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1 2 Sumário AULA 1 ...........................................................................................................6 Recuperação Judicial – Parte I (Conceitos, Sujeitos e Classificações dos Créditos) .........................................................................................................6 1. Crise na empresa .....................................................................................6 2. Princípios da execução concursal ............................................................7 2.1. Universalidade do juízo ........................................................................7 2.2. Igualdade entre os credores .................................................................8 2.3. Preservação da empresa .....................................................................9 2.4. Proteção aos trabalhadores ............................................................... 10 3. Execução concursal no processo do trabalho ........................................ 11 3.1. Reunião de execuções ....................................................................... 11 3.2. Procedimento de Reunião de Execuções – PRE ............................... 12 3.3. Regime especial de execução forçada – REEF ................................. 18 3.4. Plano especial de pagamento trabalhista – PEPT ............................. 22 3.5. Do Regime Centralizado de Execução – RCE ................................... 28 4. Disposições gerais ................................................................................. 29 4.1. Conceito e objetivo da recuperação judicial ....................................... 29 4.2. Beneficiários da recuperação judicial ................................................. 30 4.3. Pessoas jurídicas excluídas da recuperação judicial ......................... 32 4.4. Representação processual do devedor .............................................. 34 5. Créditos sujeitos à recuperação judicial ................................................. 36 6. Créditos excluídos da recuperação judicial ............................................ 40 6.1. Crédito fiscal tributário ........................................................................ 40 6.1.1. Imposto de renda incidente sobre créditos do trabalhador............... 40 6.1.2. Contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista . 42 6.2. Crédito fiscal não tributário ................................................................. 45 6.2.1. Custas processuais .......................................................................... 45 6.2.2. Multas impostas pela fiscalização do trabalho ................................. 47 6.3. Outros créditos ................................................................................... 47 3 AULA 2 ......................................................................................................... 53 Recuperação Judicial – Parte II (Pedido e Processamento da Recuperação Judicial) ......................................................................................................... 53 7. O pedido e o processamento da recuperação judicial ............................ 53 7.1. Efeitos do processamento .................................................................. 53 7.1.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas .......................... 54 7.1.2. Suspensão da prescrição ................................................................. 60 7.2. Verificação e habilitação dos créditos na recuperação judicial .......... 61 7.2.1. Juros e correção monetária na recuperação judicial ........................ 65 7.2.2. Liberação dos depósitos judiciais ..................................................... 66 7.2.3. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista ....................... 69 7.2.4. Reserva de crédito ........................................................................... 72 7.3. Classificação dos créditos sujeitos à recuperação judicial ................. 73 7.4. Conciliação e mediação na recuperação judicial ............................... 74 Resumo da aula 2 ......................................................................................... 77 AULA 3 ......................................................................................................... 79 Recuperação Judicial – Parte III (Plano de Recuperação Judicial e Responsabilidades na Recuperação Judicial) .............................................. 79 8. O plano de recuperação judicial ............................................................. 79 8.1. Apresentação do plano ...................................................................... 79 8.1.1. Prazos para o pagamento de credores trabalhistas e acidentários .. 80 8.2. Assembleia geral de credores ............................................................ 82 8.3. Aprovação do plano e concessão da recuperação judicial ................. 84 8.3.1. Efeitos da concessão da recuperação judicial ................................. 85 8.3.2. Encerramento da recuperação judicial ............................................. 88 8.4. Rejeição do plano de recuperação judicial ......................................... 88 8.5. Convolação da recuperação judicial em falência ............................... 89 9. Alienação dos ativos da recuperanda ..................................................... 90 10. Recuperação judicial de microempresas e empresas de pequeno porte94 11. Responsabilidade secundária na recuperação judicial ........................... 96 11.1. Responsabilidade do devedor constante no título executivo .............. 98 11.2. Responsabilidade do devedor não constante no título executivo ..... 100 11.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da recuperanda ....... 102 4 12. Efeitos da recuperação judicial sobre os contratos de trabalho ativos . 105 Resumo da aula 3 ....................................................................................... 106 AULA 4 ....................................................................................................... 109 Falência - Parte I (Conceitos, Sujeitos, Competência e Classificações dos Créditos) ..................................................................................................... 109 13. Disposições gerais ............................................................................... 109 13.1. Conceito e objetivo da falência ........................................................ 109 13.2. Pessoas sujeitas à falência .............................................................. 110 13.3. Pessoas excluídas da falência ......................................................... 111 13.4. Competência indivisível e universal do Juízo falimentar .................. 112 13.5. Representação processual da massa falida ..................................... 113 14. Créditos sujeitos à falência ................................................................... 114 14.1. Classificação dos créditos na falência .............................................. 114 14.1.1. Pedidos de restituição .................................................................... 114 14.1.2. Créditos extraconcursais ................................................................ 117 14.1.3. Créditos concursais ........................................................................ 120 15. Créditos excluídos da falência .............................................................. 128 Resumo da aula 4 ....................................................................................... 129 AULA 5 ....................................................................................................... 131 Falência – Parte II (Procedimento da Falência e Responsabilidades na Falência) .....................................................................................................131 16. O procedimento para a decretação de falência .................................... 131 16.1. Requisitos para requerer a falência.................................................. 131 16.2. Defesa do devedor ........................................................................... 133 16.3. Efeitos da decretação de falência .................................................... 134 16.3.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas ........................ 134 16.3.2. Suspensão da prescrição ............................................................... 136 16.4. Verificação e habilitação dos créditos na falência ............................ 137 16.4.1. Liberação dos depósitos judiciais ................................................... 140 16.4.2. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista ..................... 140 16.4.3. Reserva de crédito ......................................................................... 142 17. Arrecadação e realização dos ativos da massa falida .......................... 144 5 17.1. Arrecadação dos bens ..................................................................... 144 17.2. Realização dos ativos ...................................................................... 144 18. Pagamento aos credores ..................................................................... 147 19. Encerramento da falência ..................................................................... 148 20. Responsabilidade secundária na falência ............................................ 151 20.1. Responsabilidade do devedor constante no título executivo ............ 151 20.2. Responsabilidade do devedor não constante no título executivo ..... 152 20.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da falida .................. 153 21. Efeitos da falência sobre os contratos de trabalho ativos ..................... 154 Resumo da aula 5 ....................................................................................... 156 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 157 6 AULA 1 Recuperação Judicial – Parte I (Conceitos, Sujeitos e Classificações dos Créditos) 1. Crise na empresa Todos aqueles que empreendem se encontram naturalmente sujeitos a acontecimentos que podem romper com a normalidade das empresas que gerem. Desde uma grave conjuntura econômica desfavorável até erros menores de precificação de produtos e serviços, são inúmeros os eventos que criam dificuldades no dia a dia dos negócios que, se não administrados corretamente, têm a capacidade de gerar crises, com prejuízos aos empresários e, nas situações mais graves, a todos os que se relacionam com a empresa, como fornecedores e trabalhadores. Conforme a sua origem, as crises podem ser econômicas, estruturais, financeiras, patrimoniais ou de gestão, normalmente umas desencadeando outras. De forma simplificada e exemplificativa, podemos dizer que uma crise econômica ocorre quando há retração dos negócios. Há crise estrutural no momento em que essa retração ocorre não só na empresa, mas em todo o seu setor de atuação. Há crise financeira, sempre que o fluxo de caixa ou o capital de giro não são suficientes para equilibrar as contas. E a crise patrimonial ocorre quando os ativos não cobrem os passivos, e a de gestão, toda a vez que os métodos de gerenciamento são equivocados. Nesse curso não há objetivo na imersão dos porquês das variadas adversidades, uma vez que tais matérias são mais afetas à Economia que ao Direito. Aqui objetiva-se o exame dos principais institutos jurídicos criados para racionalizar a atuação do Poder Judiciário frente às situações ocorridas. Os objetivos dos institutos jurídicos tanto podem se dirigir a proteção temporária da empresa com a moratória e a organização dos credores, como a decretar o seu colapso, quando a crise for intransponível. Especialmente voltados para os cenários em que os trabalhadores são credores dessas empresas em situações de crise, serão tratadas nos próximos tópicos as espécies de execução concursal mais comumente vistas no dia a dia dos Foros, algumas delas dentro do próprio Poder Judiciário do Trabalho e outras na Justiça dos Estados, porém sempre com sérias repercussões nas reclamatórias trabalhistas. 7 2. Princípios da execução concursal 2.1. Universalidade do juízo Ao contrário das regras, os princípios normalmente não possuem hipóteses normativas concretas e não determinam prévia e categoricamente as condutas. Eles são normas que orientam procedimentos de maneira finalística e que, assim, podem ser satisfeitas em graus variados nos casos concretos. Nesse contexto, o princípio da universalidade representa a pretensão de que, nas execuções concursais, respeitadas certas regras de distribuição de competência, o maior número possível de ações e execuções referentes a bens e interesses do devedor tramite perante um único Juízo, de forma a prevenir decisões conflitantes e otimizar a atuação do Poder Judiciário. Por exemplo, nas execuções concursais promovidas na Justiça do Trabalho, representadas pelos chamados procedimentos de reunião de execuções (PRE), do art. 149 da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019 conforme redação de 19 de agosto de 2022, força normativa do princípio da universalidade está setorizada e relativizada. Setorizada porque aplicável apenas a poucas classes de credores do devedor. Relativizada porque a atuação do órgão de centralização de execuções dos Tribunais Regionais está mais ou menos limitada pelos Juízos de origem desses créditos. Art. 149. A reunião de processos em fase de execução definitiva, em relação ao(s) mesmo(s) devedor(es), poderá ser processada em órgãos de centralização de execuções (juízos centralizadores de execução), criados conforme organização de cada Tribunal Regional e observados os parâmetros estabelecidos nesta Consolidação. Parágrafo único. Ressalvados os casos de PEPT, RCE e REEF, que obrigatoriamente serão processados perante o juízo centralizador de execução, a previsão do caput não prejudica a reunião de processos em fase de execução definitiva em Varas do Trabalho, mediante cooperação judiciária. Na recuperação judicial, distintamente, o grau de intensidade do princípio da universalidade é mais significativo. Um grupo maior de credores da empresa está sujeito à execução concursal e é o Juízo da Vara Empresarial que limita a atuação dos demais, e não o contrário. 8 Na falência, encontramos a máxima atuação do supra mencionado princípio. A previsão do art. 76 da Lei nº 11.101/05 conforma a vis atractiva do juízo universal falimentar. Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. 2.2. Igualdade entre os credores Outro princípio basilar nas execuções concursais é o da igualdade entre os credores, também conhecido pela expressão par conditio creditorum. A premissa do referido princípio é que, nas execuções concursais, os credores devem ter direitos iguais e paritários sobre os bens do devedor comum. Entretanto, além dessa premissa, o princípio da igualdade entre os credores é também orientado por uma análise valorativa de certos créditos, baseada em sua relevância socioeconômica. Em outras palavras, a igualdade é também reproduzida em seu aspecto material, resultando na segunda premissa, a de que existem créditos juridicamente mais importantes que outros e que, por consequência, devem ter um tratamento jurídico privilegiado e, portanto, devem ser pagos primeiro. Disso resulta basicamente que a par conditio creditorum prevista, dentre outros,no art. 126 da Lei nº 11.101/05, é a igualdade de condições em concurso entre credores com privilégio idêntico. Art. 126. Nas relações patrimoniais não reguladas expressamente nesta Lei, o juiz decidirá o caso atendendo à unidade, à universalidade do concurso e à igualdade de tratamento dos credores, observado o disposto no art. 75 desta Lei. A recuperação judicial e a falência são processadas e julgadas em Varas comuns ou especializadas, conforme fixado pelas normas de organização judiciária dos Estados. Essas mesmas regras estabelecem várias nomenclaturas para as Varas Especializadas, a depender do Estado da Federação. De modo a garantir a melhor compreensão serão tratadas pela denominação de “Vara Empresarial”. 9 Importante destacar que a igualdade entre credores se apresenta em oposição ao princípio do prior in tempore, potior in jure, que orienta as execuções singulares e significa que o credor que se antecipa em executar o devedor e penhorar seus bens recebe um tratamento preferencial em relação aos demais, tal como previsto no art. 797 do CPC/15. Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados. 2.3. Preservação da empresa O terceiro princípio que orienta as execuções concursais é aquele que concebe a empresa como fonte geradora de riquezas, não só para o empresário ou para a sociedade empresária que a administram, mas também para todos os que com ela mantêm relações, sejam estas trabalhistas, comerciais, consumeristas, civis ou tributárias (trabalhadores, fisco, fornecedores, contratantes e consumidores, v.g.) Em sendo um importante agente de desenvolvimento econômico e social, o objetivo do princípio explicitado exemplificativamente no art. 47 da Lei nº 11.101/05, a Lei de Recuperações e Falências, é preservar a empresa em crise, garantindo que ela cumpra seus compromissos com credores e, ao mesmo tempo, siga gerando riquezas. Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. O art. 148-A, inciso VI, da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019 com a redação Provimento n. 1/CGJT, de 19 de agosto de 2022 também dá destaque à par conditio creditorum, estabelecendo a diretriz de pagamento equânime dos créditos, observadas as particularidades do caso concreto. A saber: VI – a premência do crédito trabalhista, haja vista seu caráter alimentar; 10 Evidentemente, a orientação finalística de tal princípio não é salvaguardar todas as empresas a todo o custo. Existem situações em que a crise simplesmente não consegue ser superada, seja porque a empresa é tecnologicamente atrasada, seja porque está completamente descapitalizada, ou seja porque possui organização administrativa precária. São atividades econômicas que podemos dizer inviabilizadas. Nessas atividades econômicas inviabilizadas, a exclusão empresarial do mercado não será um mal ou uma desconexão com o princípio da preservação, mas sim uma proteção do sistema econômico-produtivo como um todo. A axiologia do princípio da preservação deve ser realizada considerando a recuperação das empresas viáveis e a liquidação das inviabilizadas. 2.4. Proteção aos trabalhadores Dentro dos três fatores clássicos de produção, é o trabalho o único humanizado – os demais são a propriedade imobiliária e o capital – como também o mais frágil. Desta feita, a proteção aos trabalhadores dentro das execuções concursais é outro axioma a ser observado. Várias normas jurídicas, aqui representadas pelo art. 83, inciso I, da LRF e pelo inciso VI do art. 148-A da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho - CPCG-JT, outorgam certos privilégios concursais aos credores cujos créditos são derivados da legislação trabalhista e aos créditos decorrentes de acidentes de trabalho, estabelecendo que eles estarão entre os primeiros a receber, tanto no que diz respeito à A partir de agora, a Lei nº 11.101/05, também conhecida como a Lei de Recuperações e Falências, será referida pela sigla “LRF”. A necessidade da preservação da função social da empresa também consta como diretriz dos procedimentos de reunião de execuções trabalhistas, conforme o art. 148-A, inciso VII, da CPCG-JT - Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho. 11 hierarquia entre os credores, quanto no que toca ao tempo do seu recebimento. Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; (…) Art. 148-A. (...)O PRE, em todas as suas modalidades, observará, dentre outros princípios e diretrizes (…): VI – a premência do crédito trabalhista, haja vista seu caráter alimentar; (...) O art. 83, inciso I, da LRF restringe a garantia do créditos derivados da legislação trabalhista ao limite de 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, o que, por opção do legislador ordinário, restringiu a preferência do referido crédito. Ademais, existem situações específicas em que outros tipos de créditos preferirão aos trabalhistas tanto na recuperação judicial, quanto na falência, como será abordado posteriormente. 3. Execução concursal no processo do trabalho 3.1. Reunião de execuções A execução trabalhista contra devedor solvente quase sempre se processa de forma singular, isto é, um único trabalhador pratica atos individuais contra um ou mais devedores, com o objetivo da satisfação do seu crédito. Entretanto, não é incomum haver em uma mesma Vara do Trabalho ou em um mesmo Foro Trabalhista dezenas de reclamatórias trabalhistas movidas por trabalhadores representados por diferentes advogados contra o mesmo ou mesmos devedores. Nesse caso, a reunião de todas ou algumas das execuções em um único processo, tal como autorizado pelo art. 28 da Lei nº 6.830/80 é uma medida de conveniência da unidade da garantia da execução e que melhor atende os princípios de celeridade e eficiência processual, além da economia de energia de trabalho nas unidades judiciárias, a saber: Art. 28. O Juiz, a requerimento das partes, poderá, por conveniência da unidade da garantia da execução, ordenar a reunião de processos contra o mesmo devedor. 12 Parágrafo Único - Na hipótese deste artigo, os processos serão redistribuídos ao Juízo da primeira distribuição. Importante dizer que o procedimento de reunião de execuções em algo se assemelha ao juízo universal, razão pela qual deve que ser regido pelas regras de natureza concursal previstas no art. 126 da LRF e, principalmente, pelo princípio da par conditio creditorum, que estabelece o pagamento equânime dos créditos de uma mesma classe e a perda do direito individual de preferência sobre os bens penhorados pelos trabalhadores nos processos de origem, com o afastamento da regra do art. 797 do CPC/15. 3.2. Procedimento de Reunião de Execuções – PRE O tema relativo à “reunião de execuções” foi expressivamente regulamentado pelo Provimento CGJT no 01, de 19 de agosto de 2022 que alterou os termos da Seção X, do Capítulo VI, da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho - CPCG-JT. Dentre os importantes considerandos para assim agir o Exmo. Sr. Ministro Corregedor, no uso das suas atribuições legais e regimentais, destacou: 1) o princípioda efetividade da execução e a existência de grandes devedores com processos em fase de execução definitiva em mais de um Tribunal Regional; 2) que a execução deve se dar pelo meio menos gravoso para o executado, reputando-se menos gravosa a solução mediante adoção de atos executivos que sejam mais eficazes e menos onerosos; 3) o advento da Lei nº 14.193/2021 (Lei da Sociedade Anônima do Futebol – SAF), que instituiu prazos para quitação de dívidas trabalhistas mais dilatados que os previstos no Procedimento de Reunião das Execuções – PRE, Importante: os processos aptos a esse tipo de reunião local de execuções são somente aqueles com a decisão de liquidação de sentença estabilizada, ou seja, em execução definitiva. Muitas vezes, para os fins do art. 884 da CLT, é preciso considerar o juízo fictamente garantido para permitir ao devedor a oposição de embargos à execução, sob pena de paralisação do processo antes da estabilização. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 13 constante da Seção X, do Capítulo VI, da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, bem como instituiu modalidade própria de Regime Centralizado de Execução – RCE; 4) o princípio da Função Social da Empresa e das Entidades de Prática Desportiva, bem como a necessidade de sua preservação como fontes de emprego, renda, lazer, entretenimento e cultura 5) a necessidade de uniformização nos Tribunais Regionais quanto à aplicação do Procedimento de Reunião de Execuções – PRE, inclusive quanto ao Regime Centralizado de Execução – RCE instituído pela Lei n.º 14.193/2021 6) o princípio da Cooperação Judiciária. A Subseção I da Seção V – CPCG-JT trata do procedimento de Reunião de Execuções (PRE) em seu art. 148. Referido procedimento é destinado às obrigações de pagar e regulado pela referida Consolidação no âmbito da Corregedoria- Geral da Justiça do Trabalho. O Procedimento de Reunião de Execuções é constituído pelo: I - Plano Especial de Pagamento Trabalhista - PEPT, cujo objetivo é o pagamento parcelado do débito reunido; II - Regime Centralizado de Execução - RCE, instituído pela Lei n.º 14.193/2021 (Lei da Sociedade Anônima do Futebol – SAF); e, III - Regime Especial de Execução Forçada - REEF, voltado para os atos de execução forçada, inclusive de expropriação do patrimônio dos devedores em prol da coletividade dos credores. As siglas (ou abreviaturas) acima negritadas o foram de forma proposital. Busca-se, com tal recurso, chamar atenção de forma inequívoca para as nomenclaturas instituídas pela Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho. Tanto PETP, como RCE e REEF serão siglas utilizadas de forma corrente neste trabalho. O procedimento PRE, em todas as suas modalidades constitutivas, observará, dentre outros princípios e diretrizes, segundo o art. 148 da Consolidação dos Provimentos supra referida: I – a cooperação judiciária; II - a essência conciliatória da Justiça do Trabalho como instrumento de pacificação social; III – o direito fundamental à razoável duração do processo (artigo 5º, LXXVIII, da Constituição da República) em benefício do credor; 14 IV – os princípios da eficiência administrativa (art. 37, caput, da Constituição da República), bem como da economia processual; V – o pagamento equânime dos créditos, observadas as particularidades do caso concreto; VI – a premência do crédito trabalhista, haja vista seu caráter alimentar; VII – a necessidade da preservação da função social da empresa e das entidades de prática desportiva; VIII – a estrita observância da Lei nº 14.193/2021 em relação às entidades de prática desportiva, indicadas no art. 2º da Lei da Sociedade Anônima do Futebol. A reunião de processos em fase de execução definitiva, em relação ao(s) mesmo(s) devedor(es), poderá ser processada em órgãos de centralização de execuções (juízos centralizadores de execução), criados conforme organização de cada Tribunal Regional e observados os parâmetros supra mencionados e estabelecidos na Consolidação de Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho (CPCG-JT). Tal previsão não prejudica a reunião de processos em fase de execução definitiva em Varas do Trabalho, mediante cooperação judiciária. Entretanto, os casos de PEPT, RCE e REEF serão obrigatoriamente processados perante o juízo centralizador de execução. Mediante cooperação judiciária, processos que estejam aptos a serem reunidos, mas estiverem em diferentes unidades judiciárias, poderão ser reunidos mediante ajuste entre os Juízes do Trabalho titulares da competência funcional para a sua execução. A realização de acordos de cooperação nos Foros Trabalhista para reunião de execuções é uma boa prática a ser seguida. 15 O juízo centralizador de execução tem como atribuições, segundo o art. 149 da CPCG-JT: I – acompanhar e exarar parecer relativo ao processamento do PRE, mantendo comunicação com os demais órgãos partícipes da gestão do procedimento, conforme definido pela organização administrativa do Tribunal Regional ou pela Lei nº 14.193/2021; II – promover, de ofício, a identificação dos grandes devedores e, se for o caso, dos respectivos grupos econômicos, no âmbito do Tribunal Regional, cujas execuções poderão ser reunidas para processamento conjunto atráves da instauração do REEF, utilizando-se de todas as ferramentas eletrônicas de investigação patrimonial disponíveis por meio de processo piloto indicado pelo juízo centralizador de execução. III – coordenar ações e programas que visem à efetividade da execução. Importante destacar que no PRE – Procedimento de Reunião de Execuções todos os esforços devem ser envidados no sentido de solver as No TRT da 4ª Região, houve regulamentação da reunião local de execuções na Resolução Administrativa nº 28/2022 e a reunião se dá por meio de requisição das unidades judiciárias de 1º e 2º graus do Regional. O § 2º do art. 17 do normativo estabelece que “ em caso de requisição pelas unidades judiciárias, deverá ser observado o número mínimo de 100 inclusões do devedor no BNDT, podendo o JAE, de ofício ou a requerimento, avaliar a conveniência de manutenção de tais critérios, por decisão fundamentada, se constatada relevância econômica, social e/ou jurídica”. No TRT da 12a Região a regulamentação da reunião de execuções ocorreu por meio da Portaria SEAP/SECOR nº 19/2023. Prevê a referida Portaria que o REEF poderá ser instaurado por solicitação de unidades judiciárias de 1o e 2o graus do TRT 12. E, para tanto, estabelece no § 1º do artigo 17 que “a solicitação pelas Unidades Judiciárias deverá vir acompanhada de certidão comprobatória da utilização, sem sucesso, das ferramentas básicas de pesquisa patrimonial (Sisbajud, Renajud, CNIB e Infojud), nos 3 (três) meses anteriores à requisição, e do protesto do devedor, conforme os arts. 883-A da CLT e 517 do CPC, além do número mínimo de 15 inscrições no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas – BNDT“. 16 execuções por pagamento integral ou com o uso das técnicas, aplicáveis, de conciliação e mediação, observando-se, em cada modalidade de pagamento, a atenção às preferências legais, conforme disciplinado pelo Tribunal Regional respectivo. Ressalva-se, por oportuno, a ordem de preferência para o RCE – Regime Centralizado de Execução (Lei 14.193/21 – Lei de Sociedade Anônima do Futebol – SAF), que é a seguinte, segundo o seu artigo 17: Art. 17. No Regime Centralizado de Execuções, consideram-se credores preferenciais, para ordenação do pagamento: I - idosos, nos termos da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso); II - pessoas com doenças graves; III - pessoas cujos créditos de natureza salarial sejam inferiores a 60 (sessenta) salários-mínimos; IV - gestantes; V - pessoas vítimas de acidente de trabalho oriundoda relação de trabalho com o clube ou pessoa jurídica original; VI - credores com os quais haja acordo que preveja redução da dívida original em pelo menos 30% (trinta por cento). Parágrafo único. Na hipótese de concorrência entre os créditos, os processos mais antigos terão preferência. Nas hipóteses de PEPT e REEF, caso haja omissão do Tribunal Regional em regulamentar a matéria relativa à ordem de pagamento e, desde que, observados os princípios da razoabilidade, equidade e proporcionalidade, o Juízo centralizador de execução, após ouvidos os credores, poderá limitar, inverter referida ordem de pagamento dentro da mesma classe, incluir preferências definidas na CPCG-JT ou fixar teto de valores para os credores preferenciais, visando possibilitar o pagamento, ainda que parcial a um maior número de credores (art. 150 da CPCG-JT). Considerando a necessidade de estabelecer a transição para o novo regime consolidado, o art. 160 da CPCG-JT determinou que o juízo centralizador de execução notificará os devedores dos PEPTs vigentes e que ainda se encontrem desarmônicos com a Consolidação de Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, para a readequação conforme as disposições desta Consolidação no prazo de até 180 (cento e oitenta) dias, e serão submetidos a exame na forma do art. 152, sob pena de presunção de desistência do PRE. A inclusão deste artigo ocorreu em face do Provimento 1 17 da CGJT de 19 de agosto de 2022 e o prazo máximo de 180 dias equivale ao dia 19 de fevereiro de 2023. Os planos aprovados com os benefícios do RCE previstos na Lei nº 14.193/2021, para entidade desportiva que não se enquadre na regra do art. 153 desta Consolidação, deverão ser apresentados na forma de pedido de instauração de PEPT, no prazo de 90 dias, sob pena de se presumir o desinteresse no procedimento de reunião de execuções para pagamento parcelado do passivo trabalhista. Previsão do § 1º do o art. 160 da CPCG-JT. A inclusão deste parágrafo ocorreu em face do Provimento 1 da CGJT de 19 de agosto de 2022 e o prazo máximo de 90 dias equivale ao dia 19 de novembro de 2022. O Ato Trabalhista previsto no art. 50 da Lei nº 13.155/2015 passará a observar a regulamentação implementada por esta Consolidação no que se refere ao PEPT, ressalvados os planos já em vigor, vedada a renovação sem a devida readequação, consoante § 2º do o art. 160 da CPCG-JT. Prevê o art. 50 da Lei 13.155/15: Art. 50. Ficam os Tribunais Regionais do Trabalho, ou outro órgão definido por determinação dos próprios Tribunais, autorizados a instaurar o Regime Centralizado de Execução (Ato Trabalhista) para as entidades desportivas de que trata o § 10 do art. 27 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 . Os planos já aprovados de acordo com a regulamentação anterior em que não seja necessária readequação poderão ser revistos a qualquer tempo, a requerimento do devedor, competindo ao Tribunal Pleno ou Órgão Especial deliberar acerca do acolhimento, ou não, do pleito de revisão. Previsão do § 3º do o art. 160 da CPCG-JT. Eventuais casos omissos na presente Consolidação, inclusive a disposição do concurso de credores para implementação do RCE previsto no art. 13, I, da Lei nº 14.193/2021, deverão ser objeto de regulamentação em cada Tribunal Regional, segundo o § 4º do art. 160 da CPCG-JT. A saber: Art. 13. O clube ou pessoa jurídica original poderá efetuar o pagamento das obrigações diretamente aos seus credores, ou a seu exclusivo critério: I - pelo concurso de credores, por intermédio do Regime Centralizado de Execuções previsto nesta Lei; (...) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm#art27§10 18 Art. 161. Até que seja desenvolvido fluxo específico no Sistema PJe em uso na Justiça do Trabalho, a execução provisória tramitará na classe Cumprimento Provisório de Sentença “CumPrSe” (157). Havendo trânsito em julgado da decisão exequenda, a Secretaria da Vara do Trabalho anexará, aos autos do processo autuado na classe Cumprimento Provisório de Sentença (CumPrSe) ou nos remanescentes de Execução Provisória em Autos Suplementares (ExProvAS), os arquivos eletrônicos relativos às peças inéditas dos autos principais para o processamento da execução definitiva, retificando-se a autuação para classe processual Cumprimento de Sentença “CumSen” (156) e registrando-se o movimento “50072 - Convertida a execução provisória em definitiva”. Nesta hipótese deve haver arquivamento definitivo do processo “principal”, tudo conforme art. 162 e seu parágrafo único da CPCG-JT. 3.3. Regime especial de execução forçada – REEF Quando as execuções trabalhistas processadas de modo singular contra o mesmo ou os mesmos devedores se avolumam e transbordam os limites de uma Vara ou Foro Trabalhista, a Consolidação dos Provimentos da https://youtu.be/6xlfPhmDdm8?t=3480 19 Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho – CPCG-JT prevê a possibilidade de instauração do regime especial de execução forçada (REEF). Esse procedimento regional de reunião de execuções está previsto no art. 148, III e 154 da CPCG-JT é coordenado e executado pelo órgão centralizador de execuções do Tribunal Regional. Ele pode ser iniciado por esse próprio órgão, em decorrência da frustração de um plano especial de pagamento trabalhista ou a pedido de uma ou mais unidades judiciárias. Art. 154. O REEF consiste no procedimento unificado de busca, constrição e expropriação, com vistas ao adimplemento da dívida consolidada de devedor com relevante número de processos em fase de execução, como medida de otimização das diligências executórias, doravante realizadas de forma convergente, mediante a utilização de processo piloto. §1º O REEF poderá originar-se: I – do insucesso do Plano Especial de Pagamento Trabalhista (PEPT); II – do insucesso do RCE previsto na Lei n. 14.193/2021, observado o disposto no artigo 24 desta lei; III – por meio de requisição das Unidades Judiciárias de 1º e 2º graus do Tribunal Regional; e IV – por iniciativa do órgão centralizador de execuções no Tribunal Regional. §2º A solicitação pelas unidades judiciárias, deverá vir acompanhada de certidão comprobatória da utilização, sem sucesso, das ferramentas básicas de pesquisa patrimonial, nos 3 (três) meses anteriores à requisição, e do protesto do devedor conforme os arts. 883-A da CLT e 517 do CPC/15. §3º Poderá o juiz da Vara do Trabalho de origem recusar a habilitação de créditos na execução reunida, caso já existam bens penhorados na data da instauração do REEF, sem prejuízo da solicitação a outra Vara do Trabalho, de processo em fase de execução definitiva em face do mesmo devedor. § 4º A instauração do REEF determinada por ato do juízo centralizador de execução importará a suspensão das medidas constritivas em face do devedor, salvo em relação ao processo objeto de recusa na forma do parágrafo anterior. § 5º Ocorrendo conciliação ou pagamento, ainda que parcial, em processo em fase de execução definitiva não submetido ao REEF, o juízo deverá comunicar o fato ao juízo centralizador de execução, cabendo igual obrigação às partes. § 6º Os Tribunais Regionais desenvolverão solução de tecnologia da informação para cadastramento dos créditos habilitados nos processos do REEF pelas unidades judiciárias originárias, com a discriminação da natureza da dívida e dotado de atualização automática. 20 É importante destacar que o Juiz do Trabalho, caso já existam bens penhorados na data da instauração do REEF, poderá recusar a habilitação de créditos na execução reunida, sem prejuízo da solicitação a outra Vara do Trabalho, de processo em fase de execução definitiva em face do mesmo devedor (art. 154, §3º, da CPCG-JT). E isto se dá em respeito às regras de competência funcional do magistrado. O REEF é um procedimento de adesão facultativa por parte dos juízos,ou seja, se determinado Juízo de Vara do Trabalho desejar não remeter processo de sua competência à execução reunida, não estará obrigado a tanto, desde que, no processo em questão, já exista penhora. Veja-se o art. 154, §3º, da Consolidação. Art. 154. (...) §3º Poderá o juiz da Vara do Trabalho de origem recusar a habilitação de créditos na execução reunida, caso já existam bens penhorados na data da instauração do REEF, sem prejuízo da solicitação a outra Vara do Trabalho, de processo em fase de execução definitiva em face do mesmo devedor. Conforme o art. 154, §4º, da CPCG-JT, a instauração do REEF determinada por ato do juízo centralizador de execução importará a suspensão das medidas executivas em face do devedor, provocando a suspensão das execuções singulares que a ele aderiram, na medida em que o seu art. 155 positiva que os atos executórios e o pagamento da dívida consolidada do devedor são feitos nos autos do processo que encabeça a execução, denominado de processo piloto, observada a par conditio creditorum prevista no art. 148-A, inciso V, da CPCG-JT. Art. 154. (...) §4º A instauração do REEF determinada por ato do juízo centralizador de execução importará a suspensão das medidas constritivas em face do devedor, salvo em relação ao processo objeto de recusa na forma do parágrafo anterior. O art. 155 da CPCG-JT determina que, no curso do REEF, os atos executórios buscando o pagamento da dívida consolidada do executado serão realizados nos autos do processo piloto, ressalvada, na hipótese do § 3º do artigo 154, a atuação executória da vara recusante. A definição dos autos a serem qualificados como processo piloto caberá ao juízo centralizador de execução do Tribunal Regional. (§ 1º do art. 155 da CPCG-JT). Os juízes que atuam no juízo centralizador de execução resolverão os incidentes e ações incidentais referentes exclusivamente ao processo piloto e chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https:/juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/166690/2019_consolida_prov_cgjt_rep01_atualizado.pdf 21 apenas quanto aos atos praticados durante o REEF (§ 2º do art. 155 da CPCG- JT). Localizados bens do executado, será ordenada sua alienação pelo juízo centralizador de execução (§ 3º do art. 155 da CPCG-JT). O pagamento integral do processo piloto importará na extinção da referida execução, cabendo ao juízo centralizador de execução a adoção das seguintes providências (§ 4º do art. 155 da CPCG-JT): I – eleição de novo processo piloto; II – lavratura de certidão circunstanciada dos fatos e atos relevantes praticados nos autos do processo piloto, trasladando-se peças, se necessário, para o novo processo piloto; III – certificação nos autos do processo piloto extinto sobre a necessidade de sua preservação e guarda íntegra até a solução definitiva dos processos em fase de execução definitiva reunidos na forma disciplinada nesta Seção, o que deverá ser observado pela vara de origem. Dentre os princípios e diretrizes que deverão ser observados em todas as modalidades de PRE está o pagamento equânime dos créditos (art. 148-A, V, da CPCG-JT), com a observância das particularidades do caso concreto. Ao seu turno o art. 154, §2º, da CPCG-JT prevê que caso ocorra a conciliação ou pagamento, ainda que parcial, em processo em fase de execução definitiva não submetido ao REEF, o juízo deverá comunicar o fato ao juízo centralizador de execução, cabendo igual obrigação às partes. Como o §2º do art. 156 da CPCG-JT foi suprimido, além do fato de que hodiernamente a previsão de pagamento parcial ou conciliação dizer respeito a processo em face de execução definitiva não submetido ao REEF, a crítica que existia em face da possibilidade de desrespeito ao princípio da par conditio creditorum não mais se sustenta. A consolidação da dívida do executado, no caso do REEF, será feita pelo juízo centralizador de execução, que oficiará as Varas do Trabalho para que informem o montante da dívida do executado, nos processos em fase de execução definitiva, no prazo de 30 (trinta) dias (art. 156 da CPCG-JT). Na prestação de informações pelas Varas do Trabalho deverá ser discriminada a natureza dos créditos, bem como a respectiva atualização e incidência de juros de mora, sendo vedada a inclusão de valores referentes a processos com pendência de homologação de cálculos (parágrafo único do art. 156 da CPCG-JT). Emulando o art. 83 da LRF na organização de uma ordem dos pagamentos entre as classes de credores submetidas ao REEF, o art. 157 da Consolidação estabelece que primeiro serão adimplidos os créditos http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 22 trabalhistas, aqui incluídos os típicos e os decorrentes de acidente de trabalho e, na sequência, o imposto de renda, a contribuição previdenciária, as multas administrativas impostas pelos órgãos de fiscalização do trabalho e as custas processuais. Art. 157. Os créditos da União Federal, referentes às contribuições previdenciárias e fiscais decorrentes das decisões desta Justiça Especializada, aqueles oriundos de multas administrativas impostas pelos órgãos de fiscalização do trabalho, nos termos do artigo 114, VII e VIII, respectivamente, da Constituição da República, assim como as custas processuais, serão pagos após a quitação preferencial dos créditos trabalhistas. Expropriados todos os bens e efetuados os pagamentos possíveis, havendo crédito remanescente, as Varas do Trabalho da Região e as Corregedorias das demais Regiões serão oficiadas, comunicando a existência do saldo, aguardando a requisição de valores no prazo de 30 (trinta) dias e devolvendo ao executado o saldo existente após os repasses solicitados (art. 158 da da CPCG-JT). Esgotados os meios executórios, ainda que remanesçam débitos, o REEF será extinto, sendo os autos do processo piloto devolvidos ao juízo de origem para providências cabíveis, comunicando-se as Varas do Trabalho do Tribunal Regional (parágrafo único do art. 158 da da CPCG-JT). 3.4. Plano especial de pagamento trabalhista – PEPT A segunda modalidade de execução concursal dentro da competência da Justiça do Trabalho é o plano especial de pagamento trabalhista (PEPT), previsto no art. 151 da CPCG-JT. Para a apreciação preliminar do pedido de instauração do PEPT, o interessado deverá atender aos requisitos determinados no art. 151 já referido. O primeiro requisito é o de especificar o valor total da dívida, instruindo o pedido com a relação de processos em fase de execução definitiva, com valores liquidados, organizados pela data de ajuizamento da ação; a(s) vara(s) de origem; os nomes dos credores e respectivos procuradores; as garantias existentes nesses processos, inclusive ordens de bloqueio e restrições; as fases em que se encontram os processos; os valores e a natureza dos respectivos débitos, devidamente atualizados, consolidando esses relatórios por Tribunal Regional, quando for o caso (inciso I do art. 151 da CPCG-JT). O segundo requisito é o de apresentar o plano de pagamento do débito trabalhista consolidado, incluída a estimativa de juros e de correção monetária https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/166690/2019_consolida_prov_cgjt_rep01_atualizado.pdf 23 até seu integral cumprimento, podendo o pagamento ser fixado em período e montante variáveis, respeitado o prazo máximo de seis anos para a quitação integral da dívida (inciso II do art. 151 da CPCG-JT). O terceiro requisito é o de assumir, por declaração de vontade expressa e inequívoca, o compromisso de cumprir regularmente as obrigações trabalhistas dos contratos em curso, inclusive as decorrentes de verbas rescisórias devidas aos empregados dispensados ou que se demitirem (inciso III do art. 151 da CPCG-JT). Como quarto requisito, o art. 151 estabelece que o devedor deverá relacionar,documentalmente, as empresas integrantes do grupo econômico, as quais assumem responsabilidade solidária pelo adimplemento das obrigações relativas ao montante global obtido na reunião dos processos em fase de execução definitiva perante o Tribunal Regional, independentemente de, em qualquer fase dos processos, terem figurado no polo passivo (inciso IV do art. 151 da CPCG-JT). É importante destacar tal requisito, pois trata-se de importante garantia aos credores, uma vez que ao devedor é exigida uma relação de eventuais outras empresas integrantes do seu grupo econômico e dos seus sócios, todos cientes de que serão responsabilizados solidariamente pelo adimplemento das obrigações relativas ao montante global, independentemente de, em qualquer fase dos processos, terem figurado no polo passivo. O quinto requisito é o de ofertar garantia patrimonial suficiente ao atendimento das condições estabelecidas, a critério de cada Tribunal Regional, podendo recair em carta de fiança bancária ou seguro-garantia, bem como em bens próprios ou de terceiros – desde que devidamente autorizados pelos proprietários legais, hipótese em que deverão ser apresentadas provas de ausência de impedimento ou oneração dos bens, cujas alterações na situação jurídica deverão ser comunicadas pelo interessado de imediato, sob pena de cancelamento do plano e impossibilidade de novo requerimento de parcelamento pelo prazo de 2 (dois) anos (inciso V do art. 151 da CPCG-JT). A apresentação de balanço contábil, devidamente certificado por contador, bem como declaração de imposto de renda, em que se comprove a incapacidade financeira de arcar com a dívida consolidada, com efetivo comprometimento da continuidade da atividade econômica é o sexto requisito (inciso VI do art. 151 da CPCG-JT). E, por último, deverá apresentar renúncia, condicionada à aprovação do PEPT, de toda e qualquer impugnação, recurso, ação rescisória ou incidente quanto aos processos envolvidos no plano (inciso VII do art. 151 da CPCG-JT). Cumpridos os sete requisitos supra elencados, o pedido de 24 instauração do PEPT poderá ser apreciado de forma preliminar (art. 151 da CPCG-JT). Os requisitos acima elencados para a apreciação do PEPT, em especial a renúncia a todos os recursos, impugnações ou incidentes nos processos incluídos no plano, a oferta de garantia patrimonial suficiente ao atendimento das condições estabelecidas e a apresentação de balanço contábil e declaração de imposto de renda atestando a incapacidade da empresa de arcar com a dívida sem comprometimento da continuidade da atividade econômica externam uma situação econômica/financeira que justifica a análise do PEPT e sua possível instauração. Em contrapartida, o devedor obtém a suspensão dos atos constritivos nos processos. Diferentemente do REEF, que é uma modalidade de execução concursal forçada, o PEPT se assemelha mais a um modelo de recuperação judicial trabalhista, com a diferença que aqui não há possibilidade de deságio ou carência. Importante: se antes o devedor podia eleger quais os processos contra si em fase de execução definitiva que desejasse participar do programa de parcelamento da dívida, hoje tal eleição não é mais prevista diante da revogação do §1º do art. 151 da CPCG-JT. Segundo o previsto no art. 151-A da Consolidação, o PEPT alcançará todos os processos em fase de execução definitiva relacionados no ato de apresentação do requerimento e deverá englobar a dívida total consolidada do devedor naquela data. Está permitido, consoante o § 1º do art. 151-A da CPCG-JT, mediante requerimento do devedor, a inclusão de processos em fase de execução definitiva que tenham sido iniciados posteriormente ao deferimento do PEPT, desde que sejam atendidos os seguintes requisitos: I – o plano original esteja com os pagamentos regulares; II – a repactuação da dívida consolidada permita a quitação dos processos incluídos no prazo do deferimento original do PEPT, salvo a exceção prevista no § 2º; III – haja, caso necessário, complemento da garantia, de modo a abranger a dívida consolidada atualizada objeto de repactuação. A exceção do § 2º do art. 151-A da CPCG-JT prevê que a Corregedoria Regional poderá, mediante requerimento do devedor e ouvido o juízo centralizador de execução, deferir acréscimo de prazo ao originariamente fixado para o plano de pagamento, desde que respeitado o máximo de seis anos estabelecido no art. 151, II, desta Consolidação, bem como haja 25 demonstração pelo devedor da sua incapacidade financeira de arcar com o acréscimo de novos processos em fase de execução definitiva no prazo originariamente assinalado. O inadimplemento de quaisquer das condições estabelecidas implicará a revogação do PEPT, a proibição de obter novo plano pelo prazo de dois anos e a instauração de REEF em face do devedor (art. 151-A, § 3º, da CPCG-JT). Se o pedido de instauração do PEPT tiver como objetivo o parcelamento de débito referente a processos em fase de execução definitiva, em curso no âmbito de um único Tribunal Regional, deverá ser apresentado ao Corregedor Regional respectivo, em classe processual própria (art. 152 da CPCG-JT). A decisão do Corregedor Regional deverá ser referendada pelo Órgão Especial, se houver, ou pelo Tribunal Pleno, sempre em decisão fundamentada e observados os parâmetros estipulados nesta Seção (art. 152, § 1º, da CPCG- JT). Antes da decisão do Corregedor Regional, o juízo centralizador de execução deverá exarar parecer fundamentado quanto ao atendimento dos requisitos exigidos pelo art. 151 desta Consolidação (art. 152, § 2º, da CPCG- JT). A decisão do Corregedor Regional, assim como a do Órgão Especial, se houver, ou do Tribunal Pleno, não estarão vinculadas ao referido parecer (art. 152, § 3º, da CPCG-JT). É possível a instauração de PEPT no âmbito de mais de um Tribunal Regional. A regulamentação se encontra no art. 152-A da CPCG-JT. Neste caso, o pedido de instauração do PEPT com o objetivo de parcelamento do débito referente a processos em fase de execução definitiva deverá ser apresentado ao Corregedor do Tribunal Regional com maior número de processos em fase de execução definitiva deste devedor, cabendo lhe atender, além do exigido no art. 151 desta Consolidação, os seguintes requisitos: a) especificar os Tribunais Regionais onde se localizam os processos; b) apresentar os documentos de que trata o art. 151, I, desta Consolidação em relações individualizadas referentes a cada um dos Tribunais Regionais onde se processem as execuções que se pretende parcelar por meio do PEPT, assim como resumo global da dívida consolidada. A centralização de execuções, no âmbito de mais de um Tribunal Regional, dependerá de termo de cooperação judiciária firmado entre os Tribunais Regionais que possuam processos em fase de execução definitiva do 26 devedor requerente, devendo observar as diretrizes constantes nesta Consolidação (§ 1º do art. 152-A da CPCG-JT). A decisão do Corregedor Regional que aderir à execução reunida em mais de um Tribunal Regional deverá ser referendada pelo respectivo Órgão Especial, se houver, ou pelo Tribunal Pleno (§ 2º do art. 152-A da CPCG-JT). O insucesso do PEPT que tramitar no âmbito de mais de um Tribunal Regional acarretará a extinção do termo de cooperação judiciária, devendo os REEFs serem processados regionalmente, a cargo de cada juízo centralizador de execução local, observando-se os processos em fase de execução definitiva da competência de seu Tribunal Regional (§ 3º do art. 152-A da CPCG-JT). O termo de cooperação judiciária firmado pelos Tribunais Regionais deverá ser explícito em relação à periodicidade de pagamentos e aos critérios de repasse aos juízos centralizadores de execução dos Tribunais Regionais envolvidos (§ 4 do art. 152-A da CPCG-JT). O acréscimo de processosde que trata o § 1º do art. 151-A desta Consolidação, assim como a alteração de prazos do PEPT que resultar no parcelamento de débito referente a processos em fase de execução definitiva em curso no âmbito de mais de um Tribunal Regional, dependerá da observância dos incisos I a III do dispositivo acima mencionado, além da anuência dos demais Tribunais Regionais aderentes (§ 5º do art. 152-A da CPCG-JT). O termo de cooperação judiciária definirá o juízo centralizador de execução do PEPT no âmbito de mais de um Tribunal Regional. A recusa do procedimento em um dos Tribunais Regionais não impede que o pleito do devedor seja processado nos Tribunais Regionais onde houver a aprovação (§s 6º e 7º do art. 152-A da CPCG-JT). Durante a análise do requerimento do devedor, o juízo centralizador de execução poderá, a qualquer tempo, formular sugestões de alteração, acréscimo ou supressão de cláusulas, exigir a apresentação de novos documentos, determinar diligências, bem como adotar quaisquer outras medidas que contribuam para a elaboração de proposta de plano de pagamento com melhor exequibilidade (art. 152-B da CPCG-JT). Instaurado o procedimento e concluída a proposta do devedor, o Corregedor Regional deverá submeter sua decisão sobre a matéria ao Tribunal Pleno ou Órgão Especial, a quem competirá: I – avaliar o atendimento dos requisitos exigidos para a instauração do PEPT; II – fixar o prazo de duração, observado o disposto no inciso II do art. 151 e no § 2º do art. 151 – A desta Consolidação, e o valor a ser pago 27 periodicamente, considerando, nos dois casos, o montante da dívida total consolidada, bem como os correspondentes créditos previdenciários e fiscais; III – prever a distribuição dos valores arrecadados, observado o disposto nos arts. 148-A, V, e 150-A, caput, e parágrafo único, da presente Consolidação; IV – acolher o processo judicial que servirá como piloto, indicado pelo juízo centralizador de execução, para a prática dos atos jurisdicionais posteriores à aprovação do PEPT, no qual serão concentrados todos os atos referentes ao cumprimento do plano; V – referendar, ou não, após votação do órgão colegiado competente, a decisão do Corregedor Regional acerca do procedimento de instauração do PEPT. (art. 152-C e seus parágrafos da CPCG-JT). Sempre que, por circunstâncias imprevistas e não imputáveis ao devedor, o plano inicialmente aprovado se revelar inexequível, o devedor poderá apresentar novo plano, atendidos os requisitos do art. 151 da Consolidação, o qual deverá vir acompanhado de provas das circunstâncias supervenientes, e será objeto de nova decisão pelo órgão colegiado competente, igualmente segundo critérios de conveniência e oportunidade, observado o disposto no art. 152 da Consolidação. Caso o novo plano seja rejeitado ou se revele inviável, seguir-se-á a instauração de REEF em face do devedor (art. 152-D e seu parágrafo da CPCG-JT). Ficam suspensas as medidas constritivas nos processos em fase de execução definitiva relacionados no requerimento do PEPT a partir da sua aprovação pelo Tribunal Pleno ou Órgão Especial. A fluência do prazo prescricional intercorrente dos processos em fase de execução definitiva incluídos no PEPT suspende-se durante sua vigência (art. 152-E e seu parágrafo da CPCG-JT). Prevê o art.152-F que os recursos informados no plano apresentado pelo devedor e destinados para o PEPT, ou em caso de REEF, poderão observar as seguintes disposições, se outras não forem estipuladas pelos Tribunais Regionais: I – a limitação de 50% do montante mensal repassado pelo devedor para fins de conciliação; (Incluído pelo Provimento n. 1/CGJT, de 19 de agosto de 2022) II – caso seja aplicado deságio de no mínimo 30% do valor da dívida original acrescida de juros e correção monetária, para efeitos de conciliação, o respectivo processo será elegível para pagamento dentro da ordem de preferência estipulada pelo Tribunal Regional; III – os valores destinados à conciliação deverão ser ofertados de forma isonômica para os credores; IV – os valores destinados à conciliação e não utilizados no mês serão destinados, no mês subsequente, ao pagamento dos demais créditos do 28 PEPT ou REEF não elegíveis na ordem de preferência ou que não sejam objeto de acordo; Parágrafo único. Observado o regramento deste artigo, deverá ser obedecida a ordem de pagamento, iniciando-se pelo processo mais antigo. O PEPT será revisado pelo juízo centralizador de execução a cada 12 (doze) meses, se outro período inferior não houver sido fixado por ocasião do deferimento do plano. O devedor e as empresas integrantes de seu grupo econômico ficam impedidos de requerer novo PEPT pelo prazo de 24 (vinte e quatro) meses após a extinção do PEPT anterior, mesmo que este tenha sido cumprido, parcial ou integralmente, ou convolado em REEF, ressalvados casos excepcionais, a critério do órgão colegiado competente. Consoante arts. 152-G e 152-H da CPCG-JT. 3.5. Do Regime Centralizado de Execução – RCE O RCE foi disciplinado pela Lei nº 14.193/2021 e destina-se única e exclusivamente às entidades de prática desportiva definidas nos incisos I e II do § 1º do art. 1º e que tenham dado origem à constituição de Sociedade Anônima de Futebol na forma do art. 2º, II, da referida lei. A Sociedade Anônima do Futebol que tenha interesse na elaboração e execução de plano para pagamento do passivo trabalhista observará a disciplina de procedimento de reunião de execuções prevista para os demais devedores (PEPT), sendo vedada a utilização das regras previstas nesta Subseção, independentemente de os clubes ou pessoas jurídicas originárias serem beneficiados, ou não, pelo regime de RCE. A Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho autoriza que os Tribunais Regionais regulamentem de forma mais minuciosa o REEF e o PEPT. Aqui trazemos os normativos de alguns deles, bastando clicar sobre eles se quiser conhecê-los melhor. TRT da 1ª Região TRT da 4ª Região TRT da 5ª Região https://bibliotecadigital.trt1.jus.br/jspui/bitstream/1001/1903880/1/Prov2019-0002_PresCorreg-C.htm chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https:/www.trt4.jus.br/portais/documento-ato/1061965/RA%2028%202022%20-%20Reuni%C3%A3o%20de%20Exec.%20%20PRE%20PEPT%20e%20REEF.pdf chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https:/www.trt5.jus.br/sites/default/files/www/normas/03_2022/0001-2020_consolida_normas_coord._de_exec._e_exprop._republicado_0.pdf 29 Quando se tratar de entidade de prática desportiva constituída nos termos do art. 2º, II, da Lei nº 14.193/2021, para efeitos de PRE, deverá ser apresentado o fluxo de caixa e a sua previsão por 3 anos, bem como indicadas as receitas ordinárias e extraordinárias, incluindo todas as formas de ganho de capital. O plano de concurso de credores do clube ou pessoa jurídica original, mencionados no caput deste artigo e que tenham optado pelo RCE do art. 13, I, da Lei nº 14.193/2021, deverá apresentar, como condição para aprovação, pagamentos mensais, nos termos dos arts. 10, I, e 15, § 2o, da citada lei, sem prejuízo de outras rendas próprias. Nos termos da Lei nº 14.193/2021, não haverá responsabilidade jurídica da SAF em relação às obrigações do clube ou pessoa jurídica original que a tiver constituído, sejam elas anteriores ou posteriores à data da sua constituição, salvo quanto às atividades específicas do seu objeto social, respondendo pelas obrigações a ela transferidas na forma do § 2º do art. 2º da aludida lei, hipótese em que os pagamentos observarão o disposto nos arts. 10 e 24 da referida lei. Previsões constantes no art. 153 da CPCG-JT e seus quatro parágrafos. O RCE é incompatível com o regime de Recuperação Judicial ou Extrajudicial, sendo que, constatado requerimento nesse sentido, anterior ou posterior ao RCE trabalhista,este último não será deferido ou será extinto perante o respectivo Tribunal Regional (art. 153-A da CPCG-JT). 4. Disposições gerais 4.1. Conceito e objetivo da recuperação judicial O art. 47 da LRF nos apresenta o conceito e o propósito da recuperação judicial, prevendo que ela tem o intento de ser um mecanismo de, como o próprio nome diz, recuperação de empresas viáveis, mas em crise econômico-financeira, voltado a superar esse momento de dificuldade, de maneira a preservar a atividade empresarial e, consequentemente, os empregos dos trabalhadores, a circulação de bens e serviços, a geração de riquezas, o recolhimento de tributos e os demais benefícios econômicos e sociais que decorrem da atividade empresarial. 30 Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Se dissociarmos os elementos mais relevantes desse dispositivo legal, vê-se que o legislador pretendeu, com uma série de limitações ou travas aos comportamentos dos credores, a serem por nós examinadas nos próximos tópicos, proteger de modo temporário a empresa em crise econômico- financeira e, por consequência, seus trabalhadores, credores e, em última ratio, a atividade econômica como um todo. Relembre-se: a crise econômico-financeira se caracteriza quando o devedor temporariamente não tem recursos disponíveis para satisfazer obrigações vencidas ou a vencer, mesmo que seus ativos permanentes sejam suficientes para a satisfação de todo o passivo. Estando nesta situação de dificuldades e ciente dos macrointeresses sociais de proteção da sua atividade econômica, o devedor pode então buscar o auxílio do Estado-Juiz para, primeiro, decretar a moratória de boa parte das suas dívidas e, segundo, criar um ambiente institucional propício para a negociação com os credores por ela atingidos, com o objetivo da melhor solução comum a todos, especialmente aos trabalhadores envolvidos. 4.2. Beneficiários da recuperação judicial A recuperação judicial não é uma prerrogativa aberta a todas as pessoas naturais e jurídicas. Ao contrário, de acordo com o art. 1º da LRF, as disposições recuperacionais aplicam-se apenas àquelas que detenham a chamada natureza empresarial, isto é, exerçam, conforme o art. 966 do Código Civil, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços e estejam devidamente registrados nas Juntas Comerciais. Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 31 São eles os empresários individuais e as sociedades empresárias, nas suas diversas formas jurídicas, como, por exemplo, o microempreendedor individual, o empresário individual, a sociedade limitada unipessoal, a sociedade por quotas de responsabilidade limitada e a sociedade por ações. Além da natureza empresarial e do registro nas Juntas Comerciais, o art. 48 da LRF estabelece três outros requisitos que precisam ser simultaneamente atendidos para que os empresários individuais e as sociedades empresárias possam ingressar em recuperação judicial. São eles o exercício regular da atividade por, pelo menos, dois anos, a ausência de recuperação judicial nos últimos cinco anos e a ausência de condenação por crime falimentar, inclusive na condição de sócio. Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente, consoante previsto no § 1º do art. 48 da LRF. As antigas empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI) foram extintas e convertidas automaticamente em sociedades limitadas unipessoais (SLU) pelo art. 41 da Lei nº 14.195/21. A saber: Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data da entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato constitutivo. 32 Somam-se a todos os empresários e sociedades empresárias citados acima os produtores rurais com registro nas Juntas Comerciais. Dada a incipiência da atividade rural como uma ocupação empresária, o art. 971 do Código Civil facultou ao ruralista que atua na agropecuária ou no extrativismo de maneira profissional e habitual a possibilidade de optar pelo tratamento como empresário. Se ele quiser se inscrever no registro mercantil e atender os demais requisitos do art. 48 da LRF, poderá requerer recuperação judicial. Caso contrário, não. No mesmo sentido e com a mesma possibilidade de opção pelo regime comercial estão os clubes de futebol constituídos sob a forma de associações. A recente Lei nº 14.193/21, que criou as sociedades anônimas do futebol, incluiu um parágrafo único no art. 971 do Código Civil fixando que, se as atuais associações futebolísticas, mesmo não alterando a sua natureza jurídica para sociedades anônimas, quiserem escolher pelo regime empresarial e ter acesso, por exemplo, à recuperação judicial, basta fazer o registro nas Juntas Comerciais. Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo à associação que desenvolva atividade futebolística em caráter habitual e profissional, caso em que, com a inscrição, será considerada empresária, para todos os efeitos. 4.3. Pessoas jurídicas excluídas da recuperação judicial Por motivos de interesse público relacionado às atividades desenvolvidas por certas sociedades, o art. 2º da LRF e alguns dispositivos da legislação esparsa preveem que algumas pessoas jurídicas, ainda que sejam caracterizadas como empresárias, não possuem acesso à recuperação judicial. Art. 2º Esta Lei não se aplica a: I – empresa pública e sociedade de economia mista; II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 33 Assim é que no rol das pessoas excluídasda recuperação judicial temos primeiro as empresas públicas e sociedades de economia mista, valendo ressaltar que está sob julgamento no STF o RE nº 1.249.945/MG, com repercussão geral reconhecida (Tema de Repercussão Geral nº 1101), que trata da possibilidade excepcional de aplicação do regime de falência e recuperação judicial às empresas estatais que exploram atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, na maneira do art. 173, § 1º, inciso II, da Constituição Federal. Além delas, também estão excluídas as instituições financeiras, as cooperativas de crédito, as operadoras de consórcios, as entidades de previdência complementar, as sociedades operadoras de planos de assistência à saúde, as sociedades seguradoras e as sociedades de capitalização. Já na legislação esparsa, completam o rol as cooperativas em geral, de acordo com o art. 980 do Código Civil, os produtores rurais sem registro na Junta Comercial, conforme art. 971 do Código Civil e as concessionárias de energia elétrica, nos termos do art. 18 da Lei nº 12.767/12. Além delas, certas pessoas naturais e jurídicas, embora sejam agentes econômicos, não são consideradas empresárias por força do art. 966, A Lei nº 14.112/20, conhecida como lei da reforma recuperacional e falimentar, incluiu o §13 ao art. 6º da LRF, estendendo a recuperação judicial às sociedades operadoras de planos de assistência à saúde quando forem cooperativas médicas. Esse dispositivo foi vetado pelo Presidente da República, mas o veto restou derrubado pelo Congresso Nacional. A saber: § 13. Não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial os contratos e obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas com seus cooperados, na forma do art. 79 da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, consequentemente, não se aplicando a vedação contida no inciso II do art. 2º quando a sociedade operadora de plano de assistência à saúde for cooperativa médica. (NR) Nada obstante, a tramitação confusa da sua redação final fez com que ela não fosse aprovada nas duas casas legislativas, padecendo de problemas de inconstitucionalidade formal. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5830583 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/L12767.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm 34 parágrafo único, do Código Civil (já acima transcrito, inclusive), e também não podem se valer das regras de proteção da recuperação judicial. São os chamados profissionais intelectuais, tenham ou não empregados, e estejam ou não organizados em sociedades, como é o caso dos profissionais liberais, artistas, escritores e técnicos com alguma formação profissional. Art. 966. (...) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 4.4. Representação processual do devedor Ao deferir o processamento da recuperação, o art. 52, inciso I, da LRF estabelece que o Juiz da Vara Empresarial nomeie um administrador judicial, que pode ser pessoa natural ou jurídica, e cujos encargos e atribuições estão no art. 22, incisos I e II, da LRF. Nada obstante, temos que ter em mente que essa nomeação não altera a representação do devedor em Juízo, o qual normalmente segue na condução da atividade empresarial e continua com legitimidade para defender seus interesses. Ou seja, ao contrário do que ocorre na quebra, o administrador da recuperação não tem a atribuição de assumir a representação judicial do devedor. Todavia, existem as hipóteses de afastamento do devedor da gestão do negócio, previstas no art. 64 da LRF. Exemplificativamente, isso pode ocorrer quando o empresário individual ou o sócio, acionista ou administrador de sociedade empresária tiver praticado crimes falimentares, agido com dolo, simulação ou fraude contra os seus credores, descapitalizado injustificadamente a empresa, ou efetuar gastos pessoais excessivos em relação a sua situação patrimonial. Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob Conforme pacificado na jurisprudência do STJ (REsp nº 1.227.240/SP, 4ª Turma, julgado em 18/06/2015), as sociedades de advogados sempre serão consideradas simples e não podem se beneficiar da recuperação judicial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 35 fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles: I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem econômica previstos na legislação vigente; II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei; III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores; IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas: a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação patrimonial; b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gênero do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas; c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações prejudiciais ao seu funcionamento regular; d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial; V – negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais membros do Comitê; VI – tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador, que será substituído na forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial. Nessa situação excepcional, o devedor será afastado e substituído não pelo administrador judicial antes nomeado pelo Juiz da Vara Empresarial, mas por um gestor judicial eleito pela assembleia geral de credores, o qual, este sim, na forma do caput do art. 65 da LRF, assumirá a administração das atividades empresariais e, por consequência, a representação do devedor em Juízo. Art. 65. Quando do afastamento do devedor, nas hipóteses previstas no art. 64 desta Lei, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumirá a administração das atividades do devedor, aplicando-se-lhe, no que couber, todas as normas sobre deveres, impedimentos e remuneração do administrador judicial. 36 5. Créditos sujeitos à recuperação judicial O caput do art. 49 da LRF consagra a regra geral a de que são apenas os créditos existentes ou já constituídos por ocasião da distribuição do pedido de recuperação judicial que a ela se submetem, sejam eles vencidos ou vincendos. E salientemos que existência e constituição do crédito são conceitos de direito material desvinculados de marcos processuais como o ajuizamento da reclamatória trabalhista, o trânsito em julgado da sentença ou a sua liquidação. Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. Um crédito existe e é constituído a partir da data de ocorrência do seu fato gerador, não obstantesó venha a ser reconhecido por sentença posteriormente. Salvo uma ou outra exceção, a decisão judicial condenatória somente reconhece o crédito, mas não o constitui. Assim é que créditos decorrentes de prestação de trabalho anterior ao pedido de recuperação judicial, mas cuja reclamatória trabalhista tenha sido ajuizada depois dele, ou mesmo cuja sentença tenha transitado em julgado ou sido liquidada após, submetem-se normalmente aos efeitos da recuperação. E aqui também se incluem alguns créditos acessórios, como os honorários advocatícios de sucumbência e os honorários, emolumentos, etc. dos auxiliares do Juízo. Esta, aliás, é a jurisprudência vinculante do STJ fixada no REsp nº 1.843.332/RS, julgado em 09/12/2020 (Tema nº 1.051 da tabela de recursos repetitivos do STJ), o qual se aplica não somente para os créditos trabalhistas, honorários advocatícios, créditos dos auxiliares do Juízo, etc., mas também para todos os demais créditos, com origem judicial ou não, que se submetem à recuperação judicial. Tema Repetitivo nº 1051 do STJ. Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador. A natureza alimentar dos honorários de advogado foi consagrada pela Súmula Vinculante nº 47 do STF e, posteriormente, pelo art. 85, §14, do CPC. A 3ª Turma do STJ, no REsp nº 1.722.673/SP, julgado em 13/03/2018, já estendeu essa mesma natureza aos honorários periciais estipulados em ações judiciais. https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201903100530&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201903100530&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula806/false https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201702192136&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 37 Dito isso, a conclusão é de que o trabalhador que, ao tempo do pedido de recuperação judicial do devedor, não possui créditos líquidos, deve ter em mente que pode prosseguir normalmente com sua reclamatória trabalhista, pois, como veremos logo adiante, ela não é atingida pela ordem de suspensão de ações e execuções dada pelo Juízo da Vara Empresarial quando do processamento da recuperação judicial, no modo do art. 52, inciso III, da LRF. Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...) III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no Juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei; Outrossim, esse trabalhador pode requerer ao Juiz do Trabalho que solicite ao Juízo da Vara Empresarial a reserva dos valores que forem estimados como devidos na reclamatória trabalhista até a liquidação do crédito, de acordo com o art. 6º, §3º, da LRF, com as finalidades de inclusão na lista ou no quadro geral de credores e de garantia de voto na assembleia geral de credores. Art. 6º. (...) § 1º Terá prosseguimento no Juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. § 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença. § 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na A Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso I, da Seção Especializada em Execução do TRT da 9ª Região e a Tese Jurídica nº 02 do TRT da 12ª Região vão ao encontro desse entendimento, fixando que a execução contra a massa falida ou empresa em processo de recuperação judicial é de competência da Justiça do Trabalho apenas até a fixação dos valores como incontroversos e a expedição da certidão de habilitação do crédito. 38 recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria. Neste ponto, a atual LRF modificou disposição da antiga legislação falimentar, qual seja, o art. 24, §3º do Decreto nº 7.661/45 (revogada, inclusive), que previa que era o próprio credor trabalhista que devia encaminhar seu pedido de reserva diretamente ao Juízo da Vara Empresarial. Na regra atual, tal determinação de reserva deve ser feita pelo Magistrado do Trabalho, a requerimento do interessado, mediante a expedição de ofício. Todavia, caso as partes não estejam representadas por advogados o Magistrado deverá expedir o ofício por sua iniciativa consoante art.878 da CLT. Por outro lado, créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho constituídos posteriormente ao ajuizamento da recuperação são considerados extraconcursais e, além de não se submeterem automaticamente às regras de eventual plano de recuperação judicial, seguem sendo executados na Justiça do Trabalho, nos autos da reclamatória trabalhista, salvo ajuste diverso entre o reclamante e a empresa recuperanda. Em acréscimo, ainda gozam de privilégio especial em eventual falência, na medida em que o art. 67 da LRF os considera extraconcursais também neste procedimento, o que significa que serão pagos antes dos credores concursais relacionados na ordem hierárquica do art. 83 da LRF, a ser examinado mais para a frente. Art. 67. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais, em caso de decretação de falência, respeitada, no que couber, a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. Entretanto, existem problemas extras para os credores extraconcursais. A manutenção da competência trabalhista nessas situações acarreta prós e contras para a parte reclamante, que precisam ser sopesados quando da atuação concreta e que podem ou não levar à conveniência de ajuste individual quanto à sua inclusão retardatária no plano de recuperação judicial. Atenção especial às reclamatórias trabalhistas ajuizadas depois da distribuição do pedido de recuperação judicial, pois podem conter créditos trabalhistas híbridos, ou seja, créditos que se sujeitam à recuperação e créditos que não se sujeitam a ela, conforme a sua data de constituição. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 39 Por um lado, não há dúvida alguma de que o prosseguimento da execução na Justiça do Trabalho entrega ao reclamante titular de crédito extraconcursal um arsenal de ferramentas jurídicas voltadas para a sua satisfação mais célere, que vão desde a simples penhora online até a desconsideração da personalidade jurídica da parte em recuperação judicial. Por outro, em face de esta atuação na reclamatória trabalhista por vezes atingir bens de capital afetados pela recuperação judicial, não é incomum haver conflitos de competência com o Juízo da Vara Empresarial, provocando a paralisação das execuções singulares. Verdade seja dita, tão frequentes eram esses conflitos de competência que a lei da reforma recuperacional e falimentar, acompanhando jurisprudência firme do STJ (AgRg no CC nº 119.203/SP, julgadoem 26/03/2014), incluiu os §§7º-B e 11 no art. 6º da LRF, estabelecendo que o Juiz da Vara Empresarial pode obstar certas constrições feitas pela Justiça do Trabalho e, em um juízo de menor onerosidade ao devedor, determinar a sua substituição, quando recaírem sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial. Art. 6º. (...) §7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do Juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido Código. §11. O disposto no § 7º-B deste artigo aplica-se, no que couber, às execuções fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem respectivamente nos incisos VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição Federal, vedados a expedição de certidão de crédito e o arquivamento das execuções para efeito de habilitação na recuperação judicial ou na falência. Bens de capital, também conhecidos como bens de produção, são ativos que as empresas possuem com o objetivo de fabricar bens de consumo ou executar serviços para seus clientes. Eles são divididos em matérias-primas e nos chamados bens intermediários, estando nesta categoria unidades fabris, máquinas, motores e ferramentas de modo geral, caminhões, etc. Não é muito fácil se estabelecer aprioristicamente quais são os bens de capital essenciais à manutenção da atividade. De maneira conceitual, serão incluídos nesta categoria os que, se removidos da empresa, interrompem a produção ou inviabilizam o empreendimento. Contudo, como a casuística https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201102353541&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 40 guarda muita subjetividade sobre tal conceito e como a decisão final sobre a essencialidade de um bem de capital da recuperanda cabe ao Juiz da Vara Empresarial, as decisões são variadas e voltadas ao caso concreto. Para fechar, vale dizer que, embora originalmente os §§7º-B e 11 do art. 6º da LRF tenham sido endereçados às execuções de multas impostas pela fiscalização do trabalho e de contribuição previdenciária decorrente de condenações trabalhistas, com muita tranquilidade hermenêutica é possível dizer que se aplicam analogicamente à execução de créditos extraconcursais. 6. Créditos excluídos da recuperação judicial Foi examinado no item anterior um primeiro grupo de credores que não se submetem à recuperação judicial: aqueles cujos créditos, independentemente da sua natureza, foram constituídos depois do dia em que o devedor ingressou em Juízo com o pedido de recuperação judicial. Neste momento, a lista será complementada com a identificação de outras situações de créditos extraconcursais, em especial as mais relevantes para os processos trabalhistas. 6.1. Crédito fiscal tributário 6.1.1. Imposto de renda incidente sobre créditos do trabalhador Por força do art. 187 do Código Tributário Nacional (CTN), sabemos que o crédito fiscal em geral não se sujeita à habilitação em recuperação judicial. Essa mesma norma, embora com diferente dicção, vem repetida no art. 5º da Lei nº 6.830/80 e no art. 6º, §7º-B da LRF, que estabelecem que a Como a sujeição de um crédito à recuperação judicial depende da data da sua constituição, é necessário saber qual é o momento de constituição dos honorários advocatícios de sucumbência e periciais. Quanto aos advocatícios, o art. 85 do CPC deixa claro que eles se constituem no momento da sua fixação, ou seja, na sentença. Pensamos que o mesmo caminho seguem os honorários periciais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 41 suspensão das ações e execuções decorrentes da decisão que defere o processamento da recuperação judicial não atinge as execuções fiscais. Art. 5º. A competência para processar e julgar a execução da Dívida Ativa da Fazenda Pública exclui a de qualquer outro Juízo, inclusive o da falência, da concordata, da liquidação, da insolvência ou do inventário. A dúvida neste tópico é saber se o imposto de renda incidente sobre os créditos tributáveis do trabalhador reconhecidos em reclamatória trabalhista pode ou não ser enquadrado na exceção acima e, por conseguinte, ser excluído da recuperação judicial. Além disso, em sendo a resposta positiva, saber então se a sua execução prosseguiria na Justiça do Trabalho, nos próprios autos da ação, ou se seria dirigida para a Justiça Federal, mediante prévia expedição de certidão de crédito, lançamento de dívida ativa e ingresso de ação própria pela Fazenda Pública. A resposta deve ser iniciada pelo final, pois, embora até pareça engenhoso entender pelo prosseguimento da execução nos próprios autos da reclamatória trabalhista, por conta da natureza fiscal tributária do imposto de renda, esta talvez seja a solução hermeneuticamente menos adequada. O ponto é que há uma óbvia relação de interdependência e acessoriedade entre o pagamento do crédito trabalhista e o imposto de renda, pelo que, a despeito de o tributo já estar previamente calculado na reclamatória trabalhista, seu fato gerador efetivamente ocorrerá quando houver a aquisição de disponibilidade econômica de renda, nos termos do art. 43 do CTN. Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; Em outras palavras, um ponto é a apuração dos valores devidos a título de imposto de renda sobre os rendimentos pagos em cumprimento de decisão judicial e recebidos acumuladamente, que deve observar o regime de caixa híbrido fixado no art. 12-A da Lei nº 7.713/88, mediante a utilização de tabela progressiva, conforme nos explica a Súmula nº 368, inciso VI, do TST. Outro ponto é a ocorrência do seu fato gerador, que só se configura na medida em que os rendimentos forem percebidos. Súmula nº 368 do TST. (...) VI – O imposto de renda decorrente de crédito do empregado recebido acumuladamente deve ser calculado sobre o montante dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com a redação conferida pela Lei nº 42 13.149/2015, observado o procedimento previsto nas Instruções Normativas da Receita Federal do Brasil. Sujeitar o crédito trabalhista principal à recuperação judicial e prosseguir na Justiça do Trabalho com a execução do imposto de renda acessório criaria, além de problemas quanto à inexigibilidade desta parcela antes do recebimento daquela, uma verdadeira incoerência sistêmica, a qual aparece também e pelos mesmos motivos na segunda opção de resposta ao problema, a de expedição de certidão de crédito, lançamento de dívida ativa e ingresso de ação própria pela Fazenda Pública, na Justiça Federal. Por isso, pondera-se que a opção mais adequada para o imposto de renda incidente sobre os créditos tributáveis do trabalhador reconhecidos em Juízo é a sua submissão ao Juízo da recuperação judicial, acompanhado do crédito principal, para que também se atenda o art. 46 da Lei nº 8.541/92, que positiva que o imposto de renda incidente sobre rendimentos pagos em cumprimentode decisão judicial será retido na fonte pela pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento, no momento em que o rendimento se torne disponível para o beneficiário. Art. 46. O imposto sobre a renda incidente sobre os rendimentos pagos em cumprimento de decisão judicial será retido na fonte pela pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento, no momento em que, por qualquer forma, o rendimento se torne disponível para o beneficiário. Disso resulta, que o melhor procedimento quando da expedição de certidão de crédito ao trabalhador é nela informar tanto o crédito bruto, quanto o crédito líquido que forem apurados em liquidação de sentença, com ordem de retenção e recolhimento do imposto de renda pela recuperanda quando efetivamente ocorrerem os pagamentos perante o Juízo da Vara Empresarial. O tema será retomado adiante. 6.1.2. Contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista A despeito de o art. 51 da Lei nº 8.212/91 positivar de longa data que as contribuições previdenciárias são equiparadas ao crédito fiscal tributário e que, consequentemente, não se sujeitam à recuperação judicial, e da jurisprudência do STJ favorável ao prosseguimento das execuções do crédito previdenciário na Justiça do Trabalho (CC nº 107.213/SP, julgado em 30/09/2009), a verdade é que não é tão difícil encontrar atos processuais ou mesmo jurisprudência rejeitando o prosseguimento da execução na Especializada. Isto ocorre, em especial, pelos potenciais, ou melhor, inevitáveis conflitos de competência com o Juízo da Vara Empresarial na fase de https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.3&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&num_registro=200901653706 43 constrição e alienação de bens (AgRg no CC nº 122.412/RJ, julgado em 16/10/2013). Art. 51. O crédito relativo a contribuições, cotas e respectivos adicionais ou acréscimos de qualquer natureza arrecadados pelos órgãos competentes, bem como a atualização monetária e os juros de mora, estão sujeitos, nos processos de falência, concordata ou concurso de credores, às disposições atinentes aos créditos da União, aos quais são equiparados. Assim, expedia-se a certidão de crédito previdenciário e o arquivamento, mesmo que provisório, da reclamatória trabalhista. Entretanto, a recente lei da reforma recuperacional e falimentar passou a proibir expressamente este procedimento. A Lei nº 14.112/20 incluiu o §11 no art. 6º da LRF, que estipula que a execução de ofício da contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial e que deve prosseguir nos próprios autos da reclamatória trabalhista, vedados a expedição de certidão de crédito e o arquivamento das execuções para efeito de habilitação na recuperação judicial. Art. 6º. (...) §11. O disposto no § 7º-B deste artigo aplica-se, no que couber, às execuções fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem respectivamente nos incisos VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição Federal, vedados a expedição de certidão de crédito e o arquivamento das execuções para efeito de habilitação na recuperação judicial ou na falência. Além disso, como foi visto no tópico dos credores sujeitos à recuperação, tal dispositivo faz remissão ao art. 6º, §7º-B, da LRF, fixando que, em que pese a Justiça do Trabalho prosseguir com a competência material para a execução da contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista, o Juiz da Vara Empresarial pode obstar certas constrições feitas pela Especializada e, em um juízo de menor onerosidade ao devedor, determinar a sua substituição, quando recaírem sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial. Com isso, caem em definitivo entendimentos, como o da Orientação Jurisprudencial nº 50 da Seção Especializada em Execução do TRT da 4ª Região, que concluíam pela inviabilidade do prosseguimento do processo de execução trabalhista para cobrança da parcela acessória da contribuição previdenciária de empresa sujeita a processo falimentar ou recuperação judicial. https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201200918305&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 44 Art. 6º. (...) §7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do Juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido Código. Logo, não há alternativa que não seja o prosseguimento da execução desses créditos na Justiça do Trabalho, com a sugestão de que, à luz do art. 6º, §7º-B, da LRF, sejam buscadas soluções cooperativas e em diálogo com o Juiz da Vara Empresarial por meio dos acordos de cooperação previstos no art. 69 do Código de Processo Civil. O novo art. 68 da LRF garantiu melhores prazos para parcelamento dos créditos fiscais tributários para empresas em recuperação judicial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm https://youtu.be/lNy0QH-7QQY?t=5760 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 45 6.2. Crédito fiscal não tributário 6.2.1. Custas processuais Crédito de natureza fiscal não é sinônimo de crédito com origem tributária. Esses conceitos guardam entre si uma relação de continente para conteúdo, posto que, ademais dos tributos, outras prestações devidas à Fazenda Pública e descoladas do conceito previsto no art. 3º do CTN também são entendidas como crédito fiscal. O art. 39, §2º, da Lei nº 4.320/64 traz alguns exemplos de crédito fiscal não tributário, elencando como tais empréstimos compulsórios, preços de serviços públicos, indenizações, foros, laudêmios, alugueis, taxas de ocupação e, no que mais nos interessa aqui, as custas processuais. Art. 39. (...) §2º. Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natureza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária são os demais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei, multa de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros, laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços de serviços prestados por estabelecimentos públicos, indenizações, reposições, restituições, alcances dos responsáveis definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações em moeda estrangeira, de sub-rogação de hipoteca, fiança, aval ou outra garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais. Custas processuais, por conseguinte, são espécie de crédito fiscal não tributário e devem ser analisadas de forma apartada porque a solução a ser dada a elas na recuperação judicial é diferente daquela referente ao imposto de renda incidente sobre os créditos tributáveis do trabalhador. E assim se diz porque, para as custas processuais de reclamatórias trabalhistas, avalia-se que o melhor caminho é o da exegese direta do art. 5º da Lei nº 6.830/80 e do art. 6º, §7º-B da LRF, que estabelecem que todo o crédito fiscal, independentemente da sua origem tributária ou não, não se sujeita à recuperação judicial. Essa tese preliminar conduz a duas possibilidades. A primeira é a do prosseguimento da execução na Justiça do Trabalho, nos próprios autos da reclamatória trabalhista e a segunda é a da expedição decertidão de crédito à Fazenda Pública, para lançamento de dívida ativa e ingresso de ação própria na Justiça Federal. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 46 Embora a adoção de imediato da segunda conclusão possa ser pensada a princípio, não há muito sentido prático e jurídico por três razões. Razão 1: a Justiça do Trabalho tem competência material para executar as custas processuais decorrentes das ações que nela tramitam nos próprios autos destas, não exigindo o art. 6º, §7º-B, ou qualquer outro da LRF, para que se opere a exclusão de crédito fiscal da recuperação judicial, que se esteja no cenário de uma ação de execução fiscal típica, aquela baseada em certidão de dívida ativa em que a Fazenda Pública é a autora. Como a segregação do crédito fiscal da recuperação é regra de direito material, irrelevante a natureza da ação onde ele esteja sendo executado, se reclamatória trabalhista ou execução fiscal típica, pois, quanto às custas processuais, nenhuma delas sofre os efeitos dos três incisos do caput do art. 6º da LRF. Razão 2: como as custas processuais são crédito fiscal previamente lançado de ofício pelos Juízes do Trabalho, a expedição de certidão de crédito à Fazenda Pública também ocasionaria um segundo e desnecessário lançamento e, pior, com inscrição em dívida ativa condicionada à consolidação de valores de, no mínimo, mil reais, conforme art. 1º, inciso I, da Portaria nº 75/12, do Ministério da Fazenda. O Ministro de Estado da Fazenda, no uso da atribuição que lhe confere o parágrafo único, inciso II, do art. 87 da Constituição da República Federativa do Brasil e tendo em vista o disposto (...), resolve: Art. 1º Determinar: I - a não inscrição na Dívida Ativa da União de débito de um mesmo devedor com a Fazenda Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais); Razão 3: é que não há sequer grande benefício estatístico em proceder na expedição de certidão de crédito à Fazenda Pública, visto que, desde 19 de dezembro de 2019, o art. 114 da Consolidação de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho veda o arquivamento definitivo de ações com certidões de crédito expedidas, devendo elas serem suspensas e arquivadas provisoriamente. Art. 114. Os juízes do trabalho manterão os processos em arquivo provisório até o encerramento da Recuperação Judicial ou da falência que ela eventualmente tenha sido convolada (artigo 156 e seguintes da Lei n.º 11.101/2005). Assim, em especial nas ações que também contemplam contribuição previdenciária decorrente de condenações trabalhistas, em relação a qual está vedada a expedição de certidão de crédito, a solução mais razoável é a do prosseguimento da execução das custas processuais na Justiça do Trabalho, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 47 nos próprios autos da reclamatória trabalhista, o que, a propósito, é admitido pela Jurisprudência do STJ, conforme CC nº 116.594/GO, julgado em 19/03/2012. 6.2.2. Multas impostas pela fiscalização do trabalho Tudo o quanto foi dito acima sobre o prosseguimento da execução da contribuição previdenciária também vale para as ações e execuções relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho, pois o art. 6º, §11, da LRF dá o mesmo tratamento a este tipo de crédito fiscal não tributário. Em resumo, a execução das multas administrativas não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial e deve prosseguir nos próprios autos da ação de execução fiscal que tramita na Justiça do Trabalho, vedada a expedição de certidão de crédito e o seu arquivamento. 6.3. Outros créditos Primeiro, o art. 5º da LRF prevê que não podem ser demandados na recuperação judicial os créditos decorrentes de obrigações a título gratuito, vale dizer, os decorrentes de negócios jurídicos unilaterais, como eventual fiança, aval, hipoteca ou penhor prestados gratuitamente a terceiro pela recuperanda. Segundo, esse mesmo dispositivo legal veta a inclusão na recuperação de despesas que os credores fizerem para tomar parte nela, salvo as despesas judiciais decorrentes de litígio com o devedor necessário para reconhecer seu crédito. Assim sendo, os honorários advocatícios de sucumbência decorrentes de reclamatória trabalhista ajuizada para reconhecer créditos do trabalhador estão incluídos no processo de recuperação judicial. Honorários advocatícios contratados, por outro lado, não estão incluídos. Embora o art. 899, §10, da CLT isente as empresas em recuperação judicial do depósito recursal, elas devem comprovar o recolhimento de custas para recorrer, na forma da Súmula nº 86 do TST. https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201100734010&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_51_100.html#SUM-86 48 Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência: I – as obrigações a título gratuito; II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor. Terceiro, o art. 49, §3º, da LRF ainda exclui da recuperação judicial um significativo número de créditos garantidos pela entrega do direito resolúvel de propriedade dos bens do devedor ao credor. Aqui estão elencados os créditos do proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis e os do arrendador mercantil, modalidades contratuais normalmente utilizadas em empréstimos e financiamentos bancários. Art. 49. (...) §3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. Sem embargo, não é demais memorar que a exclusão desses créditos da recuperação judicial só ocorre em relação ao bem sobre o qual foi transferida a propriedade. Em outras palavras, o que se garante ao credor é o direito de retomada do móvel ou imóvel para fins de liquidação de créditos não adimplidos pela recuperanda, mas não a possibilidade de promover execução extraconcursal de eventual saldo devedor não coberto pelo bem alienado fiduciariamente. Eventual crédito remanescente se sujeita aos efeitos da recuperação judicial como quirografário, caso não possua outra garantia. Quarto, o art. 49, §3º, da LRF também isola da recuperação judicial os créditos do proprietário de imóvel vendido para a recuperanda, esteja ele na condição de promitente vendedor ou de vendedor com reserva de domínio, inclusive em incorporações imobiliárias, desde que os contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade. De novo, o que se garante é o direito à propriedade de bens de credor, os quais não integram o patrimônioda recuperanda. Como consequência, aqui também a exclusão está ligada exclusivamente ao direito de retomada, sendo 49 que eventual crédito excedente se sujeita aos efeitos da recuperação judicial como quirografário, caso não possua outra garantia. Nas duas situações acima descritas, o art. 49, §3º, da LRF ainda determina que, caso o bem alienado fiduciariamente, arrendado ou vendido à recuperanda seja bem de capital imprescindível à manutenção da atividade empresarial, não poderá ser retomado ou retirado do seu estabelecimento durante o chamado stay period, o período de suspensão das ações e execuções, que será abordado adiante. A quinta espécie de crédito é a prevista no art. 49, §4º, e art. 86, inciso II, ambos da LRF. São os valores entregues ao devedor em decorrência de adiantamento de contrato de câmbio para exportação. Art. 49. (...) §4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86 desta Lei. Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro: (...) II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3º e 4º, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente; Na exportação de mercadorias, o exportador precisa se socorrer de um contrato de câmbio para internalizar os recursos recebidos ela exportação. Para que não fique sem capital de giro enquanto a exportação não é paga, é possível celebrar com uma instituição financeira um adiantamento desse contrato de câmbio, com características próprias de empréstimo bancário, sem que, todavia, o montante emprestado integre juridicamente o patrimônio do devedor, segundo jurisprudência do STJ (CC nº 108.536/SP, julgado em 18/12/2009). Mais uma vez, é a proteção ao sistema financeiro o bem jurídico tutelado: a exclusão desse tipo de crédito da recuperação judicial reduz para os bancos os riscos do inadimplemento do contrato e, por consequência, estes teoricamente diminuem o spread dos juros e acabam fomentando a exportação. Em sexto lugar, elenca-se duas categorias de créditos concedidos para o produtor rural que foram introduzidos pelos §§6º a 9º do art. 49 da LRF. Referidos parágrafos excluem da recuperação judicial o crédito concedido para aquisição de propriedades rurais nos três anos imediatamente anteriores ao pedido de recuperação e os empréstimos rurais oficiais que já tiverem sido https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=200902088617&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 50 objeto de renegociação entre a instituição financeira e o produtor rural antes da recuperação. Art. 49. (...) §6º Nas hipóteses de que tratam os §§ 2º e 3º do art. 48 desta Lei, somente estarão sujeitos à recuperação judicial os créditos que decorram exclusivamente da atividade rural e estejam discriminados nos documentos a que se referem os citados parágrafos, ainda que não vencidos. §7º Não se sujeitarão aos efeitos da recuperação judicial os recursos controlados e abrangidos nos termos dos arts. 14 e 21 da Lei nº 4.829, de 5 de novembro de 1965. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) §8º Estarão sujeitos à recuperação judicial os recursos de que trata o § 7º deste artigo que não tenham sido objeto de renegociação entre o devedor e a instituição financeira antes do pedido de recuperação judicial, na forma de ato do Poder Executivo. §9º Não se enquadrará nos créditos referidos no caput deste artigo aquele relativo à dívida constituída nos 3 (três) últimos anos anteriores ao pedido de recuperação judicial, que tenha sido contraída com a finalidade de aquisição de propriedades rurais, bem como as respectivas garantias. Na exclusão dos empréstimos para a aquisição de propriedades rurais, novamente buscou-se evitar a majoração do risco de crédito e propiciar a diminuição dos juros ao produtor rural. Na retirada dos empréstimos rurais renegociados, a explicação oficial foi de assegurar que a instituição financeira que já aceitou a repactuação do seu crédito não seja submetida a uma nova negociação, agora coletiva, na recuperação judicial. Finaliza-se a listagem meramente exemplificativa com a hipótese prevista no art. 6º, §13, da LRF: não se sujeitam à recuperação judicial os créditos decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas com seus associados. Art. 6º. (...) §13. Não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial os contratos e obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas com seus cooperados, na forma do art. 79 da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, consequentemente, não se aplicando a vedação contida no inciso II do art. 2º quando a sociedade operadora de plano de assistência à saúde for cooperativa médica. O chamado ato cooperativo, que está conceituado no caput do art. 79 da Lei nº 5.764/71 pode ser qualquer ato entre a cooperativa e seus cooperados que for destinado à consecução dos objetivos sociais daquela, o que inclui, por exemplo, os contratos de empréstimo a estes. 51 Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais. Portanto, a exclusão de crédito decorrente de empréstimo a associado objetiva proteger a saúde financeira da cooperativa, pois, ainda que esta não esteja autorizada a requerer recuperação judicial, os seus associados, se detiverem a condição de empresários ou sociedades empresárias, estão. Assim, caso algum cooperado peça recuperação judicial, não poderá nela incluir crédito devido a cooperativa, independentemente da sua natureza. Com o término da exposição dessas sete categorias, acredita-se ter cumprido o objetivo de apresentar, de jeito simplificado, as principais exclusões da recuperação judicial de créditos não ligados a pessoa do trabalhador ou às reclamatórias trabalhistas, incluindo algumas novidades da lei da reforma recuperacional e falimentar. Não obstante, é preciso ressaltarmos que ainda existem diversos outros créditos que, total ou parcialmente, também gozam da prerrogativa de blindagem recuperacional. Como, todavia, nenhum deles faz parte da nossa realidade trabalhista e, mais, alguns se encontram sujeitos a divergência jurisprudencial, opta-se por não os arrolar aqui face às especificidades, inclusive regionais. Resumo da Aula 1 Nesta aula, viu-se que as execuções concursais existem tanto no âmbito da Justiça do Trabalho, quanto no domínio de outros ramos do Poder Judiciário, tendo entre si como ponto comum a orientação por um mesmo grupo de princípios. Analisou-se o PRE, bem como as figuras constitutivas REEF, PEPT e ECE consoante Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho. Averiguou-se ainda que aquelas que pertencem à competência material da Justiça do Trabalho podem se tornar um importante instrumento de 52 gerenciamento de execuções, com economia e racionalidade de atos processuais, além de segurança jurídica para as partes envolvidas. Também iniciou-se o estudo da recuperação judicial, com o apontamento do seu objetivo, beneficiários e a identificação dos créditos sujeitos a esse procedimento. Descobriu-se que o marco que define tal sujeição é a distribuição do pedido de recuperação e que por créditos constituídos até data deve-se entender aqueles cujos fatos geradores tenham ocorrido até então, o que, no caso dos créditos trabalhistas, é representado pela data da prestação de serviço. Em face disso, evidenciou-se que é possível que tenha-se, em numa mesma ação,créditos trabalhistas submetidos e não submetidos à recuperação judicial, o que gerará implicações no momento de se emitir certidões de crédito ou de se prosseguir a execução nos próprios autos da reclamatória. Além do mais, apurou-se que existem certos créditos que frequentemente estão presentes nas ações trabalhistas que jamais irão se submeter à recuperação judicial e que não sofrem seus efeitos, como a contribuição previdenciária e as custas processuais, além das multas impostas pela fiscalização do trabalho. Na próxima aula, dentre outros temas, será analisada a execução trabalhista e os créditos aqui estudados. Esperamos todos lá! 53 AULA 2 Recuperação Judicial – Parte II (Pedido e Processamento da Recuperação Judicial) 7. O pedido e o processamento da recuperação judicial 7.1. Efeitos do processamento Uma vez distribuída a petição inicial da recuperação judicial e estando atendidos todos os requisitos específicos que o art. 51 da LRF exige para esta peça, inclusive a comprovação da “crise de insolvência, caracterizada pela insuficiência de recursos financeiros ou patrimoniais com liquidez suficiente para saldar suas dívidas.”, o Juiz da Vara Empresarial deferirá o processamento da recuperação do devedor (art. 52 da LRF) . A decisão interlocutória que defere o processamento da recuperação judicial vem acompanhada de uma série de efeitos jurídicos e determinações obrigatórias arroladas no art. 6º e art. 52 da LRF, dentre os quais os mais relevantes para a Justiça do Trabalho são a suspensão das execuções, incluindo suas medidas constritivas, promovidas por esses mesmos credores e a suspensão da fluência do prazo prescricional em face dos credores impactados pela recuperação judicial. Os dois efeitos serão agora examinados. A suspensão das execuções só irá ocorrer quando da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, não sendo um efeito do simples ajuizamento da ação. Todavia, estando presentes os requisitos da tutela provisória de urgência, o art. 6º, §12 da LRF autoriza que o Juiz da Vara Empresarial antecipe os efeitos do seu processamento. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 54 7.1.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas De acordo com o art. 6º, inciso II, e com o art. 52, inciso III, da LRF, o deferimento do processamento da recuperação judicial implica, no tocante aos créditos a ela submetidos, na suspensão das execuções que tramitam contra o devedor, a qual deverá ser comunicada por ele próprio aos Juízos em que ditas demandas se encontram, por força do art. 52, §3º, da LRF. Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica: (...) II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência; (...) Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...) III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no Juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º , 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei; Outrossim, como consequência da suspensão das execuções, o art. 6º, inciso III, da LRF, estabelece, em relação a esses mesmos créditos, a proibição de qualquer meio de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição sobre os bens do devedor. Art. 6º. (...) III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência. Note-se aqui que, embora duras, especialmente para as pessoas trabalhadoras, ditas regras de paralisação das execuções singulares são motivadas pela tentativa de se criar um ambiente institucional e adequado para a negociação entre as pessoas credoras e a pessoa do devedor. Não fosse a suspensão das execuções, muito provavelmente haveria uma corrida judicial desenfreada das pessoas credoras sujeitas à recuperação judicial pelo patrimônio do devedor, com a expropriação o mais rápido possível de bens que podem ser imprescindíveis para a reestruturação da atividade e a saída da crise econômico-financeira pela qual passa a empresa, e sem interesse algum na busca da melhor solução comum a todos. 55 Em resumo, ao impor moratória legal aos credores e trancar medidas judiciais de constrição patrimonial, o Juiz da Vara Empresarial protege de modo temporário a empresa em crise, permite ao devedor uma certa reorganização negocial e obriga certos credores a ingressarem em processo concursal para negociar coletivamente com aquele a melhor alternativa para a satisfação dos seus créditos. A suspensão das execuções e medidas constritivas é conhecida no meio recuperacional como stay period e, na redação original do art. 6º, §4º, da LRF, em hipótese nenhuma deveria exceder o prazo improrrogável de cento e oitenta dias corridos, contado do deferimento do processamento da recuperação, findo o qual se retomava o direito dos credores de prosseguir com suas execuções singulares, independentemente de pronunciamento do Juízo da Vara Empresarial. A despeito da expressa disposição legal, o prazo revelou-se curto na prática e a jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de prorrogar a suspensão sempre que a demora na negociação do plano de recuperação judicial não pudesse ser imputada à empresa recuperanda (AgIntAgr no REsp nº 443.665/RS, julgado em 15/09/2016), como ocorre na demora de publicação de editais pelo cartório, no atraso da apresentação da lista de credores pelo administrador judicial, em suspensões reiteradas das sessões da assembleia geral de credores, etc. De outra parte, na jurisprudência trabalhista chegou a se formar algum entendimento quanto à possibilidade de retomada automática da execução na reclamatória singular quando do término desse prazo, o que podemos ver na Tese Jurídica Prevalecente nº 9 do TRT da 3ª Região. Tese Jurídica Prevalecente nº 9 do TRT da 3ª Região. Recuperação judicial. Ultrapassagem do prazo de 180 dias. Efeitos. Ultrapassado o prazo de suspensão de 180 dias previsto no § 4º do art. 6º da Lei n. 11.101/2005, restabelece-se para o credor o direito de prosseguir na execução na Justiça do Trabalho, ainda que o crédito trabalhista já esteja inscrito no quadro geral de credores. (Oriunda do julgamento do IUJ suscitado nos autos do processo AP 0010557-26.2014.5.03.0041. RA 103/2016, disponibilização: DEJT/TRT- MG/Cad. Jud. 19, 20 e 23/05/2016) Ao fim, o entendimento jurisprudencial firmado na tese prevalecente n. 9 está superado face a da reforma recuperacional e falimentar, que modificou o De acordo com a jurisprudência do STJ (REsp nº 1.698.283/GO, julgado em 21/05/2019), o prazo de suspensão, assim como os demais prazos da LRF, deve ser sempre contado em dias corridos, e não em dias úteis. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201303995500&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201303995500&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.eahttps://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201702350663&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 56 art. 6º, §4º, da LRF. O dispositivo agora, além de não contar mais com as expressões peremptórias de impossibilidade de dilação dos cento e oitenta dias, passou a autorizar uma única prorrogação desse prazo por outros cento e oitenta, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal inicial. Art. 6º. (...) §4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado do deferimento do processamento da recuperação, prorrogável por igual período, uma única vez, em caráter excepcional, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal. Dentro desse interregno de até trezentos e sessenta dias, além das providências do art. 52 da LRF e da formação da lista e do quadro geral de credores poderão existir objeções ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor. Esse tema será retomado adiante. Neste caso, a assembleia geral de credores será convocada para deliberar sobre o plano e, em caso de aprovação, as reclamatórias trabalhistas em fase de execução e outras execuções singulares de créditos sujeitos à recuperação permanecerão suspensas até o término do período de dois anos de fiscalização judicial previsto no art. 61 da LRF, caso o Juiz da Vara Empresarial o entenda necessário. Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá determinar a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam cumpridas todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial, independentemente do eventual período de carência. Já na eventualidade de rejeição do plano de recuperação judicial do devedor, os “até trezentos e sessenta dias de suspensão já deferidos” poderão ser adicionados de “até outros cento e oitenta”, caso a assembleia geral de credores resolva apresentar plano de recuperação judicial alternativo, segundo os ditames do art. 6º, §4º-A, inciso II, e do art. 56, §4º, ambos da LRF. Art. 6º. (...) Ainda não há jurisprudência sobre o novo prazo ser peremptório ou dilatório, mas, a observar o ocorrido no regime legal anterior, a tendência é de, excepcionalmente, serem admitidas prorrogações adicionais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 57 II - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão por 180 (cento e oitenta) dias contados do final do prazo referido no §4º deste artigo, ou da realização da assembleia-geral de credores referida no §4º do art. 56 desta Lei, caso os credores apresentem plano alternativo no prazo referido no inciso I deste parágrafo ou no prazo referido no §4º do art. 56 desta Lei. Art. 56. (...) §4º Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial submeterá, no ato, à votação da assembleia-geral de credores a concessão de prazo de 30 (trinta) dias para que seja apresentado plano de recuperação judicial pelos credores. A despeito da hipótese de rejeição do plano do credor, note-se que a suspensão das execuções singulares prosseguirá, agora indefinidamente, mesmo se a assembleia geral concluir por não apresentar plano alternativo, pois, nesse caso, o §8º do art. 56 da LRF estabelece a convolação da recuperação judicial em falência. Finalmente, na contingência de o plano do credor ainda não ter sido apreciado ao final dos trezentos e sessenta dias de suspensão, o art. 6º, §4º-A, tal como na sua rejeição, faculta aos credores a apresentação de plano de recuperação judicial alternativo, circunstância que também pode levar ao prazo adicional previsto de até cento e oitenta dias acima tratado. Art. 6º. (...) §4º-A. O decurso do prazo previsto no § 4º deste artigo sem a deliberação a respeito do plano de recuperação judicial proposto pelo devedor faculta aos credores a propositura de plano alternativo, na forma dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 56 desta Lei, observado o seguinte (...) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://youtu.be/lNy0QH-7QQY?t=1316 58 7.1.1.1. Exceções à suspensão das execuções e medidas constritivas Sobre as exceções à suspensão das execuções e medidas constritivas é de ser mencionado que não são afetadas pelos efeitos da ordem de suspensão processual e das medidas constritivas as execuções decorrentes dos créditos não sujeitos à recuperação judicial, já examinados previamente. Assim é que prosseguem normalmente na Justiça do Trabalho as execuções de contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista, de custas processuais, de multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho e de trabalhadores cujos créditos foram constituídos depois do dia em que o devedor ingressou em Juízo com o pedido de recuperação judicial, observado, quanto às medidas constritivas adotadas o já mencionado art. 6º, §7º-B, da LRF. Também deve ser realçado que o stay period não paralisa eventual pretensão do credor trabalhista de imputar responsabilidade secundária a terceiro responsável solidária ou subsidiariamente. Portanto, como veremos adiante, é possível o prosseguimento normal das execuções trabalhistas em face do tomador de serviços, de empresas integrantes do grupo econômico, dos sucessores trabalhistas, dos sócios, etc., conforme decidido há tempo pelo STJ no REsp nº 1.333.349/SP, julgado em 26/11/2014 (Tema nº 885 da tabela de recursos repetitivos do STJ). Tema Repetitivo nº 885 do STJ. A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005. Deve ser mencionado também, forte no disposto nos §§1º e 2º do art. 6º da LRF, que continuam sem qualquer pausa também as ações que demandem quantia ilíquida, incluídas as reclamatórias trabalhistas e ações de indenização por acidente de trabalho que tramitam na Justiça do Trabalho em fase de conhecimento ou em fase de liquidação de sentença, até a estabilização da decisão que homologou os cálculos contendo o crédito do trabalhador. Art. 6º. (...) § 1º Terá prosseguimento no Juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201201422684&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 59 § 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença. A estabilização supramencionada se dará pela não oposição de embargos à execução ou impugnação à decisão de liquidação de sentença, ou pelo trânsito em julgado da sentença que julga esses incidentes. O que ocorre é que, no acaso de a recuperanda pretender opor embargos à execução, o art. 884 da CLT exige a garantia do juízo com depósito ou penhora de bens, o que pode fomentar os conhecidos embates de ordem operacional em face do Juízo da Vara Empresarial quanto às medidas constritivasadotadas pela Justiça do Trabalho e, por que não, conflitos hermenêuticos com a própria lógica de blindagem patrimonial da recuperação judicial e os princípios do Direito e do Processo do Trabalho. A despeito destes conflitos, encontramos na jurisprudência trabalhista certo desacordo quanto a exigir-se ou não da recuperanda a garantia do juízo como requisito de admissibilidade dos embargos à execução. A jurisprudência majoritária e não sumulada do TST segue o caminho oposto, no sentido de se exigir a garantia do juízo para a oposição de embargos à execução. Ao menos seis Turmas do Tribunal Superior já têm julgamentos recentes nesse caminho (exemplificativamente, a 2ª Turma, no Ag-AIRR nº 773400-42.2008.5.09.0004, julgado em 20/08/2021. Em sentido contrário, a 8ª Turma, no AIRR nº 461300-26.2000.5.12.0037, julgado em 03/02/2021). De um lado, o TRT da 6ª Região possui tese jurídica em incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR nº 0000186- 98.2021.5.06.0000, julgado em 14/09/2021) que isenta as empresas em recuperação judicial da garantia do juízo prevista no art. 884 CLT, em interpretação analógica do art. 899, §10, da CLT e com suporte nas garantias constitucionais de acesso à Justiça, do contraditório e ampla defesa. O art. 899, §10, da CLT isenta as empresas em recuperação judicial do depósito recursal, mas o art. 884 da CLT é silente quanto à isenção da garantia do juízo para a oposição de embargos, dispensando apenas as entidades filantrópicas e os diretores dessas instituições do encargo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=773400&digitoTst=42&anoTst=2008&orgaoTst=5&tribunalTst=09&varaTst=0004&submit=Consultar https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=461300&digitoTst=26&anoTst=2000&orgaoTst=5&tribunalTst=12&varaTst=0037&submit=Consultar https://apps.trt6.jus.br/consultaAcordaos/exibirInteiroTeor?documento=22596140&tipoProcesso=eletronico https://apps.trt6.jus.br/consultaAcordaos/exibirInteiroTeor?documento=22596140&tipoProcesso=eletronico http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 60 Este Tribunal Regional é exemplificativamente acompanhado pela jurisprudência não sumulada da Seção Especializada em Execução do TRT da 4ª Região (AP nº 0001369-86.2013.5.04.0341, julgado em 19/05/2022) e por vários acórdãos de Câmaras do TRT da 12ª Região (por todas, a 6ª Câmara, AP nº 0084700-39.2000.5.12.0004, julgado em 03/02/2022). Outros defendem que a solução tecnicamente correta, porém por demais complexa e engenhosa para a realidade das reclamatórias trabalhistas, seria a de se demandar garantia do juízo ao menos dos créditos cuja execução não se suspende com o deferimento do processamento da recuperação judicial, como a contribuição previdenciária e as custas processuais. Já para aqueles em que há a suspensão da execução, como o crédito trabalhista em geral, honorários advocatícios e honorários e emolumentos dos auxiliares do Juízo, a dispensa de garantia seria a medida a se impor, por força do art. 6º, inciso III, da LRF, no tocante à proibição de penhora de bens da recuperanda. Todavia, reconhecemos que essa segmentação de garantia do juízo pela natureza do crédito dentro de uma reclamatória trabalhista com multiplicidade de credores mais atrapalha do que ajuda, principalmente quando o objetivo do principal credor nesta fase processual é simplesmente a estabilização mais rápida possível do valor que lhe é devido. Por isso, com evidente pragmatismo jurídico, as decisões dos Regionais que dispensam a garantia do juízo para a oposição dos embargos à execução pela recuperanda, deixando para realizar medidas constritivas relativas aos créditos não sujeitos à recuperação em momento posterior à estabilização da decisão de liquidação de sentença gera a estabilização de forma teoricamente mais rápida. Mesmo os que assim entendem fazem a seguinte ressalva a esse pensamento, que é a da execução de multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho, na qual os embargos à execução só devem ser recebidos com garantia do juízo. 7.1.2. Suspensão da prescrição A suspensão dos prazos prescricionais que correm em favor da recuperanda é outro efeito decorrente do deferimento do processamento da recuperação judicial, no tocante aos créditos a ela submetidos, tal como previsto no art. 6º, inciso I, da LRF. Como resultado, a prescrição trabalhista prevista no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal resta também https://pesquisatextual.trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/LD8m07y2Ubide9jTdjP-sw?&tp=PROCESSO+nº+0001369-86.2013.5.04.0341+(AP) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 61 suspensa a partir do marco acima, retomando o seu curso ao final do prazo de suspensão positivado no art. 6º, §§4º e 4º-A, da LRF, independentemente de pronunciamento judicial. Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica: I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime desta Lei; 7.2. Verificação e habilitação dos créditos na recuperação judicial Quando o devedor ingressa com o pedido de recuperação judicial, um dos requisitos específicos da petição inicial previsto no art. 51, inciso III, da LRF, é apresentação da lista dos seus credores, estejam sujeitos ou não à recuperação judicial, com a indicação do valor atualizado do crédito e discriminação de sua origem. Também deve apresentar a relação de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados (art. 51, inciso IX, da LRF). Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: (...) III - a relação nominal completa dos credores, sujeitos ou não à recuperação judicial, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço físico e eletrônico de cada um, a natureza, conforme estabelecido nos arts. 83 e 84 desta Lei, e o valor atualizado do crédito, com a discriminação de sua origem, e o regime dos vencimentos; (...) IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais e procedimentos arbitrais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados; Imediatamente após ser deferido o processamento da recuperação judicial, essa listagem preliminar de credores torna-se objeto de edital a ser publicado pela Vara Empresarial, nos termos do art. 52, §1º, incisos II e III, da LRF, bem como de conferência e revisão permanente por parte do administrador judicial, forte no art. 7º da LRF, o qual ainda assume o dever de enviar correspondência aos credores, comunicando a data do pedido de recuperação judicial, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito, tudo conforme o art. 22, inciso I, alínea “a”, da LRF. Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas. 62 Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – na recuperação judicial e na falência: a) enviar correspondência aos credores constantes na relação deque trata o inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito; Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...) § 1º O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, que conterá: (...) II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito; III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7º, § 1º, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei. Evidentemente, não é raro haver ausência de credores ou equívocos de valores na listagem preliminar elaborada pelo devedor, razão pela qual o edital de quinze dias, publicado pela Vara Empresarial e as correspondências enviadas pelo administrador judicial aos credores têm como objetivo fazer com que eles, discordando da sua ausência ou de quaisquer elementos lançados, possam promover sua habilitação e lançar as suas divergências, com o fito de se chegar a uma segunda lista apresentada pelo administrador e ao quadro geral de credores, no prazo do art. 7º, §2º, da LRF, isto é, 45 (quarenta e cinco) dias, contados do término do edital de 15 (quinze) dias. Art. 7º. (...) §2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação. Ainda que a LRF não vede a habilitação de crédito trabalhista ou acidentário simplesmente com base nos livros contábeis do devedor, por certo, a maneira mais fácil e juridicamente adequada da pessoa trabalhadora que já tenha reclamatória trabalhista ajuizada verificar a correção do seu crédito ou se habilitar na recuperação é a certidão de crédito emitida pela Justiça do Trabalho. 63 É por isso que para nós um dos efeitos anexos ao processamento da recuperação judicial é, quase sempre, a expedição de certidão de crédito a pessoa trabalhadora e aos demais credores sujeitos à recuperação, como advogados, pelos seus honorários sucumbenciais, e auxiliares do Juízo, pelos seus honorários periciais, emolumentos, despesas, etc. De acordo com o art. 9º da LRF, a certidão deve conter, além dos dados identificadores do processo e das partes, preferencialmente com endereço físico e eletrônico, também a natureza e o valor atualizado do crédito, com discriminação dos valores bruto e líquido devidos para o trabalhador, acrescidos de juros e correção monetária até a data do pedido de recuperação judicial, cabendo ao administrador judicial e, em última instância, ao próprio Juiz da Vara Empresarial, a definição quanto à classificação deste crédito. Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, desta Lei deverá conter: I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer ato do processo; II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação; III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem produzidas; IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento; V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor. Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo. De modo muito semelhante, a Consolidação de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho reprisa esses elementos obrigatórios da certidão de crédito no seu art. 112, §2º. Art. 112. Deferida a recuperação judicial ou a falência, caberá ao juiz do trabalho determinar a expedição de Certidão de Habilitação de Crédito para ser submetida à apreciação do administrador judicial. §1º Terão prosseguimento na Justiça do Trabalho as ações que demandarem quantia ilíquida, até a apuração do respectivo crédito e a expedição de certidão de habilitação do crédito. §2º Da Certidão de Habilitação de Crédito deverá constar: I – nome do exequente, data da distribuição da reclamação trabalhista, da sentença condenatória e a de seu trânsito em julgado; 64 II – a especificação dos títulos e valores integrantes da sanção jurídica, das multas, dos encargos fiscais e sociais (imposto de renda e contribuição previdenciária), dos honorários advocatícios e periciais, se houver, e demais despesas processuais; III – data da decisão homologatória dos cálculos e do seu trânsito em julgado; IV – o nome do advogado que o exequente tiver constituído, seu endereço, para eventual intimação, e número de telefone a fim de facilitar possível contato direto pelo administrador judicial. Contudo, ressalte-se que, frente ao que foi visto quanto aos créditos excluídos da recuperação judicial, o normativo poderia ser atualizado no inciso II do §2º, quando se considera que a execução da contribuição previdenciária e das custas processuais não é afetada pela recuperação judicial e, portanto, não deveria constar da certidão de créditos. Todavia, como peça executória a especificar todos os títulos e valores integrantes da ação trabalhista a certidão na forma como prevista não impede ou mesmo prejudica a créditos que não foram afetados pela recuperação judicial. Via de regra, as certidões não precisam ser encaminhadas pela Justiça do Trabalho ao Juízo da Vara Empresarial por meio de ofício ou assemelhados, visto que a incumbência cabe aos próprios credores. Entrementes, por conta dos princípios que norteiam a cooperação judicial, não deixa de ser medida de assertividade e mesmo pragmática o encaminhamento da certidão diretamente àquele Juízo, com intimação dos credores na reclamatória trabalhista. Atenção especial às reclamatórias trabalhistas ajuizadas depois da distribuição do pedido de recuperação judicial, pois podem conter créditos trabalhistas híbridos, ou seja, créditos que se sujeitam à recuperação e créditos que não se sujeitam a ela, conforme a sua data de constituição. 65 7.2.1. Juros e correção monetária na recuperação judicial Questão recorrente nos embargos à execução e nas impugnações à sentença de liquidação e à certidão de créditos diz respeito à inclusão ou não de juros e correção monetária sobre os créditos do trabalhador quando o devedor ingressa em recuperação judicial, muito por uma leitura errada do caput do art. 124 da LRF. Esse artigo, que prevê que contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da quebra, se o ativo não bastar para o pagamento dos credores subordinados, não tem nenhuma aplicação na recuperação judicial. Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados. No procedimento recuperacional, os juros e a correção monetária são parte integrante do crédito do trabalhador, ao menos até a aprovação do plano de recuperação judicial, dado que nele a novação do crédito aprovada poderá prever, por exemplo, deságio, exclusão ou substituição dos juros e da correção monetária. O fenômeno da novação será tratado mais adiante. Por enquanto, fique-se com a ideia de que nãohá nenhuma previsão na LRF de cessação https://youtu.be/Pm6f-svr9gI?t=2704 66 automática de juros e correção monetária na recuperação e que o seu art. 9º, inciso II, que estabelece que a certidão de habilitação de crédito deve estar atualizada até a data da distribuição da petição inicial da recuperação é regra de natureza meramente procedimental. Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, §1º , desta Lei deverá conter: (...) II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação; Nesse sentido, aliás, é a Súmula nº 50 do TRT da 10ª Região: Súmula nº 50 do TRT da 10ª Região Empresa em recuperação judicial. Crédito trabalhista. Juros e correção monetária. O art. 9º, inciso II, da Lei n.º 11.101/2005, é regra de natureza operacional, não impedindo a incidência de juros de mora e correção monetária até a integral e efetiva satisfação do crédito trabalhista. 7.2.2. Liberação dos depósitos judiciais Outro tema polêmico quando da emissão de certidão de créditos toca à possibilidade ou não da liberação e abatimento do saldo devedor de depósitos judiciais realizados na reclamatória trabalhista pela recuperanda antes do processamento da recuperação judicial, em especial do depósito recursal, a pessoa do trabalhador. https://www.youtube.com/watch?v=Pm6f-svr9gI&t=6369s&ab_channel=EscolaJudicialTRT24 67 O centro jurídico da discussão se situa na natureza jurídica do depósito recursal, se apenas de garantia de futura execução, ou se de antecipação do valor de condenação vindoura. Concluindo pela primeira tese, dir-se-ia que o montante, em que pese estar à disposição do Juízo trabalhista para os fins do art. 899, §1º, parte final, da CLT, segue juridicamente pertencendo ao patrimônio do devedor e é afetado pela ordem de suspensão das execuções, devendo ser liberado apenas ao Juízo recuperacional para o cumprimento do plano de recuperação. Art. 899. (...) §1º Sendo a condenação de valor até 10 (dez) vezes o salário- mínimo regional, nos dissídios individuais, só será admitido o recurso inclusive o extraordinário, mediante prévio depósito da respectiva importância. Transitada em julgado a decisão recorrida, ordenar-se-á o levantamento imediato da importância de depósito, em favor da parte vencedora, por simples despacho do juiz. Já a opção pela segunda proposta leva ao corolário de que valores apreendidos na reclamatória trabalhista antes do deferimento da recuperação judicial deixam de integrar o patrimônio do devedor, podendo ser liberados ao trabalhador antes de expedirmos a sua certidão de crédito, com abatimento do valor que lhe deve ser pago na recuperação. Em defesa da tese de entrega dos depósitos judiciais ao Juízo recuperacional estão a jurisprudência do STF (CC nº 8.143/SP, julgado em 03/08/2021), a jurisprudência do STJ (CC nº 162.769/SP, julgado em 30/06/2020), a amplamente majoritária da SDI-2 do TST (RO nº 5659- 84.2019.5.15.0000, julgado em 15/12/2020) e a de vários Tribunais Regionais do Trabalho, aqui representados pela Súmula nº 43 do TRT da 6ª Região. Súmula nº 43 do TRT da 6ª Região. Empresa em recuperação judicial. Liberação de depósito recursal pelo Juízo da execução. Vedação. O Juízo da execução trabalhista não deve determinar a liberação do depósito recursal realizado por empresa em recuperação judicial, para satisfação da execução trabalhista, ainda que o depósito tenha sido realizado anteriormente à decretação da recuperação judicial, tendo em vista que não subsiste a competência desta Justiça Especializada, a teor da Lei n. 11.101/2005. Pela liberação imediata ao trabalhador se posiciona de modo uniforme a Seção Especializada em Execução do TRT da 4ª Região, na Orientação Jurisprudencial nº 84, e parte da jurisprudência de um ou outro Tribunal Regional, com o registro de que esta mesma Seção do TRT da 4ª Região compreende, na sua Orientação Jurisprudencial nº 91, que eventual saldo do depósito recursal, após quitado o débito da reclamatória trabalhista ao qual vinculado, não pode ser transferido para o pagamento de outro trabalhador e deve ser colocado à disposição do Juízo recuperacional. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5904567 https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201803306588&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do;jsessionid=9GH-7ED8eybo7F07sTk2UYRbCEJNabRxWbjMIB6k.consultaprocessual-17-55gjk?conscsjt=&numeroTst=5659&digitoTst=84&anoTst=2019&orgaoTst=5&tribunalTst=15&varaTst=0000&consulta=Consultar https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do;jsessionid=9GH-7ED8eybo7F07sTk2UYRbCEJNabRxWbjMIB6k.consultaprocessual-17-55gjk?conscsjt=&numeroTst=5659&digitoTst=84&anoTst=2019&orgaoTst=5&tribunalTst=15&varaTst=0000&consulta=Consultar 68 Orientação Jurisprudencial nº 84 da SEEx do TRT da 4ª Região. Liberação de valores depositados. Massa falida. Empresa em recuperação judicial. Os valores apreendidos judicialmente na reclamatória trabalhista antes da decretação da falência ou do deferimento do pedido de recuperação judicial, deixam de integrar o patrimônio da empresa ou da massa falida, sendo cabível a sua liberação ao credor. Orientação Jurisprudencial nº 91 da SEEx do TRT4. Recuperação judicial ou falência. Saldo de depósitos. Juízo universal. Eventual saldo de depósitos na execução trabalhista, após quitado o débito processual, deve ser colocado à disposição do Juízo Universal da Recuperação Judicial ou Falência. Por fim, em posição híbrida frente aos efeitos da recuperação sobre o patrimônio do devedor e a suspensão da execução, está a Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso IV da Seção Especializada em Execução do TRT da 9ª Região, que entende pela liberação do depósito recursal ao trabalhador, desde que esgotado o prazo de suspensão a que se refere o art. 6º, §4º, da LRF. Orientação Jurisprudencial nº 28 da SEEx do TRT da 9ª Região. (...) IV - Falência e Recuperação Judicial. Liberação de depósito recursal. O depósito recursal efetuado antes da decretação da falência pode ser liberado ao exequente, para a quitação de valores incontroversos. Na hipótese de recuperação judicial, o depósito recursal efetuado antes do deferimento da recuperação judicial pode ser liberado ao exequente, desde que esgotado o prazo de suspensão a que se refere a Lei 11.101/2005, artigo 6º, § 4º. O depósito recursal realizado após o deferimento da recuperação judicial deve permanecer à disposição do Juízo Falimentar. O dilema representado pelas posições antagônicas acima é justificado. Ao se levar em consideração os princípios do Direito e Processo do Trabalho, bem como as razões socioeconômicas subjacentes à motivação jurídica da decisão de entrega dos depósitos judiciais ao trabalhador a opção pela entrega os valores do depósito recursal é aquela a que se filia observados o conjunto de situações e fatos processuais. Primeiro, porque se criou uma justa expectativa de sua parte quanto ao futuro recebimento daquele valor em espécie. Segundo, porque sabe-se que esse montante, ao ser devolvido à recuperanda, muito dificilmente servirá ao pagamento de créditos dos trabalhadores. Com efeito, é lei de mercado a de que os recursos em caixa das empresas em crise econômico-financeira quase sempre são destinados aos seus fornecedores e financiadores e quase nunca às pessoas trabalhadoras. Todavia, em que pese o dilema socioeconômico pelo qual passamos neste e em outros momentos da recuperação judicial e da falência, ele não tem o condão de alterar as normas jurídicas que incidem ao caso. O depósito recursal não é antecipação de condenaçãovindoura ou meio de transferência de propriedade, mas sim de garantia de futura e eventual execução. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 69 Outrossim, os princípios da par conditio creditorum e da preservação da empresa nos mostram em caráter finalístico que não podemos nos prender à miopia da resolução de uma única reclamatória trabalhista, em detrimento do restante do grave cenário. Ademais, o pagamento de um trabalhador pode ter o efeito colateral da inadimplência em relação aos demais. A negativa de liberar o depósito para o caixa da empresa pode levar à quebra e ao prejuízo da coletividade. Por isso, entende-se ser mais adequada a jurisprudência dos Tribunais Superiores, que entendem pela liberação dos depósitos à recuperanda. 7.2.3. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista Expedidas as certidões aos credores, e não havendo créditos extraconcursais não suspensos pelo processamento da recuperação judicial que ensejem a manutenção do processo de execução, o art. 114 da Antes da liberação dos depósitos judiciais, deve ser verificado se não há créditos não sujeitos à recuperação judicial, como créditos trabalhistas constituídos após o pedido de recuperação, contribuição previdenciária e custas processuais, pois, em havendo, tais depósitos devem ser utilizados prioritariamente para quitar essas rubricas. https://youtu.be/lNy0QH-7QQY?t=5220 70 Consolidação de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho estipula que devemos suspender e arquivar provisoriamente a reclamatória trabalhista ou ação de indenização por acidente de trabalho até o encerramento da recuperação ou da falência em que ela eventualmente tenha sido convolada. É o que ocorrerá, por exemplo, logo depois da expedição das certidões de créditos, com as ações que resultaram em acordos sem contribuição previdenciária e com dispensa de custas processuais. Art. 114. Os juízes do trabalho manterão os processos em arquivo provisório até o encerramento da Recuperação Judicial ou da falência que ela eventualmente tenha sido convolada (artigo 156 e seguintes da Lei n.º 11.101/2005). Parágrafo único. Os processos suspensos por Recuperação Judicial ou Falência deverão ser sinalizados com marcador correspondente no Sistema PJe. A dúvida que pode causar esse artigo diz respeito aos processos arquivados provisoriamente e que poderão ter sua execução extinta e ser encaminhados em definitivo ao arquivo. Referido artigo parece sugerir que isso se dará com o encerramento da recuperação judicial ou da falência caso tenha ocorrido a convolação, mas esses termos guardam, no primeiro caso, certa imprecisão. Com efeito, a recuperação judicial pode ser encerrada de maneira positiva, com o cumprimento das obrigações previstas no plano e vencidas durante o período de fiscalização de até dois anos do art. 63 da LRF, ou de forma negativa, com a rejeição do plano prevista no art. 56 da LRF ou o seu descumprimento no prazo acima, hipóteses em que será convolada em falência. Contudo, como a lei de reforma recuperacional e falimentar modificou o art. 54, §2º, da LRF e passou a permitir que os créditos trabalhistas e os decorrentes de acidentes de trabalho possam ser adimplidos, respeitadas certas condições, em até três anos, não será incomum ocorrer um descompasso entre o efetivo término do pagamento dos créditos trabalhistas e assemelhados e a sentença de encerramento da recuperação judicial, a qual, diga-se de passagem, tem um caráter meramente terminativo. Portanto, a compreensão do artigo em exame é que, o encerramento positivo da recuperação judicial é o término do pagamento dos créditos trabalhistas e assemelhados e esse término é que poderá autorizar o arquivamento definitivo da reclamatória trabalhista, e não a sentença de encerramento da recuperação. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 71 Existem mais algumas considerações a serem feitas acerca do arquivamento definitivo nos casos de encerramento negativo da recuperação judicial e sua convolação em quebra, mas como a argumentação aqui depende de conhecimentos que somente serão debatidos mais adiante, o tema será retomado no capítulo da falência. De qualquer modo, como é absolutamente impossível prever a priori quando se dará o término do pagamento dos créditos trabalhistas e equiparados, o encerramento da recuperação ou sua eventual convolação em falência, deixa-se a sugestão da inserção de marcador de controle de prazo no GIGS do PJE para que, decorrido um período de cerca de cinco anos a contar da expedição da certidão de crédito, surja um alerta de prazo vencido no sistema. A partir daí, poder-se-á notificar os credores sujeitos à recuperação judicial para que informem se seus créditos já foram ou não satisfeitos, se já houve o encerramento da recuperação ou sua eventual convolação em falência. Não é demais lembrar que o arquivamento provisório da reclamatória trabalhista por conta de recuperação judicial do devedor não implica na extinção ou desfazimento dos chamados meios de proteção da execução e indução ao pagamento, tais como hipoteca judiciária, averbação premonitória, indisponibilidade de bens, protesto extrajudicial, inscrição em órgãos de proteção de crédito, inscrição no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, etc. Sugerimos que o processo seja arquivado com todos esses gravames e também com as penhoras eventualmente realizadas, cabendo ao Juízo da Vara Empresarial solicitar casuisticamente a sua liberação, caso os bens constritos pela Justiça do Trabalho sejam incluídos no plano de recuperação judicial como objeto de alienação. Lembrando que o arquivamento definitivo da reclamatória trabalhista ainda está condicionado ao efetivo pagamento, na recuperação judicial, de outros créditos oriundos da nossa ação, bem como à quitação, em nossos próprios autos, dos créditos não sujeitos ao processo recuperacional. 72 7.2.4. Reserva de crédito É muito comum que, ao tempo do processamento da recuperação judicial, haja reclamatórias trabalhistas tramitando em face do devedor, porém ainda em fase de conhecimento ou liquidação de sentença. Nesta situação, o trabalhador ou os demais credores sujeitos à recuperação não poderão proceder de imediato sua habilitação no processo de recuperação, por faltar liquidez aos seus créditos. Como se viu anteriormente, eles não são afetados pela ordem de suspensão das execuções e devem prosseguir normalmente com suas demandas até a estabilização da decisão de liquidação de sentença, sendo que, conforme determinar o plano de recuperação judicial, normalmente créditos ilíquidos só participam dos rateios somente após tal liquidação e inclusão na lista de credores. Para que não fiquem prejudicados, de fora da lista ou quadro geral de credores, e para que possam votar na assembleia geral, o previamente transcrito art. 6º, §3º, da LRF permitiu que tais credores peçam a Justiça do Trabalho o encaminhamento de determinação de reserva da importância que se estimar devida na reclamatória trabalhista. Ressaltamos novamente que a atual LRF modificou disposição da antiga legislação, qual seja, o art. 24, §3º do Decreto 7.661/45, que previa que era o próprio credor trabalhista que devia encaminhar seu pedido de reserva diretamente ao Juízo da Vara Empresarial. Na regra atual, tal determinação deve ser feita pela Justiça do Trabalho, a requerimento do interessado, mediante a expedição de ofício. Arrematando o tema, informe-se que o pedido de reserva na recuperação judicial, ao contrário do que ocorre na quebra, não tem a finalidade de preservar o direito do credor à participaçãoem rateios. Segundo o art. 10, §1º, da LRF, a reserva aqui vale apenas para garantir o direito a voto nas deliberações da assembleia geral de credores, regra que eventualmente pode sequer ser a eles aplicável, caso a liquidação do seu crédito no Juízo Trabalhista ocorra até a data de realização da assembleia geral. Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7º, § 1º, desta Lei, as habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias. § 1º Na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados os titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a voto nas deliberações da assembleia-geral de credores. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm 73 7.3. Classificação dos créditos sujeitos à recuperação judicial O tema referente a classificação dos créditos sujeitos à recuperação judicial muitas vezes acaba por gerar certa dúvida, porque uma primeira visão que se pode ter é aquela que diz respeito é a da hierarquização dos créditos na falência, prevista no art. 83 da LRF. Referido dispositivo legal estabelece uma ordem de pagamento, primeiro para os créditos decorrentes de acidente de trabalho e para os trabalhistas, estes limitados a cento e cinquenta salários mínimos, em seguida para os créditos gravados com direito real de garantia, até o limite do valor do bem gravado, terceiro para os créditos tributários e assim por diante. Todavia, a ideia de hierarquização deve ser afastada por completo na recuperação judicial, porque a hierarquização dos créditos que existe na falência não guarda nenhuma pertinência com o procedimento de recuperação judicial. No procedimento recuperacional, não existe ordenação de créditos por hierarquia. O que há, tal como nos mostra o art. 41 da LRF, é tão somente um agrupamento dos créditos em quatro diferentes classes, para fins de votação na assembleia geral de credores. Em outras palavras, embora seja comum também na recuperação judicial o pagamento dos trabalhadores e dos acidentados no trabalho em primeiro lugar, tal se dá porque o art. 54 da LRF estipula para eles um prazo máximo para pagamento, deixando livre a negociação para as demais classes de credores, e não porque eles estariam no topo de uma pirâmide na recuperação judicial. A título de exemplo, se um hipotético plano de recuperação judicial fixar que os créditos trabalhistas e acidentários serão pagos em doze parcelas mensais e que, ao mesmo tempo e no mesmo número de parcelas, serão adimplidos débitos em atraso com os credores quirografários fornecedores de insumos da empresa, não há equívoco nesse arranjo com pagamentos simultâneos a classes diversas. A Lei autoriza que a assembleia geral de credores assim vote e aprove. Portanto, na recuperação judicial, a classificação dos créditos serve somente ao propósito de melhor organizar o peso dos votos na assembleia geral de credores. Feito o esclarecimento, o art. 41 da LRF separa os credores sujeitos à recuperação judicial em quatro grupos. No primeiro, estão os créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; no segundo, os créditos com garantia http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 74 real; no terceiro, os quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados e; no quarto, os pertencentes a microempresa ou empresa de pequeno porte. Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; II – titulares de créditos com garantia real; III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. Os quóruns de votação na assembleia geral e os prazos de pagamento aos trabalhadores veremos logo adiante, em tópicos específicos. 7.4. Conciliação e mediação na recuperação judicial Os procedimentos de mediação e conciliação foram uma das possibilidades introduzidas pela lei da reforma recuperacional e falimentar - LRF para reduzir o número de processos de recuperação judicial, eliminar conflitos parciais entre os credores e paralelos entre os sócios da recuperanda, bem como aumentar o apoio dos credores ao plano de recuperação elaborado pelo devedor. Para chegar a esses objetivos, foram introduzidos quatro artigos na LRF voltados a disciplinar os procedimentos e seus limites. Os procedimentos de mediação e de conciliação podem contar com mediadores ou conciliadores judiciais ou extrajudiciais, e podem ocorrer em caráter antecedente ou incidental ao processo de recuperação judicial. De todas as novidades, certamente a mais interessante e que tem o condão de impactar no trâmite das execuções na Justiça do Trabalho é a mediação em caráter antecedente ao ajuizamento do pedido de recuperação judicial. Previsto no art. 20-B, inciso IV, da LRF, esse procedimento cria para o devedor a possibilidade de negociar com seus credores, inclusive trabalhistas, ou até mesmo com grupos ou classes deles, soluções de curto prazo para a crise econômico-financeira da empresa, evitando a iminente judicialização da recuperação judicial. 75 Art. 20-B. Serão admitidas conciliações e mediações antecedentes ou incidentais aos processos de recuperação judicial, notadamente: (...) IV - na hipótese de negociação de dívidas e respectivas formas de pagamento entre a empresa em dificuldade e seus credores, em caráter antecedente ao ajuizamento de pedido de recuperação judicial. Ademais, o art. 20-B, §1º, da LRF estatui que, em o devedor optando pela mediação judicial, sua porta de entrada no Poder Judiciário será o procedimento de mediação pré-processual, a ser instaurado junto aos CEJUSCS empresariais criados pela Recomendação nº 71/20 do CNJ, isso nos Tribunais onde estiverem implementados, ou em qualquer outro órgão judicial voltado à conciliação, nos Foros e Tribunais em que isso ainda não tiver ocorrido. Art. 20-B. (...) §1º Na hipótese prevista no inciso IV do caput deste artigo, será facultado às empresas em dificuldade que preencham os requisitos legais para requerer recuperação judicial obter tutela de urgência cautelar, nos termos do art. 305 e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), a fim de que sejam suspensas as execuções contra elas propostas pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, para tentativa de composição com seus credores, em procedimento de mediação ou conciliação já instaurado perante o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) do tribunal competente ou da câmara especializada, observados, no que couber, os arts. 16 e 17 da Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Nessa hipótese de mediação judicial, o dispositivo em questão abre para o devedor a possibilidade de ajuizamento, concomitante com a instauração do procedimento de mediação pré-processual, de pedido de tutela de urgência cautelar antecedente para que as execuções contra ele propostas sejam suspensas pelo prazo de até sessenta dias, para evitar medidas constritivas e expropriatórias dos seus bens durante a tentativa de composição com os credores. Caso não haja composição, e venha a ser ajuizado o pedido de recuperação judicial, o art. 20-B, §3º, da LRF prevê que o período de suspensão de até sessenta dias deverá ser deduzido do stay period do art. 6º, §4º, da LRF, se deferido futuramente o processamento da recuperação. Art. 20-B. (...) § 3º Se houver pedido de recuperação judicial ou extrajudicial,observados os critérios desta Lei, o período de suspensão previsto no § 1º deste artigo será deduzido do período de suspensão previsto no art. 6º desta Lei. Importante notar que essa tutela cautelar antecedente, se porventura deferida pelo Juiz da Vara Empresarial, impacta diretamente sobre as execuções trabalhistas de credores que estão sujeitos à recuperação judicial, o https://atos.cnj.jus.br/files/compilado0010292021102661774775c773b.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 76 que deve ser comunicado pelo devedor nas reclamatórias trabalhistas nesta fase e observado pela Justiça do Trabalho. Outra informação importante é a de que o parágrafo único do art. 20-C da LRF estipula que, se for requerida a recuperação judicial no prazo de até trezentos e sessenta dias contados de eventual acordo firmado em mediação pré-processual, os credores terão reconstituídos seus créditos no estado em que se encontravam antes dele, deduzidos os valores eventualmente pagos. Art. 20-C. O acordo obtido por meio de conciliação ou de mediação com fundamento nesta Seção deverá ser homologado pelo juiz competente conforme o disposto no art. 3º desta Lei. Parágrafo único. Requerida a recuperação judicial ou extrajudicial em até 360 (trezentos e sessenta) dias contados do acordo firmado durante o período da conciliação ou de mediação pré-processual, o credor terá reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito dos procedimentos previstos nesta Seção. Por último, e para fins de registro, vale mencionar que, logo depois da publicação da lei da reforma recuperacional e falimentar, houve uma incipiente dúvida hermenêutica na doutrina trabalhista sobre eventual competência dos CEJUSCS da Justiça do Trabalho para dito procedimento de mediação pré- processual, quando envolvesse créditos dos trabalhadores. Todavia, a incerteza logo se desfez, seja em razão de art. 20-C da LRF positivar que eventual acordo entre o devedor e seus credores deva ser homologado pelo Juízo competente para deferir o processamento da recuperação judicial, isto é, o da Vara Empresarial, seja por conta de o art. 1º da Recomendação nº 71/20 do CNJ prever posteriormente que são os CEJUSCS empresariais o Foro adequado para tal procedimento de mediação pré-processual. Art. 1º. Recomendar aos tribunais brasileiros a implementação de Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania Empresariais (Cejusc Empresarial), para o tratamento adequado de conflitos envolvendo matérias empresariais de qualquer natureza e valor, inclusive aquelas decorrentes da crise da pandemia de Covid-19, na fase pré-processual ou em demandas já ajuizadas, bem como no procedimento previsto no art. 20-B, §1º da Lei n. 11.101/2005. Todavia, em regime de acordo de cooperação judicial, o que é muito interessante e proveitoso do ponto de vista institucional da Justiça do Trabalho, o CEJUSC trabalhista pode se tornar competente para a mediação/conciliação pré-processuais em contexto de recuperação judicial. 77 Resumo da aula 2 Nesta aula, verificou-se que o principal efeito da decisão que defere o processamento da recuperação judicial é a suspensão das execuções e medidas constritivas singulares contra a recuperanda durante o stay period, desde que os créditos demandados nessas execuções estejam sujeitos à recuperação. Por conta disso, averiguou-se que não ocorre o efeito paralisador em relação à cobrança da contribuição previdenciária e das custas processuais, além das multas impostas pela fiscalização do trabalho, fato que, em face da corriqueira presença dessas rubricas, autoriza o prosseguimento de inúmeras execuções trabalhistas mesmo durante o stay period, pelo menos em relação a tais parcelas. https://youtu.be/lNy0QH-7QQY?t=3394 78 Notou-se ainda que, nessas situações, há de se dar especial atenção aos bens constritos, os quais não podem ser bens de capital essenciais à continuidade da atividade econômica da recuperanda e que, se assim o forem, podem ser objeto de comando de substituição pelo Juiz da Vara Empresarial. Também concluiu-se que o stay period não paralisa eventual pretensão do credor trabalhista de imputar responsabilidade secundária a terceiro responsável solidária ou subsidiariamente e que não afeta em nada as reclamatórias trabalhistas ilíquidas, que prosseguem até a estabilização da decisão de liquidação de sentença, com dispensa de garantia do juízo para a oposição dos embargos à execução pela recuperanda e possibilidade de pedido de reserva para garantir o direito a voto na assembleia geral de credores. Avaliou-se que os créditos sujeitos à recuperação precisam ser nela habilitados por meio de certidões emitidas pela Justiça do Trabalho, contemplando juros e correção monetária até a data do pedido de recuperação judicial, mas sem significar que essas verbas acessórias não sigam correndo durante o processo recuperacional, pois tudo dependerá de como o plano de recuperação irá tratá-las. Viu-se, também, que, depois da expedição de certidões, caso não restem créditos executáveis na Justiça do Trabalho, o processo deve ser arquivado provisoriamente. Finalmente, compreendeu-se que, embora com algum dissenso jurisprudencial, os depósitos judiciais feitos pela empresa antes da recuperação judicial a ela pertencem e devem ser liberados não ao trabalhador da execução singular, mas ao Juízo da Vara Empresarial. Até a próxima aula! 79 AULA 3 Recuperação Judicial – Parte III (Plano de Recuperação Judicial e Responsabilidades na Recuperação Judicial) 8. O plano de recuperação judicial 8.1. Apresentação do plano A contar da publicação da decisão que defere o processamento da recuperação, o art. 53 da LRF marca para a recuperanda o início de um prazo de sessenta dias para a apresentação do plano de recuperação judicial, o qual deverá discriminar de forma pormenorizada os meios de recuperação a ser empregados, incluindo as datas de pagamento às classes de credores, tudo conforme o art. 50 da LRF, demonstrar a viabilidade econômica da empresa e ser acompanhado de um laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em Juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, e deverá conter (...) A falta de apresentação do plano no prazo leva à convolação em falência. Já a sua apresentação faz com que o Juízo da Vara Empresarial, em conformidade com o art. 53, parágrafo único, da LRF, ordene a publicação de um edital, com dois objetivos: o primeiro é dar notícia aos credores sobre o recebimento do plano e o segundo é abrir o prazo de trinta dias consoante o art. 55 da LRF, para os credores manifestarem, querendo, eventual objeção ao plano. Art. 53. (...) Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções, observado o art. 55 desta Lei. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 80 Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei. 8.1.1. Prazos para o pagamento de credores trabalhistas e acidentários O art. 50 da LRF prevê uma sériede possibilidades para o devedor adotar em seu plano de recuperação judicial, que vão desde a venda de ativos e a alteração do controle societário da empresa, até a solicitação de prazos e condições especiais para o pagamento dos credores de todas as classes. Isso quer dizer que não há vedação legal para que o plano preveja a novação e o parcelamento dos créditos trabalhistas, o que pode incluir deságio, antecipação de parcelas com descontos, exclusão ou substituição dos índices de juros e correção monetária, realização de leilões reversos quando houver saldo no fluxo de caixa, etc. Nada obstante essa liberdade que a recuperanda tem na apresentação dos meios de recuperação judicial, o art. 54 da LRF fixa termos finais para o pagamento dos créditos trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho, os quais são inegociáveis. Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. § 1º. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial. § 2º O prazo estabelecido no caput deste artigo poderá ser estendido em até 2 (dois) anos, se o plano de recuperação judicial atender aos seguintes requisitos, cumulativamente: I - apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz; Leilão reverso é uma modalidade de deságio em que os credores interessados em participar e que concederem os maiores descontos terão seus créditos satisfeitos antes dos demais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 81 II - aprovação pelos credores titulares de créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho, na forma do § 2º do art. 45 desta Lei; e III - garantia da integralidade do pagamento dos créditos trabalhistas. Por conseguinte, o plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a um ano para pagamento com algum tipo de deságio dos créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho, a contar da decisão que homologar a aprovação do plano pela assembleia geral de credores e conceder a recuperação judicial, marco inicial este fixado pela jurisprudência do STJ (REsp nº 1.924.164/SP, julgado em 15/06/2021). Ademais, para os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, limitados a cinco salários-mínimos por trabalhador, o plano não poderá prever prazo de pagamento superior a trinta dias, também contados da decisão que homologar a aprovação do plano pela assembleia geral de credores. Agora, em novidade trazida pela lei da reforma recuperacional e falimentar, caso o devedor opte por não aplicar qualquer deságio aos créditos trabalhistas e apresente garantias julgadas suficientes pelo Juiz da Vara Empresarial, o art. 54, §2º, da LRF lhe concede outros dois anos adicionais para o seu pagamento, num total de três, desde que, obviamente essa proposta seja aprovada pelos trabalhadores dessa classe, no quórum de maioria simples entre os presentes na assembleia geral, independentemente do valor do crédito, conforme o art. 45, §2º, da LRF, como será abordado em seguida. Ressalte-se aqui que os créditos decorrentes de acidentes de trabalho são levados a reboque pelos créditos trabalhistas para o prazo total de três anos para pagamento, mas a eles não é garantida a integralidade do pagamento, como podemos observar no silêncio eloquente do inciso III do §2º do art. 54 da LRF. O art. 54, §2º, III, da LRF demanda a integralidade do pagamento dos créditos trabalhistas, o que, a título de lembrança, envolve também os juros e a correção monetária incidentes após o ajuizamento da recuperação judicial. https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=202100544333&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 82 8.2. Assembleia geral de credores Em conjunto com o administrador judicial, o gestor judicial e o comitê de credores, a assembleia geral integra os órgãos da recuperação judicial. Suas atribuições estão no art. 35 da LRF e uma das mais relevantes é a deliberação acerca do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, sempre que houver objeções por parte de algum credor. Com efeito, não existindo oposição por parte de nenhum deles, resta esvaziada a atribuição da assembleia geral de apreciação do plano e, em conformidade com o art. 58 da LRF, cabe ao Juiz da Vara Empresarial homologá-lo diretamente, concedendo a recuperação judicial. Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de credores na forma dos arts. 45 ou 56-A desta Lei. Sem embargo, como essa aquiescência integral é raríssima de se ver na prática, a normalidade dos processos conduz à necessidade de convocação da assembleia geral de credores para deliberar acerca do plano de recuperação judicial, o que é feito pelo Juízo da Vara Empresarial através da publicação de edital com antecedência de quinze dias e cuja data de realização http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://youtu.be/YeOPneYod40?t=1140 83 não deve ultrapassar os cento e cinquenta dias contados do deferimento de processamento da recuperação judicial, como manda o §1º do art. 56 da LRF. Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação. §1º A data designada para a realização da assembleia-geral não excederá 150 (cento e cinquenta) dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial. O quórum de instalação ou deliberação da assembleia geral de credores está no art. 37, §2º, da LRF e, em primeira convocação, é atingido com a presença dos credores titulares de mais da metade dos créditos de cada uma das quatro classes, ou seja, trata-se de quórum per creditum, e não per capita. Não obtido este quórum, ela pode ser instalada em segunda convocação, com qualquer número. Art. 37. (...) §2º A assembleia instalar-se-á, em 1ª (primeira) convocação, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em 2ª (segunda) convocação, com qualquer número. Questão interessante é a de que os §§5º e 6º do art. 37 da LRF autorizam que os trabalhadores que assim o desejarem sejam representados por procurador ou por seu sindicato de classe, bastando, neste segundo caso, que a entidade sindical apresente ao administrador judicial, ao menos dez dias antes da assembleia, a relação dos trabalhadores que pretende representar. Art. 37. (...) § 5º Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho que não comparecerem, pessoalmente ou por procurador, à assembleia. § 6º Para exercer a prerrogativa prevista no § 5º deste artigo, o sindicato deverá: I – apresentar ao administrador judicial, até 10 (dez) dias antes da assembleia, a relação dos associados que pretende representar, e o trabalhador que conste da relação de mais de um sindicato deverá esclarecer, até 24 (vinte e quatro)horas antes da assembleia, qual sindicato o representa, sob pena de não ser representado em assembleia por nenhum deles; 84 8.3. Aprovação do plano e concessão da recuperação judicial Uma vez instalada a assembleia geral para deliberar sobre o plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, o plano será aprovado se atendidos os quóruns do art. 45 da LRF. Segundo este dispositivo, as quatro classes de credores deverão aprovar o plano, sendo que nas classes I e IV, isto é, as classes das pessoas trabalhadoras e acidentadas no trabalho e micro e pequenos empresários/as, o quórum de aprovação é pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor do seu crédito. Já nas classes II e III, os credores com garantia real e os credores quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados, esse quórum passa por dupla verificação: só será aprovado o plano se confirmado por mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes. Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta. § 1º Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes. § 2º Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito. O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quórum de deliberação se o plano de recuperação judicial não IMPORTANTE: O art. 37, §6º, inciso I, da LRF limita a representação do sindicato aos seus associados, mas sabemos que, à luz do art. 8º, inciso III, da Constituição Federal, e do julgado em 18/06/2015 pelo STF no RE nº 883.642/AL, com repercussão geral, eles representam todos os membros da categoria. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 85 alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito (§ 3º do art. 45 da LRF). Buscando diminuir as burocracias do procedimento assemblear, a lei da reforma recuperacional e falimentar inseriu o art. 56-A na LRF, permitindo a substituição da assembleia geral por comprovantes de adesão dos credores que representem mais da metade do valor dos créditos sujeitos à recuperação judicial, observados ainda os quóruns específicos de deliberação do art. 45 da LRF. Art. 56-A. Até 5 (cinco) dias antes da data de realização da assembleia-geral de credores convocada para deliberar sobre o plano, o devedor poderá comprovar a aprovação dos credores por meio de termo de adesão, observado o quórum previsto no art. 45 desta Lei, e requerer a sua homologação judicial. Se esses comprovantes forem apresentados ao Juízo da Vara Empresarial até cinco dias antes da realização da assembleia geral, a realização da assembleia é dispensada, o plano é homologado e a recuperação judicial é concedida, gerando certos efeitos, alguns dos quais veremos a seguir. 8.3.1. Efeitos da concessão da recuperação judicial O primeiro efeito da concessão da recuperação judicial está determinado no art. 59 da LRF e é a vinculação do devedor e de todos os Diante de condições bem específicas previstas no §1º do art. 58 da LRF, o plano de recuperação judicial pode ser homologado pelo Juiz da Vara Empresarial mesmo contra a vontade da assembleia geral. Essa decisão é chamada de cram down. Após aprovado o plano de recuperação judicial, o art. 57 da LRF exige que o devedor apresente certidões negativas de débitos tributários, as quais são obtidas com o efetivo pagamento dos tributos, algo raríssimo de acontecer neste cenário, ou com o parcelamento da dívida fiscal, na forma do art. 68 da LRF. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 86 credores sujeitos à recuperação judicial às estipulações do plano aprovado, tendo sido vencedores ou vencidos na assembleia geral. O segundo é a novação dos créditos submetidos à recuperação judicial. O crédito que existia antes do pedido de recuperação é extinto e, em seu lugar, surge um novo crédito de mesma natureza jurídica, porém nas condições e modo estabelecidos pelo plano. Em outras palavras, os créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho continuam mantendo a natureza alimentar do que lhes precedeu, mas seu valor, vencimento e índices de atualização e juros são substituídos por aqueles aprovados pela assembleia geral. Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei. Além disso, é importante ressaltar que são afetados pela novação todos os créditos constituídos antes do pedido, mesmo que ainda não tenham sido habilitados na recuperação judicial, seja por desídia do credor, seja pelo fato de sua demanda judicial contra o credor ainda não estar liquidada e não ter havido pedido de reserva. A sujeição independentemente de habilitação ocorre porque, se é dever da recuperanda informar na petição inicial quem são os seus credores, também é ônus imposto a estes o de se habilitarem ou impugnarem a lista do administrador que não os incluiu. Se assim não o fosse, muitos credores certamente prefeririam ficar de fora do quadro geral, para buscar algum tipo de tratamento diferenciado na sua ação individual. Outro aspecto significativo é que a novação dos créditos está sujeita a um termo resolutivo, consistente no cumprimento do plano de recuperação pelo período de fiscalização judicial, que pode durar até dois anos, conforme fixar o Juiz da Vara Empresarial. De acordo com as disposições do art. 61 da LRF na contingência de as obrigações do plano não serem satisfeitas nesse interregno, a recuperação judicial será convolada em falência, inclusive de ofício, e os credores terão seus direitos reconstituídos nas condições originalmente previstas, abatidos possíveis valores pagos. Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá determinar a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam cumpridas todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial, independentemente do eventual período de carência. §1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei. 87 §2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial. Por outro lado, o art. 62 da LRF estipula que, decorrido o interregno de fiscalização judicial, a novação dos créditos se estabiliza em definitivoe, na hipótese de descumprimento do plano, cabe ao credor lesado ou retomar a sua execução singular, porém com base no crédito novado, ou requerer a quebra do devedor, com fundamento no art. 94, inciso III, alínea “g”, da LRF. Art. 62. Após o período previsto no art. 61 desta Lei, no caso de descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano de recuperação judicial, qualquer credor poderá requerer a execução específica ou a falência com base no art. 94 desta Lei. Essa situação muito eventualmente pode acontecer em uma reclamatória trabalhista. Isso porque outro efeito da concessão da recuperação judicial é a manutenção da suspensão das execuções de créditos trabalhistas ou acidentários durante todo o período de fiscalização judicial, com arquivamento provisório caso não haja, nos mesmos autos, outros créditos não sujeitos à recuperação, como o previdenciário e as custas processuais. É possível que um plano de recuperação preveja três anos para o pagamento de créditos trabalhistas ou acidentários e seja descumprido somente depois do final do período de fiscalização judicial. Diante disso, a pessoa trabalhadora prejudicada, em vez de buscar a falência do devedor, pode talvez preferir voltar à sua reclamatória trabalhista originária e buscar a execução do saldo devedor do seu crédito novado. O prazo de até dois anos e a discricionariedade do Juiz da Vara Empresarial para escolher o tempo de fiscalização judicial da recuperação são novidades da lei da reforma recuperacional e falimentar. Antes dela, o caput do art. 61 da LRF fixava um prazo imutável de dois anos para a fiscalização. Em virtude dos efeitos do termo resolutivo da novação, também não é permitido a um trabalhador que recebeu seus créditos com deságio na recuperação judicial retornar posteriormente à reclamatória trabalhista de origem e postular a diferença entre os valores originários e os efetivamente recebidos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 88 Nada obstante, essa hipótese é muito rara de ocorrer na prática, tendo em vista que provavelmente outros credores buscarão o caminho da falência, mantendo ou fazendo que se retome a suspensão da execução nas reclamatórias trabalhistas em geral. 8.3.2. Encerramento da recuperação judicial O devedor ficará sob fiscalização judicial pelo interregno de até dois anos após a concessão da recuperação. Conforme o art. 63 da LRF, se no período de fiscalização tiverem sido cumpridas todas as obrigações vencidas e previstas no plano, o Juiz da Vara Empresarial declarará por sentença a extinção do processo de recuperação judicial, ainda que remanesçam obrigações a serem vencidas e que eventualmente não tenham sido consolidadas no quadro geral de credores. Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará: (...) 8.4. Rejeição do plano de recuperação judicial Pode ocorrer do plano de recuperação judicial não ser aprovado pela assembleia geral de credores e de não haver quórum para o cram down. Nessa contingência, a lei da reforma recuperacional e falimentar modificou o https://youtu.be/YeOPneYod40?t=5940 89 art. 56, §4º, e o art. 73, inciso III, da LRF, e não mais permite a convolação automática em falência. Art. 56. (...) §4º Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial submeterá, no ato, à votação da assembleia-geral de credores a concessão de prazo de 30 (trinta) dias para que seja apresentado plano de recuperação judicial pelos credores. Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial: (...) III - quando não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º do art. 56 desta Lei, ou rejeitado o plano de recuperação judicial proposto pelos credores, nos termos do § 7º do art. 56 e do art. 58-A desta Lei; No regime atual, o administrador judicial precisa submeter à apreciação imediata da assembleia geral a concessão ou não de um prazo de trinta dias para que seja apresentado o plano de recuperação judicial alternativo pelos credores, o qual deve observar uma série de requisitos previstos no §6º do art. 56 da LRF e, por óbvio, contar com a aquiescência do devedor. Rejeitada na assembleia geral a concessão desse prazo por mais da metade dos créditos presentes, ou ainda, não apresentado plano alternativo pelos credores até o seu final, o Juiz da Vara Empresarial convolará a recuperação judicial em quebra. Essa convolação em falência também ocorrerá caso o devedor ou a assembleia geral, em sessão futura, rejeitarem o plano alternativo proposto pelos credores, tudo na forma do §8º do art. 56 da LRF. Art. 56. (...) §8º Não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º deste artigo, ou rejeitado o plano de recuperação judicial proposto pelos credores, o juiz convolará a recuperação judicial em falência. 8.5. Convolação da recuperação judicial em falência Tanto as situações acima descritas, como outras previstas no art. 73 da LRF, também podem levar à convolação da recuperação judicial em falência. São elas a falta de apresentação do plano no prazo de até sessenta dias do processamento da recuperação judicial, o descumprimento do plano durante a sua execução, o descumprimento de eventual parcelamento de créditos fiscais e a prática de atos de esvaziamento patrimonial do devedor que inviabilizem o cumprimento das suas obrigações. A saber: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 90 Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial: I – por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei; II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei; III - quando não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º do art. 56 desta Lei, ou rejeitado o plano de recuperação judicial proposto pelos credores, nos termos do § 7º do art. 56 e do art. 58-A desta Lei; IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1º do art. 61 desta Lei. V - por descumprimento dos parcelamentos referidos no art. 68 desta Lei ou da transação prevista no art. 10-C da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; e VI - quando identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que implique liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não sujeitos à recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas. (...) 9. Alienação dos ativos da recuperanda Depois de ajuizada a ação de recuperação judicial, o devedor passa a sofrer limitações quanto à disponibilidade sobre os bens de seu ativo não circulante. Conforme o art. 66 da LRF, somente poderá haver a alienação ou a oneração desses bens se houver previsão no plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral, ou se o Juiz da Vara Empresarial permitir, depois de ouvido o comitê de credores ou, excepcionalmente, a assembleia. De acordo com o art. 142, §8º, da LRF, a venda de ativos da recuperanda por qualquer modalidade que seja feita é sempre considerada uma alienação judicial e, por força do parágrafo único do art. 60 e do §3º do art. 66 da LRF, os bens comercializados, inclusive se compuserem unidade produtiva isolada, são entregues ao adquirente livres de quaisquer ônus, não havendo possibilidade de sucessão deste em obrigações do devedor, inclusive de natureza trabalhista, salvo fraude (art. 9 da CLT). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm91 Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei. Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor de qualquer natureza, incluídas, mas não exclusivamente, as de natureza ambiental, regulatória, administrativa, penal, anticorrupção, tributária e trabalhista, observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei. Unidade produtiva isolada é um conceito trazido pelo art. 60 e pelo art. 60-A da LRF que se assemelha à nossa concepção trabalhista de estabelecimento ou até de filial. Embora seja uma das preferidas pelo art. 140 da LRF para a realização de ativos no processo falimentar, na recuperação judicial é uma modalidade sensível de alienação, pois pode tornar inviável o desenvolvimento da atividade empresarial e comprometer a própria recuperação. É por isso que há atenção destacada do legislador em relação às unidades produtivas isoladas e à fraude em sua aquisição. Art. 60-A. A unidade produtiva isolada de que trata o art. 60 desta Lei poderá abranger bens, direitos ou ativos de qualquer natureza, tangíveis ou intangíveis, isolados ou em conjunto, incluídas participações dos sócios. Ativo circulante são bens que podem ser convertidos em dinheiro em curto espaço de tempo e que normalmente são destinados à comercialização pelo empresário, no desenvolvimento da sua atividade econômica. São exemplos as matérias-primas e as mercadorias. Já o ativo não circulante representa o contrário: bens que não podem transformados em dinheiro em curto espaço e que normalmente são destinados à produção. São, dentre outros, as unidades produtivas isoladas, os demais bens de capital e a propriedade intelectual. Na sua redação original, o parágrafo único do art. 60 da LRF foi declarado constitucional pelo STF na ADI nº 3.934/DF. A lei da reforma recuperacional e falimentar trouxe apenas aperfeiçoamento de redação ao dispositivo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2544041 92 Falando em fraude na alienação de unidade produtiva isolada, vale registrar acórdão da 7ª Turma do TST (RR nº 2383-89.2010.5.02.0075, julgado em 20/4/2022), em que houve o reconhecimento de fraude e, por conseguinte, de sucessão trabalhista da adquirente, por conta da transferência de todos os ativos da recuperanda para ela, subvertendo a lógica do processo de recuperação judicial. "RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RÉ . LEI Nº 13.467/2017. FASE DE EXECUÇÃO . TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA DA CAUSA RECONHECIDA . Constata-se que há transcendência jurídica da causa, considerando o debate em torno de direitos e garantias constitucionais de especial relevância, com a possibilidade de reconhecimento de afronta direta a dispositivo da Lei Maior, a justificar que se prossiga no exame do apelo. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. MANIFESTAÇÃO DA CORTE DE ORIGEM SOBRE QUESTÃO SUFICIENTE À MANUTENÇÃO DA DECISÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. O exame dos autos revela que a Corte a quo proferiu decisão completa, válida e devidamente fundamentada, razão pela qual não prospera a alegada negativa de prestação jurisdicional. Constata-se do acórdão recorrido que foi levada em consideração, no deslinde da controvérsia, a circunstância da homologação judicial do plano de recuperação judicial, consoante acima destacado . Outrossim, os argumentos expostos pelo Tribunal Regional, ainda que de forma implícita, revelam que , não obstante a aprovação da assembleia geral de credores e a chancela do Judiciário, a inobservância de premissas básicas acerca da transação realizada, a exemplo da transferência de todo ativo da empresa recuperanda, é suficiente para conclusão do afastamento da blindagem prevista na Lei nº 11.101/2005. Isso retira qualquer utilidade no provimento em questão (acolhimento da negativa), uma vez que, mesmo com eventual manifestação expressa sobre os pontos ventilados pela empresa na preliminar de nulidade, subsistirá fundamento bastante, por si só, para manutenção do desfecho adotado na origem. Recurso de revista não conhecido . SUCESSÃO TRABALHISTA. AQUISIÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS DA EMPRESA RECUPERANDA. TRANSFERÊNCIA TOTAL DOS ATIVOS. LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AFASTAMENTO DA BLINDAGEM PREVISTA NO ARTIGO 60, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 11.101/2005. DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS NÃO VIOLADOS. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO EM DATA ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº 14.112/2020. De início, é preciso esclarecer que o artigo 50, XVIII, incluído pela Lei nº 14.112, de 2020, o qual possibilitou a venda integral da devedora como um dos meios de recuperação judicial, não se aplica à hipótese, uma vez que a homologação do plano ocorreu em data anterior à vigência da referida norma (7/2/2009), quando ausente tal previsão. Assim, a apreciação da controvérsia, no particular, tomará por base o ordenamento jurídico vigente à época dos fatos. Dito isso, prossegue-se na análise do caso concreto . O TRT, com base no conjunto fático-probatório, em especial no parecer coligido aos autos, afastou a norma prevista no artigo 60, parágrafo único, da Lei nº 11.101/2005 e reconheceu a sucessão da recorrente nas obrigações trabalhistas da empresa Independência S/A, fundamentalmente, por dois argumentos: a) transferência de todo o ativo desta para a adquirente; e b) ausência de hasta pública para venda das unidades produtivas da recuperanda. Embora a alienação de ativos sem a realização de hasta pública possa ser validada por posterior homologação judicial, como decidido pelo Pleno desta Corte Superior, no julgamento do IRR nº 69700-28.2008.5.04.0008, em 22/5/2017, https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=2383&digitoTst=89&anoTst=2010&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0075&submit=Consultar 93 a aquisição de todos os estabelecimentos da primeira ré (premissa insuscetível de modificação nesta seara, pelo óbice da Súmula nº 126 do TST), subverte toda lógica contida no mencionado dispositivo legal e na operação que ele representa . No bojo do julgamento da ADI nº 3.934/DF, em que foi declarada a constitucionalidade do artigo 60, parágrafo único, da Lei nº 11.101/2005, o Supremo Tribunal Federal esclareceu: "Do ponto de vista teleológico, salta à vista que o referido diploma legal buscou, antes de tudo, garantir a sobrevivência das empresas em dificuldades - não raras vezes derivadas das vicissitudes por que passa a econômica globalizada -, autorizando a alienação de seus ativos, tendo em conta, sobretudo, a função social que tais complexos patrimoniais exercem , a teor do disposto no art. 170, III, da Lei Maior. (...) O referido processo tem em mira não somente contribuir para que a empresa vergastada por uma crise econômica ou financeira possa superá-la, eventualmente, mas também busca preservar, o mais possível, os vínculos trabalhistas e a cadeia de fornecedores com os quais ela guarda verdadeira relação simbiótica ." (ADI 3934, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009, DJe-208 DIVULG 05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-02 PP-00374 RTJ VOL-00216-01 PP-00227) (grifo nosso). Em interpretação dos aludidos fundamentos, não é crível, portanto, que os efeitos da blindagem possam alcançar situações em que houve a transmissão de todos os bens da empresa em recuperação judicial para a adquirente, a fulminar a continuidade de suas atividades. Por isso, a compreensão literal, mais adequadaao caso, revela que esse resultado - afastamento de eventual sucessão do arrematante nas obrigações anteriores do devedor - só acontecerá quando a aquisição se referir a filiais ou unidades produtivas isoladas , pois, somente assim, restaria garantido o princípio da preservação da empresa, em exata aplicação do artigo 47 da Lei de Recuperação Judicial. Embora o conceito de UPI seja indeterminado - diferente do relacionado à filial, amplamente tratado como o estabelecimento secundário que possui relação de dependência e subordinação com a matriz - é certo que ele também está atrelado ao destacamento de parcela do patrimônio do devedor com destinação produtiva. Nesse contexto, não se amolda à hipótese normativa a situação dos autos; neles, demonstrou-se que "a Independência S/A alienou todos os estabelecimentos que possuía para a agravante, menos um (o de Santana de Parnaíba que, posteriormente, acabou sendo arrendado para a agravante), resultando a transação, então, na completa transferência de todo o ativo para a recorrente ". Ressalte-se que não se trata, aqui, de perscrutar acerca da validade do plano de recuperação judicial, que, como visto, já foi homologado pela autoridade competente, mas, apenas, de aferir a possibilidade de incidência da exceção legal prevista em lei, em face do descumprimento das condições necessárias para tanto (obtenção do regular enquadramento jurídico). Por coerência, então, com os conceitos legais e doutrinários declinados, é impossível determinar a blindagem patrimonial do adquirente, pelas obrigações trabalhistas anteriores à alienação, quando comprovado o esvaziamento patrimonial da empresa recuperanda, em prejuízo do que prescreve o artigo 60, parágrafo único, da Lei nº 11.101/2005. Não socorre à ré, ainda, a alegação da necessidade de interpretação conjunta desse dispositivo com o artigo 141, caput e II, do mesmo arcabouço legal, tendo em vista que o último se aplica, unicamente, no âmbito da falência. Logo, deve prevalecer, no presente caso, a regra geral prevista nos artigos 10 e 448 da CLT, com o reconhecimento da sucessão empresarial . Saliente-se, por fim, que esta Corte Superior já firmou posicionamento no sentido de que somente a inequívoca dissonância entre a decisão transitada em julgado e aquela proferida em sede de execução, caracteriza afronta à coisa julgada 94 (Orientação Jurisprudencial nº 123 da SbDI-II do TST), o que não é a ocasião dos autos. Incólumes os demais artigos indicados pela parte. Por todo o exposto, deve ser mantida a decisão regional. Recurso de revista não conhecido" (RR-2383-89.2010.5.02.0075, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 13/05/2022). Por outro lado, no nacionalmente conhecido caso Varig, por entender pela não ocorrência de fraude na alienação de unidade produtiva isolada, o TRT da 2ª Região editou a Súmula nº 37, não reconhecendo a existência de sucessão trabalhista. Súmula nº 37 do TRT da 2ª Região. Varig. Sucessão trabalhista. Não ocorrência. Ao julgar a ADI 3934/DF o E. STF declarou constitucionais os arts. 60, parágrafo único e 141, II da lei 11.101/2005, que preconizam a ausência de sucessão no caso de alienação judicial em processo de recuperação judicial e ou falência. O objeto da alienação efetuada em plano de recuperação judicial está livre de quaisquer ônus, não se caracterizando a sucessão empresarial do arrematante adquirente, isento das dívidas e obrigações contraídas pelo devedor, inclusive quanto aos créditos de natureza trabalhista. Nada obstante os entendimentos das Cortes trabalhistas, o STJ entende que é o Juízo da Vara Empresarial o competente para avaliar a existência de sucessão, inclusive trabalhista, quando da alienação dos ativos da recuperanda no processo de recuperação judicial, não podendo tal decisão ser questionada na Justiça do Trabalho, sob pena de invasão da competência daquele e insegurança jurídica para o adquirente (CC nº 118.183/MG, julgado em 09/11/2011). 10. Recuperação judicial de microempresas e empresas de pequeno porte Em virtude do alto custo e da complexidade ínsitos ao processo de recuperação judicial, o §1º do art. 70 da LRF outorga ao devedor enquadrado no conceito de microempresa ou empresa de pequeno porte a faculdade de optar por um procedimento simplificado, caso assim o desejem, chamado plano especial de recuperação judicial. Outrossim, a lei da reforma recuperacional e falimentar – Lei 14.112/20 - inseriu na LRF o art. 70-A e também estendeu referido procedimento ao produtor rural com reduzido endividamento, desde que o montante dos créditos sujeitos à recuperação não exceda a 4,8 milhões de reais. Art. 70. (...) https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201101625160&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 95 §1º As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei, poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que afirmem sua intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta Lei. O plano especial de recuperação judicial possui limitações quanto ao período de carência e ao parcelamento dos créditos quando comparado com o plano tradicional. Os credores, independentemente de sua classe, devem ser satisfeitos em, no máximo, trinta e seis parcelas mensais, iguais e sucessivas, atualizadas pela SELIC, e o pagamento da primeira parcela deverá ocorrer no prazo máximo de cento e oitenta dias, contados da distribuição da petição inicial. O art. 71, inciso III, da LRF, além disso, permite ao devedor a apresentação de proposta de deságio ou abatimento do valor das dívidas, mas precisa ficar atento ao quórum de objeções dos credores, como veremos nos próximos parágrafos. Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apresentado no prazo previsto no art. 53 desta Lei e limitar-se á às seguintes condições: I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49; II - preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas; III – preverá o pagamento da 1ª (primeira) parcela no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da distribuição do pedido de recuperação judicial; (...) Deferido o processamento da recuperação judicial e apresentado o plano em até sessenta dias, o Juiz da Vara Empresarial concederá prazo de trinta dias para os credores apresentarem as suas objeções, tal como no procedimento tradicional. Nada obstante, não haverá assembleia geral e o plano especial será aprovado e a recuperação concedida se as objeções não Nos termos do art. 3º da Lei Complementar nº 123/06, são consideradas microempresas e empresas de pequeno porte o empresário individual, a sociedade limitada unipessoal e a sociedade por quotas de responsabilidade limitada cuja receita bruta anual não ultrapassar 360 mil reais para a microempresa e 4,8 milhões de reais para a empresa de pequeno porte (os valores estão atualizados pela Lei Complementar nº 155/16). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp155.htm 96 ultrapassarem os quóruns do art. 45 da LRF, contados por cada uma das quatro classes. De outra parte, se as objeções dos credores extrapolarem esses limites, o Juiz da Vara Empresarial deve julgar improcedente o pedido de recuperação e decretar a falência do microempresário, da empresa de pequeno porte ou do produtor rural com pequeno endividamento. De resto, as outras característicasdesse procedimento, como os créditos abrangidos, o stay period e o período de fiscalização, são idênticos aos da recuperação judicial tradicional. 11. Responsabilidade secundária na recuperação judicial Como regra geral, a responsabilidade patrimonial pelo adimplemento da execução pertence ao devedor que consta no título executivo, de acordo com o art. 779 do CPC. Entretanto, existem situações nas quais essa responsabilidade pode recair sobre terceiros que constam ou não originariamente em tal título. É a chamada responsabilidade patrimonial secundária, derivada ou de terceiros, que está elencada exemplificativamente no art. 790 do CPC, no art. 2º, §2º, da CLT, no art. 448-A da CLT, no art. 455 da CLT, e no art. 5º-A, §5º, da Lei nº 6.019/74, dispositivos que, como premissa geral, estabelecem que terceiros que não são originalmente os titulares da obrigação podem eventualmente ser chamados a responder por elas. Se nas reclamatórias trabalhistas singulares em face de devedor solvente não há muita dúvida acerca da possibilidade de aplicação destes dispositivos, inclusive com o chamamento de terceiros ao processo já em fase de execução quando ausentes no título executivo, o debate ganha outros contornos na ocasião em que estamos diante de empresas em recuperação judicial. Neste cenário, o nosso objetivo de pagamento ao credor trabalhista pode vir a conflitar com princípios e regras da legislação recuperacional, como os princípios da universalidade do Juízo da recuperação judicial e da par conditio creditorum e regras como a do art. 6-C da LRF, introduzido pela lei da reforma recuperacional e falimentar, o qual veda a atribuição de responsabilidade a terceiros em decorrência do mero inadimplemento de obrigações do devedor em recuperação judicial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019compilado.htm 97 Art. 6º-C. É vedada atribuição de responsabilidade a terceiros em decorrência do mero inadimplemento de obrigações do devedor falido ou em recuperação judicial, ressalvadas as garantias reais e fidejussórias, bem como as demais hipóteses reguladas por esta Lei. Na Justiça do Trabalho, o entendimento que se tem visto é no sentido de superar o conflito normativo sobrepujando a norma recuperacional limitadora e fazendo a execução trabalhista singular prosseguir seu curso. Todavia, é preciso ter a consciência de que, ao decidir de tal forma, estamos flexionando em algum grau os dois princípios antes mencionados e criando efeitos colaterais no sistema, dado que alguns trabalhadores irão fatalmente receber seus créditos antes ou, quiçá, em detrimento de outros. Portanto, especialmente nas situações de responsabilidade secundária de terceiro que ainda não consta no título executivo, o redirecionamento da execução trabalhista deve ser encarado como exceção a ser analisada à luz de métodos hermenêuticos de superação de antinomias, e não como regra. Feita a ressalva quanto aos princípios da universalidade do Juízo recuperacional e da par conditio creditorum, regras como a do art. 6-C da LRF impressionam menos, pois são fáceis de ser rechaçadas pela Justiça do Trabalho. Isso porque basta a compreensão de que esse dispositivo cria um ônus argumentativo endereçado somente ao Juiz da Vara Empresarial: seu comando é que, no âmbito de um processo de recuperação judicial, o Magistrado da Vara Empresarial não pode imputar responsabilidade a terceiros somente pelo inadimplemento do devedor. A Vara deverá ir mais longe na argumentação, enfrentando, exemplificativamente, as premissas do art. 50 do Código Civil, se a hipótese for de responsabilidade dos sócios, ou do art. 792 do CPC, se for de fraude à execução. Todavia, essa mesma regra não pode ser imposta aos Juízos de origem dos credores que se sujeitam à recuperação judicial, mas que, por algum motivo particular, pretendem também seguir com a discussão da responsabilidade de terceiros nesses Juízos. Assim é que, numa execução singular em que, após a expedição da certidão de crédito trabalhista, persista a pretensão do trabalhador em debater nos próprios autos a responsabilidade solidária de empresa supostamente integrante do grupo econômico da recuperanda, a apreciação a ser feita pela Justiça do Trabalho o será à luz do art. 2º, §2º, da CLT, e não do art. 6-C da LRF, pois possuímos um microssistema especial de normas de responsabilidade secundária que não é derrogado pela lei recuperacional. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 98 O mesmo podemos afirmar quando a pretensão for de imputação de responsabilidade aos sócios da recuperanda: caso entendamos pela aplicação da chamada teoria menor ou objetiva da desconsideração da personalidade jurídica da recuperanda, o art. 6-C da LRF não representa óbice à utilização do art. 28, §5º, do Código de Defesa do Consumidor. 11.1. Responsabilidade do devedor constante no título executivo A primeira modalidade de responsabilidade secundária objeto de debate nas reclamatórias trabalhistas em que o devedor principal é empresa recuperanda é a do devedor que já consta no título executivo, ou por ter participado do processo desde a fase de conhecimento, ou pela ordem de suspensão das execuções singulares ter sido dada pelo Juízo da Vara Empresarial depois do trânsito em julgado da nossa decisão que o chamou ao processo em fase de execução. À vista disso, é preciso atenção para o fato de que não se está sequer diante de terceiro no sentido processual, mas sim de verdadeira parte, razão Nessas situações, não há proibição legal para que o trabalhador habilite seu crédito na recuperação judicial e proceda, ao mesmo tempo, na sua execução perante o Juízo trabalhista, compensando os valores que receber primeiro. Ao contrário, interpretação analógica do art. 127 da LRF autoriza essa conclusão. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm https://youtu.be/nnHhdG3Wvgw?t=240 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 99 porque, também por esse argumento, o art. 6-C da LRF anteriormente examinado não encontra qualquer campo de aplicação nestes casos. O primeiro passo é classificar o devedor conforme o tipo de responsabilidade que lhe foi imputada no título executivo, se solidária ou subsidiária. Caso seja da primeira espécie, não há qualquer controvérsia quanto à possibilidade de habilitação do crédito na recuperação judicial, na forma do art. 49, §1º, da LRF, e o prosseguimento imediato e simultâneo da execução trabalhista contra o solidariamente coobrigado, inclusive sem o efeito de suspensão das execuções previsto no art. 6º da LRF, consoante a Súmula nº 581 do STJ. Súmula nº 581 do STJ. A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória. No cenário de responsabilidade solidária normalmente encontramos, por força do art. 2º, §2º, da CLT, as empresas integrantes de grupo econômico e, com alguma divergência na jurisprudência trabalhista quanto aotipo de responsabilidade, os empreiteiros, subempreiteiros e donos de obra, em razão do art. 455 da CLT, da Orientação Jurisprudencial nº 191 da SDI-1 do TST e do IRR nº 190-53.2015.5.03.0090, julgado em 11/05/2017 (Tema nº 06 da tabela de recursos de revista repetitivos do TST), desde que, reforçamos, já constem do título executivo. Caso se esteja diante de responsabilidade subsidiária, o benefício de ordem de que goza esse tipo de devedor já provocou controvérsia na jurisprudência trabalhista quanto à necessidade ou não de se aguardar o encerramento da recuperação judicial para se redirecionar a execução trabalhista contra ele. Todavia, essa questão já se encontra pacificada, com muitos Tribunais Regionais tendo emitido entendimentos uniformes sobre a possibilidade de prosseguimento imediato e simultâneo da execução trabalhista contra o subsidiariamente coobrigado, seja na recuperação judicial, seja na quebra, como podemos ver na Súmula nº 20 do TRT da 1ª Região, na Súmula nº 54, inciso I, do TRT da 3ª Região, na Orientação Jurisprudencial nº 07 da Seção Especializada em Execução do TRT da 4ª Região, na Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso VII, da Seção Especializada do TRT da 9ª Região e na Súmula nº 28 do TRT da 12ª Região. Súmula nº 20 do TRT da 1ª Região. Responsabilidade subsidiária. Falência do devedor principal. Continuação da execução trabalhista em face dos devedores subsidiários. Possibilidade. A falência do devedor principal não http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://brs02.tst.jus.br/cgi-bin/nph-brs?d=BLNK&s1=191&s2=bddi.base.&pg1=NUMS&u=http://www.tst.gov.br/jurisprudencia/brs/nspit/nspitgen_un_pix.html&p=1&r=1&f=G&l=0 https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=000190&digitoTst=53&anoTst=2015&orgaoTst=5&tribunalTst=03&varaTst=0090&submit=Consultar 100 impede o prosseguimento da execução trabalhista contra os devedores subsidiários. Súmula nº 54 do TRT da 3ª Região. I – Deferido o processamento da recuperação judicial ao devedor principal, cabe redirecionar, de imediato, a execução trabalhista em face do devedor subsidiário, ainda que ente público. Inteligência do § 1º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005. Orientação Jurisprudencial nº 07 da Seção Especializada em Execução do TRT da 4ª Região. Redirecionamento da execução contra devedor subsidiário. Falência do devedor principal. A decretação da falência do devedor principal induz presunção de insolvência e autoriza o redirecionamento imediato da execução contra o devedor subsidiário. Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada do TRT da 9ª Região. (...) VII - Falência. Recuperação Judicial. Sócios responsabilizáveis e responsáveis subsidiários. Execução imediata na Justiça do Trabalho. Decretada a falência ou iniciado o processo de recuperação judicial, e havendo sócios responsabilizáveis ou responsáveis subsidiários, a execução pode ser imediatamente direcionada a estes, independentemente do desfecho do processo falimentar. Eventual direito de regresso ou ressarcimento destes responsabilizados deve ser discutido no Juízo Falimentar ou da Recuperação Judicial. Súmula nº 28 do TRT da 12ª Região. Falência ou recuperação judicial. Responsabilidade subsidiária. Dado o caráter alimentar das verbas trabalhistas, decretada a falência ou a recuperação judicial do devedor principal, a execução pode voltar-se imediatamente contra devedor subsidiário.” Mais recentemente, por ocasião da tramitação do projeto de lei da reforma recuperacional e falimentar, o legislador buscou retomar a tese de que o benefício de ordem justificaria a suspensão das execuções singulares até, pelo menos, a homologação do plano de recuperação judicial ou sua convolação em falência, inserindo um §10 com esse texto no art. 6º da LRF. Entretanto, o dispositivo foi vetado. No contexto de responsabilidade subsidiária tradicionalmente estão, por conta da Súmula nº 331, inciso IV, do TST e do art. 5º-A, §5º, da Lei nº 6.019/74, os tomadores de serviço em terceirizações, em face do art. 448-A da CLT, os sucessores trabalhistas e, em razão do art. 50 do Código Civil ou do art. 28, §5º, do Código de Defesa do Consumidor, os sócios e administradores de empresas, desde que já constem do título executivo quando do ajuizamento da recuperação judicial. 11.2. Responsabilidade do devedor não constante no título executivo https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html#SUM-331 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm 101 A segunda possibilidade de redirecionamento da execução trabalhista contra terceiros quando a devedora é recuperanda ocorre nas situações em que esses terceiros ainda não constam no título executivo por ocasião da decisão de suspensão das execuções pelo Juízo da Vara Empresarial. Primeiro é necessário uma decisão da Justiça do Trabalho que, baseada em um juízo provisório de verossimilhança, permita o contraditório e determine a inclusão do terceiro no polo passivo da reclamatória trabalhista na qualidade de corresponsável. Cabe a Justiça do Trabalho, em procedimento não previsto em lei, mas jurisprudencialmente consagrado, determinar a reautuação do processo e a citação do terceiro que passará a responder pelo débito trabalhista, para que pague ou garanta a execução, sob pena de penhora. Segundo jurisprudência do TST, não há necessidade de instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica nessa modalidade de chamamento ao processo (AgAIRR nº 856-80.2015.5.03.0146, julgado em 06/11/2019), como também não há impedimento para que o trabalhador, ao mesmo tempo habilite seu crédito na recuperação judicial e persiga na reclamatória trabalhista a responsabilização de terceiro. Com o cancelamento da Súmula nº 205 do TST, há muito tempo se incluem nessa conjectura as empresas integrantes de grupo econômico, não obstante a decisão do STF no ARE nº 1.160.361/SP, julgado em 14/09/2021, mas sem efeito vinculante, que determinou à 4ª Turma do TST revisão de julgado que havia admitido a inclusão de empresa integrante de grupo econômico em fase de execução sem análise de constitucionalidade do art. 513, §5º, do CPC, e com violação da Súmula Vinculante nº 10 do STF. A 4ª Turma do TST realizou tal revisão e, no RR nº 68600- 43.2008.5.02.0089, julgado em 13/05/2022, afastou a admissão de terceiros em fase de execução. Será necessário acompanhar a jurisprudência do Supremo para verificar o deslinde dessa delicada questão, que afeta não só as situações de recuperação judicial, como as de execução trabalhista contra devedor solvente, e pode resvalar em casos como o dos sucessores trabalhistas do art. 448-A da CLT, dado que o encaixe jurídico é o mesmo. De qualquer modo, ultrapassada essa questão, o próprio STJ, na sua Súmula nº 480, surgida a partir do julgamento de diversos conflitos com os Juízos de Varas Empresariais, reconhece a competência material da Justiça do Trabalho para decidir sobre a execução de patrimônio de terceiros previamente incluídos ou não no título executivo, pois estabelece que o Juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=856&digitoTst=80&anoTst=2015&orgaoTst=5&tribunalTst=03&varaTst=0146&submit=Consultarhttps://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201_250.html#SUM-205 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5544613 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula746/false https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=68600&digitoTst=43&anoTst=2008&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0089&submit=Consultar https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=68600&digitoTst=43&anoTst=2008&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0089&submit=Consultar http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 102 que não estiverem abrangidos pelo plano de recuperação, que é o caso dos bens dos devedores coobrigados. Súmula nº 480 do STJ. O Juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa. 11.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da recuperanda Deixamos para análise em separado da responsabilidade do sócio da recuperanda ainda não incluído no título executivo por ocasião da decisão de suspensão das execuções dada pelo Juízo da Vara Empresarial primeiro porque, em face da previsão no incidente de desconsideração da personalidade jurídica de regras próprias conforme o art. 855-A da CLT, ele não é afetado pela lógica jurídica do STF no ARE nº 1.160.361/SP e, segundo porque o art. 82-A, parágrafo único, da LRF aparentemente levanta outra barreira a esse tipo de responsabilização. O art. 82-A da LRF está geograficamente situado em capítulo legal que se dedica à falência e, mais do que isso, faz referência expressa à quebra, e não à recuperação judicial, quando trata da proibição de extensão dos seus efeitos aos sócios e administradores da falida, admitida a desconsideração da personalidade jurídica com base no art. 50 do Código Civil. Art. 82-A. É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de responsabilidade limitada, aos controladores e aos administradores da sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração da personalidade jurídica. Parágrafo único. A desconsideração da personalidade jurídica da sociedade falida, para fins de responsabilização de terceiros, grupo, sócio ou administrador por obrigação desta, somente pode ser decretada pelo Juízo falimentar com a observância do art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) e dos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de A confirmar essa tese especificamente no caso de grupo econômico, temos o AgInt nos EDcl no CC nº 150.661/SP, julgado em 28/02/2018, em que o STJ afirmou não caracterizar conflito de competência a ordem de Juiz do Trabalho que determina a constrição de bens pertencentes à empresa componente do mesmo grupo econômico da recuperanda, porém não abrangida pelo processo de recuperação. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5544613 https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201700110028&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 103 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), não aplicada a suspensão de que trata o § 3º do art. 134 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). Por conseguinte, a forma mais simples de ultrapassar esse obstáculo na recuperação judicial é afastar a sua hipótese de incidência para este procedimento. Todavia, também não se exige qualquer malabarismo jurídico para obstar sua aplicação na própria falência. Com efeito, a construção jurídica é a mesma exposta anteriormente, no sentido de que art. 82-A da LRF e seu parágrafo único estão endereçados apenas ao Juiz da Vara Empresarial e não impedem que a Justiça do Trabalho conheça e julgue procedente o incidente de desconsideração da personalidade jurídica nos autos da própria reclamatória trabalhista e a ela, querendo, aplique-se as regras próprias de microssistema especial de normas de responsabilidade dos quotistas de sociedades de responsabilidade limitada, leia-se o art. 28, §5º, do Código de Defesa do Consumidor. E aqui essa hermenêutica fica ainda mais clara quando o artigo de lei afirma textualmente que a desconsideração da personalidade jurídica só pode ser decretada pelo Juízo falimentar se estiverem presentes os elementos do art. 50 do Código Civil: é um comando dirigido ao Juiz da Vara Empresarial, que não embaraça, por si só, a atuação da Justiça do Trabalho nas reclamatórias trabalhistas singulares. Portanto, o artigo introduzido pela lei da reforma recuperacional e falimentar, até por representar apenas uma melhora de redação de dispositivo cuja inclusão se tentou fazer na Medida Provisória nº 881/19, não altera a jurisprudência laboral que autoriza a desconsideração da personalidade jurídica nos próprios autos da reclamatória trabalhista quando a devedora principal é recuperanda ou falida. Para os administradores de sociedades anônimas, por força do artigo 158 da Lei nº 6.404/76, a jurisprudência trabalhista normalmente adota a teoria maior ou subjetiva do art. 50 do Código Civil. Nesse sentido, a Orientação Jurisprudencial nº 31 da Seção Especializada do TRT da 4ª Região consolidou entendimento de que “é viável o redirecionamento da execução contra sócios-controladores, administradores ou gestores de sociedade anônima quando caracterizado abuso de poder, gestão temerária ou encerramento irregular das atividades empresariais”. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm 104 Essa compreensão podemos ver na Súmula nº 54, inciso II, do TRT da 3ª Região e na Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso VII, da Seção Especializada do TRT da 9ª Região, bem como no entendimento atual de várias Turmas do TST, a exemplo da 3ª Turma, no acórdão do AIRR nº 3- 47.2017.5.02.0011, julgado em 16.10.2019, e da 7ª Turma, no acórdão do RR nº 550-76.2014.5.02.0081, julgado em 16/2/2022. Súmula nº 54 do TRT da 3ª Região. (...) II - O deferimento da recuperação judicial ao devedor principal não exclui a competência da Justiça do Trabalho para o prosseguimento da execução em relação aos sócios, sucessores (excetuadas as hipóteses do art. 60 da Lei n. 11.101/2005) e integrantes do mesmo grupo econômico, no que respeita, entretanto, a bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa. Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada do TRT da 9ª Região. (...) VII - Falência. Recuperação Judicial. Sócios responsabilizáveis e responsáveis subsidiários. Execução imediata na Justiça do Trabalho. Decretada a falência ou iniciado o processo de recuperação judicial, e havendo sócios responsabilizáveis ou responsáveis subsidiários, a execução pode ser imediatamente direcionada a estes, independentemente do desfecho do processo falimentar. Eventual direito de regresso ou ressarcimento destes responsabilizados deve ser discutido no Juízo Falimentar ou da Recuperação Judicial. De maneira muito semelhante, a jurisprudência do STJ, aqui representada tanto pelo AgInt nos EDcl no CC nº 155.003/RS, julgado em 22/02/2018, quanto pelo CC nº 185.612/SP, julgado em 07/02/2022, na esteira da antes citada Súmula nº 480 do mesmo Tribunal, maciçamente não reconhece conflito de competência quando a recuperanda pretende obstar a instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica contra os seus sócios em reclamatória trabalhista movida contra ela. https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=000003&digitoTst=47&anoTst=2017&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0011&submit=Consultarhttps://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=000003&digitoTst=47&anoTst=2017&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0011&submit=Consultar https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=550&digitoTst=76&anoTst=2014&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0081&submit=Consultar https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201603107133&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=202200170694&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 105 12. Efeitos da recuperação judicial sobre os contratos de trabalho ativos A regra da legislação recuperacional é a de que a recuperação judicial não ocasiona efeitos resilitórios automáticos em relação aos contratos bilaterais e onerosos da recuperanda, pois existe a continuidade dos seus negócios. Por dita razão, e ainda, por incidência do art. 449 da CLT, os contratos de trabalho seguem ativos e inalterados. Art. 449. Os direitos oriundos da existência do contrato de trabalho subsistirão em caso de falência, concordata ou dissolução da empresa. Nada obstante, eventualmente, em certos planos de recuperação judicial existem propostas de alterações contratuais trabalhistas envolvendo redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, dado que o art. 50, inciso VIII, da LRF, sugere esse meio como um dos que se pode lançar mão para a saída da crise econômico-financeira. Só não há problemas nesse modelo de gestão se, além da aprovação do plano e da concessão da recuperação judicial, também haja negociação coletiva com o sindicato da categoria. Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: (...) VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; https://youtu.be/lNy0QH-7QQY?t=4672 106 Na hipótese de haver resilição contratual motivada pela vontade da recuperanda ou do trabalhador, todos os direitos decorrentes da modalidade de extinção são devidos, incluindo a multa do art. 477, §8º, da CLT, em caso de atraso no pagamento. Ao contrário da quebra, em que essa multa não é devida por conta de a massa falida não poder dispor de nenhuma parte do seu patrimônio, na recuperação judicial há a incidência de tal penalidade, conforme podemos notar na Súmula nº 33 do TRT da 1ª Região e na Súmula nº 26 do TRT da 17ª Região. Súmula nº 33 do TRT da 1ª Região. Empresa em recuperação judicial. Art. 477, §8º, da CLT. O deferimento da recuperação judicial não desonera a empresa do pagamento das verbas trabalhistas dentro do prazo legal. O atraso na quitação das parcelas da rescisão sujeita o empregador à cominação estabelecida no art. 477, §8º, da CLT. Súmula nº 26 do TRT da 17ª Região. Empresa em recuperação judicial. Art. 477, §8º, da CLT. O deferimento da recuperação judicial não desonera a empresa do pagamento das verbas trabalhistas dentro do prazo legal. O atraso na quitação das parcelas da rescisão sujeita o empregador à cominação estabelecida no art. 477, §8º, da CLT. Lembre-se de que as parcelas rescisórias decorrentes de resilição contratual ocorrida depois do pedido de recuperação judicial são consideradas extraconcursais e executadas normalmente perante a Justiça do Trabalho, dado que os créditos constituídos depois da distribuição da ação recuperacional não se submetem ao stay period e aos outros efeitos da LRF. Por conta disso, não é incomum vermos empresas em situação pré- recuperacional promoverem a despedida de má-fé de vários dos seus empregados, sem pagamento de parcelas rescisórias, dias antes de ingressarem com pedido de recuperação judicial. Resumo da aula 3 Seguindo lógica idêntica, o TRT da 1ª Região também tem entendimento uniforme consubstanciado na sua Súmula nº 40, no sentido de que é aplicável a multa processual do art. 467 da CLT à empresa que, em processo de recuperação judicial, não quitar as parcelas incontroversas na audiência inaugural. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 107 Nesta aula, estudou-se algumas características do plano de recuperação judicial, principalmente os prazos para pagamento dos trabalhadores e o deságio que ele pode prever para esses créditos, caso a proposta para o seu adimplemento ocorra em até um ano da data da decisão que conceder a recuperação. Estudou-se também que, para ser homologado pelo Juiz da Vara Empresarial e posto em execução, o plano precisa ser aprovado pelas quatro classes de credores reunidas na assembleia geral, sendo que os trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho pertencem à classe I e votam per capita, e não pelo valor do seu crédito. Averiguou-se ainda que a rejeição do plano sem a apresentação de alternativas pelos credores, ou rejeitadas estas pelo devedor, leva à convolação da recuperação judicial em falência. Também estudou-se que a concessão da recuperação mantém as execuções trabalhistas singulares suspensas e que todos os créditos submetidos ao procedimento são novados, novação esta que se torna definitiva e imutável, se o plano for cumprido até o término da fiscalização judicial, o que normalmente ocorre em dois anos. Depois de restar evidenciada que a alienação judicial de bens no processo recuperacional não acarreta em sucessão trabalhista do adquirente, salvo as hipóteses de fraude, passou-se para o exame das possibilidades de responsabilidade secundária na recuperação judicial. Aqui descobriu-se que, embora a Lei nº 14.112/20 tenha incluído na LRF artigos como o 6º-C e o 82-A, destinados a blindar esses terceiros, eles em nada modificam a jurisprudência anterior, inclusive do STJ, que entendia pela possibilidade da sua eventual responsabilização nos autos da própria reclamatória trabalhista, estejam eles ou não no título executivo, sejam eles sócios, administradores, sucessores ou integrantes de um mesmo grupo econômico da recuperanda. Para fechar, apurou-se que a recuperação judicial em absolutamente nada afeta os contratos de trabalho e que eventuais resilições serão consideradas despedidas sem justa causa, gerando o pagamento de todas as parcelas rescisórias inerentes a esta modalidade de extinção contratual, inclusive a multa decorrente do seu atraso. 108 Até a próxima aula! 109 AULA 4 Falência - Parte I (Conceitos, Sujeitos, Competência e Classificações dos Créditos) 13. Disposições gerais 13.1. Conceito e objetivo da falência Há crises econômico-financeiras que simplesmente não conseguem ser superadas pelas empresas, ou porque elas são tecnologicamente atrasadas, porque estão completamente descapitalizadas ou porque possuem organização administrativa precária. Nessas atividades econômicas inviabilizadas, a exclusão empresarial do mercado por meio da falência não é um mal, mas sim uma proteção do sistema econômico-produtivo como um todo, incluindo trabalhadores e demais credores. Considerando que a recuperação judicial não deve ser perseguida a qualquer custo e de que atividades econômicas inviabilizadas devem mesmo quebrar para não prejudicar as demais, o art. 75 da LRF estabelece o conceito da falência como o encerramento judicial dessas empresas, com a liquidação forçada dos ativos do devedor para assegurar o pagamento aos credores, conforme a ordem hierárquica estabelecida por lei e a par conditio creditorum. Os objetivos da falência estão estampados nos incisos e parágrafos deste artigo de lei e vão desde a liquidação célere acima mencionada até o fomento do empreendedorismo, passando pela preservação e otimização dos bens e recursos produtivos da empresa falida, com a suarealocação para outros agentes econômicos. Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a: I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa; II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de recursos na economia; e III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica. 110 § 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). § 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia. 13.2. Pessoas sujeitas à falência De acordo com o art. 1º da LRF, as disposições falimentares aplicam- se a todas as pessoas naturais e jurídicas que exerçam atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, conforme os conceitos de empresário e sociedade empresária já estudados quando do exame da recuperação judicial. Assim, a primeira conclusão é a de que todas as pessoas que são beneficiárias da recuperação judicial também podem falir, incluindo o microempreendedor individual, o empresário individual, a sociedade limitada unipessoal, a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, a sociedade por ações, os produtores rurais e as associações futebolísticas com registro nas Juntas Comerciais. Mas não são só estas formas jurídicas empresariais que estão sujeitas à quebra. Diferentemente da recuperação judicial, que é um benefício legal ao empresário e às sociedades empresárias, a quebra é um mecanismo de exclusão jurídica de empresas inviabilizadas, de maneira que certas formas empresariais privadas da recuperação estão sujeitas à falência. Portanto, aqui encontramos as sociedades empresárias irregulares, também conhecidas como em comum ou de fato que, a despeito de não possuírem personalidade, estão submetidas ao regime falimentar por força de interpretação do art. 105, inciso IV, da LRF, na parte em que este dispositivo autoriza o pedido de autofalência mesmo diante da ausência de contrato social ou estatuto em vigor. Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao Juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: (...) IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 111 13.3. Pessoas excluídas da falência Do mesmo modo que da recuperação judicial, estão excluídas do regime falimentar as sociedades elencadas no art. 2º da LRF e em alguns dispositivos da legislação esparsa, o qual contempla primeiro as empresas públicas e sociedades de economia mista e depois as instituições financeiras, as cooperativas de crédito, as operadoras de consórcios, as entidades de previdência complementar, as sociedades operadoras de planos de assistência à saúde, as sociedades seguradoras e as sociedades de capitalização. Excepcionalmente, as instituições financeiras e as cooperativas de crédito podem ter sua falência declarada. Mas isso somente ocorre quando falharem as tentativas de administração especial temporária e intervenção do seu órgão regulador, o Banco Central do Brasil, e este entender pela inconveniência da liquidação extrajudicial. Além disso, o art. 12 e o art. 21, alínea “b”, da Lei nº 6.024/74 também permitem ao Banco Central do Brasil autorizar o pedido de quebra das instituições financeiras e das cooperativas de crédito quando seu ativo não for suficiente para cobrir sequer metade do valor dos créditos quirografários ou quando houver indícios de crimes falimentares. No mesmo regime de liquidação extrajudicial seguido de excepcional falência entram as operadoras de consórcio, dado que o art. 39 da Lei nº 11.795/08 estipula que a administração especial e a liquidação extrajudicial a serem decretadas pelo seu órgão regulador, o Banco Central do Brasil, são regidas pela mesma legislação aplicável às instituições financeiras. As entidades de previdência complementar que são reguladas pela Lei Complementar nº 109/01 estão sujeitas à intervenção do seu órgão regulador, a Superintendência de Seguros Privados para as companhias abertas ou o Conselho Nacional de Previdência Complementar para as fechadas, que na hipótese de inviabilidade econômica ou ausência de condições de funcionamento, poderá decretar a sua liquidação extrajudicial e, se constatada a insuficiência de ativos para cobrir sequer metade do valor dos créditos quirografários, ou indícios de crimes falimentares, poderá requerer a sua quebra, na forma do art. 73 da Lei Complementar nº 109/01. As sociedades seguradoras regidas pelo Decreto-lei nº 73/66, as sociedades de capitalização regulamentadas pelo Decreto-lei nº 261/67 e as sociedades operadoras de planos de assistência à saúde seguem idênticas regras relativas às entidades de previdência complementar quanto às situações de intervenção, liquidação extrajudicial e excepcional falência, com a única http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6024.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6024.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp109.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0073compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0261.htm 112 exceção que órgão regulador destas últimas é a Agência Nacional de Saúde Suplementar. Dos agentes econômicos não empresários, temos que as sociedades cooperativas em geral estão submetidas apenas ao regime da liquidação extrajudicial e os demais agentes, como as organizações religiosas, os partidos políticos, as sociedades simples, os produtores rurais sem registro na Junta Comercial e os chamados profissionais intelectuais do art. 966 do Código Civil, ficam subordinados exclusivamente às regras de insolvência civil. 13.4. Competência indivisível e universal do Juízo falimentar De acordo com o art. 76 da LRF, após a decretação da falência, o Juízo da Vara Empresarial adquire a denominada competência universal para processar e julgar todas as ações contra o falido, o que significa dizer primeiro que todos os titulares de pretensões em face do devedor deverão dirigir suas ações para este Juízo, salvo as demandas que postularem quantias ilíquidas, até que haja a sua liquidação, incluídas nelas as reclamatórias trabalhistas, tudo em conformidade com o art. 99, inciso V, da LRF, além das execuções fiscais. Art. 76. O Juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo. Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: (...) V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei; Ademais,por universalidade, deve-se entender que o Juízo da Vara Empresarial passa a ser o único competente para arrecadar todos os bens e apreciar todas as questões voltadas à liquidação do patrimônio da massa falida, bem como será o único competente para realizar o pagamento da coletividade de credores. Finalmente, a universalidade ainda significa que os ativos da massa falida não poderão ser atingidos por decisões proferidas por Juízo diverso do Juízo falimentar, na forma da jurisprudência do STJ (CC nº 130.994/SP, julgado em 13/08/2014). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201303661860&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201303661860&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 113 Quanto à indivisibilidade, apenas um alerta. As ações promovidas pelo falido, isto é, aquelas demandas em que ele figure no polo ativo processual, seguirão tramitando sem qualquer suspensão ou modificação de competência nos respectivos Juízos de origem, salvo se forem disciplinadas pela lei falimentar. As novas ações movidas pela massa falida contra terceiros também seguem a mesma regra de distribuição processual, o que significa dizer apenas as ações promovidas por terceiros em face da massa falida é que são atraídas para o Juízo da Vara Empresarial. 13.5. Representação processual da massa falida Enquanto na recuperação judicial o próprio devedor segue com legitimidade processual para defender seus interesses, na falência há o seu afastamento das atividades e a sua substituição pelo administrador judicial da massa falida, que passa a representá-la perante terceiros, inclusive em Juízo, tudo de acordo com o art. 22, inciso III, e com o antes transcrito art. 76, parágrafo único, ambos da LRF. Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: (...) III – na falência: (...) c) relacionar os processos e assumir a representação judicial e extrajudicial, incluídos os processos arbitrais, da massa falida; (...) n) representar a massa falida em Juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; Destarte, é preciso ter cuidado especial para evitar nulidades nas reclamatórias trabalhistas em que há notícia de decretação de quebra da empresa reclamada, dado que a procuração anteriormente outorgada pelo agora falido ao seu advogado deixa imediatamente de ter valor. Embora o falido perca o direito de representar a empresa e de dispor dos bens dela, o art. 103 da LRF autoriza que ele fiscalize a administração da falência, requeira as providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervenha nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htmhttps:/www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/311628775/inteiro-teor-311628783 114 14. Créditos sujeitos à falência A falência é um procedimento mais amplo e universal que o da recuperação judicial. Por isso, como regra, temos a de que não apenas os créditos que se subordinam ao processo recuperacional, mas todos os créditos existentes contra o devedor estão submetidos à falência, salvo uma ou outra exceção legal. Outra diferença é que, enquanto na recuperação judicial a ordem cronológica de pagamento dos créditos a ela sujeitos é definida pelo próprio plano de recuperação, com algumas limitações no art. 54 da LRF quanto aos créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho, no regime falimentar essa ordem é fixa e definida pela lei, a qual estabelece uma conformação hierárquica para todos eles, a ser objeto de estudo a seguir. 14.1. Classificação dos créditos na falência Embora comumente responda-se que os créditos trabalhistas, limitados a cento e cinquenta salários-mínimos, e os créditos decorrentes de acidentes de trabalho, sem qualquer limite, estão no topo da pirâmide hierárquica dos créditos a serem pagos na falência, não é bem verdade que isso ocorra. Eles se situam em primeiro lugar na ordem de pagamento dos chamados créditos concursais, mas antes deles estão os créditos extraconcursais e, em primeiríssimo lugar, os pedidos de restituição. 14.1.1. Pedidos de restituição O art. 108 da LRF ordena que uma das primeiras tarefas do administrador judicial após a decretação da falência é proceder na arrecadação de todos os bens que estejam na posse do falido, para evitar que desapareçam ou sejam deteriorados. Evidentemente, dentro de todo esse patrimônio, poderá haver móveis e imóveis que estavam na posse do falido, mas que não eram da sua propriedade, como bens dos quais ele era apenas locatário, depositário, comodatário, devedor fiduciário, etc. Para evitar que esses bens sejam liquidados e que seu produto seja utilizado para satisfazer os credores da massa, os seus terceiros proprietários estão autorizados pelo caput do art. 85 da LRF a apresentarem pedido de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 115 restituição perante o Juízo da Vara Empresarial, para discutir a titularidade dos ativos e retomar-lhes a posse. Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua restituição. Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada. Tecnicamente, saliente-se que os proprietários de bens arrecadados pelo administrador judicial sequer poderiam ser chamados de credores da massa falida, ao menos quanto aos referidos bens, posto que eles estão somente a retomar a posse de coisas que já lhes pertenciam, através do exercício do direito de sequela decorrente da propriedade. Por isso, aliás, é que eles não se sujeitam à habilitação no procedimento de verificação de créditos e têm um procedimento próprio de restituição. Todavia, prefere-se incluí-los por aqui, uma vez que, dentre eles, há sim uma série de verdadeiros credores do falido, com a única diferença de que os seus créditos estão garantidos pela propriedade resolúvel de certos bens, como já foi tratado no tópico dos créditos excluídos da recuperação judicial. Assim é que são restituídos com prioridade em relação ao pagamento de quaisquer outros credores, inclusive os extraconcursais, os bens do proprietário fiduciário de móveis ou imóveis, os do arrendante mercantil e os do proprietário de imóvel vendido para o falido, esteja ele na condição de promitente vendedor ou de vendedor com reserva de domínio, inclusive em incorporações imobiliárias. Na mesma situação, não propriamente pelo exercício de um direito de propriedade, mas por uma equiparação legal a ele que protege o sistema financeiro, estão os valores entregues ao falido em decorrência de adiantamento do contrato de câmbio para exportação previsto no art. 75, §3º, da Lei nº 4.728/65. Esse credor financeiro, que está arrolado inciso II do art. 86 da LRF, por motivos óbvios terá seu direito à restituição exercido sobre o dinheiro da massa falida antes de qualquer crédito, como consta há muito na Súmula nº 307 do STJ. Súmula nº 307 do STJ. A restituição de adiantamento de contrato de câmbio, na falência, deve ser atendida antes de qualquer crédito. O art. 86 da LRF também elenca outras situações em que a restituição deve serprocedida em numerário, como quando o bem de terceiro foi alienado ou perdido antes do pedido de restituição, quando um contrato celebrado antes da decretação de quebra é considerado ineficaz por estarem presentes quaisquer situações do art. 129 da LRF, mas o terceiro contratante estava de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4728compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 116 boa-fé, e quando estivermos diante de tributos passíveis de retenção na fonte, como é o caso do imposto de renda e da contribuição previdenciária incidente sobre salários pagos aos trabalhadores e retidos pelo devedor, sem repasse à Fazenda Pública. Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro: I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado; II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3º e 4º, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente; III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta Lei. IV - às Fazendas Públicas, relativamente a tributos passíveis de retenção na fonte, de descontos de terceiros ou de sub-rogação e a valores recebidos pelos agentes arrecadadores e não recolhidos aos cofres públicos. Há, entretanto, um importante detalhe quanto à restituição em dinheiro, trazido pela lei da reforma recuperacional e falimentar. Ainda que se trate de pedido de restituição, o art. 86, inciso I-C, da LRF, que será examinado, determinou que o dinheiro seja restituído somente depois do pagamento das despesas indispensáveis à administração da falência e dos créditos trabalhistas de natureza salarial vencidos nos últimos três meses, bem como dos financiadores da recuperação judicial. O último beneficiário de pedido de restituição encontra-se no parágrafo único do art. 85 da LRF, antes transcrito. É o titular de coisas vendidas a crédito e entregues ao devedor nos quinze dias anteriores à decretação da sua quebra. Aqui a lei procura proteger o vendedor da má-fé do adquirente, que presumidamente já tinha ciência da crise econômico-financeira que motivaria a iminente decretação da sua falência. Quando o empresário é obrigado a fazer a retenção na fonte de tributos devidos por terceiros, como seus empregados e prestadores de serviço, ele se torna possuidor de recursos pecuniários que não lhe pertencem e sobre os quais ele não tem disponibilidade. Por isso, na forma da Súmula nº 417 do STF, esses valores podem ser objeto de restituição na falência. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula417/false 117 14.1.2. Créditos extraconcursais Esses créditos são também conhecidos como os pertencentes não aos credores do falido, mas aos credores da massa falida. Em outras palavras, são as dívidas que a massa contrai durante a falência tanto para remunerar os próprios agentes necessários para o desenvolvimento do processo, quanto em face de obrigações assumidas perante terceiros após a decretação da quebra. Outrossim, o art. 84 da LRF, alterado pela lei da reforma recuperacional e falimentar, também cataloga nesta categoria os créditos constituídos frente ao devedor durante o procedimento de recuperação judicial que veio a se convolar em falência. Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, aqueles relativos: I – (revogado); I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei; I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo financiador, em conformidade com o disposto na Seção IV-A do Capítulo III desta Lei; I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art. 86 desta Lei; I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, aos reembolsos devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência; I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência; II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores; III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do seu produto e custas do processo de falência; IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido vencida; V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. §1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa. §2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 desta Lei. 118 Como é fácil perceber, os incisos do art. 84 da LRF estão distribuídos em ordem de precedência, o que significa que os créditos previstos no inciso I- A devem ser pagos antes dos positivados no I-B, que são pagos com preferência sobre os do I-C e assim por diante. Falando no inciso I-A do art. 84 da LRF, ele trata de uma hipótese muito cara aos trabalhadores que prestaram serviços à empresa nos três meses anteriores à decretação de falência. Conforme este dispositivo, que faz referência ao art. 151 da LRF, os créditos de natureza estritamente salarial desses trabalhadores, até o limite de cinco salários mínimos per capita, serão pagos com o dinheiro que estiver em caixa, logo após a restituição de bens de terceiros. Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa. Em concurso dentro da mesma ordem de precedência do inciso I-A do art. 84 da LRF estão as despesas previstas no art. 150 da LRF, quais sejam aquelas urgentes, cujo pagamento é indispensável à administração da falência. Dentre elas se incluem os gastos necessários a uma eventual continuação provisória da atividade empresarial pela massa falida, como, por exemplo, as despesas com insumos, energia elétrica, água, condomínio e eventual locação. Não estão dentro dessa classe, todavia, os gastos com o pagamento de salários aos trabalhadores que seguirem prestando suas atividades. Esses créditos estão situados alguns incisos abaixo. Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, serão pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa. Após a satisfação integral dos créditos prioritários e dos trabalhistas devidos nos últimos três meses, o segundo bloco de credores a ser atendido é o dos chamados financiadores da recuperação judicial, ou seja, daqueles créditos decorrentes de contratos de mútuo celebrados depois da concessão da recuperação, conquanto efetivamente liberados ao agora falido. Normalmente esses financiamentos serão garantidos por propriedade fiduciária, o quelhes coloca, pelo menos até o limite do valor do bem, na categoria dos pedidos de restituição. Nada obstante, se houver saldo devedor que ultrapasse o valor da garantia, seu pagamento ocorrerá na classe dos extraconcursais do inciso I-B do art. 84 da LRF. Em terceiro lugar estão os pedidos de restituição em dinheiro acima tratados (14.1.1.) e, em quarto, os créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho constituídos após a declaração da quebra, em 119 tratamento paritário com a remuneração do administrador judicial e auxiliares e os reembolsos aos membros do comitê de credores. Isso quer dizer que nessa classe estão os salários e indenizações relativos a serviços prestados pelos empregados da massa falida após a declaração da falência, o que ocorre naquelas situações em que o administrador judicial opta pela continuação provisória da atividade empresarial pela massa falida, com o objetivo de minimizar os prejuízos da coletividade de credores. No quinto posto estão os créditos previstos no art. 67 da LRF, quais sejam, os resultantes de obrigações validamente contraídas durante a recuperação judicial. Aqui se inserem os créditos trabalhistas e os decorrentes de acidente de trabalho constituídos posteriormente ao ajuizamento da recuperação judicial, vale lembrar, que a ela não se sujeitaram. Além deles e, em concurso, situam-se neste mesmo posto outras obrigações contraídas pela massa falida que não detiverem o caráter de indispensabilidade à administração da falência previsto no inciso I-A do art. 84 da LRF. Na sequência, a sexta colocação é das quantias emprestadas pelos credores à massa falida para que o procedimento falimentar possa se desenvolver regularmente, o que pode ocorrer quando a massa não possui liquidez para arcar com despesas imprescindíveis para a arrecadação ou a liquidação de bens. Logo depois, em sétimo, as quantias emprestadas pelo próprio administrador judicial à massa, nessas mesmas circunstâncias. O oitavo lugar pertence às custas judiciais dos processos que a massa falida for sucumbente, compreendendo as custas das reclamatórias trabalhistas ajuizadas após a decretação da quebra, e o nono posto, aos tributos federais, estaduais e municipais, nessa ordem, cujo fato gerador tiver ocorrido após a decretação da falência. Os créditos relativos a serviços prestados pelos empregados da massa falida após a declaração da falência restaram significativamente prejudicados pela lei da reforma recuperacional e falimentar, pois caíram do primeiro para o quarto lugar nos créditos extraconcursais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 120 14.1.3. Créditos concursais Quitada a totalidade dos chamados credores da massa, o art. 149 da LRF determina que o administrador judicial passe então ao adimplemento dos credores do falido, que são os detentores dos créditos concursais previstos no art. 83 da LRF, recentemente modificado pela lei da reforma recuperacional e falimentar, a qual basicamente agrupou com os quirografários os credores com privilégios especiais ou gerais, permitiu a cessão de créditos sem a alteração da sua natureza e trouxe algumas melhoras de redação. A saber: Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado; III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias; IV - (revogado); V - (revogado); VI - os créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; e c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias; VIII - os créditos subordinados, a saber: a) os previstos em lei ou em contrato; e b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de mercado; IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei. A ordem de pagamentos dos credores concursais começa com os créditos trabalhistas e com os créditos decorrentes de acidentes de trabalho http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 121 constituídos antes da decretação de quebra ou antes da distribuição do pedido da recuperação judicial, se esta tiver sido convolada em falência, concorrendo em paridade entre si e também com outros créditos equiparados aos trabalhistas por força de entendimentos jurisprudenciais e legislações especiais. Os créditos decorrentes de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais concorrem na primeira classe por sua integralidade, independentemente do valor. Já os trabalhistas e equiparados concorrem nesta classe prioritária apenas até o limite de cento e cinquenta salários-mínimos, sendo que eventual remanescente é reclassificado como quirografário. Quanto às parcelas integrantes do gênero créditos trabalhistas, devem ser entendidas no sentido mais amplo possível, abarcando não apenas as verbas de natureza estritamente salarial, como o salário básico, o adicional de insalubridade, as horas extras e 13º salários, mas também parcelas não remuneratórias em geral, o que inclui indenizações, FGTS e multas trabalhistas. A propósito do FGTS, até algum tempo atrás controverteu-se a Justiça Comum a respeito da sua natureza para fins de classificação na quebra, se tributária ou trabalhista. A tese vencedora no julgamento do ARE nº 709.212/DF pelo STF, ocorrido em 13/11/2014, foi a de que a titularidade dos depósitos de FGTS é do próprio empregado, de modo que o crédito tem sim natureza trabalhista. Fechando a primeira classe, estão equiparados aos créditos trabalhistas os honorários advocatícios, os honorários periciais decorrentes de processos judiciais e, mais recentemente, as remunerações devidas ao representante comercial. O STF declarou constitucional a limitação de prioridade de pagamento dos créditos trabalhistas a cento e cinquenta salários mínimos na ADI nº 3.934/DF, julgada em 27/05/2009. Situação jurisprudencial semelhante ocorreu com a classificação da multa do art. 467 da CLT e da multa do art. 477, §8º, da CLT, tendo a 3ª Turma do STJ definido por sua inclusão na mesma classe dos demais créditos trabalhistas no REsp nº 1.395.298/SP, julgado em 11/03/2014. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2544041 https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201301630809&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201301630809&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 122 A natureza alimentar dos honorários de advogado foi consagrada pelo STF na sua Súmula Vinculante nº 47 e, posteriormente, pelo CPC, no seu art. 85, §14. À luz desse entendimento do Supremo, o STJ pacificou a matéria quanto à classificação dos honorários advocatícios na falência, estabelecendo no REsp Repetitivo nº 1.152.218/RS, julgado em 07/05/2014, que eles devem ser ranqueados no inciso I do art. 83 da LRF. Por conseguinte, compreende-se que esses créditos estão igualmente sujeitos à limitação de cento e cinquenta salários mínimos, posição esta que foi avalizadapela 3ª Turma do STJ no REsp nº 1.649.774/SP, julgado em 12/02/2019. Art. 85. (...) §14 Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial. Os honorários periciais estipulados em ações judiciais seguem essa mesma lógica de crédito alimentar em face do art. 833, §2º, do CPC e, por consequência, também estão equiparados aos créditos trabalhistas para efeitos de habilitação no processo de falência. No sentido de reconhecê-los como alimentares, temos decisão da 3ª Turma do STJ no REsp nº 1.722.673/SP, julgado em 13/03/2018. Essa mesma Turma, mais recentemente, também os classificou no inciso I do art. 83 da LRF no REsp 1.851.770/SC, julgado em 18/02/2020. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula806/false http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=200901563744&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201700158503&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201702192136&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201702192136&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201903626740&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201903626740&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://youtu.be/HsXWTXH04ds?t=6780 123 Concorrem em condições de igualdade com os trabalhadores, os representantes comerciais, por força de alteração na redação do art. 44 da Lei nº 4.886/65, pela Lei nº 14.195/21. Art. 44. No caso de falência ou de recuperação judicial do representado, as importâncias por ele devidas ao representante comercial, relacionadas com a representação, inclusive comissões vencidas e vincendas, indenização e aviso prévio, e qualquer outra verba devida ao representante oriunda da relação estabelecida com base nesta Lei, serão consideradas créditos da mesma natureza dos créditos trabalhistas para fins de inclusão no pedido de falência ou plano de recuperação judicial. No segundo grupo dos concursais estão os créditos garantidos por penhor, hipoteca ou anticrese, até o valor do móvel ou imóvel gravado, considerado como tal a importância efetivamente arrecadada pela massa falida com a sua venda judicial ou o valor de avaliação na venda em bloco, de acordo com o art. 83, §1º, da LRF. O saldo remanescente, se houver, é reclassificado como crédito quirografário. Art. 83. (...) § 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. Os créditos fiscais de natureza tributária e não tributária, salvo as multas tributárias e os créditos tributários previamente catalogados como extraconcursais pelo art. 84, inciso V, da LRF, com o reforço do art. 186, parágrafo único, inciso I, do CTN, estão no terceiro lugar dos créditos concursais. Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho. Parágrafo único. Na falência: I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm 124 A maior dúvida quanto aos créditos fiscais, incluídos aqui a contribuição previdenciária e o imposto de renda a incidir sobre as condenações trabalhistas, é saber se estão ou não sujeitos à quebra. Há uma certa antinomia entre os dispositivos da LRF e o art. 187 do CTN que, junto com o art. 5º da Lei nº 6.830/80, prevê que a cobrança judicial do crédito tributário não se sujeita à habilitação em falência. Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento. No capítulo em que foi tratado do status dos créditos tributários na recuperação judicial, viu-se que a solução dada foi pela sua exclusão do procedimento recuperacional e a possibilidade de prosseguimento das ações de execução fiscal, tal como o art. 187 do CTN prevê. Naquela ocasião, observou-se também que, em que pese a exclusão dos créditos tributários da recuperação e a possibilidade de prosseguimento da sua execução nos Juízos de origem, incluindo o trabalhista, se for o caso, o art. 6º, §7º-B, da LRF condicionou a prática de atos de constrição a uma certa supervisão do Juiz da Vara Empresarial, que pode determinar a sua substituição, quando recaírem sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial. Na falência, contudo, as soluções para os créditos fiscais sempre foram um pouco diferentes, ao menos na prática forense. Embora não se sujeitem ao processo falimentar, eles têm seu adimplemento subordinado à quitação de outros créditos que lhe preferem, como os trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho. Além disso, quem autoriza esse pagamento é o Juiz da Vara Empresarial, e não o da Fazenda Pública ou mesmo o Juiz do Trabalho, se estivermos tratando da contribuição previdenciária do art. 114, inciso VIII, da Constituição Federal, posto que o art. 6º, §7º-B, da LRF não se aplica à falência. Art. 6º. (...) Dentro da classe dos créditos tributários, os incisos do art. 187 do CTN e os incisos do parágrafo único do art. 29 da Lei nº 6.830/80 ordenavam que se pagasse primeiro os créditos da União, depois e em concurso os créditos dos Estados e Distrito Federal e, finalmente e pro rata, os créditos dos municípios. Todavia no julgamento da ADPF nº 357, ocorrido em 24/06/2021, o STF julgou inconstitucionais esses dispositivos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4814964 125 O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do Juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido Código. Tudo isso sempre causou embaraços de ordem prática à execução dos créditos tributários fora do Juízo da quebra, tanto que, para obedecer ao art. 187 do CTN, o padrão de comportamento dos Juízos em que os créditos tributários são executados foi o de simplesmente realizar a penhora no rosto dos autos da ação falimentar, cabendo ao Juízo da Vara Empresarial efetuaro cumprimento dessa ordem de penhora e disponibilizar valores para o pagamento dos créditos tributários quando os ativos da massa falida alcançassem as classes do art. 84, inciso V, ou do art. 83, inciso III, da LRF, tudo conforme a antiquíssima Súmula nº 44 do extinto TFR. Súmula nº 44 do TFR. Ajuizada a execução fiscal anteriormente à falência, com penhora realizada antes desta, não ficam os bens penhorados sujeitos à arrecadação no Juízo falimentar; proposta a execução fiscal contra a massa falida, a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo da quebra, citando- se o síndico. A penhora de créditos tributários no rosto dos autos da ação falimentar sempre foi endossada pelo STJ (AgRg no CC nº 108.465/RJ, julgado em 26/05/2010) e já há algum tempo a própria Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional passou a orientar seus Procuradores a adotarem esse mesmo procedimento nas reclamatórias trabalhistas com créditos previdenciários e multas administrativas a executar, como podemos observar no Parecer Conjunto PGFN/CDA/CRJ nº 08/2016. Por outro lado, o que muitos observaram é que o efeito prático- finalístico dessa penhora no rosto dos autos era exatamente o mesmo de uma habilitação do crédito fiscal no processo falimentar, não havendo vantagem alguma em não o sujeitar à falência. Ao contrário, neste modo de ver as coisas, a obediência cega à regra do art. 187 do CTN só levava a atos processuais adicionais. Por isso, alguns Procuradores da Fazenda Nacional passaram a experimentar diretamente a habilitação dos créditos fiscais no procedimento falimentar, procedimento que, depois de algum debate jurisprudencial, foi avalizado primeiro pelo STJ no REsp nº 1.872.759/SP, julgado em 18/11/2021 (Tema nº 1.092 da tabela de recursos repetitivos do STJ), e depois pela lei da reforma recuperacional e falimentar, que inseriu o art. 7º-A na LRF. Tema repetitivo nº 1092 do STJ. É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito objeto de execução fiscal em curso, mesmo https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=200902067942&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=202001039212&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 126 antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, e desde que não haja pedido de constrição no Juízo executivo. O novo dispositivo da LRF cria o denominado incidente de classificação do crédito público, que podemos entender como uma espécie de habilitação do crédito fiscal na falência, pois prevê sua inserção no quadro geral de credores e suspende as execuções fiscais. Registre-se que essa nova sistemática nos é de especial importância porque, como prevê o art. 7º-A, §6º, da LRF, afeta diretamente o modo de se tratar as reclamatórias trabalhistas com créditos previdenciários a executar na quebra. O exame do tema será realizado mais adiante. Art. 7º-A. Na falência, após realizadas as intimações e publicado o edital, conforme previsto, respectivamente, no inciso XIII do caput e no § 1º do art. 99 desta Lei, o juiz instaurará, de ofício, para cada Fazenda Pública credora, incidente de classificação de crédito público e determinará a sua intimação eletrônica para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente diretamente ao administrador judicial ou em Juízo, a depender do momento processual, a relação completa de seus créditos inscritos em dívida ativa, acompanhada dos cálculos, da classificação e das informações sobre a situação atual. (...) § 4º Com relação à aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as seguintes disposições: I - a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos para os fins do disposto nesta Lei, bem como sobre a arrecadação dos bens, a realização do ativo e o pagamento aos credores, competirá ao Juízo falimentar; (...) V - as execuções fiscais permanecerão suspensas até o encerramento da falência, sem preJuízo da possibilidade de prosseguimento contra os corresponsáveis; (...) § 6º As disposições deste artigo aplicam-se, no que couber, às execuções fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem no disposto nos incisos VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição Federal. A quarta posição na ordem de pagamento dos créditos concursais está reservada aos quirografários, créditos tradicionalmente conhecidos por não serem detentores de privilégios ou preferências e para onde acabam sendo desclassificados os saldos dos créditos trabalhistas excedentes de cento e cinquenta salários-mínimos e os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento. Depois da lei da reforma recuperacional e falimentar, por força da inclusão do §6º no art. 83 da LRF, na classe dos quirografários também se encontram os créditos com privilégio especial e privilégio geral, os quais http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 127 passam a disputar, em concurso e pro rata com os créditos que elencamos no parágrafo anterior, o produto da venda dos ativos da massa falida. Multas decorrentes do descumprimento de obrigações e penas pecuniárias impostas em razão de infrações penais, administrativas ou tributárias posicionam-se no quinto posto de adimplemento dos créditos concursais. Aqui, como pode-se notar, é o lugar em que ficam classificadas as multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho aos empregadores. O sexto grupo é o dos créditos subordinados, onde estão valores a serem recebidos pelos sócios e administradores sem vínculo empregatício do falido, cuja contratação não tenha observado os parâmetros do mercado, e os créditos definidos por lei ou contrato como tais, caso de debêntures sem garantia e com cláusula de subordinação, na forma do art. 58, §4º, da Lei nº 6.404/76. Difícil é precisar o que são os corretos parâmetros de mercado para fins de contratação de administradores. De qualquer modo, caso a contratação tenha obedecido a esses padrões, os créditos dos administradores saltam para a classe dos quirografários. Em sétimo lugar, fechando a lista, estão os juros vencidos após a decretação da falência, regra que vale para quase todos os créditos antes arrolados, incluindo os trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho. Os únicos excluídos, nos termos do parágrafo único do art. 124 da LRF são os juros das debêntures e os dos créditos com garantia real, limitados estes ao produto do bem que constitui sua garantia. Para finalizar, importa ressaltar que, não representando a correção monetária nenhum acréscimo real ao montante dos créditos, vez que ela apenas atualiza a expressão do valor em moeda, a ela não se aplica a regra dos juros. Em outras palavras, a correção monetária será sempre integral, devendo ser adimplida junto com o principal, o que pode trazer problemas à satisfação dos créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho, por força do decidido pelo STF na ADC nº 58 e correlatas. Com efeito, na medida em que a SELIC é um índice indissociável que contempla juros e correção monetária, é possível prever complicações para a atualização monetária dos créditos trabalhistas na quebra. A solução do Juízo da Vara Empresarial pode ser, como alguns Tribunais Regionais do Trabalho já têm feito, entender pela natureza preponderante de juros da SELIC e, não sem algum malabarismo jurídico, impor outro índice de atualização a esses créditos, como o IGP-M ou o IPCA-E. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 128 14.1.3.1. Cessão de crédito A regra geral prevista no art. 287 e no art. 349 do Código Civil é a de que a cessão de crédito resulta natransferência ao cessionário de todas as preferências do crédito cedido. Não obstante, o art. 83, §4º, da LRF vedava esse efeito na falência para os créditos trabalhistas cedidos, determinando que a sua transferência a terceiros os transformaria em quirografários. A lei da reforma recuperacional e falimentar revogou esse dispositivo e inseriu um §5º ao art. 83 da LRF, fixando agora que não só os créditos trabalhistas, mas todos os que forem cedidos a terceiros a qualquer título, manterão a sua natureza e classificação dentro da falência. 15. Créditos excluídos da falência O art. 5º da LRF prevê que estão excluídos da falência os créditos decorrentes de obrigações a título gratuito, vale dizer, os decorrentes de negócios jurídicos unilaterais, como eventual fiança, aval, hipoteca ou penhor prestados gratuitamente a terceiro pelo falido. Esse mesmo dispositivo legal, já analisado no tópico da recuperação judicial, veta a inclusão na quebra de eventuais despesas que os credores fizerem para tomar parte nela, salvo as http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://youtu.be/Pm6f-svr9gI?t=3180 129 judiciais decorrentes de litígio com o devedor necessário para reconhecer seu crédito. Além desses dois, como adiantou-se em item anterior, os créditos fiscais também estavam excluídos da falência, por disposição do art. 187 do CTN e do art. 5º da Lei nº 6.830/80. Nada obstante, por força do art. 7º-A da LRF, essa afirmação não é mais verdadeira, a não ser que tal dispositivo seja futuramente tido por inconstitucional. Resumo da aula 4 Nesta aula, iniciou-se o estudo da falência com o apontamento do seu objetivo, beneficiários e, o mais importante de tudo, com a identificação dos créditos sujeitos a esse procedimento. Aqui viu-se que é uma falácia dizer que os créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho são os primeiros a serem pagos nos procedimentos falimentares, pois ficam atrás de todos os pedidos de restituição de bens em espécie, os quais normalmente são realizados pelas instituições financeiras, e de vários créditos extraconcursais, muitos deles também ligados ao mercado financeiro. Aliás, averiguou-se que também não é correto estabelecer uma única classificação para os créditos dos trabalhadores na falência, pois eles se encontram distribuídos em várias posições na hierarquia dos créditos concursais e extraconcursais, conforme a sua data de constituição e o seu valor. Por exemplo, apontou-se que, no grupo dos extraconcursais, entram primeiro os de natureza salarial vencidos nos três meses anteriores à Boa parte da doutrina acusa esse artigo de inconstitucionalidade formal, por violar o art. 187 do CTN, lei recepcionada pela atual Constituição Federal com calibre complementar. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 130 decretação de falência, limitados a cinco salários-mínimos por trabalhador. Mais abaixo, depois dos financiadores de eventual recuperação judicial antecedente e dos pedidos de restituição em dinheiro, estão os créditos dos trabalhadores constituídos depois da decretação da falência. Logo depois, mas ainda dentro dos extraconcursais, evidenciou-se que estão os créditos dos trabalhadores constituídos depois do ajuizamento da recuperação judicial, mas antes da decretação da falência. Já dentre os concursais, apurou-se que estão em primeiro lugar os créditos decorrentes de acidentes de trabalho e os trabalhistas, estes limitados a cento e cinquenta salários mínimos, sendo que o excesso a esse limite cai lá para a classe dos quirografários, que são pagos somente depois dos credores com garantia real e dos tributários. Também foi trazida uma palavrinha sobre a cessão de crédito trabalhista e também acerca da difícil compreensão a respeito da sujeição ou não dos créditos tributários à falência. Até a próxima aula! 131 AULA 5 Falência – Parte II (Procedimento da Falência e Responsabilidades na Falência) 16. O procedimento para a decretação de falência 16.1. Requisitos para requerer a falência O art. 94 da LRF autoriza os credores do empresário ou da sociedade empresária requererem judicialmente a sua falência quando ele pratica ou deixa de praticar certos atos que juridicamente conduzem à presunção da sua insolvência. São eles, resumidamente, o não pagamento de obrigações líquidas e vencidas, a falta de pagamento, depósito ou nomeação de bens à penhora em execução judicial de título líquido e a prática de atos falimentares. Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência; II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; 132 e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo; f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. O art. 94, inciso I, da LRF identifica a primeira modalidade de presunção de insolvência: a impontualidade injustificada. O empresário ou sociedade empresária que não paga, de modo injustificado, obrigação líquida e vencida, materializada em título executivo protestado e de valor superior a quarenta salários mínimos, deverá ter sua quebra decretada. O protesto extrajudicial do título é exigência do §3º do art. 94 da LRF, que tem como objetivo demonstrar a impontualidade do devedor, não sendo demandado o chamado protesto especial para requerer falência. Segundo a Súmula nº 41 do TJSP, o protesto comum dispensa o especial para a instrução da petição inicial no Juízo falimentar. A exigência de, pelo menos, quarenta salários-mínimos para que o título se preste ao pedido de falência vem no sentido de evitar que dívidas menores convertam-se em potenciais instrumentos falimentares, ainda que o §1º do art. 94 da LRF autorize que pequenos credores possam reunir-se em litisconsórcio para alcançar esse limite mínimo. A segunda variante de presunção de insolvência está no art. 94, inciso II, da LRF e se trata da execução frustrada. Se, depois de citado em processo judicial em fase de execução para a cobrança de título líquido e exigível, o devedor não paga, não efetua depósito ou nomeia bens à penhora, seu credor poderá solicitar certidão à Secretariaou Cartório do Juízo onde se processa a execução e, com ela, instruir o pedido de quebra. Nesta modalidade de pedido de falência com base em execução frustrada, a Súmula nº 39 do TJSP entende irrelevante o valor da obrigação não satisfeita, se inferior ou superior a quarenta salário mínimos, e a Súmula nº 50 deste mesmo Tribunal de Justiça dispensa o protesto extrajudicial do título. Não é demais destacar que aqui se situam os trabalhadores titulares de créditos em reclamatórias trabalhistas, os quais, embora não seja comum, estão plenamente autorizados a requerer a falência do seu empregador ou ex- empregador inadimplente. Finalmente, a terceira categoria de presunção de insolvência é a prática de algum dos atos falimentares elencados pelo art. 94, inciso III, da LRF, dentre os quais podemos destacar o descumprimento de obrigações http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://www.tjsp.jus.br/Download/Portal/Biblioteca/Biblioteca/Legislacao/SumulasTJSP.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 133 previstas no plano de recuperação judicial durante o período de fiscalização que, como vimos anteriormente, pode durar até dois anos contados da concessão da recuperação, na forma do art. 61 da LRF. Passados esses dois anos, o descumprimento do plano não motivará a convolação da recuperação judicial em falência, mas permitirá que o credor, já com o crédito novado, apresente pedido falimentar autônomo. 16.2. Defesa do devedor Uma vez citado, o parágrafo único do art. 98 da LRF autoriza que o devedor que teve sua quebra requerida com base na impontualidade injustificada ou na execução judicial frustrada faça, no prazo de dez dias que lhe é deferido para apresentar a sua contestação, um depósito elisivo no valor do título, acrescido de juros, correção monetária e honorários advocatícios de sucumbência. Nessa hipótese, a falência não será decretada e, caso o pedido seja julgado procedente, o Juízo da Vara Empresarial autorizará o levantamento do depósito elisivo pelo credor. Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor. Outra variante de defesa é a do art. 95 da LRF, que permite que o devedor, no prazo de contestação, requeira a sua recuperação judicial em um processo autônomo. Neste caso, atendidos os requisitos da petição inicial do art. 51 da LRF, o Juiz da Vara Empresarial proferirá decisão autorizando o processamento da recuperação judicial, cujos efeitos por nós conhecidos envolvem a imediata suspensão das execuções singulares. Por conseguinte, o processo falimentar ficará suspenso até, ao menos, a decisão de concessão da recuperação. Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial. Por fim, a terceira possibilidade para o devedor é a defesa de mérito. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 134 16.3. Efeitos da decretação de falência Apresentada a contestação e concluída a instrução com eventual dilação probatória, o Juiz da Vara Empresarial então proferirá a sentença. Se for de procedência do pedido, ela decretará a falência do devedor e virá acompanhada de uma série de efeitos jurídicos e determinações obrigatórias arroladas no art. 99 da LRF. Destes, os mais relevantes para nós são a suspensão das execuções, incluindo suas medidas constritivas, promovidas por esses mesmos credores e a suspensão da fluência do prazo prescricional em face dos credores impactados pela quebra. Os dois supra mencionados efeitos serão analisados a seguir. 16.3.1. Suspensão das execuções e medidas constritivas De modo até mais intenso ao que ocorre quando do deferimento do processamento da recuperação judicial, a decretação de falência também implica na suspensão das execuções que tramitam contra o devedor, bem como a proibição de qualquer forma de arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição sobre os seus bens, tal como previsto no art. 6º, incisos II e III, da LRF. A comunicação de tal suspensão a nós e aos demais Juízos em que ditas demandas se encontram é encargo do administrador judicial deduzido da leitura do anteriormente transcrito art. 22, inciso III, alíneas “c” e “n”, da LRF. Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica: (...) II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência; III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência. Excepcionalmente e como medida de economia processual, o Juiz da Vara Empresarial pode determinar na sentença que não se suspendam as execuções singulares com alienação judicial já designada e permitir que elas sejam realizadas nos Juízos de origem. Nessas situações, contudo, a própria sentença de decretação de quebra determinará que o produto de eventual venda não vai ser levantado pelo exequente, mas entregue à massa falida. O credor que move a execução singular deverá habilitar o seu crédito na falência, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 135 tudo de acordo com jurisprudência do STF (AgRr no CC nº 95.001/BA, julgado em 29/04/2009). Ainda, em conformidade com a jurisprudência do STJ (CC nº 146.657/SP, julgado em 26/10/2016), idêntico destino deve ter o produto de alienação judicial já realizada na data da decretação da falência. Neste ponto, todavia, discorda-se do Tribunal Superior mencionado. É que estas execuções singulares não são afetadas pela suspensão porque o tecnicamente o bem do falido já foi liquidado e o processo singular já atingiu seu objetivo antes da decretação da quebra. Aqui, depois de pagas todas as rubricas da execução individual, entende-se que apenas o saldo da venda, se existente, deveria ser remetido à massa, tal como o era no regime do art. 24, §1º do revogado Decreto-lei nº 7.661/45. Dito isso, ainda é importante ressaltarmos dois pontos. O primeiro é que existem duas diferenças de intensidade entre as ordens de suspensão processual e das medidas constritivas dadas na recuperação judicial e na falência. Aqui não temos o chamado stay period do art. 6º, §4º, da LRF, sendo a suspensão das execuções singulares definitiva, até o encerramento do processo. Além disso, com todas as ressalvas que foram feitas quando se tratou da classificação dos créditos na falência, aqui também acabam sendo afetadas as execuções de contribuição previdenciária decorrente de condenação trabalhista, de custas processuais e de multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho. Esses créditos fiscais e outros de mesma natureza, por ordem do art. 7º-A da LRF, estarão sujeitos ao incidente de classificação do crédito público, o qual também provoca o efeito da suspensão. O segundo é que, forte o disposto nos §§1º e 2º do art. 6º e no art. 99, inciso V, da LRF, continuam sem qualquer pausa as ações que demandem quantia ilíquida contra a massa falida, incluídas as reclamatórias trabalhistas e ações de indenização poracidente de trabalho que tramitam na Justiça do Trabalho em fase de conhecimento ou em fase de liquidação de sentença, até a estabilização da decisão que homologou os cálculos contendo o crédito do trabalhador. Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: (...) V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei; Como já foi visto no tópico da recuperação judicial, essa estabilização ocorrerá pela não oposição de embargos à execução ou impugnação à decisão de liquidação de sentença, ou pelo trânsito em julgado da sentença que julga https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=200800731751&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201601293749&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201601293749&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 136 esses incidentes. Para chegar a essa etapa processual, nunca é demais lembrar, a massa falida está dispensada pela Súmula nº 86 do TST do recolhimento de custas e do depósito recursal, bem como da garantia do juízo demandada pelo art. 884 da CLT, esta por força de jurisprudência unânime em todos os Tribunais trabalhistas. Súmula nº 86 do TST. Deserção. Massa falida. Empresa em liquidação extrajudicial. Não ocorre deserção de recurso da massa falida por falta de pagamento de custas ou de depósito do valor da condenação. Esse privilégio, todavia, não se aplica à empresa em liquidação extrajudicial. 16.3.2. Suspensão da prescrição Outro efeito decorrente da decisão de decretação de quebra é a suspensão dos prazos prescricionais que correm em favor do falido, tal como previsto no art. 6º, inciso I, da LRF. Como resultado, a prescrição trabalhista posta no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal é também suspensa a partir do marco acima, mas com um importante detalhe. De acordo com o art. 157 da LRF, esse prazo prescricional retomava o seu curso no dia em que transitasse em julgado a sentença de encerramento da falência, devendo o falido aguardar de cinco a dez anos para postular a declaração judicial de extinção de suas obrigações, a depender se ele houvesse sido condenado por crimes falimentares. Todavia, esse artigo foi revogado pela lei de reforma recuperacional e falimentar, a qual passou a prever no inciso VI do art. 158 da LRF que o trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência acarreta na extinção das obrigações do falido, salvo, por força do art. 191 do CTN, as fiscais de natureza tributária. Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...) VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei. Adentrar-se-á, oportunamente, nesses novos efeitos da sentença de encerramento da quebra. Por ora, é necessário que fique claro que nova legislação leva à conclusão de que os prazos prescricionais em favor do falido ficam suspensos da data da decretação da falência até a do trânsito em julgado, quando as obrigações trabalhistas se extinguem. Outrossim, também é necessária muita atenção ao prazo decadencial de três anos para habilitação dos créditos, prevista no art. 10, §10, da LRF, por nós antes transcrito. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 137 16.4. Verificação e habilitação dos créditos na falência Uma das determinações do Juiz da Vara Empresarial quando decreta a falência é dirigida ao falido. Segundo o art. 99, inciso III, da LRF, aquele ordenará que este apresente, em até cinco dias e sob pena de desobediência, a relação dos nomes e endereços dos seus credores e a classificação dos seus créditos. Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: (...) III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência; Essa listagem preliminar de credores torna-se objeto de edital com prazo de quinze dias, a ser publicado pela Vara Empresarial, nos termos do art. 99, §1º, da LRF, bem como de conferência e revisão permanente por parte do administrador judicial, forte no art. 7º da LRF, o qual ainda assume o dever de enviar correspondência aos credores, comunicando a data da decretação da quebra, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito, tudo conforme o art. 22, inciso I, alínea “a”, da LRF. Como já examinado no capítulo da recuperação judicial, não é raro haver ausência de credores ou equívocos de valores na listagem preliminar elaborada pelo devedor, razão pela qual o edital de quinze dias publicado pela Vara Empresarial e as correspondências enviadas pelo administrador judicial aos credores têm como objetivo fazer com que eles, discordando da sua ausência ou de quaisquer elementos lançados, possam promover sua habilitação e lançar as suas divergências, com o fito de se chegar a uma segunda lista apresentada pelo administrador e ao quadro geral de credores, no prazo do art. 7º, §2º, da LRF, isto é, quarenta e cinco dias, contados do término do edital de quinze. É por isso que, nas reclamatórias trabalhistas, um dos efeitos da ciência da decretação da quebra é a expedição de certidão de crédito ao trabalhador e a todos os demais credores, como advogados, pelos seus honorários sucumbenciais, auxiliares do Juízo, pelos seus honorários periciais, emolumentos despesas, etc. e União, pelos seus créditos previdenciários e custas processuais. De acordo com o art. 9º da LRF, a certidão deve conter, além dos dados identificadores do processo e das partes, preferencialmente com endereço físico e eletrônico, também a natureza e o valor atualizado do crédito, com discriminação dos valores bruto e líquido devidos para o trabalhador, para http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 138 fins de apuração e futuro recolhimento de imposto de renda, tudo isso acrescido de correção monetária e juros, estes somente até a data da decretação da falência. De forma muito semelhante, a Consolidação de Provimentos de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho reprisa tais elementos obrigatórios no seu art. 112, §2º. As certidões não precisam ser encaminhadas pela Justiça do Trabalho ao Juízo da Vara Empresarial por meio de ofício ou assemelhados, visto que a incumbência cabe aos próprios credores. Entrementes, por conta dos princípios que norteiam a cooperação judicial e também em razão de eventuais objeções da União ao novo procedimento do art. 7º-A da LRF, não deixa de ser pragmático o encaminhamento da certidão diretamente àquele Juízo, com intimação dos credores na reclamatória trabalhista. Aliás, em relação à contribuição previdenciária incidente sobre condenações trabalhistas, o art. 165 da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019 estabelece justamente esse procedimento, de remessa da certidãopor ofício, com ciência à Procuradoria da Fazenda Nacional. Art. 165. A certidão de habilitação de crédito previdenciário e os documentos que a instruem serão enviados, por ofício, ao administrador judicial do processo de falência, dando-se ciência do ato ao representante judicial da União. A Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho ainda estabelece em seus arts. 163 164 os elementos que deve conter a certidão de crédito previdenciário, bem como os documentos que devem ser anexados, tudo em consonância com o anteriormente transcrito art. 9º da LRF. Como dissemos quando da classificação dos créditos na falência, o decidido pelo STF na ADC nº 58 e correlatas vai levar a certos malabarismos jurídicos, em face de a SELIC ser um índice indissociável que contempla juros e correção monetária. A sugestão que damos é realizar a aplicação da SELIC apenas até a decretação da quebra e informar expressamente na certidão que os créditos se encontram atualizados monetariamente somente até essa data, deixando para o Juízo da Vara Empresarial eventualmente adotar outro índice de atualização a esses créditos, como o IGP-M ou o IPCA-E. https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/166690 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 139 Art. 163. Nas reclamações trabalhistas ajuizadas contra massa falida, apurados os valores devidos a título de contribuições sociais, será expedida certidão de habilitação de crédito previdenciário, que deverá conter: I - indicação da vara do trabalho; II - número do processo; III - identificação das partes, com a informação dos números do CPF e CNPJ; IV - valores devidos a título de contribuições sociais, discriminandose os relativos à cota do empregado e do empregador; V - data de atualização dos cálculos; VI - indicação da vara em que tramita o processo alimentar; VII - número do processo falimentar; VIII - identificação e endereço do síndico ou administrador judicial. Art. 164. À certidão de que trata o artigo anterior será anexada cópia dos seguintes documentos: I - petição inicial; II - acordo ou sentença e decisão proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho ou pelo Tribunal Superior do Trabalho; III - certidão de trânsito em julgado ou do decurso do prazo para recurso; IV - cálculos de liquidação da sentença homologados pelo juiz do trabalho; V - decisão homologatória dos cálculos de liquidação da sentença; VI - outros que o juiz do trabalho considerar necessários. Parágrafo único. As cópias serão autenticadas pelas secretarias das varas do trabalho, sem prejuízo do que autoriza o artigo 830 da CLT. Por fim, é necessário registrar que a lei da reforma recuperacional e falimentar acrescentou o §10 ao art. 10 da LRF, o qual passou a prever um Atenção especial às reclamatórias trabalhistas ajuizadas depois da distribuição de pedido de recuperação judicial que foi convolado em falência, pois podem conter créditos trabalhistas híbridos, ou seja, créditos que estão em classes diferentes, conforme a sua data de constituição. Nesse caso, é interessante deixar essas situações claras na certidão. 140 prazo decadencial de três anos para a habilitação do crédito na falência, bastante relevante aos credores trabalhistas. Art. 10. (...) §10. O credor deverá apresentar pedido de habilitação ou de reserva de crédito em, no máximo, 3 (três) anos, contados da data de publicação da sentença que decretar a falência, sob pena de decadência. 16.4.1. Liberação dos depósitos judiciais Assim como vimos na recuperação judicial, aqui também nos deparamos com o problema da liberação ou não ao trabalhador de depósitos judiciais realizados na reclamatória trabalhista pelo falido antes da decretação da quebra, em especial do depósito recursal. Dado que os argumentos são exatamente os mesmos aos empregados naquela ocasião, apenas reforçados aqui pela universalidade do Juízo falimentar, remetemos à leitura daquele capítulo, ressaltando a conclusão pela necessária liberação dos depósitos apenas ao Juízo falimentar. 16.4.2. Arquivamento provisório da reclamatória trabalhista Expedidas as certidões aos credores, o art. 114 da Consolidação de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho estipula que devemos suspender e arquivar provisoriamente a reclamatória trabalhista ou ação de indenização por acidente de trabalho até o encerramento da falência. Art. 114. Os juízes do trabalho manterão os processos em arquivo provisório até o encerramento da Recuperação Judicial ou da falência que ela eventualmente tenha sido convolada (artigo 156 e seguintes da Lei n.º 11.101/2005). Parágrafo único. Os processos suspensos por Recuperação Judicial ou Falência deverão ser sinalizados com marcador correspondente no Sistema PJe. Questão importante a tratar aqui é a de que, até a lei da reforma recuperacional e falimentar, o encerramento da quebra por sentença não extinguia as obrigações do falido, tanto que o revogado art. 157 da LRF previa que o prazo prescricional relativo a essas obrigações recomeçava a correr tão logo houvesse o trânsito em julgado de tal decisão. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 141 Tratava-se de sentença de caráter meramente terminativo, que não impedia que o credor não atendido na falência retornasse para a sua execução singular originária para prosseguir com atos expropriatórios contra o falido ou eventuais terceiros responsáveis. Contudo, essa realidade quanto ao tratamento conferido às obrigações do falido restou alterada. A partir da inclusão do inciso VI ao art. 158 da LRF, é consequência direta da sentença de encerramento de falência a extinção das obrigações demandadas ou não no processo falimentar. Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...) VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei. A ressalva ao efeito de extinção automática das obrigações diz respeito aos créditos fiscais de natureza tributária que, por conta de disposição expressa do art. 191 do CTN, lei com força complementar, precisam ser necessariamente quitados para serem extintos, não sendo atingidos pelo art. 158 da LRF, lei de caráter ordinário. Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos os tributos. Adentrar-se-á em outros aspectos do art. 158 da LRF por ocasião do tópico Encerramento da falência. Por ora, fique-se com a ideia de que a sentença que extingue o processo falimentar passou a ter o efeito de abolir todas as obrigações contra o falido, salvo as de caráter fiscal tributário. Nas reclamatórias trabalhistas, isso significa para nós que estarão extintas todas as dívidas do empresário ou sociedade empresária, seja pelo efetivo pagamento no processo falimentar, seja pela hipótese do art. 924, inciso III, do CPC, situação que, finalmente, leva-nos ao arquivamento definitivo da ação, na forma do art. 119 da Consolidação de Provimentos da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho de 2019. Art. 924. Extingue-se a execução quando: (...) III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida; Art. 119. O arquivamento definitivo do processo de execução, no âmbito da Justiça do Trabalho, decorre da declaração, por sentença, da extinção da Acrescente-se com tranquilidade que estão excepcionadas também as situações em que o credor buscou, no seu processo de origem, a responsabilidade secundária de terceiro, solidária ou subsidiária. 142 execução, pela verificação de uma das hipóteses contempladas nos incisos II, III, IV e V do artigo 924 do CPC, por se achar exaurida a prestação jurisdicional. Parágrafo único. É vedado o arquivamento com baixa definitiva do processo de execução em qualquer situação não prevista no caput, inclusive em processosreunidos em razão de centralização de execuções, processos sobrestados ou arquivados provisoriamente. A bem da verdade, o único crédito que poderia impedir esse arquivamento definitivo é a contribuição previdenciária incidente sobre condenações trabalhistas que eventualmente não tenha sido satisfeita no procedimento falimentar pela falta de ativos da massa. Porém, esse crédito se encontra em uma posição delicada quanto à sua satisfação, dado que não há mais patrimônio do devedor para solvê-lo. Assim, entende-se que o melhor caminho seja verificar a incidência ou não da aplicação da prescrição intercorrente em relação a esse crédito, intimando a União para impulsionar o processo, tal como previsto no art. 11- A, §1º, da CLT, e, no silêncio, suspender o curso da execução por ano, no modo do art. 40 da Lei nº 6.830/80, antes de iniciar a contagem do prazo prescricional de dois anos. De qualquer modo, como é absolutamente impossível prever a priori quando se dará o encerramento da falência, sugere-se a inserção de marcador de controle de prazo no GIGS do PJE para que, decorrido um período de cerca de cinco anos a contar da expedição da certidão de crédito, surja um alerta de prazo vencido no sistema. A partir daí, pode-se notificar os credores para que nos informem se seus créditos já foram ou não satisfeitos ou se já houve o encerramento falência. Outra medida interessante de cooperação judicial que pode ser realizada nesse caso são os Tribunais Regionais do Trabalho firmarem convênios com os Tribunais de Justiça para que a Justiça do Trabalho seja informada sempre que houver o trânsito em julgado de sentenças de encerramento de quebra. 16.4.3. Reserva de crédito Se, na recuperação judicial, vimos que a reserva de créditos vale basicamente para garantir o direito a voto nas deliberações da assembleia geral de credores, no procedimento falimentar esse instituto adquire importância muito maior, posto que, além desse efeito, ele serve para prevenir que o credor retardatário, ou seja, aquele que ainda não tem título executivo quando da decretação da falência, fique de fora de rateios realizados antes da http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm 143 sua habilitação e ainda tenha que pagar custas, de acordo com o art. 10, §§3º e 4º, da LRF. Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7º, §1º, desta Lei, as habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias. (...) §3º Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação. §4º Na hipótese prevista no §3º deste artigo, o credor poderá requerer a reserva de valor para satisfação de seu crédito. Nesse sentido, é importante que o trabalhador e os demais credores de reclamatórias trabalhistas em fase de conhecimento ou liquidação de sentença dirijam à Justiça do Trabalho os seus pedidos de reserva, para que, na maneira do art. 6º, §3º, da LRF, possam ser encaminhados por meio de ofício ao Juízo da Vara Empresarial ou, em não tendo sido feito, o habilitem como crédito retardatário o mais rápido possível naquele juízo, em razão do prazo decadencial de três anos inserido no art. 10, §10, da LRF. Entretanto, em especial na fase de conhecimento, há que se ter certa contenção nas ordens de reserva de créditos que ainda são meramente estimados. De acordo com o art. 149, §1º, da LRF, os valores ficarão bloqueados e a classe dos trabalhadores é prioritária dentro dos credores concursais. Assim sendo, reservas de quantias elevadas que não se confirmem em liquidação de sentença poderão impedir o pagamento de credores das classes subsequentes, além de distorcer as deliberações da assembleia geral. Art. 149. (...) §1º Havendo reserva de importâncias, os valores a ela relativos ficarão depositados até o julgamento definitivo do crédito e, no caso de não ser este finalmente reconhecido, no todo ou em parte, os recursos depositados serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes. Essa parcimônia, aliás, é a recomendação inserta na Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso III, da Seção Especializada em Execução do TRT da 9ª Região. A partir da lei da reforma recuperacional e falimentar, a habilitação de crédito retardatário gera automaticamente a reserva do valor para a sua satisfação, conforme o §8º do art. da LRF. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 144 Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada em Execução do TRT da 9ª Região. (...) III - Falência e Recuperação Judicial. Reserva de crédito. Valor estimado. A reserva de crédito na recuperação judicial ou na falência (artigo 6º, § 3º, da Lei 11.101/2005) exige a presença de requisitos que justifiquem o exercício do poder de cautela do juiz, sendo prescindível decisão com trânsito em julgado. 17. Arrecadação e realização dos ativos da massa falida 17.1. Arrecadação dos bens Após assinar o termo de compromisso, o art. 108 da LRF fixa que a primeira tarefa do administrador judicial é efetuar a arrecadação dos documentos e de todos os bens que estejam na posse do falido, sejam ou não de sua propriedade, e fazer a sua avaliação em até trinta dias, autorizando, ainda, o art. 109 da LRF que ele solicite ao Juízo da Vara Empresarial o lacre do estabelecimento quando houver, por exemplo, receio acerca da preservação dos bens. Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias. § 1º Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele escolhida, sob responsabilidade daquele, podendo o falido ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens. § 2º O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação. (...) Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos credores. 17.2. Realização dos ativos Uma vez arrecadados os bens e independentemente da formação do quadro geral de credores, o art. 139 da LRF autoriza que o administrador judicial comece a alienação dos ativos da massa falida, dando sempre preferência para a venda da integralidade da empresa ou de suas filiais ou unidades produtivas isoladas. Caso tal não seja possível, o art. 140 da LRF 145 recomenda a alienação em bloco dos móveis e imóveis e, só em último caso, a venda de cada um deles individualmente. Art. 139. Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo auto ao processo de falência, será iniciada a realização do ativo. Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas, observada a seguinte ordem de preferência: I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco; II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente; III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor; IV – alienação dos bens individualmente considerados. § 1º Se convier à realização do ativo, ou em razão de oportunidade, podem ser adotadas mais de uma forma de alienação. § 2º A realização do ativo terá início independentemente da formação do quadro-geral de credores. (...) Durante o procedimento de arrecadação dos bens, não é incomum o administrador judicial encontrar bensperecíveis, deterioráveis, sujeitos à depreciação rápida ou de conservação arriscada ou dispendiosa. Para essas situações, não é necessário aguardar o término do processo de arrecadação, pois o art. 113 da LRF autoriza a venda antecipada desses bens. Art. 113. Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judicial, ouvidos o Comitê e o falido no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. Outra situação comum durante esta fase do processo falimentar é surgirem interessados não na aquisição da empresa ou de unidades produtivas isoladas, mas na sua locação. Para esses casos, o art. 114 da LRF autoriza que o administrador judicial, autorizado pelo comitê de credores e com o objetivo de produzir renda para a massa falida, celebre contratos de locação ou arrendamento com terceiros. Art. 114. O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante autorização do Comitê. Nesses casos, especialmente quando a locação é do bloco empresarial como um todo ou de alguma de suas filiais ou unidades produtivas isoladas, é preciso alguma atenção à ocorrência de sucessão trabalhista. 146 Assim como mencionamos no capítulo da recuperação judicial, o art. 141, inciso II, da LRF protege expressamente apenas quem arremata sem fraude os ativos da massa falida, inclusive afirmando o seu §2º que os empregados do falido que forem por ele contratados o serão mediante novos contratos de trabalho, sem o advento da sucessão trabalhista. Porém, em nenhuma passagem da LRF há previsão semelhante para o locatário ou arrendatário. Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata o art. 142: I – todos os credores, observada a ordem de preferência definida no art. 83 desta Lei, sub-rogam-se no produto da realização do ativo; II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho. §1º O disposto no inciso II do caput deste artigo não se aplica quando o arrematante for: I – sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido; II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou III – identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão. §2º Empregados do devedor contratados pelo arrematante serão admitidos mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por obrigações decorrentes do contrato anterior. Essa ausência de blindagem legal sujeita o locatário ou arrendatário à jurisprudência trabalhista, que majoritariamente vincula os contratos de trabalho à unidade econômica e entende caracterizada a sucessão de empregadores na empresa, ainda que esta seja transferida apenas provisoriamente, como são os casos de locação e arrendamento. Nesse sentido é o acórdão da 2ª Turma do TST, no AIRR nº 1024- 30.2015.5.09.0562, julgado em 02/08/2017. Para finalizar, questão interessante que foi introduzida no art. 142, §2º- A, da LRF pela lei da reforma recuperacional e falimentar é a de que a alienação dos ativos da massa falida deve ser feita independentemente de a conjuntura do mercado no momento da venda ser favorável ou desfavorável, dado o caráter forçado da venda, e não estará sujeita à aplicação do conceito de preço vil. https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/8c9e55b6b26a39a63b903baa2177e979 https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/8c9e55b6b26a39a63b903baa2177e979 147 18. Pagamento aos credores Preconiza o art. 149 da LRF, tal como antecipamos quando do exame da classificação dos créditos na falência, que os pedidos de restituições serão os primeiros a serem atendidos pelo administrador judicial, salvo a situação especial das restituições em dinheiro, seguidos dos créditos extraconcursais, na ordem do art. 84 da LRF, e dos concursais, segundo a hierarquia do art. 83 da LRF, sempre respeitados os pedidos de reserva de cada um desses créditos. Os credores devem fazer o levantamento dos seus valores no prazo de até sessenta dias da sua intimação para tanto, sob pena de o montante ser destinado para rateio dos credores remanescentes. Art. 149. Realizadas as restituições, pagos os créditos extraconcursais, na forma do art. 84 desta Lei, e consolidado o quadro-geral de credores, as importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao pagamento dos credores, atendendo à classificação prevista no art. 83 desta Lei, respeitados os demais dispositivos desta Lei e as decisões judiciais que determinam reserva de importâncias. § 1º Havendo reserva de importâncias, os valores a ela relativos ficarão depositados até o julgamento definitivo do crédito e, no caso de não ser este finalmente reconhecido, no todo ou em parte, os recursos depositados serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes. § 2º Os credores que não procederem, no prazo fixado pelo juiz, ao levantamento dos valores que lhes couberam em rateio serão intimados a fazê-lo no prazo de 60 (sessenta) dias, após o qual os recursos serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes. Especificamente em relação à ordem de pagamento dos credores trabalhistas, é possível elaborar o seguinte resumo, conforme a natureza e a data da constituição do crédito, além do seu valor máximo. Logo depois dos pedidos de restituição, são pagos imediatamente, com o dinheiro disponível em caixa os trabalhadores que prestaram serviços ao falido nos três meses anteriores à decretação de quebra, isso nos seus créditos de natureza estritamente salarial, até o limite de cinco salários mínimos per capita. São os créditos de natureza extraconcursal do inciso I-A do art. 84 da LRF. Logo adiante, na quarta posição dos extraconcursais, estão os créditos trabalhistas e decorrentes de acidentes de trabalho que tiverem sido constituídos após a declaração da falência, vale dizer, dos trabalhadores que seguiram trabalhando após esse marco, nas situações de continuação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 148 provisória das atividades do falido. Eles estão elencados no inciso I-D do art. 84 da LRF. Em seguida, no quinto posto e fechando as classes trabalhistas dentro do grupo dos extraconcursais, situam-se os créditos dos trabalhadores e os decorrentes de acidente de trabalho que tiverem sido constituídos posteriormente ao ajuizamento de eventual recuperação judicial que precedeu à falência e que, consequentemente, a ela não se sujeitaram. Eles estão arrolados no art. 84, inciso I-D, da LRF. Já no grupo dos concursais, a ordem de pagamentos começa no inciso I do art. 83 da LRF com os créditos trabalhistas, limitados a cento e cinquenta salários-mínimos, e com os créditos decorrentes de acidentes de trabalho constituídos antes da decretação de quebra, ou antes da distribuição do pedido da recuperação judicial, se esta tiver sido convolada em quebra. O que ultrapassar cento e cinquenta salários-mínimos cai para a quarta classe dos créditos concursais, sendo pago junto com os demais créditos quirografários, conforme o art. 83, inciso IV, da LRF, logo depois dos créditos fiscais. Finalmente, se ainda houver algum produto de ativos na massa falida, os juros pós quebra de todos essescréditos acima, bem como de os demais credores, são os últimos a serem pagos pelo administrador judicial, na forma do inciso IX do art. 83 da LRF. 19. Encerramento da falência Depois de esgotados os ativos da massa falida, tenham sido ou não atendidos os credores de todas as classes, o administrador apresentará suas contas que, após julgadas e aprovadas, gerarão um relatório final com o montante dos ativos e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o Em recente acórdão envolvendo a liquidação extrajudicial de instituição financeira, a 3ª Turma do STJ entendeu no REsp nº 1.981.314/CE, julgado em 15/03/2022, que, para o cálculo do teto de cento e cinquenta salários mínimos, deveriam ser acrescidos os créditos recebidos previamente pelo empregado no procedimento de liquidação extrajudicial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=202200099509&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=202200099509&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 149 dos pagamentos feitos aos credores, e as responsabilidades com que continuará o falido, tudo no modo do art. 155 da LRF. Art. 155. Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de 10 (dez) dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o falido. De posse desse relatório, o art. 156 da LRF prevê que o Juiz da Vara Empresarial então proferirá a sentença de encerramento da falência, com publicação de edital e intimação das Fazendas Públicas, além de determinação de baixa do CNPJ do falido junto à Receita Federal do Brasil. Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença e ordenará a intimação eletrônica às Fazendas Públicas federal e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento e determinará a baixa da falida no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), expedido pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil. Questão importante a tratar aqui é a de que, até a lei da reforma recuperacional e falimentar, o encerramento da quebra por sentença não extinguia as obrigações do falido, tanto que o revogado art. 157 da LRF previa que o prazo prescricional relativo a essas obrigações recomeçava a correr tão logo houvesse o trânsito em julgado de tal decisão. Tratava-se de sentença de caráter meramente terminativo. Contudo, essa realidade quanto ao tratamento conferido às obrigações do falido restou alterada. A partir da inclusão do inciso VI ao art. 158 da LRF, é consequência direta da sentença de encerramento de falência a extinção dessas obrigações, isso se esta for proferida em prazo inferior a três anos da decretação da quebra, porque, sim, o também recém-incluído inciso V do art. 158 da LRF prevê que essa mesma extinção ocorre decorrido o prazo de três anos da data de decretação da falência, ressalvada a apuração de ativos e o pagamento aos credores habilitados ou com pedido de reserva no processo falimentar em andamento. Art. 158. Extingue as obrigações do falido: I – o pagamento de todos os créditos; II - o pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e cinco por cento) dos créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir a referida porcentagem se para isso não tiver sido suficiente a integral liquidação do ativo; III - (revogado); IV - (revogado); http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm 150 V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência, ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com pedido de reserva realizado; VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei. Esse preceito também traz outras duas modalidades de extinção das obrigações do falido, quais sejam o pagamento de todos os créditos e o pagamento de mais de vinte e cinco por cento da classe dos quirografários. A primeira hipótese normativa já existia antes da lei da reforma recuperacional e falimentar e a segunda foi reduzida de cinquenta para vinte e cinco por cento dos quirografários. Tudo isso quer dizer que, se durante o curso do processo falimentar, ocorrer o pagamento de todos os créditos ou de mais de vinte e cinco por cento dos quirografários, dá-se o efeito inerente de extinção das obrigações do falido, ressalvadas, é claro, aquelas habilitadas ou com pedido de reserva nesse processo, cujos ativos da massa falida sejam suficientes para cobrir. Ademais, se passarem três anos da data da decretação da falência, independentemente das classes de credores já pagos, também ocorre o efeito automático de extinção das obrigações do falido, ressalvadas aquelas habilitadas ou com pedido de reserva no processo falimentar, cujos ativos da massa falida sejam suficientes para cobrir. Esse período é comumente apelidado de fresh start. Finalmente, se esse processo tramitar muito rapidamente e a sentença de encerramento de falência transitar em julgado antes de três anos, a extinção das obrigações será consequência direta dessa decisão, impedindo que credores eventualmente não atendidos na quebra retornem aos seus processos de origem para buscar algum tipo de responsabilização residual em face do falido. A única ressalva ao efeito de extinção automática das obrigações diz respeito aos créditos fiscais de natureza tributária que, por conta de disposição A extinção das obrigações do falido em decorrência da sentença de encerramento da falência aplica-se imediatamente aos processos falimentares em andamento, pois o art. 5º, §5º, da lei da reforma recuperacional e falimentar positiva que “o disposto no inciso VI do caput do art. 158 terá aplicação imediata, inclusive às falências regidas pelo Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945”. 151 expressa do art. 191 do CTN, lei com força complementar, precisam ser necessariamente quitados para serem extintos, não sendo atingidos pelo art. 158 da LRF, lei de caráter ordinário. Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos os tributos. 20. Responsabilidade secundária na falência Muito do que foi estudado no capítulo da recuperação judicial acerca da responsabilidade secundária também guarda idêntica aplicação no processo falimentar, de modo que, para uma visão geral do tema, remete-se à leitura do tópico supra mencionado. Aqui serão tratados os pontos mais importantes e as situações particulares da falência, destacadas. 20.1. Responsabilidade do devedor constante no título executivo A primeira modalidade de responsabilidade secundária objeto de debate nas reclamatórias trabalhistas em que o devedor principal é empresa falida é a do devedor que já consta no título executivo, ou por ter participado do processo desde a fase de conhecimento, ou pela ordem de suspensão das execuções singulares ter sido dada pelo Juízo da Vara Empresarial depois do trânsito em julgado da nossa decisão que o chamou ao processo em fase de execução. Se ao devedor tiver sido imputada a responsabilidade solidária,como nos casos de grupo econômico constante do título, não há nenhuma controvérsia quanto à possibilidade de habilitação do crédito no processo falimentar e o prosseguimento imediato e simultâneo da execução trabalhista Atenção especial aqui ao prazo de três anos, contados da data de decretação da falência (art. 158 da LRF), que extingue as obrigações do falido e, caso ainda não tenha havido o redirecionamento da execução, da responsabilidade secundária de terceiro solidária ou subsidiariamente responsável. 152 contra o solidariamente coobrigado, até por força de interpretação analógica do art. 127 da LRF. Art. 127. O credor de coobrigados solidários cujas falências sejam decretadas tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, até recebê-lo por inteiro, quando então comunicará ao juízo. Cenário idêntico encontra-se nos casos de responsabilidade subsidiária, como a terceirização de serviços, pois se entende na jurisprudência trabalhista que o benefício de ordem a ele entregue se esvai simplesmente com o inadimplemento do devedor principal, tal como consta na Súmula nº 331, inciso IV, do TST. Como pôde ser inferido previamente no capítulo da recuperação judicial, adotam esse entendimento pelo menos cinco súmulas ou orientações jurisprudenciais de Tribunais Regionais, cabendo aqui apenas adicionar o interessante e compreendido como correto entendimento da Orientação Jurisprudencial nº 28, inciso VI, da Seção Especializada do TRT da 9ª Região, acerca da possibilidade de incidência de juros moratórios em face do devedor subsidiário, após a decretação da falência do principal. Orientação Jurisprudencial nº 28 da Seção Especializada do TRT da 9ª Região. (...) VI - Falência. Juros de mora. Responsabilidade subsidiária. Se a execução for dirigida diretamente contra o responsável subsidiário (empresa não falida), incidem juros de mora nos termos do artigo 883 da CLT e 39 da Lei 8.177/91. Os juros são exigíveis do devedor subsidiário ainda que a massa falida satisfaça o principal, parte deste ou parte dos juros. 20.2. Responsabilidade do devedor não constante no título executivo A segunda possibilidade de redirecionamento da execução trabalhista contra terceiros quando o devedor é falido se dá nas situações em que esses terceiros ainda não constam no título executivo por ocasião da decisão de decretação de quebra e suspensão das execuções dada pelo Juiz da Vara Empresarial. Aqui será necessário primeiro uma decisão da Justiça do Trabalho que permita o contraditório e determine a inclusão do terceiro no polo passivo da reclamatória trabalhista na qualidade de corresponsável. Depois do trânsito em julgado dessa decisão, pode-se prosseguir tal como no item anterior, conforme jurisprudência amplamente majoritária do TST, aqui representada por acórdão da sua 3ª Turma no AgAIRR nº 550-76.2014.5.02.0081, julgado em 25/02/2022. https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html#SUM-331 https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=550&digitoTst=76&anoTst=2014&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0081&submit=Consultar 153 20.2.1. Responsabilidade do sócio ou administrador da falida Concluiu-se, quando da responsabilidade do sócio da recuperanda, que o novo art. 82-A da LRF, que trata da proibição de extensão dos efeitos da falência aos sócios e administradores da falida, salvo na desconsideração da personalidade jurídica com base no art. 50 do Código Civil, não é direcionado à Justiça do Trabalho. Com efeito, seu endereço é apenas ao Juiz da Vara Empresarial, de maneira que ele não impede que façamos a desconsideração da personalidade jurídica nos autos da própria reclamatória trabalhista e a ela, querendo, apliquemos regras próprias de microssistema especial de normas de A legitimidade da execução na Justiça do Trabalho de bens que, a despeito de não integrarem a massa falida, pertencem a pessoa jurídica do mesmo grupo econômico de sociedade submetida a procedimento falimentar era objeto do Tema de Repercussão Geral nº 878 do STF. Entretanto, em 18/03/2016 o Supremo entendeu ser de natureza infraconstitucional a controvérsia e desafetou a repercussão geral dessa temática. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm https://youtu.be/lNy0QH-7QQY?t=2355 154 responsabilidade dos sócios, leia-se o art. 28, §5º do Código de Defesa do Consumidor. Portanto, o artigo introduzido pela lei da reforma recuperacional e falimentar não altera em nada a jurisprudência trabalhista que autoriza a desconsideração da personalidade jurídica nos próprios autos da reclamatória trabalhista quando a devedora principal é falida, como já pudemos ver em ao menos duas orientações jurisprudenciais de Tribunais Regionais, em várias Turmas do TST e nas duas Turmas que compõem a Seção de Direito Privado do STJ. 21. Efeitos da falência sobre os contratos de trabalho ativos A regra constante no art. 117 da LRF é a de que os contratos bilaterais do falido não se extinguem com a decretação da falência, podendo haver a sua continuação ou resilição, conforme decidir o Juiz da Vara Empresarial. Com efeito, é possível que a continuação provisória autorizada pelo art. 99, inciso XI, da LRF seja a melhor alternativa para maximizar o valor dos ativos da massa e pagar o maior número possível de credores. Nessa continuação provisória da atividade empresarial, a gestão do negócio será realizada pelo administrador judicial, a quem cabe decidir sobre o futuro dos contratos de trabalho ativos por ocasião da decretação da quebra. Ele pode manter os trabalhadores existentes, reduzir o quadro de empregados ou até fazer novas contratações, sempre lembrando que os direitos oriundos Para os administradores de sociedades anônimas, por força do art. 158 da Lei nº 6.404/76, a jurisprudência trabalhista normalmente adota a teoria maior ou subjetiva do art. 50 do Código Civil. Nesse sentido, a Orientação Jurisprudencial nº 31 da Seção Especializada do TRT da 4ª Região consolidou entendimento de que “é viável o redirecionamento da execução contra sócios-controladores, administradores ou gestores de sociedade anônima quando caracterizado abuso de poder, gestão temerária ou encerramento irregular das atividades empresariais”. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm 155 dos contratos de trabalho subsistem sem qualquer alteração mesmo no caso de falência, na forma do art. 449 da CLT. Portanto, eventuais reduções do quadro serão entendidas como resilição unilateral sem justa causa (dispensa sem justa causa), gerando aos trabalhadores dispensados todos os direitos resilitórios que dela normalmente decorrem, exceto a multa do art. 477, §8º, da CLT em eventual atraso no pagamento das parcelas rescisórias, como será analisado abaixo. No cenário de continuidade das atividades empresariais, pode-se enxergar, igualmente, o seu prosseguimento não pelo administrador judicial, mas por terceiros locatários, arrendatários e adquirentes do bloco empresarial ou de unidades produtivas isoladas, com a manutenção dos empregados do falido. Nestas situações, aos adquirentes em alienação judicial é assegurada a blindagem contra a sucessão trabalhista, extinguindo-se os contratos de trabalho anteriores e formando-se novos, por força do art. 141, inciso II e §2º, da LRF. Já aos locatários e arrendatários não existe tal privilégio na lei, ficando sujeitos à jurisprudência trabalhista, que muitas vezes entende pela ocorrência de unicidade contratual e de sucessãotrabalhista. A outra face da moeda é a determinação de cessação imediata das atividades do falido pelo Juízo da Vara Empresarial. Essa decisão, tal como as reduções de quadro vistas no parágrafo acima, provocará o rompimento imotivado dos contratos de trabalho ativos na data da decretação da falência, gerando aos trabalhadores dispensados todos os direitos resilitórios decorrentes da dispensa sem justa causa, exceto a multa do art. 477, §8º, da CLT. Essa multa e também a do art. 467 da CLT não são devidas pela massa falida, por força da conhecida Súmula nº 388 do TST. Súmula nº 388 do TST. Massa falida. Arts. 467 e 477 da CLT. Inaplicabilidade. A Massa Falida não se sujeita à penalidade do art. 467 e nem à multa do § 8º do art. 477, ambos da CLT. Entretanto, para que tal entendimento jurisprudencial tenha campo de aplicação, é preciso que a data do pagamento das rescisórias ou a da audiência em que se deveriam pagar as parcelas rescisórias incontroversas estejam situadas após a data de decretação da quebra, pois é só após a quebra que o falido perde a disponibilidade sobre seus bens. Nesse sentido, a Súmula nº 21 do TRT da 15ª Região. Súmula nº 21 do TRT da 15ª Região. Falência. Cabimento da dobra prevista no art. 467, da CLT. É cabível a aplicação da dobra prevista no art. 467, da CLT, quando a decretação da falência é posterior à realização da primeira audiência. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 156 Resumo da aula 5 Nesta última aula do curso, seguiu-se no estudo da falência, detalhando o seu procedimento e observando que a massa falida será representada extra e judicialmente por seu administrador judicial, passando a contar com alguns privilégios nas reclamatórias trabalhistas, como dispensa de custas, depósitos recursais e de garantia do juízo para embargar a execução. Aprendeu-se também que a quebra, tal como a recuperação judicial, gera o efeito suspensivo das execuções e medidas constritivas singulares a partir da decisão que a decreta, com possibilidade de prosseguimento apenas das reclamatórias trabalhistas ilíquidas, que vão até a estabilização da decisão de liquidação de sentença e com possibilidade de pedido de reserva, para não se perderem os rateios. Também concluiu-se, tal como na recuperação judicial, que a falência não paralisa eventual pretensão do credor trabalhista de imputar responsabilidade secundária a terceiro responsável solidária ou subsidiariamente, e que as regras aplicáveis lá aqui também valem. Descobriu-se, além disso, que os créditos serão habilitados na quebra por meio de certidões emitidas pela Justiça do Trabalho, contemplando juros e correção monetária até a data do pedido de falência e lembrou-se que os juros posteriores a essa data dificilmente serão pagos no procedimento falimentar, por estarem em último lugar dentre os créditos concursais. Viu-se que, depois da expedição de certidões, o processo deve ser arquivado, apenas provisoriamente, até a extinção da falência, quando então, não obstante possa ainda haver a inadimplência de contribuição previdenciária, poderá ser arquivado em definitivo. Para fechar, apurou-se que a falência em absolutamente nada afeta os contratos de trabalho e que eventuais resilições serão consideradas dispensas sem justa causa, gerando o pagamento de todas as parcelas rescisórias inerentes a esta modalidade de extinção contratual, exceto a multa decorrente do seu atraso. Espera-se que o curso tenha sido proveitoso e que ele seja um auxílio na prática jurisdicional diária. 157 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COELHO, Fabio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. 15ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2021. COSTA, Daniel Carnio. MELO, Alexandre Nasser de. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. 3ª ed. Editora Juruá: Curitiba, 2022. GRALHA, Carolina. Drops de Execução: temas tormentosos da efetividade. Youtube, 17 set. 2020. Disponível em www.youtube.com/watch?v=6xlfPhmDdm8&t=5528s, acesso em 26 fev. 2023. LASPRO, Oreste Nestor de Souza. Ciclo de Estudos de Direito Processual. Youtube, 06 ago. 2021. Disponível em www.youtube.com/watch?v=Pm6f-svr9gI acesso em 26 fev. 2023. MONTEIRO, Roberta Corrêa de Araújo. Nova Lei de Falências e Recuperação Judicial. Youtube, 02 set. 2021. Disponível em www.youtube.com/watch?v=lNy0QH-7QQY, acesso em 26 fev. 2023. NEGRÃO, Ricardo. 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