Buscar

História da arte

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA ARTE E DO 
DESIGN 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Débora Jordão Cezimbra 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Anteriormente, compreendemos o amplo período histórico a que se 
refere o início da História da Arte (entre 35 mil e 500 anos a.C.). Abordamos o 
Paleolítico Superior e as inscrições em caverna, apresentando o estilo de vida 
de nossos ancestrais, suas técnicas e temas desenhados, assim como a arte 
no Neolítico e na Idade dos Metais e as primeiras manifestações da linguagem 
escrita. O legado deixado pelos antigos egípcios com seu culto às “divindades 
faraônicas” e a técnica de desenho da figura humana por aquilo que era 
considerado sua melhor vista – a lei da frontalidade – com uma estrutura quase 
matemática na composição das cenas e das mensagens, com ordem e 
exatidão. Nos povos da Mesopotâmia há a continuidade dos princípios 
egípcios, porém mais rudes na expressão e com a diferença de falarmos agora 
de homens reais, fortes, bravos e mortais. Seus relevos em paredes, ainda que 
duros se comparados aos seus contemporâneos, remetiam a uma vida comum, 
mas repleta de misticismos e animais alados. 
Finalizamos a aula introduzindo a história dos povos do mar Egeu e que 
prenunciaram a nova, e ouso dizer, entre das mais belas formas de arte e que 
iniciamos agora nesta aula. Compreendermos a relevância da cultura grega – 
mesmo que múltipla nas referências muito original nos modos –, que nos 
possibilita a leitura da arte nos mais de 2 mil anos que a sucederam. Na 
História da Arte veremos que o referencial grego tanto foi copiado como muitas 
vezes oposto na representação artística. Propomos que você contraponha, 
durante esta aula, o percurso da arte nos períodos pré e pós-civilização grega, 
sua influência na cultura de Roma e as características da expressão artística 
cristã até o período Gótico, e inclusive ir além, aos ideais artísticos que 
permeiam hoje a nossa arte contemporânea. 
CONTEXTUALIZANDO 
A Johann Joachim Winckelmann (1717-1768), arqueólogo e historiador 
da arte, alemão do período Neoclássico, atribui-se a célebre frase de que 
deveríamos “imitar os antigos”, em referência aos modelos de arte gregos. 
Precisamos, contudo, entender o conceito de imitação (mímese) a partir de 
Platão e Aristóteles e seus aspectos na Filosofia da Arte. Para Platão, a 
imitação refere-se ao mundo sensível, ao qual o homem se conecta por meio 
 
 
3 
dos sentidos. Tomemos como exemplo o elemento cadeira e quantas outras 
cadeiras reais existem, bem como as diferenças formais entre elas. Existiria 
então uma cadeira única e universal e que abrangesse todas as outras, talvez 
um assento, um encosto e quatro pernas? Temos então a ideia essencial 
(eidos) de uma cadeira, o elemento universal e imutável, e a suas 
representações em objeto, ou imitação, no mundo sensível. Compreendamos 
que, para Platão, a natureza (sensível) já é uma imitação do eidos de natureza, 
portanto, o artista que copia a natureza está imitando uma imitação. Aristóteles 
se aprofunda e se contrapõe a Platão em aspectos diversos e interessantes 
sobre a arte, como imitação, sendo essa a produção de algo (em vista dos fins) 
e em constante transformação, um processo, assim como a natureza também o 
é. Assim, a imitação na arte passa a ser uma reprodução “de certo modo 
purificada e depurada” (Lemos, 2009). Para Galé, o que Winckelmann se 
referia quanto a imitar os antigo não se referia a cópia de suas figuras tão bem 
aprimoradas, mas sim sobre despertar em nós, a partir da observação das 
obras gregas – principalmente na escultura – que a beleza estava na contínua 
“formação do homem na Grécia. O seu corpo era reflexo de um modo de 
pensar e de atuar em relação ao mundo e à natureza [...]” uma construção 
(Galé, 2016, p. 115). 
TEMA 1 – A ARTE NA GRÉCIA ANTIGA 
A arte micênica e minoica manteve-se permanente na história mais 
pelas lendas repassadas por meio dos dialetos gregos do que pela cultura 
material desses povos, pouco preservada pelas invasões. Contudo, foram os 
seus modelos os potencializados pela civilização que seguidamente ocupou as 
diversas ilhas do mediterrâneo, os gregos. As pinturas dos períodos 
anteriormente estudados, assim como os relevos e os afrescos, eram adornos 
da arquitetura e estavam submetidas a ela, não existindo uma pintura per se 
(Proença, 2005). Na arte grega essa mudança ocorre na aplicação de técnicas 
de pintura em vasos de cerâmica. Para Maciel (1988), o vaso é um elemento 
de forte simbolismo na história e para os gregos além das funções práticas do 
dia a dia servia como componente religioso com pinturas e temas míticos, 
como o de Aquiles e Ajax jogando damas. Essas técnicas em cerâmica eram 
denominadas de Figuras Negras e Figuras Vermelhas (aproximadamente 540 a 
500 a.C. – Período Arcaico). As primeiras eram pintadas em tom escuro sobre 
 
 
4 
a base cerâmica e os detalhes eram “riscados”, supostamente com ferramentas 
com ponta fina. Na segunda, com a técnica invertida, os elementos mantinham 
a cor do fundo cerâmico e sendo então o entorno pintado em negro, dessa 
forma tornava-se mais fácil compor os detalhes das figuras anteriormente 
riscadas. Nesse período a pintura ainda mantinha a preocupação com 
contornos e planos bem definidos; contudo, já se prenunciavam nos temas a 
intenção do artista quanto às emoções, ao “estado de espírito” das figuras 
representadas. 
Figuras 1 e 2 – Ânforas antigas de Figuras Negras e Figuras Vermelhas 
 
Créditos: Olemac/Shutterstock. 
Ainda se percebe os princípios egípcios da frontalidade, contudo, o 
pintor grego começa a confiar em suas observações representando agora os 
elementos por sua visão real, mesmo que não a mais favorecida, assim como o 
uso do desenho em escorço, ou a noção de que os objetos vistos de frente são 
menores do que parecem. O princípio da perspectiva e a diferença de tamanho 
entre os elementos da figura e do fundo ainda não aparecem nos murais 
gregos e posteriores romanos, sendo realmente explorada a partir do 
Renascimento. Quanto às figuras, nota-se a preocupação com as junções 
anatômicas e a continuidade no estudo dos movimentos com os pés não mais 
firmemente ao chão. O artista grego não se dava por satisfeito com seus 
resultados, buscando sempre aperfeiçoar as suas figuras (Gombrich, 1981; 
Jason, 1996). Para Winckelmann (citado por Bornheim, 1974): 
[…] entre todos os povos antigos, os gregos foram os únicos que 
atingiram o pleno desenvolvimento de sua forma, e, por isto, o 
esplendor maior da natureza. A perfeição foi tal, que o divino, 
 
 
5 
poderíamos dizer, tornou-se sensível; a natureza grega – humana – 
era tão perfeita, que nela podia-se ler o traço da mão divina. A 
educação e o condicionamento geral da cultura grega ofereciam ao 
artista um tal esplendor da natureza, que seu ato criador se 
processava em condições excepcionalmente felizes. O entusiasmo de 
Winckelmann radica precisamente nessa coincidência entre a 
natureza e o eidos; assim compreende ele a natureza grega. 
(Bornheim, 1974, p. 153) 
Enquanto no Egito, e até mesmo na história das civilizações da 
Mesopotâmia, o artista é um escravo, anônimo, subordinado ao poder de 
governantes e monarcas, na Grécia antiga o artista tinha sua arte como ofício e 
mesmo pertencendo às classes sociais menores possuía representação social 
e voz nas cidades (pólis grega). Durante o percurso entre o estilo arcaico para 
o clássico o artista grego passa a ampliar seu status social, alcançando no 
período helenístico o reconhecimento. Sua obra passa a ser assinada e possuir 
valor material aos ricos e colecionadores, como nas pinturas e nos afrescos de 
Pompeia no período helenístico (Gombrich, 1981; Proença, 2005). 
Figura 3 – Afresco de Hércules em Pompeia (aproximadamente 79 d.C.) 
 
Créditos: Blackmac/Shutterstock. 
Mesmo considerando que na época os pintores eram mais populares 
que os escultores,é nesda arte que verificamos o ideal e a expressão da 
beleza do provo grego. No período arcaico o escultor demonstrava a 
preocupação presente na arte do Egito e figuras com seu peso igualmente 
distribuído, como nas estátuas de Kouros (homens nus em pé) expostas no 
Museu Arqueológico de Atenas e de Delfos. As figuras femininas eram 
esculpidas e pintadas vestidas e seus corpos delineados por debaixo dos 
tecidos com drapejamentos graciosos. Contudo é no período clássico, e com 
apogeu da democracia ateniense, que esse povo desenvolve o estilo até hoje 
 
 
6 
referenciado. A escultura nesse período prezava pelo pouco, evitando a 
afetação dos sentidos. É certo que as possibilidades de observação dos corpos 
atléticos eram muitas devido à popularidade dos Jogos Olímpicos, mas o artista 
buscava transmitir a maneira como os “sentimentos impactam o corpo em 
ação”, “a atividade da alma”, como visto no Discóbolo, na cópia romana do 
escultor Myron (aproximadamente 450 a.C.) (Gombrich, 1981). 
A beleza na escultura clássica estava naquilo que era divino, e a simples 
imitação do real a partir da observação de um homem em particular se 
distanciaria desse ideal. A escultura no período clássico não possuía somente 
o caráter de retratar deuses ou feitos heroicos, mas sim a vontade, o desejo de 
uma alma viva e que é também racional – constrói seu conhecimento por meio 
da razão –, com feições contidas e de uma natureza bela, elevada e universal. 
Figura 4 – Estátua de Apollo de Belvedere. Réplica em mármore do original em 
Bronze. Museu do Vaticano 
 
Créditos: Pandapaw/Shutterstock. 
Diferente ocorre na escultura do período helenístico, as fisionomias 
passam a evidenciar as características particulares e a assimetria entre os 
lados da face, como no retrato de Alexandre Magno, feito pelo artista Lisipo 
(Museu Arqueológico de Istambul), estilo de retrato copiado depois pelos 
romanos. Amplia-se também a sensação de mobilidade das figuras e que 
devem ser belas por seus múltiplos pontos de vista, e também se modificam as 
posições das pernas em relação ao tronco e aos braços. A forte carga 
dramática também está presente no período, como na estátua Lacoonte e seus 
filhos (Gombrich, 1981; Proença, 2005). 
 
 
 
7 
Figura 5 – Lacoonte e seus filhos. Museu do Vaticano 
 
Créditos: Gabriele Gelsi/Shutterstock. 
1.1 A arquitetura na arte grega 
Na arquitetura evidenciam-se as três ordens, ou sistemas arquitetônicos: 
Dórica, Jônica e Coríntia. Novamente conjetura-se que as construções seguiam 
os modelos egípcios de templos em pedras estruturados por grandes colunas, 
contudo tais estruturas na Grécia se orientam aos espaços externos onde 
ocorriam cerimônias religiosas, assim como o teatro. Atribui-se também que no 
início tais estruturas eram reconstruídas em bases de madeira proveniente das 
antigas colunas micênicas (Gombrich, 1981; Janson, 1996). A diferença entre 
as ordens, além do período em que surgem e estruturas, está principalmente 
nos povos de que se originam. Enquanto os “dórios são mais rudes e secos”, 
os jônios eram mais afeitos aos “aspectos decorativos”, a ordem coríntia pouco 
se diferencia da jônica, sendo o capitel mais adornado e com “folhas de acanto” 
(Monterado, 1978). A escultura também era um elemento que acompanhava a 
arquitetura e onde as estátuas pareciam nascer e sustentar as arquitraves, as 
vigas sobre os capitéis ou colunas. 
 
 
 
 
 
 
8 
Figuras 6 e 7 – Acrópole de Atenas. Partenon e Pórtico das Cariátides 
 
Créditos: Kozer/ Dibitonto/Shutterstock. 
Saiba mais 
Para maior detalhamento da estrutura e capitel das ordens 
arquitetônicas tratadas, sugere-se o acesso ao sítio eletrônico Portal 44 
Arquitetura. Disponível em: <http://44arquitetura.com.br/2018/08/ordens-
classicas-arquitetura/>. Acesso em: 25 mar. 2020. 
TEMA 2 – O IMPÉRIO ROMANO 
Os romanos são conhecidos pelo seu espírito prático e organizado e por 
ser um povo hábil no campo da engenharia de construções e da funcionalidade 
das cidades, com termas para higiene, praças, espaços para reuniões, teatros 
e bibliotecas, grandes e imponentes. De fato, muito da arte em Roma estava 
nos referenciais gregos helenísticos, mais pela admiração pela arte desses 
conquistados do que por uma suposta incapacidade de criar um estilo próprio; 
pelo contrário, os feitos dessa civilização, mesmo distantes da arte e da 
filosofia, determinaram o marco fim da história do mundo antigo (Monterado, 
1978). Outra importante referência e que também formam as bases da 
linguagem artística e civilizatória dos romanos são os povos da Etrúlia 
(etruscos) e que habitaram as regiões da Itália entre os séculos XII e VI a.c. 
Também é desse povo o aprimoramento do arco de plena volta e o uso de 
abóbodas nas edificações (Proença, 2005). A escultura dos etruscos, que 
coincide com o período arcaico grego, possui feições fortes e os corpos com 
musculatura robusta, estando preservadas em túmulos funerários. 
 
 
http://44arquitetura.com.br/2018/08/ordens-classicas-arquitetura/
http://44arquitetura.com.br/2018/08/ordens-classicas-arquitetura/
 
 
9 
Figura 8 – Escultura etrusca – sarcófago de Chiusa, aproximadamente 500 
anos a.C. 
 
Créditos: Wjarek/Shutterstock. 
Talvez a mais conhecida referência deste povo esteja na escultura Loba 
Capitolina das lendas que envolvem a criação da cidade de Roma (Monterado, 
1978; Janson, 1996). 
Na arquitetura, os romanos empregam os arcos de plena volta com a 
vantagem de necessitarem de número de menor de colunas pela menor tensão 
deste quando comparado à viga tradicional. Isso tornava os espaços mais 
livres para circulação, diferente do que se via nos templos da Grécia (Proença, 
2005). A planta dos templos romanos era retangular ou circular, como a do 
Panteão, um templo pagão destinado aos diversos deuses romanos e que se 
equivaliam as divindades gregas. As basílicas e os anfiteatros também são 
construções típicas romanas, sendo a segunda baseada no teatro grego, mas 
ocupando agora toda a área circular ao redor de uma arena, como no Coliseo, 
que atendia uma das favoritas atividades deste povo, a luta entre gladiadores. 
Essa arena é composta por três andares de galerias e arcos sobrepostos, 
adornados com meias-colunas – que não lhes serviam à sustentação – com as 
três ordens gregas – no primeiro, a dórica; no segundo, jônica; e no último, a 
coríntia. Essa arquitetura que combina os estilos grego e romano foi tão 
significativa que é até hoje revisitada em novas construções (Gombrich, 1981). 
 
 
10 
Figura 9 – Coliseo em Roma 
 
Créditos: David Wayne Buck/Shutterstock. 
Saiba mais 
É possível visualizar outros exemplos e desenhos esquemáticos dos 
arcos de plena volta e abóbodas no sítio eletrônico História da Arte e 
Arquitetura. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/891364/capiteis-
da-antiguidade-classica-entenda-a-diferenca-entre-as-cinco-
ordens#:~:text=Em%20linhas%20gerais%2C%20h%C3%A1%20cinco,e%20co
mp%C3%B3sita%2C%20de%20car%C3%A1ter%20romano>. 
Acesso em: 25 mar. 2020. 
Vale já a reflexão que o período artístico que segue a história de Roma, 
Bizâncio e na Idade Média, constituiu-se de uma época quase que toda 
orientada à arquitetura e construção de igrejas e mosteiros e a grande 
expressão “de arte”, se assim podemos referenciar o período, estava quase 
toda em domínio da religião católica e ortodoxa cristã. 
Na pintura os afrescos preservados em Herculano e Pompeia 
apresentam técnica de desenhos de cenas de paisagens, às vezes com 
grandes janelas, o que permitia a amplitude dos espaços (Figura 3). 
Inicialmente eram feitos sobre uma camada de gesso simulando o mármore 
branco, sendo a técnica depois abandonada. Tais cenas eram emolduradas, 
delimitando a área da pintura (Proença, 2005). Os retratos do período 
helenístico também foram explorados em Roma (escultura e pintura), assim 
como os bustos de grande realismode feições e até mesmo as imperfeições 
 
 
11 
dos retratados. Podemos dizer até mesmo que tinham caráter documental e 
histórico conservando a imagem tanto do cidadão comum de Roma, como 
funcionários do governo e imperadores (Janson, 1996). Os relevos se 
apresentam na forma de narrativas, como no Aras Pacis e nas Colunas de 
Trajano, que tratam das batalhas e da vitória desse imperador sobre a Dácia. 
Mesmo fazendo uso dos estilos aprimorados da arte egípcia e grega a narrativa 
reporta eventos dramáticos de uma campanha militar, deixando claro que a 
“harmonia e a beleza da expressão” não era o mote na arte dos 
“conquistadores do mundo” (Gombrich, 1981). 
Figuras 10 e 11 – Coluna de Trajano em Roma e Detalhe dos relevos 
 
Créditos: Grafalex/Conde/Shutterstock. 
TEMA 3 – SIMBOLISMO NA ARTE PALEOCRISTÃ 
A arte paleocristã, ou arte cristã primitiva, designa a expressão artística 
dos cristãos durante o Império Romano, e que vem a exercer forte influência 
simbólica na arte da época. Tem-se que essa forma de arte existiu em tempos 
anteriores, porém em maior volume de conservação estão as do período do 
império, como visto nos murais preservados em Dura-Europos e hoje expostos 
no Museu Nacional de Damasco. 
No início os cristãos compunham as minorias, uma população pobre, 
escravos e mulheres, e que enxergavam na crença em um deus único e 
igualitário uma contradição às regras romanas de obediência à divindade do 
imperador (Proença, 2005). De certa forma a cultura plural dos romanos 
sempre permitiu a liberdade religiosa dos povos conquistados e a perseguição 
aos cristãos, comum nos primeiros séculos do Império, se dava muito mais por 
questões políticas e econômicas – até mesmo pelo pouco entendimento sobre 
suas crenças – do que pela fé que promulgavam. Dessa forma, a arte cristã 
 
 
12 
inicialmente se expressa quase que escondida nas tumbas subterrâneas, 
sendo também denominada de Arte Catacumbária (Bilheiro, 2008; Cedilho; 
Sousa, 2013). 
Figura 12 – Afresco cristão em catacumba. Via latina, Roma 
 
Créditos: Isogood_Patrick/Shutterstock. 
Somado ao fato de os teóricos atribuírem a autoria da arte cristã a 
pessoas comuns e não a artistas, temos a impressão de se tratar de uma arte 
pouco habilidosa, quase rude (Gombrich, 1981); contudo, com forte teor 
narrativo e o uso de mensagens simbólicas, característica reforçada quando da 
vigência da Disciplina do Arcano e o costume de não representar de forma 
explícita os “mistérios da religião” (Bilheiro, 2008). A linguagem narrativa por 
meio de ícones (abstrata) estrutura-se num discurso – por símbolos ou 
imagens – com significado e contexto próprios (Maciel, 1988), igualmente os já 
visto nos vasos da Arte Geométrica. 
Figura 13 – Símbolo Chi Rho esculpido em pedra. Mosteiro da Transfiguração 
 
 
13 
 
Créditos: Sergey Berestetsky/Shutterstock. 
Mesmo sendo uma reprodução atual, observa-se no crismão o enfoque 
simbólico no período cristão antigo. O uso das letras X e P para a palavra 
grega ΧΡΙΣΤΟΣ (Cristo) e o círculo associado ao deus sol Helius, muito comum 
no halo das figuras da arte cristã (Cedilho; Sousa, 2013). O peixe (Ιχθισ) é 
outro símbolo comumente representado e se origina a partir do anacrônico 
Iesus Christos Theou Uios Soter, assim como a âncora, o pão, a cruz gamada 
e a figura do Bom Pastor (Monterado, 1978; Proença, 2005). 
Os dogmas judaicos e descrições do Velho Testamento sempre 
censuraram o uso e adoração de imagens como ídolos, o que se manteve no 
início da arte e crença cristã, e que era bem comum nas demais culturas pagãs 
antigas. Contudo no transcurso da história da arte vemos o hibridismo entre 
estas duas culturas (pagã e cristã), tanto em Roma quanto nos povos nórdico, 
saxão e celta e na adoção e expansão da doutrina cristã durante a história. 
Sobre os temas, a arte primitiva cristã propagava certo “caráter didático, 
buscando evidenciar os benefícios da nova fé”. Para Cedilho e Sousa (2013) 
esta arte se afasta dos modelos clássicos (greco-romanos) para poder assim 
evidenciar a história e a moral por detrás dos temas (normalmente os 
evangelhos), retirando os excessos do realismo e mantendo somente o 
essencial, isso de fato já se observava na expressão artística no Egito. 
TEMA 4 – ARTE CRISTÃ BIZANTINA 
A Arte Triunfal, ou Arte Bizantina, se refere à arte cristã primeiramente 
quando da liberdade de culto pelo imperador Constantino (311 d.C.) e posterior 
adoção do cristianismo como religião oficial, e única do estado, pelo imperador 
 
 
14 
Teodósio (380 d.C.). Com isso se fez necessário ofertar espaços que 
reunissem o cada vez maior número de fiéis para a celebração litúrgica, 
inaugurando uma diferente concepção de templo se comparado aos antigos 
espaços pagãos, voltados à vivência em áreas externas, como os dos gregos. 
Agora nesse novo modelo romano ocorre o “se fechar para o seu interior”. No 
início as construções romanas eram planejadas para atender o crescente 
número de habitantes da cidade, com temperaturas menores que as do 
mediterrâneo e a presença próxima de animais e vida selvagem (Gombrich, 
1981). Até mesmo o Panteão seguia os princípios arquitetônicos das casas de 
banho, onde o grande orifício do domo possuía a função de troca entre 
temperatura externa e interna; contudo, são as basílicas que vêm a 
fundamentar o estilo de construção que agora seria seguido, o voltado para as 
igrejas. 
Figura 14 – Basílica de São João Evangelista, Ravena, aproximadamente 500 
d.C. 
 
Créditos: Claudio Zaccherini/Shutterstock. 
As basílicas, com plantas estruturadas em um grande átrio central, ou 
nave, com alas (asas) laterais – separadas por colunas – e um pequeno 
espaço semicircular ao fundo, o altar ou coro, e para onde todos deveriam 
dirigir sua atenção (Gombrich, 1981), são modelos arquitetônicos que surgem 
no governo de Constantino (sec. III d.C.). Seu interior, antes com a 
simplicidade do paleocristão, foi tornando-se suntuoso e originando o termo 
 
 
15 
desse período o de “arte triunfal”. Constituía-se, além das colunas, de arcos e 
domos majestosos, com paredes e tetos ornamentados em pinturas e o 
inconfundível mosaico bizantino. Inicialmente, na Grécia e Roma os mosaicos 
eram utilizados no chão e a desvantagem das pedras com cores limitadas, mas 
na arte Bizantina adota-se a tessela em vidros formando cenas pela tonalidade 
(normalmente terrosos, amarelos e verdes) e brilho luminoso característico do 
material. 
 
 
 
Figura 15 – Basílica de São João de Latrão, Roma, consagrada em 324 d.C. e 
finalizada em 1735 d.C. 
 
Créditos: Bill Perry/Shutterstock. 
O mosaico mantinha, como na pintura do período, as figuras mais 
chapadas quanto ao fundo e na arte religiosa eliminou-se o naturalismo dos 
gregos, agora com figuras solenes e representadas quase que totalmente de 
frente, seguindo certo ordenamento hierárquico dentro dos planos da imagem e 
normalmente com semblantes suaves (quase apáticos para alguns teóricos) 
inclinando-se mais às emoções contidas, quase etéreas, do que aos atributos 
físicos e em alguns exemplos, na riqueza material e dos ambientes do 
representado, como nos mosaicos do reinado de Justiniano (séc. VI d.C.) que 
restaurou o domínio do oriente sobre o ocidente e a magnitude do império 
(Monterado, 1978; Jason, 1996). 
 
 
 
16 
Figura 16 – Mosaico da Imperatriz Teodora, Basílica de São Vital 
 
Créditos: Spatuletail/Shutterstock. 
As esculturas nunca foram bem aceitas na arte cristã pelo já conhecido 
repúdio à idolatria das imagens, o que mais tarde resultou em disputas políticas 
e religiosas entre o Ocidente e Oriente ortodoxo e com os Iconoclastas que 
exigiam o uso de paisagens e cenas de caça (séc. VIII d.C.), resultando na 
destruição de grande parte do acervo artístico religioso do período (Monterado, 
1978; Janson, 1996). No Ocidente latino coube ao Papa Gregório (séc. VI d.C.) 
a aberturaàs pinturas como forma de “memorizar os episódios sagrados” para 
ensinar aos fiéis, que na maioria não dominavam a escrita e a leitura 
(Gombrich, 1981) e dando continuidade à tendência educativa, já presente na 
arte cristã primitiva. 
TEMA 5 – DO CAROLÍNGIO ÀS CATEDRAIS GÓTICAS 
A queda do Império Romano do Ocidente (sec. IV d.C.), que ocorreu 
devido às constantes invasões bárbaras, iniciou o que conhecemos como 
Idade Média, a qual perdurou até a tomada de Bizâncio – capital do império 
ocidental – pelos turcos otomanos em 1453. Como visto anteriormente durante 
o período ocorre o predomínio e expansão de uma expressão artística religiosa 
cristã e pouco surgindo em termos de renovação que não estivesse submetida 
aos dogmas e às imposições da Igreja, tendo que a produção de arte, assim 
como as oficinas de aprendizagem, estava em mosteiros limitados em estrutura 
e recursos. As construções públicas eram as igrejas e a arquitetura, pintura e 
 
 
17 
escultura atendiam a elas. As plantas das basílicas em forma de cruz e 
pavimento único, construídas em áreas isoladas de campos e que serviam 
também à prática das peregrinações religiosas, substituem as da decadente 
capital romana com transferência da riqueza à produtividade agrícola e 
aumento do poderio dos feudos. 
Com a influência dos ornamentos animalísticos dos bárbaros (império do 
Ocidente) e o detalhismo dos árabes (império do Oriente) a arte do período se 
funde principalmente nos materiais (marfim, tecidos, vidrado, bronze e madeira) 
e nas técnicas (mosaico, iluminura, miniaturas), contudo, os temas continuam a 
retratar os textos bíblicos e assim permanecendo até o fim da Idade Média e 
início da arte gótica com a ascensão da burguesia. Interessante notar que 
nesse período de mil anos a figura humana foi muito pouco representada, 
abandonando-se então o estudo e aperfeiçoamento de suas formas, limitando 
seu apogeu à arte grega e romana (Monterado, 1978; Jason, 1996; Proença, 
2005). 
Nos mosteiros também se desenvolve a arte minuciosa dos manuscritos 
(manuscritos medievais) tendo com o imperador Carlos Magno (fim do séc. VII 
d.C.) o incentivo à reforma e às atividades culturais, a arte e a escrita e o 
retorno das figuras, numa tentativa de retomada da antiga civilização romana e 
que denominou-se de Renascença Carolíngea (Monterado, 1978). Os 
caracteres romanos eram empregados na reprodução dos textos bíblicos nos 
scriptoria, com ilustrações (iluminura) e uso das letras capitulares. 
Figura 17 – Manuscrito com iluminura e letra capitular (aproximadamente 1405) 
 
Créditos: Everett – Art/Shutterstock. 
 
 
18 
Além da beleza única, as iluminuras formaram uma considerável forma 
de produção e conservação da arte pictórica e dos referenciais clássicos 
durante a Idade Média, e um formato mais resistente se comparado aos 
afrescos. Nas capas temos alusão à tradição celta ocorrendo nos mosteiros da 
Irlanda o uso de metais e pedras preciosas cravejadas (ourivesaria) nas capas 
de livros, como no Evangelhos de Lindau (Janson, 1996). Forma similar e 
significativa de arte e que nos permite conhecer a cultura medieval são os 
Livros de Viagem, que misturavam o discurso narrativo, o itinerário e a 
importância das cidades, lendas e mitos (Lopes, 2006). Pelo aspecto histórico, 
relata H. W. Jason, os antigos egípcios já produziam “livros” em um material 
similar ao papel a partir das hastes do papiro, formando rolos (volumen) que 
iam sendo abertos conforme a leitura e sendo também empregados pelos 
povos do Oriente médio e hebreus, contudo, o contínuo desenrolar levava ao 
desgaste das figuras. No período Helenístico o uso do couro de animais 
(pergaminho) vem a permitir melhor a fixação dos desenhos assim como a 
dobra e as folhas, resultando nas primeiras formas de encadernação (codex). 
Nos últimos séculos da Idade Média e o fortalecimento da cultura por 
toda a Europa e de uma arte mais tarde denominada de Românica, que 
promulgava as referências artísticas do mediterrâneo, com uma pintura quase 
ausente de temas profanos e a imagem de Cristo representada em tamanho 
maior que as demais – similar ocorria com os faraós – e com estilo pictórico 
inspirado nas iluminuras (Proença, 2005), até a retomada e crescimento das 
cidades pela burguesia, e a arquitetura gótica com igrejas de ogivas altíssimas, 
rendilhados e abóbodas com nervuras e vitrais ricamente coloridos e rosáceas 
e a volta do realismo na pintura, mas agora numa arte novamente voltada às 
pessoas, como nos quadros dos irmãos Van Eyck, temos o prenúncio da 
grandiosidade da época que viria com o Humanismo e a Renascença. 
TROCANDO IDEIAS 
Para esta nossa aula você deverá criar um pequeno texto (wiki) com até 
20 linhas argumentando sobre os princípios da arte cristã (primitiva, triunfal e 
nas iluminuras) e como esses mesmos princípios influenciaram a linguagem 
artística até o fim da Idade Média. Sugere-se o acesso a textos e materiais 
complementares para melhor confecção de seu argumento, pois ele será 
importante para a realização do “Na Prática”. 
 
 
19 
NA PRÁTICA 
Vamos agora realizar um exercício em que já poderá praticar as 
competências de um designer. Para isso você precisará de dois textos de apoio 
aqui sugeridos: “O caminho do manuscrito: do papiro à prensa de Gutenberg”, 
de Lídia Gomes, e “Um panorama sobre a evolução histórica da 
encadernação”, de Maria Aparecida Mársico (link para acesso está nas 
referências). A partir desses textos você deverá imaginar a criação de um livro 
com temática sobre as civilizações antigas, buscando solucionar: 
1. Quais seriam o material e o formato empregados por você? 
2. Utilizaria de quais caracteres? 
3. E as imagens, quais escolheria e qual técnica utilizaria para compô-las e 
combiná-las com o seu texto? 
FINALIZANDO 
Nesta aula tratamos dos seguintes conteúdos: 
• A importância da arte na Grécia Antiga e como o ideal de beleza foi ali 
esboçado e copiado pela civilização romana. 
• Como os romanos construíram suas cidades e arte. 
• A arte cristã primitiva e seu aspecto simbólico, simples e sagrado nos 
temas. 
• A riqueza da arte triunfal cristã e como essa linguagem se desenvolveu 
em uma era de enfraquecimento cultural e disputas religiosas. 
• Como se desenvolveram os primeiros livros desde o mundo antigo e 
como suas características e formato foram determinados nesses 
períodos. 
 
 
 
20 
REFERÊNCIAS 
BILHEIRO, I. Arte Semântica dos primórdios do Cristianismo: a Disciplina do 
Arcano e o Simbolismo Cristão. In: Revista Urutágua, Maringá, n. 15, abr./jul. 
2008. 
BORNHEIM, G. A. Introdução à leitura de Winckelmann. In: WINCKELMANN, 
J. J. Reflexões sobre a arte antiga. Porto Alegre: Movimento, 1974. p. 153. 
Disponível em: <https://www.ppgav.eba.ufrj.br/wp-
content/uploads/2017/01/BORNHEIM-G.-Introducao-a-leitura-de-
Winckelmann.p.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2020. 
CEDILHO, R. M, B.; SOUSA, A. P. B. Arte Paleocristã: espelho da visão de 
mundo dos primeiros cristãos. In: Mirabilia Journal, Madri, jul./dez. 2013. 
GALÉ, P. Winckelmann: uma história da arte entre a norma e a forma. 290 
f. Tese (Doutorado em Filosofia). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. 
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1981. 
JANSON, H. W. Introdução à História da Arte. 2. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1996. 
LEMOS, C. A. A Imitação em Aristóteles. In: Anais de Filosofia Clássica, Rio 
de Janeiro, v. 3, n. 5, 2009. 
LOPES, P. Os livros de viagem medievais. In: Medievalistas on-line, Lisboa, 
n. 2, 2006. 
MACIEL, J. Da arte romana à arte paleocristã: o sacófago romano de Évora. In: 
RUN – Repositório Universidade Nova. Faculdade de Ciências Sociais e 
Humanas, Lisboa, 1988. 
MÁRSICO, M. P. V. Um Panorama sobre a Evolução Histórica da 
Encadernação. In: Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras. 
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, [s. d.]. Disponívelem: 
<http://planorweb.bn.br/documentos/historia_bibliotecas/panorama_evolucao_h
istorica_encadernacao.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2020. 
MONTERADO, L. de. História da Arte. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Livros 
Técnicos e Científicos,1978. 
PROENÇA, G. História da Arte. São Paulo: Editora Ática, 2005. 
	Conversa inicial
	Contextualizando
	TEMA 1 – A ARTE NA GRÉCIA ANTIGA
	TEMA 2 – O IMPÉRIO ROMANO
	TEMA 3 – SIMBOLISMO NA ARTE PALEOCRISTÃ
	TEMA 4 – ARTE CRISTÃ BIZANTINA
	TEMA 5 – DO CAROLÍNGIO ÀS CATEDRAIS GÓTICAS
	Trocando ideias
	Na prática
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

Continue navegando