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legislaçao aplicada e direito do consumidor aula 1

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LEGISLAÇÃO APLICADA E 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O Direito é uma daquelas áreas cujos conhecimentos importam não 
apenas para as pessoas que trabalham diretamente com ele. Compreender o 
Estado, sua organização, os direitos das pessoas e empresas é uma 
necessidade para todos, em especial para aqueles que trabalham no meio 
organizacional. No caso brasileiro, temos mais de 180 mil leis diferentes, o que 
deixa o cenário legal bastante confuso para os leigos. Por conta disso, nesta 
aula, nos dedicaremos a entender a fonte principal do Direito brasileiro, 
buscando evitar confusões e dissabores, seja em seu meio pessoal, seja em seu 
meio profissional. 
Iniciaremos nossa discussão compreendendo aquele ramo jurídico 
considerado a espinha dorsal de todo direito: o Direito Constitucional. Como 
ficará claro no decorrer da aula, esse ramo jurídico nasceu com o objetivo de 
limitar o poder do Estado e, ao fazê-lo, assegurar direitos para os governados. 
Esses direitos, hoje conhecidos como fundamentais, incluem a vida, a liberdade, 
a saúde, a segurança e a integridade física. Não fosse pelo Direito Constitucional 
e pelo reconhecimento de que alguns direitos não dependem de autorização ou 
benevolência dos mandatários, certamente a vida seria muito diferente. 
Trataremos também a respeito da Administração Pública. O que podem 
fazer os gestores públicos? É possível beneficiar esta ou aquela empresa num 
processo de licitação? As licitações são mesmo necessárias? Tomando por base 
a própria Constituição Federal, responderemos a essas e a várias outras 
questões. 
Outro ponto de destaque para as organizações são os direitos 
econômicos. A Constituição ocupa-se desse rol de direitos a partir de seu art. 
170, o que garante a pessoas físicas e jurídicas o acesso a múltiplos produtos e 
serviços. É a livre concorrência que nos assegura a liberdade de escolher entre 
diversas marcas possíveis. Cartéis, monopólios e oligopólios — bastante nocivos 
ao ambiente empresarial — são máculas a liberdade econômica. 
Tanto o empreendedorismo quanto a liberdade econômica também são 
objeto desta aula. Enquanto em ambientes economicamente livres o 
empreendedorismo floresce, gerando empregos, inovação e desenvolvimento, 
em ambientes economicamente repressores nada disso acontece. Assim, para 
 
 
3 
que as pessoas possam empreender e inovar, não basta que a Constituição 
Federal traga algumas regras e garantias fundamentais à ordem econômica. É 
preciso colocá-las em prática. 
Assim, para apresentar todos esses temas, a presente aula se propõe a 
tratar dos seguintes conteúdos: 
• Direito Constitucional; 
• Direitos Fundamentais; 
• A Administração Pública na Constituição; 
• Os Direitos Econômicos; 
• Liberdade Econômica e Empreendedorismo. 
Vamos lá? 
CONTEXTUALIZANDO 
Por quantas vezes, no decorrer das últimas horas ou dos últimos dias, 
você ouviu ou leu nos noticiários qualquer referência ao Poder Legislativo? 
Deputados – federais, estaduais ou distritais – podem ter aprovado uma lei 
polêmica em benefício próprio. Um senador ou ministro pode ter dado uma 
declaração controversa. Caso você não tenha ouvido ou lido nada a respeito do 
Poder Legislativo, talvez tenha ouvido algo sobre o Poder Judiciário. Algum 
notório condenado pela justiça pode ter se beneficiado de uma saída temporária 
de um presídio, ou algum longo julgamento pode ter sido anulado. 
Todos esses fatos, alguns mais revoltantes outros menos, possuem uma 
coisa em comum: relacionam-se ao Direito. Muitos criticam frequentemente o 
Direito sem ao menos conhecê-lo. A questão é que o mundo e as sociedades já 
viveram sim sem Direito ou regras de conduta. Vivia-se no chamado estado de 
natureza, onde o que valia mesmo era a vontade do mais forte. O grande 
problema disso é que nem sempre a vontade do mais forte equivale ao que é 
bom para a maioria. 
Sabendo disso, muitas sociedades estruturaram-se em sistemas jurídicos 
distintos. Nós, brasileiros – assim como os italianos, franceses e alemães –
vivemos no sistema chamado de Civil Law. Como ensinam Cavusgil, Knight e 
Riesenberger (2010, p. 129), 
 
 
4 
Sua origem remonta ao direito romano e ao código napoleônico. 
Baseado em um sistema abrangente de leis que foram “codificadas” — 
claramente escritas e acessíveis, divide o sistema legal em três 
códigos distintos: comercial, civil e criminal. O código civil é 
considerado completo em decorrência de cláusulas genéricas 
encontradas na maioria dos sistemas codificados. As regras e os 
princípios formam o ponto de partida da argumentação jurídica e da 
aplicação da justiça. Os códigos escritos, ou codificados, surgem como 
leis e códigos de conduta específicos produzidos por um corpo 
legislativo ou alguma outra autoridade suprema. 
Nem todos os países, no entanto, têm seu Direito organizado dessa forma. 
Os estadunidenses e ingleses, por exemplo, seguem o chamado Common Law, 
ou Direito Comum. Novamente, são Cavusgil, Knight e Riesenberger (2010, p. 
129) que ensinam que 
O direito comum (também conhecido como casos de direito) constitui 
um sistema legal que se originou na Inglaterra e se disseminou para 
Austrália, Canadá, Estados Unidos e os antigos membros da British 
Commonwealth. A base do direito comum consiste em tradição, 
práticas passadas e precedentes legais estabelecidos pelos tribunais 
de uma nação por meio da interpretação de estatutos, legislação e 
decisões judiciais. A legislatura nacional nos países de direito comum 
(tais como a Câmara dos Lordes britânica e o Congresso norte-
americano) detém o derradeiro poder de aprovar ou modificar leis. Nos 
Estados Unidos, visto que a constituição do país é muito difícil de 
alterar, a Suprema Corte e até os tribunais de instância inferior contam 
com uma considerável flexibilidade na interpretação das leis. Por 
conseguinte, como o direito comum é mais aberto a interpretações 
jurídicas, é mais flexível do que outros sistemas legais. Dessa forma, 
os juízes em um sistema de direito comum concentram substancial 
poder para interpretar as leis com base nas circunstâncias únicas de 
cada caso, incluindo disputas comerciais e outras situações 
pertinentes aos negócios. 
Nesse caso, para ter sucesso e evitar problemas em ambientes onde 
sistema jurídico é o do Direito Comum, não basta saber a lei, mas é necessário 
compreender o costume e as interpretações jurídicas. Há, além desses, outro 
sistema jurídico: o Direito Religioso. Cavusgil, Knight e Riesenberger (2010, p. 
129) explicam que 
O direito religioso é um sistema legal fortemente influenciado por 
crenças religiosas, códigos éticos e valores morais tidos como 
determinados por um ser supremo. Os mais importantes desses 
sistemas baseiam-se nas leis hindus, judaicas e islâmicas. Dentre elas, 
a mais disseminada é a islâmica, encontrada, sobretudo, no Oriente 
Médio, no norte da África e na Indonésia. Ela deriva das interpretações 
do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, e dos ensinamentos do 
profeta Maomé. 
 
 
5 
Nesse caso, além de compreender a lei, é necessário ter um basilar 
entendimento dos princípios religiosos que a embasam. Tudo isso nos mostra 
que o Direito é: 
• fruto da história das sociedades que o criam – uma vez que os sistemas 
jurídicos evoluíram a partir dos hábitos antigos dos povos 
• o direito é fruto de seu tempo – uma vez que no passar das eras as leis 
antigas vão sendo revogadas e novas leis vão sendo criadas. A 
compreensão desses aspectos, e ainda de outros, é o que iniciaremos na 
sequência. 
TEMA 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL 
Antes de compreender o que é o Direito Constitucional, é prudente 
entendermos um pouco sobre o Direito em si. De uma forma ou de outra, toda 
sociedade estabelecida contava com algum tipo de regra. No passado, essas 
regras eram apenas faladas. No decorrer daseras, tornaram-se escritas – fosse 
na pedra, no papiro ou no papel. 
Hoje, muitos questionam a real necessidade do nosso sistema de leis. 
Uma das críticas mais comuns é que o Direito brasileiro é bastante burocrático, 
com um sistema recursal quase infinito. No fundo, o Direito é muito mais do que 
isso, e todas essas regras e – como dizem os leigos – “burocracias” servem para 
dar a nós, cidadãos, garantias legais. Além disso, como ensina Silva (2013, p. 
35), o Direito “é fenômeno histórico-cultural, realidade ordenada, ou ordenação 
normativa da conduta segundo uma conexão de sentido. Consiste num sistema 
normativo. Como tal, pode ser estudado por unidades estruturais que o 
compõem, sem perder de vista a totalidade de suas manifestações”. 
Ou seja: o Direito é um só. Ainda que no decorrer desta aula e em 
conteúdos futuros estudemos Direito Constitucional, Direito do Trabalho, Direito 
Empresarial e afins, todos esses ramos são apenas subdivisões de um mesmo 
todo. A divisão em áreas serve – isso sim – para facilitar o estudo. Aqui, muitos 
podem questionar: isso significa que todas as normas estão no mesmo patamar, 
que não existem normas mais importantes do que outras? 
Sim, existem normas mais “importantes” do que outras. A norma mais 
importante de todas – no sistema brasileiro – é a Constituição Federal. E o que 
 
 
6 
é uma Constituição? Nos dizeres de Masson (2020, p. 29), “se pode considerar 
a Constituição enquanto o conjunto de normas fundamentais e supremas, que 
podem ser escritas ou não, responsáveis pela criação, estruturação e 
organização político-jurídica de um Estado”. 
A atual Constituição brasileira foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988. 
Antes da atual Magna Carta — como muitas vezes são chamadas as 
Constituições — houve outras. A primeira Constituição brasileira foi a Imperial, 
de 1824. Ali, eram previstos não 3, mas 4 poderes: Executivo, Legislativo, 
Judiciário e Moderador — que ficava a cargo do Imperador. Com a Proclamação 
da República, em 1889, a Constituição Imperial já não servia mais, e uma nova 
Carta foi redigida e aprovada em 1891. 
Depois, conforme mudavam as políticas nacionais, outras Constituições 
vieram em 1934, 1937, 1946 e 1967. Como você pode perceber, o Brasil sempre 
teve constituições desde logo após a independência. Trata-se de um documento 
fundamental para a organização do Direito nacional. Mais do que um conjunto 
de normas fundamentais e supremas, uma Constituição, como ensina Masson 
(2020, p. 29), é 
o Estatuto do Poder, garantidora da transformação do Estado — até 
então entidade abstrata — em um poder institucionalizado. É o que 
permite a mudança de perspectiva que ocasiona o abandono do 
clássico pensamento de sujeição absoluta às imposições pessoais de 
governantes, para a obediência voltada a uma entidade (Estado), 
regida por um documento: a Constituição. 
É na Constituição, portanto, que estão as garantias individuais das quais 
gozamos. É ela que nos transformou de súditos no passado para cidadãos no 
presente. Aqui, entra o Direito Constitucional. É um ramo jurídico que se dedica 
ao estudo da Constituição. No ensinamento de Silva (2013, p. 36), o Direito 
Constitucional é 
o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os 
princípios e normas fundamentais do Estado. Corno esses princípios e 
normas fundamentais do Estado compõem o conteúdo das 
constituições (Direito Constitucional Objetivo), pode-se afirmar, […] 
que o Direito Constitucional é a ciência positiva das constituições. 
Enquanto a Constituição estabelece a estrutura do Estado, sua forma de 
administração e organização, o modo de governo e afins, o Direito Constitucional 
dedica-se ao estudo de cada uma dessas minúcias. No caso brasileiro, a 
Constituição afirma que o Brasil é um Estado federativo, composto pela “união 
 
 
7 
indissolúvel de União, Estado, Distrito Federal e Municípios” (art. 1º); que o 
Executivo, o Legislativo e o Judiciário são poderes harmônicos e independentes 
(art. 2º); que todos são iguais perante a lei, independentemente de crenças, cor 
de pele, gênero ou algo do tipo, e todos tem direito “à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade” (art. 5º). 
A Constituição vai além e dá as diretrizes para o trabalho ao afirmar que 
a relação de emprego é protegida contra despedida arbitrária (art. 7º, I), que 
temos direito a seguro-desemprego e fundo de garantia por tempo de serviço 
(art. 7º, II e III), que há um salário mínimo nacional fixado em lei (art. 7º, IV), que 
o salário – de forma geral – é irredutível (art. 7º, VI) e que o trabalho noturno terá 
remuneração maior do que o trabalho diurno (art. 7º, IX), além de várias outras 
disposições que regem as relações de trabalho e emprego. 
Da mesma forma, a Constituição aborda o tema da nacionalidade e 
naturalização (art. 12), dos Direitos Políticos (art. 14), da Organização do Estado 
com as atribuições de cada um de seus entes constitutivos – União, Estados, 
Distrito Federal e Municípios (art. 18 e seguintes). A Magna Carta dispõe sobre 
a Administração Pública (art. 37º) e afirma que seus princípios basilares são a 
legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. 
Os poderes do Estado, sua organização, as atribuições de cada um e a 
forma de acesso a esses cargos – seja por concurso, seja por eleição – também 
estão dispostos na Constituição. Como você pode perceber, são temas bastante 
amplos e abrangentes, e cada um deles poderia ser tratado num livro em 
específico. Como esse não é nosso objetivo aqui, é importante notar que, como 
ensina Silva (2013, p. 45) 
As constituições têm por objeto estabelecer a estrutura do Estado, a 
organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma 
de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e 
garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins 
socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos 
econômicos, sociais e culturais. 
Com isso e por isso a Constituição é suprema. Todas as demais normas 
do país, sejam federais, estaduais, distritais ou municipais, devem estar em 
acordo com os mandamentos Constitucionais. Por tais razões, é costumeiro 
referir-se à Constituição como a espinha dorsal do aparato normativo nacional, 
uma vez que é a base para todos os ramos do direito pátrio. A Constituição 
menciona, inclusive, a ordem econômica nacional, em seu art. 170: 
 
 
8 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: 
[…] 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
[…] 
VIII - busca do pleno emprego. 
Esses termos mencionados no art. 170 – assim como os demais que, por 
razões de economicidade, não foram elencados – são os chamados princípios 
gerais da atividade econômica. Esses princípios devem nortear não apenas a 
atuação dos demais ramos do Direito (Direito Empresarial, Direito Civil, Direito 
do Consumidor), mas também a própria atuação do Estado e das organizações. 
TEMA 2 – DIREITOS FUNDAMENTAIS 
No passado, o Direito era fruto da vontade dos soberanos. O rei francês 
Rei Luís XIV chegou a declarar que “o Estado sou eu”, numa plena 
demonstração de como sua própria pessoa se confundia com os rumos políticos 
e econômicos de seu país. Nessas épocas, o processo legislativo era bastante 
distinto do que é hoje, e muitas vezes os soberanos tinham poder de vida e morte 
sobre seus súditos. Hoje, no entanto, o Direito é fruto da vontade social. O povo, 
por meio de seus representantes democraticamente eleitos, escolhe seu próprio 
destino. Obviamente que isso não é tarefa fácil, mas o processo de criação de 
novas leis é claro e podemos opinar a respeito de forma livre. 
Entre Luís XIV e nossos dias houve um evento marcante:a Revolução 
Francesa. Fruto do iluminismo, esse importante ocorrido foi o catalisador de uma 
mudança de era. Como ensinou Perry (2005, p. 298), “os iluministas eram 
favoráveis ao governo constitucional que protegesse os cidadãos contra o abuso 
de poder”. Em julho de 1789, os franceses tomam a Batilha e iniciam um 
processo histórico que põe fim ao poderio ilimitado dos governantes. Kissinger 
(2014, p. 37) comenta que a Revolução Francesa “aconteceu no país mais rico 
da Europa, ainda que seu governo estivesse temporariamente falido. […] Ela 
 
 
9 
adquiriu um ímpeto não previsto por aqueles que fizeram a Revolução e 
inconcebível para a elite governante até então no poder”. 
Nesse momento, você pode estar se perguntando: mas o que a Revolução 
Francesa tem a ver com Direitos Fundamentais? Simplesmente tudo. Foi a partir 
dela que certos direitos foram estendidos a todas as pessoas, e especial para 
aquelas que não faziam parte da elite governante. Como ensina Perry (2005, p. 
348) 
a Revolução Francesa transformou o estado dinástico do Antigo 
Regime no Estado moderno: nacional, liberal, secular e racional. 
Quando a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão afirmou 
que “a fonte de toda soberania reside essencialmente na nação”, o 
conceito de Estado assumiu um significado novo. O Estado já não era 
apenas um território ou federação de províncias; não era apenas a 
posse privada de reis que se diriam delegados de Deus na Terra. De 
acordo com a nova concepção, o Estado pertencia ao povo como um 
todo, e o indivíduo, antes súdito, era agora cidadão, com direitos e 
deveres, governado por leis que não estabeleciam distinções 
baseadas na ascendência. 
Se, agora, o Estado pertence ao povo, não poderia o Estado revogar as 
normas que protegem os cidadãos? Absolutamente não. Os direitos inaugurados 
pela Revolução Francesa são, no ensinamento de Masson (2020, p. 241), 
responsáveis por inaugurar uma nova era: 
Os direitos de primeira geração são os responsáveis por inaugurar, no 
final do século XVIII e início do século XIX, o constitucionalismo 
ocidental, e importam na consagração de direitos civis e políticos 
clássicos, essencialmente ligados ao valor liberdade (e enquanto 
desdobramentos deste: o direito à vida, o direito à liberdade religiosa – 
também de crença, de locomoção, de reunião, de associação – o 
direito à propriedade, à participação política, à inviolabilidade de 
domicílio e segredo de correspondência). 
Até então, aquele que falasse contra o governante poderia perder sua 
liberdade sem sequer um julgamento justo. Nesse ponto, juristas percebem que 
existe um certo rol de direitos que podem ser considerados fundamentais por 
sua própria essência. Esses direitos são tão importantes, tão relevantes que, 
pela sua notoriedade, devem estar nas Constituições. Novamente, é Masson 
(2020, p. 241) quem nos ensina que a evolução alcançada pelo Direito 
Constitucional “é fruto, em grande medida, da aceitação dos direitos 
fundamentais como cerne da proteção da dignidade da pessoa e da certeza de 
que inexiste outro documento mais adequado para consagrar os dispositivos 
assecuratórios dessas pretensões do que a Constituição”. 
 
 
10 
E quais são esses direitos, você pode estar se perguntando. Seriam os 
Direitos Fundamentais equivalentes aos Direitos Humanos? Embora alguns 
autores abordem esses temas como sinônimos, pode-se afirmar que os Direitos 
Humanos consagram internacionalmente algumas liberdades e garantias aos 
indivíduos. Um dos documentos mais importantes nesse sentido é a Declaração 
Universal de Direitos Humanos, promulgada pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas em 10 de dezembro de 1948. 
Os Direitos Fundamentais, como se pode asseverar pelo seu próprio 
nome, são universais (todos os seres humanos devem ter tais direitos 
respeitados), indivisíveis (devemos ter todos eles, e não apenas uma parte), 
imprescritíveis (duram para sempre, não só na infância ou adolescência), 
inalienáveis (não se pode vender ou abrir mão desses direitos) e invioláveis (não 
se pode, sob nenhuma condição, desrespeitar esses direitos seja via atos das 
pessoas, do Estado ou das próprias leis). 
E quais são, afinal, esses direitos? Em nosso caso, eles encontram-se no 
art. 5º da Constituição: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição; 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei; 
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante; 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além 
da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma 
da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência 
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa 
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-
se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação 
alternativa, fixada em lei; 
 
 
11 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem 
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou 
moral decorrente de sua violação. 
Além desses dez incisos, existem dezenas de outros até o 78º. Todos eles 
destinados a assegurar nossos Direitos Fundamentais, promovendo a igualdade 
e o bem-estar. Durante muito tempo, no entanto, acreditava-se que esses 
direitos se aplicavam apenas às pessoas físicas. Pessoas jurídicas, no entanto, 
também têm assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, ao dano 
moral, a proteção de sua honra e imagem, como se afirma no inciso V e X. 
Por fim, deve-se ressaltar que esses Direitos possuem aplicabilidade 
imediata, e não se pode atentar contra eles de nenhuma maneira. Tais direitos 
são o que se chama de cláusula pétrea da Constituição Federal. Assim como a 
forma federativa e republicana, a democracia e os três poderes, os Direitos 
Fundamentais não podem, sequer, ser objeto de alteração que os exclua ou 
reduza. São, portanto, imutáveis. 
TEMA 3 – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO 
Como você sabe, o Brasil é dividido em três poderes: Executivo, 
Legislativo e Judiciário. Essa é a chamada tripartição dos poderes, imaginada 
inicialmente por Montesquieu na era do Iluminismo. Enquanto o Poder 
Legislativo cria as regras que devemos seguir (o que inclui o orçamento e o limite 
de gastos do Estado, por exemplo), o Executivo as coloca em prática nas áreas 
da saúde, educação, infraestrutura, saneamento básico e várias outras. O 
Judiciário, por fim, julga aqueles que descumprem as normas criadas pelo 
Legislativo. 
Uma vez que não há pessoa no mundo capaz de, sozinha, dar conta de 
todas as demandas do Estado, vale-se da Administração Pública. Enquanto 
legisladores e governantes vêm e vão, os gestores públicos concursados estão 
lá para sempre dar andamento às tarefas que estão a cargo do Estado. O termo 
Administração Pública possui dois sentidos, como ensina Carvalho Filho (2017, 
p. 42): 
O sentido objetivo, pois, da expressão — que aqui deve ser grafada 
com iniciais minúsculas — deve consistir na própria atividade 
 
 
12 
administrativa exercida pelo Estado por seus órgãos e agentes,caracterizando, enfim, a função administrativa, com os lineamentos 
que procuramos registrar anteriormente. 
A Administração Pública, sob o ângulo subjetivo, não deve ser 
confundida com qualquer dos Poderes estruturais do Estado, 
sobretudo o Poder Executivo, ao qual se atribui usualmente a função 
administrativa. Para a perfeita noção de sua extensão é necessário pôr 
em relevo a função administrativa em si, e não o Poder em que é ela 
exercida. Embora seja o Poder Executivo o administrador por 
excelência, nos Poderes Legislativo e Judiciário há numerosas tarefas 
que constituem atividade administrativa, como é o caso, por exemplo, 
das que se referem à organização interna dos seus serviços e dos seus 
servidores. Desse modo, todos os órgãos e agentes que, em qualquer 
desses Poderes, estejam exercendo função administrativa, serão 
integrantes da Administração Pública. 
Seja qual for o sentido adotado – objetivo ou subjetivo – fato é que o Poder 
Público possui muitas atribuições em suas mãos, num país de proporções 
continentais como é o nosso. Para que o país funcione da devida maneira, é 
essencial que seja administrado a contento. Sendo um tema tão importante, a 
administração conta com um capítulo específico na Constituição Federal. 
Inicialmente, esse tema pode ser encontrado a partir do art. 37: 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos 
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim 
como aos estrangeiros, na forma da lei; 
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação 
prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo 
com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma 
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão 
declarado em lei de livre nomeação e exoneração; 
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, 
prorrogável uma vez, por igual período; 
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, 
aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos 
será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir 
cargo ou emprego, na carreira; 
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores 
ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem 
preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e 
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às 
atribuições de direção, chefia e assessoramento. 
Tal qual ocorreu com o art. 5º, o art. 37 vai além ao nomear as funções da 
administração pública, estendendo-se até o inciso XXII e mais 15 parágrafos – 
 
 
13 
para demonstrar como o Estado só pode organizar-se e realizar suas atribuições 
através de uma administração que seja legal, impessoal, moral, pública e 
eficiente. Esses são os chamados princípios da administração pública, de basilar 
importância para a organização do Estado. 
Dos princípios e funções da Administração Pública, o princípio da 
legalidade remete a obrigatoriedade do administrador e da própria administração 
estarem adstritos à letra da lei. Apenas podem proceder de acordo com os 
mandamentos da lei. Ao praticar ato não amparado por norma legal, está a 
administração e o administrador agindo de maneira ilícita. Enquanto os 
particulares podem fazer qualquer coisa que a lei não proíba, gestores públicos 
só podem fazer o que a lei manda. Mais do que agir conforme os mandamentos 
da lei e apenas eles, deve a Administração e seus administradores serem 
impessoais. Esse princípio “objetiva a igualdade de tratamento que a 
Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica 
situação jurídica” (Carvalho Filho, 2017, p. 48). 
Assim, em nenhuma hipótese, a Administração ou seus administradores 
podem agir em benefício deste ou daquele, desta ou daquela; ainda que 
tristemente alguns casos assim insistam em surgir nos noticiários. É aqui que se 
deve falar sobre a moralidade, que faz referência à ética, retidão e correição nas 
atitudes da Administração Pública. É o que motiva Carvalho Filho (2017, p. 48) 
a ensinar que 
Em algumas ocasiões, a imoralidade consistirá na ofensa direta à lei e 
aí violará, ipso facto, o princípio da legalidade. Em outras, residirá no 
tratamento discriminatório, positivo ou negativo, dispensado ao 
administrado; nesse caso, vulnerado estará também o princípio da 
impessoalidade, requisito, em última análise, da legalidade da conduta 
administrativa. 
Por mais que atos morais e imorais possam ser vistos como produto de 
seu tempo, pode-se afirmar que no caso da gestão pública, a imoralidade pode 
tanto tomar a forma de prejuízo aos cofres públicos, quanto de corrupção ou de 
atos de improbidade. A seguir, a Constituição menciona a publicidade como 
princípio da Administração. Isso significa que todos os atos públicos devem ser 
amplamente divulgados, para que todo aquele ou aquela que tenha interesse 
nas decisões do Poder Público possa ter fácil acesso a elas. Por essa razão, por 
exemplo, as licitações devem ser publicadas em edital. Toda organização 
 
 
14 
interessada em participar terá, ali, as informações necessárias a respeito do 
certame. 
Por fim, a Constituição menciona o princípio da eficiência. 
Tradicionalmente, ser eficiente significa fazer mais com menos; entregar uma 
maior quantidade de serviços com o mínimo dispêndio de recursos. Sabendo da 
insatisfação da sociedade em relação a esse ponto – mesma insatisfação que 
se reflete ao discutirmos as questões de moralidade –, Carvalho Filho (2017, p. 
53) leciona que o “núcleo do princípio é a procura de produtividade e 
economicidade e, o que é mais importante, a exigência de reduzir os 
desperdícios de dinheiro público, o que impõe a execução dos serviços públicos 
com presteza, perfeição e rendimento funcional”. 
Os supersalários, a morosidade da justiça e tantas outras situações 
acabam nos parecendo como uma violação constitucional, e não poderíamos 
estar mais corretos. A questão é que esses princípios são estudados tanto no 
Direito Constitucional como são tema de Direito Administrativo. Sendo a 
Constituição Federal a espinha dorsal do aparato normativo, é natural que outros 
ramos – tal qual o Direito Administrativo – derivem de si. 
TEMA 4 – OS DIREITOS ECONÔMICOS 
Imagine que você precisa comprar um bem – um carro, uma casa ou uma 
coisa mais simples como uma roupa –, mas só há um fornecedor. O que 
acontecerá com o preço desse item? Independentemente da demanda, esse 
fornecedor poderá cobrar o preço que quiser, pois só ele tem esse item à venda. 
É para evitar situações assim que existe o Direito Econômico. A Constituição 
Federal trata a respeito a partir do art. 170: 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: 
I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
 
 
15 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento 
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e 
de seus processos de elaboração e prestação; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte 
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e 
administração no País. 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer 
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos 
públicos, salvo nos casos previstos em lei. 
São sob essesprincípios e regras que a ordem econômica nacional se 
estabelece. No ensinamento de Masson (2020, p. 1674), 
muito embora o Título VII não diga expressamente, a opção 
constitucional é pelo sistema econômico capitalista, cujo fundamento é 
a propriedade privada dos meios de produção e a livre-iniciativa. 
Consagra-se, pois, uma economia de livre mercado, mas com o 
cuidado de direcionar o processo econômico a um objetivo central: 
assegurar a todos uma existência digna, buscando o bem-estar social 
e, sobretudo, a melhoria das condições de vida de todos os integrantes 
da sociedade. 
A propriedade privada e a livre concorrência são, certamente, temas 
essenciais para o cumprimento desse objetivo. É também para o cumprimento 
desses objetivos, que o Brasil conta com algumas instituições específicas no 
setor financeiro. O sistema financeiro brasileiro (SFN, que significa Sistema 
Financeiro Nacional) compreende um conjunto de instituições públicas e 
privadas que regulam e compõe o mercado de finanças do nosso país. Dentre 
seus participantes principais estão: 
• Conselho Monetário Nacional (CMN); 
• Banco Central; 
• Bolsa de valores do Brasil (B3). 
O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão máximo, criado pela Lei 
n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Segundo o Ministério da Economia (2021), 
o CMN é responsável por “formular a política da moeda e do crédito, objetivando 
a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do País”. 
O Banco Central (BC ou Bacen) tem como objetivo conduzir as políticas 
monetárias do país, de forma a desenvolver a economia e estabilizar o valor de 
 
 
16 
nossa moeda. O BC também monitora a inflação, a taxa de juros e outros índices 
econômicos que afetam a vida de pessoas e empresas. 
A Bolsa de Valores, por sua vez, é onde empresas vendem ações e outras 
empresas ou pessoas físicas compram tais ações. A oferta de ações é um 
mecanismo pelo qual algumas empresas podem captar recursos no sistema 
financeiro. Além do CMN, do Bacen e da Bovespa, o sistema financeiro nacional 
é formado pelos bancos que operam no Brasil. A concorrência no sistema 
financeiro brasileiro ainda é baixa, uma vez que existem poucos grandes bancos 
operando aqui. Os poucos grandes bancos que existem podem cobrar tarifas e 
taxas mais altas, uma vez que a concorrência é baixa. 
A concorrência é uma parte central para o desenvolvimento da economia. 
Como explicam os Cavusgil, Knight e Riesenberger (2010, p. 33), 
Onde a concorrência é acirrada, uma empresa não pode forçar os 
consumidores a comprar seus produtos nem os fornecedores a supri-
los com matérias-primas e insumos. Os recursos controlados por 
consumidores e fornecedores resultam da livre escolha no mercado. O 
desempenho empresarial depende da habilidade em conquistar 
clientes, relacionar-se com fornecedores e lidar com a concorrência. 
Dentro da área da defesa da concorrência, existem três termos centrais: 
dumping, cartel e monopólio. Trata-se de três práticas proibidas e que lesam não 
apenas a concorrência, mas também o poder de escolha do consumidor. 
Dumping consiste na redução nos preços dos produtos ou serviços abaixo de 
seu preço de custo, com intenção de falir ou prejudicar os concorrentes. Outra 
possibilidade de dumping é vender no exterior um produto a valor mais baixo do 
que o praticado no mercado doméstico, seja para conquistar o mercado, seja 
para prejudicar as demais empresas do setor. 
Cartel, por sua vez, é um acordo de preços entre várias empresas que 
ofertam o mesmo produto ou serviço. Num cartel, por mais que o consumidor 
procure, não encontrará preços diferentes, pois os valores são combinados de 
antemão entre os empresários. É frequente vermos nos noticiários denúncias de 
cartel nos preços de combustíveis, por exemplo, em que todos os postos 
praticam os mesmos valores; ou reajustam os preços para cima ao mesmo 
tempo. 
Um monopólio, por fim, consiste no domínio de um mercado ou segmento 
por apenas uma empresa. Quando única e exclusivamente uma organização 
fornece um produto, essa organização pode cobrar o que bem entender, pois os 
 
 
17 
consumidores não têm outra opção. No Brasil, a Constituição Federal garante 
apenas dois monopólios ao Estado, ou seja, ao governo: a extração, refino e 
distribuição de petróleo – monopolizada pela Petrobrás – e a entrega de cartas 
e encomendas até um determinado volume – monopolizado pelos Correios. Os 
demais monopólios podem ser denunciados às autoridades competentes, em 
especial ao CADE. 
TEMA 5 – LIBERDADE ECONÔMICA E EMPREENDEDORISMO 
Cada vez mais escuta-se nos noticiários a respeito da competitividade 
brasileira. O que é isso, afinal? Ser competitivo significa ser capaz de criar 
produtos de boa qualidade e espalhá-los por diversos mercados num preço 
relativamente baixo. O Brasil, infelizmente, não consegue ser competitivo. 
Anualmente, são divulgados diversos índices de competitividade mundial, 
elaborados em especial pelo Fórum Econômico Global. Ano após ano, o Brasil 
vem perdendo posições, e atualmente está atrás até mesmo do Cazaquistão e 
do Peru. 
Isso significa que é muito difícil para que uma empresa brasileira consiga 
produzir itens de alta qualidade e preço baixo. Dentre as várias razões para esse 
fato, está a baixa liberdade econômica que sufoca os empreendedores 
brasileiros. Quanto mais livre é o ambiente de um país, quanto mais suas 
empresas produzem e/ou importam, mais opções têm seus consumidores. Como 
consequência, as empresas nacionais buscam criar produtos melhores, mais 
inovadores e de maior tecnologia, para permanecerem no mercado. Aquelas que 
não o fazem estão fadadas ao fechamento ou à falência. 
De outro lado, quanto mais o governo dificulta o empreendedorismo – 
através de encargos trabalhistas e impostos elevados sobre as atividades 
econômicas –, ele trava as importações, cria empecilhos ao comércio – através 
de leis e procedimentos burocráticos e sem sincronia, com muitos órgãos 
intervenientes –, e menos as empresas se engajam em atividades que geram 
competitividade. Consequentemente, esse país perde oportunidades de 
crescimento e desenvolvimento. 
Um exemplo de país que evoluiu e cresceu graças à sua abertura 
comercial e liberdade econômica foi Cingapura. Esse país asiático, na década 
de 1960, era pobre, sem recursos naturais ou terras férteis. Através de incentivos 
 
 
18 
governamentais, solidificação da moeda, respeito à propriedade privada e 
incentivos ao empreendedorismo e ao setor industrial, Cingapura hoje tem uma 
renda per capita maior do que a dos Estados Unidos e União Europeia. Esse 
país possui poucas regulamentações que dificultem o empreendedorismo, 
impostos baixos e zero tributos sobre as operações internacionais de suas 
empresas. 
Tanto o livre mercado quanto a liberdade econômica permitem que os 
empresários busquem, sem as desnecessárias interferências do governo, as 
melhores condições de comércio. O livre mercado, como ensinam Magnoli e 
Serapião Jr. (2012, p. 44) estimula “empresários a buscar sempre novas formas 
de exportar ou de competir com os importados, gerando mais incentivo ao 
aprendizado e à inovação do que em um sistema de comércio ‘administrado’”. 
Embora hoje não exista um mercado que seja 100% livre, sem qualquer 
restrição do governo, existem aqueles países mais economicamente livres, cujos 
índices de liberdade econômica são os mais elevados. Estão entre eles a Suécia, 
a Suíça, o Canadá, a Dinamarca, a Austrália e a Nova Zelândia. Ou seja: as 
nações mais economicamente livres são, sem exceção, as nações mais ricas e 
prósperas do planeta. Por outro lado, existem também aqueles locais mais 
economicamente repressores como Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. 
Nesses países, o Estado tem um papel preponderante e os indivíduos 
pouquíssima liberdade. As nações economicamente repressoras são, sem 
exceção, nações menos desenvolvidas.Qual deve ser o papel do Direito nesse cenário? De um lado, garantir que 
os empresários possam atuar livremente sem regulamentações desnecessárias, 
respeitando padrões trabalhistas e pagando seus tributos. De outro, garantir que 
o Estado não crie empecilhos ao desenvolvimento e não onere o setor produtivo. 
O caso de sucesso de Cingapura é um exemplo de como esse equilíbrio pode 
funcionar bem. 
TROCANDO IDEIAS 
Nesta aula, pudemos aprender que o Direito evoluiu de forma que os 
soberanos, outrora supremos em suas vontades, hoje também têm seus 
desígnios submetidos ao crivo da lei. Enquanto os reis absolutistas faziam o que 
bem entendiam, a partir da evolução do Direito Constitucional e dos Direitos 
 
 
19 
Fundamentais, o ser humano deixa de ser súdito e torna-se cidadão. Como 
consequência, gozamos hoje de liberdades inéditas no decorrer da história 
humana. Diante do que você aprendeu aqui, comente um pouco sobre suas 
experiências com questões legais, seja com Direitos Fundamentais, seja com a 
Administração Pública, seja com o empreendedorismo ou com a dificuldade de 
se empreender. Seguidamente, procure imaginar quais os desafios que o atual 
cenário jurídico brasileiro impõe às empresas, cogitando como seria o Brasil caso 
fôssemos um país mais economicamente livre. 
NA PRÁTICA 
A baixa liberdade econômica que sufoca empreendedores brasileiros não 
é algo recente. A partir da década de 1950, tentando incentivar a indústria 
nacional, aplicou-se ao Brasil medidas protecionistas. Originalmente, a ideia era 
reduzir a concorrência de produtos externos para que aquilo que fosse produzido 
aqui pudesse prosperar. E será que deu certo? 
Certamente que não. Estima-se que, na década de 1990, a estrutura da 
indústria brasileira era equivalente à estrutura da indústria francesa do início do 
século XX. Esse foi o resultado de décadas de protecionismo. De maneira geral, 
o protecionismo envolve grandes responsabilidades para os Estados, que devem 
cuidar de um número cada vez maior de áreas. Países protecionistas são, 
também, economicamente repressores. Nessas nações, os particulares e suas 
empresas não possuem autonomia para importar e exportar o quanto quiserem. 
O Estado deverá regular, permitir e proibir uma série de condutas. 
No decorrer das décadas de 1950 até a década de 1990, éramos um país 
protecionista e altamente regulado. Havia restrições variadas às importações 
como forma de promover a indústria doméstica. E qual foi o resultado disso? 
Tínhamos apenas quatro montadoras de automóveis no país, outras poucas de 
eletrodomésticos e uma demanda reprimida. 
E o que é demanda reprimida? Significa que tínhamos muita gente 
querendo comprar, mas poucas empresas oferecendo produtos e serviços. 
Como a oferta era pequena, o consumidor acabava obrigado a comprar aqueles 
itens oferecidos, que nem sempre eram bons. Por isso, durante tanto tempo, o 
brasileiro teve a impressão de que produto importado era melhor do que produto 
 
 
20 
nacional. A baixa concorrência não estimulava as empresas a inovar e buscar 
oferecer produtos melhores a preços mais baixos. 
E hoje em dia? Hoje, dificilmente teremos um país 100% protecionista 
(com exceção de Coreia do Norte, que é um país fechado) ou 100% aberto e 
livre. O que há é um mix das duas coisas, às vezes mais fechado, às vezes mais 
aberto. A isso soma-se a infraestrutura brasileira. De acordo com Salum (2014, 
p. 4) 
apenas, 11% das estradas brasileiras são pavimentadas, ficando atrás 
da China, Rússia e Índia. As condições das estradas brasileiras 
provocam um aumento no tempo de entrega e uma redução na 
qualidade de serviços, que muitas vezes foram sentidos no 
cumprimento de contratos, pagamentos de multas por atraso e até 
mesmo perda do negócio. 
Considerando todas essas questões, pense qual deveria ser o papel da 
Administração Pública e do Direito nesse cenário. O que as leis poderiam fazer 
para tornar o Brasil um país mais aberto e mais livre? O que poderíamos fazer 
para ter melhor infraestrutura? 
FINALIZANDO 
Após os conteúdos abordados nesta aula, é muito importante que você 
compreenda que o atual Direito Brasileiro é fruto de um longo processo histórico. 
Inicialmente, éramos apenas súditos. As Constituições foram mudando no 
decorrer do tempo, sendo sempre resultado das mudanças sociais pelas quais 
o país passou. Enquanto a Constituição Imperial estendeu-se de 1824 até 1891, 
a Proclamação da República tornou necessária uma nova Carta Magna. 
A atual Constituição, promulgada em 1988, nasceu após 21 anos de 
regime ditatorial-militar. Consequentemente, nos traz direitos fundamentais 
como a vida, a liberdade, a livre concorrência e a propriedade. Os Direitos 
Fundamentais estão consagrados ali, em especial no art. 5º e seguintes. A 
Administração Pública também é objeto da Constituição. Se hoje você precisa 
realizar concurso público para ascender a cargos no governo e nos poderes, é 
em virtude da necessidade de publicidade que garante a todos os brasileiros as 
mesmas chances. 
Além disso, a Constituição traz também alguns direitos relativos à ordem 
econômica a partir do art. 170. A soberania nacional, a livre concorrência e a 
 
 
21 
defesa do consumidor – sob a qual nos debruçaremos em conteúdo posterior – 
constam ali como garantias para todos nós. Assim, a formação de monopólios, 
oligopólios e cartéis é não apenas proibida, mas consiste em crime contra a 
ordem econômica. 
Também tem grande relevância para o desenvolvimento do país o 
empreendedorismo. Atualmente, o Brasil é um país economicamente repressor. 
Isso é fruto de décadas de protecionismo e da crença equivocada de que para a 
indústria nacional prosperar seria necessário fechar o país aos negócios 
internacionais e à concorrência estrangeira. Embora a abertura comercial tenha 
ocorrido em 1992, seguimos sofrendo com tributos altos, procedimentos 
burocráticos e desnecessários e outras tantas dificuldades que assombram 
aqueles que querem inovar, gerar empregos e criar oportunidades. 
 
 
 
22 
REFERÊNCIAS 
CARVALHO FILHO, J. dos S. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: 
Atlas, 2017. 
CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios Internacionais: 
estratégia, gestão e novas realidades. Pearson: São Paulo, 2010. 
KISSINGER, H. Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. 
MASSON, N. Manual de Direito Constitucional. Salvador, JusPODIVM, 2020. 
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 
2016. 
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Conselho Monetário Nacional - CMN. 2021. 
Disponível em: <https://www.gov.br/fazenda/pt-
br/assuntos/cmn#:~:text=O%20Conselho%20Monet%C3%A1rio%20Nacional%
20(CMN,econ%C3%B4mico%20e%20social%20do%20Pa%C3%ADs>. Acesso 
em: 12 ago. 2021. 
PERRY, M. Civilização Ocidental: uma história concisa. 2. ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 2005. 
SALUM, M. I. F. Infraestrutura Logística no Brasil: uma busca por maior 
competitividade. (Monografia) – Pós-graduação em Engenharia de Produção, 
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em 
<https://pt.scribd.com/document/329025532/Infra-Estrutura-Logistica-no-Brasil-
Uma-busca-por-maior-competitividade-Maria-Inacia-pdf>. Acesso em: 13 ago. 
2021. 
SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 
2013. 
 
	CONVERSA INICIAL
	CONTEXTUALIZANDO
	TEMA 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL
	TEMA 2 – DIREITOS FUNDAMENTAIS
	TEMA 3 – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO
	TEMA 4 – OS DIREITOS ECONÔMICOS
	TEMA 5 – LIBERDADE ECONÔMICA E EMPREENDEDORISMO
	TROCANDO IDEIAS
	NA PRÁTICA
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

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