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TEORIAS E TÉCNICAS PSICODINÂMICAS O Setting (enquadre) “Pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o processo psicanalítico” (ZIMERMAN, 1999, p.301) - Local - Horários combinados (flexíveis) Conhece o preço de tudo, e o valor de nada - Frequência (semanal, quinzenal) $ subjetivo Conjunção de regras, atitudes e combinações - Tanto contidas no contrato analítico - Quando aquelas que vão se definindo durando a evolução da análise: Ex: dias e hrs. Combinados, honorários, modalidade de pagamento, plano de férias etc. As regras do jogo... Apesar da montagem desse enquadre, o setting está sempre vulnerável aos + diversos acontecimentos. Do contr(ato) ao ato do analista - “No princípio da psicanálise era o ato – o ato inaugural de Freud ao inventar a psicanálise abrindo o inconsciente à sua formalização” (QUINET, 1991, p.7) - “Ato fundador que se renova a cada psicanálise” - Dar início a uma psicanálise, a partir da demanda de alguém, depende do psicanalista com seu ato d decisão. O que fundamenta a experiência de uma análise? - Associação livre + setting - Criação do setting como uma tentativa de garantir o bom andamento de uma análise... - IPA (Internacional Psycho-analytical Association) instituiu-se “como um grande Outro do analista, que supostamente garante a execução de sua prática por intermédio de imposição de retrato aos analisantes” (QUINET, 1991). Lacan: - No lugar das normas, “Lacan introduz o conceito de ato psicanalítico, retirando a psicanálise do âmbito das regras para situá-la na esfera da ética. - “É o analista com seu ato que dá existência ao inconsciente, promovendo a psicanálise no particular de cada caso” ( QUINET, 1991, p.8). - Trata-se de simplificar o analista na responsabilidade de seu ato, e retirá-lo do conforto de um contrato... Freud (o início do tratamento, 1913) Quinet (1991) utiliza-se do referido texto freudiano para interrogar essas “normas”, que se convencionou chamar de setting analítico, onde as encontramos sob a designação de condições. 4 Condições (e não, regras) da análise estabelecidas por Freud: O tratamento de ensaio *entrevistas preliminares O uso do divã A questão do tempo A questão do dinheiro Associação livre marca o início da psicanálise: - É o ponto em que a análise deve começar - Do lado do analista: atenção flutuante + a ética da psicanálise (regida pelo desejo do analista) - “O rigor não se encontra nas condições erigidas em regras, mas na condução da análise sobre a qual o analista deve saber responder.” (QUINET, 1991, p.11) - Daí a necessidade de entrevista preliminares, que têm função diagnóstica, sintomal e transferencial. Desejo do analista: que o paciente entre em análise VIOLANDO O INVIOLÁVEL... - “A IPA transformou essas condições em regras submetidas ao controle institucional, sobretudo no que diz respeito às ‘análises didáticas’, reduzindo a experiência analítica a uma padronização, na qual o analista é um mero funcionário do dispositivo” (QUINET, 1991, p.10) – VALE A PENA LER O PARÁGRAFO O INÍCIO DO TRATAMENTO (Freud, 1913) - Freud diz praticar o “Tratamento de ensaio” - 1ªmeta da análise é a de ligar o paciente ao seu tratamento e ao analista; - Também serve para o estabelecimento de um diagnóstico diferencial entre neurose e psicose - “O fato de receber alguém em seu consultório não significa que o analista o tenha aceito em análise” (QUINET, 1991, p.15) ENTREVISTAS PRELIMINARES - Servem para evitar a interrupção da análise após um certo tempo... - Abrangem um tempo de trabalho prévio à análise, marcada por um corte, e não, por uma continuidade: a entrada no discurso analítico - “... durante esta fase deixa-se o paciente falar quase o tempo todo e não se explica nada mais do que o absolutamente necessário para fazê-lo prosseguir no que está dizendo” (FREUD, apud QUINET, 1991, p.14) - Tarefa do analista: relançar o discurso do analisante As entrevistas preliminares têm a mesma estrutura da análise, mas são distintas desta - EP = A ←→ EP ≠ A - 1º A associação livre mantém a identificação das entrevistas preliminares com a análise (EP = A) - 2º Esse tempo de diagnóstico faz com que se distinga entrevistas preliminares da análise (EP≠A) - Nesse tempo de compreender e concluir, o analista se decide em aceitar ou não o paciente em análise, enquanto o sujeito irá elaborar sua demanda de análise UMA OFERTA CRIANDO UMA DEMANDA - A demanda de análise: um produto da oferta do psicanalista - Importa é como a demanda se particularizará num sujeito, que se apresenta ao analista representado por seu sintoma Sessões curtas: contraponto do tempo do neurótico - “O drama de Hamlet nos revela a dificuldade do neurótico em agir: é sempre tarde demais ou ainda não é chegada a hora” - “A questão do tempo no neurótico está associada à estrutura de seu desejo, na medida em que está marcado por seus impasses: desejo insatisfeito na histeria, desejo impossível na neurose obsessiva” (QUINET, 1991, p.64) “Porque deixamos tudo pra última hora?” - A briga com o tempo... Histeria provocando o Outro com seus atrasos e faltas... Obsessivos revoltando-se contra a falta de uniformização e padronização do tempo... - Queixa que será sobrepujada por um alívio, com a queda das identificações advindas com os cortes... O corte da sessão aponta sempre para a falta: falta-a-ser do sujeito. O que o sujeito declara ser nunca é suficiente... - É sob a tensão da pressa que se realiza o que se tem a fazer - “É justamente a última hora, a pressa, que nos faz agir” - “Tudo que é da ordem da criação, diz, Lacan, se dá na descontinuidade e sob o império da urgência” (QUINET, 1991, p.65) Divã é para fazer relatar e despertas... “Se a cama é o leito do sono, o divã não é para se ficar deitado no berço esplêndido das regressões a um infantilismo da libido. Se a cama é para dormir e sonhar, o divã é para relatar e despertar. Divã que designa efetivamente um lugar de fala: a sala guarnecida de almofadas em que se reunia o conselho do sultão no império otomano... O divã é, em suma, o leito do rio em que passou a minha vida e meu correção se deixou contar”. (QUINET, 1991, p.48). Entrevistas preliminares: função sintomal - Provocar a histerização do sujeito - Formulação do sintoma em questões dirigidas ao analista: “O que isto quer dizer? O que significa isso?” Entrevistas preliminares: função diagnóstica - Diagnóstico diferencial estrutural serve para o analista direcionar a condução da análise - Busca-se no registro simbólico, escutar sobre as questões fundamentais do sujeito (sobre a vida, a morte, o sexo, a procriação, maternidade/paternidade, etc) quando da travessia do Complexo de Édipo; - Por meio de 3 modos de saída do Édipo, ou 3 modos de negação do édipo – negação da castração do outro – correspondentes às 3 estruturas clínicas. ESTRUTURAS CLÍNICAS E SUAS FORMAS DE NEGAÇÃO DA FALTA/CASTRAÇÃO, no ÉDIPO: um modo de estar na linguagem, modo de estar com o Outro ESTRUTURA CLÍNICA e seus tipos clínicos Forma de negação diante do conflito (da divisão subjetiva) Local do retorno Fenômeno NEUROSE (TIPOS CLÍNICOS: Histérica, Obsessivo, Fóbica) RECALQUE SIMBÓLICO Sintoma PERVERSÃO (TIPOS CLÍNICOS: Fetichismo, Sadismo, Masoquismo) DESMENTINDO SIMBÓLICO/IMAGINÁRIO Fetiche PSICOSE (TIPOS CLÍNICOS: Esquizofrenia, Melancolia, Paranoia) FORACLUSÃO REAL Alucinação - ESTRUTURAS NÃO SÃO TIPOS PSICOPATOLÓGICOS! - São formas de constituição e organização da psique de um sujeito... - O manejo da transferência é pensado a parti de um diagnóstico diferencial... Pré-história da criança - Como foi a concepção; - O parto; - Condições de produção discursivas da época; - Lactância (mãe quis/pode amamentar?; bebê teve reflexo de sucção? Como era a “pegada”?Ritmo; horário? Como era a frequência e a quantidade? Mão tinha prazer? Exauriu? Teve ajuda?); Os primeiros traumas... - Mãe e bebê puderam ficar juntos? - Houve acolhimento materno? Nojo? Medo? Desmaio? Estranhamento? Como foi o 1º contato pelo olhar? - E sequência dessa relação, como foi? - O desamparo ao nascer é enorme... O contato físico ajuda a amparar o bebê e a nutrir o vínculo... A demora incrementa as tendências destrutivas, dificultando o bebê se sustentar na via da vida, e a estabelecer um bom relacionamento com a mãe... Para a mãe é se desprender de seu próprio nascimento (a mãe re-nasce!) - “A indicação tão frequente de levar o bebê para longe da mãe, para que ela descanse, é totalmente errônea” (ABERASTURY, 1982, p.85) Castração simbolígenas... - A mãe precisa estabelecer a rotina, para que possa também voltar a ser mulher - O bebê desenvolverá recursos psíquicos a partir dessa “repetição”, “previsibilidade”, “ciclos de alternância” - Significante, portanto, saber sobre o aleitamento, a rotina, como a mãe acalmava seu bebê (resposta alimentares? Embalos? Cantar e conversar? etc) e como foram as sucessivas “castrações”. Como foram as primeiras palavras? - “Quando a criança pronuncia a 1ª palavra, tem a experiência de que ela faz a conexão com o mundo e que é uma maneira de fazer-se compreender” (ABERASTURY, 1928, p.87) - Pais que registram tudo o que o bebê fala... Outros que nunca deram importância... Os que contam histórias e cantam, os que colocam o bebê com a TV e demais gadets... - Mães grudentas... Mães que abandonam... Mães narcísicas... Mães que não inserem alteridade... - Objetos internos vão se relacionando aos externos, seio mau e seio bom, posição esquizo-paranoide rumo à depressiva... A marcha - Como se deu? - Em que momento? - Cair, faz/fez parte? - Sujar-se, faz/fez parte? - Que leva também a falar desses aspectos na alimentação... No Brincar... E o sono e suas diferentes fases... - Controle dos esfíncteres A vida sexual: descoberta dos prazeres na infância - “A atitude consciente e inconsciente dos pais frente à vida sexual de seus filhos tem influência decisiva na aceitação ou rejeição que a criança terá de suas necessidades instintivas. O que hoje conhecemos sobre a vida instintiva da criança e sobre suas manifestações precoces causa assombro nos adultos. Freud também causou assombro e rejeição quando descobriu que a criança ao mamar não só se alimenta, mas também goza.” (ABESTURY, 1982, p.92) Klein: Atrás de toda atividade lúdica há fantasias de masturbação; Freud: O jogo é a repetição de situações que a criança deseja elaborar, fazendo ativamente o que passou passivamente.... Criança que brinca, elabora - Importante índice de saúde psíquica da criança: a capacidade de jogar - Investigar também como foi a ida para a escola: porque, quando, como... - Entrada na leitura e escrita O dia de vida... E as relações familiares - Como são? - Preferências da criança... - Ligações de afeto... Finalizando a entrevista inicial com os pais - “Uma vez terminada esta entrevista, se os pais decidiram fazer somente um diagnóstico, comunica-se o dia e a hora da entrevista com a criança, assim como a duração. Se aceitam um tratamento, lhes daremos a indicações gerais nas quais este se realizará...” (ABERASTURY, 1982, p.95) Wilfred Bion - Licenciou-se em Letras e depois, fez Medicina; - Foi analisando de J. Rickmann e posteriormente, após a II Guerra, iniciou sua análise didática com Melanie Klein. - Produziu cinquenta títulos por um período de 40 anos. - Segundo ele, “o analista vale não tanto pelo que sabe e diz, mas muito mais pelo que realmente é”. - Pioneiro em Dinâmicas de Grupo, filia-se ao pensamento da Teoria das Relações Objetais. Aspectos teórico-clínicos - Bion “acreditava que a psicanálise ‘já tinha teorias demais’ e por isso ele propunha um modelo de funcionamento psíquico que fosse compreendido a partir de vários arranjos combinatórios do que denominou ‘elementos da psicanálise”. (ZIMERMAN, 1999, p.86). Criou: - Modelo continente-conteúdo (função materna e analítica); - Elementos alfa e beta como determinantes para pensar; - Psiquismo fetal; - Concepção de vínculos internos e externos (ex. vínculo do conhecimento (K)); - Problemas da comunicação-não-comunicação... Aspectos clínicos e técnicos - Estudou profundamente sobre a “DOR PSÍQUICA” no processo de mudanças psicológicas que ocorrem no curso de uma análise bem sucedida. Para ele: A) O paciente deve substituir a fuga por um enfrentamento das frustrações inevitáveis, modificando as formas de solucioná-las e/ou modificar a fonte geradora; B) O paciente deve suportar a dor psíquica e aprender com as experiências emocionais; C) O analista deve estar atento às “pioras sintomáticas” que fazem parte do processo analítico: crescer dói porque “vai contra a tendência do ser humano em sua busca do paraíso narcisista”, e trabalhar para que o sujeito busque novas relações... Parte Psicótica da Personalidade - Bion emprega o termo P.P.P para caracterizar que topo sujeito – em maior ou menor grau, é portador de núcleos bastante regressivos, remanescentes dos primitivos períodos evolutivos, como onipotência, onisciência, uso excessivo... As características mais marcantes da P.P.P - Existência de fatores pulsões destrutivas, com predomínio da inveja e voracidade; - Agindo dentro do próprio psiquismo e contra ele, determinam surgimento de uma intensa angústia de aniquilamento; - Para suportar, a PPP lança mão de defesa extremamente primitivas: negação onipotente, dissociação, projeção e identificação projetiva, introjeção e identificação introjetiva, idealização denegrimento; - Baixíssimo limiar de tolerância às frustrações; - Relações mais íntimas marcadas pelo sadomasoquismo; - Ódio à realidade, preferência pelo mundo das ilusões; - Empobrecimento ou precariedade simbólica; - Essa PPP permanece fixada na posição esquizoparanóide, etc. Efeitos da análise da Parte Psicótica da Personalidade - É a análise dessa parte psicótica que possibilita ao sujeito: A) Substituir a onipotência pela capacidade de pensar; B) Substituir a onisciência pela capacidade de aprender com as experiencias; C) No lugar de pré/potência, o reconhecimento da dependência, desamparo e impotência; D) Aumento da capacidade de discriminar (sair da com/fusão psíquica e fazer escolhas mais alinhadas com o desejo) E) A curiosidade arrogante deve dar lugar à curiosidade sadia; F) No lugar de arrogância e identificações projetivas, o sujeito deverá desenvolver sua capacidade de empatia e de continência. G) A desidealização do analista deve ceder lugar ao desenvolvimento de uma ‘função auto-analítica’ A psicoterapia analítica de grupo - Freud nunca trabalhou com grupoterapia, mas trouxe valiosas contribuições para a Psicologia dos grupos humanos, destaque para cinco de seus textos: - “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica” 1910 - “Totem e Tabu” 1913 - “Psicologia das Massas e análise do Ego” 1921 - “O futuro de uma ilusão” - “Mal estar na civilização” “Psicologia das Massas e análise do Ego” (Freud, 1921) - O texto freudiano mais significativo para a compreensão da psicodinâmica dos grupos - Freud faz uma revisão sobre a psicologia das multidões; - Discorre sobre os grandes grupos artificiais (Igreja e Exército); - Os processos identificatórios (projetivos e introjetivos); - As lideranças e as forças que influem na coesão e na desagregação dos grupos; - Reafirma que as relações entre o individuo e o grupo são indissociáveis e complementárias Psicoterapia analítica de grupo - Bion trabalhou com grupos em um hospital militar durante a 2º Guerra Muldial e na Tavistock Clinic, de Londres na década de 40; - TODO INDIVÍDUO É UM GRUPO... - PARA BION OS GRUPOS SE MOVIMENTAM EM 2 PLANOS: ... Bion e os 3 tipos desupostos básicos - O de DEPENDÊNCIA (com 1 líder carismático que inspire a promessa de prover as necessidades básicas) - O de LUTA E FUGA (de natureza paranoide, requer líder tirânico para enfrentar o suposto inimigo) - O de APAREAMENTO (ou ‘acasalamento’) Alude ... Para Bion: - O GRUPO PRECEDE O INDIVÍDUO - a cultural grupal consiste em permanente interação entre o indivíduo e seu grupo, ou seja, entre o narcisismo e o socialismo; - No plano transobjetivo, o atavismo grupal aparece sob forma de mitos - A cultura exige uma organização, a qual é processada por meio da instituição de normas, leis, dogmas, convenções e um código de valores morais, ética e estéticos - A relação que o individuo tem com o grupo é o da relação continente-conteúdo (3 tipos: “parasitário”, “comensal” e “simbiótico”). ,
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