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Gestão do Conhecimento no Setor Público A Gestão do conhecimento na era do conhecimento1 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2021 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Desenvolvimento Profissional Paulo Marques Coordenador-Geral de Produção de Web Carlos Eduardo dos Santos Conteudista Elaine Lucia da Silva, (conteudista, 2021) Equipe responsável: Iara da Paixão Corrêa Teixeira (coordenadora, 2021) Paula Alves Tavares (coordenadora, 2021) Cindy Nagel Moura de Souza (revisão textual, 2021) Israel Silvino Batista Neto (diagramação e produção gráfica, 2021) Fernando Gianelli Constancio (desenho instrucional e implementação Articulate, 2021) Danielle Alves de Oliveira Tabosa (implementação Moodle, 2021) Curso produzido em Brasília 2021. Desenvolvimento do curso realizado por meio de parceria entre Enap e Funape. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação e boas-vindas ............................................................. 5 1. Aspectos conceituais sobre a gestão do conhecimento ................. 7 1.1 Contexto histórico ........................................................................... 7 1.2 Afinal, qual o conceito de conhecimento? ...................................... 9 1.3 Qual a diferença entre dado, informação e conhecimento? ......... 12 2. A importância da gestão do conhecimento no setor público ....... 13 2.1 Objetivos da gestão do conhecimento no setor público ............... 13 2.2 Fatores críticos de sucesso da gestão do conhecimento em organizações públicas .......................................................................... 15 2.3 Benefícios da gestão do conhecimento em organizações públicas 17 2.4 Desafios da gestão do conhecimento em organizações públicas .. 18 3. Afinal, o que é a era do conhecimento? ...................................... 20 Referências .................................................................................... 20 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Olá! Desejamos boas-vindas ao primeiro módulo do curso Gestão do Conhecimento no Setor Público. Este curso tem o objetivo de fornecer subsídios teóricos e boas práticas aos servidores públicos para a implementação da gestão do conhecimento e consolidação dos processos nas instituições públicas. Neste primeiro módulo serão abordados conceitos importantes para a compreensão da gestão do conhecimento, bem como os objetivos, os benefícios e os desafios para o setor público no contexto da gestão do conhecimento. Além disso, na última unidade, você assistirá a um vídeo em que será explicada a relação entre o conhecimento e a era do conhecimento. Unidades e tópicos do módulo: Apresentação e boas-vindas Unidade 1. Aspectos conceituais sobre a gestão do conhecimento 1.1 Contexto histórico 1.2 Afinal, qual o conceito de conhecimento? 1.3 Qual a diferença entre dado, informação e conhecimento? Unidade 2. A importância da gestão do conhecimento no setor público 2.1 Objetivos da gestão do conhecimento no setor público 2.2 Fatores críticos de sucesso da gestão do conhecimento em organizações públicas 2.3 Benefícios da gestão do conhecimento em organizações públicas 2.4 Desafios da gestão do conhecimento em organizações públicas Unidade 3. Afinal, o que é era do conhecimento? Convidamos você a embarcar nesse caminho surpreendente da gestão do conhecimento. Vamos lá? Desejamos um excelente estudo! Apresentação e boas-vindas Assista ao vídeo de apresentação do curso. CLIQUE PARA ASSISTIR > M ód ul o A Gestão do conhecimento na era do conhecimento1 https://cdn.evg.gov.br/cursos/414_EVG/video/modulo00_video00.mp4 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O curso Gestão do Conhecimento no Setor Público está estruturado em três módulos. No primeiro módulo, serão abordados os aspectos conceituais e a importância da gestão do conhecimento no setor público. No segundo, trataremos da governança na gestão do conhecimento e, no terceiro módulo, verificaremos, na prática, as etapas para a implementação da gestão do conhecimento no setor público. Módulo 1 – A Gestão do conhecimento na era do conhecimento Unidade 1 – Aspectos conceituais sobre a gestão do conhecimento 1.1 Contexto histórico 1.2 Afinal, qual o conceito de conhecimento? 1.3 Qual a diferença entre dado, informação e conhecimento? Unidade 2 – A importância da gestão do conhecimento no setor público 2.1 Objetivos da gestão do conhecimento no setor público 2.2 Fatores críticos de sucesso da gestão do conhecimento em organizações públicas 2.3 Benefícios da gestão do conhecimento em organizações públicas 2.4 Desafios da gestão do conhecimento em organizações públicas Unidade 3 – Afinal, que é era do conhecimento? Módulo 2 – Governança em gestão do conhecimento Unidade 1 – Competências essenciais na gestão do conhecimento 1.1. Competências organizacionais e individuais Unidade 2 – Principais atores envolvidos na implementação da gestão do conhecimento Unidade 3 – Macroprocessos da gestão do conhecimento 3.1 Criar / adquirir / desenvolver 3.2 Compartilhar / disseminar / organizar 3.3 Utilizar / acessar / aplicar 3.4 Reter / preservar / garantir Módulo 3 – Etapas para a implementação da gestão do conhecimento Unidade 1 – Elementos essenciais da gestão do conhecimento Unidade 2 – Orientação para elaboração das etapas de implementação da gestão do conhecimento Unidade 3 – Boas práticas e ferramentas aplicadas à gestão do conhecimento 3.1 – Aplicando na área de gestão de pessoas 3.2 – Aplicando na área de inovação 3.3 – Aplicando na área de informação 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3.4 – Aplicando na área de processos e projetos 3.5 – Aplicando práticas para a preservação da memória organizacional Unidade 1. Aspectos conceituais sobre a gestão do conhecimento Objetivo de aprendizagem: Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer a multiplicidade de conceitos associados à gestão do conhecimento. 1.1 Contexto histórico No período compreendido entre o século XVIII e meados do século XIX, a sociedade passou por ciclos teóricos econômicos distintos, destacando-se a era agrícola, a revolução industrial, a era fordista e, atualmente, a era do conhecimento. Veja a figura 1 que representa a evolução dos ciclos econômicos ao longo do tempo. Castells (1999), autor do livro A era da informação: economia, sociedade e cultura, apresenta um novo modo de desenvolvimento caracterizado como informacionalismo. Para o autor, esse modo de desenvolvimento faz com que a informação e o conhecimento sejam, simultaneamente, a fonte de produtividade e do produto gerado. Castells (1999) ressalta que o desenvolvimento, a incorporação de inovações tecnológicas e o conhecimento vão continuar mudando radicalmente o mundo, moldando a economia e a indústria dos próximos anos. Tivemos ao longo do tempo algumas mudanças no modelo gestão e com isso a transformação no foco do modo de gerir uma organização. Em um primeiro momento, as empresas obtinham vantagem sobre as outras, por meio de mão de obra barata, padronização de processos e produção em massa. Atualmente, temos um cenário diferente, em que o foco está na qualidade da informação, na infraestrutura dos dados e na customização de produtos e serviços. Devido a toda essa evolução, a vantagem competitiva de hoje depende, em especial, do conhecimento. É a clara transição da gestão dos ativos tangíveis para os ativos intangíveis. No âmbito organizacional, o caminho é criar um ambiente favorável ao compartilhamento e à criação de novos conhecimentos, bem como ao aprendizado coletivo. Figura 1 – Era agrícola, revolução industrial, era fordista eera do conhecimento 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Além disso, é essencial o desenvolvimento contínuo dos profissionais e a criação de processos integrados, que possibilitem ao máximo a formação de uma cultura organizacional dinâmica, colaborativa e voltada para resultados. Para compreender esse contexto de transformações, veja o infográfico que apresenta a evolução da gestão do conhecimento, um ativo intangível. 1959 Peter Drucker utilizou o termo trabalhador do conhecimento. 1962 Marshall McLuhan antecipou o conceito da internet ao dizer que as tecnologias da informação iriam interligar os povos como uma aldeia global. 1966 Michael Polanyi estabeleceu o princípio fundamental do conhecimento tácito, ou seja, a dimensão tácita do conhecimento, afirmando que: “Sabemos mais do que podemos dizer”. 1980 Alvin Toffler enfatizou que tínhamos entrado na era da informação e do conhecimento, a terceira onda. 1989 - 1990 Peter Senge lança o livro A quinta disciplina que trata das organizações que aprendem. 1990 - 1991 Nonaka e Takeuchi discorrem sobre a criação do conhecimento nas empresas e a espiral do conhecimento. 1991 Karl Wiig, um dos pioneiros na gestão do conhecimento, escreve sobre os fundamentos da gestão do conhecimento. 1992 Peter Drucker considera o conhecimento como principal fator de produção. 1996 Manuel Castells aborda a sociedade em rede. Infográfico 1 – Fatos marcantes na evolução da gestão do conhecimento 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1997 Nonaka e Takeuchi tratam da criação do conhecimento nas empresas. 1998 Karls Sveiby com a utilização do termo ativos intangíveis e Thomas Stewart com o termo capital intelectual, autor que aborda a identificação e o gerenciamento do ativo mais importante da empresa: o conhecimento. 2000 Padrões de certificação de conhecimento e inovação. 2001 Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento – criação de um grande fórum de discussão e estímulo à gestão do conhecimento no Brasil. 2002 Fabio Batista descreve um modelo de gestão do conhecimento em organizações públicas brasileiras. 2008 A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), após ter lançado o primeiro programa de pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento do Brasil, cria o Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento (dEGC). 2019 A Norma n.o 17025 estabeleceu critérios para implementar o Sistema de Gestão do Conhecimento (GC). Estamos a todo tempo falando em gestão do conhecimento, então, vamos agora, verificar como alguns renomados autores definem conhecimento. 1.2 Afinal, qual o conceito de conhecimento? Figura 2 – Gestão do conhecimento e desempenho organizacional 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A gestão pública, nesse contexto da era do conhecimento, é especialmente desafiada a incluir em suas organizações um modelo de gestão que atenda às demandas, aos interesses e às expectativas da sociedade e que apoie resultados que promovam equidade, com eficiência e efetividade, criando valor público. Diante disso, a gestão do conhecimento (GC) pode ser compreendida como um processo cada vez mais comum nas instituições. Algumas organizações têm visão clara de como incorporá-la e transformá-la em vantagem competitiva. No entanto, apesar do reconhecimento, nas últimas décadas, de bibliografia relacionada ao tema, há poucos estudos que relacionam especificamente como a GC maximiza o desempenho organizacional público. Atualmente, algumas práticas governamentais têm buscado conferir maior foco em ampliar o potencial de algumas organizações na atuação dos processos de geração, aquisição e compartilhamento de conhecimentos desenvolvidos. Alvarenga Neto, autor do livro Gestão do conhecimento em organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo (2008) afirma que a criação do conhecimento é o processo pelo qual as organizações criam ou adquirem, organizam e processam a informação, por meio da aprendizagem organizacional, com o propósito de gerar novos conhecimentos que permitam à instituição desenvolver novas habilidades e capacidades para criar novos produtos e serviços. Assim, o conhecimento é o ativo mais precioso de que as organizações dispõem. Para os percursores da GC no Japão e no mundo, Nonaka e Takeuchi (2008), o conhecimento é composto pelo processo dinâmico de um sistema de crenças pessoais justificadas. É o resultado da interação dos conhecimentos tácitos e explícitos. Já para Davenport e Prusak (1998), também pensadores do tema, o conhecimento é um conjunto de informações combinadas com experiências, vivências, intuição. Isso possibilita ao indivíduo interpretar, avaliar e decidir. Vigotsky, psicólogo e pioneiro no conceito de desenvolvimento intelectual, considera que o conhecimento é constituído em um ambiente histórico e cultural. Sendo assim, ele é intrapessoal e construído no processo de interação. Nesse sentido é crucial reconhecer alguns conceitos atribuídos à gestão do conhecimento, percebendo que não há consenso entre os principais teóricos em relação à definição. Ainda, é importante identificar qual significado faz mais sentido para o contexto da sua organização. Veja no quadro 1 como alguns autores conceituam gestão do conhecimento. 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Quadro 1 – Conceitos de gestão do conhecimento Autores Definição de gestão do conhecimento Nonaka e Takeuchi (1997) GC é um processo pelo qual as organizações buscam novas formas de criar e expandir o conhecimento, difundi-lo na organização como um todo e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas. Wiig (1997) GC foca-se em facilitar e gerenciar conhecimento relacionado a atividades tais como criação, captura, transformação e uso. Davenport e Prusak (1998) GC é o conjunto de ações que envolve identificar, gerenciar, capturar e compartilhar as informações da organização para atingir plenamente os objetivos da organização. É o resultado da interação entre o conhecimento explícito e o tácito. Sveiby (1998) GC é a arte de criar valor através da alavancagem dos ativos intangíveis e um conjunto de práticas que visam à manutenção do conhecimento. Bhatt (2001) É mais do que capturar, estocar e transferir informações. Somam- se às percepções, interpretações e organizações de informações e conhecimentos em diferentes perspectivas, processos de criação, validação, apresentação, distribuição e aplicação. Terra (2005) GC passa pela compreensão das características e demandas do ambiente competitivo e pelo entendimento das necessidades individuais e coletivas associadas aos processos de criação e aprendizagem. Uso e combinação de diferentes fontes e tipos de conhecimento visando ao desenvolvimento de novas competências para alavancar a capacidade de inovar. Batista (2012) GC é um método para mobilizar o conhecimento com a finalidade de alcançar os objetivos da organização e melhorar seu desempenho. Significa compromisso com a transparência; foco nos processos, em vez da hierarquia; uso e reuso eficaz de informações, conhecimentos e boas práticas de gestão; visão integradora; uso eficaz de novas tecnologias de informação e comunicação; e foco nas necessidades dos cidadãos. American Productivity and Quality Center (APQC) É a aplicação de um processo estruturado para ajudar informações e conhecimentos fluírem para as pessoas certas, no momento certo, para que possam atuar de forma mais eficiente e eficaz para encontrar, compreender, compartilhar e usar o conhecimento para criar valor. Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC, 2013) Gestão do conhecimento é compreender e perceber o contexto para uma abordagem de gestão intencional dos processos de identificar, mapear, compartilhar, disseminar, reter, proteger, experimentar, criar e aplicar conhecimento em produtos, serviços, processos, metodologias e ações de uma organização e/ou sociedade para geração sistêmicade memória, inteligência coletiva e colaborativa e inovação contínua, aumentando a capacidade de reestruturação e transformação de sua natureza, renovando persistentemente sua vantagem competitiva. 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Muito bem, até aqui aprendemos várias definições de gestão do conhecimento, mas qual a que mais se adequa às características do setor público? Nesse caso, o conceito adaptado de Batista (2012) e Terra (2005) é bastante pertinente. Esses autores reforçam que uma instituição pública com foco em inovação deve ter objetivos específicos ao adotar a GC. Veja o que eles dizem: Destaque h, h, h, h, Gestão do conhecimento significa o compromisso com a transparência; foco nos processos em vez da hierarquia; uso e reuso eficaz de informações, conhecimentos, boas práticas de gestão; visão integradora; uso eficaz de novas tecnologias de informação e comunicação; e foco nas necessidades dos cidadãos, por meio do uso e combinação de diferentes fontes e tipos de conhecimento visando ao desenvolvimento de novas competências para alavancar a capacidade de inovar. Agora, vamos abordar alguns conceitos importantes para a compreensão da gestão do conhecimento nas organizações. 1.3 Qual a diferença entre dado, informação e conhecimento? No contexto do estudo sobre gestão do conhecimento, precisamos diferenciar os conceitos de dado, informação e conhecimento. Perceba que todos esses componentes têm um papel fundamental nos ambientes organizacionais, porque todas as atividades implementadas – do planejamento à execução das ações – são apoiadas por esses elementos. Afinal, nesta nova era, o conhecimento torna-se protagonista nas organizações, e esse protagonismo é formado por uma mistura constante de experiências contextualizadas a partir dos elementos supracitados que, quando misturados à interpretação e à criatividade do profissional, proporcionam mudanças. Para alinharmos conceitos importantes na compreensão da gestão do conhecimento, observe no quadro 2 como cada um desses elementos será considerado neste estudo. Quadro 2 – Definições importantes para a gestão do conhecimento Dado Informação Conhecimento Inteligência/sabedoria Simples observação sobre o estado do mundo. Dados dotados de relevância e propósito. Informação valiosa da mente humana. Inclui reflexão, síntese, contexto, ambiente. Capacidade humana de analisar, interpretar, integrar, prever e agir. Fonte: Silva (2019). 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Para alguns autores, essas definições são marcos teóricos conceituais iniciais. Para que a informação seja transformada em conhecimento é necessária a aplicação de alguns métodos úteis. O resultado do gerenciamento continuum dado-informação-conhecimento é a capacitação organizacional para ações que geram resultados desejados no âmbito organizacional (CHOO, 2002). Observe que a figura 2 ilustra cada conceito e a transformação desses elementos. Com o intuito de reforçar esse conceito, é importante compreender que a natureza do dado permite que ele seja facilmente estruturado, quantificado, transferível e tratado por máquinas. Quando o dado está fora de contexto, pode não ter um significado, mas quando ele tem um sentido ou propósito, ele vira uma informação. Logo, a informação necessita de uma análise. Para tornar-se conhecimento, tal análise requer uma reflexão mais profunda, uma apropriação da informação que necessita da mente humana para que seja interpretada. Unidade 2. A importância da gestão do conhecimento no setor público Objetivo de aprendizagem: Ao final desta unidade, você irá compreender os objetivos, benefícios e desafios da gestão do conhecimento no setor público. 2.1 Objetivos da gestão do conhecimento no setor público O setor público passa por grandes desafios para cumprir a missão de articular e integrar áreas que atendam às novas demandas voltadas para a capacidade de operar as políticas do país e de fortalecer seu papel estratégico para a sociedade brasileira. Figura 3 – Dado, informação, conhecimento, ideia e sabedoria Fonte: Adaptada de www.mobimais.com.br 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Nos últimos tempos, a gestão do conhecimento vem ganhando espaço nas organizações e tem propiciado o compartilhamento, o acesso, a criação, a retenção e a integração desses conhecimentos em prol de melhores resultados. Para compreender a importância da informação e do conhecimento, veja a figura 3 que representa o antigo modelo de excelência em gestão da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). Esse modelo demonstrava como a informação e o conhecimento deviam circular entre as pessoas e os processos alinhados à estratégia da organização para gerar valor para a sociedade. Certamente, a implementação da GC na administração pública enfrenta inúmeras adversidades. Portanto, faz-se necessário apontar os objetivos, os fatores críticos de sucesso, os benefícios e os desafios na implementação da Gestão do conhecimento no setor público. Para enfrentar esse desafio, é necessário imprimir um grau de dinamismo maior a fim de potencializar a inovação e tornar as organizações públicas mais dinâmicas. O conhecimento, ativo intangível extremamente relevante, é um elemento que possui muito valor para a organização. Nesse sentido, os objetivos devem ser analisados no processo de implementação da GC no setor público para que tal ativo possa ser usado da melhor forma. Veja a seguir alguns objetivos da implementação da GC no setor público: • Compartilhar informações estruturadas e desestruturadas. • Agilizar o acesso às informações e evitar retrabalho. • Conectar especialistas geograficamente dispersos. • Apoiar a tomada de decisão. • Estimular a inovação. • Aproveitar melhor o capital intelectual. Figura 4 – Modelo de excelência em gestão Fonte: Qualyteam 15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Dar clareza às competências da instituição. • Tornar os processos mais colaborativos. • Aumentar a produtividade. • Acelerar o aprendizado a baixo custo. • Explorar a sinergia entre áreas. • Evitar cometer os mesmos erros. • Garantir a preservação da memória organizacional. • Evitar a perda de conhecimento por aposentadoria e desligamentos. Você estudou os objetivos da implementação da GC no setor público. Agora você conhecerá alguns fatores críticos de sucesso, com base em uma pesquisa que analisou vários modelos de GC. 2.2 Fatores críticos de sucesso da gestão do conhecimento em organizações públicas Vamos iniciar a nossa conversa sobre os fatores críticos de sucesso na implementação da GC no setor público, fundamentados na pesquisa de Rubenstein-Montano et al. (2001). Esse autor analisou 160 modelos de GC no que se refere à descrição dos fatores de sucesso. Segundo ele, 74% dos fatores críticos de sucesso são explicitamente mencionados. Tendo como base esse estudo e o resultado de pesquisa realizada em uma organização pública em Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde apresentamos uma relação que aponta para nove (9) fatores críticos de sucesso, que listamos a seguir: 1 Delinear ou definir o escopo de implementação da GC. 2 Observar a cultura e/ou contexto organizacional. 3 Ter o patrocínio da alta direção. 4 Fazer sensibilização sobre o tema de GC na organização. 5 Buscar o compromisso da média gerência. Figura 5 – Objetivos da implementação da GC no setor público Fonte: Adaptada de setting.com.br 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 6 Incentivar o compartilhamento e a formação de redes. 7 Possuir alinhamento à estratégia. 8 Dispor de uma base de dados estruturada. 9 Ter uma unidade responsável pela GC. Vale salientar que no Modelo de Gestão do Conhecimento para a Administração Pública Brasileira (MGCAPB) há uma orientação para a importância de se definir um projeto específico para implementação da GC. A seguir, destacamos alguns fatorescríticos de sucesso (FCS) que devem ser observados no processo de implementação da GC no setor público brasileiro. 1. Delinear ou definir o escopo de implementação da GC Porque entende-se que uma instituição pública de alta complexidade não daria conta de implementar a GC sem a definição de um escopo. 2. Observar a cultura e/ou contexto organizacional É necessário, no atual cenário, que haja gestão da mudança de cultura organizacional burocrática, para que toda organização possa aderir ao programa de GC proposto. 3. Ter o patrocínio da alta direção Para a implementação de práticas e ferramentas da GC, torna-se primordial o apoio da alta gestão, além de ser uma estratégia institucional. 4. Fazer sensibilização sobre o tema de GC na organização Para que os profissionais entendam a importância de internalizarem a GC em suas ações. 5. Buscar o compromisso da média gerência Apesar de a literatura incentivar a importância de se ter uma área específica trabalhando com isso, é necessário que os profissionais da média gerência estejam capacitados para pensar em melhores ferramentas. 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 6. Incentivar o compartilhamento e formação de redes Fomentar sinergia entre as áreas e atuar de forma colaborativa está se tornando uma característica fundamental definidora tanto dos negócios quanto do governo no século XXI. 7. Possuir alinhamento à estratégia Necessidade de que a aplicação das práticas e ferramentas da GC estejam alinhadas aos objetivos e iniciativas estratégicas da organização. 8. Dispor de uma base de dados estruturada A GC é um pilar estratégico, por isso é importante que a organização tenha um banco de dados estruturado para que possa extrair melhores informações que apoiem na tomada de decisão. Segundo a constatação de Bergeron (1996), um dos objetivos da gestão de recursos informacionais é o de estabelecer mecanismos necessários que garantam que a organização possa criar/adquirir, processar e armazenar dados e informações que sejam adequados, oportunos e precisos para dar embasamento aos objetivos organizacionais. 9. Ter uma unidade responsável pela GC É desejável para o sucesso da implementação da GC que haja uma coordenação estratégica da GC transversal. À medida que avançamos no assunto você deve estar percebendo que a implementação da GC traz inúmeros benefícios para o setor público. E é isso que abordaremos no próximo tópico. 2.3 Benefícios da gestão do conhecimento no Setor Público Figura 6 – Gestão do conhecimento Fonte: Adaptada de Fundação Instituto de Administração (FIA) 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Segundo Silva (2019), o potencial de geração de valor decorrente de uma abordagem de GC estruturada e articulada em seu conjunto pode retroalimentar de forma exponencial, a ponto de contribuir para processos de inovação e para a organização como um todo. Sendo assim, uma análise de investigações em organizações públicas revelou as principais contribuições da GC quando aplicada aos processos. Vejamos, a seguir, os principais benefícios que a implementação da GC no setor público pode trazer: 1 Evitar retrabalho e promover a aprendizagem organizacional. 2 Organizar dados – parte do conhecimento/informação organizada em base de dados e sistemas. 3 Alimentar e conferir maior qualidade à geração de ideias. 4 Subsidiar o entendimento de contexto, cenários alternativos e tendências mercadológicas e tecnológicas para identificação de oportunidades existentes ou emergentes de forma estruturada. 5 Promover intercâmbios e construção de conhecimentos em conjunto com outros atores. 6 Contribuir na inteligência de gestão do portfólio de projetos de inovação. 7 Prover conhecimentos qualificados e aprendizagem organizacional para os projetos ou iniciativas inovadoras. 8 Gerar produtos de conhecimento e incorporar aprendizados ao longo de todo o ciclo de inovação, com potencial aplicação, aprimoramento e geração de valor em novos projetos. 9 Proporcionar insights e aprendizados para a evolução da própria estratégia. Após estudar os objetivos, os fatores críticos de sucesso e os benefícios que a implementação da GC no setor público pode proporcionar, você deve estar se perguntando quais são os principais desafios enfrentados neste processo. Então, vamos abordar esses desafios no item a seguir? 2.4 Desafios da gestão do conhecimento no Setor Público Certamente, os desafios enfrentados na implementação da GC no setor público são inúmeros e distintos, dependendo de fatores intrínsecos a cada organização. De acordo com Silva (2019), os principais desafios referem-se a aspectos que foram encontrados na revisão de literatura em organizações que apoiam a necessidade de implementação de um modelo de gestão baseado no conhecimento. No entanto, deve se estar atento aos desafios que poderão ser limitantes nesse processo de implementação, tais como: 19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • baixa motivação dos pesquisadores em relação ao tema; • baixa capacidade da organização em motivar os servidores na partilha de seus conhecimentos; • cultura da resistência e da retenção de conhecimentos; • apropriação de novas tecnologias, tendências e oportunidades; • mapeamento do estado atual; • avaliação do impacto das inovações para a instituição; • risco de perda de conhecimentos de prováveis aposentadorias e do conhecimento dos profissionais terceirizados; • erros repetidos, reinvenção da roda e retrabalho, na maioria das vezes por conta da fragmentação das unidades; • conteúdo existente de difícil acesso, por conta da falta de compartilhamento dos pesquisadores; • baixa interação entre unidades e troca de conhecimento por falta de integração tecnológica; • dependência de conhecimento de empresas internacionais; • dificuldade de acordo para transferência de tecnologia; • conhecimento concentrado e disperso; • transformação digital; • obtenção de ferramentas/sistemas inteligentes e especialistas para transformar a informação em conhecimento e para aplicação e uso da inteligência competitiva; • desenvolvimento de gestores que entendam a importância da GC; e • dados abertos x propriedade intelectual. Um desafio considerável para o setor público nesse processo de implementação da GC é o elevado número de pessoas que irão se aposentar e a rotatividade de terceirizados. Esses dois fatores somados representam uma grande preocupação do setor público na atualidade. Nesse sentido, Sveiby (1998) afirma que um dos principais desafios da gestão do conhecimento é que, como a ênfase maior está no indivíduo, a organização deve estar atenta à importância desse capital intelectual, e principalmente quando o conhecimento pode deixar de ser o conhecimento da empresa. Outro exemplo que podemos destacar como um grande desafio para o setor público é a morosidade da transformação digital nas organizações. Tal processo ainda é feito de forma lenta e gradual, apesar da necessidade de adaptações devido ao advento da pandemia enfrentada e dos esforços governamentais para a implantação da política de transformação digital. No desafio sobre dados abertos x propriedade intelectual, em especial no setor público, verifica- se que existem aspectos antagônicos, decorrentes de particularidades da administração pública e do fato de ainda ser um contexto recente. O caráter burocrático da administração pública remete a um modelo que ainda não contribui para a esperada evolução nos serviços oferecidos. Sendo assim, entende-se a preocupação na adoção de uma política de ciência aberta que não afete a complexidade da cadeia de inovação até se tornar uma patente e atenda às expectativas da sociedade, principalmente no sentido de ampliar a transparência. Ainda há o desafio de como implementar uma política de dados abertos com pouca gestão dos dados e dos registros, realidade da maioria das instituições públicasbrasileiras. 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública É necessário avançar em algumas lacunas do setor público, como a falta de padrões de interoperabilidade da infraestrutura de tecnologia de informação. No caso de algumas organizações públicas, entre os desafios mais preocupantes está a promoção de infraestrutura informacional que atenda a todas as unidades, e na qual seja possível, além da disseminação de conhecimento, uma base de dados estruturada para fortalecimento da formação de redes colaborativas. Além de tantos desafios apresentados nesse contexto de GC em organizações públicas, elas ainda precisam lidar com questões complexas em cenários incertos, transformando desafios em oportunidades, antecipando ameaças emergentes e desenvolvendo parcerias. É nesse sentido que um modelo de gestão voltado para o conhecimento pode contribuir para a melhoria da governança e consequentemente dos serviços prestados à sociedade. Unidade 3. Afinal, o que é era do conhecimento? Objetivo de aprendizagem: Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer as relações entre conhecimento e a era do conhecimento. Assista ao vídeo de apresentação da unidade. CLIQUE PARA ASSISTIR > Para entender o que é a era do conhecimento e as relações entre o conhecimento tácito e explícito, assista ao vídeo a seguir. CLIQUE PARA ASSISTIR > No vídeo que você acabou de assistir foi falado acerca do mundo VUCA. Para saber mais sobre esse assunto, assista ao vídeo Vuca Oficial, que aborda o conceito VUCA de forma objetiva e criativa. Referências ALVARENGA NETO, Rivadávia Correa Drummond. Gestão do conhecimento em organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo. 2008. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2008. BATISTA, Fabio Ferreira. Modelo de gestão do conhecimento para a administração pública https://cdn.evg.gov.br/cursos/414_EVG/video/modulo01_video00.mp4 https://cdn.evg.gov.br/cursos/414_EVG/video/modulo01_video03.mp4 https://www.youtube.com/watch?v=ZuEF76Xs_Mw 21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública brasileira: como implementar a gestão do conhecimento para produzir resultados em benefícios do cidadão. Brasília: IPEA, 2012. Disponível em: http://www.gespublica.gov.br/sites/default/ files/documentos/modelo_de_gestao_do_conhecimento_para_a_administracao_publica_ brasileira._livro.pdf. Acesso em: 9 abr. 2021. CAPUANO, Ethel Airton. Construtos para modelagem de organizações fundamentadas na informação e no conhecimento no serviço público brasileiro. Ciência da Informação, Brasília, v. 37, n. 3, p. 18-37, set./dez., 2008. CASTELLS, Manuel. 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