Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brilho eterno de uma mente sem lembranças: análise fílmica 1 BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS: ANÁLISE FÍLMICA1 Enzo Libório Fraga2 INTRODUÇÃO rilho Eterno de uma mente sem lembranças é um filme lançado em 2004, dirigido por Michel Gondry e estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet. O fio condutor da produção cinematográfica é a possibilidade de Joel, interpretado por Jim Carrey, poder apagar da memória alguém responsável por uma desilusão amorosa. Interpretada por Kate Winslet, Clementine será a sua parceira em um relacionamento que, posteriormente, será alvo de um procedimento experimental que retira todas as memórias vividas por ela com o seu parceiro, Joel, no qual, sabendo de tal experimento, se submete para também esquecer as memórias vividas por ele ao lado de Clementine. Nos primeiros minutos da produção é visto Joel, decidindo de última hora, pegar um trem para Montauk, como forma de escapar do seu dia de trabalho. Da mesma forma, é possível perceber que ele é um personagem introvertido no qual interpreta o mundo exterior por meio de seus desenhos, alguém que se prende bastante aos próprios pensamentos, muitas das vezes frios, tristes e melancólicos, que volta ao passado sempre que pode – como a lembrança da namorada Naomi em que, o dia dos namorados se aproximando, pensa em reatar o relacionamento. Adentrando no personagem de Clementine, esta o oposto de Joel – como a famosa frase: “os opostos se atraem” – é evidente que ela é extrovertida e que possui uma ótima habilidade social, apesar da mudança repentina de humor e insegurança diante de suas ações e imagem, visto que sempre que é conveniente – ou inconveniente ao momento – há pedidos de desculpas e perguntas se está sendo chata. Se considerando uma pessoa ansiosa, achando que nunca vive a vida ao extremo, como ela mesma deixa claro na trama, cria-se um distanciamento dos personagens em 1 Assunto abordado em sala na disciplina de Sociologia. 2 Discente do 2º ano B do Ensino Médio do Colégio José Augusto Vieira. B Brilho eterno de uma mente sem lembranças: análise fílmica 2 meio ao relacionamento, como se o medo fosse o afronte de tudo, como se não soubessem como prosseguir com aquele romance. Deixado bem evidente, um dos temas centrais da trama é a procura de Joel por uma paixão, talvez como forma de aliviar sua dor interna ou acontecimentos do passado, como o seu outro relacionamento, com Naomi, mas que possui uma carga dotada de sentido sobre o quanto as relações, apesar de fortes na prática, nas mentes dos personagens é algo muito confuso e vago, mas que se repete – no final da obra é mostrado que o encontro que passara em seu início, com Clementine, é o segundo, logo os dois protagonistas terem experimentado a perda proposital de suas memórias, ou seja, mesmo com a rápida aproximação, por mais que seja a segunda vez (sem eles lembrarem), criam intimidade suficiente para um relacionamento sério, mesmo que emoções criadas rapidamente, também se desfaçam rapidamente. Tratando a questão do amor e da paixão nos relacionamentos, a obra mostra que apesar do experimento de apagar a memória, eles se reencontram, havendo a possibilidade de se apaixonarem, manterem uma relação saudável durante um tempo e depois entrarem em crise, o que levarão a apagar, novamente, as suas memórias, mas no fundo, sabendo que querem ficar juntos. A título de exemplo, quando Joel está revisitando as experiências de Clementine, ele relembra o exato momento em que a conheceu, de maneira impulsiva, como se estivesse sendo atraído por algo que nem lembrava o que era. Os personagens estão nesse ciclo vicioso talvez pelo resto de suas vidas, como uma metáfora ao mundo moderno – à modernidade líquida, de Bauman, que muitos relacionamentos queiram recomeçar, mas o recomeçar de fato, sem memórias, Brilho Eterno de uma mente sem lembranças é uma análise do amor, que falhou, até o desejo do inconsciente de apagar todas as memórias – uma melancolia ácida e suave da cinematografia.
Compartilhar