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Sergio Emilião MI - F R+C O GRUPO ADONHIRAMITA DE ESTUDOS apresenta A INICIAÇÃO NO RITO ADONHIRAMITA Parte I • A apresentação foi baseada na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, e nas diversas edições do Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, do Rito Adonhiramita, publicadas pelo Grande Oriente do Brasil – GOB, com maior ênfase para a edição atual, datada de 2009 • Os comentários refletem apenas a opinião pessoal do apresentador, e não a posição oficial do Grande Oriente do Brasil nem de qualquer Potência Simbólica ou Filosófica na qual o Rito Adonhiramita é praticado • Todas as dúvidas podem e devem ser dirimidas de forma oficial junto à Secretaria Geral de Orientação Ritualística do Grande Oriente do Brasil, e nos departamentos correspondentes nas demais Potências AVISO LEGAL O ingresso na sala virtual desta apresentação implica na tácita concordância com a íntegra do que dispõe a Lei Geral de Proteção de Dados, Lei Federal n° 13.709, de 14.08.2018 OBSERVAÇÕES • A Iniciação é um rito de passagem • Através da História, vemos esta prática desde as mais remotas civilizações, entre tribos, clãs, indígenas, religiões, e modernamente nas faculdades • Apesar de referirem-se a situações diferentes em todas essas culturas, as Iniciações possuem como característica comum a mudança de rumo na vida do Iniciado, um recomeço, um novo início • A variedade de situações em que esse rito de passagem é aplicada, resulta igualmente numa variada gama de objetivos, porém, todos baseados na dramatização de alguma circunstância • Algumas dessas situações no passado literalmente expunham o candidato ao perigo, o que evidentemente não ocorre atualmente, mas apenas de modo simbólico, porém, permanece a relação com a alegórica morte física do candidato, e seu renascimento de outro modo • Assim, ser um Iniciado, tornou-se sinônimo de entrada para um novo universo, geralmente associado a um conhecimento restrito a um determinado grupo, e secreto para os que estão de fora dessas associações • Essa tradição, ou costume, foi absorvida pela Maçonaria moderna, e é praticada por todos os Ritos, porém, respeitando as características e peculiaridades de cada um deles • Esta apresentação será dividida em três partes, e nessa primeira etapa, minha intenção é examinar o conceito de Iniciação através dos tempos e das culturas, analisar as origens dessa prática no mundo ocidental, e comentar sua adoção pelo Rito Adonhiramita, até a chegada do candidato ao Templo, com ênfase na prática atual INTRODUÇÃO PLANEJAMENTO GLOBAL DA APRESENTAÇÃO PARTE I Origem da Iniciação As Escolas de Mistérios A Iniciação Maçônica A Inserção nos Rituais A Condução do Candidato O Irmão Terrível PARTE II A Câmara de Reflexões A Cena da Traição A Câmara Ardente As Viagens A Taça Sagrada PARTE III A Luz O Batismo A Consagração O Lugar no Templo ESCOPO • Introdução • Etimologia • A Iniciação nos Povos e Culturas • As Escolas de Mistérios • Os Mistérios de Ísis • Os Mistérios de Elêusis • Os Mistérios dos Templários • A Iniciação na Maçonaria Operativa • A Iniciação na Maçonaria Moderna • A Inserção nos Rituais • A Condução do Candidato • O Irmão Terrível • Conclusão ETIMOLOGIA • O verbete Iniciação vem do latim initiatio onis, que possui o sentido de começo, ou entrada • O termo passou a designar uma cerimônia especial em muitas culturas, referindo-se, alternadamente, ao ingresso de um novo membro em um determinado grupo, à passagem a um novo ciclo ou estágio da vida, a uma nova profissão, um noviciado, etc. • Embora com fins diversos, esse rito de passagem, que chamamos de Iniciação, possui elementos comuns em todas as culturas e civilizações: 1. São conduzidos por um veterano, alguém mais experiente e previamente integrante de um grupo; 2. Envolvem ambientes precários e períodos de isolamento, a fim de fortalecer o candidato no enfrentamento de obstáculos, e dirigir sua atenção para si mesmo; 3. São acompanhadas do cumprimento de tarefas ou missões; 4. Envolvem a obtenção de novos conhecimentos; 5. Provocam alterações psicológicas nos candidatos; 6. Não raro, estão ligadas à ancestralidade. • Como vemos, todas essas características existem nas Iniciações maçônicas, porém, esse rito de passagem não foi inventado pelos ritualistas, eles simplesmente se inspiraram em práticas já existentes A INICIAÇÃO NOS POVOS E CULTURAS • A literatura demonstra que esse rito de passagem está longe de ser exclusivo da Maçonaria moderna, há vários exemplos em todas as culturas • Algumas nações indígenas costumavam levar os jovens para uma jornada solitária na floresta, durante determinado tempo, a fim de que, enfrentando seus medos e perigos, se tornasse um adulto. Era comum que esses jovens estivessem vendados • No candomblé das nações africanas, o Iniciado é colocado num período de isolamento total, além de submeter-se a rituais específicos • Em algumas religiões monásticas, o noviciado deve cumprir um período de clausura e isolamento, dedicando-se exclusivamente à prece e à meditação • E existem também, é claro, as Iniciações das Escolas de Mistérios da antiguidade • Nessas Escolas de Mistérios, destaco os Mistérios de Ísis, no antigo Egito, e os Mistérios de Elêusis, na Grécia antiga • Creio que boa parte da inspiração dos ritualistas maçônicos veio dessas duas Tradições Iniciáticas • Veremos isso com mais detalhes a seguir AS ESCOLAS DE MISTÉRIOS • Embora não possamos traçar uma cronologia precisa, tudo leva a crer que a origem das Escolas de Mistérios da antiguidade remonta ao Egito politeísta • Essas instituições, na verdade eram “cursos”, cujo objetivo era formar sacerdotes na religião egípcia, ou seja, os ensinamentos velados, chamados mistérios, eram transmitidos exclusivamente aos membros dessas escolas, e no futuro, caberia a eles preservar a tradição, e ensinar ao cidadão comum o conhecimento que considerassem adequado dentro da doutrina • Resumidamente falando, esse conhecimento especial, que se referia ao homem e ao Universo, era restrito aos sacerdotes e seus aprendizes, não era público. O conhecimento é uma arma perigosa se mal utilizada • O rito de passagem que concedia o ingresso a essas escolas era justamente a Iniciação • A Iniciação ganha outra dimensão a partir de então, passa a aludir a Planos diferentes da Existência. Os egípcios parecem ter sido a primeira civilização a cultuar a vida pós morte, e a ideia por trás da Iniciação era justamente causar um impacto psicológico no candidato, que o fizesse refletir sobre essa hipótese • A Iniciação se transforma num psicodrama • Passa a simbolizar a morte como uma transição, uma transformação, e não o fim da existência. “Morre” o profano, e “nasce” o Iniciado, um novo ser, mais preparado que o cidadão comum, e dono de um conhecimento mais amplo sobre o Universo • A Iniciação passa a representar o ciclo contínuo de NASCIMENTO – VIDA – MORTE – RENASCIMENTO • O homem não morre, simplesmente se transforma • Esse mesmo conceito vai ser absorvido pelos gregos, e mais tarde, atingir as fraternidades esotéricas atuais, dentre elas, a própria Maçonaria OS MISTÉRIOS DE ÍSIS • A doutrina das Escolas de Mistérios do antigo Egito era fundamentada no mito de Ísis e Osíris • Deuses do panteão egípcio, os dois, além de irmãos, filhos de Rá, eram casados, e Osíris era considerado o “Pai da Humanidade”, “O Civilizador” • Osíris foi assassinado por seu irmão Seth, teve seu corpo esquartejado e lançado em locais diferentes nas águas do rio Nilo • Ísis foi à sua procura, reuniu todas as partes de seu corpo, e com a ajuda de Toth o trouxe de volta à vida • Porém, esse renascimento foi diferente, nem a magia de Ísis, e o conhecimento de Toth, foram capazes de ressuscitar plenamente Osíris, que passou a viver no Tuat, o mundo dos espíritos, onde se tornou o juiz das almas que deixavam o Plano Material • As Iniciações das Escolas de Mistérios do antigo Egito eram pautadasnesse drama, e segundo os autores tinha início em câmaras subterrâneas, e mesmo no interior de pirâmides, ou seja, do ventre da Terra • O Iniciado “morria” para a existência terrena, e “renascia” com o conhecimento do mundo espiritual • Ísis era a divindade que regenerou o morto, e o conduziu a uma região onde brilhava a luz. Osíris era esse morto, que regenerado pelo poder de Ísis, obtém igual poder para conduzir outros mortos pelo caminho que também os leva a luz • Por isso Ísis, e não Osíris, é a “Mãe dos Mistérios”, é ela quem tem o poder e o conhecimento. É um arquétipo da doutrina que será ensinada aos aprendizes de sacerdotes, através dos Arcanos Menores e Maiores • Vemos aqui uma associação das mais interessantes com a Maçonaria moderna, Ísis representa a própria Doutrina Maçônica, cujos ensinamentos se propõem a nos guiar das trevas para a Luz OS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS • Os gregos instituíram uma Escola Iniciática que se chamava Mistérios de Elêusis, ou Eleusinos • O mito que fundamentava a doutrina era o de Deméter, deusa da agricultura, e sua filha Perséfone • Perséfone foi raptada por Hades, deus do submundo, que lá a aprisionou. E imediatamente, toda a Natureza declinou. Diante dos apelos de Deméter, e do próprio Zeus, Hades se compadeceu, e permitiu a Perséfone que passasse parte de sua existência no mundo dos vivos, e parte no mundo dos mortos, alternadamente • O submundo era localizado no interior da Terra, e o acesso se dava por meio de uma caverna • O mito grego, na verdade, faz alusão aos ciclos da Natureza, que “morre” sob o rigor do inverno, e “renasce” na primavera • Conceito próximo daquele do Egito, e nesse caso, o Plano Material era representado pelo reino dos vivos, e o Plano Espiritual pelo submundo • Nesse mito, Perséfone é seu próprio guia, pois conhece os caminhos entre os mundos • Sabemos o que os Mistérios de Elêusis cultuavam, mas não conhecemos detalhes dos rituais de Iniciação • Mas parece que a Maçonaria moderna se inspirou nesse drama de morte na Terra como uma semente, e renascimento como um vegetal, ciclo esse que se repete eternamente, para idealizar nossas atuais Câmaras de Reflexões • Lá “morre” o profano, e “nasce” o Iniciado A INICIAÇÃO DOS TEMPLÁRIOS • A relação existente entre os Cavaleiros Templários e a Maçonaria moderna é cheia de glamour, mas igualmente discutível • Porém, a sua influência nos rituais maçônicos, mais notada em alguns Ritos, é indiscutível • Não há registros da prática de cerimônias de Iniciação, como conhecemos na antiguidade e na Maçonaria moderna entre eles, mas possuíam sim um rito de passagem, que era chamado de Investidura • Pelo que se sabe, os candidatos a cavaleiros tomavam banhos para simbolizar sua purificação, vestiam vestes brancas, se recolhiam numa espécie de claustro, e ali permaneciam durante uma noite inteira, meditando e rezando. Há relatos também que iriam numa capela em determinado momento, para rezar diante do altar, na Vigília das Armas • Não há indícios de terem que passar por provas de admissão • No dia seguinte, após esse recolhimento, eles confessavam e eram consagrados numa igreja ou catedral • Nessa cerimônia, os candidatos ficavam de joelhos, e o sacerdote os investia, usando uma espada que era brandida em sua cabeça e ombros • É possível associar esse recolhimento dos candidatos a cavaleiro com nossa vigília na Câmara de Reflexões, porém, me parece que o ponto absorvido pelos rituais maçônicos, principalmente no que diz respeito ao Rito Adonhiramita, é justamente o da Sagração, quando após jurar seu compromisso sobre o Livro da Lei, o candidato é investido como maçom, de forma semelhante à investidura dos Templários A INICIAÇÃO NA MAÇONARIA OPERATIVA • É pouco provável que houvesse entre os maçons operativos, uma cerimônia de recepção semelhante às Iniciações que conhecemos atualmente • As Antigas Ordenações nos remetem a ritos de passagem mais simples, consistindo em declarações de compromisso, juradas em conformidade com as regras da Igreja Romana • Mas com o passar do tempo, já no período de transição entre os modos operativo e especulativo, podemos encontrar rituais que podem sugerir o início dessa prática • Ou seja, a cerimônia de recepção permeada de simbolismo que praticamos atualmente não foi herdada das guildas de pedreiros medievais • Isso parece lógico, pois os maçons operativos não tinham a intenção de autoaperfeiçoamento moral, intelectual ou espiritual, sua pretensão era apenas de aprender as técnicas de construção, esse era o segredo entre eles • Apesar disso, os ritualistas utilizaram suas ferramentas e utensílios como símbolos doutrinários, e são esses elementos que fazem a conexão entre as nossas atuais Iniciações e as guildas de pedreiros A INICIAÇÃO NA MAÇONARIA MODERNA • A cerimônia de Iniciação que conhecemos atualmente não existia no final do século XVII e início do XVIII, quando a transição para o modo especulativo tornou-se “oficial” • O ingresso do candidato na Maçonaria era feito de forma bem simples, nos mesmos moldes das guildas operativas, e era chamada de Recepção • Isso pode ser deduzido da leitura do Manuscrito de Graham (1726), e da Maçonaria Dissecada de Pritchard (1730) • Lembrava em muito o retiro dos Cavaleiros Templários, o candidato era colocado num quarto totalmente escuro, e permanecia em silêncio durante algum tempo, acompanhado pelo seu padrinho. Após isso, era simplesmente introduzido no Templo onde se tornava maçom, num ritual igualmente simples • Caminhava no sentido dos ponteiros do relógio, ou seja, pela Coluna do Norte em nossos Templos atuais, colocava-se em frente ao Venerável Mestre e firmava o compromisso sobre a Bíblia • Não havia Marcha • Ao que parece, as cerimônias mais elaboradas começaram a surgir na França nas décadas de 1750 e 1760 • Da mesma forma, tudo leva a crer que a cerimônia de Iniciação foi inserida nos rituais dos Altos Graus, e a partir destes, implantada no Grau de Aprendiz • O termo Iniciação nos rituais surgiu oficialmente, e com descrição mais detalhada, em 1801, no Régulateur du Maçon A INICIAÇÃO NA COMPILAÇÃO PRECIOSA • O Rito Adonhiramita parecer ter sido sempre um capítulo à parte na Maçonaria Francesa, e a Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, (1781 a 1787), precede a publicação do Régulateur du Maçon, cabe verificar se há alguma pista sobre a cerimônia de Iniciação nos primórdios do Rito • Como sabemos, a Compilação era um catecismo, um conjunto de perguntas feitas pelo Venerável Mestre ao Aprendiz, e nesse diálogo, podemos imaginar como era feita a Recepção do candidato • Do conteúdo do primeiro volume, da edição de 1787, colhi as seguintes informações: 1. O candidato era preparado pelo Irmão Experto (havia apenas um na ocasião); 2. Já existia a tradição do “meio nu, meio vestido”, e do candidato ser vendado; 3. O candidato já era despido dos metais antes de ingressar no Templo; 4. Ao ingressar no templo, o candidato era conduzido ao 2° Vigilante, na Coluna “J”; 5. Já existiam as Viagens, executadas no sentido horário, porém, não há descrição de como eram feitas, é informada apenas a direção; 6. Já existia a Marcha do Grau; 7. O Juramento era feito sobre o Evangelho de João, com o Compasso sobre o peito; 8. Já existiam as Palavras Sagradas e de Passe no Grau Aprendiz; 9. O Aprendiz recebia dois pares de luvas; 10. Havia três luzes, ou candelabros no Templo, ou seja, velas litúrgicas; 11. O candidato recebia a Luz. • Como podemos ver, nossa prática atual preservou quase na totalidade a tradição original do Rito • Na verdade, o que nos separa do relato acima em nossos rituais é simplesmente o detalhamento de cada uma dessas etapas, o que, diga-se de passagem, se deu em período muito mais recente A INSERÇÃO NOS RITUAIS • O primeiro ritual Adonhiramita publicado em solo brasileiro é de 1836, editado pelo GOB • Era uma versão ampliada, ou mais detalhada, da Compilação Preciosa • Hánele uma orientação quanto à seleção do candidato, que é chamado de Aspirante, e também uma explanação sobre o simbolismo da Iniciação, que ainda é tratada como Recepção • No final da exortação sobre a Iniciação, há uma recomendação das mais interessantes, que é a sugestão de leitura do “Curso de Iniciações dos Sacerdotes de Memphis”, o que reporta aos Mistérios de Ísis, do antigo Egito. Como tenho tentado demonstrar, o perfil místico e esotérico do Rito Adonhiramita não foi implantado em 1963, mas vem desde seus primórdios • O restante deste ritual consiste numa reprodução literal do texto da edição de 1787 da Compilação Preciosa, com um mínimo de ajustes • Desta forma, deduz-se que o Rito Adonhiramita chegou ao Brasil adotando a mesma prática da França A DESCRIÇÃO COMPLETA DA INICIAÇÃO • A descrição mais detalhada da Iniciação no Rito Adonhiramita surgiu no ritual de 1896, publicado pelo GOB, já sob a égide do Sublime Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas, Oficina- Chefe do Rito • Aliás esse é o ritual antigo que mais se aproxima das versões contemporâneas, a maioria das etapas litúrgicas e ritualísticas surgiram nele • Do exame desse ritual destacamos: 1. A existência da Câmara de Reflexões; 2. A cerimônia ainda era tratada como Recepção; 3. O 1° Experto já era tratado como Irmão Terrível; 4. Já existem a Cena da Traição e a Câmara Ardente, que era chamada de Câmara Funerária; 5. Surge a súplica, ou Oração, em favor do candidato; 6. O candidato era submetido a perguntas, entre Colunas, como fazemos hoje; 7. O modo de fazer as Viagens ainda não é descrito, porém, as explicações feitas pelo Venerável Mestre demonstram que eram realizadas na forma que conhecemos atualmente; 8. O Juramento se chamava Obrigação, e o candidato tinha que beijar a Bíblia três vezes; 9. Surge a etapa do Batismo, da mesma forma que procedemos hoje, e da concessão do Nome Histórico, que era simplesmente referido como “Nome” 10. O Orador fazia uma explanação, de sua lavra, sobre a Maçonaria. • Ou seja, a base da prática que conhecemos atualmente, foi estabelecida no ritual de 1896, publicado pelo GOB O DETALHAMENTO POSTERIOR • As etapas da cerimônia de Iniciação foram aperfeiçoadas, ou melhor detalhadas, a partir das edições seguintes dos rituais de Aprendiz Adonhiramita, publicados pelo GOB 1. Em 1946 é inserida a etapa da Taça Sagrada, e o Testamento, que é lido pelo Orador em Loja. Não é mencionada a obrigatoriedade do candidato beijar a Bíblia três vezes. Ao receber os Sinais, Toques e Palavras, o Iniciado era informado também da prática do Rito Moderno e do REAA; 2. Em 1954, surge a descrição de como são feitas as Viagens, e retorna a obrigação do candidato beijar a Bíblia por três vezes; 3. Em 1963 surge uma descrição mais detalhada da Câmara de Reflexões, do Questionário, e do Testamento. A cerimônia de Recepção passa a se chamar Sessão Magna de Iniciação. A obrigação de beijar a Bíblia por três vezes é definitivamente excluída dos rituais. Deixam de ser ensinados os Toques, Sinais e Palavras de outros Ritos; 4. Em 1969, a Câmara Fúnebre passa a se chamar Câmara Ardente, e no Batismo é mencionada pela primeira vez a expressão Nome Histórico; A fala do Orador se referia ao simbolismo da Iniciação; 5. Em 2003, o Irmão Traidor recebe o nome simbólico de Caim, a fala do Orador sobre o simbolismo da Iniciação passa a constar do ritual, e é acrescida a instrução, igualmente feita pelo Orador, sobre a finalidade do Tronco de Solidariedade. • As últimas alterações acerca da cerimônia de Iniciação, inseridas nos rituais Adonhiramitas, ocorreu em 2003, desde então, até nossos dias, não houve quaisquer acréscimos ou supressões, ressaltando que a última edição, no âmbito do GOB, data de 2009, e ainda está em vigor A CONDUÇÃO DO CANDIDATO • A partir deste momento, vamos analisar a cerimônia de Iniciação em suas etapas práticas e atuais, começando pela condução do candidato ao Templo • Quem leva o candidato até o Templo é o padrinho. Talvez os Amados Irmãos contestem que isso não consta do ritual, porém, na página 154 do ritual de Aprendiz Maçom Adonhiramita, publicado pelo GOB em 2009, está gravado o seguinte: “O(s) candidato(s), trajado(s) ritualisticamente, é (são) conduzidos à Loja por um de seus padrinhos, e introduzidos no edifício, de modo que não veja(m) nem conheça(m) pessoa alguma, além do seu condutor que o(s) venda. Feito isso é (são) entregue(s) aos cuidados do 1° Experto (Irmão Terrível)”. • Creio que não pode haver dúvidas nesse sentido, nos termos do ritual o candidato deve ser conduzido ao Templo pelo seu padrinho, “de modo que não veja ou conheça pessoa alguma(...)” • Ver, ou simplesmente ouvir a voz de outro maçom, que participará da cerimônia de Iniciação, pode prejudicar a dramatização. O “mistério” da Iniciação começa pela condução do candidato ao Templo, ele não deve saber o que lhe espera • Além disso, essa prática no passado tinha a intenção de emprestar segurança aos maçons, já que no caso de desistência do candidato durante o processo, a identidade dos maçons estaria preservada • A expressão “trajado ritualisticamente”, quer dizer que ele deve ingressar no Templo com o traje Adonhiramita, evidentemente sem o avental • Há ainda outra razão, e no meu entendimento fundamental para o candidato ser conduzido ao Templo por seu padrinho, e veremos isso a seguir COMO CONDUZIR O CANDIDATO? • É natural que preexista uma relação de confiança entre candidato e padrinho, pois se conhecem bem • O candidato está prestes a ser exposto a um universo completamente desconhecido para ele, há muitas incertezas, temores, e, principalmente fantasias. Certamente está ansioso, e assustado • O papel do padrinho é fundamental nesse sentido, é necessário acalma-lo, deixa-lo o mais confortável e seguro possível. Creio que esta, seja a principal razão da recomendação do ritual para que o padrinho conduza o candidato até o Templo no dia de sua Iniciação • Na maioria das vezes, esse transporte, da residência do candidato até o templo, é efetuado no automóvel do padrinho. Nesse caso, é recomendável que seja acompanhado de uma música suave e relaxante ao fundo • A conversa deve ser amigável, descontraída e tranquilizadora, porém, não é recomendável desviar o foco. Assuntos como política, religião, futebol, etc., não são recomendáveis, pois poderão, inadvertidamente, despertar paixões, animosidades, e sentimentos indesejáveis para quem será submetido a uma experiência ímpar em sua vida • Essa é a oportunidade de tirar dúvidas ainda existentes sobre a Ordem, falar um pouco sobre a segurança de tudo que irá ocorrer, porém, por óbvio, não devemos cometer nenhuma indiscrição • Antecipar etapas que deverão ser surpresa para o candidato, como por exemplo o recebimento de um Nome Histórico, não são recomendáveis ou desejáveis • Lembremo-nos, antes de tudo, que prestamos juramento de sigilo O QUE NÃO FAZER DURANTE A CONDUÇÃO? • Algumas práticas mais antigas, deixaram de ser permitidas no âmbito do GOB, no que se refere à condução do candidato até o templo, dentre elas destaco: 1. Vendar o candidato durante o percurso; 2. Levar o candidato a um cemitério, ou coloca-lo no interior de um caixão; 3. Simular direção perigosa durante o transporte, ou transitar por locais perigosos e suspeitos; 4. Aplicar trotes, como segurar um punhado de milho, acariciar um bode, sentar num assento de pregos, “marcar” partes de seu corpo com objetos quentes, expô-lo a sons e odores desagradáveis, acorrenta-lo, etc.; 5. Expor o candidato a qualquer tipo de humilhação ou susto que não contribuam para o simbolismo da Iniciação • Nossos rituais atuais são bastante detalhados, não deve ser feito nada que não esteja neles gravados “NEM NU, NEM VESTIDO” • Essa expressão é nossa conhecida • O candidato tem parte esquerda de seu tórax, e a direita de sua perna desnudos, um pé descalço, e outro com um chinelo • Os pesquisadores afirmam que essa práticaprovavelmente foi herdada da investidura dos Cavaleiros Templários, mas o motivo original não era nem místico, nem simbólico, servindo apenas para que fosse certificado que o postulante era do sexo masculino, lembrando que as Potências obedientes à GLUI não permitem o ingresso de mulheres na Maçonaria • Com o passar do tempo, e talvez para tornar a prática mais nobre, foram acrescidos significados simbólicos • Guillemain de Saint-Victor, na edição de 1787 da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, explica que o candidato é colocado nestas circunstâncias para “provar que o luxo é um vício que se impõe apenas ao vulgar, e que o homem que quer ser virtuoso deve se por acima dos preconceitos” • Talvez Saint-Victor não tenha sido muito claro ao prestar esses esclarecimentos, afinal, esse era o texto dos rituais, e devia ser mantido • Mas entendo que, Iniciáticamente falando, essa prática tem a intenção de simbolizar que o candidato naquele momento encontra-se no limiar entre o profano, que adquiriu bens materiais, assim como conhecimentos, que caracterizam sua personalidade, e o Iniciado, que deve se despojar de seu ego, de sua personalidade, de suas convicções prévias, para que possa conhecer um pouco mais sobre o Universo, de um modo diferente que o seu • Nesse momento, podemos dizer que o candidato é um ser em transformação, e que sua escolha, ou sucesso nas provações, irá definir qual lado de seu corpo lhe é mais adequado • Alguns Ritos conduzem o candidato com uma corda no pescoço, essa prática não existe no Rito Adonhiramita O DESPOJAMENTO DOS METAIS • No meu entendimento, a interpretação corrente sobre a prática de despojar o candidato dos metais é incorreta, ou ao menos incompleta • Saint-Victor, na edição de 1787 da Compilação Preciosa já fazia essa advertência, dizia ele que o simbolismo correto é “porque são símbolos dos vícios, e porque um bom maçom não deve possuir nada como propriedade particular”. Justifica ainda, que “... Os antigos maçons tinham todos os seus bens em comum, para confortar os viajantes e infortunados”. • É um pensamento comum aos místicos, nada do que possuímos materialmente é nosso, o Universo apenas nos empresta por algum tempo • William Preston, em 1772, na obra Illustration od Masonry, também se incumbiu de esclarecer que a Maçonaria não considera os metais como algo “sujo”, e, portanto, não é esse o simbolismo do despojamento de metais do candidato. Nas suas palavras: “... O metal não pode fazer a diferença entre os maçons, cuja ordem é baseada na paz, virtude e amizade”. • Ou seja, não se despoja o candidato de metais porque se trata de algo nocivo, mas porque está afeto à sua personalidade anterior, ao profano • Entendo esse simbolismo de modo muito mais amplo, é nesse momento que o profano “morre”, ele já entra “morto” na Câmara de Reflexões, e dali sairá para “nascer” novamente no interior do Templo • Chegamos nesse mundo sem nada, e assim o deixaremos. O profano deve deixar para trás tudo que ele é e tem no mundo profano, inclusive suas convicções, e principalmente os preconceitos, as ideias preconcebidas. É necessário que ele se enxergue como um novo ser, livre de tudo que julgava certo e seu até então • A não compreensão desta transformação interior resultará em prejuízos sérios, traduzidos na contestação da Doutrina, dos rituais, das decisões da Loja, etc. Se isso ocorrer, é porque não fomos capazes de submeter nosso ego na Câmara de Reflexões • Alguns autores atribuem a prática à prevenção da absorção de energias negativas durante a cerimônia de Iniciação. Particularmente discordo, por creio que nossos Templos não são repositórios desse tipo de energias A VENDA • Enxergo mais de um motivo e simbolismo para o fato do candidato ser conduzido vendado em boa parte da cerimônia de Iniciação • A primeira razão, e mais óbvia, é para não permitir que ele veja em que ambiente está, e nem quem são os maçons. Talvez, nos primórdios da Maçonaria moderna, essa prática também se justificasse pela necessidade de segurança quanto ao local das reuniões e identidade dos maçons, mas não me parece ser apenas isso • Sob o ponto de vista simbólico, todo mistério deve ser desvendado, portanto, a princípio, estamos todos cegos antes de conhecer a verdade, estamos às escuras • A cerimônia de Iniciação é uma dramatização, e deve ser “sentida” pelo candidato, privando-o do sentido da visão, todos os demais se aguçam, sua imaginação ganha asas, o impacto psicológico do desconhecido e não visível é amplificado • Sob o ponto de vista filosófico, a visão por vezes nos cega, ou faz com que percebamos a realidade de forma diferente, como uma ilusão. Nesse sentido, há a alegoria da Justiça, que possui os olhos vendados, pois não se ilude com as aparências, julga o mérito, e não a forma • A venda também representa as trevas da ignorância, na qual simbolicamente estamos mergulhados antes de nossa Iniciação • Por essa razão, permanecemos sem enxergar até que a Luz nos seja concedida • Se fizermos a analogia da Câmara de Reflexões com o útero materno, teremos o nosso “nascimento” associado exatamente a esse momento, quando recebemos a Luz, antes disso, somos apenas “embriões de Iniciados” • O último motivo que vislumbro é o fato da venda não ser retirada por nós mesmos, ou seja, a Luz do Conhecimento está sendo concedida a nós por outros, em compartilhamento, nenhum de nós saiu das trevas sozinho, precisamos sempre uns dos outros O IRMÃO TERRÍVEL • O Irmão Terrível é um personagem altamente enigmático. Sua função é desempenhada pelo 1° Experto, mas como muitas Lojas não possuem Mestre investido no cargo, a escolha acaba recaindo sobre um Mestre escolhido pelo Venerável Mestre • No meu entendimento, é o ator principal da Iniciação, todas etapas ritualísticas na dramatização requerem sua participação, que só é encerrada quando o candidato recebe a Luz • E o término de sua atuação se dá de maneira bem discreta, simplesmente ele “desaparece”. Não me parece ser ao acaso e sem propósito • É ele quem introduz o candidato na Câmara de Reflexões, e o único que se relaciona com ele o tempo todo, mesmo nos momentos não previstos no ritual • A segurança do candidato é de sua inteira responsabilidade • É o Irmão Terrível que o “salva” da tentação da Cena da Traição, e apresenta a consequência dos maus atos na Câmara Ardente • Também é ele quem guia o candidato pelas Viagens • Resumidamente falando, durante todo o processo de transição entre o profano e o Iniciado, o Irmão Terrível o acompanha como uma sombra, e às vezes, como no caso das Viagens, como o único caminho a seguir. A confiança do candidato nele é proporcional ao êxito da dramatização • O Mestre que desempenha esta função deve ser bem selecionado • Sua atuação é tão importante nas Iniciações, que decidi dedicar um tempo maior nesta apresentação, para sua análise em particular O TRAJE DO IRMÃO TERRÍVEL • O 1° Experto, ou Irmão Terrível, é o único maçom Adonhiramita que é autorizado a usar balandrau, mesmo assim, acompanhado de capuz, e exclusivamente nas cerimônias de Iniciação • Isso porque, nesse caso especial, ele não está vestido como maçom, por isso não usa o avental de Mestre, nem Joia do cargo. Ele representa o verdugo, o carrasco medieval, que escondia seu rosto para se proteger de represálias e vinganças • À princípio, pode parecer ilógico, ou politicamente incorreto, inserir a representação de um personagem tão odiado da História, e associado à violência, na cerimônia de Iniciação de uma Fraternidade dedicada à moral, à igualdade e à justiça, mas tenham certeza que não é assim, aliás, julgo o simbolismo por trás do personagem como dos mais adequados e felizes, veremos mais à frente porque • Deste modo, por força da representação e do simbolismo do cargo, seu rosto deve permanecer oculto pelo capuz mesmo no interior da Loja, ele é a “sombra” que acompanha todo maçom, como demonstrarei adiante • Fiz questão de reproduzirneste slide a imagem da página 154 do ritual de 2009, do GOB, para demonstrar que é exatamente assim que ele deve se apresentar enquanto estiver atuando • O ritual sugere que o candidato seja vendado antes de ser entregue pelo padrinho ao Irmão Terrível. Particularmente, creio que causaria um impacto maior se isso ocorresse depois, para que ele vislumbrasse que a partir daquele momento, seu futuro estaria nas mãos daquela figura misteriosa • Considero o Irmão Terrível como um dos principais símbolos da Iniciação no Rito Adonhiramita O INTRODUTOR • Mencionei anteriormente que julgo mais adequado que o candidato veja o Irmão Terrível antes de ser vendado • Esse meu entendimento se torna mais factível, se considerarmos que neste momento o Irmão Terrível está representando exatamente o carrasco, última visão do condenado à morte, ou o próprio Azrael, Anjo da Morte da tradição hebraica, afinal, no momento imediatamente seguinte, o candidato “morrerá” simbolicamente na Câmara de Reflexões • Portanto, a primeira função do Irmão Terrível é preparar o candidato para sua morte simbólica, e auxilia-lo nessa transição, para que ela ocorra da maneira mais tranquila possível • É claro que o medo irá dominar o candidato com a visão do Irmão Terrível, mas isso também é desejável, evidentemente devendo ser controlado, porque o primeiro passo para nos tornarmos um Iniciado é sermos capazes de vencer nossos próprios medos, e para isso, devemos confronta-los • Esta reflexão deve acompanhar o candidato durante sua permanência na Câmara de Reflexões, e deve norteá-lo para o preenchimento do Questionário e do Testamento, devendo ser entendido que suas respostas demonstrarão apenas o que ele foi como profano, e não exatamente o que esperamos dele • A Iniciação começa aí, com essas dúvidas, receios e ansiedade. É neste momento que o profano “morre”, e se inicia a gestação do Iniciado, num ambiente que nos remete à caverna, o seio da Terra, ou o útero materno, em ambas as hipóteses, a origem da vida, nesse caso, de uma nova vida A CONSCIÊNCIA • Ao dramatizar a Cena da Traição, e apresentar ao candidato à Câmara Ardente, o irmão Terrível não está somente fazendo uma admoestação, ou protegendo o candidato de perigos, que eventualmente existam dentro de nossa própria Ordem • Na verdade, ele está representando o juiz mais severo com o qual qualquer um de nós pode se defrontar, nossa CONSCIÊNCIA • Nossa consciência não tem rosto, não tem forma, é uma sombra. Sua voz é tão inaudível para os outros como se parece estrondosa como um trovão para nós • Nossa consciência é o algoz incansável, “inexorável” nos termos do ritual, que perscruta os atos e pensamentos mais íntimos que possamos ter. Mesmo que os outros não vejam, ou não saibam o que estamos fazendo, nossa consciência, como o Grilo Falante da fábula de Pinóquio, irá nos flagelar o tempo todo, e durante toda a nossa vida, seja acordados ou dormindo. Nenhum de nós escapa de seu julgamento, nem de sua sentença • Esse é um dos primeiros confrontos do Iniciado, e um combate que certamente travará enquanto estiver neste Plano da Existência • Ouvir a voz da nossa consciência, ou afastar-se de suas admoestações, é escolha nossa, e essa escolha determinará o caminho que trilharemos, se de progresso ou involução, se para as trevas, ou para a Luz • Mas para nos auxiliar nesse processo, ou combate, somos integrados à Loja, e através da Doutrina Maçônica, e da prática das Virtudes, poderemos com o tempo, e progressivamente, transformar a sombra do Irmão Terrível de nossa Iniciação, no aliado mais valioso que teremos pelo resto de nossas vidas • Afinal, ele não é tão mau quanto parece O GUIA • Como vimos, a probabilidade dos ritualistas terem se inspirado na prática das Escolas de Mistério do Egito e da Grécia existe • Nos Mistérios de Ísis, temos primeiramente a própria deusa como guia da alma ressuscitada de Osíris para o Tuat, função que posteriormente passou a ser exercida por outro deus, Anúbis, que levava as almas dos mortais pelo Rio das Águas Primordiais para o mesmo destino • Na Grécia, outro personagem mitológico cumpria um papel parecido, Caronte, o Barqueiro das Almas, que transportava os mortos até o submundo nas águas do rio Estige • Notem, inclusive, que a imagem de Caronte se assemelha em muito com o traje do Irmão Terrível • Entendo como possível, e válida, a associação destes personagens míticos ao Irmão Terrível, pois é ele quem conduz o candidato pelas provas às quais irá se submeter para se tornar um Iniciado, zelando para que ele tenha êxito, conseguindo vencer os obstáculos simbólicos, e chegar com segurança no final do trajeto • Da mesma forma que nos mitos egípcio e grego a alma dos mortos era levada de um Plano a outro, na Maçonaria, o Irmão Terrível é o responsável pela condução no trajeto que separa o profano “morto” na Câmara de Reflexões, até sua nova vida, seu renascimento no “Mundo da Luz” • O que ambos os mitos, e a Doutrina Maçônica pretendem nos transmitir com esses simbolismos, é que necessitamos sempre do auxílio de alguém para atingir nossos objetivos. No caso dos mitos das Escolas de Mistérios, por deuses, ou seres espirituais, e no caso da Maçonaria um Mestre mais experiente, que se propôs altruisticamente a prestar esse auxílio • Mesmo que não desempenhemos o papel de Irmão Terrível em nenhum momento, esse auxílio para o progresso de nossos Irmãos mais novos faz parte das responsabilidades que assumimos quando nos tornamos maçons, e particularmente Mestres • Assim, o mesmo personagem que atuou como arauto de nossa morte simbólica, e como nossa consciência, e juiz de nossos atos, se transmuta no guia, que em meio às nossas trevas, nos conduz para a Luz OS REQUISITOS DO IRMÃO TERRÍVEL • Diante de tudo o que vimos até aqui, parece claro que o papel do irmão Terrível não pode ser desempenhado por qualquer Mestre • Dele depende uma parte significativa de toda a dramatização, portanto, julgo necessário que o Mestre que se disponha a fazê-lo possua alguns predicados • Antes de tudo, deve possuir talento para interpretação, sua atuação, sem sombra de dúvida, é teatral • Deve ter boa dicção e impostação de voz, para ser ouvido com clareza em todos os momentos, notadamente naquele em que fala dentro do Templo, com a porta entreaberta • A inflexão de sua voz deve acompanhar o contexto da etapa ritualística, deve ser firme, severo, intimidador e enérgico em determinados momentos, e em outros, demonstrar a candura necessária para tranquilizar o candidato e conduzi-lo com a confiança deste • Deve ter bom conhecimento do ritual, para que haja sincronicidade entre as etapas e os diversos “atores” que atuarão na Iniciação • Deve ser um Mestre experiente, e ter bom preparo físico • Por isso, defendo que o Mestre que irá desempenhar esse papel deva ser “escolhido a dedo” • O Irmão Terrível é o primeiro contato que o candidato terá com nossa Ordem, e a primeira impressão sempre é marcante • Por outro lado, nenhum de nós é capaz de desempenhar esse papel apenas por termos atingido o Grau de Mestre, por isso, é igualmente importante que o papel seja bem desempenhado, para que os Mestres mais novos tenham a oportunidade de observar e aprender com sua atuação CONCLUSÃO • Um rito de passagem, marcando o ingresso de um novo membro na Ordem, sempre existiu na Maçonaria moderna • Porém, inicialmente tratava-se de uma recepção simples, reproduzindo a prática das guildas de pedreiros livres, que com o passar do tempo, e as diferentes influências sofridas pelos Ritos e rituais, se transformou num psicodrama dos mais intensos, permeado de sentido místico em alguns Ritos, como é o caso do Rito Adonhiramita • O Rito Adonhiramita, no meu entendimento, sofreu influências da prática das antigas Escolas de Mistérios, notadamente a egípcia e a grega, da investidura dos Cavaleiros Templários, e da recepção dos aprendizes de pedreiro de ofício • Não há outra forma doprofano ingressar numa Loja Adonhiramita, que não seja passando pela cerimônia de Iniciação • Como vimos, a fórmula do que fazemos hoje, foi estabelecida na Compilação Preciosa, e posteriormente foi aperfeiçoada, ou modificada se preferirmos, chegando à prática que conhecemos atualmente • Nesta primeira etapa, examinamos as origens deste rito de passagem entre as civilizações, analisamos a condução do candidato, e destacamos o papel do Irmão Terrível • No módulo seguinte, examinaremos o simbolismo da Câmara de Reflexões, da Cena da Traição e da Câmara Ardente, e adentraremos o Templo, para recordar as Viagens que fizemos, e o sabor da Taça Sagrada • Certamente nossa Iniciação jamais será esquecida, e vale a pena, de vez em quando, relembra-la, para que estejamos sempre aptos a proporcionar a mesma experiência para novos membros de nossa Ordem O Grupo Adonhiramita de Estudos foi idealizado por maçons praticantes do Rito. Agrega Irmãos de todos os Ritos, em todos seus Graus e Qualidades, membros de Potências Simbólicas Regulares, unidos pelo propósito de fomentar a pesquisa, a troca de conhecimento, e o debate sobre nossa Doutrina, história, ritualística e liturgia, nas plataformas WhatsApp e Telegram. Os temas tratados se referem exclusivamente ao Grau de Aprendiz Maçom. Todos são bem-vindos! Caso haja interesse em participar, basta solicitar a inclusão no chat. Agradecemos a todos pela participação, e contamos com sua presença em nossas próximas palestras. Que o Grande Arquiteto do Universo nos guie e ilumine! BOA NOITE!GRUPO ADONHIRAMITA DE ESTUDOS DIFUNDINDO A DOUTRINA ADONHIRAMITA