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Aula 04 AFRB 2009 DIREITO CIVIL

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CCUURRSSOO OONN--LLIINNEE –– DDIIRREEIITTOO CCIIVVIILL –– TTEEOORRIIAA EE EEXXEERRCCÍÍCCIIOOSS 
PP// RREECCEEIITTAA FFEEDDEERRAALL 
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11 
AULA 04 
 
FATOS E ATOS JURÍDICOS 
 
= SEGUNDA PARTE = 
 
Meus Amigos e Alunos. 
Iniciamos hoje mais uma etapa em nossos estudos. Marchamos para a 
parte final de nosso curso. Esta é a nossa penúltima aula. Portanto, recebam 
todos, antecipadamente, um grande abraço, como se eu estivesse aí com vocês. 
Desejo tudo de bom para vocês. Muitas ALEGRIAS e SUCESSO nesta 
empreitada que vocês se propuseram, com muita tranquilidade e paz durante os 
estudos e na hora da realização das provas. 
Bem... como vimos na aula anterior, Fato Jurídico é aquele que a lei 
atribui alguns efeitos. Ele pode ser dividido em Fato Natural e Fato Humano. Já 
analisamos o Fato Jurídico Natural (também chamado de Fato Jurídico em 
Sentido Estrito), sua classificação, a Prescrição e a Decadência, etc. Na aula de 
hoje vamos nos ater ao Fato Jurídico Humano, que é o acontecimento que 
depende da vontade humana (há quem diga que o termo ‘vontade humana’ 
seria uma redundância, pois somente o homem teria ‘vontade’; no entanto o 
termo tem sido aceito normalmente), abrangendo tanto os atos lícitos como os 
também ilícitos. 
Eu diria que a aula de hoje é mais “light” do que a anterior; ela é menos 
teórica. É mais dinâmica e estaremos diante de muitos casos que vivenciamos 
em nosso dia a dia. Portanto, antes de começar a aula propriamente dita eu 
sempre relembro meus alunos que este é um curso preparatório para o 
AFRF/2009. Assim, não devemos nos perder em detalhes, em episódios que 
podem ocorrer em nossas vidas e em casos particulares, mas que não trazem 
nenhuma repercussão para a nossa prova. Portanto o importante é conhecer 
cada um dos institutos e suas peculiaridades. 
No entanto, se por um lado esta aula é bem mais dinâmica e menos 
teórica, por outro lado é bem mais longa... 
Vamos então que interessa. 
Como vimos, o Fato Jurídico Humano (aquele que depende da vontade 
do ser humano) também pode ser subdividido em Ato Jurídico (em sentido 
amplo) e Ato Ilícito. A consequência da prática de um ato lícito é a obtenção de 
um direito. Já a prática do ato ilícito gera o dever de reparar os danos. Vamos 
analisar as particularidades de cada item desta subdivisão: 
 
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1) ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO (também chamado pela 
doutrina de Ato Jurídico Voluntário). Pode ser classificado em: 
 
a) Ato Jurídico em Sentido Estrito (ou meramente lícitos) ⎯ quando se 
tem por objetivo a mera realização da vontade do agente. Exemplos: o 
reconhecimento de um filho, a fixação de domicílio, o perdão, a confissão, 
etc. A vontade é importante para a realização do ato, mas não quanto à 
produção dos efeitos desde ato, pois os efeitos decorrem da lei. Caso esta a 
explicação não tenha ficado claro, não se preocupem... mais abaixo vamos 
pormenorizar melhor este item. 
 
b) Negócio Jurídico ⎯ quando se procura criar normas para regular 
interesses das partes, harmonizando vontades que aparentam ser 
antagônicas e que se subordinam às disposições comuns. A ação humana 
visa alcançar uma finalidade específica. Exemplos: um contrato (de locação, 
de compra e venda, etc.), um testamento, a adoção, etc. Observem que em 
todos este atos os efeitos são os desejados pelas partes. 
 
2) ATO ILÍCITO (também chamado de Fato Jurídico Involuntário) ⎯ 
quando a conduta (consciente e voluntária) do ser humano transgride um dever 
jurídico, acarretando consequências jurídicas alheias à vontade do agente, como 
a reparação do dano (que veremos na próxima aula, oportunidade em que 
também analisaremos a Responsabilidade Civil). O ato ilícito, embora seja um 
fato jurídico (pois causa repercussão no direito) não é ato jurídico, pois a 
característica essencial do ato jurídico é que este tem de ser lícito. O ato ilícito, 
ao invés de direitos, cria deveres (indenização, reparação do dano). 
Vamos, então, analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio 
jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico em sentido amplo. Lembrando 
que negócio jurídico é o tema mais importante, conforme veremos. 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO 
Como vimos acima, no Ato Jurídico em Sentido Estrito há uma 
realização de vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas 
em lei e não as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em 
conteúdo. Quem pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o 
efeito já preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes interessadas. 
O exemplo clássico é o reconhecimento de um filho. Digamos que uma 
pessoa (“A”) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse 
relacionamento nasceu um filho (“B”). “A” quer apenas reconhecer “B” como seu 
filho. Mas ao reconhecê-lo como tal, independentemente da sua vontade (e 
também da vontade do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatórios, 
como o direito ao nome, poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos 
sucessórios, etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato 
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não dependem da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. 
Por tal motivo, não se pode reconhecer um filho sob condições, a termo ou com 
encargos. 
Vamos supor que no exemplo dado, o pai reconhece o filho, mas faz 
algumas ressalvas: eu quero reconhecê-lo como meu filho, mas... eu sou 
casado... tenho outros filhos com minha esposa... não gostaria que esta pessoa 
reconhecida fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... também não 
gostaria que esta pessoa tivesse o meu nome... afinal de contas é um filho 
havido fora do casamento.... (Pergunto: isso pode?) E mais... além disso... não 
gostaria de ter que pagar a pensão alimentícia... Mas o resto eu aceito... 
(Pergunto novamente: isso pode? Aliás... o que seria este “resto”?). Resposta a 
todas as indagações: NÃO!!!. Lógico que o pai não pode fazer isso. Uma vez 
reconhecido um filho, o pai não pode dizer que não deseja que ele seja seu 
herdeiro, ou que não tenha o seu nome, ou se escuse de pagar a pensão 
alimentícia. Como vimos, a situação “reconhecer um filho”, traz como 
consequências legais e obrigatórias todos aqueles efeitos acima citados. O pai 
pode desejar ou não aqueles efeitos. Tanto faz... Os efeitos ocorrerão, 
independentemente da vontade do agente, pois eles são impostos pela lei. 
Outro exemplo: quando uma pessoa notifica outra, obtém o efeito previsto 
na lei de constituir o devedor em mora. Querendo ou não este efeito. Isto é, 
mesmo que o notificante não queira este efeito, ele ocorre independentemente 
de sua vontade. 
Resumindo: O Ato Jurídico em Sentido Estrito é o que gera 
consequências jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade das 
partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. 
A doutrina acrescenta que estes atos são unilaterais, ou seja, basta uma única 
manifestação de vontade para que se tornem perfeitos. 
NEGÓCIO JURÍDICO 
Conceito 
Negócio Jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido 
amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo 
agente e tutelados pela lei. É toda ação humana, de autonomia privada, com 
o qual o particular regula por si os próprios interesses, havendo uma 
composição de interesses. 
Objeto 
O exemplo clássico de Negócio Jurídicoé o contrato. Qualquer tipo de 
contrato. Num contrato as partes contratantes acordam que devem conduzir-se 
de determinado modo, uma em face da outra. Vamos tomar como exemplo um 
contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a fornecer a outra, 
durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma coisa infungível. Por outro 
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lado a outra parte se obriga a remunerar este uso. Trata-se do aluguel. Os 
efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e desejados pelas 
partes. Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? Qual o dia que deve 
ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o pagamento vai ser efetuado? 
O locatário deve pagar o IPTU? E o condomínio do prédio? Quais as obrigações 
de cada parte durante o contrato? Todos estes itens (entre outros) são os 
efeitos do contrato. Todos eles podem ser “negociados” entre os contratantes 
(ao menos em tese). E, como regra, eles devem estar previstos e devem ser 
desejados pelas partes interessadas. Guardadas as devidas proporções, o 
mesmo também pode ocorrer em um contrato de compra e venda. E em todos 
os contratos de uma maneira geral. Assim, Negócio Jurídico é o principal 
instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses. 
Lembrem-se de que o contrato é apenas uma das várias espécies de 
Negócio Jurídico. Aliás, o contrato é um Negócio Jurídico Bilateral. No entanto, o 
Negócio Jurídico também pode ser Unilateral. Neste caso o exemplo clássico é o 
testamento. Quais os efeitos de um testamento? – Resposta: Tudo aquilo que o 
testador desejar (desde que não contrarie a lei, a moral e os bons costumes)! 
Ocorre que o testamento, embora possa se produzir os mais diversos e variados 
efeitos, funciona apenas a vontade do testador, daí ele ser unilateral 
(diferentemente de um contrato, em que se leva em consideração a vontade de 
ambos os contratantes). 
DISTINÇÃO – Negócio Jurídico e Ato Jurídico em Sentido Estrito 
Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o ato 
jurídico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestação de vontade. 
No entanto no ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação da 
vontade está previsto na lei e não pode ser alterado. Este não é exercício de 
autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo 
particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no 
negócio jurídico, o efeito da manifestação da vontade é o desejado pelas partes; 
o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O 
negócio leva em consideração o fim procurado pela parte (ou partes) e a esse 
fim a ordem jurídica adapta os efeitos. Resumindo de forma bem objetiva: no 
Ato Jurídico em Sentido Estrito a pessoa pratica uma conduta e os efeitos desta 
conduta são automáticos, independente da vontade de quem o pratica; já no 
Negócio Jurídico a pessoa pratica uma conduta e os efeitos da conduta são os 
desejados pelas partes. 
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 Existe uma vasta classificação dos Negócios Jurídicos. Levando-se em 
consideração o que tem caído nos concursos públicos e segundo a melhor 
doutrina sobre o tema (embora não haja uma uniformidade), classificamos os 
Negócios Jurídicos em: 
A) Quanto ao número de manifestações de vontade: 
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1) Unilaterais – quando a declaração de vontade emana de uma ou mais 
pessoas, mas na mesma direção colimando um único objetivo. Ou seja, o ato se 
aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade; havendo apenas um polo 
na relação jurídica. Exemplos: testamento, renúncia, desistência, promessa de 
recompensa, confissão de dívida, instituição de uma fundação, etc. Eles podem 
ser subdivididos em: 
a) Receptícios – quando a declaração tem de se tornar conhecida do 
destinatário para produzir os efeitos. Exemplo: a revogação de mandato (ou 
seja, de uma procuração) – se eu revogo uma procuração eu devo comunicar 
isso à pessoa a quem eu outorguei os poderes. Percebam que o ato é unilateral 
(pois a revogação só depende da minha vontade), mas eu devo comunicar a 
minha decisão à outra parte para gerar efeitos jurídicos (por isso o ato é 
chamado de receptício). Um outro exemplo: a escolha nas obrigações 
alternativas. Alguns contratos possuem um duplo objeto alternativo: eu posso 
escolher uma coisa ou outra. Mas esta minha escolha deve ser comunicada à 
outra parte para surtir efeitos. 
b) Não-receptícios – quando o conhecimento do fato por parte da outra 
pessoa é irrelevante. Exemplo: um testamento – quando eu faço o meu 
testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar ninguém desse 
fato, nem mesmo os beneficiados pelo testamento. Outro exemplo: renúncia de 
herança – basta que eu renuncie à herança de forma expressa. Não é necessário 
que os demais interessados na herança sejam comunicados deste fato para que 
o ato seja válido e operante. 
2) Bilaterais – quando a declaração de vontade emana de duas 
manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o objeto 
(consentimento mútuo ou acordo de vontades). Neste caso há dois polos na 
relação jurídica. Exemplos: perdão (“A” pode perdoar “B”; mas este perdão 
somente surtirá efeitos se “B” aceitar o perdão); contratos como a compra e 
venda (comprador e vendedor), ou a locação (locador e locatário), etc. Podem 
ser subdivididos em: 
a) simples – quando somente uma das partes aufere vantagens, 
enquanto a outra arca com os ônus (ex: doação). 
b) sinalagmáticos – quando há uma reciprocidade de direitos e 
obrigações para as partes (gera obrigações para ambas), estando elas em 
situação de igualdade (ex: compra e venda, locação, etc.). 
3) Plurilaterais – contratos que envolvem mais de duas partes. 
Exemplos: contrato de sociedade com mais de dois sócios, consórcios de bens 
móveis e imóveis, etc. 
B) Quanto às vantagens: 
1) Gratuito – só uma das partes aufere vantagem. A pessoa assume 
determinada obrigação sem aguardar qualquer espécie de contraprestação. São 
atos de liberalidade. Exemplo: doação simples. 
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2) Oneroso – ambos os contratantes possuem ônus e vantagens 
recíprocas. A pessoa somente assume a obrigação por esperar em contrapartida 
a outra obrigação. Exemplos: locação, compra e venda, etc. Os contratos 
onerosos se dividem em: 
a) comutativos – as prestações de cada um dependem de um 
acontecimento certo e determinado. 
b) aleatórios – há uma incerteza em relação às vantagens e sacrifícios 
das prestações; depende de um acontecimento incerto, havendo, 
portanto, um risco (ex: o contrato de seguro, para a seguradora é 
aleatório, pois o pagamento ou não da indenização depende de um fato 
específico previsto no contrato – o sinistro). 
Obs: Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes 
envolve uma contraprestação. Mas nem todo ato bilateral é oneroso. Exemplo: 
doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e 
donatário), porém gratuito. 
C) Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos: 
1) Inter vivos – destinados a produzir efeitos durante a vida dos 
interessados. Exemplos: locação, compra e venda, mandato, casamento, etc. 
2) Causa mortis – somente produz efeitos (criando o direito) após a 
morte dodeclarante. Exemplos: testamento, codicilo (que é uma disposição de 
última vontade de pequenas coisas, como um anel, roupas, etc.), etc. 
Obs: O contrato de seguro (ao contrário do que parece) é um negócio jurídico 
inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um termo. 
D) Quanto a seus efeitos: 
1) Constitutivos – se sua eficácia se opera ex nunc (ou seja, se efetiva a 
partir do momento da conclusão do negócio). Exemplos: contrato de compra e 
venda. 
2) Declarativos – se sua eficácia é ex tunc (ou seja, se efetiva a partir 
do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade, 
retroagindo no tempo). Exemplos: divisão de condomínio, reconhecimento de 
filho, etc. 
Observação - Ainda na aula de hoje falarei mais sobre esses efeitos – ex tunc e 
ex nunc. Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da 
nossa parte (não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo). Aguardem 
um pouco mais que tudo irá ficar ainda mais claro sobre estas importantes 
expressões. 
E) Quanto à subordinação: 
1) Principais – são aqueles que têm existência própria e não dependem 
de qualquer outro. Exemplos: compra e venda, locação, doação, etc. 
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2) Acessórios – são aqueles que têm a sua existência subordinada à de 
um contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de 
um contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se da 
regra: “o acessório segue o principal”). Se eu sou o locador de um imóvel, quero 
que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável pelo 
pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo o 
contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que somente 
existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a multa que 
pode ser pactuado no contrata, caso este não seja cumprido). 
F) Quanto às formalidades: 
1) Solenes (formais) – obedecem a uma solenidade especial, a uma 
forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem. Exemplos: casamento, 
testamento, etc. Em alguns casos a formalidade é a própria essência do ato, 
como a escritura pública de compra e venda de imóvel acima de certo valor (art. 
108, CC). 
2) Não solenes (forma livre) – a lei não exige formalidades para seu 
aperfeiçoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. 
Exemplos: locação, compra e venda de bens móveis, etc. Em regra os contratos 
têm forma livre, salvo exceções expressas na lei. 
G) Quanto às pessoas: 
1) Impessoais – independe de quem sejam as partes e de eventual 
qualidade especial destas para a prática do ato. Exemplo: contrato uma pessoa 
para pintar um muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma 
habilidade especial para isso). 
2) Intuitu personae – o ato se realiza em função das qualidades 
especiais de uma pessoa. Exemplo: desejo ser operado por cirurgião de minha 
confiança; desejo ser defendido no Tribunal do Júri pelo advogado “X”; quero 
que o famoso pintor “Z” pinte um quadro para mim, etc. 
H) Quanto à causa: 
1) Causais – estão vinculados a uma causa. Exemplo: o registro da 
escritura de um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e 
venda deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o 
será. 
2) Abstratos – estão desvinculados de qualquer outro negócio. Exemplo: 
compro uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se 
a compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, 
principalmente se estiver nas mãos de terceiros. 
Obs: Como podemos perceber, um mesmo negócio jurídico pode se enquadrar 
em mais de uma categoria de classificação, sem que haja incompatibilidade 
nisso. 
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ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais 
porque constituem elementos de existência e validade. Se o negócio possui 
tais elementos ele será válido e produzirá efeitos. Se faltar alguns desses 
elementos o negócio será inválido e não produzirá efeitos. Já outros elementos 
são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. Neste 
momento inicial vamos apresentar apenas um gráfico para melhor classificar os 
elementos constitutivos. Depois vamos analisar cada um destes elementos 
detidamente. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 I – Elementos Essenciais – são os dizem respeito à existência e 
validade do Negócio Jurídico, dando-lhe a estrutura e a substância. 
A) Gerais – porque eles são comuns a todos os negócios. Vamos 
enumerá-los: 
1) Capacidade das Partes. 
2) Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável. 
3) Consentimento (vontade). 
B) Especiais – porque dizem respeito à forma prescrita ou não defesa 
em lei. São aplicáveis apenas a alguns negócios. 
II – Elementos Naturais – são os efeitos ou as consequências 
decorrentes do próprio Negócio Jurídico. 
 III – Elementos Acidentais – são elementos facultativos; podem ou não 
ser estipulados e dizem respeito, não à existência ou validade propriamente dita 
do Negócio Jurídico, mas sim a sua eficácia. 
 1) Condição. 
 2) Termo. 
 3) Modo ou Encargo. 
 
I – ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS 
Segundo a doutrina, antes da análise dos elementos de validade (art. 104, 
CC) é necessária a presença dos pressupostos de existência do Negócio 
Jurídico. Estes não estão previstos na lei, sendo uma construção doutrinária: 
a) Objeto Idôneo – o objeto deve ser apto a celebrar o negócio jurídico 
desejado; se ele for fisicamente impossível (ex: vender um terreno na Lua), 
conduzirá à inexistência do negócio. 
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b) Vontade Humana – para que haja o negócio jurídico é imprescindível a 
declaração de vontade humana. Como veremos adiante, se houver uma coação 
física irresistível, a vítima não está realizando a sua vontade, mas a vontade do 
coator. 
Já os elementos de validade do negócio jurídico estão previstos na lei 
(art. 104, CC). São eles: capacidade das partes (elemento subjetivo), objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo) e forma 
prescrita ou não defesa em lei. A doutrina ainda acrescenta o consentimento 
(vontade). A capacidade, o objeto e a vontade são chamados de elementos 
gerais, porque são elementos comuns a todos os Negócios Jurídicos. Já a forma 
é elemento especial, pois diz respeito apenas alguns negócios. Nem todos os 
Negócios Jurídicos exigem uma forma especial. Por isso vamos analisamos a 
forma em um item autônomo. Por enquanto, vamos nos ater aos Elementos 
Essenciais Gerais. 
A) CAPACIDADE DO AGENTE 
Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a 
capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos 
negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa 
dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos 
os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3o e 4o do Código Civil 
apresentam o rol das pessoas absoluta ou relativamente incapazes. Já 
analisamos quem podem ser estas pessoas. Se alguém ficou com alguma 
dúvida, retorne a aula sobre Pessoas Naturais. É imprescindível o conhecimento 
dessa matéria para a compreensão do que falaremos a seguir.No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios 
legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus 
interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes 
(embora já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser 
assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo 
absolutamente incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo 
relativamente incapaz sem assistência é anulável. Ainda hoje veremos a 
distinção entre o ato nulo e o anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é 
um instrumento que age a favor do incapaz, para protegê-lo. 
Incapacidade 
• Absolutamente incapazes (art. 3o, CC) devem ser representados → 
falta de representação → Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC). 
• Relativamente incapazes (art. 4o, CC) devem ser assistidos → falta de 
assistência → Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC). 
É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a 
incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em 
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benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a intenção 
da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e má-fé de terceiros que 
desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode uma pessoa capaz 
realizar um negócio com um incapaz e ele próprio (o capaz) requerer a 
invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte é incapaz. A 
incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso somente pode 
ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. Mas, como quase 
tudo, aqui também tem exceção à regra. Se a obrigação for indivisível (ex: 
entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem capazes, não será 
possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade de um 
deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que o vício tenha sido 
alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o vício se estenderá 
para toda a obrigação, sendo o negócio anulado. 
Recordando sobre a Pessoa Jurídica. Ela deve ser representada por 
uma Pessoa Física (ou Natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua 
vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja uma 
Pessoa Física para assumir os compromissos e assinar os contratos dessa 
Pessoa Jurídica. De uma forma geral esta Pessoa Física deve exprimir a vontade 
da Pessoa Jurídica; deve executar os seus objetivos. E em regra essa pessoa é a 
indicada no ato constitutivo (ou seja, no estatuto ou no contrato social) da 
Pessoa Jurídica. Na sua omissão, a representação será exercida por seus 
diretores. Trata-se, assim, de uma representação imprópria. 
Representação 
Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma 
relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, 
através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC 
delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo 
próprio interessado (mandato). Assim, são espécies de representantes: 
a) Legais – a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa 
administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Exemplos: pais, 
tutores e curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. 
b) Judiciais – são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo 
cargo em um determinado processo. Exemplos: administrador judicial de uma 
falência, inventariante, etc. 
c) Convencionais – são aqueles que tem um mandato, expresso ou 
tácito, verbal ou escrito do representado. Exemplos: procuração outorgada 
(fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta 
espécie de representação é possível o substabelecimento. Substabelecer 
significa transferir a uma outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do 
mandante. Exemplo: “A” (representado ou mandante) outorgou poderes para 
“B” (representante ou mandatário) realizar um negócio perante “C”. Como “B” 
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não também poderá realizar este negócio neste dia, transferiu os poderes que 
recebeu para “D”. 
O representante deve provar às pessoas com quem tratar (em nome do 
representado) a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de não o 
fazendo, responder pelos atos que excederem à representação. Prevê o art. 
116, CC que a manifestação de vontade pelo representante, ao efetivar um 
negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram 
conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao representado. Ou seja, o 
representante pratica o ato; mas é o representado que irá adquirir os direitos ou 
assumir as obrigações decorrentes da representação. 
O art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou 
autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades 
jurídicas diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um 
terceiro. Mas isso somente é possível se houver permissão da lei ou do 
representado. Para a proteção do representado esta prática somente é possível 
se houver a sua permissão ou se a lei não se opuser, sob pena de anulação. O 
exemplo clássico ocorre no cumprimento do chamado mandato em causa 
própria, onde o mandatário é também o beneficiário. Exemplo: A confere 
mandato para B para vender seu apartamento, com autorização para que B 
venda o imóvel para ele mesmo = B. Neste caso, quando for feita a escritura, B 
intervirá, ora representando A (como mandatário), ora em seu próprio nome 
(comprando o imóvel). Notem, que mesmo nesta hipótese, B manifesta sua 
vontade sob dois ângulos diferentes (como vendedor, representando A e como 
comprador, em nome próprio). Observem que são duas vontades jurídicas 
diferentes. 
Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e 
houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era ou 
devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também será 
anulável. 
B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura 
alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que um 
negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto 
lícito, conforme a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública 
e à moral. Exemplo: na locação de um imóvel para fins residenciais, este é o 
objeto do contrato. Assim, eu não posso desvirtuar o que foi pactuado e 
explorar naquele imóvel (que era para fins residenciais) uma atividade ilícita, 
como por exemplo, a exploração da prostituição. Desta forma, se o objeto do 
contrato foi ilícito, nulo será o negócio jurídico. Outro exemplo: compra e venda 
de objeto roubado. Também neste caso haverá a nulidade absoluta do ato. 
Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar 
prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta a impossibilidade 
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pode ser jurídica (ex: venda de herança de pessoa viva – art. 426, CC) ou física 
(ir à lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar nulo o 
negócio a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por quem 
quer que seja.Se a impossibilidade for apenas relativa, isto é, puder ser 
realizada por alguém (mesmo que não seja o devedor), não haverá obstáculo 
para o negócio. 
Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, 
determinável, ou seja, possível de determinação no futuro. E outras palavras: 
o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir 
critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a venda de 
coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser indicada ao 
menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja mencionada a 
qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela escolha. 
 
 
 
C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico. 
A manifestação de vontade exerce papel importante no negócio jurídico, 
sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade seja 
espontânea, livre de qualquer vício. Mas nem sempre um contrato traduz a 
exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes ele deve ser interpretado, 
para se chegar a real intenção das partes. Interpretar o negócio jurídico é 
delimitar o alcance da declaração de vontade. No entanto as cláusulas 
contratuais não devem ser interpretadas de forma isolada, mas no contexto do 
contrato, em conjunto com as demais cláusulas. 
O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for 
declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será 
considerado tácito se resultar de um comportamento do agente que demonstre, 
implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, desde que o 
negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. 
O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o 
autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111, 
CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato gerador de 
um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não tem força de 
declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito o brocardo: 
“quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como na hipótese 
da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado como aceitação, 
concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso concreto, que 
deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. 
Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se 
atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da 
• Objeto ilícito, impossível, ou indeterminado → Negócio 
Jurídico Nulo (art. 166, II CC). 
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linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem 
conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo 
necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se 
situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e 
os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido 
literal do negócio (que seria o exame gramatical de forma “fria” de um texto do 
contrato). 
Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a 
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de 
referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de 
acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão “boa-fé” 
deriva do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção de 
alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na omissão 
de determinado ato). 
O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos benéficos 
(também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, como uma 
doação pura e simples) e a renúncia interpretam-se estritamente. Ou seja, 
segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, 
sem incluir outras questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios uma 
interpretação mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado pelas 
partes. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: sua 
natureza é gratuita, portanto é considerado um Negócio Jurídico benéfico; por 
tal motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve ser 
resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor daquele 
que prestou a fiança (no caso o fiador), não se ampliando as obrigações do 
mesmo (confiram o art. 819, CC). 
Finalmente, acrescente-se, que há outros dispositivos estabelecendo 
regras sobre a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê 
que quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
acolhe-se a interpretação mais favorável ao aderente. Merece destaque 
especial também o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) que 
dispõe que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais 
favorável ao consumidor”. 
DEFEITOS 
Defeito é todo vício que macula o negócio jurídico, tornando-o passível de 
anulação. Segundo Francisco Amaral é a imperfeição que nele pode surgir, 
decorrente na formação de vontade ou na sua declaração. Pode ser grave 
(quando vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser 
remediado pelo interessado). 
Podemos dizer que um ato é válido, quanto ao consentimento, “quando 
eu pratico uma conduta que eu queria realizar, desejo os seus efeitos e esta 
conduta não causa prejuízo a ninguém”. Às vezes eu posso ter feito algo que 
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não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco...); quero 
comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e 
faço exatamente aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta direitos de 
terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio 
principal, mas que foram lesados com a minha conduta. É importante notar que 
em qualquer uma destas duas situações (fiz algo que não queria ou fiz algo que 
eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os chamados 
defeitos relativos à vontade. 
Assim: se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela 
que o agente quer exteriorizar, o Negócio Jurídico será viciado ou deturpado, 
tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 anos 
for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios de 
consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há 
uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada. 
Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando 
normalmente, havendo até correspondência entre a vontade interna e a 
manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi 
colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis 
de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os chamados 
vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é considerada por 
parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva iludir terceiros. 
Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, referente à 
invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos defeitos do 
negócio). 
Vamos, mais uma vez, apresentar um gráfico para melhor 
classificar os defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. 
E vamos ver qual a consequência deste ato viciado. Dependendo do vício o ato 
pode ser nulo, anulável ou até mesmo válido. Mais adiante, ainda na aula de 
hoje, veremos asdiferenças entre um Ato Nulo e um Ato Anulável, todas as 
hipóteses que caracterizam uma e outra situação e os efeitos decorrentes destas 
situações. Esses tópicos têm vital importância para efeito de concursos. 
Conforme veremos mais adiante, na resolução dos testes, é muito comum a 
incidência deste tema em concursos públicos. Assim: 
 
DEFEITOS 
1) Ausência de Vontade → Negócio Nulo. 
2) Vícios de Consentimento → A vontade não é expressada de 
maneira absolutamente livre → Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, 
Lesão e Estado de Perigo. 
3) Vícios Sociais → A vontade manifestada não tem a intenção pura 
e de boa-fé que enuncia → Fraude contra Credores. Quanto à 
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Simulação, devemos tomar cuidado. Embora muitos doutrinadores 
ainda afirmem ser um vício social, o atual Código Civil a coloca em 
outro capítulo (da invalidade do negócio jurídico – art. 167, CC), 
conforme veremos adiante. 
Observação – Se não for respeitado o prazo decadencial de 04 (quatro) anos, o 
defeito não poderá ser mais alegado, sendo o ato convalidado por decurso de 
prazo. 
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC) 
Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que conseguir 
entender o seu alcance não sentirá nenhuma dificuldade de entendimento dos 
demais defeitos. Por isso muita atenção. 
Primeiramente: Erro e Ignorância são sinônimos? Não!! O Código Civil 
equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não 
distingue um instituto do outro, mas afirma que as suas consequências são 
idênticas no campo do Direito. Assim, embora o Código não faça é a doutrina 
quem faz distinção entre o Erro e a Ignorância. E esta diferença já caiu em 
exames. 
Erro é a falsa noção que se tem sobre um elemento que influencia a 
formação de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma 
coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se 
em falso juízo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é outra. 
Já a Ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca do 
objeto ou da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão “erro”, mas 
queremos nos referir não só ao erro propriamente dito, como também à 
ignorância. 
Na verdade o erro é um registro falso da realidade. Observem que no erro 
a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas não é qualquer erro 
(ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a causa 
determinante ou principal. Ou seja, se a situação real estivesse esclarecida e era 
conhecida, o negócio não seria feito. Assim, o erro (ou a ignorância) pode ser 
classificado em: 
A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL ⎯ quando se refere à natureza do 
próprio ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do 
negócio de forma que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. A 
doutrina afirma que neste caso o erro deve ser escusável e real. Escusável 
porque ele é aceitável, desculpável; tem por fundamento uma razão plausível, 
ou seja, qualquer pessoa com atenção ou diligência normal seria capaz de 
cometê-lo em face das circunstâncias. Ex: é aceitável uma pessoa leiga 
confundir o diamante com zircônio. Mas não se admite este confusão para um 
joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a distinção (para ele seria 
um erro inescusável e, portanto, sem possibilidade de anular o ato). Real 
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porque deve acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. O Código Civil 
especificou as modalidades de erro substancial (permitindo a anulação do 
negócio jurídico) no art. 139, CC. Vejamos: 
1) Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in negotio) – o 
erro recai sobre a modalidade de contrato que eu celebrei. Pensei fazer um 
determinado contrato... mas fiz outro. Exemplo: empresto um determinado bem 
para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. Observem que não 
houve um acordo de vontades: uma das partes pensa que está realizando um 
contrato (empréstimo) e o consentimento do outro se dirige a um outro contrato 
(doação). Outros exemplos: quero vender uma coisa, mas acabo doando; quero 
alugar um apartamento (o aluguel é oneroso), mas acabo fazendo um comodato 
(que é um empréstimo gratuito), etc. Esta situação é muito difícil de ocorrer na 
prática. No entanto pode muito bem cair em concursos... como já caiu. 
2) Erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore) – a 
manifestação de vontade recai sobre objeto diferente do que se tinha em mente. 
Exemplo: comprei um lote em um condomínio que pensava ser muito 
valorizado, no entanto trata-se de um outro condomínio, que tem o mesmo 
nome, mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. 
Notem, mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando 
alguém me engana trata-se de um outro defeito, o dolo, como veremos 
adiante). O erro, neste caso, atingiu a substância do ato; portanto o ato é 
anulável. No entanto, o art. 144, CC dispõe que o erro não prejudica a validade 
do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se 
dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do 
manifestante. Aproveitando o exemplo acima: comprei o lote no condomínio 
errado (erro substancial); no entanto o vendedor, entendendo a situação, acaba 
entregando o lote no condomínio onde eu queria inicialmente. Ora, o negócio 
acabou sendo executado em conformidade com a minha vontade real inicial. 
Portanto, não havendo qualquer prejuízo, não se anula o negócio. 
3) Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in 
substantia ou in qualitate) – a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém 
engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do contrato é a 
qualidade de um objeto que depois se constata que não existe. Exemplos: 
compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo é apenas 
“folheado”; compro uma blusa pensando que e de lã animal, mas na verdade é 
sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um cavalo de 
carga pensando ele era um legítimo “puro-sangue” de corridas, etc. Observem 
que nestes exemplos eu também errei sozinho. 
4) Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se 
refere a declaração de vontade (error in persona) – geralmente este defeito 
é relativo aos contratos personalíssimos (intuitu personae). Atingem a 
identidade física ou moral, podendo o ato ser anulado, desde que a consideração 
pessoal era condição essencial para a realização do negócio. Exemplo: contratei 
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um cantor pensando que ele era ótimo... mas não era. Notem que no caso de 
um contrato em que a prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa (como 
por exemplo, pintar um muro), mesmo que o contratante tenha se enganado na 
designação da pessoa, tal fato não será suficiente para a anulação do negócio. O 
erro quanto à pessoa pode ser relativo ao: 
a) Casamento: 
• erro quanto identidade do outro cônjuge, sobre a sua honra, boa 
fama, etc. (ex: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de 
criminoso procurado, viciado em tóxicos, etc.). 
• ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, 
transmissível. 
Em ambas as situações o casamento pode ser anulado por “vício essencialsobre a pessoa”. 
b) Testamento: 
• deixo uma jóia para X, que salvou minha vida. Descubro, 
posteriormente, que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu 
soubesse que foi Z quem me salvou, eu não teria doado aquela jóia a 
X. Eu queria doar a jóia a quem realmente salvou minha vida, ou 
seja, Z. Neste exemplo o defeito é chamado de “erro quanto ao fim 
colimado ou por falsa causa”. O art. 140, CC determina que o falso 
motivo (ou falsa causa) somente vicia a declaração de vontade, 
quando for expressamente declarado como razão determinante da 
realização do negócio. Ou seja, o motivo somente tem relevância 
jurídica se for instituído expressamente no contrato, como razão 
para celebração deste. Vejamos um outro exemplo: um homem já 
idoso recebe a notícia de que teve um filho quando era mais moço, 
mas na ocasião a mãe não lhe informou do fato. O idoso, tentando 
ajudar esta pessoa lhe doa uma casa, mas estabelece o motivo: 
somente assim está procedendo porque esta pessoa seria seu filho. 
Desta forma, caso comprovado posteriormente que a pessoa não era 
seu filho, a doação pode ser anulada, pois havia um falso motivo que 
foi expresso como razão determinante do negócio, viciando, assim, a 
vontade. 
 
Lembrem-se: “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que 
não a conhece” = Princípio da Obrigatoriedade (art. 3o da LICC), que 
visa garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico, que ficaria 
comprometido se fosse admitida em toda e qualquer hipótese a alegação 
de ignorância de lei em vigor. 
Somente o erro substancial, essencial, escusável, real, anula o 
negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade fosse 
conhecida, o ato não seria realizado, importando efetivo prejuízo ao 
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interessado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do 
contrato pode ser condenado a ressarcir eventuais prejuízos que causar à outra 
parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu 
consentimento. Somente a parte interessada (a que errou) pode arguir a 
anulação do ato. 
B) ERRO ACIDENTAL ⎯ é aquele concernente às qualidades secundárias ou 
acessórias da pessoa ou do objeto. Mesmo ocorrendo esta espécie de erro, o 
negócio jurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo efeitos, 
porque o defeito não incide sobre a declaração de vontade. Ele decorre do não-
emprego da diligência ordinária que deve ter um “homem médio”. Mesmo 
sabendo do defeito, a pessoa teria realizado aquele negócio. Exemplo: comprar 
um carro de ano de fabricação muito diferente é um erro essencial; porém 
comprar um carro de número de série diferente é apenas um erro acidental. Da 
mesma forma, comprar um carro usado com uma cor um pouco diferente (preto 
ou azul escuro) também é acidental, não anulando o negócio. Outros 
exemplos: compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só tem 
três; doei um relógio a uma pessoa pensando que ela é solteira, mas é casada, 
etc. 
O chamado erro de cálculo (que é a inexatidão material) também não é 
causa de anulação do negócio, mas de simples retificação da declaração de 
vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre o peso, a medida, a 
quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não incidindo 
sobre a declaração de vontade e não viciando o consentimento. Exemplo: 
comprei 12 camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo 
deveria pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente 
que houve um erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as 
partes sabiam do valor do negócio, errando apenas no momento da realização 
do cálculo final. 
Erro de Fato e Erro de Direito 
O erro de fato é aquele que recai sobre uma circunstância de fato. Ele 
pode ser essencial ou acidental. Tudo o que falamos acima se refere ao erro de 
fato. 
Já o erro de direito diz respeito à existência de norma jurídica. Ele consiste 
na ignorância da lei, no falso conhecimento e também na sua interpretação 
errônea. Como regra ele não admite escusa; não admite desculpas. Não pode 
ser alegado. No entanto admite-se, excepcionalmente o erro de direito (e, por 
consequência, o negócio jurídico pode ser anulado), se o ato não implicar em 
recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do Negócio Jurídico 
(art. 139, III, CC). Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (ou 
seja, impositiva, de ordem pública), mas tão-somente sobre normas 
dispositivas (ou seja, sujeitas ao livre acordo das partes). Além disso, deve ser 
grave a ponto de afetar e viciar a manifestação de vontade do agente. 
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1199 
Geralmente o erro recai sobre uma situação de fato (como vimos, um contrato 
propriamente dito, ou o objeto deste contrato, ou uma pessoa, etc.). Este é o 
erro de fato sobre uma situação concreta. Já o erro de direito é aquele que 
diz respeito à existência (ou não) de uma norma jurídica. A pessoa supõe que 
uma lei não existe ou que ela não esteja mais em vigor. Exemplos: firmar um 
contrato de locação com base em uma lei, pensando que ela ainda está 
vigorando, no entanto já foi revogada; pessoa contrata a importação de 
determinada mercadoria ignorando que existe uma lei proibindo tal importação. 
Como a ignorância foi a causa determinante do ato, pode ser alegada para 
anular o contrato, sem com isso se pretender que a lei seja descumprida. Um 
outro exemplo que sempre é muito citado pelos autores, mas que não posso 
afirmar se é verídico é o seguinte: um argentino vem para o Brasil trazendo um 
lança-perfume. Na Argentina este produto não é proibido e a pessoa não sabia 
que era proibido no Brasil; se soubesse não teria trazido. 
Erro X Vício Redibitório 
Essa é uma distinção muito importante, pois já vi cair em diversos 
concursos. De fato, pode confundir um pouco o candidato. O vício redibitório, é 
o defeito oculto na coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou 
lhe diminua o valor. No vício redibitório não há qualquer erro no momento da 
celebração do negócio; o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do 
adquirente), que não foi notado, já que era oculto. Já no erro há um engano por 
parte do adquirente; é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi 
viciada pela falsa percepção da realidade, não havendo vício no objeto. 
 
DOLO (arts. 145 a 150, CC) 
Dolo é o emprego de um artifício astucioso por uma pessoa para enganar 
a outra. No dolo, o agente emprega artifícios, manobras ardilosas ou 
maliciosas, para levar alguém à prática de um ato que o prejudica, beneficiando 
o autor do dolo ou terceiros. Para a sua caracterização exige-se a vontade de 
enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). 
O dolo inicialmente pode ser classificado em: 
• Dolus Bonus (dolo bom) ⎯ é um comportamento tolerado nos 
negócios em geral. Consiste em reticências, exageros nas boas qualidades 
da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a 
finalidade de prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. 
Por tal motivo ele não é anulável, desde que não venha a enganar o 
consumidor, mediante propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do 
Consumidor proíbe a propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em 
erro. 
• Dolus Malus (dolo mau) ⎯ consiste em manobras astuciosas (atos, 
palavras ou até o próprio silêncio) para enganar alguém e lhe causar 
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prejuízo. Vicia o consentimento e por isso é anulável (na hipótese de ser 
essencial) ou obriga a satisfação de perdas e danos (na hipótese de ser 
acidental, como veremos adiante). O dolo mau pressupõe: a) prejuízo para 
o autor do ato; b) benefício para o autor do dolo ou terceiro. 
Obs. Não há normas absolutas para se distinguir na prática o dolus bonus do 
dolus malus. É o Juiz quem vai decidir, analisando as peculiaridades de cada 
caso concreto. 
O dolus malus se divide em (art. 146, CC): 
• Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam) ⎯ é aquele 
que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, 
acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. Se não houvesse 
o induzimento, a pessoa não faria o negócio. Para que seja possível a 
anulação é necessário que: a) haja a intenção de induzir a outra parte a 
praticar um negócio lesivo; b) os artifícios maliciosos sejam graves, por 
indicar fatos falsos, suprimir ou alterar os verdadeiros ou por silenciar 
algum fato que se devesse relatar ao outro contratante; c) seja a causa 
determinante na declaração de vontade; d) haja uma relação de causa e 
efeito entre a indução do erro e a prática do negócio; e e) se o dolo foi 
proveniente de terceiro, que seja do conhecimento do outro contratante. 
 
• Dolo Acidental (dolus incidens) ⎯ leva a vítima a realizar o negócio 
jurídico, porém em condições mais onerosas, não afetando sua declaração 
de vontade (embora venha a provocar desvios). Não se constitui vício de 
consentimento porque não influi diretamente na realização do negócio. O 
negócio teria sido praticado de qualquer forma, independentemente das 
manobras astuciosas, embora de outra maneira, em condições menos 
onerosas à vítima. O dolo acidental leva à distorções comportamentais que 
podem alterar o resultado final do negócio, no entanto não anula o 
negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou a uma 
redução da prestação pactuada. 
O dolo ainda pode ser classificado em: 
• Positivo (ou comissivo) ⎯ resulta de uma ação dolosa; são os 
artifícios positivos. Exemplo: falsas afirmações sobre as qualidades de uma 
coisa: pode comprar este “cachorrinho” que eu garanto... ele vai ficar bem 
pequeno... ele é da espécie “toy”... passados alguns meses aquele 
“cachorrinho” se tornou um “cachorrão”. 
• Negativo (ou omissivo) ⎯ é a manobra astuciosa que constitui uma 
omissão intencional, induzindo o outro contratante a realizar o negócio. 
Trata-se da ocultação de uma circunstância relevante e que a parte 
contratante deveria saber. E, sabedora, não teria efetivado o negócio. 
Exemplos: seguro de vida em que se omite uma doença grave e o segurado 
vem a falecer dias depois – neste caso houve uma evidente intenção de 
lesar a seguradora, beneficiando os sucessores; venda de um cavalo de 
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raça já doente e que vem a morrer logo depois da realização do negócio, 
etc. Nestas hipóteses o silêncio funciona como um mecanismo de atuação 
dolosa. Acarretará a anulação do negócio se o dolo for principal, pois é 
necessária a relação de causalidade entre a omissão intencional e a 
declaração de vontade. 
Observações Importantes: 
• Dolo de Terceiro (art. 148, CC) – Em algumas situações o dolo pode 
ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negócio. Em geral não 
afeta o contrato, uma vez que o terceiro não é parte do negócio. Somente 
enseja a sua anulação se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse 
ter conhecimento. Exemplo: “C” instiga “A” a comprar o relógio de “B” 
assegurando que ele é de ouro; porém o relógio é apenas dourado e “C” 
sabe disso, estando em conluio com “B”. Neste caso o terceiro (“C”) e o 
contratante (“B”) são tidos como autores do dolo. O negócio é anulável. No 
entanto se “B” (contratante favorecido) não tinha conhecimento da conduta 
dolosa por parte do terceiro, não se anula o negócio, mas “A” pode 
reclamar as perdas e danos de “C” (o terceiro causador da situação). 
• Dolo dos Representantes (art. 149, CC) – A lei fornece soluções 
diferentes para duas situações. No caso da representação obrigatória ou 
legal (pais, tutores ou curadores), o representado fica obrigado a 
responder civilmente somente até a importância do proveito que teve. Isto 
porque o seu representante foi “imposto” pela lei (ou de forma judicial), 
sem que ele pudesse se rebelar contra isso. Por isso seria injusto 
responsabilizar o representado por tudo. Por ser incapaz, ele não pôde 
escolher o seu representante e nem vigiar os seus atos, não tendo ciência 
se ele está agindo de forma maliciosa. No entanto, no caso de 
representação convencional ou voluntária (que é o caso do mandato) o 
representado responderá solidariamente com o representante por tudo, 
inclusive perdas e danos. Isto porque aquele que escolhe um representante 
e lhe confere uma procuração, cria um risco para o mundo exterior; o 
procurador irá agir usando o nome do representado. Por tal motivo deve, 
inicialmente, escolher bem a pessoa que irá representá-lo. Além disso, deve 
vigiar os atos da pessoa que escolheu para ser seu representante. 
Escolhendo mal (culpa in eligendo) ou não fiscalizando (culpa in vigilando) o 
seu representante, o representado responde solidariamente pela reparação 
total do dano (e não apenas limitado à responsabilidade do proveito que 
teve, como no caso da representação legal). 
• Dolo recíproco (ou bilateral) – Ocorre quando ambas as partes agem 
com dolo (comissivo ou omissivo), desejando obter vantagem em prejuízo 
da outra. Configura-se a chamada torpeza bilateral. Nesta hipótese ocorre 
a neutralização do delito, pois há uma compensação entre os dois ilícitos. 
Isto é, não haverá a anulação do ato, pois ninguém pode se valer da 
própria torpeza. O ato é considerado válido para ambos (art. 150, CC). 
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• Dolo x Erro – O erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem 
que a outra parte tenha concorrido para isso. Já o dolo é intencionalmente 
provocado na vítima pelo autor do dolo. Em outras palavras: no erro eu 
errei sozinho; no dolo alguém me enganou, isto é eu errei, mas fui induzido 
a cometer este erro pela conduta da outra parte. 
• O dolo do direito civil (artifício para enganar alguém) não deve ser 
confundido com o dolo do direito penal. Este é a intenção de praticar um 
ato que se sabe contrário a lei. O sujeito quis ou assumiu o risco de 
produzir o resultado. Está previsto no art. 18 do Código Penal. Também não 
se confunde com o dolo do direito processual. Este decorre de conduta 
processual contrária a boa-fé, sendo reprovável; trata-se da chamada 
litigância de má-fé (prevista nos arts. de 16 a 18 do Código de Processo 
Civil). 
• Não se admite invocação do dolo para se anular um casamento. Isto 
porque em relação ao Direito de Família as regras são um pouco 
diferentes. O art. 1.550, inciso III, CC prevê que um casamento somente 
pode ser anulado por vício de vontade nos termos dos artigos 1.556 a 
1.558. Os dois primeiros artigos se referem ao erro essencial sobre a 
pessoa do outro cônjuge. E o último se refere a coação. Portanto, por 
exclusão, não se pode alegar dolo para se anular um casamento. No 
entanto, observem que não há uma proibição expressa de se reconhecer o 
dolo no casamento. Isto se extrai por dedução lógica. Por talmotivo, é 
possível na prática que algum Juiz reconheça o dolo de um dos cônjuges 
para a realização do casamento. Imaginem a situação em que um homem 
se casa com sua namorada, pois ela diz que está grávida. Depois do 
casamento, ele descobre que a namorada mentiu. Diante dessa situação 
entendo que ele até poderia alegar o dolo para anular seu casamento. 
 
COAÇÃO (arts. 151 a 155, CC) 
Coação é toda pressão física ou moral exercida sobre um indivíduo (vida, 
integridade física), seus bens ou honra, para forçá-lo, contra a sua vontade, a 
praticar um ato ou realizar um negócio jurídico. O que caracteriza a coação é o 
emprego da violência (física ou psicológica) para viciar a vontade. Na coação o 
agente sofre intimidação, oferecendo-se à vítima (também chamada de paciente 
ou coacto) duas alternativas: emitir declaração de vontade que não pretendia 
originalmente ou resistir e sofrer as consequências decorrentes da concretização 
da ameaça ou de uma chantagem. 
Espécies: 
a) Coação Física (vis absoluta) ⎯ é o constrangimento corporal que 
retira toda capacidade de querer de uma das partes, implicando ausência total 
de consentimento ou manifestação de vontade, acarretando nulidade absoluta 
do ato (ex: amarrar a vítima, segurar sua mão e fazê-la assinar contrato, etc.). 
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A vítima não chega a manifestar uma vontade, agindo de forma mecânica. 
Segundo a doutrina, a manifestação de vontade é um requisito para a 
existência do negócio jurídico. Portanto, não havendo essa vontade, o negócio 
seria inexistente. Assim, doutrinariamente a coação física não é um vício de 
consentimento, pois sequer houve a vontade. 
b) Coação Moral (vis compulsiva) ⎯ atua sobre a vontade da vítima, 
sem aniquilar-lhe o consentimento, pois ela conserva uma relativa liberdade, 
podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com que 
é ameaçada (ex: se não assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou 
estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situação 
constrangedora, etc.). Trata-se de modalidade de vício de consentimento 
expresso na lei, posto que há manifestação de vontade, embora sob pressão. 
O art. 152, CC prevê que o Juiz, ao apreciar a coação, deve ter em 
conta aspectos subjetivos, como o sexo, a idade, a saúde, a condição e o 
temperamento do paciente, bem como nas demais circunstâncias que possam 
influir na gravidade da coação. 
Efeitos 
 Coação Física – não há consentimento algum → ausência de vontade → 
ato inexistente (não há previsão expressa na lei, mas é mencionada pela 
doutrina). 
 Coação Moral – há um consentimento, mas o mesmo é viciado → ato 
anulável (expressamente prevista no Código Civil). 
É importante deixar claro que nem toda ameaça se configura em um vício de 
consentimento. Assim, são necessários os seguintes requisitos para a 
caracterização da coação moral e a consequente anulação do negócio jurídico 
(art. 151, CC): 
• seja a causa determinante do negócio jurídico – ou seja, nexo causal 
entre o meio intimidativo e o ato realizado pela vítima; se não houvesse a 
coação, não haveria o negócio. 
• temor justificado – deve causar um medo ou um fundado receio na 
vítima. Os melhores exemplos a respeito são: ameaça de morte, 
chantagens, cárcere privado, desonra, mutilação, escândalos públicos, etc. 
Exemplo: Se você não me der tanto eu colocarei “aquelas fotos suas” na 
internet... Já o grau de ameaça para o reconhecimento (ou não) do defeito 
e a consequente anulação do ato deve ser apreciado pelo Juiz, caso a 
caso. 
• dano iminente – suscetível de atingir a pessoa da vítima, sua família, 
seus bens, etc. O termo família abrange não só a que resulta de 
casamento, como também decorrente de união estável. O dano pode 
atingir pessoa não pertencente à família da vítima, hipótese em que o Juiz 
decidirá com equidade, se houve ou não a coação. 
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• dano considerável e sério – a ameaça deve ser grave (vida, liberdade, 
honra, patrimônio) e séria, capaz de assustar a vítima (ou paciente), nela 
incutindo um fundado temor. O dano pode ser patrimonial ou moral. Se a 
ameaça for indeterminada ou impossível não é capaz de anular o ato 
 
Coação exercida por terceiro 
A coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídico se dela tivesse ou 
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite (art. 154, CC). Assim, 
havendo uma cumplicidade entre o coator e o beneficiário, além da anulação do 
negócio, ambos ainda responderão de forma solidária pelos prejuízos sofridos. 
Porém prevalece o princípio da boa-fé, não se anulando o ato de que a parte 
não sabia ou que não podia saber sobre eventual coação por parte de terceiro 
(art. 155, CC). No entanto, mesmo nesta hipótese, o autor da coação 
responderá pelas perdas e danos sofridos pela vítima. 
Excluem a Coação – art. 153, CC (ou seja, não se configura coação): 
• Ameaça do exercício normal de um direito (exercício regular de direito). 
Exemplo: se você não pagar a dívida, vou protestar o título e ingressar 
com uma ação de execução ou requerer a sua falência. Ora, assim agindo 
(protestando o título e ingressando com uma ação) eu apenas estarei 
exercendo um direito que me é assegurado pela lei. Portanto não há 
coação. 
• Temor reverencial ⎯ o simples receio de desgostar ou magoar os pais, ou 
pessoas a quem se deve respeito e obediência também é incapaz de viciar 
o negócio. 
 
ESTADO DE PERIGO (art. 156, CC) 
É uma inovação do atual Código. Configura-se o estado de perigo quando 
alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de 
grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação 
excessivamente onerosa (art. 156, CC). A vítima não errou, não foi induzida 
a erro ou coagida, mas pelas circunstâncias de um caso concreto, foi compelida 
a celebrar um negócio que lhe era extremamente desfavorável. Trata-se de uma 
hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, ante a iminência do perigo por 
que passa o agente, não lhe restando outra alternativa senão praticar o ato. 
Tratando-se de pessoa não pertencente à família do contratante o Juiz decidirá 
de acordo com as circunstâncias de um caso concreto. 
Uma pessoa, temerosa de grave dano moral ou material (situação 
equiparada ao estado de necessidade, mas que com ele não se confunde), 
acaba assinando contrato, mediante uma prestação exorbitante. Exemplo: um 
pai teve filho sequestrado, sendo o que bandido lhe pediu 100 mil reais para o 
resgate. Um “amigo” sabendo do problema, se oferece para comprar suas jóias; 
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estas valem 500 mil, mas ele oferece por elas apenas 100 mil reais, que é o 
valor do resgate. O que faria um pai nesta hora?? Acaba vendendo as jóias para 
o “amigo” (na verdade é um ‘amigo da onça’, como costumamos dizer). Isto 
porque o valor oferecido é muito inferior ao de mercado. Posteriormente o pai 
pode anular o negócio com base no estado de perigo. Outros exemplos: vítima 
de acidente automobilístico que assume obrigação exagerada para ser salva de 
imediato; venda de imóvel por valor ínfimo para poder pagar cirurgia de filho, 
que corre risco de morte, etc. É necessário, em todos os exemplos fornecidos, 
que a outra parte tenha conhecimento da situação de desespero do primeiro e 
se aproveitedessa situação. Em algumas situações é a própria pessoa em 
perigo quem promete uma extraordinária recompensa para ser salva, como no 
exemplo de um náufrago. A doutrina também sempre lembra o famoso exemplo 
histórico do rei inglês Ricardo III quando lutava em uma batalha (Bosworth 
Field) e seu cavalo foi morto. Caído, o rei gritava: “Um cavalo, um cavalo, meu 
reino por um cavalo!” (A horse, a horse, my kingdom for a horse!) O rei 
prometeu seu reino por um cavalo, pois estava premido por uma necessidade de 
salvar a si do perigo de estar em uma batalha sem ter um cavalo e assim 
ofereceu todo seu reino em troca do animal. Portanto acabou assumindo uma 
obrigação excessivamente onerosa, pois é evidente que seu reino valia mais do 
que um cavalo. Só para completar a história: Ricardo III acabou perdendo a 
batalha, o reino e também a própria vida. Mas eu pergunto: Se ele tivesse 
ganho a batalha será que cumpriria a obrigação?? 
Há alguns exemplos em que o perigo não foi provocado e nem houve má-
fé das partes. Exemplo: pai que oferece uma quantia exorbitante para o 
tratamento de seu filho, que sofre de uma grave doença; náufrago que oferece 
ao seu salvador uma recompensa exagerada pelo seu salvamento. Nestes casos 
não seria correto que o salvador ficasse sem uma remuneração e nem que o 
obrigado empobrecesse. O contrato apenas foi celebrado de forma 
desvantajosa. Portanto a doutrina (não há previsão legal) costuma afirmar que 
quando o prestador de serviços está de boa-fé, não pretendendo tirar proveito 
do perigo de dano, o negócio deve ser conservado, mas com a redução de 
eventual excesso contido na obrigação assumida, equilibrando-se um pouco as 
prestações das partes. 
Requisitos para a configuração do Estado de Perigo: 
a) situação de necessidade de salvar a si ou a pessoa de sua família. 
b) iminência de dano atual e grave, capaz de transmitir o receio de que, se 
não for afastado, as consequências temidas ocorrerão. 
c) nexo de causalidade entre a declaração e o perigo de grave dano. 
d) conhecimento do perigo pela outra parte, que se aproveita para tirar 
alguma vantagem. 
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e) obrigação assumida excessivamente onerosa, ou seja, desproporcional, 
causando grande desequilíbrio contratual. Lembrando que se a onerosidade é 
razoável, o negócio pode ser considerado como válido. 
Realizado um contrato sob um Estado de Perigo, a sanção é a anulação 
deste contrato – arts. 171, II e 178, II, ambos do CC. O prazo é decadencial 
(pois atinge o direito propriamente dito) de 04 anos. A anulação se justifica 
pela ofensa ao senso de justiça que deve estar presente nos contratos em razão 
da sua função social; a parte agiu contra o princípio da boa-fé objetiva, pois se 
aproveitou da situação de necessidade para tirar vantagem do negócio. 
 
LESÃO (art. 157, CC) 
 Trata-se de outra inovação do atual Código. Lesão é o prejuízo que um 
contratante experimenta quando, em um contrato comutativo (onde as partes 
conhecem as prestações de cada um e há uma certa equivalência entre elas), 
deixa de receber valor correspondente ao da prestação que forneceu. Este 
instituto visa proteger o contratante em posição de inferioridade ante o 
prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido a também 
desproporção existente entre as prestações. Decorre do abuso praticado em 
situação de desigualdade, punindo a chamada “cláusula leonina” (alguns autores 
também a chamam de “cláusula draconiana” – que é uma referência ao famoso 
e rigoroso legislador ateniense Dracon) e o aproveitamento indevido na 
realização do contrato. 
 Como se percebe, há uma deformação da declaração de vontade por 
fatores pessoais do contratante, diante da inexperiência ou necessidade, 
exploradas indevidamente pela outra parte. Exemplo: pessoa está em vias de 
ser despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua família e não ver seus 
bens deixados ao relento, acaba realizando um outro contrato por valor muito 
acima do mercado, negócio esse que, se tivesse condição de melhor refletir 
sobre os seus efeitos, jamais faria. O objetivo é reprimir o enorme desequilíbrio 
nas relações contratuais. 
 O art. 157, CC prescreve que ocorre a lesão quando uma pessoa, sob 
premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação 
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Aprecia-se, 
assim, a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em 
que o contrato foi celebrado, pois o contrato é prejudicial desde o seu 
nascedouro. Cabe ao Juiz (somente o Juiz pode rescindir ou modificar o 
contrato), diante de um caso concreto, avaliar eventual desproporção entre as 
prestações. Segundo a doutrina, para a caracterização da lesão dispensa-se a 
verificação de dolo ou de má-fé da parte que se aproveitou, sendo que também 
não é relevante se a desproporção foi superveniente à formação do negócio. 
São requisitos para a configuração da Lesão: 
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• Objetivo (material) – manifesta desproporção entre as prestações 
recíprocas, gerando enriquecimento para uma das partes e 
consequentemente o empobrecimento para outra. 
• Subjetivo – premente necessidade ou inexperiência da pessoa lesada. 
Saliente-se que a necessidade do contratante não está relacionada com 
sua condição econômica, sendo que o lesado pode ser mais rico que o 
beneficiário; trata-se da necessidade contratual. No mesmo sentido, a 
inexperiência também deve ser relacionada ao próprio contrato. 
Inexperiência não significa falta de cultura, pois a pessoa pode até ser 
culta e inteligente; o que ocorre é a falta de conhecimentos técnicos ou 
habilidades relacionadas ao contrato. 
Ocorrendo a lesão, a sanção é a anulação do ato – arts. 171, II e 178, 
II, CC. O prazo é decadencial – atinge o direito propriamente dito – de 04 
(quatro) anos. 
É importante acrescentar que não se decretará a anulação do negócio se 
for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a 
redução do proveito (lesão especial ou qualificada – art. 157, §2o, CC). 
Exemplo: a pessoa favorecida reconhece que exorbitou e concorda com a 
redução da prestação que lhe era extremamente favorável. Evita-se, assim, a 
anulação do ato. No entanto, cabe ao Juiz averiguar se o suplemento foi 
suficiente. Desta forma prestigia-se o princípio da conservação dos contratos. 
Observação importante. Somente se pode alegar lesão nos contratos 
aleatórios de forma excepcional, quando a vantagem que uma das partes obteve 
é exagerada em relação ao risco normal de um contrato. Lembrando que 
contrato aleatório é aquele em que a prestação de uma das partes não é 
conhecida com exatidão no momento da celebração do contrato. Depende de 
uma álea (alea – do latim = sorte, azar, incerteza, perigo, etc.), que é um fator 
desconhecido; depende de um risco futuro e incerto. 
Estado de Perigo x Lesão – diferença básica 
 No estado de perigo há um perigo de morte e o contratante, entre as 
consequências do grave dano que o ameaça (ou a pessoa de sua família) e o 
pagamento de uma quantia exorbitante, opta pelo último (com a intenção de 
minimizar ou sanar o mal). Já na lesão o contratante, devido a uma 
necessidade econômica, realiza negócio desproporcional; há uma situação de 
hipossuficiência de uma das partes e o aproveitamento desta circunstância pela 
outra. 
 
FRAUDE CONTRA CREDORES (arts. 158 a 165, CC) 
Constitui fraude contra credores a prática maliciosa, pelo devedor, de 
atos que desfalquem seu patrimônio, com

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