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CAPITULO V 
FATOS JURÍDICOS 
1. FATOS .JURÍDICOS 
A teoria dos fatos jurídicos é a mais importante para o estudo de todo o Direito Civil, quiçá 
de todos os ramos do Direito. Com efeito, é através da ocorrência de fatos juridicamente relevan~ 
tes que o Direito se realiza, transfonna-se ou se extingue. 
Mas nem todos os fatos da vida immana são tidos como juridicamente relevantes. Fatos 
ocorrem que não importam para o Direito, porque não são capazes de influenciar em nada a es­
fera jurídica das pessoas ou das coisas. Um simples acontecimento do cotidiano, sem nenhuma 
modificação relevante, não será qualificado como fato jurídico. 
Serão jurídicos, portanto, todos os fatos que possam trazer consequências para o mundo ju­
ridko, quer seja criando, modificando, extinguindo, resguardando ou transmitindo direitos. Os fatos 
da vida que não sirvam a esses efeitos não são classificados como jtuidicos (o acordar diariamente, o 
escovar os dentes, uma brisa calma etc.), a não ser que, ainda indiretamente, possam ser considerados 
causadores de efeitos como a criação, a modificação, a transmissão, a garantia e a extinção de direitos. 
Para melhor enquadramento dessa matéria entre os tópicos já vistos, relembremos as três 
categorias distintas de fenômenos estudados na Teoria Geral do Direito Civil: 
são todas as pessoas capazes de ad-
1 quirir direitos. Aqui tratamos de pes~ 
I soas capazes Ou incapazes, porque 
estas podem adquirir direitos, mas, 
para exercê-los, devem ser represen­
tadas ou assistidas, conforme o caso; 
I 
fala-se também, nesse ponto, de pes­
soas naturais ou jurídicas, porque to-
i 
das são capazes de adquirir direitos 
1 . ou de transmitHos a outrem; . 
são todos os bens suscetíveis de 
apropriação e que podem ser ob· 
jeto de interesse pelos sujeitos de 
direito. Sua divisão e classificação já 
foi elucidada nos tópicos anteriores; 
a relação jurídica é o vínculo capaz 
de unir dois ou mais sujeitos de di­
reito ou esses sujeitos com um ou 
mais objetos de direito. Para que 
surja a relação jurídica entre s~.,;jeitos 
ou entre sujeito e objeto, ê necessá­
ria a ocorrência de um fato jurídico. 
A relevância do estudo dos fatos jurídicos, p011anto, surge nesse ponto. Sem a ocorrência de 
um fato capaz de criar, modificar, resguardar, transferir ou extinguir um direito, não haverá rela­
ção jurídica a ser disciplinada pela norma legaL Toda a existência do direito, portanto, depende 
da ocorrência dos fatos juridicamente relevantes. 
Ainda que o fato seja caracterizado por um agir contrário ao direito (ato ilícito), será qualifi­
cado como fato jurídico porque do dano também surge um direito, qual seja, o de ressarcimento 
em favor do prejudicado e em detrimento do ofensor. 
Mesmo em outros ramos do Direito, a categoria do fato jurídico estará sempre presente. No 
Direito Administrativo, por exemplo, os atos administrativos, tais como concebidos pela teoria 
administrativista, nada mais são do que atos jurídicos especificamente praticados pela Adminis-
. 312 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastiiio de Assis Neto, Morcefo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
tração Pública. No Direito Processual, os atos processuais são atos jurídicos capazes de influen­
ciar na relação jurídica processual. Até no Direito Penal, a prática do ato delituoso se configura 
como fato jurídico, porque vincula o criminoso a uma relação jurídica com o Estado, o qual passa 
a ser titular do chamado jus puniendi (direito de punir) em seu desfavor. 
A parte geral do Código Civil de 2002 adotou nova nomenclatura para os fatos jurídicos. A 
legislação de 1916 utilizava, de fonna genérica, a designação atos jurídicos para todos os atos 
que visassem criar, conservar, modificat, transmitir ou extinguir direitos, fossem eles negociai\, 
ou não. 
Muito embora a teoria dos negócios jurídicos já fosse conhecida no início do Século XX. 
máxime em face do Código alemão, nosso antigo Estatuto não trouxe em suas d.:!finições a dife­
renciação entre ato jurídico stricto sensu e o negócio jurídico. 
2. EFEITOS DOS FATOS JURÍDICOS - A AUTONOMIA DA VONTA­
DE E A MITIGAÇÃO DO VOLUNTARISMO JURÍDICO 
Como vimos, os fatos jurídicos se constituem na mais importante categoria dQ direito en­
quanto dinâmica de regulação da sociedade. Se o nascimento, por exemplo, é um fato jurídico. 
podemos concluir sem dificuldade que, sem os fatos, sequer se haveria de falar em sujeitos de 
direito (pessoas naturais ou jurídicas), pois as pessoas naturais não nasceriam e as jurídicas não 
seriam criadas pelas naturais. 
Assim também os direitos: sem fatos jurídicos, não se criam direito objetivo (por (costumes 
ou processo legislativo) nem subjetivo {por contratos ou atos ilícitos, dentre outros). 
Igualmente se pode falar dos bens jurídicos, pois, sem os fatos jurídicos, não se falaria em 
objeto de direito, já que não teríamos agentes para comporem as relações jurídicas em torno dos 
bens. 
Para o nascimento dos atos jurídicos (que são, como veremos, os fatos que derivam da ação 
humana), é necessário que concorram certos elementos de existência, como o agente, a vontade, 
a forma e o objeto. O segundo desses elementos citados (a vontade) tem sido alvo de numerosos 
debates doutrinários, principalmente do ponto de vista do objetivo primordial dos atos e negócios 
jurídicos, que é a geração de seus efeitos. Podemos classificar os efeitos dos fatos jurídicos em: 
a) efeitos aquisitivos: os fatos, atos e negócios jurídicos assim se qualificam por gerarem 
criação, aquisição, modificação, transmissão, conservação e extinção de direitos. O efeito 
aquisitivo é aquele pelo qual, através do fato, decorre em seguida o acréscimo de um bem 
ou direito ao patrimônio do agente, como na tradição, na transcrição do título aquisitivo no 
registro de imóveis, na reunião dos requisitos para a usucapião, na abertura da sucessão etc. 
Diz-se, para efeitos didáticos, que a aquisição de direitos pode ser: 
ai) originária ou derivada: originária é a aquisição de bens ou direitos sem relação jurídica 
com algum eventual titular anterior. Assim, na caça e pesca, por exemplo, adquirem-se bens 
sem relação jurídica com titular anterior. Por aquisição originária podemos falar, também, 
em criação de direitos, já que, determinados casos, como no do exemplo citado, existiam 
os objetos (bens), mas sobre eles não existiam direitos, que foram criados a partir do fato 
jurídico; a aquisição derivada, por sua vez, decorre de relação jurídica com o titular anterior; 
• t 
I 
I 
Cap. V · FAlO~ JUt\H.JII...v.> 
a2) gratuita ou onerosa: gratuita é a aquisição de direito sem necessidade de sacrifício da con­
tra-parte para fazer jus à sua atribuição; onerosa., aquela em que se exige sacrifício corres­
pondente por quem adquire o direito; 
a3) a título universal ou singular: aquisição a título universal é aquela em que o adquirente re­
cebe um patrimônio, seja na integralidade ou uma cota-parte dele, como no caso da sucessão 
causa mortis, por exemplo; singular é a aquisição de certos e detenninados bens ou direitos; 
a4} simples ou complexa: a aquisição simples é a que depende de um único fato e a complexa 
é a que demanda vários fatos, sejam eles sucessivos ou simultâneos; 
a5) imediata, eventual ou a termo: imediata é a aquisição de direitos que decorre imediatamen­
te do fato para a qual se destina; a termo é a aquisição em que o agente passa a ser titular do 
direito de forma imediata, no entanto só pode exercê-lo após o advento de um termo ou data 
prefixada pelos agentes; por fim, a aquisição eventual se dá quando os agentes condicionam 
a aquisição do bem ou direito a um evento futuro e incerto (condição). 
b) efeitos modificativos: os fatos jurídicos não servem apenas para criar e determinar a aquisi­
ção de direitos, mas também para que esses sejam modificados. Assim, por exemplo, em um 
determinado contrato, podem as partes alterar o seu conteúdo através de um ato substitutivo, 
como na transação e na dação em pagamento, por exemplo. Essa modificaçãofoi sabiamente repugnado pelo Superior Tribunal de Justiça, como se pode 
ver da seguinte ementa: 
PROCESSO CIVIL- AGRAVO DE INSTRUMENTO- NEGATIVA DE PROVIMENTO- AGRA­
VO REGIMENTAL- CONTRATO BANCÁRIO- NOTA PROMISSÓRIA- EMISSÃO EM BRAN­
CO- VIOLAÇÃO AO Art. 51, IV, CDC- SÚMULA 60/STJ- LETRA DE CÂMBIO- SAQUE 
-NULIDADE- DESPROVIMENTO. 1-No que diz respeito à validade da nota promissória emitida 
em branco, a orientação desta Corte é no sentido de que a cláusula contratual que permite a emissão 
da nota promissória em favor do banco/embargado, caracteriza-se como abusiva, porque violadora do 
princípio da boa-fé, consagrado no art. 51, inciso IV do Código de Defesa do Consumidor. Precedente 
(REsp 511.450/RS). 2- Igualmente, é nula a cláusula contratual em que o devedor autoriza o credor 
a sacar, para cobranç2, título de crédito representativo de qualquer quantia em atraso. Isto porque tal 
cláusula não se coaduna com o contrato de mandato, que pressupõe a inexistência de conflitos entre 
mandante e mandatário. Precedentes (REsp 504.036/RS eAgRg Ag 562.705/RS). 3- Agravo regimen­
tal desprovido. (AgRg noAg 511.675/DF, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, 
julgado em 23/08/2005, DJ 17/10/2005, p. 297) 
Mais sobre a cláusula-mandato poderá ser lido no capítulo próprio a respeito do contrato de 
mandato (item L3.2 do Capítulo X da Parte V). 
Ainda sobre o tema do negócio consigo mesmo, devemos lembrar que existia discussão, no 
regime jurídico anterior, sobre a validade do uso da procuração (instrumento do mandato) para 
compra e venda de imóveis, hipótese em que o mandante dava ao mandatário poderes para alienar 
a coisa para quem quisesse, inclusive para si mesmo, pois o antigo Código, embora previsse o 
mandato em causa própria, proibia expressamente essa hipótese. Veja-se: 
MPSE
Realce
MPSE
Realce
I 
Cap. V · FATOS JURÍDICOS 
~ jrrevogável o mandato: I - quando se tiver convencio­
nado que o mandante não possa revogá-lo, ou for em 
causa própria a dada. 
Não podem ser comprados, ainda em hasta pública:[ ... ] 
11- pelos mandatários, os bens, de cuja administração 
I 
Em que pese a antiga vedação legal, ainda mesmo na vigência do CC-1916 se arraigou a 
praxe de, em lugar da lavratura de escritura pública de compra e venda, os agentes do l\egócio 
em tomo da propriedade de bens imóveis emitirem procuração, em favor do adquirente, phra que 
este transfira para si ou para terceiros o bem objeto do mandato. A prática se tomou tão comum 
que passou a se considerar inconveniente, do ponto de vista da politicajudiciária, invalidar esses 
pactos, já que isso, não raro, dava margem a especulações e prevalência de má-fé por parte de 
alienantes mal-intencionados. 
Por isso, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula n° 165, segundo a qual: "A venda 
realizada diretamente pelo mandante ao mandatário não é atingida pela nulidade do art. 1.133, 
!1. do Código Civil". 
O art. 685 do atual Código extingue qualquer polêmica em tomo do assunto, ao dispor que 
"conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua revogação não terá eficácia, 
nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de pres­
tar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedeci­
das as formalidades legais". 
Trata-se, portanto, de expressa autorização legal para a prática do chamado negócio consigo 
mesmo. 
7. QUADRO SINÓTICO 
Fatos Jurtdicos 
CAPITUlO V- FATOS JURIDICOS 
~através da ocorrência de fatos juridicamente relevantes que o Direito se reali­
za, transforma-se ou se extingue. Mas nem todos os fatos da vida humana são 
tidos como juridicamente relevantes. Serão jurídicos, portanto, todos os fatos 
que possam trazer consequências para o mundo jurídico, quer seja criando, mo­
dificando, extinguindo, resguardando ou transmitindo direitos. 
efeitos aquisitivos: são aqueles pelos quais, através do fato, decorre em se­
guida o acréscimo de um bem ou direito ao patrimônio do agente, como na 
tradição, na transcrição do título aquisitivo no registro de imóveis, na reunião 
dos requisitos para a usucapião, na abertura da sucessão etc. 
- efeitos modificativos: os fatos jurídicos podem modificar os direitos já adqui· 
ridos, por exemplo, em um determinado contrato, podem dS partes alterar o 
seu conteúdo através de um ato substitutivo, como na transação e na dação 
em pagamento; 
- efeitos translativos: os efeitos translativos são aqueles que derivam da po­
tencialidade que tem o fato jurídico de transmitir bens ou direitos de uma 
pessoa para outra. A tradição, por exemplo; 
,, +'"''"'; 'l - efeitos conservativos: esses são os efeitos pelos quais a prática de determina· 
dos atos visa resguardar o bem ou direito da ação deletéria do tempo ou de 
terceiros; 
- efeitos extintivos: extinguem o direito ou a obrigação do agente, como o 
abandono, o pagamento (que extingue o direito do credor}, a condiçilo reso· 
lutiva, a prescrição. a decadência, o perecimento do objeto e qualquer outro 
fato que acarrete o falecimento do direito; 
2 
MPSE
Realce
MPSE
Realce
MANUAL DE D!RE!TO C !V! L- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
naturais ou em 
sentido estrito 
Atos jurídicos' 
Atos jurídicós 
stricto sensu Ou 
Atos~fatoS 
ju~ídicos 
Atos jurídicos 
negociais ou 
negócios jut"idicos 
São aqueles capazes de gerar efeitos jurídicos como criar, modificar, resguardar, 
transferir ou extinguir direitos sem o concurso da ação humana, como uma tem­
pestade ou a morte natural de alguém 
Demandam a ação voluntária do homem para se materializar. O ato jurídico lato 
sensu, por sua vez, comporta classificações. Dentre elas, a que mais importa para o 
direito é a sua partição em atos jurídicos não negociais e atos jurídicos negociais. 
São atos que decorrem da vontade humana, contudo, a vontade é dirigida so­
mente à prática do ato, mas nào ao seu efeito, que decorre, automaticamente, 
dos ditames da lei. 
A sua ocorrência depende de ação humana, no entanto, não é necessária a von- , 
tade para a sua prática ou esse elemento volitivo é irrelevante. Dessa forma, se 
um indivíduo absolutamente incapaz, por exemplo, praticar sozinho algum ato­
-fato jurídico, este será, em regra, válido, e produzirá todos os efeitos que deveria 
produzir. A ocupação (art. 1.263 CC) e o achado de tesouro (art. 1.264 CC) seriam 
exemplos. 
E o ato cuja prática e efeitos são derivados da vontade humana. Nos negócios 
os efeitos jurídicos do ato dependem da vontade declarada do agente, a mani-; 
festação da vontade humana alcança a produção de efeitos, modulando-os, a 
vontade não fica adstrita- como no caso dos atos jurídicos strictosensu- à sim­
ples escolha quanto a prática do ato ou não. Os contratos são exemplos típicos 
de negócios jurídicos. 
- Unilateral: derivam da declaração de vontade de uma só das partes, sem ne­
cessidade da aceitação ou do concurso da vontade da outra. Pode ser: 
:..., recepticio: depend~, pelo menos, de que a outra parte seja notificada; 
Pelo número de '-+ não receptício: sem necessidade de notificação à outra parte; 
partes - bilateral: dependem do concurso da vontade de pelo menos dois agentes; 
Pela 
tipicidade 
Pelos 
efeitos 
pluri!ateral: é o negócio em que não se encontram dois polos distintos, mas 
sim um conjunto de pessoas que atuam com o mesmo interesse, como na 
sociedade. 
- típicos: são figuras previstas expressamente pela lei; 
- atípicos: não têm previsão legal, entretanto, em função do princípio da auto-
nomia da vontade, devem ser aceitos, desde que preencham 
existência e os elementos de validade previstos pelo art. 
- translativos: visam à transmissão de um direito; 
- modificativos: visam modificar o conteúdo de uma relação jurídica já existen-
te, como a novação ou a transação, por exemplo; 
- extintivos: têm por fim a extinção de um direito ou de uma relação jurídica, 
como o distrato, o pagamento, etc; 
- obrigacionais: sua finalidade é criar, entre as partes,obrigações de dar, fazer 
ou deixar de fazer alguma coisa; 
- de garantia: têm por finalidade resguardar o cumprimento de um outro ne­
gócio contra os riscos da insolvência de uma das partes. São os casos dope­
nhor, da hipoteca e da anticrese; 
- inter vivos, quando se destinam a produzir eficácia imediatamente ou duran­
te a vida das partes; 
- causa mortis, quando se destinam a produzir efeitos após a morte de quem 
o ato, como no testamento. 
3.1 
3.2 
I 
' 
I 
3.2.1 
3.2.1.1 
3.2.2 I 
\ 
4.1 
4.2 I 
i 
~ 
4.3 I 
4.4 
,': "'0 "' "' 
CJIPITUL1)V- FATOS JURIDICOS 
' ' 
' Pela - negócios de troca, quando uma das partes dá uma coisa com valor econômi-
negódo co a fim de receber outra ou até sem interesse em receber nada; 
4.5 
... . 
- negócios associativos, quando ambas as partes tém interesses comuns, sem 
que uma queira adquirir algum bem ou outro elemento do patrimônio da 
outra. Exemplo típico ê o contrato de sociedade; 
- negócios para prevenção de riscos: entabulados para garantir a intdOS> .. ---~--
.. 
.. ··-·· .. ' . 
. ,._ 
A parte geral do Código Civil adota três importantes regras para a interpretação dos negócios jurídi-
cos. São elas: 
- Princípio da prevalência da intenção dos agentes: Nas declarações de vontade se atenderá mais à 
intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112); 
5 
- Princípio da boa-fé: Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do 
lugar de sua celebração (art. 113); 
- Interpretação restritiva dos negócios benéficos. Reza o art. 114 do Código Civil que, nos negócios 
jurídicos benéficos {fiança, doação, comodato etc) e na renúncia, a interpretação deve ser restritiva. 
",,, ,:' 
O Código Civil de 2002 disciplina, na parte geral, regulamentação geral das regras da representação, a 
qual se espalha por diversas matérias, como no Direito de Família (pais, tutores, curadores), nas Obri- 6 
-~ões (mandato, agência etc) e nas Sucessões (inventariança), por exemplo. 
Limites ao - _-- O exercício da representação deve se limitar aos poderes conferidos ao repre-
exercicio da sentante (pela lei ou pelo negócio de representação), segundo o art 116, sob 
pena de anulabiHdade, conferida pelo art 119, desde que o excesso de represen- 6.2 
:- tação seja conhecido do outro contratante. Essa proteção da boa-fé do terceiro 
,,-~, da teoria da aparência. . 
Diz: o art. 117 do Código Civil que salvo se o permitir a lei ou o representado, é 
anuldve/ o negócio jurídico que o representante. no seu interesse ou por conta de ou-
. fieg~~i() ~q_sigo trem, celebrar consigo mesmo. Portanto, não existindo autoriz:ação legal ou con-
6.3 
mesmo vencional (fornecida pelo representado), não pode o representante utilizar seus 
L 
poderes para celebrar negócio em que o destinatário da declaração de vontade 
.. do representado seja o próprio representante. 
l 
I 
I 
'" MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
8. SÚMULAS E ENUNCIADOS 
8.1. Enunciados das Jornadas do CJF 
409. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpre­
tados nefeitos desde logo, a in-
da que estando vivas as partes. 
5. (TRE!AL/Analista/2010) O negócio jurídico con-
cluído pelo representante em conflito de interesses 
Cap. V · FATOS JUR(OICOS 335 . 
com o representado, quando tal fato devia ser do 
conhecimento de quem o contratou, é 
(A) nulo, sendo de 180 dias, a contar da conclusão do 
negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo 
decadencial para pleitear-se a anulação. 
(B) anulável, sendo de 180 dias, a contar da conclusão 
do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo 
decadencial para pleitear-se a anulação. 
(C) anulável, sendo de um ano, a contar da conclusão 
do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo 
decadencial para pleitear-se a anulação. 
(DJ nulo, sendo de um ano, a contar da conclusão do 
negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo 
decadencial para pleitear-se a anulação. 
(E) anulável, sendo de dois anos, a contar do conheci­
mento da nulidade, o prazo decadencial para piei­
teM-se a anulação. 
6. (MPE-SC- Promotor de Justiça -SC/2013) Nas de­
clarações de vontade nunca se atenderá à intenção 
nelas consubstanciadas pelo agente, mas sim, uni­
camente, ao sentido literal da linguagem. 
7. (FCC- Analista Judiciário- Ârei.i Judiciária- TRT 
9/2013) Em relação à interpretação do negócio jurí­
dico, é correto afirmar que 
(A} quaisquer negócios jurídicos onerosos interpretam­
-se estritamente. 
10. GABARITO 
{B) na vontade declarada atender-se-á mais à intenção 
das partes do que à literalidade da linguagem. 
(C) a renúncia interpreta-se ampliativamente. 
(D) o silêncio da parte importa sempre anuência ao que 
foi requerido pela outra parte. 
(E) como regra gera!, não subsiste a manifestação da 
vontade se o seu autor houver feito a reserva mentai 
de não querer o que manifestou. ' 
s. (FMP- Defensor Público- PA/2015) Assinale a al­
ternativa CORRETA. 
(A) Considera-se ato-fato jurídico o ato cuja existência 
a lei submete à vontade do sujeito da relação, sem 
permitir, no entanto, que ele disponha sobre as con­
seqüências de seu proceder. 
(8) O negócio jurídico está submetido, no plano da 
existência, ao completamente do suporte fático, por 
condiçôes e termos. 
(C) A capacidade de direito do agente é elemento com­
plementar do suporte fático de um negócio jurídico. 
(D) A tradição é ato real, o qual é considerado ato ne­
gociai na classificação doutrinária dos atos e fatos 
jurídicos. 
(E) Os negócios jurídicos e os atos jurídicos stricto sen­
su diferenciam-se pela possibilidade de disposição 
de vontade no plano da eficácia, presente nos pri­
meiros, ausente nos segundos. 
Quest,ão Resposta Comentário Onde encontro no livro? 
1 B CC. art. 111 Parte 11, Capítulo VI, item 2.2.3 
2 c CC,arts.111 e112 
Parte 11, Capítulo VI, item 2.23 e 
Capítulo V, item 5 
3 c CC,art.117 Parte 11, Capítulo V, item 6.3 
4 o É gratuito o negócio quando uma das partes não au-
Parte 11, Capitulo V, item 4.6 
fere vantagem 
s B CC, art. 119, parágrafo único Parte 11, Capítulo V, item 6.3 
6 ERRADO CC,art.112 Parte IJ, Capítulo V, item 5 
7 B CC,art.112 Parte !1, Capítulo V, item 5 
A alternativa correta aponta a diferença estabeleci-
da entre os negócios jurídicos e os atos jurldicos em 
Parte !1, Capítulo V, itens 3.2. 1 e 
8 E sentido estrito, que é justamente a possibilidade de 
modulação dos efeitos produzidos, no caso dos pri-
3.2.2 
melros. 
CAPÍTULO VI 
ELEMENTOS DO NEGÓCIO 
JURÍDICO 
1. ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
É muito controvertida a doutrina sobre os elementos do negócio jurídico, tanto até quanto 
se debateu a respeito das distinções entre ato em sentido estrito e negócio, a ponto de o CC-1916 
repeli-las e a atual codificação consagrá-las. 
Com efeito, nota-se que o modelo adotado pelo Código de 2002 procurou alçar a importân­
cia do negócio jurídico a um novo patamar, passando a tratá-lo em primeiro lugar, logo a partir 
do art. 104, enquanto os demais atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, como já 
vimos, recebem expressa referência apenas no art. 185. 
Demais disso, nosso legislador atual, assim como o anterior, optou por elencar, desde o 
início do tratamento da matéria, os chamados requisitos de validade do negócio jurídico, in­
vocando, no mencionado art. 104, que essa validade requer agente capaz, objeto lícito, possível, 
determinado ou determinável e fonna prescrita ou não defesa em lei. 
No entanto, como é lógico e essencial a qualquer alvo de estudo da ciência (inclusive a ju­
rídica), antes mesmo de se examinarem os pressupostos de validade desse alvo, é necessário que 
ele exista. 
Ora, não é demais relembrar !3-qui a conhecidíssima máxima cartesiana: "cogito ergo sunt" 
(penso, logo existo). O que o famoso filósofo francês quis dizer é que o pressuposto básico para 
que o ser humano exista enquanto tal é a racionalidade, ou seja, o pensar. Constatada a existência 
da razão enquanto motor contínuo da vida humana, podemos especular sobre outras substâncias 
do próprio ser humano, como a sua integração ao direito e às relações jurídicas. 
Por isso, aderimos expressamente à corrente que admite e considera necessário o estudo dos 
chamados elementos de existência do negócio jurídico. Para reforço da ideia, basta examinar a 
estrutura do próprio código: antes de qualquer outra consideração sobre as pessoas (com exceção 
do preceito de que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil- art. 1 °), o legislador 
buscou definir a partir de que momento se considera a existência da pessoa natural (art, 2°), assim 
como da pessoa jurídica (art. 45). De igual jaez, veja-se que o Código menciona a classificação 
geral dos bens, enquanto objetos de direito existentes, em sua parte geral, para somente depois, 
na parte especial, disciplinar a forma de se promover a sua circulação (direito das obrigações, 
contratos, direito de empresa) e a maneira de se exercer o poder sObre eles (direito das coisas). 
Consideradas essas premissas básicas, devemos registrar que foi Pontes de Miranda, seguido 
por Marcos Bemardes de Mello, quem propôs a classificação dos elementos do negócio jurídico em 
três planos (Escada Ponteana): (a) plano de existência; (b) plano de validade; (c) plano de eficácia, 
Essa classificação, embora não seja expressamente adotada pelo Código Civil de 2002, 
Lmo se vê, é importante para melhor compreensão do fenômeno jurldico. 
338 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzobel de Melo 
Organiza-se adequadamente o raciodniõ e·e;t~do do negócio jurídico se se compreende que, 
em um primeiro momento, deve-se observar a presença de elementos sem os quais não há que se 
falar sequer em existência do ato (plano de existência). 
Avançando no tema, uma vez existente o ato, aí sim passa-se a verificar se esses elementos 
de existência preenchem os requisitos legais de validade (plano de validade), sem os quais o ato 
será considerado i\nválido (nulo ou anulável) embora existente. 
Por derradeiro, uma vez existente e válido o negócio, deve-se perquirir acerca da presença 
ou não de algum elemento acidental que o torne temporária ou permanentemente ineficaz (plano 
de eficácia). Presentes esses elementos, o ato existirá e será válido, no entanto não produzirá efei~ 
tos; ausentes tais elementos, o ato será existente, válido e eficaz. 
Registre-se, enfim, que a jurisprudência do STJ já conta com precedentes que mencionam ex-
pressamente o plano de existência do negócio jurídico, sendo de especial destaque a decisão a seguir: 
ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL INQUÉRITO CIVIL TERMO DE AJUSTE DE CON­
DUTA. Art. 5°, § 6°, DA LEI 7.347/85. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. IMPOSIÇÃO 
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. CERCEAMENTO DE DEFESA. COAÇÃO MORAL. VIOLAÇÃO 
DO CONTRADrTÓRIO E DA AMPLA DEFESA. EXCESSO DE COBRANÇA. MULTA ORATÓ­
RIA. HOMOLGAÇÃO DE AJUSTAMENTO PELO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO. Art. 9°, S§ 2° E 3" DA LEI 7347/85. \.A revogação da manifestação de vontade do com­
promitente, por ocasiãoda lavratura do Termo de Ajustamento de Conduta~ TAC junto ao órgão do 
Ministério Público, não é objeto de regulação pela Lei 7347/85. 2. O termo de Ajustamento, por força 
de lei, encerra transação para cuja validade é imprescindível a presença dos elementos mínimos de 
existência, validade e eficácia à caracterização deste negócio jurídico. 3. Sob esse enfoque a abalizada 
doutrina sobre o tema assenta: "[ ... ] Como todo negócio jurídico, o ajustamento de conduta pode ser 
compreendido nos planos de existência, validade e eficácia. Essa análise pode resultar em uma frag­
mentação artificial do fenômeno jurídico, posto que a existência, a validade e a eficácia são aspectos de 
uma mesmíssima realidade. Todavia, a utilidade da mesma supera esse inconveniente. [ ... ]Para existir 
o ajuste carece da presença dos agentes representando dois "centros de interesses, ou seja, um ou mais 
compromitentes e um ou mais compromissários; tem que possuir um objeto que se consubstancie em 
cumprimento de obrigações e deveres; deve existir o acordo de vontades e ser veiculado através de uma 
forma perceptível [ ... ](RODRIGUES, Geisa de Assis, Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de 
Conduta, Rio de Janeiro, Ed. Forense. 2002, p. 198). (Grifamos). 4. Consectariamente, é nulo o título 
subjacente ao termo de ajustamento de conduta cujas obrigações não foram livremente pactuadas[ ... ] 
17. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido. (REsp 802.060/RS, Rei. Mi­
nistro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/12/2009, DJe 22/02/2010). 
1.1. Gráfico: Escada Ponteana 
Plano de eficácia 
Fatores suspensivos dos efeitos: 
{1) Condições suspensivas; 
Plano de validade 
(2) Termos iniciais (3) Encargos sus-
pensivos 
Agente capaz e legítimo Fatores extintivos dos efeitos: (1) 
Vontade livre, consciente e de Condições resolutivas; (2) Termos 
Plano de existência boa-fé finais 
Agente Objeto lícito, possível e determi- Encargos propriamente ditos 
nado ou determinável Negócios parcialmente inefica-Vontade 
Objeto 
Forma prescrita ou não defesa zes; {1) Negócio de direito real sem 
em lei registro; (2) Negócio realizado em 
Forma fraude à execução 
' 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURIDICO 
2. PLANO DE EXISTÊNCIA 
Os negócios jurídicos encontram no art. 104 do Código Civil seus requisitos de validade. 
Diz a lei que tais requisitos são o agente capaz, o objeto lícito, possível, detenninado ou determi­
nável e a forma prescrita ou não defesa em lei. 
Antes, entretanto, de se falar em validade do negócio, repita-se, é preciso que ele exista. 
Por isso se fala em plano de existência do ato, o qual demanda a presença de alguns elementos 
essenciais. São eles o agente, a vontade, o objeto e a forma. 
2.1. O agente 
Para que o ato exista, é necessário que se tenham pessoas que o entabulem. Não se fala, 
ainda, em capacidade de exercício de direito, mas, apenas, em capacidade de ser sujeito de di­
reitos, entendendo-se como tal aquela definida pelo art. 1° do Código Civil: "Toda pessoa é capaz 
de direitos e deveres na ordem civil". 
Assim, são existentes todos os atos praticados por pessoas naturais ou jurídicas. São (juri­
dicamente) inexistentes os que porventura possuírem sujeito ativo ou passivo fora desses parâ­
metros (animais irracionais, seres inanimados etc.). Se o agente é legalmente capaz ou incapaz é 
questão que pertence ao plano da validade. 
Quanto ao nascituro, como já observamos anteriormente, a suspensividade de sua existên­
cia, que depende do nascimento com vida, implica em dizer que se trata de ente que ainda não 
existe materialmente, portanto, não pode ser parte em negócios jurídicos, muito embora tenha a 
salvo os seus direitos desde a concepção. 
O que se verifica, portanto, é que a aquisição de seus direitos está condicionada ao nasci­
mento com vida. No caso da doação em favor do nascituro, por exemplo, seu futuro representante 
legal, na verdade, não apenas o representa, mas o substitui como parte no negócio e, consequen­
temente, na relação jurídica. 
Outra importante questão, ainda a esse respeito, pertine às sociedades e associações irregu­
lares e outfos entes organizados sem personalidade jurídica (expressão utilizada pelo CPC, art. 
75, VIII), ou não personificadas (CC-2002). Embora não tenham elas existência formal completa, 
como já vimos, encontram na lei normas positivadas para a sua regulação, portanto podem (e 
devem) ser encaradas como sujeitos de direitos e obrigações. 
Tanto é assim que o art. 75, VIII do Novo Código de Processo Civil dispõe que tais entidades 
serão representadas (para nós: substituídas) em juízo pela pessoa a quem couber a administração 
de seus bens. 
Por isso, admitir que esses entes invoquem a sua inexistência ou incompletude formal equi­
valeria a aceitar que se alegasse, em juízo, a própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudi­
nem suam a!legans), de arte que se deve considerar, nesses casos, a plena existência dos negócios 
do qual tomam parte. A respeito, dispõe o § 2° do art. 75 do Novo CPC: "§r. A sociedade ou 
associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade de sua constituição 
quando demandada". 
2.2. A vontade 
Para que haja negócio jurídico, como vimos, é necessário que haja declaração da vontade 
dirigida para os fins a que ele se destina. 
l. ;40: MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
--·-~------~-----·---.·---··-----------------·--··"----------------- --- - . -----------
Sem vontade não existe negócio jurídico. Todo negócio em que estiver presente a vontade, 
seja ela natural ou viciada, pessoal ou pOr representação, é existente. Será inexistente o ato se 
não for possível aferir-se a presença da vontade, como ocorre no caso da violência fisica contra 
o agente que venha a eliminar a manifestação de vontade- coação física (vis absoluta). O vício 
na vontade se encontra no plano da validade, pois, embora viciada por erro, dolo, coação moral, 
lesão ou estado de perigo~ a vontade existe. 
Vale lembrar aqui, para reforçar o elemento vontade como substancial à existência do negó­
cio, trechos da ementa do STJ acima transcrita, no que pertine à essencialidade da declaração da 
vontade para a consecução do negócio. Veja-se: 
Para existir o ajuste carece da presença dos agentes representando dois "centros de interesses, ou 
seja, urn ou maís compromitentes e um ou mais compromissários; tem que possuir um objeto que se 
consubstancie em cumprimento de obrigações e deveres; deve exístír o acordo de vontades e ser vei­
culado através de uma forma perceptível [ ... }" Consectariamente, é nulo o título subjacente ao tenno 
de ajustamento de conduta cujas obrigações não foram livremente pactuadas, consoante adverte a 
doutrina, verbis: "Para ser celebrado, o TAC exige uma negociação prévia entre as partes interessadas 
com o intuito de definir o conteúdo do compromisso, não podendo o Ministério Público ou qualquer 
outro ente ou órgão público legitimado impor sua aceitação. Caso a negociação não cheque a termo, a 
matéria certamente passará a ser discutida no âmbito judicial. (REsp 802.060/RS, Re!. Ministro LUIZ 
FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/J 2/2009, DJe 22/02/20 I 0). ' 
Exemplo claro de ato inexistente, por ausência de vontade, é o do instrumento sem assina~ 
tura, o que vale tanto para os negócios da vida material (contratos escritos, testamentos) como 
para atos processuais (petições iniciais, recursais e outras). Sobre o tema das atos processuais 
sem assinatura, o Superior Tribunal de Justiça tem posição consolidada pela inexistência do ato, 
conforme se pode conferir do seguinte precedente: 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. PETIÇÃO 
DE RECURSO ESPECIAL SEM ASSINATURA. RECURSO INEXISTENTE. ARTIGO 13 DO CÓ­
DIGO DE PROCESSO CIVIL. INAPLICABILIDADE. VÍCIO INSANÁVEL. 1. É reiterada a ju* 
risprudência desta egrégia Corte no sentido que reputa-se inexistente o recurso dirigido ao SuperiorTribunal de Justiça sem a assinatura do subscritor das razões recursais. 2. "A regra do art 13 do CPC 
não é aplicável nas instâncias excepcionais, consideradas estas desde a interposição dos recursos es­
pecial e/ou extraordinário." (AgRg no Ag no 978.305/DF, Relatora a Ministra Eliana Calmon, DJe.de 
714/2008). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1311580/RJ, Rei. Ministro 
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 21/10/2010, DJe 08/11/2010). 
Insta observar que o Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 76, diferentemente do 
art. 13 do Código revogado (e mencionado no julgado), trata expressamente da incapacidade pro­
cessual ou a irregularidade da representação da parte, caso o processo esteja em grau de recurso 
perante o tribunal, caso em que o relator: I -não conhecerá do recurso, se a providência couber 
ao recorrente; II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber 
ao recorrido. Em ambos os casos perceba-se que se trata do segundo grau de jurisdição e não das 
instâncias excepcionais, como apontado no julgado. Ou seja, a regra insculpida no atual art. 76 do 
CPC não se aplica a partir do momento da interposição dos recursos especial e/ou extraordinário. 
Sobre a declaração de inexistência de contratos sem assinatura, no entanto, é bom ressaltar 
as seguintes questões: 
a) trata-se de exigência para a declaração de vontade nos contratos cuja forma é necessaria­
mente escrita, o que não exclui, portanto, a declaração de vontade de forma verbal; 
b) é possível, extraordinariamente, ainda que em negócios costumeiramente escritos, a prova 
da declaração de vontade sem assinatura, como ocorre na hipótese ventilada pelo art. 41 O, III do 
Cap. VI • tLtN!t:!~!V.>vvo.~-..-~·---
Novo Código de Processo Civil, verbis: "Considera-se autor do documento particular:[ ... ] III­
aquele que, mandando compô-lo, não o firmou, porque, conforme a experiência comum, não se 
costuma assinar, como livros empresariais e assentos domésticos" 
Esse dispositivo auxilia na demonstração legal da vontade nos chamados contratos eletrô­
nicos. Com efeito, imagine-se a aquisição de produto em site de vendas pela internet, no qual 
inexiste aposição de assinatura em termo: a prova da declaração de vontade deve ser peiT!litida 
através dos meios eletrônicos\. independentemente de assinatura. 
c) também é possível, de qualquer sorte, em homenagem ao princípio da boa-fé, demonstrar 
a efetividade da manifestação da vontade do contratante, mesmo diante de termo não assi­
nado, quando for possível concluir, por outros meios de prova, que houve a declaração no 
sentido de surtir o efeito desejado pelo negócio. 
d) estabeleceu-se a praxe, no mercado de consumo, de impor ao consumidor a assinatura de 
contratos de adesão nos quais não constam a integralidade das cláusulas no instrumento 
apresentado a ele, sob o argumento de que a íntegra do contrato se encontra registrada em 
cartório ou em site na internet. Nesse caso, a jurisprudência do STJ tem considerado a ine­
ficácia da cláusula, muito embora, se não há manifestação da vontade claramente dirigida 
para os seus efeitos, o caso é de inexistência do item contratual, que passa a ser ineficaz em 
virtude dessa inexistência. Veja-se, a propósito: 
CONTRATO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE OFENSA AO ARTIGO 535 DO CPC. APRECIAÇÃO 
DE OFÍCIO. INOCORRÊNCIA. CLÁUSULAS GERAIS. DESINFORMAÇÃO DO CONSUMI­
DOR. JUROS REMUNERATÓRIOS. INEXISTÊNCIA DE PACTUAÇÃO. CAPITALIZAÇÃO 
ANUAL DE JUROS EM CONTA CORRENTE. POSSIBILIDADE. COMISSÃO DE PERlvi.ANÊN­
CIA. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO.[ ... }- É ineficaz, no contrato de adesão, cláusula inserida 
em documento que- embora registrado em cartório- não foi exibido ao consumidor, no momento da 
adesão (CDC, arts. 46 e Segs.)- No caso de previsão pimporta anuência (art. 111). A isto se costuma dar o nome de efeito 
vinculativo do silêncio. 
Em verdade, o chamado efeito vinculativo do silêncio ocorre não apenas quando as circuns~ 
tâncias e os usos autorizarem a presunção de anuência de uma parte à proposta de negócio jurídi­
co feita pela outra, como também quando a lei permite que o silêncio faça implicar consequências 
diversas dentro da relação jurídica. 
Vale dizer: a lei comporta a declaração de vontade pelo siléncio da parte, em alguns casos, 
tanto para Vincular o agente como para liberá-lo de determinados efeitos. Por isso devemos falar, 
mais adequadamente, em: (a) Efeito vinculativo do silêncio e (b) Efeito liberatório do silêncio. 
Caso típico de efeito vinculativo do silêncio é o da proposta de doação com prazo para que 
o donatário a aceite. Reza o art. 539 que o doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar 
se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não jaça, dentro dele, a 
declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. Outro exemplo que 
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Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO ! 343 
pode ser citado é o do contrato preliminar, no qual as partes podem livremente pactuar que, dentro 
de certo prazo, presume-se a aceitação quanto à efetivação do contrato principal. 
Considere-se, também, para efeito de exemplo, o da assunção da dívida garantida por imóvel 
hipotecado pelo adquirente deste, pois, consoante o art. 303, "o adquirente de imóvel hipotecado 
pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar 
em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento". 
Já o efeito libera tório do silêncio pode ser exemplificado nas hipóteses do chamado direito 
de preferência ou preempção, quando o titular da preferência não o exerce no prazo :fixado pela 
lei ou pelo contrato para tanto. 
É importante fixar, também, a premissa de que os efeitos vinculativo e liberatório do silêncio 
não se confundem com a perda dos direitos por inércia, seja por prescrição ou decadência. Nesses 
casos, o que ocorre é a inércia do agente em defender seu interesse perante a outra parte que deixa 
de cumprir o seu dever ou viola direito potestativo seu, fazendo com que desapareça a próprio 
direito à tutela jurisdicional. 
Também não se confunde o instituto com a atribuição de determinadas situações jurídicas 
em função de comportamentos compatíveis ou incompatíveis com os efeitos previstos na norma, 
como ocorre nos casos das chamadas manifestações tácitas de vontade, de que é exemplo o art. 
1.805: ''A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, 
há de resultar tão somente de atos próprios da qualidade de herdeiro". 
E, como exemplo de prática dos atos chamados incompatíveis com os efeitos, que também 
não se confundem com o efeito vinculativo ou liberatório do silêncio, temos o art. 126: "Se al­
guém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas 
disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis". 
2.3. O objeto 
Objeto é a coisa ou a prestação sobre a qual incide o ato. Observe-se que, por objeto do 
negócio, hão se tem, exclusivamente, um bem material sobre o qual incide o interesse das partes. 
O objeto do negócio será um bem material quando o interesse dos sujeitos se dirigir a uma 
coisa, como na compra e venda, na locação de coisas, no comodato etc. Negócios existem, entre­
tanto, que não envolvem nenhuma coisa, pelo menos para uma das partes, como nos negócios 
de atividade, de que são exemplos o contrato de emprego, a prestação de serviços etc. 
Daí que se deve observar que o objeto do negócio engloba não só um bem especificamente 
descrito na declaração de vontade, mas também o conteúdo das obrigações contraídas pelas 
partes. Veja-se que, mesmo quando existe uma coisa sobre a qual incide a prestação, o conteúdo 
do negócio vai além da sua simples existência. Voltemos, por exemplo, à compra e venda: o con­
teúdo do negócio não é apenas a coisa a ser vendida, mas, também, a criação da obrigação de sua 
entrega para o alienante e do pagamento do preço pelo adquirente. 
Podemos concluir, portanto, que o objeto do negócio pode ser: 
a) objeto material: é o que se materializa por um bem jurídico protegido pelo ordenamento, 
o qual é desejado por uma das partes. Constantemente, os negócios envolvem apenas obje­
tos materiais, como no caso da compra e venda: Q objeto desejado pelo adquirente é o bem 
móvel ou imóvel; o objeto desejado pelo alienante é o preço, ou seja, todos eles objetos ma­
teriais. Registre-se que, em detenninados negócios, a satisfação do objeto material desejado 
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r· 344 I MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
depende de transferência de sua propriedade, como temos na compra e venda e na permuta, 
por exemplo; em outros, a satisfação depende apenas da transferência da posse, como se tem 
na locação e no arrendamento, também exemplificativamente; 
b) objeto imaterial: o objeto imaterial é aquele que não envolve a entrega da posse ou pro~ 
priedade de um determinado bem material, mas sim a prestação de alguma atividade, seja 
ela positiva ou negativa. Assim, a prestação de serviços envolve, como objeto desejado pelo 
tomador, a mão de obra a ser empregada pelo prestador. Como se vê neste exemplo, o objeto 
é imaterial para o tomador, enquanto, para o prestador, é material, pois o que lhe interessa é 
o pagamento da remuneração. Em outros casos, podemos ter negócios que envolvem apenas 
objetos imateriais, como no caso do acordo de vontade entre dois vizinhos em que ambos se 
vinculam a uma prestação negativa de não fazer, consistente, por exemplo, em não construir 
muro divisório acima de determinada altura. 
2.3.1. A causa como elemento integrante do objeto do negócio}urídico 
Como pudemos observar, cada parte tem um motivo particular para a realização do negócio. 
A junção dos motivos individuais de cada parte forma o que se chama de causa do negócio, pois 
a razão determinante de todo contrato é a convergência de interesses entre as partes. 
Assim, podemos dizer: 
a) Motivo: é a razão individual que cada agente guarda em si como móvel para o seu desejo de ce~ 
lebrar o negócio jurídico. É, na verdade, o objeto de desejo de cada um no negócio, o qual varia 
de acordo com o interesse de cada parte no negócio jurídico. No contrato de compra e venda, por 
exemplo, o objeto de interesse do comprador é a coisa e sua entrega; já o do vendedor é o preço e 
seu pagamento; na locação, o locatário se interessa pelo bem a ser locado, o locador, pelo aluguel; 
b) Causa; é o objetivo ou finalidade do negócio, querido por ambas as partes, como forma de 
fazer convergir seus interesses a um denominador comum. É a causa, trocando em miúdos, 
a junção dos motivos individuais de ambas as partes para a consecução do fim comum que 
é a realização do negócio. Assim, por exemplo, numa pennuta, enquanto o motivo de cada 
agente é o objeto que pertence ao outro, a causa, por sua vez, é o interesse de ambos os agen­
tes em se fazer transferir a propriedade dos bens envolvidos entre si, de maneira recíproca. 
A causa pode advir de motivos independentes, como acontece no exemplo da pennuta e 
em outros (v. g. compra e venda, locação) ou de motivos comuns, como no caso do contrato de 
sociedade, em que os sócios têm todos os mesmos interesses. 
O CC-1916, embora ignorasse a causa como elemento do negócio jurídico, dizia, em seu 
art. 90: "Só vicia o ato a falsa causa, quando expressa como razão determinante ou sob forma 
de condição", dando indícios de que a,causa falsa poderia viciar o negócio, mas apenas quando 
declarada pelas partes como razão determinante para a realização do ato, ou quando aposta como 
condição para a sua eficácia. 
Atine~se com o exemplo daaquisição de um bilhete aéreo: na data em que eu precisava via­
jar para Belo Horizonte, só havia passagens disponíveis para São Paulo, no entanto, foi-me dito 
que um dos voas faria escala na capital mineira, razão pela qual adquiri o respectivo bilhete. En~ 
tretanto, a aeronave se dirigiu diretamente para a terra da garoa. Nessas condições, podemos dizer 
que a causa que me levou a contratar era falsa, pois eu tinha a noção de que seria feita a escala em 
Belo Horizonte. Sendo assim, assistir~me-ia direito ao reconhecimento de vício no negócio, com 
a respectiva indenização, somente se essa causa (depois revelada falsa) fosse expressa no contrato 
como razão determinante da minha compra. 
Cap. VI • Elt.Mt.NIU:::.t.Jvl'pela Súmula Vinculante no 13 do Supremo Tribunal Federal: 
Súmula Vinculante n". 13. A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral 
ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma 
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou acessoramento, para o exercício de cargo em 
comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta 
em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios, compreendido o 
ajuste mediante designações reciprocas, viola a Constituição Federal. 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓClO JURfDICO 347 
. ·~-~~---··--~"~ 
t\.laís uma disposição que auxilia a concluir que o CC-2002 adotou a causa como elemento 
relevante para a verificação da existência e validade do negócio jurídico é o art. 791, que reza que, 
no contrato de seguro, "se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como 
causa declarada a garantia de alguma obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato 
entre vivos ou de última vontade" (cf Parte V, Capítulo XII, item 5.2.2). 
2.4.A forma 
A forma, no plano de existência, não se refere a estar prescrita ou não defesa em lei, mas à 
necessidade de que o negócio se caracterize por alguma forma que o exteriorize, a fim de se poder 
verificar a sua existência. 
Forma não se confunde com formalidade. Enquanto a forma é qualquer sinal externo que 
permita a visualização do negócio, a formalidade é alguma solenidade especial que se exige para 
a validade de determinados negócios. 
Conquanto não façamos aqui, a análise da forma como requisito de validade, é o momento 
o apropriado para traçarmos as suas diversas modalidades. 
2. 4. 1. Classificações da forma 
A forma do negócio jurídico se divide pela maneira pela qual se chega à possibilidade de se 
dizer que, de fato, existe o negócio; não se perquire se a fonna utilizada foi aquela validamente 
exigida pelo direito, mas sim se existe fonna pela qual seja possível sentir que o negócio, de fato, 
passa a integrar o mundo jurídico. 
Pode a forma, portanto, ser escrita ou verbal, tácita ou expressa, solene ou não solene, real 
ou consensual, ficando os respectivos negócios, portanto, classificados dessa maneira quanto à 
forma: negócios escritos e verbais; negócios tácitos ou expressos; negócios solenes ou não sole­
nes; negóse reter~ expressamente à vontade como elemento essencial 
à e:ristência do negócio, portanto, não inclui entre os requisitos de validade as :::ircunstâncias 
relativas a ela. 
Como pudemos observar, no entanto, sem vontade não se fala em negócio jurídico, já que é 
próprio desse instituto emanar do elemento volitivo tanto a sua prática quanto os efeitos deseja­
dos pelos agentes. 
Tanto é verdade que a vontade é essencial- não só no plano da existência, mas também no 
plano da validade- que existem vários defeitos do negócio jurídico (erro, dolo, coação, lesão e 
estado de perigo) que agem pela influência direta na manifestação voluntária do agente e, por 
isso, são chamados de vícios da vontade. 
Podemos até admitir que, no plano da validade, -a vontade seja elemento que emane direta­
mente do agente, por isso se entenderia implicitamente incluída nele, no entanto, não podemos 
deixar de considerá-la como requisito de validade autônomo e sumamente importante para o 
estudo do negócio jurídico. 
3.1. Agente capaz 
A capacidade, no plano de validade, se refere à capacidade de exercício de direito. 
A capacidade de ser sujeito de.direito envolve-se com o plano de existência. Com efeito, só 
é sujeito de direito a pessoa natural que tenha nascido com vida e a pessoa jurídica. Outros entes, 
como os animais, por exemplo, não são sujeitos de direito e eventuais negócios que os tenham 
como agentes são considerados inexistentes. No mesmo patamar se situa o negócio que tenha 
como parte o nascituro que, posteriormente, não venha a nascer ou que seja natimorto. Assim, 
em caso de doação em favor de nascituro, ainda que aceita por seu representante legal, o seu não 
nascimento ou a condição de natimorto faz com que o negócio seja considerado inexistente. 
Se o agente não é capaz de exercer o direito, deverá estar representado ou assistido para a 
validade do negócio. 
Assim, se o menor absolutamente incapaz intenta adquirir um bem, deve ser representado 
por um ou ambos os genitores; se não o for, o negócio é nulo de pleno direito. 
Aqui, no entanto, é importante frisar, desde logo, que a doutrina não pode deixar de conside­
rar que d~tenninados atos acabam por não ser objeto de invalidação em virtude da incapacidade 
do agente. Veja-se, a propósito, o exemplo da criança que, durante o intervalo de recreação na 
escola, adquire o lanche, pagando à lanchonete o preço que carregava consigo: embora fosse 
absolutamente incapaz, não há razão para o direito interferir na relação e inquiná-la de nulidade, 
assim como acontece, por exemplo, quando o mesmo incapaz captura um peixe e adquire, por 
consequência, a sua propriedade. 
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3SO MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria /zabel de Melo 
Por outro lado, quando o incapaz participa de negócio jurídico, há que se considerar a sua 
menor capacidade de inteiecção para detenninar as consequências do ato. Veja-se, por exemplo, 
a situação em que um menor impúbere, por absoluta ingenuidade, pratica ato de alienação de um 
bem de sua propriedade a um maior, por preço muito abaixo do real valor da coisa: nesse caso, 
uma vez declarada a nulidade do negócio, a consequência padrão é o retomo de ambas as partes 
ao estado anterior (CC, art. 182), com a1devolução da coisa ao vendedor e do preço ao comprador. 
No entanto, para preservar o incomple
1
to desenvolvimento mental do menor, reza o art. 181 do 
Código Civil que "ninguém pode reclamar o que, po1· uma obrigaçdo anulada, pagou a um inca­
paz. se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga". Vale dizer: não demons­
trado que o incapaz tenha auferido vantagem com o negócio, não será ele obrigado à devolução 
do preço, muito embora, em virtude da invalidade, seja beneficiado com a devolução do hem. 
De outra banda, se o negócio redundou em proveito para o incapaz, aí sim é possível ao ou­
tro agente obter a restituição do que pagou, já que, embora o CC-2002 não contenha dispositivo 
semelhante ao do art. 8° da antiga codificação (Art. 8° Na proteção que o Código Civil confere aos 
incapazes não se compreende o benefício de restituição), continua o entendimento, decorrente até 
da interpretação do referido art. 181, de que não se acolheu, como princípio, o da chamada res­
titutio in integrum em favor dos incapazes. Consequência da regra contida no art. 181, dispõem 
os arts. 588 e 589: 
Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não 
pode ser reavido nem do mutuário, nem de SCllS fiadores. Art. 589. Cessa a disposição do artigo antece­
dente: I- se a pe~soa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar 
posteriormente; !i- se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo 
para os seus alimentos habituais; lii- se o menor tiver bens ganhos com o seu trabTERCEIRA TURMA, 
julgado em 02/12/2004, Dl 24/10/2005, p. 319). 
Correta a posição do tribunal superior, já que o compromisso de compra e venda, como ve­
remos, tem natureza meramente obrigacional (cria a obrigação de outorga da escritura definitiva 
de compra e venda), portanto, não é, ainda, ato de alienação. 
Por outro lado, devemos lembrar que, além da possibilidade expressa de suprimento dessa 
autorização pelo juiz (CC, art. 1.648), é possível desconsiderar a ausência da outorga quando o 
cônjuge que a denega intenta anular o ato sem a necessária boa-fé objetiva, como se observa, 
também, da jurisprudência do STJ: 
A mulher que deixa de assinar o contrato de promessa de compra e venda juntamente com o marido, mas 
depois disso, em juízo, expressamente admite a existência e validade do contrato, fundamento para a 
denunciação de outra lide, e nada impugna contra a execução do contrato durante mais de 1 7 anos, tempo 
,em que os promissários compradores exerceram pacificamente a posse sobre o imóvel, não pode depois 
se opor ao pedido de fornecimento de escritura definitiva (REsp 95.539/SP, Rei. Ministro RUY ROSADO 
DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 03/09/1996,01 14/10/1996, p. 39015). 
3.2. Vontade livre, consciente e de boa-fé 
Embora o art. I 04 não se refira à vontade, a sua manifestação está implícita no inciso I, pois 
é o que emana do "agente" para a prática do ato. 
Para que o negócio jurídico existente tenha validade, a vontade expressa pelas partes deve 
ser feita de forma livre, ou seja, não pode ser viciada por defeitos como o erro, o dolo, a coação, 
a lesão e o estado de perigo. 
Por outro lado, essa vontade deve ser consciente. Isso quer dizer que o agente deve ser ple­
namente capaz de entender o caráter jurídico do negócio por ele praticado. Se for absolutamente 
incapaz, o ato é nulo; se for relativamente incapaz, o ato é anulável. 
Por fim, a vontade deve ser exercida com boa-fé, pois, se o intuito da parte for o de dila­
pidar seu patrimônio, em detrimento de seus credores,_ incide em fraude contra credores; assim 
também, se o intento é apenas o de praticar ato simulado, a fim de lesar interesses de terceiros, 
incorre~se em simulação. 
MANUAl DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neta, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
É da vontade, portanto, que surge a divisão dos defeitos do negócio jurídico em vícios de 
vontade e vícios sociais. Se a vontade não é livre, mas viciada por erro, dolo, coação, lesão ou 
estado de perigo, fala-se em vício de vontade. Se a vontade é livre mas é de má-fé, como no caso 
da fraude contra credores e da simulação, fala-se em vício social. 
Importante mencionar, no entanto, que ausência de boa-fé na manifestação de vontade não 
importa apenas em simulação ou fraude contra credores, pois algumas situações defeituosas 
como a ameaça de dano ao agente, seus bens ou sua família (coação), a indução da outra parte a 
erro no negócio jurídico (dolo) e a captação de vantagem exagerada em decorrência de manifesta 
desproporção entre as prestações (lesão e estado de perigo) são capazes, por si só, de denotar a 
má-fé nos atos daquele que participa da relação jurídica. 
Isto, porém, não implica em considerar que esses vícios sejam considerados vícios sociais, 
pois, de qualquer sorte, a parte chamada de inocente pratica o ato sem liberdade ou consciência 
plena na sua vontade. O que diferencia os vícios da vontade dos chamados vícios sociais é o 
prejuízo a terceiros. Com efeito, no ato inquinado de fraude contra credores, estes restam pre­
judicados com o negócio, assim como na simulação, que é praticada com a intenção de afrontar 
interesses de terceiros. Nos vícios da vontade, os prejuízos são experimentados, em regra, apenas 
pelas partes componentes do negócio jurídico. ' 
Enfim, abalizada doutrina, como a de Fábio Ulhoa Coelho, por exemplo, subdivide os vícios 
da vontade em vícios internos da vontade e vícios externos da vontade. 
Os vícios internos da vontade são o erro e a lesão, já que decorrem- o primeiro- de falsa 
percepção ou desconhecimento do agente quanto às característícas do negócio, seu objeto ou 
seus agentes e o segundo- a lesão- se caracteriza pela vinculação à prestação manifestamente 
desproporcional em virtude de premente necessidade ou inexperiência da parte, ambos elementos 
internos, independentemente de conhecimento dessa circunstância pela outra. 
Os vícios externos, por sua vez, são o dolo, a coação e o estado de perigo: no dolo, a parte 
é induzida à falsa percepção por ato do outro agente (portanto, elemento externo); na coação, a 
parte inocente (chamada de paciente) é forçada à prática do negócio por ato de ameaça da outra 
(também elemento externo); por fim, no estado de perigo, a parte se encontra premida de salvar a 
si ou a pessoa de sua família e contrai prestação excessivamente onerosa em virtude da concupis­
cência da outra, que tem conhecimento do perigo e, portanto, se aproveita da situação (elemento 
interno). Resumindo, podemos traçar o seguinte quadro: 
-Erro -Dolo 
-lesão -Coação 
- Estado de Perigo 
3.2.1. Reserva mental 
O art. 110 disciplina que a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja 
feíto a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhe­
cimento. 
Cap. VI • ELEMENlO~ UU Nt:\;IV>...•v "'""~·~~ 
Reserva mental, portanto, é a "emissão de uma declaração não querida em conteúdo, tam­
pouco em seu resultado, tendo por único objetivo enganar o declaratário" (NERY JR, 3a ed., 
p. 228). 
A reserva mental não torna o negócio nulo ou anulável, a não ser que a outra parte tenha 
conhecimento dela. No caso de a outra parte ter conhecimento da ressalva mental, esta passa a ser 
parte integrante da vontade declarada de ambos os contratantes e pode atuar como condição ou 
algum outro elemento que subordine a eficácia do ato à ocorrência de algum evento. Mas pode 
implicar, também, em nulidade do ato pela inexistên\cia de vontade efetiva para a consecução dos 
efeitos do negócio, caracterizando a simulação. 
Percebe-se, assim, que a falsa declaração unilateral de vontade constitui-se em reserva men­
tal, já a declaração igualmente falsa, mas bilateral, consubstancia simulação. Orlando Gomes 
ensina que 
evidentemente, a reserva mental não pode ser invocada pelo declarante para invalidar o contrato. Inva­
lida-o, todavia, se a outra parte tinha conhecimento. Se concordara, a reserva é bi\atera~ equivalendo à 
simulação. Reger-se-á, então, pelas regras aplicáveis a esta. Na hipótese acadêmica de ser reconhecível 
pela 0utra parte, esta teria o direito de atribuir à declaração seu significado objetivo (Messineo). Fora 
dessas hipóteses, a reserva mental é irrelevante. Não pode uma das partes se prevalecer de urna reti­
cência, desconhecida da outra, para eximir-se do cumprimento do contrato. (Introdução [ ... ), p. 517.) 
Assim, no exemplo de alguém que se obriga a cumprir uma prestação, mas condiciona essa 
obrigação à ocorrência de determinado tàto (conquistar certa vaga de emprego, por exemplo), a 
validade da condição depende de esta ter sido dada ao conhecimento da outra parte. Se não há 
essa ciência, a condição se encontra no campo da reserva mental do agente e não pode ser invo­
cada como causa de invalidade ou ineficácia do negócio. 
Podemos exemplificar a reserva mental também com a promessa de casamento feita por 
homem que deseja manter conjunção carnal com mulher. Ainda que ele tenha feito a reserva 
mental de não concretizar o negócio jurídico (matrimônio), sua manifestação de vontade é válida 
em relação à parte que a recebeu, podendo gerar, no caso, direito à indenização por quebra de 
esponsais. 
Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, embora não tenha feito expressa referência à 
reserva mental, decidiu que "O nosso ordenamento ainda admite a concessão de indenização à 
mulher que sofre prejulzo com o descumprimento da promessa de casamento" (REsp 251.689/ 
RJ, Rei. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR,pode ser sub­
jetiva, se forem substituídos os sujeitos de díreito componentes da relação jurídica (partes) 
ou objetiva, caso sejam substituídos o objeto ou a qualidade da prestação. 
c) efeitos translativos: os efeitos translativos são aqueles que derivam da potencialidade que 
tem o fato jurídico de transmitir bens ou direitos de uma pessoa para outra. A tradição, por 
exemplo, guarda o efeito de transmitir a propriedade do alienante para o adquirente. 
d) efeitos conservativos: esses são os efeitos pelos quais a prática de detenninados atos visa 
resguardar o bem ou direito .da ação deletéria do tempo ou de terceiros. Assim, por exem­
plo, são atos de conservação: (dl) os atos de defesa dos direitos, através do ajuizamento de 
ações (de conhecimento e de execução), não só para evitar a prescrição e a decadência mas 
para efetivar a tutela do interesse; (d2) as ações e medidas cautelares para que se garanta o 
resultado prático efetivo do processo de conhecimento ou execução; (d3) atos de garantia 
do direito, como as cláusulas acessórias que estabelecem as garantias reais ou pessoais da 
satisfação do crédito, de que são exemplo a hipoteca, o penhor, as multas moratória e com­
pensatória, as arras, a fiança, o aval etc; (d4) atos de autodefesa, que podem ser visualizados 
nas exceções admitidas pela lei à proibição do exerci cio arbitrário das próprias razões, como 
no desforço imediato para defesa da posse e na autorização legal para que o credor de obri­
gação de não fazer desfaça o ato praticado pelo devedor, em caso de urgência (CC, art 251, 
parágrafo único), evitando, assim, o perecimento do objeto ou do próprio direito. 
e} efeitos extintivos: estes são o fim da relação jurídica. Determinados fatos têm por finalidade 
extinguir o direito ou a obrigação do agente, como a transferência da propriedade (em que 
se extingue o domínio do transferente), o abandono, o pagamerito (que extingue o direito do 
credor), a condição resolutiva, a prescrição, a decadência, o perecimento do objeto e qual­
quer outro fato que acarrete o falecimento do direito. 
Elucidados os efeitos dos fatos jurídicos, podemos observar, de pronto, que alguns deles 
(nem todos, é bom alertar desde \ogo) exigem, em maior ou menor extensão, o concurso da von­
tade. 
! 314 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
Veja-se que, na vontade reside um doS p.Üntos de maior destaque do direito no mundo mo­
demo. Vale lembrar, ainda que de forma bastante sintética, que somente a partir da Revolução 
Francesa é que a história do mundo ocidental passou a conceber a liberdade e a vontade como 
predicados de todos os cidadãos, sem ~xceção. 
A vontade, no entanto, levada às últimas consequê11cias nas primeiras legislações liberais, 
de que é exemplo máximo o Código Civil francês de 1804 (Código de Napoleão), pode encami­
nhar o ordenamento jurídicO a uma realidade de distorções e falhas na missão máxima do direito, 
que é a da pacificação da sociedade. 
Com efeito, muito se discutiu, inclusive, se a vontade era, de fato, elemento verdadeiramente 
criador de efeitos jurídicos, já que, de qualquer forma, a vontade não seria capaz de agregar a 
nenhum fato o efeito jurídico se este não fosse previsto ou não proibido pela lei. 
Caio Mário da Silva Pereira proclama, com acerto, a fragilidade dessa discussão, já que, 
por outro lado, a lei, também, sem o concurso da vontade, não seria elemento suficiente para a 
geração de efeitos, máxime no estado democrático de direitos, em que, embora se conviva com o 
mandamento constitucional da legalidade (CF, art. 5°, 11), segundo o qual ninguém será obrigado 
a fazer deixar de fazer nada senão em virtude de lei, tem-se, por outro lado, como fundamento da 
República (CF, art. 1°, IV), o postulado da livre iniciativa. 
Como se vê, o voluntarismo jurídico é mola propulsora do direito da qual não se pode 
afastar, e cuja presença, nos estados democráticos, é inegável. 
Daí se fala, portanto, em autonomia da vontade, pela qual é a vontade do agente que de­
termina a sua prerrogativa de vincular-se ou não a um direito ou dever; fala-se também em auto­
nomia privada, pela qual, além de o cidadão escolher liwemente se se obriga ou não, poderá ele 
determinar o cont~údo da obrigação. 
É a vontade, portanto (embora esquecida como elemento essencial do negócio jurídico no 
art. 104 do Código Civil), o motor do chamado comércio jurídico, é a condição sine qua non para 
que o cidadão saia da ampla e irrestrita liberdade para se vincular a uma obrigação, perdendo, 
com isso, parcela dessa natureza livre, pois a partir daí, assumirá o compromisso de cumprir bem 
e fielmente aquilo a que contratou. 
Esse preceito, na verdade, já está presente desde o Direito Romano, quando se formulou a 
máxima pacta sunt servanda, pela qual o indivíduo, uma vez obrigado, deve dar cumprimento 
à sua obrigação. Repetindo, no entanto, o que já se disse, se levada às últimas consequências, 
sem um sistema de freios e contrapesos, a autonomia da vontade pode desaguar em um sistema 
jurídico recheado de falhas e injustiças. 
Basta imaginar a situação imediatamente decorrente da chamada Revolução Industrial, em 
que se noticia que na Rússia czarista (ou pré-bolchevista) a liberdade de contratar acarretava 
verdadeiros absurdos, como a contratação de operários para jornadas de trabalho desumanas, de 
doze, quatorze ou até mesmo dezesseis ou dezoito horas diárias, já que, sem um sistema de freios 
e contrapesos, o trabalhador ficava à mercê daqueles que disponibilizavam as ofertas de trabalho, 
sob pena de, sem emprego, não obter condições de subsistência. 
Por isso, as legislações modernas contêm vários instrumentos de mitigação da autonomia 
da vontade e da autonomia privada, de forma que, embora a vontade continue a ser (em regra) 
elemento primordial para a prática dos atos jurídicos (sobretudo dos negócios jurídicos), existem 
limites legais e sociais para a sua manifestação ou declaração na vida prática, como a boa-fé ob­
jetiva, a função social do contrato, a proteção dos hipossuficientes (consumidores, inquilinos etc) 
e outros tantos exemplos que servem para refrear a ambição do ser humano em conseguir lucro 
desmedido à custa, muitas vezes, da dignidade do próximo. 
Cap. V • FATOS JUR(DICOS 315 
Pode-se dizer, portanto, que o voluntarismo jurídico, ainda hoje uma regra, encontra-se mi­
tigado, de forma que as partes podem livremente contratar e determinar o conteúdo do negócio, 
no entanto, devem respeito aos limites impostos, em última análise, pelo princípio da dignidade 
da pessoa humana (CF, art. 1°, UI), que orienta, fundamentalmente, institutos como a boa-fé, a 
função social (da propriedade e do contrato), a proteção dos hipossuficientes, e, porque não dizer, 
a própria isonomia material, consubstanciada na máxima ''tratar igualmente aos iguais e desi-
gualmente aos desiguais na medida das suas desigualdades". 1 
Feitos esses esclarecimentos- absolutamente necessários- podemos averiguar as diversas 
espécies de fatos jurídicos. 
3. ESPÉCIES DE FATOS JURÍDICOS 
O novo Código passou a utilizar, em seu Título I do Livro III da Parte Geral, especialmente 
no art. I 04, a expressão negócio jurídico. 
Para entender as diferenças existentes entre o negócio jurídico e o ato jurídico stricto sensu, 
dcwmos relembrar as diversas categorias de fatos jurídicos. 
3.1. Fatos jurídicos naturais ou em sentido estrito 
São fatos jurídicos em sentido estrito ou naturais aqueles capazes de gerar efeitos jurídicos 
como criar, modiúcar, resguardar, transferir ou extinguir direitos sem o concurso da ação humana. 
Fatos como a morte natural de uma pessoa, uma tempestade que arrasa uma plantação empe­
nhada, o ataque de um animal selvagem, o estouro de um rebanho vendido e ainda não entregue, por 
exemplo, são capazes de criar ou alterar direitos, influenciando diretamente em relações jurídicas 
estabelecidas, entretanto, não demandam a necessidade de atividade humanaQUARTA TURMA, julgado em 29/0812000, DJ 
30/10/2000, p. 162). Em seu voto, o ministro relator esclareceu: 
[ ... ) O casamento é uma situação social e jurídica valiosa, incentivada pelo Estado, e uma aspiração 
de vida para o comum.das pessoas. A Constituição de 1988, ao decretar a igualdade do homem e da 
mulher, não eliminou a realidade da diferença entre os sexos, nem negou o fato de que o casamento é 
a situação jurídica definida que mais convém para ter filhos e constituir família, em razão do regime 
legal das suas relações, com a segurança que do casamento decorre. O matrimônio, portanto, não só 
é uma condição que a própria Constituição preserva, impondo ao Estado o dever de protegê-lo, como 
urna aspiração legítima da mulher e do homem, tanto que determina, no art. 266, § 3", que a lei deve 
facilitar a conversão de união estável em casamento. Apesar da rrtudança dos costumes, o casamento é 
uma perspectiva de vida e bem pode acontecer que uma mulher, sendo maior, experiente e informada, 
sofra dano grave ao se preparar para o casamento, acreditando nas promessas do noivo.[ ... ) É princí­
pio aceito no nosso Direito que a pessoa que confm na promessa de contrato futuro e, em razão disso, 
assume despesas, faz investimentos ou perde outras oportunidades, tem o direito de ser indenizada 
pelo interesse negativo, isto é, pelo que perdeu, confiando na celebração do contrato que se frustrou. 
Qualquer um nessa situação pode ser indenizado, e não vejo razão alguma para negar esse direito à 
mulher. (Idem). 
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354 ,1 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria /zabel de Melo 
3.3. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável 
Referenciando a obra magistral de Orlando Gomes, podemos dizer que a lei exige que o 
objeto do negócio deve ser idôneo. O conceito de idoneidade, nesse contexto, engloba a licitude, 
a possibilidade e determinabilidade. 
Mas a idoneidade do objeto, entretanto, pode ser entendida, também, pela sua adequação 
e propriedade para o negócio jurídico especí\fico que se quer entabular. Assim, os beils móveis, 
com exceção dos navios e aerona\·es, não são objetos idôneos de hipoteca; os bens imóveis, por 
sua vez, não o são para o penhor. 
Examinaremos a seguir, no entanto. os elementos da idoneidade segundo a disciplina do 
art. I 04 do Código Civil. Assim, para ser válido, o negócio jurídico deve ter objeto que respeite: 
a) a licitude: não sepode negociar sobre objetos ilícitos, proibidos pela lei. Não se pode, por 
exemplo, celebrar negócio para que alguém se obrigue a uma prestação de furtar um bem, 
ou ainda de causar dano a outrem, seja material ou pessoal, como no caso da pista/agem. 
Outro exemplo de ilicitude do objeto do negócio jurídico, talhado pela jurisprudência do 
STJ, é o caso de falsificação de assinatura. A respeito, disse a Corte Superior que "não são 
convalidáveis os negócios jurídicos celebrados com o intuito de alterar o quadro societário de 
sociedade empresária por meio dafalsijicação de assinatura de sócio, ainda que o próprio sócio 
prejudicado pelo falso tenha, por escritura pública, concedido ampla, geral e irrevogável quita­
ção, afim de ratificar os negócios jurídicos. Com efeito, a questão posta em discussão não trata 
de nulidade relativa, mas, sim, de evidente nulidade absoluta, pois o art. 166, 11, do CC, procla­
ma ser mdo o negócio quando for ilícito o seu objeto, valendo ressaltar que essa ilicitude não 
é apenas do bem da vida em discussão, mas, também, da própria operação jurídica realizada" 
(REsp L368,960·RJ, ReL Min, Marco Aurélio Bellizze. julgado em 7/6/2016, DJe 10/6/2016,­
lnfo 585), 
A ilicitude do objeto de um negócio jurídico é causa tão forte de sua nulidade que o Superior 
Tribunal de Justiça tem entendido, inclusive, que cabe ao juiz, diante de acordo para dar fim a 
processo, com objeto ilícito, negar a sua homologação. Veja-se: 
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ARTS. 129 E 730 DO CPC. EXECUÇÃO DE TÍ­
TULO JUDlCJAL. ORDEM DOS PRECATÓRIOS. PRINCÍPIOS DA EQUIDADE, MORALIDADE 
E IMPESSOALIDADE. ACORDO EXTRAJUDICIAL NÃO HOMOLOGADO. TRANSAÇÃO RE­
VOGADA. PERDA DO OBJETO. VALOR DOS PARECERES DE JURISTAS E DE PROCURADO­
RES DO ÓRGÃO PÚBLICO.[ ... ] 4. Incumbe ao juiz, nos termos do art. 129 do CPC, recusar-se a 
homologar acordo que entende, pelas circunstâncias do fato, ter objeto ilícito ou de licitude duvidosa; 
violar os princípios gerais que informam o ordenamento jurídico brasileiro (entre os quais os princípios 
da moralidade, da impessoalidade, da isonomia e da boa~fé objetiva); ou atentar contra a dignidade da 
justiça. 5. No ordenamento brasileiro, a ordem cronológica dos precatórios é valor formal absoluto, 
incompatível com qualquer ato ou procedimento que, aberta ou ve\adamente, ponha em risco os prin­
cípios e garantias da impessoalidade, da equidade, da transparência e da boa-fé objetiva, que a infor­
mam. 6. É ilegal e, p01tanto, insuscetível de homologação judicial, a transação entre a Administração 
e o particular que viola a sequência dos precatórios, mesmo se o credor renuncia à parte (in casu, parte 
ínfima) do crédito, vedação essa que incíde ümto se já há precatório, como em momento anterior à 
sua expedição.[ ... ] 12. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1090695/MS, Rei. Ministro 
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/09/2009, DJe 04/li/2009) 
b) a possibilidade: Não pode ser objeto de negócio a coisa ou prestação impossível. A impos~ 
sibilidade, porém, pode ser física ou jurídica. Nos exemplos da contratação da prestação de 
viajar a uma estrela ou da venda de uma pepita de ouro de uma tonelada de peso, a impossi­
bilidade é física. Nos exemplos da venda de coisas inalienáveis ou da negociação da herança 
de pessoa viva (CC-2002, art. 426 ~ pacta corvina), a impossibilidade é juddica. A impossi-
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JUR[D!CO ____ _ 
bilidade jurídica, por sua vez, pode ser legal ou contratual, conforme a proibição decorra da 
lei ou de negócio anterior a que as partes estejam vinculadas. Não pode, por exemplo, quem 
transfere direitos autorais a uma determinada editora, com exclusividade, transferir a outra o 
mesmo objeto, por impossibilidade jurídica contratual ou negociai. 
Note-se que a impossibilidade jurídica, na prática, é sinônimo da própria ilicitude, opinião 
compartilhada com Gagliano e Pamplona Filho:"[. . .] pondo-se de lado divagações teoréticas in­
fecundas,fzxamos, de logo, a premissa de que há uma sinonímia entre a licitude e a possibilidade 
jurídica do objeto" (op. cit., p. 35). 
Apesar disso, e de que na prática nenhuma consequência haverá de eventual diferença er:~tre 
ilicitude e impossibilidade jurídica, não podemos deixar de tecer, mesmo que em apertadíssima 
síntese, leve divagação sobre as dessemelhanças teóricas entre o objeto ilícito e o juridicamente 
impossível. 
Em tese, portanto, e levando em consideração a técnica jurídica mais adequada, o objeto é 
juridicamente impossível quando simplesmente afeta o direito positivo, ou seja, caracteriza-se 
por ato proibido em lei, sem que isso vá redundar necessariamente em prejuízo a alguém. Assim, 
por exemplo, um casamento entre pessoas absolutamente impedidas de se casarem é juridicamen­
te impossível, assim como o estabelecimento de pacto comissório (estipulação que permite ao 
credor ficar com a propriedade do objeto dado em garantia) em casos de propriedade fiduciária 
(CC, art. 1.365, caput), penhor, hipoteca e anticrese (art. 1.428, caput), porque ofendem ao texto 
positivado em lei. 
Por outro lado, o objeto ilícito é aquele em que o negócio tem por objetivo o cumprimento 
de prestação que culmina em prejuízo para uma das partes ou para terceiro. Em regra, esse objeto, 
além de causar prejuízo, será também proibido pela lei, como no caso do objeto lesivo, da simula­
ção ou mesmo no exemplo acima citado da contratação de uma pessoa para causar dano a outrem. 
Pode ocorrer, no entanto, que o objeto donegócio não seja ilícito nem juridicamente impos­
sível, mas mesmo assim cause dano a terceiro, como, por exemplo, na contratação, por indústria 
petrolífera, de navio de carga para transporte de petróleo: tanto a contratação do frete como o pro­
cesso de transporte são legais e devidamente autorizados, por isso não serão, em regra, considera­
dos inválidos, mas, uma vez causado algum dano ao meio ambiente, as responsabilidades admi­
nistrativa, por multa, e civil, pela reparação do dano, pode alcançar todos os entes que, direta ou 
indiretamente, se beneficiem da poluição, por expressa inferência do art. 3°, IV da Lei 6.938/81, 
que reza que poluidor é "a pessoafisica ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, 
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental". Assim, mesmo a 
indústria contratante do frete, ainda que não tenha realizado negócio com objeto ilícito ou juridi­
camente impossível, sofrerá consequências decorrentes do ato, como já decidiu o STJ. Veja-se: 
ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. SANÇÃO ADMINISTRATIVA. IMPOSIÇÃO DE MUL­
TA. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. DERRAMAMENTO DE ÓLEO DE EMBARCA­
ÇÃO ESTRANGEIRA CONTRATADA PELA PETROBRÁS. COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS ES­
TADUAIS DE PROTEÇÃO AO MEl AMBIENTE PARA IMPOR SANÇÕES. RESPONSABILIDADE 
OBJETIVA. LEGITIMIDADE DA EXAÇÃO[ ... ] 5. Para fins da Lei n" 6.938, de 31 de agosto de 1981, 
art. 3", qualifica-se como poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, 
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. 6. Sob essa ótica, o fretador 
de embarcação que causa dano objetivo ao meio ambiente é responsável pelo mesmo, sem prejuízo de 
preservar o seu direito regressivo e em demanda infensa à administração, inter partes, discutir a culpa e 
o regresso pelo evento. 7. O poluidor (responsável direto ou indireto), por seu turno, com base na mesma 
legislação, art. 14- "sem obstar aplicação das penalidades administrativas", é obrigado, "independente­
mente da existência de culpa" a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, 
"afetados por sua atividade" [ ... ] 11. Recurso especial improvido. (REsp 467.212, Rei. Ministro LUIZ 
FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/\0/2003, DJ 15/1212003, p. 193). 
3;~ l MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria tzobel de Melo 
Por fim, deve-se regístrar que a impossibilidade absoluta (fisica ou jurídica) toma nulo o ato, 
mas a impossibilidade relativa não o anula se for apenas inicial. 
Assim, será sempre nulo o ato que tenha por objeto uma prestação absolutamente impos­
sível, como o matrimônio entre pessoas absolutamente impedidas, por exemplo; mas pode ser 
convalidado o ato se a impossibilidade for relativa e depois cessar, como nas causas suspensivas 
do casamento. Em interessante julgado, inclusive, o STJ concluiu, por exemplo que 
por elementar questào de razoabilidade e justiça, o desaparecimento da causa suspensiva durante o 
casamento e a ausência de qualquer prejuízo ao cônjuge ou a terceiro, permite a alteração do regime de 
bens, antes obrigatória, para o eleito pelo casal, notadamente porque cessada a causa que exigia regime 
específico (REsp 821.807/PR, Rei. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
19/10/2006, DJ 13/11/2006, p. 261). 
Como exemplo de impossibilidade fisica apenas iniciai, temos o da contratação de um joga­
dor de futebol com a perna quebrada: a impossibilidade de cumprir o contrato é relativa e apenas 
inicial, podendo o objeto ser cumprido assim que o atleta se recuperar. 
c) a determinabilidade: o objeto do negócio, nas obrigações de dar ou de entregar, não pode 
ser indeterminável. É necessário que o objeto do negócio possa ser identificado pelas partes, 
A lei prevê a possibilidade de criação de obrigações de dar coisa incerta, rnas'o art 243 
reza que a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade (ex.: uma 
tonelada de grãos de arroz). 
Registre-se, por fim, que as questões ;elativas à causa do negócio, inclusive no que tange à 
possibilidade de sua invalidação pela causa ilícita, já foram tratadas no item 2.3.1 supra. Ao tema 
voltaremos, no entanto, quando da abordagem sobre o art. 166, 111 do Código Civil. 
3.4. Forma prescrita ou uão defesa em lei 
O art. I 07 diz que a declaração de vontade não depende de forma especial,. a não ser que 
a lei o exija. 
Se a lei não exige forma especial, esta poderá ser não solene ou informa~ se a lei exige a 
forma especial ou solenidade, diz-se que o negócio é solene ou forma~ como no caso do art. 108, 
que exige escritura pública para os negócios reais imobiliários cujo valor supere 30 salários míni­
mos. A respeito, aliás, consta no Informativo 562 do STJ decisão pela qual, em dissonância com o 
Enunciado 289 das Jornadas do CJF, pontificou-se que ''para a aferição do valor do imóvel para 
fins de enquadramento no patamar definido no art. 108 do CC- o qual exige escritura pública para 
os negócios jurídicos acima de trinta salários mínimos deve-se considerar o valor atribuído pelo 
Fisco, e não o declarado pelos particulares no contrato de compra e venda". (REsp 1.099.480-MG, 
Rei. Min. Marco BuzzL DJe 25.5.15. 4' T. (lnfo STJ 562). 
A solenidade pode ser legal ou voluntária. No caso do art. 108, acima citado, trata-se de so­
lenidade legal, porque determinada pela própria lei. No entanto, podem as próprias partes impor 
ao negócio jurídico que ele seja celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, 
caso em que este é da substância do ato (art. 109). Nessas condições, tem-se a solenidade volun­
tária, porque imposta pela vontade das partes. 
Exemplo de forma proibida ou defesa em lei podemos detectar nos processos civil e penal: 
é defeso realizar a citação em forma de edital se o réu tem endereço certo e conhecido, sob pena 
de nulidade do ato (STJ - REsp 50.3ll/ES, Rei. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, 
julgado em 18/04/2006, DJ 08/05/2006, p. 254). 
Cap. VI • E:Lt:MtN lu::> uv .~.._ ..... ...,...._.~ ---·--. 
- --------·-------~------- --~-----------·-- -- _" ____ -·· 
4. PLANO DE EFICÁCIA 
4.1. Noções introdutórias 
Alguns negócios jurídicos, embora existam e tenham plena validade, apresentam ineficácia 
no mundo jurídico. Não se trata, aqui, de nenhuma causa que possa levar à declaração de nulidade 
ou à anulação do ato, mas de alguns elementos que interfiram na prpdução dos efeitos a que o 
negócio se destina. 
Assim, diz-se que as causas de ineficácia do negócio nãO! lhe retiram a existência nem a va­
lidade. O negócio existe e é válido, no entanto, não é apto ainda a criar os direitos e obrigações 
declarados pelos agentes. Esses direitos e obrigações são entendidos, nesse caso, como eventuais, 
ou seja, já foram declarados, mas somente terão eficácia após o decurso de um determinado prazo 
(termo) ou depois de verificado detem1inadojato (condição ou encargo). 
Portanto, a ineficácia incide nos negócios jurídicos dependentes da ocorrência de uma con­
dição ou termo ou pelo cumprimento de um encargo assumido por uma das partes, enquanto 
esses eventos não ocorram. Nesses casos, temos: condição suspensiva, termo inicial ou encargo 
suspensivo. 
Mas a ineficácia pode se dar também quando, já eficaz o negócio jurídico, ele venha a perder 
essa eficácia pelo advento de uma condição, termo ou inexecução de um encargo. Nessas hipóte­
ses, temos: condição resolutiva, tenno final e encargo puro. 
A ineficácia, porém, é relativa, já que o titular do direito eventual tem direito à prática de 
atos destinados a conservar o direito adquirido com o negócio ou a expectativa de direito com 
ele criada. 
A esses elementos -condição, tem1o e encargo- é dada a denominação de elementos aci­
dentais do negócio jurídico (accidentalia negotil), pois, ao lado dos elementos essenciais (es­
sentialia negotii- agente, vontade, objeto e forma), os elementos acidentais somente estarão pre­
sentes em negócios específicos,criando, no dizer da doutrina, modalidades de negócio jurídico 
(cf. PEREIRA, op. cit., p. 553). 
Alguns autores arrolam, também, como casos de ineficácia, a fraude contra credores e a 
fraude à execução. 
Para Nery Jr. e Nery (op. cit., p. 251), entretanto, a clareza do texto do art. 171 do Código 
Civil impõe que o regime jurídico para a fraude contra credores seja o da anulabilidade. Correta 
a opinião pois, na hipótese de venda em fraude contra credores, o reconhecimento judicial da 
fraude deve fazer com que a coisa alienada volte ao patrimônio do devedor, pois o entendimento 
contrário esvaziaria por completo a ação pauliana. De fato, se o reconhecimento da fraude contra 
credores redundar somente em ineficácia do ato, e não em sua anulação, tomar-se-á desnecessária 
uma demanda autônoma e específica para isso, já que se poderá simplesmente declarar a fraude 
de forma incidental nos processos em andamento, já que, sem a anulação do negócio e o retomo 
do bem para a propriedade do executado, o terceiro alienante continuará dono e não necessitará 
de ser citado para defender o seu domínio. 
Sobre o tema, no entanto, é importante ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça conta 
com decisões nos dois sentidos. Vejamos, para elucidação, o entendimento do STJ, primeiro, em 
favor da tese da ineficácia: 
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA C. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO 
DO DISSÍDIO. FRAUDE CONTRA CREDORES. NATUREZA DA SENTENÇA DA AÇÃO PAU­
L!ANA. EXECUÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO. DESCONST!TUIÇÃO DE Pb'NORA SOBRE 
{' 
358 ; MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Morcela de Jesus e Maria fzabel de Melo 
MEAÇÃO DO CÔNJUGE NAO CITAÓO NA AÇÃO PAULIANA. [ .. ] 2. A fraude contra credores 
não gera a anulabilidade do negócio~ já que o retomo, puro e simples, ao status quo ante poderia in­
clusive beneficiar credores supervenientes à alienação, que não foram vítimas de fraude alguma, e que 
não poderiam alimentar expectativa legítima de se satisfazerem à custa do bem alienado ou onerado. 
3. Portanto, a ação pauliana, que, segundo o próprio Código Civil, só pode ser intentada pelos credores 
que já o eram ao tempo em que se deu a fraude (art. 158, § 2°, CC/16, art. I 06, par. único), não conduz 
a uma sentença anulatória do negócio, mas sim à dr- retirada parcial de sua eficácia, em relação a deter­
minados credores, permitindo-lhes excutir os bcnslque foram maliciosamente alienados, restabelecen­
do sobre eles, não a propriedade do alienante, mas a responsabilidade por suas dividas.[ ... ] Recurso 
e~pecial provido. (REsp 506.312, Rel. Ministro TEOR! ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, 
julgado em 15/08/2006, DJ 31/08/2006, p. 198). 
Vejamos, agora, um dos precedentes que se posicionam pela anulabilidade: 
RECURSO ESPECIAL PROCESSO CIVIL PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. AÇÃO PAULIANA. 
FRAUDE CONTRA CREDORES. NÃO INCIDÊNCIA DA LEI No 8.009/90. RECURSO NÃO CO­
NHECIDO. [ ... ] 3. "De acordo com a orientação jurisprudencial que se firmou na Quarta Tunna. 
se o bem penhorado retoma ao patrimônio do devedor em virtude da procedência de ação pauliana, 
não tem aplicação a impenhorabilidade preconizada pela Lei n°8.009/90, sob pena de prestigiar-se a 
má-fé do devedor. Precedentes: Resps 123.495-MG (DJ de 18.12.98) e 1!9.208-SP (DJ 2.2.98), am­
bos da relatoria do eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Recurso especial não conhecido 
(REsp 337.222/SP, Rei. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em 
18/09/2007. DJ 0811012007, p. 284). 
Importante ressaltar que, de qualquer fonna, a literalidade do art. 171, li do Código Civil 
impõe que o negócio jurídico viciado por fraude contra credores é anulável e não apenas ineficaz. 
Já no caso da venda em fraude à execução (CPC-2015, art. 790), entretanto, trata-se, de fato, 
de causa de ineficácia. Em definição apertadíssima, ocorre fraude à execução quando o devedor, 
uma vez demandado em juízo pela dívida, aliena seu patrimônio. Produz somente ineficácia por 
dois motivos: primeiro, porque ela não é declarada através de ação própria (ao contrário da fraude 
contra credores, que depende da ação pau!iana), mas apenas através de procedimento incidente 
ao processo em que se cobra a dívida; segundo porque a legislação respectiva (CPC-2015, art. 
792, § 1 °) não prevê a anulabilidade da venda da coisa em fraude à execução. Destarte, reconhe­
cida a fraude à execução, a coisa não volta à esfera do patrimônio do devedor, entretanto, a venda 
não opera eficácia em relação ao credor, desde que tenha promovido a penhora e seu registro 
(STJ, Súmula n° 375). O próprio Superior Tribunal de Justiça já decidiu nesse sentido. Veja-se: 
AGRAVO REGIMENTAL. DíRE!TO PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO BASEADO EM FUNDA­
MENTADA CONVICÇAO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DESTA CORTE. A constatação de fraude 
à execução resulta em ineficácia do negócio jurídico com relação a credora, não ha\"endo que se falar 
em anul-ação da avença. [ ... ]Agravo improvido. (AgRg no Ag 898.194/RS, Rel. Ministro LUIS FELI­
PE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/08/2009, DJe 24/08/2009) 
Em respeito à boa-fé do terceiro adquirente, sobretudo quando se trata de bens móveis e 
outros não sujeitos a registro, prevê o § 2o do art. 792 do novo CPC que "No caso de aquisição 
de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas 
necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicí­
lio do vendedor e no local onde se encontra o bem". 
Já nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a 
partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar (CPC-2015, art. 792, § 3°). 
Podemos falar, também, da ineficácia relativa de determinados negócios, como no caso da 
fraude à execução, acima citado, ou sempre que o negócio, a que se quer dar a característica de 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURfDICO ' 359 
oponibilidade contra terceiros, não atinge essa finalidade porque não preenche todos os elementos 
exigidos para a eficácia dessa regra. 
O compromisso de compra e venda não registrado, por exemplo, vale e é eficaz entre promi~ 
tentes vendedor e comprador, mas não produz eficácia contra terceiros, assim como os negócios 
de garantia (penhor, hipoteca e anticrese) que não preencham os requisitos de eficácia expressa~ 
mente exigidos pela lei, principalmente o registro em cartório (CC, art. 1.424). 
Enfim, é necessário afinnar, também, que os demais planos (de existência e de validade) 
acabarão por influenciar na eficácia do negócio. 
É que, se o negócio não preenche os elementos de existência, por exemplo, por obviedade, 
não produzirá nenhum efeito, pois lhe falta um ou mais desses elementos integrantes da sua pró~ 
pria existência. 
De igual forma, se o negócio é nulo (invalidade absoluta), é da sua própria natureza que ex~ 
surge a sua total ineficácia, pois, como veremos, adiante, salvo exceções e ressalvas necessárias, 
o negócio nulo não produz nenhum efeito. 
Em arremate, ainda que se trate de negócio anulável (invalidade relativa), o Código Civil 
impõe a sua ineficácia, atribuindo a cessação dos seus efeitos a partir da sentença anulatória (art. 
177), bem como o retomo das partes ao estado em que antes dele se achavam (art. 182). 
4.2. Condição 
4.2.1. Conceito e noções gerais 
De acordo com o conceito do art. 121, considera-se condição a cláusula que, derivando 
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e 
incerto. 
É da essência da condição, portanto, a característica de subordinar o efeito do negócio a um 
evento futuro e incerto. Futuro quer dizer que o evento está por vir, está projetado para o futuro; 
incerto significa que o evento pode ocorrer ou não. Além disso, as condições só derivam da von­
tade; se derivam da lei, ou da natureza do negócio, não são condições no sentido da palavra, mas 
requisitos de validade ou existência do negócio. 
Assim, por exemplo, se seestabelece um contrato de doação, sob a condição de pagamento 
ou entrega de coisa ao doador, não se terá doação condicional, mas sim contrato de compra e ven~ 
da ou de permuta, já que o acertamento do preço ou do objeto da troca são requisitos de existência 
da compra e venda ou da permuta; outro exemplo se pode dar com o condicionamento da venda 
de um imóvel à lavra de escritura pública: não se trata de condição, mas de requisito de validade 
para o ato (art. 108), referente à forma prescrita em lei para que ele valha. 
Além disso, é elementar ao instituto que, se o negócio estiver subordinado à condição sus­
pensiva, torna-se ineficaz não só o exercício, mas a própria aquisição do direito, nos termos do 
art. 125 do Código Civil: "Subordinando~se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensi~ 
va, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa". 
Assim, a regra geral é a de que c implemento da condição faz com que o negócio passe a ter 
eficácia a partir do momento em que se verifique o evento (doutrina alemã). Segundo a doutrina 
pátria, no entanto, as partes podem acordar que, verificáda a condição, o ato produza eficácia re~ 
trooperante, ou seja, desde a celebração do negócio. Gagliano e Pamplona lembram, no entanto, 
MANUAl DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzobel de Melo 
que a doutrina francesa se posiciona em sentido contrário, ou seja, pela impossibilidade da con­
venção das partes conferirem eficácia retrooperante ao implemento da condição (op. cit., p. 428). 
Este é o principio da irretroatividade da condição, o qual, corno se vê, pode ser suprido pela 
vontade das partes. 
São lícitas, em geral, todas as condições que não contrariem a lei, a ordem pública ou os 
bons costumes. A lei é conceito objetivo, mas as duas últimas cláusulas (ordem pública e bons 
costumes) são conceitos legais indeterminados que deverão ser interpretados no caso concreto 
pelo juiz. 
Algumas condições são ilícitas; outras, por seu caráter absurdo, podem ser tidas como não 
escritas ou, pela gravidade, podem contaminar o próprio negócio jurídico em que são apostas, 
tomando-os inválidos. 
Vejamos, para efeito de sistematização, as diversas classificações das condições: 
4.2.2. Classificação das condições 
Independentemente da análise do prisma de validade das condições, podemos classificá-las em: 
a) potestativas ou casuais: 
al) potestativas: as condições potestativas são aquelas cuja realização depende do arbítrio de 
uma das partes. Segundo Clóvis Bevilácqua, as condições potestativas geralmente se enqua­
dram como encargos, recomendações ou mesmo cláusulas ociosas. Podem ser encargos por­
que impostos a um negócio de liberalidade (como na doação onerosa), atribuindo à atividade 
de uma das partes (o donatário) a permanência da eficácia do negócio; são recomendações 
quando impostas, no negócio, como um dever para uma das partes, sob pena de resolução 
(como no caso da imposição de abstenção de determinada atividade para que o negócio 
não perca eficácia); consideram-se ociosas quando sujeitam a eficácia do negócio ao puro 
arbítrio das partes, por isso são defesas pela lei (condições puramente potestativas ~CC, art. 
122, parte final); 
a2) casuais: as condições casuais são aquelas cujo implemento refoge completamente à in­
terferência das partes. São, em verdade, condições na mais perfeita acepção da palavfa, 
pois sujeitam a eficácia do ato jurídico a evento futuro e incerto. Assim, é casual, por 
exemplo, a condição cujo implemento depende da vitória de determinado time, do casa~ 
mento ou da morte de pessoas estranhas à relação negociai, do acontecimento de fatos 
naturais, etc. 
b) física e juridicamente possíveis: 
bl) fisicamente possíveis ou impossíveis: são as condições que se revelam possíveis de acon­
tecer, não havendo obstáculo natural ao seu implemento. Será fisicamente impossível, 
portanto, a condição que é rejeitada pelas circunstâncias naturais (exs.: superar, a pé, em 
um dia, distância de quinhentos quilômetros, apagar fogo com álcool, etc.). As condições 
fisicamente impossíveis, quando resolutivas, reputam-se inexistentes (ou não escritas), 
porque, se a resolução do contrato depende de um acontecimento impossível, ele nunca se 
resolverá. De igual forma, a condição de não fazer coisa impossível se tem por inexistente, 
porque não se pode, logicamente, exigir que a pessoa não faça coisa que nunca lhe será 
possível fazer; 
b2) juridicamente possíveis ou impossíveis: é juridicamente possível a condição que o direito 
admite. Por isso, o negócio deve conter condição cujo implemento é acolhido pelo orde-
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Cap. V\. EU:Mt.Nlv::.,_,u, ... ._, __ ._ 
namento jurídico. Será juridicamente impossível a condição toda vez que o ordenamento 
impuser ao negócio a sua insubsistência. Exemplo disso será a condição que impõe a uma 
das partes casar-se com pessoa com relação à qual mantém impedimento matrimonial; ou­
tro exemplo é a condição que impõe a incapaz realizar negócio jurídico sem assistência ou 
representação; também se pode citar o caso da condição que impõe a realização de negócio 
sem a observância da fonna legal (adquirir imóvel sem escritura, v. g.). São todas juridica­
mente impossíveis, porque o Direito repele a sua realização. Diferem das condições ilícitas, 
porque a impossibilidade jurídica, embora macule a validade d0 ato, nem sempre imp01ta 
em ato ilícito ou delituoso. f 
c) lícitas e ilícitas: A lici"!Ude das condições comporta duas considerações: a primeira é a de 
que será ilícita toda condição que prevê acontecimento ilegal ou delituoso. Assim, será ilícita 
a condição contrária à lei, como no caso da imposição da realização de fato criminoso ou 
danoso (causador de prejuízo a terceiro); por outro lado, é defesa (na linguagem do art. 122, 
parte final, do Código Civil), toda condição que priva o negócio de seus efeitos ( contraditó­
rias) e as que sujeitam o ato ao puro arbítrio de uma das partes (puramente potestativas). Para 
o Direito Civil, portanto, são ilícitas, embora não acarretem, no campo da responsabilidade 
(civil e criminal) nenhuma consequência. 
d) necessárias e voluntárias: 
dl) necessárias: condições necessárias são aquelas que a própria lei impõe para a validade ou 
existência do ato. Não são verdadeiramente condições, pois o art. 121 considera condição 
somente a cláusula que deriva exclusivamente da vontade das partes. Por isso, não se consi­
dera condição, na acepção da palavra, por exemplo, a adoção de regime de separação obriga­
tória de bens para o casamento de certas pessoas, a escritura pública para ·a compra e venda 
de imóveis e outras exigências legais, porque, em verdade, são requisitos de existência ou 
validade do ato; 
d2) voluntárias: são as verdadeiras condições. São voluntárias as condições que se caracterizam 
por cláusulas que derivam da vontade das partes. Derivam da vontade no momento de sua 
instituição como requisito de eficácia do negócio. 
4.2.2.1. Espécies de condições lícitas 
As condições lícitas podem ser: 
a} condições suspensivas: são aquelas que, enquanto não verificadas, fazem com que o negó~ 
cio jurídico não produza sua eficácia, não havendo, portanto, aquisição de direitos antes do 
seu implemento (art. 125). Subordinam a eficácia do negócio jurídico, cujos efeitos ficarão 
suspensos e somente se darão após o implemento da condição. 
Muito embora o adquirente de direito sujeito à condição suspensiva ainda não seja, de fato, 
titular desse direito, mas somente de direito eventual, a realização do evento previsto na condição 
suspensiva faz com que disposições posteriores ao negócio jurídico não tenham valor, se com ela 
forem incOmpatíveis, conclusão que ressai do art. 126: "Se alguéin dispuser de uma coisa sob 
condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquelo novas disposições, estas não terão 
valor, realizada a condiçt1o, se com ela forem incompatíveis". 
Exemplosde aplicação dessa norma se encontram em negócios como o compromisso de 
compra e venda (arts. 1.417 e 1.418), a venda com reserva de domínio (arts. 521 a 528) e na pro~ 
priedade fiduciária (arts. 1.361 a 1.368}. Em todos esses exemplos, o devedor/adquirente somente 
362 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assís Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
terá propriedade após o advento da condição afixada no contrato, que é, basicamente, o paga­
mento do preço. Se o credor/alienante praticar ato de disposição da coisa para terceiro enquanto 
pendente essa condição, tem-se hipótese típica de disposição incompatível com a natureza das 
condições acima referidas, já que a diSposição do imóvel em favor de terceiro não se coaduna 
com a pendência dessa condição suspensiva. 
Considerando, portanto, que o direito do devedor/adqtj i rente está sujeito à condição sus­
pensiva, a propriedade do credor/alienante é considerada resolúveL Podemos dizer, então, que 
as consequências do ato de disposição, nos casos acima exemplificados, já se encontram disci­
plinadas no art. 1.359 do Código Civil: "Resolvida a propriedade pelo implemento da condição 
ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua 
pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reinvindicar a coisa do 
poder de quem a possua ou defenda". 
Importante frisar, no entanto, que, nesses casos, a eficácia dessas condições contra terceiro de­
pende de registro, nos termos dos arts. 522, 1.361, S l" e 1.417 do Código CiviL Ausente o registro, 
a proteção do terceiro de boa-fé deve prevalecer sobre o interesse do agente na invalidação do ato 
de disposição. Especificamente sobre o compromisso de compra e venda, é o que entende o STJ: 
AÇÃO ANULATÓRIA DE ESCRITURA PÚBLICA CUMULADA COM CANCELAMENTO DE 
REGISTRO IMOBILIÁRIO. COMPROl\l\SSO DE COMPRA E VENDA NÃO REGISTRADO. I­
Na circunstância do caso, a sentença adentrou efetivamente ao mérito da controvérsia e a instància ad 
quem, afastando a carência de ação, prosseguiu no julgamento sem que haja supressão de instância. 
11. A promessa de compra e venda, se nào averbada no registro imobiliário, não possibilita ao com­
prador anular posterior transferência de domínio a terceiros. li - Recurso especial não conhecido. 
(REsp 235-.288/SP, Rei. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado 
em 09/12/2003, DJ 25/02/2004, p. 168). 
Já sobre a venda com reserva de domínio: 
COMPRA E VENDA EM PRESTAÇÚES, COM RESERVA DE DOMINIO. REGISTRO DO CON­
TRATO. NECESSIDADE. EFEITOS EM RELAÇÃO A TERCEIRO. I. Para surtir efeitos em relação 
a terceiros, os contratos de compra e Yenda em prestações, com reserva de domínio, estão sujeitos are­
gistro no registro de títulos e documentos (Lei n°6.0 15/73, Art. 129, ITEM 5.). 2. Entre dois contratos, 
prevalece o registrado em primeiro lugar, embom diga respeito ao segundo negocio. 3. Não e lícito que 
o terceiro de boa-fé seja molestado pelo vencedor, porquanto, ao receber em garantia fiduciária a coisa, 
de seu certificado não constava a reserva de domínio, ate porque não registrado em tempo o respectivo 
contrato. 4. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 17 .546/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 08/06/1992, DJ 03/08/1992, p. 1131 O) 
E, por fim, quanto à alienação fiduciária, o STJ editou a Súmula 92, segundo a qual "a ter­
ceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no certificado de registro do 
veiculo automotor. " 
b) condições resolutivas: são aquelas que, se realizadas, fazem cessar os efeitos do negócio 
jurídico a elas subordinado (art 127). A condição resolutiva é o oposto da condição sus~ 
pensiva. Aqui, o negócio já tem eficácia, mas pode perdê-la se ocorrer o evento previsto na 
condição resolutiva. Caso ele ocorra, extingue~se, para todos os efeitos, o direito a que ela 
se opõe (art. 128). Subordinam, portanto, a ineficácia do negócio jurídico. 
Contudo, se aposta a condição resolutiva a um negócio de execução continuada ou perió­
dica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já prati­
cados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de 
boa-fé (art. 128). Esta disposição atende ao princípio tempus regit actum, segundo o qual os atos 
Cap. VI • ELEMENTOSDONEGÓCIOJURfDICO 
ocorridos antes do implemento da condição resolutiva não podem ser por ela atingidos, salvo se 
contrariarem a natureza da condição ou a boa-fé. 
Elucidativo, sobre o tema, o exemplo de Gagliano e Pamplona Filho: 
[ ... ]no exemplo do usufruto constituído sobre imóvel para mantença de estudante universitário (usu­
frutuário), beneficiário da renda proveniente da venda do gado até que cole grau, o implemento da 
condição resolutiva (colação de grau) não poderá prejudicar a venda de novilhos a terceiro já pactuada, 
estando pendente apenas a entrega dos animais. (op. cit., p. 422) 
Importante fixar claramente a distinção entre as condições suspensivas e as resolutivas, tema 
que costuma trazer alguma confusão entre aqueles que se iniciam no estudo dos elementos de efi­
cácia dos negócios jurídicos. A distinção se faz analisando o momento em que se produzem efeitos 
na disposição negocia], se antes do implemento (cessando com ele) é resolutiva; se somente após 
o implemento (não havendo efeitos antes do implemento, ficando suspensos) então é suspensiva; 
Exemplificativamente, tomemos dois exemplos de situações similares: Suponha que uma 
pessoa resida em Brasília e tenha um irmão que acabou de tomar posse como servidor público e 
que tem um imóvel naquela cidade. 
Pois bem, se o irmão está lotado em Brasília e requer a sua relotação para São Paulo, por 
exemplo, e declara para a pessoa: "você pode morar no meu apartamento depois que eu for transfe­
rido" estamos diante de um empréstimo do imóvel- um comodato- feito sob condição suspensiva. 
A pessoa terá que aguardar a apreciação do pedido de transferência (evento futuro e incerto, pois 
pode ser deferido ou negado), para poder se mudar para o imóvel, portanto não haverá produção de 
efeitos antes do implemento da condição- a transferência do irmão para São Paulo- o direito ainda 
não está adquirido, embora o titular do direito eventual possa praticar atos tendentes a conservá-lo. 
Por outro lado, se na mesma situação o innão em questão está lotado em São Paulo e requer a 
transferência para Brasília, onde tem apartamento, e declara para a pessoa: "você pode morar no meu 
apartamento até que eu seja transferido''. Essa pessoa pode mudar para o apartamento no mesmo dia, o 
direito já está adquirido, devendo desocupar o imóvel havendo o deferimento do pedido (evento futuro 
e incerto). Os efeitos são produzidos desde o momento da disposição até o implemento e cessam com 
este. O deferimento do pedido (implemento da condição) resolve o negócio jurídico. 
CONDIÇÃO. 
SUSPENSIVA 
Você pode morar no 
meu apartamento 
DEPOIS que eu for 
transferido 
Transferência 
Deferida 
~---------+-----------(efeitos suspensos) 
Você pode morar no 
meu apartamento 
ATÉ que eu seja 
transferido 
(efeitos começam) 
Transferência 
Deferida 
~---------+-----------{efeitos já ocorrem) (cessam os efeitos) 
Diferenciação entre condição suspensiva e resolutiva: 
Quanto à aquisição do 
Direito 
Consequência da 
impossibilidade da 
condição 
Quanto à possibilidade 
de praticar atos para 
conservar o direito 
eventual 
O Direito não está adquirido, art. 125. 
CC: "Subordinando-se a eficâcia do ne­
gócio jurídico à condição suspensiva, 
enquanto esta se não verificar, não se 
terá adquirido o direito, a que ele visa': 
O Direito está adquirido desde a condu­
são do negócio e pode ser exercido, art. 
127. CC: ose for resolutiva a condição, 
enquanto esta se não realizar, vigorarâ 
o negócio jurídico, podendo exercer-se 
desde a conclusão deste o direito por ele 
estabelecido". 
Invalida os negócios jurídicos que lhes J T;em-como inexistente: art. 
são subordinados: art. 123, J, CC 124 CC. 
do CC autoriza: "Ao titular do 
eventual, nos casos de condição 
J ""pen;;vo ou resolutiva, é permitido 1 '"""''"''-130 CC. 
os atos destinados a conservá-
c) Condições positivas e negativas: A condição pode ser positiva ou negativa, ou seja,· pode 
se vincular a algum evento que venha, positivamente, a acontecer ou a ser proporcionado 
por uma das partes; ou a um não fazer imposto a um dos contratantes, em caso de condição 
resolutiva (ex.: empresto-lhe uma casa até você se casar). Por consequência lógica, não se 
fala em condição suspensiva negativa, pois o negócio estaria suspenso por uma condição 
de não fazer e, portanto, nunca teria eficácia. Entretanto, se o não fazer tiver um termo final, 
como no exemplo "doo-lhe uma casa se você não se casar antes dos 28 anos", a condição 
será válida. 
4.2,2.2, Espécies de condições ilícitas 
a) coridições defesas: são defesas as condições que privam o negócio de todo o efeito jurídico 
(contraditórias) e as que o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (potestativas), as­
sim: 
ai) condição contraditória: é contraditória a condição que priva o negócio de qualquer efeito, 
porquanto estabelece contradição entre a declaração de vontade (voltada à produção de 
efeitos pelo negócio) e a realidade fãtica, já que a condição priva o negócio de seus efeitos. 
Assim, a compra e venda com a condição de o adquirente não usar a coisa é contraditória, 
pois priva o ato do efeito desejado pela parte, que é o de ter a propriedade e, em consequên­
cia disso, ter a faculdade de usar, goza e dispor da coisa (CC, art. 1.228, caput). 
a2) condição potestativa: condição potestativa é aquela cuja ocorrência depende de ato sujeito 
ao arbítrio de apenas uma das partes. A doutrina a subdivide em: 
a2.1) condição meramente potestativa: é admitida pelo ordenamento jurídico, porquanto, 
embora subordine o negócio a evento sujeito ao arbítrio de uma das partes, não está sujeita 
puramente a esse arbítrio ou a mero capricho do agente, mas, também, a outros fatores, 
como no caso das arras penitenciais (CC, art. 420), da retrovenda (art. 505), venda a conten­
to (art. 509) e direito de preempção ou preferência (art. 513); 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JUR[DICO 
-~--··---"---- -----~-----··" 
a2.2) condição puramente potestativa: é proibida pelo texto do art. 122, porquanto sua ocor-
rência é proibida pela lei ou depende de mero capricho de uma das partes. Exemplos de con­
dição puramente potestativa por proibição legal podemos encontrar nos arts. 489 do Código 
Civil, que reza que é nulo o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio ex­
clusivo de uma das partes afixação do preço, bem como em seu art. L900, IV, que estipula 
que é nula a disposição testamentária "que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar 
o valor do legado". Exemplos de condições puramente potestativas por1 capricho das partes 
podemos ver nos seguintes casos: "obrigo-me a certa prestação se eu iquiser" (cláusula si 
volam), ou: "dou-lhe esta camisa se eu passar a torcer por determinado time". 
O Código de Defesa do Consumidor também repele as condições ou cláusulas puramente 
potestativas, na forma dos incisos IX e XI do art. 51, que consideram nulas de pleno direito as 
cláusulas que "autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual di­
reito seja conferido ao consumidor" e que "autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente 
o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração". 
Abramos aqui um parêntese para, com fundamento nos dispositivos acima referidos da le­
gislação de consumo, considerar também corno potestativa, portanto nula de pleno, a prática, 
usual entre companhias aéreas e estabelecimentos hoteleiros, conhecida como overbooklng, pela 
qual se reservariam no direito de cancelar reserva de passagem aérea ou diárias diante da venda 
de bilhetes ou contratação de hospedagens em número superior à capacidade da aeronave ou da 
hospedaria. 
A respeito, o Superior Tribunal de Justiça vem decidindo que o overbooking é prática ilícita 
e que "o dano moral oriundo de "overbooking" prescinde de prova, configurando-se in re ipsa, 
visto que é presumido e decorre da própria ilicitude do fato e da experiência comum" (AgRg no 
REsp 81 O. 779/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTJ, QUARTA TURMA, julgado em 
28/06/2011, DJe 03/08/2011). 
b) condições que invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: Algumas con­
dições ilícitas, por sua gravidade, maculam a própria declaração de vontade aposta ao negócio 
jurídico. Fazem com que se tome impossível aferir se a parte quis, realmente, produzir 0 efeito 
jurídico previsto pelo ato. Por isso, comprometem a validade do próprio negócio. São elas: 
bl) condições física ou juridicamente impossiveis, quando suspensivas: se o efeito do negó­
cio fica suspenso até o implemento dessa espécie de condição, ele é inválido, porquanto a 
condição nunca irá ocorrer. Exemplo de condição fisicamente impossíVel: se uma das partes 
levantar um objeto de duas toneladas com as mãos. Exemplo de condição juridicamente 
impossível: se uma das partes contrair matrimônio com outra com quem está impedida de 
casar. 
Quando a condição impossível for resolutiva, entretanto, esta se tem por inexistente (art. 
124). O preceito decorre da lógica, pois, se a condição é resolutiva, o negócio já produz efeitos: 
sendo essa condição resolutiva impossível, ela nunca irá se realizar e o negócio, portanto, jamais 
perderá a eficácia, razão por que tal modalidade é tida por não escrita. 
Também se tem por inexistente a condição de não fazer coisa impossível (art. 124). o mo­
tivo é o mesmo, pois, não sendo possível realizar-se o fato proibido pela condição, subentende-se 
automaticamente o cumprimento do encargo ou ~--pcorrência do fato, fazendo gerar, desde logo, 
a eficácia do negócio. 
b2) 
b3) 
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita: se a condição se consubstancia na espera de um 
fato ilícito a ser praticado por terceiro ou num encargo de prática de ato ilícito pelas próprias 
partes, sua ilicitude contamina o negócio como um todo, que passa a ser considerado inváli­
do. Por exemplo: contraio a obrigação sob a condição de que um terceiro ou até a outra parte 
transporte um carregamento de substância entorpecente; 
condições incompreensíveis ou contraditórias: A condição i'lcompreensível é aquela cujo 
conteúdo não é possível abstrair pela declaração de vontade. s1 é incompreensível o conteú­
do da declaração, inválido se toma o próprio negócio. A condição contraditória, por sua vez, 
é proibida pelo art. 122, mas, sendo imposta na declaração de vontade, e priva o negócio de 
efeito jurídico, este passa a ser inválido. Válido será o negócio, entretanto. em favor da parte 
que estiver de boa-fé, se a condição contraditória for produto de intenção maliciosa de um 
dos contratantes,. por inferência da cláusula geral de boa-fé imposta pelo art. 113. 
Sinteticamente, as condições, quanto a sua classificação, podem ser entendidas confonne o 
quadro abaixo: 
Ucita {não ofenda a lei, ordem 
pública ou bons (Ostumes} 
Ilícita {ofende a lei, ordem 
pública ou os bons costumes) 
· Simplesmente 
PotestatiYa 
Puramente 
Potestativa 
Contraditória 
. lmpossfvel 
Resolutiva 
"se passar no concurso ganha um 
carro" 
"se matar fulano ganha uma casa" 
Admitida (art. 122} 
Nào admitida (invalida o próprio ne­
gócio jurídico- art. 123, li) 
"levar tal objeto ao centro da cida- Admitida (art. 122, parte final, con-
de" traria senso). 
Não admitida (art. 122, parte final)-
"pago se eu quisera em geral invalldam a cláusula ou o 
~deixo o imóvel ao compadre com 
a condição de que ele não aceite" 
"ganha um carro se ficar uma hora 
em baixo d'água sem respirar 
"Dou-te o carro até meu irmão ficar 
uma hora em baixo da água sem 
respirar" 
negóciojurídico. 
Não admitida (art. 122, parte final)­
em geral invalidam os negócios jurí­
dicos (art. 123, !11) 
Não admitida - invalida o negócio 
jurídico (art 123, I) 
Não admitida- tem-se por inexisten­
te a condição (art. 124), vale o negó· 
cio jurídico como se a condição não 
fosse escrita 
4.2.3. Obstáculo malicioso e indução maliciosa ao implemento da condição 
Por obediência ao princípio da boa-fé objetiva, reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurí­
dicos, a condição cujo implemento for muliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, 
considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por 
aquele a quem aproveita o seu implemento (art. 129). Vê-se que o dispositivo tem duas nonnas 
claras e específicas: 
a) Obstáculo malicioso ao implemento da condição: se a parte a quem a condição desfavo­
rece obsta, de forma maliciosa, que o evento ocorra, a boa-fé impõe que essa condição deve 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURfDICO 361 
ser considerada como implementada, ainda que não o tenha sido de fato, já que não o foi por 
ação mal-intencionada de um dos agentes. Assim, por exemplo, se um professor promete 
ao aluno a doação de um livro se este obtiver nota máxima em um exame, mas, de fonna 
maliciosa, impede o discente de conquistar essa nota, cobrando na prova matérias estranhas 
à grade curricular, considera-se realizada a condição e implementado o direito de exigir a 
transferêricia graciosa da propriedade; 
b) Indução maliciosa ao implemento da condição: por outro lado, se o agente a quem a con­
dição favorece fizer com que o evento ocorra por atitude maliciosa de sua parte, considera-se 
não realizada a condição. Assim, aproveitando o exemplo anterior, se o aluno obtém a nota 
máxima, tendo, contudo, "colado'' as respostas de um colega, tem-se por não implementada 
a condição para a aquisição do direito à doação do livro. 
4.2.4. Direitos do titular do direito eventual 
Segundo o art. 130, ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou re­
solutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. 
Por isso, pode o titular do direito de aquisição de um imóvel, subordinado a termo ou condi­
ção, por exemplo, defendê-lo contra ocupação indevida por terceiros. 
Aqui se situa, também, por exemplo, o direito do promitente comprador, em contrato de 
compromisso de compra e venda, de opor seu direito contra eventual penhora em processo 
de execução contra o alienante, ainda que se ampare somente na posse que exerce sobre a coisa, 
independentemente de registro. 
Sobre o tema, a Súmula 84 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que "é admissível a oposi­
ção de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra 
e venda de imóvel, ainda que desprovido de registro". 
4.3. Ter!flO 
4.3.1. Conceito e classificações 
O termo difere da condição ao passo em que, nesta, a eficácia do negócio se subordina a um 
evento futuro e incerto. Já no termo, esta eficácia se subordina a um evento futuro e certo. A 
cetieza, potianto, reside no caráter inevitável da ocorrência do evento previsto na cláusula. 
Outro elemento decisivo para diferenciar o tenno da condição é o fato de que, enquanto a 
condição suspensiva suspende o exercício e aquisição do direito, o termo inicial suspende 
somente o exercício, tendo-se o direito por adquirido. Assim, enquanto a condição suspensiva 
é, por natureza, irretroativa, o termo inicial é, de regra, retroativo. 
É o que se contém no art. 131 do Código Civil de 2002, segundo o qual "o termo inicial 
suspende o exercício, mas não a aquisição do direito". 
Embora o termo se consubstancie em evento futuro e certo, o próprio termo pode ser incerto. 
É que, embora o evento seja futuro e certo, a data em que ele ocorrerá pode ser incerta, como no 
caso da morte. A morte é certa, mas a sua data não o é., 
Assim, o termo pode ser: (a) certo ou incerto; (b) inicial e final, como se vê adiante: 
! ]~~] MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Morcefo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
al) Termo certo: ocorre quando se encontrar vinculado a uma data certa, como por exemplo: "o 
contrato de locação tem termo final em 02/03/2011 "; 
a2) Termo incerto: caracteriza-se quando for vinculado a um acontecimento certo ou inevitável, 
mas cuja data não é certa, como a morte, por exemplo. 
bl) Termo inicial(dies a quo): o termo inicial é aquele em que o negócio somente produzirá seus 
efeitos após o seu advento (art. 131), entretanto, suspende apenas o exercício, mas não a aqui­
sição do direito. Vejamos o exemplo da compra de um bem com prazo de entrega para o ven­
dedor: o adquirente já tem adquirido o direito de receber a coisa em sua posse e propriedade, 
entretanto, esse direito somente será exercido após o vencimento do prazo dado ao alienante. 
b2) Termo final (dies ad quem): o termo final faz com que, em seu advento, o direito adquirido 
pelo negócio deixe de existir. Tome-se o exemplo da locação por prazo determinado: ao final 
do prazo (termo final), deixa de existir o direito do locatário de usar a coisa locada. Impor­
tante aproveitar esse contexto, no entanto, para trazer à baila, desde logo, que, embm-a os 
contratos de locação tenham, em regra, prazo certo para se findar, entende-se que o advento 
desse termo não impede os agentes de continuarem auferindo os efeitos do negócio, caso a 
situação fática permita a conclusão de que o conteúdo do contrato continua sendo desejado 
pelas partes. É o que se materializa através do entendimento de que, não obstante o termo 
final, o locatário de um imóvel, por exemplo, continua obrigado aos encargos locatícios 
assumidos até a efetiva entrega das chaves ao locador. É o que entende o STJ: 
DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. DISSÍDIO JURIS­
PRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. OFENSA AO Art. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. 
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL. EXAME DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOS­
SIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7/STJ. AÇÃO DE COSJGNAÇÃO DE CHAVES. EXTINÇÃO DA I 
LOCAÇÃO. DATA DA ENTREGA DAS CHAVES EM JUÍZO. PRECEDENTE DO STJ. RECURSO 
ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. f ... ] 4. A entrega das chaves do imóvel 
em juízo põe fim à relação locatícia, sendo devido o aluguel referente ao período que antecedeu referida 
extinção. 5. Hipótese em que a ex-locatária, ora recorrida, deverá pagar à recorrente o aluguel do mês 
de outubro de 2002, a ser calculado proporcionalmente aos dias em que efetivamente esteve na posse do 
imóvel, até a data da entrega das respectivas chaves, ocorrida em 30/10/02, acrescido de correção mone-
tária e juros moratórios. 6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp 1122586/SP, Rei. 
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 22/06/201 O, DJe 02/08/20 lO) 
4.3.2. Prazos 
Como já vimos, quando se fala em termo certo, seja ele inicial ou final, vincula-se o início 
ou o fim da eficácia do negócio a uma data previamente convencionada pelos agentes do negócio 
jurídico. 
Para o alcance dessa data, nem sempre os agentes estipulam, de forma expressa, o dia, mês 
e ano correspondente ao termo. É muito comum que, em vez disso, seja convencionado um prazo 
após o qual o negócio tem a sua eficácia iniciada (termo inicial) ou extinta (termo final). 
É disso, portanto (regras sobre os prazos), que tratam os arts. 132 a 135 do Código Civil. 
Podemos resumir as regras sobre os prazos da seguinte forma: 
a) Regras sobre a contagem dos prazos: Reza o art. 132 que "salvo disposição legal ou con­
vencional em contrário, computam-se os prazos, excluido o dia do começo, e incluído o do 
vencimento ". 
al) Dia final correspondente a feriado: Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se­
-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil(§ 1 °); 
a2) Termo final fixado pela expressão meado: Meado considera-se, em qualquer mês, o seu 
décimo quinto dia(§ 2°). 
a3) Prazos fixados em meses e/ou anos: Os prazos de meses e anos expiram nodia de igual 
número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência(§ 3°). 
a4) Contagem dos prazos fixados por hora: Os prazos fixados por hora contar-se-~lo de minuto 
a minuto (§ 4°); 
b) Interpretação dos pr-azos: Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, 
nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto ao último (o devedor), se do teor do 
instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a beneficio do credor, ou de 
ambos os contratantes (art. 133). Tal dispositivo estabelece presunção absoluta em favor do 
herdeiro e relativa em favor do devedor; 
c) Negócios sem prazo: Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exequíveis desde 
logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo (art. 134). 
Isso quer dizer que, em regra, os negócios jurídicos criam dividas com vencimento imediato, 
a não ser que exista tempo ou lugar determinado para cumprimento. 
A inexistência de previsão de prazo para as obri"gações, entretanto, pode gerar desvantagem 
para o credor. Com efeito, havendo termo certo fixado no contrato para o cumprimento da pres­
tação, o inadimplemento gera, imediatamente, a mora do devedor (mora ex re); não havendo 
termo, a mora depende de interpelação judicial ou extrajudicial (mora ex personae). É o que se 
infere da norma do art. 397 do Código Civil: "O inadimplemento da obrigação, positiva e líqui­
da, no seu tenno, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Ndo havendo 
termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial". 
Veja-se que, em alguns casos, embora exista termo certo, a própria lei exige, apesar disso, 
a prévia interpelação para a constituição em mora, como no caso do compromisso de compra e 
venda (Decreto-lei 745/1969, art. 1 "),configurando-se, portanto, hipótese de mora ex personae a 
fim de proteger a figura de determinadas pessoas, como o promissário comprador de imóvel não 
loteado (Decreto-lei 58/!937, art. 22). 
Essas considerações se encontram resumidas com brilhantismo no seguinte precedente 
oriundo da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO CUMULADA COM PER­
DAS E DANOS E REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ALEGADO DESCUMPRIMENTO DE CLÁU­
SULAS CONTRATUAIS. CONSTITUIÇÃO DO DEVEDOR EM MORA. INTERPELAÇÃO. EXI­
GÊNCIA. 1. Os autores ajuizaram ação de rescisão contratual, cumulada com reintegração de posse 
e perdas e danos, alegando que firmaram com os réus contrato de compra e venda de credenciamento 
lotérico, mediante o qual os requerentes transferiram o direito de exploração de casa lotérica aos reque­
ridos. O preço foi integralmente pago. O pedido de resolução da avença decorreu de alegado descum­
' primento de cláusulas contratuais, notadamente a relativa à locação do imóvel aonde encontrava-se o 
ponto comercial e a que previa o pagamento de comissões, sendo pleiteados, ademais, lucros cessantes 
(comissões e faturamento líquido) e reintegração de posse. 2. A chamada mora ex re independe de 
interpelação, porquanto decorre do próprio inadimplemento de obrigação positiva, líquida e 
com termo implementado, cuja matriz normativa é o art. 960, primeira parte, do Código Civil 
de 1916. À hipótese, aplica- e o brocardo dies inrerpellat pro homine (o termo interpela no lugar 
do credor). Reversamente, inexistindo term(_) previamente acordado, ou em casos em que a lei 
preveja providência diversa, a presunçãtl"de que o devedor tem ciência da data do vencimento 
370 MANUAL DE DIREITO CIVIL~ Sebastião de AHis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
da obrigação não se verifica. Cuida-sé a(i~i da mora in persona, a exigir, para sua constitui~ão, a 
interpelação judicial ou extrajudicial. 3. Fixada a premissa fática de que não há contratualmente 
termo prefixado para o cumprimento das obrigações em testilha, a mora de que se c11gita não é 
ex re, mas ex persona, sendo indispensável a interpelação do devedor, judicial ou extrajudicial­
mente. 4. Com efeito, havendo pedido de rescisão contratual com base em mora do devedor, e sendo 
pressuposta nos contratos sinalagmáticos a e.xistencia de cláusula resolutiva tácita. que permite à parte 
lesada pelo inadimplemento requerer a resolução, aplicável é o art. 119, parágrafo único, 2~ parte, do 
Código Civil de 1916, a exigir, para a resolução do contrato. a ínterpe!açãh prévia com o escopo de 
constituir o devedor em mora, cuja ausência não é suprida pela citação. 5. Recurso especial provi­
do. (REsp 780.324/PR, ReL Ministro LUIS FELIPE SALOMAO. QUARTA TURMA, julgado em 
24/08/2010, DJe 09/09/2010) 
d) Aplicação supletiva das normas relativas às condições: Ao termo, de acordo com o art. 
135, aplicam-se, 1_10 que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutim. 
4.3.3. Fixação didática das distinções entre condição e termo 
O que diferencia a condição do termo é exatamente a certeza - ou não - da ocorrência do 
evento, pouco importando se o momento está fixado, definido. ou não. Se é certeza que vai ocor~ 
rer, é termo, se pode ser que ocorra então é condição. Dessa forma: 
Incerto (ínc:ertus quando} 
4.4. Encargo 
Termo Incerto. Ex.: "a empresa A doará 
um imóvel à empresa 8 quando seu dire­
tor-presidente falecer': 
Condição. Ex.: "Se você passar no próxi­
mo concurso ganha tal prêmio". 
Condição. Ex.: "Se você passar em um 
concurso público para tal cargo então 
lhe darei tal prêmio': 
O encargo é um ônus imposto a uma das partes para a eficácia de um negócio jurídico de 
liberalidade. Quando for exigido como obrigação a ser realizada antes da aquisição do direito, 
considera-se condição suspensiva, fazendo com que o direito não seja adquirido enquanto não for 
cumprido o ônus imposto ao contratante. 
Somente se for imposto como ônus posterior à aquisição e, mesmo, ao exercício do direito, 
é que o encargo será puro. No encargo puro, não se suspende a aquisição nem o exercício do 
direito, pois o beneficiário da liberalidade pode ter, plenamente, as prerrogativas declaradas no 
negócio jurídico. 
Veja-se o exemplo da doação de um imóvel rural, com o encargo de o donatário conservar 
uma nascente de água: o donatário tem a propriedade plena sobre a coisa doada (aquisição e exer­
cício do direito), entretanto, o doador pode revogar a doação se tal encargo for descumprido (CC, 
art. 555) e, sOmente aí, o negócio perderá sua eficácia. 
Se for imposto como ônus a ser cumprido antes da aquisição do direito, o encargo se 
considera condição suspensiva, conforme prevê o art. 137 do Código CiviL 
Se o encargo for ilícito ou impossível, deve ser tido como não escrito, a não ser que constitua 
o motivo determinante da liberalidade, caso em que o próprio negócio jurídico é inválido. 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURfDICO 
5. QUADRO SINÓTICO 
o plano de existência do ato demanda a presença de alguns elementos. São eles o agente. a vontade, 
o objeto e a forma. 
O agente 
Avo'ntade 
O objeto 
A forma 
Para que o ato exista, é necessário que se tenham pessoas que o entabulem. Não 
se fala, ainda, em capacidade de exercício de direito, mas, apenas, em capacidade 
de ser sujeito de direitos, entendendo-se como tal aquela definida pelo art. 1° do 
Código Civil. 
Para que haja negócio jurídico, como vimos, é necessário que haja declaração 
da vontade dirigida para os fins a que ele se destina. Sem vontade não existe 
negócio jurídico. Será inexistente o ato se não for possível aferir-se a presença 
da vontade, como ocorre no caso da violência física contra o age11te que venha 
a eliminara 
Objeto é a coisa ou a prestação sobre a qual incide o ato. Todo negócio jurí­
dico, obrigatoriamente, deve ter um objeto, que não necessita ser um bem 
material. 
A forma, no plano de existência, não se refere a estar prescrita ou não defesa em 
lei, mas à necessidade de que o negócio se caracterize por alguma forma que o 
exteriorize, a fim de se poder verificar a sua existência. 
Da junção doselementos de existência acima previstos, pode-se dizer, então, que temos um negócio 
jurídico existentn1~-le IÍíN'i' 1 inciso l, pois é o que emana doffagenten para a prática do ato. Para que o negócio 
2 
2.1 
2.2 
2.3 
2.4 
3 
3.1 
jurídico existente tenha validade, a vontade expressa pelas partes deve ser feita 3.2 
Objeto 1icit~, 
, possíVe_lc ,-, _, 
determinado ·oU 
determiRávi!l: 
de forma livre, ou seja, não pode ser viciada por defeitos como o erro, o dolo, a 
lesão e o estado de 
- a licitude: não se pode negociar sobre objetos ilícitos, proibidos pela lei. Não 
se pode, por exemplo, celebrar negócio para que alguém se obrigue a uma 
prestação de furtar um bem; 
- a possibilidade: Não pode ser objeto de negócio a coisa ou prestação impos­
sível. A impossibilidade, porérr., pode ser física ou jurídica. A contratação de 
viagem até uma estrela seria exemplo de impossibilidade física, enquanto a 
venda de coisa inalienável seria de impossibilidade jurídica; 
- a determinabifídade: o objeto do negócio, nas obrigações de dar ou de en­
tregar, não pode ser indeterminável. t necessário que o objeto do negócio 
possa ser identificado pelas partes 
3.3 
371 I 
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Morce/o de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
Forma prescrita 
ou não defesa 
em lei 
Como o art. 107 do CC diz que a declaração de vontade não depende de forma 
especial, a não ser que a lei o exija, regra geral a forma será livre, se a lei exige a 
forma especial ou solenidade, diz~se que o negócio é solene ou formal, como no 
caso do art. 108, que exige escritura pública para os negócios reais imobiliários 
cujo valor supere 30 salários mínimos. 
negócios jurídicos, embora existam e tenham plena validade, apresentam ineficácia no 
mundo jurídico. Não se trata, aqui, de nenh•Jma causa que possa levar à declaração de nulidade ou 
à anulação do ato, mas de alguns elementos que interfiram na produção dos efeitos a que o negó­
cio se destina. Estes elementos são chamados de elementos acidentais, são: a condição, o termo e 
o encargo. 
Conceito e 
noções gerais 
Classificação das 
condições 
Classificação das 
condições 
~spéciesde 
condiç6es lícitas 
De acordo com o art. 121 do CC, considera-se condição a cláusula qu:;-, derivan­
do exclusivamente do vontade dos portes, subordina o efeito do negócio juní:Jico a 
evento futuro e incerto. Futuro quer dizer que o evento está por vir, está projetado 
para o futuro; incerto significa que o evento pode ocorrer ou não. Além disso, as 
condições só derivam da vontade; se derivam da lei, ou da natureza do negócio, 
não são condições no sentido da palavra, mas requisitos de validade ou existên­
cia do negócio. 
Potestativas ou casuafs: 
- potestativas: as condições potestativas são aquelas cuja realização depen­
de do arbítrio de uma das partes; 
- casuais: as condições casuais são aquelas cujo implemento refoge comple­
tamente à interferência das partes; 
Física e juridicamente possíveis: 
- fisicamente possíveis ou impossíveis: são as condições que se ievelam 
possíveis de acontecer, não havendo obstáculo natural ao seu implemento; 
- juridkamente possíveis ou impossíveis: é juridicamente possível a condi­
ção que o direito admite. Será juridicamente impossível a condição toda vez 
que o ordenamento impuser ao negócio a sua insubsistência. 
Udtas e ilícitas: lícitas são as condições que não contrariem a lei, a ordem públi­
ca e os bons costumes, consoante o art. 122 do CC, além disso, dentre as defesas 
(ainda na linguagem do art. 1 22), se encontram as que privarem o ato de todo 
efeito ou o subordinarem ao puro arbítrio de uma das partes. Necessárias e 
voluntárias: 
- necessárias: condições necessárias são aquelas que a própria lei impõe para 
a validade ou existência do ato. Não são verdadeiramente condições; 
- voluntárias: são as verdadeiras condições. São voluntárias as condições que 
se caracterizam por cláusulas derivam da vontade das 
- condições suspensivas: são aquelas que, enquanto não verificadas, fazem com 
que o negócio jurídico não produza sua eficácia, não havendo, portanto, 
aquisição de direitos antes do seu implemento {art. 125). Subordinam a efi­
cácia do negócio jurídico, cujos efeitos ficarão suspensos e somente se darão 
após o implemento da condição; 
- condições resolutivas: são aquelas que, se realizadas, fazem cessar os efeitos 
do negócio jurídico a elas subordinado (art. 127). A condição resolutiva é o 
oposto da condição suspensiva. Aqui, o negócio já tem eficácia, mas pode 
perdê-la se ocorrer o evento previsto na condição resolutiva. Caso ele ocorra, 
extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe (art. 128). Subordi-
a íneficácio 
3.4 
4 
4.2.1 
4.2.2 
4.2.2 
4.2.2.1 
I 
I 
L 
Espécies de 
condições ilícitas 
Obstáculo 
malicioso 
eí.ndução 
maliciosa ao 
Implemento da 
condição 
Direitos do 
titular do direito 
eventual. 
Conceito e 
classificaçõe_s 
condições defesas: são defesas as condições que privam o negócio de todo o 
efeito jurídico (contraditórias) e as que o sujeitarem ao puro arbítrio de uma 
das partes (potestativas): 
condição contraditória: é a que priva o negôcio de qualquer efeito, exemplo: 
a compra e venda com a condição de o adquirente não usar a coisa; 
•-~ condição potestativa: condição potestativa é aquela cuja ocorrência depende 
de ato sujeito ao arbítrio de apenas uma das partes. A doutrina a subdivide em: 
4 condição meramente potestativa: é admitida pelo ordenamento jurídico, por­
quanto, embora subordine o negócio a evento sujeito ao arbítrio de uma 
das partes, não está sujeita puramente a esse arbitrio ou a mero capricho do 
agente, mas, também, a outros fa~ores; 
condiçãc puramente potestatíva:é proibida pelo texto do art. 122, porquanto sua 
ocorrência é de mero de uma das 
Por obediência ao princípio da boa-fé objetiva, reputa-se verificada, quanto aos 
efeitos jurídícos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela 
parte a .quem desfavorecer, considerando-se, ao contrório, não verificada a con­
dição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu imple­
mento {art. 1 29) 
Segundo o art 130, ao titular do direito eventual, nos casos decondiçóo suspensiva 
ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados o conservd-lo. 
O termo subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e certo. A 
certeza, portanto, reside no caráter inevitável da ocorrência do event_o previsto 
na cláusula. Assim, o termo pode ser: 
- Termo certo: ocorre quando se encontrar Vinculado a uma data certa, como 
por exemplo: "o contrato de locação tem termo final em 02/03/2011 "; 
- Termo incerto: caracteriza~se quando for vinculado a um acontecimento cer­
to ou ineviti:íve\, mas cuja data não é certa, como a morte, por exemplo. 
- Termo inicia\ (diesaquo):o termo inicia\ é aquele em que o negócio somente 
produzirá seus efeitos após o seu advento (art 131), entretanto, suspende 
apenas o exerc\cio, mas não a aquisição do direito. 
- Termo final (dies ad quem): o termo final faz com que, em seu advento, o di­
re-ito adquirido pelo negócio deixe de existir. Tome-se o exemploda locação 
por prazo determinado: ao final do prazo (termo final), deixa de existir o di­
reito do locatário de usar a coisa locada. 
O encargo é um ônus imposto a uma das partes para a validade de um negócio jurídico' de h·beta/idade. 
Quando for exigido como obrigação a ser realizada antes da aquisição do direito, considera-se condição 
4.2.2.2 
4.2.3 
4.2.4 
4.3.1 
suspensiva, fazendo com que o direito não seja adquirido enquanto não for cumprido o ônus imposto ao 5 
contratante. Se o encargo for ilícito ou impossível, deve ser tido como não escrito, a não ser que consti-
tua o motivo determinante da liberalidade. caso I 
6. SÚMULAS E ENUNCIADOS 
6.1. Súmulas do STJ 
92. A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fidu­
ciária não anotada no certificado de registro do veículo 
automotor. 
374 ; MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastiôo de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
6.2. Enunciados das Jornadas do CJF 
289. Art. 108. O valor de 30 salários mínimos constante 
no art. 108 do Código Civil brasileiro, em referência à 
forma pública ou particular dos negócios jurídicos que 
7.QUESTÕES 
1. (PGM/São José do Rio Preto/Procurador/2008) O 
ato de comprar e vender coisa roubada caracteriza ne~ 
gócio 
(A) existente, válido e eficaz. 
(B) nulo, por causa da ilicitude do objeto. 
(C) anulável, em razão do vfcio de vontade. 
(D) anulável, por ausência de elemento essenciaL 
(E) simulado, por falha no consentimento. 
2. (TCE!AL/Auditor/2008) Difere a condição suspen­
siva do termo inicial porque aquela 
(A} pode não derivar exclusivamente da vontade da 
parte, enquanto este sempre deriva da vontade das 
partes. 
(B) suspende apenas o exercício do direito enquanto 
este suspende a aquisição e o exercício do direito. 
(C) consubstancia evento futuro e certo, enquanto este, 
evento futuro e incerto. 
(0) pode referir-se a fato passado, enquanto este só 
pode referir-se a evento futuro. 
(E) suspende a aquisição e o exercício do direito ·en­
quanto este suspende apenas o seu exercício 
3. !TCE/AL/MPC/2008) Os negócios jurídicos entre vi­
vos sem prazo 
(A) equiparam-se aos negócios jurídicos sob condição 
suspensiva, porque sua eficácia sempre ficará na de­
pendência de evento futuro e incerto. 
(B) são exigíveis desde logo, e a constituição em mora 
independe de interpelação judicial ou extrajudicial, 
exceto se a execução tiver de ser feita em lugar di­
verso ou depender de tempo. 
(C) devem ser executados dentro de trinta (30) dias da 
celebração do ajuste, sob pena de o devedor incidir 
em mora. 
(0) são inefica.zes, porque o prazo é da essência dos ne­
gócios jurídicos, salvo se, expressamente, a obriga­
ção tiver sido assumida para execução imediata. 
(E) são exigíveis desde logo, exceto se a execução tiver 
de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo, 
mas a mora se constitui mediante interpelação judi­
cial ou extrajudicial. 
envolvam bens imóveis, é o atribuído pelas partes con­
tratantes e não qualquer outro valor arbitrado pela Ad­
ministração Pública com finalidade tributária. 
4. (TCE/GO/Analista/2009) A respeito do negócio ju­
rídico é incorreto afirmar que 
(A) os negócios jurídicos benéficos e a renúncia inter­
pretam-se estritamente. 
(B) a validade do negócio jurídico requer agente capaz, 
objeto licito, possível, determinado ou determinável 
e forma prescrita ou não defesa em lei. 
(C) o silêncio importa anuência, quando as circunstân­
cias ou os usos o autorizarem, ainda que seja neces­
sária a declaração de vontade expressa. 
(D) os negócios jurídicos devem ser interpretados con­
forme a boa-fé e os usos do lugar da sua celebração. 
(E) nas declarações de vontade se atenderá mais à in­
tenção nelas consubstanciada do que no sentido 
líteral da linguagem. 
S. {TJ/AP/Juiz/2009) Distinguem-se a condição sus­
pensiva, o termo inicial e o encargo porque a condi­
ção 
(A) suspensiva, enquanto não verificada, impede a 
aquisição e o exercício do direito; o termo inicial sus­
pende o exercício, mas não a aquisição do direito e o 
encargo não suspende a aquisição, nem o exercício 
do direito, salvo se imposto no negócio jurídico pelo 
disponente, como condição suspensiva. 
(B) se refere sempre a evento futuro e certo, enquanto o 
termo se refere a evento futuro e incerto, sendo que 
o encargo não se vincula, na sua definição, à drcuns­
tãncia de ser o seu cumprimento certo ou incerto. 
(C) suspensiva, enquanto não verificada, impede o 
exercício, mas não a aquisição do direito; o termo 
inicial suspende a aquisição e o exercício do direi­
to e o encargo nunca suspende a aquisição, nem o 
exercício do direito. 
(O) suspensiva, enquanto não verificada, impede a 
aquisição e o exercício do direito; o termo inicial 
suspende o exercício, mas não a aquisição do direito 
e o encargo tal qual a condição suspensiva, sempre 
impede, enquanto não cumprido, a aquisição e o 
exercício do direito. 
Cap. VI • ELEMENTOS DO NEGÓCIO JUR[DJCO 375 
(E) suspensiva, enquanto não verificada impede a 
aquisição do direito, mas não o seu exercido ou os 
atos de sua conservação; o termo inicial suspende o 
exercício, mas não a aquisição do direito ou os atos 
de sua conservação e o encargo sempre suspende 
o exercício, mas não a aquisição do direito, tal qual 
ocorre com o termo inicial. 
6. (Cespe - Analis-ta Judiciário - Área Judiciária -
CNJ/2013) Acerca de negócios jurídicos, julgue os 
próximos itens. 
A condição suspensiva subordina a eficácia do ne­
gócio jurídico à sua implementação. Já a condição 
resolutiva, quando implementada, faz cessar os efei­
tos do negócio jurídico. 
11. O silêncio das partes configura declaração de von­
tade, elemento essencial do negócio jurídico, e im­
plica a anuência tática e a aceitação dos termos do 
contrato. 
7. {fCC- Juiz de Direito Substituto- PE/2013) Inva­
lidam os negócios jurídicos que lhes sao subordina­
dos as condições 
(A) ilícitas, mas não as de fazer coisa ilícita, porque, nes­
te caso, apenas a condição é inválida e não os negó­
cios. 
(B) fisica ou juridicamente impossíveis, quando resolu­
tivas. 
{C) incompreensíveis ou contraditórias. 
{Dl impossíveis e as de não fazer coisa impossível, quan­
do resolutivas. 
(E) suspensivas quando juridicamente impossíveis, mas 
nao as que forem apenas fisicamente impossíveis. 
8. (MPE-SC- Promotor de Justiça SC/2013) Segundo 
o Códi~o Civil, a validade do negócio jurfdico requer 
apenas dois requisitos, ou seja, agente capaz e objeto 
licito, possível, determinado ou determinável. 
S. GABARITO 
Questão Resposta Comentário 
1 8 CC, art. 104,11 
2 E CC, arts. 125 e 131 
3 E CCart.l34 
9. (Cespe- Cartórios- TJ- SE/2014) Com relação a 
negócios jurídicos, seus defeitos e validades, assina­
le a opção correta. 
{A) O termo inicia! e a condição suspensiva suspendem 
o exercício e a aquisição do direito. 
(B) O erro de manifestação da vontade na indicação da 
pessoa ou da coisa enseja a anulação do negócio 
jurídico, mesmo que pelo seu contexto ou por suas 
circunstâncias tanto a pessoa como a coisa possam 
ser identificadas. 
(C) Será válido o negócio jurídico sob condição suspen­
siva se antes do implemento dessa condição a pres­
tação, inicialmente impossível, tornar-se possível. 
(D) Considera-se absolutamente nulo o negócio jurídi­
co praticado por pessoa com cnpacidade relativa ou 
mesmo aquele contaminado por vício de consenti­
mento, como o erro, o dolo e a coação. 
(E) Denomina-se condição a cláusula que subordina o 
efeito do negócio jurídico a evento futuro e certo. 
1 O. (Consulplan- Cartório- TJ- MG/201 S) De acordo 
com o Código Civil brasileiro, é correto afirmar: 
(A) Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, 
quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível 
(B) Se alguém dispuser de uma coisa sob condição sus­
pensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas 
disposições, estas terão valor, realizada a condição, 
mesmo se com ela forem incompatíveis. 
(C) Separa que ocorram. 
É importante conhecer a noção de fato jurídico natural e sua diferenciação para os atos jurí­
dicos, porque, a depender da situação, estaremos diante de hipótese de caso fortuito ou de força 
maior, que excluem a responsabilidade civil pelo ato danoso. 
3.2. Atos jurídicos 
O ato jurídico, por sua vez, é o fato jurídico lato sensu que, para ocorrer, depende da ação 
humana para gerar os efeitos de criar, extinguir, conservar, transmitir ou modificar direitos. 
Diferentemente do fato jurídico natural, que ocorre sem a interferência da ação humana, o 
ato jurídico lato sensu demanda a ação voluntária do homem para se materializar. 
Importante elucidar, neste ponto, que ações não humanas (de animais ou de seres inanimados 
encontrados na natureza), em regra, não serão considerados atos jurídicos, a não ser que derivem 
de ato humano anterior, que a ele se liga por nexo de causalidade e sem o qual não teria ocorrido. 
Como exemplos podemos citar: o ataque de um cão bravio será mero fato jurídico natural 
quando derive de atitude espontânea do animal, mas será ato jurídico quando decorrer de ordem 
de seu dono. A distinção é importante porque, de qualquer fonna, o dono ou detentor do animal 
responde pelos prejuízos que ele causar (art. 936), no entanto, em se tratando de ato jurídico, 
tem-se caso não de responsabilidade pelo fato da coisa (ato do animal), mas sim de ato ilícito 
direto causado pela pessoa, o que pode agravar a sua situação no momento da fixação do dano, 
sobretudo do dano moral. O mesmo se diga do exemplo do estouro de uma represa, por força 
natural (fato jurídico natural) e de seu transbordamento por ato humano {ato jurídico). 
r-- ... -. 
[!~(___ MANUAL DE DiREITO C I V! L~ Sebastiiío de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzabel de Melo 
O ato jurídico lato sensu, por sua vez, comporta classificações. Dentre elas, a que mais 
importa para o direito é a sua partição em atos jurídicos não negociais e atos jurídicos negociais. 
3.2.1. Atos jurídicos stricto sensu ou não negociais 
São atos que, embora decorrentes da ação e da vontade humanas, não são cometidos, preci­
puamente, com a finalidade de realizar o efeito previsto na nonna para o respectivo ato. Equivale 
a dizer que a pessoa tem a vontade dirigida somente à prática do ato, mas não ao seu efeito, 
que decorre, automaticamente, dos ditames da lei. Não exige a lei, na prática de atos jurídicos 
stricto sensu, a declaração de vontade para a geração de seus efeitos. 
Podemos exemplificar os atos jurídicos stricto sensu em vários atos da vida comum, como: 
aceitação de herança, fixação e transferência de domicílio, recebimento de citação, ocupação, acha­
do de tesouro, especificação, pagamento indevido, reconhecimento de filho fora do casamento etc. 
Para aceitar uma herança, por exemplo, basta a vontade de querer praticar esse ato, entretan~ 
to, uma vez aceita a herança, os efeitos jurídicos dela decorrentes (assunção dos ônus deixados 
pelo falecido) independem da vontade declarada pelo herdeiro, no momento da aceitação. 
O mesmo ocorre, por exemplo, com o reconhecimento de filho fora do casamento: não 
existe margem de negociação para a ocorrência dos efeitos jurídicos do ato. Uma vez assumida 
a paternidade, decorrem, automaticamente, todos os efeitos previstos pela lei, como a obrigação 
alimentar, o direito à legítima etc. 
Os atos jurídicos stricto sensu estão previstos no novo Código Civil, sob a rubrica de atos 
jurídicos licitas, no art. 185, que prevê, in verbis, que aos atos jurídicos lícitos, que não sejam 
negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Titulo anterior. 
Observe-se, portanto, que, ao disciplinar que os atos jurídicos não negociais submeter-se-ão 
às regras dos negócios jurídicos no que couber, o legislador impõe importante norma de integra­
ção, pois admite que, para certos efeitos jurídicos, não é possível aplicar-se determinadas nom1as 
destinadas exclusivamente aos negócios. 
Isto se deve justamente ao fato de que, nos atos jurídicos não negociais, a vontade é dirigida 
somente à sua prática, surgindo os efeitos independentemente do querer do agente. Assim, por 
exemplo, é incompatível com a natureza dos atos não negociais a imposição de elementos de 
eficácia, como no caso dos termos e condições. 
Figure-se, então, a aceitação ou renúncia da herança: não pode o herdeiro dizer que aceita 
ou renuncia à herança em parte, ou somente a partir de detenninado dia. Veja-se, a respeito, o 
conteúdo do art. 1.808, caput do Código Civil: "Não se pode aceitar ou renunciar a herança em 
parte, sob condição ou a termo ". 
Imagine-se, também, o caso do reconhecimento de filho: não pode o pai, que o reconhece, 
impor a eficácia do ato a um termo inicial (ex: Nestor passa a ser meu filho- de Castor- a partir 
do dia 15 de maio) ou condição (ex: Reconheço Nestor corno meu filho somente se eu não tiver 
mais filhos), pois tal disposição ofende frontalmente a natureza jurídica do ato. A respeito, são 
claros os termos dos arts. 1.610 e 1.613 do Código Civil: 
"São ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de 
reconhecimento do filho". 
Cap. V • FATOS JURIDICOS 
3. 2.1.1. Atos-jatos jurídicos 
Parcela considerável da doutrina indica a categoria dos atos4atos jurídicos como espécies 
autônomas de fatos jurídicos. Em verdade, é tão tênue a sua distinção com os atos jurídicos stricto 
sensu que preferimos abordá-los como sub-espécies destes. 
Como pudemos observar, no ato jurídico não negocial, o agente o realiza sempre pela ação 
humana e em decorrência de sua vontade, entretanto, os efeitos jurídicos daí decorrentes não 
dependem dessa vontade, já que derivam diretamente da lei. Já no ato-fato jurídico, temos ato ju­
rídico no sentido de que a sua ocorrência depende de ação humana, no entanto, não é necessária 
a vontade para a sua prática ou esse elemento volitivo é irrelevante. 
Dessa forma, se um indivíduo absolutamente incapaz, por exemplo, praticar sozinho algum 
ato-fato jurídico, este será, em regra, válido, e produzirá todos os efeitos que deveria produzir. 
Classificam-se os atos-fatos jurídicos em: 
a) atos reais, pelos quais se adquirem bens pela ação de agente incapaz. O exemplo típico é o 
da compra de doce pela criança, no qual não se nega a criação de efeitos como a translação 
da propriedade decorrente da tradição subsequente, no entanto, se desconsidera a vontade do 
agente, já que, no caso, essa vontade não é reconhecida pelo direito. 
Alguns dos exemplos utilizados anteriormente como atos jurídicos stricto sensu também 
poderiam figurar nesta categoria. Assim, se um menor de 10 anos pesca um peixe (res nullius) em 
um rio, toma-se dono do peixe (efeito jurídico produzido pelo ato); da mesma forma se encon­
tra um tesouro. Pessoa enferma, sem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida 
civil, já interditada, que se encontra internada em instituição própria para seus cuidados, vem a 
utilizar tela, tinta e pincéis e pinta um quadro (especificação), ao menos em tese se tomará dona 
do quadro. 
b) atos indenizativos, categoria na qual o agente pratica ato lícito, mas, mesmo assim, sofre 
o efeito de se ver obrigado a indenizar terceiro ofendido, como se observa do estado de 
necessidade (art. 929) e, por que não dizer, da responsabilidade objetiva própria ou pura, na 
qual o cidadão, ainda que não pratique ato ilícito, é obrigado a indenizar. Veja-se o caso do 
poluidor: ainda que a sua atividade econômica seja lícita e autorizada pelo poder público, 
ficará responsável pela indenização dos danos causados ao meio ambiente pela poluição (Lei 
6.938/81, art. 14, § 1'); 
c) atos caducificantes, que são aqueles em que, independentemente da vontade do agente, 
opera-se efeito extintivo de direito, como na prescrição e decadência (no âmbito material) 
e na preclusão (no âmbito processual). Também aqui podemos identificar fatos como o da 
perda da preferência na compra e venda, se o titular do direito de preempçãofor suspensiva a condição, vigorará o negócio ju­
rídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste 
o direito por ele estabelecido. 
{0) Ao titular do direito eventual, nos casos de condição 
suspensiva, não é permitido praticar os atos mesmo 
que destinados a conservá-lo. 
Onde encontro no livro? 
Parte 11, Capítulo VI, item 3.3 
Parte 11, Capítulo VI, item 4.3.1 
Parte 11, Capítulo VI, item 4.3.2 
CC, art. 111. A questão pede a alternativa incorreta. É 
4 c possível que o silencio vincule, mas não quando for Parte 1!, Capítulo VI, item 2.2.3 
exigida a declaração de vontade expressa 
5 A CC, arts. 125,131 e 136 
Parte 1!, Capitulo VI, item 4.3.1 e 
4.4 
CERTO "I" correta segundo os arts. 125 e 128 do Código Civil; 
Parte 1!, Capítulo VI, item 2.2.3 e 
6 ull" errada porque o silêncio só configura declaração 4.2.2.1 
ERRADO 
de vontade quando a forma expressa na o for exigida 
7 
8 
9 
10 
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
c CC, art. 123, 111 Parte 11, Capítulo VI, item 4.2.22 
Assertiva incorreta porque o art. 104 do Código Civil 
ERRADO exige, também, a forma prescrita ou não defesa em Parte 11, Capítulo VI, item 3 
lei 
c CC, art. 106 Parte !1, Capitulo VI, item 3.3 
A CC, art. 124 Parte 11, Capítulo VI, item 4.2.2.1 
I 
\ 
I 
1. INTROITO 
CAPÍTULO VIl 
DEFEITOS DO 
NEGÓCIO JURÍDICO 
Já falamos do negócio jurídico nos planos de existência, validade e eficácia. Os requisitos 
de validade previstos no art. 104, no entanto, quando ausentes, provocam a nulidade do negócio 
jurídico, consoante se verifica pelo art. 166, verbis: 
Art. 166. É nulo' o negócio jurídico quando: I- celebrado por pessoa abso\u1amente incapaz; II ~for 
i licito, impossível -ou indetenninável o seu objeto; UI- o motivo determinante, comum a ambas as 
partes, for ilícito; lV-não revestir a fonna prescrita em lei; V- for preterida alguma solenidade que 
a lei considere essencial para a sua validade; Vl- tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VIl- a \e i 
taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 
Existem defeitos, todavia, que, embora não coritaminem o negócio jurídico de forma a de~ 
terminar sua nulidade, podem ser levantados pelas partes nele envolvidas, de fonna que, uma vez 
reconhecidos, provocam a sua anulabilidade. 
Além da incapacidade relativa do agente (art. 171, 1), do negócio consz"io mesmo (art. 117) 
e de outras hipóteses espalhadas pelo Código Civil e pela legislação, os vícios ou defeitos do ne~ 
gócio jurídico são divididos em vícios de vontade (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) e 
em vícios sociais (fraude contra credores e simulação) e acarretam, quando alegados e provados, 
a anulação e não a nulidade do negócio. No caso da simulação, entretanto, o atual Código a qua~ 
lificou como causa de nulidade do úegócio (art. 167). 
LI. Princípio da conservação do negócio jurídico 
Os defeitos, portanto, se situam no plano de validade do negócio, no entanto, a moderna 
tendência da doutrina e da jurisprudência é, sempre, ter em conta o chamado princípio da conser­
vação dos atos e negócios jurídicos, pelo qual, em sendo possível preservar-se a integridade do 
ato, será ele ajustado para melhor conservação da segurança jurídica. 
Com efeito, o respeito às situações jurídicas já consolidadas, muitas vezes, é altamente 
mais salutar à segurança jurídica do que o desfazimento do ato, preferindo-se, portanto, manter~se 
a integridade do negócio com a indenização a quem de direito. 
Importante salientar, a esse respeito, que a solução já se encontra, inclusive, na lei, quando 
se percebe, por exemplo, no Código de Defesa do Consumidor, que dispõe, em seu art. 6°, V, a 
revisão ou modificação e não anulação de cláusulas nulas ou lesivas; no caso da lesão no Código 
Civil, em que o art. 157, § 2°, reza que não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido 
suplemento suficiente, ou se a partejàvorecida concordar com a redução do proveito, ou mesmo 
nas situações excludentes da invalidade por erro ou dolo, em função da não essencialidade do 
equívoco da parte na declaração de vontade. ..~· 
~ --------------------..... 
I 
378 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastiáo de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
A doutrina (cf. ROSENVALD e FARIAS-: op. cit., p. 419-420) identifica, ainda, normas 
posítivadoras do princípio da conservação nas regras autorizadoras da conversão, da ratificação e 
da redução do negócio jurídico. Acrescentaremos a essas a possibilidade, também, de revú·ão do 
negócio. Vejamos, portanto, cada uma dessas hipóteses: 
a) Conversão substancial do negócio jurídico: os negócios anuláveis podem ser ratificados pela 
vontade das partes, como veremos adiante; mas os negócios nulos não podem ser confim1ados 
nem convalidados pelos agentes, a não ser que contenham, de forma válida, os requisitc~s de 
outro e seja permitido supor que este era o efeito querido pelas partes, se houvessem previsto 
a nulidade. É o que ostenta o texto do art. 170 Jo Código Civil, verbis: "Se, porém, o negócio 
jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as 
partes permitir sup01· que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade". 
A isto se dá o nome de conversão do negócio jurídico: suponha-se que determinado cida­
dão, devedor de outro, preenche-lhe uma nota promissória, no entanto, sem todos os requisitos 
exigidos pela lei: nesse caso, o negócio não valerá como nota promissória, pois ocorre nulidade 
em virtude de não revestir a forma prescrita em lei. Portanto, não vale como título de crédito 
para aparelhar processo de execução; entretanto pode ser convertido em declaração particular de 
confissão de dívida, podendo ser utilizado como prova em processo de conhecimento, ou, por se 
tratar de documento escrito que materialize uma obrigação, mas sem força executória. poderia 
servir de obj.eto para ação monitória 
b) Ratificação do negócio jurídico: Sendo anulável o negócio, é admitido que os agentes 
expressem a sua vontade no sentido da sua ratificação, ou, como preferem alguns, sanação, 
convalidação ou mesmo corifirmação, expressão utilizada pelo art I 72 do Código Civil: "O 
negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro". 
Frisando, desde logo, que não é possível a mesma atitude quanto ao ato nulo (CC, art. 169), 
devemos lembrar que o negócio anulável pode ser ratificado somente pelas partes, inclusive com 
efeitos ex tunc e de forma: 
bl) expressa,. quando os agentes instrumentalizam a vontade confirmatória através de ter­
mo próprio em que afirmam expressamente o intento de manter o negócio. Observe-se, 
por relevante, que, nos tennos do art. 173, "o ato de col'!firmaçào deve conter a subs­
tância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo"; 
b2) tácita, quando as partes praticam atos incompatíveis com a pretensão de rescindir o negó­
cio, basicamente quando cumprem o objeto contratual. A confirmação tácita encontra esteio 
no art. 174 do Código Civil que dispõe que "é escusada a confirmação e..tpressa, quando o 
negócio já foi cumprido em parte pelo devedm; ciente do vício que o inquinava". 
Dessas conclusões ressai o entendimento exposto no art. 175, segundo o qual "a confirma­
ção expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, 
importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor". Com 
efeito, ofenderia a boa-fé objetiva o ato do devedor de negócio jurídico anulável que, mesmo 
depois de sua confirmação expressa ou tácita, intenta questioná-lo em juízo. 
c) Redução do negócio jurídico: a redução do ato ou negócio jurídico resulta da aplicação do 
art. 184 do Código Civil, verbis: "Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de 
um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade 
da obrigação principal implica a das obrigaçõesacessórias, mas a destas não induz a da 
obrigação principal". 
Cap. VIl· DEFEITOS DO NEGÓCIOJURIDICO '379 
·~-~------ ------~-~--- ~ ~---------
Com efeito, quando os elementos do negócio jurídico implicarem em múltiplos agentes ou 
objetos, a invalidade pertinente a um ou mais desses elementos não implicará necessariamente 
em prejuízo para os demais, desde que sejam válidos e independentes, com a redução da parte 
inválida e aproveitamento da parte válida. 
Em outras palavras, como lembra Humberto Theodoro Júnior (2003, p. 635), a invalidade par­
cial ocorre quando"o vício invalidante se referir apenas a uma ou algumas cláusulas, sem atingir o 
núcleo do negócio jurídico". Vale dizer: se os elementos do negócio são inseparáveis, porque depen­
dentes entre si, descabe falar em redução do negócio com aproveitamento de alguma de suas partes. 
Imagine-se, como exemplo de invalidade parcial que não contamina o núcleo do negócio, 
portanto pass[vel de redução e aproveitamento, a compra e venda em que seja estabelecida for­
ma de pagamento inválida (em moeda estrangeira, por exemplo): não se declara a invalidade do 
contrato de compra e venda, mas apenas a da forma de pagamento, subsistindo o contrato para 
o efeito de transmitir a propriedade e dando-se às partes a oportunidade de estabelecer forma de 
pagamento válida. 
Por outro lado, importante exemplo de invalidade parcial que culmina por fulminar todo o 
núcleo do negócio é o da aquisição de empresa em que o adquirente opera em erro essencial sobre 
o funcionamento de parte de seu equipamento: não calha à pretensão do alienante sustentar a apli­
cação do princípio da conservação do negócio jurídico através da redução e aproveitamento da 
parte válida quanto à parte do maquinário em regular funcionamento, se a vontade do adquirente 
era voltada justamente para a parte que se revelou inviável. O caso, aliás, é pinçado da jurispru­
dência do STJ, cuja transcrição se vê a seguir: 
DIRJ31TO CIVIL CONTRATOS. RESCISÃO, PRÉVIA CONSTITUIÇÃO EM MORA. NECESSI­
DADE. EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO. REQUISITOS. NULIDADE PARCIAL 
MANUTENÇÃO DO NÚCLEO DO NEGÓCIO JURÍDICO. BOA-FÉ OBJETIVA. REQUISITOS. 
[ ... ]~Nos termos do art. 184 do CC/02, a nulidade parcial do contrato não alcança a parte válida, 
desde que essa possa subsistir autonomamente. Haverá nulidade parcial sempre que o vício invalidante 
não atingir o núcleo do negócio jurídico. Ficando demonstrado que o negócio tem caráter unitário, 
que as partes só teriam celebrado se \·álido fosse em seu conjunto, sem possibilidade de divisão ou 
.fracionamento, não se pode cogitar de redução, e a invalidade é total. O princípio da conservação do 
negócio jurídico não deve afetar sua causa ensejadora, interferindo na vontade das partes quanto à 
própria existência da transação.[ ... ] Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 981.750/MG, 
ReL Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 23/04/2010). 
Anote-se, para esclarecimento, que, no voto condutor do acórdão, a eminente Ministra Re-
latora Nancy Andrighi assentou que 
[ ... ] aduzem os recorrentes que 'a negociação não envolveu tão somente a venda dos direitos de produção 
e comercialização do produto U-LOCK, mas também o equipamento ECONOFEST, suas patentes, a 
própria empresa Tecnopar Ltda., com todo o seu ativo e passivo', concluindo que 'dada a incontestável 
multiplicidade do objeto do contrato havido entre as partes, este não pode ser sumariamente rescindido 
no seu todo' [ ... ] Nesse contexto, Zeno Ve!oso anota que 'ficando demonstrado que o negócio tem caráter 
unitário, que as partes só teriam celebrado se válido fosse em seu conjunto, sem possibilidade de divisão 
ou fracionamento, não se pode cogitar de redução, e a invalidade é total' (Invalidade do negócio jurídi­
co. Belo Horizonte: De! Rey, 2002, p. 95). Vale dizer, o princípio da conservação do negócio jurídico 
não deve afetar sua causa ensejadora, interferindo na vontade das partes quanto à própria existência da 
transação. Na hipótese específica dos autos, fica claro que o cerne do negócio jurídico era a aquisição 
do sistema U-LOCK, tanto que, conforme admitem os recorrentes, os recorridos sequer se dedicaram à 
comercialização do equipamento ECONOFAST. Em outras palavras, não é possível destacar do contrato 
a aquisição do sistema ECONOFAST. O interesse na-transação só subsiste enquanto implicar na cessão 
do sistema U-LOCK, em perfeito estado de funcionamento, sem o que jamais teria havido a conclusão do 
negócio. Assim, a alegação de violação ao art. 184 do CC/02 não procede (idem). 
r·~8o : MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria Jzabel de Melo 
d) Revisão do negócio jurídico: o princípio da conservação do negócio jurídico, como vimos, 
impõe que, sempre que o juiz se deparar, no caso concreto, com ação de invalidade do ato, e 
for possível mantê-lo válido, apenas ajustando a vontade das partes ao conteúdo da lei e da 
equidade, deverá proferir sentença modificativa do conteúdo do negócio. 
Visando manter, portanto, a integridade dos negócios- em homenagem às situações consoli­
dadas - mas sempre respeitando, ao máximo, a vontade dos agentes, a lei irá autorizar a atividade 
integradora do jui\~. no caso concreto, para ajustar o conteúdo da avença aos princípios da boa-fé, da 
equidade e da função social do contrato, operando, então, o que chamamos de revisão do negócio. 
A jurisprudência tem se posicionado de fonna efetiva em tomo do princípio da conservação 
a fim de evitar a invalidação dos contratos, máxime em questões afetas ao Direito do Consumidor, 
como podemos ver dos seguintes exemplos: 
DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS SUJEITOS AO CÓDIGO DE 
DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA BOA-FÊ OBJETIVA. COMISSÃO DE PER1v1A­
NÊNCIA. VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES. DECOTE DOS EXCESSOS. 
PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDI­
GO CIVIL ALEMÃO. Art. 170 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. [ ... J 4. Constatada abusividade 
dos encargos pact1.1ados na cláusula de comissão de permanência, deverá o juiz decotá-los, preservan­
do, tanto quanto possível, a vontade das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem 
ao princípio da conservação dos negócios jurídicos consagrado nos arts. 139 e 140 do Código Civil 
alemão e reproduzido no art. 170 do Código Civil brasileiro. 5. A decretação de nulidade de cláusula 
contratual é medida excepcional, somente adota se impossível o seu aproveitamento. 6. Recurso espe­
cial conhecido e parcialmente provido. (REsp 1058114/RS, Rei. Ministra NANCY ANO RIGHI, Rei. 
p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, 
DJe 16/11/2010). 
Plano de saúde. Contrato. Disposições gerais e especiais. Ambiguidade. Interpretatio contra stipu1a­
torem. Ação procedente. L No contrato de consumo, entendido como tal a adesão a plano de saúde, 
as dúvidas ensejam interpretação aos interesses de quem o elaborou previamente. 2. Se as condições 
gerais do contrato prevê a cobertura da doença, maS excluída de fonna ambígua nas disposições es­
peciais, não é o caso de decretar a nulidade das cláusulas abusivas, mas de extrair delas o máximo de 
utilidade em favor do usuário, aplicando o princípio da conservação. Negado provimento por unanimi· 
dade (TJGO, Terceira Câmara Cível, Fonte: DJ 12809 de 22/05/1998). 
Podemos identificar, desde logo, como exemplos de cà.sos previstos no Código Civil que 
sejam autorizadores da revisão judicial dos negócios- em detrimento do reconhecimento de sua 
invalidade ou resolução- na lesão e no instituto da onerosidade excessiva. Deveras, ao dar prefe­
rência pela revisão -e não pelo desfazimento do negócio, a justiça permite que seja restabelecido 
o equilíbrio entre as prestações assumidas com o negócio, evitando assim um mal maior às partes, 
que se frustrariam completamente em suas expectativas se o contrato restar desfeito. 
Com efeito, a respeito da lesão,dispõe o CC/2002, por exemplo: 
Art. 157.0corre a lesão quando urna pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obri­
ga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. [ ... ] § 2Q. Não se decre­
tará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar 
com a redução do proveito. [ ... ] Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se 
a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente 
excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. 
A respeito, aliás, veja-se a conclusão da IIl Jornada de Direito Civil, em seu enunciado de n° 
149: "Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá condu­
zir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do 
magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2~ do Código Civil de 2002 ". 
L 
Cap. VIl • DEFEITOS DO Nti.:!ULIV JUn''"'''-'-' 
Por outro lado, a respeito da onerosidade excessiva, flagramos a possibilidade de revisão nos 
seguintes dispositivos contidos no Código Civil de 2002: 
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condi­
ções do contrato. Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá 
e!a pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a 
onerosidade excessiva. 
E também a respeito da onerosidade, a III Jornada de Direito Civil menciona, em seu Enun­
ciado n° 176, a preferência pela revisão em lugar da resolução do negócio. Veja-se: "Em atenção 
ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá 
conduzir, sempre que possivel, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual". 
Também na jurisprudência do próprio STJ se observa a tendência pela revisão dos negócios 
pela onerosidade excessiva, como se vê do seguinte julgado: 
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS DE COMPRA E VENDA 
DE SAFRA FUTURA DE SOJA. OCORRÉNC!A DE PRAGA NA LAVOURA[ ... ] ONEROSIDA· 
DE EXCESSIVA.[ ... ]- Não obstante a literalidade do art. 478 do CC/02- que indica apenas a 
possibilidade de rescisão contratual- é possível reconhecer onerosidade excessiva também para 
revisar a avença, como determina o CDC, desde que respeitados, obviamente, os requisitos es­
pecíficos estipulados na Lei civil. Há que se dar valor ao princípio da conservação dos negócios 
jurídicos que foi expressamente adotado em diversos outros dispositivos do CC/02, como no 
parágrafo único do art. 157 e no art. 170.- Na presente hipótese, porém, mesmo admitida a revi­
são, o pedido formulado não guarda qualquer relação com a ocorrência de onerosidade excessiva. O 
recorrente não pretende retomar o equilíbrio das prestações, mas transformar o contrato de compra e 
venda futura em um contrato à vista e com isso suprir eventuais discrepâncias entre suas expectativas 
subjetivas e o resultado apresentado em termos de lucratividade.{ ... }. Recurso especial a que se nega 
provimento. (REsp 977.007/GO, Rei. Ministra NANCY ANDRlGHI, TERCEIRA TURMA, julgado 
em 24/Il/2009, DJe 02112/2009). 
e) Renovação/repetição do negócio jurídico: A renovação ou repetição do negócio jurídico 
pode se dar em contexto de validade ou invalidade do ato que se quer renovar/repetir. Com efeito, 
a lei prevê, por exemplo, as renovações de contratos de locação (Lei 8.245/1991) e de planos de 
saúde (Lei 9.656/1998). 
Trata-se a renovação, nesse aspecto de negócio válido, de uma nítida intenção de dar con­
tinuidade a uma relação jurídica iniciada por um contrato de trato sucessivo e que, por natureza, 
se extingue com o tempo. Tem a renovação, portanto, o intuito de que se celebre novo contrato 
no qual as partes podem, inclusive, manter os itens do anterior e até mesmo fazer retroagir, caso 
queiram, os seus efeitos. É diferente da novação, a qual, como veremo~, tem como utilidade a 
extinção de uma obrigação anterior com a criação de uma nova dívida. 
Já no âmbito da invalidade dos negócios jurídicos, a renovação tem o sentido mais apropria­
do de repetição do negócio jurídico primitivo, o qual padece de algum defeito de nulidade ou 
anulabilidade. 
Difere-se da mera ratificação, pois nesta (a ratificação), que pode ser expressa ou tácita, exi­
ge-se que haja simplesmente a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo, 
ou ainda a prática de ato incompatível com a vontade de anular o negócio, como no pagamento 
pelo devedor que conhecia o vício. Ademais, a ratificação só se admite para os negócios anulá­
veis, e não para os nulos. 
Já a renovação/repetição do negócio só pode se dar de forma expressa, e nela não basta que haja a 
substância do negócio e a vontade expressa de máútê~lo; deve haver verdadeira repetição da prática do 
f 
f: 
I 
i 
382 ) MANUAL DE DIREITO CIVIL~ Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
ato, com todos os seus requisitos de existência, validade e eficácia. Além disso, a renovação vale para 
a consecução de efeitos tanto de negócios anuláveis quanto dos nulos de pleno direito. 
Por fim, a renovação ou repetição do negócio tem, como regra geral, apenas efeitos ex nunc, 
mas podem as partes, de comum acordo, emprestarem-lhe efeito retro-operante, desde que respei­
tados os direitos de terceiros de boa-fé. 
Um exemplo típico de negócio nulo, percebido pela jurisprudência do Superior Tribunal de 
Justiça, consta do seu Informativo 585, no qual se colhe precedente acerca de prática referente 
a negócio no qual houve falsificação de assinatura de só+Se de renovação de ato, não h:i efeito retroativo (ex tunc) em relação à data do negócio jurídico nulo 
celebrado. Trata-se de um novo negócio, completamente autônomo em relação ao primeiro {nulo), 
tendo validade, portanto, a partir da data em que for celebrado, desprezando-se completamente o tem­
po transcorrido entre o negócio jurídico nulo e o novo negócio realizadO. Nesse contexto, a escritura 
pública posteriormente celebrada pelo sócio prejudicado não pode ratificar (convalidar) o negócio ju­
rídico nulo, correspondente à alteração, mediante a falsificação de assinatura, do quadro societário da 
sociedade empresária. Se as partes signatárias da escritura pública tinham interesse em manter a trans­
ferência das cotas da sociedade empresária, deveriam renovar (repetir) o negócio jurídico. sem a falsi­
ficação da assinatura de quaisquer dos envolvidos, ocasião em que os efeitos seriam Yálidos a partir de 
então, isto é, a alteração do quadro societário somente se daria no momento do novo negócio. Não se 
desconhece entendimento de doutrina que defende que "se, por si só, a renovação do negócio nulo não 
retroage, nada impede que, pela autonomia da vontade, os contratantes deem ao negócio novo uma 
eficácia convencional com vigência a partir do tempo do negócio anterior (nulo)". Entretanto. no caso 
em análise, não é possível considerar a escritura pública celebrada como renovação do negócio jurídi­
co nulo, muito menos com efeito retroativo convencionado pelas partes. Ora, por se tratar de alteração 
de quadro societário, a renovação do negócio jurídico somente seria possível se as partes procedessem 
ao devido arquivamento dos atos perante o órgão registrador, qual seja, a respectiva Junta Comercial. 
Assim, a referida escritura pública não se presta para o fim de convalidar o negócio jurídico em ques­
tão, por ser o mesmo nulo de pleno de direito, tampouco é possível considerá-la como renovação do 
ato, tendo em vista a ausência de arquivamento na Junta Comercial. Vale registrar, ainda, que não se 
aplica ao caso o arl 170 do CC, o qual dispõe que: "Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os 
requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam 
1 
Cap. VIl • DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
querido, se houvessem previsto a nulidade." De fato, somente é possível converter substancialmente o 
negócio jurídico nulo em outro válido, isto é, dar-lhe nova roupagemjuridica, se preenchidos dois re­
quisitos legais, um objetivo e outro subjetivo. O primeiro refere-se à necessidade de que o negócio 
jurídico nulo contenha os mesmos requisitos do negócio que será convertido (validado). O segundo, de 
natureza subjetiva, consiste na vontade presumida das partes em realizar aquele outro negócio jurídico, 
caso houvessem previsto a nulidade. Na presente hipótese, contudo, não houve manifestação de vonta­
de de uma das partes acerca da realização do negócio jurídico em comento, isto é, da alteração socie­
tária da sociedade empresária, pois houve a falsificação da assinatura do sócio prejudicado, o que en­
sejou na transferência do controle societário sem o seu conhecimento. Logo, o sócio prejudicado não 
participou do ato nem teve ciência da transferência de suas cotas para terceiros, inexistindo, portanto, 
qualquer manifestação de vontade por ocasião da celebração do negócio jurídico, razão pela qual ine­
xiste o requisito subjetivo previsto no aludido dispositivo legal para poder viabilizar o instituto da 
conversão. Além disso, não se revela possível buscar a suposta manifestação de vontade do sócio pre­
judicado formulada na escritura pública celebrada posteriormente para tentar justificar a manutenção 
da alteração societária. A análise do requisito subjetivo deve ser aferida no próprio negócio declarado 
nulo, sob pena de se fazer letra morta o dispositivo do art. 169 do CC, que determina a impossibilidade 
de conva!idação do negócio jurídico nulo. Ainda que assim não fosse, a conversão, na hipótese em 
fOco, seria manifestamente inadmissível, porquanto a falsificação da assinatura de uma das partes 
corresponde a um ato ilícito, configurando, inclusive, crime previsto no CP, o que impossibilita a pro­
dução de qualquer efeito pelo ordenamento jurídico vigente. Da mesma forma, também não há que se 
falar em aplicação do art. 167 do CC: "É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se 
dissimulou, se Yálido for na substância e na fomm." Com efeito, o§ 1° deste dispositivo legal discipli­
na que "Haverá simulação nos negóciosjuridicos quando: I· aparentarem conferir ou transmitir direi­
tos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; TI- contiverem decla­
ração. confissão, condição ou cláusula não verdadeira; IfJ - os instrumentos particulares forem 
antedatados. ou pôs-datados." Ora, no caso em apreço, não se está diante de nenhum dos requisitos 
dencados acima que caracterizam a simulação. A simulação pressupõe um acordo entre os declarantes 
para a realização de um determinado negócio jurídico a. fim de infringir a lei 011 prejudicar terceiros de 
forma deliberada. Isto é, há verdadeiro conluio entre os contraentes do negócio jurídico celebrado, o 
que não ocorreu na espécie. Ora, se não houve a participação (manifestação de vontade) de um dos 
envolvidos no negócio jurídico, visto que sua assinatura foi falsificada, não há como se falar em exis­
tência de conluio entre as partes para fraudar terceiros. No caso, o sócio prejudicado não participou do 
negócio reterente à cessão das cotas da sociedade empresária a terceiros, só tendo ciência da falsifica­
ção de sua assinatura muito tempo depois, razão pela qual se revela equivocado aplicar o art. 167 do 
Cc. Diante do exposto, verifica-se a ocorrência de nulidade absoluta, consubstanciada na alteração 
contratual da sociedade empresária mediante a falsificação da assinatura do sócio prejudicado, sendo 
impossível a convalidação do ato pelas partes mediante escritura pública, tampouco reconhecer que 
houve renovação do negócio jurídico de forma válida, além de não ser a hipótese de conversão subs­
tancial (art. 170 do CC), nem de subsistência de negócio dissimulado (art. 167 do CC). REsp t .368.960-
RJ, Rei. Min. Marco Aurélio Bellizze,julgado em 7/6/2016, DJe 10/6/2016.- Info 585). 
• QUESTÃO ABERTA 
(TJ-DF -Juiz de Direito- DF/2008}Discorra sobre o "Principio da Conversão Substancial do Negó· 
cio Jurídico"? Foi acolhido pelo legislador civil? Justifique. 
Resposta: O presente tópico, no item a, fornece elementos para discorrer sobre a conversão substan­
cial do negócio jurídico, que foi acolhida pelo legislador no art. 170 do CC-2002. 
1.2. Forma de demonstração dos defeitos dos negócios jurídicos 
A forma de se demonstrar, em juízo, os defeitos no negócio jurídico é livre. O Novo Código 
de Processo Civil não traz mais expressa a vedação da ·prova exclusivamente testemunhal para 
os contratos de valor superior ao décuplo do salário mínimo (que existia no art. 401 do CPC re-
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
vogado), o art. 442 do novo Diploma Processual preconiza que: "a prova testemunhal é sempre 
admissivel, não dispondo a lei de modo diverso". 
Por outro lado, também o CPC-2Cll5 culminou por revogar regra de igual teor que era encar­
tada no art. 227 do Código Civil. 
Assim, e agora com mais vigor, a demonstração dos Vícios de Consentimento será sempre 
possível por via exclusivamente testemunhal, qualquer que seja o valor do negócio em discussão. 
Vejam-se, por oportuno\>, os arts. 444, 445 e, especialmente, o 446 do Novo Código de Processo 
Civil: 
Art. -i44. Nos casos em que a lei exigir prova escrita da obrigação, é admissível a prova testemunhal, 
quando houver começo de prova por escrito, emanado da parte contra a qual se pretende produzir a 
prova. Art. 445. Também se admite a prova testemunha!, quando o credor não pode ou não podia, 
moral ou materialmente, obter aprova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, depósito 
necessário, hospedagem em hotel ou em razão das práticas comerciais do local onde contraída a obri­
gação. Art. 446. É lícito à parte provar com testemunhas: I - nos contratos simulados, a divergência 
entre a vontade real e a vontade declarada; li -nos contratos em geral, os vícios de consentimento. 
Por questão didática, os defeitos do negócio situam-se em tópico à parte, tanto no Código 
como nos compêndios, dada a sua grande importância no estudo da formação das declarações de 
vontade. 
Após essa introdução necessária, podemos analisar cada uma das espécies de defeitos do 
negócio regulamentada pelo Código Civil. 
2. ERRO OU IGNORÂNCIA 
2.1. Conceito 
Considera-se erro a manifestação de vontade decorrente de percepção errada acerca de cir­
cunstâncias do negócio. lgnorãnc!a, por sua vez, é o desconhecimento dessas circunstâncias. En~ 
quanto o erro é noção afirmativa (percepção errada), a ignorância é concepção negativa (ausência 
de percepção). Ambos são tratados da mesma maneira. 
O erro ou ignorância se caracterizam pela circunstância de que, ciente da característica des­
conhecida, o agente não celebraria o negócio jurídico. Por isso diz-se que, para se anular o ato, o 
erro deve ser essencial ou substancial. É o que diz a primeira parte do art. 138: "São anuláveis 
os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial[. . .}" 
Ainda para se poder operar a anulabilidade do negócio o erro deve se caracterizar, também, 
pelo fato de ser escusável. Será escusável o erro quando se tratar de situação que, em circuns­
tâncias normais, seria cometido por pessoa de diligência normal. É o que advém da parte final 
do art. 138: "São anuláveis os negóciosjuridicos, quando as declarações de vontade emanarem 
de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face da.s 
circunstância.•;; do negócio". 
Afora os casos de aplicação do princípio da conservação do negócio, a consequência do erro 
será a anulabilidade do negócio. 
2.2. Características do erro como vício gerador da anulabilidade do negócio 
Vimos acima que, para tornar o negócio anulável, o erro deve ser substancial (ou essencial) 
e escusável. Vejamos, com vagar, cada uma dessas características: 
Cap. VIl • DEFEITOS DO NEGÓCIO JUR[DICO 
2.2.1. Erro substancial ou essencial 
É aquele que incide sobre elementos essenciais do negócio, elementos esses que, se conhe­
cidos da parte, o impediriam de realizar o trato. 
Confonne o art. 143, o erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de 
vontade. Em outras palavras, os tennos quantitativos expostos nos contratos escritos não são 
elementos essenciais, pois são passíveis de correção pelos próprios agentes. Por isso, o mero 
equívoco quanto às quantidades declaradas no instrumento negociai não invalida o ato, pois é 
possível a retificação do instrumento contratual para que nele constem os montantes corretos e 
queridos pelas partes. 
Por outro lado, em homenagem ao princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos, 
nos termos do art. 144, o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, 
a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da 
vontade real do manifestante. Pode ocorrer, portanto, o cumprimento voluntário do conteúdo do 
negócio real tanto pela parte equivocada como por aquela que não incide no erro. 
Assim, por exemplo, aquele que pensa estar tomando a coisa em empréstimo, quando na 
verdade se trata de locação, pode: cumprir o negócio, pagando o aluguel; ou pode rescindi-lo, 
provando o erro; de igual forma, o que não incide em erro pode se voluntariar a executar o ne­
gócio na exata forma pela qual a parte equivocada imaginava tratar-se. Figuremos que a parte 
incide em erro quanto à natureza do objeto contratado, imaginando tratar-se de imóvel livre e de­
sembaraçado, descobrindo, após, que se cuida de terreno ocupado por possuidores que já reúnem 
requisitos para a usucapião: nesse caso, poderá o alienante oferecer outro imóvel, caso o tenha e 
esteja disposto, intentando evitar a demanda anulatória. 
De acordo com o art. 139 do Código Civil, o erro substancial classifica-se em: 
a) error in ipso negotia: é o que interessa à natureza do negócio (art. 139, I, primeira parte), 
como no caso, por exempl.o, em que a pessoa contrai negócio de locação, pensando que se 
trata de comodato. Outro exemplo prático é o do mutuário do Sistema Financeiro da Habi­
tação que assina contrato de adesão refer~nte ao financiamento de imóvel comercial, cujas 
condições contratuais são desfavoráveis ao mutuário. 
b) ertor in re ipsa: é o que interessa ao objeto principal da declaração ou a alguma das quali­
dades a ele essenciais (art. 139, I, segunda parte). O erro sobre a coisa pode se denominar in 
corpore ou in substantia.Assim: (bl)O erro incorpore ocorre quando o agente contrata um 
objeto que, na verdade, pensa ser outro (ex.: aquisição de um determinado animal, pensando 
tratar-se de outro); (b2) O erro in substantia se dá quando o agente tem falsa percepção sobre 
características da coisa (ex.: aquisição de animal de uma detenninada raça, acreditando ter 
ela certas vantagens, como o gado leiteiro, quando, na verdade, não as tem). Também nesse 
contexto se vislumbra norma de concretização do princípio da conservação, ao se discipli­
nar, no art. 142, que "o erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declara­
ção de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se 
puder identificar a coisa ou pessoa cogitada". 
c) error in persona: conceme à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira 
a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante (art. 139, II). 
Ocorre quando a pessoa acredita estar contratando detenninada pessoa e, na verdade, contra­
ta outra (em sendo personalíssimo o objeto do negócio, como no caso de um famoso pintor, 
por exemplo). Pode ocorrer, também, quando o contratante erra sobre qualidade essencial 
da pessoa (contrata um pintor pensando trataf-se de um escultor, por exemplo; casa-se com 
-~~6 -~ MANUAL DE DIREITO C I V\ L- Sebastião de Assis Neto, Morcela de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
pessoa de má conduta criminal etc.). Já que, para viciar o ato, o erro deve ser essencial, 
também aqui se deve dizer que o erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a 
declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexm e pelas circunstân­
cias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada (art. 142). 
Importante questão atinente ao erro in persona se refere ao reconhecimento, em sede juris­
prudencial, da força dos vínculos parentais sócio-afetivos, de tal maneira que descabe tàlar em 
erro substancial no reconhecimento voluntário de filiação quando se estabelece, em seguida, a 
paternidade sócio-afetiva, o que tem impedido o sucesso de demandas negatórias. Veja-se, a título 
de ilustração: 
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO NEGATÓRlA DE PATiRNIDADE C/C RETIFICAÇAO DE RE­
GISTRO CIVIL EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO NUTRIDO DURANTE APRO­
Xll\1ADAMENTE VINTE E DOIS ANOS DE CONVIVÊNClA QUE CULMINOU COM O RECO­
NHECIMENTO JURÍDICO DA PATERNIDADE. VERDADE BIOLÓGICA QUE SE MOSTROU 
DESINFLUENTE PARA O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE ALIADA AO ESTABELECI­
MENTO DE VÍNCULO AFETIVO. PRETENSÃO DE ANULAÇÃO DO REGISTRO SOB O ARGU­
MENTO DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. IMPOSS!B!LIDADE. ERRO SUBSTANCIAL AFAS­
TADO PELAS INSTÂNCIAS ORDfNÁRIAS. PERFILHAÇÃO. IRREVOGABILIDADE. RECURSO 
ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.[ ... ] 11 ~O ora recorrente, a despeito de assentJr que 
tinha dúvidas quanto à paternidade que lhe fora imputada, ao argumento de que tivera tão-somente uma 
relação íntima com a genitora d.:: recorrido e que esta, à época, convivia com outro homem, portou-se 
como se pai da criança fosse, estabelecendo com ela vínculo de afetividade, e,após aproximadamente 
vinte e dois anos, tempo suficiente para perscrutar a verdade biológica, reconheceu juridicamente a paler­
nidade daquela; lll- A alegada dUvida sobre a verdade biológica, ainda que não absolutamente dissipada, 
mostrou-se inelevante, desinflnente para que o ora recorrente, incentivado, segundo relata, pela própria 
família, procedesse ao reconhecimento do reconido como sendo seu filho, oportunidade, repisa-se. em 
que o vínculo afetivo bá muito encontrava-se estabelecido; IV- A tese encampada pelo ora recorrente 
no sentido de que somente procedeu ao registro por incorrer em erro substancial, este proveniente da 
pressão psicológica exercida pela genitora, bem como do fato de que a idade do reeorrido corresponde­
ria, retroativamente, à data em que teve o único relacionamento íntimo com aquela, diante do contexto 
fático constante dos autos, imutável nà presente via, não comporta guarida; V- Admitir, no caso dos 
autos, a prevalência do vínculo biológico sobre o afetivo, quando aquele afigurou-se desínfluente para 
o reconhecimento voluntário da paternidade, seria, por via transversa, permitir a revogação, ao a!vedrio 
do pai-registra\, do estado de filiação, o que contraria, inequivocamente. a deten11inaçào legal constante 
do art. 1.610, Código Civil; VI~ Recurso Especial a que se nega provimento. (REsp 1078285/MS. ReL 
Ministro MASSAMJ UYEDA, TERCEIRA TURJ\.1A,julgado em 13/10/2009, DJe 18/08/2010) 
d) erro de direito (error in juris) o Código Civil de 2002 inovou ao estatuir que é erro subs­
tancial, também, o erro de direito, desde que não implique recusa à aplicação da lei e seja 
o motivo único ou principal do negócio jurídico. Ocorre, pois, quando o sujeito acredita na 
licitude do objeto do negócio, tendo motivos para tanto. 
Se se trata da ilicitude do objeto, tem-se erro de direito in re ipsa, como no caso da aquisição, 
por engano, de coisa inalienável (bens públicos ou bens particulares gravados com cláusula de 
inalienabilidade); se se trata da ilicitude do próprio negócio (conteúdo da declaração de vontade), 
trata-se de erro de direito in ipso negotia, como no caso da alienação de herança de pessoa viva 
(art. 426). 
Como se vê, a hipótese já admitia solução pelas demais modalidades de erro acima expostas. 
Além disso, a própria ilicitude do objeto ou do conteúdo do negócio faz com que se possa de­
mandar a sua nulidade, e não apenas a anulação em virtude do erro de direito por uma das partes. 
O que importa., decisivamente, é que não se viole o conteúdo do art. 3° da Lei de Introdução às 
Nonnas do Direito Brasileiro, ou seja, para que a parte possa invocar o erro de direito como causa 
I 
de anulação do negócio, não se pode caracterizar que o agente queira se escusar de cumprir a lei 
alegando seu desconhecimento. 
Tome-se como exemplo hipotético de que uma Medida Provisória tenha sido editada proi­
bindo a imp011ação de detenninados tipos de sementes transgênicas, supondo que após a edi­
ção desta medida provisória, alguém, em total desconhecimento da proibição legal, compra no 
exterior exatamente o tipo de semente vetada. O indivíduo não pode alegar que não conhecia a 
legislação, o teor da nonna, para "liberar" a entrada das sementes no país, prometendo que "não 
vai mais fazer isso[ ... ]"; isso seria negar aplicação à lei em vigor; ao contrário, poderia alegar 
que não conhecia a vedação legal para tentar desfazer o negócio jurídico, devolver as sementes e 
reaver o dinheiro pago por elas, alegando erro de direito. 
Pode-se exemplificar, também, com o caso da pessoa que adquire um imóvel, acreditando-o 
em área comercial (no qual pretende instalar um estabelecimento empresarial), mas, na verdade, 
trata-se de imóvel residencial, desde que seja possível demonstrar o desconhecimento dessa cir­
cunstância. 
O erro de direito aqui no Direito Ci·vil na verdade guarda semelhança com o erro de proibi­
ção do Direito Penal. Em ambos o agente sabe perfeitamente o que está fazendo, tem total cons­
cíência do que está a praticar, o que não sabe é que tal ato é proibido, é vedado pela lei. 
2.2.2. Erro escusável 
Para configurar o vício do consentimento, o erro deve ser inescusável, ou seja, de acordo 
com o art. 138, deve ser percebido por pessoa de diligência norma\ em face das circunstâncias 
do negócio. Isto quer dizer que, para anular o negócio, o juiz deve verificar se outra pessoa de 
diligência normal, nas mesmas condições, cometeria o mesmo erro. 
Como exemplo prático da escusabilidade do erro, podemos observar a seguinte situação: 
para financiamento de compra de um imóvel residencial, o cidadão vai à instituição financeira, 
que, valendo-se de contrato de adesão adredemente preparado em formulário próprio, entrega 
ao mutuário um modelo de financiamento de imóvel comercial. Veja-se que as circunstâncias do 
negócio são tais que autorizam concluir que, pela diligência normal do cidadão, é comum que o 
mutuário/consumidor cometa esse erro, máxime porque lhe é entregue um formulário simples­
mente para adesão, no qual consta contrato extenso e com várias cláusulas, o qual, no calor do 
momento, quase sempre não é lido na integralidade pelo beneficiário do sistema financeiro de 
habitação, inclusive sem qualquer incentivo por parte do funcionário do banco para que a leitura 
seja feita. Nesse diapasão, o erro cometido pelo mutuário é substancial e escusável, podendo ele 
anular o negócio ou exigir judicialmente a sua revisão, na forma do art. 144: "O erro não prejudi­
ca a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, 
se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante". 
Em sentido diametralmente oposto, podemos adaptar o mesmo exemplo e figurar que, ago­
ra, o cidadão busca financiamento bancário para adquirir imóvel comercial, sendo-lhe entregue 
formulário para preenchimento de empréstimo para aquisição de imóvel residencial: aqui, as 
circunstâncias levam à conclusão contrária, pois a experiência e contato diário com a situação 
faz inferir que o banco, através de seus prepostos, deve ter conhecimento dos termos contraiuais 
que devem ser apresentados ao consumidor. Assim, tr~ta-se de erro inescusável cometido pelo 
agente bancário e não assistirá à instituição financeira o direito à anulação ou revisão do negócio, 
para impor condições menos favoráveis ao mutuário (aquelas atinentes ao financiamento do imó-
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
vel comercial), o qual adquiriu legítima expectativa quanto ao conteúdo contratado. O caso ora 
exemplificado encontra esteio na jurisprudência do STJ: 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. IMÓVEIS ADQUIRIDOS NO ÂMBITO DO SIS­
TEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. UNIÃO FEDERAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA. IMÓ­
VEL COMERCIAL FINANCIADO COMO IMÓVEL RESIDENCIAL. COBERTURA DO SALDO 
DEVEDOR PELO FCVS. POSSIBILIDADE.[ ... ] 2. Incorrendo a Caixa Econômica Federal em erro 
inescusá\'el que consiste n"l celebração de contrato de financiamento de imóvel comercial por meio do 
Sistema Financeiro de Habitação, descabe, sobretudo diante da presunção de boa-fé do mutuário, o 
afastamento do beneficio previsto pela 8.004/90 (cobertura do saldo devedor pelo FCVS} quando da 
quitação do mútuo ao argumento de que o referido contrato poderia ter por objeto apenas imóvel re­
sidenciaL Precedentes. 3. Recurso especial improvido. (REsp 562.729/SP, Rei. Ministro JOÃO OT Á­
VIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/11/2006, DJ 06/02/2007, p. 283) 
Para esclarecimento, vejamos alguns trechos do voto do eminente ministro relator João Otá-
vio de Noronha em que transcreve argumentos do acórdão objeto daquele recurso especial: 
Sobre essa cláusula expressa de submissão do contrato ao SFH, sustenta a CEF -apelada a existência 
de erro de fato, consubstanciado em utilização errônea da impressão. Essa alegação, contudo, não apro­
veita à CEF~apelada., por diversas razões: a) primeiro, porque como bem consignouo juízo: 'o ônus 
da prova é de quem alega e a ré não provou que utilizou de outros recursos que não o do, S.F.H. para 
viabilizar o financiamento na aquisição do imóvel descrito na petição inicial' (v. fls. 100); b) segundo, 
porque a CEF possui como uma das suas finalidades institucionais a realização de operações de crédito 
pelo SFH. sendo, aliàs, a maior agente operacional do sistema, com a realização anula de milhares de 
contratos, constituindo, pois ero inescusável o financiamento de imóvel comercial pelo SFH, assina­
lando-se ademais que o contrat.o foi firmado em 1975 e a CEF somente verificou o seu erro em 1991, 
portanto, 16 anos :após a sua efetivação, quando então a constatação do alegado 'erro de fato' lhe era 
favoráveL Neste compasso, verificamos, de um lado, a existência de erro inescusável praticado pela 
CEF (ter realizado mútuo de imóvel comercial pelas regras do SFH) e de outro, a presunção de boa-fé 
dos apelanteslmutuários que não participaram da redação do contrato e não podem ser penalizados pelo 
misto de erro/torpeza da CEF. Deve-se prevalecer, pois, a presunção de boa-fé dos autores, presunção 
essa não infinnada pela CEF. 
Diante das circunstâncias do mundo moderno, a jurisprudência tem afastado várias hipóteses 
de erro, como nos casos de localização de imóveis e de existência de financiamento ou decreto 
desapropriatório sobre imóveis objeto de negócio jurídico, justamente porque, de acordo com os 
usos e costumes atuais, as partes contratantes têm acesso à obtenção de certidões negativas de 
ônus sobre imóveis, caracterizando-se, portanto, a incúria do comprador como ausência de díli­
gência nonnal nesse sentido. 
Veja-se, a respeito, a jurisprudência: 
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO. DAÇÃO EM 
PAGAMENTO. IMÓVEL. WCALIZAÇÃO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE SÓLIDA POSI­
ÇÃO NO MERCADO. ERRO INESCUSÁVEL. I. Não se há falar em omissão em acórdão que deixa 
de analisar o segundo pedido do autor, cujo acolhimento depende da procedência do primeiro (cumula­
ção de pedidos própria sucessiva). 2. O erro que enseja a anulação de negócio jurídico, além de essen­
cial, deve ser inescusável, decorrente da falsa representação da realidade própria do homem mediano, 
perdoável, no maÍs das vezes, pelo desconhecimento natural das circunstâncias e particularidades do 
negócio jurídico. Vale dizer, para ser escusável o erro deve ser de tal monta que qUalquer pessoa de 
inteligência mediana o cometeria. 3. No caso, não é crível que o autor, instituição financeira de sólida 
posição no mercado, tenha descurado-se das cautelas ordinárias à celebração de negócio jurídico ab­
solutamente corriqueiro, como a dação de imóvel rural em pagamento, substituindo dívidas contraídas 
e recebendo imóvel cuja área encontrava-se deslocada topograficamente daquela constante em sua 
matrícula. Em realidade, se houve vício de vontade, este constituiu erro grosseiro, incapaz de anular o 
negócio jurídico, porquanto revela culpa imperdoável do próprio autor, dadas as peculiaridades da ati-
Cap. VIl • DEFEITOS DO NEGOUU JUHlUtLV 
·-~---~---~-------~---- -·-·-
vidade desenvolvida.[ ... ] 5. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 744.311/MT, Rei. Ministro 
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,julgado em 19/08/2010, DJe 09/09/2010) 
Compra de direitos sobre apartamento financiado. Erro não caracterizado. Alegação de induzimento 
a erro, por falta de informação da ré e seu corretor, acerca da existência de saldo devedor, perante o 
agente financeiro, anterior a transação, e de infração ao art. 37, § 3", do CDC. Erro que, se existente, 
seria inescusável, por culpa própria por omissão. Prova inequívoca da inexistência de omissão dolosa, 
em anúncio de venda, veiculado por jornal. Sentença de improcedência correta (TAPR., Ac. 5724, 
12/5/!995) ApudNERY Jr., 3a ed., p. 243. 
Em que pese toda a construção jurídica em tomo da necessidade do erro ser escusável para 
a invalidação do negócio, tem-se notado certa tendência de eliminar esse requisito, em razão da 
adoção do chamado princípio da confiança. 
Com efeito, o Enunciado 12 da I Jornada de Direito Civil do CJF concluiu que "na sistemá­
tica do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio 
da confiança". 
Não obstante, mantemos a posição de que, para a anulabilidade do ato ou negócio, o erro 
precisa ser escusável, dado que a redação do art. 138 do Código Civil, como já vimos, exige que 
o erro seja próprio de uma pessoa de diligência nomml. 
Conquanto a característica da diligência nonnal (homo medius) seja intrínseca ao agente, 
revelando circunstâncias subjetivas de seu caráter, é ela a exata medida atual da escusabilidade do 
erro. Se, sopesados os fatores, concluir-se que o homo medius (pessoa de diligência normal) não 
cometeria o equívoco, tem-se que o erro é inescusável, portanto, não pode levar à anulabilidade 
do negócio. 
Não se exclui, com esse raciocínio, as demais possibilidades de desfazimento do negócio 
(redibição, resolução por onerosidade excessiva), nem de reparações decorrentes de eventual 
equívoco, ainda que inescusável, baseados na lei civil ou consumerista (cf. CDC, arts. 18 e 20). 
Mas o fato é que a exigência do requisito da escusabílidade prestigia com mais vigor o 
princípio da conservação dos negóçios, pois evita, com isso, a sua invalidação quando da sua 
ausência. 
2.3. Modalidades de erro que não anulam o negócio 
Em consequência do que já se disse, o erro não caracteriza vício de consentimento se for: 
a) erro acidental: é aquele que incide sobre elementos não essenciais do negócio, do objeto ou 
da pessoa, de sorte que sua presença não indica, em condições normais, que a parte deixaria 
de celebrar o negócio (exs.: a marca do pneu de um veículo, pessoa diversa em trabalho não 
personalíssimo etc.)~ 
b) erro inescusável: é o erro que não seria cometido por pessoa de diligência normal, em face 
das circunstâncias do negócio; 
c) pagamento indevido: reza o art. 876 que todo aquele que recebeu o que lhe não era devido 
fica obrigado a restituir. A disposição, referente ao pagamento indevido, leva à conclusão de 
que, se alguém recebeu o que não era devido, aquele que pagou operou em erro, o qual pode 
ser qualificado pelas suas várias modalidades, tanto no que se refere à pessoa que deveria re­
ceber ou do objeto do pagamento. A devolução daquilo que se pagou, na maioria das vezes, 
não supõe a invalidade do negócio subjacente, mas a mera restituição das partes (quem paga 
e quem recebe) ao estado anterior. 
390 MANUAL DE DIRElTO C!VIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
Diz o art. 877 que, para que faça jus à 'repetição do indébito (restituição da quantia indevi­
damente paga- ação de in rem verso), aquele que voluntariamente pagou o indevido deve provar 
tê-lo feito por erro (art. 877). Essa disposição, no entanto, deve ser interpretada em conjunto com 
o sistema jurídico a que for aplicada no caso concreto. É que, não raro, o devedor (solvens) está 
inserido numa relação de consumo, como no caso das relações bancárias, por exemplo. Imagine­
-se, pois, que o cliente bancário tem debitada, em sua conta-corrente, quantia referente a contrato 
que não celebrou, por erro nós sistemas de informática da instituição financeira. ' 
Por certo que a restituição do indébito deve se dar independentemente do consumidor de­
monstrar este erro, pois essa imposição ofende o sistema de proteção ac consumidor estatuído 
pelo CDC, máxime em face de seus arts. 6°, VIII e 51, IV 
Art. 6".São direitos básicos do consumidor:[ ... ] VIJI- a facilitação da defesa de seus direitos, 
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, 
for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de expe­
riências.[ ... ] Art. Sl.São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao 
fornecimento de produtos e serviçosque:[ ... ] IV- estabeleçam obrigações consideradas iníquas, 
abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a 
boa~ fé ou a eqüidade. 
Para tais situações, o STJ editou a Súmula no 322, segundo a qual para a repetição do in­
débito, nos contratos de abertura de crédito em conta-corrente, não se exige a prova do erro. 
Embora o texto sumulado não seja exaustivo, o mesmo se deve dizer dos lançamentos indevidos 
em faturas de cartão de crédito ou mesmo de hipóteses em que o consumidor, por ato voluntário 
equivocado, paga boletos bancários a si enviados sem que haja, por outro lado, solicitação do 
produto ou serviço alí referido. A respeito, a jurisprudência: 
REPETIÇÃO DO INDÉBITO. PROVA DO ERRO. CONTRATO BANCÁRIO. É dispensável a prova 
do erro no pagamento de contrato bancário para autorizar a repetição do indébito, pois há de se presu­
mir que o pagamento decorreu de exigência do credor. Não é razoável considerar que tal pagamento 
a mais tenha sido feito conscientemente pelo devedor, a título de liberalidade concedida ao banco. 
Recurso conhecido e provido para julgar procedente a ação de repetição (REsp. 468.268/RS, rel. Min 
Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 30/06/2003, p. 259). 
2.4. Falso motivo 
O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como uzão determinante 
(art. 140). 
No Código antigo, a expressão utilizada era a falsa causa. Ampliando o alcance do dispo­
sitivo, o Código Civil de 2002 dispõe sobre o motivo, ou seja, a causa individual de cada parte. 
Se este motivo foi aposto expressamente no contrato como determinante para sua celebração, 
opera~se a sua anulabilidade. 
Assim, para que a compra de um estabelecimento comercial, por exemplo, seja anulável, 
por discrepância entre o faturamento prometido e o real, é necessário que referido motivo esteja 
expresso como determinante no próprio instrumento negociai, caracterizando-se, portanto, como 
causa de agir comum de ambas as partes, inclusive do adquirente. 
Outro exemplo constantemente citado é o da contratação de transporte de coisa para ser 
levada em detenninado veículo quando o contratante acredita que esse veículo (um navio, por 
exemplo) passará por determinado local. Trata~se da causa da contratação (crença no referido 
trajeto); revelando-se, posteriormente, que o veículo não passaria pelo referido local, o negócio 
pode ser anulado pelo falso motivo, ainda que este seja individual do contratante. 
Cap. VIl • DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 1 391 
2.5. Erro por representação 
Quando a declaração errônea da vontade se der por interposta pessoa (art. l4l) ou por 
meios interpostos (epistolares, eletrônicos etc.), a incidência do erro ou ignorância faz viciar o ato 
como o taria pelo meio direto, desde que se caracterizem todos os requisitos para o erro direto, 
quais sejam, a essencialidade e a escusabilidade. 
i 
3.DOLO 
3.1. Conceito 
O dolo se diferencia do erro no seguinte aspecto: o erro é a manifestação da vontade, de 
fonna \'oluntária, por quem desconhecia a verdade a respeito de circunstâncias do negócio. O 
dolo, diversamente, ocorre quando a parte que incide em erro é induzida a tanto por outra pessoa. 
Via de regra, enquanto o erro conduz apenas à anulação do negócio, com retomo das partes 
ao estado anterior, o dolo, pela sua natureza, tem o efeito de impor àquele que se manifestou 
dolosamente não apenas retornar o estado anterior da outra parte, mas, também, indenizar-lhe as 
perdas e danos decorrentes da realização do negócio. 
Para que conduza à anulabilidade do negócio, o dolo, assim como o erro, deve ser essencial 
ou substancial e, na forma do art. 145, deve ser a causa de sua celebração. 
O dolo pode ser: 
3.2. Dolo comissivo 
Ocorre por ação do agente, no sentido de induzir a outra parte a erro sobre circunstâncias do 
negócio, de seu objeto ou da pessoa com quem se contrata. Subdivide-se em: 
Dofosmafus 
é o que se caracteriza, realmente, pela malícia, pelo 
engodo prOvocado por uma das partes para enganar a 
outra. Autoriza a anulação do negócio. 
3.3. Dolo omissivo 
caracteriza-se por ser a exacerbação das qualidades do 
negócio por uma das partes, sem correspondência com 
a realidade. É tolerado pelo direito e não autoriza a anu­
lação do negócio, mas apenas eventual direito de Indeni­
zação de prejuízos (princípio da conservação). 
Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato 
ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela 
o negócio não se teria celebrado( art. 147). 
Assim é que, se uma das partes silencia sobre um defeito da coisa que, se conhecido da outra, 
faria com que não se realizasse o negócio (dolo essencial), tem-se o ato como anulável. 
Assim, por exempiQ se o alienante de uma porção de terras silencia, durante a celebração do 
contrato, acerca da existência de posseiros em parte da propriedade (dos quais ele tinha ciência), 
o adquirente pode demandar a anulação do negócio por dolo omissivo. Suponha-se até mais: que 
esses posseiros estejam ocupando parte da terra há tempo suficiente para adquirir a porção pela 
usucapião. Tem-se, então, Cfl.SO de erro sobre circunstância essencial do objeto do negócio; esse erro 
foi determinado por omissão dolosa do fato por parte do alienante; autoriza-se, portanto, a anulação 
do contrato. 
[ 39;·~ MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastiáo de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
3.4. Dolo acidental 
O dolo acidental é conceituado pelo art. 146, segunda parte: é acidental quando, a seu des­
peito, o negócio seria realizado, embora por outro medo. Podemos exemplificá-lo com a compra 
de um trator quando o vendedor, dolosamente, diz que o modelo de fabricação é um ano mais novo 
que o da realidade. Se se provar que o comprador, ainda assim, realizaria o negócio, embora por 
preço mais módico, autoriza-se apenas a satisfação das perdas e danos e não a anulação do negócio. 
O dolo acidental só obriga à satísf\lÇão das perdas e danos, portanto, não opera a anulabili­
dade do negócio, justamente porque não é essencial ou substanciaL 
3.5. Dolo de terceiro 
Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro não integrante da relação 
negociai, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento. 
Em caso contrário, ou seja, de desconhecimento do dolo por ambas as partes, ainda que 
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem 
ludibriou (art. 148). 
Assim, se a parte a quem aproveite o dolo não tenha conhecimento dele ou não o qevesse ter, 
subsiste a validade do negócio, mas o terceiro responde por perdas e danos. 
Casos ocorrem em que o terceiro em questão não é completamente alheio a uma das partes, 
pois o dolo pode derivar de ato de um representante legal ou convencional do agente. Para cada 
um desses casos, a lei dá soluções diversas: 
a) Dolo do representante legal: O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o 
representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve (art. 149,primei~ 
ra parte). Isto é assim porque, ao contrário do que ocorre com o representante convencional, 
a parte não tem direito a escolher seu representante legal, pois este já é automaticamente 
previsto em lei; 
b) Dolo do representante convencional: se, porém, o dolo for do representante convencional, 
o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos (art. 149, segunda 
parte). Veja-se, a propósito, precedente sobre dolo do representante convencional, fazendo 
desaparecer os efeitos do negócio invalidado: 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO. RESCI­
SÃO DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁ­
RIA. REPERCUSSÃO NO PRESENTE FEITO. PROCESSO EXTINTO. RECURSO ESPECiAL 
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. 
[ .•. } 11. Decretada a nulidade do contrato de financiamentocom cláusula de alienação fiduciária ce­
lebrado entre as partes, em face do reconhecimento de vício consubstanciado em indução dos deve­
dores em erro substancial por terceiro que intennediou o negócio, desaparecem, em conseqüência, os 
efeitos dele decorrentes, entre os quais a possibilidade de o credor intentar ação de busca e apreensão 
do veículo jamais entregue aos compradores-réus, a qual fora convertida em depósito. III. Dissídio 
jurisprudencial não configurado, por desatender aos requisitos regimentais. IV. Recurso especial não 
conhecido. (REsp 122.433/ES, Rei. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, 
julgado em 06/1211999, DJ 28/02/2000, p. 85) 
3.6. Dolo recíproco 
Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou 
reclamar indenização (art. 150). Esse preceito consagra o princípio nemo auditur propriam turpi­
tudinem suam allegans (a ninguém é dado alegar, em seu proveito, sua própria torpeza). 
Trata-se, nesse caso, de privilegiar a boa- fé de terceiros que, em determinados casos, possam 
ser prejudicados por negócios anteriores em que haja incidido dolo de ambas as partes contratan­
tes. Veja-se o caso daquele que adquire um bem de pessoa que o detém através de um ato nulo, 
cuja invalidade tenha sido provocada em conjunto entre esse proprietário anterior e aquele que 
lhe alienou a coisa. Não pode, portanto, o terceiro de boa-fé, que adquire depois o objeto, ser pre­
judicado por esse dolo. Por igual, não pode nenhm11a dessas pessoas, que causaram a invalidade, 
invocar a sua torpeza {doutrina do nemo potes f venire contra factum proprium) para demandar 
a invalidade da aquisição por quem estava de boa-fé. Veja-se, em caso semelhante, o seguinte 
julgado do Superior Tribunal de Justiça: 
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL TÍTULO DE PROPRIEDADE OUTORGADO PELO 
PODER PUBLICO, A TRAVES DE FVNClONARIO DE ALTO ESCALÃO. ALEGAÇÃO DE NU­
LIDADE PELA PROPRIA ADMINISTRAÇÃO, OBJETIVANDO PREJUDICAR 0 ADQUIREN­
TE: INADMISSIBILIDADE. ALTERAÇÃO NO POLO ATIVO DA RELAÇÃO PROCESSUAL NA 
FASE RECURSAL: IMPOSSIBILIDADE, TENDO EM VISTA O PRINCÍPIO DA ESTABILIZA­
ÇÃO SUBJETIVA DO PROCESSO. AÇÃO DE fNDENIZAÇÃO POR DESAPROPRlAÇÃO rN­
DlRETA. INSTITUIÇÃO DE PARQUE ESTADUAL. PRESERVAÇÃO DA MATA INSERTA EM 
LOTE DE PARTICULAR. DIREITO A INDENIZAÇÃO PELA INDISPONIBILIDADE DO IMO­
VEL, E NÃO SÓ DA MATA. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. RECURSOS PARCIALMENTE 
PROVIDOS. I- Se o suposto equivoco no título de propriedade foi causado pela própria ~dmi­
nistração, através de funcionário de alto escalão, não ha que se alegar o vício com o escopo de 
prejudicar aquele que, de boa-fé, pagou o preço estipulado para fins de aquisição. aplicação dos 
princípios de que "nemo potest venire contra factum proprium" e de que "nemo creditur turpi­
tudinem suam allegans". [ ... ]IV -RECURSOS ESPECIAIS CONHECIDOS E PARCIALMENTE 
PROVIDOS. (REsp 47.015/SP, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, SEGUNDA TURMA, julgado 
em 16.10.\997, DJ 09.12.1997 p. 64655) 
Outro exemplo dessa situação pode ser talhado na seguinte hipótese: Pôncio anuncia no jor­
nal a venda de um aparelho eletrônico; Judas, que mora em uma cidade a quinhentos quilômetros, 
lê o anúncio e entra em contato com Pôncio, via telefone. Fecham o negócio, portanto, combi­
nando que Judas depositará o valor da compra através de caixa eletrônico em sua cidade e que 
Pôncio, após verificar que o depósito foi feito, despachará a mercadoria via correio. Ocorre que 
Judas inseriu no caixa eletrônico do banco um envelope vazio, fazendo apenas a declaração do 1: 
valor da compra. Nessas situações, o titular da conta-corrente não tem como saber da manobra se-
não após a conferência do envelope pela agência bancária; a ele parece que o valor realmente foi i;.· 
depositado. Pôncio, então, após verificar o "depósito", envia uma correspondência, pelo correio, 
no entanto, remete uma caixa que contém apenas papéis amassados, sem a mercadoria objeto do 
negócio. Como se percebe, ambos os contratantes tiveram a intenção de enganar o outro: Pôncio 
intentou receber o valor sem remeter a mercadoria, enquanto Judas queria receber a mercado-
ria sem depositar a quantia combinada pela compra. Caracterizado, portanto, o dolo recíproco, 
nenhum deles poderá invocar .a ação dolosa do outro para demandar a anulação do negócio ou 
qualquer espécie de indenização. 
4.COAÇÃO 
4.1. Conceito 
Ocorre coação, segundo o art. 151 do Código Civil, quando a declaração de vontade emana 
de uma ameaça grave ao paciente, de fonna a lhe incutir fundado temor de dano iminente e 
considerável à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. 
O Código Civil trata, portanto, da chamada vis compulsiva, ou seja, a violência moral, que 
se caracteriza pela ameaça grave e concreta 
i 394 ' MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastiáo de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria /zabel de Melo 
Quando se tratar de violência física, hiPótese em que o agente se encontra não em situação 
de iminência de dano, mas de atualidade de dano à sua pessoa, a doutrina a denomina de vis ab­
soluta. Essa hipótese não é tratada por este capítulo. Neste caso, falta ao negócio jurídico um de 
seus elementos essenciais no plano de existência, qual seja, a vontade. Se a pessoa se manifesta 
sob violência física (vis absoluta), não existe vontade, portanto, não existe negócio jurídico, 
podendo esta inexistência (para alguns, nulidade) ser declarada de oficio, com efeitos e.x runc e 
sem possibilidade de convalidação pelas partes. 
Repare que, ao se defender que a coação absoluta é fator de inexistência consideramos a 
questão sob o prisma dos elementos de existência do negócio. Assim, se falta um deles, o negócio 
não existe completamente. 
Para quem defende que o caso é de nulidade, identifica-se a invalidade quanto à capacidade 
do agente, pois, ao manifestar vontade sob agressão física, o sujeito se encontra transitoriamente 
incapacitado de declará-la validamente, pois não tem discernimento suficiente, na situação es­
pecífica, quanto ao efeito jurídico do ato praticado. O efeito desejado pelo agente é se livrar da 
agressão sofrida. 
Ambos os sistemas apresentam vantagens, pois, em qualquer caso, o negócio não pode pro­
duzir qualquer efeito. 
Por se tratar de hipótese excepcional à validade dos negócios e, tendo em vista o principio 
da conservação dos negócios jurídicos, a coação deve sempre ser objeto de comprovação inequí­
voca. Sobre o tema, a jurispmdência: 
APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO. CONTRATO DE CO!VI­
PROMISSO DE COMPRA E PROCURAÇÃO PGBLJCA. COAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPRO­
VAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. PRELIMINAR DE MÉRITO. PRESCRIÇÃO. PREJUDICADA. l-A 
coação, como defeito do ato jurídico, é fato que não pode ser tido como evidenciado com base em 
simples presunção, exigindo-se para sua comprovação prova inequívoca. TI- Compete ao autor a prova 
do fato constitutivo de seu direito, à luz do art. 333, I, do Código de processo civil. Não evidenciada a 
ilicitude do negócio, este não merecer.ser anulado. Ill- Não comprovada a ocorrência de coação. res­
tou prejudicada a análise da prescrição alegada pelo apelado. Apelação conhecida e ~mprovida (TJGO 
- la Câmara Cível, Fonte: DJ 229 de 03/12/2008). 
4.2. Elementos caracterizadores da coação 
A ameaça, para constituir coação, deve ser: 
a) Ameaça injusta: a ameaça, para caracterizar a coação, deve corresponder à manifestada 
intenção do coator de causar ao paciente (ou coacto) dano injusto e iminente. Se a ameaça 
disser respeito ao exercício regular de direito pelo coator, não se caracteriza a injustiça, con~ 
forme o art. 153. Se o dano prometido não for iminente, ou for sabidamente impossível de se 
concretizar, não se caracteriza a alteração substancial da liberdade na declaração de vontade 
do agente, a ponto de implicar em invalidade do negócio. 
Exemplo típico de coação moral por ameaça injusta é o do empregador que obriga o empre­
gado à realização de determinado negócio, sob ameaça de dispensa, como se pode verificarda 
jurisprudêÍlcia: 
ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO VÍCIO DE CONSENTIMENTO CONDENAÇÃO POR DANOS 
MORAIS OCORRÊNCIA DOS EFEITOS DA REVELIA APELO PROVIDO. I. A abertura da em­
presa em nome da Apelante, sob ameaça de perda de emprego, justifica a anulação desse ato jurídico 
por manifesto vicio de consentimento. Artigo 98 do Código Civil (CC-2002, art. 151). 2. A utilização 
indevida do nome da Recorrente no meio comercial, legitima o recebimento de indenização por danos 
morais. Artigo 5°, inciso X, da Constituição FederaL Jurisprudência. 3. A ocorrência dos efeitos da 
o 
o ,, 
revelia não pode estar adstrita à apresentação de documentos, cuja presunção de veracidade dos fatos 
supõe estar em poder dos Apelados-revéis. Artigos 319 e 334, inciso IH, ambos do Código de Processo 
Civil. Doutrina. (TJPR. Terceira Câmara Cível. APELAÇÃO CÍVEL W 121667-7. Relator: Desem­
bargador Antônio Prado Filho. Julgado em 18.06.2002) 
b) Ameaça de dano dirigida à pessoa do paciente, à sua familia ou aos seus bens: A coação, 
como se vê, pode decorrer de ameaça de dano material ou pessoaL Se o coator ameaça cau­
sar ~ano pessoal ao paciente ou pessoa de sua família, trata-se de dano pessoal; se promete 
causar dano aos bens do coacto, trata-se de dano material. Segundo o parágrafo único do art. 
151, se a ameaça disser respeito a pessoa que não seja da família do paciente, cabe ao juiz 
verificar, segundo o caso, se houve coação, de acordo com a estreiteza das relações existen­
tes entre o paciente e a pessoa (noivo, namorado, pai de criação, amigo íntimo etc.) 
c) Ameaça capaz de incutir no paciente o fundado temor de dano: se, de acordo com as circuns­
tâncias do caso, o juiz verificar que a ameaça feita pelo coator não é capaz de incutir no paciente 
um temor real de que o dano vá ocorrer, não se reconhece a coação. Para tanto, prevê o art. 152 
que "no apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o tempera­
mento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela". 
4.3. Ameaça de exercício regular de direito e temor reverencial 
Em respeito ao preceito de que a ameaça deve ser séria e capaz de influenciar a liberdade 
na declaração de vontade, dispõe o art. 153, primeira parte, que "não ocorre coação se se tratar 
de simples ameaça de exercício regular de um direito", como, por exemplo, a promessa feita pelo 
credor ao devedor de que, em não sendo paga a dívida, aquele ajuizará a ação judicial cabível. 
Diversamente, no entanto, se ocorrer ameaça de exercício abusivo de um direito (CC, art. 
187), pode ser caracterizada a coação, como na hipótese de o credor prometer ao devedor que, se 
não adimplido o débito, divulgará na imprensa a inadimplência, o que, evidentemente, refoge às 
finalidades econômicas e sociais do direito de cobrança. 
Veja-se, por exemplo, que a reiterada cobrança de dívida já quitada, com ameaças de inscri­
ção do devedor em cadastro restritivo de crédito, pode configurar hipótese de dano moral, ainda 
que o cadastro não venha a ser efetivado, em virtude do abuso do direito de cobrança pelo fato do 
pagamento já ter sido feito. Confira-se, por oportuno: 
PROCESSO CIVIL AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGATIVA DE PROVIMENTO. AGRAVO 
REGIMENTAL. DANO MORAL INDENIZAÇÃO. REITERADAS COBRANÇAS DE DÍVIDA JÁ 
QUITADA. 1. Nas peculiaridades da espécie, a insistente cobrança de dívida já quitada, inclusive com 
ameaças de inclusão do nome no Serviço de Proteção ao Crédito e demais cadastros semelhantes, não 
obstante a apresentação do recibo de pagamento pela autora em todas as oportunidades que foi cobra­
da, enseja ofensa moral. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 645.308/BA, Rei. Ministro 
JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 03/05/2005, DJ 01/07/2005, p. 548) 
Também pelo mesmo motivo, não se considera coação a realização do ato em função de 
mero temor reverencial do agente (art. 153, segunda parte). O temor reverencial se caracteriza 
pelo receio do agente de desagradar os pais ou outra pessoa a quem se deve respeito, como outros 
familiares, sacerdotes ou pessoas do convívio íntimo. 
Embora a circunstância interfira na declaração livre da vontade do agente, preferiu o le­
gislador (já desde o CC-16, art. l 00) optar pela consenração da validade do negócio, já que, 
na prática, a celebração do negócio por respeito às pessoas acima exemplificadas culmina por 
se configurar em uma opção feita pelo próprio agente, !J1Uitas vezes desconhecida, até, da parte 
com quem contrata. Figure~se, para efeito didático, o caso do agente que, por temor reverencial, 
inscreYe-se em concurso vestibular para um detenninado curso somente por ser do agrado de seus 
396 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastióo de Anis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
pais: não poderá esse agente postular a invalidade do negócio em detrimento da instituição de 
ensino, pois optou, segundo suas conveniências pessoais, por adentrar ao curso de agrado de sua 
família, ao invés daquele que idealizava. 
4.4. Coação exercida por terceiro 
Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter co­
nhecimento a parte a quem aproveite, e esta n\sponderá solidariamente com aquele por perdas e 
danos (art. 154). 
Entretanto, na fonna do art. 155, subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de ter­
ceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento: mas o autor da 
coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 
S. LESÃO 
5.1. Conceito e caracterização 
De fonte romana, a lesão teve larga utilização no período do Direito canônico e' era carac­
terizada pela desproporção entre as prestações das partes em um negócio. Costuma-se falar, no 
Direito romano e no canônico, em lesão enorme e enormíssima. A primeira ocorria quando, em 
contrato de compra e venda. o bem fosse vendido por menos da metade de seu preço; na segunda, 
oconia desproporção superior a dois terços do valor da coisa (Cf NERY Jr., Nélson e NERY, 
Rosa Maria Andrade. Código Civil.. p. 157). Essa desproporção era contrária aos princípios da 
moral cristã e, portanto, repelida pelo ordenamento. 
A lesão é, ainda hoje, caracterizada pelo desequilíbrio na relação negociai. Como o próprio 
art. 157 do Código Civil informa, ocorre a lesão quando uma pessoa[..} se obriga a prestação 
man{festamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
Importante notar, desde logo, que, na lesão, ao contrário do estado de perigo (como veremos 
adiante), não se exige,. para a sua caracterização e geração do direito à anulação ou revisão do 
negócio, o chamado dolo de aproveitamento por parte do agente a quem o desequilíbrio entre 
as prestações favorece. 
O dolo de aproveitamento pode ser: (a) subjetivo, quando se refere à ciência do agente 
quanto a elementos atinentes à pessoa da outra parte, como premente necessidade de realizar o 
negócio ou inexperiência; (b) objetivo, quando decorre da intenção do agente de se locupletar de 
forma exagerada à custa do desequilíbrio manifesto entre a prestação por ele suportada (pequena, 
às vezes ínfima) e a da outra parte (grande, às vezes absurda). Veja-se que, embora situado na 
intenção do agente, esse elemento do dolo de aproveitamento é objetivo porque essa intenção é 
presumida e se demonstra pela simples desproporção entre as prestações. 
Pode até ser que o dolo de aproveitamento exista na prática, de tal sorte que o contratante 
favorecido pela lesão tenha conhecimento da necessidade ou inexperiência do outro, no entanto, 
não se exige que haja, por parte do agente, essa ciência ou mesmo a intenção de lograr lucro exa­
gerado em detrimento do outro componente da relação jurídica. 
Essa, aliás, a conclusão extraída pelo Enunciado no 150 da UI Jornada de Direito Civil: "A 
lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento". 
Célp. VIl • Utl"t:tlU::> vv t''-'·""'~·~ -~-·--·--
. -~-------~- -~----~----------- --------------------não pagar o 
mesmo preço oferecido por terceiro (CC, art. 515). 
Além dos exemplos acima citados, como a ocupação {apropriação de coisa sem dono) e a 
pintura--·-"---------------- -----
A lesão, no entanto, pode ser subjetiva (especial) ou objetiva (simples). Vejamos, de forma 
resumida, essas duas espécies. 
5.2. Espécies de lesão 
A lesão é: (a) objetiva ou simples: quando exige, para a anulabilidade do ato, apenas a 
manifesta desproporção entre as prestações das partes contratantes. (b) subjetiva ou especial: 
quando, além da desproporção, exige também características especiais das partes contratantes, 
como inexperiência, necessidade etc. 
Podemos ver, do texto legal, que, ausente do antigo Código, a lesão passou a figurar no 
Código Civil brasileiro de 2002, mas o legislador optou por adotá-la, no art. 157, em sua fom:.a 
especial ou subjetiva, pois o referido dispositivo, além de exigir a desproporção das prestações, 
determina que, para se caracterizar a lesão, precisa-se que a parte lesada seja inexperiente ou 
esteja sob premente necessidade. 
Parte inexperiente pode ser aquela que, embora maior, ainda conte com pouca idade ou 
aquela que viva em ambiente e condições socioeconômicas diversas das presentes no local em 
que se deu a contratação. 
Veja-se, na jurisprudência do STJ, exemplo de lesão pela inexperiência da parte contratante 
em virtude de condições socioeconômicas (analfabetismo) que a impediu de tomar ciência da 
desproporção entre as prestações: 
LESÃO. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS. ENGANO. DOLO DO CESSIONÁRIO. VÍCIO 
DO CONSENTIMENTO. DISTINÇÃO ENTRE LESÃO E VÍCIO DA MANIFESTAÇÃO DE VON­
TADE. PRESCRJÇÃO QUADRIENAL.- Caso em que innãos analfabetos foram induzidos à celebra­
ção do negócio jurídico através de maquinações, expedientes astuciosos, engendrados pelo inventarian­
te-cessionário. Manobras insidiosas levaram a eng;mo os irmãos cedentes que não tinham, de qualquer 
fonna, compreensão da desproporção entre o preço e o valor da coisa. Ocorrência de dolo, vício de 
consentimento.- Tratando-se de negócio jurídico anulável, o lapso da prescrição é o quadriena\ (art. 178, 
§ 9°, inc. V, "b", do Código Civil). Recurso especial não conhecido. (REsp 107.961/RS, Rei. Ministro 
BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 13/03/2001, DJ 04/02!2002, p. 364) 
Repare que, ao exigir o requisito da inexperiência, o Código Civil não se referiu a nenhuma 
forma particular de se caracterizar esse fator. Portanto, podemos dizer que a inexperiência pode 
ser: (a) gera~ quando se trata de pessoa que, de fato, nunca contratou ou não tenha o costume de 
fazê-lo; (b) particular. quando se trata de agente que, embora tenha o costume de contratar, seja 
inexperiente na modalidade específica de negócio do qual ressai lesada pelo desequilíbrio. 
Ambas as modalidades devem ser consideradas como autorizadoras da anulação do negócio, 
dado que não se pode coadunar com a possibilidade de alguém levar considerável vantagem com 
prevalência sobre situação pessoal da outra, que culmina por ser vitimizada pela desproporção 
entre as prestações. 
É o que se concluiu no Enunciado 41 O da V Jornada de Direito Civil do CJF, verbis: 
Enunciado 410. Art. 157. A inexperiência a que se refere o art. 157 não deve necessariamente signi­
ficar imaturidade ou desconhecimento em relação à prática de negócios jurídicos em geral, podendo 
ocorrer também quando o lesado, ainda que estipule contratos costumeiramente, não tenha conheci­
mento específico sobre o negócio em causa. 
Premente necessidade é qualquer circunstância que indique que, sem a realização do ne­
gócio, a parte sofrerá grave prejuízo em seus bens e direitos. A lei exige uma ou outra dessas 
circunstâncias. 
O legislador perdeu a oportunidade de adot3.r a lesão objetiva (que exige apenas a despropor­
ção entre as prestações) como forma genérica de se possibilitar a anulação ou revisão do negócio. 
Em que pese isso, o art. 413, paNe final, permite solução amparada em lesão objetiva, para a 
finalidade ali especificada, quando se determina a redução equitativa de multas contratuais se o 
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade 
do negócio. 
Por outro lado, o Código de Defesa do Consumidor trata, nas relações de consumo, de 
verdadeira lesão simples ou objetiva. 
O art. 6", V, primeira parte do referido Código prevê que são direitos básicos do consumidor 
[. .. ] V- a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações de!>proporcionais [. . .} 
Já o art. 51, IV, do mesmo diploma, dispõe que são nulas de pleno direito, entre outras, as 
cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:[. .. } IV- estabele­
çam obrigações consideradas iníquus, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem 
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. 
O Código do Consumidor, portanto, não exige caracteres subjetivos das partes contratantes 
para a configuração da lesão, que, portanto, nesse caso, é objetiva. 
Outra diferença entre o regime do CDC e o do Código Civil é o de que a lesão determina a 
nulidade de pleno direito da cláusula lesiva (art. 51, caput). A consequência é a de que se reputa 
de nenhum efeito, desde o nascedouro, a cláusula lesiva (efeito e.:r tunc da declaração de nulida­
de). lsso, no entanto, não impede a revisão ou modificação da cláusula (art. 6°, V), até porque o 
Código do Consumidor é utn estatuto flagrantemente revisionista, que busca adequar os contratos 
à sua função social e garantir a sua operabilidade, em pleno respeito ao princípio da conservação. 
5.3. Efeitos da invalidade do negócio pela lesão 
A lesão nem sempre acarretará a ànulação do ato, pois é possível adequá-lo, com o 
suplemento da prestação, pela parte privilegiada, ou através da aceitação, pela mesma parte, da 
redução do seu proveito. A e_por motivos posteriores à 
celebração do negócio, houver onerosidade excessiva para uma das partes, é possível ao devedor 
pedir a resolução do contrato, com efeitos que retroagem à data da citação. 
Mas a imprevisão não é a única possibilidade de revisão contratual prevista no Código Civil. 
A lesão, como vimos, também autoriza essa revisão (para o CDC, denomina-se modificação~ art. 
6". V). Outra possibilidade é a da redução da cláusula penal, nos termos do art. 413. 
Quando se verificar que as cláusulas contratuais não atendem à boa-fé objetiva ou à função 
social do contrato, também será possível a sua revisão, consoante prevê o art. 2.035, parágrafo 
único, do Código Civil: "Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pú­
/::lica, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade 
do estado de perigo. Pode até se caracterizar outro defeito, 
como a lesão, por exemplo, mas, sem o dolo de aproveitamento, não se tem estado de perigq. 
O Superior Tribunal de Ju.stiça exige abertamente o dolo de aproveitamento para o estado 
de perigo. Veja-se: 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SEGURO SAÚDE ANTERIOR À LEI 9.656/98. SUBMISSÃO DÜ 
SEGURADO À CIRURGIA QUE SE DESDOBROU EM EVENTOS ALEGADAMENTE NÃO CO-. 
BERTOS PELA APÓLICE. NECESSIDADE DE ADAPTAÇÃO A NOVA COBERTURA, COM VA-. 
LORES MAIORES. SEGURADO E FAMILIARES QUE SÃO LEVADOS A ASSINAR ADITIVO 
CONTRATUAL DURANTE O ATO CIRÚRGICO. ESTADO DE PERIGO. CONFIGURAÇÃO. É 
EXCESSIVAMENTE ONEROSA O NEGÓCIO QUE EXIGE DO ADERENTE MAIOR VALOR POR 
AQUILO QUE JÁ LHE É DEVIDO DE DIREITO. DANO MORAL CONFIGURADO.- O estado de 
perigo é tratado pelo Código Civil de 2002 como defeito do negócio jurídico, um verdadeiro vício do 
consentimento, que tem como pressupostos: (i) a "necessidade de sa.h·ar-se, ou a pessoa de sua famí­
lia"; (ii) o dolo de aproveitamento da outra parte ("grave dano conhecido pela outra parte"); e (iii) 
assunção de "obrigação excessivamente onerosa".- Deve-se aceitar a aplicação do estado de perigo 
para contratos aleatórios, como o seguro. e até mesmo para negócios jurídicos unilaterais. - [ ... ] Assim, 
se determinado procedimento cirúrgico está incluído na cobertura securitária, não é legítimo exigir que o 
segurado se submeta a ele, mas não instale as próteses necessárias para a plena recuperação de sua saúde. 
-É abusiva a cláusula contratual que exclui de cobertura a colocação de "stent", quando este é necessário 
ao bom êxito do procedimento cirórgico coberto pelo plano de saúde. Precedentes. - Conquanto geral­
mente nos contratos o mero inadimplemento não seja causa para ocorrência de danos morais, a jurispru­
dência desta Corte vem reconhecendo o direito ao ressarcimento dos danos morais advindos da injusta 
recusa de cobertura de seguro saúde, pois tal fato agrava a situação de aflição psicológica e de angústia 
no espírito do segurado, uma vez que, ao pedir a autorização da seguradora, já se encontra em condição 
de dor, de abalo psicológico e com a saúde debilitada. Recurso Especial provido. (REsp 918.392/RN, Rei. 
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRATURMA, julgado em ll/03/2008, DJe 01104/2008) 
402 ! MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Morcela de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
6.3. Consequências da invalidade decorrente do estado de perigo 
Tem-se discutido, enfim, se a caracterização do estado de perigo deve acarretar sempre a 
invalidação do negócio ou se pode haver solução revisionista, com oferecimento de suplemento 
ou restituição pela parte a quem aproveitou o ato. 
Entendemos, sem embargo das opiniões em contrário, que, por se considerar o agente be­
neficiado em situação de má-fé objetiva (lembre-se que o art. 156 exige o conhecime~to dope­
rigo pela parte beneficiada~ dolo de aproveitamento), a solução deve ser mesmo a anulação do 
negócio, sempre, com a restituição das partes ao status anterior (art. 182), a não ser que isso não 
seja possível, hipótese em que o prejudicado deve ser indenizado com o equivalente, nos precisos 
termos da parte final do art. 182. 
Não obstante nosso entendimento, o Enunciado 148 da III Jornada de Direito Civil do CJF 
concluiu que "Ao "estado de perigo" (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no§ 2" do 
art. 157. 
7. FRAUDE CONTRA CREDORES 
7.1. Conceito e espécies 
A fraude contra credores é a transmissão de bens ou de direitos. por parte de devedor in­
solvente ou reduzido à insolvência pelo negócio, em prejuízo de seus credores. Diz-se que essa 
transferência prejudica os credores porque é no patrimônio do devedor que eles irão buscar a 
garantia para a satisfação das obrigações. Pode ocorrer em dois casos: 
a) transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida (art. 158): este caso se destina aos 
credores quirografários (sem garantia, como hipoteca, penhor, anticrese, alienação fiduciária 
etc) e aos credores cuja garantia se tomar insuficiente diante da fraude. Exigem-se, nesse 
caso, os seguintes requisitos: 
al) transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida: nesse caso, o devedor transmite 
seus bens gratuitamente a terceiros, por doação, ou perdoa créditos que tem em desfa­
vor de outrem. Em ambos os casos há prejuízo para os credores, pois o patrimônio ativo 
do devedor se toma menor e insuficiente para satisfazer o passivo, ou seja, os débitos; 
a2) eventus damni: prejuízo para o credor quirografário, caracterizado pela ausência de 
bens a garantir o pagamento do débito (insolvência); 
a3) anterioridade do crédito: o credor já deve ser titular do crédito antes do negócio 
fraudulento, mas o terceiro que venha adquirir esse crédito (por cessão de crédito, por 
exemplo) também pode invocar a fraude, desde que a obrigação já exista antes da alie~ 
nação dos bens. 
b) contratos onerosos que reduzam o devedor à insolvência(art. 159): ocorre quando, 
em qualquer outro contrato oneroso, reduza-se o devedor à insolvência. São exigidos 
os requisitos acima arrolados (eventos damni e anterioridade do crédito). 
Com relação à anterioridade do crédito, o Superior Tribunal de Justiça proferiu decisão, es­
tampada no Informativo 518, pela qual a celebração de contrato de promessa de compra e venda 
não registrado não afasta a possibilidade de alegação da fraude contra credores, se o registro só 
foi realizado após a assunção do débito pelo promitente vendedor. 
Cap. VIl • DEFEITOS DO NEGÓC!O JUR[DICO 403 
Considerou a Corte Superior, nesse caso, que o afastamento da fraude contra credores permi­
tiria a realização de contratos com falsificação de data, a fim de desconfigurar a invalidade, privi­
legiando o registro como fator de eficácia erga omnes e segurança na relação jurídica. Confira-se: 
Reconhecimento de anterioridade de crédito para caracterização de fraude contra credores. Não é su­
ficiente para afastar a anterioridade do crédito que se busca garantir- requisito exigido para a caracte­
rização -de fTaude contra credores- a assinatura de contrato particular de promessa de compra e venda 
de imó\·el não T·i·gistrado e desacompanhado de qualquer outro elemento que possa evidenciar, perante 
terceiros, a real ilação prévia desse negócio jurídico. O art. 106, parágrafo único, do CC/1916 disciplinou 
o instituto da fraude contra credores, visando coibir o devedor de praticar atos fraudulentos que acarretem 
a diminuição de seu patrimônio com o propósito de prejudicar seus credores. Para isso, instituiu a ação 
pauliana ou revocatória, possibilitando ao credor prejudicado anular o negócio jurídico fraudulento e 
conservar no património do devedor detenninados bens para a garantia do cumprimento das obrigações 
assumidas por este. Para a caracterização dessa fraude, exigem-se os seguintes pressupostos: a existência 
de dano ao direito do credor ( ''eventus damni '); o consenso entre o devedor e o adquirente do bem ( "con­
siliwnfraudis ''); e a anterioridade do crédito que se busca garantir em relação ao negócio jurídico tido 
por fraudulento, pois somente os credores que já ostentavam essa condição ao tempo do ato fraudulento 
é que podem demandar a anulação, visto que, apenas em relação a eles, esse ato diminui a garantia ofe­
recida pdo patrimônio do devedor. Nesse contexto, na hipótese em que o devedor tenha firmado contrato 
particular de promessa de compra e venda de imóvel, para fins de constatar a anterioridade de crédito em 
relação ao ato fraudulento, deve ser considerada a data do registro do instrumento particular no Cartório 
de Registro de Imóveis, e não a data da sua elaboração. Isso porque o registro do contrato de promessa 
de compra e >venda de imóvel, conquanto não interfira na relação de direito obrigacional- existente entre 
promitente comprador e promitente vendedor-, é necessário para que a eficácia da promessa de compra 
e wnda se dê perante terceiros, de forma a gerar um direito real à aquisição do promitentecomprador, 
erP caráter erga omnes. Dessa forma, dispõe o art. 1.417 do CC/2002 que, mediante promessa de compra 
e venda em que não foi pactuado o arrependimento, celebrada por instrumento púb!íco ou particular e 
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição 
do imóvel. Assim, não estando o contrato registrado, o promitente comprador pode exigir do promitente 
vendedor a outorga da escritura, mas não poderá opor seu direito a terceiros. Ademais, ao permitir o 
contrário, estar-se-ia enfraquecendo o instituto da fraude contra credores, tendo em vista a facilidade em 
dar a um documento uma data falsa e, ao mesmo tempo, a dificuldade em demonstrar essa fraude. REsp 
1.2 I 7.593-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,j. 12.3.2013. 3" T. 
Com a devida vênia, devemos registrar, entretanto, que tal conclusão entra em rota de coli­
são com à Súmula 84 do próprio Superior Tribunal de Justiça, que preconiza que "é admissível a 
oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso 
de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro". 
Veja-se que, ao admitir-se a oposição dos embargos de terceiro advindos da posse sobre o 
imóvel em virtude de compromisso de compra e venda, ainda que não registrado, possibilita-se 
ao promitente comprador opor-se à penhora, em ação de execução contra o devedor, que lhe ou­
torgou a promessa de compra e venda. 
Ainda que se trate, em regra, de execução contra devedor solvente, eventual alegação de 
fraude contra credores, por parte do credor/exequente esbarrará em outra súmula também do 
STJ, a saber, a Súmula 195, pela qual "em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por 
fraude contra credores". 
Por fim, ainda que se possa afastar, de regra, o compromisso de compra e venda não registra­
do como fator obstativo da fraude contra credores, não se pode olvidar, como veremos nos itens 
b2 e b3 abaixo, que se deve demonstrar, também, por parte do promitente comprador, a má-fé, ou 
seja, o conhecimento de que, com o negócio, o devedor/promitente vendedor entra em estado de 
insolvência, Não cabe, portanto, segundo entendemos, presumir que a data do instrumento parti­
cular de compromisso de compra e venda, ainda que não registrado, seja falsa (isto é, posterior ao 
crédito), mas efetivamente, comprová-lo, ônus que deve incumbir ao credor. 
i --, 
1 4~4 , MANUAL DE D!REJTO O V! L- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzobel de Melo 
Além dos requisitos exigidos para a configuração da fraude na alienação gratuita (eventus 
damni e anterioridade do crédito), é necessária também a presença de: 
bl) contrato oneroso: nesse caso, o devedor não transmite gratuitamente seus bens, mas 
os aliena a terceiro, em detrimento do interesse de seus credores em utilizar seu patri­
mônio como garantia para execução das obrigações; 
b2) consiliumfraudis: ao contrário do caso do a1i. 158, 'i]Ue não exige sequer a ciência do 
próprio devedor de que se toma insolvente, no caso db art. \59, é necessário que ele te­
nha ciência de que se toma insolvente com o negócio, de modo a fraudar a expectativa 
de garantia, por seu patrimônio, pelo credor. Este conhecimento, no entanto, é presu­
mido, cabendo ao devedor provar que não tinha ciência de que a venda o conduziria à 
insolvência; 
b3) scientia fraudis: é necessário, também, que a insolvência seja notória ou que haja moti­
vo para que o outro contratante (comprador) dela tenha conhecimento. Observe-se que 
não se exige que o comprador tenha manifesta intenção de fraudar o credor (consilium 
fraudis), mas que, simplesmente, tenha conhecimento do estado de insolvência (scien~ 
tiafraudis). Este requisito salvaguarda a boa-fé do terceiro/adquirente que desconhecia 
a situação de insolvência do devedor/alienante. Um bom indicativo de que o adquirente 
conhecia o estado de insolvência é a existência de costumeiras relações comerciais 
entre um e outro; por sua vez, indica que o comprador sabia do desejo fraudatório do 
devedor o fato de lhe vender a coisa por preço desproporcional à realidade (preço vil). 
Ambas as circunstâncias se encontram referidas no seguinte precedente da jurisprudên­
cia do Superior Tribunal de Justiça: 
Fraude contra credores. Aquisição diretamente da devedora. Conhecimento do estado de insolvência. 
Preço vil. Matéria de fato. 1. Afirmando o aresto que a aquisição foi feita diretamente da empresa 
devedora e que a adquirente conhecia o estado de insolvência, havendo entre ambas relações comer­
ciais, e, ainda, que o preço foi vil, não há como acolher a pretensão de boa-fé trazida no especial 
para afastar a procedência da pauliana. 2. Recurso especial não conhecido. (REsp 619.123/SE, Rei. 
Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2005, 
DJ 08/05/2006, p. 198) 
Não se pode confundir a fraude contra credores com a simulação. Nesta, o devedor simula 
uma venda (conforme o caso), para enganar o credor quanto ao seu patrimônio, inquinando o 
negócio de nulidade, como veremos. Na fraude, existe negócio gratuito ou oneroso, a princípio 
válido, o qual resta passível de anulação se ocorrentes as circunstâncias dos arts. 158 ou 159. 
7 .2. Ação pauliana 
O remédio para anular a venda em fraude contra credores é a chamada ação pauliana ou 
revocatória, que deve ser proposta contra o devedor insolvente; a pessoa que com ele celebrou a es­
tipulação considerada fraudulenta; e terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé (art. 161 ). 
Tal afirmação implica em que a anulação do negócio por fraude contra credores leva ao re­
torno do bem para a propriedade do devedor e depende de demanda judicial autônoma e própria 
para esse desiderato (veja-se, sobre a discussão acerca dos efeitos do reconhecimento da fraude à 
execução, o Capítulo VI, item 4.1). Portanto, não pode se dar em caráter incidental a um eventual 
processo no qual o credor cobra pela dívida que quer ver garantida pelo bem fraudulentamente 
alienado. Veja-se, inclusive, sobre o assunto, o teor da Súmula n° 195 do STJ: "Em embargos de 
terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores". 
Cap. VIl · DEFEITOS DO NEGOCIO JUKllJK .. -V 
Caso a alienação fraudulenta ocorra já no decurso do processo de cobrança da dívida, o 
credor, assim mesmo, poderá demandar pela fraude contra credores, entretanto, sempre através 
de ação autônoma .. 
Pode o adquirente dos bens do devedor insolvente, se ainda não tiver pago o preço e este 
for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se, depositando o valor em juízo, com a citação de 
todos os interessados .. Se o preço pago for inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá 
depositar o preço que lhes corresponda ao valor real (art. 160) .. 
Não se pode olvidar, enfim, que a boa-fé de eventual terceiro que adquire o bem objeto da 
fraude contra credores deve ser preservada., de fonna a não ser atingido pela anulação do negócio, 
remanescendo ao credor a ação contra os fraudadores para obter valor equivalente ao do bem. 
Veja-se, sobre o assunto, o entendimento do STJ: 
AÇÃO PAULIANA .. TERCEIRO ADQUIRENTE .. BOA~FE .. O terceiro adquirente de boa-fé não é 
atingido pelo efeito de sentença de procedência de ação pauliana, satisfazendo-se o interesse dos cre­
dores, contra os fraudadores, em cobrar-se sobre o equivalente do valor do bem. Art .. 109 DO CC.. Re­
curso conhecido e provido. {REsp 102..401/MG, Rei.. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUAR­
TA TURMA, julgado em 24/02/1997, DJ 31103/1997, p .. 9635) 
A Corte Superior reiterou o mesmo entendimento no julgamento do REsp 1100525/ RS, no 
qual afinnou que 
o reconhecimento de fraude contra credores em ação pauliana, após a constatação da existência de su­
cessivas alienações fraudulentas na cadeia dominial-de imóvel que originariamente pertencia ao acervo 
patrimonial do devedor, não toma ineficaz o negócio jurídico por meio do qual o último proprietãrio 
adquiriu, de boa-fê e a título oneroso, o referidobem, devendo~se condenar os réus que agiram de 
má-fé em prejuízo do autor a indenizá-lo pelo valor equivalente ao dos bens transmitidos em fraude 
contra o credor (Informativo 52\) .. 
7.2.1. Comentários sobre a fraude à execução 
Se o credor requerer a declawção da fraude ocorrida durante o processo em caráter incidental na 
própria ação de cobrança (de conhecimento ou de execução), o caso será de fraude à execução .. Esta, 
como vimos, pode ser demandada em' caráter incidental a esse processo de cobrança e, por isso, acar­
reta apenas a ineficácia da alienação em relação ao credor/demandante .. Outra diiet"ença significativa 
é a de que, enquanto a fraude contra credores exige insolvência do devedor para suà configuração, a 
fraude à execução não, bastando que haja curso de demanda capaz de reduzi-lo à insolWncia. 
Nesses casos, o bem alienado continua na propriedade do adquirente mesmo após a de­
claração da fraude à execução, entretanto, sofrerá ele as consequências da possível venda judicial 
da coisa para a satisfação do direito do credor .. 
A jurisprudência do STJ é-taxativa, no entanto, em desconsiderar a fraude à execução quan­
do a alienação ocorre antes da citação ou se, penhorado imóvel, não ocorre seu registro em car­
tório .. Caso o credor queira se prevenir contra a fraude à execução, deve tomar providência que 
garanta a ciência de terceiros quanto à ação, seja registrando a sua existência ou mesmo a penhora 
em cartório .. Confira-se: 
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. !NEXISTilNCJA DE PENHORA. AUSÊNCIA 
DE COMPROVAÇÃO DE QUE O ADQUIRENTE TINHA CIÊNCIA DA DEMANDA EM CURSO. 
TERCEIRO DE .. BOA~ FÉ .. FRAUDE À EXECUÇÃO .. NÃO CARACTERIZAÇÃO .. I- Na caracte~ 
rização da fraude à execução, de acordo com a Jurisprudência desta Corte, a simples existência de 
ação em curso no momento da alienação do bem não é suficiente para instaurar a presunção de fraude, 
sendo necessário, quando não registrada a penhora anterior, "prova da ciência do adquirente acerca da 
existência da demanda em curso", a qual incumbe ao credor, sendo essa ciência presumida somente na 
hipótese em que registrada a penhora, na foffiia ·rn; art. 659, § 4°, do Cod .. de Proc .. Civil..[ ..... ] Agravo 
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406 -~ MANUAL DE DIREITO C! VIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzabel de Melo 
Regimental improvido. (AgRg no REsp 801.488/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA 
TURMA, julgado em 15112!2009, OJe \8/12/2009) 
O mesmo entendimento se estende aos casos de penhora de veículos, em que, se não há 
anotação de restrição da transferência no órgão de trânsito correspondente, não há como opor a 
fraude ao terceiro de boa-fé, segundo se observa do seguinte precedente: 
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AD­
QUIRENTE DE BOA-FÉ. ALIENAÇÃO POSTERIOR À CITAÇÃO. AUSÊNCIA DE REGISTRO DA 
CONSTRIÇÃO NO DETRAN. PRESUNÇÃO DE FRAUDE. AFASTAMENTO. RECURSO N.Ã..O PRO­
VIDO.{ ... ] 2. A jurisprudência pacífica desta Corte inclina-se no sentido de que presume-se a boa-fé do 
terceiro adquirente quando não houver registro no órgão competente acerca da restrição de transferência do 
veículo, devendo ser comprovado pelo credor que a oneração do bem resultou na insolvênda do devedorno plano de validade do negócio, no 
entanto, a moderna tendência da doutrina e da jurisprudência é, sempre, ter em 
conta o chamado princípio do conservação dos atos e negócios jurídicos, pelo qual, 
em sendo possível preservar-se a integridade do ato, será ele ajustado para me­
lhor conservação da segurança jurídica. 
A forma de se demonstrar, em juím, os defeitos no negócio jurídico, é livre. O novo 
Código de Processo Civil não mais veda a prova exclusivamente testemunhal nos 
contratos em valor inferior ao décuplo do salário mínimo. 
Erro é a manifestação de vontade decorrente de percepção errada acerca de cir­
cunstâncias do negócío.lgnorância, por sua vez, é o desconhecimento dessas cir­
cunstâncias. Enquanto o erro é noção afirmativa (percepçáo errada), a ignorância 
é concepção negativa (ausência de percepção). Ambos são tratados da mesma 
maneira. 
Para tornar o negócio anulável, o erro deve ser substancial (ou essencial) e escusáveL 
Erro substancial é aquele que incide sobre elementos essenciais do negócio, ele­
mentos esses que, se conhecidos da parte, o impediriam de rea!iz também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro não integrante da 
relação negociai, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimen­
to. 
Em caso contrário, ou seja, de desconhecimento do dolo por ambas as partes, 
ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas 
e danos da parte a quem ludibriou (art. 148). Se o terceiro for representante de 
uma das partes há que ser fazer uma distinção entre a representação legal e a 
convencionaL 
Ocorre coação, segundo o art. 151 do Código Civil, quando a declaração de vonta­
de emana de uma ameaça grave ao paciente, de forma a lhe incutir fundado temor 
de dano iminente e considerável à sua , à sua família ou aos seus bens. 
- Ameaça injusta: a ameaça, para caracterizar a coaçáo, deve corresponder à ma­
nifestada intenção do coator de causar ao paciente {ou coacto) dano injusto e 
iminente; 
- Ame.aça de dano dirigida à pessoa do paciente, à sua família ou aos seus bens 
-eventualmente poderá ser dirigida a terceiro, quando o juiz decidirá segundo 
as circunstâncias; 
fundado temor de dano 
3.1 
3.2 
3.3 
3.4 
3.5 
4.t 
4.2 
Espécies 
de·lftSáo 
negódo pebi 
lesao 
Em respeito ao preceito de que a ameaça deve ser séria e capaz de influenciar a 
liberdade na declaração de vontade, dispõe o art 153, primeira parte, que ~não 
ocorre coação se se tratar de simples ameaça de exercfcio regular de um direito: 
como, por exemplo, a promessa feita pelo credor ao devedor de que, em não sen­
do paga a dívida, aquele ajuizará a ação judicial cabível. 
Também pelo mesmo motivo, não se considera coação a realização do ato em 
função de mero temor reverencial do agente (art 153, segunda parte). O temor 
reverencial se caracteriza pelo receio do agente de desagradar os pais ou outra 
pessoa a quem se deve respeito, como outros familiares, sacerdotes ou pessoas 
do convívio íntimo 
Vicia o negócio jurfdico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou deves­
se ter conhecimento a parte a quem aproveite, e esta responderá solidariamente 
com aquele por perdas e danos (art. 154) 
objetiva ou simples: quando exige, para a anulabilidade do ato, apenas a ma­
nifesta desproporção entre as prestações das partes contratantes. 
- subjetiva ou especial: quando, além da desproporção, exige também carac­
terísticas especiais das partes contratantes, como inexperiência, necessidade 
etc. Foi a forma adotada pelo Código Civil atual. 
A lesão nem sempre acarretará a anulação do ato, pois é possível adequá-lo, com 
o suplemento da prestação, pela parte privilegiada, ou através da aceit~ção, pela 
mesma parte, da redução do seu proveito. A essa situação se dá o nome de revisão 
voluntdrio do negócio. É o que se art. 157, § Civil 
A Lesão não se confunde com a revisão ou resolução por onerosidade excessiva 
(arts. 317 e 478 a'48o), uma vez que este instituto exige sua decorrência de fatos 
43 
4.4 
5.1 
52 
5.3 
imprevisíveis. A possibilidade de redução da cláusula penal (art. 413) é de ava- 5.4 
liação meramente ob)etiva e, por fim, a revisão contratual prevista no parágrafo 
Conceito 
único do art 2.1)"; .,,;ge ofe.1so 
No esta do de perigo, alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de 
suo faml1ia, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessiva­
mente onerosa (art. 156). Podemos dizer que o estado de perigo é uma lesão quali­
ficada, pois o elemento subjetivo exigido para a parte lesada é específico, trata-se 
de uma premente necessidade de salvar, a si próprio ou a pessoa de sua família, 
de grave dano; além disso, essa necessidade e o próprio dano, principalmente, 
devem ser outra 
Elementos objetivos: 
- Possibilidade de grave dano à própria pessoa ou a pessoa de sua famllia; 
- Atualidade ou iminência do dano; 
r:,;.~~t~r~~;~:s ,- Onerosidade excessiva da obrigação; 
f Elementos subjetivos: 
- A crença do declarante de que realmente esteja em perigo; 
- Dolo de aproveitamento: aqui no estado de perigo, diferentemente da lesão, 
exige-se, expressamente, no art. 156, o conhecimento do perigo pela outra 
parte (dolo de aproveitamento 
6.1 
6.2 
!f ,, 
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t 
: 410 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzabel de Melo 
Conceito e 
espécies 
A fraudecontra credores é a transmissão de bens ou de direitos, por parte de 
devedor insolvente ou reduzido a insolvência pelo negócio, em prejuízo de seus 
credores. Pode ocorrer em dois casos: 
7.1 
transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida (art. 158): este caso sedes­
tina aos credores quirografários e aos credores cuja garantia se tornar insufi­
ciente díi:Jnte da fraude; 
Conceito e 
espécies 
- contratos onerosos que reduzam o devedora insolvência (art. 1 59):ocorrequan­
do, em qualquer outro contrato oneroso, reduza-se o devedor a insolvência. 
7.1 
Ação pau lia na 
O remédio para anular a venda em fraude contra credores é a chamada ação pau­
liana ou revocatória, que deve ser proposta contra o devedor insolvente; a pessoa 
que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta; e terceiros adquiren­
tes que hajam procedido de má-fé (art. 161). 
7.2 
9. SÚMULAS E ENUNCIADOS 
9.1. Súmulas do STJ 
84. É admissível a oposição de embargos de terceiro fun­
dados em alegação de posse advinda do compromisso 
de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do 
registro. 
195. Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, 
porfraude çontra credores. 
322. Para a repetição de indébito, nos contratos de aber­
tura de crédito em conta-corrente, não se exige a prova do· 
erro. 
375. O reconhecimento da fraude de execução depende 
do registro da penhora do bem alienado ou da prova de 
má-fé do terceiro adquirente 
9.2. Enunciados das Jornadas do 
CJF 
12. Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser 
ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o 
princípio da confiançrem dolosamente, o negócio celebrado será eivado 
de .. nulidade por representar dedaração e.1ganosa 
da vontade dos contratantes. Essa nulidade pode 
ser requerida por qualquer uma das partes. 
141~; MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria fzabel de Melo 
(C) A lesão inclui-se entre os vícios de consentimento e 
acarreta a anulabilidade do negócio, permitindo-se, 
porém, para evitá-la, a oferta de suplemento sufi­
ciente, ou, se o favorecido concordar, a redução da 
vantagem, aproveitando-se, assim, o negócio. 
(0) A fraude contra credores consiste na alienação de 
bens pelo devedor com o intuito de escusar-se do 
pagamento de sua dívida ao credor. Tal ato de alie­
nação é válido, porém ineficaz em face do credor 
prejudicado. 
(E) A falta de capacidade de uma das partes do negó­
cio jurídico não pode ser a causa alegada pela outra 
parte para justificar a nuliduver auferido. 
(O) A caracterização da omissão dolosa em negócio bila­
teral exige a prova de que sem a omissão o negócio 
não teria sido celebrado. 
11. (Cespe- Defensor Público- AC/2012} João adqui· 
riu de (aio uma gleba, com o propósito, conhecido 
das partes contratantes, de implementação de um 
loteamento. Efetuada a referida compra, João perce­
beu que a legislação municipal desautorizava a reali­
zação do empreendimento. Considerando a situação 
hipotética acima apresentada e os defeitos dos negó­
cios juridicos, assinale a opção correta. 
(A) Se, por ocasião da venda, Caio tivesse conhecimento 
das limitações impostas pela legislação municipal e, 
mesmo assim, tivesse assegurado ao comprador que 
a gleba poderia ser loteadi,, garantindo, inclusive, 
determinada rentabilidade, rhotivo determinante do 
negócio, o resultado prãtico seria totalmente disso­
nante da informaçao prestada e a manifestação de 
vontade seria viciosa devido a erro. 
(B) Se Caio tivesse obrigado João a realizar a compra me­
diante a ameaça de agredir alguém de sua família, o 
negócio jurídico seria anulável por coação, ainda que 
o comprador fosse adquirir o bem de qualquer ma­
neira. 
(C) A compra e a venda nào podem ser anuladas, pois 
o desconhecimento da lei não vicia a declaração de 
vontade, sendo sua ignorância inescusá~el. 
{D) O negócio jurídico em questão é passível de anula­
ção, visto que foi celebrado com base em disciplina 
jurídica equivocada, ocorrendo a anulação por erro 
de direito_ 
(E) Ê de três anos o prazo decadencial para pleitear a 
anulação do negócio jurídico com fundamento na 
existência de vícios da vontade, como o erro, o dolo e 
a coação_ 
12. {Cespe- Juiz de Direito Substituto-E$/ 2012) Pe­
dro, ao chegar com seu filho gravemente doente em 
um hospital particular, concordou em pagar quantia 
exorbitante para submetê-lo a cirurgia, ante a alega· 
ção do médico de que o tempo necessário para le· 
vara criança a outro hospital poderia acarretar-lhe a 
morte. 
Nessa situação hipotética, caracteriza-se, como causa 
de invalidação do negócio, 
(A) o dolo, porque o pai foi induzido a aceitar condições 
que o prejudicavam. 
(8) o estado de perigo, porquanto o pai se encontrava 
em situação de extrema necessidade. 
(C) a lesão, porquanto o médico se aproveitou da situa­
ção. 
(O) o erro, porque o pai assumiu a prestação com vício de 
vontade. 
(E) a coação, porquanto foi incutido no pai o dano imi­
nente ao filho. 
13. {FCC Juiz do Trabalho Substituto 4a região( 
2012) Com relação aos defeitos do negócio jurídico, 
é correto afirmar que 
(A) o falso motivo vicia a declaração de vontade mesmo 
que não expresso como razão determinante do ne­
gócio. 
(8) o dolo acidental dá causa à anulação do negócio e 
obriga à satisfação das perdas e danos. 
(C) se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma 
delas o pode alegar para reclamar indenização. 
(0) no apreciar a coação, ter-se-á em conta a figura do 
homem médio. 
(E) o temor reverencial configura coação. 
14. (Cespe- Juiz de Direito Substituto-PA/2012) Pe­
dro, percebendo que seu patrimônio seria consumi­
do pelas dividas que havia contraído com Marcos, 
decidiu doar ao seu irmão, sem qualquer encargo, 
seu único imóvel. Considerando-se essa situação hi­
potética, é correto afirmar que 
(A) Marcos somente poderá promover a anulação da 
doação se houver ação executiva em andamento. 
(B) qualquer credor de Pedro poderá promover a anula­
ção da doação. 
(C) não é necessária a demonstração da má-fé do irmão, 
para que Marcos anule a doação. 
{D} o negócio realizado é, à luz do Código Civil, ineficaz 
em relação a Marcos. 
(E) não é necessário, para anular a doação, que Marcos 
demonstre que o prejuízo por ele sofrido tenha dela 
decorrido. 
15. (FCC - Analista Judiciário - Judiciária - TRT 
1/2013) Sobre os defeitos dos negócios jurídicos, de 
acordo com o Código Civil brasileiro, considere: 
A coação sempre vicia o ato, ainda que exercida por 
terceiro, e se a parte prejudicada com a anulação do 
ato não soube da coação exercida por terceiro, só 
este responde por perdas e danos. 
1\. Tratando-se de negócios gratuitos, a anulação por 
fraude contra credores dispensa que o 'estado de in­
solvência do devedor seja conhecido por qualquer 
uma das partes, mas no caso de contrato oneroso 
do devedor insolvente é necessário, para a anulação, 
que a insolvência seja notória ou houver motivo para 
que ela seja conhecida do outro contratante. 
111. O dolo do representante legal ou convencional de 
uma das partes só obriga o representado a responder 
civilmente até a importdncia do proveito que teve. 
Está correto o que se afirma APENAS em 
(A) \e lL 
{B) I e 111. 
(C} !L 
(0) llel!l 
(E) lll. 
16. {FCC- Analista Judiciário- Exec. Mandados- TRT 
1/2013) Sobre o erro ou ignorância, de acordo com o 
Código Civil BrasOeiro, é INCORRETO afirmar: 
(A) O erro será substancial quando sendo de direito e 
não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo 
único ou principal do negócio jurídico. 
{B) O falso motivo só vida a declaração de vontade quan­
do expresso como razão determinante. 
(C} O erro de indicação da coisa, a que se referir a decla­
ração de vontade, não viciará o negócio quando, por 
seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identifi­
car a coisa. 
(O) O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da de­
claração de vontade. 
(E) A transmissão errônea da vontade por meios inter­
postos não é anulável ao contrário do que ocorrenos 
casos de declaração direta. 
17. {Cespe -Juiz Federal Substituto sa região/2013) 
Considerando a teoria geral do direito civil, assinale 
a opção correta. 
(A) Possuem domicílio necessário o incapaz, o servidor 
público, o preso, o marítimo e o empresário. 
(B) Para efeitos do direito à sucessão aberta, considera­
-se bem móvel ou imóvel, conforme o caso concreto. 
(C) Em relação à desconsideração da personalidade jurí­
dica, o encerramento irregular das atividades da pes­
soa jurídica, por si só, basta para caracterizar o abuso 
de personalidade. 
{0) Quando determinada pessoa, sob premente neces­
sidade ou por inexperiência, obriga-se a prestação 
manifestamente desproporcional ao valor da contra­
prestação, ocorre lesão. 
(E) A qualidade de associado é intransmissível, não po­
dendo o estatuto dispor o contrário. 
18. (MPE-SC- PromotordeJustiça-SC/2013) Em sede 
de defeitos do negócio jurídico expressa a lei civil que 
o erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se 
referir a declaração de vontade, não viciará o negócio 
quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se 
puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. 
19. (MPE-SC - Promotor de Justiça - SC/2013) Os ne­
gócios de transmissão gratuita de bens ou remissão 
de divida, se os praticar o devedor já insolvente, ou 
por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ig­
nore, poderão ser anulados pelos credores quirogra­
fários, como lesivos dos seus direitos. Igual direito as­
siste aos credores cuja garantia se tomar insuficiente. 
20. {UEl - Delegado de Polícia - PR/2013} A respeito 
dos fatos e atos jurídicos, como previstos no Código 
Civil, assinale a alternativa correta. 
(A) Tratando-se de atos jurídicos eivados de vicio insaná­
vel, como erro, dolo, fraude contra credores, estado 
de perigo ou lesão, o prazo para se intentar ação anu­
latória é de dois anos, contado a partir da celebração 
do negócio. 
(B) A condição é considerada como a cláusula que, deri­
vando exclusivamente da vontade de uma das par­
tes, determina que o efeito do negócio jurídico fica 
subordinado a um evento futuro e incerto. 
414 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
(C) Em se tratando de erro, este não prejudica a valida-­
de do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a 
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para 
exece~tá-la na conformidade da vontade real do ma­
nifestante. 
(0) Para que se considere a coação como defeito do 
negócio, levam-se em conta o sexo, a idade e a des­
proporção de altura e peso entre coator e coagido. 
O simples temor reverencial também é considerado 
atividade coatora. 
(E) t anulável o negócio jurídico que aparentemente 
confere ou transmite direitos a pessoas diversas da­
quelas às quais realmente se transmitem, ou que con­
tiverem declaração, confissão, condição ou cláusula 
não verdadeira. 
21. (Vunesp- Procurador Jurídico SAAE- SP/2014) 
Nos defeitos do negócio jurídico, o Código Civil tra­
tou do instituto da lesão, sendo que esta ocorre 
(A) se uma pessoa, sob estado de necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente 
desproporcional ao valor da prestação oposta. 
(8) quando alguém, premido da necessidade de salvar~ 
--se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhe­
cido pela outra parte, assume obrigação excessiva­
mente onerosa. 
{C) se uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente 
desproporcional á o valor da prestação oposta. 
(D) quando as declarações de vontade emanarem de 
erro substancial que poderia ser percebido por pes­
soa de inteligência normal, em face das circunstân­
cias do negócio. 
(E) quando o devedor insolvente pratica atos lesivos aos 
direitos dos credores. 
22. (PUC- Procurador do Estado - PR/2015)Levando 
em conta a temática dos defeitos do negócio jurídi­
co, considere as seguintes asserções: 
Suponha que Tício beneficia Caio pela doação de 
bem imóvel e isso acaba por desfalcar seu patrimô­
nio de forma ta I que suas dívidas passam a superar 
os ativos. Neste caso, os credores quirografários de 
Tido podem valer-se da ação pauliana visando à 
anulação da doação. A ação seria dirigida contra Ti­
cio e Caio, ainda que este ignorasse o fato de que a 
liberalidade de Tício havia reduzido~o ao estado de 
Insolvência, porque neste caso não se exige a com~ 
provação da intenção de fraudar para o uso da ação 
revocatória. 
11. Em um negócio jurídico constata-se manifesta des­
proporção entre prestação e contraprestaÇão decor­
rente de manifesta inexperiência de uma das partes. 
Esta não pode invocar a própria inexperiência como 
causa para anulação do negócio jurídico por lesão, 
já que isto configuraria venire contra factum pro­
prium. 
11\. Tício aliena um imóvel a Caio para que este o transmi­
ta a seu filho Mévio. Constatando-se que a intenção 
de Ticio sempre fora transferir o bem a Mévio, pres­
cindindo da autorização dos demais descendentes, a 
venda poderá ser invalidada por configurar negócio 
simulado mediante a interposição de pessoa. 
Assinale a alternativa CORRETA. 
(A) Somente a afirmativa 11\ é verdadeira. 
(B) Somente as afirmativas l e 1\1 são verdadeiras 
(C) Somente as afirmativas 11 e \11 são verdadeiras. 
(D) Somente a afirmativa I é verdadeira. 
{E) As afirmativas I, ll e lll são verdadeiras. 
23. {FCC - Analista Judiciário - Area Judiciária - TRT 
3/2015) Marcela permutou um televisor avariado 
com um celular avariado de Marina. Ambas sabiam 
que os respectivos bens estavam deteriorados e 
ambas esconderam tal circunstãncia uma da outra 
buscando tirar vantagem na transação. Julgando-se 
prejudicada, Marina ajuizou ação contra Marcela re~ 
querendo a invalidação do negócio e indenização. O 
jllf"l deverá 
(A) desacolher ambos os pedidos, pois, se as duas par­
tes procedem com dolo, nenhuma pode alegá-ia 
para anular o negócio nem reclamar indenização. 
(8) acolher apenas o pedido de invalidação do negócio, 
pois esta pode ser reconhecida inclusive de ofício. 
(0 acolher apenas o pedido de indenização, em razão 
do princípio que veda o enriquecimento sem causa. 
(0) acolher ambos os pedidos, pois o dolo de 1.1ma parte 
não anula o da outra. 
(E) acolher apenas o pedido de invalidação, desde que 
formulado no prazo decadencial de quatro anos da 
celebração do negócio. 
24. (Faurgs- Juiz de Direito Substituto ~ RS/2016) 
Sobre o negócio jurídico, assinale a alternativa cor­
reta. 
(A) A invalidade do negócio jurídico por fraude a cre· 
dores decorre do exercício de direito pessoal do 
credor, mediante interposiçáo de ação pauliana, no 
prazo de quatro anos contados do dia da celebra· 
çáo. 
(B) A confirmação e a conversão do negócio jurídico in­
vá!fdo só podem ser realizadas se possível o atendi­
mento posterior dos requisitos ausentes por ocasião 
de sua celebração. 
(C) A invalidade do negócio jurídico, por incapacidade 
absoluta ou relativa do agente, pode ser pronuncia­
da de ofício. 
{0) A invalidade do negócio jurídico simulado pode ser 
pleiteada no prazo de quatro anos contados da con­
clusão do negócio. 
e 
·-
Cap. VIl • DEFEITOS DO NEGÓC!OJUR(DICO 
(E) O negócio celebrado pelo representante consigo 
mesmo é anulável,desde que provado o conflito de 
interesses com o representado. 
dolo. Considerando tal defeito, responda, funda­
mentadamente, as seguintes questões: 
O que diferencia o dolo do erro? 
10.2. Questão dissertativa 
O dolo resulta em que vício para negócio jurídico? 
Há diferença entre o dolo ser acidental ou essencial? 
f. possível o dolo por omissão? 
Em que consiste o dolo bilateral? 
11. GABARITO 
11.1. Gabaritos das questões objetivas 
Questão Resposta Comentário Onde encontro no livro? 
1 A CC, art. 170 Parte 11, Capítulo VIl, item 1.1 
2 c CC, art. 170. Principio da conservação do negócio juri-
Parte 11, Capítulo VIl, item 1.1 
dica. Conversão substancial do negócio 
O erro e o dolo se encontram na falsa percepção da 
3 c realidade pelosagentes, diferenciando-se pelo fato Parte 11, Capítulo VIl, item 2.1 e 
de que, enquanto o erro é voluntário, o dolo é provo- 3.1 
cada por uma das partes ou por terceiro 
4 B CC, art. 157 Parte 11, Capítulo VIl, item 5.1 
5 E CC, art. 156 Parte 11, Capítulo VIl, item 6.1 
6 B CC,art.143 Parte 1!, Capítulo VH, item 2.2.1 
CC, art. 151. Repare que cada paciente da coação re-
cebeu uma ameaça para cada um dos itens do dispo-
7 E sitivo legaL Paulo teve ameaçada a sua própria pes-- Parte 11, Capitulo VIl, item42 
soa; Pedro recebeu ameaça à sua família (seu neto); 
' Antônio sofreu ameaça aos seus bens (fazenda}. 
8 c CC, art. 157,§2" Parte 11, Capítulo VIl, item 5.3 
9 B CC,art 160 Parte 11, Capitulo VIl, item 7.2 
CC, art. 143. Se, a despeito da omissão dolosa, o ne-
10 o gôdo ainda assim se realizasse (dolo acidental), só 
Parte 11, Capítulo VIl, item 3.4 
' se obrigada o agente à satisfação de perdas e danos, 
sem anulação do negócio 
11 o CC, art. 139, 111 Parte H, Capítulo VIl, item 2.2.1 
12 B CC, art. 156 Parte 11, Capítulo VIl, item 6.1 
13 c CC, art. 150 Parte 11, Capítulo VIl, item 3.6 
14 c CC, art. 158 Parte H, Capitulo VI!, item 7.1 
15 c CC, arts. 158 e 159 Parte 11, Capítulo VIl, item 7.1 
CC, art. 141. A questão pede a alternativa incorreta. 
16 E Os negócios por pessoas ou meios interpostos tam- Parte H, Capítulo VIl, item 2.5 
bém são anuláveis por erro 
17 o CC, art. 157 Parte IJ, Capítulo VH, item 5.1 
18 CERTO CC, art. 142 Parte H, Capítulo VIl, item 21.1 
19 CERTO CC, art. 158 Parte 11, Capitulo VIl, item 7.1 
20 c CC, art. 144 Parte 11, Capitulo VIl, item 2.2.1 
21 c CC,art.157 Parte 11, Capítulo VIl, item 5.1 
22 B CC, arts. 158 e 167. 
Parte Jt, Capítulo VIl, item 7. e 
Parte lf, Capitulo VIl!, item 2.2.7. 
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastiáo de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
"QUtiiãO 'Resp'ost'á · ·co_mentário Onde encontrO noUvro7 
23 A CC. art. 150. Trata-se do Dolo Recíproco. Parte ll, Capítulo V!l, item 3.6. 
24 A CC, art 178,11. 
11.2. Gabarito da questão discursiva 
O que diferencia o dolo do erro? R. O erro é es­
pontâneo, portanto, náo obriga à satisfação de 
perdas e danos; já o dolo é induzido pelo outro 
contratante ou por terceiro, obrigando um ou ou­
tro à satisfação dos prejuízos acarretados à parte 
inocente. 
O dolo resulta em que vício para negócio jurídico? 
R. O dolo constitui-se em vício de vontade externo, 
que torna o negócio anulável. 
Há diferença entre o dolo ser acidental ou essencial? 
R. Sim. Dolo essencial é aquele que vicia o negócio 
jurídico, por se referir a circunstâncias que fazem 
com que o agente não realizasse o negócio caso ti­
vesse conhecimento do equívoco. Já o dolo aciden­
tal é aquele que, a seu despeito, o negócio seria 
Parte \1, Capítulo VI!, item 7.2 
realizado, embora por outro modo (CF, art. 146, se­
gunda parte}. 
É possível o dolo por omissão? R. Sim. Nos negócios 
jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma 
das partes a respeito de fato ou qualidade que a 
outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, 
provando-se que sem ela o negócio não se teria ce­
lebrado (art. 147). 
Em que consiste o dolo bilateral? R. O art. 150 do 
Código Civil conceituao dolo bilateral ou recíproco, 
ao dispor que "se ambas as partes procederem com 
dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, 
ou reclamar indenização': 
CAPÍTULO VIII 
INVALIDADE DO 
NEGÓCIO JURÍDICO 
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
Ao tratar da invalidade do negócio jurídico, o Código Civil não adotou, expressamente, a 
teoria do plano da existência, pois, no tópico pertinente, tratou apenas do chamado plano de va~ 
!idade, arrolando as causas de nulidade e anulabilidade do negócio jurídico. 
Em regra, sempre que os elementos do negócio desrespeitarem ao conteúdo mínimo exigido 
pelo art. 104, ter-se-á causa de sua nulidade ou invalidade absoluta. 
Em alguns casos, no entanto, a lei não impinge nulidade no negócio, muito embora os ele­
mentos não preencham os requisitos legais. Assim é que a incapacidade relativa do agente, os 
vícios de vontade e a fraude contra credores, por exemplo, não tornam o ato absolutamente invá­
lido, mas apenas anulável, ou seja, relativam~nte inválido. Nessas situações, o legislador deixa 
ao alvedrio da parte prejudicada com o vício a prerrogativa de optar por sua invalidação ou, ao 
contrário, por sua convalidação, pois pode ser de seu interesse manter a integridade do negócio, 
consertando-o ao seu talante. 
Em que pesem as críticas à clássica teoria das invalidades, tracemos as principais diferen­
ças entre as nulidades e anulabihdades do negócio jurídico: 
2. NULIDADE (INVALIDADE ABSOLUTA} 
2.1. Características da nulidade 
A nulidade decorre de infringência a comandos legais de caráter público (cogentes), por~ 
tanto, não se pode admitir que contra o ordenamento jurídico possa valer o interesse de qualquer 
das partes em manter a integridade do negócio nulo. Por isso, afirma-se que as nulidades ostentam 
as seguintes características: 
2.1.1. Inexistência de efeitos jurídicos 
O negócio nulo não pode gerar nenhum efeito, porque a lei não admite que ele seja pra­
ticado. Nesse particular, o tratamento legal que se dá ao negócio nulo é o mesmo do negócio 
inexistente, pois não se admite que da nulidade possam decorrer efeitos jurídicos. Portanto, se 0 
negócio é translativo, entende-se que não ocorreu transferência da propriedade; se é obrigacio­
nal, entende-se que não se criou a obrigação, e assim por diante. Se o negócio jurídico (como 
categoria de fato jurídico) é que cria a relação jurídica, sendo ele nulo, entende-se que a relação 
jurídica não foi criada. Assim, embora o negócio seja nulo (e não inexistente), a relação jurídica 
é inexistente, pois sua criação somente pode se· dar como efeito de um negócio válido. 
"' MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzabe! de Melo 
Frise-se, aliás, que a repulsa do ordenáriiê~to jurídico aos negócios eivados de nulidade é 
tão rigorosa que acaba por se sobrepujar até à boa-fé de terceiros. Basta, para título de exemplo, 
imaginar-se a seguinte situação; Saulo (terceiro de boa-fé) adquire imóvel de propriedade de Car­
los, mas realiza toda a negociação com Alberto, que lhe apresenta procuração do dono do bem. 
Ocorre que a procuração é falsa e Carlos obtém judicialmente a declaração da nulidade da venda, 
o que gerará a seu favor o efeito de recuperar a propriedade da coisa, em que pese a boa-fé do 
terceiro comprador (Saulo). 
É o que o Superior Tribunal de Justiça vem decidindo, conforme se pode extrair das seguin-
tes passagens: 
[ ... ]A boa-fé é inoperante na hipótese de venda a non domínio para efeito de consolidação de proprie­
dade, repercutindo, tão-somente, no tocante a imputação de perdas e danos[ ... ] (REsp 798.143/RJ, 
Rei. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/03!2008, DJe 10/04/2008) 
[ ... ]Tratando-se de uso de procuração falsa, de pessoa falecida, vício insanável que gera a nulidade 
absoluta do contrato de compra e venda firmado com o primeiro réu, as demais vendas sucessiYas tam­
bém são nulas, pois o vicio se transmite a todos os negócios subsequentes, independente da arguição 
de boa-fé dos terceiros.[ ... ] (REsp 1166343/MS, Rei. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA 
TURMA, julgado em 13/04/2010, OJe 20/04/2010) 
Com fundamento na circunstância de que a declaração de nulidade se opõe até mesmo a ter­
ceiros de boa-fé, tem-se afim1ado, por fim, que a sentença nulificante opera efeitos erga omnes. 
Exemplo dessa característica é o conteúdo do art. 1.247, parágrafo único do Código Civil, 
que preconiza que, uma vez cancelado o registro do imóvel, ante sentença que nulifica o negócio 
jurídico que o amparou, o proprietário então beneficiado com a decisão ''poderá reivindicar o 
imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente". 
2.1.2. Reconhecimento ex o!Jicio e legitimidade a qualquer interessado 
Por inferênciaDE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Mario lzabel de Melo 
4.2. Pela tipicidade 
a) típicos: Os negócios típicos são figuras negociais ou contratuais previstas expressamente 
pela lei, de que são exemplos a compra e venda, a permuta, a locação, o empréstimo, o se­
guro, a corretagem, o mandato etc.; 
b) atípicos: Estes são figuras negociais cujos conteúdos e efeitos não têm previsão legal. en­
tretanto, em função do princípio da autonomia da vontade, devem ser aceitos, desde que 
preencham os elementos de existência e os requisitos de validade previstos pelo art. I 04 do 
Código Civil. 
Aqui se deve observar que os negócios jurídicos que criam efeitos meramente obrigacionais 
(pessoais) é que podem ser livremente criados pelas partes, independentemente de previsão legai. 
A observação é relevante pois, quanto aos direitos reais, somente a lei pode criar novas modali­
dades de relação jurídica entre sujeitos e objetos de direito. A isto se dá o nome de princípio da 
tipicidade dos direitos reais. 
4.3. Pelos efeitos 
a) translativos: visam à transmissão de um direito. No sistema brasileiro, inspirado no ale­
mão, e diverso do francês, o contrato, simplesmente, não transmite a propriedade, que. em 
verdade, somente se transfere pela tradição, em caso de bens móveis, ou pela transcrição no 
Registro de Imóveis, em caso de imóveis. É o que atestam os textos dos arts. 1.245 e 1.267 
do Código Civil, verbis: "Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante v re­
gistro do título translativo no Registro de !móveis. Art. 1.267. A propriedade das coisas não 
se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição"; 
h) modificativos: São negócios que visam a modificar o conteúdo de uma relação jurídica já 
existente, como a novação ou a transação, por exemplo. Pode ocorrer que o conteúdo origi­
nal do negócio tenha se tornado indesejado ou penoso para as partes. Sendo assim, podem 
elas, através de novo negócio, chamado de modificativo, alterar o conteúdo que primitiva­
mente contrataram. Sobre o tema, o Código Civil de 2002 inovou, no campo do direito de 
família, ao possibilitar a modificação do regime de bens durante a constância do casamento, 
em seu art. 1.639, cuja transcrição se segue: 
Art. 1.639.É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que 
lhes aprouver. § 1 ".o regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento. 
§ 2 ... É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de 
ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. 
c) extintíws: têm por fim a extinção de um direito ou de uma relação jurídica, como o distra­
to, o pagamento, etc. Com efeito, para extinguir uma relação jurídica negocial, necessária 
é a prática de negócio que visa esse efeito extintivo. Fatos ou atos não negociais, como a 
prescrição e a decadência, também extinguem o direito, mas não se enquadram, como se vê, 
como negócios jurídicos. Além do pagamento ou cumprimento da prestação (forma ordiná­
ria de extinção das obrigações), os negócios extintivos podem ser: 
cl) resolutivos: quando são determinados por causas posteriores à contratação, como a inadim­
plência ou descumprimento contratuaL A respeito, reza o art. 475 que "a parte lesada pelo 
inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimen­
to, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos". 
' i I 
I 
I 
I 
I 
I 
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I 
I 
Lap. V • t-Al V::> JUI\HJdo sistema das invalidades, a nulidade deve ser pronunciada de oficio pelo 
juiz e pode ser alegada pelo Ministério Público ou qualquer interessado, quando lhe couber inter­
vir. É o que resulta do texto do art. 168 do Código Civil, verbis: 
Art. 168. As nu! idades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado. ou pelo 
Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronuncia­
das pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe 
sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. 
Não pode o juiz, por obviedade, declarar nulidade de atos e negócios jurídicos que não sejam 
levados ao seu conhecimento através de ação judicial, por violação ao princípio da inércia da 
jurisdição, encartado no art. zo do Código de Processo Civil. 
O que se deve reforçar é que, como se vê da primeira parte do parágrafo único do art. 168, 
o juiz pronunciará as nulidades de oficio quando lhe couber conhecer do negócio jurídico ou dos 
seus efeitos, encontrando-as provadas. Exemplifica-se: figuremos que, em uma ação judicial (em 
processo de'cognição) de cobrança de obrigação de pagamento de quantia certa, o credor postula 
a condenação do devedor ao pagamento dos valores ajustados em um contrato de compra e venda 
nulo de pleno direito, porque se deixou ao arbítrio exclusivo do alienante/credor a fixação do pre­
ço (CC, art. 489). Nesse caso, ainda que o réu não invoque a nulidade da avença em sua resposta, 
o juiz deverá reconhecê-la na fundamentação da sentença para, ao final, no dispositivo, reconhe­
cer a improcedência do pedido de condenação no valor ajustado de forma puramente potestativa. 
Cap. VIII • INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO 419 
Em que pese a possibilidade~ expressamente positivada na norma legal- de o juiz reconhe­
cer de oficio as nulidades absolutas do negócio jurídico, quando lhe couber conhecer dele ou de 
seus efeitos, o STJ sedimentou o entendimento de que, em matéria bancária, isso não é possível, 
conforme textualizado no Enunciado 381 de sua Súmula: "Nos contratos bancários, é vedado ao 
julgador conhecer, de oficio, da abusividade das cláusulas". 
Com esse entendimento não podemos concordar, pois as relações entre instituições finan­
ceiras e clientes são reconhecidamente de consumo (um outro 
negócio contra os riscos da insolvência de uma das partes. Dependem, portanto, da vincu­
lação do patrimônio de uma das partes ao adimplemento de sua prestação. São os casos do 
penhor, da hipoteca e da anticrese. O Código Civil de 2002 trouxe a figura da propriedade 
fiduciária (arts. 1.361 a 1.368), instituto já conhecido antes em virtude das leis 4.728/65 e 
9.514/97. Não se trata, no entanto, de negócio puramente de garantia, pois, por essa mo­
dalidade de negócio, cria-se verdadeira propriedade em favor do credor, propriedade esta, 
entretanto, resolúvel, pois deixa de existir quando do adimplemento total da dívida. 
Observa-se, portanto, nessa classificação, o conceito de negócio jurídico: negócio capaz 
de criar (negócios obrigacionais), modificar (modificativos), resguardar (de garantia), transferir 
(translativos) ou ex._tinguir (extintivos) direitos. 
f) processuais: A doutrina processual há muito se debateu a respeito da verdadeira con­
ceituação de atos processuais: se são somente aqueles praticados dentro do processo ou todos 
aqueles que, de alguma forma, produzem efeitos no processo. Ficamos com a última definição, a 
nosso ver mais precisa e abrangente. Daí devemos admitir que, sempre que a vontade tiver força 
suficiente não só para a prática, mas também para a geração dos efeitos do ato, que influencia no 
processo, termos negócio jurídico processual. 
O Código de Processo Civil de 2015 contém uma plêiade de exemplos de atos ou negócios 
processuais, dividindo-se entre típicos (com denominação expressa) e atípicos (sem denominação 
expressa). Dentre eles, podemos mencionar: 
-Negócios processuais típicos: Cláusula de eleição de foro (CPC-2015, art. 63); distribui­
ção convencional do ônus da prova (CPC-2015, art. 373, § 3"); fixação de calendário processual 
para a prática dos atos processuais (CPC-2015, art. 191 ); a suspensão convencional do processo 
(CPC-2015, art. 313, II); e a delimitação consensual das questões de fato sobre as quais recairá a 
atividade probatória e de direito relevantes para a decisão do mérito na fase de saneamento (CPC-
2015, art. 357, §2'). 
Em todos esses casos, temos situações em que a vontade das partes se dírige à prática do ato, 
mas também gera os seus próprios efeitos, estabelecendo cláusula de eleição de foro, distribuindo 
o ônus proba~ório, fixando datas para a realização de atos processuais etc. 
- Negócio processual atípico: O CPC-20 15 aduz importante novidade no mundo jurídico 
processual, ao estabelecer, em seu art. 190, que "versando o processo sobre direitos que admi­
tam atitocomposição, é /leito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento 
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculda­
des e deveres processuais, antes ou durante o processo". 
Cap. V • FATOS JURÍDICOS ; 323 i 
Trata-se de cláusula geral de negociação processual, uma vez que pemüte às partes estipula­
rem mudanças no procedimento para adaptá-lo às suas especificidades, inclusive no que tange a 
prazos peremptórios e encargos cogentes, como ônus de impugnação sob pena de confissão ficta 
e outros. 
Evidentemente que a negociação em apreço não pode impor ônus processuais abusivos às 
partes, sob pena de ilicitude do pacto, tanto é que o parágrafo únicc\ do art. 190 dispõe que "de 
oficio ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, 
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de 
adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade". 
Cabe ao juiz, portanto, exercer o controle da sua validade (CC, art. 166). O pacto também 
não pode ferir direito fundamental. Nesse sentido, entende a doutrina, por exemplo, que não se 
pode "dispor em negócio jurídico processual que uma decisão poderá ser não fundamentada, 
ou que não vigora o dever de cumprir as decisões judiciais. Admiti-lo seria algo comparável à 
admissão do objeto ilícito na celebração do negócio jurídico processual." (WAMBIER, CON­
CEIÇÃO, RIBEIRO e MELLO. 2015, ps. 356-357), 
Por outro lado, quando tivermos ato jurídico em que a vontade se volta apenas à prática, 
cujos efeitos decorrem da lei, fala-se em ato processual em sentido estrito, como no recebimento 
de citação, no oferecimento de resposta, na renúncia expressa da parte ao prazo estabelecido ex­
clusivamente em seu favor (CPC-20 15, art. 225) e outros. 
4.4. Pelo tempo em que devam produzir efeitos 
Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos, os negócios podem ser inter vivos, quando 
se destinam a produzir eficácia imediatamente ou durante a vida das partes, ou causa mortis, 
quando se destinam a produzir efeitos após a morte de quem pratica o ato, como no testamento ou 
nas disposições de última vontade em geral, de que são exemplos o reconhecimento de filho ou a 
instituição de patrimônio para fundação. 
4.5. Pefa causa do negócio 
Os negócios jurídicos podem também se classificar pela causa da sua celebração. Com efei­
to, o motivo comum que leva os agentes à declaração de vontade pode ser de diversas naturezas, 
daí porque podemos falar em: 
a) negócios de troca,quando uma das partes dá uma coisa com valor econômico a fim de rece­
ber outra ou até sem interesse em receber nada. São exemplos a compra e venda, a permuta, 
a doação etc. 
b) negócios associativo~ quando ambas as partes têm interesses comuns, sem que urna queira 
adquirir algum bem ou outro elemento do patrimônio da outra. Exemplo típico é o contrato 
de sociedade, mas, nesse sentido, o casamento e a parceria rural podem ser tomados, tam­
bém, como exemplos, pois, apesar de não serem plurilaterais, não existe criação de interes­
ses particulares de cada parte; 
c) negócios para prevenção de riscos são entabulados com a finalidade de garantir a integri­
dade de pessoas, coisas ou até de relações jurídicas. Seu exemplo típico é o seguro. O seguro 
pode ter por objeto cobrir a subsistência de pessoas-dependentes do segurado, como no seguro 
de vida, ou o próprio segurado, como no caso dos planos de saúde, mas pode visar à garantia 
de recebimento de indenização em caso de perda ou deterioração de uma coisa, como no caso 
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria Jzabel de Melo 
de seguro automotivo ou de imóveis. Existem seguros, no entanto, que buscam prevenir riscos 
contra acontecimentos que possam influenciar relações jurídicas, corno no caso de seguros 
contratados com empresas de crédito contra o desemprego de mutuários, por exemplo; 
d) negócios de crédito: são aqueles em que uma das partes outorga a outra um valor econômi­
co com o objetivo de auferir vantagem a partir daí, como é o caso do mútuo feneratício, no 
qual o mutuante empresta ao mutuário certa quantia, que deverá ser restituída com acrésci­
mo de juros; 
e) negócios de atividade, quando a prestação de uma das partes consiste em fazer alguma coi­
sa em favor da outra, como no contrato àe trabalho, na prestação Je serviços na empreitada, 
mandato, agência e distribuição, corretagem, comissão e no transporte. 
4.6. Pela causa da atribuição patrimonial 
Forte em Orl&ndo Gomes (op. cit., p. 333-430), podemos falar também que os negócios jurí­
dicos se diferenciam pela atribuição patrimonial que cada agente pretende, podendo ser: 
a) one.-osos: serão onerosos os negócios quando ambas as partes têm a intenção de auferir 
proveito econômico com o negócio, como na compra e venda: o alienante aufere O proveito 
decorrente do recebimento do preço, todavia, exige-se-lhe o sacrifício correspondente à van­
tagem atribuída ao adquirente, que é a aquisição da propriedade da coisa; 
b) gratuitos: diz-se gratuito o contrato quando não existe, de uma das partes, essa intenção 
econômica, como no caso da doação pura: enquanto o donatário aufere proveito econômico 
com a aquisição da coisa, o doador não exige dele nenhum sacrifício para isso. Verifica-se, 
ainda, na doutrina, ao ladodo contrato gratuito, o contrato desinteressado. Seria gratuito ou 
benéfico aquele em que, além da gratuidade, há redução do patrimônio de quem comete a li­
beralidade, como na doação. Já no contrato desinteressado não existe a redução no patrimô­
nio, como, por exemplo, no comodato, em que a coisa emprestada voltará para o comodante 
ao final do contrato. 
c) neutros: são neutros os negócios em que não se destina uma atribuição patrimonial específi­
ca, de tal forma a reduzir o patrimônio (negócios gratuitos) ou estabelecer troca de patrilr{Ô­
nios (onerosos). São atos, portanto, que não se enquadram em nenhuma das hipóteses acima, 
como a instituição voluntária do bem de família ou a imposição de ônus de inalienabilidade, 
incomunicabilidade ou impenhorabilidade sobre bens. Nesses exemplos, não se vislumbra 
a ínstitoição de causa patrimonial, seja par~ onerar os agentes ou estabelecer percepção gra­
tuita de vantagens. 
d) bif.-ontes: consideram-se bifrontes certos negócios que podem ser contratados tanto a título 
oneroso quanto gratuito. Bom exemplo é o contrato de mútuo, que é o empréstimo de coi­
sas fungíveis. Pode se dar de forma gratuita, hipótese em que o mutuário deverá devolver 
coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Mas também pode ser contratado de fom1a 
onerosa ou econômica (mútuo feneratício), hipótese em que, segundo o art. 591 do Código 
Civil, presumem-se devidos os juros. 
4.7. Pela forma 
Pode-se classificar o negócio jurídico, também, pela forma, sendo: negócios escritos ou 
verbais; negócios tácitos ou expressos; negócios solenes (formais) ou não solenes (informais); e 
negócios reais ou consensuais. 
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Cap. V • FATOS JUR[DICOS 
Nesse particular, remetemos o leitor às classificações da própria fonna como elemento de 
existência do negócio jurídico, tema a ser tratado mais à frente. 
4.8. Outras classificações 
b) 
c) 
d) 
Os negócios jurídicos podem ser classificados, ainda: 
segundo a relação de interdependência: aqui, os negócios podem ser principais ou aces­
sórios. Principal é o negócio que existe sobre si mesmo, como a compra e venda, por exem­
plo; acessório é aquele que depende da existência do principal, como os negócios de garantia 
(fiança para a locação, hipoteca para a compra e venda, penhor para o empréstimo etc); 
segundo a flexibilidade da prestação: nesse ponto os negócios podem ser impessoais, 
quando a figura do devedor pode ser substituída, já que a prestação pode ser desempenhada 
livremente por qualquer pessoa, como se vê no exemplo do pintor de paredes; ou persona­
líssimo, hipótese em que a prestação só pode ser desempenhada pelo próprio devedor, como 
no caso de um famoso pintor contratado para pintar uma obra de arte. 
segundo a causa: No sistema jurídico brasileiro, em que o contrato não gera translação de 
propriedade (que só se transmite com a tradição ou transcrição), os contratos obrigacionais, 
que são aqueles que geram a obrigação de transferir a propriedade, são conhecidos como 
negócios causais, porque geram a causa da transferência; já o negócio formal ou real que, de 
fato, transfere a propriedade (ou algum outro direito real), como a tradição ou o registro do 
título (transcrição) é denominado de negócio abstrato. 
segundo o início da geração dos efeitos: diz-se também que os negócios podem produzir 
efeitos ex nunc, ou seja, a partir da sua celebração, como no caso da compra e venda, por 
exemplo, hipótese em que são chamados de negócios constitutivos; por outro lado, alguns 
negócios têm a característica de retroagir seus efeitos a um momento anterior, conferindo 
efeitos ex tunc, quando então são chamados de negócios declarativos. Alguns exemplos de 
negócios declarativos: 1. Partilha de bens, porque seus efeitos retroagem à data da morte 
do autor da herança, dado que, segundo o princípio da saisine, a propriedade se transfere a 
partir da abertura da sucessão; 2. Ratificação de poderes para o terceiro sem mandato que 
adquire a posse em nome do possuidor(CC, art. 1.205, li): nesse caso, é importante que haja 
a retroação dos efeitos, para que o adquirente da posse obtenha contagem de prazos (para 
ações possessórias e para usucapião) desde o momento em que o terceiro sem mandato ob­
teve a coisa; 3. Aquisição a posteriori à tradição a non domino: aqui, segundo o art. 1.268, § 
P do Código Civil, se o adquirente recebe a coisa por negócio e tradição realizados em seu 
favor por quem não era dono, por regra legal (art. 1.268, caput), não adquire a propriedade. 
Porém, se esse adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, esse 
negócio (aquisição posterior da propriedade pelo alienante) faz com que a transferência ao 
adquirente de boa-fé seja considerada desde o momento em que lhe foi feita a tradição. 
5. INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
A parte geral do Código Civil adota três importantes regras para a interpretação dos negócios 
jurídicos. São elas: 
a) Princípio da prevalência da intenção dos agentes: Nas declarações de vontade se atenderá 
mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112). Isto 
quer dizer que, quando as circunstâncias reais do negócio jurídico divergirem do conteúdo 
escrito do contrato, dever-se-á respeitar mais a intenção consubstanciada na declaração de 
vontade do que o sentido literal da lin.guagém. 
MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabel de Melo 
Figure-se, por exemplo, que duas pessoas celebrem contrato de locação de uma residência, 
com a real intenção de que o locatário utilize o imóvel para nele residir, o que ele o faz efetivamen­
te. Todavia, inseriram no instrumento do negócio que se tratava de locação comercial. Depois de 
algum tempo, o locador, buscando se prevalecer das normas da locação comercial, mais favoráveis 
ao proprietário do que aquelas destinadas à locação residencial (Lei 8.24511991), intenta rescindir o 
contrato consoante as normas destinadas aos locadores de imóvel não residenciaL 
Nesse caso, a interpretação do negócio consoante a intenção das partes deve prevalecer 
sobre o sentido literal da linguagem, em ordem a se fazer aplicarem as regras atinentes à locação 
residencial, conforme se pode observar da jurisprudência: 
Imóvel locado e utilizado para fins residenciais. Irrelevância de cláusula contratual conferindo finali­
dade comercial à locação. Intenção deliberada de fraudar a lei demonstrada. Irrelevante a existência de 
cláusula contratual conferindo finalidade comercial à locação se o real intento das partes sempre foi de 
dar destinação residencial ao imóvel e assim se procedeu. A intenção dos contratantes prevalece sobre 
o sentido literal do texto, confonne preceitua o CC/19\6, 85 [CC 112], mormente restando demonstra­
do que o objetivo deste era. deliberadamente, fraudar a lei em cuja vigência se deu a contratação (2" 
TACivSP- RT 686/136, apudNERY JR., 3a ed., p. 231.) 
Outro caso importante, que decorre da jurisprudência, é o da interpretação da vontade real 
dos agentes para considerar que, mesmo diante da ausência de declaração de vontade expressa, 
seja considerada a intenção de celebrar o negócio, como no julgado a seguir, em que o tribunal 
paulista reconheceu que, no caso da aplicação de valores em investimentos de risco, sem anuên­
cia expressa do cliente, considerar a conduta do correntista que, embora não consultado previa­
mente quanto à aplicação, silenciou-se enquanto a operação lhe era vantajosa, vindo a reclamar 
somente quando se verificou o prejuízo. Veja-se: 
Aplicação no mercado financeiro de ações não autorizada por correntistas que experimentaram perda 
com o desvio de seus ativos que estavam no ltaú-FIC, investimento de renda fixa, 'para o fundo de 
ações ltaú Cart~ira Livre - Correntistas que querem indenização porque não autorizaram o investi­
mento e não ficaram cientes do seu elevado grau de risco, como determinavam as normas da CVM 
- Ação julgadaparcialmente procedente - Condenação do banco ao pagamento de danos materiais 
(RS 42.697,60) desviados indevidamente do fundo de renda fixa para o de ações- Dano moral não 
pronunciado- Correntistas inconformados porque, os revezes sofridos com a malsinada aplicação lhe 
atingiram o mais fundo de suas almas- Inconformismo do banco porque os correntistas sabiam dos 
riscos da troca dos ativos do fundo de renda fixa para o de ações -Acolhimento do recurso do banco 
-Não acolhimento do recurso dos correntistas~ Aplicador-varão advogado~ Ainda que ao tempo da 
transferência do numerário de um fundo para o outro vigorasse a Instrução Normativa CVM 177/92, 
que exigia a ciência do cotista sobre o alto índice de risco da aplicação em fundo de ações, o certo 
é que o aplicador-varão não pode desconhecer que ele consentiu a transferência enquanto os ganhos 
estavam polpudos- Quem cala consente quando tem o dever de se pronunciar~ Não estivessem felizes 
com a transferência, deveriam ter ordenado o retorno do capital para o fundo de renda fixa- Silêncio 
só quebrado quando o fundo de ações experimentou perdas sensíveis (9 meses após a transferência)­
Silêncio absoluto com a transferência que importa aquiescência- Art. 85, do CC/16 que se confronta 
com o art. 112, do CC/02 ~A melhor forma de se aferir a vontade contratual das partes é observar o 
comportamento delas -Inviabilidade do aplicador-varão desconhecer que permitiu~ a execução de um 
contrato aleatório equiparado a uma emptio spei- Recm1>o do banco provido para, julgar improcedente 
a ação, invertidos os ônus da sucumbência. (TJSP. Julgado referido na decisão monocrática proferida 
n6 Ag 1312778. Relattor(a) Ministra NANCY ANDRIGHL Data da Publicação: 03/09/2010) 
b) Princípio da boa-fé: Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os 
usos do lugar de sua celebração (art. 113). Fala-se, aqui, em primeiro plano, da boa-fé obje­
tiva, cláusula geral de interpretação para todos os negócios, ou seja, regra de procedimento 
segundo a qual as partes contratantes devem se isentar de intenções maliciosas em detrimen­
to da outra. 
Cap. V • FATOS JURíDICOS i 327 
Mas não se pode deixar de compreender que o art. 113, embora seja norma de interpretação, 
dá vazão ao irrestrito reconhecimento, também, da boa-fé subjetiva, como norma geral de efi­
cácia veiiical sobre as demais regras contidas no próprio sistema, devendo prevalecer, portanto, 
a boa-fé subjetiva de terceiro quando em confronto com normas que acarretem a invalidade de 
negócios por ele entabulados. 
Bom exemplo disso é a opção que o STJ tem feito pela proteção do tercein1) adquirente de 
boa-fé de unidade autônoma de edifício de apartamentos em detrimento de garanti~ real oferecida 
pela construtora, antes ou depois do compromisso com o adquirente (Súmula 308), à instituição 
financeira que lhe concedera empréstimo para financiar a obra. Veja-se, a título de exemplo, o 
seguinte julgado: 
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SFH. CONTRATO DE FINANCIAMENTO. UNIDADE 
DE APARTAMENTOS. HIPOTECA CONSTITUÍDA SOBRE IMÓVEL JÁ PROMETIDO À VENDA 
E QUITADO. INVALIDADE. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 
OFENSA. CARACTERIZAÇÃO. ENCOL. NEGLIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. 1- É 
nula a cláusula que prevê a instituição de ônus real sobre o imóvel, sem o consentimento do promitente­
-comprador, por ofensa ao princípio da boa-fé objetiva, previsto no Código de Defesa do Consumidor. 11 
-Não preyalece diante do terceiro adquirente de boa-fé a hipoteca constituída pela incorporadora 
junto ao agente financeiro, em garantia de empréstimo regido pelo Sistema Financeiro da Habi­
tação. Destarte, o adquirente da unidade habitacional responde, tão- somente, pelo pagamento 
do seu débito. IH- Consoante já decidiu esta Corte: "é negligente a instituição financeira que não ob­
serva a situação do empreendimento ao conceder financiamento hipotecário para edificar um prédio de 
apartamentos". Da mesma forma, '"ao celebrar o contrato de financiamento, facilmente poderia o banco 
inteirar-se das condições dos imóveis, necessariamente destin!ldos à venda, já oferecidos ao público e, no 
caso, com preço total ou parcialmente pago pelos terceiros adquirentes de boa-fé". (Precedentes: REsp 
no 239.968/DF, OJ de 04.021002 e REsp n° 287.774/DF, DJ de 02.04.2001 e EDResp. n° 415.667/SP, 
de 21.06.04). Recurso especial não conhecido. (REsp 617.045/GO, Rei. Ministro CASTRO FILHO, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 28/10/2004, DJ 17/12/2004, p. 539) 
Importante ressaltar, por fim, que voltaremos ao tema da boa-fé na oportunidade da análise 
das obrig~ções e dos contratos. 
c) Interpretação restritiva dos negócios benéficos: Já desde o Direito Romano se dizia: "Lei 
no 28 de Ulpiano: qui ex liberalitate conveniuntur, in id, quod facere possunt, condemnan­
dos: aqueles que são demandados em virtude de liberalidade só serão condenados ao que 
corresponda às suas possibilidades". 
Isto se dá porque as liberalidades implicam, geralmente, em redução permanente ou tem­
porária do patrimônio de seus autores. Assim, não se pode interpretar de maneira extensiva o 
conteúdo da intenção de beneficiar, sob pena de injusto empobrecimento daquele que fez o bem 
ao terceiro. 
Por isso, reza o art. 114 do Código Civil que, nos negócios jurídicos benéficos (fiança, doa­
ção, comodato etc) e na renúncia, a interpretação deve ser restritiva (art. 114). Essa norma impor­
ta em relevantes reflexos na parte especial do Código Civil, a exemplo dos seguintes dispositivos: 
Art. 552.0 doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às conseqüências da evicção 
ou do vício redibitório. Nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará 
sujeito à evicção, salvo convenção em contrário.[ ... ]. Art. 584.0 comodatário não poderá jamais re­
cobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.( ... ] Art. 819.Afiança 
dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. 
[J;s) MANUAL DE DIREITO C! VIl- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria Jzabel de Melo 
6. REPRESENTAÇÃO 
6.1. Noções introdutórias 
O Código Civil de 2002 disciplina, na parte geral, as regras da representação. 
Diferentemente do antigo código, que tratava da representação apenas na parte especial, nos 
tópicos respectivos, o atual legislador entendeu necessária a sua regulamentação geral, porque os 
diversos casos de representação existentes na parte especial se espalham por diversas matérias, 
como no Direito de Família (pais, tutores, curadores), nas obrigações (mandato, agência etc.) e 
nas sucessões (inventariança), por exemplo. Por isso, exige-se uma sistematizJ.ção geral do tema 
para aplicação supletiva às normas especiais. 
A representação pode ser legal ou voluntária (art. 115). É legal quando decorre da lei; volun­
tária quando decorre da vontade das partes. 
6.2. Limites ao exercício da representação e a teoria da aparência 
O exercício da manifestação de vontade, pelo representante, deve se limitar aos poderes a 
ele conferidos (pela lei ou pelo negócio de representação), segundo o art. 116, sob penà de anula­
bilidade, conferida pelo art. 119. Esta anulabilidade, no entanto, fica subordinada à circunstância 
de que o excesso de representação deve ser do conhecimento do outro contratante, ou que, pelo 
menos, este deva ter conhecimento deste excesso. Essa proteção da boa-fé do terceiro contratante 
advém da adoção da teoria da aparência. 
A ação para anular o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o 
representado está sujeita ao prazo decadencial de 180 dias (CC, art. 119, par. único), a contar da 
conclusão do negócio ou, em se tratando de representado incapaz, da cessação da incapacidade. 
Adotada a teoria da aparência, o resguardo da boa-fé do terceiro faz com que o negócio 
possa ser exigível em desfavor do representado. 
O reconhecimento da teoria da aparência no direito brasileiro tem resultado em consequên­cias como, por exemplo, a validade da citação da pessoa jurídica, mesmo que feita na pessoa 
de funcionário sem poderes para tanto, o qual, no entanto, recebe o ato citatório sem mencionar 
qualquer ressalva a esse respeito. Trata-se de entendimento já consolidado no STJ, como se vê 
adiante: 
PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO Art. 535 DO CPC INOCORRENTE. AÇÃO DE INDENI­
ZAÇÃO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRA.TUITA. ENTIDADE FILANTRÓPICA. PRESUNÇÃO 
DE HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE NULIDADE DE CI­
TAÇÃO. TEORIA DA APARÊNCIA. APLICAÇÃO. [ ... ] 4. "Aplicação do entendimento preva!ente 
da Corte Especial no sentido de adotar-se a Teoria da Aparência, reputando-se válida a citação da 
pessoa jurídica quando esta é recebida por quem se apresenta como representante legal da empresa 
e recebe a citação sem ressalva quanto à inexistência de poderes de representação em juízo" (AgR­
gEREsp 205.275/PR, Relatora Min. Eliana Calmon, DJ 28.10.02). 5. Recurso especial não provido. 
(REsp 1 195605/RJ, Rei. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/09/2010, 
DJe 22/09/2010) 
Na mesma trilha de entendimento, o Superior Tribunal de Justiça tem aplicado a teoria da 
aparência para se autorizar a responsabilização da pessoa jurídica por atos de gerentes que, mes­
mo sem poderes expressos, contratam com terceiros em circunstâncias tais que não era razoável 
exigir-se deles (terceiros) o conhecimento sobre a inexistência de poderes para a pactuação. Ve­
ja-se: 
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MPSE
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DIREITO EMPRESARIAL. NEGÓCIO JURÍDICO CELEBRADO POR GERENTE DE SOCIEDA­
DE ANÓNIMA. AUSÊNCIA DE PODERES. ATO CONEXO COM A ESPECIALIZAÇÃO ESTA­
TUTÁRIA DA EMPRESA. LIMITAÇÃO ESTATUTÁRIA. MATÉRIA, EM PRINCÍPIO, INTERNA 
CORPORIS. TERCEIRO DE BOA-FÉ. TEORIA DA APARÊNCIA. APLICABILIDADE. 1. No caso 
em exame, debatem as partes em torno de aditivo que apenas estabeleceu nova fonna de reajuste do 
contrato original-em relação ao qual não se discute a '\ia !idade-, circunstância a revelar que o negócio 
jurídico levado a efeito pelo então Gerente de Suprimentos, que é acessório, possui a mesma natureza 
do principal- prestação de serviços-, o qual, a toda evidência, poderia ser celebrado pela sociedade re­
corrente por se tratar de ato que se confonna com seu objeto social. 2. Na verdade, se a pessoajuódica 
é constituída em razão de uma finalidade específica (objeto social), em principio, os atos consentãneos 
a essa finalidade, não sendo estranho ao seu objeto, praticados em nome e por conta da sociedade, por 
seus representantes legais, devem ser a ela imputados. 3. As limitações estatutárias ao exercício de 
atos por parte da Diretoria da Sociedade Anônima, em princípio, são, de fato, matéria interna corpo ris, 
inoponfveis a terceiros de boa-fé que com a sOciedade venham a contratar. 4. Por outro lado, a ade­
quada representação da pessoa jurídica e a boa-fé do terceiro contratante devem ser somadas ao fato 
de ter ou não a socíedade praticado o ato nos limites do seu objeto social, por intennédio de pessoa 
que ostentava ao menos aparência de poder. S. A moldura fática delineada pelo acórdão não indica a 
ocorrência de qualquer ato de ma-fé por parte da autora, ora recorrida, além de deixar estampado o fato 
de que o subscritor do negócio jurídico ora impugnado- Gerente de Suprimento- assinou o apontado 
"aditivo contratual" na sede da empresa e no exercício ordinário de suas atribuições, as quais, aliás, 
faziam ostentar a nítida aparência a terceiros de que era, deveras, representante da empresa. 6. Com 
efeito, não obstante o fato de o subscritor do negócio jurídico não possuir poderes estatutários para 
tanto, a circunstância de este comportar-se, no exercício de suas atribuições- e somente porque assim 
opennitiu a companhia-, como legítimo representà.nte da sociedade atrai a responsabilidade da pessoa 
jurídica por negócios celebrados pelo seu representante putativo com terceiros de boa-fé. Aplicação 
da teoria da aparência. 7. Recurso especial improvido. (REsp 887277. Rel. Mir:istro LUIS FELIPE 
SALOMÃO. QUARTA TURMA. Informativo/STJ n~ 0454). 
No mesmo sentido: 
Direito comercial. Recurso especial. Ação de embargos do devedor à execução. Acórdão. Omissão. 
Inexistência. Título de crédito (nota promissória) emitido em nome da pessoa jurídica. Administrador. 
Excesso de mandato caraCterizado. Oposição a terceiro de boa~fé. Impossibilidade. Ausência de ex­
cesso de mandato. Ônus da p~ova. Prequestionamento.- [ ... ]-O excesso de mandato praticado pelo 
administrador da pessoa jurídica poderá ser oposto ao terceiro beneficiário apenas se ficar afastada 
a boa-fé deste, o que ocorre quando: {i) a limitação de poderes dos administradores estiver inscrita 
no registro próprio, (ii) o terceiro conhecia do excesso de mandato, e (iii) a operação realizada for 
evidentemente estranha ao objeto social da pessoa juridica.- Verificada a boa~ fé do terceiro, restará 
à pessoa jurídica exigir a reparação pelos danos sofridos em ação regressiva a ser proposta contra o 
administrador que agiu em excesso de mandato. -É inadmissível o recurso especial na parte em que 
não restou prequestionado o direito tido por violado.- Recurso especial a que não se conhece. (REsp 
448.471/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/03/2003, DJ 
I4/04/2003, p. 221) 
Contudo, o art. 118 impõe ao representante que excede seus poderes, sem o conhecimento 
do terceiro, a responsabilidade pelos atos que excederem os tennos da representação. Isso não 
implica, como vimos, em desoneração do representado para com os terceiros de boa-fé, por apli­
cação da teoria da aparência. A responsabilidade do representante decorre, portanto, do direito de 
regresso que se confere ao representado. · 
6,3, Negócio consigo mesmo 
Diz o art. 117 do Código Civil que salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o 
negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo 
mesmo. 
MPSE
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, 330 MANUAL DE DIREITO CIVIL- Sebastião de Assis Neto, Marcelo de Jesus e Maria lzabe/ de Melo 
Consagra-se, assim, a regra de que, não existindo autorização legal ou convencional (forne­
cida pelo representado), não pode o representante utilizar seus poderes para celebrar negócio em 
que o destinatário da declaração de vontade do representado seja o próprio representante. 
Tome-se como exemplo o do representante de uma empresa que transfira para seu nome os 
brns de propriedade da sociedade, em detrimento da pessoa jurídica e de seus sócios. Nos tennos 
db art. 117, tal negócio é anulável. 
Também podemos verificar a aplicação da norma no caso em que um procurador com 
poderes de alienação de uma coisa de propriedade do mandante (mas sem os poderes previstos 
no art. 685 do CC - conferir abaixo), outorga substabelecimento a outrem, vindo a praticar o 
negócio de aquisição da coisa com o substabelecido, em clara distorção do regramento acima 
referido. 
Registre-se ainda o exemplo da nulidade da cláusula-mandato, talhada pela jurisprudência 
do STJ. Trata-se de expediente utilizado, geralmente, por instituições financeiras para garantir o 
pagamento de empréstimos a juros por parte do mutuário: no momento da assinatura do contrato 
de mútuo, o mutuário dá poderes ao mutuante para que este emita, em seu próprio favor, título de 
crédito representativo do valor atualizado da dívida, o que foi repelido, com justiça, pela Súmula 
60 do STJ, que reza que "é nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário, 
vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste". 
Observe-se que a outorga desses poderes abusivos em favor de instituições financeiras, na 
prática, dá-se muito comumente, também, através da exigência, pelo credor, de emissão, pelo 
devedor, no momento da assinatura do contrato de empréstimo, de títulos de crédito (geralmente 
notas promissórias) em branco em favor do credor, para posterior preenchimento ao alvedrio 
deste, o que também

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