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SOCIOLOGIA RURAL 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 
1 INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA RURAL ............................................................... 5 
1.1 Conceitos e Objetivos da Sociologia Rural ....................................................... 7 
1.2 O que estudam os Sociólogos Rurais? ........................................................... 11 
1.3 As Ideias Fundadoras ..................................................................................... 13 
1.4 A escola norte-americana ............................................................................... 14 
1.5 A escola europeia ........................................................................................... 15 
2 O CAMPONÊS E O CAMPESINATO ................................................................... 16 
2.1 O conceito de camponês na sociologia marxista clássica .............................. 19 
2.2 O camponês em outros lugares do mundo ..................................................... 20 
2.3 Ressignificações do conceito de camponês ................................................... 21 
3 DEFINIÇÃO DE QUESTÃO FUNDIÁRIA ............................................................. 22 
3.1 História fundiária: brasil colônia e brasil império ............................................. 24 
4 REFORMA AGRÁRIA .......................................................................................... 30 
4.1 As transformações do espaço agrário e a luta pela reforma agrária .............. 31 
4.2 Que terra seria objeto de reforma agrária? ..................................................... 32 
4.3 Os movimentos sociais no campo .................................................................. 34 
4.4 O modelo “legal” de Reforma Agrária no Brasil .............................................. 36 
5 AGRICULTURA FAMILIAR .................................................................................. 39 
5.1 Duas definições de agricultura familiar: a brasileira e a estadunidense ......... 40 
5.2 PRONAF – Programa Nacional De Fortalecimento Da Agricultura Familiar ... 42 
5.3 Desafios à agricultura familiar no brasil .......................................................... 44 
5.4 Agriculturas Sustentáveis ............................................................................... 45 
6 RURALIDADE CONTEMPORÂNEA .................................................................... 48 
6.1 A ruralidade contemporânea no Brasil ............................................................ 54 
 
3 
 
7 A QUESTÃO AMBIENTAL ................................................................................... 55 
7.1 Recursos Finitos e Consumo Infinito .............................................................. 56 
7.2 Brasil: entre avanços nos anos 1990 e retrocessos nos anos 2010 ............... 56 
7.3 Agricultura e meio-ambiente ........................................................................... 57 
7.4 Desenvolvimento Rural Sustentável ............................................................... 61 
7.5 Possibilidades para o desenvolvimento sustentável no campo ...................... 62 
8 AGRICULTURA FAMILIAR E CAMPONESA E A PLURIATIVIDADE ................ 64 
8.1 Definindo a pluriatividade ................................................................................ 67 
8.2 Pluriatividade tradicional ou camponesa......................................................... 69 
8.3 Turismo rural e novas ruralidades .................................................................. 70 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 72 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA RURAL 
O que exatamente é a “sociologia rural” e do que ela se compõe? A sociologia 
rural pode ser definida como uma abordagem crítica e científica que se dedica a 
compreender as complexas relações entre os diversos grupos sociais que formam o 
mundo rural. Para atingir esse objetivo, ela se apoia na análise das dinâmicas sociais, 
políticas, culturais e econômicas que ocorrem nesses ambientes. Nesse processo, 
concede uma atenção especial aos indivíduos e aos contextos sociais que constituem 
o que chamamos de “mundo rural”. 
A sociologia rural é a disciplina que se dedica ao estudo das interações entre 
os habitantes das áreas rurais, bem como das suas formas de organização social. Ela 
busca compreender as implicações dessas estruturas sociais e suas distinções em 
relação a outros tipos de organização social. A preocupação com os assuntos rurais 
ganhou destaque a partir do século XVIII, à medida que as mudanças decorrentes da 
industrialização começaram a afetar as zonas rurais e a agricultura. Nesse contexto, 
dois aspectos fundamentais surgiram: o êxodo rural, que envolve a migração das 
áreas rurais para as urbanas, e a urbanização do campo. A sociologia rural surgiu com 
o propósito prático de fornecer conhecimento útil para a implementação de reformas 
sociais que pudessem melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas áreas 
rurais (AQUINO, 2018). 
Sua concepção inicial se baseia no pensamento de Carmo (2009), que 
estabelece uma distinção entre dois mundos: o urbano e o rural. Essa abordagem 
dualista, que exerceu uma influência significativa sobre todas as pesquisas em 
sociologia rural realizadas do final do século XIX até as primeiras décadas do século 
XX, ainda repercute nos estudos sociológicos contemporâneos. 
Essa distinção se baseia nas noções de comunidade e sociedade: na 
comunidade, as relações são caracterizadas pela afetividade, profundidade, coesão 
 
6 
 
emocional e conservadorismo, com uma ênfase no bem-estar da coletividade. A 
comunidade geralmente está associada a áreas rurais e é vista como periférica. Em 
contraste, a sociedade é marcada por interações individuais e conflituosas, ideias 
contratualistas, ênfase no racionalismo e um papel central na modernização. Portanto, 
a sociedade é frequentemente associada a áreas urbanas e é considerada a região 
central (AQUINO, 2018). 
Muito se tem discutido sobre as supostas distinções entre os conceitos de 
“sociologia rural” e “sociologia urbana”, caracterizando uma como oposta à outra, 
principalmente em relação aos seus objetos ou áreas de estudo. Este é o primeiro de 
muitos equívocos que precisamos abandonar, tanto para aqueles que desejam se 
dedicar aos estudos de sociologia rural quanto para os estudos de sociologia urbana. 
Existem, é claro, diferenças teóricas e metodológicas entre essas perspectivas, mas 
essas diferenças não se anulam mutuamente; pelo contrário, complementam-se. 
Falar das relações sociais, simbólicas e econômicasno mundo rural se torna 
uma tarefa difícil, senão impossível, sem considerar as interações que ocorrem no 
mundo, ou nos mundos, urbanos. E o oposto também é verdadeiro, como veremos ao 
longo destas aulas, uma vez que o desenvolvimento da história brasileira, seja em seu 
aspecto político, cultural ou econômico, está profundamente ligado à formação de uma 
estrutura agrária. Os conceitos de “propriedade” e “posse” da terra, bem como a 
exploração da terra, desempenham um papel central na compreensão da sociedade 
brasileira. 
Especialmente na sociedade brasileira, onde a sociologia rural se preocupa 
não apenas com o estudo de conflitos agrários ou ambientais, como as lutas pela 
reforma agrária ou pelo uso dos recursos naturais, mas também com aspectos 
conceituais. Isso ocorre porque não há consenso sobre o que é melhor ou pior para a 
sociedade ou para os grupos sociais. Termos como “agricultura familiar”, “reforma 
agrária” e “desenvolvimento sustentável” só fazem sentido quando colocados em 
oposição ao “agronegócio” e a “modernização e mecanização agrícola”. 
Portanto, é fundamental que, como ponto de partida, nos aprofundemos na 
análise histórica de nossa formação social. Isso nos permitirá compreender os 
conceitos dentro de seus respectivos contextos e nos capacitará a lançar um olhar 
crítico e científico sobre o que chamamos de “mundo rural”. Esse processo nos 
 
7 
 
permitirá realizar uma sociologia rural significativa e contextualizada (OLIVEIRA; 
MOREIRA, 2012). 
 
 
 
1.1 Conceitos e Objetivos da Sociologia Rural 
A sociologia rural, por ser uma disciplina que se concentra na observação dos 
fenômenos sociais que ocorrem dentro ou nas proximidades do que geralmente é 
denominado “mundo rural”, desenvolve métodos específicos de análise e elabora seus 
próprios conceitos para estudar esses fenômenos. 
De acordo com Smith, T. Lynn (1963, p. 9-13): 
[...] A sociologia rural é uma ciência ou um campo científico ligado à sociologia 
geral. Isto porque pretendem aplicar ao estudo de seus problemas os 
mesmos métodos, comuns a todas as ciências. E, mais ainda, aquelas 
técnicas de pesquisa específica da sociologia que visam ao estudo 
sistematizado das relações entre os homens, pelo fato de viverem em 
coletividades ou grupos, e as mudanças que daí decorre no seu 
comportamento. A sociologia rural é, portanto, um campo de estudo da 
sociologia geral, por isso também chamada sociologia da vida rural. Na 
definição de um de seus mais autorizados mestres é o gênero sistematizado 
de conhecimentos que resultam da aplicação do método científico ao estudo 
da sociedade rural, de sua organização e estrutura e de seus processos. 
Graziano da Silva (1999) explica que a sociologia rural não é uma 
especialização criada simplesmente porque as pessoas vivem em áreas com 
características ecológicas ou geográficas distintas das cidades. Não se trata de 
considerar a vida no campo ou a prática agrícola como fatores que, por si só, 
autorizam a existência de um ramo importante da ciência social. Não há evidência de 
que essas características se transmitam hereditariamente. No entanto, o estudo da 
sociologia rural se justifica devido às situações especiais que surgem da atividade 
agrícola e que constituem seu objeto de estudo. Isso inclui aspectos como o tipo de 
assentamento populacional, a natureza dos direitos de propriedade e os sistemas de 
demarcação de terras, os sistemas agrícolas e uma série de características sociais e 
culturais associadas à posse de terras e ao trabalho agrícola, que são frequentemente 
descritas como “agrários”. 
 
8 
 
Este conteúdo da sociologia rural certamente pode variar dependendo do 
período histórico e do contexto analisado. Ele se baseia principalmente nas diferenças 
entre a vida urbana e rural, embora essas diferenças não sejam sempre claramente 
definidas e, nas sociedades modernas, tendam a se tornar menos distintas. 
Conforme Graziano da Silva (1999), os autores costumam dividir o conteúdo 
da sociologia rural em três grandes campos: 
1) A população rural, compreendendo seu contingente populacional, distribuição 
geográfica, crescimento demográfico, características físicas e psicológicas, 
condições de saúde e educação, bem como os aspectos dinâmicos, como 
taxas de natalidade, morbidade e mortalidade, além das migrações no espaço. 
2) A organização rural, englobando: 
• A ecologia rural, englobando os padrões de povoamento, os tipos de 
aglomeração e comunidade no ambiente rural. 
• As relações institucionais entre o homem e a terra, que podem constituir 
um subcampo da sociologia rural conhecido como sociologia agrária. Isso 
inclui as normas, os aspectos da fixação da população à terra, divisões e 
títulos de propriedade, características da posse e ocupação, tamanho das 
glebas e sistemas agrícolas. 
• A morfologia social, abrangendo o estudo da diferenciação da estratificação 
social, das classes e camadas que compõem a população rural. 
• As principais instituições sociais, como a família, a escola, as afiliações 
religiosas e as instituições de administração e governo, todas analisadas 
sob a ótica das características específicas resultantes de sua implantação 
no meio rural. 
3) Finalmente, a sociologia rural abrange toda a dinâmica social, ou seja, todos 
os processos sociais que envolvem competição, conflito, cooperação, 
acomodação, assimilação e mobilidade social. Nesse contexto, inclui-se o 
estudo da mudança social e dos fatores que influenciam a personalidade 
humana, além de abordar a problemática social, como crime, prostituição, 
alcoolismo, que frequentemente acompanham esses processos. 
Um ponto de partida essencial, que desempenha um papel fundamental na 
tradição sociológica, mas que ganha destaque especial aqui, é a análise histórica e 
contextual. Este complexo de elementos confere personalidade aos conceitos e 
 
9 
 
fornece ao sociólogo dedicado ao estudo do mundo rural as lentes específicas que ele 
utilizará em suas observações. Não se trata apenas de análise histórica nem de 
considerar apenas os contextos isoladamente, mas sim da “análise histórica e de 
contexto”, na qual um elemento complementa e qualifica o outro. Esse enfoque é 
capaz de dar vida aos conceitos básicos da interpretação sociológica. 
Portanto, daremos ênfase à “análise histórica e de contexto” como ponto de 
partida essencial, particularmente no contexto dos processos sociais que se 
desenrolaram no Brasil. Integraremos tanto a história do país quanto a reflexão a partir 
de contextos específicos que ocorreram dentro dele. Além disso, compreenderemos 
esses processos por meio de um diálogo contínuo ao longo do tempo, o que nos 
permitirá estabelecer as bases de alguns conceitos fundamentais da sociologia rural 
que estamos prestes a explorar. Dentre esses conceitos, destacam-se: 1) a questão 
agrária; 2) o campesinato; 3) o desenvolvimento rural; 4) a modernização agrícola; 5) 
a agricultura familiar; 6) e o agronegócio, entre outros. Embora não tenhamos a 
intenção de abordar todos esses conceitos de maneira detalhada nesta aula, vamos 
desenvolver uma perspectiva crítica em torno deles para auxiliar em nossas análises 
(OLIVEIRA; MOREIRA, 2012). 
Esse esquema clássico formou o núcleo dos estudos de sociologia rural, como 
visto nos trabalhos dos pioneiros que estabeleceram as bases científicas dessa 
disciplina. No entanto, como observado por Graziano da Silva (1999), esse esquema 
tem passado por mudanças recentemente, influenciado por problemas específicos e 
pelos interesses de pesquisadores, bem como pela influência de diversas disciplinas, 
notadamente demografia, psicologia social e antropologia social. Hoje, devido ao 
intenso intercâmbio e à mútua influência entre essas diferentes áreas da sociologia, 
novos campos de interesse estão claramente emergindo. 
Isso é evidente na criação de áreas como a sociologia agrária, que se conectaintimamente com a economia agrária e as ciências jurídicas, particularmente o direito 
civil e o direito agrário. O direito agrário, por sua vez, é um resultado da combinação 
de direito de propriedade agrária, direito trabalhista e, mais recentemente, direito da 
cooperação. Também é o caso da sociologia do desenvolvimento rural, que visa 
analisar as transformações nas comunidades e áreas rurais à luz dos processos de 
desenvolvimento que afetam o conjunto da sociedade e se manifestam de maneira 
específica nas áreas urbanas e rurais. 
 
10 
 
Esse campo tem despertado grande interesse nos países em 
desenvolvimento, e o Brasil pode ser considerado pioneiro nessa abordagem. Além 
disso, o estudo das comunidades rurais é outra área que tem sido profundamente 
explorada em nosso país e representa uma especialização dentro do âmbito da 
sociologia rural. Por fim, é fundamental mencionar a análise sociológica do 
planejamento rural, sua natureza e impactos, uma área que se tornou essencial nas 
obras mais modernas sobre a disciplina. 
Uma definição contemporânea, que se baseia na teoria dos sistemas, é 
fornecida por Larson (1968, p. 580): 
A preocupação central no estudo sociológico da sociedade rural é a de sua 
organização, os sistemas sociais ou subsistemas e suas interrelações dentro 
da sociedade rural, com a sociedade urbana e a sociedade global. Este 
estudo tem sido feito através de vários ângulos: ecológico, cultural e relativo 
ao comportamento (behavioral). 
Solari (1979, p. 4) escreve: 
Cabe à Sociologia apenas a interpretação dos fatos, assumindo um possível 
caráter enquanto ponto de apoio para as políticas públicas no âmbito rural. A 
despeito de sua louvável preocupação em promover melhorias, a sociologia 
rural (como a geral) deveria ter por [...] objeto observar os fatos, descobrir 
leis, interpretar suas causas, explicá-las; ela se ocupa daquilo que os fatos 
são, e não do que deveriam ser. 
Desse modo, conforme Solari (1979), observamos que o homem que vive no 
campo está progressivamente se transformando em um empreendedor, 
administrando uma organização de natureza econômica para obter renda. Nesse 
sentido, esses conceitos e categorias surgem como respostas aos novos desafios 
enfrentados pela sociologia rural. A criação de ferramentas de classificação e análise 
dessas áreas é de fundamental importância para a formulação de políticas públicas 
em níveis municipal, estadual e federal. 
Conforme Mendras (1978), um dos fundadores da Sociologia Rural Francesa, 
as sociedades rurais tradicionais, em particular as camponesas, exibem cinco 
características distintas: 
• Uma considerável autonomia em relação à sociedade global. 
• A relevância estrutural dos grupos domésticos. 
• Um sistema econômico caracterizado pela autossuficiência relativa. 
• Uma sociedade baseada no conhecimento mútuo entre seus membros. 
 
11 
 
• A presença de intermediários que atuam entre a sociedade local e a sociedade 
global. 
De acordo com Wanderley (2000), o termo “rural” representa um modo 
particular de utilizar o espaço e de construir a vida social. Portanto, seu estudo implica 
a compreensão dos limites, das particularidades e das representações desse espaço 
rural. Ele é entendido simultaneamente como um espaço físico, referente à ocupação 
do território e aos seus símbolos. É o local onde as pessoas vivem, com 
particularidades no modo de vida e uma referência identitária, mas também é de onde 
elas observam e experimentam o mundo em um sentido mais amplo, abordando a 
cidadania do homem rural e sua inserção nas esferas mais abrangentes da sociedade. 
Do ponto de vista sociológico, quando se menciona o termo “rural”, apontam-
se duas características consideradas fundamentais: 
• Relação com a Natureza: Por um lado, destaca-se a relação específica que os 
habitantes do campo mantêm com a natureza, a qual eles interagem 
diretamente, principalmente por meio de seu trabalho e ambiente habitacional. 
Essa relação envolve as representações do espaço natural e do espaço 
construído. Vale salientar que a “natureza rural”, por ser intensamente moldada 
por diversas atividades e usos humanos, é, na realidade, tão natural quanto as 
intervenções humanas. 
• Relações Sociais Diferenciadas: Por outro lado, há relações sociais 
diferenciadas, conforme definido por Mendras (1978) como “relações de 
interconhecimento”. Essas relações surgem devido à dimensão e 
complexidade limitadas das “coletividades” rurais. Essas relações sociais 
resultam em práticas e representações particulares em relação ao espaço, 
tempo, trabalho, família, e assim por diante. 
No entanto, é crucial observar que fazer referência a essas características não 
significa buscar uma forma histórica do “rural”. Conforme Rémy (1993), o “rural” não 
é uma essência imutável que pode ser encontrada em todas as sociedades. Pelo 
contrário, é uma categoria histórica em constante evolução. Portanto, cabe aos 
pesquisadores compreender as diferentes formas do “rural” nas diversas sociedades, 
tanto passadas quanto presentes. 
1.2 O que estudam os Sociólogos Rurais? 
 
12 
 
Quando abordamos a Sociologia Rural, é fundamental destacar que sua 
institucionalização, ou seja, o reconhecimento como uma disciplina específica com a 
criação de cursos e programas dedicados a ela, é relativamente recente. De acordo 
com Brumer & Santos (2021), a introdução da Sociologia Rural no Brasil ocorreu por 
meio da abertura de cursos de pós-graduação nas décadas de 1950 e 1960. Esse 
desenvolvimento foi impulsionado durante o governo de Juscelino Kubitschek, por 
meio de um acordo de cooperação em pesquisa e estudos na área entre Brasil e 
Estados Unidos. Mesmo durante o período da Ditadura Militar, as pesquisas em 
Sociologia Rural continuaram, embora temas como a modernização rural fossem mais 
frequentes do que questões relacionadas à reforma agrária. 
Em um dos artigos mais citados de um renomado pesquisador em Sociologia 
Rural, argumenta-se que o futuro dessa disciplina depende da capacidade de oferecer 
propostas para melhorar a qualidade de vida no campo e de sua habilidade em ouvir 
as aspirações dos moradores rurais. Além disso, enfatiza-se a importância de 
promover um diálogo mais amplo, que inclua a colaboração entre diferentes 
disciplinas, a fim de compreender de forma mais abrangente os fenômenos rurais. 
Isso envolve a promoção de abordagens multidisciplinares, interdisciplinares e até 
mesmo transdisciplinares: 
“É preciso transgredir as imunidades estamentais e corporativas de que a 
sociologia rural se cercou, fazê-la dialogar mais, comungar mais e aprender 
mais com a História, a Literatura, a Geografia, a Antropologia. Há mais 
sociologia rural de alto refinamento em obras de Gabriel Garcia Marquez, 
Manuel Scorza, John Steinbeck, José Saramago, Juan Rulfo ou Guimarães 
Rosa do que em muitas de nossas análises complexas e elaboradas”. 
(MARTINS, 2001, p. 34) 
Na realidade, muitos dos tópicos investigados pelos profissionais da 
Sociologia Rural são compartilhados por outros especialistas, como geógrafos rurais, 
antropólogos rurais e economistas rurais. De fato, existe uma troca significativa de 
informações e dados entre essas disciplinas, embora o foco e a abordagem de análise 
possam variar de acordo com a formação do pesquisador (MAKINO, 2022). 
Pessoalmente, acredito que, embora as pesquisas conduzidas por sociólogos 
rurais sejam frequentemente rotuladas como “Sociologia Rural”, seria mais honesto 
chamá-las de “Estudos Rurais” (ou algo similar) e reconhecer a natureza 
multidisciplinar e interdisciplinar desse campo. A insistência em estabelecer distinções 
rígidas entre algumas dessas áreas, como Sociologia Rural e Antropologia Rural, 
 
13 
 
muitas vezes está relacionada à formação original do pesquisador e à preferência por 
abordagens típicas de sua área de formação. Por exemplo, sociólogos e economistas 
podemsentir-se mais à vontade com análises estatísticas, enquanto um antropólogo 
pode preferir realizar visitas de campo e entrevistar os moradores. 
Dentro do campo disciplinar institucionalizado da Sociologia Rural, de acordo 
com Brumer & Santos (2012), entre aqueles que se autodenominam sociólogos e 
conduzem pesquisas sobre o ambiente rural, os temas mais frequentemente 
investigados incluem o campesinato, a agricultura familiar, a modernização no campo, 
o cooperativismo rural, as novas fronteiras agrícolas, a burguesia agrária, as questões 
de violência no campo, entre outros. 
 
 
 
1.3 As Ideias Fundadoras 
Foi, sem dúvida, a Sociologia Rural que, no século passado, pioneiramente 
promoveu uma análise minuciosa do conceito e da natureza das relações entre o meio 
rural e urbano. Nesse sentido, uma das principais preocupações dessa disciplina foi a 
elaboração de categorias que permitissem qualificar e compreender a essência dos 
espaços rurais, em contraste com as dinâmicas da sociedade urbana. Nos estudos 
sociológicos voltados ao mundo rural, essas categorias, no entanto, receberam 
distintos enfoques e abordagens. No decorrer da evolução desta ciência, tornam-se 
aparentes, pelo menos, duas correntes distintas: a abordagem francesa e a norte-
americana (SILVA E ROCHA, 2011). 
A primeira tendência concentra-se na análise dos desafios do 
desenvolvimento e engloba a Sociologia Agrária. Ela aborda questões relacionadas 
ao comportamento da população rural em relação ao progresso, investiga as relações 
comunitárias de vizinhança, solidariedade e cooperação, explora o associativismo 
rural e se dedica aos estudos sobre os objetivos do planejamento local e regional. 
A segunda abordagem, de origem norte-americana, visa definir e explicar o 
mundo rural a partir de suas características sociais, demográficas e produtivas 
peculiares. Esta abordagem engloba o estudo das comunidades rurais, a extensão e 
difusão de práticas agrícolas, a avaliação de programas governamentais relacionados 
à saúde e previdência social rural, entre outros temas. 
 
14 
 
1.4 A escola norte-americana 
Nos Estados Unidos, a trajetória acadêmica da Sociologia Rural coincidiu com 
o período de florescimento dos estudos em Ecologia Urbana, liderados pela Escola 
de Chicago. Como resultado, tornou-se evidente a influência dos conceitos e métodos 
desenvolvidos por essa escola no âmbito da Sociologia voltada à compreensão do 
meio rural. A disseminação dos princípios norteadores das pesquisas sobre 
problemas urbanos, notadamente pelos estudiosos de Chicago como P. Park, E. 
Burgges, L. Wirth e outros, contribuiu para o surgimento de uma vertente de estudos 
rurais que compartilhava desses fundamentos. Portanto, pode-se afirmar que alguns 
sociólogos que se apegavam aos referenciais da Ecologia Urbana, mas que estavam 
interessados na sociedade rural da época, desempenharam um papel fundamental na 
criação da Sociologia Rural norte-americana, que, em seus primórdios, estava 
fortemente ligada às bases científicas dos estudos urbanos (ABRAMOVAY, 2000). 
O desenvolvimento rural nos Estados Unidos passou por três fases distintas 
ao longo de sua história. Inicialmente, na formação histórica do país, as áreas rurais 
se beneficiaram principalmente dos recursos naturais que possuíam vantagens 
geográficas, como terras férteis, vastas florestas e depósitos minerais. 
Nos anos 60 e 70, a vantagem comparativa das áreas rurais mudou de um 
foco nos recursos primários para a ênfase em fatores como “terra acessível, mão de 
obra de custo reduzido, regulamentações flexíveis e sindicatos fracos ou ausentes”. 
Esses fatores, combinados com significativos investimentos públicos em infraestrutura 
de transporte, como o sistema de autoestradas interestaduais, estimularam um 
aumento significativo da atividade industrial nas áreas rurais dos Estados Unidos. 
Durante esse período, a participação das áreas rurais no emprego industrial cresceu 
de 21% para 27% entre 1960 e 1980, como mencionado por Galston e Baehler (1993). 
A partir dos anos 80, uma nova fase se iniciou, na qual as características 
naturais das áreas rurais, consideradas como “valores de amenidades” por 
aposentados, turistas e certos tipos de negócios, emergiram como uma nova fonte de 
vantagem comparativa para as áreas rurais. Isso levou a um aumento na população 
rural e na criação de novos empregos, especialmente nas localidades rurais que 
possuíam recursos naturais valiosos e atrativos para diferentes grupos demográficos. 
Seguindo a mesma linha de pensamento, Castle (1993), citado por Lindsey 
(1995/99), que liderou um abrangente programa de pesquisa e intervenção voltado 
 
15 
 
para o desenvolvimento rural nos Estados Unidos, destaca que as áreas rurais 
distantes das regiões metropolitanas que tiveram melhor desempenho compartilham 
a presença de três elementos fundamentais: recreação, aposentadoria e residência. 
1.5 A escola europeia 
Na Europa, a associação entre a ruralidade e os espaços naturais é talvez 
ainda mais evidente do que nos Estados Unidos. A noção de rural frequentemente 
engloba a ideia de natureza, embora essa associação possua nuances e significados 
variados de acordo com os diferentes países europeus. Como observou Jollivet (1997, 
p. 352) em uma coletânea que examina as relações entre o meio rural e o meio 
ambiente em oito nações da União Europeia, essa dimensão se torna particularmente 
evidente quando há uma sobreposição entre espaço agrícola e espaço rural. Além 
disso, essa associação também está subjacente à busca por um certo tipo de habitat, 
como casas e povoados localizados nas áreas rurais. 
As questões ambientais desempenham hoje um papel crucial na reforma da 
Política Agrícola Comum na União Europeia. É interessante notar que, nas 
negociações que antecederam essa reforma, o espaço rural tornou-se um argumento 
importante. Os agricultores franceses, por exemplo, perceberam que poderiam utilizar 
a condição de administradores do espaço rural como justificativa para preservar seus 
interesses nas negociações com os Estados Unidos, destacando a importância do 
espaço rural nas relações internacionais (ABRAMOVAY, 2000). 
Segundo Rios (1979), em contraposição à abordagem americana, a 
Sociologia Rural europeia buscou evitar a limitação de se tornar simplesmente uma 
Sociologia da agricultura. Para alcançar esse objetivo, os sociólogos europeus 
rapidamente reconheceram a necessidade de conectar o estudo da vida rural a uma 
compreensão abrangente de suas respectivas sociedades. Além disso, eles 
procuraram enriquecer essa abordagem integrando contribuições de outras disciplinas 
das ciências sociais, como Economia Agrícola, Direito, Geografia, Psicologia, 
Demografia e Etnologia. É importante notar que os primeiros estudos interdisciplinares 
sobre áreas rurais surgiram na Europa. 
A Sociologia Rural europeia, em particular a francesa, definiu-se com base 
em seu objeto de estudo e em seu campo de aplicação, em vez de adotar uma teoria 
ou escola de pensamento específica. A delimitação das preocupações da Sociologia 
 
16 
 
Rural ocorreu principalmente por meio de sua área de atuação e menos pela 
formulação de proposições teóricas originais. Nesse contexto, os sociólogos rurais 
franceses se interessaram por uma ampla gama de aspectos da vida social que 
englobam especialidades da Sociologia, como Sociologia Política, da Família e das 
Religiões (SILVA E ROCHA, 2011). 
2 O CAMPONÊS E O CAMPESINATO 
As palavras “camponês” e “campesinato” são termos relativamente recentes 
no léxico brasileiro, sendo introduzidos, de forma definitiva, pelas esquerdas há pouco 
mais de duas décadas. Eles foram adotados para descrever as lutas dos 
trabalhadores rurais que emergiram em várias regiões do país durante os anos 
cinquenta. Antes dessa adoção, um trabalhador com características semelhantes aos 
camponeses, classificadosassim na Europa e em outros países da América Latina, 
tinha denominações específicas e variadas no Brasil, muitas vezes específicas a cada 
região. Um exemplo notável é o termo “caipira”, provavelmente de origem indígena, 
utilizado para se referir aos camponeses das regiões de São Paulo, Minas Gerais, 
Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul. 
Em contraste, no litoral paulista, esse mesmo trabalhador é chamado de 
“caiçara”, enquanto no Nordeste do Brasil, é denominado “tabaréu”. Em outras partes 
do país, pode ser conhecido como “cabloco”, uma palavra que tem diversos 
significados, variando conforme a época e a região. Por exemplo, no século XVII, em 
São Paulo, era uma designação pejorativa para mestiços de índios e brancos; no 
Norte e Centro-Oeste do Brasil, era usada para distinguir pagãos de cristãos, aplicada 
aos indígenas em contato com os brancos. Em várias regiões, ela designa o homem 
do campo ou trabalhador rural (MARTINS, 1981). 
São termos que, desde tempos remotos, carregam um duplo significado. Por 
um lado, referem-se àqueles que vivem distante, no campo, afastados das povoações 
e cidades, e, portanto, são muitas vezes associados à rusticidade, ao atraso e à 
ingenuidade. Por outro lado, essas palavras podem também denotar tolice ou 
ingenuidade, e ocasionalmente, são utilizadas para descrever alguém como 
preguiçoso, alguém que não aprecia o trabalho. No geral, são termos depreciativos e, 
por vezes, ofensivos. Talvez isso explique por que essas palavras gradualmente 
desapareceram do vocabulário cotidiano, encontrando refúgio final apenas nos 
 
17 
 
dicionários de folcloristas. É notável que a crescente obsolescência dessas palavras 
tenha coincidido com o aumento das lutas do campesinato e com a inclusão da 
situação dos camponeses no debate político nacional (MARTINS, 1981). 
O termo “campesinato” geralmente se refere às famílias que vivem no campo 
e que produzem todos os aspectos de suas vidas - incluindo culturais, sociais, 
econômicos e ambientais - no contexto do espaço agrário. Dois elementos essenciais 
caracterizam esses indivíduos: a contínua luta pela preservação do bem-estar familiar 
e a busca incansável pela autonomia na produção (OLESKO, 2017). 
A diversidade dentro do campesinato é notável e tem sido reconhecida por 
estudiosos há bastante tempo. Chayanov (1985), já na década de 1920, destacava 
que a classe camponesa deveria ser compreendida como diversa e complexa. De 
acordo com o autor, a coesão dessa classe não se baseia na identidade, mas sim na 
manutenção constante de suas famílias e comunidades com um grau significativo de 
autonomia. 
Em resumo, podemos entender o campesinato como uma classe que engloba 
uma diversidade de grupos identitários. Conforme Chayanov (1985), o principal 
objetivo do campesinato é realizar menos trabalho, mas ainda assim garantir a 
sustentabilidade da vida familiar. Essa característica é fundamental para a classe 
camponesa em suas propriedades. Embora a análise do autor se concentre nos 
camponeses russos, ele destaca que esse aspecto é central para os sujeitos do 
campo em geral. Portanto, apesar das diferenças culturais, práticas e outras 
características distintas no mundo camponês, há uma coesão em determinados 
aspectos dessa classe. 
É importante ressaltar que a ideia de ser proprietário, no contexto camponês, 
não implica necessariamente a propriedade dos meios de produção, como é 
comumente associado ao capitalismo. O camponês vê a terra como o local de 
reprodução de sua vida, trabalho e família. Ser proprietário é fundamental para 
garantir sua permanência na terra, não visando à busca de mais-valia, mas à 
sustentação da família (OLESKO, 2017). 
Conforme observado por Shanin (1983), é essencial compreender que, em 
suas diversas manifestações, o campesinato é frequentemente subjugado, 
independentemente de ser proprietário de terra, posseiro ou sem-terra, ou se 
enquadrar como parte de uma “comunidade tradicional” ou “povo”. Enquanto classe 
 
18 
 
social, o camponês muitas vezes desempenha um papel necessário e quase sempre 
está subordinado ao capital. Mesmo que Mendras (1978) argumente que o objetivo 
central das famílias camponesas seja manter e expandir sua autonomia perante a 
sociedade, essa meta pode ser vista como utópica, embora continuamente desejável 
para os camponeses. Para tanto: 
Os camponeses continuam a existir, correspondendo a unidades agrícolas 
diferentes, em estrutura e tamanho, do clássico estabelecimento rural familiar 
camponês, em maneiras já parcialmente exploradas por Kautsky. Os 
camponeses são marginalizados. (...) 
Eles servem ao desenvolvimento capitalista em um sentido menos direto, um 
tipo de “acumulação primitiva" permanente, oferecendo mão de obra barata, 
alimentação barata e mercados para bens que geram lucros. (Shanin, 1980, 
p. 58,) 
O que Shanin enfatiza é que, apesar de algumas abordagens sugerirem o 
desaparecimento do campesinato em suas análises, essa realidade está longe de se 
concretizar. Isso é particularmente evidente no contexto brasileiro, onde o 
campesinato desempenha um papel crucial na produção de alimentos e onde os 
conflitos em torno da terra persistem, seja para adquiri-la, seja para mantê-la. 
Além disso, Shanin (1983) nos lembra da necessidade de considerar a 
diversidade e a complexidade do campesinato, em vez de adotar apenas o modelo 
clássico da unidade familiar. No Brasil, por exemplo, podemos observar uma ampla 
gama de realidades camponesas, incluindo assentamentos rurais, pequenos 
proprietários de origem cabocla ou descendentes de imigrantes, bem como práticas 
de uso e produção de terras comuns e coletivas. Portanto, compreender o 
campesinato requer uma análise que leve em conta essa diversidade e a 
complexidade de suas formas de organização e de suas relações com a terra. 
No entanto, é crucial reconhecer, que os camponeses são frequentemente 
marginalizados, independentemente de sua produção. De acordo com Moura (1986) 
o campesinato é sempre um polo oprimido em qualquer sociedade, em qualquer 
época e lugar, a posição do camponês é marcada pela subordinação aos proprietários 
das terras e ao poder, que extrai deles diferentes tipos de renda: renda em produtos, 
renda em trabalho, renda em dinheiro. 
Moura (1986) também explora as várias maneiras de definir o campesinato e 
chega à conclusão de que não se pode adotar uma definição rígida e sectária. Em vez 
disso, é necessário trabalhar com um arquétipo amplo que abranja a complexidade 
 
19 
 
dessa classe. Portanto, ela constrói o entendimento de que o camponês é o cultivador 
em contraposição à cidade e à sede do poder político, sujeito a uma subordinação 
permanente. Vale ressaltar que tanto Moura (1986) argumenta que os próprios 
camponeses frequentemente não se identificam ou reconhecem o conceito de classe 
amplamente abordado. Entretanto, isso não diminui a importância da construção 
intelectual relacionada à classe camponesa. Não se trata de uma mera questão 
vocabular, mas, sobretudo, de natureza política. 
2.1 O conceito de camponês 
na sociologia marxista clássica 
Karl Marx é um influente pensador que desempenha um papel significativo 
como precursor e referência teórica em diversas áreas do conhecimento, incluindo 
Filosofia, Economia, Ciência Política, Sociologia, entre outras. Em sua obra, o 
conceito de campesinato assume um papel de destaque, oferecendo uma explicação 
importante em uma de suas obras mais célebres, “O 18 de Brumário de Luís 
Bonaparte”. 
Antes de abordar o papel do campesinato na obra mencionada, é essencial 
compreender seu significado na perspectiva marxista. O camponês é o habitante do 
campo que se caracteriza por ser autossuficiente, direcionando suas atividades 
principalmente para a subsistência. Ele produz apenas o suficiente para seu próprio 
consumo, gerando poucos excedentes para comercialização, e carece de renda 
significativaque o torne um consumidor relevante do ponto de vista econômico. Em 
outras palavras, o camponês é um indivíduo cuja mentalidade não é dominada pela 
busca de enriquecimento ou acúmulo de capital. Portanto, a imagem do camponês 
como um vestígio de um passado feudal e medieval, um não-capitalista em um mundo 
capitalista, e um personagem destinado a desaparecer à medida que o progresso 
avança, não encontra respaldo entre os sociólogos rurais atualmente informados 
(OLESKO, 2017). 
É um conceito originalmente cunhado para analisar um grupo social e uma 
situação do século XIX. Na teoria marxista, o capitalismo é caracterizado pela luta de 
classes entre o proletariado e a burguesia, ou seja, entre trabalhadores assalariados 
e os detentores do grande capital (terra, máquinas, indústrias, empresas e recursos 
para investimento). A longo prazo, essa luta deveria culminar em uma revolução, que 
poria fim ao capitalismo e inauguraria uma ditadura do proletariado ou o socialismo. 
 
20 
 
Contudo, no célebre livro “O 18 de Brumário”, a luta entre proletariado e burguesia 
não seguia o curso de uma revolução, devido à influência moderadora de um terceiro 
grupo social na França: o campesinato. O tipo ideal de proletário que desempenharia 
o papel central na revolução era o trabalhador industrial assalariado, mas na França 
daquela época, os camponeses eram uma classe muito numerosa. Em resumo, um 
dos sociólogos mais influentes de todos os tempos reconhece a relevância do 
campesinato nos processos sociais de mudança e continuidade (OLESKO, 2017). 
2.2 O camponês em outros lugares do mundo 
Se na França do século XIX o campesinato desempenhava um papel 
significativo na estrutura social, o mesmo não pode ser dito de outros lugares e 
períodos históricos. Por exemplo, de acordo com Garcia Jr (2013), no Brasil Colonial, 
não se pode afirmar a existência de um campesinato relevante, uma vez que a 
estrutura social se resumia, por um lado, a famílias latifundiárias e seus dependentes 
e, por outro, a escravos. Apesar de existirem pequenos agricultores envolvidos na 
produção de alimentos, eles estavam predominantemente ligados à dinâmica de 
abastecer as grandes propriedades rurais e, portanto, raramente poderiam ser 
categorizados como camponeses no sentido estrito. 
É importante ressaltar que no Brasil Colonial existiam diversas ocupações e 
papéis sociais além do latifundiário e do escravo. Na obra de Gilberto Freyre, 
especialmente em “Casa Grande & Senzala”, encontramos menção a burocratas 
imperiais, soldados imperiais, prostitutas, comerciantes-viajantes, membros da Igreja 
Católica (padres, freis, freiras, missionários, inquisidores, bispos e outros), indígenas 
e outros grupos. Além disso, no pensamento social latino-americano, a importância 
do campesinato também era objeto de discussão. Nas reflexões do intelectual 
peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930), buscava-se compreender a situação de 
seu país à luz das teorias marxistas. Nessa análise, a situação do indígena sul-
americano no início do século XX era comparada à do camponês europeu do século 
XIX: habitantes do ambiente rural cujo projeto de vida não era orientado pela obsessão 
pelo acúmulo de capital. No entanto, as implicações dessa equivalência eram motivo 
de controvérsia. 
No pensamento marxista tradicional, o Socialismo emergiria das contradições 
profundas do Capitalismo, ou seja, sem um desenvolvimento pleno do Capitalismo, 
não haveria condições para uma Revolução Socialista. Da mesma forma que o 
 
21 
 
campesinato bloqueava a revolução na França de Luís Bonaparte, o indigenato 
bloqueava a revolução no Peru. Isso ocorria porque o Peru possuía uma grande 
proporção de indígenas, que não eram capitalistas, e uma burguesia nacional fraca. 
Como explicam duas estudiosas desse tema: 
 “A hipótese sociopolítica decisiva para se pensar Mariátegui é a de que no 
Peru não existe, e nunca existiu, uma burguesia progressista com uma 
sensibilidade nacional que pudesse ser declarada como sendo liberal e 
democrática. Os fatores para tal debilidade estariam na permanência da 
propriedade feudal e na relação de servidão produtiva, apesar do avanço 
capitalista”. (RANINCHESKI & PINTO, 2009, p. 99) 
2.3 Ressignificações do conceito de camponês 
Wanderley (1996), em um de seus trabalhos, aborda a problemática do 
conceito de camponês e da própria natureza dos conceitos. Ela levanta a questão de 
se o conceito é estático, fixo, e se só pode ser aplicado a determinados momentos 
históricos. Se a resposta for “sim”, isso implicaria que o termo “camponês” só poderia 
ser utilizado para se referir ao contexto social descrito por Marx em seu livro “O 18 de 
Brumário”. No entanto, se a resposta for “não”, isso indicaria que o conceito pode 
evoluir à medida que o sujeito (ou o objeto) ao qual se refere evolui, requerendo um 
esforço constante para atualização dos conceitos e identificação dos vários 
significados que podem ter para diferentes gerações de pesquisadores. A autora 
mencionada segue essa segunda abordagem (MAKINO, 2022). 
Essa questão, de certa forma, já havia sido abordada por outros sociólogos 
brasileiros no passado. Welch et al., (2009), por exemplo, redefine o camponês no 
contexto brasileiro como o pequeno agricultor que não é empregado por ninguém e 
que subsiste do seu trabalho (e do trabalho de sua família) na terra que habita, 
podendo vender o excedente que consegue produzir. Dessa forma, sitiantes, 
chacareiros e, mais recentemente, assentados de programas de reforma agrária 
poderiam ser classificados como integrantes do campesinato brasileiro. 
Reconsiderando a reflexão de Wanderley, é evidente que elementos do 
campesinato ainda subsistem nos tempos atuais, embora, é claro, não da mesma 
maneira que no século XIX. Alguns desses elementos incluem a organização da terra 
para combinar pecuária e policultura, a preservação do horizonte de gerações (com 
ênfase na importância da família, tradição, herança e legado), uma relativa autonomia 
nas sociedades rurais (caracterizada por uma forma distinta de vida e mentalidade em 
 
22 
 
relação às sociedades urbanas) e a produção em pequena escala (em grande parte 
devido ao tamanho reduzido das propriedades rurais) (MAKINO, 2022). 
Nesse contexto, a representação do camponês no cenário brasileiro pode 
englobar uma variedade de características que se manifestam nas figuras do caipira, 
do sertanejo, do caboclo, e em muitos outros sujeitos que compartilham essas 
características (mas não se limitando a eles). Exemplos mais conhecidos incluem 
figuras estereotipadas como o Jeca Tatu, na obra de Monteiro Lobato, o Chico Bento, 
nas histórias de Maurício de Sousa, ou ainda o personagem Amácio Mazzaropi em 
seus filmes. No entanto, é importante ressaltar que, de maneira menos caricatural, 
essas características podem ser encontradas em muitas famílias de sitiantes 
espalhadas pelo Brasil. 
Makino, (2022) destaca que a humanidade, ao longo de sua história, 
tradicionalmente se sustentou por meio da coleta ou da agricultura, obtendo do 
ambiente natural o necessário para sua subsistência. No entanto, o ritmo de 
exploração estava alinhado com a capacidade de regeneração da natureza. Portanto, 
não se pode responsabilizar o campesinato pela atual degradação ambiental que 
assola o nosso mundo contemporâneo. 
 
3 DEFINIÇÃO DE QUESTÃO FUNDIÁRIA 
A problemática fundiária envolve questões relativas aos direitos, ao acesso e 
à utilização da terra. Ela aborda dilemas como a quem deveria ser atribuída a 
propriedade da terra - a um indivíduo, a um grupo étnico, como os quilombolas ou 
comunidades indígenas, a toda a sociedade ou, até mesmo, se a terra deveria ser de 
propriedade de ninguém? Também se indaga sobre quais critérios conferem o direito 
ao uso da terra - herança, compra, força imposta pela lei ou simplesmente o critério 
de ocupação inicial? As respostas a essasquestões variam consideravelmente de 
uma sociedade para outra e de uma época histórica para outra. Para ilustrar essa 
diversidade, tomemos alguns exemplos. 
Na Europa medieval, a relação entre os servos e a terra era peculiar: a terra 
não era de posse dos servos, mas era como se estes “pertencessem” à terra. Os 
servos deveriam viver toda a vida nas terras onde nasceram, e a doação de terras por 
parte dos nobres, através de cerimônias de suserania e vassalagem, 
 
23 
 
automaticamente envolvia os servos nessa concessão. A terra não podia ser 
comercializada; apenas podia ser doada, anexada ou conquistada. 
Em algumas sociedades tradicionais, como os Tupinambá e outros grupos do 
tronco étnico Tupi, a terra é considerada como um bem comum de toda a etnia, não 
sujeita a compra ou venda, e não é vista como propriedade ou mercadoria. Nessa 
perspectiva, a terra tem como função principal garantir o bem-estar de todos os 
membros da comunidade (MAKINO, 2022). 
Em contrapartida, em experiências históricas de algumas sociedades, como 
no caso da União Soviética, a terra era de propriedade do Estado. Nesse contexto, as 
pessoas que trabalhavam na agricultura estavam sujeitas ao planejamento 
governamental, que determinava o que deveria ser plantado e em que quantidade. 
Em outras palavras, o Estado controlava as atividades agrícolas. Além disso, em 
várias culturas, o direito à posse e ao uso da terra é fundamentado em tradições, mitos 
e narrativas que afirmam a presença contínua dessas comunidades em determinadas 
terras, como se estivessem lá desde tempos imemoriais. 
Alguns povos atribuem um caráter religioso à posse da terra, alegando que 
ela foi um presente divino ou que foram criados por deidades específicas naquela 
terra. Além disso, há sociedades que fundamentam seu direito à terra na ideia de 
conquista, na superioridade da força e na história de uso da violência para estabelecer 
a posse. Por outro lado, em sociedades modernas capitalistas, a propriedade da terra 
costuma ser adquirida por meio da compra, herança ou doação, sendo legitimada pelo 
reconhecimento governamental-estatal. Nessa perspectiva, a terra pode 
desempenhar a função de mercadoria, servindo como um bem a ser negociado, uma 
reserva de valor (como forma de poupança ou investimento) ou um meio de produção 
para atividades econômicas lucrativas, como agricultura ou pecuária (MAKINO, 2022). 
Conforme estabelecido pela Constituição Federal Brasileira de 1988, mais 
especificamente no Artigo 5, Inciso XXIII, a propriedade da terra é justificada quando 
atende à sua função social, ou seja, quando está sendo utilizada para fins 
habitacionais ou atividades agrícolas, em vez de permanecer ociosa. Essa condição 
teoricamente possibilita medidas como o usucapião, que ocorre quando uma pessoa 
adquire o direito à propriedade da terra ao trabalhá-la efetivamente, enquanto o 
proprietário detentor da escritura não toma nenhuma ação. Além disso, nos Artigos 
184, 185 e 186 da Constituição, fica estabelecido que a União (nível federal do 
 
24 
 
governo) tem o poder de desapropriar terras com o propósito de promover a reforma 
agrária, o que implica na redistribuição de parte das terras no país. 
3.1 História fundiária: brasil colônia e brasil império 
A história da propriedade da terra no Brasil pode ser segmentada em quatro 
fases, de acordo com Di Pietro (1995, p. 465): (1) sesmarias; (2) posses; (3) Lei de 
Terras; e (4) Constituição de 1891. Importa ressaltar que as Constituições de 1934 e 
1946 também tiveram um papel significativo na consolidação do conceito de função 
social da propriedade. No entanto, é na Constituição de 1988 e no atual Código Civil 
que encontramos a afirmação definitiva de que o direito de propriedade deve cumprir 
sua função social. Diante dessa evolução jurídica, é fundamental analisar a 
apropriação territorial no Brasil, a partir do sistema de sesmarias e sua transição para 
a propriedade plena e absoluta. Esse exame é essencial para compreender os 
conflitos fundiários contemporâneos à luz da história da formação da propriedade 
privada no Brasil. Antes disso, no entanto, é crucial examinar o contexto que norteou 
a apropriação do território brasileiro pelos colonizadores, considerando os princípios 
filosóficos e legais que moldaram os conceitos de posse e propriedade da terra ao 
longo dos últimos cinco séculos (OLIVEIRA; MOREIRA, 2012). 
A concepção plena de “propriedade” na sociedade latino-americana só se 
consolidou no século XIX. No caso brasileiro, essa evolução conceitual esteve 
intrinsecamente ligada ao desenvolvimento histórico que acompanhou a nação. A 
apropriação de terras no Novo Mundo desencadeou o que se conhece como “tempos 
modernos”, marcando a formação do Estado Nacional europeu, sua expansão para 
além das fronteiras continentais e o crescimento comercial. 
A colonização de territórios ultramarinos, e a aquisição de terras na chamada 
“América”, levantou questões sobre os reais direitos dos reis e do papa sobre essas 
terras. Além disso, estimulou o debate em torno dos direitos dos habitantes do Novo 
Mundo, frequentemente descritos como “povo sem fé, sem lei, sem rei”. 
A história da concepção da “propriedade” tem sido permeada por extensos 
debates ao longo da história da humanidade. Durante a Idade Média, diversas 
interpretações, muitas delas de natureza teológica, foram formuladas em relação à 
propriedade. Essas interpretações, frequentemente embasadas em considerações 
morais, variavam em relação à propriedade privada, sendo vista como um “mal 
 
25 
 
necessário” para a perpetuação da “injustiça social”. Isso frequentemente envolvia a 
distinção entre as noções de “meu” e “teu”. 
Essa perspectiva moral e filosófica sobre a propriedade privada foi refletida 
nas viagens ultramarinas europeias dos séculos XVI e XVII, nas quais os 
conquistadores europeus buscavam a apropriação de novas terras e riquezas à custa 
das populações nativas. Isso gerou debates acalorados sobre os direitos dos seres 
humanos, em particular no que diz respeito à “propriedade” (OLIVEIRA; MOREIRA, 
2012). 
Os conquistadores europeus, ao chegarem às terras do Novo Mundo, 
encontraram territórios já habitados por povos nativos. Essa ocupação anterior 
impediu que fossem consideradas terras “terra nullius”, ou seja, “terra vazia” ou “terra 
de ninguém”. No entanto, a justificativa frequentemente apresentada era que essas 
terras estavam ocupadas por populações “não civilizadas”, pelo menos não de acordo 
com os padrões encontrados nas populações da Índia e de outros territórios asiáticos 
e africanos que possuíam estruturas de mercado que os europeus podiam explorar. É 
importante mencionar que havia civilizações avançadas, como os Incas e Astecas, 
com sistemas sociais complexos, mas não organizados em moldes de mercado que 
pudessem ser explorados pelos conquistadores europeus. 
Nesse cenário, uma autoridade política foi estabelecida sobre as populações 
nativas do território, concedendo aos conquistadores o domínio ou a “guarda” dessas 
comunidades, bem como o domínio sobre o território por eles ocupado. 
A propriedade, agora sistematizada por meio de um sistema legal, passou a 
representar um direito reconhecido socialmente. No contexto da lei, a propriedade 
adquiriu características que a relacionavam com o “desenvolvimento econômico”, 
conforme destacado por Ryan (1988, p. 88). 
A propriedade inclui o direito de possuir, o direito de usar, o direito de gerir, o 
direito ao rendimento da coisa, o direito ao capital, o direito à segurança, os 
direitos de transmissibilidade e ausência de prazo, a proibição de uma 
utilização prejudicial, passividade de execução e os casos residuários, o que 
perfaz onze casos principais. 
Superadas ou disfarçadas, as contradições em torno dos conceitos de 
propriedade e posse das terras no Novo Mundo, naquele período, decorriam das 
dificuldadeseconômicas enfrentadas pelas nações europeias. Esses países, 
motivados pela busca de novos mercados e fronteiras comerciais, demonstravam 
 
26 
 
grande interesse nas terras e recursos naturais do Novo Mundo. No entanto, devido 
às limitações da época, essas terras não poderiam ser amplamente colonizadas e 
exploradas. 
Abandoná-las não era uma opção viável, pois outros exploradores, também 
em busca de novas terras e mercados, poderiam tomar posse delas. A solução 
encontrada foi a divisão desse território em vastas parcelas de terras, conhecidas 
como Capitanias, que eram concedidas a indivíduos particulares, chamados 
“donatários”. Esses donatários assumiam a responsabilidade de administrar e explorar 
essas áreas em nome das nações europeias (OLIVEIRA; MOREIRA, 2012). 
Superadas ou disfarçadas, as contradições em torno dos conceitos de 
propriedade e posse das terras no Novo Mundo, naquele período, decorriam das 
dificuldades econômicas enfrentadas pelas nações europeias. Esses países, 
motivados pela busca de novos mercados e fronteiras comerciais, demonstravam 
grande interesse nas terras e recursos naturais do Novo Mundo. No entanto, devido 
às limitações da época, essas terras não poderiam ser amplamente colonizadas e 
exploradas. 
Abandoná-las não era uma opção viável, pois outros exploradores, também 
em busca de novas terras e mercados, poderiam tomar posse delas. A solução 
encontrada foi a divisão desse território em vastas parcelas de terras, conhecidas 
como Capitanias, que eram concedidas a indivíduos particulares, chamados 
“donatários”. Esses donatários assumiam a responsabilidade de administrar e explorar 
essas áreas em nome das nações europeias. 
As Capitanias, conhecidas como “Capitanias Hereditárias”, foram 
estabelecidas em 1534 por decreto do Rei de Portugal, Dom João III, e perduraram 
até 1759, quando foram abolidas por ação do Marquês de Pombal. 
Quando foram inicialmente criadas, as seguintes Capitanias foram 
estabelecidas: Maranhão, Ceará, Rio Grande, Itamaracá, Pernambuco, Bahia de 
Todos os Santos, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente, Santo 
Amaro e Santana. 
É relevante destacar a característica “hereditária” das grandes extensões de 
terra concedidas pelo Rei de Portugal aos donatários nas Capitanias. Por meio da 
“Carta de Doação”, o rei outorgava a posse da capitania ao donatário, que era, por 
sua vez, caracterizada como hereditária. Isso significava que, após a morte do 
 
27 
 
donatário, a capitania seria administrada por seus descendentes, e a venda da mesma 
era proibida, já que se tratava de uma questão de “posse” e não “propriedade” 
(OLIVEIRA; MOREIRA, 2012). 
É importante ressaltar que cada um dos donatários tinha o direito de doar 
parcelas de terra dentro de suas capitanias, conhecidas como sesmarias. No entanto, 
a concentração de terras permaneceu significativa. Esse sistema de concessão real 
de terras perdurou por um longo período (MAKINO, 2022). 
O período de posse 
No século XIX, a situação fundiária do Brasil era bastante caótica do ponto de 
vista jurídico. Naquela época, havia um predomínio do senhorio rural, em vez de 
proprietários de terras no sentido convencional, uma vez que a maioria não possuía 
títulos legais que legitimassem a propriedade. Isso ocorreu em grande parte devido 
ao fato de que a maioria das sesmarias não havia sido confirmada, e havia se 
estabelecido um padrão de ocupação baseado na posse (SILVA, 2008, p. 88). 
Mesmo com a suspensão do sistema de sesmarias, a apropriação de terras 
por meio da posse continuou sendo a interpretação predominante, visto que a 
resolução de Dom Pedro I não afetou as posses, tornando-se essa a única forma de 
adquirir terras (SILVA, 2008, p. 90). Portanto, o período que se seguiu ao fim das 
sesmarias até a promulgação da Lei de Terras ficou conhecido como o “período de 
posse”. 
De acordo com Lígia Osório (2008), a consolidação do Estado Nacional era 
necessária para regulamentar a questão fundiária. No entanto, mesmo com a 
abdicação, que trouxe a elite agrária para o centro da política, o período regencial foi 
marcado pela instabilidade. 
Nesse contexto, no que diz respeito às terras, apenas duas disposições da 
era colonial foram extintas: o pagamento de foro, que como mencionado 
anteriormente, não foi aplicado de forma efetiva, e o morgadio, que estabelecia a 
herança de todos os bens exclusivamente para o filho mais velho, embora na prática 
a divisão das terras entre os filhos e até mesmo a concessão de terras como dote para 
as filhas fossem comuns (SILVA, 2008). 
Consequentemente, surgiram conflitos sobre a legitimidade das ocupações de 
terras, aumentando a pressão por uma legislação que regulamentasse a situação. Em 
 
28 
 
1843, começou a discussão do Projeto de Lei n. 94, que tratava da questão fundiária. 
No entanto, somente sete anos depois, no mesmo ano em que o tráfico de escravos 
foi proibido, prevendo assim o fim da mão de obra escrava, a Lei n. 601/1850, a Lei 
de Terras, foi finalmente promulgada. (SMITH, 1990) 
A Lei de Terras 
Um segundo marco significativo na história fundiária brasileira foi a 
promulgação da Lei de Terras de 1850, essa lei estabeleceu que a propriedade da 
terra só poderia ser legitimada por meio da compra. Antes dessa legislação, o Estado 
tinha a possibilidade de conceder terras. No entanto, na prática, apenas um pequeno 
número de pessoas no Brasil Imperial tinha recursos financeiros para adquirir terras, 
o que tornava praticamente impossível para ex-escravos e imigrantes pobres terem 
acesso à terra. 
O resultado foi a manutenção de uma estrutura fundiária altamente 
concentrada nas mãos de poucos proprietários. Mendes (2009) destaca que a Lei de 
Terras estava interligada a outra legislação importante: a Lei Eusébio de Queiroz, Lei 
nº 581, de 4 de setembro de 1850. Essa lei, aprovada no mesmo ano sob pressão 
britânica, proibia o tráfico de escravos para o Brasil, tornando definitivamente ilegal a 
importação de escravos africanos. Com a escassez de novos escravos para servirem 
como mão-de-obra nas grandes propriedades rurais, era essencial impedir que os 
imigrantes se tornassem pequenos proprietários. Sem acesso à terra, eles seriam 
forçados a trabalhar para os latifundiários (MAKINO, 2022). 
A Constituição de 1891 
O período da história brasileira conhecido como República Velha (1889-1930) 
é amplamente caracterizado, de acordo com a maioria dos historiadores, como um 
período em que o poder político estava firmemente nas mãos das oligarquias rurais. 
Em outras palavras, durante a República Velha, o Estado brasileiro estava 
efetivamente a serviço dos interesses dos grandes latifundiários e atuava para 
neutralizar qualquer potencial oposição a essas elites. Isso significa que todos os 
ramos do aparelho estatal (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como as agências 
coercitivas (Polícia e Forças Armadas), estavam alinhados com a questão da 
 
29 
 
propriedade rural e a estrutura fundiária existente, frequentemente em detrimento dos 
interesses dos camponeses, pequenos e médios agricultores (MAKINO, 2022). 
A Constituição de 1891 é um marco adicional na história fundiária brasileira, 
pois transferiu para os estados muitas das competências relativas à regulamentação 
das terras que anteriormente estavam sob o controle do governo central. Ela permitiu 
a legalização de terras que eram anteriormente consideradas públicas ou 
comunitárias, ocupadas por sociedades tradicionais (como as indígenas), sem título 
de propriedade privada. No entanto, os órgãos encarregados de regularizar essas 
terras frequentemente mantinham ligações de clientelismo ou vínculos familiares com 
os grandes proprietários de terras. 
Os principais resultados da modernização conservadora incluíram o aumento 
da produção e produtividade agrícola no Brasil, ao mesmo tempo em que houve um 
processo deconcentração fundiária, bem como um significativo êxodo rural. Este 
último fenômeno envolveu o deslocamento dos camponeses e trabalhadores rurais 
para as periferias das cidades, que experimentaram crescimento desordenado, 
frequentemente carente de infraestrutura ou planejamento adequado. Muitas dessas 
pessoas, sem qualificações específicas, não conseguiram melhorar suas condições 
de vida nas áreas urbanas. 
O primeiro Código Civil brasileiro adveio durante a vigência da Constituição 
de 1891, através da Lei 3.071, datada de 1º de janeiro de 1916. Ele possuía 1.807 
artigos, e destaca-se que a propriedade privada e a liberdade contratual alcançaram 
uma tutela absoluta sem hipótese de reavaliação. Clóvis Bevilaqua, quando da 
elaboração do Código Civil de 1916, conceituou propriedade como “o poder 
assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida, física e moral” (CRUZ, 
GHIDORSI, 2023). 
É cediço salientar que durante a evolução legislativa brasileira no que 
concerne à estrutura fundiária, a Lei buscou harmonizar os interesses individuais e o 
cumprimento da função social, ou seja, o direito de propriedade não pode ser exercício 
contra o interesse social ou coletivo. Durante o Regime Militar, foi editada a Lei 
4.504/1964 – Estatuto da Terra, a qual introduziu uma vultuosa modificação no âmbito 
político e jurídico, bem como na organização fundiária. O Estatuto da Terra seguiu 
admitindo o sistema de posse, no entanto, modernizou-o no intuito de exigir o registro 
de todos os imóveis, públicos e privados, incluindo os de posse, de forma a instigar a 
 
30 
 
produtividade com a finalidade de proporcionar meios de realização da reforma 
agrária. A Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988 institui o direito de 
propriedade como fundamental, desde que atenda à função social (CRUZ, 
GHIDORSI, 2023). 
 
4 REFORMA AGRÁRIA 
O Brasil enfrenta um dos maiores índices de concentração de terras do 
mundo, caracterizado por uma estrutura fundiária desigual e antiquada. Essa 
realidade representa um dos principais obstáculos ao desenvolvimento social, político 
e econômico do país. A implementação de uma reforma agrária desempenharia um 
papel fundamental na resolução dos problemas que afetam milhões de famílias de 
trabalhadores rurais, incluindo os sem-terra, posseiros, boias-frias e outros grupos. 
Nesse contexto, a busca por um pedaço de terra para o cultivo 
frequentemente resulta em conflitos no campo, com milhares de vítimas todos os 
anos. Isso ressalta não apenas a necessidade premente de uma reforma agrária, mas 
também a urgência de oferecer apoio aos agricultores para que possam produzir e 
comercializar seus produtos de maneira mais eficaz. 
A reforma agrária está intimamente ligada à valorização da agricultura familiar, 
que desempenha um papel fundamental na garantia da segurança alimentar da 
população, assegurando o acesso a alimentos básicos, como leite, arroz, feijão, 
carnes, hortaliças e muito mais no dia a dia. Para alcançar esse objetivo, é necessário 
promover a redistribuição da terra, introduzindo modificações no sistema de posse e 
uso da terra, conforme estabelecido no Estatuto da Terra. Este estatuto regulamenta 
os direitos e obrigações relacionados a propriedades rurais e é essencial para a 
execução da reforma agrária e a promoção de políticas agrícolas. 
Essas medidas contribuem para desafiar a concentração de terras e 
democratizar a estrutura fundiária, o que é vital para fomentar a produção diversificada 
de alimentos e promover a policultura. Além disso, estimula a criação de empregos e 
a geração de renda nas áreas rurais. Portanto, quando a reforma agrária é 
efetivamente implementada, ela se traduz em um eficaz combate à fome e à miséria, 
ao mesmo tempo em que favorece a interiorização de serviços públicos essenciais 
para a população rural. Isso pode reduzir a migração do campo para a cidade. Do 
ponto de vista econômico, a reforma agrária amplia as oportunidades para 
 
31 
 
diversificação do comércio e dos serviços nas áreas rurais, contribuindo assim para 
uma maior democratização das estruturas de poder no campo. 
4.1 As transformações do espaço agrário e a luta pela reforma agrária 
A evolução da agricultura brasileira ao longo da história do Brasil foi marcada 
por várias transformações e crises em seus ciclos produtivos, que abalaram a 
economia do país, predominantemente agrícola até a década de 1930. A intensa 
migração rural provocada pelo processo de industrialização a partir da década de 
1930 resultou na marginalização dos trabalhadores rurais, que se dirigiram às cidades 
em busca de melhores condições de vida. No entanto, muitos deles se depararam 
com desemprego, subemprego e exploração, além de enfrentar questões como a 
mais-valia e a marginalização nas periferias dos grandes centros urbanos (ROCHA; 
CABRAL, 2016). 
Os trabalhadores rurais foram explorados e marginalizados desde os tempos 
da colonização brasileira. No século XX, o espaço agrário do Brasil passou por 
profundas transformações, incluindo o surgimento da luta pela Reforma Agrária, que 
se tornou uma política pública destinada a solucionar os problemas fundiários do país. 
A luta pela Reforma Agrária ganhou força, principalmente a partir da década de 1950, 
com o crescimento das ligas camponesas. Vale ressaltar que existe uma distinção 
importante entre a luta pela terra e a luta pela Reforma Agrária. A luta pela terra 
sempre foi uma batalha constante dos camponeses e surgiu como uma resposta ao 
latifúndio, enquanto a luta pela Reforma Agrária é um movimento mais recente. 
(ROCHA; CABRAL, 2016). 
Reforma agrária, segundo Brum (1986, p. 83), 
 É a intervenção deliberada do Estado nas bases do setor agrícola, para a 
modificação da estrutura agrícola de um país, ou região, com vista a uma 
distribuição mais equitativa da terra e da renda agrícola. [...] Trata-se de uma 
opção governamental, uma decisão política e planejada para orientar o 
desenvolvimento de acordo com determinada linha de pensamento. 
Segundo Leite e Ávila (2007, p. 126), 
A concepção de reforma agrária que nos parece mais adequada é aquela 
compreendida não somente como uma política de distribuição de ativos 
fundiários (o que poderia ser traduzido em inglês por land reform), mas como 
um processo mais geral – agrário, e não apenas fundiário (o que em inglês 
se diferencia pelo termo agrarian reform) – envolvendo o acesso aos recursos 
naturais (terra, água, cobertura vegetal no caso dos trabalhadores 
 
32 
 
extrativistas etc.) ao financiamento, à tecnologia, ao mercado de produtos e 
de trabalho e, especialmente, à distribuição do poder político. 
De acordo com Veiga (2006), a Reforma Agrária é uma alteração na estrutura 
fundiária de uma nação ou região, buscando uma distribuição mais justa da terra e da 
renda agrícola. Por outro lado, Fernandes (2001) define a questão agrária como o 
conjunto de problemas relacionados ao desenvolvimento da agricultura e às lutas de 
resistência dos trabalhadores, problemas esses que são inerentes ao processo 
desigual e contraditório das relações capitalistas de produção (TREVISOL, 2013). 
4.2 Que terra seria objeto de reforma agrária? 
De acordo com Brum (1986), para a realocação desses grupos de 
trabalhadores rurais que se beneficiam da reforma agrária, inicialmente, se considera 
a disponibilidade de terras que totaliza 409,5 milhões de hectares, que pertencem a 
grandes latifúndios em termos de tamanho e exploração, além de aproximadamente 
72 milhões de hectares de terras sob propriedade da União. 
A quem distribuir as terras desapropriadas? 
Segundo Brum (1986): 
• Aos que atualmente trabalham no imóvel desapropriado, como 
posseiros, assalariados, parceiros ou arrendatários. 
• Aos líderes de famílias numerosas, cujos membros se comprometam a 
se envolver em atividades agrícolas nas áreas a serem distribuídas. 
• Aos jovens quetenham a intenção de estabelecer uma família e se 
dedicar a atividades agrícolas. 
• Aos agricultores cujas terras se destinem ao seu próprio sustento e ao 
progresso de suas famílias, conforme devidamente comprovado. 
• Aos trabalhadores sazonais (boias-frias) que desejam retornar 
permanentemente às atividades no campo. 
• Àqueles que estão registrados pelo movimento dos sem-terra. 
Objetivo da reforma agrária 
Segundo Leite e Ávila (2007 p. 15), 
 
33 
 
A reforma agrária tem por objetivo proporcionar a redistribuição das 
propriedades rurais, ou seja, efetuar a distribuição da terra para a realização 
de sua função social. Esse processo é realizado pelo Estado, que compra ou 
desapropria terras de grandes latifundiários (proprietários de grandes 
extensões de terra, cuja maior parte aproveitável não é utilizada) e distribui 
lotes de terras para famílias camponesas. 
Entendemos que atualmente metade da população mundial vive em situações 
de pobreza, sendo que essa condição afeta, em grande medida, a população rural. 
De acordo com Leite e Ávila (2007, p. 59), diante desse cenário, torna-se evidente a 
importância de políticas redistributivas, como a reforma agrária. Isso ocorre porque o 
principal objetivo de uma sociedade não se resume apenas ao crescimento 
populacional, mas sim à melhoria das condições de vida de sua população. Isso pode 
ser alcançado, entre outras estratégias, por meio da distribuição de recursos 
fundiários que permitam a subsistência e a independência da população em relação 
às estruturas tradicionais detentoras do poder político. 
De acordo com Brum (1986), a reforma agrária possui diversos objetivos, 
entre os quais destacam-se: 
• Garantir o acesso à propriedade, posse e uso da terra, considerando a sua 
função social. 
• Promover uma reestruturação da distribuição fundiária, com a eliminação 
gradual do latifúndio e minifúndio, assegurando um regime de posse e uso que 
atenda aos princípios de justiça social e promova o aumento da produção 
socioeconômica, bem como o reconhecimento dos direitos de cidadania dos 
trabalhadores rurais e suas famílias, contribuindo para o desenvolvimento do 
país. 
• Aumentar a produção e oferta de alimentos e matérias-primas, com prioridade 
para o mercado interno. 
• Criar novas oportunidades de emprego no meio rural, contribuindo para a 
expansão do mercado interno e reduzindo a subutilização da força de trabalho. 
• Combater o êxodo rural e seus impactos nas áreas urbanas, aliviando as 
pressões demográficas sobre as cidades e os problemas correlacionados. 
• Oferecer novas perspectivas de vida e trabalho para os desempregados e 
subempregados nas cidades, ao estimular a atividade econômica urbana 
(indústria, comércio, serviços) devido ao aumento da capacidade de produção, 
demanda e consumo da população rural. 
 
34 
 
 
 
4.3 Os movimentos sociais no campo 
Para compreender os movimentos sociais no campo, especialmente durante 
o século XX, podemos utilizar uma periodização sugerida por Warren (1993). Essa 
periodização é a seguinte: 
• Ocorrência de movimentos sociais que se organizaram até o golpe de 1964; 
• Período de refluxo, marcado pela repressão militar às manifestações da 
sociedade civil ocorridas nas décadas de 1960 a 1970; 
• Retomada das manifestações e surgimento de novas formas de organização 
camponesa a partir da segunda metade da década de 1970. 
Segundo Warren (1993, p. 66), 
[...] Como referência aos primeiros movimentos sociais podemos nos reportar 
aos inúmeros movimentos messiânicos que se têm organizado tanto no Norte 
como no Sul do país, principalmente nas três primeiras décadas deste século. 
As lutas dos posseiros, na década de 50. As ligas camponesas no Nordeste 
e o MASTER (Movimento dos Agricultores Sem Terra), no Rio Grande do Sul, 
durante a década de 50 e 60, organizados, como os movimentos anteriores 
em torno de fortes lideranças carismáticas sindicais no Brasil, surgem 
fortemente atrelados ao Estado e rapidamente se tornam uma instituição de 
caráter predominantemente assistencial. 
Falando das novas formas de organização camponesas, surgidas nas últimas 
décadas, Warren (1993) destaca: 
• O Movimento das barragens, que teve início a partir de 1976, sendo notáveis 
os casos de Sobradinho e Itaparica no Nordeste, seguidos por Itaipu Binacional 
em 1978 e, na década de 80, nas áreas afetadas pela construção de barragens 
na Bacia do Uruguai, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre 
outras regiões. 
• O Movimento dos sem-terra, que surgiu a partir de 1979 e ganhou particular 
força nas regiões sul e sudeste do Brasil. Alcançou seu apogeu em 1985, 
quando ocorreram diversas ocupações coletivas de terras como forma de 
protesto. 
É importante ressaltar que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 
(MST) é o mais conhecido entre os aproximadamente 20 movimentos sociais 
populares rurais no Brasil atualmente. Embora seu foco central seja a luta pelo acesso 
 
35 
 
à terra e pelo fim do latifúndio, o MST também se envolve em diversas outras 
questões, como a participação de desempregados urbanos, moradores de rua, 
oposição ao modelo econômico e políticas neoliberais, além de buscar a articulação 
com outros movimentos sociais (TREVISOL, 2013). 
• O Movimento das Mulheres Agricultoras, que teve início a partir de 1981, se 
destaca não apenas por suas lutas específicas, mas também por seu 
envolvimento na questão da terra. Este movimento tem contribuído para 
fortalecer os movimentos das barragens e dos sem-terra. 
Estes movimentos camponeses têm se influenciado mutuamente e contam 
com o apoio de uma corrente do sindicalismo rural conhecida como "novo 
sindicalismo" ou "sindicalismo combativo". Simultaneamente, esses movimentos 
também desempenham um papel ativo no estímulo à renovação sindical. 
Outros movimentos surgiram no mesmo período, muitas vezes com a ajuda 
de sindicalistas e agentes de pastorais ligados às igrejas progressistas. Estes 
movimentos adotaram uma abordagem de fazer política que teve repercussões em 
nível nacional. Isso é descrito por Warren (1993) como um novo modo de fazer 
política. 
• Movimentos dos Saques no Nordeste: Esses movimentos ocorreram durante o 
período de seca entre 1979 e 1983 no Nordeste do Brasil. Inicialmente, eles 
podem parecer uma exploração de massas, especialmente de mulheres. No 
entanto, esses movimentos também incorporaram elementos de contestação 
social. 
• Movimentos de Boias-Frias: Esses movimentos consistiram em greves de 
trabalhadores assalariados temporários da agricultura, começando no final da 
década de 1970. Essencialmente, essas greves representavam reivindicações 
trabalhistas tradicionais, buscando melhorias nas condições de trabalho e nos 
salários. 
A distinção entre os “antigos” movimentos sociais e os “novos” movimentos 
sociais pode ser identificada nas formas de organização e condução de suas lutas. 
De acordo com Warren (1993), os movimentos sociais antigos 
predominantemente adotavam práticas clientelistas e paternalistas na política. Em 
algumas ocasiões, recorriam à democracia representativa, enquanto em outras não 
hesitavam em usar a violência física. Por outro lado, as novas formas de organização 
 
36 
 
no campo valorizavam a participação ampla das bases e a democracia direta sempre 
que possível. Ideologicamente, se opunham ao autoritarismo, à centralização do 
poder e à violência física. 
As lutas pela terra e pela reforma agrária se intensificaram a partir da segunda 
metade do século XX, resultando em conflitos agrários em todo o Brasil. Os 
trabalhadores ligados à terra resistem e lutam pela conquista de um pedaço de chão. 
Quando conseguem acesso à terra, persistem na luta para produzir e manter suas 
famílias, enfrentando inúmeras adversidades. Esse movimento visa à construção de 
uma sociedade mais justa, que respeite a diversidade cultural e de gênero,assegure 
o direito à terra para quem nela trabalha e vive, e reconheça a organização e 
representação dos trabalhadores, promovendo assim uma cidadania mais abrangente 
(ROCHA; CABRAL, 2016). 
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) teve suas origens 
em 1979, com a ocupação da Gleba Macali, localizada no município de Ronda Altas, 
no Rio Grande do Sul. Essas terras já haviam sido alvo de lutas pela terra na década 
de 1960, quando o MASTER (Movimento dos Agricultores Sem Terra) organizou 
acampamentos na região. No entanto, o MST foi oficialmente estabelecido em 1984, 
durante o 1º Encontro dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizado em Cascavel, 
no Paraná. Ao longo de sua trajetória, o MST conquistou seu espaço político. 
O Estatuto da Terra, criado em 1964 durante a Ditadura Militar, estabeleceu 
diretrizes e ações para a realização da reforma agrária no Brasil. Entretanto, sua 
efetiva implementação não ocorreu. Somente após a redemocratização em 1985, foi 
elaborado o primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária. Esse plano enfrentou forte 
oposição por parte dos ruralistas, que criaram a União Democrática Ruralista (UDR) 
para resistir à nova configuração proposta para o campo. Devido a essa oposição, o 
Plano Nacional de Reforma Agrária não foi efetivamente implementado (ROCHA; 
CABRAL, 2016). 
4.4 O modelo “legal” de Reforma Agrária no Brasil 
A política de Reforma Agrária encontra respaldo no Capítulo III da 
Constituição Federal (CF) de 1988 e é regulamentada pelas Leis nº 4.504/1964 
(Estatuto da Terra) e nº 8.629/1993, que estabelecem diretrizes relacionadas ao 
 
37 
 
assunto. O princípio constitucional que embasa a desapropriação de terras privadas 
para a execução da Reforma Agrária é o da função social. 
De acordo com o Art. 186 da CF, 
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, 
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em 
lei, aos seguintes requisitos: 
I - aproveitamento racional e adequado; 
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do 
meio ambiente; 
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos 
trabalhadores. 
O Estatuto da Terra, em seu Artigo 33, estipula que a Reforma Agrária será 
efetivada por meio de planos periódicos, abrangendo âmbitos nacionais e regionais, 
com prazos e objetivos específicos, de acordo com projetos apropriados. 
Chama atenção o fato de que o primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária 
(I PNRA) somente foi desenvolvido em 1986, o que representa um intervalo de 22 
anos desde a promulgação do Estatuto da Terra. Essa demora revela que a 
promulgação do Estatuto tinha mais a ver com a necessidade de responder às 
demandas sociais já existentes antes mesmo do regime militar, do que com a intenção 
real de implementação. Essa postura contrariava um dos pilares do regime militar, que 
era a preservação dos interesses dos grupos oligárquicos vinculados à posse de 
terras. 
É relevante ressaltar que o Estatuto da Terra não abrangia somente a questão 
agrária, mas também políticas voltadas para a modernização da agricultura e a 
colonização. Diferentemente das medidas relacionadas à Reforma Agrária, que 
enfrentaram atrasos em sua execução, as ações voltadas à modernização agrícola e 
colonização foram efetivadas, ainda que parcialmente. A formulação do I PNRA, 
apesar do atraso, não ocorreu sem resistência, gerando ampla mobilização das forças 
conservadoras, notadamente através da União Democrática Ruralista (UDR). Como 
veremos a seguir. 
A formulação do II Plano Nacional de Reforma Agrária (II PNRA) só se 
concretizou em 2003, quase quatro décadas após a promulgação do Estatuto da Terra 
e 17 anos após o I PNRA. Essa extensa demora carece de justificação, especialmente 
considerando que o primeiro plano originalmente abordava a implementação de ações 
 
38 
 
em um prazo de apenas quatro anos. Importa ressaltar que esse período coincidiu 
com uma fase democrática no país, com plena liberdade política. 
Conforme Nelson Ribeiro, que ocupou o cargo de Ministro da Reforma Agrária 
durante os dois primeiros anos do governo José Sarney, o legislador brasileiro 
reconhecia que apenas a Reforma Agrária planejada seria capaz de enfrentar o 
desafio de proporções gigantescas representado pela questão agrária no Brasil. 
Portanto, o Estatuto da Terra previa a elaboração de planos periódicos com essa 
finalidade. 
A efetivação da política de Reforma Agrária, na prática, frequentemente 
ocorre como resposta a conflitos entre latifundiários e camponeses. Inicialmente, o 
Estado costuma agir reprimindo os camponeses. Quando os conflitos ganham 
visibilidade e obtêm apoio social, o Estado atua no sentido de assentar as famílias de 
sem-terra. 
A velocidade da execução dos assentamentos também depende da 
repercussão e do apoio da sociedade às famílias camponesas. Portanto, é comum 
que os movimentos sociais ligados à Reforma Agrária organizem mobilizações para 
chamar a atenção do público e pressionar as autoridades a implementarem as ações 
necessárias. 
Conforme a legislação vigente, os assentamentos da Reforma Agrária devem 
cumprir três fases de execução antes de alcançarem a emancipação: criação, 
implantação e estruturação. 
Na fase de criação, o governo é responsável por viabilizar a construção de 
habitações para acomodar as famílias assentadas, abrir estradas, instalar uma rede 
de energia elétrica, conceder créditos para fins de produção e oferecer assistência 
técnica. 
Na fase de implantação, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária (Incra) divide a terra em lotes, instala as famílias beneficiadas e disponibiliza 
as primeiras linhas de crédito subsidiado. Esses créditos, conhecidos como “Crédito 
Instalação”, englobam o Crédito de Apoio Inicial, Crédito de Fomento, Fomento 
Mulher, Semiárido, Florestal, Recuperação Ambiental, Cacau, Habitacional e Reforma 
Habitacional. 
 
39 
 
Na terceira e última fase, a de estruturação, os assentamentos devem ser 
providos de toda a infraestrutura básica, abrangendo estradas vicinais, saneamento 
básico, eletricidade, entre outros. 
Durante essas três fases, os assentamentos permanecem sob a 
responsabilidade do Incra. Durante esse período, “os beneficiários não poderão 
vender, alugar, doar, arrendar ou emprestar suas terras a terceiros”. Somente após a 
conclusão integral dos projetos, os assentamentos são emancipados e as famílias 
recebem a titulação definitiva das terras. 
De acordo com a análise de Carter (2010), a política de Reforma Agrária no 
Brasil é considerada conservadora, uma vez que se mostra reativa e contida. Ela 
responde a protestos sociais e lida com demandas específicas para mitigar conflitos 
rurais. Após o assentamento das famílias, estas recebem um apoio limitado ou até 
mesmo nenhum, sendo que a assistência do Estado é, principalmente, uma reação 
às agitações dos agricultores. 
No entanto, como ressaltado por Esquerdo e Bergamasco (2015), a 
transformação do latifúndio em um assentamento rural equivale à construção de um 
novo território, que requer condições adequadas para a subsistência das famílias. Isso 
implica na criação de uma nova lógica de organização do espaço geográfico. 
5 AGRICULTURA FAMILIAR 
Existem diversos critérios para classificar a agricultura. Quando se considera 
o critério da finalidade, podemos distinguir entre agricultura de subsistência, destinada 
à alimentação própria, e agricultura comercial, focada na obtenção de lucro para o 
produtor e intermediários comerciais. Quando levamos em conta o critério da técnica, 
observamos a agricultura tradicional, que utiliza práticas transmitidas de geração em 
geração, a agricultura moderna, que emprega amplamente tecnologia avançada, e a 
agricultura orgânica, que prioriza a sustentabilidade e a preservaçãoambiental. Com 
base no critério do tipo de produto, é possível categorizar a “modelo texano”, 
caracterizada por produtos padronizados e intercambiáveis, e a “modelo californiano”, 
que busca oferecer produtos diferenciados, raros e exclusivos. Quanto ao critério do 
tipo de mão de obra, alguns autores distinguem a agricultura patronal, que envolve 
relações de empregador e empregado, da agricultura familiar, baseada na cooperação 
entre pessoas com laços de parentesco. 
 
40 
 
A agricultura familiar é um dos temas mais amplamente abordados na 
Sociologia Rural em todo o mundo. No entanto, isso não implica que a expressão se 
refira exatamente ao mesmo fenômeno, pois não há uma única definição consensual. 
Existem várias definições com natureza predominantemente acadêmica (sociológica, 
antropológica, econômica, etc.), bem como aquelas de natureza jurídica. Nesse 
sentido, a comparação de estudos sobre a agricultura familiar em diferentes países 
realizados por pesquisadores distintos pode ser desafiadora, uma vez que cada um 
aborda a definição de maneira singular. 
5.1 Duas definições de agricultura familiar: a brasileira e a estadunidense 
A terminologia “agricultura familiar” pode suscitar a ideia de pequenos 
agricultores envolvidos em práticas de subsistência, com lucros limitados e técnicas 
tradicionais, o que pode parecer incompatível com o contexto atual, marcado pela 
produção em larga escala e pela sociedade de consumo. Outra imagem comum 
associada a essa expressão é a de um estilo de vida idílico, caracterizado pela 
simplicidade, saúde e afastamento dos aspectos prejudiciais da sociedade moderna. 
No entanto, conforme destacado por Wilkinson (1996): 
“Num primeiro momento focalizei a minha análise sobre o papel do 
campesinato e a pequena produção, não como vestígio do passado ou atores 
com uma capacidade peculiar de resistência em face dos processos de 
modernização, mas como um elo privilegiado do complexo agroindustrial que 
representava a forma de modernização capitalista da agricultura” 
(WILKINSON, 1996, p. 81). 
O renomado pesquisador citado é amplamente reconhecido por sua análise 
da agricultura familiar dentro de um contexto agroindustrial mais abrangente, 
revelando que essa modalidade não apenas é compatível com a modernidade, mas 
está inteiramente integrada a um amplo panorama socioeconômico. Em outras 
palavras, a agricultura familiar está intrincadamente conectada a uma complexa rede 
que abrange produção, comercialização e transformação, contudo, essa rede muitas 
vezes fica obscurecida por questões ou temas mais proeminentes. 
Consequentemente, é vital entender que esse tipo de agricultura não deve ser 
automaticamente associado a atraso ou simplicidade. 
Navarro e Pedroso (2011), destacam que nos Estados Unidos, para ser 
considerada agricultura familiar, apenas um critério deve ser atendido: a gestão ou 
 
41 
 
administração familiar da unidade de produção rural. No entanto, no Brasil, os critérios 
que definem a agricultura familiar são numerosos e tendem a favorecer uma 
abordagem de pequena escala. Os autores sugerem que a natureza desses critérios 
deriva de uma idealização de um mundo rural com minifúndios ou uma comunidade 
de pequenos agricultores, assemelhando-se ao mito jeffersoniano. Esses critérios 
poderiam, em certo sentido, desencorajar os agricultores familiares de expandir seus 
negócios e se tornarem grandes empreendedores no agronegócio. 
De acordo com os autores mencionados e, sobretudo, no sistema de 
classificação proposto por Vieira (2016), há uma lacuna quando se trata de considerar 
a questão da exploração ou da mais-valia na agricultura familiar. Parece que se parte 
do pressuposto de que a família é uma unidade em que a exploração e a opressão 
mútua não ocorrem, ou que os filhos não podem ser economicamente explorados por 
seus responsáveis, o que nem sempre reflete a realidade. Além disso, a agricultura 
familiar pode contratar mão-de-obra externa à família, demonstrando, assim, a 
complexidade desse fenômeno. 
Navarro e Pedroso (2011) observam que o caso dos Estados Unidos é de 
grande interesse para análise sob uma perspectiva histórica, uma vez que sua 
definição mais abrangente de agricultura familiar pode fornecer insights valiosos para 
o contexto brasileiro. Ao longo de cerca de um século, pelo menos cinco tendências 
podem ser identificadas na evolução da agricultura familiar nos Estados Unidos: 1) a 
redução no número total de estabelecimentos rurais; 2) o esvaziamento demográfico 
das regiões rurais; 3) o aumento da média de tamanho dos estabelecimentos rurais; 
4) a transformação das atividades agrícolas em empreendimentos capitalizados, 
abandonando em grande parte a subsistência; e 5) dependendo do tipo de cultura, 
uma maior participação de mão-de-obra não familiar em relação à mão-de-obra 
familiar. 
Os autores supracitados podem encarar de maneira positiva a quarta e a 
quinta tendência (capitalização e geração de empregos), pois elas se alinham ao 
desenvolvimento capitalista, com ênfase no crescimento econômico como objetivo 
primordial. No entanto, é importante observar que transplantar um modelo de 
agricultura familiar dos Estados Unidos para o Brasil, que reforça a concentração de 
terras e o êxodo rural, pode ser contraproducente e agravar os desafios relacionados 
à questão agrária no país (MAKINO, 2022). 
 
42 
 
No contexto brasileiro, a agricultura familiar é definida legalmente pela Lei nº 
11.326/2006, estabelecendo quatro critérios que devem ser cumpridos 
simultaneamente: (1) a propriedade não deve ter uma área superior a 4 módulos 
fiscais; (2) a mão-de-obra utilizada nas atividades econômicas do estabelecimento ou 
empreendimento deve ser composta pela própria família; (3) deve haver um 
percentual mínimo de renda familiar proveniente das atividades econômicas ou 
empreendimento, conforme determinado pelo Poder Executivo; e (4) a gestão do 
estabelecimento ou empreendimento deve ser realizada pela família. 
Vale ressaltar que o módulo fiscal é uma unidade agrária medida em hectares, 
calculada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e sua 
dimensão varia de acordo com o município. Em algumas localidades, o módulo fiscal 
pode corresponder a 5 hectares, enquanto em outras, ultrapassa 100 hectares. Isso 
significa que o que é considerado como agricultura familiar em uma região do Brasil 
pode não se enquadrar nesse conceito em outra região do país. 
5.2 PRONAF – Programa Nacional De Fortalecimento Da Agricultura Familiar 
Como mencionado anteriormente, a mera redistribuição de terras desprovida 
das condições necessárias para a produção equivale a condenar o Plano Nacional de 
Reforma Agrária (PNRA) ao fracasso. Nesse contexto, o Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) foi estabelecido como uma política 
pública destinada a fornecer essas condições de produção, principalmente por meio 
do apoio financeiro para despesas correntes e investimentos. Isso engloba a aquisição 
de insumos como sementes, fertilizantes, pesticidas, ferramentas e equipamentos. 
Além disso, abrange a implantação, expansão ou modernização de 
infraestrutura produtiva, processamento, industrialização e serviços tanto nos 
estabelecimentos rurais como em áreas comunitárias rurais próximas. Enquanto os 
grandes latifundiários tinham acesso ao financiamento por meio de bancos comerciais 
privados, os pequenos agricultores familiares e os assentados do PNRA 
frequentemente enfrentavam dificuldades para obter esses recursos. Portanto, o 
PRONAF, que surgiu para preencher essa lacuna, junto com o PNRA, constituem, 
muito provavelmente, as duas políticas públicas mais significativas voltadas para o 
benefício dos pequenos agricultores e do campesinato na história do Brasil, embora 
existam outras políticas importantes (MAKINO, 2022). 
 
43 
 
Dado que os pequenosagricultores constituem um grupo extremamente 
heterogêneo, e considerando as diversas particularidades regionais do Brasil, o 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) adotou uma 
abordagem que categoriza seus potenciais beneficiários em grupos (A, A/C e B), bem 
como estabeleceu subprogramas e linhas de crédito específicas (como o PRONAF 
Jovem, PRONAF Mulher, PRONAF Semiárido, PRONAF Floresta, PRONAF 
Agroecologia, entre outros). Essa estratégia visa constantemente a adaptar esses 
grupos, subprogramas e linhas de crédito, a fim de melhor atender às variadas 
necessidades dos agricultores. 
Em um estudo conduzido por Guanziroli (2017), que analisou o período de 
uma década do PRONAF (1995-2005), o autor argumentou que o programa não 
deveria ser encerrado, mas sim aprimorado. Essa melhoria deve ser baseada na 
identificação dos problemas e fatores que impediram o programa de atingir todo o seu 
potencial, superando essas barreiras. Os quatro principais obstáculos identificados 
incluem: 
1. A ausência ou a insuficiente qualidade da assistência técnica; 
2. Desafios na gestão dos recursos; 
3. Falta de perspectiva por parte dos profissionais; 
4. Limitações no acesso ao mercado. 
Naquela ocasião, o autor notou que a maioria das famílias que recorria ao 
programa proveniente do sul do país, e esse fenômeno se deve ao nível de instrução 
mais elevado dessas famílias. Além disso, ele enfatizou, ao término do texto, que a 
eficácia e qualidade do programa têm diminuído com a expansão. 
Comparando a pesquisa de Guanziroli (2017), que se encerra em 2005, com 
a pesquisa mais atual de Bianchini (2015), notamos uma flutuação no número de 
contratos do PRONAF. Durante sua primeira década de existência, o programa 
registrou um significativo crescimento, mas, na segunda década, começou a 
apresentar uma tendência à diminuição: 
“Ao longo da década mais do que dobrou o número de contratos do PRONAF, 
2,5 milhões de contratos na safra 2005-06, 2,2 milhões de contratos na safra 
2012/2013 e 1,897 milhão de contratos na safra 2014/2015, contra uma 
média de 900 mil contratos no segundo período do Governo FHC” 
(BIANCHINI, 2015, p. 96). 
 
44 
 
O destino do PRONAF está inextricavelmente ligado ao futuro da agricultura 
familiar, e vice-versa. Qualquer decisão governamental de reduzir os recursos do 
programa ou negligenciar sua atualização pode resultar no enfraquecimento da 
agricultura familiar no Brasil. Da mesma forma, a desestruturação da agricultura 
familiar pode levar a uma redução nos contratos estabelecidos pelo programa. 
Além do PRONAF, outros programas têm se destacado como referência na 
promoção da agricultura familiar. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o 
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) são notáveis exemplos. No 
PNAE, especificamente, a legislação estabelece que pelo menos 30% dos recursos 
repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) devem 
ser utilizados para adquirir alimentos provenientes da agricultura familiar. Isso garante 
um mercado estável para os produtores locais, impulsionando a economia das regiões 
e municípios. Esses programas têm servido como modelos exemplares, sendo 
apontados como referência para outros países. (RIBEIRO; PEREIRA, 2015). 
A promulgação da Lei nº 11.947/2009, que estabelece a obrigatoriedade da 
compra de produtos da agricultura familiar, é um marco pioneiro e um avanço 
significativo no fornecimento de refeições de alta qualidade para os estudantes, 
garantindo pelo menos uma alimentação diária nutritiva. Além disso, o governo 
fornece subsídios para apoiar a aquisição de produtos destinados à alimentação 
escolar. Este programa desempenha um papel fundamental no aumento da renda dos 
produtores locais, consequentemente melhorando a qualidade de vida de suas 
famílias, prevenindo o êxodo rural e fomentando o desenvolvimento socioeconômico 
dos municípios (BERTOLINI; PAULA FILHO; MENDONÇA, 2020). 
5.3 Desafios à agricultura familiar no brasil 
A agricultura familiar, conforme a definição brasileira, enfrenta uma série de 
desafios no país, incluindo a falta de acesso à terra, a influência e resistência da elite 
latifundiária e as dificuldades de financiamento e comercialização de produtos. Como 
mencionado anteriormente, programas como o PRONAF e a cota de 30% do PNAE 
têm contribuído para mitigar algumas dessas questões. No entanto, existem desafios 
adicionais que ameaçam a própria continuidade da organização familiar voltada para 
a produção agropecuária. Por exemplo, muitas vezes os filhos de agricultores 
 
45 
 
familiares não enxergam um futuro no campo ou não encontram as condições 
necessárias para construí-lo. 
Nesse contexto, o estudo de Ellen Woortman (2012) aborda a complexidade 
de manter a agricultura familiar e seu modo de vida tradicional nas comunidades de 
ascendência alemã no Sul do Brasil ao longo das gerações. No século XX, diversos 
fatores contribuíram para essa transformação, incluindo a influência de valores mais 
individualistas, típicos do capitalismo liberal, e o aumento populacional diante da 
escassez de terras disponíveis na região. Consequentemente, ao longo de diversas 
gerações, a fragmentação da terra não apenas compromete a capacidade de 
reprodução social das famílias camponesas, mas também desencadeia processos 
que variam desde a concentração de propriedades por meio da compra de minifúndios 
pertencentes a várias famílias que não conseguem manter seu status camponês até 
a ocupação de terras que não estão sendo trabalhadas. 
Carneiro (1998), em seu estudo sobre jovens urbanos, cunha o termo 
“neorurais” para descrever a geração que mescla elementos urbanos e rurais e 
ressalta que a agricultura familiar está enfrentando uma ameaça geracional, 
decorrente das aspirações e valores associados à modernidade urbana. Muitos jovens 
de famílias rurais planejam um futuro que não inclui a continuação das atividades 
econômicas na propriedade familiar. Em grande parte dos casos, almejam viver na 
cidade e desempenhar profissões típicas do ambiente urbano. Embora haja uma 
notável discrepância entre esses planos juvenis e as realidades concretas que 
moldam as oportunidades e alternativas, a intensificação dessa tendência poderia 
levar ao esvaziamento das áreas rurais em um futuro próximo. 
5.4 Agriculturas Sustentáveis 
O conceito de desenvolvimento sustentável foi introduzido pela Organização 
das Nações Unidas (ONU) no contexto do estudo sobre mudanças climáticas, em 
resposta às crescentes preocupações ambientais. Seu propósito é mitigar os riscos 
associados ao impacto no meio ambiente e promover o desenvolvimento com menor 
impacto ambiental, adotando uma abordagem preventiva. Essa perspectiva é 
essencial para garantir a continuidade da vida humana no planeta com saúde, 
qualidade e dignidade (BEVILAQUA, 2016). 
 
46 
 
À medida que o mundo se torna cada vez mais globalizado, a ênfase na 
sustentabilidade se torna urgente e passa a ser um valor universal, essencial para 
preservar os recursos ambientais para as gerações futuras, incluindo nossos filhos e 
netos. A agricultura sustentável desempenha um papel fundamental ao satisfazer as 
necessidades humanas básicas, como água, alimentos, energia, vestuário e abrigo, 
permitindo a dignidade e a liberdade nas gerações atuais e vindouras. Essa 
perspectiva deve se centrar nas relações humanas, promovendo a solidariedade e a 
cooperação, enquanto destaca o papel das mulheres como protagonistas nesse 
processo de transformação. 
Com destreza e habilidade, as mulheres que atuam na agricultura abraçam 
os desafios da sustentabilidade com entusiasmo. Elas aplicam os ensinamentos e 
conhecimentos transmitidos de geração em geração, diversificando a produção em 
suas propriedades e priorizando a produção de alimentos. Isso fortalece sua 
autonomia e empoderamento, refletindo-senos aspectos sociais, ambientais e 
econômicos. O empreendedorismo feminino busca a qualidade de vida da família e a 
harmonia com o meio ambiente (BERTOLINI; PAULA FILHO; MENDONÇA, 2020). 
A agricultura sustentável se tornou um foco central da agricultura familiar 
devido à crescente pressão da sociedade por práticas que preservem os recursos 
naturais. Ela busca fornecer alimentos saudáveis e de alta qualidade nutricional sem 
ameaçar o meio ambiente, a saúde pública, o desenvolvimento tecnológico ou a 
segurança alimentar, garantindo assim os direitos básicos de todos os seres humanos 
(BEVILAQUA, 2016). 
A sociedade enfrenta um desafio significativo ao buscar viabilizar a agricultura 
familiar, promovendo melhorias na produção sem negligenciar o uso das tecnologias 
e, ao mesmo tempo, protegendo os recursos naturais. Para alcançar essa meta, é 
essencial evitar a degradação do solo, preservar a biodiversidade e manter a 
qualidade da água e do ar. Isso garantirá a sustentabilidade das propriedades, a 
qualidade de vida dos trabalhadores e tornará o campo uma opção atraente para as 
novas gerações. Além disso, a preservação da cultura local desempenha um papel 
vital, pois mantém a relação harmoniosa entre a natureza e o desenvolvimento da 
comunidade, ajudando a evitar o temido êxodo rural (BEVILAQUA, 2016). 
Não há dúvida de que a agricultura familiar deve ser fortalecida e expandida 
com o apoio de políticas públicas que demonstrem um compromisso com a 
 
47 
 
sustentabilidade em termos socioeconômicos e ambientais. Essa forma de agricultura 
desempenha um papel crucial na geração de mão de obra e na produção de alimentos 
saudáveis para os agricultores, desempenhando um papel essencial na segurança 
alimentar do país. Portanto, é imperativo que a sociedade concentre suas atenções 
nessa modalidade agrícola (BERTOLINI; PAULA FILHO; MENDONÇA, 2020). 
Para abordar o desafio da desvalorização enfrentado pela agricultura familiar, 
a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, no período de 2019 a 2028, um 
programa intitulado “Década das Nações Unidas para a Agricultura Familiar”. O 
principal propósito desse programa é promover a elaboração de políticas públicas que 
impulsionem o desenvolvimento agrícola, permitindo simultaneamente a 
sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. 
Esse esforço oferece uma plataforma para discussões sobre a realidade, as 
necessidades e a relevância da agricultura familiar, que desempenha um papel vital 
no fornecimento de alimentos a nível global. 
É importante ressaltar que a busca pela sustentabilidade requer ação imediata 
e coletiva, com destaque para o poder da educação como uma ferramenta crucial para 
a conscientização. Os educadores desempenham um papel fundamental na formação 
de opiniões, sendo de grande importância na construção de uma consciência voltada 
para a sustentabilidade ambiental. Esse trabalho deve ser implementado nas redes 
de ensino, abrangendo todas as etapas da educação, com ênfase na importância de 
iniciar esse processo o mais cedo possível, envolvendo as crianças na formação de 
opiniões sobre a preservação e conservação dos recursos naturais (REIS; LIMA; 
DESIDÉRIO, 2018). 
Portanto, as políticas educacionais devem priorizar a sensibilização em prol 
de uma consciência global, na qual todos tenham a oportunidade de adquirir valores, 
comportamentos e ética necessários para um futuro sustentável, com especial 
atenção às futuras gerações de agricultores familiares. 
A Contribuição da Agricultura Familiar para a Sustentabilidade 
A agricultura familiar representa uma atividade com capacidade para 
aumentar a produção de alimentos de forma economicamente viável, adotando 
práticas responsáveis com o meio ambiente e atendendo a uma demanda crescente 
por produtos saudáveis e frescos diretamente dos produtores. Essa abordagem 
 
48 
 
incorpora dimensões econômicas, sociais e ambientais, pois é conduzida pelo núcleo 
familiar e valoriza a terra como um bem comum dos membros, utilizada para suprir 
suas necessidades. A agricultura familiar promove a diversidade por meio da 
policultura, distribui equilibradamente os espaços e gera qualidade de vida (RIBEIRO, 
2017). 
É crucial ressaltar que o fortalecimento da agricultura familiar não só contribui 
para a sustentabilidade do meio ambiente, mas também beneficia os agricultores e a 
sociedade em âmbitos locais, regionais e nacionais. Dada a importância dessa 
atividade para a segurança alimentar e a conservação dos recursos naturais, é 
urgente o envolvimento de diversos setores da sociedade, com foco especial no poder 
público, para implementar ações direcionadas às pequenas propriedades rurais e 
evitar o abandono do campo, mitigando o êxodo rural e seus impactos 
socioeconômicos nas áreas urbanas. Observa-se que a falta de estímulo à sucessão 
familiar pode resultar no esvaziamento do meio rural, à medida que os jovens, filhos 
de agricultores, buscam novas oportunidades nos grandes centros urbanos 
(BERTOLINI; PAULA FILHO; MENDONÇA, 2020). 
6 RURALIDADE CONTEMPORÂNEA 
A concepção de ruralidade no Brasil é uma noção polissêmica e 
frequentemente controversa, relacionada à organização da vida social e à maneira 
como a sociedade interage com o espaço rural. De acordo com Sorokin et al., (1986), 
a diferenciação entre o rural e o urbano baseia-se em várias características, como 
ocupação, ambiente, tamanho das comunidades, densidade populacional, classes 
sociais e mobilidade. Uma dessas características é a ocupação, na qual a sociedade 
rural é composta por indivíduos dedicados principalmente a atividades agrícolas, 
como a coleta e o cultivo de plantas. Esse critério ocupacional é fundamental na 
definição da população rural. Para Sorokin et al., (1986): 
[...] o caráter da agricultura é radicalmente diferente de quase todas as 
ocupações urbanas (SOROKIN et al.,1986, p.201) 
Portanto, é imperativo explorar a emergência de uma nova concepção de 
ruralidade, na qual o espaço rural não se define exclusivamente pela atividade 
agrícola. Conforme Carneiro (1998), a pluriatividade é um fenômeno que surge no 
contexto rural devido à diversificação das ocupações, marcando o desaparecimento 
 
49 
 
do agricultor como uma figura em tempo integral na zona rural. Além disso, outra 
distinção significativa entre o rural e o urbano pode ser observada pelas características 
ambientais, relacionadas ao grau de artificialização do ecossistema. Esse aspecto 
envolve a predominância de paisagens naturais (ambientais) e a presença de 
pequenos aglomerados populacionais nas áreas rurais (AZEVEDO, 2017). 
Conforme a perspectiva de Veiga (2007), a comparação baseada em critérios 
ambientais e demográficos revela-se inadequada para definir o ordenamento territorial 
como rural ou urbano, uma vez que ambos os contextos dependem da interconexão 
entre si. Cidades e áreas rurais estão intrinsecamente ligadas, pois as cidades 
necessitam da proximidade das zonas rurais para abastecimento de recursos, da 
mesma forma que as áreas rurais dependem das oportunidades e produtividades 
geradas pelas cidades. 
No entanto, a delimitação de espaços rurais e urbanos no Brasil tem raízes no 
ordenamento territorial baseado em critérios físico-geográficos, que foram 
estabelecidos nas décadas de 1940 e 1950. Essa abordagem demarca áreas rurais 
principalmente por oposição e exclusão em relação às áreas urbanas. Diante desse 
cenário, em uma área de características rurais, a concepção de ruralidade pode ser 
compreendida como a habilidade de articular diversos atores, reconhecendo que esse 
espaço possui natureza essencialmente política, estratégica e ideológica, servindo 
como um instrumento de poder (AZEVEDO, 2017). 
Nesse contexto, a relação entre o urbano e o rural reflete a herança da 
formação econômica e social do Brasil, traçando as bases fundamentais para a 
construção desses espaçosque remontam ao período colonial. A compreensão 
adequada dessa interação é crucial para evitar distorções no planejamento e gestão 
das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural, como destacado por 
Wanderley (2000). 
Mas afinal, que tipo de ruralidade predomina nos amplos territórios do Brasil? 
Trata-se do chamado “novo rural brasileiro”, conceito cunhado por Maria José 
Carneiro (2004), caracterizado pela redução do peso da agricultura como sustentáculo 
das famílias, um fenômeno interpretado como indício da obsolescência de 
determinadas modalidades de agricultura familiar. Nos debates contemporâneos, 
essa realidade rural é frequentemente abordada sob as designações de “novo rural” 
ou “nova ruralidade”, sob forte influência de abordagens dicotômicas e tipológicas. 
 
50 
 
Nesse contexto, o conceito de ruralidade transcende fronteiras sociológicas e 
geográficas e origina-se como um espaço habitado por pequenas comunidades 
humanas que compartilham valores e uma história comum, baseados na fidelidade, 
no sentimento de pertencimento a uma determinada região e na ligação à família. 
Essa dinâmica específica resulta em práticas sociais, culturais e econômicas que 
valorizam a proximidade, a convivência, a cooperação e a colaboração. 
Assim, o conceito de ruralidade transcende tanto o âmbito sociológico quanto 
o geográfico, originando-se como um espaço habitado por pequenas comunidades 
humanas que compartilham valores mútuos e uma história comum, centrados na 
fidelidade, no sentimento de pertencimento a um determinado território e na ligação 
familiar. Nesse contexto, emerge uma dinâmica única, caracterizada por práticas 
sociais, culturais e econômicas fundamentadas na proximidade, na convivência, na 
cooperação e na solidariedade (MEDEIROS, 2017). 
 
Essa comunidade humana frequentemente se expressa por meio de um estilo 
de vida que integra o território com as relações sociais e a coesão da comunidade. 
Essas populações mantêm laços estreitos com o ambiente circundante, valorizando 
as identidades culturais das diversas comunidades. Vale ressaltar que a definição de 
ruralidade está sujeita a adaptações constantes devido às mudanças contínuas e à 
diversificação do ambiente rural. As atividades socioeconômicas evoluem, as 
paisagens se transformam, o manejo do território se modifica, a distribuição 
populacional se altera e as dinâmicas de vizinhança se ajustam de acordo com as 
transformações no meio rural. 
De acordo com Jean (2003), em uma civilização urbana, predominantemente 
pós-industrial e caracterizada pela desmaterialização da produção, ocorre uma 
ampliação do mito da natureza. A ruralidade passa a ser associada à natureza como 
uma fonte de descanso e tranquilidade. Essa natureza é frequentemente vista através 
de paisagens reais e idealizadas, sendo concebida como um elemento que contribui 
para uma melhor qualidade de vida. Além disso, ela é reconhecida como a base das 
atividades agrícolas, responsável pela produção de alimentos e pelo fortalecimento 
das conexões entre a cidade e o campo. Nesse contexto, a vida rural é muitas vezes 
percebida como caracterizada por relações pessoais, em contraste com a aparente 
impessoalidade das relações urbanas. 
 
51 
 
Isso levanta a questão: Será que o ambiente rural é mais ou menos complexo 
do que o ambiente urbano? 
Para abordar essa questão, é essencial compreender a realidade de cada 
local, município, região e território. Torna-se evidente que cada conceito carrega 
consigo suas próprias representações, ou seja, o que já existe e o que é previamente 
estabelecido. Nesse contexto, como Siqueira e Osório (1999, p.77) destacam: 
O conceito de rural, como muitos outros, é simultaneamente suficiente e 
insuficiente, porque a realidade não conhece classificações ou esquemas de 
qualquer espécie: nós é que os criamos para nos orientarmos na 
complexidade da existência, da realidade, a qual precisamos conhecer, seja 
através de teorias científicas, religiosas ou de senso comum. Para organizar 
a nossa experiência, nós emolduramos de várias formas a realidade, e o 
conceito de rural é uma delas. Mesmo os conceitos que se poderiam pensar 
os mais precisos e objetivos são calcados nas representações várias 
existentes sobre o aspecto da realidade que se pretende conceituar. 
O rural e o urbano, portanto, correspondem a representações sociais que 
estão sujeitas a reinterpretações e ressignificações, variando de acordo com o 
contexto simbólico a que se referem. 
A definição e compreensão da ruralidade podem ser abordadas como um 
modo de vida, uma sociabilidade inerente ao mundo rural, caracterizada por relações 
internas distintas e diversas em comparação ao modo de vida urbano. A ruralidade 
evoca uma ampla gama de imagens quando é contemplada e discutida. Ela se 
configura como uma construção social contextualizada, com uma natureza reflexiva, 
ou seja, é o resultado das ações dos sujeitos que internalizam e externalizam, por 
meio dessas ações, sua condição sociocultural atual, que reflete a condição 
transmitida por seus antepassados. Essa ruralidade reflete a capacidade desses 
sujeitos de se adaptarem às novas condições decorrentes das influências externas 
(MEDEIROS, 2017). 
A modernidade continua a se surpreender com a manutenção, a permanência 
e a capacidade de transformação que caracterizam o mundo rural. Nesse processo 
de evolução, torna-se claro que o rural não se “perde”; ao contrário, ele reafirma sua 
importância e singularidade. 
Ao abordar essa ruralidade como uma construção social, é essencial destacar 
e compartilhar perspectivas que reconhecem que se trata de um modo de vida, uma 
forma de existência mediada pelo território e pela cultura. A ruralidade deve ser 
 
52 
 
compreendida em relação a si mesma, sem depender de comparações com a cidade, 
como se fosse um mero apêndice com dependência política e econômica dela. 
Conforme a visão de Francisco Duran (1998), não deve haver distinção entre 
o rural e a ruralidade, uma vez que essa divisão não se sustenta como uma questão 
de relevância. Pelo contrário, especialmente ao investigar uma multiplicidade de 
aspectos, sejam eles socioculturais, econômicos ou ecológicos, essa distinção deve 
ser ignorada. 
Por essa razão, as reflexões sobre a ruralidade na contemporaneidade devem 
incluir a necessidade de reconhecer o mundo rural, levando em consideração suas 
próprias dinâmicas, bem como suas relações com o mundo urbano. A análise das 
chamadas “novas ruralidades” devem abranger todas as especificidades e 
representações desse espaço rural. Isso engloba não apenas o aspecto físico 
(território e seus símbolos), mas também a relação com o local de moradia 
(territorialidades e identidades) e a forma como esse espaço se conecta e interage 
com o mundo mais amplo (cidadania e inserção nas esferas políticas e econômicas 
da sociedade) (MEDEIROS, 2017). 
É importante ressaltar que na era da modernidade, há uma relação por vezes 
tensa entre o rural e o urbano, devido à ênfase excessiva atribuída ao urbano, que 
ainda é percebido e concebido como sinônimo de modernidade e progresso, enquanto 
o rural é muitas vezes associado a atraso e tradição. Conforme apontado por Blanco 
(2004), as “novas ruralidades” não apenas incorporam, mas também ampliam as 
novas funções e atividades no campo, envolvendo as famílias rurais em parceria tanto 
com o setor público quanto com a iniciativa privada. Isso é exemplificado pela noção 
de pluriatividade ou multifuncionalidade do campo, que descreve esse novo cenário 
no meio rural brasileiro. 
Nesse contexto, a noção de ruralidade abrange diversas facetas das 
interações com o ambiente, algo intrinsecamente ligado ao espaço rural. No cenário 
brasileiro, a discussão sobre ruralidade é retomada e os estudiosos concordam com 
a fluidez, permeabilidade e interconexão dos processos sociais, atividades 
econômicase elementos culturais no espaço rural. Em outras palavras, debatem a 
integração desses aspectos na sociedade contemporânea. 
As perspectivas presentes nesse debate concentram-se em: 
 
53 
 
• Aspectos demográficos e econômicos, sugerindo uma análise separada da 
dinâmica social do espaço rural em relação aos processos econômicos e à 
produtividade agrícola. Nessa perspectiva, a ruralidade abrange muito mais do 
que a atividade econômica agrícola. 
• Aspectos sociológicos e etnográficos voltados para os processos de construção 
e redefinição das identidades sociais, culturais, práticas de convívio e estilos 
de vida nas comunidades rurais. 
• Discussões relacionadas ao meio ambiente e à sustentabilidade, abordando o 
uso dos recursos naturais e a adaptação do ambiente. Atualmente, viver no 
campo, no espaço rural, não necessariamente implica uma vida como 
agricultor, camponês, ou membro de uma sociedade rural, mas frequentemente 
reflete uma busca por proximidade com a natureza e tranquilidade, 
independentemente de estar ligada ao trabalho agrícola. 
Quando aplicado à noção de urbano, a ruralidade é caracterizada por ser um 
conceito de natureza territorial, em oposição a setorial. O mesmo princípio se aplica à 
definição de urbano. Portanto, não são as cidades definidas exclusivamente pela 
presença da indústria, nem o campo exclusivamente pela agricultura. É fundamental 
estabelecer uma definição baseada na dimensão espacial, não restrita a setores 
específicos nas áreas rurais. 
As características do meio rural abrangem tanto a relação com a natureza 
quanto a interação com o sistema urbano. O essencial é compreender o que constitui 
o meio rural, como se manifesta e qual o papel das diversas ruralidades nas 
sociedades contemporâneas. A ruralidade não é uma etapa do desenvolvimento 
social a ser superada com o progresso e a urbanização; ela é e continuará sendo um 
valor fundamental para as sociedades contemporâneas (MEDEIROS, 2017). 
O rural brasileiro é, portanto, permeado por diversas manifestações de 
ruralidade que conferem novos significados ao campo. Estas manifestações não se 
limitam apenas a aspectos culturais, abrangendo também relações econômicas, 
sociais e políticas. Um exemplo notável de ruralidade em que as dimensões 
econômicas e políticas se sobrepõem às características culturais é observado no 
cerrado, uma região dominada pelo agronegócio, com 70% das áreas de chapadas 
dedicadas ao cultivo de grãos, algodão, eucaliptos e pinus (GONÇALVES, 2006). 
 
54 
 
Silva (1996), por sua vez, destaca a presença de uma outra ruralidade, não 
mais calcada na produção, mas na busca incessante dos homens por uma qualidade 
de vida que se perdeu na turbulência da vida nas cidades. O rural passa a ser buscado 
como ambiente para o lazer e para a fuga dos problemas da vida urbana fazendo com 
cresçam os investimentos em condomínios horizontais, chácaras, hotéis-fazenda, 
spas e coisas do gênero. O espaço rural se vê então, gradativamente, interpenetrado 
por este novo personagem, o neorural, constituído por profissionais liberais, 
aposentados, amantes da natureza, todos eles ex-habitantes da cidade que buscam 
no campo tranquilidade e paz, mas todos eles com suas referências urbanas e ligados 
ao mundo global. 
6.1 A ruralidade contemporânea no Brasil 
Traços marcantes 
As concepções de desenvolvimento que têm estado em disputa no cenário 
político e ideológico da sociedade brasileira ao longo de sua história levaram à 
consolidação de um projeto de desenvolvimento rural que reflete precisamente as 
relações de poder predominantes na sociedade. Essas relações são estabelecidas 
principalmente pelos atores provenientes de centros urbanos e setores industriais que 
se auto definem como impulsionadores do progresso em prol de toda a sociedade, 
bem como pelas forças sociais ligadas ao “antigo regime” que se consideram uma 
fração da classe dominante. 
O modelo de desenvolvimento implementado se manifesta em três dimensões 
centrais, cujos efeitos diretos recaem sobre as áreas rurais, provocando 
transformações e direcionando sua integração na sociedade. Primeiramente, o 
processo de urbanização resultou na criação de inúmeros municípios de pequeno 
porte, cujas sedes, por imposição legal, são designadas como cidades, mas que, 
como já mencionado, frequentemente revelam uma complexidade limitada. É 
importante notar que é precisamente nesses pequenos municípios que reside a maior 
parte da população hoje classificada como rural. 
Em segundo lugar, é notável que os setores industriais e de serviços 
continuam fortemente concentrados nas grandes cidades, embora tenha havido um 
movimento mais recente de interiorização, que ainda não se equipara em intensidade 
e alcance ao observado em países desenvolvidos. Este fenômeno também contribui 
 
55 
 
para a vulnerabilidade das pequenas cidades. De fato, urbanização e industrialização, 
no contexto brasileiro, não geraram com a mesma amplitude e profundidade o 
fenômeno de difusão no espaço dos efeitos da modernização e do enriquecimento 
para toda a sociedade, como ocorreu em países desenvolvidos. 
Em terceiro lugar, é crucial destacar que o modelo de desenvolvimento rural 
é frequentemente concebido de maneira restritiva, dominado pela perspectiva setorial 
que o vincula principalmente à modernização da agricultura. Sob essa ótica, esse 
modelo reforça o poder das elites agrárias, uma vez que as mudanças tecnológicas 
frequentemente resultam em uma concentração ainda maior de terras. 
Consequentemente, a modernização da agricultura no Brasil é moldada pelo princípio 
fundamental da associação entre a capacidade de inovação e o tamanho das 
propriedades. Nesse contexto, apenas grandes proprietários, capazes de oferecer as 
garantias necessárias para acessar o crédito bancário, são considerados agentes da 
modernização e do progresso. Os pequenos agricultores, por sua vez, enfrentam 
desafios em relação ao acesso à terra e à legitimidade de suas práticas de produção, 
que frequentemente são subestimadas e questionadas. 
A maneira como a industrialização, a urbanização e a modernização da 
agricultura se desenvolveu na sociedade brasileira trouxe consigo três principais 
consequências que diferenciam o mundo rural brasileiro em comparação com outros 
países. 
 
7 A QUESTÃO AMBIENTAL 
Os seres humanos não existem isolados; eles habitam um ambiente e 
dependem dele para sua sobrevivência. No entanto, à medida que vivem nesse 
ambiente, o transformam. Em certos casos, essa transformação leva à exaustão dos 
recursos naturais e à degradação do próprio ambiente, tornando-o incapaz de 
sustentar a vida. Em outras palavras, a sociedade pode inadvertidamente destruir o 
ambiente, o que, por sua vez, ameaça sua própria sobrevivência. Esse perigo, por si 
só, deveria ser o ponto de partida para uma discussão ampla e profunda sobre o futuro 
do meio ambiente e da humanidade. No entanto, fenômenos como o negacionismo e 
os interesses de curto prazo de grupos específicos têm dificultado os esforços nessa 
direção. 
 
56 
 
A relação entre a sociedade e sua interação com o ambiente em que está 
inserida é objeto de estudo de um campo específico da Sociologia conhecido como 
Sociologia Ambiental. Essa disciplina aborda questões cruciais relacionadas à forma 
como a sociedade lida com o meio ambiente. Além disso, a temática ambiental 
também desperta interesse na Sociologia Rural, especialmente quando envolve áreas 
rurais, atividades agrícolas e questões fundiárias (MAKINO, 2022). 
7.1 Recursos Finitos e Consumo Infinito 
Na década de 1950, um grupo de intelectuais manifestava preocupação com 
a exploração ininterrupta de recursos naturais não renováveis, como petróleo, gás 
natural e minérios, bem como com a rapidez do consumo de recursos naturais 
renováveis, como madeira, peixes, crustáceos, água, etc., que superava a capacidadede reposição da natureza. Esse grupo de pensadores ficou conhecido como o “Clube 
de Roma” e sustentava a crença de que, se o ritmo de consumo não fosse reduzido, 
o planeta Terra não conseguiria sustentar a humanidade por mais de um século. 
O Paradoxo de Terzi, a previsão de Malthus e as preocupações do Clube de 
Roma partilham uma característica comum: uma visão pessimista acerca do futuro e 
da degradação ambiental, assim como das suas consequências para os habitantes 
do planeta. A previsão de Malthus, entretanto, não se concretizou da maneira como 
ele previra, pois ele não podia antever os avanços que surgiriam no campo 
agronômico, como a invenção de máquinas, a criação de fertilizantes, herbicidas, 
pesticidas e o desenvolvimento de variedades de plantas mais produtivas (MAKINO, 
2022). 
A previsão do Clube de Roma ainda não se materializou, uma vez que o prazo 
estipulado ainda não se esgotou. Essa concretização também pode ser postergada 
caso a taxa de consumo de recursos naturais renováveis e não renováveis seja 
reduzida. Por fim, é válido ponderar que o avanço tecnológico nem sempre é utilizado 
para destruir, poluir ou promover um maior consumo, mas também pode ser 
direcionado no sentido oposto, preservando, conservando, reutilizando, reciclando e 
reduzindo o consumo. Essa abordagem pode ser a chave para escapar do desfecho 
fatalista do Paradoxo de Terzi. 
7.2 Brasil: entre avanços nos anos 1990 e retrocessos nos anos 2010 
 
57 
 
Após o período da Ditadura Militar, uma nova fase nas questões ambientais 
começou a ser delineada no Brasil. Internacionalmente, já existiam discussões e 
tentativas de cooperação para a proteção do meio ambiente. O desafio da degradação 
ambiental reside no fato de que todos habitam o mesmo planeta, embora cada nação 
seja soberana em tomar decisões sobre seu próprio território. Se uma nação toma 
decisões que prejudicam o meio ambiente, isso afeta a todos, inclusive aqueles que 
se preocupam com a preservação ambiental. Portanto, para efetivamente proteger o 
meio ambiente, é necessária a colaboração de todos, o que muitas vezes se revela 
um desafio. Nesse contexto, a Conferência de Estocolmo de 1972 é amplamente 
considerada um marco histórico a partir do qual a questão ambiental ganhou 
destaque. Nesta conferência, diversos países se reuniram para discutir questões 
ambientais e propor soluções conjuntas (MAKINO, 2022). 
No Brasil, em 1992, ocorreu uma das conferências internacionais mais 
importantes na história da proteção ambiental global, conhecida como “Rio 92” ou 
“Eco 92”. Ao final deste evento, os países assinaram um documento, a chamada 
Agenda 21, que estabeleceu compromissos em relação à proteção, preservação e 
conservação do meio ambiente, bem como ao desenvolvimento sustentável. O próprio 
Brasil buscou uma posição de liderança internacional na tentativa de abordar seus 
desafios ambientais, tais como o combate ao desmatamento, a contenção de 
incêndios florestais, a expansão da coleta seletiva de resíduos e a reciclagem, além 
da busca pela substituição de combustíveis fósseis altamente poluentes, como diesel 
e gasolina, por fontes de energia renovável, como etanol e biodiesel. Parcerias 
internacionais foram estabelecidas por meio da participação em mercados de créditos 
de carbono, e a criação de fundos internacionais para financiar projetos sustentáveis. 
7.3 Agricultura e meio-ambiente 
A preocupação com o meio ambiente é um desafio global que tem origens no 
modelo de desenvolvimento adotado inicialmente pelos países industrializados do 
hemisfério norte. Entretanto, no caso do Brasil e de outros países considerados em 
desenvolvimento ou do terceiro mundo, o desequilíbrio ambiental não é apenas uma 
consequência da aceleração de um modelo de desenvolvimento globalizado atual. 
Antes disso, há um padrão de colonização que, desde o momento da ocupação do 
território brasileiro, se mostrou igualmente devastador na relação com a natureza. 
 
58 
 
O intento de Portugal de explorar as riquezas naturais resultou na exaustão 
de recursos produtivos, o que ainda se reflete nas condições atuais da agricultura. 
Dessa forma, o subdesenvolvimento não é meramente um desdobramento de uma 
relação de dependência relacionada ao processo global de acumulação de capital. 
Como diz Leff 
o subdesenvolvimento é o efeito da perda líquida do potencial produtivo de 
uma nação, através de um processo de exploração que rompe os 
mecanismos de recuperação das forças produtivas de uma formação social 
e de regeneração de seus recursos (1986, p. 44). 
No contexto brasileiro, a degradação do potencial produtivo na agricultura tem 
suas raízes no período colonial, desde os tempos do descobrimento. Naquela época, 
não foram adotadas as técnicas agrícolas avançadas já em uso na Europa; em vez 
disso, prevaleceu um sistema exploratório que, por vezes, mal poderia ser 
denominado de agricultura (HOLANDA, 1978). 
Essa mentalidade exploratória dos recursos naturais, em contrapartida ao 
cultivo responsável, estendeu-se ao longo dos séculos. Na realidade, a disponibilidade 
abundante de terras, geralmente acessível a uma elite de grandes proprietários rurais, 
promoveu uma prática prejudicial de desmatamento indiscriminado. Essa prática 
coexistia com uma agricultura sazonal caracterizada pela monocultura e por ciclos 
econômicos. Até recentemente, fazendeiros e coronéis desmatavam e cultivavam a 
terra até que ela se esgotasse, sem qualquer preocupação em restaurar sua fertilidade 
(STEIN, 1990). 
A prática de uma agricultura exploratória não se restringiu apenas aos 
fazendeiros e grandes proprietários de terras. Até mesmo os colonos na região sul do 
país exploraram excessivamente os recursos naturais disponíveis. Portanto, é correto 
afirmar que a recuperação mais intensiva do potencial produtivo começou a ser 
implementada somente com a política de modernização, desencadeada pela 
chamada “Revolução Verde”. No entanto, a introdução de novas e modernas práticas 
agrícolas ignorou as particularidades do clima, da estrutura do solo e da diversidade 
biológica das variedades adaptadas a diferentes condições (CALASANDRA, LIMA, 
2013). 
A abordagem de modernização negligenciou a sabedoria dos habitantes 
nativos e caboclos em relação à gestão da natureza, bem como o conhecimento sobre 
a agricultura baseada na administração dos recursos naturais, introduzida por muitos 
 
59 
 
imigrantes europeus. A modernização, representada pelos interesses do capital 
industrial, simplesmente transferiu técnicas e conhecimentos desenvolvidos nas 
economias centrais da indústria. Consequentemente, as novas práticas agrícolas 
experimentaram sistemas de produção que eram inadequados para nossos 
ecossistemas agrícolas. 
Como resultado, máquinas inadequadas para as condições físicas do solo 
causaram processos erosivos, e variedades de plantas rústicas foram substituídas 
pela introdução de sementes híbridas, como o milho híbrido. Essa mudança na base 
técnica, embora tenha aumentado a produção e produtividade de alguns produtos, 
simplificou os ecossistemas agrícolas, levando a consequências físicas, biológicas e 
sociais. Isso comprometeu a sobrevivência de grupos de famílias rurais 
(CALASANDRA, LIMA, 2013). 
O desmatamento desenfreado, a adoção de sistemas de produção baseados 
na monocultura e o uso de práticas agrícolas que envolvem agroquímicos continuam 
a causar desequilíbrios ambientais significativos. Um dos resultados mais alarmantes 
desses processos é a erosão do solo. De acordo com especialistas, o Brasil perde 
aproximadamente um milhão de toneladas de terras férteis anualmente. Esse 
problema é mais acentuado em áreas onde uma agricultura intensiva com práticas 
modernas e industriais coloca uma pressão significativa sobre os recursos naturais. 
Além disso, é importante levar em consideração a contaminação da água e 
os impactos negativosdos agrotóxicos na saúde humana, bem como a erosão da 
diversidade genética de espécies adaptadas ao ambiente. Isso demonstra o alto custo 
do empobrecimento de um potencial que, em um passado distante, parecia 
exuberante e infinito aos olhos de seus exploradores. 
No contexto da agricultura brasileira, a questão ambiental assume 
características distintas em comparação aos países desenvolvidos. Em primeiro lugar, 
não se pode afirmar que a agricultura brasileira tenha adotado as técnicas da primeira 
revolução agrícola dos séculos XVIII e XIX, como ocorreu na Europa. Em seu lugar, 
foram introduzidos sistemas predatórios que não consideraram devidamente a relação 
com os recursos naturais. Em segundo lugar, no Brasil, devido à vasta extensão de 
terras agricultáveis disponíveis, ainda persiste uma abordagem de lavoura extrativa. 
Em terceiro lugar, coexistem práticas agrícolas modernas e produtivas com uma 
agricultura realizada em áreas inadequadas para a atividade ou em terras 
 
60 
 
degradadas, frequentemente conduzida por agricultores pobres marginalizados pelas 
políticas agrícolas (CALASANDRA, LIMA, 2013). 
A partir dessa breve reflexão, podemos identificar dois principais tipos de 
questões ambientais, relacionadas à pressão das atividades humanas sobre os 
recursos naturais: 
• A perda do potencial produtivo decorrente de práticas extrativas. 
• O desequilíbrio causado por práticas agroquímicas e mecânicas inadequadas 
aos ecossistemas agrícolas. 
Entretanto, é fundamental compreender que as consequências ambientais 
resultantes da modernização não estão intrinsecamente ligadas à tecnologia em si, 
mas sim à lógica de um sistema ao qual essas técnicas estão subordinadas. O 
desequilíbrio e a perda do potencial produtivo representam apenas um aspecto da 
questão ambiental. Há outro aspecto do problema que está diretamente relacionado 
à dimensão social. 
A modernização da agricultura, devido à expropriação de muitos pequenos 
agricultores rurais, resultou em uma concentração ainda maior da estrutura fundiária. 
Além da expansão de sistemas produtivos simplificados, típicos das grandes 
propriedades agrícolas de monocultura, a modernização acentuou a diferenciação 
social e levou ao desenraizamento de agricultores de inúmeras comunidades rurais. 
Esses agricultores não apenas perderam sua base material de subsistência, mas 
também suas identidades, sendo forçados a buscar maneiras de reconstruir novas 
relações sociais e de trabalho em uma sociedade que frequentemente oferece poucas 
oportunidades de emprego e crescimento (CALASANDRA, LIMA, 2013). 
A transformação que ocorre nas áreas rurais não se restringe apenas à 
mudança de atividades e aos movimentos migratórios. Ela também implica em uma 
transformação no mundo da vida rural, com consequências para toda a sociedade. A 
desintegração das comunidades rurais e a perda de identidade frequentemente 
resultam na perda de significado e, em última instância, contribuem para a 
desintegração social em uma sociedade que parece carecer de alternativas 
(HABERMAS, 1988). É dessa forma que são criadas as condições para o surgimento 
de manifestações de “irracionalidades”, tais como a violência e a marginalização nas 
áreas urbanas. 
 
 
61 
 
 
 
7.4 Desenvolvimento Rural Sustentável 
Muitos discursos tratam da questão do desenvolvimento rural sustentável. É 
frequente encontrar estudos e obras que partem do pressuposto de que a 
sustentabilidade do desenvolvimento rural está estritamente relacionada às condições 
econômicas, desconsiderando a relevância dos aspectos sociais e dos recursos 
naturais para a conquista do desenvolvimento rural sustentável. 
No entanto, a concepção de desenvolvimento rural sustentável adotada neste 
trabalho reconhece que a sustentabilidade vai além das condições econômicas e 
abrange igualmente fatores socioculturais e naturais, tais como educação, saúde, 
qualidade de vida e a preservação dos recursos naturais necessários para a 
subsistência no campo sem prejudicar as gerações vindouras. Nesse contexto, Veiga 
(2001) enfatiza a importância desses elementos ao destacar que ambos contribuem 
para a expansão das possibilidades de escolha, ampliando, assim, as potencialidades 
humanas. 
Assis (2006) discute que com o surgimento da crise ambiental a partir da 
década de 1980, tornou-se evidente que os custos da produtividade vão além 
daqueles que são refletidos nos processos produtivos tradicionais. Esse entendimento 
aprofundou a crítica de que o crescimento econômico por si só não é suficiente para 
atingir o desenvolvimento pleno. Como alternativa, o autor sugere a busca por um 
crescimento econômico qualitativo, que envolve a preservação do conjunto de bens 
ecológicos, socioculturais e econômicos, promovendo a igualdade de oportunidades. 
Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável coloca como seu ponto 
central o aprimoramento da qualidade de vida da população, ao mesmo tempo em 
que respeita os limites de capacidade dos ecossistemas. Assim, à medida que as 
pessoas se beneficiam desse processo, elas se tornam agentes de transformação, 
desempenhando um papel fundamental para alcançar o sucesso almejado. (ASSIS, 
2006). 
Partindo da compreensão de que o desenvolvimento se materializa quando 
os potenciais econômicos, culturais e sociais estão em harmonia com os aspectos 
ambientais de uma determinada sociedade, Costabeber e Caporal (2003, p.03) 
 
62 
 
preconizam o desenvolvimento rural sustentável como um processo gradual de 
transformação que “envolve a consolidação de iniciativas educacionais e 
participativas, incorporando as comunidades rurais e estabelecendo uma estratégia 
impulsionadora de dinâmicas socioeconômicas alinhadas com a preservação 
ambiental”. 
Entretanto, independentemente da adoção de uma definição precisa do 
desenvolvimento rural sustentável, é imperativo compreender as estratégias que 
viabilizam a conquista da sustentabilidade. Nesse sentido, serão exploradas a seguir 
algumas alternativas para a efetiva realização da sustentabilidade nas áreas rurais. 
7.5 Possibilidades para o desenvolvimento sustentável no campo 
Ao examinarmos as vias a serem trilhadas para efetivamente promover o 
desenvolvimento rural sustentável, torna-se evidente a necessidade de abranger as 
distintas dimensões da sustentabilidade, entre as quais podemos citar a dimensão 
social, ambiental, econômica, cultural, política e ética. Conforme destacado por 
Costabeber e Caporal (2003), cada dimensão desempenha um papel vital nas 
estratégias para alcançar o desenvolvimento rural sustentável, visto que se 
complementam e se apoiam mutuamente, constituindo um elemento crucial para 
atingir a equidade e, por conseguinte, o desenvolvimento sustentável. 
Como estratégias de suporte para o desenvolvimento rural sustentável, 
identificam os seguintes caminhos: a valorização da agricultura familiar, o fomento de 
novos métodos de comercialização e a ênfase na dimensão local do desenvolvimento. 
O primeiro aspecto diz respeito à importância da agricultura familiar, que possui a 
capacidade real de contribuir para a soberania e segurança alimentar, uma vez que a 
maior parte da produção é destinada ao consumo interno das comunidades rurais, 
promovendo assim a auto-suficiência alimentar (PASQUALOTTO, 2012). 
Outra evidência da agricultura familiar como uma estratégia para o 
desenvolvimento rural sustentável é sua capacidade demonstrada de abordar com 
eficácia os seguintes aspectos, conforme delineado por Costabeber e Caporal (2003, 
p.12): i) multifuncionalidade e práticas de policultivo; ii) eficiência produtiva e eficiência 
energética e/ou ecológica; iii) conservação dos recursos naturais não renováveis; iv) 
proteção da biodiversidade e sustentabilidade a longo prazo; v) práticas de manejo. 
 
63 
 
No que diz respeito à promoção de novas abordagens para a comercialização, 
é importantedestacar o papel fundamental das práticas agroecológicas nesse 
processo, uma vez que elas viabilizam a geração de renda sem exercer um impacto 
ambiental tão agressivo. Além disso, a perspectiva agroecológica representa um 
componente de forte sensibilidade social, pois escolhe a agricultura familiar como o 
motor dos processos de desenvolvimento rural. 
Desta maneira, Costabeber e Caporal (2003) destacam alternativas para 
novas formas de comercialização, incluindo: a criação de redes de confiança entre 
agricultores e consumidores; o fomento de sistemas de distribuição de alimentos por 
meio de feiras livres e mercados locais; o estímulo ao comércio solidário, no qual os 
agricultores recebem uma compensação justa por seus produtos; e o investimento no 
consumo institucional. 
A dimensão local do desenvolvimento assume prioridade à medida que as 
comunidades rurais, bem como suas garantias de renda, tradições e qualidade de 
vida, constituem a escala mais relevante no processo de desenvolvimento rural 
sustentável. Portanto, é essencial que o processo de desenvolvimento comece 
localmente e, posteriormente, se estenda para o âmbito global. 
Costabeber e Caporal (2003) ressaltam a importância da criação de planos de 
desenvolvimento rural a nível municipal e, posteriormente, regional, que atendam às 
reais necessidades das comunidades presentes nesses territórios. Essas abordagens 
não apenas asseguram resultados positivos para os atores envolvidos, mas também 
promovem maior protagonismo das famílias agricultoras. 
Falando das potenciais soluções para o desenvolvimento rural, Veiga (2001) 
enfatiza que o Brasil necessita de um arranjo institucional que facilite as parcerias 
intermunicipais na identificação dos principais desafios enfrentados pelas áreas rurais 
e na concepção de estratégias de desenvolvimento. Consequentemente, é imperativo 
que o governo incentive iniciativas locais que possam, posteriormente, ser financiadas 
visando um progresso mais substancial. 
A diversificação das economias locais também é destacada por Veiga (2001) 
como um passo crucial rumo ao desenvolvimento rural, uma vez que essa 
diversificação promove melhores condições de vida para os trabalhadores e uma 
interação mais saudável com o meio ambiente, especialmente quando comparada às 
grandes propriedades dedicadas à monocultura. Essa estratégia, ademais, assegura 
 
64 
 
a pluriatividade na agricultura, possibilitando que membros da família que haviam 
migrado para áreas urbanas voltem para contribuir com as atividades no campo. 
Portanto, é evidente que há várias abordagens a serem consideradas para 
alcançar o desenvolvimento rural sustentável, e essas abordagens devem ser 
formuladas com uma perspectiva local que, posteriormente, possa se expandir para o 
contexto global. Pois, nota-se que muitas das oportunidades identificadas pelas 
comunidades rurais em um município específico podem não ser aplicáveis a outros 
(PASQUALOTTO, 2012). 
8 AGRICULTURA FAMILIAR E CAMPONESA E A PLURIATIVIDADE 
A agricultura familiar emergiu como um conceito no Brasil nos anos 1990, 
consolidando uma série de medidas que vinham sendo delineadas desde o início da 
redemocratização. Esse termo foi adotado para se referir ao que anteriormente era 
denominado como pequena produção mercantil ou pequena produção familiar, 
marcando, assim, o reconhecimento de uma categoria social de trabalhadores rurais 
nas políticas públicas. No entanto, é importante ressaltar que a complexidade desse 
debate exige uma análise mais detalhada. 
Em um cenário caracterizado pelo avanço do neoliberalismo no país e pela 
intensa disputa política entre diferentes grupos de trabalhadores rurais, suas 
organizações e os grandes proprietários de terras, o Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi estabelecido em 1996 como uma 
política pública de crédito agrícola específica para os agricultores familiares. O 
objetivo principal do Pronaf era promover a inserção desses agricultores no processo 
de modernização, tornando-os mais competitivos e viáveis, com o intuito de manter 
sua presença no campo, por meio da atividade agrícola. 
O programa foi fortemente influenciado pela pesquisa realizada no âmbito do 
convênio entre a FAO e o Incra, que demonstrou que a renda líquida obtida nos 
assentamentos rurais era superior ao custo de oportunidade do trabalho. Com base 
nesses dados, o Pronaf foi concebido com o propósito de aumentar a capacidade 
produtiva, gerar empregos e melhorar a renda dos agricultores familiares. Para 
alcançar esses objetivos, uma de suas diretrizes centrais foi a descentralização das 
políticas, com a criação dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de 
Desenvolvimento Rural (CMDR, CEDR e CNDR, respectivamente). Cabe aos CMDRs 
 
65 
 
a elaboração dos Planos Municipais de Desenvolvimento Rural (PMDR), como parte 
integrante desse processo. 
Embora o Pronaf tenha sido concebido como uma política pública voltada 
principalmente para o aspecto produtivo de uma parcela dos agricultores familiares, 
uma série de pesquisas se dedicou a examinar as transformações ocorridas no meio 
rural e a defender a necessidade de políticas específicas para essa região. Isso levou 
ao reconhecimento do conceito de pluriatividade como um instrumento fundamental 
para compreender essas transformações. Segundo Graziano da Silva (1990), a única 
estratégia viável para manter a população pobre no campo e elevar seu nível de renda 
seria criar empregos não agrícolas. 
Essa perspectiva deu início a um novo campo no Brasil, conhecido como o 
“novo mundo rural”, que ampliou o conceito de rural para além da exploração 
exclusivamente agrícola, passando a englobar o crescimento das atividades não 
agrícolas e pluriativas. O conceito de pluriatividade teve origem na França nos anos 
1980, em resposta à reorientação da política agrícola devido à crise de superprodução 
agrícola dos anos 1970. Nesse contexto, a pluriatividade surgiu como uma alternativa 
à estratégia estatal de incentivar os agricultores considerados inviáveis a 
abandonarem suas atividades agrícolas e se dedicarem exclusivamente à 
preservação da natureza para atrair o turismo. 
Nesse contexto, a pluriatividade na agricultura familiar emerge como um meio, 
frequentemente o único, para buscar o desenvolvimento da agricultura familiar. Nesse 
sentido, as palavras de Baumel e Basso (2004, p. 139) são pertinentes: 
“A pluriatividade se estabelece como uma prática social, decorrente da busca 
de formas alternativas para garantir a reprodução das famílias de agricultores, 
um dos mecanismos de reprodução, ou mesmo de ampliação de fontes 
alternativas de renda; com o alcance econômico, social e cultural da 
pluriatividade as famílias que residem no espaço rural, integram-se em outras 
atividades ocupacionais, além da agricultura. ” 
Como resultado, os agricultores passaram a realizar tanto atividades 
relacionadas à exploração agrícola, como produção, processamento e 
comercialização, quanto atividades não agrícolas, como turismo e artesanato. Nesse 
cenário, a pluriatividade não representou apenas uma saída econômica, mas também 
uma forma de vida saudável que promoveu a interação entre o meio urbano e rural, 
combinando atividades agrícolas e não agrícolas (CRUZ, 2012). 
 
66 
 
O processo brasileiro apresenta distinções significativas em relação à 
experiência francesa. Aqui, o modelo de modernização agrícola não se baseou na 
exploração da mão de obra abundante no campo, mas na expansão dos grandes 
estabelecimentos agropecuários. Nesse contexto, recorrer a outras formas de 
reprodução social que não estivessem estritamente ligadas à agricultura não 
representou algo novo para garantir a permanência dos pequenos produtores no meio 
rural. Isso ocorreu considerando os limites de uma reforma agrária progressista, a 
disponibilidade de crédito e a assistênciatécnica para esse segmento de 
trabalhadores. 
Durante o período de redemocratização, impulsionado pelas lutas sociais dos 
trabalhadores rurais e pela crise de legitimidade do modelo de modernização 
conservadora, o debate sobre a viabilidade da pequena produção familiar ressurgiu 
com vigor. Esse debate se materializou com a criação do Pronaf e com o 
estabelecimento e fortalecimento do conceito de agricultura familiar. 
O surgimento desse programa ocorreu em um cenário de reconfiguração do 
capital em âmbito global, com o intuito de recuperar as taxas de lucro. Diante do 
declínio do modelo fordista de produção e do Estado de Bem-Estar Social (que havia 
viabilizado a modernização agrícola na França), o capital passou a se reorganizar por 
meio da reestruturação produtiva, caracterizada pela flexibilização da produção, dos 
contratos de trabalho e pela redução da intervenção estatal nas políticas sociais, em 
prol de políticas neoliberais. Isso marcou o início de uma era de desemprego 
estrutural, na qual os trabalhadores se viram desprotegidos no mercado de trabalho 
(CRUZ, 2012). 
No Brasil, apesar dos avanços formais introduzidos pela Constituição de 1988, 
o Estado tem adotado diretrizes neoliberais, reformulando sua intervenção nos 
processos de desenvolvimento econômico e social por meio de uma série de 
“contrarreformas” estatais. 
Dentro desse cenário, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura 
Familiar (Pronaf) deixa de abranger os estratos mais empobrecidos da população 
rural. Tais observações levam Carneiro (2001) a questionar que, apesar de 
reconhecer a importância das atividades não agrícolas, o modelo implementado 
continua a seguir uma abordagem produtivista orientada para o mercado. Seu 
principal objetivo é tornar os agricultores familiares considerados viáveis mais 
 
67 
 
competitivos. Enquanto isso, aqueles em condições mais precárias são incentivados 
a buscar atividades não agrícolas ou se envolver em atividades pluriativas. Não se 
leva em conta, portanto, que a situação de extrema pobreza em que se encontram os 
agricultores periféricos é, em grande parte, resultado de uma histórica negligência do 
Estado, ou, em outras palavras, de uma política ativa de exclusão (CRUZ, 2012). 
8.1 Definindo a pluriatividade 
A pluriatividade, conforme nossa compreensão, refere-se a um fenômeno que 
se manifesta nas áreas rurais, envolvendo a combinação de pelo menos duas 
atividades, das quais uma é a agricultura. Essas atividades são desempenhadas por 
indivíduos que compõem um grupo doméstico, unidos por laços de parentesco e 
consanguinidade (por filiação), podendo eventualmente incluir outros membros sem 
parentesco consanguíneo (por adoção). Essas pessoas compartilham o mesmo 
espaço de moradia e trabalho, embora não seja necessário que vivam na mesma 
habitação, e identificam-se como uma família. (SCHNEIDER, 2009). 
Para esclarecer o termo “atividade”, podemos definir como a execução de um 
conjunto de tarefas, procedimentos e operações relacionadas ao trabalho e à 
produção. Isso pode englobar ações como plantio, manejo, colheita, limpeza, 
preparação, organização, beneficiamento, entre outras. 
A atividade agrícola, que envolve o cultivo de organismos vivos, tanto animais 
quanto vegetais, e a gestão de processos biológicos para a produção de alimentos, 
fibras e matérias-primas, é notavelmente diversificada e complexa. Essa 
complexidade torna desafiador definir de maneira precisa o início e o fim de uma 
atividade agrícola, uma vez que, muitas vezes, essas atividades se estendem por 
diversos estabelecimentos. Para efeitos de definição, é essencial considerar o 
estabelecimento agropecuário como a base física para essas atividades, mesmo que 
sejam executadas por terceiros. No entanto, é importante destacar que, em algumas 
situações e contextos, a delimitação de atividades agrícolas pode ser subjetiva. 
Além disso, é relevante considerar as atividades para-agrícolas, que 
abrangem um conjunto de operações, tarefas e procedimentos relacionados à 
transformação, beneficiamento e/ou processamento de produtos agrícolas, quer 
sejam originários da própria unidade de produção ou adquiridos externamente. Estas 
atividades para-agrícolas podem ter como finalidade a satisfação das necessidades 
domésticas, para atender às demandas da própria família, ou podem estar orientadas 
 
68 
 
para objetivos comerciais, visando à comercialização desses produtos no mercado 
(SCHNEIDER, 2009). 
 
Por outro lado, as atividades não agrícolas englobam todas aquelas que não 
se inserem na categoria de atividades agrícolas ou para-agrícolas, frequentemente 
relacionadas a diferentes setores econômicos, como a indústria, o comércio e os 
serviços. A interação entre atividades agrícolas, para-agrícolas e não agrícolas 
culmina na ocorrência da pluriatividade, um fenômeno que ganha intensidade à 
medida que as interações entre os agricultores e o contexto socioeconômico se 
tornam mais complexas e diversificadas. 
A pluriatividade é notavelmente diversa e heterogênea em sua natureza 
intrínseca. De um lado, ela está intimamente relacionada às estratégias sociais e 
produtivas adotadas pelas famílias e seus membros. Por outro lado, sua natureza 
mutável é fortemente influenciada pelas características do contexto territorial em que 
se insere. A pluriatividade pode ser interpretada de diversas maneiras, servindo tanto 
para atender a projetos coletivos quanto para refletir decisões de caráter individual. 
Adicionalmente, suas características podem variar consideravelmente, 
dependendo do membro da família que a exerce, seja o líder, o cônjuge ou os filhos, 
uma vez que essa dinâmica social pode ter impactos diversos tanto no grupo 
doméstico quanto na unidade de produção. Diversos fatores, como o gênero e a 
posição na hierarquia familiar, desempenham papéis significativos na determinação 
desses efeitos. Além disso, as condições socioeconômicas locais e o ambiente ou 
contexto em que a pluriatividade ocorre exercem influência sobre suas características 
específicas, conforme delineado por Schneider em 2009. 
A combinação de atividades agrícolas e não agrícolas pode ser considerada 
tanto um recurso utilizado pela família para garantir a reprodução social do grupo ou 
coletivo ao qual pertence, quanto uma estratégia adotada de forma individual pelos 
membros da unidade doméstica. Nesse contexto, conforme sugerido por Ellis (2000), 
a pluriatividade pode ser interpretada como uma estratégia de resposta (coping) 
quando os indivíduos enfrentam situações de risco ou vulnerabilidade, ou como uma 
estratégia de adaptação quando pessoas com capacidade de escolha conseguem 
tomar decisões diante de uma variedade de oportunidades e possibilidades. Portanto, 
 
69 
 
a pluriatividade está intrinsecamente relacionada ao exercício das capacidades e ao 
poder de ação dos indivíduos. 
A definição operacional da pluriatividade também requer a especificação da 
unidade de análise a ser empregada. De maneira mais precisa, é possível abordar a 
pluriatividade em relação a um indivíduo, quando este desempenha mais de uma 
atividade, ou no contexto de uma família, ou ainda concentrar-se em um subconjunto 
dos membros que compõem a família. Nas investigações conduzidas em nosso 
contexto, a pluriatividade está sempre associada à família, sendo considerada 
pluriativa quando, pelo menos, um de seus membros realiza uma combinação de 
atividades agrícolas, para-agrícolas e não-agrícolas. Portanto, estamos tratando da 
pluriatividade familiar que ocorre nas áreas rurais. 
Nessa perspectiva, a definição de pluriatividade se distancia da análise da 
combinação de rendimentos e da alocação de tempo de trabalho entre os membros 
que desempenham diversas atividades. Em outras palavras, ter simplesmente 
múltiplas fontes de renda em uma família, para além das provenientes da agricultura, 
como pensões,remessas de dinheiro de parentes ou familiares que trabalham fora do 
estabelecimento, por si só, não qualifica uma família como pluriativa. 
Até que uma situação envolvendo a combinação de diferentes atividades com 
a agricultura se configure, não é apropriado falar de pluriatividade. A menos que se 
esteja se referindo a contextos distintos do meio rural, nos quais a pluriatividade possa 
ser usada como sinônimo de dupla profissão, como por exemplo, nas situações em 
que alguém exerce as profissões de professor e médico, advogado e administrador, 
motorista e comerciante, entre outras. Nesse sentido, o tempo de trabalho da pessoa 
que realiza uma segunda (ou mais de uma) atividade não deve ser um critério 
relevante, uma vez que a pluriatividade não é caracterizada pelo tempo de trabalho, 
seja ele parcial ou integral. É importante observar que o tipo de trabalho e a carga 
horária podem influenciar de maneira distinta os rendimentos auferidos, porém esses 
fatores não determinam nem afetam a definição de pluriatividade. (SCHNEIDER, 
2009). 
8.2 Pluriatividade tradicional ou camponesa 
Estamos descrevendo uma situação em que a pluriatividade é intrínseca a um 
estilo de vida que se assemelha às comunidades estudadas por pesquisadores das 
“sociedades camponesas”. Esses grupos sociais são relativamente autônomos e 
 
70 
 
concentram-se principalmente na produção para consumo próprio, mantendo uma 
relação limitada com os mercados externos. 
Dentro dessas unidades, a pluriatividade se manifesta nas propriedades por 
meio da combinação de atividades relacionadas à produção, transformação e 
artesanato. Com frequência, essas atividades não agrícolas estão voltadas para a 
fabricação de itens e equipamentos para uso próprio, como ferramentas e utensílios 
de trabalho, como balaios, cestos e materiais de selaria. Essa é a forma genuína de 
pluriatividade que sempre existiu e que caracteriza as unidades de produção 
familiares no meio rural. O que a diferencia das outras formas de pluriatividade é o 
fato de não ter a comercialização como objetivo; sua existência é determinada por um 
modo de vida e organização específicos da produção (SCHNEIDER, 2009). 
 
8.3 Turismo rural e novas ruralidades 
O turismo rural ocupa uma posição de destaque na Europa, especialmente 
em nações como Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha, Suécia, Irlanda, 
Holanda e Alemanha. No Brasil, o turismo rural surgiu em Lages, Santa Catarina, 
seguindo um modelo amplamente inspirado no contexto europeu, embora também 
tenha havido influências e ideias importadas dos Estados Unidos da América. O 
turismo rural se expandiu para todos os estados brasileiros, mesmo com algumas 
irregularidades, concentrando-se sobretudo nas regiões sul e sudeste. Essas 
atividades de turismo rural se adaptam de maneira flexível às características culturais 
e regionais, refletindo a diversidade do patrimônio cultural do país (SANTOS, 2019). 
Conforme apontado por Kloster (2014), nos empreendimentos de turismo 
rural, a oferta de atividades destinadas aos turistas frequentemente se destina a cobrir 
os custos de manutenção e despesas dos estabelecimentos rurais. No entanto, em 
muitos casos, os lucros gerados por essas atividades superam as expectativas dos 
produtores rurais. Nessas situações, os produtores se voltam quase que 
exclusivamente para essas atividades, que variam desde a criação de peixes, abelhas 
e pequenos animais até a produção de hortaliças, plantas ornamentais, frutas e uma 
ampla gama de atividades de recreação e lazer. 
Ao discutir o crescimento do turismo rural no Brasil, é crucial lembrar que isso 
não apenas responde a programas de incentivo, mas também reflete as mudanças na 
sociedade. A sociedade atual passa por transformações significativas, adotando uma 
 
71 
 
nova perspectiva em relação ao mundo e à cultura. Geralmente, as pessoas que 
optam pelo turismo rural possuem um nível mais elevado de renda e escolaridade, 
frequentando esses estabelecimentos por dois ou três dias, geralmente com suas 
famílias. Essas atividades não se limitam apenas ao turismo, mas também abrangem 
campos como artesanato, música, poesia e outras expressões culturais. Essas 
atividades estão intimamente relacionadas à neoruralidade e à pluriatividade, 
refletindo as transformações nas dinâmicas do meio rural. 
O turismo rural surge como uma alternativa significativa e atrativa nesse 
cenário. No entanto, existe o risco de que as comunidades interessadas em 
desenvolver o turismo rural possam cair nas mãos de empresas. Portanto, é 
fundamental oferecer incentivos que permitam aos agricultores se apropriarem dessa 
nova atividade e reconceitualizarem o espaço em que estão inseridos (SANTOS, 
2019). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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