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Resenha Crítica Do Filme - Mommy E Sua Relação Com A Psicologia

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Resenha Crítica Do Filme “Mommy” E Sua Relação Com A Psicologia 
 
Mommy é um filme canadense do diretor Xavier Dolan, produzido em 2014. A trama 
se desenrola em um Canadá ficcional, onde foi aprovada a lei S-14 na qual os pais poderiam 
internar em hospitais públicos os seus filhos que tivessem problemas comportamentais, 
psicológicos, ou até mesmo em situação de privação financeira, sem ter que passar por 
burocracias legais. 
 Diane “Die” Després (interpretada por Anne Dorval) é jornalista, viúva e mãe de um 
adolescente chamado Steve (interpretado por Antoine-Olivier Pilon) que estava em um 
internato correcional, mas foi expulso por incendiar a cafeteria e provocar queimaduras de 
terceiro grau em um garoto. Apesar de terem um relacionamento bastante conturbado, Diane 
decide não internar o garoto em uma instituição pública e então o leva para morar junto com 
ela. 
A relação entre ambos começa a melhorar quando a nova vizinha da frente Kyla 
(Suzanne Clément) entra em cena. Ela é uma professora de ensino médio em licença sabática 
e é casada com Patrick (interpretado por Alexandre Goyette) com quem tem uma filha. 
Assim, ela se torna amiga dos Després e acaba trazendo certo equilíbrio na vida na vida dessa 
família. 
Apesar de trazer um tema de certa forma comum na indústria cinematográfica que é 
a relação mãe-filho, Mommy é um filme completamente original que aborda, além desse, 
também outros assuntos muito importantes atualmente. Este é quinto filme de Xavier Dolan, 
que começou sua carreira ainda criança como ator, mas que chamou a atenção como diretor e 
roteirista aos vinte anos. Com Mommy, acumulou algumas premiações como, por exemplo, 
foi assistido no 67º Festival de Cannes em 2014 ganhando o prêmio do Júri, foi indicado ao 
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015 e venceu em dez categorias no Canadian Screen 
Awards 2015. 
O filme conta a trama profunda e complexa entre três personagens sendo eles Diane, 
Steve e Kyla e os problemas enfrentados por cada um. Desse modo, Mommy é uma história 
de descobrimento e libertação, mas, acima de tudo, é uma história sobre o incondicional e 
doloroso amor de mãe. Os três personagens encontram-se, de alguma forma, presos, 
estagnados pela vida, sendo nenhum deles realmente livre, mas juntos, eles experimentam 
brevemente o que é viver com alegria. 
A primeira a ser apresentada é Diane “Die” Duprés, a mãe. A escolha não é aleatória 
visto que, para conhecer o adolescente é preciso primeiro saber quem o criou. Ela é uma 
mulher que vive um contexto deslocado – o que pode muito bem ser identificado pelo guarda-
roupa com influência dos anos 70 – é desbocada, imatura e está desempregada. Além disso, 
tem uma relação desequilibrada com seu filho que só cria problema, não sabendo lidar com 
ele de maneira correta. Dessa forma, Die procura sustentar um lar que se encontra à beira da 
ruptura em seu relacionamento com Steve e as dificuldades desta em conseguir um emprego 
fixo. 
Posteriormente, somos apresentados a Steve um adolescente de quinze anos que foi 
diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e 
Agressividade, tornado-se violento em certas situações e sendo igualmente desbocado como a 
mãe. É um garoto que excede em seu comportamento passando constantemente dos limites, é 
provocador e desobediente, indo da docilidade à violência extrema em poucos segundos, não 
só verbal, mas física, configurando as características de seu transtorno. Contudo, dono de uma 
sensibilidade digna de artista nenhum desses problemas o impede de sonhar em estudar na 
The Juilliard School. 
Paralela à dinâmica entre mãe e filho, ocorre à amizade entre Diane e Kyla, a vizinha 
da frente. Esta por sua vez é uma mulher que, nos últimos dois anos, devido a um trauma, 
adquiriu um problema que dificulta a sua comunicação com outras pessoas. Assim, a gagueira 
acarretou em seu afastamento do trabalho uma vez que sua profissão era totalmente 
dependente da fala e esta mal conseguia formar uma frase de quatro palavras. 
 Ademais, a história de Kyla é um mistério a ser desvendado pelo público visto que o 
diretor não explora por completo o motivo do seu trauma, sendo parte dela revelada durante 
uma briga com Steve, mas outra parte está escondida, sendo discretamente sugerida nos porta-
retratos em seu quarto com a foto de um menino, que, aparentemente, seria o filho que ela 
perdeu. Além disso, fica claro que a não superação da experiência traumática tem implicado a 
sua relação com seus familiares, visto que a mesma não consegue sequer falar com o marido e 
a filha, quanto mais ajudá-la com seus deveres de casa. Apesar de ter dificuldade de expressar 
seus sentimentos, a convivência com os Duprés a ajuda a lidar com seus problemas 
emocionais. Assim, mostrando-se sempre presente e disposta a ajudá-los, seu jeito doce e 
equilibrado representa a figura materna ideal que Steve tanto precisava, sendo, de certa forma, 
o que Diane poderia ser, mas não é. 
Mommy é um filme sobre duas pessoas que se amam tanto que não conseguem 
conviver juntos e isto se demonstra desde o primeiro momento. Dessa maneira, é possível 
notar uma relação muito complexa, feroz e intensa entre Steve e Die em que ele apresenta um 
espírito de proteção demasiadamente elevado em relação à sua mãe, que chega a machucá-la 
na tentativa de protegê-la, provocando assim, certo medo e desconfiança dela em relação ao 
garoto. Entretanto, esse sentimento de superproteção também é recíproco uma vez que Diane 
tem medo de perder e ser esquecida por Steve, como é muito bem retratado em seu imaginário 
em que ela o vê se formando, casando, vivendo uma vida normal e independente, onde ele 
estaria a “amando menos” como é dito por ela em uma cena anterior. 
Ademais, ao desapontar a mãe, Steve também passa a pensar que ela já não o ama 
mais e ao se deparar com esse pensamento avassalador, o garoto tenta se matar cortando os 
pulsos em uma loja. Assim, apesar de muitos não perceberem, o filme anuncia seu final na 
epígrafe, quando antes de começar o filme, aparece um texto informando sobre a existência de 
uma realidade alternativa e o surgimento da lei S-14. Após toda essa situação, Die entrega o 
menino a um hospital psiquiátrico. Posto isso, é possível pensar de duas maneiras. A primeira, 
que ela poderia estar poupando a si mesma da privação que perder um filho para outra pessoa, 
na qual ele, supostamente, não precisaria mais dela e não a tendo mais como o centro. A 
segunda, que ela fez por querer proporcionar a ele uma chance de viver tudo aquilo que 
imaginou, mas que, no momento, não se via pronta para ajudá-lo da maneira que ele 
precisaria. 
Junto a isso, Sigmund Freud ao explicar o Complexo de Édipo nos revela que existe 
uma ambiguidade entre amor e ódio presente na criança, que os dois sentimentos andam 
juntos uma vez que ao mesmo tempo em que esta adquire uma identificação ao pai (certa 
admiração), ela também sente raiva deste (por ser ele o que completa a falta da mãe). Dessa 
forma, no longa, é possível perceber que Steve, por ser a única figura masculina presente na 
casa, tenta substituir o falecido pai, ocupando um espaço que não pertence à ele. Ao longo do 
filme, cenas como, a ida do garoto ao supermercado para fazer a compra do mês, o presente 
de ele dá para a mãe, as inúmeras tentativas de beijá-la, as frases que ele fala semelhante às 
que seu pai falava na tentativa de consolar Die e as crises de ciúmes devido às investidas do 
vizinho Paul (interpretado por Patrick Huard), reforçam tal ideia. Posto isso, a atuação de 
Antoine-Olivier Pilon consegue colocar a relação entre Steve e a mãe em um local 
extremamente incômodo e ambíguo entre desejo sexual, ódio e adoração, expressa em picos 
de carência e violência. 
A atenção pode ser definida como a capacidade do indivíduo responder 
predominantemente os estímulos que lhe são significativos em detrimentode outros. Nesse 
processo, o sistema nervoso é capaz de manter um contato seletivo com as informações que 
chegam através dos órgãos sensoriais, dirigindo a atenção para aqueles que são 
comportamentalmente relevantes e garantindo uma interação eficaz com o meio (Brandão, 
1995). Entretanto, a baixa concentração dos neurotransmissores, dopamina e noradrenalina, 
em regiões sinápticas do lobo frontal, leva o indivíduo a uma tríade sintomática de falta de 
atenção, hiperatividade e impulsividade, conhecida como TDAH. No caso da criança 
portadora de TDAH, a falta de atenção significa excesso de mobilidade na atenção, ou seja, 
hipermobilidade, que é quando o indivíduo não consegue manter, por algum tempo, sua 
atenção num mesmo objeto, em um mesmo foco, predominando assim a atenção espontânea. 
Esse transtorno neuropsiquiátrico geralmente se desenvolve na infância, no período 
pré-escolar e ensino fundamental, ocasionando sérias dificuldades para o processo de 
aprendizagem. No filme, por exemplo, é possível perceber a dificuldade de Steve nas tarefas 
escolares, necessitando da ajuda de outra pessoa para conseguir estudar, pois o mesmo não 
conseguia manter sua atenção e se concentrar para terminar uma atividade. 
Todavia, o que mais chama a atenção em Mommy é uma problemática bastante 
comum quando o assunto é TDAH: a falta de informação. Neste caso, o filme retrata o 
conhecimento pouco aprofundado da mãe sobre a doença do filho e o desinteresse da mesma 
em procurar soluções para ajudá-lo uma vez que, atualmente, existem várias técnicas de 
enfrentamento para essa problemática, como recursos terapêuticos e medicamentosos que tem 
a finalidade de diminuir a interferência dos sintomas do TDAH na vida da pessoa, fazendo 
com que esta consiga aumentar a concentração e controlar a hiperatividade e a impulsividade. 
Desse modo, o desconhecimento sobre a doença é um grande obstáculo que pode levar, 
principalmente, ao desenvolvimento de tratamentos preconceituosos e falta de inclusão, 
considerando-os como rebeldes e desinteressados, comprometendo assim além do processo de 
aprendizagem, os relacionamentos e a autoestima da criança. 
A imprevisibilidade é um dos aspectos mais interessantes em Mommy. Antes de 
tudo, há um ponto que chama bastante atenção do espectador: a música. Dolan é um grande fã 
do gênero pop e sempre que pode as utiliza em seus filmes. Neste caso, músicas de artistas 
como Ellie Goulding, Andrea Bocelli, Céline Dion, Oasis e Lana Del Rey foram tocadas em 
um filme de arte para a surpresa de todos. Além disso, um aspecto bem peculiar que faz toda a 
diferença é o formato da tela. O diretor explora principalmente o formato 1:1, apelidado de 
“Formato Instagram” por ser quadrado. Contudo, tal escolha não foi aleatória visto que foi 
feita para que o espectador tenha uma sensação de aperto, algo angustiante e claustrofóbico. 
Inesperadamente, no decorrer do filme, o formato da tela muda, indo para 4:3 (formato 
clássico) dando a sensação de alívio e liberdade. Assim, Dolan brinca ao fazer esse jogo com 
o formato da tela, indo e vindo do 1:1 ao 4:3. Ademais, a fotografia de André Turpin imprime 
a cada cena cores fortes e chamativas, porém trazendo um clima sujo e bastante realista. 
Conclui-se então que Mommy é muito mais que um mero truque estético envolvendo técnicas 
cinematográficas. 
Posto isso, o longa metragem desperta os sentimentos mais díspares, não 
conseguindo nos deixar indiferentes ao mesmo. É simultaneamente exagerado e contido, é 
irrealista e realista, apresenta tonalidades chamativas e discretas e ao mesmo tempo nos 
coloca diante de uma estranha relação humana que desperta e repele nossa atenção. Não 
bastasse tudo isso, Mommy é encantador visto que além de discutir problemáticas atuais, 
também nos diverte. Por fim, é um ótimo filme para aqueles que gostam do cinema de arte, 
mas, principalmente para os amantes da psicologia e da pedagogia. 
 
REFERÊNCIAS 
 
DE LIMA, R.F. Compreendendo os mecanismos atencionais. Revista Ciencias & Cognição. 
São Paulo. v.6. p. 113-122, 2005. 
 
TANAKA, P.J. Atenção: reflexão sobre tipologias, desenvolvimento e seus estados 
patológicos sob o olhar psicopedagógico. Revista Construção Psicopedagógica do 
Departamento de Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae. São Paulo. v.16. n.13. p. 
62-76, 2008.

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