de colônias. A identificação das estruturas fúngicas foi realizada segundo métodos padronizados para identificação de fungos filamentosos pela técnica de Ridell. A técnica consiste no preparo de microcultivo em lâmina, com emprego do meio de ágar-fubá pois, o mesmo por ser um meio pobre em nutrientes favorece a esporulação dos fungos e, permite demonstrar no exame microscópico a morfologia dos mesmos, visualização correta das estruturas, características das hifas, conidióforos, entre outros (LACAZet al., 2002). De acordo com as estruturas micromorfológicas observadas (hifas septadas ou cenocíticas; hialinas ou demácias); conidióforos, vesícula, fiálides, conídios hialinos ou pigmentados, macroconídios, septos transversais, longitudinais, rizóides, esporangióforos entre outros, foram caraterizados os gêneros fúngicos. A observação das características micromorfológicas pós micro-cultivo foi Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 152 realizada utilizando microscópio óptico (Nikon Eclipse/ E 200) em objetiva de 40 vezes (LACAZ et al., 2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 descreve o número de unidades formadoras de colônias (UFCs) em amostras de especiarias avaliadas, coletadas no mercado do Porto, Cuiabá- MT nos meses de fevereiro, julho e dezembro de 2014. Tabela 1 - Presença e número de UFCs obtidas nas amostras de especiarias avaliadas, coletadas no mercado do Porto, Cuiabá-MT nos meses de fevereiro, julho e dezembro de 2014. Tipos de Especiarias Fungos Identificados Orégano Alecrim Pimenta do Reino Manjericão Fev. Jul. Dez . Fev. Jul . Dez . Fev. Jul . Dez . Fev. Jul . Dez . Absidia spp - - - - - - - + + - + + Alternaria spp + - - - - - - - - - - - Aspergillus spp + + + - - + + + + + + + Cladosporium spp - - - + - - - - - - - - Micelia sterilia + + - - + - - - + - - - Mucor spp - - - - - - + - - - - - Paecylomyces spp - - - + - - - - - - - - Penicillium spp - + - - - - + - + - - + Unidades Formadoras de Colônias (valor médio, UFC/g) 4,4 x 102 2,8 x 101 > 100 > 100 +: presença; -: ausência; ˃100: colônias fúngicas incontáveis. Nas especiarias avaliadas foram identificadas a presença dos seguintes gêneros fúngicos: Absidia spp, Alternaria spp, Aspergillus spp, Cladosporium spp, Micelia sterilia, Mucor spp, Paecylomyces spp e Penicilium spp. Todos os gêneros fúngicos encontrados no respectivo trabalho foram identificados. O manjericão e a pimenta do reino foram os condimentos que apresentaram maior contaminação fúngica (>100 UFC/g), o orégano apresentou contagem média de (4,4x102 UFC/g), enquanto o alecrim foi o que apresentou a menor contagem (2,8 x 101UFC/g). Os resultados obtidos para as especiarias manjericão e pimenta do reino foram semelhantes aos encontrados por Silva et al. (2012) e Teixeira-Loyola et al. (2014), enquanto o orégano apresentou valor menor em comparação com os mesmos. Os resultados encontrados por Furlaneto e Mendes (2004) também demonstraram a presença de fungos em especiarias desidratadas e comercializadas em feiras livres. Estes autores registraram valores iguais à: Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 153 salsinha e cebolinha (> 106 UFC/g), canela em pau (2,7 x 103 UFC/g), orégano (3 x104 UFC/g) e manjericão (1,7 x105 UFC/g). Silva et al. (2012) avaliaram quatro amostras de especiarias desidratadas (urucum, cominho, açafrão e pimenta-do-reino)obtidas em feiras-livres e industrializadas comercializadas em supermercados. Os autores verificaram a presença de fungos nas amostras dos dois tipos de comércio, apresentando valores variando entre 8,6x103 UFC/ga 1,3x105 UFC/g, predominando os gêneros Aspergillus e Penicillium. Toma e Abdulla (2013), relataram uma contagem total de (203 x103 UFC/g) para as dezesseis amostras coletadas de plantas medicinais e especiarias (açafrão, cravo, cominho, gengibre, canela, cardamomo, tomilho, folhas de louro, entre outros). Estes autores também registraram maior frequência dos os gêneros fúngicos Aspergillus spp e Penicillium. A Resolução RDC Nº 12, de 02 de janeiro de 2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que dispõe sobre Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos (BRASIL, 2001), descreve para especiarias e temperos apenas valores para Coliformes e Salmonella e não estabelece parâmetros de qualidade para fungos. Porém, a presença das toxinas produzidas por esses microrganismos, em condimentos, pode causar sérios danos à saúde do consumidor, tais como reações dermatológicas, térmicas e hemorrágicas ou reações crônicas como por exemplo: carcinogenicidade, distúrbios neurológicos, nefrotoxidade, hepatotoxidade, genotoxidade e teratogenicidade (CUNHA NETO; SILVA; MACHADO, 2013). As frequências de UFCs nas amostras de especiarias analisadas estão descritas na Tabela 2. A contagem das frequências foi feita conforme com o procedimento descrito no trabalho de Cunha Neto, Silva e Machado (2013), de acordo com a quantidade de vezes que cada gênero fúngico foi identificado nas amostras coletadas. Para isso, foram utilizadas somente as diluições possíveis de serem contadas. Para as amostras de orégano e alecrim foram utilizadas todas as diluições (100; 10-1; 10-2 e 10-3) e, para as amostras do manjericão e pimenta do reino foram excluídas as diluições 100 e 10-1. Todas as amostras analisadas apresentaram contaminação fúngica e foram encontrados um total de 8 gêneros e 246 isolados fúngicos. A maior frequência destes foi identificada nas amostras de manjericão (n= 106), enquanto a menor foi encontrada no orégano (n=21). O fungo com maior prevalência pertence ao gênero Aspergillus spp (n=165/67%), seguido do Paecylomyces spp (n=54/22%) e Penicillim spp (n=10/4%). O potencial para deterioração e produção de micotoxinas depende do tipo de fungo presente, composição do alimento e condições de manuseio e armazenamento. Os alimentos desidratados ficam susceptíveis a deterioração e produção de toxinas quando armazenados em condições inadequadas e com temperatura propícia para o crescimento de fungos. A presença desses microrganismos nas especiarias em grandes quantidades pode indicar falhas no processamento e armazenamento (TOMA; ABDULLA, 2013; FURLANETO; MENDES, 2004). Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 154 Tabela 2 - Frequência de UFCs identificadas nas amostras de especiarias comercializadas no mercado do Porto, Cuiabá-MT. Gêneros Fúngicos Identificados Frequência Orégano Alecrim Pimenta do Reino Manjericão Total Absidia spp 0 0 3 2 5 Alternaria spp 1 0 0 0 1 Aspergillus spp 15 2 50 98 165 Cladosporium spp 0 1 0 0 1 Micelia sterilia 3 1 1 0 5 Mucor spp 0 0 5 0 5 Paecylomyces spp 0 54 0 0 54 Penicillium spp 2 0 2 6 10 Total 21 58 61 106 246 Os fungos do gênero Penicillium são produtores de micotoxinas, substâncias que são produzidas do seu próprio metabolismo e constantemente são detectadas em alimentos. Esse microrganismo está envolvido em vários processos de decomposição de alimentos tais como cereais, milho, entre outros (VECCHIA; CASTILHOS-FORTES, 2007). Segundo Cunha Neto, Silva e Machado (2013) o gênero Aspergillus spp têm sido mencionado com alta frequência em especiarias, e a presença de micotoxinas como a aflatoxina e ocratoxina na maior parte está referenciando a tais espécies fúngicas pertencentes aos gêneros Aspergillus e Penicillium. Sumanth, Waghmare e Shinde(2010) analisaram cinco tipos de diferentes sementes de especiarias regularmente cultivadas na Índia. Dentre os fungos identificados no referido artigo, foi observado percentual igual a 40% para: Aspergillus flavus,A. niger,em amostras de ammi e coentro, seguido de Fusarium oxysporum e Helminthosporium tetrâmera em alcaravi. Os gêneros Alternaria alternata, Helminthosporium tetrâmeraforam observados na especiaria indiana demoninada Ammi ou semente de Ajowan e no cominho e, Cladosporium cladosporidies em cardamomo e coentro estavam presente nas amostras com um percentual de 30%. Dimićet al. (2008), analisaram quatro amostras de especiarias, canela, alcaravia, cravo e manjerona e observaram percentuais referentes aos seguintes gêneros fúngicos: Eurotium (90%), Aspergillus (80%), Penicillium (75%), Cladosporium (45%), Rhizopus, Scopulariopsis e Syncephalastrum (25%). A maior parte dos fungos isolados nas especiarias do referido estudo são toxigênicos, produtores de aflatoxinas, ocratoxinas e esterigmatocistina. EL-Gali em 2014, avaliando amostras de cardamomo, cominho, pimenta preta, coentro, canela, gengibre, anis, cúrcuma, erva doce, noz moscada, alcaravia, entre outras, relatou presença de fungos, prevalecendo os gêneros Aspergillus e Penicillium. A ingestão de especiarias contaminadas por fungos tem muitas consequências para a saúde humana. Fungos das espécies Absidia corymbifera e Aspergillus nidulans são precursores de infecções, sendo a Absidia corymbifera responsável por vários relatos de infecção invasiva em pacientes imunodeprimidos portadores do vírus HIV e leucemia. Os fungos patogênicos e tóxicos pertencentes essencialmente aos gêneros Aspergillus, Penicillium e Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 155 Fusarium produzem micotoxinas altamente tóxicas e que podem causar danos ao fígado, rins e medula óssea. As aflatoxinas produzidas por espécies de Aspergillus flavus, Aspergillus parasiticus, Aspergillus nomius em vários alimentos tais como milho arroz, cevada, trigo e algumas especiarias tem chamado a atenção das autoridades de saúde internacional, pois, são, mutagênicas, teratogênicas, imunossupressoras e tem os seus efeitos agindo diretamente no fígado (AHENE; ODAMTTEN; OWUSU, 2011; SILVA et al., 2012; AZIZ et al., 1998). Segundo Teixeira-Loyola et al. (2014) os gêneros Mucor spp, Absidia spp, Aspergillus spp, são causadores de infecções letais, pois eles têm uma dispersão muito rápida no organismo humano. CONCLUSÕES Os resultados obtidos indicaram que o manjericão e a pimenta do reino foram os condimentos que apresentaram maior contagem fúngica e, o alecrim a menor contagem. Todas as amostras analisadas apresentaram contaminação fúngica e, foram identificados um total de 8 gêneros e 246 isolados fúngicos. A maior frequência destes foi identificada nas amostras de manjericão, enquanto a menor foi encontrada no orégano, sendo as espécies fúngicas com maior prevalência pertencentes aos gênerosAspergillus e Penicillium. A presença de diferentes tipos de fungos filamentosos nas especiarias avaliadas sugere que as condições de produção, armazenamento e manipulação no ponto de venda analisado não são apropriadas uma vez que estes produtos ficam totalmente expostos ao ambiente e não passam por nenhum processo tecnológico ficando susceptíveis à contaminação microbiológica. Os gêneros Aspergillus e Penicillium foram os mais isolados, resultados estes que se encontram em concordância com a maioria dos trabalhos publicados na literatura. Neste contexto, estes temperos podem representar perigos à saúde dos compradores, uma vez que os fungos filamentosos identificados são potencialmente patogênicose, além disso podem provocar a completa modificação das característicassensoriais das especiarias e dos alimentos que as utilizam em sua composição. Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 156 Fungal contamination in dried spices sold in the market of the Porto of Cuiabá-MT ABSTRACT Condiments are products of natural origin, with or without nutritional value, used in food in order to modify or enhance the flavor. However, these can be contaminated by bacteria and fungi during storage, transport or handling. The aim of this work was to research filamentous fungi in four of the most sold types of dehydrated spices at Port market, Cuiabá-MT: oregano (Origanum vulgare L.), rosemary (Rosmarinus officinalis L.), basil (Ocimum basilicum L.) and black pepper (Piper nigrum L.). For this, 200 g of each spice were acquired and, the collection was done in three periods of time, February, July and December 2014, totaling 12 samples. Fungal species were inoculated with Sabouraud agar with chloramphenicol, with subsequent fungal count and ultrastructure of fungal genera. The basil and black pepper were the spices that had higher fungal count (> 100 CFU / g) and rosemary the lowest score (2.8 x 101 CFU / g). The following were isolated filamentous fungi: Absidia spp; Alternaria spp; Aspergillus spp; Cladosporium spp; Mycelia sterilia; Mucor spp; Paecylomyces spp and Penicillium spp, and the genera Aspergillus was the most frequent (n = 165/67%). The presence of different types of filamentous fungi suggests that the conditions of production, storage and manipulation in the analyzed point of sale are not appropriate, making the spices evaluated susceptible to microbiological contamination. KEYWORDS: condiments, fungi, contamination. Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 157 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao IFMT Campus Cuiabá – Bela Vista e aos recursos laboratoriais concedidos pelo Laboratório de Micologia/Investigação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Cuiabá. REFERÊNCIAS AHENE, R.E.; ODAMTTEN, G.T.; OWUSU,E. Fungal and bacterial contaminants of six spices and spice products in Ghana, Ghana. African Journal of Environmental Science and Technology, v.5, n.9, p.633-640, 2011. AMSON, G.V.; HARACEMIV, S.M.C.; MASSON, M.L. Levantamento de dados epidemiológicos relativos à ocorrências/surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) no Estado do Paraná – Brasil, no período de 1978 a 2000, Lavras. Ciência & Agrotecnologia, v.30, n.6, p.1139-1145, 2006. AZIZ, N.H.; YOUSSEF, A.Y.; EL-FOULY, M.Z.; MOUSSA, L.A. Contamination of some common medicinal plant samples and spices by fungi and their mycotoxins. 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Global Journal of Scientific Researches, v. 2, n. 3, p. 83-88, 2014. Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v. 7, n. 1, p. 149-160, jan./abr. 2016. Página | 158 FURLANETO, L.; MENDES, S. Análise microbiológica de especiarias comercializadas em feira livre e em hipermercados. Alimentos & Nutrição, v.15, n.2, p.87-91, 2004. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e Vigilância Sanitária de Alimentos. Barueri: Manole, 2011. HASHEM, M.; ALAMRI, S. Contamination of common spices in Saudi Arabia markets with potential mycotoxin-producing fungi. Saudi Journal of Biological Sciences,v.17, p. 167-175, 2010. LACAZ, C.S.; PORTO, E.; MARTINS, J. E. C.; VACCARI, E. M.; MELO, N. T. Tratado de Micologia Médica LACAZ. São Paulo: Sarvier, 2002. PEREIRA, C. Q. M. Identificação de espécies de fungos causadores de onicomicoses em idosos institucionalizados no município de São Bernardo do Campo. 87 f. 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Artigo Original/Original Article 211 Ana Caroline Schuck GOMES1, Cleber Antonio LINDINO1*, Affonso Celso GONÇALVES Jr2, Gilmar Divino GOMES2 *Endereço para correspondência: 1Laboratório de Estudos em Química Analítica Limpa. Departamento de Química. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Toledo, Rua da Faculdade, 645, Jardim Santa Maria, CEP 85903-000, Toledo, PR, Brasil. Fone: 45 3379-7074. E-mail: cleberlindino@yahoo.com.br 2Laboratório de Química Agrícola e Ambiental, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Candido Rondon Recebido: 19.04.2013 - Aceito para publicação: 20.08.2013 Rev Inst Adolfo Lutz. 2013; 72(3):211-8 Determinação de Cd, Cr e Pb no leite e na alimentação bovina do Brasil Determination of Cd, Cr and Pb in milk and in cattle feed in Brazil RESUMO A contaminação do leite é uma das maiores preocupações sanitárias em função de seu grande consumo pela população, e pela enorme extensão do país, o que limita a fiscalização adequada. Apesar de estudos científicos indicarem contaminação do leite com elementos traço tóxicos, não há qualquer estratégia do Estado para detecção e prevenção destes componentes no leite. O presente trabalho investigou a ocorrência de chumbo, cádmio e cromo em amostras de leite in natura e em leite processado e com o propósito de identificar possíveis fontes de contaminação. No leite in natura e no leite
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