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What are the main political philosophers mentioned in the text and what are their main ideas?
Plato and his book 'The Republic', which discusses the best forms of government and criticizes democracy for being easily deceived by appearance and charisma. Plato also believes that politics is necessary for the organization of society and that it is the way for men to find the best axes for collectivity.
Aristotle, who sees politics as a public ethics and believes that the state should promote the common good and the happiness of its citizens. He also believes that the best form of government is a mixed one, combining elements of monarchy, aristocracy, and democracy.
Socrates, who was the first philosopher to question the mythological thinking of his time and to propose that knowledge should be based on questioning and rational thinking. He also believed that philosophy and politics are closely related and that individuals should be active in seeking knowledge and understanding of the world around them.
Other philosophers mentioned in the text include Hobbes, Rousseau, Montesquieu, Durkheim, Weber, Pound, Lévy Bruhl, Gurvitch, Marx, Hegel, Kelsen, and Alessandro Groppali, each with their own ideas about politics and society.

6.1 Estado e legitimação
Apesar da indiscutível caracterização da democracia como uma forma autêntica de regime político, é incontestável que o intitulado regime democrático ultrapassa os limites do tema representatividade e, por extensão, da legitimidade, tendo em vista que estes representam a base de apoio à ordem jurídico-política estatal estabelecida por consenso. O chamado estado de legalidade forma o imperativo da legitimidade (original e simultânea) também chamado de estado de legitimidade, que sem dúvida é um dos pilares da democracia, sem o qual cessa a questão da representatividade. A simples imposição da vontade da maioria (sem o necessário respeito aos direitos da minoria) centraliza a garantia efetiva da ideia das liberdades públicas da humanidade (direitos individuais e coletivos inalienáveis) (FRIEDE, 2013)
A democracia refere-se, portanto, a características e atributos básicos (Figura 1) que, como elementos reais de materialização, transcende o conceito tradicional (e limitado) de representatividade, formando um verdadeiro binarismo complementar entre os chamados estados de legitimidade e legalidade, balizados por, pelo menos, cinco regras iniciais:

O estado de legalidade é um dos pilares da democracia.
A imposição da vontade da maioria sem respeito aos direitos da minoria centraliza a garantia das liberdades públicas.
A democracia refere-se a características e atributos básicos que transcende o conceito tradicional de representatividade.
Os estados de legitimidade e legalidade formam um binarismo complementar.
A democracia é uma forma simples de governo.
a) I, III e IV estão corretas.
b) II, III e V estão corretas.
c) Todas as afirmativas estão corretas.
d) Apenas a afirmativa V está incorreta.
e) Apenas a afirmativa II está incorreta.

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Questões resolvidas

What are the main political philosophers mentioned in the text and what are their main ideas?
Plato and his book 'The Republic', which discusses the best forms of government and criticizes democracy for being easily deceived by appearance and charisma. Plato also believes that politics is necessary for the organization of society and that it is the way for men to find the best axes for collectivity.
Aristotle, who sees politics as a public ethics and believes that the state should promote the common good and the happiness of its citizens. He also believes that the best form of government is a mixed one, combining elements of monarchy, aristocracy, and democracy.
Socrates, who was the first philosopher to question the mythological thinking of his time and to propose that knowledge should be based on questioning and rational thinking. He also believed that philosophy and politics are closely related and that individuals should be active in seeking knowledge and understanding of the world around them.
Other philosophers mentioned in the text include Hobbes, Rousseau, Montesquieu, Durkheim, Weber, Pound, Lévy Bruhl, Gurvitch, Marx, Hegel, Kelsen, and Alessandro Groppali, each with their own ideas about politics and society.

6.1 Estado e legitimação
Apesar da indiscutível caracterização da democracia como uma forma autêntica de regime político, é incontestável que o intitulado regime democrático ultrapassa os limites do tema representatividade e, por extensão, da legitimidade, tendo em vista que estes representam a base de apoio à ordem jurídico-política estatal estabelecida por consenso. O chamado estado de legalidade forma o imperativo da legitimidade (original e simultânea) também chamado de estado de legitimidade, que sem dúvida é um dos pilares da democracia, sem o qual cessa a questão da representatividade. A simples imposição da vontade da maioria (sem o necessário respeito aos direitos da minoria) centraliza a garantia efetiva da ideia das liberdades públicas da humanidade (direitos individuais e coletivos inalienáveis) (FRIEDE, 2013)
A democracia refere-se, portanto, a características e atributos básicos (Figura 1) que, como elementos reais de materialização, transcende o conceito tradicional (e limitado) de representatividade, formando um verdadeiro binarismo complementar entre os chamados estados de legitimidade e legalidade, balizados por, pelo menos, cinco regras iniciais:

O estado de legalidade é um dos pilares da democracia.
A imposição da vontade da maioria sem respeito aos direitos da minoria centraliza a garantia das liberdades públicas.
A democracia refere-se a características e atributos básicos que transcende o conceito tradicional de representatividade.
Os estados de legitimidade e legalidade formam um binarismo complementar.
A democracia é uma forma simples de governo.
a) I, III e IV estão corretas.
b) II, III e V estão corretas.
c) Todas as afirmativas estão corretas.
d) Apenas a afirmativa V está incorreta.
e) Apenas a afirmativa II está incorreta.

Prévia do material em texto

CIÊNCIA POLÍTICA 
CONTEMPORÂNEA 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – 
quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se 
ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida 
sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta 
para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma 
coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso 
da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base 
e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o 
dia da semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a 
ser seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
ELEMENTOS INICIAIS DE CIÊNCIAS POLÍTICA 
1.1 Delineamento de ciência política 
Apesar da compreensão histórica da palavra política desde a antiguidade 
clássica como sendo polis (cidade), a verdade é que a ciência política em seu sentido 
nominativo sempre se traduziu no estudo de elementos básicos e representativos 
destacando a convivência das pessoas na sociedade. 
Nesse aspecto particular, não podemos deixar de notar que o cotidiano político 
e os fatos políticos sempre foram objeto de observação e reflexão no contexto primitivo 
da ciência política, pois os mais diversos filósofos, poetas, escritores vêm tecendo 
reflexões importantes ao longo do tempo. Vale destacar que a ciência política foi 
oficialmente reconhecida como um verdadeiro ramo científico apenas no século XIX. 
No decorrer do tempo, a discussão sobre o tema se mantém em voga, 
constatando sua relevância. Elevando a extensão dessa ciência em relação à Teoria 
Geral do Estado, opondo-se àqueles doutrinários que veem o assunto de forma 
dicotômica, ou seja, que a teoria geral do estado seria uma compreensão teórica 
inerente à compreensão científica da ciência política. 
1.2 Concepção de ciência política 
Ao estudar sobre a concepção da ciência política, se confirma que, apesar das 
diversas controvérsias sobre o tema, a ciência política não pode ser uma ciência 
instrumental – mas uma verdadeira ciência social autónoma – embora, ao que tudo 
indica, seja impossível evitar que a burguesia use o conhecimento proporcionado por 
essa ciência para benefício próprio. 
 Neste sentido, tomando em conta o princípio entendido por parte de 
pensadores que os estudos sobre Ciência Política sejam mais abrangentes que a 
Teoria Geral do Estado, cabe a este último – segundo essa corrente de pensadores 
- voltar-se exclusivamente ao estudo sobre o Estado, no que tange ao exame de 
sua totalidade material, formal e teleológica. 
 
 
 
1.2.1 O estudo do Estado 
 
O estudo do Estado tem duas fontes principais: a história das instituições 
políticas e a história das doutrinas políticas. Ambos podem ser utilizados por 
historiadores (para a reconstrução da história), juristas (entre as normas do direito 
civil), e especialistas, que analisam as ações específicas do Estado em determinado 
período histórico. 
Por sua vez, o governo pode ser estudado em vários campos, como filosofia 
política, direito, teoria sociológica e ciência política. A filosofia política enfatiza todos 
os modelos de gestão de governo, a fundação do estado e a justificativa da ação 
política. 
 É assim que temos essa doutrina jurídica relacionada à análise das normas 
jurídicas segundo as áreas do conhecimento. O campo sociológico estuda a validade 
empírica e cultural das normas. Nesse sentido, destacam-se duas teorias sociológicas 
contrastantes: a marxista e a funcionalista. A primeira enfatiza a necessidade de 
romper a ordem social por meio da mudança social, incluindo o Estado; na segunda, 
o tema da ordem domina e confirma a importância da preservação do sistema social, 
do qual o Estado também participa. 
Já o campo da Ciência Política baseia-se no princípio da verificação empírica 
dos resultados da pesquisa buscando explicações causais para os fenômenos 
relacionados ao poder do Estado. Além de examinar a organização política, o 
comportamento político e a ação política. 
Cada campo do conhecimento traz um entendimento particular sobre Estado. 
Assim, Ribeiro (1985) afirma que, no contexto da ciência política, o Estado é uma 
organização política criada pelo homem para implementar a ordem social e jurídica, 
como força social para alcançar o bem comum. Por seu turno, a filosofia política 
remete-se aos escritos políticos de Nicolau Maquiavel (1469-1527) do século XVI, 
onde o Estado é definido como uma organização do território habitado estruturado 
segundo o direito de comando de seus agentes (MAQUIAVEL, 1994, 1998). 
Já na perspectiva sociológica, Max Weber (1864-1920) conceitua o Estado 
moderno como uma determinada formação histórica, que possui características 
especiais resultante de um processo legal de manutenção do poder nas mãos de 
agentes estatais e, cuja finalidade, é manter a ordem e o poder de comando 
 
 
(administrativo, judicial e fiscal) da sociedade tanto interna como externamente 
(WEBER, 2000). 
No campo do direito, destacamos a posição do culturalismo realista ou 
tridimensional nas pesquisas estatais. Reale (2000) define bem essa perspectiva, 
vendo-a como uma realidade cultural que evoluiu historicamente para refletir a 
natureza social do homem. Neste contexto, cabe ao Estado determinar a integração 
dos homens em linha com o ordenamento jurídico. 
Diante do exposto, é latente que essas diferentes formas de estudar o Estado 
não são posições opostas, mas complementares. O estudo precisa considerar essas 
visões para encontrar a melhor forma de entender o tema, com foco no papel e no 
funcionamento do Estado. O economista Murray Rothbard (1926-1995) em seu livro 
Government and the Market, de 1970, destaca a importância de se compreender 
melhor a organização política da sociedade denominada Estado. 
O autor também aponta que a influência das ações do Estado no 
comportamento cotidiano dos indivíduos é tão grande que os impulsiona a 
necessidade de conhecer diferentes perspectivas teóricas e filosóficas sobre as 
razões de sua origem e existência. Algumas dessas perspectivas constituem a base 
nos estudos de diversas áreas, em destaque a ciência política, doutrinas jurídicas, 
filosofia e na sociologia. 
1.3 Noção de Ciência Política 
Para Salvador Giner (1987), é relativamente recente o conceito de ciência 
política. Basicamente, expressões semelhantes começaram a aparecer em meados 
do século XVIII. 
Ao aprofundar as pesquisas sobre o termo Staatswissenschaften – ciências do 
Estado – na Alemanha, podemos observar que o termo foi popularizado, 
especialmente após a obra System det Staatswissenschaften, de L. J. VON STEIN 
(Stuttgart, J. G. Cotta, 1852-1856). A publicação trata, entre outros pontos, sobre a 
Teoria Geral do Estado, o direito político e constitucional e a história política, além 
disso, aborda muitas áreas consideradas de especial importância no sentido moderno 
da ciência política (G. STAVENHAGEN, 1962). 
 
 
Ainda acerca da Alemanha, se constata a confusão entre os termos Politologie, 
Allgemeine Staatslehren, Politische Wissenschaften, como afirma E. Fraenkel e K. D. 
Bracher, onde reconhecem a situação precária da ciência política no país, 
estimulando-os a lutar pelo reconhecimento da mesma como disciplina autônoma. É 
verdade que a falta de pesquisas empíricas no campo da política exacerbou o efeito 
negativo da falta de reconhecimento da ciência política como disciplina, 
principalmente por influência dos neokantianos - às vezesfoi enfatizado que a 
jurisprudência é essencialmente um campo da ciência política, ciência mais futura do 
que existencial (FRIEDE, 2013). 
Entretanto, se observa à época que, em alguns países, tal terminologia 
considerada “ultrapassada” ainda era usada para estudar fenômenos pertencentes ao 
campo da ciência política. Na Espanha, por exemplo, o direito político corresponde 
em muitos casos à ciência política. Enquanto na França, a confusão entre os termos 
droit politique e science politique foi superada. 
O uso generalizado desse termo pode advir da pretensão de objetividade, que 
se estendeu a todas as ciências sociais, de modo que o termo ciência política 
começou, gradativamente, a substituir os termos teoria política ou filosofia política. O 
resultado não foi a abolição desta última, mas o desdobramento em dois novos 
campos de estudos, o da ciência e da teoria política, que não são de forma alguma 
incompatíveis. 
Diante do exposto, há de se ressaltar que, ao longo dos últimos anos, esse 
termo substituiu por completo aqueles que originariamente expressavam seu 
conteúdo, como ciência do governo, “direito político” ou mesmo a antiga e clássica 
“arte de governar”. Tudo isso não significa que a ciência política seja em si algo novo. 
Pode considerá-la fundada por Protágoras e Górgias, ao tentar criar uma certa arte 
da política, que era, para eles como um modo de vida pessoal. Contudo, é em 
Aristóteles que o estudo sobre o termo passa do metafísico para o empírico na política 
(HELLER, 1934). 
Quanto à busca de um conceito único acerca de Ciência Política, se constata a 
não existência de uma definição certa para política quanto para ciência. Neste sentido, 
mesmo que se empregasse o termo politologia para expressá-la, a mesma se revela 
insuficiente, dado que a disciplina trata de assuntos diversos, mesmo que sempre 
voltados a pesquisas que envolvam a vida política (HEYDTE, 1961). No entanto, tanto 
 
 
o termo politologia quanto politólogo vem sendo cada vez mais usados para se 
mencionar o profissional que estuda a política. 
Janet em Ganer (1906), afirmava que a Ciência Política se encontra dentro 
da área de concentração de estudos da ciência social, uma vez que, contempla em 
seus princípios, o Estado e o Governo. Apoiado nesse entendimento, o pensador F. 
H. Giddings, defendia que também, as áreas de sociologia, economia e história, 
tratavam de ciências políticas (FRIEDE, 2017). 
Nos últimos anos, se observa uma maior concentração de estudos em 
ciências políticas, a questão da aquisição, consolidação e distribuição do poder 
político, como afirma Friede (2017), fato este que a distingue de outros ramos da 
ciência. 
 A título de exemplo, a teoria jurídica político-sociológica faz parte da ciência 
política, mas não da jurisprudência dogmática ou do direito estatal estrito. Na tentativa 
de distanciar ciência política de outras disciplinas relacionadas, Heller (1934) destaca 
que as demais se limitam ao estudo descritivo daquelas ações políticas e formas 
institucionais de ação que requerem poder exercido de forma independente que não 
é predeterminado, rigidamente vinculado a normas legais. 
Além de contribuir através de seus estudos com outras áreas do 
conhecimento, a ciência política se apoia no entendimento de demais assuntos 
como soberania, independência política, liberdade, governo e entre outros. Quanto a 
estes, por exemplo, a ciência política visa analisar a relação desses fenômenos com 
situações reais determinados por fatores como as classes sociais, a geografia, a 
religião, a economia e o controle político ou psicológico (FRIEDE, 2013). 
Assim como a ciência política pode ser considerada entre as muitas definições 
fornecidas por Duverger (1971). A causa da ciência política não causa muita 
dificuldade para defini-la, diz respeito à ciência da autoridade e do poder dos 
governantes. 
Em vez disso, para Weber (1969), a política significa o esforço para participar 
do poder ou influenciar sua distribuição entre estados ou grupos de pessoas dentro 
de um estado. Outro conceito de política que vale destacar é o de Aron (1967), que a 
define como sendo a relação entre as autoridades, os grupos e o indivíduo com os 
grupos de poder definidos dentro das diversas comunidades e suas complexidades. 
 
 
Assim, não obstante, se a ciência política pode ser “resumidamente definida” é em 
decorrência do poder (DUVERGER, 1971). 
Mais adiante, ao tentar diferenciar ciência política de filosofia política, tem-se 
que, enquanto a primeira foca na formação, nas formas e nos processos dos Estados 
e governo, a segunda, também conhecida por teoria política, estuda o Estado e o 
governo de forma geral como fenômenos universais (WHITE, 1947). 
Já em relação à ciência política e sociologia política, enquanto a sociologia 
política estuda o comportamento político de pessoas ou grupos, in loco, a ciência 
política, por outro lado, foca seus estudos nas informações sobre fatos, não sobre os 
próprios fatos, como destaca Friedrich (1959). Vale destacar que, a diferença entre 
ambas não é clara nesse caso, pois quando a ciência política se torna mais objetiva, 
ela tende a adotar muitos elementos sociológicos. 
1.4 Principais Pensadores da Ciência Política 
Como forma de estruturar cronologicamente a evolução da ciência política e 
conforme discutido ao longo de nossa aula, com base na organização a seguir, será 
apresentado o entendimento dos principais estudiosos sobre o tema que envolve o 
homem, o Estado, o governo, a lei e o direito. Tais elementos constituem a base 
dos pensamentos destes que ajudaram na construção da ciência política nos 
tempos atuais. 
 
Quadro 1 – Pensadores e conceitos políticos 
 
Pensadores 
 
 
Homem por 
natureza 
 
 
Estado 
 
Forma de 
governo 
 
Lei 
 
Direito 
 
 
 
Aristóteles 
(385-322 A.C) 
 
 
 
Animal-
comunitário 
 
 
 
Condições para 
ordem perfeita 
 
 
Monarquia, 
aristocracia, 
Democracia, 
conforme 
condição do 
grupo 
 
 
Racionalização 
do nomos 
(ordem perfeita) 
De acordo com 
filia (interação), 
costumes (penal), 
norma (contratual), 
regula relações 
entre desiguais 
(distributivos) 
 
 
 
Spinoza 
(1632-1677) 
 
 
 
“Paixões” e 
ignorância. 
Intuição 
 
 
 
Fazer o jogo 
das paixões 
 
 
República: 
Liberalismo dos 
povos e 
despotismo dos 
chefes 
Manifestação 
diversa dos 
modos divinos. 
São moralmente 
boas se os 
chefes 
conseguem 
impô-las 
 
Pelo jogo das 
paixões 
proporciona o 
equilíbrio favorável 
a paz. 
 
 
 
 
HOBBES 
(1588-1679) 
 
 
Agressivo. 
“Homu 
homini 
lúpus” 
 
 
Leviatã 
(constituído por 
pactos sociais 
 
 
Despotismo 
(força 
impositiva) 
 
Normas ditadas 
pela 
comunidade 
distinguindo o 
bem do mal 
Nas mãos do 
Estado: proteger 
os cidadãos contra 
inimigos externos 
e discórdias 
internas 
 
 
Rousseau 
(1712-1778) 
 
 
Bom (bom-
selvagem) 
 
Contrato social: 
meio para voltar 
no estado de 
natureza 
 
 
Democrático 
(força 
representativa 
 
A vontade geral 
aponta a 
tendência dos 
indivíduos 
obedecer à lei e 
continuar livre 
 
 
Conciliar vontade 
individual e o bem 
coletivo 
 
 
Montesquieu 
(1659-1775) 
 
 
Vida em 
grupo 
 
Sujeito que 
estabelece 
normas 
 
Monarquia 
(honra); 
república 
(virtudes); 
despotismo 
(medo) 
 
“Razão humana 
à medida que 
governa todos 
os povos da 
terra 
 
Instituições 
particulares 
estabelecidas pelo 
legislador 
 
Durkheim 
(1858-1920) 
 
- 
 
Instituição 
 
Evolui com a 
sociedade 
Depende da 
forma de 
solidariedade 
predominante 
Conexão com a 
coação organizada 
 
 
 
 
Weber 
(1564- 1920) 
 
 
 
 
- 
 
 
 
 
Instituição 
 
 
Base mágico-
religiosa, 
carismática, 
secularizada 
(burocracia) 
Crença na 
autoridade de 
normas 
estabelecidas 
racionalmente 
cria condições 
para 
fortalecimento 
do poder e 
garantia da 
obediência 
 
Ordem e 
dispositivo de 
coerção.Bases: 
costume, carisma 
e lei. Construído 
por jurista. 
 
 
 
 
R. Pound 
(1870-1964) 
 
 
 
 
- 
 
 
 
 
Instituição 
 
 
 
 
- 
 
 
Especialistas a 
elaborarem. Os 
tribunais devem 
atentar para a 
realidade social 
Realidade 
impregnada de 
valores ideais. 
Processo de 
reconhecer e 
satisfazer as 
necessidades 
humanas, por 
meio do controle 
 
 
 
H. Lévy Bruhl 
(1837-1959) 
 
 
 
- 
 
 
 
Instituição 
 
 
 
- 
Não é 
essencialmente 
diferente do 
costume. A lei e 
o costume são 
expressões da 
vontade grupo. 
Emana de órgão 
especializado 
 
Normas 
obrigatórias, 
impostas pelo 
grupo a que 
pertencemos, mas 
passivas de 
mudanças 
 
 
 
 
 
 
Gurvitch 
(1894-1966) 
 
 
 
 
- 
 
 
 
Superestrutura 
organizada 
(instituição) 
 
 
 
 
- 
 
 
 
Sistema de 
normas ou 
princípios em 
vigor 
 
Varia conforme 
nas formas de 
sociabilidade. 
Massa (direito 
objetivo), 
comunhão 
(objetivo). 
Comunidade 
(equilíbrio entre 
objetivo e 
subjetivo) 
 
 
 
Marx 
(1818-1883) 
 
 
 
- 
 
Superestrutura 
a serviço da 
classe 
dominante. 
Deverá se 
extinguir na fase 
comunística. 
 
 
Da imposição 
classista à 
ditadura do 
proletariado. 
 
Imposição 
classista. 
Instrumento de 
perpetuação de 
uma classe no 
poder 
 
 
Superestrutura 
levantada em uma 
base econômica 
 
 
Hegel 
 
 
- 
 
Projeção da 
realidade da 
ideia ética 
 
 
- 
 
Forma de 
subordinação de 
direitos e 
deveres 
 
 
Projeção estatal 
 
 
Hans Kelsen 
(1881-1973) 
 
 
- 
 
Instituição 
(Rechtsstaat) 
geradora do 
direito 
(Staatsrecht) 
 
 
- 
 
Constrangimento 
organizado 
 
Ordem jurídica 
projetada pelo 
Estado 
 
 
 
 
Alessandro 
Groppali 
 
 
 
 
 
- 
 
Entidade doada 
de poder 
incontrastável 
(soberania) e 
responsável 
hegemônica 
pelo monopólio 
da criação das 
normas jurídicas 
 
 
 
 
 
- 
 
 
 
Formalização 
estatal da ordem 
jurídica 
 
 
 
Ordem jurídica 
projetada pelo 
Estado 
Fonte: Adaptado de Castro (1979). 
1.5 Ciência política enquanto ciência social 
A Ciência Política desponta como um dos ramos da Ciência Social que tem 
por objetivo estudar o exercício, a distribuição e a organização do poder no âmbito 
da sociedade. Segundo Dias (2010), nesta qualidade, a Ciência Política procura 
estudar os fatos políticos que envolvem tanto acontecimentos e processos políticos 
como o comportamento político que se expressa concretamente na interação social. 
Dentre outros temas, descreve, por exemplo, os processos eleitorais, a 
Constituição e a dinâmica dos partidos políticos e de setores da sociedade que 
 
 
exercem pressão, os impactos das mudanças políticas e suas consequências, a 
organização das diferentes formas de governo, as funções exercidas pelas 
autoridades no interior do Estado, o processo político e a evolução do pensamento 
político. 
 
2 CONTEXTO FILOSÓFICO DA CIÊNCIA POLÍTICA 
 
A Política se refere ao estudo do poder, das instituições do Estado, dos regimes 
políticos e da constituição política da sociedade. Em torno destes pontos, filósofos, 
cientistas políticos fizeram suas reflexões e proposições buscando compreender a 
vida em sociedade. A referência para os estudos se origina na Grécia antiga e seguem 
até os dias atuais, sempre na busca da análise das relações de poder e como elas 
interferem na vida dos cidadãos (QUADROS, 2016). 
Em termos práticos, o poder é exercido por meio de instrumentos de controle. 
Uma classe social é colocada em evidência e, simultaneamente, subordina as demais 
e as submete a seus interesses. Tais artifícios de poder se referem ao uso da força, à 
comunicação, à informação, ao dinheiro, à popularidade, dentre outros aspectos. 
De tal forma, verifica-se que o poder não está ligado apenas ao ato de 
representação ou aos poderes constituídos e que estão distantes da população. Ele é 
um exercício cotidiano das formas de dominação e, muitas vezes, de controle 
daqueles que possuem poder sobre aqueles que não possuem. 
Nas páginas a seguir, iremos conhecer mais sobre o conceito de política e 
refletir sobre o quanto ela e o poder estão presentes em nossas vidas e a forma como 
interferem em nossas decisões e práticas concretas. Para dar início, dois importantes 
filósofos serão apresentados: Platão e seu discípulo Aristóteles, considerados os 
primeiros a pensarem estas questões e apontarem para os desdobramentos do 
Estado e das relações de poder (QUADROS, 2016). 
 
 
 
 
2.1 O mito e o caminho para a razão 
 
 
 
Para compreender o percurso filosófico que levou às primeiras reivindicações 
sobre os escritos políticos, é importante ter um roteiro para o momento filosófico que 
possibilitou a reflexão sobre o poder. O pensamento político dialoga fortemente com 
a reflexão filosófica, que está presente em todos os aspectos da vida dos indivíduos 
(GALLO, 2010). 
Por mais que os pensamentos filosóficos estejam relacionados, em um primeiro 
momento, a elementos subjetivos, eles sempre procuraram explicar a vida do ser 
humano. Em suas primeiras formulações, os filósofos da Grécia Antiga buscavam os 
mitos para ordenar os acontecimentos e explicar a vida. 
 Dos mitos, a filosofia trouxe paz e tranquilidade para as pessoas que buscam 
entender o que está acontecendo ao seu redor. Os objetos da explicação mítica são 
a criação do mundo, a fertilidade das mulheres, o bem e o mal. Segundo Gallo (2010), 
os homens poderiam usar tais objetos para organizar seus pensamentos e sustentar 
sua existência. 
Em certa medida, explicar a vida por meio dos mitos não permitia que todas as 
coisas, atos e pensamentos feitos pelos homens tivessem a objetividade necessária. 
Isto porque a explicação mitológica estava presa a uma visão religiosa. Para 
compreender as ações humanas, a construção do pensamento filosófico precisava se 
basear nessa visão teocêntrica. 
Mas e o homem? Onde a produção concreta de suas ações se faz verdadeira 
e passível de análise por ele mesmo? Colocar o homem como centro das coisas 
somente foi possível a partir do momento em que a visão mitológica foi deixada de 
lado. Por volta do século VI a.C. os gregos começaram a se desprender o mito e a 
olhar para as experiências concretas (QUADROS, 2016). 
Lentamente, os gregos e outros povos foram construindo as condições 
necessárias para a racionalidade. Para tanto, o uso da escrita pelos fenícios, a moeda 
e, principalmente, a polis (cidade), foram levando os pensadores a se desprenderem 
dos mitos como fator de ordenamento das coisas. É neste momento e lugar que as 
mudanças passam a ocorrer. 
Quando se propõe a pensar sobre política, o olhar deve estar sobre aquilo que 
é resultado próprio da ação dos homens. Não há “elementos simbólicos ou 
sobrenaturais para entender o mundo e dar sentido à vida humana” (GALLO, 2010, 
p.15). O mito é uma verdade absoluta e não pode ser contestada. Já a ação do 
 
 
homem, como a política, por exemplo, é dinâmica e está em constante transformação 
a cada novo período. Portanto, filosofia e política caminham juntas e têm como objeto, 
a ação humana. 
 
 
2.2 Sócrates e a renovação filosófica 
 
Os movimentos filosóficos possuem representantes para cada período de 
renovação de pensamento sobre as coisas. Para o recorte de estudo da Ciência 
Política, na busca pelo distanciamento em relação ao mito, Sócrates ocupa um papel 
de destaque. Ele foi o primeiro pensador a questionar o pensamento mítico de uma 
forma mais abrangente. 
Coube a ele chamar a atenção das pessoas sobre aquilo que estava ocorrendo 
a sua volta. Andava pelas ruas de Atenas interrogando a todos. Afirmava que “o ato 
de filosofar não se distingue do próprio ato de viver, que o ato de filosofar consiste em 
conscientizar-nos de que nada sabemos” (GALLO, 2010, p. 16). Assim, não há 
conhecimento que não possa ser questionado. 
O pensador conversa com quem encontrasse pela frente, jovem ou idoso, sem 
fazer distinção se fossehomem livre, escravo ou aristocrata. Propunha, a todos eles, 
que deixassem a ignorância e lado e começassem a procurar explicações para os 
eventos que presenciavam. A postura de que os homens nada sabiam é o mote de 
sua ação filosófica, a fim de descobrir o fluxo da vida (GHIRALDELI JUNIOR, 2019). 
Questionava a ação das pessoas na cidade, o modo como os governantes 
agiam e a passividade da população. O nascimento desta filosofia, que caminhava 
para a racionalidade e se desvinculava da mitologia, exigia uma postura ativa por parte 
do indivíduo. Passou a ser acusado de negar os deuses e inflamar a juventude. Tal 
acusação foi tão incisiva naquela sociedade que Sócrates foi perseguido e condenado 
à morte. 
No entanto, sua postura ficou marcada e trouxe diversos seguidores, de tal 
forma que a filosofia grega nunca mais foi a mesma. Platão, Aristóteles e todos que 
vieram na sequência passaram a encarar a filosofia com um olhar questionador. 
Na sequência, serão apresentados dois deles: Platão e Aristóteles, os mais 
expressivos de seus tempos. Em cada um há um pouco de Sócrates e, aos poucos, a 
 
 
filosofia assume o lugar próprio para pensar o homem como um todo, inclusive como 
um ser político, como será demonstrado nas páginas seguintes. 
 
 
2.3 Platão e o papel da República 
 
A Grécia antiga é tida como o berço da civilização ocidental. Nela, diversos 
pensadores tentaram interpretar os eventos que envolviam a vida em sociedade. 
Mitos, hábitos e coletividade estavam entre os pontos de reflexão destes homens. Não 
foi diferente no que se refere aos processos de associações políticas. Dentre eles, 
Platão (428 – 347 a.C.), no livro “A República”, colocou no debate quais as melhores 
formas de governo, englobando a timocracia, a democracia e a tirania. 
Alguns pontos das ideias de Platão foram sendo aprimorados ao longo dos 
séculos. Em especial sua interpretação sobre a democracia, mesmo sendo, para ele, 
uma forma má de governo, pois as pessoas se iludiam facilmente por características 
como aparência e carisma. (QUADROS, 2016). Mas os aspectos de representação e 
participação que são os fundamentos da democracia foram ganhando outros 
contornos ao longo dos séculos XII e XV. A partir de então, ela tornou-se a principal 
forma de governo para os governos instituídos nos Estados ocidentais. 
No Quadro 1, por exemplo, é possível ver o diálogo de Platão com Guálcom e 
como a discussão entre os dois se baseia no que é vivido no cotidiano. A política só 
existe se estiver inserida num contexto dinâmico como o encontrado nas cidades. Sem 
esta, os homens não demandariam soluções para a vida coletiva, seja no trabalho, 
em casa, para a saúde, etc. 
Ainda no diálogo entre Platão e Guálcom apresentado abaixo, podemos 
observar que eles estão se referindo ao ordenamento necessário para que as ações 
de todos possam existir. Quando se referem ao que cada um tem a fazer, estão 
justamente colocando a racionalidade proposta para a filosofia na constituição da vida 
política. 
- Muito bem dito. 
- Eis, portanto – prossegui-, essas dificuldades penosamente atravessadas a 
nado e inteiramente reconhecido que há na cidade e na alma do indivíduo 
para te corresponderes a iguais em número. 
- Assim é. 
 
 
- Por conseguinte, já não se torna necessário que o indivíduo seja sábio da 
mesma maneira e pelo mesmo elemento que a cidade? 
- Sim, sem dúvida. 
- É que a cidade seja corajosa pelo mesmo elemento e da mesma maneira 
que o indivíduo? Enfim, que tudo o que se refere à virtude se encontre 
igualmente numa e noutro? 
- É necessário. 
- Assim, Gláucon, diremos, creio eu, que a justiça tem no indivíduo o mesmo 
carácter que na cidade. 
- Também isso é necessário. 
- Ora, não nos esquecemos certamente de que a cidade era justa pelo facto 
de cada uma das suas três classes se ocupar da sua própria tarefa. 
- Não me parece que o tenhamos esquecido. 
- Lembremo-nos nesta ocasião de que cada um de nós, em quem cada 
elemento, desempenhará a sua tarefa própria, será também justo e 
desemprenhará a tarefa que lhe é própria. 
- Sim, com certeza, temos de nos lembrar disso. 
-Sendo assim, não compete à razão mandar, visto que é sábia e tem a 
responsabilidade de velar por toda a alma, e à cólera obedecer à razão e 
apoia-la? 
-Sim, certamente. 
- Mas não é, como dissemos, um misto de música e ginástica que porá de 
acordo estas partes, fortificando e alimentando uma delas com belos 
discursos. 
 - Sem dúvida. (PLATÃO, 2018) 
A política é, desta maneira, o caminho para que os homens encontrem os 
melhores eixos para a coletividade. Bem como demonstra o diálogo a seguir, a política 
está sempre questionando as ações do momento em que o homem vive. Esta postura 
questionadora leva que melhores soluções sejam encontradas para viabilizar o bem-
estar de todos que vivem na cidade. 
 
2.4 Aristóteles e a política como ética pública 
 
Um dos primeiros a trazer a questão política para a filosofia foi Aristóteles (384 
a.C.-322 a.C.) na Grécia. Nas obras “Política” e “Ética a Nicômaco”, ele apresenta 
pontos fundamentais e que se tornaram clássicos para o estudo desta ciência. Para 
este pensador, ao falarmos em política, estamos nos referindo à ciência de governar 
 
 
a pólis. Nela, está embutido um sentido de “continuação da ética, aplicada à vida 
pública” (COTRIM, 2010. p. 310). 
 
 
Imagem 1 - Aristóteles 
 
Fonte: https://iplogger.com/2f8Rg5 
Esta relação ética se faz a partir do momento em que as instituições públicas 
direcionam seus esforços para o bem público. Para alcançá-lo, as formas de governo 
também dialogam para garantir o exercício da ética em todos os âmbitos. A partir 
desta leitura, Aristóteles abre espaço para que o pensar sobre a vida política cotidiana 
se faça enquanto prática e responsabilidade de todos os cidadãos1. 
O pensador se refere ao homem como um animal social e político e sua arena 
é uma criação natural, a cidade. De acordo com Aristóteles (2018, p. 55), “o estudo 
do bem pertence à política, que é a primeira das ciências práticas”. É no cotidiano das 
pessoas que a prática e a essência da política se manifestam. Esta essência política 
ocorre porque é na polis/cidade que primeiro ocorre a origem do Estado, na família. 
Como visto no Quadro 1, é na polis que vivenciamos as experiências que 
orientam e condicionam a vida de cada um. A cidade é, por si mesma, espaço de 
relações de trabalho, relações educacionais, práticas sociais e culturais que são 
permeadas por condicionantes da esfera política e por relações de poder (QUADROS, 
2016). Sem a vida em sociedade, não há cidadão e não há existência política. 
 
 
1 Neste ponto é importante considerar que na Grécia antiga o exercício da cidadania era para poucos. Precisavam 
ser homens livres, atenienses e filhos de atenienses e que fossem maiores de 21 anos. Mulheres e idosos, por 
exemplo, estavam fora do exercício da cidadania grega. 
 
 
2.5 Maquiavel e o papel do Príncipe 
 
Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, na Itália, sendo, por muitos anos, 
chanceler da República de Florença. Fora do cargo e desprestigiado, o pensador 
escreveu seu principal livro entre 1512 e 1513, relatando fatos reais. “O Príncipe” é 
considerado como um dos clássicos da Ciência Política. Nele, Maquiavel apresentou 
para o mundo as diferentes formas de conquistar, manter e ampliar o poder. Mesmo 
que para isso fosse necessário o uso da força e artimanhas contra os adversários 
políticos. 
Maquiavel inaugura métodos científicos para a Ciência Política, isto porque usa 
de dados, levantamentos, documentos históricos que corroboram seus apontamentos 
sobre a conquista e a manutenção do poder. Além disto, o autor se debruça sobre as 
características do Príncipe, ou seja, do líder que precisa ter algumas características 
intrínsecas à sua personalidade para poder liderar, ou seja, virtù (capacidade do 
príncipepara ser flexível às circunstâncias). É ela que permite ao Príncipe saber agir 
em determinadas ocasiões para garantir o poder. 
Soma-se a esta característica a fortuna, que é a sagacidade do líder em saber 
o momento certo para agir na busca pela dominação. Assim, só é um verdadeiro líder 
quem domina estas duas figuras. Mas Maquiavel não se deteve apenas na figura do 
Príncipe. Ele, a partir dos levantamentos documentais e da experiência como 
chanceler, fez também um desenho dos demais pontos que sustentariam o poder do 
líder. 
Desta forma, a conquista, a manutenção e a ampliação do poder se daria por 
meio das leis e das armas (QUADROS, 2016). O Príncipe não poderia ficar na 
dependência de mercenários, precisava organizar um poderio militar e homens fiéis 
aos seus desígnios. Logo, apenas o exército seria capaz de dar as condições 
necessárias para que a Fortuna fosse colocada em prática. 
 
“Extinguiu a velha milícia, organizou a nova, abandonou as antigas amizades, 
conquistou novas; e, como teve amizades e soldados seus, pode, sobre tais 
fundamentos, erigir as obras que desejou: tanto que lhe custou muita fadiga 
para conquistar e pouca para manter. ” (MAQUIAVEL, 2020, p. 36) 
Assim, o Príncipe deve usar da inteligência e saber o melhor momento para 
usar a força, para atacar seu inimigo e para afagar seus súditos, de forma a garantir 
a estada no poder. O melhor governo para este modelo de líder seria, então, o poder 
 
 
absoluto: 
“O homem por ser pérfido e interesseiro, terá o conflito como uma realidade 
natural na convivência com seus semelhantes. É nessa descrição sobre a 
natureza humana que se assenta a justificativa de Maquiavel para um Estado 
que governe pela coerção e que se coloque como onipotente perante o 
homem comum.” (QUADROS, 2016, p. 59) 
 
O alcance da obra de Maquiavel só foi ampliado após muito tempo depois de 
seu lançamento. Para muitos que estudam a Ciência Política, ele é livro de cabeceira 
para que a cada novo período os meandros da política possam ser compreendidos. 
Como legado, ficou, por exemplo, a necessidade de um poder centralizado e instituído 
de forma a não permitir que as paixões se sobrepusessem às ações racionalizadas. 
Outro ponto relevante é o campo da ética que se relaciona com as práticas 
políticas. De acordo com o autor, o líder não pode estar preso a princípios éticos e 
morais, do contrário, não conseguiria agir conforme a necessidade da ocasião. 
Para finalizar, fica a atualidade do conteúdo e a recomendação da leitura do 
livro como exercício para compreender a política atual. É sabido que, 
independentemente da corrente ideológica, os escritos de Maquiavel são atemporais 
no contexto político. 
 
CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIAS CLÁSSICAS 
 
Ao longo dos séculos, a partir da contribuição dos gregos e do alcance da obra 
de Maquiavel, novos pensadores se debruçaram sobre a teoria política. Fincados na 
Europa partiram da realidade concreta para formularem novas teorias. Assim, a partir 
do século XVII, a Inglaterra e França assumem papel de destaque no contexto 
histórico e passam a produzir importantes tratados políticos (COTRIM, 2016). 
Quando nos referimos à política contemporânea, devemos considerar a forma 
com que o Estado se encaixa neste contexto. Ele é formado por um conjunto de 
poderes que se equilibram entre si, sendo eles o poder Executivo, o Legislativo e o 
Judiciário, que são considerados os balizadores da vida em sociedade. Mas, para se 
chegar a este desenho, autores como Montesquieu, Hobbes, Locke, Rousseau 
analisaram a sua época e projetaram elementos teóricos e práticos que foram 
responsáveis por deixar seus legados para as sociedades futuras (COTRIM, 2016). 
Não se pode esquecer que estes autores estão escrevendo e pensando sobre 
 
 
uma realidade histórica em que as mudanças se dão de forma acelerada, 
principalmente na Inglaterra e França. O exercício do poder absoluto dos reis, como 
afirma Lobo (2017), passa a ser questionado e novas formas de organização 
econômica vão sendo elaboradas. 
 
Imagem 1 – Burguesia sustentando o primeiro e segundo estado 
 
Fonte: https://iplogger.com/2fiZg5 
 
Tanto na Revolução Inglesa, entre 1640 e 1688, quanto na Revolução Francesa 
em 1789, a estrutura hierarquizada, tendo no topo o poder do rei, representante do 
poder divino, passou a ser questionada pela classe economicamente ativa, 
responsável por sustentar o rei financeiramente. A burguesia, classe que surgiu na 
Inglaterra do século XVII, exigia espaço político e passou a não aceitar passivamente 
o poder divino do rei. 
Estas mudanças vieram acompanhadas de alterações na forma de produzir, 
nos meios de produção, na matéria-prima e na organização do trabalho, que passou 
do trabalho individual ao trabalho coletivo (LOBO, 2017). De tal forma, a Revolução 
Industrial contribuiu para que as reformas políticas dessem conta das demandas 
produzidas pela revolução tecnológica. 
Na imagem 1, a ilustração mostra justamente esta situação. A burguesia 
produzia riqueza, mas não conseguia usufruir dela, uma vez que era obrigada a pagar 
taxas abusivas de impostos para a nobreza. Esta, por sua vez, dispendia altos gastos 
em festas, viagens e itens luxuosos à custa do trabalho da classe burguesa. As 
 
 
reivindicações, portanto, exigiam igualdade de direitos para a sociedade em 
transformação (LOBO, 2017). 
As movimentações em torno das teorias políticas consideram estes 
acontecimentos. Tanto a Revolução Inglesa quanto a Revolução Francesa trazem 
personagens inéditos para o cenário político, exigindo uma nova configuração jurídico-
política para atender suas demandas. Ambas revoluções colocam fim ao modelo 
absolutista e abrem espaço para o parlamento, para o trabalho livre e assalariado e 
para os ideais de liberdade e igualdade. A seguir, serão apresentadas algumas destas 
teorias e as principais contribuições que vivenciamos até hoje na organização do 
Estado e na vida cotidiana. 
 
3.1 Thomas Hobbes e o “homem como lobo do homem” 
 
Iniciamos esta viagem sobre as teorias clássicas com um dos primeiros autores 
que propuseram reflexões sobre como organizar o poder de forma centralizada e a 
partir de um contrato paritário, ou seja, onde ambas as partes se beneficiem 
igualmente. O início da teoria política traz um elemento conceitual que é o 
contratualismo. Neste tipo de proposição, os pensadores criaram um modelo ideal 
para organizar as ideias do que viria a ser o Estado e a sociedade civil. 
Os homens viviam num estado de natureza no qual não havia leis e regulações 
que dissessem o que era certo e o que era errado na vida coletiva, isto é, onde todos 
podiam tudo. O resultado era, na leitura do inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679) a 
guerra de todos contra todos, chegando até mesmo ao ponto de uma guerra geral, 
uma vez que estavam em constante estado de guerra. O pensador entendia que o 
homem era levado por paixões pessoais e não era naturalmente sociável (HOBBES, 
2020). 
Para dar fim a este cenário caótico, Hobbes propõe que os envolvidos 
pactuassem que não mais viveriam em estado de guerra e fariam um contrato social. 
No entanto, o autor afirma na obra “O Leviatã”, de 1651, que seria possível formular o 
contrato caso somente alguns membros da sociedade pudessem participar dos 
processos decisórios. (DIAS, 2013). O mais capacitado entre eles seria o escolhido, 
sendo assim um pacto de submissão. 
Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de homens 
concordam e pactuam, cada um com cada um dos outros, que a qualquer 
 
 
homem ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito 
de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante), 
todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram 
contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou 
assembleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões,a 
fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes 
homens (HOBBES, 2020, documento online). 
 
Teria início, portanto, o poder absoluto, que estava em desenvolvimento na 
Inglaterra, sendo alvo de críticas por parte das camadas econômicas em 
desenvolvimento. A obra de Hobbes se perpetuou ao longo do tempo, além de tentar 
legitimar a continuidade das classes dominantes no poder. (HOBBES, 2020). No 
entanto, em paralelo, outras forças políticas também organizavam fundamentos 
políticos de forma a ordenar suas reivindicações. 
 
3.2 A concepção de Estado liberal em John Locke 
 
Durante a Revolução Burguesa na Inglaterra, o teórico John Locke apoiou as 
forças progressistas que lutavam pelo fim do poder absoluto, a monarquia. Ao 
contrário de Thomas Hobbes, Locke acreditava que a mudança política deveria 
começar com um contrato social no qual os pares concordavam em desistir de sua 
liberdade individual para fazer o que pudessem pelo outro, garantindo assim os 
direitos naturais da vida, propriedade privada e liberdade individual (COTRIM, 2016). 
A interpretação de Locke responde, portanto, aos desejos da classe burguesa, 
que queria ter garantido o seu direito à propriedade assegurado por meio da lei, sem 
a usurpação da monarquia. Os direitos ficam assegurados por meio do contrato social 
e ao rei caberia a organização das questões institucionais. O resultado deste processo 
político foi a Declaração de Direitos de 1689: 
 
Declaração de Direitos 1689 
Bill of Rights 
 
Os Lords1o espirituais e temporais e os membros da Câmara dos Comuns 
declaram, desde logo, o seguinte: 
1. Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as 
leis ou seu cumprimento. 
2. Que, do mesmo modo, é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real 
para dispensar as leis ou o seu cumprimento, como anteriormente se tem 
verificado, por meio de uma usurpação notória. 
(...) 
4. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do 
Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos 
designados por ele próprio. 
(...) 
 
 
8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento. 
(JELLINEK, 2015, p. 8) 
 
O ponto alto da Revolução Burguesa na Inglaterra foi a delimitação de poderes 
da monarquia, a instalação do Parlamento como ponto central de proposições 
legislativas. Este é o elemento chave para que uma nova organização social e política 
fosse criada. O poder não mais emana dos desejos dos reis, mas sim da deliberação 
coletiva e da institucionalização das leis que representam os valores e as demandas 
de cada época (DIAS, 2013). 
O Poder Legislativo é uma inovação que vem se aprimorando ao longo da 
história. Neste sentido, outro pensador chamado Montesquieu vai contribuir ainda 
mais trazendo uma teoria que apresenta o equilíbrio entre os poderes para a completa 
existência do Estado, como veremos a seguir. 
 
3.3 O equilíbrio entre os poderes na visão de Montesquieu 
 
É sabido que, desde a idade média, as sociedades europeias se organizavam 
a partir de um regime absolutista. Os reis, a família real e a aristocracia estruturaram 
uma sociedade rígida e hierarquizada a partir da concentração econômica e da 
personalização do poder divino na figura do rei. Mas, no âmbito político, as mudanças 
trazidas pela revolução burguesa na Inglaterra abriram novos horizontes 
(MONTESQUIEU, 2018). 
No entanto, uma vez estabelecida a diferença entre o poder político e o poder 
do rei, o Parlamento passou a ser o espaço decisório mais importante a partir do final 
do século XVII. Mas a sua existência suscitou a necessidade de estabelecer 
parâmetros legais para a relação entre os poderes. O Estado, formado a partir das 
revoluções burguesas, apenas seriam completos se a divisão entre os poderes 
existisse claramente. 
O barão de Montesquieu, em 1748, escreveu o livro “O espírito das leis”, no 
qual se debruçou em pensar nas possibilidades dos abusos da monarquia, 
desenhando assim, a divisão dos poderes em três instâncias. De um lado ele aponta 
o poder Executivo que estaria voltado às questões da administração pública, de outro 
o poder Judiciário que ficaria a carga da aplicação das leis e, por fim, o poder 
Legislativo (MONTESQUIEU, 2018). 
É sobre este último que Montesquieu dá maior espaço em sua obra. Neste 
 
 
contexto, a elaboração e a aprovação das leis pelo parlamento é o que faz a política 
progredir socialmente. Aranha (2015) entende que cada lei tem uma ligação com o 
momento histórico que está sendo o retrato daquele momento. O autor pensa um 
Estado fincado no constitucionalismo que detém os meios para frear os abusos em 
todos os campos do poder. O mais importante disto tudo é que a violência não é o 
instrumento essencial e sim as legislações inseridas nas cartas constitucionais 
(ARANHA, 2015). 
Montesquieu afirmava que só o poder frearia o poder (MONTESQUIEU, 2018). 
O poder legislativo, executivo e judiciário permaneceriam autônomos, formados por 
lideranças distintas. Entre eles haveria um equilíbrio sem que um se sobrepujasse ao 
outro. Tais ideias foram sendo gradativamente apropriadas pelo liberalismo burguês, 
mesmo que o livro tenha sido escrito por um aristocrata que estava mais preocupado 
em defender as suas origens. 
Em momento algum, nenhuma das teorias estudadas até aqui foram pensadas 
e organizadas para que o povo tivesse vez e voz. Apenas a partir dos séculos XVIII e 
XIX é que outras correntes de pensamento surgiram e abriram campo de reflexão a 
partir do olhar das camadas mais baixas da sociedade (ARANHA, 2015). Na 
sequência, um pouco desta discussão será apresentada. 
 
3.4 As reflexões sobre a democracia a partir de Rousseau 
 
A partir do lugar de origem, os autores anteriormente citados produziram teorias 
que respondiam ao seu tempo histórico, mas também dialogavam com os interesses 
de classes as quais pertenciam. O resultado, como visto, foram teorias que 
respondem a demandas e desejos políticos limitados para tais setores (DIAS, 2013). 
No entanto, Jean-Jacques Rousseau2, no final do século XVIII, trouxe uma 
visão crítica sobre os processos políticos e sociais e permitiu que outros setores da 
sociedade francesa pudesse se expressar. As obras fundamentais do autor são os 
livros “O contrato social” e “Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens”. 
O homem nasceu livre, não obstante, está acorrentado em toda a parte. 
Julga-se senhor dos demais seres sem deixar de ser tão escravo como eles. 
Como se tem realizado esta mutação? Ignoro-o. Quem pode legitimá-la? 
 
2 Rousseau difere dos demais autores por sua origem humilde. Foi filho de um relojoeiro de 
poucas posses. De origem Suíça viveu na França em meio às ideias liberais da época. 
 
 
Creio poder responder a esta questão. (ROUSSEAU, 2016, documento 
online) 
 
Assim como Hobbes e Locke, Rousseau também é caracterizado como 
contratualista. Mas a essência do contrato aqui é diferente, uma vez que, para sair do 
estado de natureza, os homens por consentimento unânime “abdica sem reserva de 
todos os seus direitos em favor da comunidade” (ARANHA, 2015, p. 250). A 
desigualdade identificada por ele na passagem acima deixaria de existir. Ou seja, o 
poder não estaria concentrado nas mãos de poucos, mas sim passa a ser a soma de 
cada um que faz parte da sociedade. 
As ideias de Rousseau dialogaram diretamente com o que acontecia no 
contexto histórico. A França passava pelo processo de Revolução Burguesa, no qual 
as camadas populares e a própria burguesia se viram representadas nas ideias 
inovadoras e progressistas de Rousseau. Suas reflexões trazem aspectos filosóficos 
do iluminismo e do racionalismo (ROUSSEAU, 2016). 
Alguns termos são inseridos no contexto político a partir de 1789, com a queda 
da Bastilha e a chegada da burguesia ao poder. Com o advento dessa revolução,fomos apresentados aos conceitos de revolução, direita e esquerda, classes sociais, 
burguesia e voto direto. Estes e outros pontos comuns na linguagem social e política 
foram desdobramentos dos escritos de Rousseau (LOBO, 2017). 
O autor fala sobre a soberania do povo sobre governo representativo e 
democracia direta. O soberano deixa de ser o monarca representante de Deus e passa 
a ser o cidadão dotado de direitos. O indivíduo é ao mesmo tempo soberano e súdito. 
A grandiosidade de suas ideias ganhou corpo dentro e fora da Europa. 
O processo revolucionário francês, serviu como inspiração para a Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão (COTRIM, 2016). Os ideais de liberdade, 
igualdade e fraternidade se tornaram universais. Este documento ultrapassou 
gerações e ainda inspira aqueles que buscam um mundo mais humanizado e que 
tenha os direitos como parâmetro nas relações sociais, econômicas e políticas. 
 
3.5 Karl Marx e a ruptura com a sociedade burguesa 
 
De todas as teorias da Ciência Política, nenhuma ganhou tanto alcance quanto 
aquela elaborada por Karl Marx e Frederich Engels, ambos alemães e vivenciando os 
 
 
desdobramentos da Revolução Francesa no século XIX. Fizeram um longo estudo 
histórico sobre as transformações da sociedade, que colocou em evidência uma força 
revolucionária, a classe operária. Seria ela o motor da história responsável por levar 
os homens da pré-história até as sociedades futuras (MARX e ENGELS, 2017). 
A teoria marxista inaugurou um papel inovador por dar espaço para que 
conceitos e métodos até então inéditos pudessem ser inseridos na 
Ciência Política. Os dois autores, trabalhando em conjunto, realizaram uma série de 
estudos acerca da História, da Economia e da Filosofia. O homem, livre do espectro 
religioso como guia para a vida cotidiana, seria substituída pela autonomia de ação e 
pensamento do sujeito. 
Além disto, a observação sobre como os processos históricos foram sendo 
constituídos deu abertura para perceber um movimento cíclico e passível de rupturas 
estruturais no status quo. Por tal perspectiva, cada um dos períodos históricos deixou 
sua marca, mas foi sendo substituído por outros que respondiam melhor ao contexto 
social e político (QUADROS, 2016). 
Com base nesta metodologia Marx e Engels identificaram que a história 
universal tem uma característica única: a dialética. Ela é a capacidade de renovação 
sem deixar de perder a elementos básicos daquilo que havia antes (LOBO, 2017). Por 
este caminho, a história produzida pelos homens é sempre nova, mas carrega em si 
pontos daquilo que existia antes. 
Outro ponto que distingue a teoria marxista é que, enquanto a maioria dos 
pensadores estão trabalhando com uma visão burguesa de Estado, Marx e Engels 
apontam para a necessidade de ruptura com este modelo e a elaboração de um novo 
Estado que realmente atendesse às demandas da maioria da população, os 
trabalhadores. 
Marx observou que os processos de industrialização vividos na Inglaterra e na 
França colocaram o trabalhador em estado de dependência e extrema exploração de 
seu trabalho (MARX e ENGELS, 2017). O trabalhador estava preso a este sistema e, 
ao mesmo tempo, era o motor que girava a sociedade capitalista. 
Sua crítica ao liberalismo capitalista segue na medida em que a concorrência e 
o lucro são os norteadores para o modelo vigente. Tanto Marx como Engels 
imaginavam a possibilidade de uma outra sociedade na qual os trabalhadores fossem 
os reais responsáveis pelo Estado e as tomadas de decisões. Assim como 
 
 
apresentam no livro “Manifesto Comunista”: 
Os comunistas distinguem-se de outros partidos de classes trabalhadoras 
somente pelo seguinte: 
1) nas lutas nacionais de proletários de países diferentes, eles ressaltam e 
apresentam os interesses comuns de todo o proletariado, independente de 
nacionalidade; 
2) nos vários estágios de desenvolvimento que a classe trabalhadora 
atravessa em sua luta contra a burguesia, eles representam sempre o 
interesse do movimento como um todo. (MARX e ENGELS, 2017, s/p, 
documento online) 
O manifesto de Marx tornou-se famoso por resumir toda a teoria do comunismo 
em uma única frase: “Abolição da propriedade privada”. Ao final do segundo capítulo, 
ele fornece as 10 medidas necessárias para tornar-se um país comunista, e entre eles 
a estrutura da família burguesa, vista como um meio de produção, onde o homem 
gera renda e a mulher cumpre o papel de mão de obra em sua casa. Na concepção 
dos autores, essa estrutura desapareceria com o fim do capital. 
Historicamente tais ideias alimentaram partidos e movimentos que resistem aos 
avanços do capitalismo e usam as ideias dos dois autores para que possam organizar 
a luta de defesa dos trabalhadores, e outras em defesa de seus próprios interesses. 
4 PODER E POLÍTICA 
Mesmo com os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, ainda há dúvidas 
sobre a magnitude da política e sobre os fundamentos centrais do conceito. Da política 
de Aristóteles na Grécia antiga ao nascimento da biopolítica de Michel Foucault, muita 
discussão e proposições acerca do tema perduram no século XXI. Em geral, política 
já foi confundida ou reduzida a governo, estado, partidos políticos, ideologias, público, 
poder político, entre outros (LUCAS, 2021). 
Até agora, não há consenso sobre a possibilidade da política também se aplicar 
à sociedade civil, mercados e empresas, escolas e universidades, clubes de futebol e 
outros esportes, filmes e notícias de televisão, editoras de livros e revistas e entre 
outras atividades. Dois grandes problemas talvez sejam as conceituações muito 
estreitas de um lado (a política é praticada apenas no estado ou no governo), ou muito 
amplas de outro (tudo é política). 
Diante das perspectivas, possibilidades de estudos e de ordem conceitual, 
pode-se organizar o tema “política” em cinco dimensões no aprofundamento desse 
debate. Inicialmente, sua delimitação é primordial, mesmo que o esforço não seja 
 
 
determinístico, mas é importante traçar fronteiras entre a política e outras relações 
sociais, como as relações econômicas e jurídicas, que nem sempre são identificadas 
como “políticas” (LUCAS, 2021). 
Enquanto sistema jurídico, o campo do direito se origina das operações do 
poder judicial na sociedade, sendo um dos ramos mais amplos do sistema político. No 
entanto, como muitos atores legítimos não aceitam essa política, ela nem sempre é 
apresentada como parte do sistema político do país. 
Ao observar a política e o sistema econômico, você notará que o mesmo 
princípio se aplica à vida das empresas e outras organizações. No dia a dia, é comum 
alguns desses ambientes culparem os outros, alegando que política não tem lugar na 
empresa. Dado que esse tipo de visão é incompleta e limitada, é importante que a 
política não se transforme em algo gigantesco que não explica mais nenhuma 
particularidade (DUSO, 2005). 
Do ponto de vista prático e teórico, é providencial distanciar conceitualmente 
teorias políticas de ideologias políticas, de ciências políticas e de práticas políticas 
(movimentos políticos, comportamento político, atividades políticas do governo), tendo 
em vista que, apesar da proximidade, constituem ramos diferentes da política. Embora 
a palavra política seja apropriada para descrever tanto a “arte de governar” quanto o 
estudo sistemático do governo, é sempre aconselhável observar as semelhanças e 
diferenças. 
Apesar do lado prático da política, há confusão na abordagem teórica, 
ideológica e científica da política. Embora a teoria política e a ciência política estejam 
mais próximas em alguns aspectos, até porque a ciência precisa da teoria, o ponto de 
partida é que o trabalho de campo não se trata apenas de coletar manualmente dados 
para testar hipóteses. A ciência política é uma abordagem empírica das teorias, 
embora alguns estudos de campo sejam "bibliográficos" no contextodos estudos 
teóricos. Além disso, esse tipo de ciência se volta para testar hipóteses e explicar 
fenômenos políticos (NOGUEIRA, 2018). 
Podemos compreender a ideologia como a “alma” da prática política, em certa 
medida, principalmente quando consideramos os aspectos subjetivos que atribuem 
sentido à vertente política. Vê-se nos estudos, proximidade entre teorias políticas e 
ideologias políticas, principalmente em termos de elementos normativos. No entanto, 
quando a explicação e a descrição entram em pauta, as teorias políticas se distanciam 
 
 
das ideologias. Estas últimas têm outras preocupações além da verdade e da lógica, 
pois os objetivos principais das ideologias políticas são a capacidade de mobilização 
social e o comprometimento com a atuação dos partidos políticos e dos movimentos 
políticos sociais. 
Além disso, precisamos admitir que, além da própria sociedade civil, classes 
sociais e indivíduos, a política também está intimamente relacionada a outros 
conceitos muito próximos a ela, como soberania, ideologia, lei, democracia, justiça, 
violência, governo e Estado, por exemplo. Uma boa compreensão da política é difícil 
sem compartilhá-la criteriosamente com outras dimensões da vida. 
Sob a perspectiva histórica, a política também apresentou fases, passando por 
épocas, conjunções e experiências diferentes, tanto no tempo quanto no espaço. Em 
se tratando de modelos políticos, podemos evidenciar diferenças entre as regiões no 
mundo, destacando as transformações políticas ocorridas ao longo do tempo. Vale 
destacar que, mediante a isso, temos que tomar alguns cuidados com os conceitos e 
seus equivalentes reais, como o Estado, pois nem sempre existiu como principal 
instituição do poder político. 
Por fim, a dinâmica institucional e jurídica deve ser incluída no discurso político, 
pois muitas práticas políticas passaram a ser regulamentadas em ordenamentos 
jurídicos nacionais e internacionais ao longo de seu desenvolvimento histórico, o que 
não impediu que grande parte da política permanecesse informal, afastada do direito 
e dos padrões. 
Diante da diversidade de interpretações conceituais de política, buscamos em 
nossas aulas demarcar historicamente as contribuições clássicas, especialmente de 
Aristóteles. Isso significa que, mesmo na busca de referências antigas, a referência 
às opiniões de escritores modernos e contemporâneos servem para identificar como 
as visões de Aristóteles (e de outros gregos) foram assimiladas e adotadas nos últimos 
séculos (LUCAS, 2021). 
A mesma diversidade de interpretação se observa quanto ao conceito de poder, 
desde tempos mais remotos, também se tornou um conceito de reflexão. De fato, 
pode-se dizer que seu conceito é ainda mais amplo que o de política e mais interno 
às relações sociais, embora tenham sido identificados como parte de um mesmo 
processo. 
 
 
Desde a Grécia antiga, os conceitos de poder e política apresentam 
semelhanças convergentes ou, até mesmo, profundas, no entanto, sempre existiram 
diferenças relevantes entre os dois. (BOBBIO, 2000). 
Em outras palavras, tudo que condiz com as relações de poder não pode ser 
resumido em política. Mas, ao contrário, tudo o que acontece na política é uma espécie 
de relação de poder, embora, os antigos pensadores, entendam existir outras relações 
de poder. 
4.1 Teoria política 
 Nas pesquisas junto à literatura, relacionadas com a teoria política clássica, 
podemos constatar que a mesma foi delimitada por Tierno (2019) no dossiê da 
Revista Lua Nova, em um largo espaço de tempo, quase mil anos. 
Com efeito, a teoria política clássica compreende o período situado entre 
a última década do século VI a.C. e o terço final do século V d.C., 
abarcando, nesse decurso variado, as singulares e conexas experiências 
que tiveram seu centro no mundo grego e romano. Dois eventos, de um 
modo algo arbitrário, marcam a duração convencional da antiguidade 
clássica na Grécia e em Roma: o estabelecimento da constituição 
democrática de Clístenes em Atenas (508 – 507 a.C.) e a destituição de 
Rómulo Augusto, último imperador romano do Ocidente (475 – 476 d.C.) 
(TIERNO, 2019, p. 15). 
 
No Dicionário de Política, Bobbio et al. (1995), afirma que o significado clássico 
de política, advém de um adjetivo que deriva da palavra pólis (politikós), referindo a 
tudo que está relacionado a uma cidade e, portanto, também o que é urbano, civil, 
público e até social. 
Desde então, o adjetivo política passou a ser associado às relações de poder 
e estas podiam ser de diversos tipos (poder patriarcal, poder despótico – mundo do 
trabalho – e poder político). Apesar disso, o uso do termo política passou a se limitar 
à relação entre governantes e governados, tendo estabelecido um certo tipo de forma 
política, em benefício dos governados e dos governantes, o que só acontece nas 
verdadeiras formas de governo, porque é da natureza das pessoas que são 
prejudicadas usar o poder em benefício dos governantes (BOBBIO, 1995). 
Em linha com exposto, a principal forma, ou seja, a “correta” no exercício do 
poder político é por meio da força, desde que seja feita para o bem comum e a 
funcionalidade seja produzida pela governança. Mediante a isso, constata que a 
 
 
política passa a ser entendida como poder político e, portanto, é sinônimo de governo. 
A política era considerada a gestão da sociedade, e a discussão da política incluía, 
entre outras coisas, o tema das formas de governo. 
Assim, os pensadores clássicos propuseram uma tipologia clássica do que 
entendiam como as três boas formas de governo – aquelas que buscavam o bem 
comum – a saber: a monarquia (governado por um), a aristocracia (governado por 
poucos) e, a politia (governo de muitos). Com relação a “politia”, esta é sinônimo de 
constituição, porque muitos não tinham noção de um bom governo (tendo em vista 
que à época, não havia o governo de muitos). Portanto, a polita, a constituição, foi tida 
como referência de um bom governo para muitos. 
Em relação ao conceito de poder, a abordagem parte do mesmo princípio acima 
exposto. Aristóteles constata sua reflexão quanto a distribuição do poder entre as 
pessoas, convergindo na proposição de três possibilidades em destaque: 
 
(a) a realeza, quando o poder é exercido por apenas um; 
(b) aristocracia, quando alguns têm poder; 
(c) uma república onde todos têm poder. 
 
O autor também descreveu o conceito oposto, ou seja, o mau exercício, o 
“abuso” de poder, a saber: 
a) tirania, uma forma perversa de poder monárquico; 
b) oligarquia, uma forma distorcida de poder oligárquico; 
c) democracia (que hoje pode ser entendida muito mais como demagogia), 
forma distorcida do poder republicano (ARISTÓTELES, 2018). 
 
Com base nessa tipologia aristotélica, a filosofia e a ciência política definiram o 
poder como mais amplo do que a política: 
• relações que podem estar presentes nas situações do pátrio poder ou 
mátrio poder, ou seja, nas relações ambientadas na dimensão dos lares e 
dos domicílios. São as relações de poder presentes no seio da família (e 
do seu entorno). Na verdade, existiriam relações de poder dentro de casa, 
nas interações pais e filhos, maridos e esposas, etc. Porém, tais relações 
não seriam políticas, apenas de outro tipo de poder; 
 
 
• relações de poder também poderiam estar presentes no mundo do 
trabalho, como na relação entre patrão e empregado, nas relações entre o 
senhor e o escravo. O mundo do trabalho sempre foi um lugar de muitas 
relações de poder, ainda que, durante quase toda a história da 
humanidade, essas relações não eram políticas, ou seja, organizadas e 
tuteladas por instituições políticas, como o Estado e Judiciário; 
• relações de poder também são, verdadeiramente, ambientadas na 
interação entre governantes e governados. Essa dimensão das relações 
de poder é a mais clássica e, consensualmente, aceita nos meios 
intelectuais e políticos.Hoje em dia, articulando as duas classificações (do 
lugar e da distribuição do poder) podemos dizer que se vive, atualmente, 
num contexto, onde as relações entre governantes e governados devem 
prevalecer na sua forma democrática. Se isso não acontece, há sérios 
problemas de legitimidade entre o Estado e a sociedade civil. Na prática, 
num cenário legal de soberania popular, a democracia é a melhor forma 
de decisão e implementação que materializa tal preceito constitucional. 
 Diante do exposto, pode-se julgar que o poder pode estar em todos os lugares 
e, de diferentes maneiras, pode estar fragmentado. Mas o que é poder ou o que é 
fragmentado, neste caso? Em primeiro lugar, o poder é uma relação social. Para que 
exista uma relação social, duas ou mais pessoas devem interagir. O poder é um tipo 
de relação social caracterizada pela capacidade ou eficácia de um dos participantes 
da relação de influenciar o outro até certo ponto. A palavra poder, em seu sentido mais 
geral, significa a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos, o poder do 
homem sobre o homem (BOBBIO et al., 1995). 
 Posto isso, vê-se que as relações de poder podem estar alinhadas com outros 
tipos de relações sociais, por exemplo, nas relações educativas, afetivas e amorosas, 
ou mesmo econômicas e culturais. Vale destacar que as relações de poder são, por 
sua vez, intermediadas por instrumentos. 
 Referente a tais instrumentos, existem vários nas relações de poder, como, por 
exemplo, armas, força física, conhecimento, leis, dinheiro, propriedade. De fato, 
características específicas de outras relações sociais, como dinheiro e relações 
econômicas, são, em última análise, instrumentos de relações de poder. 
Segundo verbete no Dicionário de Ciência Política, o poder pode ser 
dividido em três definições básicas: “substancialista”, como algum tipo de 
 
 
coisa, capital, propriedade; como “institucionalista”, ligado a algum tipo de 
instituição (com o Estado). Ou, por fim, como “interação”, como a 
“mobilização de recursos para conseguir que outrem adote um 
comportamento pelo qual não se tinha decidido fora desta relação” (BADIE 
et al., 2008, p. 235-236). 
 Com base na citação acima e combinado com o exemplo de instrumentos de 
relações de poder, além do fato de que as armas são enquadradas como poder 
substantivo em um caso particular, porque sua posse ou controle aparente constitui 
uma relação de poder, porque são afetadas por outros (percepção situacional). A 
percepção de uma pessoa de tais instrumentos de poder refere-se um momento 
importante em que, muitas vezes, as pessoas fazem ou deixam de fazer ações 
justamente por conhecerem os instrumentos de uma relação (de preferência na posse 
de outra pessoa) (LUCAS, 2021). 
 Destaca-se o fato que, alinhado ao exemplo acima, na possibilidade do 
emprego de algum desses instrumentos, é recorrente o “blefe” – manipulação e/ou 
mentira – porque as pessoas nem sempre têm o controle ou posse de tais 
instrumentos, mas apenas geram situações que "aparentam" tê-los. 
Assim, o momento de influência nas relações de poder ocorre quando essa 
arma ou ferramenta é utilizada para cumprir sua função principal (matar, ferir). A 
dimensão da conveniência é mais subjetiva, mais manipulável, mais assumida, 
enquanto a dimensão efetiva se apresenta mais ruidosa, mais visível, mais registrável. 
 Outro exemplo oportuno refere-se a Lei, por se tratar de um instrumento de 
relações de poder, este deveria funcionar apenas dentro dos limites das 
possibilidades, impedindo a prática de crimes e contravenções. Para tanto, a mesma 
deve ser admitida como efetiva a alguém, pois, do contrário, as pessoas em geral 
violaram as normas estabelecidas por falta de “eficiência”. 
Aprofundando a discussão sobre este exemplo, confere ao Estado o 
estabelecimento e a sua aplicação, desse modo, enquanto instrumento. A Lei deve 
fazer com que as pessoas sigam as regras de uma boa vida social de acordo com as 
oportunidades. No entanto, se as pessoas não observarem as regras, o Estado deve 
usar, efetivamente, as penalidades e sanções previstas no texto legal. 
Poder é, nesse sentido, uma relação social, tendo como ferramentas 
intermediárias os instrumentos que servem para executar a possibilidade e 
efetividade. Reconhecer os instrumentos e seus potenciais efeitos é parte da tarefa 
das formas legítimas de dominação. 
 
 
Dessa forma, considerando que as classes dominantes não possuíssem 
instrumentos de poder, ou se eles os possuíssem, mas os dominados não os 
percebessem, as relações de poder iriam caminhar à largos passos para a 
desobediência. É claro que nem sempre os dominados atendem às exigências de 
quem têm mais poder, ou seja, controle dos instrumentos de poder (TOUCHARD, 
1970). 
Em respeito à dominação e seu processo, é essencial ao dominante possuir 
o controle de um dos possíveis instrumentos de poder na sociedade. Mediante a 
isso, o processo de dominação costuma envolver o reconhecimento da relação de 
dominação pelo dominado. 
Como observou o sociólogo alemão Max Weber, a dominância, ou a 
possibilidade de encontrar obediência a um determinado mandato, pode basear-se 
em diferentes razões de submissão. Segundo Weber (1982), existem três “tipos puros” 
de dominação baseados em alguma legitimidade associada a estruturas sociais e 
administrativas, sendo elas: dominação racional-legal, dominação tradicional e 
carismática. 
Em suma, ainda de acordo com Weber, a dominação corresponde a 
consequência mais importante das relações de poder. Visto que, quem controla os 
instrumentos de poder em maior quantidade e qualidade manda. Ainda, se fez 
necessário à dominação que, o dominado reconheça os instrumentos de poder e seu 
controle por alguém (o dominante). Cabe salientar que o mero reconhecimento 
signifique aceitação, ao passo que, se a situação não for aceita (o que significa 
reconhecê-la), a pessoa dominada pode ativar a desobediência. 
5 PODER E RELAÇÕES SOCIAIS 
5.1 Poder do Estado 
Segundo a teoria de Weber, três tipos de dominação são buscados por meio 
das crenças dos indivíduos para manter sua legitimidade, cada um possui uma forma 
de obediência, estrutura administrativa e exercício de dominação específico: 
dominação racional-legal, dominação tradicional e dominação carismática. A 
 
 
dominação racional-legal é baseada na obediência a uma regra prescrita que 
determina a quem obedecer. 
Em se tratando da dominação tradicional, vemos que esta é baseada na 
obediência, motivada pelo mérito à tradição e pela lealdade pessoal à obediência. E, 
finalmente, na dominação carismática, a obediência reflete o apego do seguidor ao 
carisma de seu obediente. Segundo Weber (2000), a ordem racional-legal 
corresponde à estrutura estatal moderna. 
Nesse ponto, vale mencionar a instabilidade da ordem legítima, pois a tipologia 
weberiana dos tipos ideais puros decorre da existência de um arcabouço 
administrativo responsável pela implementação e aceitação da vontade legítima dos 
governantes. Como Cohn (1997, p. 30, ênfase no original) observa: “Nesse caso, o 
conteúdo do significado assume a forma de afirmar uma ordem legítima (que pode ser 
consuetudinária ou legal)”. 
Sob a dominação racional-legal, esse quadro administrativo típico é uma 
burocracia pública composta por funcionários contratados com base no mérito, 
distinguidos por especialistas competentes e seguindo uma hierarquia impessoal. 
Portanto, segundo Weber (2000), o Estado moderno caracteriza-se, 
sociologicamente, como uma instituição que assume o uso do poder e o monopólio 
legal em seu território. 
Deve-se notar que tal compreensão do que caracteriza o conceito de ordem 
jurídica de Weber nos permite ver o estado, a igreja e a lei como exemplos de 
instituições sociais que mantêm a legitimidade em seu papel e função na sociedade. 
Como distinguir o poder político (Estado) de outras relações depoder na 
sociedade? Apoiando os resultados de Weber, Bobbio (2000) destaca que o Estado 
mantém o poder político caracterizado pelo uso da força, que é de fato uma condição 
necessária, mas não suficiente. 
Em Giddens (2001), é descrito o processo de exclusividade e monopolização 
do poder estatal de forma sociológica, levando à consolidação das fronteiras do 
Estado absolutista. 
A coordenação e centralização do poder do Estado, na França e por toda a 
Europa, levou a monarquia a uma confrontação com as organizações 
corporativas (cidades, assembleias, parlamentos). As cidades francesas, 
muitas das quais desfrutavam uma independência considerável, passaram 
 
 
a ser regulamentadas por prefeitos nomeados pela Coroa. (Giddens, 2001, 
p. 121) 
Um ponto posterior nesse processo foi o desenvolvimento de novos 
mecanismos legais: “O período do absolutismo viu o início da prisão e a expansão de 
medidas restritivas controladas pelo Estado que substituíram as formas anteriores de 
punição nas comunidades locais” (GIDDENS, 2001, p. 125). Em seguida, foi mudado 
o método de gestão fiscal, que auxiliava o país a arrecadar dinheiro para guerras 
militares, que exigiam gastos imensuráveis (GIDDENS, 2001). 
Por que o Estado se vale da força para a manutenção da sociedade? 
Destacamos, a seguir, duas perspectivas que reforçam a importância de o Estado 
reclamar para si o acesso privilegiado a recursos e a meios de coerção física. 
Ao se buscar a abordagem sobre o exercício do poder coercitivo estatal, vê-
se em destaque Carl Schmitt (2008) explanando que o Estado exige para si o que vê 
como um monopólio legítimo da força para proteger a sociedade de ameaças 
externas. Segundo Schmitt (2008), as decisões políticas não devem se limitar à 
distinção entre legal e ilegal; caso contrário, examina-se a eficácia do governante para 
alcançar o objetivo final de qualquer atividade nacional. 
Portanto, segundo o autor, a função da existência do Estado é garantir a 
segurança da sociedade frente às ameaças externas. Por isso, é importante que ele 
tenha direito à autonomia na tomada de decisões e ao uso de meios coercitivos para 
atingir seus objetivos. 
A contradição da posição de Schmitt reside no fato de que o Estado pode, se 
necessário, tomar medidas ilegais para proteger a sociedade, que violem, por 
exemplo, o princípio do estado de direito. Obviamente, tal posição é questionável e 
condenável em relação aos limites da atuação do Estado – a solução para frear a 
atuação de um Estado que caminha nessa direção é justamente o Estado de Direito. 
5.2 Conceito de poder constituinte 
O entendimento primário é que a constituição (definida, conceitualmente, como 
o conjunto de normas pelas quais o Estado se organiza, ou materialmente como o 
conjunto de órgãos que constroem o Estado como forma de exercício do poder) é, em 
última instância, o resultado do poder que advém da natureza da manifestação 
soberana da vontade do povo (enquanto grupo de cidadãos no país e no estrangeiro), 
 
 
através da disciplina normativa do criador último do núcleo social que, por sua vez, 
coincide com o aparecimento de constituições escritas e, até certo ponto, de 
constituições codificadas. 
De fato, constata-se que, com a Constituição – entendida no seu sentido formal 
– que aceite a existência de norma fundamental e, em linha, o Poder Constituinte 
enquanto fonte autêntica do texto da constituição, passa a ser compreensível (e até 
certo ponto crível) em seu alcance preciso, o que torna evidente (e cientificamente 
possível) uma autêntica teoria da constituição. 
 
5.2.1 Poder constituinte contemporâneo 
 
No período contemporâneo é que se permitiu entender o Poder Constituinte 
como a expressão da mais alta vontade política de uma nação organizada política, 
social e juridicamente. As normas constitucionais, portanto, sempre vêm do poder 
fundador, que as protege e fornece a base para sua própria legitimidade. 
Dessa forma, o cumprimento inicial das funções constituintes – desvinculados 
de quaisquer limites legais previamente impostos – representa, na verdade, os 
momentos mais evidentes do exercício do poder. Por meio dele: a) estabelece-se a 
Constituição, instrumento importante na limitação legal do poder político; b) o estado 
é estabelecido; c) a ordem jurídica da sociedade política é delineada e formalizada; d) 
são definidas as formas políticas e jurídicas características da nova comunidade 
estatal; e) a racionalização do processo de poder é instrumentalizada no documento 
constitucional; e, f) as liberdades públicas são declaradas no mais alto nível de 
positividade jurídica. 
Nesse sentido, pode-se errar sem medo ao concluir que a produção de normas 
decorrente do desempenho da atividade constitucional está eterna e formalmente no 
cerne da constituição. Esta, por sua vez, não pode e não deve ser vista e analisada 
como um simples instrumento de poder, mas sim como uma lei reguladora 
fundamental de uma autêntica sociedade política, um mero sistema de relações de 
poder, porque inegavelmente - entre governantes e regras, entre poder e os 
governados e entre autoridade e liberdade - há sempre um estado de tensão dialética 
constante, que por sua vez é uma realidade de harmonia e conforto possível. 
 
 
Assim, para que isso ocorra sem grandes dificuldades, o monopólio do poder 
deve ser combatido a todo custo, criando os processos políticos e legais de governo 
do próprio poder, por meio do poder constitucional, que deriva diretamente do Poder 
Constituinte como norma fundamental soberana, originária, ilimitada, incondicional e 
imaterial. 
5.3 Biopolítica 
Hirschman (2019) na sua obra “Retórica da Intransigência: perversidade, 
futilidade, ameaça”, de 1990, é discutido o lado reativo da elite política e intelectual 
conservadora e reacionária que se opõe aos direitos civis desde a Revolução 
Francesa. Depois, da mesma forma, contra os direitos políticos no século XIX e, 
finalmente, no século XX, contra os direitos sociais. 
Apesar dos avanços e da modernização vivenciada ao longo dos anos, vê-se, 
ainda, que não chegamos a um consenso absoluto sobre a importância dos direitos 
em geral, especialmente para os pobres, que denunciaram os movimentos 
trabalhistas desde meados do século XIX (NEGRI; HARDT, 2016). Nesse contexto, 
surge o debate sobre a biopolítica, uma nova versão da política renovada na era dos 
direitos. 
Com efeito, o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas 
jurídico e, num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e 
quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se 
são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é 
o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes 
declarações, eles sejam continuamente violados (BOBBIO, 2000, p. 25). 
Durante o novo regime político burguês liberal-republicano-democrático, houve 
uma forte crítica política desde meados do século XIX, como evidenciado pela 
publicação do “Manifesto do Partido Comunista” de Karl Marx e Friedrich Engels 
(2012), em 1848. O século XX trouxe conhecimentos mais detalhados sobre as 
promessas não cumpridas, principalmente no que diz respeito à democratização 
social. 
A ideia de que o poder político se expande por ondas de cidadania civil, política 
e social era, de fato, válida, mas, por outro lado, os sinais do crescimento de políticas 
de regulamentação e controle eram bem mais evidentes que os sinais de políticas de 
emancipação e liberdade. 
 
 
Nesse sentido, a teoria política moderna deu lugar à teoria política pós-moderna 
baseada na obra de pensadores como Foucault, não tanto por um período histórico 
ou marcos revolucionários, como foi o caso do surgimento da teoria política moderna, 
mas por causa do debate e visualização de certas questões e problemas da 
modernidade política ocidental, democrático-republicana.Segundo Foucault (1979), o nascimento da biopolítica se dá com o surgimento 
da medicina social capitalista, que já vinha sendo preparada desde o século XIX. E o 
fortalecimento constante de novos direitos a cada século reforçou os efeitos positivos 
e negativos do crescimento dos direitos. A política aproximou-se da saúde e, nessa 
situação, a política tornou-se biopolítica. 
Destaca-se o fato de que outros aspectos também reforçaram a expansão 
institucional e, de forma limitada, do sistema político nas primeiras versões do Estado 
moderno, mediante uma complexa rede de serviços e atendimentos amplos, seja 
político ou social, pelo menos nos países mais desenvolvidos, o que provocou reações 
conservadoras e reacionárias em alguns grupos da elite internacional (HIRSCHMAN, 
2019). 
À medida que se avançava a discussão sobre biopolítica, como é inevitável, 
falou-se também sobre o crescimento do biopoder, por um lado, e da necropolítica, 
por outro. A discussão política foi se orientando cada vez mais para os fundamentos 
jurídicos da igualdade, uma democracia socialmente inclusiva e tolerante que causava 
alienação conceitual, resultando no nascimento da necropolítica. 
 
5.3.1 Biopoder e necropolítica 
 
Ao tratarmos sobre biopoder, podemos considerar que seu conceito se difere 
do Poder, por representar um grande aumento no potencial de controle (por meio dos 
elementos de poder), bem como uma ameaça à vida, a exemplo em uma situação de 
extermínio em massa de uma população. Como diz Foucault (2005, p. 287), “o direito 
de soberania é, portanto, o direito de morrer ou de viver. E aí se instala esse novo 
direito: o direito de viver e deixar morrer”. 
Dessa forma, tem-se que o poder político mudou, e esse novo direito à vida e 
à morte não é mais o mesmo, principalmente pelas obrigações advindas dos direitos 
 
 
humanos, das garantias de preservação da vida e até mesmo do incentivo das 
pessoas a viver e viver todos cada dia mais. 
No entanto, o poder político ainda lida com a morte, o “deixar morrer”. Se 
observa, nesse sentido, que o poder nunca foi tão evidente quanto na fase de 
biopoder. Se os governantes do passado não se importavam com a vida de seus 
súditos (escravos, pobres), agora é controverso que isso ainda aconteça, 
principalmente após o fortalecimento dos direitos humanos, dos direitos fundamentais 
e da igualdade. 
As estatísticas de morte e violência das populações mais pobres em países 
subdesenvolvidos comprovam que o biopoder é mais para a governança do que para 
a vida. O que não quer dizer que os próprios “governantes” não sejam vítimas da nova 
armadilha do poder globalizado e tecnológico dos riscos. 
Os riscos globais têm uma característica notável: eles introduzem a dupla 
ameaça existencial - primeiro, para a vida e a soberania dos cidadãos e, 
segundo, para a autoridade e soberania do Estado-nação. Não só o Estado, 
mas até a possibilidade do Estado, depende fundamentalmente de garantir 
a segurança e a proteção de seu povo (BECK, 2018, p.133). 
 
Com o crescimento do biopoder, ele foi dividido em formas mais socialmente 
regulatórias, que pressupõem a emergência da biopolítica (FOUCAULT, 2010), e 
formas mais disciplinares, como no estudo de Foucault sobre a punição, em sua obra 
vigiar e punir (FOUCAULT, 2010). 
Por exemplo, se mudarmos o modelo de punição de uma forma mais repressiva 
para formas mais voltadas para o controle criminal (controle da oferta e 
ressocialização), o poder é substituído pelo biopoder, não apenas para individualizar 
o controle) (HARDT; NEGRI, 2005), além de monitoramento biopolítico da sociedade, 
estatísticas abrangentes de crimes, perfis de criminosos e vítimas, atividades de 
ordem pública para prevenir crimes e muito mais (TAYLOR, 2018). 
Similarmente aos antepassados, dado o crescimento em força do biopoder, a 
emergência da biopolítica significou uma nova tentativa de controlar esse biopoder. 
Mas, como revelou Foucault, a verdadeira face da biopolítica é outra. Atualmente, se 
observa que as pessoas estão sendo monitoradas em todas as atividades da vida, em 
casa, academia, local de trabalho, escola e universidade, lazer e atividades 
recreativas. Além de números e registros, as pessoas se tornaram uma espécie de 
dispositivos móveis. 
 
 
Com relação a necropolítica, não é novidade que as pessoas são deixadas para 
morrer ou que a violência e a morte favorecem os pobres em detrimento dos ricos. As 
mulheres e a população LGBTQI+ também são menos protegidas do que os homens 
com dinheiro, status e poder. 
Estas circunstâncias não são surpreendentes. O que acabou não se 
confirmando foi a esperança de que aquela violência não existisse mais. A igualdade 
perante a lei ainda é uma utopia, especialmente pela grande resistência expressa por 
algumas elites em suas palavras e práticas (HIRSCHMAN, 2019; MBEMBE, 2018). 
 
 
6 REPRESENTAÇÃO DEMOCRÁTICA 
6.1 Estado e legitimação 
Apesar da indiscutível caracterização da democracia como uma forma 
autêntica de regime político, é incontestável que o intitulado regime democrático 
ultrapassa os limites do tema representatividade e, por extensão, da legitimidade, 
tendo em vista que estes representam a base de apoio à ordem jurídico-política estatal 
estabelecida por consenso. 
O chamado estado de legalidade forma o imperativo da legitimidade (original e 
simultânea) também chamado de estado de legitimidade, que sem dúvida é um dos 
pilares da democracia, sem o qual cessa a questão da representatividade. A simples 
imposição da vontade da maioria (sem o necessário respeito aos direitos da minoria) 
centraliza a garantia efetiva da ideia das liberdades públicas da humanidade (direitos 
individuais e coletivos inalienáveis) (FRIEDE, 2013) 
A democracia refere-se, portanto, a características e atributos básicos (Figura 
1) que, como elementos reais de materialização, transcende o conceito tradicional (e 
limitado) de representatividade, formando um verdadeiro binarismo complementar 
entre os chamados estados de legitimidade e legalidade, balizados por, pelo menos, 
cinco regras iniciais: 
 
a) participação efetiva do povo (cidadania) no estado sócio-político estatal; 
 
 
b) o exercício do poder legitimamente (ou seja, agentes do poder e 
representantes da sociedade devem ter a autoridade indiscutível do detentor do poder 
político, que se manifesta no povo); 
c) o poder da vontade da maioria, mas respeitando os direitos das minorias; 
d) um sistema de amplas liberdades, cabendo ao Estado a garantia total dessa 
realidade; 
e) a manutenção irrestrita da ordem legal (com base no consentimento), 
garantida – em última instância – no estabelecida no texto da constituição. 
 
Mais adiante, vê-se a democracia (em especial, o regime democrático), como 
mais ampla do que a mera expressão do consentimento autoritário do governante para 
aqueles que são direta e/ou indiretamente responsáveis por ela (vínculo de 
legitimidade), embora estes, juntamente com a efetiva participação popular, sejam os 
dois traços mais fundamentais (e originais) da necessária estruturação do chamado 
Estado de Legitimidade e, em conjunto do Estado de Legalidade (como tradução final 
da garantia necessária para a efetiva implementação da ordem jurídico-constitucional 
legalmente estabelecida), cunham forma o estado democrático de direito, ou seja, a 
compreensão moderna do estado democrático de direito como consequência da 
evolução do Estado de direito clássico (FRIEDE, 2013). 
 
Figura 1 – Características da democracia 
 
 
 
Fonte: Adaptado de Friede (2017). 
6.2 Estado de direito e Estado democrático de direito 
Quando tratamos do tema “Estado de direito”, podemos constatar que seu 
conceito se distanciou do sentido original, apresentando no início do século XVIII pela 
burguesia para se contrapor ao absolutismo, exigindo que os governantes obedeçam 
à vontade popular. Isso ocorreu porque,no começo do século XIX, o Estado de direito 
passou a ser considerado uma forma simples de governo, ou seja, um autêntico 
governo político. (NEUMAN, 1969). 
Com isso, emerge uma combinação de entendimentos sobre o significado de 
democracia, apesar de sua própria complexidade e características mutáveis, como o 
"Estado de Direito", que levaria o Estado a permanecer de qualquer maneira sujeito 
às normas de submissão para a plena implementação do sistema democrático. Vale 
destacar que isso acabou convergindo ao denominado Estado de direito, apesar das 
críticas recebidas no que tange ao seu restrito estado de legalidade que prevalecia 
desde seu nascimento (FRIEDE, 2017). 
 
 
Nessa perspectiva exposta, o fato de o Estado passar a se submeter a uma 
legislação lato sensu (estabelecida pelo Estado, na sua porção legislativa), se 
apresentou, ao longo do tempo, insuficiente para caracterizar plenamente o regime 
democrático, por não representar, eficientemente, a necessária submissão do Estado 
(e principalmente de seus governantes) à vontade do povo e aos objetivos 
apresentados pelos cidadãos, o que estimulou o surgimento, no início do século XIX, 
do primeiro conceito de Estado Democrático de Direito como resposta, ainda que de 
um ponto de vista restritivo na sua formalidade. 
Contrariamente a todas as críticas ao conceito original de Estado de Direito, o 
novo entendimento de Estado Democrático de Direito (ainda que inicialmente limitado) 
alcançou, pelo menos à primeira vista, um resquício da democracia (e, portanto, do 
regime democrático) apoiado em um conjunto de princípios, como destaca Silva 
(1985): princípio da constitucionalidade, princípio democrático, princípio de justiça e 
segurança social, regime dos direitos fundamentais, princípio da igualdade, princípio 
da separação dos poderes, princípio da legalidade e da segurança jurídica. 
Portanto, em atenção aos estudiosos que trataram do tema, estes enfatizaram, 
amparados por observações científicas da realidade política, que mesmo na plenitude 
do Estado Democrático de Direito, com todas as suas características e conceitos 
anteriormente descritos, a democracia – teoricamente – ainda não pode ser 
alcançada. Tendo em vista que, para se tornar plenamente eficaz, porque a efetiva 
implementação do regime democrático requer que o Estado, além dos elementos 
postos, atue de forma sinérgica no quadro de obrigações na relação poder-dever ao 
condicionar as ações voltadas na promoção do estado de legitimidade (e, 
concomitantemente, da ordem jurídica) (NEUMAN, 1969). 
 
 
6.3 Democracia formal e democracia material 
 
Fonte: https://iplogger.com/2rTba5 
 
Ao aprofundar os estudos envolvendo o tema democracia, é possível julgar, em 
certa medida, o aparente descaso com o dever do Estado que, em muitos casos, 
embora seja indubitável afirmar a democracia, como Estado de Direito formal, não 
está plenamente estabelecida, tanto a substantiva quanto a material, o que origina o 
regime democrático oficial (ou aparente) que vivemos nos últimos anos (FRIEDE, 
2013). 
Embora este sistema possa representar liberdade ampla, respeito real pelos 
direitos individuais e coletivos (por parte do Estado) e outros elementos da 
democracia, se observa a falta de efetividade da lei, em especial da ordem jurídico, 
demonstra ser um Estado que, por simples descaso dos seus governantes e/ou 
impotência sinérgica de recursos, é fundamentalmente incapaz de concretizar o 
próprio direito positivo (constitucional e inconstitucional) que legalmente cria e 
reproduz continuamente (LUCAS, 2021). 
Dessa forma, mediante ao entendimento de estudiosos sobre esse tema 
enfatizaram com base em observações científicas da realidade política, mesmo na 
plenitude do chamado Estado Democrático de Direito com todas as suas 
 
 
características e conceitos anteriormente descritos, a democracia, teoricamente, 
ainda não pôde ser alcançada, porque a efetiva implementação do regime 
democrático requer que o Estado, além de todos os pontos já elencados, atue de 
forma sinérgica no contexto da relação poder-dever, e que implemente ações mais 
efetivas na promoção do império da lei (e, portanto, da ordem jurídica resultante) 
(FRIEDE, 2017). 
 
6.4 Democracia e Igualdade 
Dentre os elementos que corrobora ao arcabouço que corresponde o regime 
democrático, podemos citar o princípio da igualdade (isonomia). Sobre igualdade, 
entende-se que todos os cidadãos devem ser tratados de forma igual e, sobretudo, 
devem ter iguais oportunidades (FRIEDE, 2013). 
Nos estudos que compreendem a geopolítica, é válido admitir que o princípio 
conceitual de democracia se baseia nos pilares da liberdade e da igualdade, 
considerando que, no período nominado de "Guerra Fria" – o confronto ideológico e 
político-institucionais entre os países do Ocidente e o bloco sino-soviético – as 
principais democracias ocidentais (EUA, França, Grã-Bretanha, Canadá, República 
Federal da Alemanha, etc.) apresentavam-se como o "mundo livre" (por intitularem 
ser uma referência à superioridade do elemento de liberdade característico de seus 
sistemas políticos democráticos) em oposição crítica aos chamados estados 
totalitários da "Cortina de Ferro" contra os quais eles se afirmavam, pelo menos 
nominalmente, sendo democracias populares indicando a maior igualdade que tais 
povos veiculavam possuir (MALUF, 1995). 
No entanto, com o desenvolvimento dos conceitos e a capacidade de 
organização da sociedade, é legítimo afirmar que com tais avanços a democracia 
ultrapassa seu escopo no que diz respeito aos elementos de liberdade e igualdade, 
passando também a percebê-los sob uma nova perspectiva (o que significa, como já 
notamos, a participação ativa do Estado na garantia dos direitos derivados destes) – 
requer, também, contemplar o conceito básico do direito à existência humana por meio 
dos chamados direitos humanos. 
 
 
6.5 Democracia e eleições livres 
Sendo a liberdade e a igualdade pilares que contribuem na sustentação da 
democracia, é pertinente admitir que, dentre estes pilares que fundamentam o regime 
democrático, assenta-se a existência sinérgica de eleições livres e regulares como 
uma espécie de "teste permanente de legitimidade" (FRIEDE, 2017). 
Neste sentido, justifica-se plenamente esta característica de governabilidade 
democrática, que sempre conferiu aos agrupamentos dos chamados países 
pluralistas ocidentais o título de autêntica democracia, ao contrário dos antigos países 
orientais e/ou de frágil sistema eleitoral. 
6.6 Representação política 
No bojo das discussões acerca do tema democracia e suas ramificações 
atualmente diante da pluralidade de atores, permite acreditar ser enorme a dificuldade 
em exercer a democracia direta, uma vez que, o verdadeiro detentor do poder 
constituinte (o povo) atuaria como tal. 
Diante desse fato, como alternativa, o pleno exercício da administração 
governamental é possível por meio do regime representativo “lato sensu”. Neste 
sentido, a permissão do titular do poder político, que se dá via democracia indireta 
representativa, e, em outro momento, via democracia indireta cesarista, que por sua 
vez revela o mecanismo de representação direta no primeiro caso (sistema de 
representação “stricto sensu”), enquanto no segundo, corresponde um mecanismo de 
representação indireto (SILVA, 1985). 
Assim, permite-se concluir que o maior desafio não se limita mais à 
mensuração da legitimidade (consenso popular) dessa representação, pois se 
observa que pesquisadores do assunto não reconhecem apenas essas duas 
modalidades (representantes escolhidos a priori, como a democracia indireta 
representativa, com mandato determinado e os com mandatos posteriori ratificados), 
bem como é possível uma combinação de ambas possibilidades (MARTINELLI, 
2022). 
 
 
6.7 Sufrágio 
Em relação ao sufrágio, também entendido como a organização política pormeio do consenso popular, refere-se, ao processo de escolha dos representantes, 
quanto à sua forma, demonstrando, por meio do voto, não somente a formação do 
quadro eleitoral (ou seja, a proporção de cidadãos que atuarão no processo de 
escolha dos seus representantes). 
 
6.7.1 Sufrágio universal 
 
O sufrágio universal, no sentido preciso da palavra, deve ser entendido, como 
afirma Maluf (1995) afirma que o sufrágio universal deve ser entendido como, a 
participação ativa de todos os cidadãos nas eleições do Estado. No entanto, a vontade 
geral que permeia o regime político democrático constitui um instrumento doutrinário 
e, sobretudo, legal para a aplicação prática que envolve a teoria da representatividade. 
Alinhado a esse entendimento, o corpo eleitoral – grupo de pessoas que 
efetivamente participam do processo eleitoral – é composto por uma parte do povo, 
formado por pessoas previamente aptas de votar, de acordo com a legislação, ou seja, 
com capacidade eleitoral ativa ou passiva – votar e ser votado – significando, nessa 
perspectiva, que não existe o sufrágio universal absoluto, na prática (sem quaisquer 
restrições legais), mas apenas o sufrágio universal juridicamente restritivo, onde 
cidadãos com algum tipo de pendência serão excluídos do processo eleitoral devido 
a determinados tipos de parâmetros como idade mínima e máxima, serviço militar, e 
entre outros limitadores jurídicos (FRIEDE, 2017). 
 
6.7.2 Sufrágio limitado ou de qualidade 
 
Ao aprofundar os estudos sobre o tema sufrágio em particular aos seus tipos, 
pudemos alcançar outros. Ao contrário do sufrágio universal, que, conforme Friede 
(2017), acontece quando, o corpo eleitoral sofre inevitavelmente restrições legais em 
todos os países, no caso do sufrágio limitado ou de qualidade, ocorre a implicação de 
outros tipos de restrições sejam elas sociais, econômicas, religiosas, de grau de 
instrução, por exemplo, e até de outras ordens também. 
 
 
 
6.7.3 Sufrágio igualitário e voto de qualidade 
 
Com relação ao sufrágio igualitário, vê-se que condiz ao princípio da 
universalidade, partindo da premissa que todos os votos realizados pelos membros 
do corpo eleitoral – desde que atendidos as disposições legais – têm o mesmo peso 
relativo (FRIEDE, 2017). 
Dessa forma, se constata que tal sufrágio é uma consequência natural do 
sufrágio universal, opondo-se neste sentido ao denominado voto de qualidade (voto 
de plural), onde cada eleitor apresenta um peso relativo diferente ao seu voto em 
função de sua condição sociopolítico-econômico. 
 
7 ASPECTOS DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA 
 
As eleições regulares são a forma mais visível de como a democracia expressa 
sua legitimidade no momento em que os cidadãos escolhem os representantes que 
concorrem aos cargos públicos. Para que a organização estatal se torne viável, a base 
do sistema democrático representativo é a existência de partidos políticos, que nessa 
situação aparecem como órgãos de organização e manifestação da vontade da 
população, pois o poder vem do povo e é exercido neste sistema de seus 
representantes. Segundo Maria D'Alva para Kinzo (1980, p. 21): 
A representação política tem vários significados atribuídos por políticos e 
teóricos políticos. A primeira forma de compreender o conceito de agência foi 
por meio da opinião de Hobbes, conceito que se centrava na ideia de 
autoridade. Outra abordagem é aquela que desenvolve a ideia de ação como 
reflexo de algo ou alguém. E a terceira foca a discussão nas atividades 
representativas (KINZO, 1980). 
Constatamos que o princípio da representação política está diretamente 
relacionado ao controle do poder do Estado que os cidadãos delegavam porque não 
podiam exercê-lo pessoalmente. Porque essa representação é política, ou seja, 
governantes que representam os interesses dos cidadãos para o bem comum de toda 
a sociedade, não podemos esquecer que essa representação dá resultados que estão 
diretamente relacionados ao bem comum e à vida social, com significado e ênfase 
 
 
desta representação. 
Na prática, as democracias modernas utilizam um mecanismo de 
representação política baseado no voto individual de um cidadão que escolhe um 
candidato ou partido, onde representantes escolhidos pelo povo cumprem as funções 
legislativas e executivas do estado. É importante sublinhar que desde o século XIX 
aumentou o número de pessoas com direito de voto. Se no Brasil do século XIX esse 
direito era garantido apenas aos homens, proprietários de terras, hoje esse direito é 
garantido a uma classe muito maior de pessoas, pois o voto é o momento maior de 
participação popular na democracia moderna. De fato, a democracia não se limita a 
votar e votar para a formação de um governo popular, pois a manifestação da forma 
de descobrir a natureza do modelo é condição para a participação contínua e 
permanente dos cidadãos. As eleições são necessárias para implementar o sistema, 
mas não são suficientes para garantir o alcance do experimento democrático. A 
legitimidade das eleições possibilita a democracia porque é a fonte da preservação da 
cidadania e da governabilidade e reflete as mais diversas aspirações dos povos. 
Dieter Nohlen (1995, p. 12) argumenta que “um governo nascido de eleições livres e 
universais é visto como legítimo e democrático, mas o poder das eleições é ainda mais 
amplo: eleições competitivas constituem o poder legítimo de todo o sistema”. 
No Brasil, a implementação operacional do sistema eleitoral é um tanto difícil, 
mas prima pelo equilíbrio da representação governamental. O sistema brasileiro utiliza 
dois modelos de votação: um majoritário e outro proporcional. Um sistema majoritário 
é aquele em que o candidato mais votado é eleito e é o modelo para os cargos de 
liderança. Um detalhe importante desse sistema é que os candidatos a presidente, 
governador e alguns prefeitos devem obter a maioria absoluta dos votos válidos - 
aqueles que não são brancos ou nulos - ou enfrentarão um segundo turno. O critério 
da maioria também é aceito na escolha de um cargo no parlamento: senador. As 
cadeiras do Senado são eleitas por um sistema majoritário, mas não são totalmente 
renovadas a cada 4 anos porque os senadores têm mandatos de 8 anos, mas as 
eleições são realizadas a cada 4 anos. 
O sistema proporcional elege vereadores, deputados federais e estaduais, é 
bem mais complicado e sua lógica um pouco confusa. Ao votar em um substituto ou 
representante, é possível que um cidadão vote em um candidato específico ou apenas 
em um partido político ou sindicato. Em primeiro lugar, são contados os votos 
 
 
recebidos para cada partido ou coligação política, e as cadeiras parlamentares vagas 
são distribuídas proporcionalmente aos votos recebidos. A partir desse ponto de 
partida, são definidos os candidatos às vagas e os candidatos mais votados recebem 
as cadeiras conquistadas pelo partido ou coligação. Esse sistema permite que 
candidatos escolhidos pelo povo sejam eleitos, enquanto os partidos políticos ou 
coligações têm representação nas bancadas. Se houvesse apenas um sistema 
majoritário, apenas alguns candidatos seriam votados, o que prejudicaria as minorias 
representadas por alguns partidos políticos. 
A votação no Brasil (1988), por outro lado, tem uma lógica muito simples: os 
maiores de 18 anos podem votar, e os entre 16 e 18 anos, analfabetos e maiores de 
70 anos podem votar ou não. Essa taxa está prevista no art. De acordo com o artigo 
14 da Constituição da União, o dever de voto foi confirmado na Lei Eleitoral. A 
obrigatoriedade do voto gera muita discussão e análise por parte de especialistas 
políticos, segundo os quais o país precisa de uma reforma política que considere o 
voto voluntário. Eles dizem que essa é uma atitude importante para fortalecer a 
democracia no país, pois o voto é visto por muitos como um castigo e não como uma 
oportunidade de participarefetivamente da construção democrática do país. 
A representação política tem sido criticada ao longo dos anos. Muitos deles 
sugerem que a falta de controle e fiscalização dos cidadãos nas atividades de seus 
representantes gera uma falta de referência na formulação de políticas, o que faz com 
que os políticos ajam de acordo com a lógica de seus interesses. Cada vez mais as 
pessoas se sentem reféns de um pequeno número de representantes eleitos que 
impõem a vontade de todos, mas que por motivos diversos não trabalham como se 
espera e respeitam apenas pequenos grupos que partilham a sua vontade. 
 
 
7.1 Estado 
 
O exercício do Poder é realizado por meio do Estado. A partir da idade 
moderna, entre os séculos XVI e século XVIII, as classes políticas foram buscando 
mecanismos para que o fundamento máximo do poder fosse aperfeiçoado. Desta 
maneira, as monarquias nacionais passam por constantes transformações como a 
unificação de territórios e o distanciamento com a igreja (LUCAS, 2021). 
 
 
O resultado deste processo foi a centralização do poder e o fortalecimento do 
Estado, uma instituição que passou a coordenar as ações econômicas, políticas e 
sociais. Ficou a cargo da formulação de políticas públicas e, principalmente, do uso 
da força. 
O Estado incluiu elementos legais, como o Direito Público e o Direito Privado 
por meio de uma constituição, contendo ordenamento jurídico e regulamentação da 
vida social. (LUCAS, 2021). Nesta medida, a institucionalização das relações em 
sociedade permitiriam que os homens, das mais diferentes origens, pudessem viver 
em coletividade. 
O Direito Privado pensado por Kant regularia a vida civil, a lei garantiria as 
liberdades individuais. Já o Direito Público arcaria com a organização do Estado. A 
partir de então, coube apenas a ele fazer e aplicar leis a partir das instituições que o 
compõem. O uso da força ou os aspectos jurídicos, por exemplo, seriam prerrogativas 
do aparato do Direito Público (LIMA; SILVA, 2012). 
Para aprofundarmos a conceituação sobre o Estado vejamos a conceituação 
trazida por Dias: 
“Do ponto de vista real, tangível, o Estado se concretiza nas suas ações, na 
ocupação de espaços que contêm os seus diversos órgãos, na sua presença 
constante e normatizadora da vida diária dos indivíduos; do ponto de vista 
intangível é uma abstração, pois não tem existência articulada fora da mente 
dos indivíduos que ligam os diversos elementos que o constituem, interagindo 
com essa entidade que tem existência conceitual.” (DIAS, 2013, p. 51) 
 
Entende-se, a partir da interpretação do autor, que no Estado vivenciamos na 
prática ações tangíveis e intangíveis propaladas por cada organização proposta pelo 
poder instituído. A sociedade é o resultado do conjunto de leis, processos, normas e 
demais políticas que estabelecem padrões para a coletividade. Fora destes 
normativos o próprio Estado tem as saídas para as penalidades serem feitas. 
Para que exista o Estado, é necessária uma estrutura burocrática que o faça 
funcionar. Soma-se aqui a teoria da burocracia elaborada por Max Weber, segundo a 
qual, para existir o Estado, um aparato administrativo é requerido para que os serviços 
sejam realizados e o monopólio legítimo da força exista. Imprime-se, então, uma outra 
característica do Estado, que é a racionalidade das ações (LIMA; SILVA, 2012). 
O Estado, para ser eficiente, precisa ser racional e direcionar seus esforços 
para aquilo que seja útil e eficaz. Com este entendimento, ele responderia a uma 
estruturação burocrática necessária para o funcionamento das instituições sem o 
 
 
poder de regular, intencionalmente, a vida do indivíduo. 
Este modelo é a base para muitos países diferentes. O Brasil, por exemplo, 
vem tentando se aperfeiçoar desde o século XIX, culminando com a proclamação da 
República em 1889. Desde então, o Estado brasileiro organizou a máquina estatal e 
a burocracia tanto no nível nacional quanto no local para garantir a sustentabilidade 
do progresso e desenvolvimento social e econômico (REINERT, 2020). 
Podemos observar alguns erros no decorrer da história, como a tomada do 
poder pelos militares entre 1964 e 1985, mas a retomada democrática concedeu ao 
Estado nacional uma nova cara com o movimento pela redemocratização e a 
Constituição Federal de 1988. De lá para cá, o que se viu foram vários movimentos 
para mais dinamismo do Estado e fortalecimento da democracia, conceito que será 
trabalhado na sequência (LIMA; SILVA, 2012). 
 
7.2 Partidos Políticos 
 
Na organização do Estado e dos processos democráticos, os partidos políticos 
cumpriram um papel decisório para a ampliação da participação de diferentes setores 
da sociedade. São eles os canais de representação das frações de interesses 
ideológicos, econômicos, sociais e culturais presentes numa sociedade. Segundo 
Dias (2020), esta organização em muito contribuiu para o voto universal ser 
conquistado. 
A origem dos partidos políticos modernos remonta ao século XIX, momento no 
qual a Inglaterra, a França e os Estados Unidos passavam pelos desdobramentos de 
seus processos revolucionários burgueses. Na Inglaterra, por exemplo. Em 1832, o 
Reform Act permitiu o sufrágio limitado a industriais, comerciantes e aristocratas. Ao 
longo daquele século, novas reformas foram feitas e outros setores sociais foram 
sendo contemplados (BITTAR, 2016). 
O objetivo do partido é que o direito de participar da administração do poder 
possa ser utilizado sob diversos ângulos de interpretação. Além disto, o sistema 
representativo, como ocorre na maioria dos países mundo afora, pressupõe a 
representação partidária (LUCAS, 2021). Quanto mais representativo for o governo, 
mais progressivo é a democratização e os processos que dela decorrem. 
O sistema político brasileiro, por exemplo, conta com partidos de massa, que 
 
 
representam as classes trabalhadoras da sociedade, e partidos de mais elitizados, 
representantes das camadas economicamente dominantes. Ambos os grupos são 
responsáveis por compor os processos dos pleitos eleitorais e por compor as casas 
legislativas e órgãos do Estado. 
No Brasil, historicamente, os partidos ganham um primeiro desenho durante a 
Regência e o Império. Havia uma dualidade na qual o Partido Liberal e o Partido 
Conservador disputavam o poder. Posteriormente o Partido Republicano vai 
ganhando espaço até culminar com a proclamação da República em 1889 e inaugurar 
uma nova fase para a vida política brasileira. 
Já nos séculos XX e XXI, outros partidos surgem tornando-se expressão das 
sociedades de cada época (DIAS, 2013). Hoje há uma grande gama de partidos que 
estão representados no cenário político, demonstrando justamente as diferentes 
vertentes de posicionamento presentes na sociedade brasileira. 
 
7.3 Ideologia 
 
Ao falarmos sobre Teoria e Ciência Política, um conceito que não pode ser 
deixado de lado é o de Ideologia. Neste contexto, estão embutidos muitos sentidos e 
ações para a vida em sociedade e para as práticas políticas em determinados 
terrenos, como os partidos políticos. Cada um tem em si uma delimitação de visões 
de mundo e perspectivas para o futuro, ou seja, ideologia em sentido amplo é um 
conjunto de ideias. (ARANHA, 2015). 
Pensar no que é ideologia é pensar na subjetividade, isto porque a palavra 
remonta a elementos subjetivos. A ideologia partidária é um conjunto de elementos 
subjetivos, existem partidos de orientação liberal, marxista e outros com conjunto de 
ideias de centro-esquerda ou centro-direita (REINERT, 2020). Em todos eles, 
subjetivamente, perpassa o posicionamento interpretativo frente aos acontecimentos 
da vida cotidiana. 
Para Marx e Engels, falar em ideologia pressupõe esconder a realidade das 
coisas. Há por trás um exercício de camuflar os conflitos sociais e criar um 
pensamento ilusório sobre o funcionamento das relações de poder, seja este poder 
econômicoou poder político. De acordo com Ferreira, Marx e Engels: 
 
“Sustentam que o sistema de ideias de uma classe dominante configura o 
 
 
conjunto das ideias dominantes em cada época histórica (...) Essa falsa 
imagem levaria o homem e a sociedade a urna 'falsa consciência’ acerca de 
si mesmo e das relações concretamente estabelecida”. (FERREIRA, 2010, p 
58-59). 
 
O trabalhador entenderia o mundo a partir da consciência criada pela 
burguesia, não se entenderia como explorado e gerador da mais valia para o seu 
patrão. A burguesia age conscientemente usando de normas, ideias e modelos 
padronizados, ou seja, usa todos os seus recursos para criar uma cultura que seja 
para todos apenas de não pertencer ao desejo da maioria. 
Desta forma, ideias como liberdade, nação, direitos e deveres construiriam um 
sentimento de identidade. Portanto, a ideologia está em tudo a nossa volta. Há 
ideologia na escola, no trabalho, nas propagandas, nos jornais, enfim todas as ações 
da sociedade (DIAS, 2013). 
A importância em falar sobre a ideologia é grande pois ela auxilia na 
manutenção do poder vigente. Os valores e desejos construídos para a sociedade na 
qual esteja inserida leva à reprodução do modelo existente. Para Dias (2013) estaria 
nesta manutenção das coisas o verdadeiro objetivo da ideologia. 
Sair da falsa consciência e caminhar para o conhecimento de si e do outro num 
novo modelo de sociedade. Para exemplificar, podemos pensar sobre a questão racial 
(FERNANDES, 2016). Por muito tempo se construiu no Brasil que não havia 
preconceito racial, vivia-se uma democracia racial. No entanto, a prática cotidiana 
demostra outra coisa. O preconceito está nas falas racistas, está na novela onde a 
empregada sempre é negra ou mesmo nas salas de aula de escolas particulares de 
maioria branca (DIAS, 2013). 
A ideologia dominante escondeu estas diferenças e o resultado foi uma 
sociedade preconceituosa que esconde a raiz do problema. É, portanto, uma luta 
cultural e política o desvelar de algumas ideologias e a construção de novos modelos 
e parâmetros que venham a tornar claro o que é realmente a sociedade de cada época 
(DIAS, 2013). 
 
7.4 Movimentos Sociais 
 
Os movimentos sociais são expressões políticas organizadas advindas das 
ações coletivas que objetivam gerar mudanças na sociedade. Desde o século XIX, 
 
 
com o aumento da produção industrial na Inglaterra e na França, o agravamento das 
questões sociais já era uma realidade (FERNANDES, 2016). A força de trabalho era 
usada a exaustão e é comum entre os historiadores ingleses o registro de jornadas 
de trabalho que iam de 14 a 16 horas. Homens, mulheres, idosos e até mesmo 
crianças eram forçados a esse longo tempo de trabalho por uma baixa remuneração 
salarial. 
Mas é por meio da organização da sociedade que a possibilidade de mudança 
destes quadros de exploração ou de desigualdade social podem ser rompidos. No 
Brasil, as lutas no campo são um bom exemplo. Mesmo sendo um dos países com 
maior extensão agrícola, a concentração de terras em poucas mãos causa a 
desigualdade social no campo. A partir de demandas como esta, surgem os 
movimentos sociais. 
A história do Brasil foi escrita em muitos momentos pela história dos 
movimentos sociais. O século XIX foi um expoente desta organização política e social. 
Foram movimentos à esquerda e à direita, ações para manutenção ou ruptura do 
poder estabelecido pela colônia ou pelo imperador. (GOHN, 2014). 
O século XX e XXI trouxe a emergência de novas formas associativas por meio 
das redes sociais o que também interferiu na maneira como os movimentos se 
articulam: 
 
As manifestações e os atos são o chamariz que poderá transformar-se em 
motivação prioritária na vida dos sujeitos mobilizados. E o movimento ganha 
novos ativistas. As pedagogias alternativas utilizadas também se recriam, se 
reinventam, porque a conjuntura sociopolítica, econômica, cultural, 
tecnológica é outra (GOHN, 2014, p. 21). 
 
Ainda de acordo com a autora, o século XXI trouxe a necessidade de uma outra 
forma de associar e se organizar em prol de políticas comuns. Assim, o uso da 
tecnologia serviu como um espaço para se fazer a política em rede e garantir a 
expressão da liberdade em campos distintos da sociedade (GOHN, 2014). A simples 
existência de direitos na constituição federal não assegura a efetivação dos mesmos. 
Portanto, a cidadania só se faz na prática diária. 
 
 
 
 
 
 
8 SISTEMAS DE GOVERNO E SISTEMAS ELEITORAIS 
8.1 Formato contemporâneo de governo 
Ao remontar o período histórico, vê-se que, desde a Idade Contemporânea, 
a partir do século XVIII, as formas de governo, mesmo seguindo uma prescrição 
binária, foram reduzidas a dois aspectos básicos – monarquia e república – embora 
apresentando constantes transformações e controvérsias até os dias atuais. 
Esta inevitável mudança conceitual vem, principalmente, da necessidade 
generalizada de criar um critério mais preciso para a constância temporal (e mudança) 
do próprio “poder”, ao mesmo tempo em que se tornou urgente quantificar o nível de 
concentração de poder. 
Mediante as transformações ocorridas, se observa que a expressão “forma de 
governo” passa a representar o conceito plural – autêntico – compreendendo dois 
tipos distintos: sistema administrativo (avaliando, antes de tudo, a questão do acesso 
ao poder) e o regime de governo (avaliando, principalmente, o grau concentração de 
poder). No entanto, cabe destacar que alguns pensadores contemporâneos 
reconhecem outros critérios incomuns, na tentativa de encontrar uma explicação 
adequada acerca do exercício do poder, por meio do governo. 
De todo modo, é razoável concluir que, apesar de todos os aspectos 
formulados, um significado básico mais complexo, contendo, ao mesmo tempo, dois 
critérios de classificação (sistema e o regime governamental), foi entendido nas 
formas de governo como um desenvolvimento natural em ambos conceitos, no 
clássicos (no sentido do passado) e no conceito moderno (mais recentemente), de 
onde praticamente vem o chamado “conceito moderno de formas de governo”, onde 
o termo democracia foi entendido como regime político autêntico devido à sua própria 
complexidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Formas de governo, sistema de governo e regimes de governo – 
Princípios básicos 
 
Fonte: Adaptado de Friede (2017). 
8.2 Sistemas de Governo 
Os sistemas de governo, apesar de todo o desenvolvimento conceitual, podem 
ser divididos, de forma mais detida, em república e monarquia constitucional, 
conforme destacado na figura 1. 
Dado esta exposição, o principal critério para distingui-las assenta-se nas 
questões básicas quanto o acesso ao poder e manutenção do governante (ou 
soberano) à frente do governo. Em relação à monarquia constitucional, o acesso ao 
poder costuma fazer-se por laços de sangue (herança), enquanto a permanência do 
soberano é confirmada por toda a vida. 
No sentido etimológico, a palavra República vem do latim res, que 
corresponde a “coisa”, e publica, refere-se a “tudo”, o alcance ao poder ocorre por 
meio do sufrágio universal, através de eleições livres, onde o indivíduo expressa seu 
desejo pelo voto. 
Quanto ao sufrágio, inicialmente era o censitário, onde apresentava graus de 
ponderação em relação ao peso dos votos e restrições eleitorais. Nos anos 
posteriores, o sufrágio passou a ser universal, que atribui o direito e o mesmo peso 
 
 
relativo de voto a todos os cidadãos, independentemente do nível educacional, classe 
social e condições econômicas e outros fatores relacionados. A permanência do 
governante depende do mandato, que tem duração limitada. 
8.3 Regimes de Governo 
Como destacado anteriormente, os regimes de governo, em última instância, 
mostram finalmente a concentração do poder nas mãos do governante e, sobretudo, 
o grau de coerência e/ou independência das funções clássicas do poder estatalassociado ou não ao uso abusivo dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Se 
constata, diante dos estudos sobre o tema, três diferentes entendimentos acerca dos 
tipos de governo (embora alguns especialistas interpretem o terceiro tipo como uma 
subespécie de parlamentarismo), a saber: 
 
- Presidencialismo 
- Parlamentarismo 
- Colegiado 
 
Ao buscarmos entender o regime presidencialismo, vemos que uma de suas 
características mais marcantes é a independência de poder, não apenas no sentido 
de separação, mas na separação sem subordinação de um ao outro. Neste caso, o 
poder executivo é o presidente eleito pelo povo, que o exerce de forma independente 
com a ajuda de ministros ou secretários de Estado. 
O presidente é, portanto, o chefe de Estado e chefe do executivo, que formula 
a política geral e dirige a administração pública. Destaca-se o fato de que o 
presidencialismo foi idealizado pelos norte-americanos no Congresso da Filadélfia e 
passou a fazer parte da Constituição dos Estados Unidos em 1787. No entanto, só 
entrou em vigor no Brasil em 1889. 
O parlamentarismo é um sistema de governo representativo que, ao contrário 
do presidencialismo, começou com um longo e polêmico processo de 
desenvolvimento político monárquico, resultante de uma disputa de poder entre 
conselheiros (o Grande Conselho) e o monarca reinante da Grã-Bretanha, levando a 
revoluções e conflitos. 
 
 
A função dos conselheiros régios, constituídos por representantes do clero e 
da nobreza, era auxiliar e orientar o rei na administração do reino, característica do 
século XIII. No entanto, durante o reinado de Henrique III, o rei desacreditou a Grande 
Assembleia, mais tarde chamada de Parlamento, devido à necessidade de apoio 
financeiro, respeito à Grande Carta de 1215 e pressão dos membros. Durante o 
Grande Conselho, Henrique III teve que ceder e dar ao Grande Conselho o status de 
parlamento. 
O parlamentarismo surgiu a partir da famosa Revolução Inglesa, A Gloriosa, 
que nada mais foi do que a derrubada do rei Jaime II por sua filha Maria e seu genro 
holandês Guilherme de Orange. Além da Declaração de Direitos, a revolução acabou 
com o absolutismo monárquico, pois a partir de então o rei não governaria sem o apoio 
do parlamento, criando um gabinete parlamentar de ministros (gabinete) chefiado por 
um primeiro-ministro. 
Ao contrário do presidencialismo, no nascimento do sistema parlamentar inglês, 
o rei era o chefe de estado e o primeiro-ministro era o chefe de governo. 
Segundo registros históricos, Sir Robert Walpole foi nomeado primeiro-ministro 
da Inglaterra em 1721, responsável por liderar e implementar as decisões do 
parlamento e informar o governante. 
Para Sartori (1993, p. 192): 
Do ponto de vista legislativo, tem o direito e o dever de legislar sobre uma 
série de procedimentos privados, administrativos e puramente 
regulamentares. E do ponto de vista do poder executivo, isso significa que o 
governo se sente obrigado a controlar - por meio da regulamentação, diga-se 
de passagem, através de decisões políticas (não necessariamente todas) do 
poder executivo, segundo a forma de normas legais. 
Por exemplo, o parlamento inglês é bicameral (ou seja, consiste em duas 
câmaras): a Câmara dos Comuns, ou câmara alta, cujos membros são eleitos por 
votação, e os Lordes, ou câmara baixa, cujos membros são nomeados pelo rei. Deve-
se notar que alguns países que adotam um sistema parlamentar usam um sistema 
unicameral (única câmara), como a Grécia. 
No parlamentarismo, a dissolução do parlamento requer uma eleição, o que é 
diferente de um sistema semipresidencial. Esta possibilidade no sistema 
parlamentarista decorre do fato de o primeiro-ministro não ter um cargo a termo, 
 
 
porque a sua aceitação e o funcionamento do governo dependem da confiança no 
parlamento. 
Dessa forma, julga-se que o povo é valorizado por estar constantemente 
envolvido nas atividades do governo. Do ponto de vista orgânico-funcional, no 
parlamentarismo também são contemplados os três poderes clássicos (executivo, 
legislativo e judiciário), porém destaca o poder limitador – moderador – representado 
pelo rei, no caso de um estado monárquico. 
Vale destacar que, em ambos regimes, parlamentarismo e presidencialismo, 
seus representantes, o rei e o presidente da república, permanecem fora dos partidos 
políticos e, no caso do presidente da república – posto que é transitório – tem um 
gabinete ou conselho de ministros, que basicamente dirige a política geral do país. 
No caso específico do Brasil, o parlamentarismo foi adotado ao longo do 
segundo reinado e abolido em 1889, quando foi declarada a república, pela qual foi 
implementado um sistema presidencialista. No ano de 1961, o parlamentarismo voltou 
a ser usado após a renúncia de Jânio Quadros, sendo novamente encerrado em 1963. 
Desde então, o presidencialismo consolida-se como o regime de governo no Brasil. 
Quanto ao regime de colegiado, caracteriza-se pelo fato de o poder executivo 
ser exercido por mais do que uma pessoa, que são eleitas pelo parlamento. Cabe 
destacar que, diante de tal regime, um destes eleitos, em formato de rodízio 
anualmente, é nomeado presidente do colegiado. A título de exemplo, podemos citar 
a Suíça e Uruguai, este último já o empregou no passado. 
Em linha com o exposto acima, é relevante indicar que, além desses regimes 
de governo apresentados, existem os regimes político-ideológicos (ou formas amplas 
de associação política) por meio dos quais podemos estudar a natureza política do 
Estado, que incluem basicamente a ditadura ou totalitarismo, onde o povo submete-
se a uma imposição governamental, ao autoritarismo e à democracia (entendida hoje 
como um regime político inconteste), podendo ser direta quanto indireta. 
 
“Formas de governo (sistemas de governo) são a república (respublica), 
que se caracteriza pelo fundamento de a atuação estatal pertencer a todos, 
pelo que o exercício dos cargos públicos é feito em caráter temporário e 
de forma responsável, enquanto na monarquia se considera que o poder 
decorre do soberano, sendo o mesmo irresponsável e vitalício em suas 
funções. 
São regimes de governo (no sentido estrito) o presidencialismo, que se 
caracteriza pela nítida divisão de atribuições entre os poderes da república, 
os quais são autônomos, e o parlamentarismo, em que há a supremacia do 
 
 
ramo Legislativo, do qual decorre o Executivo e até mesmo o Judiciário, o 
que depende da forma adotada (...). 
São formas de associação política: a democracia, a aristocracia, que se 
caracterizam pela predominância do interesse geral (comum) ou parcial 
(aristocracia), admitindo tais formas, desde a célebre classificação de 
ARISTÓTELES, formas corruptas como a demagogia, a oligarquia, etc.” 
(SLAIBI FILHO, 1989, p. 123-124). 
 
Considerando a Carta Magna do Brasil, que entrou em vigor em 1988, enaltece 
e delineia o papel do Legislativo em suas fileiras, que se fortalece com a atuação 
consistente do Congresso e fortalece o governo presidencialista no país, mas com 
certeza, as características de um governo parlamentarista, pelo que pode ser 
considerado um governo presidencialista abrandado no Brasil. Além disso, o fato de 
chefes de estado e de governo focarem na figura do presidente da república é prova 
da disseminação do presidencialismo. 
 
Figura 2 – Sistemas de governo e regimes de governo – Princípio funcional 
 
Fonte: Adaptado de Friede (2017). 
8.4 Sistemas eleitorais 
No estudo que envolve o sistema eleitoral, podemos entendê-lo como a 
referência às diferentes formas pelas quais os candidatos são considerados no 
processo eleitoral. No sistema majoritário, os candidatos são considerados 
individualmente independente da filiação partidária, enquanto no sistema dito 
proporcional (que basicamente se apresenta de várias formas), cada candidato é 
considerado dentro de um determinado tipode coeficiente partidário. 
 
 
 
“Dentre muitos e complexos sistemas eleitorais merecem destaque os dois principais, que 
lograram acolhimento na maioria das legislações: o majoritário e o proporcional. Pelo 
sistema majoritário os candidatos são individuais, independentemente de partidos, e são 
considerados eleitos os mais votados, ou, dependendo da organização partidária, todas as 
vagas das Assembleias legislativas são preenchidas pelo partido que vencer as eleições em 
cada circunscrição eleitoral, ficando os partidos minoritários sem representação, ainda 
quando derrotados por diferença mínima. 
No início do regime representativo as eleições para deputados faziam-se pelo sistema 
majoritário, de candidaturas individuais. As vagas das Assembleias eram preenchidas pelos 
candidatos que, individualmente, obtivessem maioria dos votos. Alguns países, como a 
Inglaterra e a França, conservaram esse sistema, sob aplausos de autores de renome, como 
BAGEHOT E ESMEIN, mas o sistema proporcional, com suas diversas variantes, domina o 
cenário democrático do mundo moderno. No conceito de LÉON DUGUIT, o sistema 
proporcional é aquele que 'assegura, em cada circunscrição eleitoral, aos diferentes 
partidos, contando um certo número de membros, um número de representantes, variando 
segundo a importância numérica de cada um. Refere-se às eleições para as Câmaras de 
Deputados. 
Na definição de HAROLD GOSNELL, é o sistema que visa assegurar um corpo legislativo 
que reflita, como uma exatidão mais ou menos matemática, a força dos partidos no 
eleitorado. E, para LASTARRIA, este sistema 'consiste em ser o único meio de representar 
todos os interesses, todas as opiniões, em proporção do número de votos com que contam. 
O sistema proporcional apresenta-se sob várias modalidades técnicas, destacando-se: a) o 
sistema de voto limitado, formulado por DOBRANIKI, adotado na Inglaterra (1867-1885), na 
Itália (1882-1891) e em diversos outros países, inclusive no Brasil (1875-1889); b) o sistema 
de voto cumulativo, formulado por BARTHÉLEMY-DUEZ e ESMEIN; c) o sistema 
preferencial, de HARE e ANDRAE; d) o sistema de concorrência de listas, divulgado por 
HAGENBACH, ESMEIN e outros; e) o sistema automático, de KAISENBERG; f) o sistema 
de quociente eleitoral, exposto por DUGUIT; e muitos outros” (SAHID MALUF, 1988, p. 219-
220). 
8.5 Sistemas partidários 
Sob o prisma da extensão, que envolve a organização dos partidos políticos 
(ou, como alguns acreditam, referindo-se às diversas características da relação entre 
o Estado e a representação política no nível lato sensu), destes derivam os sistemas 
partidários, impondo um conceito altamente interativo nas relações entre os titulares 
e mandatários do poder político. 
 
 
 
Figura 3 – Partidos políticos, movimentos políticos e representação política 
 
Fonte: Adaptado de Friede (2017). 
 
Admitindo a existência de disputas, estudiosos do tema concordam haver três 
sistemas partidários diferentes na sociedade contemporânea: o sistema de partido 
único (unipartidarismo), o sistema de dois partidos (bipartidarismo) e o pluripartidário, 
correspondendo a sistema partidário com diversos partidos políticos. 
No unipartidarismo, a representação política se limita a um único meio de 
comunicação exterior, o que obriga a discussão política necessária dentro do partido. 
Embora, segundo Dallari (1994), esse sistema não tenha, necessariamente, uma 
natureza antidemocrática, ao menos em teoria. Na prática, o que ocorre é que um 
partido se apega a princípios rígidos e imutáveis que acabam por lhe roubar seu 
caráter democrático. 
Quanto ao bipartidarismo, a representação política se confirma em debates 
contínuos entre duas posições centrais que, independentemente da forma, suscitará 
o surgimento de um terceiro partido a qualquer momento. A exemplo, o caso dos 
Estados Unidos, onde havendo uma cisão nas posições políticas entre Republicanos 
e Democratas – em dado momento – eventualmente cria-se no país um partido 
independente no aprofundamento dos debates. 
Já em relação ao sistema pluripartidário, neste sistema, é permitido um amplo 
debate político entre diferentes atores e partidos políticos e, segundo alguns, 
corresponde a caracterização definitiva da governabilidade democrática, ou seja, a 
representação política é tida como plural. 
 
 
 
Figura 4 – Partidos políticos e sistemas partidários 
 
Fonte: Adaptado de Friede (2017). 
 
 
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