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ENERGÉTICA DO PROCESSO DE ABSORÇÃO 130 Potencial Através da Membrana 134 CONTROLE DE pH NAS CÉLULAS 141 CINÉTICA DE ABSORÇÃO DE ÍONS 143 I]\;TERAÇÕES IÔNICAS 146 TRANSLOCAÇÃO DE NUTRIENTES 149 LITERATURA CITADA 151 ""V - ABSORÇAO DE NUTRIENTES Manlio Silvestre Femandes" & Sonia Regina Souza" l/ Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. BR 465, km 47, Seropédica, 23890-000, Rio de Janeiro (RJ). manlio@ufrrj.br 2/ Departamento de Química, UFRRJ. soniabq@ufrrj.br Conteúdo TRANSPORTE ATRAVÉS DA PAREDE CELULAR E DA MEMBRANA PLASMÁTICA 115 MEMBRANA PLASMÁ TICA E A ABSORÇÃO DE ÍONS 123 Bombas Iônicas 125 TRANSPORTE ATRAVÉS DA PAREDE CELULAR E DA MEMBRANA PLASMÁTICA As células vegetais são separadas do meio externo por membranas. Genericamente, as membranas permitiram o desenvolvimento da vida, pois criaram compartimentos separando o ambiente externo do ambiente interno, ao mesmo tempo em que possibilitaram trocas entre esses ambientes. As membranas permitem, assim, que as células possam ter composição diferente daquela do meio que as circunda, aomesmo tempo em que podem retirar desse meio o material de que necessitam para o seu metabolismo e sua organização estrutural. As célulasvegetais têmuma parede celular externa, rígida, composta na sua maior parte de material inerte e que mantém sua forma mesmo após a morte da célula. Internamente, existe uma membrana, composta principalmente de materiallipoprotéico, conhecida como plasma lema ou membrana plasmática (Figura 1). A membrana plasmática é um SBCS, Viçosa, 2006. Nutrição Mineral de Plantas, 432p. (ed. FERNANDES, M.s.). 116 MANllO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA delgado filme de fosfolipídios e proteínas, pressionado contra a parede celular. Na verdade, pode-se dizer que a parede celular" contém" a membrana plasmática e o citoplasma. Isso porque o interior da célula é um meio hipertônico em relação à solução do solo. Desse modo, a célula vegetal, se em contato livre com a solução do solo, tenderia a expandir explosivamente. Nesse sentido, a célula vegetal é contida pela parede rija que a circunda. A parede celular é formada principalmente por uma rede de microfibrilas de celulose, interligadas por feixes de glicanas (Figura 2). Esse conjunto está embebido em uma matriz de hemicelulose e substâncias pécticas. A celulose que forma as microfibrilas da .parede celular é um polissacarídeo, encontrado em longos polímeros de unidades de D-glicose, que estão unidas por ligações B 1-4; esse arranjo espacial confere à celulose a conformação de longas fibras paralelas de 10 a 20 nm de largura. A unidade estrutural de repetição da celulose é a celobiose, formada pela união de duas moléculas de glicose. A cadeia glicana da celulose pode ter Célula B rl'"_-::-C=é;;:;'U'::;."'.:;.B.,..----.., Microporo Citossol Figura 1. Célula vegetal, destacando a parede celular e membrana plasmática. Deslocamento de íons pelos macro e microporos e através dos transportadores da membrana até o citossol. NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES Ca + Ca + 117 + Ácido Jf a-D-poligalacturônico Figura 2. Estrutura dos blocos de construção das substâncias pécticas (ácido a-D- poligalacturônico) depositadas nas microfibrilas de celulose da parede celular. de 200 a mais de 25.000 resíduos de glicose. As moléculas longas e rígidas da celulose combinam-se em orientação paralela, para formar as microfibrilas. Cada microfibrila pode ter aproximadamente 35 cadeias de celulose (Raven et al., 2001). Em fungos, as microfibrilas da parede celular podem ser formadas principalmente por quitina (polímeros de N-acetilglicosaminas). O diâmetro das microfibrilas está entre 5 e 10 nm. A parede celular tem aproximadamente 100 nm de espessura, podendo conter de 5 a 10 camadas de microfibrilas (Figuras 1 e 2). A hemicelulose é um heteropolissacarídeo composto de hexoses (glicose), pentoses (arabinose, xilose) e ácidos urônicos (ácido glicurônico). Na hemicelulose de gramíneas, a cadeia principal é composta de xilanas (15 1-4-glicose-glicose) e a lateral de ácido metilglucurônico, enquanto as leguminosas apresentam xilanas não ramificadas. As substâncias pécticas podem ser denominadas de homopolissacarídios, quando formadas por ácido 1,4 D-galacturônico, ou heteropolissacarídios, quando em sua constituição pode haver ácido galacturônico, D-galactose, L-arabinose e L-ramnose. As substâncias pécticas são particularmente importantes para a nutrição mineral das plantas. Elas são formadas por polímeros do ácido 1,4 D-galacturônico, geralmente esterificado com grupos metila. Essas substâncias têm peso molecular variando entre 25.000 e 360.000. Os feixes de microfibrilas com seus depósitos de poligalacturatos estão representados na figura 2. Nessa mesma figura podem ser observados os resíduos de cargas negativas sobre as microfibrilas. No quadro 1 encontra-se a composição da parede celular de alguns tecidos vegetais. NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 118 MANLIO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA Quadro 1. Composição da parede celular de alguns tecidos vegetais Composição da parede celular Tecido vegetal Celulose Hemicelulose Pectatos Proteínas Lipídios g kg-I Milho (coleóptilo) 350 300 130 210 Trigo (folhas) 300 110 220 Aveia (caule) 260 400 200 130 10 As proteínas na parede celular podem ser estruturais (como a extensina) ou enzimáticas (oxidases, fosfatases, ATPases, estearases e outras). Essas proteínas podem ser excretadas para o meio externo; em geral, elas são consideradas "incrustações" na matriz da parede celular. Proteínas estruturais, como a extensina, são ricas em prolina e hidroxiprolina. Considera-se que a maior flexibilidade dos caules das plantas aquáticas deve-se principalmente à conversão de prolina em hidroxiprolina nos ambientes aquáticos, devido à menor pressão de oxigênio. Essa organização da parede celular permite a formação no seu interior de microporos e macroporos. Esses poros têm em torno de 3 a 5 nm de diâmetro e aproximadamente de 100a 200 nm de comprimento (Figura 2). Diversas substâncias incrustadas ou apenas sobrepostas às microfibrilas de celulose têm grande importância para a nutrição das plantas. Proteínas, particularmente as que têm atividade enzimática, podem estar depositadas sobre a superfície dessas microfibrilas. Também podem ocorrer deposições de açúcares e de lipídios. Entretanto, são as deposições de ácidos poligalacturônicos e seus ésteres (as substâncias pécticas) que afetam intensamente a circulação de íons dentro e através da parede celular (Figura 2). As pectinas podem dar origem a pectatos como os de Ca, que afetam grande mente a rigidez das membranas. As microfibrilas de celulose, nas plantas superiores, não formam uma parede contínua, mas são constituídas de cadeias de polissacarídios de tamanho variável, que se fixam por meio de ligações não-covalentes com a matriz que as envolve, pela coesão desenvolvida pelas forças físicas resultantes de seu enovelamento. Por sua natureza, as microfibrilas de celulose não têm praticamente qualquer expansibilidade, razão pela qual os movimentos de expansão celular ocorrem pelo rompimento das ligações não-covalentes entre as microfibrilas e a matriz. Nessa situação, as microfibrilas e matriz podem deslizar umas sobre as outras, permitindo assim que a célula se expanda, cedendo às pressões de turgor. Embora ainda não se conheça em todos os detalhes o exato mecanismo pelo qual as paredes celulares expandem, permitindo o crescimento celular, é certo que esse fenômeno envolve a acidificação do espaço livre e, portanto, a ação das bombas iônicas de extrusão de H+. A acidificação do espaço livre ativa a ação de um grupo de enzimas que atua nesse processo: as expansinas. NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 119 Aparentemente, a ação das expansinas se dá pormeio do rompimento das ligações não-cova lentes, que ligam as microfibrilas de celulose à matriz de hemicelulose e pectinas. Ou seja, as expansinasrompem as pontes de H que unem os feixes de microfibrilas. Esse rompimento de ligações não-covalentes permite então o deslizamento dos feixes de microfibrilas. Diversas outras enzimas são também ativadas quando da acidificação do espaço livre. Dentre elas destacam-se as endoglicanases, que cortam as "glicanas" da matriz em segmentos menores, o que contribui para diminuir a resistência da parede celular. Dentro da parede celular há os micro e macroporos formados pela organização das microfibrilas de celulose, hemicelulose e lignina, com incrustações, depósitos de ácidos orgânicos, proteínas estruturais e outros compostos que ajudam a formar a estrutura da parede celular (Figuras 1 e 2). Esses macro e microporos conectam-se com os espaços intercelulares e formam um coniinuum, A esse conjunto formado pelos espaços intercelulares e poros da parede celular dá-se o nome de "espaço livre". Na verdade, esse espaço está dividido em dois: um espaço em que água e íons circulam livremente e outro em 'que íons de um sinal circulam livremente, enquanto íons de outro sinal têm sua circulação restrita. Assim, por exemplo, cr e SO/ poderiam circular livremente nesse espaço, ao passo que K+ tem sua circulação limitada. Isso dá origem ao conceito de "espaço livre aparente". A figura 1 mostra o conjunto formado pelo espaço intercelular e poros na parede celular, formando "o espaço livre aparente"; o espaço intercelular e o poro com água (H20) formam" o espaço livre de água". Água e solutos podem circular no espaço livre (com restrições, devido à carga). Solutos podem entrar e sair dos poros, dependendo dos gradientes de concentração, e pode ocorrer troca com o meio externo (solução do solo). Não apenas íons podem circular no espaço livre, mas também moléculas como açúcares, aminoácidos e outras. Considera-se estar na endoderme o limite interno do espaço livre, porque nem a água nem os solutos podem atravessar os seus espaços intercelulares, uma vez que eles estão cimentados com suberina, que recobre as células e as une, como o cimento une uma parede de tijolos, embora essa limitação não seja absoluta, principalmente nas áreas de crescimento da raiz. Íons e água podem circular" dentro" da parede celular, através de seu sistema de poros, mas não conseguem atravessar a membrana interna (plasmalema), que, com sua natureza lipoprotéica, é impermeável a íons e água. Assim, podem-se estabelecer os limites do espaço livre das raízes como sendo o espaço entre a epiderme, a endoderme e a plasma lema das células do córtex radicular (ver capítulo II, neste volume). Qualquer espécie iônica, o K+,por exemplo, pode difundir livremente da solução do solo para o interior das raízes, circulando pelo espaço livre, seja no espaço intercelular ou nos poros dentro da parede celular. Veja o exemplo do macroporo na célula B (Figura 1). A maior ou menor circulação desse íon no espaço livre vai depender da concentração relativa do íon nos diversos compartimentos (macro e microporos - espaço intercelular) e da eventual interferência de forças de adsorção. Eventualmente, o íon pode ser perdido para o espaço externo. Por NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 120 MANLlO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA essa razão, não se pode considerar que os íons que circulam no espaço livre radicular tenham sido realmente "absorvidos". Embora eles estejam dentro da raiz, podem ser facilmente perdidos para o meio externo por simples difusão. Só são considerados realmente absorvidos os íons que atravessam a membrana plasmática e passam para o espaço interno da célula. A passagem de um íon do espaço externo (espaço livre) para o interno da célula só ocorre através de sítios específicos na superfície da plasmalema. Se um íon não encontra o seu sítio específico de absorção, pode circular por macro e microporos, voltar para o espaço intercelular ou sair do espaço livre. Uma vez que tenha atravessado a plasmalema, não pode mais voltar livremente ao espaço externo, pois foi absorvido (Figura 1). O coniinuum formado pelo conjunto dos espaços intercelulares e poros da parede celular que resulta numa via de deslocamento de íons é também chamado de apoplasma, e essa via de deslocamento é a via apoplástica (Figura 3). A absorção de um íon (passagem para o interior da célula) pode ocorrer em uma das células da endoderme, através de sua superfície exposta (não revestida de material suberificado). Nesse caso, o íon atravessa uma única célula e chega ao parênquima vascular. A absorção pode também ocorrer em uma das células corticais, ou numa célula da epiderme. Nesses dois últimos casos, o íon absorvido tem que ser deslocado de uma célula à outra até chegar finalmente ao parênquima vascular. O caminho a ser percorrido, de célula a célula, é tornado possível graças a uma intensa rede de comunicação célula a célula, os plasmodesmas (Figura 3 e capítulo Il). O plasmodesma é um prolongamento do material celular que passa através de poros na parede celular. É formado por um desmotúbulo e tem uma espécie de "revestimento citoplasmático". O desmotúbulo é o prolongamento do retículo endoplasmático de duas células adjacentes. A maior parte do transporte célula a célula, entretanto, pode ser feita através do revestimento citoplasmático. Os plasmodesmas ocorrem em uma densidade que pode ir de 0,1 a 10,0 por !J.m2(cerca de 20.000 por parede tangencial, ou 5 x 108 por em") (ver capítulo Il, neste volume). Esses "canais" ligam as células desde a epiderme até a endoderme, formando um coniinuum, Esse conjunto é chamado de simplasma. Os íons que se deslocam de célula a célula através do simplasma estão seguindo a via simplástica (Figura 3). Seguir a via simplástica é uma maneira de contornar as limitações e, ou, restrições ao deslocamento que os íons enfrentam, nos diversos compartimentos do espaço livre aparente. Algumas espécies iônicas, de absorção muito rápida, são quase que totalmente absorvidas nas células epidérmicas ou nas primeiras camadas de células corticais. significando que praticamente só alcançam a área vascular das plantas por deslocamento através do simplasma. O íon fosfato (H2P04-) é uma dessas espécies (Figura 3). Outros íons, como o K+, deslocam-se facilmente por via apoplástica. O deslocamento por via simplástica resulta em significativo aumento das possibilidades de partição ao longo da via de transporte. No caso do P, quando ocorre deficiência desse nutriente, há partição desequilibrada de matéria seca entre raiz e parte aérea. Como o íon fosfato tem que percorrer a longa via simplástica, sob deficiência, a NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 121 demanda metabólica ao longo da via de transporte retira o P da rota de deslocamento e o incorpora ao metabolismo das células da raiz. Disso resulta o fato de que, sob deficiência de P, as raízes crescem proporcionalmente mais do que a parte aérea (Quadro 2). O espaço livre aparente é subdividido em dois: o espaço livre de água e o espaço livre de Donnan. O primeiro é aquele em que água e os solutos circulam livremente, Parênquima Vascular (AKT1) Parede Celular r Membtana Plasrnática K~ t·······• .• K:f" : K+ \ •• ' K~ t·:···.• Kt l \ . K+ ....". Estrias de Caspary Plasmodesmas Xilema Figura 3. Deslocamento de íons, desde a solução externa até o xilema, por via apoplástica (K+) ou simplástica (H2P04-). Quadro 2. Produção de matéria seca das folhas e das raízes de plantas de hortelã aos 64 dias após o transplantio (DAT) em cultivo hidrcpônico com diferentes doses de N e P Massa seca Raízes Folhas g/5 plantas 30,5 b 122,9 a 29,5 b 81,2 b r 37,7 a ~ 73,8 c 37,8 a 65,8 d Dose Tratamento p ___ rngL:' _ TI T2 T3 T4 120 60 120 60 16 16 4 4 Letras minúsculas iguais, na mesma coluna, não diferem significativamente (Fisher LSD 5 %). Fonte: Souza et al, (2006). NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 122 MANLIO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA enquanto o espaço livre de Donnan é aquele onde existem limitações para circulação de íons. Para entender a origem e extensãodeste espaço (de Donnan), é necessário retomar à discussão a respeito da deposição de ácidos galacturônicos sobre a superfície das microfibrilas de celulose. Os ácidos galacturônicos são ácidos orgânicos de cadeia longa (Figura 2). O pK dos grupos carboxílicos desses ácidos está em torno de 3,5. Isso significa que, nas condições normais de equilíbrio entre a solução do solo e o apoplasma, esses ácidos estarão dissociados (o pH da solução do solo, em condições normais, está entre 5,0 e 7,0). Quando o espaço intercelular e os macro e microporos das células entram em contato com a solução do solo, ocorre arraste e eventual substituição dos pró tons do ácido. Pode então ocorrer uma troca de cátions (H+ por K+, por exemplo), com os resíduos de carga negativa formando uma superfície de carga negativa fixa. Essas cargas fixas formam uma superfície de troca de cátions. Esta superfície, capaz de trocar cátions, é a origem da capacidade de troca de cátions das raízes, ou CrCR (Figura 4). Nos microporos, se essas cargas estiverem muito próximas e sua densidade for grande, forma-se uma barreira para a livre difusão dos íons. Os íons cr ,N03' e H2P04', por exemplo, teriam grande redução de sua velocidade de difusão sob essas condições. Por sua vez, os cátions seriam atraídos por essas superfícies carregadas. A intensidade dessa atração depende da densidade das cargas elétricas fixas e da valência do íon. Assim, por exemplo, em uma superfície de pequena densidade de carga um íon monovalente, como o K+, seria atraído com muito maior facilidade do que um íon trivalente, como o A13+(Figura 4a e b). No entanto, em uma superfície de alta densidade de carga, cátions de maior valência, como o Ca2+,seriam atraídos com maior intensidade e teriam maior atividade do que os íons monovalentes (Figura 4d). Desse modo, ter-se-á como regra geral: poros com baixa densidade de carga atraem preferencialmente íons monovalentes, em detrimento dos íons di e trivalentes, ao passo que poros com alta densidade de carga atraem preferencialmente íons di e trivalentes, em detrimento dos íons monovalentes (Figura 4). Íons trivalentes como o A13+têm uma interação tão grande com superfícies de alta densidade de cargas, que praticamente entram em "colapso" sobre essas superfícies, formando ligações quase cova lentes (Figura 4c). Nesse caso, dificilmente são substituídos nas superfícies de troca e reduzem a CrCR da planta (ver capítulo XV, neste volume). Em geral, as monocotiledôneas têm menor densidade de carga do que as eudicotiledôneas. Plantas como o milho, arroz e braquiária têm densidade de carga (expressa em CrCR) em torno de 10 a 20 cmol, kg' de raízes secas, enquanto soja e feijão têm suas CrCR em torno de 40 a 80 cmol, kg' de raízes secas. Essa variação da CrCR permite fazer algumas considerações sobre a capacidade de diferentes plantas de extrair nutrientes do solo. Embora a CrCR seja um entre os inúmeros fatores que afetam o processo de aquisição de nutrientes pelas plantas, ao se colocar sob as mesmas condições ambientais duas raízes com diferentes CrCR e do mesmo tamanho, pode-se esperar que as plantas de menor CrCR sejam mais eficientes na absorção de K+, enquanto as plantas de maior CrCR absorverão Ca2+ e Mg2+mais eficientemente, se todos os outros fatores forem mantidos constantes. Glass et al. (1992) observaram que a absorção NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES (a) (b) -K+ K+ K+ K+ Baixa densidade de cargas 1.. .. K+ K+ ... K+ K+ ca- Ca++ Ca++ AI+++ (c) (d) + ~! =1 +AI Ca-i + Alta densidade de cargas -i Ca H2PO.- K+ K+ ~, H2PO.- K+ K+ Macroporos Microporos 123 Figura 4. Superfícies de cargas nos macro e microporos da parede celular. de cátions monovalentes (K+ e Na") diminui e a de cátions divalentes (Ca2+ e Mg2+) aumenta, à medida que a CTCR das plantas aumenta. Esse fenômeno é importante no desenvolvimento de espécies de plantas calcícolas ou calcífugas. MEMBRANA PLASMÁTICA E A ABSORÇÃO DE ÍONS Amembrana celular (plasmalema ou membrana plasmática), formada por uma dupla camada de fosfolipídios e incrustada de proteínas, apresenta o seu interior hidrofóbico, portanto impermeável à água e a espécies iônicas (Figura 5). A absorção de íons nas membranas ocorre necessariamente através de sítios específicos, de origem protéica (proteínas integrais da membrana), que permitem a passagem dos íons do meio externo para O interior das células. Essas proteínas integrais de membrana formam os três sistemas que atuam no transporte de íons: as bombas iônicas, os transportadores de íons e os canais iônicos (Figura 6). NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 124 MANLlO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA Camada ,/' Hidrofílica I'Interior •..•.Hidrofóbico Dupla ./ Camada de Fosfolipídios Proteína Figura 5. Diagrama de um segmento de membrana biológica: dupla camada de fosfolipídios e proteínas. ATP Bomba de Prótons ADP + Pi Uniporte t\i03 .• ..•~o __ ••• 2H+ ~........,.----4 Simporte Figura 6. Sistemas de transporte através da membrana plasmática. Antiporte Canal lônico NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRiENTES 125 • As bombas iônicas atuam no transporte unidirecional de íons (uniporte) e estão acopladas a sistemas geradores de energia (ex: Ht-A'Tf'ases). A velocidade de transporte das bombas iônicas é de 100 íons s'. • Os transportadores de íons (carreadores) podem ser unidirecionais (uniporte) e atuar na troca de uma espécie iônica por outra (antiporte), ou no transporte simultâneo de íons (simporte). Passam por mudanças conformacionais durante o transporte. A velocidade de transporte pode variar de 300 a 1.000 íons S·I. • Os canais iônicos são de alta velocidade. Transportam apenas a favor de gradientes de potencial eletroquímico. A velocidade de transporte dos canais iônicos pode variar de 106 a 108 íons s'. A seguir é feita uma descrição detalhada dos sistemas de transporte. Bombas Iônicas As bombas iônicas atuam no transporte ativo de íons, com o uso direto de energia metabólica. Geralmente, são sistemas que incluem ATPases ou pirofosfatases. Esses transportadores usam a energia gerada pela hidrólise de ligações de alta energia (ATP ou PPi), passam por mudanças confonnacionais e voltam ao estado inicial após transportar o íon. Entre as bombas iônicas, sem dúvida a mais estudada é a bomba iônica de extrusão de prótons. A extrusão de prótons, conhecida como "transporte ativo primário", é um mecanismo gerador de eletrogenicidade e, portanto, atua sobre as diferenças de potencial, que compõem, junto com as atividades da espécie iônica. o potencial eletroquímico que determina as características do transporte ativo ou passivo. Foram identificadas bombas de prótons que atuam tanto na membrana plasmática como na membrana do vacúolo (tonoplasto). Na plasmalerna, a bomba de extrusão de prótons atua, tornando o interior da célula mais negativo e criando um gradiente de pró tons entre o exterior e o interior da célula (gradiente protoniônico). No tonoplasto, foram identificadas bombas de pró tons que atuam no sentido citoplasma ~ vacúolo, que são as Ht-A'IPases e as H''-Pf'ases. No caso de transporte através do tonoplasto, um gradiente protoniônico é criado de dentro para fora (vacúolo ~ citoplasma) (Figura 7). A P-H+-ATPase é uma glicoproteína de aproximadamente 100 kDa com 10 hélices transmembrana (Figura 8), que hidrolisa ATP para gerar um movimento vetorial de H+ em direção ao apoplasrna, criando gradientes de pH e potencial elétrico na membrana, o que viabiliza o transporte de íons e moléculas para dentro ou fora da célula através de sistemas de transporte ativo secundário. As P-H+-ATPase são fortemente inibidas por ortovanada to (HV042.), um íon análogo ao fosfato (HPO/) que compete com o fosfato do ATP pelo sítio de fosforilação de um resíduo de aspartato na enzima. Isso ocorre porque o ortovanadato é muito parecido com a estrutura do fosfato no momento da hidrólise. Essas proteínas são.reguladas pela concentração de substrato, temperatura, pH e íons, entreoutros, e podem ser reversivelmente ativadas ou desativadas por diversos sinais exógenos, como hormônios, luz, ataque de pragas e, ou, patógenos, ete. A regulação das P-H+-ATPases é mediada por um domínio auto-inibitório localizado na extremidade NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 126 MANLIO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA Figura 7. Sistemas de transporte de íons na célula: (1) P-H+ -ATPase; (2) transportador de nitra to (simporte com 2 H+); (3) canal iônico: (4) V-H+-ATPase; (5) P-H+-PPase; e (6) transportador de nitrato (simporte com 1 H+). Citosso! ---Ação da FC Figura 8. Forma estendida da P-H+-ATPase, destacando as 10 hélices transmembranas, domínio de hidrólise do ATP e ação da fusicocina (FC) na extremidade auto-inibitória C-terminal, ativando irreversivelmente a enzima. Fonte: Adaptado de Azevedo (2006). C-terminal da cadeia polipeptídica (face citossólica), que atua na regulação da atividade hidrolítica desta proteína. Essa regulação pode também ser resultado da ação de quinases ou fosfatases, que podem adicionar ou remover grupos fosfato nos resíduos de serina ou treonina presentes no domínio auto-inibitório da enzima (Figura 8). A fosforilação desses resíduos e a ligação da proteína regulatória 14-3-3 resultam na ativação da enzima. O complexo H+-P-ATPase-14-3-3pode ser observado em plantas tratadas com fusicocina, uma toxina produzida pelo fungo Fusicoccum amygdali. A fusicocina liga-se ao complexo H+-P-ATPase-14-3-3e o estabiliza, ativando dessa forma, irreversivelmente, a enzima (Figuras 8 e 9). NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 127 (a) 0.8 CONTROlE 0.6 ~ o E 0.4 E +:,.: 0.2 (b) (c) .--------------------,--------------------,--------------------,300 FUSICOCINA 50 200 ~ o 150 E :::t 100 + I QO o o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 o 2 4 6 B 10 12 14 16 18 20 22 24 Tempo, h Figura 9. Efeito do vanadato (inibidor) e da fusicocina (estimulante) na atividade das H+-ATPase nas raízes de arroz. (a) controle; (b) com vanadato há uma completa inibição da extrusão de H+ e, conseqüentemente, não há queda na concentração externa de K+ (influxo de K+);e (c) ao contrário, a fusicocina aumenta a extrusão de H+e a absorção de K+. Fonte: Bucher et aI. (2006). A H+-ATPase vacuolar, ou V-H+-A'TPase, é uma enzima que acidifica compartimentos intracelulares e está localizada não apenas no tonoplasto, mas também no retículo endoplasmático (RE), provacúolos, membrana plasmática e outras membranas da via secretória. Essas enzimas diferem tanto estrutural quanto funcionalmente das P-H+- ATPases de plasmalema (Figuras 8 e 10). A V-ATPase é estruturalmente mais relacionada às F-ATPases (ou FIFo ATP-sintase), que normalmente funcionam na síntese de ATP em mitocôndrias, cloroplastos e bactérias. A V-ATPase usa a energia liberada durante a hidrólise do ATP para bombear pró tons para o interior do lúmen vacuolar, criando, portanto, um gradiente de potencial eletroquímico, e a força próton motriz para uma variedade de eventos de transporte de íons e metabólitos. Dessa forma, a H+-V-ATPase gera um gradiente de pH através do tonoplasto, explicando o fato de o pH vacuolar ser tipicamente de 3 a 6, enquanto o pH docitossol se encontra por volta de 7,5. A V-ATPase é composta de dois domínios estruturais. °domínio periférico (VI) é um complexo de 640 kDa responsável pela hidrólise de ATP e contém oito diferentes subunidades (A-H) de massa molecular entre 13 e 70 kDa com a estequiometria A3B3CDEFG2HI_2'°domínio integral (Vo) é um complexo de 260 kDa responsável pela translocação de pró tons, sendo composto de cinco subunidades (a, b, c, c', c") com massa molecular entre 17 e 100 kDa na estequiometria abc'ctc, (Kawasaki-Nishi et a1.,2003). A subunidade "ao forma dois hemicanais em comunicação com os lados citoplasmáticos e o lúmen vacuolar e é provavelmente o local por onde os pró tons passam. Muitos estudos sobre a função fisiológica dessas proteínas têm sido possíveis graças à existência de inibidores específicos das V-ATPases, como a bafilomicina A" Esse antibiótico inibe a atividade da V-ATPases de diferentes organismos em concentrações na faixa de nmol L-I. A ação da bafilomicina AI se dá pela ligação desse inibidor ao setor V01 impedindo o fluxo de prótons através do canal de prótons da enzima. As V-H+-ATPases são também inibidas pela presença de N03- no citosso1. Esta característica é importante no metabolismo de N nas plantas. NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 128 MANLlO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA Figura 10. Modelo rotacional de funcionamento das V-H+-ATPases. Fonte: Azevedo (2006), adaptado de Kawasaki-Nishi et al. (2003). Outro tipo de bomba de prótons, a Ht-Pf'ase, trabalha paralelamente às V-ATPases para gerar um gradiente de prótons através do tonoplasto. A Ht-Pf'ase é composta de um único polipeptídio com massa molecular em torno de 80 kDa, com tamanho aparente em gel de poliacrilamida de 67 a 73 kDa. A Ht-Pl'ase é a única bomba de prótons que utiliza um substrato de baixo custo energético, o pirofosfato (PPi), sendo este produto gerado por vários processos biossintéticos de macromoléculas, como proteína, DNA, RNA, celulose, entre outras. É comumente aceito que o requerimento diferenciado de energia entre as V- H+- ATPases e as H''-Pl-ases pode prover a plasticidade energética necessária para a manutenção da homeostase celular numa ampla faixa de condições metabólicas. Por exemplo, tem sido argumentado que H'-Pf'ase é a bomba predominante em tecidos jovens que contêm elevado conteúdo de pirofosfato oriundo das altas atividades biossintéticas desses tecidos. Além disso, a atividade das Ht-Pf'ases nas células em crescimento ajuda a conservar o ATP, que é moeda corrente de energia na célula. A síntese de Ht-Pl'ase vacuolar em determinadas plantas pode ser induzida por carência de Pi, anoxia ou frio. Portanto, propõe-se que esta enzima deva funcionar como um sistema para garantir a manutenção das funções essenciais da célula sob condições em que a produção de energia metabólica (ATP) é reduzida pela inibição do processo respiratório. A geração de um gradiente protoniônico, no caso da plasmalema, é fundamental para o transporte simultâneo (simporte) de um íon e de um próton, como no caso do transporte de nitrato (N03'j2H+), ou para o transporte de nitrato do vacúolo para o citoplasma (N03'jH+) (Figura 7). Gradientes protoniônicos são também essenciais para o transporte (simporte) de açúcares e de aminoácidos em plantas, Os transportadores de íons (carreadores) podem transportar íons através da plasmalema a-favor de um gradiente de potencial eletroquímico (transporte passivo) sem troca por outra espécie iônica de mesma carga (uniporte), ou permitir a troca de uma NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 129 espécie iônica de um sinal por outra de mesmo sinal (antiporte). O transporte de Na+ para fora da célula através da plasmalema, em troca de um H+,é um exemplo de transporte do tipo antiporte. O transporte de K+(de fora para dentro) é um exemplo de transporte unidirecional (uniporte) (Figura 11). Os transportadores podem também fazer o transporte ativo de íons (contra um gradiente de potencial eletroquímico) em sistemas de co-transporte (simporte) em que o íon a ser transportado (cátion ou ânion) entra na célula contra o seu gradiente de potencial eletroquímico. A energia para esse processo é obtida com a entrada simultânea de outro íon, este sim entrando a favor do seu gradiente de potencial eletroquímico. A atividade das H+-P-ATPasesgera um gradiente de pró tons Ó/LH+entre o exterior e o interior da célula. Esse acúmulo de H+no exterior da célula cria um potencial, com tendência de o H+voltar ao interior eletronegativo da célula. Isso gera, na verdade, uma força próton motriz Óp. A força próton motriz está relacionada ao potencial da membrana 'l' e à diferença de pH (ÓpH) entre os meios interno (citossol) e externo (espaço livre): óp = ó'l' - 2,303 RTjF. ópH (R=constante dos gases;T = temperatura absoluta; F = constante de Faraday). A 25°C, ter-se-à: Óp= ó'l' - 59 ópH Por exemplo: com o potencial de membrana em -110 mV e a diferença entre o pH externo e o pH interno (ÓpH)de 2,0, obtém-se: óp = -228 mV É esta força próton motriz (Óp)que energiza o transporte de outros íons, que, por seu gradiente de potencial eletroquímico, têm que ser absorvidos ativamente, mas que não dispõem de um sistema ativo primário (tipo bomba iônica) para transporte. Citossol pH 7,2 / R-COa'I eco 1\ H2POi NO .-+--,......... w ":1. I iATP (~I'W) H* H'" • H+ H+ H* W ADP+Pi W Apoplasma pH 5,5 R-COa' R-COa' I coo R-COa' Figura 11. Geração de gradiente de pró tons (f'../lH+) através da plasmalema. NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 149 TRANSLOCAÇÃO DE NUTRIENTES Os nutrientes, após deslocamento por via simplástica ou apoplástica, alcançam as células do parênquima vascular, e um processo inverso tem lugar, com o efluxo dos nutrientes para o espaço livre da área estelar. Esses nutrientes e a água seguem então via xilema para a parte aérea das plantas, onde são novamente depositados no espaço livre das células. Para participar do metabolismo celular, esses nutrientes precisam atravessar novamente a barreira da plasmalema (Figura 22). A saída de cátions e ânions das células do parênquima estelar para o apoplasma e, conseqüentemente, o xilema requer o funcionamento de canais iônicos tanto para cátions, como já foi mostrado para K+, como para ânions. Canais de efluxo de ânions podem ser ativados por hiperpolarização da plasmalema. É possível, entretanto, que canais para cátions e ânions atuem simultaneamente (Roberts, 2006). Tem-se agora uma visão de conjunto do sistema de aquisição de nutrientes pelas plantas via sistema radicular: os nutrientes são absorvidos via plasmalema das células da epiderme, do córtex ou dos pêlos radiculares, que, do ponto de vista do conjunto (trans-root), podem ser classificadas como células periféricas; internamente estão as células estelares, que atuam na liberação dos nutrientes para o apoplasma estelar e vasos do xilema (Roberts, 2006). Nutrientes como o H2P04- e K+são absorvidos por células da epiderme e do córtex, respectivamente, via canais iônicos e transportadores (Figura 22). Circulando via plasmodesmas, esses íons ultrapassam a barreira da endoderme e alcançam as células do parênquima estelar. Nas células do parênquima estelar, esses nutrientes são passíveis de efluxo e podem se deslocar para o apoplasma, seguindo para o xilema, acompanhando o fluxo de água. Via xilema, os nutrientes alcançam a parte aérea das plantas, ou outras partes (incluindo raízes em crescimento), que podem funcionar como drenos (Fernandes & Souza, 2004). Na parte aérea, os nutrientes encontram-se num espaço que seria o equivalente ao espaço livre das raízes. Novamente, precisam deslocar-se através de macro e microporos, vencer as barreiras dos espaços de Donnan e alcançar a plasmalema das células, onde podem ser transportados para o citossol. Os nutrientes assim absorvidos podem entrar no metabolismo celular, ou ser deslocados por via simplástica em direção aos vasos condutores. Em alguns casos, conexões podem ser estabelecidas com as células companheiras, mas o mais provável é que esses nutrientes, juntamente com produtos do metabolismo celular, sofram efluxo para o apoplasma e depois voltem a ser absorvidos, via transportadores, através da plasmalema das células companheiras. A partir daí, alguns nutrientes podem se deslocar diretamente, via floema, na direção dos drenos. Outros nutrientes, entretanto, apenas após passarem por transformações (assimilação) são deslocados no floema (Figura 22). °deslocamento de íons pode ser feito como pares iônicos. Por exemplo, o N03- e o K+deslocam-se juntos no xilema. No sentido inverso, nutrientes podem também ser translocados via floema (Fernandes & Souza, 2004). No entanto, nem todos os nutrientes NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS 150 MANLIO SILVESTRE FERNANDES & SONIA REGINA SOUZA Fruto/Semente Folha Raiz H' K- ~ __ ~!~~~ __ ~"~==~ Raiz Xilema Floema OI3eOH-111 K- 1M!. K-I(> dlula Parênquina Parênqulna Companheira Estrias de Caspary Figura 22_Esquema da circulação dos nutrientes desde sua absorção por células epidérrnicas ou corticais; circulação no xilema e no floema; e redistribuição entre células da parte aérea e da raiz. Fonte: Modificado a partir de Sondergaard et al, (2004). conseguem se deslocar no floema em forma iônica, O 03., por exemplo, não se desloca no floema. O N é geralmente movimentado no floema como aminoácidos ou amidas. O K+,por sua vez, desloca-seno floema e, como aconteceno transporte no xilema,geralmente o faz em companhia de um ânion - neste caso, de ácidos orgânicos (R-COa) O resultado dessa mobilidade é o fenômeno da "recirculação do K+" entre raiz-parte aérea-raiz. OCa, S e Fe, que também são transportados para a parte aérea, via xilema, ao contrário do K+, não circulam no floema. O Ca e Fe são particularmente pouco móveis na planta. Uma vez localizados em um tecido vegetal, não são mais remobilizados para outra parte da planta. É conhecido um tipo de clorose chamada "clorose de topo", característica de deficiência de Fe. Isso ocorre porque o Fe não se desloca das folhas mais velhas para as mais novas. Como resultado, são as folhas mais novas que apresentam clorose. No caso de elementos de grande mobilidade, como o N, sua deficiência gera clorose das folhas mais velhas, que perdem o nutriente em uma relação fonte-dreno (Fernandes & Souza, 2004). Em todo esse processo ao longo da via de absorção, translocação e efluxo há uma demanda de energia, principalmente via ativação das Ht-A'Tf'ases, para a absorção de nutrientes, seja nas células da epiderme, do córtex da raiz, ou nas células de folhas, bainhas e caule. O processo como um todo resulta, portanto, em um custo energético, NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS v - ABSORÇÃO DE NUTRIENTES principalmente para a geração de gradiente de potencial entre os compartimentos da célula e o apoplasma. Após o deslocamento no floema, sempre no sentido fonte-dreno, os nutrientes podem seguir por via simplástica para as células dos frutos ou sementes, ou para células em crescimento, nas raízes. Ocorre então uma última etapa de efluxo (para o apoplasma) e nova absorção, desta vez para as células do destino final (Figura 22). LITERATURA CITADA AZEVEDO, L. Absorção e rernobilização de N03· em arroz (Oryzn saiioa L.): Atividade das bombas de pró tons e a dinâmica do processo. Seropédica, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006. 94p. (Tese de Mestrado) BAPTISTA, J.A.; FER A DES, M.5. & SOUZA, S.R. Morfologia do sistema radicular e cinética de absorção de nutrientes em duas variedades de arroz. Pesq. Agrop c. Bras., 35:1325- 1330,2000. BUCHER, CA.; SOUZA, R.5. & FERNA DES, M.5. Effects of Fusicoccin and Vanadate on proton extrusion and potassium uptake by rice. J. Plant Nutr., 29:485-496, 2006. CLAASSEN, N. & BARBER, S.A.A. Method for characterizing the relation between nutrient concentration and flux into roots of intact plants. Plant Physiol., 54:564-568, 1974. EPSTEIN, E. & BLOOM, A.I. Mineral nutrition of plants: Principies and perspectives. 2.ed. 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