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Donald Woods Winnicott (1896 – 1971) Pediatra e psicanalista, nasceu numa próspera família de Plymouth, na Grã-Bretanha, em 7 de abril de 1896, e morreu em Londres, em 25 de janeiro de 1971. Donald tinha duas irmãs mais velhas e aos 14 anos foi para um internato. Posteriormente ingressou na Universidade de Cambridge onde estudou biologia e depois medicina. Entretanto, irrompeu a guerra de 1914-18, o que o levou a servir como estagiário de cirurgia e oficial médico em um destróier. Em 1923, foi indicado para o The Queen’s Hospital for Children e também para o Paddington Green Hospital for Children, onde permaneceu pelos 40 anos seguintes, trabalhando como pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista. Foi um colaborador de jornais médicos, psiquiátricos e psicanalíticos, e também escreveu para revistas destinadas ao público em geral, nas quais discutia problemas das crianças e das famílias. Sua extensa obra foi dedicada à construção da teoria do amadurecimento pessoal (um caminho a ser percorrido partindo da dependência absoluta e dependência relativa rumo à independência relativa), que, além de constituir uma teoria da saúde, com descrição das tarefas impostas, desde o início da vida, pelo próprio amadurecimento, configura também o horizonte teórico necessário para a compreensão da natureza e etiologia dos distúrbios psíquicos. A distinção de seu trabalho, metodologicamente, em relação a Freud e outros, foi a decisão de estudar o bebê e sua mãe como uma “unidade psíquica”, o que lhe permitia observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento referente à constelação mãe-bebê, e não como dois seres puramente distintos. Assim, não há como descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois, no início, o ambiente é a mãe e apenas gradualmente vai se transformando em algo externo e separado do bebê. O ambiente facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao bebê na medida exata das necessidades deste, e não de suas próprias necessidades. Esta adaptação da mãe torna o bebê capaz de ter uma experiência de onipotência e cria a ilusão necessária a um desenvolvimento saudável. O conceito de “Preocupação Materna Primária” pode ser comparado a um estado de retraimento da mãe e é necessário para que ela possa estar envolvida emocionalmente com seu bebê. Uma grande contribuição do autor refere-se ao conceito dos objetos transicionais e fenômenos transicionais que surgem na superação do estágio de dependência absoluta em direção à dependência relativa, sendo que não é importante o objeto que está sendo utilizado, mas sim, o uso que a criança faz desse objeto. Ele se coloca na zona intermediária, na separação entre a mãe e o bebê, ajudando a tolerar a angústia de separação e ausência materna. Para Winnicott, o potencial inato de crescimento num bebê se expressava em gestos espontâneos. Se a mãe responde apropriadamente a esses gestos, a qualidade da adaptação proporciona um núcleo crescente de experiência para o bebê, o qual resulta num senso de completude, força e confiança, que ele chama de “verdadeiro self”. A sua crescente força permite ao bebê lidar com posteriores frustrações e fracassos relativos por parte da mãe, sem perder sua vivacidade. Se a mãe é incapaz de responder adequadamente aos gestos do bebê, este desenvolve a capacidade de adaptar-se e submeter-se às “invasões” da mãe, isto é, às iniciativas e exigências dela, e sua espontaneidade é gradualmente perdida. Winnicott chamou este desenvolvimento defensivo de “falso self”. Quanto maior o “desajuste” entre mãe e o bebê, maior a distorção e interrupção no desenvolvimento da personalidade deste. Para Winnicott, a psicopatia ou tendência anti-social caracteriza-se como um transtorno no qual a falha ambiental tem um importante papel. A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré-existente e sim algo que vai se constituindo a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas funções – o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se faz a partir da possibilidade materna de exercer funções primordiais como o holding (permite a integração no tempo e no espaço), handling (permite o alojamento da psique no corpo) e a apresentação de objetos (permite o contato com a realidade). O psique-soma inicial prossegue ao longo de uma linha de desenvolvimento desde que sua continuidade de existência não seja perturbada, e para que isso ocorra, é necessário um ambiente suficientemente bom onde as necessidades do bebê sejam satisfeitas. Um ambiente mau é sentido como uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) precisa reagir e esta reação perturba a continuidade de existência do bebê. O adoecimento, então, se dá devido a perturbações na relação mãe-bebê que provocam falhas no desenvolvimento do indivíduo. Tais perturbações criam uma sensação de falta de fronteiras no corpo, ameaças de despersonalização, angústias impensáveis, ameaças de desintegração e despedaçamento, de cair para sempre, e falta de coesão psicossomática. Winnicott e a “Teoria do Desenvolvimento Emocional” “Sabemos que o mundo estava lá antes do bebê, mas o bebê não sabe disso, e no início tem a ilusão de que o que ele encontra foi por ele criado. Esse estado de coisas, no entanto, só ocorre quando a mãe age de maneira suficientemente boa”. Winnicott - A relação mãe/bebê Nos registros deixados pela nossa primeira infância, encontramos a base de nossa vida emocional adulta. Somos, nesta fase, extremamente sensível ao meio em que vivemos. Winnicott, pediatra e psicanalista, levando em conta sua experiência com crianças e suas mães, criou a Teoria do Desenvolvimento Emocional, ou melhor, uma teoria do amadurecimento do ser humano. Afirma que: “para realizar o meu trabalho, preciso de uma teoria do desenvolvimento emocional e físico da criança no ambiente em que ela vive, e uma teoria precisa abranger todo o espectro daquilo por que se possa esperar.” Nesta teoria é dada ênfase ao meio ambiente maternante – relação mãe/bebê, como essencial no desenvolvimento e amadurecimento saudável do ser humano. Ele coloca esse ambiente como fundamental para a saúde. Falhas deste meio ambiente poderão ter como consequência, diferentes quadros psicopatológicos. Ao falar de ambiente, nesta teoria, estaremos incluindo tanto o ambiente físico quanto os aspectos emocionais necessários ao desenvolvimento do bebê, representados por uma mãe “boa o bastante”. Porém, não podemos esquecer que esta mulher também precisa de um ambiente que a acolha e lhe dê apoio para que ela possa, uma vez identificada com seu bebê, adaptar-se ativamente às suas necessidades e preenche-las. O pai ou na falta dele, o meio ambiente familiar e social vem geralmente proporcionar este apoio. Entendemos esta mãe “boa o bastante” como uma mulher que agora está grávida, e que não necessariamente precisa ser uma mulher especial, com dons especiais. A futura mamãe é uma “mulher comum”, que naturalmente entrará num estado, que Winnicott chamou de “preocupação materna primária” (2002), semanas antes e após o parto, dando-lhe condições psicológicas para poder traduzir as necessidades de seu bebê em ações que levem a satisfação. Winnicott, define a “preocupação materna primária” como: “Gradualmente, esse estado passa a ser o de uma sensibilidade exacerbada durante e principalmente ao final da gravidez. Sua duração é de algumas semanas após o nascimento do bebê. Dificilmente as mães o recordam depois que o ultrapassaram. Eu daria um passo a mais e diria que a memória das mães a esse respeito tende a ser reprimida” O estado de “adaptação ativa”, (2002) parte inicial e integrante do estado de “preocupação materna primária”, tão necessária nesse primeiro momento para que o bebê possa vir a vivenciar a área de ilusão, sofrerá naturalmente uma diminuição, de acordo com o desenvolvimento do bebê. A forte identificação da mãe com seu bebê, oriunda do período de preocupação materna primária, permanecerão, no entanto, sensibilizando a mãe das necessidades físicas e psicológicas do seu bebê. Mãe esta que se encontra,segundo Winnicott:“.... naquele estado especial que dá as mães condições de estarem presentes mais ou menos no momento e no lugar certos. Isto se chama adaptação às necessidades, que permite ao bebê descobrir o mundo de forma criativa.” Importante esclarecer que o bebê ao nascer é formado por um conjunto não organizado de instintos e pulsões, que necessitará da mãe para realizar seu processo de integração. Estando num estado inicial de dependência absoluta, não integrado, dependerá totalmente do meio ambiente, representado pela mãe. A mãe “boa o bastante”, propiciará o meio ambiente facilitador para a integração dos fragmentos de realidade apresentados por ela, condizentes com o desenvolvimento e portanto capacitando o bebê de poder lidar com eles. Será importante, portanto, a forma como a mãe vivencia a sua identificação com a realidade do bebê, e como esses fragmentos serão apresentados para o bebê na relação com ela, para que este processo de integração possa ocorrer satisfatoriamente. Na falta de um meio ambiente “bom o bastante”, e no caso, por exemplo, da mãe estar tensa, ansiosa ou deprimida, este meio ambiente criado, na relação mãe-bebê será sentido como inóspito por invadir e dificultar a linha de continuidade de ser do bebê. Este precisará assim, construir desde cedo, defesas contra invasões, ou seja, excesso de estimulação vinda do meio, estímulos esses com as quais ele não está em condições de lidar, o que pode resultar na quebra da linha de continuidade. No estado de não-integração e dependência em que o bebê se encontra, existe o predomínio de potenciais hereditários e inatos, assim como a tendência à integração e independência, que somados a uma série de experiências físicas e emocionais proporcionadas pelo meio ambiente maternante bom o bastante e facilitador, vai abrindo espaço para a experiência ilusória, dando origem à área de ilusão. Essa área de ilusão, fruto do desenvolvimento da criança, inserida neste meio ambiente, abrirá caminho para a relação gradativamente maior com a realidade externa apresentada, aos poucos, pela mãe. Nesta primeira fase, as falhas naturais da mãe fazem com que surja a angústia de separação e a criança lance mão de um objeto, a princípio: o polegar, a fralda, um brinquedo, para preencher estas lacunas. Esses objetos intermediadores servirão de ponte entre o mundo interno e o externo, ajudando na transição do bebê, do estado de dependência absoluta, a dependência relativa e rumo a futura independência. Ajudam a poder vir a distinguir aquilo que é “ele”, separado do “outro”. Estes objetos transicionais (1975), sob o controle, ainda, onipotente da criança, ajudam no processo da separação gradativa da mãe, mitigando a angústia e resultando no estabelecimento de um “eu” diferenciado do “não-eu”. Aos poucos esse interagir vai capacitando a criança a se separar da mãe sem sentir angústia, lidando melhor com a realidade externa que paulatinamente vai se construindo. O balbucio do bebê, o dedo, assim como o uso de um objeto incide na área intermediária enquanto fenômenos transicionais. Sobre os objetos transicionais, Winnicott coloca: “Introduzi os termos ‘objetos transicionais’ e ‘fenômenos transicionais’ para designar a área intermediária de experiência, entre o polegar e o ursinho, entre o erotismo oral e a verdadeira relação de objeto, entre a atividade criativa primária e a projeção do que já foi introjetado, entre o desconhecimento primário de dívida e o reconhecimento desta. Por esta definição, o balbucio de um bebê e o modo como uma criança mais velha entoa um repertório de canções e melodias enquanto se prepara para dormir, incidem na área intermediária enquanto fenômenos transicionais, juntamente com o uso que é dado a objetos que não fazem parte do corpo do bebê, embora ainda não sejam plenamente reconhecidos como pertencentes á realidade externa”. (1975, p.14) Numa outro texto, Winnicott, nos coloca que:“ o objeto transicional não é significativo por ser uma coisa; sua coisidade é crucial apenas porque ela ajuda a criança a sustentar uma realidade interna que se amplia e evolui, e a auxilia a diferenciá-la do mundo que não é o eu”. (2000, p.20) Um fator importante para que o bebê faça a gradativa transição do estado de não-integração para o de integração é a sustentação dada pela mãe. O que caracteriza a integração é a junção dos núcleos do ego, diferenciada dos estímulos do meio, e a descoberta gradativa de ser ele mesmo, separado do meio. A vivência da “continuidade da linha da vida” proporcionada pelo meio ambiente maternante bom o bastante, que abordaremos a seguir, facilitará o processo de integração e a possibilidade de um ego saudável. Neste processo, será importante que a mãe sirva de ego auxiliar, de para-excitação, para intermediar os estímulos ambientais excessivos. Todo o processo de desenvolvimento saudável, dependerá de um ambiente que seja facilitador, que não tenha estímulos excessivos e que proporcione suporte para que o bebê e futuramente a criança possam desenvolver seus potenciais. Neste ambiente facilitador do processo de amadurecimento proporcionado pela mãe, o bebê se desenvolve. Ela é responsável por todos os cuidados físicos e afetivos necessários, para preencher as necessidades do bebê, e de acordo com Winnicott, esta é a única forma de amor que o bebê pode reconhecer nesta fase. À conduta emocional da mãe ao cuidar de seu filho, onde não somente administra cuidados físicos mas também lhe dá suporte e afeto, Winnicott denominou de “ holding” (2002). É através do “holding” que o bebê terá a experiência de continuidade do ser. Essa experiência de continuidade é decorrente de uma adaptação do meio às necessidades da criança, que não se sente invadida pela mãe-ambiente, nem mantida num meio inconstante e sentido como ameaçador. Todo esse suporte necessário contido no “holding” está estreitamente conjugado com o manejo ou “handling” (2002), segundo Winnicott. Será através do manejo cuidadoso, sensível e portanto carinhoso, que a relação positiva vai sendo construída e mantida pela mãe. Esse contato físico, que se deu pelo manejo, levará a criança, a um reconhecimento gradativo de seu corpo, possibilitando uma construção imaginária do mesmo, resultando na psique encontrando o corpo como sua morada. Este momento é importante por assinalar o êxito de um marco no desenvolvimento. No processo de integração, o bebê reconhece-se como “eu sou” ou “rei do castelo”, neste momento há um reforço mútuo entre o funcionamento do corpo e o desenvolvimento do ego. “Na posição ‘eu sou’ ou ‘rei do castelo’ , o indivíduo pode ou não, por razões internas ou externas ( e o bebê ainda é altamente dependente), conseguir lidar com a rivalidade que isto engendra ( ‘você é o patife sujo’). Na saúde, a rivalidade se torna um estímulo adicional ao crescimento e ao sabor de viver.” (1994, p. 89) Se o bebê é o “rei do castelo” o outro (mãe) é o patife sujo do qual ele (bebê) depende e que almeja ser igual. Torna-se importante nesse processo um reforço de ego da mãe para o seu bebê e sua capacidade de adaptar-se as necessidades dele fornecendo uma realidade de dependência. Durante o processo de integração, a mãe, ao cuidar da criança, estará oferecendo o “holding” e o “handling”, num ambiente confiável , seguro e portanto sensivelmente equilibrado, de forma que a criança ao ter a sensação de segurança e confiabilidade possa vir a se integrar gradativamente, ligando a psique com o soma. A psique encontrará, aos poucos, a sua morada no corpo. A psique se incumbe da elaboração imaginativa das funções somáticas e vai se desenvolvendo, resultando no processo de “personificação” que é fruto da ligação psique-soma. Desta forma, teremos o surgimento do Self como unidade, levando ao gradual reconhecimento da mãe como um “outro”. Este Self constituído, será então chamado de Self verdadeiro, sendo deste modo o núcleo da personalidade, o núcleo do ego que permanecerá oculto e integrado. A mente, segundo a concepção de Winnicott, é uma instância especializada dapsique, que se desenvolverá a medida que a criança começa a ter consciência do meio externo, e permitirá que ela possa lidar com as falhas crescentes do meio ambiente, de acordo com o estágio e possibilidades no seu processo de amadurecimento. Winnicott afirma que do mesmo modo que a criança constrói o Self verdadeiro num desenvolvimento normal, ele também desenvolverá, normalmente o falso Self (1982). O falso Self surge como uma defesa natural, para que a criança possa adaptar-se ao meio ambiente social no qual ela vive. O falso Self irá suprir o verdadeiro quando se fizer necessário para uma adaptação adequada, constante, ao meio ambiente, o que consiste em poder negociar e conceder. Numa relação patológica com o meio ambiente, o falso Self é utilizado como uma forte defesa onde seu uso se torna exclusivo, a fim de atender e simplesmente agradar ao meio ambiente. O uso do falso Self numa forma excessiva encobriria, nos casos mais graves, o verdadeiro Self (1982), deixando transparecer somente a “casca”, o “socialmente aceito” e não a real pessoa. Nas pacientes de lúpus, supõe-se um uso maior do falso Self, pela dificuldade que se observa nas pacientes em “negociar” com o meio ambiente, passando a mostrar-se “ flexíveis” nos relacionamentos com as outras pessoas, pela sua dificuldade de expor seus desejos. Podemos, portanto, facilmente depreender como este ser em desenvolvimento precisa de um “meio ambiente maternante”, capaz de dar o “holding” e o “handling” que o bebê necessita, para que possa alcançar um desenvolvimento saudável. Porém, nem sempre é possível um desenvolvimento infantil sustentado, com uma mãe capaz de dar o “holding” e “handling” que a criança necessita. Winnicott, 2001, afirma que “...uma boa proporção de mães e pais, em virtude de doenças sociais, familiares e pessoais, não consegue fornecer à criança condições suficientemente boas a época de seu nascimento” (p.4). Durante o desenvolvimento, o bebê é capaz de suportar adversidades e tensões, contanto que ele possa confiar no “meio ambiente maternante”. Porém, se o meio ambiente primário se apresentar como inóspito provocando “tensão” e/ou inconstância afetiva, a sensação de segurança e continuidade de ser deixa de existir, e surge, então, uma tendência natural de sobrevivência, de buscar defesa fazendo uso do falso Self , a fim de poder lidar com este meio ambiente e se adequar a ele. Freud, assim como Winnicott, referem-se ao trauma como marco importante na constituição do sujeito, abordaremos, a seguir, o trauma dentro da concepção de cada um por apresentar diferenças. De Freud à Winnicott: Fundamentos e divergências teóricas ao interno das concepções de sexualidade e amadurecimento pessoal I – Introdução: O que diz a psicanálise sobre a sexualidade e sobre o amadurecimento? A Psicanálise, que surgiu no cenário do séc. XX como um projeto de inovação e interpretação antropológica da saúde e de abordagem sobre variadas patologias humanas é ainda alvo de discussões sobre o “foco de atuação e de abordagem em relação ao próprio ser humano”, sobretudo no que concerne aos tópicos dispostos para análise: sexualidade e amadurecimento. Na verdade, a psicanálise tem ainda seu olhar sobre o homem em seus aspectos metafóricos, na perspectiva do “não dito”, como no dizer do poeta Fernando Pessoa – “com sobressaltos e repugnâncias”, ou seja, com certo trato de fineza a traumas e desvios de origem sobre variados problemas que acarretam diversas consequências para a construção da identidade. Neste sentido, os conceitos de sexualidade e amadurecimento na psicanálise são centrais na compreensão do ser humano desde seu aparecimento na infância, durante o desenvolvimento nas fases iniciais, passando pelo processo de amadurecimento, constrangimentos, repressões, regressões e demais mecanismos de defesa, e o levando, na linguagem heideggeriana ao dasein, ao “ser ai”, ao homem presente, naquilo que ele é, não só no que ele foi, nem mesmo no que poderá ser, mas no que ele é – no agora da existência, como pressuposto por Edson Soares em sua tese – em que se utiliza do termo “em sua acontecência”. Partindo de Freud e de sua habilidade em decifrar o inconsciente, os seus seguidores, especialmente Winnicott, perceberam que os temas que envolvam a dimensão do homo sexualis, ou seja, aquilo que implicitamente há em nossa natureza, como uma espécie de predisposição do instinto de perpetuação da vida, e que envolve todo o nosso ser e nossa sexualidade, se tornou uma chave de leitura de compreensão do homem. Pode-se acrescentar – no que diz respeito ao crescimento, seja ele paulatino, e não necessariamente evasivo e progressivo no que as correntes de psicologia chamam de maturação humana. Por isso mesmo, o comportamento sexual humano e sua relação com o amadurecimento há décadas tem sido estudado por variadas escolas de compreensão do próprio comportamento ou quiça das mentalidades adjuntas ou desconexas da cultura sexual de uma determinada época, isso referido à própria produção da mentalidade humana. Não há consenso quanto a este embate de ideias, e de sobremaneira restam tabus e sentimentos de culpabilidade, sobretudo no Ocidente platônico e cristianizado, onde em inúmeros casos sobressaem uma concepção dualista do ser humano e onde o corpo é visto como “prisão, viciado, negativamente tendenciado ao vicio” – como matéria-temporal de pecado e punição. Mesmo que não se possa afirmar de modo definitivo que a psicanálise e a obra de Freud, e posteriormente a de Winnicott – sejam proposições de “respostas definitivas” de tal tema da psicologia, o que temos que concordar é que com eles se abriu um caminho de compreensão que supera – e em muito – a concepção genital, o que acarreta um horizonte de compreensibilidade do homem como um todo. Jean Charmoille nos afirma que na ocasião do primeiro centenário de publicação da obra – Três ensaios sobre a teoria da sexualidade – Freud desenvolveu muitas ideias relacionadas a “transformação da puberdade”, e retomou a importância do surgimento da “angústia infantil” na “descoberta do objeto”. A sexualidade humana, diversamente da curiosidade e da auto-consciência intelectiva, não se expandem através do espanto – Thaumatsen, pelo contrário, o processo de conhecimento de si, que na teoria freudiana ocorre somente na fase genital, é um processo angustiante, de existência de fato e de objeto não clarificado, não reunido, por isso – obtuso e confuso. Creio que seja por esta motivação que deva haver o conceito de catexia, para que os indivíduos, no processo de crescimento físico consigam canalizar energias pulsionais internas para a exterioridade, muitas vezes delineada na teoria como sublimação. Ele ainda explica que o investimento libidinal não pode encontrar satisfação na ausência da pessoa amada. Por isso, “as crianças cuja pulsão sexual é precoce ou se torna excessiva e exigente” comportam-se já como adultos, pois “a libido se transforma em angústia a partir do momento em que ela não encontra satisfação”. Seria a satisfação o principio sobre o qual se fundamenta a teoria do amadurecimento? Segundo Winnicott, um dos maiores sinais de maturidade é a capacidade que uma pessoa tem de ficar só, diferente do medo ou do desejo de ficar só. É preciso clarear esta ideia. Na prática já convivi com muitas pessoas, e neste convívio percebi, intuitivamente [dito como processo metodológico], que algumas não conseguiam suportar o “ecoar da consciência”, o estar solitário. O ficar só, além de ser matéria de avaliação comportamental e de amadurecimento, demonstra o nível da pessoa em relação à autoconsciência de si e dos outros e da própria realidade. Para alguém que não esteja em pleno caminho de maturidade, o ficar só é o processo de experiência do “inferno, quiça da morte”. Assim, acreditando ter o ambiente um papel estruturante na organização do psiquismo infantil, no caso exemplificado a pouco, Winnicott justifica que essa capacidade se constrói na experiência do bebê ou na criança pequena, de estar só na presença confianteda mãe ou na sua representação, ou seja, na experiência de estar sozinho na presença de “[um] outro”. Com a continência materna, afirma Clarice Moreira da Silva, verificamos a necessidade da criança experimentar vazios, distâncias, que possam ajudá-la a se distinguir do outro e aos poucos aprender a dar continência às suas próprias experiências. Por isso (grifo nosso) a ausência é atributo necessário e ordinário para a construção de uma pessoa em potencial sadia. Hoje se temos inúmeras doenças psicossomáticas – acredito que seja, entre outros motivadores, por esta lacuna deixada no passado de grande quantidade de indivíduos – a falta de habilidade de ficar só. Continua a autora citada, afirmando que o indivíduo que desenvolveu a capacidade de ficar só está constantemente capacitado a redescobrir o impulso pessoal e interpessoal, então, não há fases de desperdício, pois a vida está sempre sendo reinventada. Assim sendo, nosso propósito neste artigo é o de expor e compreender em tom de comparação os paradigmas – freudiano e winnicottiano ao interno da psicanálise. Mesmo que a psicanálise tradicional não possa ser considerada uma ciência factual madura, parece-me frutífero, afirma-nos Zelikjo Loparic – que o olhar para ela na perspectiva kuhniana, nos proporcionará formas revolucionárias de esclarecermos os avanços, as resistências e demais rótulos de comparação. Procedendo assim, é possível dizer que o exemplar principal da disciplina criada pela pesquisa revolucionária de Freud é o complexo de Édipo, onde a criança na cama da mãe às voltas com os conflitos, potenciais geradores de neuroses, que estão relacionadas à administração de pulsões sexuais em relações triangulares. De outro modo, a generalização-guia central é a teoria da sexualidade, centrada na ideia da ativação progressiva de zonas erógenas, pré-genitais e genitais, com o surgimento de pontos de fixação pré-genitais. A metodologia é centrada na interpretação do material transferencial à luz do complexo de Édipo ou de regressões aos pontos de fixação. Os valores epistemológicos básicos são os das ciências naturais, incluindo explicações causais, e o valor prático principal é a eliminação do sofrimento decorrente dos conflitos internos pulsionais, do tipo libidinal. Desta maneira a psicanálise passou por várias reformulações pelo próprio Freud e seus seguidores, efetuadas no mais das vezes sob pressão de fatos clínicos. Nas pesquisas de Winnicott, contudo, o paradigma freudiano como tal entra em crise, dando lugar à busca por um novo paradigma. Na percepção de Winnicott, a principal dificuldade da psicanálise tradicional decorria do fato de ela pensar a etiologia dos distúrbios psíquicos em termos relacionados aos conflitos “pulsionais” intrapsíquicos, deixando de ver que, pelo menos nesses casos, a patologia ou a anormalidade estava primariamente no ambiente e só secundariamente na criança. Em outras palavras, Winnicott entendeu que era necessário mudar a etiologia dos distúrbios em questão. II – A sexualidade: As noções de Freud e de Winnicott sobre o paradigma freudiano Mas enquanto para Freud a psicanálise era essencialmente uma “cura pela palavra”, para Winnicott o relacionamento mãe-bebê, no qual a comunicação é relativamente não verbal, transformou-se num paradigma do processo analítico, e isto mudou a função da interpretação no tratamento psicanalítico. (Phillips 1988, p. 138). A sexualidade proposta por Freud é uma sexualidade ampliada e radicalmente diferente da concepção naturalista predominante no final do século XIX, quando a normalidade sexual era definida pela sexualidade adulta e a consumação do ato sexual referida a fins de reprodução. De fato, Freud preconiza uma revitalização e revalorização do significado e significância do corpo. A masturbação infantil, a simples busca do prazer sexual, ou ainda a impossibilidade do ato sexual (como em alguns casos de impotência) eram consideradas condutas anormais (perversas) ou sinais de degenerescência. Isso compreendido na concepção pré-freudiana. Não obstante, com a apresentação da vias instintivas, sendo uma delas – sexual, Freud, dispõe a teoria da libido a articula com a teoria da pulsão, discutindo, enquanto perspectivas contemporâneas, quatro temas que a autora Anne Rodrigues elaborou desta forma: (1) a teoria das relações de objeto; (2) as teorias de gênero; (3) as origens da heterossexualidade e homossexualidade; e (4) o impacto da cultura sobre sexo e gênero. Anne ainda destaca que a questão atual sobre bissexualidade deveria ser entendida como um interesse sexual em ambos os sexos ou como uma sensação de ser ao mesmo tempo homem e mulher. Tanto neuroses como perversões passaram a ser vistas como resultado de conflito inerente ao desenvolvimento sexual. Destaca ainda (RODRIGUES, p. 95) que, com os “Três ensaios”, Freud cria uma teoria unificada da mente, na qual a vida sexual é vista como ativa a partir da infância. Em tese a sexualidade deixou de ser compreendida como uma dimensão e comportamento a partir da vida adulta e tom de dinamicidade e revolução, bem como – do ponto de vista social – sem muita compreensão e aceitação, passou a ser vista desde os primeiros meses de vida. Como indica Garcia-Roza (1988), o objeto do instinto é o alimento, enquanto o objeto da libido é o seio materno – um objeto que é externo ao corpo. Para Freud, quando este objeto é abandonado e o bebê começa a fantasiar o seio, sugando seu próprio polegar, tem início o auto-erotismo e podemos falar de uma sexualidade que se desvia do instinto. Não é fácil dizer o que é a psicanálise. Um esclarecimento possível consiste em evocar a afirmação de Freud, reiterada por Winnicott, de que a psicanálise é a ciência de um certo tipo de fatos clínicos. Isso posto, coloca-se uma nova pergunta, ainda mais difícil: que é uma ciência factual e como devem ser pensados a estrutura interna e o desenvolvimento de uma tal disciplina? De acordo com Thomas S. Kuhn, sobreposicionado como mediador entre “mestre-discípulo”, segundo a conveniência de Loparic, Kuhn, como um dos mais influentes epistemólogos da segunda parte do século XX, uma ciência factual madura é o quadro no qual se desenvolve uma atividade de resolução de problemas semelhantes a quebra-cabeças. A estrutura interna desse quadro é caracterizada por uma maneira de ver o mundo e de falar sobre ele, compartilhada por um grupo institucionalizado, estruturada como um paradigma ou uma matriz disciplinar. Um paradigma é composto de: exemplares, isto é, problemas centrais que dizem respeito aos fatos acessíveis em alguma forma de experiência (observação, experimentação, clínica), acompanhados de suas soluções e compromissos teóricos, dos quais constam: De generalizações usadas como guias na pesquisa, modelo ontológico do domínio estudado (a parte propriamente “metafísica” dos paradigmas), modelo metodológico (os métodos de pesquisa franqueados, analogias e metáforas permitidas), e valores, alguns deles epistemológicos – relativos ao modo como deve ser elaborada e praticada a disciplina em questão (capacidade de formular problemas, tipo de soluções admitidas, simplicidade, consistência interna e externa, plausibilidade) – e outros práticos, relacionados à utilidade social do saber científico. O desenvolvimento de uma disciplina desse tipo passa por períodos de pesquisa normal, cumulativa, realizada de acordo com o paradigma dominante, seguidos de períodos de crise, provocados pelo aumento de “anomalias” – problemas considerados relevantes, mas que permanecem não resolvidos. As crises levam uma parte do grupo a se dedicar à pesquisa revolucionária visando à constituição de um novo paradigma, obedecendo, contudo, à condição de preservar a capacidade solucionadora da disciplina. Quando bem sucedida, essa pesquisa não-cumulativa termina em conversão da parte ou da totalidade do grupo a uma nova maneira de ver o mundo e de falar sobre ele, comparável a um Gestalt switch perceptivo ou a uma mudança revolucionária de um regime político, seguida de um novo período de pesquisanormal. As mudanças nos paradigmas ocorrem, portanto, como revoluções científicas que substituem os paradigmas (figuras do mundo, “regimes” teóricos) velhos, em crise, pelos novos, considerados mais promissores por resolverem tanto os problemas principais já solucionados como as anomalias e por aumentarem, dessa forma, o poder de resolução de problemas da ciência em questão. Mesmo que a psicanálise tradicional não possa ser considerada uma ciência factual madura, parece-me frutífero olhar para ela na perspectiva kuhniana, procurando por formas incipientes de um paradigma e por crises, seguidas de pesquisa revolucionária. Procedendo assim, é possível dizer que o exemplar principal da disciplina criada pela pesquisa revolucionária de Freud é o complexo de Édipo, a criança na cama da mãe às voltas com os conflitos, potenciais geradores de neuroses, que estão relacionadas à administração de pulsões sexuais em relações triangulares. Considerando a importância do exemplar do Édipo na psicanálise de Freud, convém chamar o seu paradigma de edípico ou triangular. Se levarmos em conta a natureza sexual da situação edípica, a matriz disciplinar de Freud pode ser designada como sexual. Em suma, quanto à Winnicott, superando o paradigma freudiano do complexo edípico, propôs-se a repensar a sexualidade e a maturidade revertendo os valores hierarquizados pelo mestre e percebendo que a sexualidade é fruto do amadurecimento, que por sua vez só ocorre no processo de fazer-se pessoa humana. III – O amadurecimento pessoal: As noções de Freud e de Winnicott, sobre o paradigma winnicottiano O sentimento de ser real e de existir como identidade não constituem um fim em si mesmo, mas uma posição a partir da qual a vida pode ser vivida. As principais ideias que Winnicott se predispôs a pensar em relação à Freud foram: a dependência absoluta, a dependência relativa e o estágio “eu sou – até a capacidade de se preocupar [...] com”. As diferenças com Freud servirão de evidências adicionais de que Winnicott produziu uma mudança na psicanálise que pode ser caracterizada como revolução científica num sentido próximo ao de Kuhn – mudança paradigmática. A postura winnicottiana jamais se distancia da “relação” factual indivíduo-ambiente, pois o indivíduo sendo caracterizado pela tendência para o amadurecimento e o ambiente, investido do papel de facilitador dessa tendência, se complementam – levando a cada vez mais a construção da pessoa. De acordo com o preceito de manter abertas as pontes entre o paradigma antigo e o novo, Winnicott esforçar-se-á por preservar o que for possível da teoria antiga e, sobretudo, a eficácia clínica da psicanálise. Nesse espírito, os conceitos de pulsão, de “relação de objeto”, de aparelho psíquico, de inconsciente etc. serão reinterpretados, isto é, transpostos para a linguagem experiencial do paradigma winnicottiano. Tal transposição não é uma simples tradução – visto que os conceitos metapsicológicos de Freud são, por definição, especulativos, isto é, não aplicáveis diretamente à experiência clínica –, mas algo semelhante a uma paráfrase para um campo semântico essencialmente diferente: o da linguagem que se quer essencialmente descritiva. A partir desta experiência, Winnicott pode formular sua teoria sobre a tendência anti-social, ao detectar sua relação direta com a questão da privação sofrida pela criança numa certa idade; e muito embora as circunstâncias fossem anormais, os conhecimentos obtidos desta experiência têm aplicação geral, já que as crianças que sofrem privação e se tornam delinquentes têm problemas básicos que se manifestam de modos previsíveis, independentemente das circunstâncias nas quais a privação se dá. Winnicott cunha o termo “tendência anti-social” em preferência ao termo “delinquência” pela razão de que o primeiro nos permite vislumbrar uma mesma natureza da problemática em diferentes graus do seu desenvolvimento, desde sua forma mais primitiva, casos brandos que se aproximam inclusive daquilo que designamos normalidade, como a birra extremada de um bebê, a enurese noturna ou o furto de uma moeda na bolsa da mãe, até os atos mais graves estruturados como delinquência, sendo a psicopatia o estágio mais avançado. Além disso, este termo facilita a compreensão da existência de uma conexão entre a tendência e a esperança, por mais difícil que seja de percebe-la quando o ato anti-social atinge certa gravidade e seu sentido original tenha esmaecido. IV – Conclusão: sexualidade e amadurecimento em Winnicott – Um nodo paradigma Elaborando essas análises, Winnicott desenvolveu uma teoria do amadurecimento baseada em várias distinções fundamentais, inexistentes ou, pelo menos, não trabalhadas de maneira satisfatória em textos da psicanálise tradicional. A mais decisiva delas é a diferença entre o objeto e o ambiente (mundo), com a ênfase sobre o ambiente enquanto condição não-objetual possibilitadora de objetos, que é o fundamento de uma outra: a distinção entre relação com objeto e relações com o ambiente. Winnicott também enriqueceu a psicanálise com novos insights fundamentais que se revelaram incompatíveis com os de Freud, visto que “raramente ele [Winnicott] os remetia ao lugar do erótico na vida adulta”. Para Winnicott, o “ponto crucial da psicanálise” era a “vulnerabilidade inicial do bebê dependente” dentro da relação dual com a mãe, e não o “complexo de Édipo – a relação de três pessoas”. Dessa forma, Winnicott abandona um elemento fundamental do componente ontológico da psicanálise tradicional: a relação sujeito-objeto – embutida tanto na teoria freudiana da pulsão como na da identificação e que continua presente nas fórmulas dos teóricos das relações objetais e mesmo na posição idiossincrática de Lacan –, abrindo essa disciplina para uma dimensão ontológica essencialmente nova. Essa mudança só pode ser devidamente apreciada à luz da ontologia fundamental de Heidegger, em particular, da sua crítica da relação sujeito-objeto e do seu conceito de ser-no-mundo como modo se ser possibilitador de todas as relações com os outros seres humanos e com as coisas. A descoberta de Winnicott de que os atos mais graves de delinqüência fazem parte da mesma problemática de um bebê que dá um trabalho excessivo ou de uma criança que furta um lápis na escola abre grandes perspectivas para pensarmos a respeito da prevenção da delinqüência. Abrangidos pelo mesmo termo “tendência anti-social”, os atos anti-sociais surgem na sua versão mais branda num período ainda precoce do desenvolvimento do indivíduo, e quando não tratados adequadamente vão adquirindo o grau da defesa anti-social estruturada na forma de delinqüência. Outra importante descoberta de winnicott referente à tendência anti-social é sua conexão com a esperança: é nos momentos de maior esperança que a criança “deprivada” (que sofreu deprivação) mais mobiliza seu ambiente, esperando que este reconheça e compense o dano causado. A criança, com esse comportamento, não tem a consciência do que se está de fato procurando atingir, sendo o acting-out o meio encontrado pela criança para comunicar o seu sentimento de ter sido lesada.