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1 Aula – 10 – Direitos políticos 1. Noções introdutórias Os direitos políticos são instrumentos por meio dos quais a Constituição garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, direta ou indiretamente. Podemos classificar os regimes democráticos em três espécies: i) Democracia direta – O povo exerce poder sem intermediários ou representantes; ii) Democracia representativa – O povo elege representantes, outorgando-lhes poderes, para quem em nome deles e para o povo, governem o país; iii) Democracia semidireta ou participativa – É um sistema híbrido, que propicia, além da participação direta, concreta do cidadão na democracia representativa, controle popular sobre os atos estatais. O Brasil traz esse ideal de democracia representativa, vide Art. 1º e 14 da Constituição. Há possibilidade de participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular, por exemplo. 2. Instrumentos de democracia direta Inicialmente, é importante tratar do plebiscito e do referendo. A semelhança entre eles reside no fato de ambos serem formas de consulta ao povo para que ele delibere sobre matéria de acentuada relevância. A principal diferença está no momento da consulta. No plebiscito, a consulta é prévia, sendo convocado o povo com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo. Só depois a decisão é tomada. No referendo, ao contrário, primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, e só depois esse ato é submetido à apreciação do povo, que o ratifica (confirma) ou o rejeita (afasta). Quem convoca o plebiscito e o referendo é o Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo. A outra forma de participação direta do povo na democracia é a iniciativa popular. No âmbito federal, o povo pode apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, desde que 1% do eleitorado nacional subscreva o projeto. Esse eleitorado deve estar distribuído por, pelo menos, cinco Estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles (Art. 61, § 2º, CRFB). 2 No Brasil, essas formas já foram utilizadas em algumas oportunidades. Em 1993, houve um plebiscito para que o povo escolhesse entre a forma de governo (república ou monarquia) e o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo). Referendo em 2010, no Estado do Acre, para decidir sobre o fuso horário. Neste caso, os eleitores do Acre decidiram pelo retorno do fuso horário antigo, de duas horas de diferença em relação a Brasília. Em 2011, os eleitores do Estado do Pará foram convocados para decidir, em plebiscito, se eram a favor ou contra a formação dos Estados do Carajás e do Tapajós. 3. Direito político positivo (direito de sufrágio) Como núcleo dos direitos políticos tem-se o direito de sufrágio, que se caracteriza tanto pela capacidade eleitoral ativa (direito de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade) como pela capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado, elegibilidade). 3.1. Capacidade eleitoral ativa O exercício do sufrágio ativo dá-se pelo voto, que pressupõe: a) alistamento eleitoral na forma da lei (título eleitoral); b) nacionalidade brasileira (não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros – Art. 14, § 2º; c) Idade mínima de 16 anos (Art. 14, § 1º, II, “c”); d) Não ser conscrito durante o serviço militar obrigatório (são os recrutados para o serviço militar obrigatório). O alistamento eleitoral e o voto são, de acordo com o Art. 14 da Constituição: a) Obrigatórios – Maiores de 18 anos e menores de 70 anos de idade; b) Facultativos – Maiores de 16 e menores de 18 anos; analfabeto; maior de 70 anos de idade. No Brasil, o voto é direto, secreto, universal e periódico. 3 i) Direto – O cidadão vota diretamente no candidato, sem intermediário. Excepcionalmente, há a possibilidade de eleição indireta no Brasil. ii) Secreto – Não se dá publicidade da opção do eleitor, mantendo-a em sigilo absoluto; iii) Universal – O seu exercício não está ligado ao preenchimento de nenhuma condição discriminatória. O voto no Brasil não é restrito, por não ser censitário (qualificação econômica), nem capacitário (capacidades especiais, notadamente de natureza intelectual). iv) Periódico – A democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo determinado. 3.2. Capacidade eleitoral passiva A capacidade eleitoral passiva envolve a possibilidade de eleger-se, concorrendo a um mandato eletivo. O direito de ser votado, no entanto, só se torna absoluto se o eventual candidato preencher todas as condições de elegibilidade para o cargo ao qual se candidata e, ainda, não incidir em nenhum dos impedimentos constitucionalmente previstos. Condições de elegibilidade (Art. 14, § 3º, CRFB): a) Nacionalidade brasileira; b) Pleno exercício dos direitos políticos; c) Alistamento eleitoral; d) Domicílio eleitoral na circunscrição; e) Filiação partidária; f) Idade mínima de acordo com o cargo ao qual se candidata. Quanto à idade, essa condição começa aos 18 anos e torna-se plena aos 35, variando de cargo para cargo. i) 18 anos – Para vereador; ii) 21 anos – Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice- Prefeito; iii) 30 anos – Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; iv) 35 anos – para Presidente, Vice-Presidente da República e Senador. 4 4. Inelegibilidades São as circunstâncias que impedem o cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva, ou seja, da capacidade de eleger-se. Restringem, portanto, a elegibilidade do cidadão. As inelegibilidades visam proteger alguns valores importantes, como a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, a legitimidade das eleições contra a influência do poder econômica ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração pública. 4.1. Inelegibilidades absolutas São impedimentos eleitorais para quaisquer cargos eletivos: i) Inalistável (quem não pode ser eleitor não pode se eleger) – Estrangeiros e os conscritos. ii) Analfabeto – O analfabeto tem o direito de se alistar e a votar, mas não pode ser eleito, pois não possui capacidade eleitoral passiva. 4.2. Inelegibilidades relativas Nesses casos, são impedimentos eleitorais para determinados cargos, podendo, porém, se candidatar e ser eleito para outros, sob os quais não recaia a inelegibilidade. Alguns exemplos: i) Inelegibilidade relativa em razão da função exercida para um terceiro mandato sucessivo. ii) Inelegibilidade relativa em razão da função para concorrer a outros cargos – É preciso renunciar ao mandato até 6 meses antes do pleito – desincompatibilização (STF entende que para reeleição não é necessária a desincompatibilização). iii) Inelegibilidade relativa em razão do parentesco – São inelegíveis, no território da circunscrição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção do Presidente da República, do Governador do Estado, Território ou Distrito Federal, Prefeito, etc. A intenção é não utilizar a máquina pública para favorecer um candidato na eleição seguinte. 5. Perda ou suspensão dos direitos políticos 5 Aqui um cidadão é privado dos direitos políticos de votar e ser votado, de forma definitiva (perda), ou de modo temporário (suspensão). Perda dos direitos políticos: i) Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (a perda da nacionalidade também ocasiona a perda dos direitos políticos); ii) Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (lembrar do serviço militar obrigatório). Suspensão dos direitos políticos: i) Incapacidade civil absoluta – Aqui são os casos de interdição; um indivíduo perde o discernimento, é interditado, e perdeos direitos políticos; ii) Condenação criminal transitada em julgado – Os direitos ficam suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação; iii) Improbidade administrativa – Uma das consequências da prática de ato de improbidade é a suspensão dos direitos políticos. iv) Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade – O gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no estado da nacionalidade. v) Falta de decoro parlamentar – Inelegibilidade por 8 anos.
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