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1 CURSO DE FORMAÇÃO GCMOB – 2023 Diferentes Concepções de Políticas de Segurança Pública e das Funções dos Profissionais de Segurança Pública Urbana numa Sociedade Democrática Igor Almeida 2 Sumário 1. Uma abordagem histórico-cultural das instituições de segurança pública. ............................. 3 1.1 Introdução ........................................................................................................................... 3 1.2 Origem da polícia brasileira..................................................................................................... 4 1.3 Período Imperial .................................................................................................................. 9 1.4 Era Vargas (1930-45) ............................................................................................................. 12 1.5 Estado Democrático de Direito (a partir de 1985) ................................................................ 14 2. Discussão e análise crítica das concepções de políticas de segurança urbana ....................... 15 3- Aprendizagem sobre formulação, implementação, avaliação e acompanhamento de políticas de segurança pública no âmbito da municipalidade e em parceria com outros órgãos de segurança e comunidade, garantindo a interatividade; ............................................................. 17 3.1 Diretrizes para as guardas civis municipais do brasil ............................................................ 18 3.1.1 Diretrizes Gerais ................................................................................................................. 18 3.1.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................... 19 3.1.3 Justificativa ......................................................................................................................... 19 3.1.4 Etapas para criação de uma Guarda Civil Municipa ........................................................... 20 3.1.2 Plano municipal de segurança pública (PLAMUSP) ............................................................ 28 3.1.3 Diretrizes Básicas ................................................................................................................ 28 3.1.4. Plano de capacidades, aquisições e capacitações ............................................................. 32 3.15. Procedimentos Operacionais Padrão ................................................................................. 40 4. O papel do(a) policial militar ................................................................................................... 41 5. O papel do(a) policial civil ....................................................................................................... 42 6. O papel do(a) guarda municipal .............................................................................................. 44 7. O papel do(a) bombeiro(a) ...................................................................................................... 51 8. O papel do(a) policial federal .................................................................................................. 52 9. O papel do(a) policial rodoviário federal ................................................................................ 54 11- O poder da polícia e o poder discricionário da Guarda Municipal; ...................................... 57 12- O controle interno e externo da ação da Guarda Municipal. ............................................... 59 13. Referência ............................................................................................................................. 61 12. PROFESSOR ............................................................................................................................ 64 3 1. Uma abordagem histórico-cultural das instituições de segurança pública. 1.1 Introdução A segurança pública no Brasil é um tema indispensável, a partir do qual se pode estruturar uma política institucional e social. Desta forma, as instituições que compõem o sistema de segurança pública teriam a função de assegurar o cumprimento dessa política. No Brasil, como em qualquer país, a segurança pública tem o objetivo de garantir a proteção dos cidadãos, manter a ordem social e prevenir e combater a criminalidade. Para que a política de segurança pública seja eficaz, é fundamental a existência de instituições bem estruturadas e capacitadas. Essas instituições são responsáveis por executar as ações de prevenção, investigação e repressão aos crimes, além de promover a segurança da população. Do ponto de vista dos direitos e garantias fundamentais, o Estado tem a obrigação de preservar e garantir os direitos individuais dos cidadãos. Esses direitos são essenciais para o exercício pleno da cidadania e para a construção de uma sociedade justa e igualitária. Direito à vida: O Estado deve proteger o direito à vida de todos os indivíduos, assegurando medidas para prevenir e reprimir a violência, os homicídios, os abusos policiais e quaisquer outras formas de atentado contra a vida. 4 Direito à igualdade: O Estado deve garantir a igualdade de todos perante a lei, sem qualquer forma de discriminação. Isso implica em combater o racismo, a discriminação de gênero, a discriminação por orientação sexual, entre outras formas de desigualdade. Direito à segurança: O Estado tem a responsabilidade de assegurar a segurança dos cidadãos, protegendo-os contra a criminalidade, a violência e a ameaça à integridade física e psicológica. Isso inclui a atuação eficiente das forças de segurança, a prevenção do crime e a promoção da sensação de segurança na sociedade. Direito à liberdade: O Estado deve garantir a liberdade individual dos cidadãos, assegurando o direito de ir e vir, a liberdade de expressão, a liberdade de associação e os demais direitos que envolvem a autonomia e a liberdade de escolha. Acesso à justiça: O Estado deve garantir o acesso à justiça a todos os cidadãos, assegurando a imparcialidade do sistema judiciário, a efetividade dos mecanismos de proteção dos direitos e o acesso a recursos legais adequados. Esses direitos fundamentais são consagrados em diversas constituições democráticas ao redor do mundo, incluindo a Constituição Brasileira de 1988. 1.2 Origem da polícia brasileira A palavra "polícia" tem origem nas palavras gregas "politéia" e latinas "politia", que estão relacionadas ao governo de uma cidade. O termo foi 5 historicamente associado à organização e administração dos assuntos públicos de uma comunidade ou cidade. No contexto histórico, a polícia era responsável pela manutenção da ordem pública, pela segurança dos cidadãos e pela aplicação das leis locais. Essa função era desempenhada pelos órgãos de controle e autoridade designados para cuidar dos assuntos relacionados à segurança, à justiça e à administração pública. Com o passar do tempo, o termo "polícia" foi evoluindo e adquirindo diferentes significados em diferentes sociedades. Atualmente, a palavra "polícia" é frequentemente utilizada para se referir às instituições encarregadas de aplicar a lei, manter a ordem e garantir a segurança pública em nível nacional ou regional. As instituições policiais têm a responsabilidade de proteger os cidadãos, prevenir e investigar crimes, fazer cumprir as leis e garantir o respeito aos direitos fundamentais. Embora a palavra "polícia" tenha origem na ideia de governo de uma cidade, seu significado atual vai além do contexto urbano. As instituições policiais estão presentesem diferentes níveis de governo e atuam em áreas rurais, suburbanas e urbanas, adaptando-se às demandas e desafios de cada ambiente. É interessante observar como a evolução histórica da palavra "polícia" reflete a importância de garantir a segurança e a ordem na convivência social, aspectos fundamentais para a organização de uma sociedade justa e harmoniosa. 6 Com a chegada da expedição liderada por Pedro Álvares Cabral ao Monte Pascoal, em 22 de abril de 1500, é considerada um marco histórico importante na história do Brasil. Essa data representa oficialmente a chegada dos portugueses ao continente americano e marca o início do processo de colonização e exploração do território brasileiro pelos europeus. A expedição de Cabral fazia parte dos esforços de Portugal para estabelecer rotas comerciais marítimas com o Oriente, em busca de especiarias e riquezas. No entanto, ao se desviar da rota prevista, a frota de Cabral acabou chegando ao que é hoje o litoral sul da Bahia, na região conhecida como Monte Pascoal. Diante da necessidade de garantir o controle e desenvolvimento dos territórios descobertos pelos portugueses na América, D. João III adotou a estratégia de dividir essas terras em Capitanias Hereditárias. A Coroa portuguesa dividiu o território em 15 lotes de terra, conhecidos como Capitanias Hereditárias, e os entregou aos capitães donatários. Esse sistema foi oficialmente implantado a partir de 1534, por meio da Carta de Doação assinada pelo rei D. João III. Cada capitania hereditária correspondia a um lote de terra, geralmente ao longo da costa, e era concedida a um capitão donatário. Os donatários recebiam amplos poderes políticos, administrativos e judiciais sobre suas capitanias, com o objetivo de promover a colonização, a exploração dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico. Cada capitão donatário era responsável por atrair colonos, promover o povoamento da capitania, administrar a justiça local, construir fortificações e promover a exploração dos recursos naturais, como a cana-de-açúcar, o pau-brasil e outros produtos. 7 A origem da instituição policial brasileira remonta ao período colonial. Com a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil em 1500, houve a necessidade de estabelecer mecanismos de controle, segurança e administração da justiça nas terras recém-descobertas. Conforme documentação existente no Museu Nacional do Rio de Janeiro, data de 1530, quando da chegada de Martin Afonso de Souza enviado ao Brasil. Em 1696 com a descoberta do ouro na região central de Minas Gerais, Vila Nossa Senhora do Carmo que foi primeiro povoado de Minas, pertencente à capitania São Paulo e Minas do Ouro, houve a necessidade do Rei de Portugal enviar tropa de elite os Dragões com 60 homes, após a chegada do Conde Assumar. Dante do desempenho insatisfatório das Companhias de Dragões em Minas Gerais, o Governador Dom Antônio de Noronha tomou a decisão de extinguir essas companhias. Em seu lugar, foi criado o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, em 9 de junho de 1775. Essa nova unidade militar era composta exclusivamente por mineiros, que recebiam seus salários diretamente dos cofres da Capitania. O Regimento Regular de Cavalaria tinha como objetivo melhorar a eficiência e o desempenho das forças militares, desta forma, a partir da criação desse regimento, os soldados mineiros se tornaram responsáveis pela manutenção da ordem, segurança e policiamento em Minas Gerais, contribuindo para a proteção dos interesses da Coroa Portuguesa na região. Em 1808, com a chegada da Família Real ao país, foram criadas as primeiras instituições policiais, como a Guarda Real de Polícia nos moldes das existentes em Lisboa, que tinha a responsabilidade de garantir a segurança na 8 cidade do Rio de Janeiro. E a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil teria assumido o papel de ‘agente civilizador’. A Intendência Geral de Polícia foi criada em 10 de maio de 1808 por Dom João VI, então príncipe regente de Portugal e Brasil, durante o período em que a corte portuguesa estava estabelecida no Rio de Janeiro. A criação dessa instituição representou uma mudança significativa no sistema de segurança e policiamento do Brasil colonial. A Intendência Geral de Polícia tinha como objetivo principal centralizar e fortalecer os poderes policiais da Coroa portuguesa sobre o Brasil. Ela era responsável pela manutenção da ordem pública, pela prevenção e repressão de crimes, pela fiscalização das atividades comerciais e pela defesa dos interesses da Coroa. A instituição era chefiada por um Intendente-Geral de Polícia, que exercia poderes amplos e autônomos no âmbito da segurança pública. O Intendente-Geral tinha autoridade sobre as atividades policiais, incluindo a organização da Guarda Real de Polícia, a investigação de crimes, a repressão de contrabando e a manutenção da segurança da cidade do Rio de Janeiro. Já a Guarda Real de Polícia foi criada em 1809 e tinha como objetivo principal a manutenção da ordem pública, fiscalização das atividades comerciais e repressão ao contrabando na cidade do Rio de Janeiro. Era composta por soldados selecionados e treinados, conhecidos como "guardas reais", responsáveis pelo policiamento e segurança nas áreas urbanas. Enquanto a Guarda Real de Polícia atuava diretamente no policiamento e na segurança das áreas urbanas, o Intendente-Geral de Polícia 9 exercia um papel mais amplo de gestão e coordenação das atividades policiais, estabelecendo diretrizes e normas para o funcionamento da instituição. 1.3 Período Imperial No período imperial brasileiro, que ocorreu de 1822 a 1889, houve importantes transformações no sistema policial do país. Durante essa fase, as estruturas de segurança pública passaram por modificações significativas, refletindo as mudanças políticas e sociais da época. Inicialmente, após a independência do Brasil em 1822, o sistema policial continuou a ser influenciado pelo modelo português. O imperador Dom Pedro I manteve a Guarda Real de Polícia, criada durante o período colonial, para manter a ordem na cidade do Rio de Janeiro. Em 1831 em substituição à Guarda Real, foi criado a Guarda Nacional, foi uma força militar organizada no Brasil em agosto de 1831, durante o período regencial, e desmobilizada em setembro de 1922. Sua criação se deu por meio da Lei de 18 de agosto de 1831 que “cria as Guardas Nacionais e extingue os corpos de milícias, guardas municipais e ordenanças”. Art. 1° As Guardas Nacionais são criadas para defender a Constituição, a liberdade, Independência e Integridade do Império, para manter a obediência e a tranquilidade publica e auxiliar o Exército de Linha na defesa das fronteiras e costas. A Lei de 18 de agosto de 1831 disciplinava em seu artigo 3º que a Guarda Nacional teria base em todos os Municípios do Império, criando consequentemente uma forte base municipal e alto grau de politização. 10 No seu artigo 6º era previsto que a Guarda Nacional fosse subordinada aos juízes de paz, aos juízes criminais, aos Presidentes de Província e ao Ministro da Justiça, sendo somente essas autoridades que podiam requisitar seus serviços. O relatório apresentado pelo ministro da Justiça Diogo Antonio Feijó em 1832 demonstrava sua preocupação e indignação com a sobrecarga imposta aos membros da Guarda Nacional naquela época. O ministro expressava sua insatisfação com a falta de organização e eficiência da Guarda Nacional, bem como com a excessiva demanda de trabalho e responsabilidades atribuídas aos guardas nacionais. Naqueleperíodo, a Guarda Nacional era uma instituição paramilitar composta por cidadãos da elite local, selecionados como oficiais e suboficiais para a defesa da pátria e a manutenção da ordem interna. No entanto, a instituição sofria com problemas de efetivo insuficiente, falta de preparo adequado e problemas estruturais. No relatório, o ministro Feijó apontava a necessidade de revisão e reforma do sistema de Guarda Nacional, visando aliviar a carga de trabalho sobre os guardas nacionais e melhorar a organização da instituição. Ele argumentava que a sobrecarga excessiva prejudicava a eficácia do serviço policial e comprometia a segurança pública. Esse relatório de 1832 foi um marco importante para o processo de reformulação da Guarda Nacional, que posteriormente passou por mudanças e reestruturações no decorrer do período imperial brasileiro. 11 Em 1833, o governo imperial autorizou a criação Guardas Municipais Permanentes. Essas guardas eram vinculadas a cada distrito dos juízes de paz nos municípios. A criação das Guardas Municipais Permanentes tinha como objetivo reforçar a segurança e a ordem pública nas localidades, complementando as atribuições da Guarda Nacional. As Guardas Municipais Permanentes eram compostas por cidadãos locais, geralmente pagos pelos cofres públicos municipais, e tinham como função principal manter a ordem, prevenir delitos e garantir a segurança nos distritos sob sua responsabilidade. Essa medida fazia parte de um esforço do governo imperial para estabelecer um sistema mais estruturado de segurança pública no Brasil, descentralizando parte das responsabilidades da segurança para as esferas municipais. As Guardas Policiais Municipais atuavam de acordo com as diretrizes e normas estabelecidas pelas autoridades locais e pelo governo imperial. É importante ressaltar que as Guardas Municipais Permanentes tinham características e funcionamento específicos, que poderiam variar de acordo com cada região do Brasil e as particularidades locais da época. No final do período imperial, começaram a surgir críticas em relação à efetividade e à imparcialidade das forças policiais existentes. Muitas vezes, as instituições policiais eram vistas como instrumentos de repressão e controle social, em vez de promover a segurança e a justiça. 12 Após a Proclamação da República, em 1889, houve uma reorganização mais ampla do sistema policial brasileiro, com a criação de novas estruturas e a consolidação de forças policiais estaduais. Essa reorganização marcou uma nova fase na história da polícia brasileira. Em 1866, o Corpo de Guardas Municipais Permanentes ganhou a denominação Corpo Militar de Polícia da Corte e, em 1920, recebeu a designação de Polícia Militar. 1.4 Era Vargas (1930-45) O golpe de 1930 pôs fim ao arranjo político da primeira República, já corroída pelo Clientelismo e pelo Localismo. Getúlio Vargas chega ao poder com a intenção de inaugurar uma nova ordem política baseada num Estado forte o suficiente para conduzir a sociedade a novos rumos. O regime autoritário de Vargas consolidado em 1937 é marcado pela excessiva centralização no plano federativo e pela limitação dos canais de participação no plano partidário, segundo Costa (2004). As polícias sofreram várias transformações para se adequarem as novas configurações constitucionais. Logo, nos primeiros meses do governo Vagas, promoveu-se uma ampla reforma nos quadros da Polícia Civil do Distrito Federal e de alguns outros Estados. Esse foi o primeiro passo para o redimensionamento do aparato policial brasileiro. Em 1934, foi implementada uma ampla reforma na estrutura da Polícia – Decreto n° 24.531, de 2 de junho de 1934. Decreto nº 24.531, de 2 de Julho de 1934 - Publicação Original: 13 Art. 1º O serviço de polícia do Distrito Federal, subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, é imediatamente dirigido por um Chefe de Polícia. Art. 2º A policia é judiciária e administrativa ou preventiva, ambas exercidas pelas autoridades policiais nos limites de suas respectivas atribuições. Art. 3º A policia administrativa ou preventiva incumbe, em geral, a vigilância, proteger a sociedade, manter a ordem e tranquilidade públicas; assegurar os direitos individuais e auxiliar a execução dos atos e decisões da Justiça e da administração. Art. 4º A polícia judiciária compreende os atos necessários ao pleno exercício da ação repressiva dos juízes e tribunais. Além de redefinir funções e responsabilidades dos quadros, ampliou- se o poder do Chefe de Polícia e se expandiu a estrutura policial. A repressão política empreendida por Vargas apoiava-se no tripé: polícia política, legislação penal sobre crimes políticos e Tribunal de Segurança Nacional. O controle desse aparato repressivo estava diretamente subordinado ao Presidente da República. A exemplo da Era Vargas, o aparato policial foi utilizado para conter a oposição política. Para tal, usou e abusou da repressão, da tortura e das prisões. A violência policial foi o instrumento utilizado contra a dissidência política. Entretanto, diferentemente do que ocorreu na ditadura de Vargas, não foram apenas as Polícias que praticaram a repressão política, mas também as 14 Forças Armadas que, nesse período, detiveram o monopólio da coerção político-ideológica (COSTA, 2004). 1.5 Estado Democrático de Direito (a partir de 1985) A partir de 1985, com a redemocratização do Brasil, houve uma transformação significativa no papel da polícia no Estado Democrático de Direito. Esse período marcou o fim do regime militar e o retorno ao sistema democrático, caracterizado pela garantia dos direitos individuais, liberdades civis e pelo respeito ao Estado de Direito. No Estado Democrático de Direito, a polícia é encarregada de proteger e garantir a segurança dos cidadãos, mantendo a ordem pública e aplicando a lei de forma justa e imparcial. A atuação da polícia deve ser pautada pelo respeito aos direitos humanos, pela legalidade e pela proporcionalidade, evitando o abuso de poder e a violação dos direitos individuais. A Constituição Brasileira de 1988 estabelece princípios fundamentais para a atuação da polícia, tais como a cidadania, a dignidade da pessoa humana, a igualdade, a não discriminação, a legalidade, a proporcionalidade e a presunção de inocência. Além disso, a Carta Magna prevê mecanismos de controle e responsabilização e prestação de contas dos agentes públicos pelos seus atos e decisões. Sobre as atividades policiais, como o Ministério Público, o Poder Judiciário e os órgãos de controle interno e externo. No entanto, é importante reconhecer que, apesar dos avanços no Estado Democrático de Direito, ainda persistem desafios em relação à atuação da polícia. Há casos de abuso de poder, violência policial, corrupção e 15 impunidade, que representam graves violações aos direitos humanos e comprometem a confiança da sociedade nas instituições de segurança. Nesse sentido, é fundamental promover a capacitação e formação adequada dos agentes de segurança, investir em políticas de prevenção do crime, fortalecer os mecanismos de controle e responsabilização, promover o diálogo e a participação da sociedade civil na definição das políticas de segurança, e garantir a transparência e a prestação de contas das instituições policiais. Em 1987 é instaurada a Assembleia Nacional Constituinte, que culminou com a Constituição Federal do Brasil de 1988, a qual trouxe inovações importantes na seara da Segurança Pública se comparada ao padrão tradicional de Segurança Públicaincorporado à Segurança Nacional da época de exceção. A Constituição Federal apresenta um capítulo específico para tratar da segurança pública, entretanto, apesar da importância, ela o aborda de maneira genérica, sem definir os aplicabilidades mínimas, como faz em importantes setores de atuação pública, tais como saúde e educação. Em seu artigo 144 estabelece que a segurança pública, é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. 2. Discussão e análise crítica das concepções de políticas de segurança urbana Políticas de segurança urbana referem-se às estratégias, medidas e ações adotadas pelos governos, autoridades locais e comunidades para prevenir e combater a criminalidade, promovendo um ambiente seguro e 16 protegido nas áreas urbanas. Essas políticas visam proteger os cidadãos, garantir o respeito aos direitos humanos, promover a convivência pacífica e reduzir os índices de criminalidade. O conceito de políticas de segurança urbana evoluiu ao longo do tempo, passando de uma abordagem focada apenas na repressão e no controle do crime para uma perspectiva mais abrangente e integrada. Atualmente, as políticas de segurança urbana tendem a considerar não apenas a aplicação da lei, mas também fatores socioeconômicos, culturais e ambientais que influenciam a criminalidade. Uma abordagem eficaz de políticas de segurança urbana envolve uma combinação de medidas preventivas, repressivas e de reabilitação, além do envolvimento ativo da comunidade. Isso inclui o fortalecimento das forças policiais, o desenvolvimento de estratégias de prevenção do crime, a melhoria das condições sociais e econômicas das comunidades, o acesso à justiça, a promoção da participação cidadã e a criação de parcerias entre os setores público e privado. Além disso, as políticas de segurança urbana também podem abordar questões específicas, como o combate ao tráfico de drogas, o terrorismo, a violência de gênero, a criminalidade juvenil e a segurança no trânsito. É fundamental que as políticas de segurança urbana sejam desenvolvidas com base em evidências e dados sólidos, levando em consideração as necessidades e demandas da comunidade. A participação ativa e o diálogo entre autoridades governamentais, organizações da 17 sociedade civil e cidadãos são cruciais para o desenvolvimento e implementação bem-sucedidos dessas políticas. 3- Aprendizagem sobre formulação, implementação, avaliação e acompanhamento de políticas de segurança pública no âmbito da municipalidade e em parceria com outros órgãos de segurança e comunidade, garantindo a interatividade; A Constituição Federal, em seu art. 144, descreve: "A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”, em seu parágrafo § 8º autoriza os municípios a constituírem suas próprias Guardas Civis Municipais, destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Posteriormente, a lei nº 13.022, de 8 de agosto de 2014, também chamada de Estatuto geral das Guardas municipais , regulamentou esse ideal dos Constituintes e trouxe princípios mínimos de atuação. Art. 1º Esta Lei institui normas gerais para as guardas municipais, disciplinando o § 8º do art. 144 da Constituição Federal. Art. 2º Incumbe às guardas municipais, instituições de caráter civil, uniformizadas e armadas conforme previsto em lei, a função de proteção municipal preventiva, ressalvadas as competências da União, dos Estados e do Distrito Federal. Em 11 de junho de 2018 foi publicado a lei nº 13.675/18, que Disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS); institui o https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144%C2%A78 18 Sistema Único de Segurança Pública (Susp); altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, a Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de 24 de outubro de 2007; e revoga dispositivos da Lei nº 12.681, de 4 de julho de 2012. Ao criar o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), incluiu os municípios como integrantes estratégicos do Susp e as Guardas como integrantes operacionais do Susp desse sistema. Diante da importância estratégia e operacional, observa-se a necessidade de complementação da matéria contidos na Constituição e leis infraconstitucionais, seja para preencher os espaços que a lei não versou, seja para orientar uma instituição tão importante para a Sociedade Brasileira. 3.1 Diretrizes para as guardas civis municipais do Brasil 3.1.1 Diretrizes Gerais A Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) propõe orientações com vistas a estabelecer parâmetros e requisitos mínimos para padronização, criação e funcionamento eficiente das Guardas Civis Municipais no País, considerando as peculiaridades do microambiente onde estão inseridas. Em suma, as diretrizes aqui expressas indicam um caminho para a preparação das Guardas para integrar o SUSP, atendendo ao estabelecido na Lei Federal nº 13.675, de 11 de junho de 2018, permitindo que essas instituições possam contribuir de maneira efetiva nas políticas de segurança pública nacionais. Para a elaboração das diretrizes , foram consideradas todas as referências legislativas que definem atribuições e competências das Guardas 19 Municipais em vigor no ordenamento jurídico nacional no âmbito federal, estadual e municipal, sendo que os Secretários de Segurança dos Municípios e os Comandantes das Guardas, por meio direto ou de seus órgãos representativos, foram convidados a contribuir com este compilado. 3.1.2 Objetivos Específicos Estabelecer orientações de gestão de recursos humanos, a partir de exemplos bem-sucedidos, assim como de princípios básicos de liderança, manutenção de bens da instituição, relacionamento com a Sociedade, dentre outros. Orientar a compra de equipamentos, materiais, bens e edificações em consonância com as suas competências previstas em lei, valendo-se de ferramentas e sistemas estruturados para a especificação técnica dos produtos que serão utilizados no desempenho de suas tarefas cotidianas. Auxiliar na descrição e edição dos documentos necessários para aquisição de equipamentos, bens e serviços necessários ao cumprimento da missão institucional das Guardas Municipais, alinhando ao interesse público e à finalidade na destinação desses meios. 3.1.3 Justificativa As Guardas Municipais, inicialmente, foram criadas com o propósito de zelar pelos bens, serviços e instalações dos municípios, com foco voltado para a proteção patrimonial dos bens municipais. Com o passar do tempo, diante da grande demanda por segurança da sociedade, o poder público viu nessas instituições o potencial para estabelecer políticas de prevenção primária, fiscalização das posturas municipais, garantindo o uso livre e desembaraçado dos bens e serviços, contribuindo para a cultura de paz social e para a sensação de segurança dos indivíduos. 20 Nesse sentido, o Estatuto do Desarmamento (Lei Federal nº 10.826/2003) reforçou a importância das Guardas Municipais no dever estatal de concretizar e promover a segurança pública, inclusive condicionando a concessão para o porte de arma à existência de mecanismos de fiscalizaçãoe controle interno (Corregedorias e Ouvidorias) e à formação profissional em estabelecimento de ensino de atividade policial. A teor do Decreto nº 9.847/2019 (Regulamento do Estatuto do Desarmamento) foi, ainda, estabelecida a submissão dos integrantes das guardas municipais ao curso de formação que contemple o importantíssimo Estágio de Qualificação Profissional (EQP). Com esta visão foi editado o Estatuto Geral das Guardas Municipais, por meio da Lei Federal nº 13.022/2014, que previu atribuições e COMPETÊNCIAS AOS PROFISSIONAIS dessas instituições na colaboração direta das ações de segurança pública, tirando qualquer dúvida quanto a sua participação na política de segurança pública sob a responsabilidade dos municípios. Atualmente, as Guardas Municipais estão inseridas como um dos órgãos a participar com ações efetivas no SUSP conforme previsto na Lei Federal nº 13.675/2018. Assim, as Guardas evoluíram, já ultrapassando 1.100 instituições em todo o País, atuando em diversas frentes na área de segurança pública, algumas fazendo uso de equipamentos e tecnologia de ponta, outras atingindo o verdadeiro papel de Polícia Metropolitana, como a de São Paulo, sendo uma realidade na proteção das pessoas que residem, laboram ou circulam pelas cidades . 3.1.4 Etapas para criação de uma Guarda Civil Municipal A decisão de criação de uma nova entidade pública no nível municipal deve levar em consideração vários aspectos, que aqui estão 21 apresentados no Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica. É esse estudo que fundamentará as discussões em torno do tema, aperfeiçoará as decisões, esclarecerá os cidadãos e coletará as principais contribuições da sociedade local. A seguir, será apresenta a sequência das etapas de criação de uma Guarda Civil Municipal. 1.Estudo De Viabilidade Técnica E Econômica Esta etapa é a mais importante de todas, ainda que não haja previsão legal sobre sua necessidade. De certa forma, cumprir com esse estudo, atende à Lei de Responsabilidade Fiscal. É nele que são confrontadas as necessidades técnicas com as possibilidades financeiras do município: efetivo da Guarda, equipamentos, viaturas, rádios, a instalação que a abrigará, enfim, a sustentabilidade da instituição. É fundamental a participação dos munícipes e das autoridades, de tal sorte que a decisão adquira a maturidade exigida para o aval do Legislativo Municipal e decisão do Poder Executivo. Participam dessa etapa especialistas em segurança pública e Secretarias de interesse do tema, particularmente a de Administração e a Consultoria Jurídica do Município. Um bom estudo pode ser feito entre 20 (vinte) a 30 (trinta) dias corridos, com a equipe trabalhando em sistema de co-work. Um resumo desse Estudo, tipo um paper, é útil para o entendimento da proposta pelas pessoas que não estão diretamente afetas ao tema. a. Efetivo da Guarda Civil Municipal, considerando o da criação, calculado a partir dos postos a serem guarnecidos, o da evolução inicial, a ser alcançado com os próximos concursos e no médio prazo. É importante que a Guarda não adquira todos os recursos 22 humanos que necessita no mesmo concurso, a fim de evitar, no futuro, questões hierárquicas de soluções complexas. b. Custos de implantação e de manutenção da Guarda Civil Municipal, no curto e no médio prazo e longo prazo (fardamento, armamento letal e menos letal, EPI, capacitações, saúde, viaturas, motocicletas, embarcações, etc). Entenda-se curto prazo como 1 (um) período de governo de 4 (quatro) anos, médio, 2 (dois) e longo, 3 (três) ou mais. Para efeitos comparativos, são interessantes projeções do orçamento no mesmo período, assim como 39 demais atividades concorrentes no âmbito orçamentário, como investimentos em infraestrutura, saúde, dentre outros. c. Fontes de Recursos à identificação dos fundos disponíveis, emendas parlamentares, orçamento municipal, royalties, investimentos de fora para dentro do município devem ser identificados e demonstrados, a fim de sustentar os custos citados no parágrafo anterior. Exemplificando, a instalação de um grande empreendimento turístico numa cidade de porte médio requer maior investimento em segurança pública, a fim de garantir aos visitantes a tranquilidade esperada, do contrário, o investimento não entra, o empreendimento não sai e o município não gera emprego e renda. d. Integração da Guarda Civil Municipal com outros atores da Segurança Pública, como Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, etc; e. Tecnologia a ser implantada, como uso de aplicativos, videomonitoramento, radiocomunicação digital, frequências, etc. 23 f. Emprego em políticas de prevenção (Ronda Escolar, Patrulha Maria da Penha, Segurança Turística), Polícia Comunitária, etc; g. Resultados esperados considerando as informações contidas nestas orientações para implantação do Plano Municipal de Segurança Pública e Defesa Social – PLAMUSP- que segue este estudo são exemplificativas e não se esgotam, podendo ser acrescentadas informações e detalhes, de acordo com as peculiaridades de cada ente municipal. h. Linha do tempo ou agenda para descrever o que vai acontecer e quando vai acontecer. Essa ferramenta é importante para acompanhamento pelo público externo e controle do coordenador do projeto. Serve, ainda, de alinhamento ao processo orçamentário, logístico e de capacitação. i. Planilha de custos detalhada é item imprescindível em qualquer projeto, ainda mais neste de longo prazo e significativa importância para o Município. 2.Votação Na Câmara Municipal Por mais óbvia e formal que seja, essa etapa consiste na validação da proposta apresentada pelo Estudo supracitado. Nesse momento, é fundamental que as discussões sejam debatidas em audiência pública em, no mínimo, 2 (duas) sessões, com um intervalo razoável entre elas. É interessante que a votação do projeto, em sendo certa sua aprovação, revista-se de um grau de simbolismo, uma vez que a Guarda Civil Municipal, em que pese ser instituída por uma gestão, tende a ser permanente 24 e, inexoravelmente, pertence a todos os cidadãos do Município. A Guarda Civil Municipal é um órgão de estado e não de governo. Um tempo sugerido para a conclusão dessa etapa é de até 30 (trinta) dias, a depender do grau de aceitação da ideia pelo Poder Legislativo Municipal ou pela população. 3. Alteração Da Lei Orgânica A alteração da Lei Orgânica Municipal (LOM) é ato de ofício, resultante da aprovação da constituição da Guarda Municipal, devendo ser encaminhada, preferencialmente, na votação anteriormente referida, como se fosse um ‘pacote’ de criação. Nesse mesmo pacote podem ser encaminhados, ainda, os seguintes documentos legais, novos ou a serem alterados: Plano Municipal de Segurança Pública, Lei de Estrutura Administrativa da Prefeitura, caso não esteja incluída na LOM, Lei do Plano de Cargos e Carreiras da Prefeitura, Leis de Fixação dos Subsídios dos Agentes Políticos, Lei do Regime Jurídico dos Servidores, Lei do Regime Previdenciário dos Servidores. Alguns municípios adotam um regimento interno para conduta de seus Guardas, entretanto, é válido lembrar que é preciso estabelecer padrões de desempenho dos serviços da Guarda Municipal, objeto de trabalho da Corregedoria e da Ouvidoria. Por fim, deve-se lembrar de incluir essa nova fonte de despesa na elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), cujo prazo final de devolução ao Executivo pelo Legislativo, é 15 de dezembro do ano fiscal. O pacote de leis deverá entrar em vigor em até 45 (quarenta e cinco) dias após a conclusão da25 votação na Câmara, sendo ideal que isso ocorra antes do fim de julho, para permitir o trabalho dos técnicos em finanças do Município com vistas à confecção da LOA 4. Inclusão da Lei Orçamentária Anual Sugere-se que a LOA seja enviada pelo Executivo Municipal para a Câmara de Vereadores até o dia 15 de agosto do ano anterior - A-1. Daí até 15 de dezembro de A-1, ela é discutida e devolvida ao Prefeito, para a promulgação. Assim, é o ideal que o Estudo e a Votação do pacote que cria a Guarda Municipal ocorram no primeiro semestre do ano anterior de seu emprego, a fim de permitir aos técnicos da administração o planejamento fiscal adequado para o ano A, que deverá contemplar a GCM. A LOA demanda 4 (quatro) meses. Simultaneamente a sua elaboração, o processo de criação pode dar continuidade com a próxima etapa, que é o Edital. 5. Edital O Edital deve ser o mais detalhado possível, prevendo as situações previstas na legislação em vigor. É imprescindível que seja analisado pela assessoria jurídica do Município. Deve-se evitar todo modo situações que conflitem com leis já consolidadas, para evitar sua impugnação. Art. 1º Da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Nessa etapa, todas as fases são igualmente importantes, em particular a lisura na aplicação da prova, a investigação social e o desempenho 26 físico, uma vez que essas condicionantes afetam diretamente o desempenho do agente público. Pode-se aproveitar, com as devidas adaptações às peculiaridades locais, editais de outras cidades que tiveram sucesso em seus concursos, de preferência as maiores, onde as Guardas são mais antigas, afinal, o sucesso de outros municípios é um indicador de qualidade 6. curso O curso de formação é o processo mais complexo e é regulado por Matriz Curricular da SENASP. Há cidades que, pela distância que se encontram dos grandes centros, têm dificuldades em formar seus Guardas, o que exige um planejamento e uma coordenação muito maior. Nesse caso, a formação pode ser realizada por meio de consórcio de municípios ou por meio de escolas existentes em outras localidades, pelo que se devem considerar os custos de transporte, alimentação e ajuda de custo para os alunos, com o cuidado de repassar os recursos necessários para o Município formador. Os custos dessa formação devem estar previstos no Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica e deve ser realizada sem pressa de colocar os Guardas em operação. A carga horária do curso é de 476 (quatrocentos e setenta e seis horas) horas, com matérias optativas, podendo ser realizado em 15 (quinze) semanas ou um pouco mais. Mais importante que o tempo, é a qualidade da formação. 7. Estágio 27 Estágio pode ser considerado etapa do curso de formação, podendo durar o tempo previsto pelo edital. Esse período destina-se a identificar as aptidões do aluno para o desempenho da função. Antes da conclusão do estágio, o aluno poderá ser desligado por meio de processo administrativo simplificado. Após a posse, inicia-se o estágio, previsto na legislação pertinente do Município, estadual ou federal. Ao final desse estágio, o Guarda atinge a estabilidade, estando passível de exoneração, segundo o estatuto que foi encaminhado pelo “pacote” anteriormente citado, cuja sugestão segue adiante, nesta publicação. . Para finalizar, destaca-se que as etapas citadas aqui, exceto o Estudo, são formais e compõe o rito de criação de uma Guarda. Situações em que se suprime qualquer uma delas são indesejáveis, assim como não é o caso comprimi-las, em razão de expor o gestor público à insegurança jurídica. Destaca-se que a Segurança Pública deve ser inspirada no profissionalismo e na busca da perfeição, pelo que o atendimento ao rito de criação aqui apresentado é bastante recomendável. A seguir, é apresentado um fluxograma para esclarecer graficamente as orientações anteriores. 28 3.1.2 Plano municipal de segurança pública (PLAMUSP) O Plano que se segue é um modelo a partir do qual os municípios podem elaborar os seus próprios. Vale ressaltar que há outros modelos, porém este é o mais expedito e simples, de tal sorte que pode ser conduzido sem muitas dificuldades por qualquer equipe. Um plano deve conter princípios de flexibilidade, simplicidade, ordens diretas e claras, listar todos os elementos que participarão das atividades, definir o que vai acontecer, quando, onde, como e para que, além de estabelecer, ainda que resumidamente, o apoio logístico e administrativo. Em negrito, segue o esqueleto do planejamento, em itálico, as sugestões colhidas de casos similares e, sublinhado, os comentários da SENASP. 3.1.3 Diretrizes Básicas 1. Guarda Municipal criada por Lei Municipal É fundamental a ampla publicidade a respeito da criação da Guarda Municipal, As previsões legais mínimas são as seguintes: a) Diretrizes específicas, de acordo com as peculiaridades do município; b) atribuições, competências e organização em consonância com o Estatuto Geral das Guardas Municipais, Lei nº 13.022/14; e c) plano de carreira de seus integrantes como servidores estatutários, contratados mediante concurso público, com cargos, salários e progressão funcional definidos, além de escolaridade – ensino médio – e idade máxima para o ingresso 30 anos, desde que esteja na lei municipal de criação 29 da Guarda e que o critério esteja justificado pela natureza das atividades. É importante ressaltar que em instituições de segurança pública, militares ou não, por força da natureza humana, a questão da antiguidade é relevante. Por isso, sugere-se que esse princípio seja respeitado desde o momento da elaboração dos concursos, até a escolha de seus gestores, o que pode ser atingido por meio de concursos anuais e subsequentes para o preenchimento do total de vagas necessárias à demanda do Município, o que provoca antiguidade em turmas sucessivas. 2.Instituição uniformizada e armada As Guardas Civis Municipais, conforme o descrito no art.2º da Lei 13.022/14, para serem consideradas como tal, devem ser armadas e uniformizadas. Para tanto, o uso do uniforme é essencial para visibilidade pela população. A cor das Guardas Civis Municipais, uniforme, viaturas, coletes, braçais, etc, é a cor azul noturno. Quanto ao armamento, seja letal ou menos letal, deve ser considerado, a priori, como Equipamento de Proteção Individual (EPI), assim como o colete balístico, sendo que ambos se destinam a proteger o Guarda e permitir que ele faça o mesmo com os cidadãos de seu município. Sem armas ou sem uniformes, não são Guardas, são servidores não atrelados à segurança pública e não estarão habilitadas ao estabelecimento de convênios, cooperações, editais, dentre outros para fins de segurança pública. Para atender aos quesitos acima, os municípios brasileiros têm o prazo de 4 anos. 30 3.Corregedoria e Ouvidoria As Corregedorias são instituídas para proteger a sociedade do desvio de conduta do agente de segurança, portanto, exercem função corretiva. Na prática, as Corregedorias auxiliam no controle da disciplina interna das corporações e, não raras vezes, investigam e opinam sobre questões eminentemente técnica, pelo que é difícil para profissionais, que não seguiram a carreira adquirir conhecimento suficiente para garantir julgamentos imparciais. Diferentemente, as Ouvidorias podem ser integradas por outros profissionais, pois sua missão precípua é harmonizar a instituição com aquilo que a Sociedade espera dela. A existência e o funcionamento de ambas érequisito imprescindível para consideração de regularidade da Guarda Municipal. 4.Curso de formação com carga horária mínima definida As Guardas Civis Municipais deverão observar a Matriz Curricular estabelecida pela SENASP. O curso de formação deverá ser conduzido em estabelecimento destinado para este fim, em estabelecimento próprio ou organizado temporariamente para tal. Recomenda-se, quando não há uma escola vocacionada para este fim, designar um coordenador de curso, para que possa arregimentar os colaboradores e cumprir os objetivos da Matriz. A capacitação visa manter o Guarda Municipal sempre atualizado com leis e normas essenciais ao desempenho de suas tarefas, reavaliar sua 31 capacidade técnica operacional, além de habilitá-lo para novas técnicas, acompanhando a evolução da sociedade local e da inovação tecnológica. 5. Formação Complementar Dada à importância da capacitação, sugere-se o atendimento da formação complementar, considerando a capacidade técnica e administrativa dos municípios, com curso de formação com, no mínimo, 1200 horas/aula, sendo 600 horas/aula de curso presencial e 600 horas/aula de atividade prática e aplicação do conhecimento teórico. O objetivo deste preceito é permitir a formação do Tecnólogo em Segurança Pública, o que, no futuro, permitirá a disponibilização de profissionais para os quadros municipais que trabalham na área. A meta é factível de ser alcançada, porque há às 476 horas previstas em Matriz Curricular, complementadas por outras a cargo do próprio Município, até 600 h, e pela avaliação continuada, ou estágio posterior à formação, ao fim do qual receberá a certificação técnica equivalente. 6. Atendimento 153 e Videomonitoramento, 24/7 Compromisso fundamental para as guardas municipais, dado o relevante valor social desses serviços e equipamentos para resultados expressivos em segurança, devendo manter o atendimento à população de forma contínua, rápida e eficiente. Além do mais, o investimento tecnológico permite estruturar o policiamento orientado para o problema, inclusive com uso de aplicativos que permitem o acionamento, em tempo real, das equipes operacionais que atuam estrategicamente em perímetros prioritários. O prazo para o atendimento dessa demanda é de 4 (quatro) anos. 32 7. Documento Único de Identificação O documento funcional deve ser conferido ao Guarda de forma não onerosa, pautado num padrão nacional estabelecido pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública, sendo que todas as Guardas Municipais deverão cumprir com os requisitos estabelecidos para aderir ao documento único de identidade funcional. Para dirimir dúvidas, todos os profissionais investidos da função devem receber sua carteira, desde que concluído o curso de formação. O prazo para o atendimento dessa demanda é de 2 (dois) ano 8. Cadastrar junto à Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP. Guarda Municipal, no ato de sua criação e para o seu funcionamento, deve estar cadastrada no sistema SENASP, fornecendo informações mínimas que permita ao órgão federal identificar a sua existência, estabelecer relações legais previstas em lei, a exemplo da concessão de um convênio, estabelecimento de uma operação integrada ou endosso de emenda parlamentar, individual ou de bancada. 3.1.4. Plano de capacidades, aquisições e capacitações 1. Objetivos a) Definir as capacidades específicas da Guardas Municipais, de acordo com as peculiaridades locais. b) Descrever as atividades funcionais relacionadas às atividades que as Guardas Municipais podem ou devem desempenhar. 33 c. Esclarecer as competências legais. domIndicar os materiais necessários para o desempenho de determinada capacidade. e. Definir capacitações a serem alcançadas pelos agentes para o exercício de determinada capacidade, com padrões mínimos de atuação. As especificações técnicas dos materiais a serem inseridas em processos de aquisição devem estar alinhadas aos padrões de referência nacional, estabelecidos pela SENASP, considerando as peculiaridades locais, uma vez que a Guarda Municipal é empregada em prevenção primária, pelo que não precisa que seu material seja o mesmo das forças que atuam diretamente no combate ao crime, no âmbito da Segurança Pública. Vale destacar que, em certas circunstâncias, locais, momentos, a Guarda pode exigir requisitos materiais mais densos, o que deve ser justificado nos processos licitatórios. Da mesma forma, episodicamente, o atendimento a esses requisitos pode se dar por meio de operações integradas com outras forças, que é o ideal contido na Lei do SUS. 2. Negociação de crise Realizar interlocução com os múltiplos integrantes da sociedade, particularmente em situação de crise. Materiais: O de rotina, alto-falante, acesso ao SINESP, apitos, 34 armamento não letal, guarnecido por agentes com armamentos letais Capacitação: Negociação de Crise ou Mediação de Conflito 3. Emprego do armamento como perito responsável Utilizar, como perito responsável, o armamento sob sua responsabilidade, inclusive com a manutenção em 1º escalão, em conformidade com a normas técnicas do fabricante. Materiais: Armas letais e menos letais autorizadas por lei ou normas específicas. Capacitação: Curso de capacitação na Formação e anual (EQP) no armamento de dotação. Curso de armeiro para os armeiros e seus substitutos. Emprego por tarefas Objetivo: Atuar preservando sua integridade, com outras forças de segurança, em prol de objetivo comum para o cumprimento de determinada missão Material : O de rotina ou o necessário para a operação integrada Capacitação: Treinamento específico para a operação integrada. Estudo das normas de engajamento para operações integradas. Treinamento com as demais forças. Serviço de salva-vidas 35 Objetivo: Atender o salvamento em meio aquático, com manuseio de equipamentos e pequenas embarcações, quando a situação o exigir, principalmente em localidades turísticas afetas ao município não atendido pelos Bombeiros Militares Estaduais ou serviços privados com o mesmo fim Matérias: Colete salva vidas, barco, bote, boias salva-vidas, jet sky, equipamentos aquáticos (nadadeiras, óculos de mergulho, snorkel) flutuador salva-vidas, motor de popa, lanterna subaquática, cilindro de mergulho, materiais de primeiros socorros Capacitação: Curso de salva-vidas, por estabelecimento credenciado, com a capacitação no uso dos materiais e atividades de salvamento aquático. Policiamento de proximidade Objetivo: Praticar os fundamentos da Polícia Comunitária para a aplicação naquilo que lhe couber, de acordo com o Plano de Segurança Municipal, como a Ronda Escolar e a prevenção da violência contra grupos vulneráveis. Matérias: Viatura, EPI, uniforme, prancheta, apito, rádios comunicadores, arma de fogo, munições, algemas, colete balístico, tonfa e espargidor de pimenta. Capacitação: Curso de Operador de Polícia Comunitária Planejar a Segurança Pública Municipal Material de escritório e informática com internet. 36 Curso de licitações e contratos, convênios, cooperação, transferência de recursos. dos recursos públicos, a efetividade de seu emprego e a longevidade desses projetos. Atendimento em Urgência e Emergência Objetivo: Realizar atendimento de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) Material: Viatura de 4 rodas para resgate, EPI (luvas, máscaras), uniforme, prancha para transporte de feridos, rádios comunicadores,materiais de primeiros socorros e suporte à vida Capacitação: Curso de APH básico. Fiscalização de trânsito Objetivo: Atuar nas áreas com maior fluxo de veículos, próximos às escolas, objetivando a segurança dos pedestres e inibição da prática de infrações de trânsito. Materiais: Viaturas, cones, capacetes, fitas de isolamento, coletes identificadores, material de primeiros socorros, rádios comunicadores, giroflex ou sinalizadores. Capacitação: Treinamento das normas do POP e conhecimento das normas de operação integrada, se for o caso. Operações Aéreas 37 Objetivo: Apoiar ações de prevenção com aeronave de asa rotativa, preparada para intervir, com rapidez, em ocorrências complexas, busca e salvamento ou em buscas a infratores. Materiais: Helicóptero, EPI, uniforme, arma de fogo, munições, algemas, colete balístico, binóculo, capacete ou fone de ouvidos, mosquetão, cinto, cabos de segurança, cinto para tripulante, corda de rapel, luvas, macacão de voo. Capacitação: Treinamento para tripulante operacional e piloto. Programa de Combate às Drogas e à Violência nas Escolas Objetivo: Atuar de forma conjunta com pais, professores e lideranças nos bairros no combate às drogas e à violência nas escolas Materiais: EPI, rádios comunicadores, tonfa e espargidor de pimenta Capacitação: Cursos específicos para prevenção do uso de drogas, credenciados por instituições governamentais com reconhecida competência Patrulhamento com Bicicleta Objetivo: Fiscalizar áreas de difícil acesso veicular, aumentando a proximidade com as pessoas e o contato com transeuntes. Materiais: Bicicletas, uniforme adequado, rádios comunicadores tipo lapela , arma de fogo, munições, algemas, colete balístico, tonfa, capacete, luva e espargidor de pimenta. 38 Capacitação: Curso de patrulhamento com bicicletas Operações de Busca e Salvamento em Matas Objetivo: Realizar operações de busca e salvamento de pessoas homiziadas ou perdidas em matas. Material: Uniforme adequado para a atividade em mata, rádios comunicadores, arma de fogo, munições, algemas, colete balístico, facão, material de primeiros socorros, maca dobrável, ilhós, mosquetão, cordas, arma com maior poder de letalidade, bússola e espargidor de pimenta. Capacitação: Estágio básico de sobrevivência na selva, obtenção de água e fogo e pernoite isolado. Controle de Distúrbios Civil Objetivo: Restabelecer a ordem em situação de distúrbio civil, nos casos de grave perturbação súbita da ordem, bem como realizar atividades em eventos esportivos, religiosos e cultural Materiais: Arma de condutividade elétrica, rádios comunicadores, arma de fogo, munições, algemas, colete balístico, tonfa, escudo balístico, capacete com viseira, munição química, armamento específico para atividade de choque, armadura tipo "Robocop" e espargidor de pimenta. Estágio de Controle de Distúrbios Civis junto a instituições habilitadas para tal. 39 Defesa Civil Objetivo: Agir preventivamente, como elemento de socorro, assistência e reconstrução, para evitar ou minimizar perdas humanas e materiais por ocasião de desastres naturais ou incidentes tecnológicos. Patrulha com Cães Objetivo: Atuar isoladamente ou integrado com outras forças para a prevenção de crimes, busca e salvamento, detecção de drogas ilegais, armas e explosivos. Patrulha Montada Objetivo:Permitir o patrulhamento em áreas de difícil acesso como matas, terrenos com lamas e becos. Preservação do Local de Provas Objetivo: Garantir, ao realizar a prisão em flagrante delito, a preservação do ambiente de provas, para que seja periciado pelo órgão competente. Materiais: Equipamentos para isolamento do local, contenção dos criminosos e dos curiosos (fita de isolamento, cones, sinalizadores), rádio comunicador, viatura, algemas. Capacitação: Curso básico de perícia para compreensão da importância da preservação do ambiente de provas. 40 3.15. Procedimentos Operacionais Padrão O Procedimento Operacional Padrão (POP) é um conjunto de informações e ações documentadas com o objetivo de padronizar e aperfeiçoar atividades, mormente as operacionais, visando preservar a integridade física do Guarda, da imagem da instituição perante a sociedade, proteger as pessoas e os bens materiais. O POP deve estar pautado na legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, respeitando as liberdades individuais e visando sempre a preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas Dentre as peculiaridades a serem respeitadas, uma de destaque é quanto ao sexo da pessoa envolvida, tanto a vítima como o autor do fato criminoso. Exemplificando: a abordagem a uma mulher deverá ser feita, preferencialmente, por outra mulher, desde que não importem em retardamento da ocorrência ou prejuízo da diligência, efeitos bem comprovados. Ao estabelecer o POP, devem-se observar as diretrizes mínimas para garantir a eficiência da sua aplicação, confiança nos resultados, segurança jurídica para o agente e, principalmente, a competência funcional para a execução do procedimento. É fundamental que o estabelecimento de um POP seja simples. Os elementos mínimos para a construção de um POP são os seguintes: 1. Objetivo; 2. Atividades críticas; 3. Sequência de ações; 4. Resultados esperados; 5. Erros comuns; 6. Erros graves; e 7. Observações para esclarecimentos complementares ou agradecimentos, se o Comandante da Guarda entender como necessário. 41 São apresentados, aqui, alguns POP consagrados pelo uso em algumas Guardas do País, simplificados para permitir ao usuário a adaptação à realidade local. 1. POP: Proteção Escolar; 2. POP: Combate ao Comércio Ambulante Irregular; 3. POP: Combate ao Comércio Ambulante Irregular ; 4. POP: Emprego de Cães; 5. POP: Fiscalização de trânsito; 6. POP: Guarda montada; 7. POP: Violência Doméstica; 8. POP: Proteção ao Patrimônio Público; 9. POP: Videomonitoramento. 4. O papel do(a) policial militar O artigo 144 da Constituição Federal, que prevê os órgãos da segurança pública, em seu inciso V descreve as Polícias Militares § 5° Às polícias militares cabem à polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 42 A ostensividade se dá pela caracterização da policia militar , seja pelo uniforme ou pela caracterização de viaturas, e tem por objetivo principal a identificação de maneira imediata por parte da população, seja para o atendimento de ocorrências ou para inibição de práticas criminosas. O legislador definiu estas forças ostensivas como militares, o que de nada impede que forças civis utilizem da mesma estratégia, ampliando a visibilidade e a sensação de segurança na população. Uma observação importante refere-se às prerrogativas destes órgãos públicos. Qual seria o significado e a abrangência do termo "preservação de ordem pública" Ordem pública é um termo utilizado para descrever o conjunto de normas, regras e valores que sustentam a convivência pacífica e harmoniosa em uma sociedade. Refere-se à manutenção da segurança, tranquilidade e bem-estar da população, garantindoa proteção dos direitos e o cumprimento das leis. cabendo a policia militar atuação em todos os ramos da atividade pública e nas relações sociais, desde que a ordem seja ameaçada ou rompida. Polícias militares, devido ao seu efetivo geralmente maior em comparação a outros órgãos de segurança pública, bem como às suas funções legais, tendem a apresentar maior ostensividade. Essa ostensividade se refere à visibilidade e presença marcante dessas forças policiais no cotidiano das comunidades. 5. O papel do(a) policial civil As polícias civis são dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbin-do-lhes, ressalvada a competência da União (polícia federal), as 43 funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. As polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: IV - polícias civis; § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares De acordo com a Constituição federal de 1988, as polícias civis estaduais subordinam-se aos Governadores dos Estados (art. 144, § 6.). § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Outra modalidade de Polícia Estadual, a Polícia Civil realiza a atividade investigativa, com exceção legal dos crimes militares, apresenta atribuição residual em relação à Polícia Federal, entretanto, o número de 44 investigações supera o da Polícia Judiciária da União. De maneira literal, a Polícia Judiciária tem como função precípua o auxílio ao poder judiciário, buscando provas de autoria e materialidade dos crimes. Os delegados de carreira, obrigatoriamente bacharéis em Direito, são os dirigentes da instituição, sendo responsáveis pela capitulação, ou seja, a correlação do fato concreto ao tipo penal. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. Vale destacar que, segundo o STF (ADI 2.575 e ADI I 6.621), os Estados podem optar por garantir a autonomia formal aos institutos de criminalística ou podem integrá-los aos demais órgãos de segurança pública. Assim, a existência, nos quadros da Administração Pública Estadual, de órgão administrativo de perícias não gera obrigação de subordiná-lo à polícia civil. No entanto, deve-se afastar qualquer interpretação que lhe outorgue caráter de órgão de segurança pública, pois a Constituição Estadual não pode criar uma Polícia Científica como órgão integrante da segurança pública. 6. O papel do(a) guarda municipal Os Municípios poderão constituir Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. O § 8º do art. 144 da Constituição Federal de 1988 é uma norma de eficácia limitada, cabendo aos Municípios organizar e instituir, através de lei a Guarda Municipal. 45 A lei nº 13.022, de 8 de agosto de 2014, criou o Estatuto Geral das Guardas Municipais que institui normas gerais para as guardas municipais, disciplinando o § 8º do art. 144 da Constituição Federal., afirmando tratar-se de instituições de caráter civil , uniformizadas e armadas conforme previsto em lei, que tem função de proteção municipal preventiva, estando subordinada aos respectivos chefe do poder executivo municipal. Quanto à nomenclatura ou à designação pela qual são reconhecidas, a Constituição Federal apresentou a designação guardas municipais, a Lei Federal nos apresentam as seguintes designações: Guarda civil; Guarda civil municipal; Guarda metropolitana; Guarda civil metropolitana conforme o parágrafo único do art. 22 do nº 13.022, de 8 de agosto de 2014 assim dispõe: Art. 22 (…) Parágrafo único. É assegurada a utilização de outras denominações consagradas pelo uso, como guarda civil, guarda civil municipal, guarda metropolitana e guarda civil metropolitana. Tarefa mais intrincada é definir juridicamente o papel das Guardas Municipais. Dentro dessa nova perspectiva de atuação na área de segurança pública, em razão de necessidade de união de esforços para o combate à criminalidade organizada e violenta, não se justificando, a atuação separada de cada integrante do Sistema Único de Segurança Pública. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 846.854/SP, reconheceu que as Guardas Municipais executam atividade de segurança pública (art. 144, § 8º, da CF), essencial ao atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade (art. 9º, § 1º, da CF). Neste sentido, 46 (...) o Plenário desta SUPREMA CORTE, no julgamento do RE 846.854/SP, reconheceu que as Guardas Municipais executam atividade de segurança pública (art. 144, § 8º, da CF), essencial ao atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade (art. 9º, § 1º, da CF). O reconhecimento dessa posição institucional das Guardas Municipais possibilitou ao Parlamento, com base no § 7º do artigo 144 da Constituição Federal, editar a Lei nº 13.675, de 11/6/2018, na qual as Guardas Municipais são colocadas como integrantes operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (art. 9º, § 1º, inciso VII). [ADC 38, ADI 5.538 e ADI 5.948, rel. min. Cármen Lúcia, j. 1º-3-2021, P, DJE de 18-5-2021.] (...) é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas. [RE 658.570, red. do ac. min. Roberto Barroso, j. 6-8-2015, P, DJE de 30-9-2015, Tema 472.] E a Lei que institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e Disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS); altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, a Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de 24 de outubro de 2007; e revoga dispositivos da Lei nº 12.681, de 4 de julho de 2012, nos fornece informações mais precisas ao afirmar que as guardas municipais são órgãos integrantes operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (art. 9º, § 1º, inciso VII). § 2º São integrantes operacionais do Susp: VII - guardas municipais; http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755878834 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755878926 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755878930 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=9486497 47 Portanto, as guardas municipais são órgãos de segurança pública, com atribuições restritas, que colaboram com os órgãos policiais. Ademais, por exercerem munus público é investidas de poder de polícia na medida em que, de sua atuação, pode ocorrer limitação de direito, interesse ou liberdade, inclusive com o uso progressivo da força (art.3°, V, Lei 13.022/2014). De acordo com o § 8º do art. 144 da ConstituiçãoFederal, as guardas municipais se destinam à proteção: 1. dos bens dos municípios, 2. dos serviços dos municípios; e 3. das instalações dos municípios. 4. Atribuições Legais. O entendimento do STF é no sentido de que o § 8º do art. 144 da Constituição Federal não traz um rol taxativo de atribuições das guardas municipais. Sendo assim, a Lei 13.022/2014 estabelece em seus arts. 4º e 5º, além das atribuições constitucionais, um vasto rol de atribuições. É competência geral das guardas municipais a proteção de bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações do Município. Os bens abrangem os de uso comum, os de uso especial e os dominiais. São competências específicas das guardas municipais, respeitadas as competências dos órgãos federais e estaduais: I - zelar pelos bens, equipamentos e prédios públicos do Município; 48 II - prevenir e inibir, pela presença e vigilância, bem como coibir, infrações penais ou administrativas e atos inflacionais que atentem contra os bens, serviços e instalações municipais; III - atuar, preventiva e permanentemente, no território do Município, para a proteção sistêmica da população que utiliza os bens, serviços e instalações municipais; IV - colaborar, de forma integrada com os órgãos de segurança pública, em ações conjuntas que contribuam com a paz social; V - colaborar com a pacificação de conflitos que seus integrantes presenciarem, atentando para o respeito aos direitos fundamentais das pessoas; VI - exercer as competências de trânsito que lhes forem conferidas, nas vias e logradouros municipais, nos termos da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), ou de forma concorrente, mediante convênio celebrado com órgão de trânsito estadual ou municipal; VII - proteger o patrimônio ecológico, histórico, cultural, arquitetônico e ambiental do Município, inclusive adotando medidas educativas e preventivas; VIII - cooperar com os demais órgãos de defesa civil em suas atividades; IX - interagir com a sociedade civil para discussão de soluções de problemas e projetos locais voltados à melhoria das condições de segurança das comunidades; https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9503.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9503.htm 49 X - estabelecer parcerias com os órgãos estaduais e da União, ou de Municípios vizinhos, por meio da celebração de convênios ou consórcios, com vistas ao desenvolvimento de ações preventivas integradas; XI - articular-se com os órgãos municipais de políticas sociais, visando à adoção de ações interdisciplinares de segurança no Município; XII - integrar-se com os demais órgãos de poder de polícia administrativa, visando a contribuir para a normatização e a fiscalização das posturas e ordenamento urbano municipal; XIII - garantir o atendimento de ocorrências emergenciais, ou prestá- lo direta e imediatamente quando deparar-se com elas; XIV - encaminhar ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da infração, preservando o local do crime, quando possível e sempre que necessário; XV - contribuir no estudo de impacto na segurança local, conforme plano diretor municipal, por ocasião da construção de empreendimentos de grande porte; XVI - desenvolver ações de prevenção primária à violência, isoladamente ou em conjunto com os demais órgãos da própria municipalidade, de outros Municípios ou das esferas estadual e federal; XVII - auxiliar na segurança de grandes eventos e na proteção de autoridades e dignitários; e 50 XVIII - atuar mediante ações preventivas na segurança escolar, zelando pelo entorno e participando de ações educativas com o corpo discente e docente das unidades de ensino municipal, de forma a colaborar com a implantação da cultura de paz na comunidade local. Parágrafo único. No exercício de suas competências, a guarda municipal poderá colaborar ou atuar conjuntamente com órgãos de segurança pública da União, dos Estados e do Distrito Federal ou de congêneres de Municípios vizinhos e, nas hipóteses previstas nos incisos XIII e XIV deste artigo, diante do comparecimento de órgão descrito nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal , deverá a guarda municipal prestar todo o apoio à continuidade do atendimento. Questões polêmicas e a jurisprudência: (1) STE, ARE 1.215.727: embora exerçam atividade de segurança pública e, por conseguinte, atividade de risco, os integrantes da guarda municipal NÃO têm direito aposentadoria especial. (2) STE, RE658.570: é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas, vez que a fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas legalmente previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui mero exercício de poder de polícia administrativa, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais. (3) STE, ADI 5.538: Todos os integrantes das guardas municipais possuem direito a porte de arma de fogo, em serviço ou fora dele, independentemente do número de habitantes do Município. E inconstitucional o https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 51 art. 6°, III e IV, da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) que para integrantes das guardas municipais: i) de municípios com menos de 50 mil habitantes, proibia o porte de arma de fogo durante o serviço e fora dele; ii) de municípios com mais de 50 mil e menos de 500 mil habitantes, permitia o porte de arma de fogo apenas durante o serviço e proibia fora dele; ii) de capitais dos Estados e de municípios com mais de 500 mil habitantes, permitia o porte de arma de fogo durante o serviço e fora dele. 7. O papel do(a) bombeiro(a) Aos corpos de bombeiros militares, também considerados forças auxiliares e reserva do Exército, além das atribuições definidas em lei por exemplo, prevenção e extinção de incêndios, proteção, busca e salvamento de vidas humanas, prestação de socorro em casos de afogamento, inundações, desabamentos, acidentes em geral, catástrofes e calamidades públicas etc.), incumbe a execução de atividades de defesa civil. No âmbito do estado de Minas Gerais a lei 22.839/18, dispõe sobre a prática de atividades da área de competência do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais por voluntários, profissionais e instituições civis e dá outras providências. Compreendem-se como atividades da área de competência do CBMMG, para fins desta lei: I – prevenção e combate a incêndio e pânico; II – busca e salvamento; 52 III – atendimento pré-hospitalar, ressalvadas as ações desenvolvidas pelos órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde, estabelecimentos hospitalares e sistema de saúde suplementar. Importante observar que conforme a Constituição do Estado de Minas Gerais o Corpo de Bombeiros Militar, a coordenação e a execução de ações de defesa civil, a prevenção e combate a incêndio, perícias de incêndio, busca e salvamento e estabelecimento de normas relativas à segurança das pessoas e de seus bens contra incêndio ou qualquer tipo de catástrofe. Art. 142 – A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças públicas estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na hierarquia e na disciplina militares e comandados, preferencialmente, por oficial da ativa do último posto, competindo: II – ao Corpo de Bombeiros Militar, a coordenação e a execução de
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