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m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ TUBERCULOSE P R O F . C L A R I S S A C E R Q U E I R A m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED Prof. Clarissa Cerqueira | Tuberculose 2INFECTOLOGIA PROF. CLARISSA CERQUEIRA APRESENTAÇÃO: @estrategiamed /estrategiamedEstratégia MED t.me/estrategiamed @draclarissacerqueira Chegou a hora de aprender sobre um tema muito frequente nas provas de Residência: a tuberculose. Cabe lembrar que é frequente também na prática médica, afinal, o Brasil é um país onde a tuberculose é endêmica. Antes de começarmos, gostaria de me apresentar. Meu nome é Clarissa, sou médica infectologista, e ao contrário de muita gente, eu não tinha intenção de prestar vestibular para Medicina. Eu não me sentia capaz de enfrentar a concorrência. Escolhi prestar vestibular para Nutrição e surpreendi-me com a minha conquista do segundo lugar entre os aprovados. Ao iniciar meus estudos na faculdade de Nutrição, fui apresentada ao programa de microbiologia e encantei-me pelo assunto. Percebi naquele momento que queria aprender mais sobre o tema. Após um ano e meio de curso, senti-me suficientemente confiante e motivada a prestar novamente vestibular, desta vez, para Medicina. Fui novamente surpreendida pelo resultado, aprovada na primeira tentativa (após ser aluna de Nutrição). @estrategiamedm e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ https://www.instagram.com/estrategiamed/?hl=pt https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed https://www.instagram.com/draclarissacerqueira/?hl=pt-br m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED Prof. Clarissa Cerqueira | Tuberculose 3INFECTOLOGIA Durante a faculdade, senti-me um pouco perdida entre as especialidades. Não tenho familiares médicos que pudessem me orientar na escolha da carreira. Entretanto, tive a sorte de ter um professor de neurocirurgia que me apresentou aos campos da cirurgia e das ciências neurológicas e que me incentivou a buscar os meus interesses e paixões. Após seis anos, o sonho realizou-se e o objetivo foi conquistado: formei-me médica. Chegou o momento de prestar prova de Residência Médica. Minha primeira escolha de especialidade, após a faculdade, entretanto, não foi infectologia. Escolhi cirurgia geral. E como a cirurgia geral se relaciona com a infectologia? Foi no meu primeiro dia como Residente da cirurgia que reconheci o meu desejo e paixão de longos tempos, germinado nas aulas de microbiologia da faculdade de Nutrição, de ser infectologista. Abandonei a cirurgia e segui minha vocação. A minha história de especialista inicia-se com a Residência Médica em Infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Um período de muito aprendizado e autoconhecimento, no qual tive a oportunidade de aprender com grandes especialistas de reconhecimento nacional e internacional. Durante a Residência, busquei expandir meu aprendizado com estágios em Portugal (Hospital Curry Cabral) e nos Estados Unidos (Cleveland Clinic). Minha formação continuou com um ano extra (R4) de complementação na Universidade de São Paulo em Infecção em Imunodeprimidos e curso de pós-graduação do Hospital Albert Einstein de Controle de Infecção Hospitalar. Reconheço que sou suspeita para falar, mas o universo da infectologia é apaixonante. Atualmente, além de ser sua professora no Estratégia MED, trabalho em Salvador com atuação nas áreas de infecção hospitalar, interconsultas da especialidade e consultório. Voltando ao tema deste livro, quero reforçar que estamos juntos nessa caminhada e vou lhe passar aqui todo o conhecimento necessário para acertar as questões de tuberculose das provas de Residência. De 3.803 questões de infectologia de todo o Brasil que foram resolvidas, 288 questões eram sobre tuberculose. Isso corresponde a 7,5% das questões de infectologia. Não entram nessa conta as questões sobre tuberculose pleural, que estão sendo abordadas pela pneumologia, neurotuberculose, pela neurologia, e tuberculose na infância, pela pediatria. Ou seja, no final das contas, a tuberculose é um tema muito maior que esse que estimei aqui. Para otimizar seu tempo de estudo e focar em temas relevantes sobre a tuberculose, fiz uma análise do que é mais cobrado: m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED Prof. Clarissa Cerqueira | Tuberculose 4INFECTOLOGIA 31% 6% 11% 12% 16% 24% Tratamento Patogênese Estratégia de controle da TB Diagnóstico ILTB Quadro clínico Gráfico com tópicos mais cobrados de tuberculose. ILTB: infecção latente pela tuberculose. Veja bem, quatro tópicos (tratamento, quadro clínico, infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis e diagnóstico) correspondem a 83% do que é cobrado em provas. Você deve aprender todos eles muito bem! Não se esqueça dos que aparecem com menos frequência, afinal, muitas vezes é uma questão que faz a diferença na hora de passar na prova. Passarei aqui os subtópicos mais importantes que você precisa saber: • Tratamento: quais medicações usar, por quanto tempo deve ser feito o tratamento e os efeitos colaterais de cada droga. • ILTB: qual a conduta diante de um contato exposto, qual o tratamento da ILTB, quem tem indicação de tratar e saber os valores de referência do teste tuberculínico. • Clínica e patogênese: saber as diferenças entre tuberculose primária, tuberculose pulmonar e extrapulmonar. • Diagnóstico: saber diagnosticar um paciente pelo quadro clínico, saber os exames disponíveis para diagnóstico e quando indicá-los. A principal bibliografia utilizada foi o Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil, do Ministério da Saúde, de 2019. Ele é a principal referência para as provas de Residência. Preparado(a)? Vamos dar início a esse tema fascinante que é a tuberculose.m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 5 SUMÁRIO 1.0 ASPECTOS GERAIS 8 1.1 AGENTE ETIOLÓGICO 8 2.0 TRANSMISSÃO 9 3.0 PATOGÊNESE 11 3.1 TUBERCULOSE PRIMÁRIA 11 3.2 TUBERCULOSE SECUNDÁRIA (REATIVAÇÃO) 15 3.3 INFECÇÃO LATENTE PELO M. TUBERCULOSIS (ILTB) 17 4.0 QUADRO CLÍNICO 18 4.1 TUBERCULOSE PULMONAR 18 4.1.1 TUBERCULOSE PULMONAR PRIMÁRIA 18 4.1.2 TUBERCULOSE PULMONAR PÓS-PRIMÁRIA OU SECUNDÁRIA 21 4.1.3 TUBERCULOSE MILIAR 24 4.2 TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR 27 4.2.1 TUBERCULOSE PLEURAL 27 4.2.2 TUBERCULOSE GANGLIONAR 27 4.2.3 TUBERCULOSE EM SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) 28 4.2.4 TUBERCULOSE UROGENITAL 28 4.2.5 TUBERCULOSE ÓSSEA 29 4.2.6 TUBERCULOSE ABDOMINAL 29 4.2.7 TUBERCULOSE PERICÁRDICA 30 4.3 TUBERCULOSE EM CRIANÇAS 33 5.0 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 33 5.1 BACILOSCOPIA 34 5.1.1 INDICAÇÃO 34 5.2 TESTE RÁPIDO MOLECULAR (TRM) 36 5.2.1 INDICAÇÃO 37 5.3 CULTURA PARA MICOBACTÉRIA 38 5.3.1 INDICAÇÃO 38 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 6 5.4 DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE PULMONAR 40 5.5 DIAGNÓSTICO DE TB EM CRIANÇAS 42 6.0 TRATAMENTO 43 6.1 ESQUEMA BÁSICO 45 6.1.1 ESQUEMA BÁSICO PARA TUBERCULOSE PULMONAR E EXTRAPULMONAR 46 6.1.2 ESQUEMA BÁSICO PARA TB MENINGOENCEFÁLICA E OSTEOARTICULAR 46 6.1.3 ESQUEMA BÁSICO PARA CRIANÇAS 47 6.2 POPULAÇÕES ESPECIAIS 47 6.2.1 GESTANTES 48 6.2.2 HEPATOPATAS 49 6.2.3 DIABÉTICOS 50 6.2.4 HIV/AIDS 50 6.3 TB DROGARRESISTENTE 53 6.4 SEGUIMENTO DO TRATAMENTO 55 6.4.1TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO 56 6.5 EFEITOS ADVERSOS 57 7.0 INFECÇÃO LATENTE PELO M. TUBERCULOSIS 60 7.1 DIAGNÓSTICO DA ILTB 62 7.1.1 PROVA TUBERCULÍNICA (PT) 62 7.1.2 IGRA 64 7.2 TRATAMENTO 64 7.2.1 REGIMES TERAPÊUTICOS 67 7.3 QUIMIOPROFILAXIA PRIMÁRIA 72 8.0 ESTRATÉGIAS PARA CONTROLE DA TUBERCULOSE 73 8.1 VACINAÇÃO 73 8.2 BUSCA ATIVA DE SINTOMÁTICOS RESPIRATÓRIOS 74 8.3 AVALIAÇÃO DOS CONTATOS 74 8.4 ESTRATÉGIA PARA O FIM DA TUBERCULOSE 77 9.0 LISTA DE QUESTÕES 79 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 7 10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 80 11.0 LISTA DE IMAGENS E TABELAS 80 12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 82 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 8 O que é a coloração de Ziehl-Neelsen? É um método de coloração feito para pesquisar bacilos alcool-ácidos resistentes (BAAR). Durante seu processo é usado um corante vermelho (a fucsina), que deixa esses micro-organismos “avermelhados”, como podemos ver na figura a seguir: Figura 1: BAAR. Perceba os bacilos avermelhados/rosados nessa amostra de escarro. Fonte: Shutterstock. A presença de BAAR em uma amostra biológica pode representar a tuberculose, micobactérias não tuberculosas (M. kansasii, M. intracellulare, M. abscessus etc.) e a nocardia. Este último microrganismo está associado a infecções cutâneas, pul- monares e de sistema nervoso central, principalmente em pacientes imunocom- prometidos. 1.0 ASPECTOS GERAIS CAPÍTULO A tuberculose é uma doença muito importante no Brasil e no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a tuberculose (TB) é uma das dez principais causas de óbito no mundo e a principal causa de morte por um único agente infeccioso. 1.1 AGENTE ETIOLÓGICO Ela é causada por qualquer uma das sete espécies de micobactérias que fazem parte do complexo Mycobacteria tuberculosis. As espécies mais importantes incluem o M. tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch, e o M. bovis. Elas possuem lipídios na sua parede celular, como o ácido micólico e, por conta disso, são resistentes a diversos antibióticos e também aos álcool-ácidos. Mas qual a importância de você saber isso? Esse é o motivo de aparecerem como bacilos avermelhados ao serem corados pela coloração de Ziehl-Neelsen. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ ARIANE NUNES Realce m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 9 Esses bacilos dependem de oxigênio para seu metabolismo e o seu comportamento e crescimento dependem da concentração desse gás no ambiente. Por exemplo, na lesão cavitária, que você vai aprender mais adiante o que é, estão todas as condições ideais para o crescimento da bactéria, como a boa oferta de oxigênio. Esse é o motivo dos pacientes com cavidades serem os principais transmissores da doença. Nas lesões granulomatosas (caseosas), a concentração de oxigênio é baixa e o crescimento bacteriano é lento. Esse é um dos motivos do tratamento da tuberculose ser longo. 2.0 TRANSMISSÃO A tuberculose é uma doença que pode ser transmitida de duas formas: pela via aérea através da geração de aerossóis, quando o paciente infectado tosse, fala ou espirra, ou por transmissão vertical (é bem raro). Os aerossóis exalados tornam-se secos rapidamente e transformam-se em partículas menores que contêm de um a dois bacilos. Eles podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas, o que favorece a disseminação da doença. Existe tuberculose em diversos órgãos, porém as únicas formas que são transmissíveis são a tuberculose pulmonar e laríngea. Você sabe diferenciar aerossol de gotícula? Os aerossóis são partículas bem pequenas (< 5μm) que ficam em suspensão no ambiente por muitas horas. Já as gotículas são partículas maiores e mais pesadas (geralmente > 5μm), logo, depositam-se no chão. Por isso, para que ocorra a transmissão por gotículas, as pessoas devem estar mais próximas umas das outras, geralmente a menos de 2 metros. Olhe essa figura para você entender melhor: Figura 2: Aerossol x gotícula. Perceba que o aerossol pode permanecer em suspensão no ar, enquanto as gotículas se depositam no chão. Fonte: Shutterstock. CAPÍTULO m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ ARIANE NUNES Realce ARIANE NUNES Realce ARIANE NUNES Realce ARIANE NUNES Realce ARIANE NUNES Realce ARIANE NUNES Realce m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 10 Essa forma de transmissão por aerossol é bem eficaz, já que ela pode ocorrer mesmo se a pessoa infectada não estiver mais no ambiente. Algumas medidas que podem reduzir esse risco de transmissão é deixar o ambiente arejado, com circulação de ar e com entrada de luz solar, afinal, o bacilo é sensível à luz natural. Por esse motivo que recomendamos que pacientes com tuberculose pulmonar mantenham suas casas com janelas abertas e bem ventiladas, assim como os serviços de saúde que atendem esses pacientes. Outra forma possível de transmissão, mas rara, é a vertical, de mãe para o feto. Mães com tuberculose, mesmo não bacilíferas, podem transmitir a doença para o neonato por via placentária ou através do líquido amniótico contaminado, que pode ser aspirado/ingerido pelo neonato. Quem mais transmite a doença são aqueles com a forma pulmonar cavitária e enquanto a baciloscopia estiver positiva. Esse exame é a pesquisa do BAAR no escarro através da coloração de Ziehl-Neelsen. Geralmente, ele fica negativo após 15 dias de tratamento, período no qual é recomendado realizar a baciloscopia de controle. PARA MEMORIZAR: 1. As formas clínicas da tuberculose que são transmitidas por aerossol são SOMENTE a tuberculose pulmonar e a laríngea. As outras formas extrapulmonares exclusivas, como a tuberculose pleural ou ganglionar, não são transmissíveis. 2. A principal forma de transmissão da micobactéria é por aerossol. 3. O que aumenta a transmissão: ambientes fechados e mal arejados. O que reduz a transmissão: ambientes com circulação de ar e luz solar. CAI NA PROVA (AMRIGS – RS 2017) A transmissão da tuberculose é plena enquanto o indivíduo estiver eliminando bacilos. Com o início do esquema terapêutico adequado, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, quantos dias após o início do tratamento chega a níveis insignificantes? A) 5 B) 10. C) 15. D) 20. E) 30. Fonte: Shutterstock. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 11 COMENTÁRIO: Acabamos de aprender isso, não foi mesmo? Após o início do tratamento, o paciente com tuberculose tende a não transmitir mais a doença após 15 dias do início das medicações. A alternativa C é a correta. Agora que já sabemos como a tuberculose é transmitida, vamos aprender como a doença se desenvolve no indivíduo infectado. 3.0 PATOGÊNESE CAPÍTULO Após o contato com o bacilo, existem três possibilidades de desfechos diferentes: • Eliminação imediata da micobactéria; • Desenvolvimento de doença primária; • Controle da infecção com latência do bacilo no organismo (a doença pode reativar no futuro). Como podemos perceber, algumas pessoas infectadas eliminam a micobactéria do seu organismo, enquanto outras desenvolvem a doença no momento da infecção (doença primária) e outras têm um quadro latente que pode ou não reativar com o passar do tempo. Essa reativação ocorre em aproximadamente5% a 10% dos casos em pacientes sem comorbidades. Aqueles com fatores de risco, como infecção pelo HIV, têm uma chance bem maior de reativar a doença. Vamos falar mais sobre isso ao abordar a reativação da tuberculose latente mais adiante. 3.1 TUBERCULOSE PRIMÁRIA Para entender as formas clínicas da tuberculose, é fundamental o entendimento do ciclo inicial da doença, que clinicamente pode se manifestar como um quadro de TB primária. Preste atenção como é a evolução da infecção e em seguida leia com calma a ilustração para fixar os conceitos: • A pessoa doente libera aerossóis no ambiente. • A pessoa susceptível inala essas partículas contendo o bacilo, que chegam até os alvéolos. • O sistema imune inato tenta combater a infecção. Se ele conseguir, a pessoa elimina a micobactéria. Se não conseguir, os bacilos proliferam dentro dos macrófagos. Esses macrófagos contendo as micobactérias podem migrar para outros tecidos. Isso explica as formas extrapulmonares da tuberculose. • Os macrófagos que ficam nos pulmões produzem diversas substâncias que atraem outras células, podendo formar um granuloma, que radiologicamente se manifesta como um nódulo ou consolidação chamado de nódulo de Ghon ou foco primário. Caso a replicação bacteriana não seja controlada, esse granuloma cresce e os bacilos entram nos vasos linfáticos e linfonodos. Com isso, há o aparecimento da linfonodomegalia hilar, bem característica da tuberculose primária. O nódulo de Ghon e a linfonodomegalia hilar são chamados de complexo de Ranke e podem ser evidenciados em exame radiológico de tórax. Com o passar dos anos, o granuloma tende a calcificar, resultando em sequela da tuberculose primária. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 12 Figura 3: Complexo de Ranke. Observe nessa radiografia um nódulo pulmonar em hemitórax direito (nódulo de Ghon) e a linfonodomegalia hilar. • O bacilo prolifera até que a imunidade celular se desenvolva, o que ocorre cerca de duas a dez semanas após a infecção. Ela é capaz de conter a infecção em todos os tecidos por onde a bactéria migrou. • Em até 10% dos infectados, não há um controle da infecção pela imunidade celular. Dessa forma, pode ocorrer uma destruição tecidual progressiva do parênquima pulmonar, com a formação de necrose caseosa. Também pode ocorrer uma disseminação hematogênica e, caso essa lesão alcance a via aérea por contiguidade, o paciente já começa a transmitir para outras pessoas. Figura SEQ Figura\*ARABIC 4: Processo de formação do granuloma na tuberculose. Fonte: Shutterstock. Achados radiológicos da tuberculose primária: - Nódulo/ complexo de Ghon: corresponde ao granuloma caseoso; - Complexo de Ranke: nódulo de Ghon + linfonodomegalia hilar. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 13 CAI NA PROVA (SES – GO) O complexo de Ghon está relacionado à seguinte patologia: A) sarcoidose. B) pneumonia por Pneumocystis carinii. C) aspergilose. D) tuberculose. COMENTÁRIO: Essa questão ficou mais fácil de responder agora, não é mesmo? Alternativa A incorreta. A sarcoidose é uma doença que não se relaciona com o nódulo de Ghon. Alternativa B incorreta. A pneumocistose é uma infecção respiratória oportunista que pode acometer pacientes com AIDS. Ela não tem relação com o nódulo de Ghon. Alternativa C incorreta. A aspergilose é uma doença fúngica que também pode causar doenças respiratórias, porém, ela não tem relação com o nódulo de Ghon. Alternativa D correta. Como acabei de ensinar, o nódulo de Ghon corresponde ao granuloma resultante da tuberculose primária. Gabarito: alternativa D. (UNAERP – SP 2017) Um homem de 40 anos chega à emergência depois de ter caído alguns degraus e sofrido lesão traumática nas costas. É feita uma radiografia do tórax, que se mostra negativa para fraturas, mas há um nódulo calcificado no segmento posterior do lobo pulmonar superior direito e um segundo nódulo calcificado nas proximidades do hilo pulmonar direito. Qual dos diagnósticos seguintes é provavelmente o correto? A) TB primaria atual. B) TB primária no passado. C) TB secundária (reativação). D) TB latente. E) TB miliar. COMENTÁRIO: Alternativa A incorreta. Não podemos dizer que isso corresponde a um caso de TB primária atual, porque o paciente não tem nenhum sintoma de doença em atividade. Alternativa B correta. Nódulos calcificados nas localizações descritas nessa questão (lobo pulmonar superior direito e hilo pulmonar adjacente) representam respectivamente o nódulo de Ghon e o complexo de Ranke. Esse achado evidencia tuberculose primária prévia. Alternativa C incorreta. A TB não reativou porque o paciente não tem sintomas de doença em atividade. Alternativa D incorreta. A TB latente é um diagnóstico feito com a prova tuberculínica, exame que não foi descrito nesse caso. Alternativa E incorreta. A TB miliar apresenta-se como um acometimento pulmonar disseminado e aparecimento de micronódulos na radiografia em um paciente sintomático (que não é o caso desse paciente). Gabarito: alternativa B. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 14 3.2 TUBERCULOSE SECUNDÁRIA (REATIVAÇÃO) A patogênese da tuberculose secundária nada mais é do que uma continuação do que eu estava lhe explicando anteriormente. Lembra que quando a pessoa se infecta com a micobactéria ela pode ficar latente no granuloma? Isso ocorre porque algumas pessoas conseguem controlar essa replicação. Com o passar dos anos, essas micobactérias podem voltar a proliferar e levar ao aparecimento da TB secundária. Estima-se que o risco de reativação em pessoas sem problemas de saúde seja de 5% a 10% durante a vida. Metade desses pacientes reativa nos primeiros dois a cinco anos após a infecção e a outra metade reativa ao longo do resto da vida. Existem algumas condições que aumentam o risco de reativação da tuberculose. Exemplos: - Infecção pelo HIV e AIDS; - Diabetes mellitus; - Desnutrição; - Uso de imunossupressores como corticoides e inibidores do TNF-alfa; - Pessoas vivendo em situações de rua e aquelas privadas de liberdade; - Indígenas; - Tabagismo. De acordo com dados do Centers for Diseases Control (CDC), agência de saúde americana, o risco de desenvolver a doença é de 30% durante a vida nos pacientes com diabetes. Já naqueles com HIV sem tratamento, o risco de adoecimento é de 7% a 10% por ano. É muito alto! Já deu para perceber que esse risco de adoecimento é bem maior do que os 10% que acomete a população geral, não é? Além disso, o risco de recidiva e a mortalidade também é maior nessas populações. Esse é o motivo pelo qual esses pacientes têm indicação de tratar tuberculose latente, como veremos adiante. CAI NA PROVA (Hospital de Olhos de Conquista LTDA – BA 2017) A incidência concomitante de tuberculose e diabetes, coexistindo simultaneamente no mesmo indivíduo, ocorre frequentemente em nosso meio, dentro da nossa realidade de país em desenvolvimento. Das características clínicas e epidemiológicas descritas a seguir, aponte aquela que é considerada INADEQUADA. A) O risco de um paciente com DM desenvolver tuberculose é 2,44 a 8,33 vezes maior que da população geral. B) BA frequência de tuberculose multirresistente não apresenta diferença nesse grupo. C) A radiografia de tórax pode apresentar alterações consideradas típicas (predominância nos lobos superiores) e também atípicas, acometendo predominantemente os lobos inferiores, geralmente associadas a cavidades. D) A mortalidade e o risco de recidivasão superiores aos da população geral. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 15 COMENTÁRIO: Vamos ver aqui qual é a alternativa errada: Alternativa A é verdadeira: está bem estabelecido na literatura médica que a incidência de tuberculose é mais elevada em portadores de DM que na população em geral. Alternativa B é falsa: pacientes com diabetes mellitus têm infecção por tuberculose multirresistente mais frequentemente quando comparados à população geral. Alternativa C é verdadeira: em pacientes diabéticos com tuberculose, a radiografia de tórax pode apresentar alterações típicas (predominância nos lobos superiores) e também atípicas, acometendo os lobos inferiores, geralmente associadas a cavidades. Alternativa D é verdadeira, pois pacientes com tuberculose e DM geralmente têm algum grau de disfunção imune além de doença com maior carga bacilar, o que aumenta mortalidade e risco de recidiva. Gabarito: alternativa B. É muita informação, não é mesmo? Para facilitar, analise com cuidado este diagrama sobre a patogênese da tuberculose. A depender da resposta imunológica do hospedeiro, ele pode eliminar a infecção, desenvolver a tuberculose primária ou evoluir para um quadro de latência que em seguida pode ou não reativar. Figura 5: Ciclo da patogênese da tuberculose. PACIENTE BACILÍFERO Lesão alcançada via aérea e os bacilos podem ser eliminados Falha na imunidade celular: lesão pulmonar com necrose caseosa Proliferam no pulmão e formam um granuloma (nódulo de Ghon), que cresce e atinge linfonodos (complexo de Ranke) Bactérias chegam nos alvéolos e são fagocitadas por macrófagos Desenvolvimento da imunidade celular Hospedeiro susceptível Infecção eliminada Tuberculose primária Tuberculose latente m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 16 3.3 INFECÇÃO LATENTE PELO M. TUBERCULOSIS (ILTB) Lembra que o bacilo pode ficar latente no pulmão da pessoa infectada? Quando isso acontece, chamamos essa condição de infecção latente pelo M. tuberculosis. Resumindo, o paciente entra em contato com o bacilo, mas não desenvolve a doença. Na maioria dos pacientes (cerca de 90% dos infectados), o contato inicial com o bacilo não leva ao desenvolvimento de doença sintomática (tuberculose primária). O sistema imune do paciente consegue conter a infecção e ele permanece assintomático. A ILTB é identificada através de exames de rastreio de contato prévio com a micobactéria como a prova tuberculínica (PT). Vamos discutir sobre o diagnóstico mais adiante. Pela patogênese da tuberculose, podemos subdividir a doença da seguinte forma: Figura 6: Divisão da tuberculose pela patogênese. DIVISÃO DA TUBERCULOSE PELA PATOGÊNESE Tuberculose latente Tuberculosesecundária Tuberculose primária Reativação em 5 a 10% dos casos em indivíduos sem comorbidades90% dos infectados10% dos infectados Já aprendemos como a tuberculose é transmitida e como ela se desenvolve. Vamos agora aprender sobre seu quadro clínico. Preste atenção, porque é muito importante você saber sobre os próximos tópicos. 4.0 QUADRO CLÍNICO CAPÍTULO Para facilitar o aprendizado, vou dividir o quadro clínico da tuberculose da seguinte forma: • Tuberculose pulmonar; • Tuberculose extrapulmonar. A tuberculose pulmonar é a mais comum na prática médica e nas provas de Residência. Por esse motivo, ela será nosso foco principal. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 17 4.1 TUBERCULOSE PULMONAR O pulmão é a porta de entrada do bacilo e por isso é o órgão mais acometido pela tuberculose, tanto nos casos de TB primária quanto na pós-primária (reativação). 4.1.1 TUBERCULOSE PULMONAR PRIMÁRIA Como já lhe expliquei, a tuberculose pulmonar primária é a forma clínica da tuberculose que ocorre logo após o contato com o bacilo. Essa é a razão de que ela seja mais comum na infância. O paciente pode apresentar febre, sudorese noturna e inapetência. A tosse pode estar presente ou não, ou seja, sintoma respiratório não é regra nesse caso. A presença de sintomas respiratórios não é a regra em casos de tuberculose primária. A febre é o sintoma mais comum! A radiografia de tórax é geralmente normal, mas se ela estiver alterada, o achado mais frequente é a linfonodomegalia hilar. Além disso, podem ser evidenciados infiltrados pulmonares e por conta disso ela pode ser confundida com pneumonia bacteriana. O complexo de Ranke (linfonodomegalia + nódulo de Ghon) é um achado característico (mas não patognomônico) da tuberculose primária. Com o passar dos anos, esses nódulos podem calcificar e serem visualizados na radiografia de tórax. Já lhe mostrei antes, mas vale a pena ver novamente aqui esses achados: Figura 7: Complexo de Ranke. Observe nessa radiografia um nódulo pulmonar em hemitórax direito (nódulo de Ghon) e a linfonodomegalia hilar. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 18 As manifestações clínicas mais comuns da tuberculose pulmonar primária são: Febre (mais comum); Sudorese noturna; Inapetência. Quando se falar de tuberculose primária nas questões de provas, lembre-se desses conceitos-chave: Figura 8: Conceitos importantes sobre a TB primária. TUBERCULOSE PRIMÁRIA Complexo de Ranke (nódulo de Glon + adenopatia hilar) Febre é o sintoma mais comum Mais frequente na infância, mas pode acometer adultos A alteração radiográfica mais comum é a adenopatia hilar Radiografia é frequentemente normal CAI NA PROVA (UFSC – SC 2018) Com relação à tuberculose primária, é CORRETO afirmar que: A) acima de 75% das radiografias de tórax apresentam anormalidades. B) a febre é o sintoma mais comum. C) choque séptico é complicação rara e tem bom prognóstico. D) pneumotórax, hemoptise maciça e coinfecção por Aspergillus sp são as três complicações mais frequentes. E) derrame pleural é o achado radiográfico mais comum. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 19 COMENTÁRIO: Vamos revisar um pouco sobre TB primária analisando as alternativas? Incorreta a alternativa A. A radiografia na tuberculose primária é frequentemente normal. Correta a alternativa B. A tuberculose primária é aquela que ocorre logo após a infecção e é mais frequente em crianças e imunodeprimidos. Na tuberculose primária, a febre vespertina é o sintoma mais comum, ocorrendo em cerca de 70% dos pacientes. Incorreta a alternativa C. Choque séptico é sempre grave e o prognóstico não é bom, com uma mortalidade que pode chegar a 79%. Incorreta a alternativa D. Essas complicações são frequentes na tuberculose secundária, não na primária. Incorreta a alternativa E. O achado radiográfico mais comum é adenopatia hilar. Gabarito: alternativa B. 4.1.2 TUBERCULOSE PULMONAR PÓS-PRIMÁRIA OU SECUNDÁRIA Como já lhe expliquei, a tuberculose pulmonar secundária ou pós-primária é decorrente de uma reativação dos bacilos que ficaram latentes dentro dos macrófagos. Pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum durante a adolescência e em adultos jovens. O principal sintoma dessa doença é a tosse seca ou produtiva (com ou sem hemoptise). Além disso, o paciente geralmente refere febre vespertina, sudorese noturna e perda ponderal. A dispneia podeestar presente se o acometimento parenquimatoso for extenso. Lembre-se da tuberculose pós-primária naqueles pacientes que apresentarem: Febre (principalmente vespertina); Sudorese noturna; Tosse a mais de 2 – 3 semanas com ou sem hemoptise; Perda ponderal. Na radiografia de tórax é comum o encontro de anormalidades, mesmo na ausência de sintomas. O lobo superior é o mais acometido, visto que a concentração de oxigênio lá é maior, deixando o ambiente mais propício para crescimento da micobactéria. As alterações mais comuns são: infiltrado lobar e cavitações. Na tomografia de tórax, além de também serem evidenciados esses achados, pode ser notada a presença do padrão “árvore em brotamento”. Nestas imagens a seguir, você vai conseguir visualizar melhor esses achados. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 20 Figura 9: Na imagem da esquerda, observe uma radiografia de tórax com duas cavitações em ápices pulmonares (uma em hemitórax direito e outra em hemitórax esquerdo). Na imagem da direita, veja que o lobo superior direito está acometido com consolidações e cavidades. A micobactéria gosta de oxigênio e por isso prefere acometer os ápices pulmonares. Figura 10: Na imagem da direita, você consegue ver uma imagem de tomografia de tórax com nódulos centrolobulares com padrão “árvore em brotamento”. São densidades ramificadas centrolobulares com pequenas nodulações nas extremidades, assemelhando-se ao aspecto em brotamento de algumas árvores, como você consegue ver na imagem da esquerda. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 21 Como a TB secundária pode formar cavitações, algumas complicações podem ocorrer. Imagina que essa cavidade alcance a pleura. Nesse caso o paciente pode ter pneumotórax. Outras complicações que podem ocorrer na tuberculose pós-primária são a hemoptise e a aspergilose pulmonar (quando o Aspergillus infecta e se desenvolve na cavidade). O empiema tuberculoso é uma complicação possível, mas rara, que resulta de uma cavidade com contato com o espaço pleural e drenagem de material caseoso. Agora que você já estudou o quadro clínico da TB primária e secundária/pós-primária, vamos comparar as diferenças clínicas entre essas duas formas pulmonares? PARÂMETROS AVALIADOS TUBERCULOSE PULMONAR PRIMÁRIA TUBERCULOSE PULMONAR PÓS-PRIMÁRIA Quadro clínico - Febre e sudorese noturna - Sintomas respiratórios não são frequentes - Inapetência - Febre e sudorese noturna - Tosse com ou sem hemoptise - Perda ponderal e inapetência Radiografia - Geralmente normal - Se alterada: a adenopatia hilar é o achado mais frequente. Outros achados: infiltrados pulmonares e derrame pleural - Complexo de Ranke - Nódulo de Ghon - Geralmente alterada - Envolve com frequência os lobos superiores - Achados mais frequentes: cavidades e infiltrados Tabela 1: Diferenças entre TB primária e secundária. 4.1.3 TUBERCULOSE MILIAR Lembra aqui comigo: você já estudou a patogênese da tuberculose e em seguida o quadro clínico das duas formas pulmonares, que são a tuberculose primária e secundária. Tem uma outra forma de TB que acomete o pulmão, chamada de tuberculose miliar. Ela ocorre quando o bacilo alcança a corrente sanguínea e dissemina-se para vários órgãos. Se tiver alguma dúvida, volta lá no capítulo da patogênese para relembrar. Ela pode ser resultado de uma TB primária que progrediu ou através da reativação de um foco latente de TB com subsequente disseminação hematogênica. O nome “miliar” refere-se à aparência da radiografia de tórax que parece que jogaram sementes de milho no pulmão. Clinicamente, o paciente apresenta-se com um quadro arrastado, subagudo ou crônico e com manifestações sistêmicas como febre, sudorese noturna, anorexia, perda ponderal e tosse. Como a TB miliar decorre de um acometimento disseminado da tuberculose, algumas pessoas também apresentam hepatomegalia e acometimento de sistema nervoso central. Ela é mais comum em pacientes com AIDS, numa fase avançada de imunossupressão. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 22 Figura 11: Aspecto da radiografia de tórax dos pacientes com tuberculose miliar. Perceba a presença de micronódulos difusos na aparência pulmonar. Figura 12: Nessa imagem, você consegue ver bem de perto o aspecto de grãos de milho que inspirou o nome da tuberculose “miliar”. Para sedimentar os achados clínicos gerais da tuberculose pulmonar (prin- cipalmente nas formas secundária e miliar), lembre-se: Figura 13: Sinais e sintomas da TB pulmonar. *Não se esqueça de que sintomas respiratórios, como a tosse e a dispneia, na TB primária não são frequentes. TUBERCULOSE PULMONAR Febre DispneiaPerda Ponderal Sudorese noturnaTosse* m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 23 CAI NA PROVA (UNIGRANRIO – RJ 2018) Paciente diabético (em uso de hipoglicemiantes orais) e tabagista, de 66 anos, vem à emergência no período da tarde, com queixa de tosse produtiva e febre há 3 semanas. Ao exame físico está emagrecido, hipocorado +/4, febril de 38° C, tem os dedos manchados de nicotina; exame cardíaco mostra RCR 2T, PA=140 x 85 mmHg, FC=88 bpm, Respiratório com MV rude em ápice direito, roncos esparsos bilaterais, FR=24 irpm, abdome mostra fígado a 3 dedos do RCD, hepatimetria normal, Traube timpânico, sem massas palpáveis; MMII com edema +/4 perimaleolar bilateralmente. Hemoglucoteste é feito, e mostra valor de 155. Qual a melhor conduta diante desse cenário? A) Prescrição de um macrolídeo oral, por exemplo, azitromicina por 3 dias. B) Prescrição de amoxicilina-clavulanato por 10 dias. C) nvestigação com radiografia simples de tórax e baciloscopia do escarro. D) Início de esquema RIPE empírico. COMENTÁRIO: Futuro Residente, temos aqui um paciente com tosse produtiva e febre há 3 semanas que se encontra emagrecido e ao exame físico tem murmúrio rude em ápice de pulmão direito. Qual nossa principal hipótese diagnóstica diante de um caso desse? Tuberculose!!! Qual o próximo passo? Iniciar a investigação com radiografia de tórax e baciloscopia. Essa investigação da tuberculose já será assunto para o próximo tópico. Alternativa A incorreta. O uso de macrolídeos é indicado para tratamento de pneumonia bacteriana, que não é a suspeita inicial nesse caso, já que o paciente tem uma história prolongada de tosse e febre há 3 semanas. Alternativa B incorreta. Assim como expliquei na alternativa acima, não há indicação de tratamento de pneumonia bacteriana em um paciente com suspeita de TB. A alternativa C está certa e é o gabarito da questão. Esse aqui é um caso bem sugestivo de TB, por isso devemos proceder à investigação do caso com radiografia de tórax e baciloscopia. A alternativa D está errada porque o esquema RIPE não deve ser iniciado empiricamente em um paciente sem antes realizar a investigação de tuberculose. Gabarito: alternativa C. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 24 Para resumir o que você aprendeu nesse tópico: Figura 14: Divisão clínica da TB pulmonar. TUBERCULOSE PULMONAR Primária Ocorre após contato com bacilo Mais frequente na infância Reativa após quadro de latência Mais frequenteem adultos Pode ser após TB primária ou secundária, quando o bacilo cai na corrente sanguínea Mais frequente em pacientes com AIDS MiliarSecundária Hora de falarmos um pouco a respeito das formas clínicas da tuberculose que não acometem o pulmão. A TB extrapulmonar é uma reativação do bacilo que ficou latente. Lembra quando os bacilos chegaram aos pulmões através da inalação? Alguns macrófagos contendo os bacilos podem migrar para outros tecidos e a reativação pode ocorrer em qualquer órgão do corpo como: 4.2 TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR • Pleura; • Linfonodos; • Sistema nervoso central; • Trato urogenital; • Osso / coluna vertebral; • Trato gastrointestinal; • Pericárdio. A TB extrapulmonar é mais comum em adolescentes e adultos e a pleura é o local mais acometido na população geral. Vamos ver como é a manifestação clínica em cada um desses órgãos. Todas essas formas de tuberculose já caíram em prova. Não se preocupe. Mostrarei os pontos mais importantes em cada tópico: m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 25 4.2.1 TUBERCULOSE PLEURAL A tuberculose pleural é a forma extrapulmonar mais comum em indivíduos sem comorbidades. Esse assunto foi abordado no livro de derrame pleural feito pela equipe da pneumologia do Estratégia MED. Não deixe de ler! 4.2.2 TUBERCULOSE GANGLIONAR Essa forma extrapulmonar de tuberculose decorre, com mais frequência, da reativação da doença em locais em que o bacilo se disseminou por via hematogênica durante a infecção pela tuberculose primária. Ela é a mais comum em pacientes com HIV e em crianças, principalmente pessoas abaixo dos 40 anos. A doença manifesta-se clinicamente com uma linfonodomegalia crônica, endurecida, que adere a planos profundos e que pode ter ponto de flutuação com fistulização espontânea. A região cervical é a mais acometida. Em pacientes sem HIV, a febre não é comum, sendo mais frequente naqueles com HIV. Figura 15: Imagem de um paciente com TB ganglionar. Fonte: Shutterstock. O diagnóstico é dado através da baciloscopia do aspirado ganglionar ou biopsia do linfonodo. Esse tipo de tuberculose confunde bastante com doenças linfoproliferativas. 4.2.3 TUBERCULOSE EM SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) A tuberculose de SNC é mais frequente em pacientes com HIV. Para facilitar seu aprendizado, ela foi abordada juntamente com outras doenças infecciosas do SNC, como as meningites. Por esse motivo, leia o livro de infecções do sistema nervoso central escrito pelo professor Bruno Buzo. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 26 CAI NA PROVA (SES – MA 2016) A tuberculose continua a merecer especial atenção dos profissionais de saúde e da sociedade como um todo, condição de elevada prevalência em nosso meio. Sobre essa patologia, podemos afirmar que: A) o empiema tuberculoso é uma complicação muito comum da tuberculose pulmonar. B) tuberculose nos linfonodos (linfadenite tuberculosa) é uma apresentação mais rara da tuberculose extrapulmonar tanto em pacientes soronegativos para HIV e infectados para HIV. C) a documentação de piúria com cultura negativa em urina ácida levanta a suspeita de tuberculose geniturinária, principalmente quando há deformidades, obstruções, calcificações e estenoses ureterais associadas. D) a tuberculose da coluna vertebral (mal de Pott ou espondilite tuberculosa) acomete, frequentemente, todos os corpos vertebrais torácicos e lombares, simultaneamente. E) pericardite tuberculosa é uma causa rara de pericardite em nosso meio. COMENTÁRIO: Essa questão é difícil. Ela aborda diversos tópicos da tuberculose em cada alternativa. Alternativa A é incorreta. Empiema é uma complicação rara da tuberculose, que resulta de uma cavidade para o espaço pleural com drenagem de material caseoso. Alternativa B é incorreta, pois a tuberculose ganglionar (em linfonodos) é a forma mais comum de infecção extrapulmonar em pacientes portadores do HIV e em crianças. As cadeias ganglionares apresentam aumento subagudo e indolor, podendo evoluir para flutuação e fistulização espontânea. Alternativa C é correta. A tuberculose urogenital é de difícil diagnóstico, pois exige alta suspeição clínica. O paciente apresenta tipicamente piúria com culturas negativas. A cronificação da doença pode resultar em deformidades do sistema urinário. O diagnóstico dessa doença é realizado por meio de cultura de urina em meio específico para micobactérias, sendo frequentemente necessárias várias amostras. Alternativa D é incorreta. A tuberculose da coluna vertebral (mal de Pott ou espondilite tuberculosa) acomete mais frequentemente a coluna torácica baixa e a lombar, mas não todos os corpos vertebrais simultaneamente. Alternativa E é incorreta, pois tuberculose pericárdica é uma das principais causas de pericardite no Brasil. Gabarito: alternativa C. 4.2.4 TUBERCULOSE UROGENITAL A TB urogenital é a terceira forma de TB extrapulmonar mais comum. Só perde para tuberculose pleural e ganglionar. Clinicamente, ela não está associada a nenhum sintoma específico, mas se acometer a bexiga, alguns pacientes podem queixar-se de disúria, urgência e polaciúria. Achados laboratoriais frequentes incluem uroculturas repetidas negativas, com piúria persistente e urina ácida. A cronificação da doença pode resultar em deformidades do sistema urinário, como estenoses, calcificações e obstruções. Para o diagnóstico, é importante a coleta de três a seis amostras do primeiro jato de urina do dia para baciloscopia, cultura para micobactéria e PCR (polymerase chain reaction). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 27 4.2.5 TUBERCULOSE ÓSSEA A TB óssea é uma doença que acomete com mais frequência as crianças e adultos a partir da quarta década de vida. Quando o acometimento é da coluna vertebral, que é o local mais frequente, ela recebe o nome de mal de Pott. Ela afeta principalmente a coluna lombar, não sendo frequente o acometimento de todos os corpos vertebrais, simultaneamente. Clinicamente, o paciente apresenta-se com a tríade de dor lombar, dor a palpação do local e sudorese noturna. 4.2.6 TUBERCULOSE ABDOMINAL Esse tipo de tuberculose pode envolver o trato gastrointestinal, o peritônio, linfonodos abdominais e/ou órgãos sólidos. As formas mais comuns da doença envolvem o peritônio, intestino e fígado. As manifestações mais comuns da tuberculose abdominal dependem do órgão acometido e podem incluir febre, perda ponderal, dor abdominal e/ou distensão, diarreia, ascite e hepatomegalia. No caso da tuberculose intestinal, o local mais acometido é intestino delgado, principalmente na região ileocecal, afetando cerca de 75% dos casos. CAI NA PROVA (UFMT – MT 2016) O local mais comumente acometido pela tuberculose gastrintestinal é: A) intestino delgado. B) esôfago. C) estômago. D) reto. COMENTÁRIO: Agora que você já aprendeu fica mais fácil, não é mesmo? A região mais acometida é o intestino delgado. Gabarito: alternativa A. 4.2.7 TUBERCULOSE PERICÁRDICA A TB pericárdica é uma forma grave de tuberculose. Seu diagnóstico é difícil e muitas vezes ela não é considerada nos pacientes com pericardite. Isso acarreta uma demora no diagnóstico, um aumento da mortalidade e de complicações como a pericardite constritiva. Ela ocorre em 1% a 4% das pessoas com TB pulmonar e é responsável por 7% dos casos de tamponamento cardíaco.m e d v i d e o s . c o m Có pi a não é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 28 Os principais sintomas que o paciente apresenta são dor torácica, tosse seca e dispneia. Ela geralmente não se associa à TB pulmonar, mas pode ocorrer naqueles pacientes com tuberculose pleural. O líquido pericárdico da tuberculose pericárdica é tipicamente exsudativo e caracterizado por proteínas elevadas e aumento da contagem de leucócitos, com predominância de linfócitos e monócitos. Dosagem de adenosina deaminase (ADA) pode ajudar no diagnóstico, pois níveis superiores a 40U/L são sugestivos de pericardite tuberculosa. A pesquisa direta de BAAR tem sensibilidade entre 40% e 60%. Cultura para BAAR do líquido pleural tem sensibilidade um pouco maior que a pesquisa direta, porém é um exame cujo resultado leva vários dias para estar disponível. A biópsia de pericárdio pode ser útil para o diagnóstico, pois pode evidenciar a presença de BAAR ou de inflamação granulomatosa no tecido, embora sua sensibilidade seja baixa. Características do líquido pericárdico na TB É um exsudato com proteínas elevadas, celularidade aumentada, com predomínio de linfomononucleares e ADA acima de 40U/L. CAI NA PROVA (HNMD – RJ 2017) Paciente de 40 anos, masculino, procura atendimento médico devido a cansaço e emagrecimento de 09 kg em 03 meses. Nega comorbidades, mas informa tratamento para tuberculose pleural há 05 anos. Radiografia de tórax com aumento da área cardíaca e ecocardiograma com derrame pericárdico volumoso. Os achados na análise do líquido pericárdico que podem sugerir o diagnóstico de tuberculose pericárdica são padrão de: A) transudato, com predomínio de monócitos, níveis baixos de ADA. B) exsudato, com alta contagem de linfócitos e monócitos e níveis elevados de ADA. C) exsudato, predomínio de polimorfonucleares e níveis baixos de ADA. D) transudato, com baixa contagem de monócitos e níveis elevados de ADA. E) exsudato, com predomínio de polimorfonucleares e níveis elevados de ADA. COMENTÁRIO: Você se lembra das características do líquido pericárdico na tuberculose? Vamos analisar cada alternativa e relembrar: Alternativa A é incorreta, pois o líquido pericárdico em pericardite tuberculose é exsudato, com alta contagem de linfócitos e monócitos e níveis elevados de ADA. Alternativa B é correta, pois o líquido pericárdico em pericardite tuberculose é exsudato, com alta contagem de linfócitos e monócitos e níveis elevados de ADA. Alternativa C é incorreta, pois o líquido pericárdico em pericardite tuberculose tem alta contagem de linfócitos e monócitos e níveis elevados de ADA. Alternativa D é incorreta, pois o líquido pericárdico em pericardite tuberculose é exsudato, com alta contagem de linfócitos e monócitos. Alternativa E é incorreta, pois o líquido pericárdico em pericardite tuberculose tem alta contagem de linfócitos e monócitos. Gabarito: alternativa B. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 29 Vamos sedimentar o aprendido sobre TB extrapulmonar? PLEURAL GANGLIONAR ABDOMINAL UROGENITAL PERICÁRDICA ÓSSEA (MAL DE POTT) SISTEMA NERVOSO CENTRAL TB EXTRAPULMONAR Forma extrapulmonar mais frequente em infectados pelo HIV e crianças Quadro subagudo de cefaleia e febre Tríade: dor lombar, dor a palpação local e sudorese Intestino delgado é o local mais acometido Piúria com urocultura negativa e urina ácida É uma forma grave e corresponde a 7% dos casos de tamponamento cardíaco Forma extrapulmonar mais frequente na população geral Figura 16: Mapa mental da TB extrapulmonar. Antes de passarmos para o próximo tópico, memorize o seguinte: Formas extrapulmonares de tuberculose: - Mais comum na população geral: TB pleural; - Mais comum em pacientes com HIV: TB ganglionar; - Mais comum em crianças: TB ganglionar. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 30 4.3 TUBERCULOSE EM CRIANÇAS Em crianças, a tuberculose não se manifesta do mesmo modo que nos adultos. Para aprender mais sobre esse assunto, leia o livro de tuberculose na infância escrito pelas professoras da pediatria. 5.0 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL CAPÍTULO Chegou a hora de aprender um dos tópicos mais cobrados nas provas de Residência: o diagnóstico da tuberculose! Aqui, o nosso foco principal é o diagnóstico da TB pulmonar, já que ela é a mais comum e a principal responsável pela manutenção da cadeia de transmissão. Para um diagnóstico adequado de tuberculose pulmonar, precisamos ter um quadro clínico sugestivo (que você já aprendeu como é), uma radiografia de tórax compatível (você também já viu os achados mais importantes), e por último, precisamos encontrar a micobactéria. É isso que vou lhe ensinar agora. Resumindo, precisamos dessas três condições para diagnosticar uma tuberculose pulmonar: DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE PULMONAR Pesquisa bacteriológica Radiografia de tórax compatível Quadro clínico compatível Febre Tosse Sudorese noturna Perda ponderal Inapetência Baciloscopia ou Cultura ou Teste rápido molecular Cavitações ou Infiltrados ou Adenopatia hilar ou Micronódulos difusos Figura 17: Diagnóstico da TB pulmonar. Encontrar o bacilo parece simples, mas não é. É difícil documentar que essa micobactéria esteja no local investigado; muitas vezes na prática médica, devemos iniciar o tratamento empírico baseado no quadro clínico e exames do paciente. Existem três formas de pesquisar a presença do bacilo. Elas são: • Visualizando-os diretamente na microscopia com a coloração de Ziehl-Neelsen através da baciloscopia; • Encontrando seu material genético na amostra obtida através do teste rápido molecular; • Cultivando essa micobactéria em meios de culturas. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 31 Alguns pacientes podem não ter tosse produtiva, dificultando a realização desses exames em amostra de escarro. O que pode ser feito é a indução do escarro com solução salina hipertônica (5ml de soro fisiológico + 0,5ml de NaCl 20%). Esse procedimento deve ser feito em sala apropriada com pressão negativa, para evitar disseminação do bacilo pelo ambiente. Vamos agora aprender como indicar cada um desses métodos para diagnosticar a tuberculose: 5.1 BACILOSCOPIA A baciloscopia é um exame simples, seguro e bastante difundido. Como já expliquei antes, ela consiste na pesquisa do bacilo através da coloração de Ziehl-Neelsen. Pode ser feita em diversas amostras, sendo a baciloscopia do escarro a mais importante, pois ela permite detectar as pessoas bacilíferas (responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão) e definir quando elas deixam de transmitir a TB. Nos casos de TB extrapulmonar, esse exame pode ser realizado em outras amostras biológicas. A sensibilidade da baciloscopia do escarro não é muito boa, permitindo a detecção de 60% a 80% dos casos de TB no adulto. Ou seja, caso o exame seja negativo e o paciente tiver achados clínicos e radiológicos compatíveis com tuberculose pulmonar, devemos desconsiderar o resultado dessa baciloscopia. Em crianças esse exame não é indicado, já que é difícil obter amostras de escarro de boa qualidade. Não custa lembrar que outros microrganismos também podem ter uma baciloscopia positiva e não ser TB. Ou seja, esse exame não é específico para tuberculose. Já falei sobre isso no início do livro, lembra? Outros diagnósticos devem ser considerados caso a caso, dependendo da evolução clínica dopaciente. PONTOS-CHAVE 1. Se um paciente tiver um quadro clínico compatível com TB pulmonar e a baciloscopia for negativa, a hipótese diagnóstica deve continuar sendo TB pulmonar, já que esse exame não é muito sensível. 2. A baciloscopia não é específica para o M. tuberculosis. Ela pode detectar outras micobactérias e nocardia, por exemplo. 3. Nas provas de Residência, a baciloscopia é o primeiro exame a ser indicado na suspeita de TB pulmonar. 5.1.1 INDICAÇÃO De acordo com o Ministério da Saúde, a baciloscopia do escarro é indicada: • Nos sintomáticos respiratórios, durante estratégia de busca ativa; • Em casos suspeitos de TB pulmonar independentemente do tempo de tosse; • Para controle de cura e acompanhamento de pacientes já com tuberculose confirmada, afinal, esse exame consegue dizer se na amostra há bacilos viáveis ou não (ao contrário do teste molecular, como você verá adiante). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 32 Qual a definição de sintomático respiratório? - Pelo Ministério da Saúde: é aquela pessoa que apresenta tosse por 3 semanas ou mais; - Pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia: é o paciente com tosse por 2 semanas ou mais. CAI NA PROVA (UERN – RN 2018) Conforme as III Diretrizes para Tuberculose (TB) da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, para fins de busca passiva ou de busca ativa de caso de TB pulmonar, considera-se um indivíduo sintomático respiratório aquele com tosse: A) "maior ou igual" 1 semana. B) "maior ou igual" 2 semanas. C) "maior ou igual" 3 semanas. D) "maior ou igual" 4 semanas. COMENTÁRIO: A pergunta é aparentemente simples, pois quer saber apenas o conceito de sintomático respiratório e as alternativas discutem a quantidade de semanas. No entanto, embora o conceito atual presente no Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil do Ministério da Saúde, de 2019, defina sintomático respiratório como pessoa com tosse por período ≥ 3 semanas de duração, para essa referência citada no enunciado, a resposta é ≥ 2 semanas. Gabarito: alternativa B. Esse exame da baciloscopia deve ser realizado em duas amostras: uma no primeiro contato com o paciente suspeito e a outra no dia seguinte ao despertar. Se as duas amostras vierem negativas e a suspeita clínica for grande, outras amostras devem ser solicitadas. CAI NA PROVA (HCG – 2017) Homem de 32 anos, morador de rua em Goiânia, usuário de crack, refere que há cerca de quatro meses iniciou quadro de tosse produtiva, acompanhada de febre não aferida e suores noturnos, bem como perda de cerca de 8 kg [peso habitual 50 kg]. Nesse período, procurou três vezes os serviços de saúde, sendo que, nas duas últimas oportunidades, recebeu diagnóstico de pneumonia. Fez uso irregular de amoxicilina no primeiro diagnóstico e de azitromicina no segundo, agora regularmente. Ao exame, estava febril [38,3 °C], hipocorado 2+/4+, anictérico, hidratado, eupneico em repouso, mas com leve dispneia ao caminhar. O aparelho respiratório evidenciava diminuição do murmúrio vesicular em terço superior do hemitórax direito, com presença de estertores crepitantes, bem como aumento do frêmito toracovocal, nessa topografia. O aparelho cardiovascular não exibia alterações m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 33 significativas. O abdômen não mostrava massas ou visceromegalias. Sem adenomegalias palpáveis em cadeia cervical, supraclaviculares e axilares. Sem lesões de pele. Os dentes encontravam-se em mau estado de conservação. Não havia lesões na mucosa oral. A radiografia de tórax mostrou opacidade heterogênea em lobo superior do pulmão direito, bem como infiltrados micronodulares em bases, bilateralmente. Uma baciloscopia do escarro [coloração de Ziehl-Neelsen] foi negativa. Qual é a principal hipótese diagnóstica para esse paciente? A) Pneumonia por Kebsiella pneumoniae. B) Tuberculose pulmonar. C) Paracoccidioidomicose pulmonar. D) Abscesso pulmonar. COMENTÁRIO: O enunciado apresenta um caso clínico de um morador de área livres com história de drogadição e com quadro de febre, tosse, perda ponderal e sudorese noturna. Qual a primeira hipótese diagnóstica? Tuberculose pulmonar! O exame físico evidenciou alterações segmentares no lobo superior direito, local frequente nos pacientes com TB. O exame de imagem confirmou a suspeição do exame físico de um infiltrado em ápice direito e demonstrou algumas áreas com padrão micronodular, também sugestivo de TB miliar. A baciloscopia veio negativa. E aí? Vamos confiar nesse exame que tem uma sensibilidade ruim? Não! A principal hipótese diagnóstica continua sendo tuberculose pulmonar. Vamos analisar as alternativas: Incorreta a alternativa A, porque o tempo de evolução é incompatível com o diagnóstico de pneumonia bacteriana. São fatores de risco para pneumonia adquirida na comunidade por Klebsiella: etilismo, diabetes e DPOC. Correta a alternativa B, porque o quadro clínico do paciente, tempo de evolução, presença de fatore de risco (morador de áreas livres) e as alterações clínico-radiológicas predominando em ápice direito sugerem fortemente a hipótese diagnóstica de tuberculose pulmonar. Incorreta a alternativa C, porque, embora a forma crônica de paracoccidioidomicose seja caracterizada especialmente pelo acometimento pulmonar, a apresentação radiológica característica é o infiltrado em 1/3 médio bilateralmente, poupando ápices e bases (padrão em “asa de borboleta”). Normalmente em questões de Residência Médica que abordam esse diagnóstico diferencial é relatado o antecedente de ser trabalhador rural. Incorreta a alternativa D, porque a evolução de 4 meses é muito arrastada mesmo para um abcesso pulmonar, não foi descrito na radiografia a presença de nível líquido e o exame físico não é sugestivo (esperaríamos um frêmito toracovocal diminuído). Gabarito: alternativa B. 5.2 TESTE RÁPIDO MOLECULAR (TRM) O TRM é um teste que utiliza a técnica de PCR em tempo real para detectar o material genético (DNA) do M. tuberculosis (TRM-TB). Essa técnica permite um diagnóstico rápido, geralmente em até duas horas. Além disso, ele também detecta simultaneamente a presença de resistência à rifampicina, uma das principais drogas usadas para tratamento da tuberculose. Esse teste tem uma sensibilidade de cerca de 90%, maior do que a baciloscopia. Ele também é específico para a M. tuberculosis. Isso ajuda bastante para nós direcionarmos alguns diagnósticos. Por exemplo, imagine um paciente que tem a baciloscopia positiva e um TRM negativo. O que eu posso tirar de conclusão com esses exames? Que, provavelmente, o paciente tem infecção por alguma micobactéria não tuberculosa (MNT), afinal o TRM é negativo para TB, mas tem algum BAAR no escarro. Geralmente a cultura que vai dizer a espécie da micobactéria. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 34 5.2.1 INDICAÇÃO Esse teste está indicado nas seguintes situações: • Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e laríngea; • Diagnóstico de TB extrapulmonar em outras amostras biológicas, como lavado broncoalveolar (LBA), lavado gástrico, liquor, gânglios linfáticos e outros tecidos; • Triagem de resistência à rifampicina nos casos de retratamento ou suspeita de falência do tratamento (baciloscopia positiva após dois meses de tratamento); Como ele detecta o material genético da M. tuberculosis, não deve ser usado para controle de cura nos pacientes com TB, afinal, bacilos mortos ou inviáveis poderiam ser detectados noteste. PONTOS-CHAVE DO TRM-TB 1. É específico para o M. tuberculosis (não detecta outras micobactérias); 2. Detecta também a resistência à rifampicina; 3. Não é indicado para controle de cura. CAI NA PROVA (SES – PE 2019) Sobre o uso do teste rápido molecular (GenXpert) para o diagnóstico da tuberculose, é incorreto afirmar que: A) uma de suas principais vantagens é a rapidez de obtenção do diagnóstico. B) é exame útil no acompanhamento do tratamento, para a definição de cura bacteriológica. C) permite identificação de cepas com resistência à rifampicina. D) permite estabelecer o diagnóstico de tuberculose em alguns casos com esfregaço negativo para BAAR. E) oferece maior especificidade para o diagnóstico da tuberculose pulmonar que as outras técnicas disponíveis. COMENTÁRIO: Olha só como cai em prova esse assunto. Vamos analisar as alternativas: Alternativa A é correta, pois teste rápido molecular apresenta resultado em cerca de 2 horas. Alternativa B é incorreta, pois o teste rápido molecular pode identificar bacilos mortos ou inviáveis. Por esse motivo que ele não é indicado para acompanhamento do tratamento de pacientes com TB. Alternativa C é correta, pois o teste rápido molecular para tuberculose identifica não só a espécie, mas também gene de resistência para rifampicina. Alternativa D é correta, pois o teste rápido molecular é mais sensível para o diagnóstico de tuberculose que a baciloscopia para BAAR. Alternativa E é correta. Por ser um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado para detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis, sua especificidade é maior quando comparada aos métodos tradicionais. Gabarito: alternativa B. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 35 5.3 CULTURA PARA MICOBACTÉRIA Esse é o exame padrão-ouro para o diagnóstico de tuberculose. Ele é mais sensível do que a baciloscopia e pode vir com crescimento da M. tuberculosis nos casos onde a baciloscopia é negativa. O diagnóstico bacteriológico pode ser aumentado em até 30%. Além disso, esse é o único exame cujo perfil de sensibilidade da bactéria a outros antibióticos − do esquema padrão de tratamento − conseguimos avaliar. Parece um exame maravilhoso, não é mesmo? Até seria se não demorasse muito tempo para sair seu resultado. A amostra pode ser incubada em meio de cultura sólido, que pode variar de 15 a 30 dias, mas pode estender-se até 8 semanas para dar algum resultado. Outro tipo de meio de cultura é o líquido, que é mais caro e menos disponível, porém o tempo de detecção do crescimento bacteriano é de 5 a 12 dias, podendo estender-se até 6 semanas. 5.3.1 INDICAÇÃO De acordo com o Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil, de 2019, a cultura para a micobactéria está indicada nos seguintes casos: • Todo caso de diagnóstico de TB com TRM positivo; • Todo caso suspeito de TB com TRM negativo e persistência do quadro clínico; • Todo caso suspeito de TB em que não estiver disponível o TRM; • Suspeita de infecção por MNT (micobactéria não tuberculosa); • Persistência de baciloscopia positiva após o segundo mês de tratamento; • Recidivas. PONTOS-CHAVE DA CULTURA PARA MICOBACTÉRIA 1. Como a cultura é mais sensível do que a baciloscopia, caso um paciente apresente baciloscopias sucessivas negativas, o próximo exame mais indicado é a cultura do escarro; 2. Permite a detecção de outras micobactérias; 3. Permite a realização de teste de sensibilidade (TS) aos antibióticos. CAI NA PROVA (SURCE – CE 2019) Adulto jovem, brasileiro, com história de tosse produtiva, febre irregular e astenia há 1 mês. Fez uso de amoxicilina no início do quadro sem melhora clínica. Realizou três baciloscopias, todas negativas para BAAR. Sua radiografia de tórax em PA é mostrada abaixo. Considerando que o paciente permanece com os mesmos sintomas, o exame mais indicado para confirmar o diagnóstico mais provável, neste momento seria: m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 36 A) broncoscopia. B) escarro induzido. C) cultura do escarro. D) teste tuberculínico. COMENTÁRIO: Temos um aqui um paciente com história sugestiva de TB (febre, tosse e astenia há um mês) e chegou a tratar pneumonia bacteriana com amoxicilina sem resposta ao tratamento. Na radiografia conseguimos ver consolidações no ápice de hemitórax direito, localização bem frequente de achados radiológicos nos pacientes com TB. Como o paciente tem um quadro clínico sugestivo e imagem de tórax também, a hipótese diagnóstica de TB pulmonar permanece, porém precisamos de um exame mais sensível do que a baciloscopia. Vamos ver qual exame é esse: Incorreta a alternativa A, porque a coleta de escarro para realização de baciloscopia, teste rápido molecular ou cultura é a rotina na investigação de casos suspeitos de tuberculose. No entanto, a broncoscopia, com lavado broncoalveolar e biópsia com pesquisa direta e cultura, é uma ferramenta mais invasiva que pode ser utilizada para os casos em que não seja possível obter amostra representativa do escarro (paciente não expectora) e há forte suspeita de tuberculose. Incorreta a alternativa B, porque, assim como a broncoscopia, o escarro induzido é uma ferramenta utilizada para os casos em que não seja possível obter amostra representativa do escarro e persista forte suspeita da hipótese diagnóstica de tuberculose. A técnica do escarro induzido prevê a utilização de nebulizador ultrassônico e solução salina hipertônica 3% (5 ml de soro fisiológico 0,9% + 0,5 ml de NaCl 20%). Correta a alternativa C, porque a cultura é um método de elevada especificidade e sensibilidade no diagnóstico da tuberculose. Nos casos pulmonares com baciloscopia negativa, a cultura do escarro pode aumentar em até 30% o diagnóstico bacteriológico da doença. Incorreta a alternativa D, porque não há evidências para utilização da prova tuberculínica (PPD) como método auxiliar no diagnóstico de tuberculose pulmonar ou extrapulmonar no adulto. Esse teste, quando positivo, não confirma o diagnóstico de tuberculose ativa, assim como não o excluí caso esteja negativo. Gabarito: alternativa C. (Hospital de Câncer de Barretos - SP 2019) A pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), pelo método de Ziehl-Nielsen, é uma técnica simples e de baixo custo, sendo a mais utilizada no diagnóstico da TB. A baciloscopia do escarro, quando executada corretamente, permite detectar a maioria dos casos pulmonares. Sendo INADEQUADO que: A) nos casos em que houver indícios clínicos e radiológicos de tuberculose e as duas baciloscopias apresentarem resultado negativo, podem ser solicitadas amostras adicionais, conforme avaliação individual, além da solicitação de cultura. B) outros espécimes clínicos podem ser utilizados para a investigação do M. tuberculosis, como urina, secreção purulenta de lesões sugestivas, lavados gástricos e brônquicos, escarro induzido, materiais de biópsia e de ressecção. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 37 C) nos materiais para a investigação do M. tuberculosis, a sensibilidade da baciloscopia é bem menor do que no escarro e, por isso, a cultura nessas amostras é obrigatória. D) a PCR identifica material genético de microrganismos vivos ou mortos e está indicada para o acompanhamento do tratamento. COMENTÁRIO: Vamos discutir as alternativas? Acabamos de aprender sobre isso tudo. Lembrando que a banca pede a incorreta: Correta a alternativa A. Caso haja suspeição clínica de tuberculose pulmonar e as primeiras amostrastenham sido negativas, podemos solicitar novas amostras. Correta a alternativa B. Podemos investigar a tuberculose em várias amostras biológicas como urina, líquido ascítico, liquor, secreções purulentas, lavados gástricos e brônquicos, escarro induzido e material de biopsia. Correta a alternativa C. Como as outras amostras biológicas são menos sensíveis para a pesquisa de BAAR do que o escarro, devemos sempre realizar a cultura para micobactérias, que é o padrão-ouro para diagnóstico de tuberculose. Incorreta a alternativa D. A PCR identifica microrganismos vivos ou mortos e é por isso que não está indicada para o acompanhamento do tratamento. A baciloscopia é o teste de escolha já que consegue identificar os bacilos inviáveis ou mortos. Como podemos perceber, essa alternativa é o gabarito da questão. Gabarito: alternativa D. 5.4 DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE PULMONAR Nas provas de Residência, o que você mais precisa saber para diagnosticar TB pulmonar em um paciente sintomático é o seguinte: SUSPEITA DE TB PULMONAR COM BASE NA ANAMNESE E EXAME FÍSICO. DUAS AMOSTRAS DE BACILOSCOPIA E/OU TRM-TB E/OU CULTURA. RADIOGRAFIA DO TÓRAXPEDIR m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 38 Agora compare as indicações de cada exame: EXAME INDICAÇÃO Baciloscopia • Nos sintomáticos respiratórios, durante estratégia de busca ativa. • Em casos suspeitos de TB pulmonar independentemente do tempo de tosse. • Para controle de cura e acompanhamento de pacientes já com tuberculose confirmada. TRM • Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e laríngea. • Diagnóstico de TB extrapulmonar em outras amostras biológicas. • Triagem de resistência à rifampicina nos casos de retratamento ou suspeita de falência do tratamento. Cultura • Todo caso de diagnóstico de TB com TRM positivo. • Todo caso suspeito de TB com TRM negativo e persistência do quadro clínico. • Todo caso suspeito de TB em que não estiver disponível o TRM. • Suspeita de infecção por MNT. • Persistência de baciloscopia positiva após o segundo mês de tratamento. • Recidivas. Assim que o diagnóstico for feito, todos os pacientes devem ser investigados para HIV, com solicitação da sorologia. CAI NA PROVA (UNIGRANRIO 2018) Paciente diabético (em uso de hipoglicemiantes orais) e tabagista, de 66 anos, vem à emergência no período da tarde, com queixa de tosse produtiva e febre há 3 semanas. Ao exame físico está emagrecido, hipocorado +/4, febril de 38° C, tem os dedos manchados de nicotina; exame cardíaco mostra RCR 2T, PA=140 x 85 mmHg, FC=88 bpm, Respiratório com MV rude em ápice direito, roncos esparsos bilaterais, FR=24 irpm, abdome mostra fígado a 3 dedos da RCD, hepatimetria normal, Traube timpânico, sem massas palpáveis; MMII com edema +/4 perimaleolar bilateralmente. Hemoglucoteste é feito, e mostra valor de 155. Qual a melhor conduta diante desse cenário? A) Prescrição de um macrolídeo oral, por exemplo, azitromicina por 3 dias. B) Prescrição de amoxicilina-clavulanato por 10 dias. C) Investigação com radiografia simples de tórax e baciloscopia do escarro. D) Início de esquema RIPE empírico. COMENTÁRIO: Temos aqui um paciente com tosse produtiva e febre há 3 semanas que se encontra emagrecido e ao exame físico tem murmúrio rude em ápice de pulmão direito. Qual é a nossa principal hipótese diagnóstica diante de um caso desse? Tuberculose! Qual o próximo passo? Iniciar a investigação com radiografia de tórax e baciloscopia. Vamos analisar as alternativas: Incorreta a alternativa A. O macrolídeo fornece ação contra bactérias atípicas como a Legionella spp., o Mycoplasma pneumoniae e a Chlamydia pneumoniae. Como nossa hipótese diagnóstica não é uma pneumonia por atípicos, não devemos prescrever o macrolídeo. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 39 Incorreta a alternativa B. A amoxicilina vai cobrir os agentes etiológicos da pneumonia bacteriana por germes típicos que são: o pneumococo, o Haemophilus influenzae e a Moraxella catarrhalis, portanto não é adequada sua prescrição já que nossa hipótese diagnóstica é a tuberculose. Correta a alternativa C. Esse paciente tem um quadro clínico bem sugestivo de tuberculose pulmonar. O próximo passo é solicitar uma radiografia de tórax para pesquisar alterações compatíveis, como a cavidade em ápice, e pedir pelo menos 2 amostras de baciloscopia no escarro. Incorreta a alternativa D. Não é recomendado início empírico do RIPE sem a investigação diagnóstica, já que o tratamento é longo e pode ser tóxico. Gabarito: alternativa C. Depois disso tudo, vamos reforçar todos os pontos principais do diagnóstico da TB? Analise este esquema com cuidado: 5.5 DIAGNÓSTICO DE TB EM CRIANÇAS O diagnóstico da tuberculose em crianças é um pouco diferente do que é feito com adultos e adolescentes. Como já disse antes, esse tema está no livro de tuberculose escrito pela equipe da pediatria. DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE PULMONAR Bacteriológica Baciloscopia TRM Cultura para micobactéria Radiológico Micronódulos difusos Clínico Febre vespertina Tosse Perda ponderal Sudorese noturna Perda de apetite Radiografia de tórax: Geralmente anormal Cavitações Infiltrados alveolares Radiografia de tórax: Normal Adenopatia hilar Nódulo Ghon Complexo de Ranke Infiltrados TB primária TB secundária TB miliar Figura 18: Conduta em caso de TB pulmonar.m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 40 6.0 TRATAMENTO CAPÍTULO Agora que já sabemos diagnosticar uma tuberculose, vamos aprender como é seu tratamento? Devemos tratar os bacilos que se reproduzem dentro de lesões cavitárias e também aqueles que se reproduzem lentamente dentro do granuloma e dentro dos macrófagos. Por esse motivo, o tratamento deve ser feito com várias drogas que atuem em mecanismos diferentes, para atingir populações diversas de bacilos e evitar o aparecimento de resistência. Além disso, o tratamento deve ser prolongado para evitar recidivas da doença. Passarei a você as recomendações do Manual de Recomendações para Controle da Tuberculose no Brasil, de 2019. Existem várias medicações que podem ser usadas para o tratamento da tuberculose. Esses fármacos são subdivididos em dois tipos: • Os essenciais, que têm capacidade esterilizante e bactericida; • Os acompanhantes, que são aqueles que protegem as drogas essenciais contra a resistência adquirida durante o tratamento. Analise agora essa tabela que divide as drogas em grupos: GRUPOS FÁRMACOS Grupo 1 - Fármacos de 1ª linha (orais) Essenciais Isoniazida, rifampicina e pirazinamida Acompanhante Etambutol Grupo 2 – Fluoroquinolonas Essenciais Levofloxacino (altas doses) e moxifloxacino Grupo 3 – Injetáveis Essenciais Estreptomicina, canamicina, amicacina e capreomicina Grupo 4 – Fármacos de 2ª linha menos eficazes Acompanhantes Etionamida/protionamida, cicloserina/terizidona e PAS (ácido paraminossalicílico) Grupo 5 – Fármacos de 2ª linha com menor experiência clínica Essenciais Linezolida, bedaquilina, delamanid Acompanhantes Clofazimina, carbapenêmicos, amoxicilina/ clavulanato Tabela 2: Medicações usadas para tratamento de TB. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED INFECTOLOGIA Tuberculose Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | 2023 41 São três coisas para as quais quero chamar sua atenção nessa tabela: • As drogas de escolha para tratamento inicial são todas do grupo 1; • Caso o paciente
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