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ALTERAÇÕES HORMONAIS DURANTE O CICLO MENSTRUAL E A SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL Sarah Rodrigues Ferreira1 Ludmila Amitrano Mannarino2 Alexander Pedroza de Almeida3 Resumo A causa básica da síndrome pré-menstrual, mais conhecida como TPM ainda é desconhecida, contudo, é sugerido que, os hormônios envolvidos na regulação do ciclo menstrual induzem sintomas presentes na síndrome. Ainda, é estudado se o hormônio relacionado ao humor, a serotonina, permanece em baixa transmissão durante esta fase. Neste trabalho procurou-se relatar principais dados relacionados às causas que geram alterações no humor de mulheres durante a síndrome pré- menstrual. Os principais sintomas dos quais as mulheres se queixam durante a tensão pré-menstrual são apresentados no decorrer deste trabalho. Contando que a TPM não se trata de uma doença, (é uma síndrome) não há tratamento específico para alívio dos sintomas. A literatura sobre tensão pré-menstrual é vasta, porém, ainda são necessários mais estudos para desvendar as causas da TPM. Palavras-chave: Síndrome Pré Menstrual. Ciclo Menstrual. Hormônios. Introdução A TPM (tensão pré-menstrual), também conhecida como síndrome pré-menstrual, representa-se por um período em que surge uma série de sintomas emocionais, comportamentais e físicos, sendo que nem todas as mulheres questionam de todos estes problemas ao mesmo tempo. (6) Um terço das mulheres sofre com sintomas da TPM (4), estes sintomas costumam surgir antes do período menstrual e são recorrentes. Na maioria das mulheres a TPM inicia-se na semana anterior ao começo da menstruação e aliviam na/ou após a menstruação (6). As mulheres afetadas pela TPM são aquelas em idade fértil, sendo mais comum dos 20 anos até a metade dos 40 anos (4). Embora, todo o processo da síndrome pré-menstrual seja desconhecido, alguns trabalhos sugerem que fatores endócrinos envolvendo uma gama de hormônios e fatores psicológicos podem estar envolvidos (7). Como o humor é muito afetado neste período, é de grande interesse, para um possível entendimento desta síndrome, estudos que envolvam hormônios ovarianos que estejam relacionados com o humor e distúrbios ligados ao sistema nervoso central, pois alguns destes modulam potentemente sistemas de neurotransmissores no 1 Contato: sarahrodriguesrf@gmail.com 2 Professora Orientadora. 3 Professor Co-orientador. cérebro. Os hormônios ovarianos têm sido discutidos como fatores etiológicos na síndrome pré-menstrual (PMS) (5). Vale ressaltar que a literatura é vasta neste assunto, porém ainda não se chegou a uma conclusão exata no que se refere às causas da síndrome. Devido a uma das hipóteses sobre a etiologia desta síndrome estar relacionada aos hormônios, principalmente estradiol e progesterona (hormônios sexuais femininos) sobre a serotonina (neurotransmissor) (6), neste trabalho será apresentado, além do ciclo menstrual e sintomas da síndrome pré- menstrual, os hormônios envolvidos e suas funções no corpo da mulher. 1 Ciclo Menstrual e Seus Hormônios Para entender algumas das hipóteses que existem na literatura acerca das possíveis causas da TPM, é necessário conhecer os hormônios que atuam na regulação do ciclo menstrual e o ciclo por si só (1). O ciclo reprodutivo feminino compreende os ciclos menstrual, ovariano e hormonal, além de mudanças cíclicas nos órgãos genitais femininos. As alterações no endométrio fazem parte do ciclo menstrual, todo mês este é preparado para receber um óvulo fertilizado. Não ocorrendo fertilização, o estrato funcional do endométrio se desprende. Já o ciclo ovariano está relacionado com uma série de eventos associados ao desenvolvimento de um ovócito (1). Os ovários produzem progesterona e estrógenos, hormônios pertencentes ao sistema genital feminino. Os folículos ovarianos constituem-se de ovócitos em diferentes estágios de desenvolvimento e células que circundam estes ovócitos. As células que circundam os ovócitos em desenvolvimento os nutrem e então secretam estrógenos na proporção que o folículo cresce. O corpo lúteo possui restos de um folículo maduro ovulado e produz os hormônios sexuais femininos até que se degenerar (1). O GnRH (hormônio de liberação da gonadotrofina) controla o ciclo menstrual e o ciclo ovariano, estimulando a liberação do FSH (hormônio folículo estimulante) e do LH (hormônios luteinizante). As funções destes hormônios estão descritas a seguir: FSH – induz a secreção inicial de estrógenos através dos folículos em crescimento. LH – induz a maturação dos folículos ovarianos e a secreção de estrógenos por meio destes, levando a ovulação. Ainda, estimula a formação do corpo lúteo e induz a produção de estrógenos e progesterona pelo corpo lúteo (1). A função dos estrógenos secretados pelas células foliculares é promover o desenvolvimento e a manutenção das estruturas genitais femininas, incluindo o revestimento endometrial uterino. A progesterona secretada pelo corpo lúteo funciona junto com os estrógenos para preparar o endométrio para a implantação de um óvulo fertilizado. Níveis moderados de estrógeno no sangue atuam inibindo a liberação de GnRH, que inibe a secreção de FSH e níveis altos de progesterona inibem o GnRH e o LH (1). O ciclo menstrual consiste de fase menstrual, pré ovulatória e pós ovulatória; dura aproximadamente 28 dias, contudo este tempo pode variar. Na fase menstrual, aproximadamente 20 folículos iniciam seu crescimento nos ovários. No útero, o fluxo menstrual é de 50 a 150 mL de sangue mais as células do tecido endometrial. A liberação ocorre devido aos níveis declinantes de estrógeno e progesterona, que causam uma constrição nas artérias espirais do útero. Desta forma, as células que seriam irrigadas por estas artérias ficam deficientes de sangue e morrem (1). A fase pré ovulatória é compreendida entre a menstruação e a ovulação, nesta fase, os folículos (agora secundários) que iniciaram seu crescimento começam a secretar estrógenos e inibina. Aproximadamente no 6º dia, um folículo em um dos ovários terá se desenvolvido mais que os outros e é então denominado folículo dominante e, posteriormente, o folículo maduro (ou folículo de Graaf). O folículo maduro continua aumentando seu tamanho até que esteja pronto para a ovulação. Os folículos menos desenvolvidos param de crescer e morrem devido a diminuição de secreção de FSH, induzido pela secreção de estrógenos e inibina pelo folículo dominante. Adicionalmente, o folículo dominante causa uma protuberância globular na superfície do ovário. Durante o processo de maturação final, o folículo dominante continua a aumentar sua produção de estrógenos sob influência de um nível aumentado de LH. Os estrógenos liberados no sangue pelos folículos ovarianos estimulam o endométrio no seu crescimento (1). A ovulação consiste na ruptura do folículo de Graaf e a expulsão do ovócito secundário dentro da cavidade peritroneal. Desta forma, altos níveis de estrógenos nos últimas dias da fase pré ovulatória resulta na retroalimentação positiva no LH e GnRH, causando a ovulação – os estrógenos estando presentes em altas concentrações estimulam o hipotálamo a liberar mais GnRH e a adeno hipófise produzir mais LH. O GnRH induz a liberação de FSH e mais LH pela adeno-hipófise. O pico de LH estimula a ruptura do folículo maduro e a liberação do ovócito secundário. O ovócito ovulado e suas células da zona pelúcida e coroa radiata geralmente são sugadas para dentro das trompas uterinas, porém se for perdido no interior da cavidade peritoneal, ele de desfaz (1). Depois da ovulação, o folículo maduro colapsa e o sangue do seu interior forma um coágulo que é reabsorvido pelas células foliculares restantes, aumentando de tamanho e formando o corpo lúteo sob a influência do LH (1). A fase pós ovulatória está entre a ovulação e a próximamenstruação. Após a ovulação, a secreção de LH induz os remanescentes do folículo maduro a formarem o corpo lúteo. Durante suas duas semanas de vida, o corpo lúteo libera quantidades crescentes de progesterona e certa quantidade de estrógenos, relaxina e inibina. Caso o ovócito secundário seja fertilizado e inicie sua divisão, o corpo lúteo persiste além de suas duas semanas de vida. Ele é mantido pelo hCG (gonadotrofina coriônica humana - hormônio produzido pelo cório do embrião), que é um hormônio indicador de gravidez (1). O hCG não auxiliando o corpo lúteo, depois de duas semanas diminuem as secreções deste e o mesmo degenera-se. A ausência de progesterona e estrógenos devido à degeneração do corpo lúteo provoca a menstruação. Ainda, os baixos níveis de progesterona, estrógenos e inibina provocam a liberação de GnRH, FSH e LH, estimulando o crescimento folicular e o início de um novo ciclo menstrual. A demonstração das variações hormonais durante o ciclo menstrual está representada na figura 1. (1) Figura 1 – Níveis dos hormônios FSH, LH, estrógeno e progesterona durante um ciclo menstrual de 28 dias. Fonte: Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia, 2012. 2 Síndrome Pré-menstrual Existem muitos sintomas identificados ligados a TPM, sendo os principais: irritabilidade e oscilação do humor; as mulheres sentem-se e emocionais e com humor depressivo; ansiedade; cansaço; baixa concentração; inquietação e fadiga. Os principais sintomas de caráter físicos da TPM são: ganho de peso; inchaço abdominal; seios sensíveis e inchados; tornozelos inchados; dores de cabeça; dores nas costas; espinhas no rosto e tontura. As mulheres também relatam problemas comportamentais como ansiedade por comida, principalmente doces e em algumas mulheres, perda de interesse sexual. Vale salientar que os sintomas podem ou não variar de um mês para o outro e também variam de mulher para mulher (4) Em um estudo que demonstrou variação no humor e estado físico de mulheres na tensão pré-menstrual, foi visto que em grupo de mulheres com TPM clínica, 100% delas relataram que a TPM afetou negativamente sua vida familiar, 55% das mulheres relataram que a TPM afetou sua capacidade de trabalhar e 75% relataram que a TPM afetou sua vida social. Neste mesmo estudo cada mulher foi solicitada a registrar seu estado e humor nas últimas 24 horas em cada fase, nas quais: EF – fase folicular precoce; MF – folicular média; LF – folicular tardia; EF – lútea precoce; ML – lútea média; LL – lútea tardia; os resultados estão mostrados na figura 2. (2) Figura 2: Escores médios de seis variáveis referentes a humor e estado de 55 mulheres, para cada fase (EF – fase folicular precoce; MF – folicular média; LF – folicular tardia; EF – lútea precoce; ML – lútea média; LL – lútea tardia). Fonte: Mood, Sexuality, Hormones and the Menstrual Cycle. I. Changes in Mood and Physical State: Description of Subjects and Method, 1983. QUEIXAS FÍSICAS DESEJOS SEXUAIS ALEGRE ENERGÉTICA/ATIVA DEPRESSIVA IRRITADA Este trabalho mostra que o bem estar de mulheres com TPM foi afetado negativamente logo após a ovulação, aumentando pouco a pouco com o desenvolvimento do corpo lúteo e atinge um pico durante os últimos dias da fase lútea. Estas alterações negativas diminuem rapidamente quando a menstruação se inicia, desaparecendo dentro de poucos dias após os esteroides ovarianos alcançarem os níveis basais. Já as sensações positivas alcançam um máximo quando o estradiol pré ovulatório chega ao pico. No dia em que há pico de LH e perto do primeiro dia de menstruação são centrados o humor médio e os sintomas físicos. Irritabilidade, depressão, inchaço corporal e seios inchados se iniciaram e aumentaram dentro de dois ou três dias após o LH surgir. (3) Corroborando com estes dados, sintomas de irritabilidade e depressão aumentaram gradativamente durante a fase lútea em paralelo com o aumento dos níveis séricos de progesterona, começando logo após a ovulação. Mulheres que costumam vivenciar os sintomas da TPM se sentem melhor na fase pré ovulatória e o estradiol parece não provocar sintomas. (5) 3 Fatores Relacionados à Síndrome Pré-menstrual As substâncias que inibem a ovulação, como GnRH, provaram ser tratamentos eficazes nos sintomas vivenciados na TPM (5). Estudos realizados mostram que mulheres obesas (IMC>30) e sedentárias são mais propensas aos sintomas da TPM. A ingestão de alimentos muito salgados pode agravar a retenção de líquidos e o inchaço, assim como as bebidas com gás ou álcool podem reduzir seus níveis de energia e afetar negativamente o humor. (4) Portanto, a prática de exercícios físicos e alterações na dieta podem-se apresentar bons aliados no que se diz respeito à melhoria de vida e bem estar das mulheres (6), já que liberando adrenalina há o auxílio na resistência ao estresse (1). Baixos níveis de vitaminas e minerais também podem piorar os sintomas da TPM, (4) Biskind sugere que a deficiência de vitaminas do complexo B torna mais difícil a inativação dos estrógenos pelo fígado, levando ao acúmulo destes hormônios no sangue (7), e, por este motivo, é recomendada a ingestão de suplementos alimentares contendo vitaminas (vitamina B6) e também, cálcio. Algumas mulheres relatam alívio dos sintomas pré- menstruais com o uso de ervas, entretanto poucos estudos científicos comprovam seus efeitos. (6) Conclusão Muito se sabe sobre o ciclo menstrual, porém sua relação com a síndrome pré menstrual se torna uma tarefa complexa, pois o ciclo menstrual é variável de mulher para mulher (apesar de acontecerem os mesmos fenômenos no corpo da mulher englobando alterações cíclicas físicas e hormonais) bem como os sintomas da TPM, podendo variar sua intensidade (4). Além disto, os fatores externos podem estar relacionados agravando os sintomas de estresse no período da síndrome. Apesar de a literatura ser extensa nesta área, as pesquisas sobre as causas da síndrome ainda não foram elucidadas, portanto novas trajetórias devem ser traçados a fim de que haja o andamento destas descobertas. Os principais dados para o prosseguimento de pesquisas que buscam identificar as causas da TPM devem ter como foco a necessidade da ovulação e formação do corpo lúteo para o desenvolvimento da TPM, pois nos ciclos anovulatórios, espontâneos ou induzidos, quando não há formação de corpo lúteo, a ciclicidade nos sintomas desaparece. Portanto, as variações de sintomas vivenciadas no ciclo menstrual e a ligação com a fase lútea podem indicar que um fator produzido pelo corpo lúteo do ovário esteja envolvido na provocação dos sintomas pré-menstruais (5). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, CG; FERNANDES, A; CEZARINO P et al. Tensão Pré Menstrual. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 10 de outubro de 2011. BACKSTROM, T; ANDREEN, L; BIRZNIEC, E et al. The Role of Hormones and Hormonal Treatments in Premenstrual Syndrome. CNS Drugs. 2003. BACKSTROM, T; SANDERS, D; LEASK, R et al. Mood, Sexuality, Hormones, and the Menstrual Cycle. II: Hormone Levels and Their Relationship to the Premenstrual Syndrome. Psychosomatic Medicine Vol. 45, Nº 6. December, 1983. MIRANDA, R. Etiologia da Tensão Pré-Menstrual: Revisão da Literatura. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) Vol 23, nº 3, setembro, 1965. SANDERS, D; WARNER, P; BACKSTROM, T et al. Mood, Sexuality, Hormones and the Menstrual Cycle. I: Changes in Mood and Physical State: Description of Subjects and Method. Psychosomatic Medicine Vol. 45, Nº 6. December 1983. TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Corpo humano: fundamentos deanatomia e fisiologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. WHC. Women’s Health Concern. Premenstrual Syndrome (PMS). British Menopause Society, nov, 2012. Disponível em: <https://www.womens-health-concern.org/_wpress/wp- content/uploads/2015/02/WHC_FS_PMS-1015.pdf> Acesso em 25 nov 2017.
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