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(20231202-PT) Fugas Público

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FUGAS | Público N.º 12.268 | Sábado 2 Dezembro 2023
Uganda
O segredo dos 
olhos dos gorilas 
de Bwindi
Comboios Uma viagem ao Douro 
(e ao passado) no Presidencial 
 
Casa da Guitarra Alfredo Teixeira, 
um dos últimos violeiros do Porto
Superbrand
Portugal 2023
NotíciasFlix
4 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
África
Há 30 anos, o Uganda recebia os primeiros 
turistas em busca dos gorilas de montanha, 
nesse lugar remoto que continua a despertar 
o imaginário chamado Floresta Impenetrável 
de Bwindi. Sousa Ribeiro (texto e fotogra a)
O segredo dos 
olhos de Kavuyo
Uganda
Sábado, 2 de Dezembro de 2023 | FUGAS | 5
a Adelaide Mulo nasceu em Kampa-
la em 1992. Um ano antes, uma antiga 
reserva era transformada em parque 
nacional. Um ano depois do seu nas-
cimento, essa densa oresta, alega-
damente impenetrável, situada nos 
vales de Kabale que não raras vezes 
se deixam envolver pelas brumas, 
recebia os primeiros turistas em bus-
ca de um encontro com os gorilas, 
com a família Mubare. 
Situado a uma altitude entre os 1160 
e os 2600 metros acima do nível das 
águas do mar e cobrindo uma área 
que se estende ao longo de 330 km2, 
Bwindi continua a despertar o imagi-
nário dos turistas e dos mais intrépi-
dos viajantes – Bwindi, o nome soa 
exótico. E mais ainda deveria soar 
para todos aqueles que o abarcavam 
nos seus sonhos em 1993, pouco antes 
de ser integrado na lista de Patrimó-
nio da UNESCO. Trinta anos se passa-
ram. Adelaide Mulo nunca viu um 
gorila a escassos metros e, naquela 
noite, véspera de percorrer os trilhos 
que, mais tarde ou mais cedo, podem 
conduzir a um deles, parecia nervosa, 
mais inquieta do que nunca. 
- Desde que me lembro, sempre 
tive medo de animais, desde o mais 
frágil pintainho ao mais fo nho dos 
cães. Toda a gente me diz que é mági-
co o momento em que camos cara 
a cara com um gorila, no meio da o-
resta. Fico com a sensação de que 
algo pode correr mal, que um deles 
decide, de repente, caçar um ser 
humano – e esse ser humano posso 
ser eu. Parece, mesmo agora, à dis-
tância, que o único som que consigo 
escutar é o do meu coração a bater 
fortemente. 
A chuva caía incessantemente, os 
relâmpagos iluminavam a noite de 
todas as trevas, os trovões eram como 
um castigo sobre a terra, tudo contri-
buindo, no seu conjunto, para desas-
sossegar Adelaide Mulo. Eu olhava 
para ela, sem que ela se apercebesse. 
Por momentos, afundado no sofá, 
revia a tarde, os nomes das aldeias 
por onde passara, os rostos, a paisa-
gem, enquanto aguardava, sem qual-
quer ansiedade, a convocatória do 
sono que tardava em anunciar-se. 
A manhã despertou, não era a chu-
va que caía, era o rio que corria, cheio 
de pressa, chegando aos meus ouvi-
dos como uma melodia. Escutei o 
silvo de um pássaro e, desde o meu 
quarto, por entre as cortinas, de um 
tecido de cores suaves, senti os pri-
meiros raios de sol insinuarem-se. 
A sala, mais além, abria-se para 
um pequeno-almoço generoso. Ade-
laide Mulo não sorria e desviara, 
neste ou naquele momento, o olhar 
do meu, como alguém que atribui a 
mim a culpa por provavelmente não 
ter descansado. 
- Tenho receio e sinto uma tremen-
da ansiedade. O meu estômago revol-
ve-se, quero vomitar e chorar ao mes-
mo tempo. 
Daniel Mjawulo, sempre tão pro s-
sional, atento, já nos esperava no jipe 
pintado com as cores da oresta. 
Uganda, a pérola de África, como 
de niu o país Winston Churchill, cati-
vava-me a cada instante. Eu começa-
va a gostar do Uganda, daquele verde, 
tão verde, que o caracterizava. 
 
As perguntas dos turistas 
Um gorila em betão domina a entra-
da, há uma certa agitação, há rangers 
por aqui e por ali, alguns militares. 
Numa sala, contra uma parede quase 
nua vestida de verde, mulheres vão 
dançando a um ritmo que parece que-
brar aquela sonolência matinal entre 
os turistas, sentados em cadeiras 
sobre as quais incidem os primeiros 
raios de sol, enquanto escutam os 
conselhos que precedem a imersão 
na oresta. 
O jipe, sempre conduzido por 
Daniel Mjawulo, percorre trilhos de 
terra batida durante pouco mais de 
meia hora. O cenário não difere mui-
to de qualquer outro em África, são 
as primeiras horas do dia, as povoa-
ções que abandonam a sua letargia, 
homens e mulheres que partem, as 
crianças que, deixando a aldeia, 
rumam às escolas, as plantações de 
banana, de chá, de milho, a vegetação 
mais densa ainda, por onde, depois, 
a pé, se embrenha o grupo. 
Um ramo parte-se quando lhe dei-
to a mão para me segurar. Caminho 
como se o zesse sobre um trapézio, 
num circo, num equilíbrio instável. 
Adelaide Mulo estremece perante o 
silêncio e receia os sons da oresta; e 
pergunta-me se estou bem. Eu sei que 
ela não está bem. Que teme o próxi-
mo passo. Parece recuperar alguma 
serenidade quando recebe um sorri-
so. Mas é efémera. 
Há não muito tempo, Adelaide 
Mulo estudava ciência biomédica no 
Canadá. Agora, uns anos depois, esta-
va na iminência de se cruzar, pela 
primeira vez durante a sua existência, 
com um gorila. 
Ao meu lado, apercebendo-se 
daquele receio que teima em não se 
afastar, ele ri-se. Amos Nduhukire, 
que começou a desenvolver a paixão 
pelos gorilas quando era ainda estu-
dante, em 2007, é um ranger com 
experiência. E fala-me, quase em 
segredo, de turistas, de homens e de 
mulheres que, num tempo ou noutro, 
expressaram o desejo de uma fami-
liaridade com “os nossos primos”, 
como ele os de ne, impossível de 
materializar. 
- As perguntas mais bizarras que 
me zeram, desde que comecei a tra-
balhar com os gorilas, em 2012, foi se 
podiam abraçar os bebés, se podiam 
oferecer uma banana, se podiam 
estender o cabelo para os bebés lhe 
tocarem, se podiam colocar-se atrás 
deles para uma fotogra a. 
Rimo-nos muito os dois mas c 
6 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Adelaide Mulo não consegue perce-
ber aquele estado de espírito. 
 
As horas de espera 
Ela está mais tensa do que nunca 
enquanto espreita, temerosa, os gori-
las em cima das árvores, alimentan-
do-se. 
- Agora, o melhor é sentarem-se e 
esperarem até que os gorilas desçam 
das árvores. Pode demorar uma hora, 
três horas ou oito horas. 
Há, no rosto de Osbert Akampuri-
ra, outro ranger, a trabalhar em Bwin-
di desde 2011, um sorriso. Um sorriso 
malandro, atrevo-me a pensar e a 
escrever. Na oresta, a vida não é fei-
ta de pressa. Ele tem uma grande 
paixão pelos gorilas que já se estende 
aos seus lhos, que o enchem de per-
guntas mal chega a casa. 
mensagem em modo de vibração. 
Chego a um espaço em parte aberto, 
sob árvores de troncos esguios, como 
vassouras, acolhendo um gorila que, 
correspondendo ao som que emito, 
levanta a cabeça e se deixa car por 
ali, sereno, como alguém que nada 
tem mais para fazer durante o resto 
do dia. 
Ele é Makara. 
De repente sou assaltado pelos ruí-
dos, de galhos partidos, de vozes. O 
grupo aproxima-se e um dos elemen-
tos pede-me que lhe deixe ocupar a 
minha posição privilegiada para foto-
grafar. Eu permito e parto, novamen-
te atrás de Osbert Akampurira, até ao 
limite da oresta, de onde já quase se 
consegue avistar a aldeia onde os 
gorilas, de quando em quando, gos-
tam de assomar. 
Amos Nduhukire tem conhecimen-
África
to dessas incursões. 
- Eles procuram mudar um pouco 
a sua alimentação, comer bananas e 
folhas de eucalipto, importantes 
para sua dieta e para estabilizar pos-
síveis dores de estômago de que pos-
sam ser alvo. É bom não esquecer 
que há muitos anos os gorilas ocupa-
vam um extenso habitat que foi tre-
mendamente destruído pelo homem 
para dar lugar à construção e ao cul-
tivo das terras. 
O gorila espreita por entre a vege-
tação. 
Ele é Kavuyo. 
- Kavuyo tem entre 30 e 35 anos, é 
um dos mais velhos da família 
Habinyanja e o vice-líder. Habinyanja 
signi ca um lugar com muita água, 
deriva da palavra Enyanja, que quer 
dizerlago, um lago no meio da ores-
ta impenetrável. 
Amos Nduhukire revela sempre 
prazer na conversa, em falar dos gori-
las, de uma das mais de duas dezenas 
de famílias que habitam a Floresta 
Impenetrável de Bwindi. De acordo 
com os últimos números haverá 459 
gorilas em Bwindi, o que corresponde 
a mais ou menos metade da popula-
ção mundial (o resto encontra-se no 
vizinho Parque Nacional Virunga, no 
Ruanda) e representa um forte incre-
mento quando comparado com o 
censo de 2006, que apontava para a 
existência de 340 gorilas. 
- Há muitos anos, os gorilas eram 
chamados de acordo com o lugar onde 
haviam sido avistados pela primeira 
vez. E, individualmente, recebiam 
nomes que tinham a ver com o seu 
carácter, a sua principal característica 
e também com o lugar de nascimento. 
É muito fácil perceber quem é quem. 
O gorila corre paralelo aos meus 
passos, há um arame farpado e alguma 
vegetação que nos separa. Não sinto 
qualquer receio. Ele também não. 
Mais à frente, há um buraco que sepa-
ra a oresta do descampado que con-
duz à aldeia. Osbert Akampurira espe-
ra por ele; eu também. O gorila faz a 
sua aparição e continua, na sua passa-
da vagarosa, ao encontro de uma árvo-
re, da qual parte um ramo com a faci-
lidade com que eu quebro um palito. 
Eu olho para ele, ele olha para mim. 
Os nossos olhares cruzam-se a cada 
instante. 
Um pouco atrás de mim, recortan-
do-se contra a paisagem verde onde 
se destaca uma árvore despida, avisto 
Adelaide Mulo. Por instantes não sei 
se o gorila olha para mim ou para ela. 
- Pensei que fossem maiores, gran-
des como elefantes. 
Naquele olhar, agora por cima do 
ombro, há um segredo. Talvez ele se 
sinta grato pelo comentário de Ade-
laide Mulo. Por parecer mais magro 
do que os 200 quilos que pesa. 
É o segredo dos seus olhos. Desses 
olhos e desse olhar que guardarei na 
memória até que a memória desse 
encontro feliz com Kavuyo me falhe.
- Eles querem ser guias e proteger 
os gorilas. Eu falo-lhes deles da minha 
experiência, de como gosto da forma 
como eles se alimentam, como se 
movem, como interagem connosco. 
Os gorilas são criaturas adoráveis e 
pací cas. 
Tenho todo o tempo do mundo 
mas dois ingleses, tendo apenas per-
cebido na noite anterior que o voo de 
regresso a Inglaterra era às três da 
manhã e não às três da tarde do dia 
seguinte, sentiam-se pressionados. 
Abandono o grupo e, obedecendo 
ao gesto de Osbert Akampurira, sigo 
os seus passos, sempre em silêncio. 
Ele detém-me por uns segundos para 
me explicar, sussurrando, como devo 
fazer para tranquilizar um gorila caso 
o aviste a curta distância. 
O som semelha-se, em parte, ao de 
um telemóvel quando recebe uma 
O verde é uma 
constante na 
paisagem, 
com as suas 
plantações de 
banana, de 
chá, de milho, 
retratos de um 
país que seduz 
a cada 
instante 
Sábado, 2 de Dezembro de 2023 | FUGAS | 7
No início era a bicicleta, o m era a mulher
a Ninguém se ri como ele. Cada con-
versa, cada pergunta, cada resposta, 
tudo provoca em Simplicious Gessa 
uma gargalhada, como uma felicida-
de que ultrapassa qualquer outra 
felicidade. Conheci-o em Kampala, 
uns minutos antes de ele abrir a porta 
para Abigail Hambers entrar no jipe 
de oito lugares conduzido por Daniel 
Mjawulo. Ele ligara para ela e ela, a 
poucos metros de distância, numa 
estação de serviço, respondera-lhe: 
- Estou aqui a olhar para vocês. 
E ele respondeu: 
- Não é para estares a olhar para 
nós, é para vires para o carro. 
E riu-se muito. 
Ela também se iria rir muito ao lon-
go dos dias seguintes mas, naquele 
momento, quando a tarde se extin-
guia, Abigail Hambers dormia com a 
cabeça encostada ao vidro da viatura 
no exacto instante que precedeu mais 
uma gargalhada de Simplicious Ges-
sa, quando eu, na minha ingenuida-
de, comentei que, por estes lados, já 
tão perto de Bwindi, havia muitas 
crianças. 
- É a única actividade recreativa por 
estes lados. 
Ri-se com vontade e recorda os 
tempos, há uns 13 anos, quando foi 
enviado, como representante da 
Uganda Wildlife Authorithy (UWA), 
desde Kampala para a oresta, num 
trajecto, feito de carro, que lhe rou-
bou um dia inteiro. 
- Dormi durante dois dias e, no ter-
ceiro, regressei a Kampala. Resignei 
ao cargo que me fora oferecido na 
área da conservação dos gorilas. 
Haveria de voltar. 
Quando chega ao local que acolhe 
os turistas na antecâmara do trekking, 
Simplicious Gessa volta a sorrir quan-
do alguém, também por entre um 
sorriso, lhe bate a pala. Mais do que o 
respeito ou a existência de uma hie-
rarquia militar, sobressai a amizade, 
a mesma que me despertara a aten-
ção quando ele assomara, na véspera, 
ao Ride 4 a Woman, quase desapare-
cendo no meio daquele amplexo de 
Evelyn Habasa. 
- É assim que sou recebido aqui. 
Eu brinco com Simplicious Gessa e 
digo-lhe que também eu sou acolhido 
da mesma forma. Ele olha-me, na 
expectativa. Evelyn Habasa não me 
desilude e envolve-me num forte 
abraço, com um sorriso dócil encai-
xando-se na moldura da sua cara. 
- Esta é também a tua casa. 
Ela sabe quem está a abraçar, 
alguém com quem mantivera contac-
to nos dias que antecederam a minha 
chegada a Buhoma. 
Corria o ano de 2009 quando 
Evelyn Habasa, natural de Bwindi-
Buhoma, decidiu criar o Ride 4 a 
Woman, uma organização não gover-
namental focada em fortalecer, antes 
de mais, o papel das mulheres, social 
e económico, de uma dúzia de aldeias 
próximas, mulheres solteiras, viúvas, 
mulheres vítimas de abusos, mulhe-
res infectadas com sida, mulheres 
que não tiveram oportunidade de 
frequentar a escola. 
William e Lillian Katarihwa eram os 
nomes dos pais de Evelyn Habasa. 
- Tenho vagas memórias da minha 
mãe com um vestido vermelho do 
qual toda a aldeia falava. 
Num tempo da sua vida, c 
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As mulheres, agora tantas vezes 
sorridentes, mais respeitadas 
pelos homens, dedicam-se à 
costura e a outras actividades 
que conferem outro estímulo 
aos seus dias 
8 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
150km
Kampala
EntebbeFloresta
Impenetrável
de Bwindi Lag
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itória
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Branco
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Q U É N I A
S U D Ã O D O S U L
R E P. D E M .
D O C O N G O
T A N Z Â N I AR U A N D A
EnteEntebestata
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indi Lag
T AR U A N D AAAAAAAAAA
UGANDA
África
Lillian Katarihwa, mãe de mais sete 
lhos, não possuía outro. Lavava o 
vestido vermelho mal o sol se punha 
e logo o ajustava ao corpo na manhã 
seguinte. 
Evelyn Habasa está sentada à mesa 
com o marido, Denis Rubalema, reti-
rando prazer do almoço confecciona-
do por ela. Eu ganho coragem para a 
provocar. 
- Aqui mandam as mulheres. E em 
casa? 
Ela responde sempre com uma 
expressão terna desenhando-se no 
rosto. 
- Quem cozinha. Eu cozinho, se não 
cozinhar ele não come. 
O marido sorri. Parece satisfeito 
com o que tem à sua frente, no prato. 
A conversa torna-se mais séria. Ela 
recupera o tema: 
- A minha mãe sempre me falava 
dos direitos das mulheres, sempre me 
disse que eu precisava de ir para a 
escola para ajudar as mulheres, as 
minhas amigas da aldeia. 
E encho-me ainda mais de coragem 
para tentar perceber e situar o 
momento em que Evelyn Habasa sen-
tiu necessidade de patrocinar as 
mulheres. 
- A relação entre os meus pais era 
boa, apenas um pouco de abuso ver-
bal mas sem violência física. 
Diferente era aquela que marcava 
a das mulheres da aldeia com os seus 
maridos, pelo menos daquelas de 
quem lhe chegava o eco. 
- Tantos traumas, especialmente 
das mulheres que ajudamos actual-
mente. Algumas das histórias que elas 
nos contavam eram terríveis. 
Uns olhos que por vezes parecem 
mortiços e doridos, como que conta-
giados pelo sofrimento dessas mulhe-
res anónimas, brilham de repente, 
como um raio de sol pelo meio de um 
aguaceiro no instante em que Evelyn 
Habasa recorda os primeiros dias do 
Ride 4 a Woman, o projecto solidárioque teve o seu início com o aluguer 
de bicicletas, cujas receitas eram des-
tinadas a apoiar as mulheres. 
- A primeira pessoa foi uma senho-
ra que nos perguntou se podíamos 
alugar a bicicleta para ela andar pelo 
meio da oresta. Tínhamos cinco 
quando ainda estávamos a dar os pri-
meiros passos e lembro-me bem de 
que pagámos 150 dólares americanos 
pela primeira. Não era fácil: as estra-
das, as chuvas, a oresta, era um pro-
duto que não era fácil de vender. 
 
Escapando dos abusos 
A bicicleta presidiu à base em termos 
comerciais mas a ideia original, falan-
do da guesthouse, residia num hostel 
que acolhia pessoas vítimas de violên-
cia doméstica. 
- Um lugar para onde uma mulher 
podia fugir dos seus problemas e per-
manecer por uma noite. Mas no 
momento em que a aldeia percebeu 
que as mulheres tinham um lugar 
para fugir, os homens, temendo as 
consequências, deixaram de agredir 
as mulheres. E foi nessa altura que 
tivemos de transformar o hostel numa 
guesthouse. 
Evelyn Habasa concede-me liber-
dade para errar por ali, para ver as 
mulheres atrás das suas máquinas de 
costura, algumas delas da marca Sin-
ger, fazendo-me lembrar a minha avó 
materna e a minha infância feliz. E, 
num outro extremo, para onde sou 
encaminhado pela simpática Shallon 
Twijukye, um outro grupo cria, 
manualmente, bonitos cestos. 
- Fico muito feliz por ver as mulhe-
res a trabalhar ao meu lado. Elas sen-
tem-se reconhecidas, importantes 
mesmo, no seio das suas comunida-
des, reconhece Evelyn Habasa. 
Estas mulheres, pouco mais de 60 
nos dias de hoje, aprenderam a cos-
turar e a produzir outros materiais e 
têm garantida, diariamente, uma 
refeição, bem como as suas remune-
rações de 15 em 15 dias – 50% da recei-
ta da guesthouse destina-se aos paga-
mentos e diferentes apoios. No total, 
o projecto Ride 4 a Woman, que 
começou com 16 pessoas, tem agora 
três centenas de membros registados, 
incluindo 15 homens. Outros, fora de 
portas, começam a assimilar a impor-
tância desta ideia materializada aos 
poucos por Evelyn Habasa. 
- No início não eram apoiadas mas, 
mais tarde, os homens perceberam 
Não há qualquer ligação 
aérea directa entre 
Portugal e o Uganda. 
Será obrigado a algum trabalho 
de pesquisa para encontrar o voo 
que mais lhe convém, até 
descobrir a melhor relação entre 
duração total do mesmo e a 
tarifa mais económica. Uma das 
melhores opções passa pela 
Emirates, com uma única escala, 
no Dubai, até chegar (voo 
operado pela Fly Dubai) a 
Entebbe, com preços (ida e volta) 
a rondar os mil euros. De resto, 
as alternativas implicam sempre 
duas escalas, que podem ser, 
após uma primeira numa cidade 
europeia, em Adis Abeba (com a 
Ethiopian Airlines), no Cairo (a 
Egyptair voa duas vezes por 
semana para Entebbe), em 
Nairobi (servida, entre outras, 
pela KLM, Air France e British 
Airways), com ligações a 
Entebbe com a Kenya Airways e a 
Uganda Airlines – conciliar um 
voo com esta última é outra 
possibilidade, uma vez que serve 
aeroportos como Joanesburgo, 
Dar es Salaam e Dubai, por 
exemplo. 
Do aeroporto de Entebbe são 
pouco mais de 40 quilómetros 
ao longo de uma auto-estrada de 
construção recente até Kampala. 
Pode optar por um táxi (cerca de 
30 euros) ou pelo transporte 
público, as minivans conhecidas 
por matatus (entre três e quatro 
euros) ou motorizadas 
localmente designadas boda 
boda (ideais para se mover em 
Kampala mas não para grandes 
distâncias porque tornam-se 
mais caras que uma matatu). 
A partir da capital do Uganda, 
com os seus 1,8 milhões de 
habitantes, pode recorrer a um 
voo interno até Kihihi, o 
aeródromo mais próximo de 
Bwindi (um pouco mais de uma 
hora), devendo para tal consultar 
os horários e as tarifas com a 
Aerolink (www.aerolinkuganda.
com) ou, se não se incomodar 
com umas dez horas de viagem, 
aos autocarros que, duas vezes 
por dia, cumprem o trajecto 
entre Buhoma e Kampala e 
vice-versa. 
 
A melhor época para 
visitar o país, com 
poucas variações de 
temperatura (entre os 24 e os 30 
graus), é durante as estações 
secas, entre Dezembro e 
Fevereiro e entre Junho e Agosto. 
Esses são os meses ideais, 
aqueles que oferecem melhores 
condições climatéricas para 
caminhadas e observação dos 
gorilas e de outras espécies. A 
temporada das chuvas confere, 
ainda assim, algumas vantagens, 
revelando-se mesmo uma opção 
inteligente: entre Setembro e a 
primeira quinzena de Dezembro 
– e entre finais de Fevereiro e 
Maio – os gorilas não têm 
necessidade de procurar comida 
nas zonas mais altas e podem ser 
avistados mais facilmente, 
enquanto a floresta se veste de 
um verde exuberante e acolhe as 
aves migratórias que chegam 
nessa época. 
 
Shaka Zulu 
Plot 5, Campeling Road, 
Kiswa - Bugolobi 
Kampala 
Tel.: 00 256 702 649 999 
Cozinha tradicional de 
excelência na capital do Uganda, 
com deliciosos estufados (entre 
3,50 e 6€) e o famoso luwombo, 
um guisado cozinhado em folhas 
de banana (6€). 
 
Dolphin Suites 
Plot 36, Princess Anne 
Drive - Bugolobi 
Kampala 
Tel.: 00 256 752 711 277 
www.dolphinsuites.co.ug 
E-mail: 
info@dolphinsuites.com.ug 
Preço: a partir de 80€ por um 
quarto duplo. 
Ride 4 a Woman 
156, Kanungu 
Buhoma 
Tel.: 00 256 785 999 112 
www.ride4awoman.org 
E-mail: 
ride4awoman@gmail.com 
Preço: desde 100€ por um 
quarto duplo mas pode optar 
também por meia pensão (120) 
ou pensão completa (150) – e 
não deixe de experimentar, ao 
almoço (10€) ou ao jantar (12€), 
os pratos confeccionados por 
Evelyne Hasaba. 
 
Os portugueses 
carecem de um 
passaporte com 
validade de pelo menos seis 
meses e de um visto. Este, no 
valor de 50 dólares americanos, 
deve ser obtido online (https://
visas.immigration.go.ug/). Entre 
os documentos solicitados está 
o da vacinação contra a febre 
amarela e, uma vez aprovado o 
visto, deve imprimi-lo e 
munir-se dele – as próprias 
companhias aéreas solicitam-no 
por vezes na altura do check-in 
e o mesmo acontece na 
chegada ao país. 
As línguas oficiais do Uganda 
são o inglês e o suaíli. A moeda é 
o xelim ugandês – um euro 
equivale a 4150 xelins. Diferença 
horária: às 12h em Lisboa são 
15h em Kampala.
que, garantindo elas receitas a partir 
do projecto por nós criado, eles pró-
prios começaram a manifestar o seu 
apoio; e, neste momento, quando 
uma mulher não vai trabalhar, o mari-
do é o primeiro a perguntar por que 
razão a mulher ca em casa. 
Graças aos esforços desenvolvidos 
por Evelyn Habasa, mais de mil famí-
lias dispõem já de água potável dentro 
da comunidade, um outro programa 
promove a educação entre as crian-
ças cujos pais, vivendo numa pobreza 
extrema, não têm capacidade para os 
enviar para a escola – o apoio estende-
se a todos com cinco ou mais lhos. 
As mulheres carregam agora, ao nal 
da manhã, alguns instrumentos musi-
cais. Não tardam estão a cantar e a 
dançar sob um céu que se vai enchen-
do de nuvens ameaçadoras. 
Evelyn Habasa não quer car por 
aqui. Enquanto se desdobra nas suas 
tarefas, entre elas cozinhar perante o 
olhar de alguns turistas, vai enume-
rando os novos projectos que tem em 
mente, como uma escola primária, 
instalação de painéis solares nas 
casas, microempréstimos, doação de 
cabritos. 
As mulheres, sorridentes, conti-
nuam a cantar e a dançar no exte-
rior e, não tarda, a elas se junta 
Abigail Hambers, feliz, como uma 
criança. Simplicious Gessa, sentado 
numa cadeira de plástico sobre 
aquele relvado verde, assiste. E 
ri-se. Ri-se muito.
10 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Passeio
Uma experiência gastronómica ancorada em produtos 
regionais, num comboio dos anos de 1930 que transportou 
chefes de Estado (incluindo uma rainha). Pode demorar 
um dia inteiro e nunca cansar se tiver como cenário o 
magní co vale do Douro. Carlos Cipriano 
O Comboio Presidencial 
leva-nos a viajar no tempo 
pelo vale do Douro
a “A paisagem do Douro é uma das 
belas do mundo.” Quem o diz é o 
presidente da CP, Pedro Moreira,ele próprio duriense (é natural de 
Mesão Frio) e, por isso, suspeito de 
uma declaração tão apaixonada. 
Mas muitos dos passageiros que no 
dia 15 de Novembro participaram na 
viagem de apresentação do Com-
boio Presidencial entre o Porto e o 
Pocinho, acabariam por lhe dar 
razão. Uma viagem pela linha do 
Douro é uma experiência deslum-
brante, mais ainda se for realizada 
num comboio vintage, degustando 
um menu preparado por um chef 
famoso, Chakall, e que vai sendo 
servido – calmamente – durante o 
percurso. 
Começa-se com uma “Bye bye 
francesinha”, servida nos comparti-
mentos, pouco depois de o comboio 
sair do Porto. Já não há carruagens 
assim, com cabines com alcatifa, 
estofos aveludados, abas para encos-
tar a cabeça, cortinas presas por 
DR
Sábado, 2 de Dezembro de 2023 | FUGAS | 11
concelho o único do país a acomodar 
dois Patrimónios da UNESCO. 
Fá-lo-á no Pocinho, durante uma 
conferência de imprensa no edifício 
da estação. Mas, por enquanto, ain-
da estamos no Pinhão, uma bonita 
estação, famosa pelos seus azulejos 
com motivos durienses e cujo inte-
rior foi transformado numa wine 
house, que poderia também cha-
mar-se loja de vinhos, mas que é 
nome pomposo que faz jus ao turis-
mo e à histórica presença britânica 
no sector do Vinho do Porto. 
Aproximamo-nos do Tua, de onde 
se avista a polémica barragem e o 
que resta de uma via-férrea icono-
grá ca que desta estação subia até 
Mirandela e Bragança. Fechou, víti-
ma de décadas de desinvestimento 
e da barragem que lhe ditou a sen-
tença de morte. 
A estação do Tua está igualmente 
bem preservada. As umbreiras das 
suas portas assinalam os gabinetes 
do “chefe” e do “telégrafo”, tes-
cintas de couro, espelhos e rede para 
pousar a bagagem. Uma autêntica 
viagem no tempo, que em breve 
prossegue noutra carruagem quan-
do os passageiros são convidados 
para se dirigirem aos salões-restau-
rante onde, no m de contas, acaba-
rão por passar a maior parte do dia. 
O Comboio Presidencial é requin-
tado e surpreendente. Tem compar-
timentos que se transformam em 
quartos de dormir, salões, cozinhas, 
recantos. A decoração dos anos de 
1930 recorda-nos que estamos, de 
facto, a bordo de uma peça de 
museu. Em duas das carruagens o 
mobiliário é novo, mas não parece. 
Foi desenhado pela Antarte, uma 
empresa de móveis e decoração que 
concebeu várias peças em exclusivo 
para este comboio, com um design 
perfeitamente enquadrado no espí-
rito da época. 
Degusta-se uma entrada de azei-
tonas, manteiga frita e pão. Não há 
pressa. Este é um dos sítios onde 
não nos importamos que o serviço 
seja moroso porque as cadeiras são 
confortáveis, não há urgência em 
chegar a lado nenhum e a paisagem 
é um encanto para os sentidos, 
sobretudo agora que, atravessado o 
túnel do Juncal (concelho de Marco 
de Canavezes), descemos para Mos-
teiró (concelho de Baião) avistando 
à direita o rio Douro, do qual não 
nos separamos até ao m da via-
gem. 
O menu prossegue com uma sopa 
de castanhas com pato des ado. 
Segue-se um duo de croquetes de 
polvo e rabo de boi e um terceiro 
prato – tartar de vitela mirandesa, 
fortuna e couves asadas das encostas 
do Douro. 
Por esta altura já passámos a 
Régua e a barragem de Bagaúste, 
graças à qual o Douro, que até há 
pouco se avistava uns metros lá em 
baixo, voltou a car ao nível da via-
férrea transformado num caudal 
imenso, domesticado, onde se espe-
lham as cores outonais dos vinhedos 
que, em socalcos, se avistam nas 
suas encostas. 
 
As quintas 
por entre os socalcos 
E com as vinhas avistam-se as quin-
tas. São muitas as que se podem ver 
desde a janela do comboio. A Quin-
ta da Pacheca, a do Vallado, a de 
Vale Abraão, morada do Six Senses 
Hotel, a da Vacaria, a do Crasto, a 
do Caleiro, a Quinta Nova, a do Sei-
xo, a da Bela Vista, a de la Rosa, a do 
Bon m, a de Ventozelo, a da Roma-
neira, a Quinta Vale Meão, a Quinta 
do Vesúvio. 
O vale do Douro é um espectáculo. 
Já aqui foi dito. E João Paulo Sousa, 
presidente da Câmara de Foz Côa, 
recordará que é por isso, graças à sua 
paisagem, aos seus vinhos e vinhas, 
que o Douro é Património da Huma-
nidade, tal como, de resto, o são as 
pinturas rupestres, fazendo do seu 
Uma viagem 
pela linha do 
Douro é uma 
experiência 
deslumbrante, 
mais ainda se 
for realizada 
num comboio 
vintage
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ELISA PINTO DE FREITAS
12 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Passeio
temunhos de um tempo em que nas 
estações trabalhavam dezenas de 
ferroviários a prestar vassalagem aos 
monstros de aço que eram os pesa-
dos comboios de passageiros e mer-
cadorias, rebocados por locomotivas 
a vapor que faziam ecoar o seu silvo 
no vale do Douro. 
O telégrafo permitia comunicar 
entre estações. O chefe de estação 
pedia à estação seguinte o avanço 
para o comboio seguir, antes de lhe 
dar a partida. Pelo telégrafo fazia-se, 
assim, a gestão dos cruzamentos 
pois a linha é de via única e a segu-
rança assentava totalmente em 
meios humanos. A maioria dos pas-
sageiros deste comboio – essencial-
mente jornalistas e agentes de via-
gens – desconhece que pouco 
mudou desde o século XIX. Apenas 
o telégrafo foi substituído pelo tele-
fone. No resto tudo continua igual. 
O agente de circulação da IP da esta-
ção do Tua pede ao seu colega da 
estação de Vargelas avanço para o 
comboio número 13815 e dá a parti-
da erguendo uma bandeira e 
soprando num apito. À linha do 
Douro a modernização tarda em 
chegar. Continua sem electri cação 
e sem a instalação de modernos sis-
temas de sinalização (apesar da pro-
messa que tal ocorreria até 2020) 
A paisagem muda. É mais escar-
pada, xistosa, selvagem. O rio volta 
a afundar-se: avista-se lá em baixo, 
deixando adivinhar remoinhos e 
uma corrente mais forte. Voltará a 
subir na próxima barragem, a da 
Valeira, que não se vê do comboio 
porque entramos no túnel homóni-
mo, à saída do qual se avista uma 
paisagem inaudita. Há exclamações 
de espanto perante este imenso 
espelho de água e a larga curva que 
o caminho-de-ferro ali faz, com o rio 
a beijar a linha, a escassos centíme-
tros dos carris. É um dos sítios mais 
emblemáticos da linha do Douro e 
a este local está também associado 
o famoso naufrágio do Cachão da 
Valeira onde a Ferreirinha quase 
perdeu a vida. 
O Pocinho. Fim de linha. Apetece 
continuar, fazer o percurso até Bar-
ca de Alva, de onde também se 
seguia para Salamanca e para 
Madrid. Os 28 quilómetros de rio 
Douro entre Pocinho e Barca de 
Alva merecem ser observados desde 
as janelas dos comboios por turistas 
ávidos de experiências, emoções e 
sensações. É isso que é dito a bordo 
pelos agentes de viagens, que repe-
tem serem estas as características 
do turismo do século XXI. 
 
Um negócio a três com 
uma “chave de receitas” 
Na conferência de imprensa realiza-
da na estação do Pocinho, o presi-
dente da CP anuncia que o Presiden-
cial vai ser comercializado na Pri-
mavera durante dez ns-de-semana 
(20 viagens) entre Março e Maio. 
Custa 750 euros e incluirá ainda 
uma visita à Quinta do Vale Meão 
com prova de vinhos. 
Depois este comboio regressa à 
sua “casa” – o museu ferroviário do 
Entroncamento. A nal, esta compo-
sição é uma peça de museu, como 
Na verdade, esta composição já fez 
mais viagens enquanto comboio 
turístico do que ao serviço dos três 
chefes do Estado que o utilizaram: 
Óscar Carmona, Craveiro Lopes e 
Américo Thomaz. Mas também foi 
com esse objectivo que em 2011 foi 
alvo de uma minuciosa reconstrução 
nas o cinas da CP em Contumil. 
O chef Chakall, parceiro da CP e 
do Museu Nacional Ferroviário nes-
te projecto, contou que viajou pelo 
Douro para se inspirar nas receitas 
locais que quer apresentar no Com-
boio Presidencial, bem como res-
taurantes, provavelmente pouco 
conhecidos e com cozinheiros anó-
nimos, mas que têm o reconheci-
mento dos seusclientes e que vão 
ser convidados a apresentar os seus 
pratos neste projecto sobre carris. 
Um projecto cujos custos o presi-
dente da CP não quis divulgar. Ques-
tionado pelos jornalistas, Pedro 
Moreira explicou que o investimen-
to era partilhado entre a sua empre-
sa, a Fundação Museu Nacional 
Ferroviário e Chakall, sendo os pro-
veitos distribuídos entre os três 
“tendo em conta uma chave de 
receitas em função da sua participa-
ção”. 
Sobre o facto de o projecto ser 
idêntico ao desenhado pelo anterior 
promotor – o empresário Gonçalo 
Castelo Branco – , respondeu que 
este projecto não é uma cópia do 
explica o presidente da Fundação 
Museu Nacional Ferroviário, Manuel 
Novaes Cabral. “Há peças estáticas, 
destinadas apenas a gurar no 
museu e outras, como o Comboio 
Presidencial, que foi alvo de uma 
restauração dinâmica que lhe per-
mite sair à linha e fazer várias via-
gens por ano”, disse. 
O chef Chakall 
aproveitou a viagem 
inaugural para afinar 
alguns detalhes no 
menu que será servido 
nos próximos passeios 
do Presidencial
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DR
Sábado, 2 de Dezembro de 2023 | FUGAS | 13
Conversas
Exposições
Performances
Programação Infantil
Workshops
4 a 9 de dezembro
Biblioteca Municipal
Florbela Espanca
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que já foi feito e que “uma experiên-
cia gastronómica a bordo de um 
comboio turístico é algo que se faz 
em todos os países do mundo”. 
Reforçou, por outro lado, que este 
Comboio Presidencial tem uma 
maior relação com vários actores da 
região, de que é exemplo a partici-
pação de dez quintas do Douro, 
quando anteriormente era só 
uma. 
Nesta viagem os convidados 
podem escolher entre oito marcas 
de vinhos: Vale Dona Maria, Valla-
do, Quinta do Grifo, Duorum, Quin-
ta da Corte, Quinta do Valbom, Vale 
Meão e Ventozelo. Uma oferta vasta 
para acompanhar um menu de 11 
pratos, incluindo as sobremesas. 
 
Quando os Presidentes 
viajavam de comboio 
Agora que iniciámos a viagem de 
regresso – por volta das quatro da 
tarde – saímos do Pocinho a comer 
alheira com vinho do Porto, prosse-
guindo o repasto com polvo nipotu-
ga, migas de tomate e coentros. A 
gastronomia não é uma novidade 
neste comboio. Os Presidentes da 
República que dele se serviram e as 
suas comitivas eram bons comen-
sais, tal como contou em 2010 ao 
PÚBLICO Manuel Silveiro, a última 
testemunha viva da brigada de fer-
roviários e funcionários da Wagons 
Lits que acompanhava o Presiden-
cial. 
“Cinco minutos depois de sairmos 
de Lisboa, já ia tudo nas bebidas 
nas e nos petiscos. E antes de 
Coimbra já estavam todos a almo-
çar. Era comer e beber a viagem 
toda”, contava o revisor de material, 
responsável pelo bom funciona-
mento das carruagens. 
No regresso da Invicta (a maioria 
das viagens presidenciais eram entre 
Lisboa e Porto), que se realizava sem 
uma única paragem (e obrigava a que 
os comboios que seguiam à frente 
tivessem de encostar em linhas des-
viadas para deixar passar o Presiden-
cial), mandava-se o maquinista 
afrouxar a marcha para que os dig-
nitários melhor pudessem apreciar 
a refeição a bordo. 
Américo Thomaz era um claro 
apreciador da gastronomia sobre 
carris e foi o chefe de Estado que 
mais usou o Presidencial. Consta 
que Marcelo Caetano, após a morte 
de Salazar, terá alertado para os ele-
vados custos destas deslocações, 
recomendando que o Presidente 
viajasse de carro. É que o comboio 
tinha uma tripulação de 15 pessoas 
mais um maquinista e dois inspec-
tores que seguiam na locomotiva. 
Na véspera de uma viagem presi-
dencial, a composição era retirada 
da sua “garagem”, na estação da 
Cruz da Pedra, e ia e vinha até ao 
Entroncamento em viagem de 
ensaios. No dia seguinte, com o Pre-
sidente a bordo, era precedida de 
uma locomotiva, designada “bate-
dora”, que abria caminho prevenin-
do um eventual atentado. Durante 
todo o percurso, patrulhas da GNR 
asseguravam a vigilância das pontes 
sobre a via-férrea e os operários de 
via eram dispostos ao longo da linha 
por forma a verem-se uns aos outros 
e não deixar um metro de carril que 
não estivesse vigiado. 
Manuel Silveira conta que Améri-
co Thomaz almoçava com um gru-
pinho restrito na carruagem presi-
dencial, que tinha cozinha própria 
e à qual estavam afectos um cozi-
nheiro, um ajudante e dois criados 
de mesa. E que os ministros e outros 
convidados jantavam noutra carrua-
gem. Jornalistas e pides, que viaja-
vam na última carruagem, não 
tinham direito a comer a bordo. 
Em 2023 também não se pára de 
degustar a bordo. Regressa o com-
boio ao Pinhão, à Régua, o Sol já se 
pôs e ataca-se um cabrito mirandês 
com batatas. Servem-se as sobreme-
sas: cavacas de laranja, roça de 
maçãs de Moimenta da Beira e, para 
terminar, um piccole de Porto ruby, 
o mesmo é dizer, um gelado de 
vinho do Porto. 
 
Uma peça de museu 
dinâmica 
Nesta viagem nunca se ultrapassou 
os 70 km/h. Não que a linha não des-
se para mais, mas porque este com-
boio – recorde-se – é uma peça de 
museu. Cinco das seis carruagens 
datam de 1890 e faziam parte do 
Comboio Real, tendo sido salvas dos 
excessos revolucionários da I Repú-
blica pelos próprios ferroviários 
que, prudentemente, as parquea-
ram num sítio discreto. É já no Esta-
do Novo, nos anos de 1930, que 
serão modernizadas e a elas se jun-
ta uma nova carruagem comprada 
na Alemanha. É com este formato 
que chegará aos dias de hoje, cons-
tituindo uma das mais importantes 
peças do espólio do Museu Nacional 
Ferroviário. 
Quando sai à linha, merece cuida-
dos especiais, sobretudo nas o ci-
nas onde, de acordo com o presi-
dente da CP, os operários capricham 
em tratá-lo bem. 
Não é caso para menos. Neste 
comboio, além dos chefes de Estado 
e altos cargos do Estado Novo, via-
jou também a Rainha Isabel II e um 
importante cardeal do Vaticano. E 
a ele está também associado um 
episódio relevante da História de 
Portugal – o funeral de Salazar, em 
30 de Julho de 1970, entre Belém e 
Santa Comba Dão, se bem que, nes-
te caso, foi atrelada à composição 
mais uma carruagem para levar a 
urna, veículo esse que está hoje pre-
servado no Museu Ferroviário no 
Entroncamento. Entre os ferroviá-
rios dizia-se então que este foi o 
comboio mais atrasado da história 
da CP. 
À estação de São Bento o Presi-
dencial de 15 de Novembro chegou 
às 20h09, com 19 minutos de atraso. 
Nada de grave. Ninguém mostrou 
impaciência para chegar mais cedo 
ao Porto. Esta é uma daquelas via-
gens que não apetece que termine, 
até porque foi sempre acompanha-
da pelo trio musical feminino Adlib 
Strings (duas violinistas e uma vio-
loncelo) que actuou nas várias car-
ruagens. 
Em declarações à Fugas, Chakall 
diz que esta viagem de apresentação 
lhe foi extremamente útil porque 
lhe permitirá corrigir alguns proble-
mas detectados. O chef que foi res-
ponsável pelo premiado restauran-
te do Pavilhão de Portugal da Expo 
Dubai 2020, conta que é um autên-
tico desa o logístico cozinhar num 
comboio, mas não tem dúvidas que 
conseguirá manter um patamar de 
qualidade à altura daquilo que é a 
tradição do Presidencial desde o 
tempo em que nele viajavam os che-
fes de Estado.
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14 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Motores
O pioneiro do segmento dos MVP soube adaptar-se ao que o mercado exige e, 
apesar do estilo SUV, apresenta-se tão espaçoso e funcional como sempre. 
E consegue convencer nos parcos consumos. Carla B. Ribeiro
Renault Espace, um automóvel(poupado) para todo o serviço
a Há 40 anos, a Renault tirou da 
manga uma solução pensada para as 
famílias numerosas, fazendo nascer 
o segmento dos MPV (multi purpose 
vehicles). E, não obstante o facto de 
a primeira geração ter tido alguma 
di culdade a penetrar em certos 
mercados, depressa se tornou objec-
to de desejo de famílias com mais do 
que quatro elementos, ansiosas por 
fazer do carro também um espaço 
de convívio. 
Quatro décadas volvidas, o Espace 
não teve a vida facilitada. É que, 
quando já tinha conquistado uma 
boa fatia de fãs, surgiram os SUV 
(sport utility vehicles), mais robustos, 
para lhe roubar uma quota de adep-
tos. A fabricante francesa, porém, 
não deixou cair o Espace e, nas últi-
mas gerações, dedicou-se a apetre-
char o modelo com trejeitos de cros-
sover, deixando cair em parte o con-
ceito de monovolume. A machadada 
nal dá-se com a última geração, em 
que o Espace se apresenta como um 
Austral esticado. 
Assente na mesma plataforma 
CMF-CD, que também dá vida ao 
Austral, o Espace apresenta-se com 
4722mm, mais 21,2cm que o Austral 
(mas menos 13,5cm que a geração de 
2015), folga que lhe permitiu esticar 
a distância entre eixos até aos 
2738mm, para tornar possível a 
inclusão de uma terceira la de ban-
cos. Montada, permite transportar 
sete pessoas (sim!, um adulto tam-
bém consegue sentar-se na terceira 
la – ainda que não o aconselhemos 
durante longas viagens), sobrando 
espaço de carga de apenas 159 litros; 
recolhida, admite arrumar na mala 
entre 477 e 677 litros, dependendo 
da posição da segunda la, que des-
liza longitudinalmente, permitindo 
escolher entre dar mais espaço a car-
ga ou a passageiros. Com ambas as 
las recolhidas, o espaço de carga 
permite transportar até 1714 litros. 
Sendo ligeiramente menor do que 
o seu antecessor (embora isso não 
se note tanto na habitabilidade, mas 
mais no espaço disponível para car-
ga), o Espace é também mais leve. 
E o emagrecimento de mais de 200 
quilos não é de encarar de ânimo 
leve. A nal, este é um dos proble-
mas com que a indústria se tem 
debatido, à medida que é obrigada 
a equipar os carros com mais e mais 
tecnologia. Certo é que, sendo mais 
leve, também se torna mais poupa-
do, quer em combustível, quer em 
emissões. 
O Espace é servido pelo E-Tech full 
hybrid 200, já conhecido do Austral: 
1.2 a gasolina, dois motores eléctri-
cos e uma caixa multimodo com-
põem o grupo propulsor. O conjunto 
admite acelerações de 0 a 100 km/h 
em 8,8 segundos, atingindo uma 
velocidade máxima de 175 km/h. O 
que faz com que, em estrada, quase 
nos esqueçamos de estarmos aos 
comandos de um automóvel tão 
grande. 
Os consumos também são alician-
tes: com sete lugares, a marca con-
seguiu um consumo médio homolo-
gado de 4,8 l/100km, sendo muito 
fácil cumprir esta métrica, sobretu-
do quando se dá uso aos modos (Eco, 
Comfort, Sport e Personalizável) dis-
poníveis com o sistema Multi-Sense. 
E mais ainda quando se aprende a 
usar as patilhas no volante para gerir 
a travagem regenerativa. (Em duas 
viagens, com exactamente o mesmo 
percurso, foi notória a diferença de 
consumos na segunda, depois de me 
habituar às patilhas; o registo do 
computador de bordo apontou para 
um decréscimo de quase um litro 
por cada cem quilómetros.) Menos 
combustível, menores emissões: a 
marca aponta para os 106 gramas 
por quilómetro. 
De volta ao interior, a habitabilida-
de desafogada é sublinhada por mui-
tas superfícies vidradas e nem a 
necessidade de arrumar a bateria 
beliscou as cotas interiores. Não há, 
porém, bela sem senão e os conhe-
cidos assentos individuais na segun-
da la desapareceram, o que permi-
tiu poupar espaço su ciente para 
encolher o exterior do carro sem 
interferir com o interior. 
Tanto por fora como por dentro, 
é possível encontrar muitos parale-
los com o Austral. E tendo sido este 
Carro do Ano não pode ser uma coi-
sa má. Os materiais são agradáveis e 
a qualidade percebida é muito boa, 
ao mesmo tempo que mantém uma 
sensação de durabilidade que é 
imprescindível num automóvel 
como o Espace. 
O sistema de informação e entre-
tenimento também vem da Austral: 
existe um ecrã vertical de 12,0 pole-
gadas com grá cos nítidos na con-
sola central e um ecrã de 12,3 pole-
gadas igualmente vibrante para o 
condutor. Ambos funcionam bem. 
(E na versão ensaiada incluía mas-
sagens para os ocupantes da la da 
frente, o que é sempre um extra 
bem-vindo em viagens mais lon-
gas). 
A forma como o grande automóvel 
se deixa manobrar também é impres-
sionante, muito por causa do sistema 
4Control Advanced, que ajuda nas 
curvas em velocidade (acima dos 50 
km/h, as rodas de trás giram até um 
grau no mesmo sentido) e também 
torna as manobras mais fáceis (a bai-
xa velocidade, giram até 5º no senti-
do oposto). Numa garagem de curvas 
apertadas, o Espace mais se asseme-
lha a um pequeno citadino, sem 
necessidade de recorrer à marcha-
atrás. Pelas curvas, também se com-
porta de forma muito moldável – mas 
o melhor é desligar o sistema se as 
las traseiras estiverem ocupadas. É 
que, mesmo quem não enjoa, pode 
acabar por car indisposto… 
Renault Espace E-Tech 
Full Hybrid 200 Iconic 
Motor: HEV 
Tracção: Dianteira 
Potência máxima: 
146 kW (200cv) 
Binário máximo: 205 Nm 
Ac. 0 a 100 km/h: 8,8 segundos 
Vel. máxima: 175 km/h 
Consumo: 4,8 l/100 km* 
Emissões: 109 g/km* 
Lugares: 7 
Bagageira: 159-1714 litros 
Preço: 50.300€ (desde) 
i
FOTOS DR
temáticos ou aquários para agradar miú-
dos e graúdos. E o que dizer do espírito 
que se sente neste país? A vida nas cida-
com sensações fortes e intensas que tor-
nam cada dia em Espanha numa expe-
riência única.
Em poucas horas de carro ou de boa disposição é lei e as esplanadas das “plazas” estão sempre cheias 
e prontas a servir “tapas” e bebidas em 
-
mente conservados que nos sentimos 
numa viagem no tempo. Espanha está 
repleta de cidades vibrantes de cultura e 
Com um vasto património histórico-cul-
jardins ou praias e programas para toda 
Basta atravessar a fronteira para perceber 
que estamos num lugar diferente. Não são 
emoção que a todos contagia e a certeza: 
típica da época natalícia oferecem ainda 
-
ra ideal para levar toda a família numa 
viagem que nunca mais vão esquecer. 
Aproveite os feriados de Dezembro ou 
memoráveis.
Emolduradas pelas cores e luzes da quadra natalícia, as cidades do 
país vizinho ganham ainda mais vida e emoção. É o plano perfeito para 
umas inesquecíveis férias de Natal em família. Vamos até Espanha?
CELEBRAR 
A MAGIA DO NATAL, 
DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA
CONTEÚDO
COMERCIAL
Madrid, 
A APAIXONANTE CAPITAL 
COSMOPOLITA
Barcelona, 
ONDE A ARTE E A ARQUITECTURA 
CONHECEM A PERFEIÇÃO
Madrid é uma cidade em que a tradição 
e a modernidade convivem na perfeição, 
e onde não há receios de receber e 
incorporar influências de todo o mundo.
Cidade virada para o 
mar, ganhou cor e poesia 
com as criações de 
Gaudi, que actualmente 
são um dos pontos altos 
de quem a visita.
Madrid é o coração de Espanha e co-
nhecê-la é essencial para compreender 
a alma deste país. Nesta capital há pa-
lácios e fachadas com séculos de Histó-
vanguardistas. É uma cidade em que a 
tradição e a modernidade convivem na 
-
mundo. Madrid é cosmopolita e diver-
sa: aqui encontramos restaurantes de 
cada canto do globo ao lado de outros 
-
tronomia do país. 
mas para descobrir esta cidade em todo 
a partir do centro e por todos os seus re-
cantos. Contemple as fachadas históri-
pode almoçar com vista para a praça 
principal de Madrid; para sobremesa 
peça churros com chocolate na icónica 
Barcelona é o museu a céu aberto de 
-
ganhou cor e poesia com as criações 
pontos altos de quem a visita.
em 1883 que o arquitecto catalão aceitou 
cada recanto. Gaudi perdeu a vida antes 
de conseguir ver a sua obra-prima ter-
minada e os trabalhos seguem até hoje.
A Casa Batllóé outro dos postais da cida-
-
remodelou por completo. É considerada 
-
centro interpretativo da sua arte e outro 
dos exemplos da sua criatividade. O edi-
foi a última obra civil do arquitecto.
-
paixão pela natureza e os animais. As 
crianças vão adorar esta parte do pas-
cortar a respiração.
Mas Barcelona também é História e 
viagem por outros tempos: não pode 
deixar a cidade sem conhecer o centro 
dos mais bonitos parques naturais da 
de moda no bairro Chueca e aproveite 
para tomar um copo num dos lugares 
mais animados da cidade. 
-
casa de algumas das melhores obras 
-
Outros lugares a não perder em Ma-
-
-
 
de Debod.
O QUE NÃO 
PODE PERDER 
EM MADRID 
NO NATAL?
• De 23 de No-
vembro a 7 de 
Janeiro deixe-se 
deslumbrar pelas 
iluminações 
natalícias das 
pode fazê-lo no 
-
carro natalício.
•
de Artesanato da 
• -
dicional corrida 
• Conte as últimas 
badaladas do ano 
• Não perca a famo-
sa cavalgada de 
reis a 5 de Janeiro
O QUE 
NÃO PODE 
PERDER EM 
BARCELONA 
NO NATAL?
•
•
principais ruas 
 
e veja as luzes 
de Natal.
• Não perca a 
CONTEÚDO
COMERCIAL
Sevilha 
DA COR DO SOL 
E DO FLAMENCO
Valência, 
CIDADE DE CONTRASTES 
E DA PAELLA
Envolvida pelo rio Guadalquivir, 
Sevilha é, por cada rua e varanda 
florida, tradição e alma espanhola.
-
cada canto há alguém que dança sobre 
um pedaço improvisado de madeira 
acompanhado por uma multidão que 
se junta batendo palmas (da maneira 
cidades quentes do sul que nasceu esta 
-
-
España é uma das mais bonitas pra-
ças principais em todo o país e em 
seu redor é possível passear de barco 
dos mais pequenos. A poucos quiló-
outra atracção que lhes vai agradar: o 
e com grande variedade de criaturas 
-
que em túnel com tubarões.
-
presas mais recentes da arquitectura 
-
-
pectáculo.
-
da região e que sabe bem em qualquer 
altura do ano.
e descoberta. Um belíssimo centro his-
tórico convive lado a lado com edifícios 
-
nia. Alguns dos pontos de visita obriga-
-
tedral e a torre do Miguelete (onde vale 
mesmo a pena subir os 207 degraus 
para conseguir uma incrível vista sobre 
a cidade). No centro encontramos tam-
-
-
dutos frescos da Europa. A poucos pas-
sos estão também o Museu Nacional de 
-
muitos recantos que surpreendem pela 
sua arte urbana.
Mas é fora do centro histórico que en-
contramos a face mais moderna de 
-
-
maior aquário da Europa. É impossível 
formas deste edifício.
-
provar este incontornável prato da co-
-
terrânea com grandes areais e paisa-
paella é mesmo com vista para o mar. 
Outra das experiências a não perder em 
-
ao Jardim do Turia e é um dos edifícios 
transparência é uma das suas princi-
pais características. A sua acústica é 
-
rado um dos auditórios mais impor-
tantes da Europa.
O QUE NÃO 
PODE PERDER 
EM SEVILHA 
NO NATAL?
• 
Avenida de la 
Constitución e 
deslumbre-se com 
as luzes de Natal.
• Compre os 
últimos presentes 
-
de Belen.
• Encontre um livro 
•
procissão de 
Natal.
O QUE 
NÃO PODE 
PERDER EM 
VALÊNCIA 
NO NATAL?
• 
dos presépios 
artesanais. 
• Divirta-se como 
uma criança na 
pista de gelo ou 
no carrossel 
• Assista aos 
concertos de Ano 
de Congressos 
ou no renovado 
Música.
CONTEÚDO
COMERCIAL
MAIS ENCANTO, 
FORA DO ROTEIRO HABITUAL
-
viagem na quadra natalícia. É que 
mercados de Natal mais iluminados 
e animados da Europa. O mercado de 
Compostela e reúne as mais variadas 
-
to mais. O evento já começou e decorre 
até 5 de Janeiro.
A apenas um pulinho da nossa frontei-
uma óptima ideia de escapadinha para 
aproveitar os feriados de Dezembro ou 
-
-
contramos outra das mais belas praças 
um autêntico deleite para os olhos e 
perfeita para amantes de História.
uma sugestão de roteiro para quem 
-
dade histórica espanhola tão pitoresca 
-
espanhola mais conhecida pela sua 
impressionante muralha. Numa via-
-
nhecido quatro maravilhosas cidades 
espanholas.
Uma viagem de automóvel não tem 
um dos lugares na Europa onde o le-
gado romano está melhor conservado. 
Mérida foi fundada pelos romanos no 
séc. I a.C. e ainda há vestígios da cidade 
-
-
relembram um tempo (distante) em que 
-
VIGO, 
UM DESTINO 
DE NATAL
UMA VIAGEM À 
ÉPOCA MEDIEVAL 
EM SALAMANCA
ROTEIRO DE 
CARRO DO 
PORTO A MADRID
UMA VIAGEM 
NO TEMPO ENTRE 
LISBOA E MADRID
Saiba mais como criar memórias natalícias 
sem igual, na página do Turismo de Espanha
W W W. S PA I N . I N FO
CONTEÚDO
COMERCIAL
CONTEÚDO
COMERCIAL
Sábado, 2 de Dezembro de 2023 | FUGAS | 19
Motores
O pequeno SUV sul-coreano 
cresceu em tamanho, mas também 
em ambições. No caso da variante 
híbrida, destaca-se pela economia 
de consumos, sobretudo em 
percursos urbanos. Carla B. Ribeiro
Hyundai 
Kauai HEV 
Aposta 
na economia 
familiar
a Não é difícil olhar para o actual 
Kauai e para a geração anterior e 
encontrar diferenças. Desde logo nas 
dimensões: de 4205mm passou a 
apresentar-se agora com 4,35 metros 
(4385mm, nas versões de cariz des-
portivo N Line), com ganhos na dis-
tância entre eixos, mas também na 
capacidade de arrumação, com qua-
se mais 100 litros disponíveis na 
bagageira, sendo agora mais capaz 
de atrair clientes que procuram um 
familiar compacto, sem comprome-
ter a facilidade com que se move pelo 
perímetro urbano. 
O espaço no habitáculo, aliás, será 
a sua melhor mais-valia, passando a 
ser fácil a um adulto usar a segunda 
la de bancos. E se dois continuam a 
encontrar maior conforto, não será 
inconcebível transportar três pessoas 
no banco traseiro, sendo que o espa-
ço para joelhos está praticamente ao 
nível do maior Tucson. É, aliás, neste 
modelo que o Kauai parece ter ido 
buscar parte da sua inspiração, desde 
logo pela inclusão de luzes de pixéis 
paramétricos na dianteira, na qual se 
destaca ainda a grelha do radiador 
inferior com Air Flaps. 
No interior, este Kauai é o primeiro 
modelo da Hyundai a aplicar o Con-
nected Car Navigation Cockpit, que 
incorpora um ecrã panorâmico 
duplo, com o painel de instrumenta-
ção digital e o ecrã táctil, ambos de 
12,3 polegadas, a criarem a sensação 
de estarem unidos. Mas, importante, 
os botões físicos, tanto para a clima-
tização como para o sistema de 
infoentretenimento, não foram elimi-
nados, o que responde a uma das 
críticas mais audíveis por parte de 
quem segue a indústria. 
Outro ponto a seu favor é a funcio-
nalidade, com bancos traseiros reba-
tíveis na proporção de 40/20/40 
(mais comum em segmentos supe-
riores) e vários espaços de arruma-
ção, tanto à frente como atrás. Na 
dianteira, o selector de velocidades 
eléctrico shift-by-wire, montado na 
coluna de direcção, permitiu criar 
um espaço mais desafogado. 
No caso da variante HEV, o grupo 
propulsor reúne um bloco a gasolina 
de quatro cilindros de ciclo Atkinson 
de 1,6 litros, um motor eléctrico, que 
produz 43cv e 170 Nm de binário, e 
uma pequena bateria de 1,32 kWh. 
Em conjunto, permitem desenvolver 
141cv e binário máximo de 265 Nm, 
números que garantem um bom 
desempenho em praticamente todos 
os regimes. Mas a cereja é mesmo 
aquela pequena bateria que regenera 
tão depressa que nunca dá a sensação 
de ser insu ciente. E o resultado é 
cruzar a cidade de ponta a ponta sem 
praticamente ouvir o motor térmico 
a entrar em acção. 
É, aliás, na cidade que o Kauai HEV 
consegue as melhores prestações, 
com o bem construído sistema híbri-
do a privilegiar a corrente eléctrica, 
o que resulta numa signi cativa pou-
pança de combustível. A marca fala 
num consumo combinado de 4,5 
l/100 km, e não é difícil até veri car 
valores inferiores. 
Fora da malha urbana, o Kauai HEV 
não se porta mal, respondendo de 
forma positiva a praticamente todas 
as solicitações, mas não será o mais 
expedito: tem uma velocidade máxi-
ma de 160 km/h e acelera de 0 a 100 
km/h em 11 segundos. Ou seja, o 
melhor é não entrar em picardias ou 
em ultrapassagens demasiado aper-
tadas; quaisquer manobras deste 
géneroexigem algum estudo prévio, 
mesmo quando accionado o modo 
Sport, que se nota mais nos primeiros 
metros percorridos, perdendo o fôle-
go demasiado depressa. 
Na coluna dos prós, está o conforto 
com que transporta os seus ocupan-
tes e a forma segura com que encara 
a tarefa, não sendo expectável que 
perca as cinco estrelas do Euro NCAP 
conquistadas em 2017. 
O Kauai integra o pacote Hyundai 
Smart Sense, que inclui uma câmara 
no habitáculo para analisar a aten-
ção do condutor, além de uma série 
de sistemas de assistência, nomea-
damente cruise control inteligente, 
que recorre às informações da nave-
gação para actuar, radar de ângulo 
morto e prevenção de colisão e sen-
sores de estacionamento traseiros e 
dianteiros. 
Hyundai Kauai HEV 
Motor: HEV 
Tracção: Dianteira 
Potência máxima: 
104 kW (141cv) 
Binário máximo: 265 Nm 
Ac. 0 a 100 km/h: 11 segundos 
Vel. máxima: 160 km/h 
Consumo: 4,5 l/100 km* 
Emissões: 103 g/km* 
Lugares: 5 
Bagageira: 466-1300 litros 
Preço: 36.500€ 
(desde, com campanha)
i
FOTOS: DR
20 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Montebelo Vista Alegre Lisboa Chiado 
Em jeito de prelúdio à comemoração dos seus 200 anos, a marca 
Vista Alegre passou a morar, também, num hotel de cinco estrelas, 
em pleno coração de Lisboa. À semelhança do que acontece 
com o seu “irmão mais velho”, ao mais recente Montebelo Vista 
Alegre não faltam peças de porcelana exclusivas. 
Maria José Santana (texto) e Nuno Ferreira Santos ( fotogra a)
Um hotel de cidade com 
toque de veludo e porcelana
a Se dúvidas houvesse quanto à 
genética daquele edifício azul plan-
tado de frente para o Largo Barão 
Quintela, em pleno coração de Lis-
boa, elas cam desfeitas assim que 
a nossa vista alcança o quadríptico 
em biscuit que decora a recepção e 
que se vê obrigado a repartir o pro-
tagonismo com os elefantes de por-
celana dos candeeiros pousados em 
cima do balcão. É, com certeza, uma 
casa com a marca Vista Alegre e, por 
mais que esteja a 250 quilómetros 
de distância da fábrica que dá corpo 
e forma às suas peças, não lhe faltam 
testemunhos dessa ligação umbili-
cal. Aberto há poucos meses, o hotel 
Montebelo Vista Alegre Lisboa Chia-
do surge como uma espécie de pre-
lúdio, e em grande estilo, para a 
comemoração do bicentenário da 
marca fundada em 1824. 
Dotado com 58 quartos, este novo 
hotel de cinco estrelas ocupa um 
imóvel onde outrora esteve ins- c 
22 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Montebelo Vista Alegre Lisboa Chiado 
talada a sede da Vista Alegre em 
Lisboa, precisamente a poucos 
metros da principal loja da marca na 
capital. Depois de ter tido vários 
usos, o edifício precisava de ser 
recuperado, recorda Jorge Costa, 
administrador da Visabeira Turis-
mo, destacando o desa o que os 
arquitectos do grupo, Paula Nunes 
e Tiago Araújo, tiveram nas suas 
mãos. “Era preciso ter um hotel con-
fortável, salvaguardando as várias 
pré-existências”, acrescenta. 
O resultado aí está, à vista de 
todos. O imóvel preservou a facha-
da, assim como a escadaria, a clara-
bóia e os tectos trabalhados da sala 
onde está agora localizada a suíte 
principal. Na decoração, o veludo e 
as peças de porcelana surgem como 
elementos dominantes, sendo parte 
destas últimas pintadas à mão pelos 
artistas da Vista Alegre – que, num 
ou noutro ponto, também estende-
ram a sua arte para além da louça. 
À imagem do que já tinha aconteci-
do no outro Montebelo Vista Alegre 
– que está localizado em Ílhavo, no 
bairro onde nasceu e funciona a 
fábrica –, os artesãos da o cina de 
pintura foram chamados a pintar 
vários elementos decorativos nas 
próprias paredes, materializando 
aquele que era o propósito principal 
para este novo hotel: “Criar uma 
atmosfera da Vista Alegre, mas que 
para o Largo Barão Quintela estão 
decorados com guras em biscuit, os 
que estão de frente para a Rua do 
Alecrim exibem pinturas deste 
arbusto aromático e os quartos vol-
tados para a Rua das Flores apostam 
nos motivos orais. 
O toque de requinte estende-se, 
também, à sala onde, a cada manhã, 
são servidos os pequenos-almoços, 
com uma grande variedade de fruta, 
pães, queijos, doces e ovos (desde 
os estrelados aos benedict). Tudo 
devidamente servido, como não 
podia deixar de ser, em louça Vista 
Alegre. 
O Montebelo Vista Alegre Lisboa 
Chiado assume-se como um hotel de 
cidade – ao contrário do seu “irmão 
mais velho”, não tem spa –, convi-
dando os seus hóspedes a aproveitar 
o que a vizinhança (Bairro Alto e a 
Baixa) tem para oferecer. 
No rés-do-chão, e aberto a hóspe-
des e não-hóspedes, funciona o Pon-
ja Nikkei Chiado, um bar e restauran-
te de gastronomia nikkei, que mistu-
ra as cozinhas japonesa e peruana. 
“O mais óbvio seria a gastronomia 
portuguesa, mas procurámos ter um 
restaurante com comida so sticada 
e muita cor”, declara Jorge Costa, 
antecipando a nossa pergunta. Além 
do mais, acrescenta, a ideia passa 
por “proporcionar uma experiência 
completamente diferente aos hóspe-
Montebelo Vista Alegre 
Lisboa Chiado Hotel 
Largo Barão Quintela, 3, Lisboa 
Tel.: 210 548 480 
Email: 
montebelovistaalegrelisboa 
@montebelohotels.com 
https://montebelohotels.com/
montebelo-vista-alegre-lisboa-
chiado-hotel/pt/home 
Preços: A partir de 275 euros 
 
 
Restaurante Ponja Nikkei 
Largo Barão Quintela, 1 
Tel.: 964 752 105 
Email: lisboa@ponjanikkei.es 
https://www.ponjanikkei.pt/
pt#ponjaexperience 
Horário: De terça-feira a 
domingo, das 12h30 às 15h, 
e das 19h30 às 23h 
(encerra à segunda-feira). 
Preços: Sours a 12€, ceviche 
clássico a 22€, tiradito dos 
tempos a 18€, sashimi a partir 
de 12€, bao de chicharrón a 10€, 
costeletas de churrasco Ponja 
a 20€ e cheesecake 
de lúcuma a 8€.
des que também visitam o hotel de 
Ílhavo”, onde o prato forte são, mes-
mo, os sabores nacionais. 
Na unidade de alojamento do 
Chiado optou-se por uma parceria 
com o grupo de restauração espa-
nhol Quispe, que trouxe o seu Pon-
ja Nikkei, já presente em Madrid, 
também para Lisboa. 
Para quem chega em hora de 
cocktails é obrigatório tomar o pisco 
sour da casa – a carta de bebidas tam-
bém contempla várias opções de 
chilcanos e sake, para além de vinhos 
nacionais e estrangeiros (espuman-
tes, brancos, rosés e tintos). Ao almo-
ço e ao jantar, há várias propostas 
imperdíveis, começando pelas 
opções de ostras, ceviches, tiraditos, 
nigiris e sashimi que preenchem a 
lista de aperitivos. 
Entre as propostas de entradas 
contam-se as gyozas de santola achu-
petadas e o bao de chicharrón. Nos 
pratos principais, destaque para o 
udón achupetado e as costeletas de 
churrasco Ponja. Para nalizar, bas-
ta escolher entre o cheesecake de 
lúcuma e o suspiro limenho de che-
rimóia. Tudo sabores de outras para-
gens, é um facto, mas servidos na 
mais na louça nacional. 
 
A Fugas esteve alojada a convite 
do Montebelo Vista Alegre Lisboa 
Chiado
não fosse excessivamente vista 
como uma montra da marca”, nota-
va Jorge Costa. 
 
Motivos decorativos a 
combinar com a envolvente 
Este que é o mais recente elemento 
da família Montebelo conta com 
quatro diferentes tipologias de quar-
tos, que vão desde o single à suíte 
principal, a Signature Suite Vista 
Alegre – a Fugas cou alojada num 
quarto Vista Alegre com vista para 
a Rua do Alecrim. 
Para cada ala, foram escolhidos 
temas diferentes: os quartos virados 
i
Algumas das porcelanas 
que se destacam na 
decoração foram pintadas 
à mão pelos artistas da 
Vista Alegre
Vila Real | Penafiel | Santarém | Almada (Feijó) | Faro
Carby
A sua opção Volkswagen.
volkswagen.carby.pt | geral.vw@carby.pt | 217 652 765 (chamada para a rede fixa nacional) 
24 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
No Porto, todos 
os caminhos vão 
dar à Ponte Luiz 
I e à Avenida 
Vímara Peres. 
Lá encontramos 
a Melhor Pedra 
Preciosa 
Escondida 
de Portugal. 
Luís Octávio 
Costa (texto) 
e Adriano 
Miranda(fotogra a)
Casa da Guitarra
a No chão, junto à entrada da o cina, 
está um cesto de nozes miúdas colhi-
das da base da nogueira, altiva no 
pátio húmido e romântico. Não foge 
à regra do espaço “abandalhado” — 
“Não acredito na simetria, gosto mais 
da assimetria”, confessar-nos-ia mais 
tarde o violeiro (”No Porto cidade, 
acho que sou o único construtor”) — e 
cheio de esqueletos de instrumentos 
musicais, de cordofones, de violas e 
de violões que “essencialmente são 
guitarras” esventradas até ao tutano, 
reparadas, construídas e reconstruí-
das, pedaços de madeira mais ou 
menos nobre torcidos, grampos bem 
rmes, braços e moldes, ilhargas, cos-
tas e travessas, tampos e escalas, uma 
“bandalheira” que tão bem soa. 
Existe uma parte da história da 
Casa da Guitarra que já só está pen-
durada nas paredes da Casa ou nas 
entrelinhas da Casa, que está espar-
ramada, dispersa, ao acaso, em 
várias direcções, nas bancadas de 
trabalho da o cina do violeiro, 
lá para os lados de Monte dos 
Burgos, e na cabeça de Alfredo 
Teixeira (1965), tocador de cordo-
fones desde os 13 anos, construtor 
“mais ou menos autodidacta” desde 
2007, “memória péssima para 
datas”, mãos de ouro moldadas livro 
após livro, manual após manual, 
guitarras desmembradas — e outra 
e mais outra — que tanto lhe ensi-
nam. “Não sonhava que as soubesse 
fazer”, diz. “Li muito. Aprendi inglês 
às custas de ler aquelas coisas todas”, 
conta Alfredo, que começou por 
construir um cavaquinho, um ban-
dolim e dois ou três violinos (”Tam-
bém toco”) até chegar à sua pri-
meira guitarra portuguesa. 
“Havia um construtor em Cos-
ta Cabral que era uma referên-
cia. Eu era miúdo, comprei 
uma viola muito fraqui-
nha e alguém me disse 
‘Vai ali a um senhor 
que ta arranja 
para poderes 
tocar’. E eu lembro-me de ir lá e de 
car completamente maravilhado. 
Havia gente a tocar e a construir e 
aquilo deixou-me mesmo maravilha-
do. Nunca mais me saiu da cabeça.” 
A ideia foi nascendo daí. Disse para o 
irmão: “ Fixe era termos um sítio 
onde pudéssemos juntar tudo: cons-
trução, músicos a testar os instrumen-
tos e a falar de instrumentos tradicio-
nais portugueses.” 
Nasce em 2012 a Casa da Guitarra, 
também testemunha activa da histó-
ria recente do Porto e das suas muta-
ções, que obrigaram a Casa a andar 
de casa às costas e a adaptar-se às 
circunstâncias de forma camaleóni-
ca. Abriu na Praça das Cardosas, 
mudou-se para uma loja de rés-do-
chão na Avenida Vímara Peres e este-
ve na Praça de Guilherme Gomes 
Fernandes até encontrar poiso nova-
mente na Vímara Peres, naquele que 
já fora um “espaço de má-fama”, 
como nos contou Sera m Teixeira, 
o irmão que é hoje o frontman desta 
casa de espectáculos, recentemente 
vencedora do prémio Best Hidden 
Gem (Melhor Pedra Preciosa Escon-
dida) de Portugal atribuído pela 
Tiqets no âmbito dos seus Remarka-
ble Venue Awards 2023. 
“Quando viemos para aqui, esta era 
a zona mais barata da cidade”, conta 
Sera m. “Hoje, é das mais caras e pro-
curadas.” Resta pouco dessa Vímara 
Peres, hoje pejada de turistas e de 
lojas “monocórdicas” e de passagem 
obrigatória para a trend do pôr-do-sol 
desde a Serra do Pilar, na margem sul 
do Douro. Muitos dos visitantes efé-
meros acabam por bater à porta da 
Casa da Guitarra, entalada entre 
muros históricos e onde hoje, entre 
sessões de fado (40 lugares sentados 
para, pelo menos, dois espectáculos 
diários, às 18h e às 19h30), se conta a 
história dos violeiros do Porto e um 
pouco das guitarras portuguesas. 
Com o passar dos anos, e com o 
escalar das rendas, a Casa perdeu 
metros quadrados e perdeu as aulas 
de música (de guitarra portuguesa, 
braguesa, cavaquinho e bandolim) e 
os concertos acústicos gratuitos, bem 
como a construção e restauro de ins-
trumentos ao vivo. Por isso, o projec-
to inicial, admitem os proprietários, 
está “um bocadinho desvirtuado”. No 
meio da evolução forçada, salva-se a 
viabilidade e a independência, garan-
tidas pelas receitas do fado (adultos, 
18 euros) e di cilmente pela venda de 
instrumentos. “Era preciso vender 
muitos instrumentos”, calcula Alfre-
do, com clientes “bons músicos e 
compositores (até de Hollywood) que 
cam encantados”. “Um instrumen-
to novo dá novos rumos quando as 
pessoas estão vazias de ideias. É sem-
pre inspirador.” 
 
Guitarras que não têm preço 
Na o cina, Alfredo vive rodeado de 
guitarras de Lisboa, cujo braço termi-
na em forma de caracol; de Coimbra, 
em forma de lágrima; e do modelo do 
Porto, com decoração variada, ores, 
caras, animais, “coisas incríveis” que 
o violeiro já apanhou. “Esta guitarra 
desapareceu quando apareceu a de 
Coimbra. Tínhamos uma zona na Sé 
com muitos construtores, um grande 
pólo que enviava para outros sítios do 
país. Aparecem assinadas pelo Antó-
nio Durante, que não há muitos anos 
fechou a última loja na Mouzinho da 
Silveira”, explica Alfredo, com uma 
Castanheira (Rua do Almada) na mão. 
“Estão a fechar todas. Não é sustentá-
vel vender instrumentos no Porto. É 
uma pena. Porque o Porto era um 
mundo. Tinha muitas lojas de instru-
mentos e boas. E infelizmente estão 
fechar uma a uma.” Quando começou 
a fazer reparações, apareciam-lhe 
muitas dessas guitarras, 90% eram do 
Porto. “Comecei a construí-las tam-
bém... estas pequeninas.” 
Alfredo não faz réplicas. Inspira-se 
nos modelos que lhe passam pelas 
mãos e aplica pequenas alterações 
aos seus desenhos. “Regras matemá-
ticas”, explica. Divisão e comporta-
mento da corda, harmónicos, inter-
valos de oitava... “Não percebe de 
música, pois não...? É o meu gozo, 
tentar fazer coisas que soem cada vez 
melhor e explorar estas coisas.” 
Há quem construa guitarras sem as 
saber tocar. “Mas que facilita um 
“Estes instrumentos dão-me
Sábado, 2 de Dezembro de 2023 | FUGAS | 25
bocado a vida saber tocar, facilita. 
Procurar um som que temos na cabe-
ça. Quem não toca, não explora o 
instrumento na sua extensão toda. 
Penso ‘Esta zona está morta e quero 
mais intensidade’, ‘quero mais madei-
ra ou menos’. Tocando, tenho mais 
facilidade em criar uma cor”, justi
ca, rodeado de pedacinhos de madei-
ra com destino bem traçado. Noguei-
ra, pau-santo, acer... Respiga-os aqui 
e ali, como se fossem nozes no quin-
tal. Como aquela madeira que com-
prou ao “senhor marceneiro” que se 
reformou com noventa e tal anos e 
deixou um espólio com quarenta e tal 
anos (”Tinha o preço a que comprou 
a madeira escrito em escudos na pró-
pria madeira”, sorri). Ou os pedaços 
que poderia ter terminado numa urna 
(”por muito respeito que tenha pelo 
falecido”). Muitas vezes, se a madeira 
é “preciosa” e o retalho pequeno, faz 
as costas em mais do que um bocado. 
“Um remendo com efeito estético que 
me permite aproveitar madeira que 
não servia para nada e que tem um 
som incrível. Os truques não são 
meus. Não fui eu que os inventei.” 
Desde o século XV documentada 
em Portugal, a violaria, pode ler-se na 
exposição permanente na Casa da 
Guitarra, é uma “actividade de carac-
terísticas artesanais cujos conheci-
mentos foram sendo passados ao 
longo do tempo de forma oral e de 
geração em geração. Exige grande 
perícia, habilidade manual e profun-
do conhecimento de áreas tão espe-
cí cas como a botânica e a geome-
tria.” “É apaixonante. Cada instru-
mento é um mundo. O tédio não 
existe”, orgulha-se Sera m a minutos 
do espectáculo das 18h que evoluirá 
entre memórias de uma guitarra sem 
cabeça (construída nas o cinas de 
rações. Aparecem muitas coisas, mui-
tas coisas sem interesse nenhum 
(cabeças partidas ou cavaletes desco-
lados; não me dá muito prazer repa-
rar, mas não há quase ninguém a 
reparar e acho um crime não reparar 
e deitar para o lixo) e depois os bas-
tante velhinhos, como este modelo 
de Lisboa (faz-me pena chamar de 
Porto, Lisboa ou Coimbra... nomes 
que se dão) sem data, mas,quando 
vejo este pedaço de osso colocado 
para não ferir a madeira, percebo que 
deve ser de 1870.” 
Sempre que tinha dinheiro, o jovem 
Alfredo comprava instrumentos. 
Demorou até perceber “o milagre de 
fazer um instrumento inteiro com 
pedaços de madeira”. Cirurgia de 
barriga aberta. Guitarras em pêlo 
com recados do mestre aos aprendi-
zes rabiscados nas entranhas. Traba-
lho de paciência, humidade e calor, 
reforço e estabilização, cola e acaba-
mento em goma-laca, pedra-pomes, 
plainas e almofariz. Para a maioria, 
uma guitarra não passa disso mesmo. 
“Aparecem-me pessoas com crianças 
que estão a aprender e partem as gui-
tarras que não valem nada e não têm 
muito dinheiro. Temos arranjado 
estratégias rápidas e baratas com 
entalhes que têm funcionado muito 
bem.” Para outros, a sua guitarra 
“não tem preço”. “São os mais inte-
ressantes, onde eu aprendo mais. A 
minha motivação é o som. É o que me 
dá pica para fazer instrumentos. 
Aprendo muito com estes instrumen-
tos. Dão-me muitas lições.” 
Alfredo Teixeira 
na sua oficina, 
rodeado de guitarras 
de Lisboa, de Coimbra 
e do modelo do Porto 
Joaquim da Cunha Mello, que terá 
chegado ao Porto nos anos de 1960), 
de uma rabeca chuleira (do Baixo 
Douro), de um bandurrinho (”persis-
tia a prática de alguns violeiros de 
arrancar os rótulos de instrumentos 
construídos por outros artesãos ou de 
sobrepor etiquetas como forma de 
publicitar o seu trabalho”) e de mui-
tos outros retalhos da vida dos cordo-
fones (como aquele que nos diz que 
o número de trabalhadores nas fábri-
cas de instrumentos musicais era de 
tal ordem que se promovia a consti-
tuição de grupos musicais entre os 
trabalhadores ). 
“O [Antonio de] Torres, pai da gui-
tarra clássica moderna, desfazia 
móveis e aproveitava o que podia”, 
conta-nos Alfredo. “Tem que se pro-
curar coisas novas. E neste caso são 
coisas novas muito velhas. Tenho 
aprendido muitas coisas com as repa-
e muitas lições”
 
 
 
 
Casa da Guitarra 
Avenida de Vímara Peres, 49, 
Porto 
Tel.: 222 010 033 
casadaguitarra.pt
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26 | FUGAS | Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Azeites Esporão
O Esporão é a única empresa 
que, todos os anos, mostra 
os seus azeites novos de 
variedades tradicionais. É uma 
festa. Edgardo Pacheco
“É um luxo 
trabalhar com 
variedades 
tradicionais”
a No mundo do vinho, a apresenta-
ção de colheitas novas é o pão nosso 
de cada dia; no mundo do azeite, tal 
prática não faz parte da nossa cultura 
e até parece estranha aos consumido-
res que acham que o azeite é, de ano 
para ano, todo igual e não se fala mais 
nisso. 
Os consumidores já sabem que, no 
universo do vinho, cada colheita que 
não siga a regra dos protocolos 
(vinhos padronizados como se fossem 
refrigerantes) revela um per l resul-
tante das condições climáticas. Chu-
va, temperatura, humidade, vento ou 
granizo são factores que afectam 
directamente o per l de um vinho 
(aromas, texturas, taninos, acidez, 
sabores e potencial de duração ao 
longo do tempo). Ora, no mundo do 
azeite acontece o mesmo porque o 
sumo da azeitona muda de per l con-
soante o tempo. Num ano os azeites 
de Galega cheiram com maior inten-
sidade a maçã e no ano seguinte cami-
nham para lados dos frutos secos ou 
da alfazema; num ano um azeite de 
Cordovil pode cheirar a rúcula ou 
mizuna e no outro a grãos de café ver-
de ou casca de lima. Esta riqueza dife-
renciadora não interessa à generali-
dade dos consumidores. E isto tem 
causas variadas. 
Em primeiro lugar ninguém ensi-
nou os portugueses a provar azeite; 
em segundo lugar, a restauração faz 
um péssimo serviço nesta matéria; 
em terceiro lugar, ainda temos a cul-
tura do azeite que vem lá da terra e 
aqui o que manda é o preço e, em 
quarto lugar, os consumidores urba-
nos que compram os azeites dos gran-
des embaladores nacionais conso-
mem — para regressarmos à cultura 
do vinho — azeites padrão. Todos cor-
rectos e sem defeitos, sim senhor, 
mas iguais de ano para ano e de déca-
da para década. Não são azeites de 
terroir, são azeites padrão, como os 
refrigerantes e muitos vinhos. 
É por isso que quando os consu-
midores descobrem, numa prova de 
análise sensorial, que os azeites 
podem cheirar a frutos diversos, a 
canela, grãos de café verde, a rosma-
ninho e demais ervas aromáticas, a 
tomate e rama de tomate, a giesta, a 
rosas ou framboesas cam maravi-
lhados. E é nessa altura que perce-
bem que o azeite funciona como um 
tempero, como uma especiaria, por-
que melhora aquilo que já bom: uma 
salada, peixe, carne, sopas ou sobre-
mesas. 
Assim sendo, há que reconhecer e 
agradecer o trabalho do Esporão em 
matéria de azeites. Nem é sequer pela 
qualidade das oito referências que 
coloca no mercado. É, sim, pela cul-
tura organizacional da empresa. No 
Esporão há uma preocupação na pre-
servação das variedades tradicionais, 
parte-se para cada campanha à pro-
cura de azeites que testemunhem o 
ano climático e existem diferentes 
projectos educacionais sobre azeite. 
Por exemplo, enquanto os grandes 
lagares estão em funcionamento, Ana 
Carrilho esteve recentemente em Lis-
boa para mostrar a um público diver-
so meia dúzia de azeites desta cam-
panha – o chamado azeite novo por-
que o azeite deve ser apreciado novo, 
sempre. Depois de fazer o enquadra-
mento das questões climáticas, a 
oleóloga do Esporão fez a descrição 
sensorial de cada azeite (Galega, DOP, 
Seleção, Arrifes e Biológico) e, no 
nal, os convidados tiveram a opor-
tunidade de provar diferentes cria-
ções gastronómicas com os azeites 
provados. E isto porque os azeites 
têm aptidões diferenciadas em fun-
ção dos produtos ou das receitas que 
nos calham (tal qual os vinhos). Que 
outra empresa de azeites em Portugal 
faz semelhante coisa com variedades 
tradicionais e com diferentes per s 
de azeites? Nenhuma. 
 
Azeite a 50€? 
Portugal não é Itália 
Dir-se-á que o Esporão faz isso porque 
tem músculo nanceiro, coisa que 
não existe na maioria dos pequenos 
produtores de azeite de grande qua-
lidade que existem de Trás-os-Montes 
ao Algarve. Certo. Mas, caramba, com 
tanto dinheiro que vem de Bruxelas, 
não se desviam uns poucos milhares 
de euros para se fazer eventos de 
apresentação do azeite novo, todos 
os anos, de todo o país, em Lisboa e 
no Porto, como se faz com vinhos, 
alheiras, salpicões, fogaças, castanha, 
mel ou queijo? 
Embora com alterações em função 
das variedades, os azeites do Esporão 
da campanha de 2023 estão todos 
com notas vegetais e frutadas intensas 
e com o interessante equilíbrio entre 
os amargos e picantes. São, como se 
diz na gíria, harmoniosos. 
Entre os azeites provados destaca-
mos o Seleção Esporão, não só pela 
sua riqueza aromática, mas, acima de 
tudo por revelar um trabalho meticu-
loso da equipa do Esporão. Esta refe-
rência é, por assim dizer, uma espécie 
de Esporão Torre (o vinho ícone da 
herdade), visto que resulta de um 
blend que a referida equipa de oleó-
logos entende ser o melhor espelho 
do ano. Só que, para chegar a este 
resultado que se quer perfeito, a equi-
pa do lagar criou um lote a partir de 
nove variedades de azeitona (Azeitei-
ra, Carrasquenha, Maçanilha, Galega, 
Blanqueta, Redondil, Picual e um 
pouco de Arbequina). “Estas varieda-
des – mesmo as duas espanholas – 
estão plantadas em olivais tradicio-
nais com idades muito variáveis e 
espalhados no Norte alentejano, pelo 
que acompanhar os agricultores ao 
longo do ano e decidir o momento 
óptimo de colheita dá um trabalho 
imenso. Só para o Seleção temos 21 
fornecedores de azeitona”, salienta 
Ana Carrilho. 
Por outro lado, a feitura de um azei-
te com tanta variedade implica uma 
logística de depósitos do lagar que é 
um quebra-cabeças: “Todos os dias 
temos de ter muitos depósitos livres 
para recebermos cada variedade que 
chega ao lagar. Como não

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