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Apostila de Princípios de Economia Macroeconomia Prof. Mateus C. Gerolamo Departamento de Engenharia de Produção EESC/USP São Carlos, 2011 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Sumário EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo i Conteúdo PARTE I – FUNDAMENTOS BÁSICOS DE ECONOMIA ......................................................................................... 1 1. Introdução ..................................................................................................................................................... 2 2. Pensando como um Economista ................................................................................................................... 5 Nosso Primeiro Modelo: O Diagrama do Fluxo Circular ................................................................................ 5 Segundo Modelo: A Fronteira de Possibilidades de Produção ..................................................................... 6 Microeconomia x Macroeconomia................................................................................................................ 8 O Economista como Conselheiro de Políticas ............................................................................................... 8 Por que os Economistas Divergem? .............................................................................................................. 9 Importância das Interpretações de Relações Econômicas ............................................................................ 9 3. Interdependência e Ganhos Comerciais ...................................................................................................... 10 4. O Comportamento da Oferta e da Demanda .............................................................................................. 11 As Forças de Mercado da Oferta e da Demanda ......................................................................................... 11 Mercados e Competição .............................................................................................................................. 12 Demanda ..................................................................................................................................................... 12 Deslocamento da Curva de Demanda ......................................................................................................... 13 Oferta........................................................................................................................................................... 14 Deslocamento da Curva de Oferta .............................................................................................................. 14 Oferta e Demanda Reunidas ....................................................................................................................... 15 Três Passos para Analisar Mudanças no Equilíbrio ..................................................................................... 16 Deslocamento das Curvas versus Movimento ao Longo Delas ................................................................... 16 Como os Preços Alocam os Recursos .......................................................................................................... 17 5. Elasticidade e sua Aplicação ........................................................................................................................ 18 A Elasticidade-Preço da Demanda ............................................................................................................... 18 Receita Total ................................................................................................................................................ 19 A Elasticidade-Preço da Oferta .................................................................................................................... 19 6. Oferta, Demanda e Políticas do Governo .................................................................................................... 20 7. Consumidores, Produtores e Eficiência dos Mercados ............................................................................... 21 8. Os Custos da Tributação .............................................................................................................................. 23 9. Comércio Internacional ............................................................................................................................... 25 Referências Parte I ........................................................................................................................................... 26 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Sumário EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo ii PARTE II – RENDA NACIONAL: PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO e ALOCAÇÃO ...................................................... 27 1. Introdução ................................................................................................................................................... 28 2. Renda e Despesa da Economia .................................................................................................................... 29 O Diagrama do Fluxo Circular: Renda e Despesa ........................................................................................ 29 Mensuração do Produto Interno Bruto (PIB) .............................................................................................. 31 3. Produto Interno Bruto (PIB) ........................................................................................................................ 32 Os Componentes do PIB .............................................................................................................................. 32 PIB Real versus PIB Nominal ........................................................................................................................ 33 O Deflator do PIB ......................................................................................................................................... 35 Exemplo Numérico de Cálculo do PIB e do Deflator ................................................................................... 35 PIB e Bem-Estar Econômico ......................................................................................................................... 36 Algumas Limitações na Utilização do PIB como Medida de Bem-Estar Econômico .................................... 36 Outras Medidas de Renda ........................................................................................................................... 37 4. Medindo o Custo de Vida ............................................................................................................................ 38 O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ..................................................................................................... 38 Exemplo de Cálculo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ................................................................... 39 Problemas no Cálculo do Custo de Vida ...................................................................................................... 39 Corrigindo as Variáveis Econômicas dos Efeitos da Inflação ....................................................................... 40 Taxa de Juros Reais e Nominais ................................................................................................................... 40 5. Produção e Crescimento ............................................................................................................................. 41 PIB per Capita .............................................................................................................................................. 42 Produtividade ..............................................................................................................................................43 Produtividade versus Políticas Econômicas ................................................................................................. 44 Conclusão – A Importância do Crescimento no Longo Prazo ...................................................................... 48 6. Poupança, Investimento e Sistema Financeiro............................................................................................ 49 7. Desemprego e sua Taxa Natural .................................................................................................................. 52 Identificando o Desemprego ....................................................................................................................... 52 Procura de Emprego .................................................................................................................................... 55 Conclusões quanto ao Desemprego e sua Taxa Natural ............................................................................. 57 Referências Parte II .......................................................................................................................................... 58 PARTE III – A MOEDA: NATUREZA, OFERTA e PROCURA ................................................................................. 59 1. Introdução ao O Sistema Monetário ....................................................................................................... 60 2. O Significado da Moeda ........................................................................................................................... 61 As Funções da Moeda .................................................................................................................................. 61 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Sumário EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo iii Tipos de Moeda ........................................................................................................................................... 62 Moeda Fiduciária* (Papel Moeda) .......................................................................................................... 62 Outros Tipos de Moeda ............................................................................................................................... 63 Moeda na Economia – Estoque de Moeda ................................................................................................. 63 A Lei de Gresham (Sir Thomas Gresham: 1519 – 1579) .......................................................................... 65 3. O Sistema Bancário .................................................................................................................................. 66 Bancos ......................................................................................................................................................... 66 Tipos de Bancos, Operações e Funcionamento........................................................................................... 66 Tipos de Bancos ....................................................................................................................................... 66 Operações ................................................................................................................................................ 67 Funcionamento ........................................................................................................................................ 68 O Sistema do Banco Central ........................................................................................................................ 68 Banco Central do Brasil (BC / BACEN) ......................................................................................................... 68 O Conselho Monetário Nacional (C.M.N.) ................................................................................................... 69 Os Bancos e a Oferta de Moeda .................................................................................................................. 70 O Multiplicador da Moeda ...................................................................................................................... 70 4. Instrumentos de Política Monetária ........................................................................................................ 71 Os Instrumentos de Controle Monetário – O Banco Central ...................................................................... 71 Principais Títulos Públicos ........................................................................................................................... 72 Os Instrumentos de Controle Monetário – Federal Reserve (EUA) ............................................................. 72 Problemas com o Controle da Oferta de Moeda ........................................................................................ 73 5. O Crescimento da Moeda e da Inflação .................................................................................................. 74 6. Teoria Clássica da Inflação ....................................................................................................................... 75 O Nível de Preços e o Valor da Moeda ........................................................................................................ 75 Oferta de Moeda, Demanda de Moeda e Equilíbrio Monetário ................................................................. 76 Como a Oferta e a Demanda de Moeda Determinam o Nível de Preços de Equilíbrio?............................. 76 Os Efeitos de uma Injeção de Moeda .......................................................................................................... 77 Uma Breve Olhada no Processo de Ajuste .................................................................................................. 78 A Dicotomia Clássica e a Neutralidade Monetária ...................................................................................... 78 Velocidade e Equação Quantitativa ............................................................................................................ 79 O Imposto Inflacionário ............................................................................................................................... 80 O Efeito Fischer ............................................................................................................................................ 80 7. Os Custos da Inflação............................................................................................................................... 82 Custos da Sola de Sapato ............................................................................................................................. 82 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Sumário EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo iv Custos de Menu ........................................................................................................................................... 83 Custos da Alocação Distorcida de Recursos ................................................................................................ 83 Custos de Distorções Tributárias ................................................................................................................. 83 Custos de Confusão e Inconveniência ......................................................................................................... 84 Referências Parte III ......................................................................................................................................... 85 PARTE IV – MACROECONOMIA e FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS ....................................................................... 86 1. Demanda Agregada e Oferta Agregada ...................................................................................................87 Introdução à Demanda Agregada e Oferta Agregada ................................................................................. 87 Três Fatos-Chave sobre Flutuações Econômicas ......................................................................................... 88 Flutuações Econômicas no Curto Prazo ...................................................................................................... 89 Como o Curto Prazo Difere do Longo Prazo ............................................................................................ 89 O Modelo Básico das Flutuações Econômicas ......................................................................................... 90 A Curva de Demanda Agregada ................................................................................................................... 91 A Curva de Oferta Agregada no Longo Prazo .............................................................................................. 92 Uma nova maneira de representar o crescimento e a inflação no longo prazo ..................................... 94 A Curva de Oferta Agregada no Curto Prazo ............................................................................................... 94 Duas Causas das Flutuações Econômicas .................................................................................................... 97 Os Efeitos de um Deslocamento na Demanda Agregada ........................................................................ 98 Os Efeitos de um Deslocamento na Oferta Agregada ............................................................................. 99 As Origens da Demanda Agregada e da Oferta Agregada ......................................................................... 101 2. A Influência das Políticas Monetária e Fiscal Sobre a Demanda Agregada ........................................... 102 Como a Política Monetária Influencia a Demanda Agregada .................................................................... 102 Teoria da Preferência pela Liquidez ...................................................................................................... 103 Análise do Efeito da Taxa de Juros sobre a Demanda Agregada ........................................................... 104 Variações na Oferta de Moeda .............................................................................................................. 105 Como a Política Fiscal Influencia a Demanda Agregada ............................................................................ 106 Alterações nas Compras do Governo .................................................................................................... 106 Alterações nas Compras do Governo – O Efeito Multiplicador ............................................................. 107 Alterações nas Compras do Governo – O Efeito Deslocamento ........................................................... 108 Alterações nos Impostos ....................................................................................................................... 108 Utilizando a Política para Estabilizar a Economia ...................................................................................... 110 Utilizando a Política para Estabilizar a Economia (A Favor) .................................................................. 110 Utilizando a Política para Estabilizar a Economia (Contra) .................................................................... 110 3. O Trade-off entre Inflação e Desemprego no Curto Prazo .................................................................... 112 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Sumário EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo v A Curva de Phillips ..................................................................................................................................... 112 Demanda Agregada, Oferta Agregada e a Curva de Phillips ................................................................. 113 Deslocamentos da Curva de Phillips: O Papel das Expectativas ................................................................ 115 A Curva de Phillips no Curto Prazo ........................................................................................................ 116 O Custo de Reduzir a Inflação .................................................................................................................... 117 Considerações Finais ................................................................................................................................. 118 Referências Parte IV ...................................................................................................................................... 119 PARTE V – ESPECIAL MICROECONOMIA: COMPORTAMENTO DA EMPRESA e ORGANIZAÇÃO DA INDÚSTRIA – OS CUSTOS DE PRODUÇÃO ......................................................................................................................... 120 1. Introdução ............................................................................................................................................. 121 2. O Que São Custos .................................................................................................................................. 123 Custos como Custos de Oportunidade ...................................................................................................... 123 O Custo do Capital como Custo de Oportunidade .................................................................................... 125 Lucro Econômico versus Lucro Contábil .................................................................................................... 126 3. Produção e Custos ................................................................................................................................. 127 A Função Produção .................................................................................................................................... 127 Produto Marginal....................................................................................................................................... 127 Produto Marginal Decrescente ................................................................................................................. 127 Da Função Produção à Curva de Custo Total ............................................................................................ 129 4. As Diversas Medidas do Custo ............................................................................................................... 131 Custos Fixos e Variáveis ............................................................................................................................. 132 Custo Médio e Marginal ............................................................................................................................ 132 Curvas de Custos e Suas Formas ............................................................................................................... 134 Curvas de Custos Típicas ............................................................................................................................ 136 5. Custos no Curto e Longo Prazos ............................................................................................................ 138 Economias e Deseconomias de Escala ...................................................................................................... 139 6. Considerações Finais ............................................................................................................................. 141 Referências Parte V ....................................................................................................................................... 142 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de ProduçãoMacroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 1 PARTE I – FUNDAMENTOS BÁSICOS DE ECONOMIA SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 2 1. Introdução Economia é o estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos. Os Economistas analisam as forças e tendências que afetam a economia como um todo, incluindo: ◦ O crescimento da renda média; ◦ A parcela da população que não consegue encontrar trabalho; ◦ A taxa à qual os preços estão subindo. Um dos objetivos do estudo da economia é ajudar você a julgar quando uma política governamental é justificável para promover a eficiência (tamanho do bolo) e a eqüidade (como o bolo é dividido) e quando não é. A seguir estão listados 10 Princípios de Economia que nos ajudam a entender de forma simplificada como a Economia funciona: 1. As pessoas enfrentam trade-offs: ◦ Um objetivo em detrimento de outro. “Para cada escolha, uma (ou mais) renúncia(s)”. 2. O custo de alguma coisa é aquilo de que você desiste para obtê-la: ◦ “Custo de oportunidade”. 3. As pessoas racionais pensam na margem: ◦ “Mudanças marginais”. Benefício marginal maior do que o custo marginal. 4. As pessoas reagem a incentivos: ◦ Se os incentivos (custos x benefícios) mudam, os comportamentos das pessoas também mudam. 5. O comércio pode ser bom para todos: ◦ Pessoas e países beneficiam-se ao comerciar uns com os outros. Especialização naquilo que se é melhor e desfrutar de uma maior variedade de bens e serviços. 6. Os mercados são geralmente uma boa maneira de organizar a atividade econômica: ◦ “Mão invisível” de Adam Smith, 1776. 7. Às vezes os governos podem melhorar os resultados dos mercados: SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 3 ◦ Proteção do Governo à “mão invisível”, ou seja, proteção e garantia de direitos, promoção da eficiência e eqüidade. Distorções: “falha de mercado”, “externalidades”, e “poder de mercado”. 8. O padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços: ◦ As grandes diferenças de padrão de vida entre países e ao longo do tempo podem ser atribuídas a diferenças de “produtividade”. A taxa de crescimento da produtividade de um país determina a taxa de crescimento de sua renda média. Para elevarem os padrões de vida, os formuladores de políticas precisam elevar a produtividade garantindo que os trabalhadores tenham uma boa educação, disponham das ferramentas de que precisam para produzir bens e serviços e tenham acesso à melhor tecnologia disponível. 9. Os preços sobem quando o governo emite moeda demais: ◦ Um aumento na quantidade de moeda é, na maioria das vezes, o principal responsável pelo aumento de preços (“inflação”). Quando um governo emite grande quantidade de moedas, o valor da moeda diminui. 10. A sociedade enfrenta um trade-off entre inflação e desemprego: ◦ Quando o governo aumenta a quantidade de moedas e gera mais inflação, há uma tendência, pelo menos no curto prazo, a um menor nível de desemprego. Esse trade-off entre inflação e desemprego é representado pela “Curva de Phillips”. A Curva de Phillips é crucial para o entendimento de muitos fenômenos econômicos, como por exemplo, o “ciclo de negócios” (flutuações da atividade econômica). Figura: Dez Princípios de Economia (Mankiw, 2005, cap. 01) SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 4 Os formuladores de políticas podem explorar o trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego usando diversos instrumentos de política. Mudando o montante de gastos do governo, mudando o valor arrecadado de impostos (política fiscal) e mudando o montante de emissões de moeda (política monetária), os formuladores de políticas podem influenciar a combinação de inflação e desemprego que a economia apresenta. Uma vez que esses instrumentos de política fiscal e monetária são potencialmente tão poderosos, a maneira como os formuladores de políticas devem utilizá-los para controlar a economia e mesmo se devem ou não utilizá-los são objeto constante de debate. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 5 2. Pensando como um Economista “Eu sou um cientista social, Michael. Isso quer dizer que eu não sei explicar nada sobre eletricidade ou coisas desse tipo. Mas, se você quiser saber algo a respeito de pessoas, eu sou a pessoa de que você precisa.” Nosso Primeiro Modelo: O Diagrama do Fluxo Circular A economia consiste em milhões de pessoas envolvidas em muitas atividades – comprar, vender, trabalhar, contratar, fabricar, etc. Para entendermos como a economia funciona, precisamos encontrar alguma maneira de simplificar nosso pensamento sobre todas essas atividades. Em outras palavras, precisamos de um modelo que explique, em termos gerais, como a economia está organizada e como seus participantes interagem uns com os outros. Figura: Modelo Visual da Economia chamado de Diagrama do Fluxo Circular (Mankiw, 2005, p. 23) EMPRESAS Produzem e vendem bens e serviços Contratam e utilizam fatores de produção FAMÍLIAS Compram e consomem bens e serviços São proprietárias e vendedoras dos fatores de produção MERCADO DE BENS E SERVIÇOS Empresas vendem Famílias compram MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO Famílias vendem Empresas compram Bens e serviços vendidos Receita Fatores de produção Salários, aluguéis e lucro Trabalho, terra e capital Renda Bens e serviços comprados Gastos = fluxo de insumos e produtos= fluxo de dinheiro SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 6 Figura: Modelo Visual da Economia chamado de Diagrama do Fluxo Circular de Renda II (Gremaud, et al., 2002, p. 58) Segundo Modelo: A Fronteira de Possibilidades de Produção Embora as economias reais produzam milhares de bens e serviços, vamos imaginar uma economia que produza apenas dois bens: carros e computadores. Juntas, as indústrias de carros e de computadores usam todos os fatores de produção da economia. A fronteira de possibilidades de produção é um gráfico que mostra as diversas combinações de produção – neste caso, entre carros e computadores – que a economia pode produzir dados os fatores de produção e a tecnologia produtiva disponíveis que as empresas podem usar para transformar esses fatores em produto. Figura: A Fronteira de Possibilidades de Produção EMPRESAS I Ativos Renda = fluxo de insumos e produtos= fluxo de dinheiro FAMÍLIAS SISTEMA FINANCEIRO Fatores de Produção Poupança Fatores de Produção Bens e serviços Renda Consumo Investimento EMPRESAS II Empréstimos Dívidas Bens de capital 1.000 3.000 Quantidade de Computadores Produzidos Quantidade de Carros Produzidos 300 600 700 2.000 1.000 2.200 A Fronteira de Possibilidades de Produção A fronteira de possibilidades de produção mostra as combinações de produto – neste caso, de carros e computadores – que a economia tem possibilidade de produzir. A economia pode produzir qualquer combinação que se encontre na fronteira ou dentro dela. Pontos além da fronteira (exemplo do ponto D) não são viáveis dados os recursos da economia. Fronteira de possibilidade de produção A B C D Se todos os recursos fossem usados pela indústria de computadores Se todos os recursos fossem usados pela indústria de carros Divisão dos recursos entre as duas indústrias Resultado ineficienteResultado Eficiente SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 7 Um dos dez princípios de economia diz que as pessoas enfrentam trade-offs. ◦ A fronteira de possibilidades de produção mostra um trade-off que a sociedade enfrenta. ◦ Uma vez que tenhamos atingido os pontos de eficiência na fronteira, a única maneira de obter mais de um bem é obtendo menos do outro. Outro dos dez princípios de economia é o de que o custo de uma coisa é aquilo de que desistimos para obtê-la; a isso chamamos custo de oportunidade. ◦ A fronteira de possibilidades de produção mostra que o custo de oportunidade de um bem é medido em termos de outro. ◦ Quando a sociedade realoca alguns fatores de produção da indústria de carros para a indústria de computadores, movendo a economia do ponto A para o ponto C, abre mão de 100 carros para obter 200 computadores a mais. ◦ Em outras palavras, quando a economia está no ponto A, o custo de oportunidade de 200 computadores é 100 carros. A fronteira de possibilidades de produção mostra o trade-off entre a produção de diferentes bens num dado momento, mas o trade-off pode mudar ao longo do tempo, se por exemplo, um avanço tecnológico na indústria de computadores aumentar o número de computadores que um trabalhador é capaz de produzir em um intervalo de tempo. Como resultado, a fronteira de possibilidades de produção se desloca para fora, desfrutando de mais computadores e mais carros. Figura: A Fronteira de Possibilidades de Produção (deslocamento) 1.000 3.000 Quantidade de Computadores Produzidos Quantidade de Carros Produzidos 750700 2.000 2.100 Um Deslocamento da Fronteira de Possibilidades de Produção Um avanço econômico / tecnológico na indústria de computadores desloca a fronteira de possibilidades de produção para fora, aumentando o número de carros e computadores que a sociedade pode produzir. A E 4.000 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 8 Microeconomia x Macroeconomia O campo da economia divide-se tradicionalmente em dois amplos subcampos. A microeconomia é o estudo de como as famílias e empresas tomam decisões e de como elas interagem em mercados específicos. A macroeconomia é o estudo de fenômenos que englobam toda a economia. Um microeconomista pode estudar os efeitos de controle de aluguéis sobre os imóveis residenciais em uma grande cidade, o impacto da competição estrangeira sob a indústria automobilística nacional ou os efeitos da freqüência escolar obrigatória sobre os ganhos dos trabalhadores. Um macroeconomista pode estudar os efeitos de empréstimos feitos pelo governo federal, as mudanças da taxa de desemprego ao longo do tempo ou políticas alternativas para promover a elevação do padrão de vida nacional. Apesar da ligação inerente entre microeconomia e macroeconomia, os dois campos são distintos. O Economista como Conselheiro de Políticas Muitas vezes, pede-se que os economistas expliquem as causas de acontecimentos econômicos. Quando tentam explicar o mundo, os economistas são cientistas. Quando tentam ajudar a melhorar a situação, são conselheiros políticos. Em geral, as declarações a respeito do mundo são de dois tipos: declarações positivas são descritivas, afirmações a respeito de como o mundo é; declarações normativas são prescritivas, tratam de como o mundo deveria ser. Ao estudar economia, é sempre importante ter me mente a distinção entre declarações positivas e normativas. Grande parte da teoria econômica apenas tenta explicar como e economia funciona. No entanto, o objetivo da teoria econômica é, muitas vezes, melhorar a maneira como a economia funciona. Quando se escuta economistas fazendo declarações normativas, é preciso saber que eles cruzaram a linha, passando de cientistas a conselheiros políticos. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 9 Por que os Economistas Divergem? Por que os economistas aparecem tão freqüentemente dando conselhos conflitantes aos formuladores de políticas? Há dois motivos básicos: ◦ Os economistas podem discordar quanto à validade de teorias positivas alternativas sobre o funcionamento do mundo. ◦ Os economistas podem ter valores diferentes e, portanto, visões normativas diferentes sobre que políticas devem ser realizadas. No entanto é possível listar dez proposições sobre as quais a maioria dos economistas concorda: Quadro: Dez proposições sobre as quais a maioria dos economistas concorda Fonte: Richard M. Alston, J. R. Kearl & Michael B. Vaughn. Is there consensus among Economists in the 1990s? American Economic Review, may 1992, pp. 203-209. (Mankiw, 2005, p. 32) Importância das Interpretações de Relações Econômicas Não há um conjunto completo de regras na Economia que nos diga com exatidão quando é correto extrair conclusões causais de dados, informações e gráficos. Mas ter em mente que isqueiros não causam câncer (variável omitida – número de fumantes) e que minivans não fazem aumentar o tamanho das famílias (causalidade reversa) impedirá que nos deixemos enganar por muitos argumentos econômicos falhos. 1. Estabelecer um teto para os aluguéis reduz a quantidade e a qualidade das moradias disponíveis. 2. Tarifas e cotas de importação costumam reduzir o bem-estar econômico geral. 3. Taxas de câmbio flexíveis e flutuantes são uma proposição que permite um arranjo monetário internacional eficaz. 4. A política fiscal (por exemplo, cortes de impostos e/ou aumento dos gastos do governo) tem efeitos estimulantes significativos sobre uma economia que esteja abaixo do pleno emprego. 5. O orçamento federal deve ser equilibrado durante o ciclo de negócios, não anualmente. 6. Os pagamentos em dinheiro aumentam o bem-estar dos beneficiários mais do que as transferências em mercadorias de igual valor monetário. 7. Um grande déficit orçamentário federal tem efeitos adversos sobre a economia. 8. O salário mínimo aumenta o desemprego entre trabalhadores jovens e não qualificados. 9. O governo deveria reestruturar o sistema de assistência social nos moldes de um “imposto de renda negativo” 10. Os impostos sobre efluentes e as permissões para poluição negociáveis são uma abordagem melhor ao controle de poluição do que a imposição de tetos à poulição. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 10 3. Interdependência e Ganhos Comerciais Um dos dez princípios que destacamos é o de que o comércio pode ser bom para todos. Esse princípio explica por que as pessoas comerciam com seus vizinhos e por que os países comerciam com outros países. O comércio pode beneficiar a todos os membros da sociedade porque permite que as pessoas se especializem em atividades nas quais têm uma vantagem comparativa. Os economistas usam o termo vantagem absoluta quando comparam a produtividade de uma pessoa, empresa ou nação com a de outra. Diz-se que o produtor que precisa de uma quantidade menor de insumos para produzir um bem tem uma vantagem absoluta na produção desse bem. Os economistas usam o termo vantagem comparativa para descrever o custo de oportunidade de dois produtores. O produtor que abre mão de menor quantidade de outros bens para produzir o bem X tem menor custo de oportunidade de produção desse bem e diz-se, portanto, que desfruta de uma vantagem comparativa na sua produção. Embora seja possível que uma pessoa, empresa ou nação tenha vantagem absoluta nos dois bens, é impossível que tenha vantagem comparativa nos dois bens. Como o custo de oportunidade de um bem é inverso ao custo de oportunidadede outro, se o custo de oportunidade de uma pessoa, empresa ou nação para um bem é relativamente alto, seu custo de oportunidade para outro bem tem que ser relativamente baixo. A vantagem comparativa reflete o custo de oportunidade relativo. A menos que duas pessoas, empresas ou nações tenham exatamente o mesmo custo de oportunidade, uma delas terá vantagem comparativa em um bem e a outra terá vantagem comparativa em outro bem. O princípio da vantagem comparativa afirma que cada bem deve ser produzido pelo país que tem o menor custo de oportunidade para produzi-lo. É importante entender que, embora o comércio internacional seja benéfico para o país como um todo, ele pode piorar a situação para algumas pessoas / grupos com interesses específicos. Mas, ao contrário de opiniões proferidas por políticos e comentaristas políticos, o comércio internacional não é uma guerra em que alguns países ganham e outros perdem. O comércio permite que todos os países atinjam maior prosperidade. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 11 4. O Comportamento da Oferta e da Demanda As Forças de Mercado da Oferta e da Demanda Oferta e Demanda são duas palavras que os economistas usam mais freqüentemente – e com boas razões. A oferta e a demanda são as forças que fazem as economias de mercado funcionar. São elas que determinam a quantidade produzida de cada bem e o preço pelo qual o bem será vendido. Se quiser saber como a economia será afetada por qualquer acontecimento ou política, é preciso pensar, primeiro, em seus impactos sobre a oferta e a demanda. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 12 Mercados e Competição Os termos oferta e demanda referem-se ao comportamento das pessoas enquanto interagem uma com as outras nos mercados. Um mercado é um grupo de compradores e vendedores de um determinado bem ou serviço. Os compradores, como grupo, determinam a demanda pelo produto e os vendedores, também como grupo, determinam a oferta do produto. Os mercados perfeitamente competitivos são definidos por duas características fundamentais: ◦ Os bens oferecidos para a venda são todos iguais; ◦ Os compradores e vendedores são tão numerosos que nenhum deles é capaz de, individualmente, influenciar o preço do mercado. Como os compradores e vendedores dos mercados perfeitamente competitivos precisam aceitar o preço que o mercado determina, são chamados de tomadores de preços. Há mercados em que o conceito de competição perfeita se aplica perfeitamente (mercado de trigo, por exemplo). Mas nem todos os bens e serviços são negociados em mercados perfeitamente competitivos. Demanda Quantidade demandada é negativamente relacionada com o preço. Lei da demanda: com tudo o mais mantido constante, quando o preço de um bem aumenta, sua quantidade demandada diminui. A demanda de mercado é a soma de todas as demandas individuais por um determinado produto ou serviço. Como estamos interessados em analisar como os mercados funcionam, trabalharemos com mais freqüência com a curva de demanda de mercado. A curva de demanda de mercado mostra como a quantidade total demandada de um bem varia conforme seu preço varia, enquanto todos os demais fatores que afetam a quantidade que os consumidores desejam comprar são mantidos constantes. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 13 Figura: Curva de Demanda Deslocamento da Curva de Demanda São muitas as variáveis que podem deslocar a curva de demanda. As mais importantes são: ◦ Renda se a demanda por um bem diminui quando a renda cai, o bem é chamado bem normal; se a demanda, por outro lado, aumenta quando a renda cai, o bem é chamado bem inferior. ◦ Preços dos bens relacionados quando uma queda do preço de um bem reduz a demanda por outro bem, os dois bens são chamados de substitutos. quando uma queda do preço de um bem causa aumento da demanda de outro, os dois bens são chamados de complementares. ◦ Gostos ◦ Expectativas ◦ Número de compradores Preço Quantidade Demandada Curva de Demanda: Conforme o preço de um bem aumenta de $ 3,00 para $ 8,00, a demanda diminui de 93 para 27 unidades. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 14 Todas essas variáveis podem deslocar a curva de demanda, enquanto a variável “preço” representa um movimento ao longo da curva de demanda. Oferta Quantidade ofertada é positivamente relacionada com o preço. Lei da oferta: com tudo o mais mantido constante, quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem também aumenta. A oferta de mercado é a soma de todas as ofertas individuais de um determinado produto ou serviço. Como estamos interessados em analisar como os mercados funcionam, trabalharemos com mais freqüência com a curva de oferta de mercado. A curva de oferta se inclina para cima porque, com tudo o mais mantido constante, um preço maior significa uma quantidade ofertada maior. Figura: Curva de Oferta Deslocamento da Curva de Oferta São muitas as variáveis que podem deslocar a curva de oferta. As mais importantes são: ◦ Preço de insumos a oferta de um bem está negativamente relacionada com o preço dos insumos usados na sua produção. Preço Quantidade Ofertada Curva de Oferta: Conforme o preço de um bem aumenta de $ P0 para $ P1, a oferta aumenta de q0 para q1 unidades. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 15 ◦ Tecnologia os avanços na tecnologia reduzem os custos das empresas e aumentam a oferta. ◦ Expectativas se uma empresa tiver a expectativa de que o preço vai aumentar, ela pode estocar parte de sua produção atual e ofertar menos hoje. ◦ Número de vendedores Todas essas variáveis podem deslocar a curva de oferta, enquanto a variável “preço” representa um movimento ao longo da curva de oferta. Oferta e Demanda Reunidas Há um ponto em que ocorre intersecção das curvas de oferta e demanda, o qual é chamado de equilíbrio de mercado. O preço nessa intersecção é chamado de preço de equilíbrio e a quantidade é chamada de quantidade de equilíbrio. Ao preço de equilíbrio, a quantidade do bem que os compradores desejam e podem comprar é exatamente igual à quantidade que os vendedores desejam e podem vender. Figura: Curvas de Oferta e Demanda Reunidas P R E Ç O QUANTIDADE Curvas de Oferta e Demanda: A intersecção das curvas apresenta o ponto de equilíbrio Q*, p*. Ao preço de equilíbrio, a quantidade do bem que os compradores desejam e podem comprar é exatamente igual à quantidade que os vendedores desejam e podem vender. Se o preço de mercado ficar acima do preço de equilíbrio, p*, a oferta será maior do que a demanda, e então os fornecedores não conseguirão vender tudo o que querem, gerando dessa forma um excesso de oferta. Se, por outro lado, o preço de mercado ficar abaixo do preço de equilíbrio, a demanda será maior do que a oferta, e então os compradores não conseguirão comprar tudo o que querem, gerando um excesso de demanda, ou uma escassez no mercado. Oferta e Demanda Demanda Oferta Excesso Escassez Equilíbrio SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 16 Na maioria dos mercados livres, o excesso e a escassez são apenas temporários porque os preços acabam por se mover em direção aos níveis de equilíbrio. De fato, essefenômeno é tão universal que é chamado de lei da oferta e da demanda, ou seja, o preço de qualquer bem se ajusta para trazer a quantidade ofertada e a quantidade demandada do bem para o equilíbrio. Três Passos para Analisar Mudanças no Equilíbrio Ao analisarmos como algum fato afeta um mercado, fazemos isso em três etapas. 1. Em primeiro lugar, verificamos se o fato desloca a curva de oferta, a curva de demanda, ou em alguns casos, ambas as curvas; 2. Em segundo lugar, verificamos se a curva se desloca para a direita ou para a esquerda; 3. Em terceiro lugar, usamos o diagrama de oferta e demanda para comparar o equilíbrio inicial com o novo equilíbrio, para ver como o deslocamento afeta o preço e a quantidade de equilíbrio. Figura: Passos para Analisar Mudanças no Ponto de Equilíbrio Deslocamento das Curvas versus Movimento ao Longo Delas Um deslocamento da curva de oferta é chamado de “mudança da oferta” e um deslocamento da curva de demanda é chamado de “mudança da demanda”. Um movimento ao longo de uma curva de oferta fixa é chamado de “mudança na quantidade ofertada” e um movimento ao longo de uma curva de demanda fixa é chamado de “mudança na quantidade demandada”. 1. Analisar se o acontecimento desloca a curva de oferta ou a curva de demanda (ou ambas) 2. Analisar em qual direção a curva se desloca 3. Usar o diagrama de oferta e demanda para ver como o deslocamento altera o preço e a quantidade de equilíbrio SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 17 Como os Preços Alocam os Recursos Um dos dez princípios da economia é o de que os mercados são, em geral, uma boa maneira de organizar a atividade econômica. Em qualquer sistema econômico, os recursos escassos têm de ser alocados entre usos que competem entre si. As economias de mercado usam as forças de oferta e demanda para servir a esse fim. A oferta e a demanda, juntas, determinam os preços dos diferentes bens e serviços da economia; os preços, por sua vez, são os sinais que orientam a alocação de recursos. Se alguém nunca viu uma economia de mercado em ação, essa idéia pode parecer absurda. As economias são grandes grupos de pessoas engajadas em muitas atividades interdependentes. O que impede que a tomada descentralizada de decisão se degenere e vire um caos? O que coordena as ações de milhões de pessoas, cada uma com suas próprias habilidades e seus próprios desejos? O que garante que aquilo que precisa ser feito realmente seja feito? A resposta, em uma palavra, é preços. Se as economias de mercado são conduzidas por uma mão invisível, como sugeriu Adam Smith, então o sistema de preços é a batuta que a mão invisível usa para reger a orquestra econômica. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 18 5. Elasticidade e sua Aplicação Conceito de Elasticidade: A Elasticidade é uma medida da resposta dos compradores e vendedores às mudanças das condições do mercado. Ela nos permite analisar a oferta e a demanda com maior precisão. Ao estudarmos como um acontecimento ou política pública qualquer afeta um mercado, podemos discutir não apenas a direção dos efeitos, mas também sua magnitude. A Elasticidade-Preço da Demanda A elasticidade-preço da demanda mede o quanto a quantidade demandada responde a variações no preço. A demanda tende a ser mais elástica se há substitutos próximos disponíveis, se o bem é supérfluo em vez de ser essencial, se o mercado é definido de maneira restrita ou se os compradores têm bastante tempo para responder a uma mudança do preço. Figura: Cálculo da Elasticidade-Preço da Demanda Elasticidade-Preço da Demanda Variação percentual da quantidade demandada Variação Percentual do Preço = Elasticidade-Preço da Demanda = ( Q2 – Q1 ) / [ ( Q2 + Q1 ) / 2 ] ( P2 – P1 ) / [ ( P2 + P1 ) / 2 ] SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 19 Figura: A Elasticidade-Preço da Demanda Receita Total A receita total, que é a quantia total paga por um bem, é igual ao preço de bem multiplicado pela quantidade vendida. No caso de curvas de demanda inelásticas, a receita total aumenta quando o preço aumenta. Para curvas de demanda elásticas, a receita total diminui quando o preço aumenta. A Elasticidade-Preço da Oferta A elasticidade-preço da oferta mede o quanto a quantidade ofertada responde a variações no preço. Essa elasticidade freqüentemente depende do horizonte de tempo considerado. Na maioria dos mercados, a oferta é mais elástica no longo prazo do que no curto prazo. $ 2 Preço Quantidade $ 4 $ 5 80 100 Demanda Perfeitamente Inelástica –> Elasticidade = 0 (um aumento no preço deixa inalterada a quantidade demandada) Demanda Perfeitamente Elástica – > Elasticidade = Infinita (A exatamente $3, os consumidores comprarão qualquer quantidade) $ 3 Delta no preço Delta na qtd. Demanda Elástica –> Elasticidade = Maior do que 1 (o delta de preços % é menor do que o delta % de quantidade) Delta no preço Delta na qtd. Delta no preço Delta na qtd. Demanda Inelástica -> Elasticidade = Inferior a 1 (o delta de preços % é maior do que o delta % de quantidade) Demanda com Elasticidade Unitária –> Elasticidade = 1 (o delta de preços % é igual ao delta % de quantidade) 130120 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 20 6. Oferta, Demanda e Políticas do Governo A economia é regida por dois tipos de leis: ◦ As leis de oferta e demanda. ◦ As leis decretadas pelo governo. Os controles de preços e os impostos são comuns em vários mercados da economia. Um preço máximo é um valor máximo legal para o preço de um bem ou serviço. ◦ Se o preço máximo, por exemplo, está abaixo do preço de equilíbrio, a quantidade demandada excede a quantidade ofertada, gerando escassez e racionamento do bem ou serviço. ◦ Exemplo => preço máximo para aluguéis. Um preço mínimo é um valor mínimo legal para o preço de um bem ou serviço. ◦ Se o preço mínimo está acima do preço de equilíbrio, a quantidade ofertada excede a quantidade demandada, gerando excesso de oferta. A demanda dos compradores pelo bem ou serviço precisa ser racionada de alguma forma entre os vendedores. ◦ Exemplo => valor do salário mínimo. Quando o governo estabelece um imposto sobre um bem, a quantidade de equilíbrio do bem cai, ou seja, o imposto sobre um mercado reduz o tamanho do mercado. Um imposto sobre um bem introduz uma cunha entre o preço pago pelos compradores e o preço recebido pelos vendedores. Quando o mercado se move para o novo equilíbrio, os compradores pagam mais pelo bem e os vendedores recebem menos por ele. Neste sentido, os compradores e os vendedores compartilham o ônus do imposto, independentemente se os impostos são cobrados diretamente no comprador ou no vendedor. A incidência de um imposto depende das elasticidades-preço da oferta e da demanda. O ônus tende a recair sobre o lado do mercado que é menos elástico, porque esse lado do mercado não pode responder tão facilmente ao imposto mudando a quantidade comprada ou vendida. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 21 7. Consumidores, Produtores e Eficiência dos Mercados O Excedente do Consumidor: ◦ É o valor que os compradores estão dispostos a pagar por um bem menos a quantia que efetivamente pagam por ele. ◦ Mede o benefício que os compradores obtêm de sua participação nomercado. ◦ Pode ser calculado determinando-se a área abaixo da curva de demanda e acima do preço. O Excedente do Produtor: ◦ É igual à quantia que os vendedores recebem por seus bens menos seus custos de produção. ◦ Mede o benefício que os vendedores obtêm de sua participação no mercado. ◦ Pode ser calculado determinando-se a área abaixo do preço e acima da curva de oferta. Figura: O Excedente do Consumidor e o Excedente do Produtor Uma alocação de recursos que maximize a soma dos excedentes do consumidor e do produtor é chamada de eficiente. Os formuladores de políticas muitas vezes se preocupam com a eficiência – e com a eqüidade – dos resultados econômicos. O equilíbrio de oferta e demanda maximiza a soma dos excedentes do consumidor e do produtor. A mão invisível do mercado leva os compradores e vendedores a alocar os recursos de forma eficiente. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 22 No entanto, os mercados não alocam recursos de forma eficiente na presença de falhas de mercado como poder de mercado ou externalidades. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 23 8. Os Custos da Tributação Para entendermos como os impostos afetam o bem-estar econômico, precisamos comparar a redução de bem-estar dos compradores e vendedores com a elevação da receita do governo. As ferramentas dos excedentes do consumidor e do produtor nos permitem fazer essa comparação. A análise no geral demonstra que os custos dos impostos para os compradores e vendedores são maiores que o aumento de receita do governo. Um imposto sobre um bem reduz o bem-estar dos seus compradores e vendedores e a redução dos excedentes do consumidor e do produtor costuma ser maior do que a receita arrecadada pelo governo. A queda do excedente total – a soma do excedente do consumidor, do excedente do produtor e da receita tributária – é chamada de peso morto do imposto. Os impostos impõem um peso morto porque fazem com que os compradores consumam menos e os vendedores produzam menos e essa mudança de comportamento reduz o mercado, colocando- o um nível abaixo daquele que maximiza o excedente total. Como as elasticidades da oferta e demanda medem o quanto os participantes do mercado respondem às condições deste, altas elasticidades implicam maior peso morto. Com o crescimento das alíquotas, os incentivos se tornam cada vez mais distorcidos e o peso morto, cada vez maior. A receita tributária primeiro aumenta com aumento da alíquota. A partir de um determinado momento, contudo, um aumento das alíquotas passa a reduzir a receita tributária porque reduz o tamanho do mercado. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 24 Figura: Os Custos da Tributação Os impostos, como disse Oliver Wendell Holmes, são o preço que pagamos por viver em uma sociedade civilizada. Na verdade, nossa sociedade não pode existir sem impostos de algum tipo. Todos esperamos que o governo proporcione determinados serviços, como estradas, parques, policiamento e defesa nacional. Esses serviços públicos exigem receita tributária. Entretanto, o custo de uma sociedade civilizada mostra-se muito elevado. Um dos dez princípios de economia diz que os mercados costumam ser uma boa forma de organizar a atividade econômica. Quando o governo cobra impostos dos compradores e vendedores sobre um bem, a sociedade perde parte dos benefícios de eficiência de mercado. Os impostos são dispendiosos para os participantes do mercado não só porque transferem recursos deles para o governo, mas também porque alteram os incentivos e distorcem os resultados econômicos. Preço Quantidade Pc P1 Pv Preço sem impostos Preço recebido pelos vendedores Preço pago pelos compradores A Situação sem impostos: Q1 = Quantidade do equilíbrio P1 = Preço do ponto de equilíbrio A + B + C = Excedente do Consumidor D + E + F = Excedente do Produtor Situação com impostos: Q2 = Quantidade do equilíbrio (<Q1) Pc = preço pago pelos compradores Pv = preço recebido pelos vendedores A = Excedente do Consumidor F = Excedente do Produtor B + D = Receita tributária C + E = Peso morto B C ED F Q1Q2 SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 25 9. Comércio Internacional Os efeitos do livre comércio podem ser determinados comparando-se o preço interno na ausência de comércio com o preço mundial. ◦ Um baixo preço interno indica que o país desfruta de vantagem comparativa na produção do bem e que se tornará um exportador. ◦ Um preço interno elevado indica que o restante do mundo tem uma vantagem comparativa na produção do bem e que o país se tornará um importador. Quando o país se abre para comércio internacional e se torna exportador de um bem, a situação dos produtores do bem melhora, enquanto os consumidores do bem ficam em pior situação. Quando o país se abre para o comércio internacional e se torna importador, os consumidores ficam em melhor situação, ao passo que a situação dos produtores piora. Em ambos os casos, os ganhos do comércio superam as perdas. Uma tarifa – um imposto sobre as importações – desloca o mercado para um ponto mais próximo do equilíbrio que existiria na ausência do comércio e, portanto, reduz os ganhos do comércio. Embora os produtores internos fiquem em uma situação melhor e o governo arrecade receitas, as perdas dos consumidores superam esses ganhos. Uma cota de importação – um limite sobre as importações – tem efeitos semelhantes aos da tarifa. Mas com as cotas, os detentores das licenças de importação obtêm a receita que o governo arrecadaria como uma tarifa. Há vários argumentos em favor da restrição do comércio internacional: proteção de empregos, defesa da segurança nacional, auxílio às indústrias nascentes, prevenção à concorrência desleal, e reação às restrições externas ao comércio. Embora alguns desses argumentos possam ter mérito em alguns casos, os economistas acreditam que o livre comércio é normalmente a melhor prática. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 26 Referências Parte I Mankiw, N. G. (2005). Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. Edição Completa. o Capítulos 01 a 09. Gremaud, A. P. et al. (2002). Economia Brasileira Contemporânea. 4ª ed. – São Paulo: Atlas, 2002. o Capítulo 02 – Contabilidade Nacional e Agregados Macroeconômicos. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 27 PARTE II – RENDA NACIONAL: PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO e ALOCAÇÃO SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 28 1. Introdução Os macroeconomistas abordam diversas questões: ◦ Por que a renda média é elevada em alguns países e baixa em outros? ◦ Por que os preços sobem rapidamente em algumas épocas e permanecem mais estáveis em outras? ◦ Por que a produção e o emprego aumentam em alguns anos e se contraem em outros? ◦ O que o governo pode fazer para promover o crescimento acelerado da renda, a baixa inflação e um nível de emprego estável? Essas perguntas são todas de natureza macroeconômica porque se referemao funcionamento da economia como um todo. Os economistas e formuladores de políticas usam alguns dados econômicos para monitorar o desempenho da economia. Esses dados refletem as mudanças econômicas que os macroeconomistas procuram explicar. Um desses dados é o PIB, uma estatística econômica acompanhada com mais atenção porque é considerada a melhor medida do bem-estar econômico de uma sociedade. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 29 2. Renda e Despesa da Economia Ao julgar se uma economia vai bem ou mal, é natural examinar a renda total obtida por todos os membros da economia. Essa é a função do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB mede duas coisas ao mesmo tempo: ◦ a renda total de todas as pessoas da economia, e ◦ a despesa total com os bens e serviços produzidos na economia. A razão pela qual o PIB consegue medir tanto a renda total quanto a despesa total é que, na verdade, tanto a renda quanto a despesa são a mesma coisa. Para a economia como um todo, a renda deve ser igual à despesa. O Diagrama do Fluxo Circular: Renda e Despesa Essa igualdade entre renda e despesa pode ser também enxergada por meio do diagrama de fluxo circular. Podemos calcular o PIB de duas maneiras: ◦ Somando a despesa total das famílias, ou ◦ Somando a renda total (salários, aluguéis, lucros) paga pelas empresas. Como qualquer despesa da economia acaba como renda de alguém, o PIB é o mesmo, independentemente de método de cálculo escolhido. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 30 A economia real, naturalmente, é mais complicada do que isso. Em particular, as famílias não gastam toda a sua renda; elas entregam parte ao governo sob a forma de impostos e poupam parte para algum uso futuro. Além disso, as famílias não compram todos os bens e serviços produzidos na economia; Alguns bens e serviços são comprados pelos governos e outros são comprados por empresas que planejam usá-los no futuro para produzir seus produtos. Mas, independentemente de o comprador do bem ou serviço ser uma família, um governo ou uma empresa, a transação terá um comprador e um vendedor. Assim, para a economia como um todo, a despesa e a renda são sempre iguais. Figura: Modelo Visual da Economia chamado de Diagrama do Fluxo Circular (Mankiw, 2005, p. 501) EMPRESAS FAMÍLIAS MERCADO DE BENS E SERVIÇOS MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO Bens e serviços vendidos Receita = PIB Fatores de produção Salários, aluguéis e lucro = PIB Trabalho, terra e capital Renda = PIB Bens e serviços comprados Gastos = PIB = fluxo de insumos e produtos= fluxo de dinheiro As famílias compram bens e serviços das empresas, e as empresas usam a receita que obtêm das vendas para pagar salários aos trabalhadores, aluguéis aos proprietários de terras e lucros aos proprietários das empresas. O PIB é igual ao total das despesas das famílias no mercado de bens e serviços. E é igual também ao total de salários, aluguéis e lucros pagos pelas empresas no mercado de fatores de produção. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 31 Mensuração do Produto Interno Bruto (PIB) O Produto Interno Bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país em um dado período de tempo. ◦ “PIB é o valor de mercado ...” O PIB soma vários tipos diferentes de produtos (bananas e laranjas) em uma única medida de valor da atividade econômica. Para isso, usa os preços de mercado. Como os preços de mercado medem o montante que as pessoas estão dispostas a pagar por diferentes bens, eles refletem o valor desses bens. Se o preço de uma banana for o dobro do preço de uma laranja, então a banana contribuirá duas vezes mais para o PIB do que a laranja. ◦ “... de todos ...” O PIB tenta ser abrangente. Inclui todos os itens produzidos na economia e vendidos legalmente nos mercados. ◦ “... os bens e serviços ...” O PIB inclui tanto os bens tangíveis (alimento, vestuário, carros) quanto os serviços intangíveis (cortes de cabelo, faxina, consultas médicas). ◦ “... finais ...” O PIB inclui somente o valor dos bens finais. A razão é que o valor dos bens intermediários já está incluído no preço dos bens finais. Somar o valor de um bem final ao valor de um bem intermediário implicaria em uma dupla contagem. ◦ “... produzidos ...” O PIB inclui os bens e serviços produzidos no presente. Não inclui transações que envolvam itens produzidos no passado. ◦ “... em um país ...” O PIB mede o valor da produção dentro dos limites geográficos de um país. Os itens são incluídos no PIB de um país se forem produzidos internamente, independentemente da nacionalidade do produtor. ◦ “... em um dado período de tempo.” O PIB mede o valor da produção que tem lugar em um intervalo de tempo específico. Geralmente esse intervalo costuma ser de um ano ou trimestre. O PIB mede o fluxo de renda e despesa durante esse intervalo. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 32 3. Produto Interno Bruto (PIB) Os Componentes do PIB Para entender como a economia está usando seus recursos escassos, os economistas freqüentemente se interessam em estudar a composição do PIB de acordo com diversos tipos de despesas. Para fazer isso, o PIB é dividido em quatro componentes: ◦ Consumo (C) ◦ Investimento (I) ◦ Gastos do Governo (G) ◦ Exportações Líquidas (EL = X – M), onde X = eXportações e M = iMportações Essa equação é uma identidade – uma equação que deve ser verdadeira a propósito de como as variáveis na equação são definidas. Como cada real ou dólar de despesa incluído no PIB é colocado em um dos quatro componentes do PIB, a soma dos quatro componentes deve ser igual ao PIB. Vamos analisar cada um desses quatro componentes com maior profundidade: ◦ Consumo (C) O consumo é a despesa das famílias em bens e serviços. Os “bens” incluem as despesas das famílias em bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, e bens PIB = C + I + G + EL ou PIB = C + I + G + X - M SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 33 não duráveis, como alimento e vestuário. Os “serviços” incluem itens intangíveis, como cortes de cabelo e serviços de saúde. ◦ Investimento (I) O investimento é a compra de bens que serão usados no futuro para produzir mais bens e serviços. É a soma das compras de bens de capital, estoques e estruturas. O investimento em estruturas inclui despesas em imóveis residenciais novos. ◦ Gastos do Governo (G) As compras do governo incluem as despesas em bens e serviços dos governos locais, estaduais e federal. Inclui os salários dos funcionários do governo e as despesas em obras públicas. ◦ Exportações Líquidas (EL ou X – M) As exportações líquidas são iguais às compras, por parte dos estrangeiros, de bens produzidos internamente (exportações) menos as compras internas de bens estrangeiros (importações). A palavra “líquida” refere-se ao fato de que as importações são subtraídas das exportações. PIB Real versus PIB Nominal O PIB mede a despesa total em bens e serviços em todos os mercados de uma economia. Se a despesa total aumenta de um ano para outro, uma dentre duas coisas deve ser verdadeira: ◦ A economia está produzindo uma quantidade maior de bens e serviços, ou ◦ Os bens e serviços estão sendo vendidos a preços mais elevados. Quando estudam mudanças da economia ao longo do tempo, os economistas querem separar esses dois efeitos. Mais especificamente, o que querem é uma medida da quantidade total de bens e serviços produzidos pela economia que não seja afetada pelas variações nos preços desses bens e serviços. SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 34 Para fazer isso, os economistas usam uma medida chamada PIB real. O PIB real responde à seguinte questão hipotética: qual seria o valor dos bens e serviços produzidos este ano se os avaliássemos aos preços vigentes em algum outro ano específico no passado? Avaliando a produção corrente a preços fixos em níveis passados, o PIB real mostra como a produção geral de bens e serviços da economia muda com o passar do tempo. A produção de bens e serviços avaliada aos preços correntes, é chamado PIB nominal. Como o PIB real não é afetado pela variação nos preços, as variações do PIB real refletem somente as mudanças nas quantidades produzidas. Assim, o PIB real é uma medida da produção de bens e serviços da economia. Nosso objetivo ao calcular o PIB é medir o desempenho da economia como um todo. Como o PIB real mede a produção de bens e serviços da economia, ele reflete a capacidade da economia em satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas. Assim, o PIB real é uma medida melhor do bem-estar econômico do que o PIB nominal. Quando os economistas falam do PIB da economia, geralmente estão se referindo ao PIB real, não ao nominal. E quando falam do crescimento da economia, eles medem esse crescimento como a variação percentual do PIB real de um período para o outro. O PIB nominal usa os preços correntes para atribuir um valor à produção de bens e serviços da economia. O PIB real usa preços constantes do ano-base para atribuir um valor à produção de bens e serviços da economia. PIB Real Reflete a quantidade (descontada a inflação) PIB Nominal Reflete os preços (considerando a inflação) e quantidade SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 35 O Deflator do PIB O PIB nominal reflete tanto os preços dos bens e serviços quanto às quantidades de bens e serviços produzidas na economia. Por outro lado, mantendo os preços constantes nos níveis do ano-base, o PIB real reflete somente as quantidades produzidas. A partir dessas duas estatísticas, podemos calcular uma terceira, chamada deflator do PIB, que reflete os preços dos bens e serviços, mas não as quantidades produzidas. O deflator do PIB é calculado da seguinte maneira: O deflator do PIB é uma medida que os economistas usam para monitorar o nível médio de preços da economia. Outra medida, denominada índice de preços ao consumidor também tem a função de acompanhar o nível de preços da economia. Exemplo Numérico de Cálculo do PIB e do Deflator Imagine uma economia que produz somente dois bens: cachorros-quentes e hambúrgueres. A tabela mostra as quantidades produzidas dos dois bens e seus preços nos anos 2001, 2002 e 2003, considerando o ano de 2001 como ano-base: Deflator do PIB = PIB nominal PIB real x 100 Deflator do PIB (2002) = PIB nominal (2002) PIB real (2002) x 100 PIB nominal (2002) = Qtd (2002) * Preço (2002) PIB real (2002) = Qtd (2002) * Preço (2001) SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 36 PIB e Bem-Estar Econômico O PIB é a melhor forma de se medir o bem-estar econômico de uma sociedade. O PIB mede tanto a renda quanto a despesa total da economia em bens e serviços. Assim, o PIB per capita nos fala da renda e das despesas do indivíduo médio na economia. Como a maioria das pessoas preferiria ter maior renda e desfrutar de uma maior despesa, o PIB per capita parece ser uma medida natural do bem-estar econômico do indivíduo médio. Algumas Limitações na Utilização do PIB como Medida de Bem-Estar Econômico Como o PIB usa os preços de mercado para avaliar bens e serviços, ele desconsidera o valor de quase todas as atividades que ocorrem fora dos mercados: Outra coisa que o PIB exclui é a qualidade do meio ambiente. Se a produtividade e a economia melhorarem em função de altos custos ao meio ambiente, isso não é levado em consideração no cálculo do PIB. O PIB também não diz nada a respeito da distribuição de renda. No fim das contas, podemos concluir que o PIB é uma boa medida do bem-estar econômico para a maioria dos propósitos, mas não para todos. Entra no Cálculo do PIB Não entra no Cálculo do PIB Refeição preparada por um chef de cozinha em um restaurante Refeição preparada por um chef de cozinha p/ sua esposa em sua casa Serviço de cuidar das crianças oferecido em uma creche Serviço de cuidar das crianças realizado pelos pais em casa Servidor público Trabalho voluntariado SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 37 Outras Medidas de Renda PIB: o valor adicionado da produção de bens finais e serviços gerados dentro dos limites geográficos de uma economia, durante um determinado período de tempo. Produto Nacional Bruto (PNB): valor total de renda recebida pelos residentes domésticos, num determinado período de tempo. ◦ PNB = PIB + RLRE, onde RLRE = Receita Líquida Recebida do Exterior Environmental Sustainability Index (ESI): World Economic Forum e do Center for International Earth Science Information Network para 140 países ◦ Dimensões: Condições Ambientais, Stress Ambiental, Vulnerabilidade Humana, Capacitação Social e Institucional e Condições Econômicas Globais ◦ Brasil está 11o com um índice de 62,2 variando de 0 a 100 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS): Brasileiro feito em 2002 pelo IBGE, inclui as dimensões: ◦ Ambiental, ◦ Social, ◦ Econômica e ◦ Institucional SEP-0587 – Princípios de Economia Departamento de Engenharia de Produção Macroeconomia EESC-USP Prof. Mateus C. Gerolamo 38 4. Medindo o Custo de Vida Para comparar o salário de algum período no passado como o salário de hoje, precisamos encontrar uma maneira de transformar os valores monetários em medidas significativas de poder aquisitivo. Essa é exatamente a função de uma estatística chamada Índice de Preços ao Consumidor (IPC). O IPC é usado para monitorar mudanças no custo de vida ao longo do tempo. Quando o índice de preços ao consumidor aumenta, a família típica precisa gastar mais dinheiro para manter o mesmo padrão de vida. Os economistas empregam o termo inflação para descrever uma situação em que o nível geral de preços da economia está em ascensão. A taxa de inflação é a variação percentual do nível de preços em relação a um período anterior. A inflação é um aspecto do desempenho macroeconômico e é uma variável-chave na orientação da política macroeconômica. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) é uma medida do custo geral de todos os bens e serviços comprados por um consumidor típico. Os passos a seguir ilustram um exemplo para o cálculo do IPC (como realizado nos EUA): 1. Fixar a Cesta 2. Coletar os Preços 3. Calcular o Custo da Cesta 4. Escolher um Ano-Base e Calcular Índice 5. Calcular a Taxa de Inflação Determinar quais preços são mais importantes para o consumidor típico, por meio da identificação da cesta de bens e serviços que o consumidor típico compra. Coletar os preços de cada um dos bens e serviços da cesta em cada ponto no tempo. Usar os
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