Buscar

Exoterismo e Nova Era

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: 
A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era
Silas Guerriero
Acostumamo-nos a pensar a sociedade brasileira dotada de imensa 
variedade de práticas e denominações religiosas, fazendo deste país um 
lócus de múltiplas possibilidades e de escolhas variadas por parte do 
fiel, mas também um “prato cheio” para os estudiosos, que encontrariam 
por aqui tudo aquilo que desejariam pesquisar. Muitas vezes atribuída 
pelo senso comum à formação pluri-étnica da nossa sociedade e à nossa 
cordialidade, essa convivência com diferentes religiões, salvo exceções, 
sempre foi vista como um aspecto positivo da capacidade brasileira de 
colocar num mesmo caldeirão os mais díspares ingredientes. Cantamos 
em alta voz que aqui há um povo pacífico que não discrimina e que 
pode, ele mesmo, transitar por várias religiões, dependendo das suas 
necessidades momentâneas. É um país que não possui guerras internas, 
terremotos ou furacões. Em suma, um país abençoado por Deus e bonito 
por natureza e, sem dúvida, com vários caminhos para se chegar a esse 
mesmo Deus. Não importando muito qual seja esse caminho, diz-se que 
o que vale é a fé depositada.
Como será que podemos entender, de um lado, essa imensa di-
versidade e, de outro, o trânsito intenso entre as religiões e também a 
vivência concomitante em duas ou mais delas, fazendo parecer que se 
trata de uma mesma coisa, apenas diferentes nomes para uma mesma 
grande religião.
No meio disso tudo, devemos procurar compreender as novas re-
ligiões, especificamente aquilo que se costumou denominar de novas 
espiritualidades, esoterismos ou, ainda, Nova Era. É bom lembrar que, 
confirmando as posições que afirmam ser a sociedade brasileira um 
grande caldeirão, a Nova Era, ou melhor, as novas e diferentes formas 
de vivência das espiritualidades, ganhou uma dimensão bastante grande 
em nosso país, despertando não apenas o interesse de acadêmicos 
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era 129
brasileiros e estrangeiros, mas também das lideranças religiosas tradi-
cionais que de um lado pensam ter encontrado as garras do demônio, 
ou o retorno do paganismo, por trás desse movimento, mas de outro, 
também procuram os lados positivos e o quê essa Nova Era pode trazer 
de alento e contribuições às suas igrejas.
Não se trata de negar, num sentido, a diversidade religiosa e aquela 
imensa riqueza já apontada, que torna nosso país um bom lugar para 
pesquisar religiões. Nem, tampouco, deixar de reconhecer aspectos 
comuns, que possibilitam a multiplicação de denominações religiosas e 
o trânsito do fiel sem a necessidade de conversão, formando aquilo que 
seria uma única grande religião brasileira que abarca a todos. A Nova 
Era seria então, ou mais uma religião (pois parece sempre haver lugar 
para novas) no então rico mas não saturado campo religioso brasileiro, 
ou apenas uma via (equivocada e endemoninhada para muitos) de se 
chegar ao mesmo Deus.
Qualquer uma dessas duas opções se mostraria limitada em suas 
capacidades de análise. É preciso enxergar de maneira mais ampla 
para a complexidade da realidade que ora se apresenta. E é no interior 
desse duplo aspecto, a diversidade e a unicidade, que procurarei agora 
apontar alguns aspectos da Nova Era. Começo tentando o impossível, 
uma conceituação daquilo que chamamos por Nova Era. Em seguida, 
procuro levantar algumas questões acerca das religiões no Brasil que 
podem nos auxiliar na compreensão da diversidade religiosa e da Nova 
Era em especial.
1. A Nebulosa do Esoterismo e a Nova Era
Dos anos sessenta, quando começaram a surgir os primeiros indícios 
das práticas ora agrupadas sob a denominação Nova Era, até o presente 
momento, só se fizeram aumentar as suas presença e visibilidade. Não há 
quem, morador de pequenas, médias ou grandes cidades brasileiras, não 
tenha consciência de sua existência. O avanço na mídia é inequívoco. De 
assunto debatido em programas de entrevistas na televisão, chega hoje 
a ser tema central de novela em horário nobre na maior rede do país. Se 
antes ficava restrito a seus poucos adeptos, hoje faz parte do universo 
cultural e religioso brasileiro. Não há nenhum constrangimento na par-
ticipação e na exposição de suas crenças e convicções.
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
Silas Guerriero130
Abriga uma ampla variedade de práticas, produtos e serviços 
advindos das mais diferentes tradições. Nesse sentido foi chamada de 
nebulosa pela própria dificuldade de definição e caracterização. Na 
verdade podemos indagar se, afinal de contas, há ou não uma Nova Era. 
Será possível reunir numa única denominação uma extrema variedade 
de práticas e crenças? Quais são as características em comum que 
poderiam aglutinar todas elas? Seus adeptos formam um grupo coeso de 
indivíduos em torno de uma crença comum? Há uma crença comum?
Dada a ampla visibilidade do fenômeno, ninguém mais a ignora, 
nem estranha quando se vê diante de uma de suas manifestações, mas 
não custa lembrar que formam uma gama tão variada de atividades que 
podemos muitas vezes esquecer de muitas delas. Podemos colocar na 
mesma Nova Era, desde consultas a artes divinatórias, em consultórios, 
praças públicas ou shopping centres, até a existência de religiões bem 
estruturadas e institucionalizadas, como a ISKCON, passando por tera-
pias do corpo e da mente, vivências xamânicas, técnicas de meditação, 
livros de auto-ajuda, alimentação naturalista, cristais, pirâmides, agên-
cias de viagens especializadas em roteiros a “lugares sagrados”, como 
Machu-Picchu, Índia, Nepal, São Tiago de la Compostela e São Tomé 
das Letras, adorações à Lua, bruxarias (valorizadas nos seus aspectos 
positivos) etc, etc.
Procurando colocar um pouco de ordem nessa imensa heterogenei-
dade, Magnani estabeleceu uma tipologia classificatória, considerando os 
objetivos a que se dedicam, as normas de funcionamento e os produtos 
oferecidos [1] . Num primeiro grupo, denominado Sociedades Iniciáti-
cas, aglutinou as práticas que se caracterizam por apresentar um sistema 
doutrinário com princípios filosóficos e religiosos definidos, com corpo 
de rituais próprios e níveis de iniciação codificados. Nesse grupo, à 
guisa de exemplo, estão a Sociedade Eubiose, A Sociedade Teosófica, 
a Sociedade Antroposófica, a Ordem Rosacruz AMORC, as instituições 
religiosas estruturadas etc. No segundo grupo, Centros Integrados, estão 
aqueles que reúnem e organizam, num mesmo espaço, vários serviços e 
atividades, tais como consultas oraculares, terapias e técnicas corporais, 
palestras, cursos, venda de produtos etc. No terceiro grupo, Centros 
Especializados, Magnani inclui as associações, academias, clínicas e 
institutos, como Associação Palas Athena por exemplo. Num quarto 
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era 131
grupo, denominado Espaços Individualizados, estariam aquelas orga-
nizações sem linha doutrinária e a cargo de uma ou poucas pessoas, 
que oferecem produtos variados, como astrologia, shiatsu, acupuntura 
etc. Magnani chama a atenção para o fato de tal grupo apresentar, num 
de seus extremos, uma aproximação com a religiosidade popular, como 
a leitura de búzios e cartas. No último grupo, Pontos de Vendas, estão 
aqueles que possuem um aspecto mais comercial e mantém com o eso-
terismo uma ligação mais pragmática que doutrinária, comercializando 
imagens, incensos, cristais, viagens, discos de música New Age etc. 
Exemplo típico são as lojas Alemdalenda em qualquer grande shopping 
center de São Paulo.
Para o autor, tal classificação teve o intuito de ser um instrumental 
analítico. Para os limites do presente trabalho, serve para mapear e 
identificar a extrema variedade daquilo que costumeiramente chamamos 
por Nova Era.
Costuma-se interpretar o surgimento desse modode vivenciar as 
espiritualidades a partir do movimento de contestação da contracultura 
dos anos sessenta [2] . Esse novo “ethos” ganhou logo o nome de Era 
de Aquário devido a uma interpretação astrológica que previa mudan-
ças radicais na humanidade a partir da entrada da projeção do eixo 
terrestre naquele signo. Essas mudanças começaram, rapidamente, a 
serem vistas e sentidas em diferentes dimensões da vida das pessoas 
envolvidas. Sociabilidade, vida comunitária, espiritualidade, adesão a 
religiões orientais, não aceitação das autoridades religiosas ou políticas, 
busca de novos significados para a vida, eram alguns de seus aspectos 
comportamentais mais visíveis. A partir dos anos oitenta, houve uma 
verdadeira explosão midiática desses novos valores, tornando-os bons 
atrativos comerciais. Os próprios participantes deixaram de lado a des-
ignação da era de aquário para enfatizar uma mudança para uma nova 
era. E como tal ficou conhecida.
Além dessa denominação, os próprios praticantes utilizam ex-
pressões como “misticismo”, “esoterismo”, “alternativo”, e outras. Entre 
os estudiosos, alguns mantiveram a denominação dada pelos praticantes 
[3] . Outros o chamaram de nova gnose [4] , nebulosa mística esotérica 
[5] , nova consciência religiosa [6] , cultura esotérica [7] ou ainda ethos 
neo-esotérico [8] .
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
Silas Guerriero132
As divergências não estão apenas na denominação do objeto, mas 
na própria maneira de abordá-lo. Todos parecem concordar que esse 
novo ethos guarda relação com as mudanças sofridas pela sociedade 
ocidental nas últimas décadas. De certa maneira, também, todos res-
saltam a espiritualidade como um de seus elementos distintivos. Uns 
reconhecem-no como um dos Novos Movimentos Religiosos [9] , 
outros afirmam não se tratar de um movimento. Uns falam ser a Nova 
Era um sintoma clássico do revival religioso [10] . Outros, no entanto, 
não aceitam a idéia de ressurgimento da religião ou reencantamento da 
sociedade, e tratam o fenômeno como expressão do aprofundamento 
do processo de secularização [11] . Secularização ou eclipse da secu-
larização, como afirmou Martelli [12] ? Sinais de uma modernidade 
tardia ou a mais pura expressão da pós-modernidade?
Foi como que a ampla heterogeneidade do fenômeno se refletisse 
nas análises acadêmicas, adensando a névoa que parece envolvê-lo em 
vez de dissipá-la. De certa maneira, isso se explica pela novidade e 
efervescência das manifestações e as tentativas ainda isoladas de trata-
mento analítico. Não há consenso, mas isso é até positivo. Possibilita 
que se vejam facetas muitas vezes obscurecidas quando se olha apenas 
por uma perspectiva.
Edênio Valle sintetiza uma conceituação da Nova Era mais pelo 
que ela não é, do que pelo que ela é. Diz ele: “a Nova Era não deve 
ser concebida como um movimento institucionalizado, um grupo em 
si, fechado ou aberto ou uma seita, embora possa, aqui e ali, assumir 
essas conotações” [13] . Em seguida, procura vê-la como um clima, 
uma mentalidade geral e uma atitude que “vão penetrando tudo e se 
tornando algo conatural à expectativa e à aspiração cultural de nossa 
época” [14] .
Terrin afirma ser a Nova Era muito mais um movimento cultural 
que religioso [15] . Como “espelho e reflexo da sensibilidade cultural 
de uma época amadurecida da história cultural”, define a Nova Era 
como a religiosidade do pós-moderno [16] . Mas o que interessaria 
a um estudioso das religiões negar a existência dessa nova forma de 
vivência enquanto um fenômeno religioso? Não me parece ser este um 
caminho profícuo.
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era 133
Dada a imensa nebulosidade que cerca o fenômeno e para escapar 
de um possível atoleiro, é necessário fazer algumas escolhas. Parto do 
princípio que aquilo tudo denominado por Nova Gnose, Nova Era ou 
ainda Espiritualismo moderno, diz respeito ao universo religioso e só 
nesse sentido podemos compreender sua insurgência e significados. 
É no interior do campo religioso mais amplo que podemos avançar 
em nossa compreensão. É nesse sentido que passo ao segundo ponto 
de minha análise.
2. A Nova Era e a Diversidade Religiosa no Brasil
A sociedade brasileira possui uma diversidade religiosa que ex-
trapola as possibilidades de análise através do conceitual analítico 
proposto por Bourdieu a partir do estudo clássico de Max Weber [17] . 
Lísias Negrão [18] propõe a utilização do conceito de campo religioso 
acrescido da concepção do pluralismo mercadológico de Peter Berger 
[19] . Para Negrão, não há um jogo entre uma religião dominante, 
tida como legítima e representada pelo sacerdote, e outra dominada, 
tida como ilegítima e movida pela ação contestatória do profeta ou do 
mago. Há um pluralismo mercadológico, com uma competição entre os 
grupos religiosos pela preferência do fiel e consumidor. Como ressalva, 
destaca o papel da Igreja Católica e sua relação com o Estado. No Bra-
sil, diferentemente de outros países, a religião católica nunca deixou de 
estar vinculada ao Estado, e vice-versa. Nesse sentido, a legitimação 
de qualquer religião por parte do Estado passa por sua catolização. 
Mas, por outro lado, a atuação da Igreja durante o período de formação 
da sociedade brasileira sempre se deu de maneira restrita, resultando 
na composição de um catolicismo popular vivenciado à margem da 
oficialidade. Não há dúvidas de que tal fato imprimiu características 
próprias ao campo religioso brasileiro. A dupla pertença dos adeptos do 
candomblé, até os dias atuais, é exemplo típico. Diz-se católico, mas 
pode-se praticar diversas outras religiões.
Essa privatização do sagrado, que se refugia na realidade da vida 
individual, sempre foi característica brasileira. Mesmo em vivências 
que se colocam de maneira contrária à oficialidade católica, como é o 
caso do pentecostalismo, mantém-se vivos e ativos os velhos deuses do 
povo, daquela vivência católica popular, como bem demonstrou Passos 
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
Silas Guerriero134
[20] . No Brasil, maior país católico do mundo - conforme é costume 
afirmar, mantém-se a denominação oficial, mas permite-se múltiplas e 
diferentes vivências em nível pessoal. A conversão ao protestantismo 
é exceção numa sociedade que não requer rompimento para confirmar 
a adesão do fiel a um novo sistema religioso.
Lísias Negrão, seguindo os passos iniciados por Droogers [21] , 
sugere a existência de algumas características comuns a todas as re-
ligiões no Brasil. São elas: 1) A crença de que todas as religiões são 
boas porque todas elas conduzem a Deus; 2) Esse Deus segue as car-
acterísticas da concepção cristã de divindade; 3) Deus aparece sempre 
em segundo plano, substituído pelos santos, orixás, guias, mestres etc. 
ou mesmo pelas outras figuras da Trindade, Jesus Cristo e o Espírito 
Santo. 4) A crença nos espíritos dos mortos e na possibilidade de 
comunicação e contato com eles; e por fim, 5) O caráter protetor da 
religiosidade brasileira contra os males do mundo.
Em decorrência deste conjunto de elementos comuns, pode-se 
compreender tanto a possibilidade de dupla pertença como o fácil e 
intenso trânsito entre as experiências religiosas [22] .
Ora, essas características assemelham-se àquelas apontadas por 
diferentes estudiosos da Nova Era para definir essa nova forma de 
vivência religiosa. Alguns enfatizam a errância e o sincretismo em 
movimento [23] , outros vão ressaltar o aspecto da privatização do 
sagrado [24] ou ainda a perda da hegemonia da Igreja em produzir 
sentido [25] .
Parece-me, então, que essas características, de tão antigas e ar-
raigadas à cultura religiosa brasileira, contribuíram para a explosão das 
novas espiritualidades em nosso país. Porém, por si só não conseguem 
explicar essa insurgência. É como se o campo já estivesse predisposto 
com as condições necessárias para que, em termos culturais e religio-sos, e num dado estágio de desenvolvimento da sociedade, a Nova 
Era pudesse emergir e desenvolver-se plenamente. A meu ver, essas 
condições surgem com o atual estado de avanço da modernidade e da 
secularização em nossa sociedade.
É preciso elucidar, então, o que entendo por processo de secular-
ização da sociedade moderna. Que processo é esse que permite mani-
festações de magias e espiritualidades?
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era 135
Nos finais dos anos sessenta, Berger constatava a ausência do so-
brenatural nos horizontes de vida da maioria das pessoas. Acreditava, 
pois, que as coisas do sobrenatural sobreviveriam apenas em bolsões 
dentro da grande sociedade [26] . Por fim questionava se a redescoberta 
do sobrenatural realizada por essas minorias cognitivas, o que chamou 
de neo-misticismo, permaneceria isolada e restrita a poucos ou se teria 
um impacto de dimensões históricas mais vastas [27] .
Poucos anos foram suficientes para desmentir o prognóstico ber-
geriano.
Muitas foram as análises de cientistas sociais e teólogos que procu-
raram dar conta do chamado processo de secularização. O próprio Berger 
apontava a necessidade de definição clara de seu significado [28] .
A secularização é uma questão complexa e não parece resultar no 
desaparecimento completo da atividade e do pensamento religiosos [29] 
. A secularização não desencantou o mundo. O significado profundo 
de secularização é o do declínio geral do compromisso religioso na 
sociedade. A religião deixa de ser o conhecimento fundante da visão 
de mundo, dos comportamentos e da ética. A sociedade moderna conta 
agora com outros elementos de controle que independem da religião.
Muitos estudiosos viam na secularização uma antítese da religião e 
de todas as formas de espiritualidade. Dessa maneira não seria possível 
explicar os novos movimentos religiosos, o ressurgimento da magia e 
o “reencantamento” do mundo a não ser negando a secularização.
Mas a secularização não significou um aumento linear da não-
crença. A sociedade não se encontra mais descrente ou cética. Pelo 
contrário. Como apontou Martelli [30] , a modernidade elabora um 
significado ambivalente da secularização. Apresenta uma dessacral-
ização e ao mesmo tempo uma mitificação do profano, ou aquilo que 
Eliade chamou de camuflagem do sagrado [31] . Essa dupla postura é 
causadora das confusões.
A secularização possibilitou o avanço do pluralismo e do trânsito 
religioso, uma vez que não havendo as amarras das instituições reli-
giosas, o indivíduo pode manipular os bens simbólicos construindo 
seus arranjos religiosos sem medo de quebrar o eixo central onde está 
apoiado.
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
Silas Guerriero136
Dizer da autonomia do sujeito não significa afirmar, apressada-
mente, a fluidez das escolhas aleatórias, com infinitas possibilidades de 
combinação, própria de uma pós-modernidade [32] . Outro equívoco 
é afirmar que essa sociedade abre mão da racionalidade, valorizando 
a emergência das emoções e da subjetividade. O que temos são novas 
possibilidades de arranjos das racionalidades. A racionalidade mítica 
e mágica rearranja-se com a científica. Françoise Champion afirmava 
ser a “nebulosa mística esotérica” a característica religiosa da pós-
modernidade [33] . Enfatizava ser um produto original, novo, que 
reorganiza elementos das tradições religiosas clássicas em função de 
uma lógica profana [34] .
Para Harvey [35] , na sociedade pós-moderna ocorre a total aceita-
ção do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico. Inserido 
nessa turbulência, o próprio sujeito se dissolve. As análises da Nova 
Era que partiram dessa premissa de pós-modernidade desembocaram na 
visão de um super-mercado da fé, onde o sujeito dissolvido de qualquer 
vínculo simbólico, de doutrinas, de práticas e de rituais monta sua 
própria religião [36] . Foram chamadas de religiões self-service.
A meu ver, entender a Nova Era como expressão religiosa de 
uma pós-modernidade, é deixar de lado possibilidades de análises das 
raízes mais profundas da formação do campo religioso, além de negar, 
apressadamente, que a modernidade ainda avança, resgatando elementos 
passados compondo-os com novas roupagens e símbolos dos tempos 
atuais. A sociedade brasileira modernizou-se sem desencantar-se, mas 
isso não evitou a secularização. O crente articula sua própria fé a partir 
dos elementos que a sociedade lhe apresenta. Se antes isso já existia 
na sociedade brasileira, agora é possível experimenta-la na mais plena 
autonomia que a modernidade permite.
Em suma, quero afirma que não houve um desencantamento do 
mundo e que, em conseqüência também não houve o reencantamento da 
pós-modernidade. Não houve desencantamento pois não chegou a termo 
a racionalização dos objetos sacrais por parte da própria religião. Por 
outro lado, o crente também nunca se desencantou. Continua vivendo 
num mundo encantado. A Nova Era é apenas mais uma possibilidade 
de vivência desse mundo encantado, carregado de forças invisíveis 
(chamadas de energias) e de manipulações mágicas.
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era 137
A Nova Era não é um dos diferentes caminhos para se chegar a 
um mesmo Deus, nem, tampouco, uma religião singular, diferente de 
todas as demais, própria do atual momento social. Como vimos, nem 
ao menos podemos dizer que a Nova Era seja isso ou aquilo. Se foi 
utilizado até aqui o termo Nova Era, foi com o intuito de facilitar uma 
exposição, mas devemos ter sempre em mente que se tratam de in-
úmeras manifestações de religiosidades diversas, aglutinadas sob o teto 
de algumas características comuns. Essas vivências não são exclusivas, 
mas articulam-se com as demais religiões tornando cada vez mais rico 
e complexo o campo religioso brasileiro.
BIBLIOGRAFIA
AMARAL, Leila. Nova Era: Um Movimento de Caminhos Cruzados. Estudos 
da CNBB, nº 71, 1994.
_____________. Sincretismo em movimento: o estilo Nova Era de lidar com 
o sagrado. In: CAROZZI, M. J. A Nova Era no mercosul. Petrópolis: Vozes, 
1999.
AUGÉ, Marc. Não lugares. Introdução a uma antropologia da supermoderni-
dade. Campinas/SP: Papirus, 1994.
___________. Por uma antropologia do mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: 
Bertrant Brasil, 1997.
BELLAH, Robert N. A nova consciência religiosa e a crise na modernidade. 
Religião e sociedade, nº 13/2, julho 1986.
BERGER, Peter. Um rumor dos anjos: a sociedade moderna e a redescoberta 
do sobrenatural. Petrópolis: Vozes, 1973.
BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da 
religião. São Paulo: Paulinas, 1985.
BINGEMER, Maria Clara (org.). O impacto da modernidade sobre a religião. 
São Paulo: Loyola, 1992.
BOURDIEU, Pierre. “Gênese e estrutura do campo religioso”. In: A economia 
das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
BRANDÃO, Carlos R. A crise das instituições tradicionais produtoras de sen-
tido. In: MOREIRA, A. e ZICMAN, R. (orgs.). Misticismos e Novas Religiões. 
Petrópolis: Vozes/UFS, 1994
CAROZZI, Maria J.. Nueva Era: la autonomía como religión. In: VIII Jornadas 
sobre Alternativas Religiosas na América Latina, São Paulo, 1998.
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
Silas Guerriero138
CARVALHO, José Jorge. Tendências Religiosas no Brasil Contemporâneo. 
Estudos da CNBB, nº 71, São Paulo, Paulus, 1994.
____________________. O encontro de velhas e novas religiões: esboço de 
uma teoria dos estilos de espiritualidade. In: MOREIRA, A. e ZICMAN, R. 
(orgs.). Misticismos e Novas Religiões. Petrópolis: Vozes/UFS, 1994.
DROOGERS, André. A Religiosidade Mínima Brasileira. Religião e Socie-
dade, nº 14/2.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. A essência das religiões. Lisboa: 
Livros do Brasil, s/d.
______________. Ocultismo, bruxaria e correntes culturais. Belo Horizonte: 
Interlivros,1979.
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 
1991
GIL, Juan Carlos y NISTAL, José Angel. New Age. Una religiosidad descon-
certante. Barcelona: Ed. Herder, 1994.
GUERRIERO, Silas. O Movimento Hare Krishna no Brasil: a comunidade reli-
giosa de Nova Gokula. São Paulo: PUC-SP, 1989. (dissertação de mestrado)
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.
HEELAS, Paul. The New Age Movement. Oxford: Basil Blackwell, 1996.
MAGNANI, José G. Mystica urbe. Um estudo antropológico sobre o circuito 
neo-esotérico na metrópole. São Paulo: Studio Nobel, 1999.
MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna. São Paulo: Pau-
linas, 1995.
MARTINS, Paulo H. As terapias alternativas e libertação dos corpos. In: VIII 
Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina, São Paulo, 1998.
MORIN, Edgar et. al. O retorno dos astrólogos. Lisboa: Moraes ed.,1972.
NEGRÃO, Lísias N. Refazendo antigas e urdindo novas tramas: trajetórias do 
sagrado. Religião e Sociedade, v. 18, nº 2, dezembro de 1997.
PASSOS, João Décio. Teogonias Urbanas: O Re-Nascimento dos Velhos De-
uses. São Paulo: PUC-SP, 2001. (tese de doutoramento)
PIERUCCI, Antônio Flávio. Reencantamento e dessacralização. A propósito 
do auto-engano em sociologia da religião. Novos Estudos Cebrap, v. 49, pp. 
99-117, 1997.
SIQUEIRA, Deis. Psicologização das religiões: religiosidade e estilo de vida. 
In: IX Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina, Rio de Ja-
neiro, 1999.
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era 139
SOARES, Luiz E.. Religioso por natureza: cultura alternativa e misticismo 
ecológico no Brasil. In: ________. O rigor da disciplina. Rio de Janeiro: 
Relume-Dumará, 1994.
SOUZA, Luiz A. G. Secularização em declínio e potencialidade transformadora 
do sagrado. Religião e Sociedade, 13/2, 1986.
TERRIN, Aldo Natale. Nova Era: a religiosidade do Pós-moderno. São Paulo: 
Loyola, 1996.
__________________. O sagrado off limits. A experiência religiosa e suas 
expressões. São Paulo: Loyola, 1998
TIRYAKIAN, Edward A. Toward the sociology of esoteric culture. In: Ameri-
can Journal of Sociology, 78: 498 s., nov 1972.
VALLE, João Edênio R. “Psicologia e energias da mente: teorias e alternati-
vas”. Estudos da CNBB, nº 71, 1994.
WEBER, Max. “Sociologia da Religião (tipos de relações comunitárias reli-
giosas)”. In: Economia e sociedade. Brasília: UnB, 1994.
Silas Guerriero é mestre pela PUCSP.
NOTAS
[1] José Guilherme C. Magnani, Mystica Urbe, pp. 26-29. 
[2] Cf. Silas GUERRIERO, O Movimento Hare Krishna no Brasil. 
[3] Cf. Juan Carlos Gil e José Angel Nistal, New age. Una religiosidad 
desconcertante; Paul Heelas, The new age movement; Leila Amaral 
“Nova Era: um movimento de caminhos cruzados”; Maria J. Carozzi, 
“Nueva era: la autonomía como religión”. 
[4] Edgar Morin et al., O retorno dos astrólogos. 
[5] Françoise Champion, “Les sociologues de la post-modernité re-
ligieuse et la nébuleuse mystique-ésotérique”. 
[6] Luiz E. Soares, “Religioso por natureza: cultura alternativa e mis-
ticismo ecológico no Brasil”. 
[7] Edward A. Tiryakian, “Toward the sociology of esoteric culture”. 
[8] José G. Magnani, op. cit. 
[9] Cf. Maria J. Carozzi, op. cit. 
[10] Cf., entre outros, Luis A. G. de Souza, “Secularização em declínio 
e potencialidade transformadora do sagrado”. 
[11] Cf. Antônio Flávio Pierucci, “Reencantamento e dessecularização. 
A propósito do auto-engano em sociologia da religião”. 
Revista Eletrônica Correlatio n. 3 - Abril de 2003
Silas Guerriero140
[12] Stefano Martelli, A religião na sociedade pós-moderna. 
[13] Edênio VALLE, “Psicologia e energias da mente: teorias e alter-
nativas”, p. 161. 
[14] Idem. 
[15] Aldo N. Terrin, “Poiesis e autopoiesis na Nova Era”. 
[16] Idem,. Nova Era. A religiosidade do pós-moderno. 
[17] Cf. Max WEBER, “Sociologia da religião”; e Pierre BOURDIEU, 
“Gênese e estrutura do campo religioso”. 
[18] Lísias NEGRÃO, “Refazendo Antigas e Urdindo Novas Tramas: 
Trajetórias do Sagrado”, p.66. 
[19] Peter BERGER, O Dossel Sagrado. 
[20] João Décio PASSOS, Teogonias Urbanas: O Renascimento dos 
Velhos Deuses. 
[21] André DROOGERS, “A religiosidade mínima brasileira”. 
[22] Lísias NEGRÃO, op. cit., p. 73. 
[23] Leila AMARAL, Sincretismo em movimento: o estilo Nova Era 
de lidar com o sagrado. 
[24] Paul HEELAS, The new age movement. 
[25] Carlos BRANDÃO, “A crise das instituições tradicionais produ-
toras de sentido”. 
[26] Peter BERGER, Um rumor de anjos., p. 44. 
[27] Ibid., p. 127. 
[28] Peter Berger, O dossel sagrado, p. 119. 
[29] Anthony Giddens, As conseqüências da modernidade, p. 111. 
[30] Stefano Martelli, A religião na sociedade pós-moderna. 
[31] Mircea Eliade, O sagrado e o profano. A essência das religiões. 
[32] Aldo Natale Terrin, Nova Era: a religiosidade do pós-moderno. 
[33] Françoise Champion, “Les sociologues de la post-modernité re-
ligieuse et la nébuleuse mystique-ésotérique”. 
[34] Ibid., p. 167. 
[35] David Harvey, Condição pós-moderna. 
[36] Cf. De Siqueira, “Psicologização das religiões: religiosidade e 
estilo de vida” e Leila Amaral, “Sincretismo em movimento: o estilo 
nova era de lidar com o sagrado”.

Outros materiais