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AO JUÍZO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA Processo nº: 545565-65 Requerente: Ana Clara Fagundes Teixeira Requerido: Estado de Goiás ANA CLARA FAGUNDES TEIXEIRA, representada pela sua genitora, Marta Amélia Teixeira Silva, ambas já qualificadas nos autos da Ação Tal, processo em epígrafe, que move em face de ESTADO DE GOIAS, também já qualificado nos autos, vem, por via de seu procurador que esta subscreve, não se conformando com a sentença proferida no evento XX, interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, com base nos arts. 1.009 a 1.014, CPC, requerendo, na oportunidade, que o recorrido seja intimado para, querendo, ofereça as contrarrazões e, ato contínuo, sejam os autos, com as razões anexas, remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para os fins de mister. Nestes termos Pede o deferimento. Goiânia, 12 de setembro de 2023. Bharbara Amelia Monteiro De Carvalho Jhennyfer Gontijo Sousa 20191000106770 20191000110646 Luana Stephany Oliveira Magalhães 20191000110735 Processo nº: 545565-65 Apelante: Ana Clara Fagundes Teixeira Apelado: Estado de Goiás Origem: processo nº 545565-65, 1ª Vara Da Fazenda Pública Estadual Da Comarca De Goiânia. EGRÉGIO TRIBUNAL, COLENDA CÂMARA. EMÉRITOS DESEMBARGADORES, RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO I- PRELIMINARES I.I- DA TEMPESTIVIDADE Ab initio, cumpre dizer que o presente recurso é interposto de forma tempestiva, eis que a r. sentença foi publicada na data de 18 de agosto de 2023, iniciando-se no dia útil subsequente a contagem do prazo de 15 (quinze) dias úteis, consoante as regras dispostas no artigo 219, 224, § 3º e 1.003, § 5º, todos do Código de Processo Civil. Nesse palmilhar, tem-se como dies ad quem para a interposição do r. recurso, a data de 12 de setembro de 2023, considerando-se a suspensão dos prazos processuais no dia 08/09, de acordo Decreto Judiciário 3.804/2023, concluindo-se como tempestiva está presente manifestação, vez que interposta dentro do prazo legalmente estabelecido, devendo, logo, ser recebida, processada e julgada na forma da legislação vigente. II - BREVE SÍNTESE DO PROCESSO A Apelante, há sete anos, sofreu sérios danos estéticos ao receber a terceira dose da vacina antirrábica fornecida pelo Estado. Entretanto, quando atingiu a idade de treze anos, ajuizou uma ação, representada por sua mãe, buscando indenização por danos materiais e morais em face do Estado de Goiás. Alegou que a má prestação de serviços médicos em um hospital público resultou em graves sequelas. Ela pleiteou uma indenização de R$ 50.000,00 por danos materiais e outra de R$ 40.000,00 por danos morais, apresentando comprovantes das despesas relacionadas ao tratamento. Em sua contestação, o Estado de Goiás argumentou a ocorrência de prescrição com base no art. 1.º do Decreto n.º 20.910/1932, o qual estipula que as dívidas passivas do Estado prescrevem em cinco anos, a contar da data do ato ou fato que lhes deu origem. Como se passaram sete anos entre o acontecimento e a propositura da demanda, a prescrição teria ocorrido. No primeiro grau de jurisdição, foram realizadas perícias e outras diligências probatórias, todas as quais confirmaram a existência do dano e do nexo de causalidade. No entanto, ao proferir a sentença, a autoridade julgadora da 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual da comarca de Goiânia acolheu a alegação de prescrição e extinguiu o processo nos termos do art. 487, II, do Código de Processo Civil. Contudo, como será demonstrado a seguir, a sentença não merece prosperar e deve ser reformada. III – RAZÕES DA REFORMA III.I - DA PRESCRIÇÃO – art. 198, I, CC A r. sentença proferida pelo juiz a quo na ação de indenização proposta pela apelante em face do apelado, deve ser modificada in totum, uma vez que de acordo com o art. 198, inciso I, do Código Civil, não ocorre prescrição contra incapazes situação no art. 3 da mesma lei, onde se encaixa a apelante, por se tratar de uma menor com 13 (treze) anos de idade. Com isso, a afirmação da parte apelado em razão de já ter se passado 07 (sete) anos, não é relevante a situação demostrada já que não somente na época dos fatos, como até os dias atuais a apelante é menor de idade, entendimento este corroborado pela jurisprudência pátria, in verbis: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRESCRIÇÃO.... 1. Contra os menores de 16 (dezesseis) anos não corre nenhum prazo de prescrição (Art. 198, I, do CC). 2. Se da data em que o autor completou 16 anos até a da propositura da ação, ainda não havia transcorrido o prazo prescricional, não há falar em ocorrência da prescrição da pretensão de prestação de contas. 3.Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Agravos -> Agravo de Instrumento 5280383-35.2021.8.09.0000, Rel. Des(a). DESEMBARGADOR ITAMAR DE LIMA, 3ª Câmara Cível, julgado em 06/07/2021, DJe de 06/07/2021). III.II - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Sabe-se que o Estado não apenas detém o dever de punir conforme o ius puniendi, mas também é responsabilizado pelos atos das pessoas jurídicas, como no caso em tela, quando praticam ações que podem comprometer a vida de terceiros, como demonstrado a seguir, Vide a verbis; “ Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (…) § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (...)” Além disso, no contexto presente, é importante destacar que as o direito público interno é uma pessoa jurídica. Consequentemente, quando um de seus agentes comete um erro, a pessoa jurídica assume responsabilidade civil pelos atos de seus representantes, de acordo com o artigo 43 do Código Civil. “(…) Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.(…)” Dessa forma, surge a obrigação estatal de indenizar sempre que causar prejuízo a terceiros, como é o caso presente. É imperativo, para este fim, a comprovação do dano e do nexo causal. Com base nos laudos apresentados no processo em questão, foi confirmada a existência do dano e do nexo causal. Portanto, o Estado é responsável pelos danos estéticos causados à apelante Conforme o entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4): ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. PRESCRIÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL DA UNIÃO. POLÍTICA DE SAÚDE DE IMUNIZAÇÃO. REAÇÃO ADVERSA A VACINA. ENCEFALOPATIA CRÔNICA. DANOS MORAIS. PENSIONAMENTO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1. É firme, na jurisprudência, a orientação no sentido de que as condições da ação são averiguadas de acordo com a teoria da asserção, razão pela qual, para que se reconheça a legitimidade passiva 'ad causam', os argumentos aduzidos na inicial devem possibilitar a inferência, em um exame puramente abstrato, de que o réu pode ser o sujeito responsável pela violação do direito subjetivo do autor (STJ, 4ª Turma, AgInt no AREsp 1.230.412/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, julgado em 19/11/2019, DJe 22/11/2019). Nessa perspectiva, é inafastável o reconhecimento da legitimidade passiva ad causam da União, uma vez que, na versão dos fatos sustentada na inicial, os danos sofridos pelo autor decorreram de vacinação obrigatória (tríplice DTP) fornecida pelo Sistema Único de Saúde. 2. Contra os absolutamente incapazes não corre a prescrição (arts. 3º e 193, inciso I, do Código Civil). Logo,o prazo prescricional quinquenal começou a fluir a partir da data em que o autor completou 16 (dezesseis) anos de idade. 3. A União, por intermédio do Ministério da Saúde, atua na coordenação do Programa Nacional de Imunizações. Com efeito, ao estabelecer a obrigatoriedade de vacinação, assume a responsabilidade pelos danos decorrentes de previsíveis reações adversas, ainda que em ínfima parcela dos vacinados, afastada a configuração de caso fortuito. 4. Evidenciada a existência de nexo causal entre o fato lesivo e os danos ocasionados ao autor, é inafastável o seu direito à reparação por dano moral, porquanto inquestionável que os transtornos, a dor e o abalo psíquico suportados transcendem o que é tolerável na vida cotidiana. Embora a vacinação constitua medida de saúde pública para promover o bem da coletividade, erradicando doenças graves que causam grande mortalidade, a Administração não pode se furtar a oferecer amparo àqueles que, por exceção, vierem a desenvolver efeitos colaterais da vacina ministrada. 5. Em tendo sido comprovado que o autor possui deformidade aparente e permanente (sequelas definitivas, sem possibilidade de reversão), é cabível a cumulação de indenização por danos estético e moral. 6. Em virtude de incapacidade permanente para o trabalho (invalidez), o autor dependerá de assistência de terceiro, durante toda a sua vida, motivo pelo qual faz jus à pensão mensal para custear as despesas com sua manutenção e tratamento. (TRF-4 - APL: 50060577220164047102 RS 5006057-72.2016.4.04.7102, Relator: VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, Data de Julgamento: 04/12/2019, QUARTA TURMA) Pode-se inferir que o presente caso se enquadra na esfera de responsabilidade objetiva do Estado. Nesse contexto, não se faz necessário comprovar a existência de culpa ou dolo por parte dos agentes responsáveis pela aplicação da vacina à Apelante Ainda, no mesmo sentido, são lícitas, em geral, todas as condições que a lei não vedar expressamente, daí não havendo outro entendimento para o caso em questão, deve a sentença atacada ser REFORMADA (ou cassa prescrição não corre contra os absada, depende do que se alegar) nos termos do pedido contido na inicial. IV – REQUERIMENTO Em virtude do exposto, a Apelante requer que o presente recurso de apelação seja CONHECIDO e, quando de seu julgamento, seja totalmente PROVIDO para reformar a sentença recorrida, no sentido de afastar a prescrição e, ato contínuo, por força do art. 1.013, §4º do CPC, acolher o pedido inicial da Autora Apelante por ser de inteira Justiça. Pode haver requerimento de intimação do MP (se for o caso – art. 178, CPC) Termos em que, Pede deferimento. Goiânia, 12 de setembro de 2023. Bharbara Amelia Monteiro De Carvalho Jhennyfer Gontijo Sousa 20191000106770 20191000110646 Luana Stephany Oliveira Magalhães 20191000110735