Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 1ª edição Ipatinga – MG 2022 Suelen Martins Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Estudos de Linguagem pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Especialista em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e graduada em Letras Português/Inglês e suas respectivas literaturas pelo Centro Universitário de Belo Horizonte. Dedica-se ao estudo da divulgação científica em matérias jornalísticas brasileiras e norte-americanas a partir dos aspectos que constituem essa prática textual, principalmente, no que tange à perspectiva das metáforas cognitivas utilizadas para esclarecer conhecimentos. Natasha Ribeiro de Oliveira Mestre e doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Possui graduação em Letras, com habilitação em Português e Francês pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Desenvolve, atualmente, estudo com referencial teórico-metodológico do Círculo de Bakhtin, com o apoio da CAPES, intitulado "Arte, mídia e política: uma análise bakhtiniana de "bolsominions" e "petralhas". Desenvolveu, em nível de mestrado e iniciação científica, pesquisas na mesma área da análise do discurso, com ênfase na verbivocovisualidade da linguagem. Membro- pesquisadora e secretariado GED - Grupo de Estudos Discursivos. PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR: LINGUÍSTICA GERAL 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Fernanda Cristine Barbosa Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza Perboyre Campos Taisser Gustavo de Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br http://www.faculdadeunica.com.br/ 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 7 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA APLICADA Neste capítulo, conceitua-se a linguística aplicada (LA) como uma área que se ocupa de investigar a linguagem como prática social contextualizada. A seguir, é mostrado o percurso histórico da linguística aplicada desde o seu primeiro curso em 1946 até a contemporaneidade. Por fim, são apresentadas as noções de linguagem e de gramática à luz da linguística aplicada. 1.1 LINGUÍSTICA APLICADA: DEFINIÇÕES De acordo com Battisti e Silva (2017), a linguística aplicada se destina à investigação da linguagem em uso, ou melhor, trata-se do estudo da linguagem em diferentes contextos sócio-históricos e com diferentes objetivos comunicativos. Sendo assim, pensar nessa linguística é conceber o apagamento das fronteiras entre teoria e prática, perspectiva presente na linguística tradicional. A ideia de língua enquanto sistema, cunhado por Sausurre (1916), por exemplo, cai por terra para dar espaço à língua em sua manifestação discursiva. As pesquisas realizadas pela linguística aplicada, de maneira geral, são voltadas à compreensão dos mecanismos de ensino e de aprendizagem da língua (materna ou estrangeira). O linguista aplicado, como é chamado o pesquisador dessa área, pode se interessar, por exemplo, pelo estudo da interferência da UNIDADE 01 8 oralidade na produção de textos escritos em situações mais formais da língua (como, por exemplo, crônicas, relatos científicos, editoriais) por alunos do 9.º ano do Ensino Fundamental II. Ao analisar os textos escritos por esses alunos, esse pesquisador pode encontrar algumas marcas de oralidade, tais como gírias, abreviaturas, expressões de menos prestígio e desvios de norma em um gênero de texto escrito, como uma carta do leitor. As pesquisas em linguística aplicada, de praxe, tentam propor sugestões para “solucionar” as problemáticas envolvendo o uso social da língua. Figura 1: Produção textual com interferência de oralidade Fonte: Ferreira e Moreira (2014) O texto acima consta no artigo A influência do texto oral nas produções escritas dos alunos, de Ferreira e Moreira (2014), sobre as dificuldades enfrentadas por alunos, advindos das séries iniciais, em identificar o que é relativo à modalidade escrita da língua e o que é relativo à modalidade oral. O trabalho foi desenvolvido com os alunos do 6.º ano do Ensino Fundamental II, do Colégio Estadual Padre José de Anchieta de Apucarana (Paraná), em duas etapas: 32 horas/aula para planejamento, organização e apresentação do projeto para a equipe pedagógica e 32 horas/aula para a implementação das atividades pedagógicas. As aulas foram divididas em unidades: 1) gênero textual “música”; 2) gênero textual “bilhete”; 3) gênero “mensagem de texto por celular”; 4) gênero “causos”, 5) gênero “publicação na internet (blog)”. As atividades foram desenvolvidas com 30 alunos. Como é possível verificar, o autor do texto apresentado na figura 1, um aluno do 6.º ano do Ensino Fundamental II, apresenta desvios de norma (fala, disgraça, mudo, goisa, vouto e busca) que encontram respaldo na modalidade oral. É importante ressaltar que o gênero textual “causo” é um bom mote para se trabalhar retextualização da modalidade oral para a escrita. A análise dos textos e dos 9 fenômenos relativos à dificuldade de transposição de uma modalidade a outra assim como a proposta de um projeto de intervenção para auxiliar os alunos com dificuldades perfila o trabalho desenvolvido pela linguística aplicada. Apesar de a grande concentração dos trabalhos realizados em linguística aplicada ser voltada para as questões de ensino e de aprendizagem, contemporaneamente, essa área tem se mostrado cada vez mais interdisciplinar. Segundo Moita Lopes (2009, p.18), a linguística aplicada “ao espraiar para outros contextos, aumenta consideravelmente seus tópicos de investigação, assim como o apelo de natureza interdisciplinar para teorizá-los”. Dessa forma, a linguagem tem sido analisada a partir do prisma da filosofia, da sociologia e da psicologia, a saber. Ao longo do livro, essa vertente interdisciplinarda LA é delimitada com afinco e com detalhes. 1.2 PERCURSO HISTÓRICO DA LINGUÍSTICA APLICADA Dentro de uma perspectiva histórica, os estudos envolvendo a linguística aplicada podem ser considerados recentes. Esse campo de estudo tem a sua origem nos estudos mirados no ensino e na aprendizagem de língua estrangeira. O primeiro curso de LA data da década de 1940 (precisamente em 1946) e aconteceu na Universidade de Michigan onde lecionavam Charles Fries e Robert Lado. A motivação para o início do curso veio com a publicação, consoante Battisti e Silva (2017), da revista Language Learning: a Journal of Applied Linguistics pela Universidade de Michigan. https://bit.ly/3KFImfM 10 Figura 2: Charles Fries Fonte: https://bit.ly/3qcq6CN. Acesso em: 20 jan. 2022. Figura 3: Robert Lado Fonte: https://bit.ly/3q9DM1B. Acesso em: 20 jan. 2022. Segundo Menezes, Silva e Gomes (2009, p. 28), “nos anos 50, a LA se institucionaliza com a fundação, em 1956, da University of Edinburgh School of Applied Linguistics, uma iniciativa do Conselho Britânico, e do Center of Applied Linguistics, em 1957, com o apoio da Fundação Ford, em Washington”. O foco de estudos do Centro de Linguística Aplicada é o letramento enquanto a Universidade de Edinburgh concentra seus interesses no uso da linguagem na conversa cotidiana, em contextos médicos, em variação linguística e diversidade social. Apesar dessas iniciativas, na década de 1950, o estudo da LA ainda era fortemente influenciado pela linguística funcional e estrutural. Na década de 1960, a inauguração da Associação Internacional de Linguística Aplicada, na França, representou um marco importante para a área, uma vez que essa associação abriu possibilidades de estudos sobre multilinguismo, bilinguismo, políticas linguísticas, sociolinguística e letramento. Segundo Battisti e Silva https://bit.ly/3qcq6CN https://bit.ly/3q9DM1B 11 (2017), foi nessa época que os primeiros congressos em linguística aplicada surgiram. Em 1965, no Rio de Janeiro, entre os dias 12 e 23 de julho, houve o 1º Seminário Brasileiro de Linguística, uma iniciativa do Instituto de Idiomas Yázigi. Um dos destaques desse seminário foi o curso ministrado por Francisco Gomes de Mattos e intitulado Orientação de Linguística Aplicada. A linguística aplicada ganhou destaque no mundo a partir da segunda metade do século passado. Na década de 1970, os linguistas dessa área questionaram, a título de ilustração, a aplicação das teorias linguísticas sem a devida preocupação com os sujeitos aprendizes de uma língua estrangeira. Nesse caso, o indivíduo, usuário da língua ou aquele que a fazia funcionar no mundo real, deveria ser também objeto de estudo. Há, para Menezes, Silva e Gomes (2009), alguns marcos da expansão da LA a partir da década de 1970. O primeiro deles foi a abertura, em 1970, do Programa de Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O segundo é a criação do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) em 1980 e do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). A partir da década de 1980, a linguística aplicada que, até então era associada às discussões sobre o ensino e a aprendizagem de línguas, amplia o seu escopo de debate e começa a ter contornos interdisciplinares. Emergem, assim, pesquisas focando nas temáticas do bilinguismo, da análise do discurso, da tradução, dentre outras, como mostra os artigos publicados no periódico Applied Linguistics de 1980. Essa revista tinha o propósito de incentivar o diálogo entre diferentes campos e diversas teorias que envolvem a linguagem, problematizar a linguagem em seu uso no mundo real além de mostrar diversos métodos de pesquisa. A autonomia da linguística aplicada no Brasil veio na década de 1990 com a fundação da Associação de linguística aplicada no Brasil (ALAB) que se deteve a compreender as questões sociais relacionadas à linguagem. Com a LA ganhando força no cenário brasileiro, muitos congressos, revistas e programas de pós- graduação surgiram. De acordo com Menezes, Silva e Gomes (2009), se os programas de pós- graduação se destacaram entre os anos 80 e 90, somente em 2004 houve o reconhecimento sobre a necessidade de contratação do profissional da LA para um curso de graduação. A Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais 12 (UFMG) foi a pioneira na abertura de concurso público para esse fim. Em 2007, essa mesma instituição propôs duas áreas para a linguística aplicada: 1) LA e ensino de línguas estrangeiras e 2) LA e tradução. Atualmente, a pesquisa em linguística aplicada apresenta estudos em potencial, voltados para diferentes áreas como análise do discurso, aquisição de segunda língua, letramento, fluência e precisão, psicologia educacional e educação linguística. A tendência é que a linguística aplicada se diversifique em temáticas. Uma área que vem crescendo, em LA, é a relacionada à observação da aprendizagem de línguas mediada pelo computador. Nesse tipo de pesquisa, o computador é uma ferramenta, um médium, para que a aprendizagem ocorra; isso significa que ele seja apontado como mais importante (ou menos importante) do que as figuras do professor e do aluno. Leffa (2006) afirma que essa pesquisa é, certamente, a mais interdisciplinar daquelas que compõem o hall de estudos em LA. Do ponto de vista metodológico, adota-se o estudo de caso (estratégia ampla de pesquisa científica sobre um fenômeno atual em seu contexto real, no caso, o impacto do uso de computadores na aprendizagem de língua). Para tanto, o pesquisador se utiliza de questionários, entrevistas, testes de proficiência, dentre outros. 1.3 CONCEPÇÕES DE LINGUÍSTICA APLICADA: LINGUAGEM E GRAMÁTICA A linguística aplicada pode ser definida, de acordo com Menezes, Silva e Gomes (2009), como a área que pesquisa o ensino e a aprendizagem, que estuda a aplicação da linguagem e que a analisa como prática social. Para compreender como os estudos em LA se processam, há de se considerar quais são as concepções https://bit.ly/3ienCPT 13 de linguagem e de gramática pertinentes a esse campo de investigação. A linguagem pode ser compreendida sob três ópticas: a) linguagem como espelho do pensamento, b) linguagem como instrumento de interação, c) linguagem como processo de interação. A primeira concepção prevê que a linguagem tem caráter monológico e é a materialização do pensamento em forma de palavras. A concepção de gramática adotada é a normativa ou tradicional. A segunda diz respeito à preocupação com os elementos de comunicação. A terceira diz respeito à linguagem como importante instrumento para o processo de interação em uma situação comunicativa. Sob o viés da linguística aplicada, a linguagem é definida pelo contexto e pelos sujeitos envolvidos na interação. Para Mulik (2019), a discussão sobre língua e linguagem é central para a linguística aplicada, já que a forma como o professor lida com esses conceitos pode determinar o direcionamento pedagógico adotado por ele. A noção de linguagem, para os linguistas aplicados, procede de um olhar pós- estruturalista. Conforme essa vertente, a linguagem, que não é neutra, está construída junto à realidade. Para a LA, não se comunicam ideias e valores por meio da linguagem, mas “criam-se ideias e valores por meio dela” (MULIK, 2019, p.51). A linguagem, na visão pós-estruturalista, é estruturada, no entanto, não é fixa ou estável, pois é dinâmica a depender do contexto. A gramática é comumente associada a uma concepção relativa ao conjunto de regras que regem o uso de uma língua. Esse conceitoé considerado tradicional ou normativo, quer dizer, tem caráter prescritivo, visto vez que prevê um compilado de normas que precisam ser seguidas pelos usuários da língua, de modo que eles escrevam e falem bem. Há, no entanto, outras duas concepções de gramática que precisam ser consideradas nos estudos linguísticos como a internalizada e a descritiva. A 14 gramática internalizada diz respeito ao conjunto de regras dominadas pelos falantes, os quais são dotados de uma gramática internalizada. Já a gramática descritiva visa descrever como a língua ocorre sem, entretanto, como conduz a gramática normativa, prescrever regras a serem seguidas. Das gramáticas acima referendadas, a que mais é interessante para a linguística aplicada é a gramática descritiva, já que esta não dita regras, mas descreve a língua em uso. A partir da década de 1980, com o avanço da LA, que prioriza, dentre várias abordagens, a observação das condições de ensino e de aprendizagem da língua em uso, houve uma mudança de paradigma na produção das gramáticas que tiveram um caráter escolar/pedagógico. Estes manuais abordam temas voltados ao uso da língua, tais como variação linguística, linguagem verbal, não verbal, funções da linguagem, dentre outras. O professor Ataliba de Castilho, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH da Universidade de São Paulo (USP), idealizou, em 1988, o Projeto Gramática do Português Falado (PGPF), uma iniciativa responsável pela escrita de uma coletânea de gramáticas de uso. Essas gramáticas descreviam a estrutura e o funcionamento da língua e, segundo Battisti e Silva (2017), Diferentemente da gramática tradicional, não há noção de certo e de errado, é considerado gramatical tudo o que está em consonância com as regras de funcionamento da língua em qualquer uma de suas variantes – a noção de certo e de errado é substituída pela noção da diferença. (BATTISTI e SILVA, 2017, p.22) 15 As gramáticas descritivas não são doutrinárias, como as gramáticas normativo- tradicionais. Pelo contrário, esses manuais se ocupam da descrição e da análise do português em uso. Se por um lado as gramáticas normativas são excludentes, as gramáticas descritivas são includentes por abarcarem as diversas manifestações da língua em uso. Afirma-se, então, que a perspectiva de gramática descritiva rompe com a tradição das regras impostas pela gramática normativa. A gramática, para os linguistas aplicados, deve ser trabalhada em uma perspectiva contextualizada e precisa estar a favor da linguagem em uso e das necessidades reais dos estudantes. A seguir, são apresentadas algumas gramáticas descritivas mais conhecidas no mercado editorial brasileiro. Figura 4: Gramáticas descritivas Fontes: Perini (1995), Neves (1999) e Castilho e Elias (2010) https://bit.ly/3thKm8g 16 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A respeito da consolidação da LA, avalie as afirmativas a seguir. I. O objeto de estudo da LA é a linguagem em uso. II. A LA está preocupada com questões reais do uso da língua. III. A concepção de linguagem que predomina na LA é a estruturalista. IV. Desenvolver novos métodos de ensino é o único objetivo da LA. V. A LA é a aplicação da Linguística. Assinale a alternativa correta. a) Todas as afirmações são verdadeiras. b) II e III são verdadeiras. c) I e II são verdadeiras. d) I, IV e V são verdadeiras. e) I, III, IV e V são verdadeiras. 2. (ENADE) Tomando por base o trecho escrito que representa a fala de Nhinhinha: “Mas, não pode, ué...”, assinale a opção correta a respeito dos processos de transposição da linguagem oral para a linguagem escrita. a) As letras do alfabeto do português representam palavras da língua portuguesa. b) Em língua portuguesa, a relação entre a letra e o som, como [e] no exemplo, é regular: mantém-se a mesma em qualquer palavra. c) Por serem usadas em início de frases ou nomes próprios, as letras maiúsculas correspondem, na fala, a maior impacto e força sonora. d) Os sinais de pontuação marcam, na escrita, a organização dos fragmentos linguísticos, que são marcados, na linguagem oral, pela entonação. e) Os signos do código escrito são mais complexos que os signos do código falado; por isso, as interjeições, como “ué”, são características de oralidade. 17 3. Leia a placa a seguir atentamente. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3MTY8FM. Acesso em: 23 jan. 2021. Analise as proposições a seguir e assinale (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as alternativas falsas. ( ) O autor do texto, devido aos erros ortográficos na placa, parece entender a escrita como um registro da fala, o que é um equívoco. ( ) O autor, ao confundir fala com escrita, acaba por comprometer o sentido do texto, obrigatoriamente, produzido pela norma gramatical. ( ) O autor da placa parece ter frequentado a escola durante poucos anos. Além disso, parece ser falante de uma variedade estigmatizada do português. ( ) O autor, além de apresentar problemas com a produção escrita, também desconhece as determinações do gênero proposto e não procura organizar as informações textuais como de costume em um anúncio. A seguir, marque a alternativa que contém a sequência correta. a) F-F-F-V. b) V-V-V-F. c) F-V-V-F. d) V-V-V-V. e) V-F-V-F. https://bit.ly/3MTY8FM 18 4. (FUMARC) Leia o texto a seguir. NÃO E NÃO Antônio Prata Assistindo a "Nemo" pela quinquagésima nona vez, meu filho enfia o dedo no nariz. "Não, filhote, dedo no nariz não pode", digo - e sou tomado por um desconforto. Alguns nãos eu falo com convicção: não pode mamar às três da manhã, não pode regar o aparelho da Net, não pode comer bola de gude, por mais que elas insistam em imitar lindas uvas ou jabuticabas. Essas não são proibições vazias: se meus filhos não tivessem só dois e três anos, eu lhes explicaria direitinho as razões. "Não pode mamar às três da manhã, porque se tiver tudo que quiser a hora que bem entender você vai crescer achando que a vida é um Club Med 'allinclusive' e quando o mundo começar a te negar todas as mamadeiras que inevitavelmente te negará você vai ficar deprimidíssima e desorientada e vai terminar viciada em crack, em Negresco com Nutella ou coisa pior, tipo bingo – então abraça esse coelhinho e vamos dormir bem gostoso até amanhã, tá?" "Não pode regar o aparelho da Net, porque ele é elétrico e vai causar um curto circuito e talvez pegue fogo no prédio e embora eu entenda que você queira regar todos os objetos à sua volta com o regador da vovó Tuni pra ver se eles crescem ou florescem, melhor se restringir ao vaso de girassol. (Além do mais, te garanto por experiência própria que os botões do aparelho da Net não são do tipo que se abrem em flores)." "Não pode comer bola de gude porque, embora o Homo sapiens seja onívoro, na ampla lista que inclui alface, boi, ouriço, ovo, alga, cogumelo e gafanhoto, não se encontra o vidro." Com relação a enfiar o dedo no nariz, contudo... Convenhamos: eu, você, o papa Francisco e o Wesley Safadão enfiamos, só não saímos por aí, tipo, admitindo aos quatro ventos num grande jornal de circulação nacional. Para ser coerente eu deveria dizer: "Filho: dedo no nariz é uma coisa que todo mundo acha nojento nos outros, mas não em si próprio, de modo que só se faz escondido. Esse é um pacto silencioso da nossa espécie. Um segredo guardado pelos 7 bilhões de habitantes do planeta." O problema de tal confissão é que ela me obrigaria a dar um segundo passo. "É o que chamamos de hipocrisia. Muito do que ensinamos a vocês é isso: hipocrisia. Quando a gente fala que tem que emprestar as coisas pros outros, por exemplo.Os adultos não agem assim. Veja: 1 bilhão de adultos têm um monte de coisas e 6 bilhões de adultos não têm porcaria nenhuma, mas esse 1 bilhão não empresta as coisas pros descoisados nem a pau. Quando a gente diz que só ganha sobremesa se comer brócolis, por exemplo, é outra tremenda hipocrisia. Ontem o papai e a mamãe saíram pra jantar e racharam um cheesecake do tamanho de um jabuti depois de comerem x-salada e batata frita, bebendo cerveja. Quando a gente diz que tem que falar sempre a verdade, então, é a maior hipocrisia de todas. A gente mente a torto e a direito. Se todos falassem a verdade teríamos que admitir, por exemplo, que 1 bilhão de pessoas têm todos os brinquedos e não deixam os outros 6 bilhões brincarem, que a Gisele Bündchen põe o dedo no nariz ou que a mamãe do Nemo não está no trabalho, como sempre te digo, ela é devorada por um tubarão na primeira cena do filme, por isso toda vez nós começamos pelo minuto sete. Um mundo assim seria impraticável, não?" "Ei, Dani. Tira esse dedo do nariz. Isso." Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3qb59rY. Acesso em: 23 jan. 2022. Há marcas de oralidade, exceto em: a) "Ei, Dani. Tira esse dedo do nariz. Isso." b) “[...] então abraça esse coelhinho e vamos dormir bem gostoso até amanhã, tá?" https://bit.ly/3qb59rY 19 c) “Quando a gente fala que tem que emprestar as coisas pros outros, por exemplo.” d) “Se todos falassem a verdade, teríamos que admitir, por exemplo, que 1 bilhão de pessoas têm todos os brinquedos [...]”. e) “esse 1 bilhão não empresta as coisas pros descoisados nem a pau”. 5. Sobre o percurso histórico da linguística aplicada no mundo, assinale a alternativa correta. a) A primeira revista de LA foi Language Learning: a Journal of Applied Linguistics. b) Essa área teve sua origem nos estudos de língua materna. c) O primeiro curso de LA aconteceu na Universidade de Michigan em 1950. d) Os estudos em linguística aplicada são considerados antigos (década de 1940). e) Os pioneiros nos estudos em LA foram Charles Fries e Ferdinand de Saussure. 6. (FEPESE) Considerando as diversas concepções de linguagem, assinale a alternativa correta. a) Na Concepção da Linguagem como Forma de Interação, a linguagem é lugar de convívio. Através dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria praticar a não ser falando. Há um aprendizado mais ativo por parte dos alunos. b) Na Concepção da Linguagem como Instrumento de Comunicação, fica evidente uma ênfase ao ensino da gramática normativa, norteando o aprendizado dos alunos como “certo e errado”. Foco na exteriorização do pensamento. c) Na Concepção da Linguagem como Forma de Interação, a língua é vista como um código que transmite uma mensagem e toma forma fora do pensamento. d) Na Concepção da Linguagem como Forma de Expressão do Pensamento, a língua é compreendida como homogênea e estática. O professor deve trabalhar a leitura, interpretação e produção de textos variados, enfatizando as variedades da língua. e) Na Concepção da Linguagem com Instrumento de Comunicação, a língua é vista como um código que transmite uma mensagem e toma forma fora de nosso pensamento. As formas gramaticais pré-estabelecidas são enfatizadas, configurando o ensino como prescritivo. 20 7. Sobre o percurso histórico da linguística aplicada no Brasil, assinale a alternativa incorreta. a) Em 1970, foi inaugurado o Programa de Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. b) A partir da década de 1980, as pesquisas de linguística aplicada ampliaram o seu escopo de debate e passaram a ter contornos interdisciplinares. c) Atualmente, a pesquisa em linguística aplicada apresenta estudos voltados para a análise do discurso, a aquisição de segunda língua e letramento. d) A Faculdade de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) foi a pioneira na abertura de concurso público para linguística aplicada. e) Em 2007, a UFMG propõe duas áreas para a linguística aplicada: LA e ensino de línguas estrangeiras e LA e tradução. 8. (Prefeitura Municipal de Cachoeira dos Índios) Para estudiosos, o trabalho com a gramática na escola deve dar prioridade para a leitura, para a escrita, a narrativa oral, o debate e todas as formas de interpretação e, também precisa trabalhar as variedades linguísticas. No que diz respeito aos diferentes conceitos de gramática, analise os itens a seguir. I. Para a gramática ____________, as regras operaram como obrigações a serem seguidas a rigor e, por esse motivo, tudo aquilo que foge à norma de prestígio seria reprovado, taxado como um erro. Temos aí uma perspectiva de língua em que a modalidade culta deve servir de referência a todo custo, desconsiderando-se assim, as demais variedades. II. A gramática _______________, por sua vez, segundo o autor, formula regras mediante a observação da realidade da língua, sem atribuir valor a uma variedade linguística ou outra. Por levar em consideração o fator de variação na língua, são considerados erros apenas as construções que não integram nenhum dialeto, que sejam, portanto, agramaticais (inexistentes) na língua. III. Na gramática ______________, o conhecimento sistemático que o falante tem da língua expressa suas regras de uso, sem apresentar nenhuma preocupação de cunho valorativo. Portanto, nesse caso, erros aconteceriam somente quando o 21 falante acionasse hipóteses que foram interiorizadas de maneira equivocada. Assinale a opção correta que completa as lacunas dos itens respectivamente. a) Normativa, descritiva e internalizada. b) Descritiva, internalizada e normativa. c) Internalizada, normativa e descritiva. d) Normativa, internalizada e descritiva. e) Descritiva, normativa e internalizada. 22 LINGUÍSTICA APLICADA NA CONTEMPORANEIDADE Neste capítulo, discute-se como a linguística aplicada tem sido compreendida atualmente. A LA é hoje tida como uma área interdisciplinar e dinâmica que porta diferentes concepções em si. Em seguida, é debatida a relação entre linguística aplicada e formação docente. Por último, é mostrado como a linguística aplicada se comporta socialmente em uma dinâmica de mundo globalizado. 2.1 LINGUÍSTICA APLICADA E INTERDISCIPLINARIDADE A linguística aplicada é, hoje, considerada uma área multifacetada, já que considera questões de linguagem pertinentes a diversos campos de observação da realidade, quer dizer, a LA é uma ciência de caráter adaptativo. Segundo Tílio e Mulico (2016, p. 63), “a adaptação é um processo pelo qual um organismo encaixa- se no ambiente por meio da experiência, responsável por guiar mudanças na estrutura do organismo ao longo do tempo”. Respaldando essa citação, a linguística aplicada está a serviço de pesquisas relacionadas à Psicolinguística, por exemplo. Essa característica respalda a interdisciplinaridade típica da LA atualmente. Sá et al. (2021), no artigo “Um teste de verificação lexical de português brasileiro (TVLPB) como língua adicional: criação e validação”, da área de Psicolinguística, mostram a criação e a validação de um Teste de Verificação Lexical do Português Brasileiro. O teste, uma ferramenta padronizada para medir proficiência na língua portuguesa, foi aplicado em 115 participantes falantes nativos do português brasileiro e em 23 falantes de herança do português brasileiro (língua herdada por filhos de brasileiros imigrantes). UNIDADE 02 23 O caráter dinâmico da LA diz respeito à superação da ideia de ela ser uma subárea da linguística ou um campo que se dedicava a estudar basicamente a aplicação dos conhecimentos linguísticos. Essa afirmação se justifica pelofato de a linguística aplicada ter passado por inúmeras mudanças que incluem pesquisas que se debruçam sobre questões de linguagem cada vez mais contemporâneas. A linguística aplicada é considerada imprevisível, uma vez que, além de refletir sobre a linguagem, também pondera o papel dos sujeitos que produzem essa linguagem. Uma pesquisa que investiga o processo de aprendizagem de uma língua deve levar em consideração o perfil dos usuários da língua, o contexto em que eles estão inseridos, as ferramentas e a metodologia usadas no processo de ensino e de aprendizagem. Por mais que se prevejam hipóteses e resultados, esses fatores que impactam no ensino e na aprendizagem podem trazer diferentes conclusões daquelas tiradas a priori. Esse fato ocorre, pois a pesquisa em LA não é linear e, no seu decurso, vários instrumentos, por exemplo, podem influenciar os resultados obtidos. Como foi possível verificar no capítulo 1, desde a década de 1980, a linguística aplicada tem se preocupado com pesquisas para além do estudo da aquisição de língua materna e estrangeira. A partir das características básicas da LA apresentadas nesta seção e do marco histórico de 1980, nota-se que a área recorre a outros quadros teóricos, o que a confere perfil interdisciplinar. Para Moita Lopes (2006), a linguística aplicada ganhou status “de disciplina mestiça ou nômade” que articulou múltiplos domínios do conhecimento (educação, antropologia, sociologia, filosofia) sob um viés integrador. Para ilustrar a linguística aplicada como interdisciplinar, segue o esquema 1 com algumas das áreas de interesse da LA na atualidade. Evidentemente, que a reflexão sobre o campo de investigação dessa ciência não se esgota na figura seguinte, mas é uma amostra da multiplicidade de campos científicos que estabelecem diálogo com a LA. https://bit.ly/34L28qK 24 Esquema 1: Áreas de interesse da LA Fonte: Elaborado pela autora (2022) Mesmo com todo o esforço de integrar diferentes campos, os linguistas aplicados viram que o conceito de interdisciplinaridade precisava ser revisto, pois não estava funcionando adequadamente dado aos limites impostos pela teoria de cada área do conhecimento. Na tentativa de propor uma articulação mais genuína, em meados de 2000, surgiu a noção de transdisciplinaridade que poderia, realmente, efetivar a justaposição entre os domínios. Segundo Moita Lopes (2004), a LA transdisciplinar dá ênfase à resolução de problemas da prática social e à geração de conhecimento útil para os sujeitos, quer dizer, investiga o que tem relevância social. Nas pesquisas transdisciplinares, em linguística aplicada, os resultados são contextualizados. 2.2 LINGUÍSTICA APLICADA E FORMAÇÃO DOCENTE Mesmo que os domínios da linguística aplicada tenham se expandido para abarcar pesquisas transdisciplinares, é inegável a associação entre a LA e a área da educação. No campo educacional, essa área presta serviço à elaboração e análise 25 de materiais didáticos, à reflexão sobre metodologias de ensino e de aprendizagem e à discussão sobre formação de professores. Conforme Mulik (2019), (...) a LA cumpre seu papel quando ajuda a fomentar as discussões a respeito da formação de professores; quando nos auxilia a pensar sobre as tendências educacionais e o modo pelo qual elas afetam nossas práticas pedagógicas; quando nos auxilia a desenhar políticas de ensino e de planejamento linguístico (...). (MULIK, 2019, p. 292) A formação de professores é, atualmente, um grande desafio devido às inúmeras mudanças sociais, políticas e culturais que acabam impactando no ensino de língua estrangeira e materna. A LA, enquanto área versátil e dinâmica, pode apresentar algumas respostas para o ensino crítico de línguas. A formação docente é dividida em reflexiva e colaborativa. Para Mulik (2019), a primeira diz respeito às práticas de empoderamento, considerando as teorias cognitivistas, já a segunda tem relação ao cumprimento de propósitos anti- hegemônicos. No quadro 1, são ressaltadas as características da vertente da formação reflexiva e colaborativa. Quadro 1: Formação reflexiva e colaborativa Tipo de formação Características Reflexiva O professor é visto como o agente responsável pela preparação do indivíduo que atuariam na sociedade. Sendo assim, o professor deve organizar situações de aprendizagem, envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho, trabalhar em equipe, envolver os pais e utilizar as novas tecnologias. Colaborativa O professor é formado com respeito às perspectivas socioculturais e a partir de processos dialógicos e parcerias. A formação de profissionais é compreendida como processo dinâmico de transformação. Fonte: Elaborado pela autora com base em Mulik (2019) https://bit.ly/37uGLLn https://bit.ly/3u1P9tA 26 No que concerne à linguística aplicada, a formação reflexiva está contemplada em pesquisas sobre crenças dos professores sobre ensino- aprendizagem, estudo sobre conhecimento prático e profissional, além de cultura do ensinar a aprender. Exemplo de pesquisa em LA com base na perspectiva reflexiva é a dissertação “Crenças de professores de espanhol sobre a avaliação no ensino- aprendizagem de LE”, de autoria de Mariana Rabelo Rocha, defendida em 2019, na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). No trabalho, a autora investiga quais são as crenças dos professores egressos do curso de Letras – Língua e Literatura Espanhola sobre a avaliação no ensino-aprendizagem de língua estrangeira. Rocha (2019) chegou à conclusão de que as avaliações são pautadas em práticas tradicionais como a avaliação somativa. Essas pesquisas, em resumo, focavam em reflexão sobre a práxis do professor na escola. Sob o viés da formação colaborativa, a LA considera pesquisas que integram formação integral e continuada, tendo a escola como um espaço para isso. A linguística aplicada se destaca, assim, por mirar seus interesses na formação de professores que possuem seus saberes legitimados. Além disso, para essa visão formativa, as práticas pedagógicas devem incluir as questões sociais. A dissertação “Letramento acadêmico: uma proposta para formação continuada dos professores de língua materna”, de Aurilene Ferreira de Oliveira, defendida em 2019, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), é um exemplo de pesquisa realizada sobre formação de professores. A autora faz uma ponderação sobre a importância do letramento científico para a constituição da identidade do professor de língua materna. O trabalho apresenta, como conclusão, que a formação continuada, com o aporte da universidade, pode representar um ganho para as práticas dos professores de Língua Portuguesa assim como para os alunos desses docentes. Os desafios enfrentados pelos professores no processo de formação são 27 constantes e cabe ao docente o movimento de buscar sempre alternativas que possam agregar. Para Gimenez (2005), há, no campo da LA, sete desafios como mostra o esquema 2 a seguir. Esquema 2: Desafios para a formação docente Fonte: Elaborado pela autora com base em Gimenez (2005) De maneira sintética, é necessário tratar cada um dos desafios acima apontados. O primeiro diz respeito à dificuldade de se uniformizar os cursos de Letras e, simultaneamente, respeitar as necessidades locais em um país com dimensões continentais. Como a LA trabalha com a língua e a linguagem dentro de uma perspectiva social, logo, essa área pode contribuir para a resolução deste desafio. O segundo e o terceiro desafios podem ser debatidos em conjunto, visto que apontam para a necessidade de articulação entre teoria e prática nas pesquisas. A linguística aplicada contempla pesquisas que trabalhama observação da prática, considerando uma perspectiva teórica. O quarto e o quinto aspectos possuem uma relação estreita com o segundo e o terceiro desafio, já que se relacionam com a continuidade da pesquisa para além do término do projeto. Por último, o sexto e o sétimo aspectos dizem respeito à identificação do perfil docente por parte do próprio professor e à percepção de que é preciso estar sempre se atualizando, que dizer, há uma formação docente constante. 2.3 LINGUÍSTICA APLICADA E SOCIEDADE GLOBALIZADA A globalização é conceituada, de maneira mais ampla, como um fenômeno político, social, cultural e econômico o qual faz com que as 28 pessoas e as nações estejam cada vez mais interconectadas. O mundo globalizado é caracterizado pela diminuição espacial, isto é, as pessoas são afetadas tanto por eventos locais quanto por eventos mundiais. As fronteiras geográficas, então, apresentam-se como fluídas cada vez mais. Além disso, no mundo globalizado, há uma redução temporal em razão da tecnologia que torna tudo mais ágil. Figura 5: Globalização Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3qa3t1X. Acesso em: 20 jan. 2022. Esse processo tem impacto na vida cotidiana e, consequentemente, na educação. Para Mulik (2019, p. 295), “pensar na LA e na sua relação com a globalização é algo essencial”, talvez, porque a linguística aplicada analisa os processos envolvendo a linguagem e investiga os indivíduos e o mundo em que essa linguagem se manifesta. Dessa maneira, refletir sobre a LA e a sociedade é pensar em globalização, pois vivemos em uma sociedade globalizada. Um mundo globalizado exige o uso de uma língua que seja comum, a fim de facilitar a comunicação entre os sujeitos de diferentes comunidades de fala como é o caso do inglês. Essa área contribui também para a problematização sobre o https://bit.ly/3qa3t1X https://bit.ly/3MYehdp 29 papel da língua inglesa em uma dinâmica de sociedade em rede. Muitas pesquisas surgem para discutir o processo de aquisição do inglês por parte de não falantes e por parte de pessoas que estão aprendendo a língua para fins empresariais. Por fim, a LA coopera para o debate sobre a sobreposição do inglês em se tratando de outras línguas e como o domínio da língua inglesa pode colocar o falante em uma posição de prestígio no mercado de trabalho. A LA se preocupa com os estudos culturais, o que se relaciona com o conceito de globalização. Na aprendizagem de uma língua, os aspectos linguísticos são importantes para o processo de aquisição, mas é preciso considerar outros como os pontos de vista cultural, social e discursivo. As pesquisas sobre a indissociabilidade entre a língua e a cultura são características da linguística aplicada e vem ganhando força no âmbito acadêmico. As pesquisas interculturais também são representativas da linguística aplicada. Neste tipo de investigação, o linguista aplicado estuda as relações e as trocas que se dão entre culturas diferentes. A sala de aula, laboratório para esse linguista, vira, então, um espaço intercultural para a observação de vários aspectos: o papel da língua e as escolhas dos falantes envolvidos na comunicação, a valorização da língua por parte dos usuários da língua, a abertura desses participantes da comunicação aos aspectos da cultura do outro e a construção de identidades. https://bit.ly/3MTHeHb 30 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE) Muitas vezes, os próprios educadores, por incrível que pareça, também vítimas de uma formação alienante, não sabem o porquê daquilo que dão, não sabem o significado daquilo que ensinam e quando interrogados dão respostas evasivas: “é pré-requisito para as séries seguintes”, “cai no vestibular”, “hoje você não entende, mas daqui a dez anos vai entender”. Muitos alunos acabam acreditando que aquilo que se aprende na escola não é para entender mesmo, que só entenderão quando forem adultos, ou seja, acabam se conformando com o ensino desprovido de sentido. (VASCONCELLOS, C. S. Construção do conhecimento em sala de aula. 13ª ed. São Paulo: Libertad, 2002, p. 27-8.) Correlacionando a tirinha de Mafalda e o texto de Vasconcellos, avalie as afirmações a seguir. I. O processo de conhecimento deve ser refletido e encaminhado a partir da perspectiva de uma prática social. II. Saber qual conhecimento deve ser ensinado nas escolas continua sendo uma questão nuclear para o processo pedagógico. III. O processo de conhecimento deve possibilitar compreender, usufruir e transformar a realidade. IV. A escola deve ensinar os conteúdos previstos na matriz curricular, mesmo que sejam desprovidos de significado e sentido para professores e alunos. V. Os projetos curriculares devem desconsiderar a influência do currículo oculto que ocorre na escola com caráter informal e sem planejamento. É correto apenas o que se afirma em 31 a) I e III. b) I e IV. c) II e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV. 2. (UNB- CESPE) A questão da formação docente, ao lado da reflexão sobre a prática educativo- progressista em favor da autonomia do ser dos educadores, é a temática central em torno da qual gira este texto. É também temática a que se incorpora a análise de saberes fundamentais àquela prática e aos quais espero que o leitor crítico acrescente alguns que me tenham escapado ou cuja importância não tenha percebido. (Paulo Freire. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 13. Adaptado) De acordo com o pensamento predominante no texto, o ato de ensinar exige I. Rigorosidade metódica, pesquisa e criticidade. II. Respeito aos saberes dos educandos, estética e ética. III. Corporificação das palavras pelo exemplo. IV. Risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. A quantidade de itens certos é igual a a) 0. b) 1. c) 2. d) 3. e) 4. 3. (Prefeitura Municipal de Tijucas do Sul) O saber docente não é formado apenas da prática, sendo também nutrido pelas teorias da educação. Considerando essa informação, julgue os itens que se seguem. I. A teoria não dita a prática; em vez disso, ela serve para manter a prática ao alcance de todos, de forma a se mediar e a se compreender, de maneira crítica, 32 o tipo de práxis necessário em um ambiente específico e em um momento particular. II. O exercício da docência, enquanto ação transformadora que se renova tanto na teoria quanto na prática, requer necessariamente o desenvolvimento de uma consciência crítica. III. Dentro do processo pedagógico, teoria e prática precisam dialogar permanentemente, fugindo da ideia tradicional de que o saber está somente na teoria, construído em um local distante ou separado da ação/prática. Assinale a alternativa correta. a) Nenhum item está certo. b) Apenas os itens I e II estão certos. c) Apenas os itens I e III estão certos. d) Apenas os itens II e III estão certos. e) Todos os itens estão certos. 4. Leia o texto a seguir para responder à questão. "(...) pode-se caracterizar a psicolinguística como um ramo do conhecimento científico que consiste em uma 'área de transvariação que requer conhecimentos linguísticos e psicológicos' para a exploração profícua e eficiente dos fatos que estuda.” (PAIS, C. T. Manual de linguística. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 180.) Assinale a alternativa correta sobre a psicolinguística. a) A psicolinguística é uma área de estudo específica e restrita. b) Uma noção de psicolinguística deve apontar que ela exclui de sua investigação o sujeito falante. c) A psicolinguística investiga os processos mentais pertinentesà aquisição, à produção e à compreensão da linguagem. d) A psicolinguística deve ser definida como uma extensão da psicologia aplicada. e) A psicolinguística emergiu e evoluiu dentro das fronteiras da linguística aplicada. 5. (INSTITUTO EXCELÊNCIA) No quadro das atuais concepções psicológicas, 33 linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita __________________ e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita ________________. Assinale a alternativa que completa correta as lacunas do texto. a) o letramento / a alfabetização. b) a alfabetização / o letramento. c) o letramento / a codificação. d) Nenhuma das alternativas. e) Todas as alternativas. 6. (FCC) Analise as proposições: I. A Análise do Discurso estabelece uma tipologia das diferentes formações discursivas, de modo a destacar constantes de articulação entre o linguístico e o social. II. O termo sociolinguística recobre trabalhos diversos, tais como: etnografia da comunicação, variação linguística, variação fonética e mantém interface até mesmo com a Análise de Discurso. III. Segundo Benveniste, a "linguagem está de tal forma organizada que permite a cada locutor apropriar-se da língua toda designando-se como eu". É correto o que consta em a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) I e III, apenas. d) I, apenas. e) I, II e III. 34 7. (CETREDE - ADAPTADA) A formação de professores no contexto contemporâneo está permeada de muitos desafios, face às exigências de um mundo globalizado que exige, cada vez mais, profissionais capacitados e multifuncionais. Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir. I. A formação de professores está situada num contexto de complexidade, diversidade e imprevisibilidade. II. Para lidar com a diversidade na sala de aula, é necessário que o professor tenha a capacidade de definir as melhores estratégias que favoreçam a aprendizagem de todos os alunos. III. O problema da formação docente concentra-se na necessidade de atualização, pois a formação continuada tem a função de preencher as lacunas da formação inicial. IV. O fracasso escolar é determinado pela fragilidade na aprendizagem dos alunos, independente do trabalho desenvolvido pelo professor. V. A educação contemporânea exige um profissional comprometido com aprendizagem dos alunos, que promova a transformação por meio do diálogo, encantamento e conhecimento. Marque a opção que apresenta as afirmativas corretas. a) I – II – V. b) I – III – IV. c) II – III – V. d) I – II – III. e) I – II – III – V. 8. Sobre o caráter interdisciplinar da linguística aplicada, assinale a alternativa correta. a) A linguística aplicada é multifacetada, mas não considera as questões de linguagem de diversos campos da realidade. b) Pelo seu caráter pouco dinâmico, a LA se dedica a estudar basicamente a aplicação dos conhecimentos linguísticos. 35 c) São áreas de interesse da LA a análise do discurso, a análise da conversa, a história e a ergonomia. d) Nas pesquisas transdisciplinares, em linguística aplicada, quase sempre os resultados são contextualizados. e) A pesquisa em LA é linear e só alguns instrumentos podem influenciar os resultados obtidos. 36 GÊNEROS TEXTUAIS A linguística aplicada volta-se, contemporaneamente, dentre outras possibilidades, para o trabalho com o texto; dessa forma, se torna necessário abordar a noção de gênero textual. As concepções circulantes mais evidentes sobre o gênero são a sócio-histórica e a discursiva. Neste capítulo, conceitua-se, em primeiro lugar, o gênero como uma prática sócio-histórica. Logo em seguida, são mostradas as características do gênero discursivo. Por fim, reflete-se sobre os gêneros híbridos e como a teoria sobre os gêneros textuais-discursivos serve à linguística aplicada. 3.1 A CONCEPÇÃO DE GÊNERO COMO PRÁTICA SÓCIO-HISTÓRICA Os gêneros são, para Marcuschi (2007), uma manifestação textual com relevância na vida diária do ser humano e uma forma pela qual as atividades comunicativas cotidianas ocorrem. Nesta concepção, o gênero textual é definido pelas funcionalidades comunicativas, cognitivas e institucionais, e, não, por seus aspectos formais, estruturais ou linguísticos. Sendo assim, ao perder a sua aplicabilidade cotidiana, um gênero tende a desaparecer como é o caso do telegrama. Para ilustrar o gênero como prática sócio-histórica, tomam-se como exemplo o “artigo científico” e o “artigo de divulgação científica”. Apesar de esses dois gêneros terem a ciência como domínio discursivo, eles possuem funções e aspectos sócio-comunicativos distintos. O “artigo científico” tem a função de divulgar informações científicas dentro de uma comunidade de especialistas; sendo, portanto, uma comunicação entre pares. Já o artigo de divulgação científica trata- se da iniciativa de trazer, para a esfera pública, os conhecimentos que circulam dentro da comunidade científica. Enquanto o artigo científico é publicado em revistas especializadas, o artigo de divulgação científica circula em jornais diários. Marcuschi (2007) propõe uma distinção entre tipo textual e gênero textual. Enquanto a noção de tipo textual está relacionada à natureza linguística do texto (aspectos sintáticos, lexicais, escolhas de tempos verbais etc.), o gênero é a própria UNIDADE 03 37 materialização de um texto, que, de modo geral, apresenta “conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica” (MARCUSCHI, 2007, p. 23). Cabe destacar que os tipos textuais são em número limitado, enquanto que os gêneros são incontáveis. O quadro 2, a seguir, delimita as características do tipo e do gênero textual: Quadro 2: Tipo e gênero textual Tipo textual Gênero textual Definido por propriedades linguísticas Realizações linguísticas concretas Sequências linguísticas Textos que cumprem determinadas funções comunicativas Conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por tempos verbais, aspectos sintáticos, lexicais, expressões Conjunto aberto e ilimitado de manifestações concretas marcadas por estilo, composição, função Divididos em: narrativo, descritivo, dissertativo, argumentativo, expositivo e injuntivo Divididos em: carta, artigo, e-mail, post, prova, piada, fábula, edital, bilhete, monografia, crônica, etc Fonte: Elaborado pela autora (2022) com base em Marcuschi (2007) Para exemplificar essas noções, toma-se como referência o gênero fábula. De modo geral, ele é um texto ficcional que acaba personificando animais, plantas e objetos inanimados; dando-lhes falas, atitudes, sentimentos e emoções humanas; com o objetivo de dar conselhos, fazer críticas e transmitir ensinamentos. O tipo textual predominante nesse gênero é o narrativo, uma vez que ele ajunta os cinco elementos a seguir: o enredo, personagens, tempo, espaço e o foco narrativo. No esquema 3, a seguir, é explica-se os elementos da narrativa: Esquema 3: Elementos da narrativa Fonte: Elaborado pela autora (2022) 38 De modo a explicar o esquema 3, toma-se como exemplo a clássica fábula “A cigarra e a formiga”, de Esopo, famoso escritor da Grécia Antiga. O enredo conta a história de uma cigarra que, durante o verão, vivia a cantar, sem se preocupar em guardar alimentos para o inverno; diferentementeda formiga, que era muito trabalhadora e esforçada. A cigarra sempre criticava a formiga por ela não se divertir durante o verão. Com a chegada do inverno, a cigarra passa por necessidades (frio e fome), enquanto a formiga, providente, aproveita os frutos de seu trabalho (alimento). No que concerne aos elementos da narrativa, nesta fábula, as personagens são a cigarra e a formiga; o tempo da narrativa é o verão e o inverno; a história se passa no bosque e o foco narrativo é de 3ª pessoa (aquele que observa tudo sem, entretanto, participar da história). Por fim, um conceito relevante para o ponto de vista do gênero como sócio- histórico é o de domínio discursivo. Os domínios são as esferas da atividade humana. Eles não são textos nem discursos; todavia, são a matéria-prima para a constituição de discursos bem específicos tais como o discurso publicitário (propaganda, folder, classificado, post), o discurso jurídico (procuração, lei, ofício, sentença), o discurso religioso (oração, ladainha, mantra), o discurso literário (poema, fábula, romance, mito), discurso acadêmico (projeto, monografia, apostila, artigo científico). Os gêneros textuais reportagem, notícia, editorial, entrevista, título, crônica, por exemplo, pertencem ao domínio discursivo jornalístico, que é definido por privilegiar a exposição de fatos de maneira imparcial e objetiva. 3.2 A CONCEPÇÃO DE GÊNERO TEXTUAL COMO PRÁTICA DISCURSIVA O gênero discursivo, a partir das reflexões de Bakhtin (2010), é avaliado como uma forma relativamente estável produzida pelos usuários da língua em situações de https://bit.ly/3IiLooG 39 interação. Por outras palavras, os gêneros podem ser compreendidos como enunciados relativamente estáveis de cada uma das esferas da atividade humana (cotidiana, científica, ideológica, escolar, jornalística, publicitária, religiosa, escolar etc.). Em relação a essas esferas, de acordo com Wachowicz (2012, p. 24), “cada época, cada cultura, cada comunidade e, no fim, cada esfera do comportamento social têm suas opções de comunicação”. Sendo assim, os gêneros textuais não são fixos, dado que, para cada situação comunicativa e segundo cada uma das esferas da comunicação, há diferentes enunciados (unidades efetivas de comunicação verbal). De acordo com Bakhtin (2010), A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado grupo. (BAKHTIN, 2010, p. 262) A riqueza e a variedade dos gêneros são infinitas, e Bakthin (2010) não pretendeu com a sua reflexão instaurar um catálogo de gêneros. A fim de respaldar a citação acima, pode-se pensar na escola. Neste espaço, por exemplo, há diferentes gêneros com características distintas os quais se encaixam na esfera humana escolar: o currículo, o bilhete, o cronograma, a prova, a circular, dentre outros. Interessa comentar que não há entre esses gêneros uma hierarquização, pois cada um deles serve a um propósito comunicativo bem específico, a uma posição social assumida na comunidade acadêmica e a um relacionamento estabelecido entre os parceiros da comunicação. 40 Fora do âmbito escolar, há vários gêneros discursivos. O esquema 4, a seguir, mostra algumas dessas formas relativamente estáveis de organização da materialidade textual. Evidentemente que a lista de gêneros é incontável e não se esgota no esquema seguinte; sendo, pois apenas uma referência sumária de alguns textos que possuem uma satisfatória aderência social. Esquema 4: Gêneros Fonte: Elaborado pela autora (2022) A reportagem é um texto de caráter jornalístico, escrito ou falado, cuja função é informar por meio de uma linguagem objetiva e impessoal. A crônica é uma narrativa curta, efêmera e desenvolvida a partir da visão subjetiva (particular) do 41 cronista sobre um fato cotidiano. A sinopse é uma descrição sintética de um produto cultural com a intenção de antecipar informações sobre esse produto. O resumo é um texto que apresenta de maneira abreviada o conteúdo de um acontecimento. A resenha é um gênero que mescla resumo e crítica com o objetivo de estimular ou desestimular o leitor a consumir um bem cultural (livro, filme, música, peça de teatro, exposição de arte, etc). A história em quadrinhos é uma narrativa organizada em quadros que associam linguagem verbal e não verbal. Os fatos, nas histórias em quadrinho, são sequenciados e organizados sob uma relação de causa e consequência. O manual de instruções é um texto cuja intenção é instruir o usuário a montar, a usar e a conservar um produto. Os gêneros são um modo de organização das experiências com a linguagem e com as relações dialógicas estabelecidas entre os usuários da língua que interagem. Aqueles são considerados instrumentos de interação social os quais revelam agentes desta comunicação dotados de vozes diversas (polifonia). É interessante lembrar que esse conceito de gênero tem estreita conexão com o de linguagem a qual também supõe essa polifonia e a existência de cosmovisões (visões de mundo). Os gêneros são constituídos por um conteúdo temático, uma construção composicional e um estilo. O tema ou unidade temática é um domínio de sentido típico do gênero. Fiorin (2006, p. 62), sobre o conteúdo temático (tema na concepção bakhtiniana), afirma, por exemplo, que “as cartas de amor apresentam o conteúdo temático das relações amorosas”. A forma composicional é a organização do texto, a estrutura dele. Por exemplo, é de se esperar que uma carta tenha local, data, vocativo, corpo do texto, despedida e referência de quem a escreveu. Já o estilo é constituído pelas estruturas linguísticas como (aspectos lexicais, fraseológicos e gramaticais) e é associado a determinadas unidades temáticas. O estilo também está atrelado à forma composicional. Por exemplo, no gênero textual receita ou manual, os verbos no modo imperativo (indicativo de ordem, pedido, 42 solicitação) fazem parte da composição desses textos. As unidades fraseológicas “este trabalho tem como propósito”, “procedimentos metodológicos” e “nosso embasamento teórico” sinalizam uma construção composicional típicas do gênero artigo científico Por fim, cabe afirmar que os gêneros discursivos alteram-se constantemente, segundo Fiorin (2006, p. 65), “à medida que as esferas de atividade se desenvolvem e ficam mais complexas”. Esses gêneros então aparecem, desaparecem, se transformam, ganham novo sentido por estarem inseridos em um processo dinâmico. Para exemplificar isso, é preciso refletir sobre os gêneros surgidos com o advento da internet, como é o caso do post, do chat, do blog e do e-mail. Se antes a comunicação se processava por meio de uma carta, um bilhete ou diário, hoje, ela acontece por meio virtual por intermédio de e-mail ou de blog. 3.3 GÊNEROS HÍBRIDOS: CARACTERIZAÇÃO Como abordado nas seções anteriores, os gêneros textuais são entidades flexíveis e mudam de acordo com a dinâmica social e a função que ocupam. Os estudos discursivos vêm apresentando interesses nos textos com características de mais um gênero do discurso. Os gêneros também podem se mesclar para formar outros como é o caso do e-mail, que, por permitir uma comunicação assíncrona, acaba sendo uma mescla dos gêneros carta, telefonema e telegrama. Para Costa Filho (2012, p. 82), sobre o processo de hibridização dos gêneros, “a esfera publicitária, ainda hoje, tem sido palco privilegiado para este tipo de estudo, pelo fato de ser o local mais evidente do fenômenode mescla de gêneros do discurso”. Esse fato ocorre, uma vez que, para atender às necessidades comunicativas contemporâneas, a área da publicidade precisa mesclar estratégias linguísticas variadas e criativas para cumprir o objetivo de convencer o interlocutor a adquirir o produto vendido. https://bit.ly/36odVM4 43 Essa transformação de um gênero a outro é o que se denomina hibridização e, segundo Pagano (2001, p. 88), “o hibridismo parece surgir, assim, da práxis ou da produção textual, que, se bem participa de um gênero específico ou se vincula a ele, está sempre ativando outros gêneros”. A língua e a linguagem mudam o tempo todo; conforme arranjos sociais, marcos ideológicos, históricos e culturais; e isso justifica o fenômeno da hibridização dos gêneros, que ocorre na materialização da linguagem em uso. Os gêneros híbridos colocam em questionamento a clássica dicotomia entre os gêneros orais e os escritos, dando espaço para a ideia de um contínuo existente nessas duas modalidades da língua. Com a inserção de novas tecnologias e com a ocorrência contextos multidisciplinares, por exemplo, os gêneros passaram a observar novas linguagens (verbal, não-verbal, som, formas, dentre outras) e se tornaram híbridos. O hibridismo, para alguns estudiosos, tais como Koch e Elias (2008) e Marcuschi (2008), pode ser denominado intergenericidade (apropriação de um gênero por outro). Marcuschi (2008) vaticina que a intergenericidade é um fenômeno muito mais natural e normal do que se possa imaginar. Os estudos da língua, nas instituições escolares, vêm abordando a mescla de gêneros assim como as provas de larga escala como a do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). A habilidade de se identificar a mescla de gênero tem sido cada vez mais incentivada e cobrada na prática cotidiana de leitura e de escrita textual. O texto da figura 6, a seguir, fez parte da prova do Enem de 2020, aplicada no início de 2021, e destaca como o hibridismo ou a intergenericidade se processa. 44 Figura 6: Gênero híbrido Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3ibplp4. Acesso em: 01 jan. 2022. Em primeira instância, vê-se um texto em forma de um típico cartaz, denominado lambe-lambe, que é, mormente, colado em postes ou em muros com o propósito de anunciar produtos. Em segunda instância, a partir da leitura textual, observa-se que se trata de arte poética difundida em forma de cartaz e vinculada ao projeto #UmLambePorDia de autoria de Leonardo Beltrão, natural de Varginha e morador de Belo Horizonte. O texto apresenta lirismo e subjetividade típicos de uma poesia, porém, bem distantes da linguagem objetiva utilizada no cartaz. Apesar de o texto ter a forma de um cartaz, ele apresenta a função de uma poesia. Se antes o cartaz estava alocado na esfera publicitária, ao ganhar contornos de poesia, passa a figurar na esfera literária sem dúvidas. O efeito pretendido com essa hibridização é o de levar, para os moradores e para as cenas urbanas, um pouco mais de alegria e de poesia. https://bit.ly/3ibplp4 https://bit.ly/3KSMlp9 45 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE) Uma playlist comentada conta com texto de apresentação, que descreve ou relata algo envolvendo as produções em questão, e trechos apreciativos, que podem envolver argumentação, contemplando assim diferentes sequências textuais. Além disso, supõe a produção de um roteiro e sua leitura oral/falada, o que requer observar a adequação da linguagem oral, tendo em vista as condições de produção dadas. Em termos de ações, práticas e procedimentos próprios da web, a produção de uma playlist comentada permite vivenciar o papel do curador: alguém que seleciona exemplares entre muitos, no caso músicas ou canções, a partir de algum critério, organiza-os de determinada forma e destaca, a respeito das canções escolhidas ou de seus autores ou executores, algo para comentar. Além disso, supõe a escrita de um roteiro e o manuseio de um editor de áudio. Pode também supor a disponibilização desse arquivo na internet, o que poderia ensejar ações de curtir e/ou redistribuir. ROJO, R.; BARBOSA, J. P. Hipermodalidade, multiletramento e gêneros discursivos. São Paulo: Parábola editorial, 2015 (adaptado). No texto apresentado, mencionam-se algumas ações, práticas e procedimentos comuns em um ambiente digital. Considerando que tais informações permitem que o trabalho do produtor de textos favoreça a reflexão sobre o gênero discursivo e ambiente digital, avalie as afirmações a seguir, acerca do uso de playlist nas aulas de língua portuguesa. I. Atividades de reescritura de sequências textuais semelhantes ou diferentes voltadas para o uso podem enriquecer a compreensão do gênero playlist comentada. II. A análise da estrutura de uma playlist comentada favorece a abordagem de características que revelam as aproximações e os distanciamentos entre textos orais e escritos. III. A playlist comentada, enquanto recurso didático, permite a análise de diferentes tipos de argumentação utilizados em ambiente digital. É correto o que se afirma em a) II, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. 46 2. (ENEM - ADAPTADA) A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler. A vida ao redor é a pseudorrealidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto – e raro – de crítica e público. (Disponível em: www.odevoradordelivros.com. Acesso em: 21 nov. 2021.) Os gêneros textuais podem ser caracterizados, dentre outros fatores, por seus objetivos. Esse fragmento é um(a) a) Instrução, pois ensina algo por meio de explicações sobre uma obra específica. b) Reportagem, pois busca convencer o interlocutor da tese defendida ao longo do texto. c) Resenha, pois apresenta uma produção intelectual de forma crítica. d) Resumo, pois promove o contato rápido do leitor com uma informação desconhecida. e) Sinopse, pois sintetiza as informações relevantes de uma obra de modo impessoal. 3. (ENEM) Isaac Newton nasceu em 4 de janeiro de 1643, no condado de Lincolnshire, Inglaterra. Filho de fazendeiros, o cientista, físico e matemático nunca conheceu seu pai, morto três meses antes de o filho nascer. Estudou na escola King’s School, onde era um aluno mediano. Entretanto, depois de uma briga com um colega de classe, começou a se esforçar mais nos estudos. Passou então a ser um dos melhores alunos da escola. O sucesso nos estudos levou Newton a entrar na Faculdade Trinity, em Cambridge, onde auxiliava outros alunos em troca de uma bolsa de estudos paga pela faculdade. Newton se interessava pelos pioneiros da ciência, como o filósofo Descartes e os astrônomos Copérnico, Galileu e Kepler. Depois de formado, fez estudos em matemática e foi eleito professor da matéria em 1669. Em 1670, começou a dar aulas de ótica. Nessa época, demonstrou como, através de um prisma,é possível separar a luz branca nas cores do arco-íris. Em 1679, o cientista inglês voltou-se para mecânica e os efeitos da gravitação sobre as órbitas dos planetas. Em 1687, publicou o livro Principia mathematica, em que demonstrou as três leis universais do movimento. Com esse livro, Newton ganhou reconhecimento mundial. (Disponível em: www.invivo.fiocruz.br. Acesso em: 21 nov. 2021. Adaptado). 47 A análise dos elementos constitutivos desse texto, como forma de composição, tema e estilo de linguagem, permite identificá-lo como a) Didático, já que explica a importância das contribuições de Isaac Newton. b) Jornalístico, pois dá a conhecer fatos relacionados a Isaac Newton. c) Científico, pois investiga informações sobre Isaac Newton. d) Ensaístico, já que discute fatos da vida de Isaac Newton. e) Biográfico, pois narra a trajetória de vida de Isaac Newton. 4. (ENADE - ADAPTADA) Texto I Em nosso dia a dia, no contato com outras pessoas e com as diversas informações que recebemos, estamos expostos a várias situações comunicativas, cada uma situada em seu devido contexto. Na escrita e na fala, existem algumas estruturas padronizadas que recebem o nome de gêneros textuais. No simples ato de abrir um jornal ou uma revista, já estamos expostos aos diversos gêneros textuais: nesses dois meios de comunicação é possível encontrar artigos, cartas de leitor, artigos de opinião, notícias, reportagens, charges, tirinhas, ensaios, e-mails e tantos outros textos que se adéquam às necessidades de que os escreve, apresentando finalidades distintas e definidas. Assim são os gêneros, eles existem em grande quantidade justamente porque as práticas comunicativas são dinâmicas e variáveis. (Disponível em: <HTTPS://brasilescola.uol.com.br>. Acesso em: 7 jul. 2017. Adaptado) Texto II As reflexões teóricas sobre a noção de gênero do discurso (ou de texto, conforme a perspectiva) têm sido ampliadas em vários campos de estudo e assumem especial importância para a metodologia do ensino e da aprendizagem de língua portuguesa, considerando os objetivos atualizados nas propostas curriculares contemporâneas. (FURLANETTO, M.M. Gênero do discurso como componente do arquivo em Dominique Maingueneau. In: MEREU, A.B; BONINI, A; MOTTA- ROTH, D. Gênero: teorias, métodos debates. São Paulo: Parábola, 2005. Adaptado). Considerando os textos apresentados, avalie as afirmações a seguir. I. Os gêneros textuais são formas relativamente estáveis de um enunciado, determinadas sócio-historicamente. II. Os gêneros textuais possuem características específicas, que dependem dos usuários da linguagem e das necessidades em sua comunicação. III. O leitor/produtor de textos é um usuário proficiente da linguagem à medida que recorre aos gêneros textuais para, em diferentes situações comunicativas, externalizar os sentidos dos textos que lê ou produz. 48 É correto o que se afirma em a) I, II e III. b) I, apenas. c) II, apenas. d) I e III, apenas. e) II e III, apenas. 5. (ENADE) Tanto a fala como a escrita se dão num contínuo de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de dois contínuos sobrepostos, tal como ilustra a figura a seguir. Considerando o exposto, avalie as afirmações a seguir. I. Ao comparar o texto de uma exposição acadêmica com o de uma conversação espontânea, percebe-se que, embora os dois sejam representantes da linguagem oral, o primeiro apresenta características muito próximas da linguagem escrita. II. A proposta de perceber a fala e a escrita por meio de um contínuo reafirma a necessidade de que sejam referendadas algumas dicotomias entre essas duas 49 modalidades, tais como: descontextualização (na fala) x contextualização (na escrita), não planejamento (na fala) x planejamento (na escrita). III. De acordo com o contínuo apresentado, está equivocada a perspectiva teórica que considera a fala como dialogada e a escrita como monologada, já que o diálogo e o monólogo correspondem a formas de textualização presentes nas duas modalidades de língua. É correto o que se afirma em a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 6. (ENEM) 50 Os quadrinhos exemplificam que as Histórias em Quadrinhos constituem um gênero textual: a) Em que a imagem pouco contribui para facilitar a interpretação da mensagem contida no texto, como pode ser constatado no primeiro quadrinho. b) Cuja linguagem se caracteriza por ser rápida e clara, que facilita a compreensão, como se percebe na fala do segundo quadrinho: “</DIV> </SPAN> <BR CLEAR = ALL> < BR> <BR> <SCRIPT>”. c) Em que o uso de letras com espessuras diversas está ligado a sentimentos expressos pelos personagens, como pode ser percebido no último quadrinho. d) Que possui em seu texto escrito características próximas a uma conversação face a face, como pode ser percebido no segundo quadrinho. e) Em que a localização casual dos balões nos quadrinhos expressa com clareza a sucessão cronológica da história, como pode ser percebido no segundo quadrinho. 7. (ENEM) A DIVA Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, tou podre. Outro dia a gente vamos. Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho. TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais alto, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso. Perfeita. (PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.) Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva a) Narra um fato real vivido por Maria José. b) Surpreende o leitor pelo seu efeito poético. c) Relata uma experiência teatral profissional. 51 d) Descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora. e) Defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral. 8. (FADESP - ADAPTADA) Leia o trecho seguinte. “Os gêneros textuais surgem a partir da função específica de cada forma de comunicação. Já os tipos textuais (tipologia) são as classificações dadas à estrutura linguística padrão segundo a qual o texto é produzido.” (Disponível em: https://bit.ly/34NQXOf. Acesso em: 07 jan. 2022) A partir do texto e dos seus conhecimentos, é possível afirmar que Luiz Antônio Marcuschi diferencia gêneros e tipos textuais, respectivamente, por critérios a) Semânticos e sintáticos. b) Linguísticos e estilísticos. c) Estilísticos e sócio-comunicativos. d) Sócio-comunicativos e linguísticos. e) Estilísticos e semânticos. https://bit.ly/34NQXOf 52 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO No campo da linguística aplicada, muitas pesquisas vêm se preocupando com os processos de aquisição e de uso social da leitura e da escrita. Vários estudiosos exploram como se processa a alfabetização e o letramento tanto na língua materna quanto na língua estrangeira. Neste capítulo, conceitua-se, em primeiro lugar, o que é alfabetização como uma prática de decodificar letras sem o compromisso com as práticas sociais de leitura e de escrita. Em segundo lugar, é apresentado o conceito de letramento como a apropriação das práticas de leitura e de escrita para interpretar o mundo e ser um sujeito crítico atuante na sociedade. Por último, são apontados alguns caminhos da prática de letramento na escola. 4.1 ALFABETIZAÇÃO A alfabetização trata-se de um processo de aquisição da leitura e da língua escrita. Para Hein (2016, p.4), “a alfabetização
Compartilhar