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EA D 6 Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação 1. OBJETIVOS • Identificar tendências da sociedade contemporânea. • Compreender o teor das questões sociais que se apresen- tam para análises e explicações sociológicas. • Cultivar a atitude de pesquisador. 2. CONTEÚDOS • A desigualdade social e a questão dos grupos minoritá- rios. • O preconceito e a discriminação. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 1) Para complementar o que estudaremos nesta unidade, que é referente ao preconceito e à discriminação, apre- © Sociologia Geral124 sentamos duas sugestões de filmes: Meninos não cho- ram, dirigido por Kimberly Peirce, e Filadélfia, de Jona- than Demme. 2) Há um espaço eletrônico brasileiro, cujo endereço é o <http://www.portacurtas.com.br>, dedicado a filmes de curta metragem que é imperdível. Há inúmeros filmes que abordam, em linguagem cinematográfica, os temas do preconceito e da discriminação. Vale a pena curtir! 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na unidade anterior, identificamos tendências da sociedade contemporânea e procuramos entender a natureza e o objeto das questões sociais que servem de base para as análises e explicações sociológicas. Pudemos também refletir sobre questões cruciais que desafiam as sociedades contemporâneas, como é o caso das desigualdades sociais, com destaque para a pobreza. Nesta unidade, daremos continuidade às reflexões em torno das velhas e das novas questões sociais da Sociologia contempo- rânea, tentando estender a visão de desigualdade social para os grupos minoritários e refletir sobre os significados de preconceito e discriminação. Com essas ideias, encerraremos nossos estudos introdutórios ao conhecimento da Sociologia. Conforme já abordamos, embora a desigualdade social seja encontrada com diferentes roupagens em todas as sociedades, ela alcançou com o capitalismo uma das versões mais duras. A situação de extrema desigualdade social mundial resulta de um longo processo, que foi constituído nos últimos 500 anos e que foi surgindo com base em uma economia global de exploração do ser humano pelo ser humano. Mesmo aqueles países que são considerados “em desenvol- vimento” estiveram – ou ainda estão – submetidos a imposições que impedem que suas populações alcancem, de modo igualitário, as mesmas condições dos países desenvolvidos. Claretiano - Centro Universitário 125© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação Embora existam vários movimentos de tentativas de dimi- nuição das desigualdades sociais, ainda persiste uma política de dominação que tem bases no poderio econômico dos países ricos, o que dificulta, sobremaneira, a superação dessas questões. Conforme observamos em nossas incursões anteriores em torno da questão das desigualdades sociais, estas foram com- preendidas como resultantes de um processo social constituído ao longo da história. Os fundamentos, não apenas para sua per- manência, mas também para sua ampliação em níveis globais, colocam-nos diante da fragilidade da ideia de que todos os seres humanos têm os mesmos direitos. Se todas as pessoas indistintamente possuem os mesmos direitos e se os direitos humanos são universais, como entende- remos a presença, sempre próxima, daqueles que não conseguem ter acesso ao mínimo necessário para viver com dignidade? O fato de prevalecer nas sociedades contemporâneas a ideia de que todos fazem parte da humanidade e, portanto, têm os mes- mos direitos torna cada vez mais difícil a justificativa para a exis- tência das desigualdades sociais. É partindo dessas considerações que abordaremos a natu- reza das questões sociais e tentaremos identificar algumas bases sociais que envolvem a existência de grupos minoritários ou mi- norias, do preconceito e da discriminação, como uma ampliação de nossas reflexões sobre as desigualdades sociais que tomaram, como questão social inicial, a pobreza. 5. A DESIGUALDADE SOCIAL E A QUESTÃO DAS MI- NORIAS Temos utilizado a expressão “questões sociais” para refe- rirmo-nos às formas de desigualdade social. Assim, a pobreza, as minorias, o preconceito e a discriminação são identificados como questões sociais. © Sociologia Geral126 Contudo, é importante esclarecermos o que são questões sociais antes de prosseguirmos com nosso estudo. Questões sociais ou problemas sociais são situações ou con- dições que são consideradas pela sociedade como ameaças ao seu bem-estar e que precisam ser eliminadas ou diminuídas. Trata-se de condições que afetam um número significativo de pessoas e pelas quais se acredita que algo possa ser feito mediante uma in- terferência. Para a Sociologia, não há uma causa única e simples para a existência de problemas sociais. Frequentemente, há uma interli- gação de várias causas que não podem ser explicadas separada- mente (KOENIG, 1975). Uma dada situação pode ser considerada problemática por uma sociedade e não ser encarada da mesma forma por outra. Devido à mudança das condições e de atitudes, o que se considera problema hoje pode não ter sido assim considerado no passado. A persistência de algumas questões sociais, como, por exemplo, a pobreza, os crimes e as guerras, revela, provavelmente, que os seres humanos tiveram que lidar, ao longo dos tempos, com os mesmos tipos de condições ambientais e sociais. Lembremos o exemplo da pobreza e as várias significações sociais que ela adqui- re ao longo do tempo. Todavia, há questões sociais permanentes e universais. A guerra, por exemplo, provavelmente revela que, diante de algu- mas circunstâncias, os seres humanos tiveram de lidar com os mesmos tipos de condições sociais. Embora a Sociologia se ocupe, primordialmente, das intera- ções sociais e embora ela esteja interessada, sobretudo, na inves- tigação dos fenômenos sociais, também estuda as questões sociais como resultados da vida em sociedade. Desse modo, a Sociologia aborda questões como: pobreza, minorias, preconceito, discrimi- nação, divórcio, conflitos raciais e religiosos, desemprego, alcoo- lismo, suicídio, desnutrição, mortalidade infantil, trabalho infantil, Claretiano - Centro Universitário 127© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação homossexualidade, pedofilia, velhice, desabrigados, violência, cri- mes, fome, saúde pública, analfabetismo etc. Diante dessas questões, o principal objetivo da Sociologia é procurar condições para a sua compreensão, bem como analisá-las, explicá-las e torná-las públicas. A Sociologia pode contribuir muito na busca de soluções eficazes, considerando que os esforços para resolver os problemas sociais só podem ser exitosos quando se baseiam em circunstâncias indiscutíveis e em uma adequada com- preensão de suas condições. Pensemos nas minorias como questão social. De onde vem a ideia de grupos minoritários ou minorias? O princípio da concepção de minorias foi engendrado com base na ideia de maioria, que, por sua vez, nasceu com a demo- cracia grega. Os gregos organizaram a legitimidade da lei funda- mentados no fato de ela representar a vontade dos cidadãos. Em Atenas, aqueles que eram considerados cidadãos selecionavam e aprovavam as leis em assembleias, e essa seleção e consequente aprovação dos cidadãos eram consideradas a manifestação numé- rica da maioria. Quem era considerado cidadão em Atenas? Os nascidos gregos, do sexo masculino, com idade superior a 18 anos e livres. Encontravam-se excluídos dessas condições os escravos, os estran- geiros, as mulheres, os artesãos, os comerciantes e os menores de 18 anos. Estes constituíam o segmento mais numeroso da popu- lação grega. Por extensão, no século 19, quando as repúblicas criaram o sistema político representativo, permaneceu o mesmo princípio da maioria. As leis votadas pela maioria dos representantes legis- lativos passaram acorresponder à vontade da nação. Com a adoção da democracia representativa, o que é oficial é tido como decisão da maioria. Assim entendido, se o governo é representativo, ele representa a maioria da população. Aqueles © Sociologia Geral128 que não concordam são considerados minorias, mesmo que cor- respondam – como no caso das mulheres – a mais da metade da população do mundo. Há outras situações que contribuíram para o estabelecimen- to da ideia de minoria. No caso da teoria sociológica organizada por Durkheim, te- mos que uma das características do fato social é a sua generalida- de, isto é, sua recorrência. Segundo essa visão, o que é discordante ou desviante foge da normalidade e da unanimidade; distancia-se da maioria e recai na minoria. O uso da Estatística também ajudou na propagação desses princípios. Quando temos números transformados em realidade, a análise quantitativa pode deformar a visão de realidade, criar semelhanças inexistentes, assim como esconder ou eliminar dife- renças, ou seja, mascarar resultados. Para exemplificar, façamos a seguinte suposição: uma pes- quisa estatística que constatar que, em uma dada população, a metade dos indivíduos consome 200 gramas de queijo por dia enquanto a outra metade dos indivíduos não consome nenhuma quantidade desse produto, partindo dos mesmos dados, ao elabo- rar os resultados, pode optar pelo consumo médio da população e concluir que ele é de 100 gramas de queijo por dia, por indivíduo, o que representará resultados tendenciosos das noções de maio- ria e minoria. Nesse caso, os resultados vêm mascarados, pois são escon- didas as diferenças e criadas aproximações inexistentes: toda a po- pulação consome uma quantidade de queijo. A complexidade da vida social e o uso político da ideia de maioria e minoria tornam cada vez mais difícil o estabelecimento de definições sobre o que seria uma maioria real. Nesse contexto, é possível expressar que as minorias têm se deparado com difí- Claretiano - Centro Universitário 129© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação ceis situações, que resultam de sua desconsideração nos regimes representativos, nos levantamentos estatísticos e diante de deter- minados interesses políticos. Foram essas razões que levaram as minorias à luta mediante manifestações, reivindicações e formas de organização, que pretendem denunciar preconceitos e influen- ciar na mudança de certas formas de comportamento. Para a Sociologia, um grupo minoritário define-se por ser so- cialmente dominado por outro. É minoritário o grupo que, em de- corrência do preconceito e da discriminação, tem sua participação social comprometida em função do poder, da influência, do autori- tarismo dos membros do grupo ou dos grupos dominantes. Trata- -se de um grupo cujos membros têm menos controle sobre suas vidas quando comparados aos membros do grupo dominante. As minorias têm poder relativo menor se comparadas ao grupo majoritário, independentemente do seu número de com- ponentes. As mulheres formam, numericamente, a maioria da po- pulação brasileira, segundo os resultados do Censo 2000, apresen- tado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. No entanto, elas são tratadas como minoria porque não têm muitas limitações nas alternativas de tipos de trabalhos de expressão po- lítica e de expressão cultural quando comparadas aos homens. Daí o motivo de serem definidas e tratadas como minoria. A Sociologia tem voltado grande parte de seus estudos para pesquisas que têm como objeto os grupos minoritários que se di- ferenciam pelo tipo de orientação sexual, pela cor de pele, pela educação, pela nacionalidade, pela religião, pelo gênero, entre outros. Grupos esses que, em muitas situações, são reconhecidos como maioria ou minoria por sua capacidade de reivindicar e de fazer pressão social. A força da ação política pode tornar as ques- tões minoritárias em majoritárias, dependendo do esforço para revelar as contradições, as injustiças e os privilégios característicos de algumas parcelas sociais. © Sociologia Geral130 6. O PRECONCEITO E A DISCRIMINAÇÃO Quando optamos por apresentar o tema das desigualdades sociais, fundamentamo-nos nas ideias de que ele fornece elemen- tos para apontar a necessidade de entendimento de sociedades distintas e das formas de desigualdade que lhes são equivalentes. Trata-se de circunstâncias que oferecem possibilidades para uma reflexão sobre as condições de produção e reprodução das desi- gualdades sociais em sociedades como a brasileira. Desses prin- cípios, decorre a opção de incluir reflexões sobre o preconceito e a discriminação, porque, sobretudo, após o nazismo, estes estão entre os temas básicos de Sociologia entendidos como formas de exclusão social, desde as mais sutis até as mais amplas, que pre- gam, abertamente, o extermínio de grupos. No caso do Brasil, os dados censitários do IBGE, consideran- do que a realidade brasileira registra qualidades de vida diferen- tes para alguns grupos, sobretudo aqueles cujos componentes são identificados como pretos e pardos, indicam a existência do pre- conceito racial, condições que, por si só, justificam estudos, refle- xões e análises em torno dessa questão. Se analisarmos, historicamente, a questão das desigualda- des sociais no Brasil, nas quais o preconceito e a discriminação estão entranhados, perceberemos que, além da pobreza (que é a desigualdade básica), outros indicadores poderiam ser exaus- tivamente citados para exemplificar a situação, tais como: fome, saúde pública, educação, moradia, transporte público, violência, desemprego etc. Preconceito e discriminação são formas de exclusão social que, embora ocorram juntas, têm significados diferentes. O pre- conceito refere-se a um sentimento, um pensamento, uma ideia previamente concebida, sem o reconhecimento da situação à qual se refere. Discriminação é o comportamento manifesto, baseado em atitude, em ideia preconceituosa. Claretiano - Centro Universitário 131© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação O preconceito está ligado aos significados de um julgamento prévio e negativo sobre um determinado indivíduo ou grupo, efe- tuado antes de um exame ponderado e completo e, muitas vezes, mantido rigidamente, mesmo diante de provas que o contradizem. Há um livro de Silva Queiroz (1996), cujo título é muito sugestivo: Não vi e não gostei, que trata de modo objetivo o fenômeno do pre- conceito e apresenta boa perspectiva para se debater o tema; um outro exemplo é o livro de Marcos Bagno, Preconceito lingüístico: o que é, como se faz, que, embora apresente um aspecto específi- co do preconceito ligado à língua portuguesa brasileira, oferece ao leitor uma excelente fundamentação conceitual para o preconceito. A Figura 1 ilustra alguns tipos de preconceitos que ocorrem frequentemente. Fonte: disponível em: <www.educarede.org.br/educa/index. cfm?pg=oassu...>. Acesso em: 10 jun. 2010. Figura 1 12 Faces do Preconceito, de Jaime Pinsky. © Sociologia Geral132 Precisamos ficar atentos para o fato de que o termo precon- ceito tem um alcance amplo e diversificado e adquire conotações complexas, o que pede que ele seja sempre interpretado levando em consideração o contexto em que é utilizado. Nas Ciências Sociais, de modo geral, e na Sociologia, de modo específico, seu significado refere-se a julgamentos categóri- cos, antecipados, carregados de componentes afetivos, como, por exemplo, a antipatia e a aversão; e de componentes cognitivos, tais como as crenças e os estereótipos; bem como de componen- tes avaliatórios, como as políticas públicas. As pesquisas em Ciências Sociais concentraram as atitudes rotuladas de preconceito como aquelas orientações desfavoráveis dirigidas a grupos ou categorias. As provas acumuladas por essas pesquisas estabeleceramum grande número de generalizações empíricas referentes ao precon- ceito. Dentre as mais importantes conclusões, segundo o Dicionário do pensamento social do século XX (1996), estão as seguintes: 1) Os preconceitos, embora generalizados, não são univer- sais. 2) O preconceito não é monopólio desta ou daquela socie- dade nem desta ou daquela cultura. 3) O preconceito não é inato, é aprendido. 4) Os preconceitos em relação a diferentes grupos tendem a andar juntos: as pessoas que manifestam preconceito para com um grupo étnico mostram, tipicamente, atitu- des semelhantes para com outros “grupos de fora”. 5) Os indivíduos variam muito na intensidade e na espécie de seus preconceitos. 6) Os preconceitos encorajam os comportamentos discri- minatórios e as orientações dadas às políticas públicas e são gerados por eles. 7) Preconceito e comportamento não precisam ser con- gruentes, uma vez que situações específicas podem con- sideravelmente afetar a conduta, apesar de as atitudes serem generalizadas. Claretiano - Centro Universitário 133© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação O preconceito é uma tendência de comportamento que não necessariamente envolve uma ação em si. É possível ser pre- conceituoso e não manifestar o preconceito em forma de ação discriminatória. A discriminação envolve uma ação deliberada e intencional, mas o inverso também pode ocorrer: um ato de discri- minação sem o sentimento de preconceito. Outro aspecto a ser considerado sobre o preconceito é que ele não pode ser controlado por meios legais, enquanto a discrimi- nação, que é uma manifestação pública do preconceito, é passível de obter um controle legal. Considerar pessoas negras pouco confiáveis é um precon- ceito; impedi-las de abrir um crediário sem qualquer consulta aos serviços de proteção ao crédito é uma discriminação. Ninguém nasce com preconceito. Ele é aprendido no decor- rer do processo de socialização. As pessoas adquirem-no dos pais e dos familiares, na escola, na igreja, na convivência com amigos, nos livros que leu ou nos filmes que assistiu. O preconceito torna-se um problema quando um prejulga- mento se mantém o mesmo depois que fatos demonstrem que ele está incorreto. O racismo, por exemplo, baseia-se na crença de que características herdadas são sinais de inferioridade. Mesmo após estudos científicos comprovarem sua inconsistência, essa crença continua justificando um tratamento discriminatório das pessoas que carregam essa herança. O preconceito e a discriminação levam à exclusão, restrin- gem a participação e a integração das pessoas e dos grupos per- tencentes às minorias. Dadas essas condições, a partir da última década do século 20, passaram a ser implementadas no Brasil po- líticas públicas e privadas para combater todas as formas de discri- minação. A essas políticas, damos o nome de ações afirmativas. Elas foram estabelecidas, inicialmente, nos Estados Unidos e as- seguravam cotas de ingresso às minorias raciais e às mulheres na escola e no trabalho, favorecendo a ascensão social aos negros, © Sociologia Geral134 que passaram a exercer profissões de prestígio e a ocupar cargos e posições de poder. No Brasil, a obrigatoriedade da reserva de vagas para mu- lheres nos partidos políticos brasileiros, da reserva de vagas para pessoas deficientes em concursos públicos e da reserva de vagas para pobres e negros nas universidades públicas são exemplos de ações afirmativas. Há nas sociedades em geral uma tendência que se amplia: de lutar a todo custo contra as mais diversas formas de preconcei- to. É importante esclarecer que essa tendência pode, em alguns casos, não ter qualquer fundamento nem qualquer justificativa e, também, ser fruto da intolerância, da ignorância ou da manipu- lação de ideias. As implicações sociais desse tipo de compromis- so são grandes, e, para não corrermos o risco de nos afastarmos de uma sociedade democrática na qual as pessoas possam viver como cidadãos conscientes de seus direitos e de suas reivindica- ções, é preciso aprender a observar a realidade, compreendê-la e analisá-la sem deixar de considerar todas as experiências que já foram realizadas em outras sociedades, próximas ou distantes. O estudo sociológico, em sua particularização e em seus ma- tizes, oferece algumas possibilidades de impedir, eficazmente, a repetição de calamidades ligadas ao preconceito e à discriminação na qual elas surgirem como ameaça, sejam quais forem as vítimas designadas. Não se trata de oferecer receita. Trata-se de conhecer e re- conhecer as motivações do preconceito e do preconceituoso no sentido de que quem conhece essas motivações resistirá em ser levado por aqueles que se voltam contra os que são mais frágeis. Escritos e campanhas objetivas e esclarecedoras; colaboração do rádio, da televisão, do cinema e dos meios escritos de comunica- ção de massa; bem como a elaboração dos resultados científicos para ensino nas escolas, poderiam ser medidas práticas de comba- te ao preconceito e à discriminação. Claretiano - Centro Universitário 135© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação A luta eficaz contra o preconceito e a discriminação não é possível sem o conhecimento de suas causas, sobretudo se dese- jarmos que essa luta atinja as raízes da intolerância. A missão da Sociologia como ciência é formular uma concepção das formas de organizações das estruturas sociais capaz de ser interpretada de forma racional. Embora ela, por si só, não baste para fazer o neces- sário nessa luta, não deixa de constituir uma contribuição indis- pensável para a resolução dessas questões sociais. 7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Conforme procedemos nas unidades anteriores, vamos no- vamente fazer uma pausa para que você fixe os conceitos aborda- dos nesta unidade. 1) O que são questões sociais ou problemas sociais? 2) O que caracteriza o preconceito? 3) O que caracteriza a discriminação? 4) Quais são as generalizações empíricas referentes ao pre- conceito apresentadas no Dicionário do pensamento so- cial do século XX? 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos traduzir esta unidade de estudo na compreensão do fato de que, na mesma sociedade em que se desenvolveu a indústria de massa, provocando homogeneização nos modos de vidas, surgiram grupos distintos que se distinguem da população. Cada um desses grupos procura definir sua própria história e elabora suas formas de organização e suas reivindicações. Todo esforço é dirigido no sentido de criar e de firmar sua identidade, de buscar diferenças mais profundas e radicais. Diferenças que revelem as contradições, as injustiças e os privilégios de alguns grupos. © Sociologia Geral136 Observar a dinâmica social coloca-nos diante de circunstân- cias que nos permitem perceber que o coletivo pode encobrir dife- renças e discriminações, perseguições e injustiças, cuja superação só é possível diante da força dos grupos, que, por suas caracterís- ticas, se diferenciam dos outros membros da sociedade em que vivem e, por essa razão, recebem tratamento desigual. São os grupos minoritários, socialmente dominados por outros grupos cujos membros possuem mais poder, controle e influência. É minoritário o grupo cujos membros, em decorrência do pre- conceito e da discriminação, têm menos poder e controle sobre si mesmos do que os membros do grupo ou dos grupos que o dominam. Na sequência dessas ideias, vimos que preconceito e dis- criminação são diferentes. O preconceito está ligado a um pensa- mento ou a uma opinião desfavorável que se organiza em relação a outros indivíduos ou grupos. Preconceito esse que se baseia em um prejulgamento sem fundamentos racionais, um julgamento baseado em estereótipos e generalizações. Em um campo diferen- te do preconceito, encontramos a discriminação, uma ação delibe- rada, intencional, que conduz a um tratamentoinjusto e desigual. Muito teríamos de estudar e refletir sobre temas como a desigualdade social, a pobreza, as minorias, o preconceito e a dis- criminação. No entanto, considerando que nosso tempo tem co- meço, meio e fim estabelecidos, nossa contribuição com os temas apresentados procura despertar em você um desejo incontido de busca pela compreensão e por explicações para as realidades so- ciais, sejam elas próximas, sejam distantes. As questões que apresentamos aqui não são pequenas nem simples, porém, isto não impede que busquemos recursos nos es- tudos sociológicos, que podem nos oferecer conhecimentos que possibilitem nosso entendimento sobre o que ocorre no mundo em que vivemos. Até uma próxima oportunidade! Claretiano - Centro Universitário 137© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação 9. E-REFERÊNCIA Lista de figura Figura 1 – 12 Faces do Preconceito, de Jaime Pinsky: disponível em: <http://www. educarede.org.br/educa/img_conteudo/1527_preconceito.jpg>. Acesso em: 13 maio 2010. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Neste tópico, além das referências citadas nesta unidade, há outras que podem contribuir para melhorar a compreensão em torno das questões abordadas no texto. BAGNO, M. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2000. COVRE, M. L. M. (Org.) A cidadania que não temos. São Paulo: Brasiliense, 1987. HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. (Org). Preconceito. In: ______. Temas básicos de Sociologia. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1978, p. 171-183. KOENIG, S. Elementos de Sociologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. OUTHWHAITE, W.; BOTTOMORE, T. (Eds.). Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. SILVA QUEIROZ, R. da. Não vi e não gostei: o fenômeno do preconceito. São Paulo: Moderna, 1996. VALENTE, A. L. Educação e diversidade cultural: um desafio da atualidade. São Paulo: Editora Moderna, 1999.
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