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3 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Índice Seção Página Índice 3 O Grupo Adonhiramita de Estudos 4 Agradecimentos 5 Apresentação 6 Advertência 7 O Mestre de Cerimônias – Sergio Emilião 8 O Orador – Sergio Emilião 28 O Secretário – Sergio Emilião 41 O Tesoureiro – Sergio Emilião 53 O Chanceler – Sergio Emilião 67 O Hospitaleiro – Sergio Emilião 77 O Irmão Experto – Sergio Emilião 92 O Arquiteto – Sergio Emilião 105 O Mestre de Harmonia – Swami Caetano 121 O Mestre de Banquetes – Sergio Emilião 132 O Bibliotecário – Sergio Emilião 145 O Porta-Bandeira & o Porta-Estandarte – Sergio Emilião 155 O Cobridor – Sergio Emilião 167 Os Vigilantes – Sergio Emilião 170 O Venerável Mestre – Sergio Emilião 200 Os Palestrantes 224 Créditos 226 4 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O Grupo Adonhiramita de Estudos O ano de 2020 foi marcado pelo isolamento social causado pela pandemia do vírus SARS-COVID 19. Assim como toda sociedade brasileira a Maçonaria foi profundamente afetada. Em função dos riscos de contágio, as Lojas Simbólicas paralisaram suas atividades presenciais e iniciou-se uma nova era de relacionamento maçônico à distância através das plataformas digitais. Grupos de debate, pesquisas, estudo ou simples conversação se proliferaram nas redes sociais, proporcionando um intercâmbio e difusão de conhecimentos jamais imaginados. Palestras virtuais nas plataformas de videoconferência tomaram vulto e parecem ter ingressado de forma definitiva no meio maçônico. Em meio às incertezas causadas pela pandemia, a tecnologia do século XXI tomou de assalto os maçons, arrebatando Amados Irmãos de todas as faixas etárias. A tela dos computadores, notebooks e smartfones aproximava os maçons e os inseria quase que forçadamente no universo digital. Sem dúvida uma nova era foi inaugurada na Maçonaria, e que parece não permitir retrocesso. Em meio a este cenário, dois Mestres Instalados, Swami Caetano e Sergio Emilião, fundaram no dia 19 de outubro de 2020 na plataforma WhatsApp um Grupo de Estudos dedicado exclusivamente ao Rito Adonhiramita. O objetivo era fomentar o debate, a pesquisa, o estudo e principalmente a troca de informações e experiências entre os maçons praticantes do Rito Adonhiramita diante da literatura escassa, permitindo, entretanto, a participação de maçons praticantes de todos os Ritos interessados em conhecer e debater sobre as peculiaridades do nosso Rito. Os assuntos abordados são restritos ao Grau de Aprendiz Maçom, não apenas para possibilitar a participação de todos os maçons, mas igualmente para minimizar a ausência de instruções em Loja para os Aprendizes e Companheiros, certamente os mais prejudicados pela interrupção das sessões presenciais. Em acréscimo às atividades cotidianas do Grupo, às segundas-feiras são realizadas palestras sobre assuntos referentes ao Rito Adonhiramita em plataforma de videoconferência, abordando temas que versam sobre a história, ritualística, liturgia, etc. A adesão foi surpreendente. O Grupo Adonhiramita de Estudos reuniu num período relativamente curto um grande número de membros provenientes de todas as Potências Simbólicas Regulares do Brasil, abrangendo praticamente todos os estados do território nacional e ainda Amados Irmãos de outros países como os EUA, Portugal e Inglaterra. Rapidamente as vagas para a plataforma WhatsApp se esgotaram, e foi necessário a criação de uma expansão na plataforma Telegram. Na data da edição deste volume o Grupo Adonhiramita de Estudos reunia cerca de 500 maçons, o que deixa a nós, seus administradores, extremamente recompensados e esperançosos num futuro promissor para o Rito Adonhiramita, que tem um papel histórico bastante relevante no cenário da Maçonaria brasileira. VIVAT! VIVAT! VIVAT! 5 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Agradecimentos O Grupo Adonhiramita de Estudos, através de seus administradores, vem externar seus sinceros agradecimentos a todos os Amados Irmãos participantes nas plataformas WhatsApp, Telegram e palestras online. Além do enriquecimento de nossos conhecimentos sobre o Rito Adonhiramita, o estreitamento dos laços de amizade entre Amados Irmãos que jamais se encontraram pessoalmente deixa claro que a Maçonaria é uma Fraternidade de homens livres e de bons costumes. Todos os membros do Grupo Adonhiramita têm demonstrado comportamento exemplar e fraterno convívio, com decoro e respeito mútuo e acima de tudo, com efetiva participação. Não é apenas o Grupo Adonhiramita de Estudos que cresce, mas o próprio Rito Adonhiramita, rompendo barreiras entre Potências Simbólicas e Filosóficas, pois afinal, o Rito é maior que nós, e chamado de “Rito do Amor” Antes de ingressar nos assuntos desse volume, nós, administradores do Grupo Adonhiramita de Estudos, queremos registrar nossos sinceros agradecimentos a todos vocês, Amados Irmãos, pois sem as suas participações e entusiasmo nada disso seria possível, e em especial a nosso Amado Irmão Juan Carlos, da Flórida, EUA, que gentilmente hospeda nossa sala virtual para realização das nossas palestras às segundas- feiras. “Que a PAZ, a HARMONIA e a CONCÓRDIA, sejam a tríplice argamassa com que se liguem nossas obras”! Fraternalmente, Swami Caetano & Sergio Emilião Administradores do Grupo Adonhiramita de Estudos 6 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Apresentação Este volume, que tem como tema a análise dos cargos em Loja no Rito Adonhiramita, é uma compilação das palestras apresentadas no Grupo Adonhiramita de Estudos no período de fevereiro a julho de 2021. Não se trata de um curso, ou de um manual para o desempenho das funções, mas apenas a exposição da opinião e entendimento dos palestrantes a respeito de cada um dos cargos estabelecidos nos Rituais Adonhiramitas. Os textos não são uma transcrição das palestras, mas uma transformação dos slides apresentados em formato de livro ou apostila com a inserção de imagens ilustrativas. A iniciativa para confecção neste formato foi sugestão de alguns membros do Grupo, e entendemos não apenas ser pertinente, mas igualmente útil tanto para consulta quanto para o debate. Portanto, o Amado Irmão não deve tomar este material como um manual oficial para a prática do Rito Adonhiramita, mas sim como uma fonte de pesquisa que pode e deve ser aperfeiçoada para o progresso do Rito e à Glória do Grande Arquiteto do Universo. O conteúdo pode ser compartilhado livremente entre maçons regulares, e não há aqui nenhum interesse comercial, apenas a intenção de promover o estudo sobre o Rito Adonhiramita. Desejamos a todos os Amados Irmãos uma boa leitura! Que o Grande Arquiteto do Universo permaneça nos guiando e iluminando! Fraternalmente, Swami Caetano & Sergio Emilião Administradores do Grupo Adonhiramita de Estudos 7 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Advertência Os textos apresentados basearam-se no Ritual de Aprendiz Maçom, Rito Adonhiramita, publicado pelo Grande Oriente do Brasil, edição 2009, e referem-se à prática das sessões ordinárias. Este esclarecimento se faz necessário por questão de ética, por serem os autores membros regulares desta Potência Simbólica, por motivo de conhecimento, já que é a prática de seu domínio, e por haver pequenas diferenças entre a prática e a legislação nas demais Potências Simbólicas. Faz-se mister esclarecer que os textos refletem apenas a opinião e o entendimento dos autores, sendo, portanto, de sua inteira responsabilidade. O conteúdo deste volume não deve ser compreendido como a posição oficial doGrande Oriente do Brasil, nem de nenhuma Potência Maçônica, Simbólica ou Filosófica, na qual o Rito Adonhiramita seja praticado. Ressaltamos, para os membros do Grande Oriente do Brasil, que as dúvidas decorrentes da leitura dos textos podem e devem ser dirimidas de forma oficial junto à Secretaria Geral de Orientação Ritualística do Grande Oriente do Brasil, ou nos departamentos correspondentes nas demais Potências Simbólicas. 8 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O MESTRE DE CERIMÔNIAS INSPIRAÇÃO O cargo de Mestre de Cerimônias nas Lojas Simbólicas certamente foi inspirado nas cortes medievais, onde um oficial fazia as honras da casa, recebendo os visitantes e introduzindo-os nas câmaras reais e dos nobres para as audiências. Cabia também a este oficial organizar os eventos, festas e comemorações nas cortes. Antes de inspirar os ritualistas maçônicos, o Mestre de Cerimônias medieval influenciou um funcionário com as mesmas atribuições no Parlamento Britânico, onde introduzia os parlamentares, os conduzia ao parlatório e distribuía documentos durante as assembleias. Embora este último tenha certamente se colocado cronologicamente em data mais próxima da regulamentação da Maçonaria Operativa ocorrida em 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, creio que ambos oficiais se relacionam com as funções modernas dos Mestres de Cerimônias das Lojas Modernas. Para o Rito Adonhiramita em particular, enxergo uma inspiração adicional, fruto da influência do mazdeísmo ou zoroastrismo, a religião dos magos persas, cujos fieis eram chamados de “adoradores da luz”. O Mestre de Cerimônias no Rito Adonhiramita também é chamado de “Mago do Templo”, pois é ele quem faz circular as energias sutis durante as sessões. Na Maçonaria britânica o cargo é denominado Master of Ceremonies, exatamente Mestre de Cerimônias, Marshal, chefe de protocolo, ou Conductor, condutor. Todas as denominações certamente estão corretas. Na França o cargo foi traduzido para Maitre des Céremonies, mantendo a ideia principal do verbete, que desta forma foi versado para o português. Nesse caso a tradução para o nosso idioma não trouxe qualquer prejuízo para a correta compreensão de suas funções e atribuições. ASSOCIAÇÕES MÍTICAS Não creio que os ritualistas maçônicos tenham se inspirado em qualquer herói mítico ou divindade mitológica para a instituição do cargo de Mestre de Cerimônias nas Lojas Simbólicas, mas penso que na verdade não foram os deuses que criaram o homem à sua imagem, mas justamente o contrário. Nesse sentido, é fácil observar que estes heróis e deuses da antiguidade representassem aspectos da personalidade humana e de seus 9 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA TOTH atributos, uma espécie de arquétipo por assim dizer. Assim, julgo razoável imaginar que certas personagens míticas simbolizem alguma função ou atividade profissional humana, evidentemente em termos de alegorias, portanto, entendo que seja possível associar alguns dos cargos de uma Loja Simbólica a esses arquétipos. No caso do Mestre de Cerimônias vislumbro a possibilidade de sua associação com os seguintes heróis ou divindades mitológicas: o deus Toth, Hermes Trismegistus, dos egípcios, sincretizado com a divindade Hermes dos gregos e Mercúrio dos romanos; o deus Apolo dos gregos e Febo para os romanos; os sacerdotes levitas da tradição judaico-cristã e as emanações da Árvore da Vida do Sepher Yetzirah, o Livro da Criação, que comumente chamamos de Cabala. Vou abordar resumidamente cada um deles, procurando não causar prejuízo ao entendimento das funções do Mestre de Cerimônias e apresentar as razões de meu entendimento sobre essas possíveis associações. Toth era uma das divindades mais importantes do Egito politeísta. Era considerado o deus da ciência, das artes, da matemática, da arquitetura e da astronomia. A invenção da escrita era atribuída a ele, que teria ensinado aos homens. Possuía como símbolo um caduceu, que era uma haste circundada por uma serpente de cada lado e encimado por um par de asas. Essa representação vai ser sincretizada pelos gregos posteriormente, e é associada à dualidade da manifestação física do Universo: positivo e negativo; macho e fêmea; corpo e alma; Kah e Bah para os egípcios, os três pilares da Árvore da Vida cabalística, Ida e Pingala para o hinduísmo, e também, de certa forma, a circulação do Mestre de Cerimônias nos Templos Adonhiramitas, além de nossas três Colunas de sustentação das Lojas Maçônicas, Sabedoria, Força e Beleza. Ou seja, é um símbolo do equilíbrio cósmico. No meio profano se tornou símbolo da medicina, que teria sido ensinada por ele aos homens, mas também há sua representação em outras carreiras profissionais. Deus do conhecimento, sua sabedoria lhe conferia poderes mágicos, foi ele quem auxiliou Ísis a ressuscitar Osíris. Foi chamado pelos gregos de Hermes Trismegistus, o “Três Vezes Grande”, ou “Três Vezes Poderoso”, pois possuía a capacidade de transitar pelos três Planos da Existência, material, astral e espiritual. Portanto, é associado ao número TRÊS. No Tribunal de Osíris, que julgava as almas dos homens pesando seus corações na Balança de Maat, deusa da justiça, Toth atuava como advogado ou defensor público dos seres humanos. 10 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA HERMES APOLO Numa das lendas a seu respeito, surge derrotando a serpente, uns chamam de dragão, Thyphon, que era o símbolo do mal, representando a vitória da luz da sabedoria sobre a ignorância das trevas. Sua associação com o cargo de Mestre de Cerimônias se dá justamente pela atuação deste Mestre Maçom em nossos Templos, alternando sua posição entre o Oriente e as duas Colunas do Ocidente, e fazendo circular as energias sutis existentes no ambiente. O deus Hermes dos gregos, que foi chamado de Mercúrio pelos romanos, nada mais é do que o sincretismo com a divindade egípcia Toth que vimos anteriormente. Os gregos o consideravam o mensageiro dos deuses, pois cabia a ele transmitir as decisões do Olimpo para os homens. Também era ele quem transportava as almas dos mortos para o reino dos mortos, o Hades, tarefa que posteriormente foi absorvida por outra divindade, Caronte, o “Barqueiro das Almas”. Na correspondência com as atribuições do Mestre de Cerimônias vemos o transporte das comunicações entre os obreiros durante as sessões, notadamente na circulação do Saco de Propostas e Informações, e no cumprimento das ordens do Venerável Mestre. O desdobramento da Chama Sagrada ou Fogo Eterno é executado pelo Mestre de Cerimônias, é ele que simbolicamente une os três Planos da Existência em nossas sessões. Hermes era considerado também deus da magia, dos transportes e das viagens, e mais tarde os romanos lhe atribuíram em acréscimo a proteção ao comércio e à comunicação. A exemplo de sua origem egípcia, Hermes também portava o caduceu, e foi essa interpretação dos romanos como protetor do comércio e das comunicações que levou algumas carreiras profissionais além da medicina adotarem esse símbolo em suas marcas. Estes conceitos são semelhantes aos de Toth e sua capacidade de transitar entre os Planos da Existência. Apolo era considerado o deus do Sol, das artes, da música e da beleza. Foi denominado Febo pelos romanos. Era o mais belo e perfeito dos deuses gregos. Em sua origem era o condutor da Carruagem de Helios, o Sol, e mais tarde passou a simbolizar o próprio astro rei. Essa sua característica o aproxima da circulação em Loja executada pelo Mestre de Cerimônias, no formato do símbolo matemático do infinito,a lemniscata de Bernouli, que na verdade representa o trânsito aparente do Sol no firmamento, num fenômeno astronômico denominado analema. 11 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS SACERDOTES LEVITAS Era geralmente representado com um Sol ao redor de sua cabeça, representação que parece ter inspirado a iconografia religiosa medieval que estabeleceu halos ao redor da cabeça dos santos. Possuía um arco mágico que atirava flechas de luz, e que segundo os gregos eram responsáveis por conceder conhecimento e sabedoria aos homens, bem como impeli-los a praticar a vontade dos deuses. Há uma lenda a seu respeito na qual ele mata uma serpente chamada Piton, denominação muito semelhante ao dragão ou serpente Phython derrotada por Toth, o que sugere haver a mesma inspiração no deus egípcio. “Por isso, o Senhor disse ainda o seguinte a Aarão: “Tu, teus filhos e tua família são responsáveis por qualquer profanação que se faça no santuário, assim como por toda a incorreção no exercício do vosso serviço sacerdotal”. (Números 18,1) Segundo a narrativa bíblica do Livro dos Números IAVEH teria determinado à Aarão e sua descendência a função sacerdotal e a guarda dos elementos sagrados do Tabernáculo do Deserto. Nasceu assim a tradição dos descendentes da Tribo de Levi serem os únicos responsáveis pelo sacerdócio entre o povo hebreu, condição que se estenderia até a construção do Templo de Jerusalém por Salomão. Eram os sacerdotes levitas os únicos que podiam transportar a Arca da Aliança, bem como acender os candelabros e incensar o Templo purificando-o para as orações e adoração ao Deus Único. E utilizavam um traje especial para estas funções. Os ritualistas Adonhiramitas parecem ter se inspirado diretamente nesta função dos levitas para estabelecer o Mestre de Cerimônias como o responsável nas Lojas pelo Cerimonial do Fogo, a Cerimônia da Incensação e o próprio manuseio e transporte da maioria dos objetos litúrgicos durante as sessões. 12 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CABALA HEBRAICA A posição dos cargos num Templo Adonhiramita possui uma incrível semelhança com o traçado da Árvore da Vida da Cabala. Eu diria que há tanta coincidência que é quase impossível ter sido fruto do mero acaso. Neste diagrama nós vemos representadas as dez sefirotes, acrescidas de DAAT, a sefirote invisível, tal qual a Coluna da Sabedoria dos Templos maçônicos. Cada um dos cargos está relacionado à emanação de uma destas sefirotes e identificado por sua Joia. A cada cargo demonstrarei a possibilidade de associação. No caso do Mestre de Cerimônias, como vemos na imagem, ele não está associado a nenhuma das sefirotes, e nem poderia, pois ele é móvel, se movimenta o tempo todo da sessão no interior do Templo, ao passo que as emanações são posições geográficas fixas que os ritualistas provavelmente associaram às sete Dignidades da Loja acrescidas do Cobridor Interno, que está na posição de MALKUTH. No entanto, a energia circula entre essas emanações formando 22 caminhos, que são simbolicamente percorridos pelo Mestre de Cerimônias, pois é ele quem as faz circular em nossas sessões, carregando-as de uma emanação à outra e aterrando as energias inservíveis em MALKUTH, através da espada do Cobridor Interno. Vem daí o conceito de que a espada do Mestre de Cerimônias atrai magneticamente essas energias transportando-as e distribuindo-as no interior do Templo. A Árvore da Vida é dividida em três eixos, pilares ou colunas, tal qual ocorre simbolicamente em nossos Templos, o Pilar da Severidade à esquerda, o da Sabedoria ao centro e o da Misericórdia à direita, lembrando que a escrita hebraica se dá da direita para a esquerda. No eixo central, o Pilar da Sabedoria ou Conhecimento, encontram-se três sefirotes que não estão associadas a nenhum dos cargos em Loja. Elas correspondem ao Painel de cada um dos três Graus Simbólicos numa escalada evolutiva passando por YESOD, a base, o fundamento, correspondendo ao Grau 1, Aprendiz Maçom, TIPHERET, a beleza, correspondendo ao Grau 2, Companheiro Maçom, e DAAT, a sefirote invisível, correspondendo ao Grau 3, Mestre Maçom. É justamente o Mestre de Cerimônias que exibe e oculta esses Painéis em conformidade com o Grau da sessão. 13 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES REQUISITOS O cargo de Mestre de Cerimônias é preenchido por indicação direta do Venerável Mestre, nos termos do que dispõe o artigo 127 do Regulamento Geral da Federação, portanto, trata-se de um Oficial e não uma Dignidade. O cargo não é regulamentado pelo RGF por possuir apenas funções ritualísticas e não administrativas. Cabe ao Mestre de Cerimônias conferir o material litúrgico necessário às sessões, distribuir os Mestres nos cargos quando os titulares não se encontrarem presentes na sessão e revesti-los das respectivas Joias. Deve cuidar para que as sessões ocorram sempre no horário previsto, além do aspecto disciplinar, esse ciclo repetitivo auxilia na formação da Egrégora. Deve orientar os Amados Irmãos visitantes, principalmente no caso de serem praticantes de Ritos diferentes, de modo a familiarizá-los com alguns aspectos da ritualística e liturgia Adonhiramita. É ele quem levar a identificação dos visitantes para verificação e exame do Orador. É conveniente que distribua os Mestres nas Colunas para equilibrar a Loja, tanto em relação à simetria visual quanto ao aspecto energético de suas emanações individuais. Conduz as autoridades de acordo com os protocolos regulamentares, e os Mestres Instalados ao Oriente, onde têm a prerrogativa de assento. Cumpre as determinações do Venerável Mestre e dos Irmãos Vigilantes, além de prestar auxílio a qualquer obreiro que o necessite durante as sessões. Ninguém se movimenta em Loja sem ser conduzido pelo Mestre de Cerimônias, ele deve acompanhar os obreiros na necessidade de circulação em Loja. É ele o responsável pelo transporte dos materiais litúrgicos e administrativos durante o decorrer das sessões. Executa as funções de Hospitaleiro e 2° Experto na ausência de um Mestre no cargo. Colhe a assinatura do Secretário, Venerável Mestre e Orador nos balaústres, do Chanceler e Venerável Mestre nos certificados de presença, e os distribui aos visitantes. O primeiro requisito para ser Mestre de Cerimônias numa Loja do Rito Adonhiramita evidentemente é ser decorado com o Grau de Mestre Maçom, mas em meu entendimento outros aspectos devem ser levados em consideração para a seleção e designação do ocupante do cargo. 14 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSTURA Primeiramente deve gozar de boa condição física, pois seu trabalho é cansativo e exigirá movimentação constante em todas as sessões. Deve ter, como todo maçom, compromisso e dedicação, pois o desenvolvimento das sessões dependerá sempre da sua atuação. Assiduidade e pontualidade devem ser observadas com muito zelo, pois é o Mestre de Cerimônias quem organiza os obreiros para o início dos trabalhos. Deve chegar ao Templo com razoável antecedência para não ocasionar atropelos e atrasos. A disciplina deve ser uma das características do Mestre de Cerimônias, pois é ele quem executa a liturgia das sessões. Deve observar rigorosamente os Rituais, e para tanto é recomendável que os estude constantemente, o que lhe proporcionará o desembaraço e a segurança requeridos para o desempenho das funções. É importante que não seja tímido, pois os olhos dos obreiros do quadro e dos visitantes estará sobre ele a maior parte do tempo das sessões, a imagem da Loja está ligada diretamente a seu desempenho. Mas também não deve ser exageradamenteextrovertido, a seriedade na sua postura é essencial. Deve conhecer bem o tratamento dado a autoridades e faixas maçônicas para não haver constrangimentos na sua recepção, e da mesma forma ser capaz de identificar a qualidade e Grau dos visitantes pelo simples exame visual de suas alfaias. Deve permanecer sempre atento a todas as ocorrências no Templo durante o decurso das sessões, notadamente no que diz respeito à queima das velas nos candelabros e Chama Sagrada, assim estar familiarizado e desenvolver habilidade e destreza no manuseio dos instrumentos litúrgicos, isso lhe emprestará notável beleza à ritualística. E sobretudo, é essencial possuir afinidade com o Venerável Mestre, quando há sintonia entre os dois a fluência das sessões, e principalmente o equilíbrio energético são alcançados com maior facilidade e menor esforço. O Mestre de Cerimônias deve ser elegante. Não deve andar nem muito rápido nem muito devagar, deve fazê-lo de modo suave e solene. Deve possuir boa impostação de voz, pois suas falas devem ser ouvidas e entendidas em todo o Templo, mas não deve gritar, deve apenas chamar a atenção de todos pelo tom solene de sua voz. Deve demonstrar seriedade, gentileza e cordialidade com os Irmãos, principalmente com os visitantes praticantes de outros Ritos, a quem deve orientar sempre que necessário com relação à liturgia Adonhiramita. Não deve jamais descalçar as suas luvas, afinal, é ele quem adverte a todos os obreiros para calçá-las se suas mãos permaneceram limpas desde o encerramento dos trabalhos anteriores, não seria correto, portanto, recomendar algo e fazer de outra forma. 15 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA O USO DA ESPADA Sua espada deve estar sempre consigo, mesmo que embainhada, se entendemos que o “Mago do Templo” é quem circula absorvendo, renovando e distribuindo as energias sutis no interior do Templo através da imantação de sua espada, não faz sentido deixar de porta-la. O Mestre de Cerimônias pode solicitar a palavra em qualquer local no Templo, e não apenas na sua posição de praxe. Essa permissão é devida justamente por conta de suas funções que o fazem circular constantemente durante as sessões. Mas não deve utilizar essa prerrogativa como argumento para se deslocar até o Oriente, por exemplo, e retrucar a fala de algum obreiro do Ocidente. Toda vez que romper sua marcha deve mentalizar HARMONIA, é isso que ele faz, promove o equilíbrio e a harmonia no interior do Templo através da condução da ritualística. No Rito Adonhiramita, a Joia do Mestre de Cerimônias é um triângulo vazado. Simboliza exatamente essa atuação ritualística e simbólica de transitar entre os Três Planos da Existência – Material, Astral e Espiritual, e está associada à Lei do Triângulo, bastante presente na Doutrina Maçônica. Esse triângulo é equilátero, pois representa o equilíbrio. O Mestre de Cerimônias distribui igualitariamente as energias no interior do Templo, todos somos iguais, ninguém é privilegiado nem negligenciado. Basta lembrar que ele repete o trânsito aparente do Sol no firmamento, e o Sol nasce para todos, sem distinção. O triângulo é a primeira das figuras geométricas planas, todas as demais podem ser reduzidas a ele, que é justamente a base dos conceitos geométricos de Pitágoras de Samos. Possui seu vértice voltado para cima, e neste sentido, simboliza o Plano Espiritual, representando nossa trajetória de evolução vertical rumo ao Criador, pois o espírito se sobrepõe à matéria. Como disse anteriormente, o Mestre de Cerimônias deve portar sempre a sua espada. Mas deve ter consciência de que ela é um instrumento litúrgico e não uma arma. Por isso jamais dever ser empunhada em riste, com o gume da sua lâmina apontado para qualquer obreiro. Ela é conduzida sempre em Sinal de Guarda, ou seja, segura pela mão direita com sua empunhadura na altura do coração sem tocar no corpo. Este procedimento ocorre sempre que não estiver transportando qualquer objeto que necessite do auxílio das duas mãos devido a seu tamanho ou peso, nesta oportunidade sua espada deve estar embainhada para ser novamente empunhada quando suas mãos estiverem novamente livres. 16 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O MANUSEIO DO TURÍBULO Na ocasião da Saudação ao Pavilhão Nacional ela deve ser apontada para o chão formando um ângulo de 45 graus. Quando sentado em sua cadeira o Mestre de Cerimônias não “aterra” sua espada, esta postura é exclusiva do Cobridor Interno. Deve deixa-la no porta-espada se estiver disponível ou apenas próxima a ele, jamais no seu colo. O manuseio do turíbulo sem dúvida é uma das tarefas mais embaraçosas para o Mestre de Cerimônias, por isso deve ser objeto de constante treinamento para não causar constrangimentos ou prejuízo ao andamento das sessões. A Cerimônia da Incensação é uma das características do Rito Adonhiramita, e, portanto, deve ser realizada com todo rigor ritualístico. Além disso é a etapa de purificação do ambiente e dos obreiros. A correta postura e o desempenho do Mestre de Cerimônias emprestam notável beleza a esta etapa de nossos Rituais. O manuseio do turíbulo pelo Mestre de Cerimônias obedece à mesma liturgia empregada pela Igreja Católica. Os movimentos são denominados ductos e ictos, expressões derivadas do latim. Ducto significa tubo ou conduto, e icto golpe ou pulsação. Ducto é o movimento ascensional de levantar o turíbulo à altura dos olhos de quem está se incensando, e é esta mesma postura que o Mestre de Cerimônias deve observar quando executar a vênia transportando-o. Já o icto é o movimento pendular, de baixo para cima, executado na direção da pessoa que será incensada. Para executar o ducto segura-se a argola na extremidade da corrente de sustentação do turíbulo com os dedos polegar, indicador e médio da mão esquerda à altura do coração, e a metade da corrente com a mão direita e ergue-se o turíbulo. Para executar o icto segura-se o turíbulo da mesma maneira e apenas se dirige o rolo de fumaça do incenso na direção dos olhos de quem está sendo incensado. A incensação é executada sempre no eixo dos altares do Venerável Mestre e Vigilantes e nas mesas do Orador e Secretário, sempre de frente para quem está sendo incensado. Há ainda a incensação do Templo do Oriente para o Ocidente antes de descer os degraus e do Ocidente para o Oriente entre Colunas. A incensação do Átrio é executada pelo Cobridor Interno que é incensado pelo Mestre de Cerimônias e após isso o incensa também. Encerrada a Cerimônia de Incensação o turíbulo deve ser colocado no Altar dos Perfumes. O turíbulo carregado de brasas de carvão deve permanecer no interior do Templo para que o Mestre de Cerimônias possa manuseá-lo sem precisar sair. 17 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O ACENDEDOR E O ABAFADOR O TRANSPORTE DE MATERIAIS FUNÇÕES RITUALÍSTICAS As velas dos candelabros jamais são apagadas com sopro, usa-se o abafador para tal tarefa, e da mesma forma são revigoradas com o acendedor. Ambos instrumentos devem ser conduzidos pelo Mestre de Cerimônias entre as duas mãos espalmadas e à frente do seu corpo. Devem repousar no Altar dos Perfumes quando não estiverem sendo utilizados. Por vezes os dois instrumentos encontram- se reunidos numa só peça. Os materiais e instrumentos litúrgicos devem ser transportados na maneira prescrita nos Rituais para cada caso em particular. De modo geral a regra a ser observada é transportá-los sempre que possível fazendo uma esquadria com os braços, mãos e corpo. Evidentementeobjetos de grandes dimensões e peso que necessitem do uso das duas mãos para seu transporte dispensam essa postura. Cabe ao Mestre de Cerimônias desempenhas as seguintes funções ritualísticas: Conduzir o Revigoramento da Chama Sagrada juntamente com os Irmãos 2° Experto e Arquiteto; • Organizar a Procissão e o cortejo de ingresso no Templo; • Executar a Cerimônia da Incensação; • Executar o Cerimonial do Fogo; • Formar o Pálio para a abertura e fechamento do Livro da Lei; • Exibir e ocultar o Painel do Grau após a declaração de abertura e fechamento da Loja; • Informar ao Venerável quem bate à porta do Templo após o início dos trabalhos e conduzi-los a seus lugares em Loja após a autorização de ingresso; • Levar parta o exame do Orador as credenciais maçônicas dos Irmãos visitantes; • Circular com o Saco de Propostas e Informações; • Contabilizar e informar ao Venerável Mestre o resultado das votações na aprovação dos balaústres e matérias comuns; 18 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA PROCISSÃO • Formar a Guarda de Honra para recepção de autoridades e saudação ao Pavilhão Nacional; • Acompanhar os obreiros quando necessário sua circulação em Loja; • Colher a assinatura do Secretário, Orador e Venerável Mestre após a aprovação dos balaústres; • Colher a assinatura do Chanceler e Venerável Mestre nos Certificados de Presença e entrega-los aos Irmãos visitantes; • Colher a assinatura dos obreiros presentes nas sessões que não tenham assinado o Livro de Presenças antes do início dos trabalhos; • Executar o Adormecimento do Fogo; • Organizar o cortejo de saída do Templo, e • Conduzir o Adormecimento da Chama Sagrada. É o Mestre de Cerimônias quem organiza a Procissão e o cortejo de ingresso no Templo. O Rito Adonhiramita procede ao ingresso dos obreiros no Templo de modo ordenado, compassado e silencioso, numa postura quase militar. O objetivo é exatamente evitar a entrada caótica dos maçons, posto que uma vez revigorada a Chama Sagrada o espaço físico do Templo também assume sacralidade. Nas etapas que se seguirão, a dramatização ou representação simbólica da criação do Universo através do Logo Divino terá lugar, portanto, o caos deve iniciar seu processo de ordenamento a partir deste momento, como se os átomos começassem a se agregar para se expandir posteriormente manifestando o Universo. O Átrio funciona exatamente como uma espécie de câmara de descompressão, onde nosso espírito e mente serão preparados para o trabalho maçônico libertando-se de todas as angústias, incertezas, inseguranças, medos e preocupações ligadas ao universo profano. É justamente o Mestre de Cerimônias que comanda essa alternância vibratória entre os obreiros, com voz firme, solene, e harmonizando-os mentalmente para os atos ritualísticos e litúrgicos da sessão que irá se iniciar. Deve estar com as luvas já calçadas, mesmo porque, acabou de proceder ao Revigoramento da Chama Sagrada juntamente com os Irmãos 2° Experto e Arquiteto, e assim convida os demais obreiros a imitá-lo. Coloca-se de costas para a porta do Templo, evidentemente quando o espaço físico assim o permitir, e mantendo o Sinal de Guarda. Nesta posição procede às falas ritualísticas de praxe. Na impossibilidade de realizar esta etapa nos termos do ritual por conta da exiguidade do espaço, o Mestre de Cerimônias deverá proceder da maneira mais próxima possível das descrições nele contidas. As Colunas do Templo serão simbolicamente organizadas à sua frente, a do Norte à sua direita, a do Sul à esquerda e o Oriente ao centro e após essas duas. Os visitantes praticantes de outros Ritos deverão ser orientados pelo Mestre de Cerimônias a proceder na forma do Rito Adonhiramita. Deve executar as pancadas na porta do Templo de forma audível, porém, sem violência. Ele está chamando a atenção do Cobridor Interno no interior do Templo e não tentando derrubá-la. Concedida a permissão pelo Cobridor Interno comandará o cortejo de ingresso, iniciando o convite pelos Aprendizes e encerrando com o Venerável Mestre, que deverá ser seguido por ele até o Altar da Sabedoria. 19 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O LUGAR EM LOJA INGRESSO DE AUTORIDADES No interior do Templo verificará se todos os obreiros estão em seus respectivos lugares e os Oficiais devidamente postados, efetuando a ocupação do cargo por um Mestre ad hoc se necessário. É recomendável também que equilibre a quantidade de obreiros nas Colunas não apenas para a obtenção da simetria visual, mas principalmente para harmonizar as energias emanadas destes. Encerradas estas etapas deve dirigir-se a seu lugar no Templo e aguardar o comando do Venerável Mestre. O Mestre de Cerimônias ocupa uma cadeira no Ocidente, no topo da Coluna do Norte, ao lado da mesa do Chanceler. 20 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CERIMÔNIA DA INCENSAÇÃO O ingresso de autoridades maçônicas e visitantes ocorre após a Ordem do Dia. O Ritual dispõe desta maneira para que a Loja possa tratar de seus assuntos administrativos de forma particular, sem quaisquer constrangimentos. No entanto, quando essa circunstância se faz necessária, é de bom tom que o Venerável Mestre suprima esta etapa, além da leitura de balaústres e expediente, e da circulação do Saco de Propostas e Informações para evitar que as autoridades aguardem um tempo excessivo para ingressar no Templo. É comum, no entanto, estas autoridades optarem pelo ingresso sem formalidades, em família, e nesta hipótese integrarão o cortejo de acordo com suas qualidades e Grau. Nas sessões ordinárias não há formação de Guarda de Honra, caberá apenas ao Mestre de Cerimônias acompanhar e conduzir o ingresso das autoridades. Nesse caso ele deverá sair do Templo, identificar e organizar as autoridades em ordem crescente de faixa de tratamento, retornar ao Templo e informar nome, qualidade e Grau, sair do Templo e convidá-los ao ingresso acompanhando-os até seus respectivos lugares. Uma vez acomodados deverá levar o Livro de Presenças, colher suas assinaturas e retornar a seu lugar em Loja. Para proceder à Cerimônia da Incensação o Mestre de Cerimônias deve dirigir-se ao Altar dos Perfumes, tomar posse do turíbulo e alimentá-lo com brasas de carvão, passar por trás do retábulo e abrir o vaso do turíbulo para que o Venerável Mestre possa colocar as três pitadas de incenso. Feito isto posta-se à frente do Venerável Mestre e o incensa por três vezes, à sua esquerda, direita e centro exclamando ao final SABEDORIA! Dirige- se ao altar do 1° Vigilante e o incensa por três vezes exclamando FORÇA ao final, faz a vênia entre Colunas, dirige-se ao altar do 2° Vigilante, incensa-o igualmente por três vezes exclamando ao final BELEZA! Após incensar as Três Luzes da Loja dirige-se ao Oriente, fazendo a vênia antes de subir os degraus, incensa o Orador por uma vez mentalizando JUSTIÇA, passa por trás do retábulo e incensa por uma vez o Secretário mentalizando MEMORIA, faz a vênia ao Venerável Mestre na frente de seu altar e dirige-se ao Ocidente, antes de descer os degraus, incensando o Templo por três vezes, à esquerda, direita e centro mentalizando LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE. Desce os degraus, posta-se entre Colunas e incensa o Templo do Ocidente para o Oriente por três vezes, esquerda, direita e centro, exclamando ao final: que a paz reine em nossas Colunas! Feito isto, faz a vênia ao Venerável Mestre, volta-se na direção do Cobridor Interno e incensa-o por uma vez mentalizando DILIGÊNCIA. Troca de função com ele, que incensa o Mestre de Cerimônias mentalizando HARMONIA, e sem sair do Templo, com a porta entreaberta, incensa o Átrio e simbolicamente o 1° Experto e o Cobridor Externo, à direita e esquerda, mentalizando PAZ e AMOR. Trocanovamente de função com o Cobridor Interno, faz a vênia ao Venerável Mestre, dirige-se ao Oriente fazendo novamente a vênia antes de subir os degraus, coloca o turíbulo aberto no Altar dos Perfumes, passa por trás do retábulo, e retorna a seu lugar, fazendo a vênia ao Venerável Mestre antes de sair do Oriente e entre Colunas. 21 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O CERIMONIAL DO FOGO O Cerimonial do Fogo é uma dramatização da expansão do Universo através da Verdadeira Luz, o FIAT LUX bíblico. Nos rituais Adonhiramitas o momento da manifestação do Universo é representado pelo desdobramento da Chama Sagrada em três atributos: SABEDORIA, FORÇA e BELEZA. O Mestre de Cerimônias dirige-se ao Altar dos Perfumes, toma posse do acendedor, passa por trás do retábulo, faz a vênia ao Venerável Mestre, eleva-o à altura 22 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REVIGORAMENTO DAS CHAMAS dos seus olhos e mentaliza: COM A GRAÇA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, ACENDO! Faz novamente a vênia ao Venerável Mestre, sobre os três degraus do Altar da Sabedoria, entrega o acendedor a ele pelo lado esquerdo, passa por trás do retábulo, pega de volta o acendedor pelo lado direito, desce os degraus do Altar da Sabedoria, faz a vênia ao Venerável Mestre antes de descer os degraus para o Ocidente e dirige-se ao Altar da Força. Entrega o acendedor pelo lado esquerdo ao 1° Vigilante e recebe-o de volta pelo lado direito. Dirige-se ao Altar da Beleza, entrega o acendedor ao 2° Vigilante pelo lado esquerdo, recebe-o de volta pelo lado direito e apaga o acendedor com o abafador, retornando em seguida a seu lugar. É mais comum do que se imagina uma ou mais das chamas das velas se apagarem durante o decorrer de uma sessão. Se isto ocorrer o procedimento para reacende-las é o seguinte: Se a Chama Sagrada ou Fogo Eterno se apagar, o Mestre de Cerimônias passa o acendedor ao Venerável Mestre, e este o acende na Chama da Sabedoria, em seguida, o Mestre de Cerimônias revigora a Chama Sagrada. Se a Chama do Altar da Sabedoria se apagar, o Mestre de Cerimônias acende o acendedor na Chama Sagrada, e passa ao Venerável Mestre que revigora a Chama da Sabedoria. Se a Chama do Altar da Força apagar, o Mestre de Cerimônias leva o acendedor ao Venerável Mestre, que o acende na Chama da Sabedoria. Em seguida, o leva ao Primeiro Vigilante e este revigora a Chama da Força. 23 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A TROCA DE FUNÇÕES COM O COBRIDOR NA FUNÇÃO DE SEGUNDO EXPERTO Se a Chama do Altar da Beleza se apagar, o Mestre de Cerimônias leva o acendedor ao Primeiro Vigilante que a revigora na Chama da Força. Em seguida, o Mestre de Cerimônias o leva ao Segundo Vigilante que revigora a Chama da Beleza. O acendedor é sempre apagado com o abafador após o revigoramento da respectiva Chama. O Mestre de Cerimônias volta sempre a seu lugar no Templo após o revigoramento de qualquer uma das Chamas sem a necessidade de comando. Na Cerimônia da Incensação e na circulação do Saco de Propostas e Informações o Mestre de Cerimônias troca momentaneamente de funções com o Cobridor Interno. O turíbulo e o Saco de Propostas e Informações são seguros pela mão esquerda, e a espada do Cobridor Interno é segura pela mão direita. O giro é sinistrogiro (sentido horário). Ou seja, o Mestre de Cerimônias se movimenta para o seu lado esquerdo. Não vislumbro qualquer sentido místico neste ato, julgo que é uma postura militar. A troca da Guarda Real no Palácio de Buckingham na Inglaterra ocorre num padrão muito semelhante. O que se pretende na verdade é que os 360 graus de visão do Templo estão cobertos, ou seja, um olha sempre sobre o ombro do outro durante o giro. Na hipótese de baixa frequência na sessão, se não houver Mestres suficientes para o preenchimento do cargo de Segundo Experto, é o Mestre de Cerimônias que deve executar suas funções. Para tanto recebe o comando do Primeiro Vigilante de seu lugar, se levanta em Sinal de Guarda, circula como de costume fazendo a vênia entre o Ocidente e o Oriente e entre Colunas, e sai do Templo. Retorna ao Templo, circula ritualisticamente até o Altar da Força fazendo as devidas vênias, coloca-se na posição do 2° Experto, voltado para o Venerável Mestre e faz a comunicação. Após isso retorna a seu lugar em Loja sem aguardar qualquer comando. 24 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O RESULTADO DAS VOTAÇÕES NA FUNÇÃO DE HOSPITALEIRO A FORMAÇÃO DO PÁLIO É o Mestre de Cerimônias o Oficial encarregado de comunicar ao Venerável Mestre o resultado da votação das matérias apreciadas durante as sessões. Para tanto, logo após a manifestação dos obreiros, e sem aguardar nenhum comando, se levanta à Ordem e faz a contagem dos votos mentalmente. Bate uma palma e informa o resultado ao Venerável Mestre. Executa o Sinal de Saudação e senta-se. Na hipótese do titular do cargo de Hospitaleiro não estar presente na sessão, e não houver Mestres suficientes para preenchimento do cargo, caberá ao Mestre de Cerimônias desempenhar suas funções. Para isso receberá o comando do Venerável Mestre de seu lugar, se levantará, pegará o Tronco de Solidariedade, circulará como de costume, fazendo a vênia entre o Ocidente e o Oriente e entre Colunas, onde aguardará o comando do Venerável Mestre. Circulará da mesma maneira que o Hospitaleiro o faz, recolhendo as ofertas no Oriente e Ocidente, e trocando de função com o Cobridor Interno para efetuar sua doação. Ao término do giro auxiliará o Tesoureiro na conferência do óbolo coletado, e retornará a seu lugar em Loja sem aguardar qualquer comando. Cabe ao Mestre de Cerimônias organizar o Pálio para proteção do Orador na Abertura e Fechamento do Livro da Lei. Devem ser convidados um Mestre da Coluna do Sul e outro da Coluna do Norte, não sendo obrigatório que sejam o Arquiteto e o Segundo Experto. Dignidades que ocupam altares ou mesas não podem ser convidados, pois estes locais do Templo jamais devem estar desguarnecidos. Tampouco o Cobridor Interno poderá ser convidado, uma vez que a porta do Templo deve estar constantemente vigiada e protegida. 25 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O SACO DE PROPOSTAS E INFORMAÇÕES No entanto, o Hospitaleiro, o Mestre de Banquete e o Bibliotecário podem ser convidados, não há nada que o impeça. Já o Mestre de Harmonia é recomendável que permaneça em seu cargo para a execução da música de fundo. Podem ser convidados Mestres visitantes, mesmo que praticantes de outros Ritos, oportunidade na qual o Mestre de Cerimônia deverá orienta-los quanto aos procedimentos ritualísticos. O convite deve ser executado de modo audível para toda Oficina. Na ocorrência de número de obreiros insuficiente para a formação do Pálio, este deve ser executado apenas pelo Mestre de Cerimônias, que, no entanto, fará o giro ritualístico completo como se estivesse convidando os Mestres das duas Colunas. A espada do Mestre de Cerimônias fica por baixo das demais na Abertura do Livro da Lei, e por cima no seu fechamento. Sua posição é frontal ao Livro da Lei, de frente para o Venerável Mestre. Após a Abertura ou Fechamento do Livro da Lei, o Orador deve ser conduzido pelo Mestre de Cerimônias a seu lugar, e só após isso o Pálio é desfeito. O Saco de Propostas e Informações é seguro pelas duas mãos, fechado, com a mão esquerda sobre o coração e a direita sobre a esquerda. A circulação obedece sempre à ordem hierárquica dos cargos e obreiros, conforme descrito no ritual. O recolhimento é sempre executado pelo lado direito dequem oferta. O Saco de Propostas e Informações deve ser ofertado pelo lado esquerdo do Mestre de Cerimônias à altura da cintura, com os braços esticados. O Mestre de Cerimônias deve sempre olhar para o lado oposto de quem está ofertando (voltando o rosto para o lado direito). Retorna o Saco de Propostas ao coração após coletar cada óbolo. Na troca de função com o Cobridor Interno deve passar o Saco de Propostas e Informações à mão esquerda deste, e com a direita segurar a espada. Após entregar o conteúdo ao Venerável Mestre deve exibir o Saco de Propostas e Informações vazio à Oficina. 26 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O ADORMECIMENTO DO FOGO O CORTEJO DE SAÍDA O Mestre de Cerimônias dirige-se ao Altar dos Perfumes, toma posse do abafador, passa por trás do retábulo, faz a vênia ao Venerável Mestre, desce os degraus para o Ocidente e dirige-se ao Altar da Beleza. Entrega o abafador pelo lado esquerdo ao Segundo Vigilante e recebe-o de volta pelo lado direito. Dirige-se ao Altar da Força, entrega o abafador ao Primeiro Vigilante pelo lado esquerdo, recebe-o de volta pelo lado direito e dirige-se ao Altar da Sabedoria. Entrega o abafador ao Venerável Mestre pelo lado esquerdo, passa por trás do retábulo, recebe-o de volta pelo lado direito do Venerável Mestre, coloca-o no Altar dos Perfumes, completa o giro por trás do retábulo e retorna a seu lugar. O convite ao repouso se inicia pelo Venerável Mestre e eventuais ocupantes do Altar da Sabedoria. É executado do lado direito do Altar da Sabedoria, próximo ao Secretário. O Mestre de Cerimônias acompanha o Venerável Mestre, por trás dele, até a porta do Templo, e dali convida os demais obreiros ao repouso na ordem inversa do ingresso, começando pelo Oriente e encerrando pelos Aprendizes. Após todos saírem, permanece no Templo juntamente com o Segundo Experto, o Arquiteto, ou os mesmos Mestres que participaram do Revigoramento da Chama Sagrada e o Cobridor Interno. 27 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ADORMECIMENTO DA CHAMA SAGRADA O Mestre de Cerimônias convida o Segundo Experto e Arquiteto, ou os mesmos Mestres que executaram o Revigoramento da Chama Sagrada para realizarem o Adormecimento do Fogo. Todos portam a espada no Sinal de Guarda, e as embainham no Altar dos Juramentos. O Mestre de Cerimônias se coloca no eixo do Altar dos Juramentos, de frente para o Altar da Sabedoria. Recebe o abafador do Segundo Experto e o repassa ao Arquiteto. Após adormecida a Chama Sagrada, recebe o abafador do Arquiteto e o repassa ao Segundo Experto, que o coloca sobre o Altar dos Perfumes. 28 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS SACERDOTES LEVITAS O ORADOR INSPIRAÇÃO Entendo como possíveis fontes de inspiração para os ritualistas, no que diz respeito à inserção do cargo de Orador nas Lojas Simbólicas os sacerdotes levitas, as legiões romanas, e as Ordens Militares de Cavalaria da Idade Média. Estas últimas colaboraram para o surgimento na França da capelania castrense, ou ordinariato, que originou a denominação Capelão, chamado de Chaplain no idioma inglês, e Orateur no francês. De acordo com a narrativa do Livro do Êxodo, IAVEH entregou a Moisés duas Tábuas da Lei, os chamados Dez Mandamentos da tradição judaico-cristã. A primeira tábua destas ordenações divinas continha quatro regras que estabeleciam a aliança entre o homem e a divindade, e a outra, seis regras da aliança entre os homens, ou seja, os padrões éticos e morais de comportamento da sociedade recém- criada. Este decálogo se tornou não apenas a base dos princípios morais, éticos e religiosos dos hebreus, resultando na Lei Mosaica, mas posteriormente o fundamento para os padrões de comportamento de toda civilização ocidental até nossos dias. No prosseguimento da narrativa, IAVEH elege os membros e descendentes da Tribo de Levi para o sacerdócio. Surgem os sacerdotes levitas. Havia ainda o Sumo Sacerdote, com autoridade sobre os demais, e que se tornou nestes primeiros tempos do povo hebreu uma espécie de juiz de inspiração divina. As Tábuas da Lei foram guardadas numa arca construída em madeira de acácia e forrada de ouro, que se tornaria a raiz do pensamento ocidental em relação à intervenção divina tanto no cotidiano, quanto nos combates. Conceito este transportado para a Idade Média. 29 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA AS LEGIÕES ROMANAS AS ORDENS DE CAVALARIA A Arca da Aliança acompanhava os hebreus nas batalhas, símbolo da presença de IAVEH SABAOTH, o “Senhor dos Exércitos” e lhes dava superioridade sobre os adversários. No cerco às muralhas de Jericó (Josué 6: 1-27) a ação da Arca da Aliança é decisiva. O Sumo Sacerdote era o responsável pelo aconselhamento espiritual nos combates e manutenção do moral do grupo, bem como no dia a dia. Foi das legiões romanas que surgiu a inspiração para as expressões latinas capelania castrense e ordinariato, empregadas na Idade Média para a função de aconselhamento espiritual dos soldados durante as campanhas militares. Castrum era a designação das fortificações construídas pelos romanos nos territórios conquistados, uma espécie de quartel, cuja execução estava à cargo do Collegia Fabrorum. Havia um oficial destacado para o aconselhamento espiritual das tropas romanas A partir de Constantino I, que se converteu ao cristianismo após a visão de uma cruz no céu, com a frase in hoc signo vinces, “com este símbolo vencerás”. A cruz, a partir daí foi adicionada aos estandartes romanos junto à famosa e temida Aquila Romana. O aconselhamento espiritual das tropas passa então a ser baseado na doutrina cristã, e esse conceito será absorvido pelos capelães medievais. As Ordens Militares de Cavalaria foram criadas para combater na Terra Santa durante as Cruzadas. Essa campanha se denominou assim justamente porque todas as Ordens utilizavam a cruz em seus brasões, os cavaleiros eram chamados de Cruzados. Eram uma espécie de monges guerreiros, que combatiam pela fé uma “Guerra Santa”, e a cruz lhes servia como estímulo numa clara herança de Constantino I, in hoc signo vinces. Tinham regras monásticas e eram ordenadas pelo Papa. As regras dos Templários, por exemplo, foram escritas por Bernardo de Claraval. 30 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CAPELANIA CASTRENSE O CAPELÃO NA MAÇONARIA A INSERÇÃO NOS RITUAIS Possuíam um oficial responsável pelo aconselhamento espiritual e moral das tropas, era o Capelão. As Ordens de Cavalaria exerceram influência direta na postura do Orador no Rito Adonhiramita. A Capelania Castrense e o ofício dos capelães junto aos exércitos surgiram na França por volta de 1700. Nessa época as tropas tinham entre seus oficiais um clérigo que transportava uma relíquia num recipiente chamado capela. Vem daí a designação de capelania. A capela nada mais era do que uma versão moderna da Arca da Aliança transportada pelos exércitos dos hebreus, ou seja, um símbolo da presença divina nos campos de batalha. As Tábuas da Lei foram substituídas por relíquias de santos, tais como pedaços de pano, madeira e até ossos. A Capelania e o Ordinariato Militar existem até nossos dias, evidentemente num sentido muito mais ecumênico, e cabe aos capelães militares o aconselhamento espiritual e estimular o moral das tropas. Não havia o cargo de Capelão no período operativo da Maçonaria, muito embora os construtores de templosfossem extremamente religiosos e em determinadas ocasiões fizessem orações. Da mesma forma não havia uma organização jurídica nestas guildas medievais, suas ordenações e estatutos eram estabelecidos e aplicados pelos próprios mestres das Lojas. Essa ordenação jurídica também não existia nos primórdios do período especulativo, e só vai ganhar corpo após a promulgação das Constituições de Anderson em 1723. Nos Rituais de língua inglesa o Mestre incumbido das tarefas de ordenação legal nas Lojas passa a ser chamado de Chaplain, Capelão, mas parece mais próprio da Maçonaria irlandesa e escocesa que da Inglesa, e tudo leva a crer que no princípio suas funções estavam mais ligadas à religiosidade que à normas estatutárias. Na França o cargo passa a se chamar Orateur, de onde derivou a denominação Orador em português, e juntamente com a versão uma certa confusão no que diz respeito às suas atribuições, pelo menos no meu entendimento. 31 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA MINERVA ASSOCIAÇÕES MÍTICO-FILOSÓFICAS No que diz respeito ao Rito Adonhiramita, o cargo de Orador não é mencionado na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, No entanto, não podemos afirmar que o cargo não existisse na época. Andrew Ramsay já ocupava o cargo de Grande Orador no Grande Oriente da França em1737, o que nos sugere a prática na Maçonaria francesa. O Orador consta da descrição dos cargos em Loja contida no primeiro ritual Adonhiramita publicado pelo GOB no Brasil, em 1836. Nessa época, os Oficiais totalizavam nove Mestres, segundo o próprio ritual este número não poderia ser alterado por conta do simbolismo de “três vezes três”. Ainda não há nessa época menção às atribuições do cargo, e tampouco funções ritualísticas, o que vai ocorrer gradativamente nos rituais posteriores Alguns autores associam o cargo de Orador à deusa romana Minerva, Palas Atenas para os gregos, que era a deusa da Sabedoria, das Artes e da Diplomacia. No meu entendimento esta associação não é aplicável no Rito Adonhiramita pela própria associação com o seu lugar no Templo, a Cabala e a Astronomia. O Altar da Sabedoria, na verdade, é ocupado pelo Venerável Mestre, é dele inclusive o voto de Minerva nas decisões empatadas. Entendo que o simbolismo do Orador esteja mais ligado aos conceitos de conhecimento e de justiça. Neste raciocínio teremos uma associação mais razoável com Maat e Thêmis, deusas da justiça para os egípcios e gregos, e Toth, o “Três Vezes Grande” do antigo Egito, deus do conhecimento. Observem que o Orador não é juiz, o Mestre que mais se aproxima dessa função é justamente o Venerável. 32 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CABALA A ABÓBADA CELESTE Pela sua posição geográfica no Templo, o cargo de Orador está associado à emanação da sefirote Chokmah, a sabedoria, o conhecimento, a prudência. É a segunda emanação ou sefirote, sendo associada à dualidade e ao número DOIS. Essa dualidade pode ser “medida” precisamente na balança da justiça. Chokmah está situada no eixo do Pilar da Misericórdia da Árvore da Vida, simboliza “O Pai” e o princípio masculino e ativo, além de estar associada à Letra hebraica IOD, primeira letra do inefável Nome de Deus. Conceitualmente, Chokmah está situada entre a vontade do Criador, emanada em Kether, ou o “Universo ideal”. O “Universo Real”, “o que virá a ser”, será manifestado através das emanações das demais sefirotes. Em relação à astronomia, representada na Abóbada Celeste de nossos Templos, o cargo de Orador está situado na projeção do planeta Júpiter, que emprestou seu nome da divindade romana correspondente a Zeus, rei do Olimpo para os gregos. O maior planeta do Sistema Solar. Tanto o planeta quanto a divindade estão associados à justiça. Astrologicamente é considerado um planeta retrógrado, voltado para a ancestralidade, para o conservadorismo e para a tradição. A associação parece aplicável ao cargo de Orador. 33 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NA PROCISSÃO O LUGAR EM LOJA Na Procissão, o Orador coloca-se no eixo central, após as Colunas do Norte e do Sul, atrás do Secretário e antes do Deputado Estadual da Loja. O Orador ocupa uma mesa no Oriente, ao sudeste, do lado esquerdo do Venerável Mestre. 34 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES REQUISITOS O cargo de Orador é preenchido por votação direta, através da maioria simples de voto dos obreiros da Oficina. É uma dignidade, um dos cargos obrigatórios na Loja Simbólica e um dos sete Mestres necessários para abrir a Loja. Suas atribuições estão estabelecidas no artigo 122 do Regulamento Geral da Federação. Cabe ao Orador: Observar, promover e fiscalizar o rigoroso cumprimento das Leis Maçônicas e dos Rituais. Cumprir e fazer cumprir os deveres e obrigações a que se comprometeram os membros da Loja, à qual comunicará qualquer infração e promoverá a denúncia do infrator. Ler os textos de Leis e Decretos permanecendo todos sentados. Verificar a regularidade dos documentos maçônicos que lhe forem apresentados Apresentar suas conclusões no encerramento das discussões, sob o ponto de vista legal, qualquer que seja a matéria Opor-se, de ofício, a qualquer deliberação contrária à lei e, em caso de insistência na matéria, formalizar denúncia ao Poder competente. Manter arquivo atualizado de toda legislação maçônica. Assinar as atas das Lojas tão logo sejam aprovadas. Acatar ou rejeitar denúncias formuladas à Loja, representando aos Poderes constituídos. Em caso de rejeição, recorrer de ofício ao Tribunal competente. Nos Ritos que possuem o cargo de Orador, ele é considerado membro do Ministério Público Maçônico, muito embora não seja empossado pelo MP. O primeiro requisito para concorrer ao cargo de Orador, por óbvio, é ser Mestre Maçom. Embora não haja qualquer recomendação de interstício entre sua Exaltação e as eleições, creio ser recomendável que o postulante ao cargo possua certa vivência em Maçonaria. Deve possuir boa retórica, porém, não deve ser prolixo, falar muito. Deve ser claro em seus pronunciamentos de modo a todos compreenderem suas orientações. Não é necessário demonstrar erudição ou utilizar vocabulário requintado, mas deve evitar o uso de termos chulos, gírias, e, sobretudo, falar o idioma corretamente. 35 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A LEGISLAÇÃO MAÇÔNICA Todo e qualquer maçom deve ter compromisso e dedicação, jurou isso voluntariamente sobre o Livro da Lei, mas as Dignidades e Oficiais devem demonstrar maior zelo com esse quesito, afinal, foram eleitos pela Oficina ou nomeados pelo Venerável Mestre para auxilia-lo na direção dos trabalhos. Deve ser assíduo e pontual, afinal, se ele pretende auditar todas as etapas das sessões além de estar presente em todas deverá participar desde o início dos trabalhos. Se pretende zelar pela disciplina e ordem dos trabalhos deve ele mesmo ser disciplinado e tornar-se um exemplo para os demais obreiros. Deve ser desembaraçado e ter iniciativa, jamais se omitir diante da necessidade de intervenção nas sessões a qualquer momento, no entanto, deve fazê-lo de modo a não causar constrangimentos, humilhações e consequentemente causar prejuízo à harmonia das sessões. Para desempenhar bem suas funções é imperativo estudar constantemente a legislação maçônica. Não é preciso decorar as normas, mesmo porque elas sofrem constante alteração, mas é necessário ao menos saber a que legislação recorrer de acordo com a circunstância. É recomendável que tenha sempre em seu poder cópia dalegislação maçônica atualizada para eventual consulta. Longe de demonstrar insegurança ou despreparo para o desempenho do cargo, essa simples medida pode render enormes benefícios à Oficina, sobretudo no que diz respeito à celeridade das decisões. Deve ser seguro, e principalmente transmitir essa segurança aos obreiros do quadro, um Orador hesitante é bastante prejudicial à Loja. Portanto, não pode ser tímido, e deve demonstrar seriedade no desempenho de suas atribuições, lembrando que seriedade não é sinônimo de mau humor ou autoritarismo. O Orador deve ser ponderado, equilibrado, e acima de tudo justo. É possível desempenhar o cargo com cordialidade e fraternidade, creiam nisso. Deve conhecer bem o tratamento de autoridades e suas respectivas faixas, pois cabe a ele saudá-las em nome da Oficina, e não é desejável a ocorrência de equívocos que possam gerar constrangimento. Deve ser extremamente atento, e principalmente não se distrair durante as sessões. O Orador é um eterno observador. Não é necessário ser profissional com formação na área de Direito para o desempenho do cargo, mas sem dúvida, o Mestre que possuir essa especialização terá chance de sucesso maior que outrem. No âmbito do Grande Oriente do Brasil, é a seguinte a legislação pertinente: A Constituição do Grande Oriente do Brasil e dos Grandes Orientes Estaduais ou Distrital ao qual a Oficina esteja jurisdicionada. O Regulamento Geral da Federação, RGF, Lei N°99 de 9 de dezembro de 2008 EV, que estabelece as normas comuns a todos os Ritos praticados no âmbito do Grande Oriente do Brasil. As particularidades estão contidas nos rituais de cada um dos Graus Simbólicos, que igualmente devem ser estudados e compreendidos pelo Orador. 36 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSTURA O Código Disciplinar Maçônico, Lei N°165, de 7 de novembro de 2016 EV, que estabelece os padrões de comportamento inconformes com a Doutrina Maçônica. O Conselho de Família, Lei N°171, de 5 de abril de 2017 EV As Lojas são a primeira instância do Poder Judiciário, e o Conselho de Família é um foro conciliador, que busca a obtenção de soluções consensuais para as contendas entre os membros do quadro sem a necessidade de ajuizamento de ações. O Código Eleitoral Maçônico, Lei N°153, de 8 de setembro de 2015 EV, que estabelece os critérios para a ocorrência das eleições e candidaturas tanto nas Lojas quanto nos Grandes Orientes Geral, Estadual ou Distrital, incluindo a eleição dos representantes da Loja junto à Poderosa Assembleia Estadual Legislativa e à Soberana Assembleia Federal Legislativa. O Código de Processo Penal Maçônico, Lei N°2, de 16 de abril de 1979 EV, que estabelece as sanções e punições aos maçons, lembrando que a Loja é a primeira instância do Poder Judiciário no âmbito do Grande Oriente do Brasil. Portanto, as sentenças em primeira instância serão proferidas pelo Venerável Mestre, e ratificadas ou reformadas nas instâncias superiores, respeitando-se evidentemente o amplo direito ao contraditório. A Comissão Processante das Lojas, Lei N°132, de 25 de setembro de 2012 EV, que simbolicamente transforma as Lojas em tribunais maçônicos para julgamento de ações disciplinares, exercendo o Orador nesta oportunidade a função de promotor de justiça. O Regimento de Recompensas, Lei N°88, de 21 de setembro de 2006 EV, que estabelece os critérios para a concessão de títulos honoríficos às Lojas e aos maçons individualmente. O Estatuto da Loja e o Regimento Interno da Loja, que são obrigações constitucionais das Oficinas e que determinaram a forma de governo de cada uma delas. Os Rituais de todos os Graus Simbólicos, pois o Orador é guarda da ritualística também. Toda a legislação deve estar permanentemente atualizada. O Orador deve manter uma postura serena, isso lhe emprestará a imagem de imparcialidade e equilíbrio, atributos fundamentais para o desempenho de suas funções. Deve possuir boa impostação de voz e usar linguagem formal, evitando expressões vulgares, sem no entanto a necessidade de demonstrar erudição. Deve ser objetivo, claro, e não prolixo, é Orador porque faz oração, e não porque profere longos e cansativos discursos. Deve ser sério, mas o mesmo tempo gentil e cordial. Esse exercício contribuirá muito para sua evolução pessoal. Jamais deve descalçar suas luvas, se há um obreiro que deve demonstrar a todos que “suas mãos estão limpas” é o Orador, símbolo da justiça. 37 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA Deve exercitar o poder de síntese, resumir seu pronunciamento apenas ao necessário. O domínio deste atributo lhe concederá um acréscimo considerável em sua capacidade de análise. É recomendável que tenha sempre às mãos cópia atualizada da legislação maçônica, e da List of Lodges, para eventuais consultas a visitantes oriundos de outras Potências. É fundamental ter à mão material para anotações, e procurar anotar tudo o que entender como relevante durante as sessões. O Orador usa do verbo quando a palavra está no Oriente, excetuando-se, obviamente, os momentos em que o ritual reclama sua manifestação. Deve separar a manifestação como obreiro, que envolve seu posicionamento pessoal em relação à alguma questão, do resumo da sessão. Portanto, tem a prerrogativa de falar em duas oportunidades na Palavra à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular, mas deve fazer uso dessa prerrogativa com parcimônia e sensatez. Fala sentado, é uma Dignidade, ocupa uma mesa, um lugar diferenciado em relação à planta do Templo. Não é examinado durante o Interrogatório, permanece sentado, e sua condição é atestada pelo Venerável Mestre, assim como a de todos os Mestres sentados no Oriente. No Rito Adonhiramita a Joia do Orador é no formato de um círculo vazado, e sua descrição consta desde o primeiro ritual publicado pelo Grande Oriente do Brasil em 1836. Diferentemente do entendimento de outros Ritos, não há associação de seu simbolismo com o Sol no Rito Adonhiramita. De acordo com a fala do Cobridor Interno em nossos rituais, a posição simbólica do Sol no Templo é ocupada pelo Venerável Mestre, portanto, não é o Orador quem o representa. Para o Rito Adonhiramita o Orador não simboliza a sabedoria, mas sim a justiça e o conhecimento. O atributo da sabedoria cabe simbolicamente ao Venerável Mestre, guardião da Coluna que leva seu nome. É o Venerável quem decide com base na decisão da maioria dos obreiros e nas orientações do Orador. É ele, o Venerável Mestre, que necessita de sabedoria para nortear suas decisões. O simbolismo do círculo no caso da Joia do Orador e outro. O círculo é uma figura geométrica na qual todas as outras podem ser inscritas, ou seja, abrange toda a manifestação. Não tem princípio nem fim, é um ciclo infinito. Representa a perenidade da ordenação e a tradição. Simboliza também a igualdade, pois não tem ângulos, lados, base, arestas ou vértices. A definição acadêmica o define como o lugar geométrico de todos os pontos equidistante. É traçado com um compasso, símbolo da expansão da consciência da divindade. É a figura geométrica mais perfeita. 38 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA MANUSEIO DO MATERIAL LITÚRGICO O LIVRO DA LEI O COMPASSO Cabe ao Orador da Loja manusear os principais instrumentos litúrgicos e símbolos da Maçonaria, o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso, chamados de Três Luzes da Maçonaria. Alguns autores lhes atribui a designação de Três Luzes Maiores, pois com o desenvolvimento dos rituais o Venerável Mestre e os Vigilantes foram batizados de Três Luzes da Loja, ou Três Luzes Menores. Devem estar presentes em todas as sessões. O Livro da Lei só pode ser aberto ou fechado após a formação do Pálio.Nesta ocasião o Orador deve estar descoberto e ajoelhado sobre o joelho direito. O Livro da Lei Deve ser seguro pelas duas mãos, o Orador irá manuseá-lo como se estivesse o lendo. Nos rituais Adonhiramitas do Grande Oriente do Brasil a prescrição é que seja utilizada a Bíblia como representação. O Livro da Lei deve ser aberto aleatoriamente, em qualquer página, sendo recomendável em sua metade, de modo a se constituir numa superfície plana e permitir a sobreposição do Esquadro e do Compasso sem risco de queda. Jamais é colocado no chão. Na ocasião, segundo os rituais do Grande Oriente do Brasil, é recitado o evangelho de João 1: 6 a 9. O Venerável Mestre só pode declarar a Loja aberta ou fechada após sua abertura ou fechamento, e só pode ser fechado após a Oração de encerramento. A exemplo do Livro da Lei o Compasso jamais deve ser colocado no chão. É o símbolo da divindade e do espírito. Deve ser colocado aberto em ângulo de 45° sobre o Livro da Lei, igualmente aberto. Seu vértice, ou ponta de manuseio, deve estar voltado para o Oriente, na direção do Fogo Eterno ou Chama Sagrada. O instrumento utilizado nas Lojas Simbólicas não é um compasso de desenho, tem as duas pontas secas, é uma ferramenta de obra, notadamente utilizada nas construções medievais não apenas para traçar círculos, mas igualmente para transferir medidas com maior precisão nos desenhos. 39 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O ESQUADRO FUNÇÕES RITUALÍSTICAS Da mesma forma que os instrumentos anteriores, o Esquadro jamais deve ser colocado no chão. O Ritual determina o uso de um esquadro operativo, ou seja, do tipo utilizado na construção civil, com dois ramos desiguais, sendo um graduado e outro não. Deve ser colocado sobre o Livro da Lei aberto, com o vértice voltado para o Ocidente, na direção da porta do Templo, e seu ramo menor para o nordeste, lado do Secretário. Simboliza a retidão dos maçons e dos trabalhos realizados Cabe ao Orador desempenhar as seguintes funções ritualísticas: Abrir e fechar o Livro da Lei. Opinar pela votação após a leitura do Balaústre e eventuais correções. Assinar os Balaústres após aprovados juntamente com o Venerável Mestre. Ler o texto de decretos e leis durante o Expediente. Verificar de pé, juntamente com o Secretário, o conteúdo do Saco de Propostas e Informações. Opinar após a apreciação de matérias na Ordem do Dia sob seu aspecto legal. Opinar pelo prosseguimento do Escrutínio Secreto. Opinar após a apresentação do Quarto de Hora de Instrução. Saudar os Irmãos visitantes na Palavra à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular. Efetuar a síntese dos trabalhos e declará-los Justos e Perfeitos para que o Venerável Mestre possa fechar a Loja. 40 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA JUSTOS E PERFEITOS CONCLUSÃO Para que o Venerável Mestre possa dar início ao processo de encerramento dos trabalhos, é necessário que o Orador declare que eles tenham decorrido Justo e Perfeitos. Existe menção, como origem do termo, de uma lenda envolvendo sabotagens praticadas por lojas rivais nas guildas medievais de pedreiros. Sabotadores de outras lojas infiltrados nas obras desalinhariam propositalmente as pedras que formariam a base e paredes das construções em andamento para atrasar sua conclusão. Segundo a narrativa, justa seria a pedra rigorosamente encaixada na horizontal, representando a igualdade e o nivelamento entre os obreiros. Perfeita, seria a pedra rigorosamente encaixada na vertical, simbolizando a ascensão rumo à elevação espiritual. Assim, os Vigilantes percorreriam as obras antes e após os trabalhos para verificar a correção da colocação das pedras, e na hipótese afirmativa, diria um que os trabalhos estavam justos, e o outro que estavam perfeitos. Mas é apenas uma ficção, uma alegoria para ilustrar os conceitos da Doutrina, isso não ocorria nas guildas medievais. A real referência é bíblica, e diz respeito ao patriarca Noé, personagem da primeira versão da Lenda do Terceiro Grau. Noé, segundo a Bíblia, foi o único homem justo e perfeito aos olhos de IAVEH (Gênesis 6: 8-9). Os ritualistas se referiam à conduta desejável para os maçons. Nas Lojas Simbólicas, a declaração do Orador se refere aos trabalhos realizados, e não aos maçons. Justo é o trabalho que foi executado com justiça, e perfeito, é o que não carece de correção. Significa dizer que até aquele momento todas as etapas ritualísticas e litúrgicas foram cumpridas, bem como a legislação maçônica observada. Como vimos, o cargo de Orador é de muita responsabilidade, a regularidade da Loja também depende de sua atuação. Não é um cargo que se resume a discursos, requer amplo conhecimento da legislação maçônica e dos rituais, além de muito estudo, dedicação e compromisso. É comum o Orador ser visto com antipatia por alguns obreiros, por conta de sua atribuição de auditor das sessões, mas seu desempenho é fundamental para a regularidade da Loja. O Orador deve entender que não é juiz nem promotor de justiça, mas sim o assessor jurídico do Venerável Mestre. Sua atuação não deve ser corretiva apenas, mas principalmente preventiva. 41 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA A INSPIRAÇÃO O SECRETÁRIO O Secretário é um dos cargos mais importantes de uma Loja Simbólica, atua ritualística e administrativamente, é o “braço direito” do Venerável Mestre na administração das Lojas Simbólicas, e possui gigantesca responsabilidade. É um dos cargos menos concorridos pelos Mestres Maçons, mas quando bem desempenhado é alvo dos maiores elogios. Suas funções por vezes se confundem com as do Chanceler, de quem herdou várias atribuições ao longo do tempo. Possui um simbolismo muito interessante, pois está relacionado à história das Lojas e consequentemente da Maçonaria. É um dos 7 Mestres necessários para abrir a Loja Secretário vem do latim secretariu, e originalmente se referia a um local reservado, à sala de reunião dos juízes, ou a um tribunal secreto. Portanto, secretário tem a mesma raiz de segredo ou secreto. Na Idade Média o vocábulo passou a designar a pessoa a quem se podia confiar segredos. Nesta época foi associado à função o domínio da gramática e da ortografia, e por vezes o conhecimento de vários idiomas. O secretário medieval era com certeza erudito, e sua profissão se confundia com a de diplomatas e ministros dos reinos. Modernamente o secretário assumiu o conceito de assessor direto das chefias. Na Maçonaria Especulativa o Secretário desempenha ambas as funções, grava os balaústres e todos os documentos da Loja mantendo o devido sigilo, e assessora diretamente o Venerável Mestre. É uma das funções mais importantes da Oficina e um dos 7 cargos obrigatórios para a abertura de uma sessão. O cargo de Secretário evidentemente está associado à escrita, à gravação do conhecimento para transmissão às futuras gerações. Os primeiros registros do dia a dia da humanidade surgem nas pinturas rupestres das cavernas e datam de 40.000 anos. A partir daí o homem desenvolveu símbolos para facilitar a transmissão e perpetuação do conhecimento através das gerações. 42 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O SECRETÁRIO E A ESCRITA OS ESCRIBAS EGÍPCIOS Os primeiros alfabetos eram desenhos, símbolos, ideogramas, a escrita cuneiforme surgiu na Mesopotâmia em 3500 a.C., na mesma época surgem os hieróglifos dos egípcios. As gravações dos símbolos eram feitas em argila, ossos, cascas de árvore, rochas e peles de animais. A linguagem escrita começa a se desenvolver, e o conhecimento passa a ser transmitido de forma mais eficiente.Qualquer registro gravado através de caracteres, textos, livros, etc., tem suas raízes nos escribas do antigo Egito. Foi lá que a arte de registrar eventos e escrever a história ganhou vulto e se propagou pelo mundo ocidental. Mais tarde, na Idade Média, surgem os copistas e iluministas, que passavam não apenas horas, mas anos e às vezes décadas copiando livros e textos para que o conhecimento humano fosse preservado. Dentre outras hipóteses, creio que estas tenham sido as principais fontes de inspiração dos ritualistas para promover a inserção do cargo de Secretário nas Lojas Simbólicas. Vou falar resumidamente de ambos e expor as razões desse meu entendimento. Como disse antes, todo e qualquer registro documental ao longo da História certamente tem sua origem no antigo Egito. Mesmo que a civilização sumério-acadiana tenha inaugurado a escrita, os egípcios se dedicaram exaustivamente à transmissão gravada do conhecimento para as futuras gerações. Para os egípcios a escrita teria sido ensinada aos homens pela divindade Toth, chamada de Hermes Trismegistus para os gregos. Tratava-se, portanto, de uma “ciência divina”. Os escribas egípcios influenciaram gregos, hebreus e toda a civilização ocidental no que diz respeito à gravação de registros e do conhecimento. Os ritualistas maçônicos não se inspiraram diretamente neles, mas sem dúvida há uma associação indireta. 43 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS COPISTAS MEDIEVAIS O SECRETÁRIO NA MAÇONARIA Após a queda do Império Romano o continente europeu mergulhou num período de trevas. O conhecimento e a civilização foram enormemente ameaçados, e surge para resgatar e difundir o conhecimento novamente a figura dos copistas. Os copistas e iluministas medievais desempenhavam um papel extremamente cansativo e dedicado, e eram praticamente anônimos. A maioria deles era ligada direta ou indiretamente ao clero. A restauração da pesquisa, do ensino e do próprio conhecimento, que vai se instaurar pouco mais à frente no período do Renascimento, dependeu diretamente do incansável trabalho e esforço individual dos copistas. Por outro lado, dado às condições precárias de trabalho, infelizmente muito das versões originais dos textos foi corrompida, nem sempre por dolo, mas principalmente pelo cansaço e consequente distração. Este é um aspecto que deve nortear os Secretários na Maçonaria, a atenção extrema e a fidelidade na redação das atas. Não havia Secretário nas Lojas operativas, muito embora os construtores de templos tivessem o cuidado de relacionar os materiais e suas quantidades não se trata da mesma função, mesmo porque, a maioria simplesmente era analfabeta. O cargo é exclusivo do período especulativo. Mas a partir de 1717, quando surge a necessidade de compilação das Old Charges, parece ficar claro a necessidade de um Mestre Maçom para registrar as atividades das Lojas de maneira formal. Esse fato, adicionado à organização formal que as Lojas passaram a exigir, foi o que certamente levou à sua inserção nos rituais. 44 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSERÇÃO NOS RITUAIS O SECRETÁRIO NA ABÓBADA CELESTE Ao que parece, a primeira menção ao cargo na Maçonaria moderna se dá em 1767, na edição de uma das constituições das Lojas Provinciais, a 4ª edição das Constituições d’Entik. Na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita o cargo de Secretário não é mencionado, porém, no que diz respeito ao Brasil, a primeira edição de um Ritual Adonhiramita pelo GOB, datada de 1836, já dispõe sobre o cargo nos seguintes termos: “Os officiaes Dignitários de que a loja de Aprendiz se compõe são: o Mestre, que se trata por Venerável; Primeiro Vigilante; Segundo Vigilante; Orador; Thesoureiro; Secretario; Mestre de Ceremonias; Experto; Cobridor, ou Experto de Fora. O numero destes officiaes he sempre o mesmo em todas as lojas, e posto que em algumas tenhão diferentes denominações, o numero não se pôde alterar; porque significa três vezes três”. (mantive a grafia original) Nos Templos Adonhiramitas, se fizermos a associação com a Árvore da Vida, o cargo de Secretário é posicionado geograficamente na emanação da sefirote Binah, a Compreensão, o Entendimento, a Concretização, a Estrutura. Esta sefirote complementa a Tríade Suprema, também chamada de Triângulo Logoico, ou Triângulo Supremo, formado por ela mesmo e pelas duas emanações anteriores, Chochmah e Kether. É a terceira emanação ou sefirote, na ordenação da Árvore da Vida. Está associada ao número TRÊS, à manifestação do conceito de Universo ideal, que foi emanado de Kether. Representa a “Mãe”, o princípio feminino e passivo. Binah é a forma, assim como é o trabalho do Secretário que faz a Loja “existir”. 45 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA POSIÇÃO NA PROCISSÃO Quando olhamos para o teto de nossos Templos, e miramos a Abóbada Celeste simbólica, percebemos que a mesa ocupada pelo Secretário encontra-se na projeção do planeta Mercúrio. A denominação do planeta foi inspirada no deus romano, associado à comunicação, e correspondendo ao deus Hermes dos gregos. Ambas as divindades são um sincretismo da religião politeísta do antigo Egito, particularmente com a divindade Toth, chamada de Hermes Trismegistus pelos gregos, que como vimos anteriormente, era considerado o deus que ensinou a escrita aos homens. Mercúrio é o planeta mais rápido do sistema solar, por ter a menor órbita em relação ao Sol. Essa característica guarda similaridade com a agilidade requerida ao Secretário, tanto no registro dos balaústres, quanto nas relações documentais de praxe junto aos Grandes Orientes Estadual ou Distrital e o Poder Central. Sob o ponto de vista astrológico, Mercúrio aguça o discernimento e a capacidade de transmitir informações, atributos sem dúvida desejáveis para o Secretário. Na formação da Procissão, o Secretário posta-se na fileira referente ao Oriente, de frente para o Mestre de Cerimônias, atrás do Porta-Bandeira, e na frente do Orador. 46 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NO TEMPLO ATRIBUIÇÕES No Templo, o Orador tem assento no Oriente, ao nordeste, do lado direito do Venerável Mestre. O Cargo de Secretário é preenchido através de eleição direta pela maioria simples dos votos dos obreiros da Oficina Eleitoral. É uma das sete Dignidades da Loja, e um dos Mestres obrigatórios para a Abertura da Loja. O cargo é regido pelo artigo 123 do Regulamento Geral da Federação, que estabelece as seguintes atribuições: Lavrar as atas das sessões e assiná-las com O Venerável Mestre e o Orador após aprovadas. Manter atualizados os arquivos dos atos administrativos e notícias de interesse da Loja, tais como a correspondência recebida e expedida, e a relação de membros do quadro da Oficina, contendo todos os dados necessários à sua perfeita e exata qualificação e identificação. Receber, distribuir e expedir a correspondência da Loja. Manter atualizados os Livros Negro e Amarelo da Loja. 47 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS Preparar, organizar, assinar junto com o Venerável Mestre e remeter a cada ano, ao Grande Oriente do Brasil e ao Grande Oriente Estadual, do Distrito Federal ou Delegacia Regional, o Quadro de Maçons da Loja e o relatório de atividades. Comunicar ao Grande Oriente ou à Delegacia Regional, conforme a subordinação, no prazo de sete dias, as informações sobre iniciações, filiações, regularizações e colações de Graus; A expedição de Quite Placet ou Placet Ex-Officio.A suspensão de direitos maçônicos; as rejeições e inscrições nos Livros Negro e Amarelo, além de outras alterações cadastrais. Já o artigo 124, do mesmo regulamento, estabelece que o Secretário terá sob sua guarda os livros de registro dos atos e eventos ocorridos na Loja, bem como os Livros Negro e Amarelo, assegurando que o Secretário que dispuser dos meios eletrônicos ou arquivos digitais poderá produzir atas pelos referidos métodos, imprimindo-as para posterior encadernação em livros específicos. A primeira condição é ser Mestre Maçom, mas não há necessidade de ser Mestre Instalado. Requer compromisso e dedicação, e acima de tudo disponibilidade de tempo para organizar as atas e tratar da documentação da Loja. Como os registros das atividades da Oficina estão a seu cargo a assiduidade torna-se fundamental, bem como a pontualidade, pois deve registrar os trabalhos desde seu início. Deve possuir senso de organização e bom senso. Possuir boa redação é fundamental, mas além disso são necessárias boa leitura e dicção, pois os obreiros devem entender com clareza suas palavras, bem como escutá-las em qualquer local do Templo. Deve exercitar o poder de síntese para que os registros das atas não se tornem exageradamente grandes e enfadonhos, ocupando tempo demais nas sessões. Não é necessário registrar ipsi litteris o pronunciamento dos Irmãos. O objetivo das atas é registrar as decisões da assembleia para futuras consultas ou comprovação junto à Obediência, e não os elogios, discursos e testemunhos dos obreiros. Deve aperfeiçoar a interpretação de textos, pois isso trará benefícios e ganho de tempo na leitura do expediente, resumindo o conteúdo sem a necessidade da leitura por completo. Deve ter escrita rápida para facilitar o acompanhamento das sessões, isso lhe emprestará maior segurança no desempenho das funções, mas é preciso estar sempre atento e exercitar sua memória, pois por mais que se esforce em registrar todas as ocorrências, vez por outra alguma anotação pode falhar. 48 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSTURA Deve ter conhecimento da legislação Maçônica, notadamente no que diz respeito aos prazos legais a serem cumpridos na remessa dos documentos para não causar prejuízos à Loja. Deve conhecer os Alfabetos Maçônicos e saber decifrá-los, embora não seja sua tarefa decodificar a Palavra Semestral, por exemplo, é possível que algum documento recebido pela Loja tenha gravação nestes alfabetos. Deve ter domínio sobre as abreviações maçônicas, principalmente para efetuar a correta leitura das pranchas encaminhadas à Loja e não causar constrangimentos ou prestar informações equivocadas. Na atualidade é fundamental ter domínio e estar familiarizado com as ferramentas digitais. Cada vez mais, e num processo irreversível, a remessa de documentos, troca de informações e registros dependerá dos meios eletrônicos. Deve conhecer bem as Faixas de Tratamento das autoridades maçônicas para efetuar o registro correto nas atas. Conforme vimos no diagrama do Templo, o Secretário ocupa uma mesa de formato retangular no Oriente, no lado nordeste, lado direito do Venerável Mestre. Pela sua posição no Templo deve possuir boa impostação de voz para ser ouvido em todos os lugares, e da mesma forma ter boa audição para escutar com clareza a fala dos Irmãos. Deve manter estreito relacionamento com os demais membros da administração da Loja, e contato permanente com o Venerável Mestre, de quem é auxiliar direto. Deve efetuar consultas constantes ao Poder Central e ao Grande Oriente Estadual ou Distrital para dirimir eventuais dúvidas com relação aos registros da Loja. Embora não haja a permissão no ritual, suas luvas podem ser eventualmente retiradas para facilitar a escrita. Deve ter sempre à mão material para escrita e anotações, e em abundância, pois os registros com certeza serão muitos. Não deve postergar a confecção definitiva dos balaústres para evitar atrasos e a leitura de mais de uma ata nas sessões. Deve observar rigorosamente os prazos legais para remessa de documentos, caso contrário a Loja poderá ser penalizada. O Secretário fala na leitura dos balaústres e expediente, e quando a palavra está no Oriente, e o faz sentado, pois ocupa uma mesa, é uma das sete Dignidades da Loja, e possui prerrogativa para tanto. Também não é examinado durante o Interrogatório, o Venerável Mestre se responsabilizará por ele e por todos os obreiros com assento no Oriente. 49 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA O BALAÚSTRE É importante ter consciência de que, apesar de facilitar seu trabalho, as sessões não podem ser gravadas. Há vedação nos rituais quanto a isso, e a não observação dessa norma poderá acarretar em punição. A Joia do Secretário é no formato de duas penas cruzadas. A pena era o instrumento de escrita utilizado no século XVIII e anteriores, portanto, se refere à época de formalização da Maçonaria Especulativa. Representa também a fidelidade da escrita, pois a pena não permite correções posteriores, o que implica dizer que quem a manuseia deve ter notável segurança para escrever. As duas penas cruzadas repetem a posição de guarda das sentinelas medievais, que guardavam o acesso aos ambientes restritos cruzando suas lanças. Esse simbolismo se refere ao sigilo que o Secretário deve manter em relação ao conteúdo das atas e demais documentos maçônicos. O Secretário desempenha uma função exclusivamente material, portanto, não há qualquer associação místico-esotérica no simbolismo de sua Joia. Todos sabemos que no jargão maçônico o termo balaústre se refere às atas das sessões. Mas por que se chama balaústre? Balaústre é a designação de um elemento arquitetônico que serve como divisória ou limite entre espaços, sendo de meia altura, e formado por uma sucessão de pequenas colunas, ou colunetas, que são exatamente miniaturas das colunas tradicionais. Todas as atas são denominadas colunas gravadas. Isto porque os povos antigos tinham o costume de gravar sua história em colunas para a posteridade. Temos vários exemplos famosos deste hábito, como os famosos arcos dos romanos. Neste raciocínio, as várias colunas gravadas, que são os balaústres, registram e sustentam a história da Loja. 50 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O QUE GRAVAR NO BALASTRE? A leitura dos balaústres é uma etapa obrigatória nas sessões ordinárias, porém, pode ser suprimida em função da natureza da sessão, Iniciação, Magnas Comemorativas, de Filiação, extraordinárias, etc. Isso se faz necessário porque é preciso dar publicidade às decisões da Oficina, e da mesma forma, dar conhecimento aos obreiros que não estiveram presentes na sessão das matérias apreciadas e votadas. Apesar de assinar os balaústres juntamente com o Orador e o Venerável Mestre, não são eles que atestam a veracidade do balaústre, mas sim a concordância da assembleia que as aprova em votação, assegurado o direito de solicitar alterações e correções. Aqueles que autografam o balaústre atestam apenas sua autenticidade. O balaústre, portanto, pode ser corrigido após lavrado. A redação deve ser sintética, ressaltando os aspectos mais relevantes das sessões. O balaústre não é uma transcrição das sessões. É desejável que não haja atrasos na confecção e leitura dos balaústres, para não ocasionar prejuízos à Loja e ocupar muito tempo nas sessões com a leitura de mais de uma ata. Há correntes que defendem a leitura e aprovação dos balaústres na mesma sessão. Isso não é permitido pelos rituais, e nem lógico. Observem que a ata deve registrar o horário de início e de encerramento das sessões. Se o balaústre for lido e aprovado na mesma sessão não poderá ser modificado,ou seja, não poderá ser gravada a hora de encerramento dos trabalhos. Ademais, se uma das funções dos balaústres é informar aos obreiros ausentes o ocorrido em determinada sessão, este aspecto restará prejudicado. Por derradeiro, não vislumbro qualquer benefício nesta prática, posto que, será gasto o mesmo tempo que atualmente dispendemos, apenas alterando a sequência na sessão. Não há descrição ou modelo para confecção dos balaústres nem nos rituais nem no Regulamento Geral da Federação, o que dificulta a padronização, ficando a critério de cada Oficina e Secretário em particular o padrão a ser adotado. Portanto, o que deve prevalecer é o bom senso de registrar aquilo que seja importante para a documentação da Loja, ficando o estilo de redação livre, que irá, acima de tudo, refletir a personalidade e habilidade do Secretário. O primeiro fator a ser observado é que os balaústres sempre se referem a sessões anteriores, já realizadas, ou seja, remete-se ao passado. São a história da Loja. Devem ser sequenciais e numerados para possibilitar rápida consulta, sendo obrigatoriamente separados em volumes restritos a cada um dos três Graus Simbólicos. Devem estabelecer o local da sessão, a data de sua realização, os horários de início e término, a natureza e o Grau dos trabalhos. 51 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS LIVROS AMARELO E NEGRO Deve constar a nominação dos Mestres ocupantes de cargos nas Sessões, identificando os ad hoc se necessário. No Rito Adonhiramita é recomendável que constem seus Nomes Históricos, ainda que não haja óbices na gravação dos nomes profanos. Com relação à opção da datação dos balaústres ser maçônica ou obedecer ao calendário civil, gregoriano, creio que ambas são recomendáveis. O Rito Adonhiramita possui um calendário próprio, que na minha opinião não deve ser negligenciado e inserido apenas no contexto histórico como uma curiosidade, devemos preservar esta tradição que tem sensível sentido místico. No entanto, há que se gravar a correspondência com o calendário civil, para que no futuro se possa datar precisamente os eventos, sem a surpresa de equívocos como o que estabeleceu o Dia Nacional do Maçom no dia 20 de agosto de 1822, quando na verdade o célebre discurso de Joaquim Gonçalves Ledo tenha sido proferido no dia 9 de setembro do mesmo ano. Com relação à datação de Verdadeira Luz e Era Vulgar, creio que sua manutenção se dê apenas por motivo de tradição, já que sabemos, e há bastante tempo, que o Universo não foi criado no dia 23 de outubro de 4004 a.C. como pretendia James Usher. Para que o balaústre se caracteriza como uma fonte de futuras consultas, é necessário que apresente os seguintes registros das sessões: 1. A relação dos documentos lidos no Expediente; 2. A identificação do balaústre lido e aprovado; 3. A quantidade e a natureza dos documentos colhidos na circulação do Saco de Propostas e Informações; 4. A descrição dos certificados de presença apresentados pelos Irmãos do quadro; 5. As matérias apreciadas na Ordem do Dia, inclusive o pronunciamento dos obreiros, bem como o resultado das votações; 6. O resultado do Escrutínio Secreto; 7. A matéria apresentada no Quarto de Hora de Instrução, bem como os pronunciamentos proferidos na Palavra Análoga; 8. Os Pronunciamentos proferidos na Palavra à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular, ou Análoga ao Ato; 9. O resultado da coleta do Tronco de Solidariedade; 10. O registro de visitantes e autoridades presentes nas Sessões. Mais uma vez ressalto que o balaústre não deve ser uma transcrição da sessão, apenas sua síntese. Saliento também que eventualmente cópia dos balaústres serão enviados ao Grande Oriente do Brasil, para registros maçônicos, bancos e cartórios para registros civis. Ambos devem ser mantidos sob a guarda do Secretário, que também tem a responsabilidade sobre sua atualização. O Livro Amarelo registrará a ocorrência de vedação temporária, 12 meses, ao ingresso de candidatos na Ordem por motivos que não sejam de ordem moral, nos termos do que dispõe o parágrafo segundo do artigo 6° combinado com o artigo 25 do Regulamento Geral da Federação. 52 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS CONCLUSÃO O Livro Negro registrará a ocorrência de vedação definitiva ao ingresso de candidatos na Ordem por questões de ordem moral, como estabelece o parágrafo primeiro do artigo 6°, combinado com o artigo 25 do Regulamento Geral da Federação. Toda e qualquer inclusão de nomes nos Livros Amarelo e Negro devem ser comunicadas ao Grande Oriente do Brasil dentro de 7 dias. Em ambas as hipóteses, a inscrição deve conter a qualificação completa do candidato e os motivos da recusa. Não é necessário portar os Livros Amarelo e Negro em todas as sessões. Cabe ao Secretário executar as seguintes funções ritualísticas: 1. Leitura do Expediente; 2. Leitura de Balaústres; 3. Conferência do conteúdo do Saco de Propostas e Informações, juntamente com o Orador; 4. Organizar e conferir a documentação referente às Iniciações, Filiações e Regularizações; 5. Acompanhar a apuração da quantidade das esferas no Escrutínio Secreto; 6. Inscrição de obreiros e organização da Ordem do Dia; 7. Lavratura dos Balaústres, e 8. Organizar e divulgar o calendário das reuniões da Oficina. O Secretário tem enorme responsabilidade, não apenas quanto ao registro das atividades da Loja, mas também em relação à regularidade da Oficina. Aumentos de salário, concessão de títulos honoríficos, registros das administrações, etc., estão todos a seu cargo. Seu desempenho administrativo é fundamental para o perfeito funcionamento da Loja. É um Oficial que trabalha silenciosa e discretamente, mais tempo fora do Templo que dentro dele. O Mestre que ocupa esta função deve ter plena consciência de suas responsabilidades. O Secretário não é apenas o Mestre que produz balaústres, é a Dignidade que materializa os trabalhos da Oficina. 53 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSPIRAÇÃO O TESOURO NA ANTIGUIDADE O TESOUREIRO Não creio que os ritualistas tenham se inspirado num herói mítico ou divindade para estabelecer o cargo de Tesoureiro nas Lojas Simbólicas, mas acho que alguns arquétipos tenham colaborado para sua inserção. Neste raciocínio entendo que podemos buscar as origens dos conceitos adotados pela Maçonaria moderna, notadamente pelo Rito Adonhiramita, nos seguintes arquétipos: Primeiramente nos tesoureiros egípcios, não apenas pela natureza de suas funções, mas por ter sido, no meu entendimento, o berço dos padrões éticos, morais e filosóficos do ocidente, através da sua absorção pelos gregos e hebreus. Apesar de não se tratar exatamente de tesoureiros, penso que o profeta Malaquias, assim como os publicanos cobradores de impostos para os romanos, e integrantes da narrativa bíblica, tenham igualmente emprestado seu simbolismo. Mas temos José do Egito. Por derradeiro, temos os tesoureiros medievais, mais próximos do período de formalização da Maçonaria Especulativa. Abordarei, evidentemente de forma resumida, cada um deles, de modo a permitir melhor entendimento de minha argumentação. Os tesouros estão relacionados à prática de acumular riquezas pelos homens, iniciada após sua organização em sociedades, a partir do período Neolítico, quando já saídos das cavernas tornaram-se sedentários e promoveram o surgimento dos primeiros povoados. Tesouro não se referia especificamente a dinheiro ou moedas, mas a toda produção que consistisse num bem material, fossem produtos agrícolas, pecuários, joias, relíquias, casas, terrenos, etc. Os tesoureiros surgem pouco mais à frente, com uma característica específica,não cuidavam de seus próprios bens, mas sim dos bens de terceiros, notadamente dos reis e dos líderes das tribos. Ganham extrema importância a partir do antigo Egito, onde eram responsáveis pela guarda da riqueza dos faraós, e da disposição destes bens nas suas câmaras mortuárias para uso posterior quando revivessem no Tuat. Era comum, inclusive, que suas funções englobassem seu consentimento em ser sepultado juntamente com o faraó. Não era uma missão das mais agradáveis ser tesoureiro no antigo Egito. 54 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA TESOUREIROS BÍBLICOS O TESOUREIRO MEDIEVAL As lendas sobre tesouros escondidos povoam a literatura mundial desde os tempos mais remotos, e excitam a mente dos homens em todos os tempos, impelindo-os à sua busca. A cultura hebraica absorveu certos conceitos do tesoureiro a partir da narrativa de José, no Livro do Gênesis, que foi nomeado governador do Egito e responsável pela guarda não apenas dos bens do faraó, mas igualmente de toda a riqueza do Egito. Mais tarde, no Livro do Êxodo, Moisés institui um templo para adoração do Deus Único, o Tabernáculo do Deserto, que é o anteprojeto do Templo de Jerusalém, erguido por Salomão tempos depois e que serve de base para nossa Doutrina. Nesta fase uma parcela dos bens dos hebreus passa a ser utilizada na manutenção do templo. Mais tarde, o profeta Malaquias, que nominou o último dos Livros do Antigo Testamento, exorta o povo hebreu a contribuir com seus recursos materiais para a reconstrução do Templo de Jerusalém destruído por Nabucodonosor. Surge aí o conceito de que Deus retribui àqueles que colocam seus bens materiais à serviço da fé. Esse conceito vai prosperar na Idade Média, influenciando posteriormente o conceito maçônico do Tesoureiro e também do Hospitaleiro. O regime feudal foi o período da História que ocasionou o maior acúmulo de riquezas pelo homem, notadamente pelos reis despóticos. Surgem aí os tesoureiros reais, que eram mais do que simples guardiões dos bens dos reinos. Assim como José do Egito, eles eram economistas primitivos, cuidando da contabilidade, da provisão de recursos, aquisição de bens, etc. A riqueza e a prosperidade dos reinos estavam diretamente relacionadas ao seu bom desempenho. Eram oficiais da maior confiança dos monarcas. 55 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O TESOUREIRO NA MAÇONARIA A INSERÇÃO NOS RITUAIS Esses foram os profissionais mais próximos, cronologicamente falando, das funções que a Maçonaria moderna irá atribuir aos Tesoureiros das Lojas Simbólicas. Não havia o cargo de Tesoureiro no período operativo da Maçonaria. Muito embora os construtores de templos gerenciassem os recursos de suas construções, a tarefa era executada pelos próprios mestres das Lojas. Se levarmos em conta que no início do século XVIII as Lojas se reuniam em tavernas e espaços improvisados, a necessidade de um oficial para a guarda e disposição dos bens destas oficinas especulativas não era necessário. O cargo vai ser instituído a partir do momento em que as Lojas passam a se reunir em espaços próprios, e a se organizar como associações propriamente ditas. A primeira menção ao cargo parece datar de 1767, nas Constituições d’Entik, mas provavelmente já existia nas Lojas Provinciais em 1726. Era chamado de Treasurer pelas Lojas britânicas e Trésorier na França. No que diz respeito ao Rito Adonhiramita, vemos que o cargo de Tesoureiro não é mencionado na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, no entanto, não podemos afirmar que o cargo não existisse. O Tesoureiro consta da descrição dos cargos em Loja do primeiro Ritual Adonhiramita publicado pelo Grande Oriente do Brasil, em 1836, sua primeira aparição formal. Como curiosidade, nessa época os Oficiais totalizavam nove Mestres, segundo o próprio ritual este número não poderia ser alterado por conta do simbolismo de “três vezes três”. Mas ainda não há nessa época menção às atribuições do cargo, e tampouco descrição de funções ritualísticas, o que vai ocorrer gradativamente nos rituais posteriores. 56 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA ASSOCIAÇÃO ASTRONÔMICA POSIÇÃO NA PROCISSÃO Se comparamos a posição geográfica do Tesoureiro nos Templos Adonhiramitas, veremos que está associada à emanação da sefirote Chesed, a Graça, o Amor, a Bondade. Esta sefirote se refere à abundância emanada do Criador, ao princípio da prosperidade, ou seja, é a sefirote que distribui a prosperidade. É considerada preservadora e protetora de tudo o que foi gerado com generosidade e com equilíbrio em Kether. É a quarta emanação ou sefirote, associada ao número QUATRO, portanto à materialidade. Exorta a necessidade de organização para o alcance do bem comum. Comparado à decoração da Abóbada Celeste dos Templos Adonhiramitas, o Tesoureiro está localizado na projeção de Fomalhaut, estrela alfa da Constelação de Peixes. Fomalhaut é chamada de “olho do peixe”, e é associada ao Arcanjo Gabriel. É considerada a “Guardiã do Sul”, e para os persas representava a fortuna. “Guardar” e “fortuna” parecem justificar a opção de nossos ritualistas com relação à associação com o Tesoureiro. Na formação do cortejo para ingresso no templo, o Tesoureiro se posiciona atrás do Hospitaleiro, e na frente do Primeiro Vigilante. 57 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O LUGAR EM LOJA ATRIBUIÇÕES No interior do Templo, o Tesoureiro ocupa uma mesa de formato triangular no topo da Coluna do Sul, próximo à balaustrada que divide o Ocidente e o Oriente. O cargo de Tesoureiro é preenchido através de eleição, é uma Dignidade, e um dos sete Mestres obrigatórios numa Loja Simbólica. Nos termos do que dispõe o artigo 125 do Regulamento Geral da Federação, compete ao Tesoureiro: 1. Arrecadar a receita e pagar as despesas; 58 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS 2. Assinar os papéis e documentos relacionados com a administração financeira, contábil, econômica e patrimonial da Loja; 3. Manter a escrituração contábil da Loja sempre atualizada; 4. Apresentar à Loja os balancetes trimestrais conforme normas e padrões oficiais 5. Apresentar à Loja, até a última sessão do mês de março o balanço geral do ano financeiro anterior, conforme normas e padrões oficiais; 6. Apresentar, no mês de outubro, o orçamento da Loja para o ano seguinte; 7. Depositar, em banco determinado pela Loja, o numerário a ela pertencente; 8. Cobrar dos maçons suas contribuições em atraso e remeter prancha com aviso de recebimento, ao obreiro inadimplente há mais de três meses, comunicar sua irregularidade e cientificar a Loja; 9. Receber e encaminhar à Secretaria-Geral de Finanças do Grande Oriente do Brasil, e à Secretaria de Finanças do Grande Oriente a que estiver jurisdicionada a Loja, as taxas, emolumentos e contribuições ordinárias e extraordinárias legalmente estabelecidos; 10. Responsabilizar-se pela conferência, guarda e liberação dos valores arrecadados pela Loja. Todo cargo em Loja no Rito Adonhiramita é exclusivamente ocupado por um Mestre Maçom, este, portanto, é evidentemente o primeiro requisito para se tornar Tesoureiro da Oficina. Da mesma forma, compromisso e dedicação são atitudes desejáveis desde o Grau de Aprendiz, mas tornam-se fundamentais e obrigatórias quando se ocupa um cargo. É imprescindível que o Tesoureiro tenha disponibilidade de tempo, vai trabalhar mais tempo fora do Templo do que dentro dele. Assiduidade e pontualidade também são característicasdesejáveis, assim como organização, disciplina, responsabilidade e iniciativa. Não é necessário que possua formação de economia ou contabilidade, muito embora esta condição seja um enorme facilitador, mas é que possua facilidade de efetuar cálculos, e ser seguro no desempenho das suas funções, e acima de tudo ter bom senso. É preciso ter conhecimento da legislação Maçônica e tributária, para não ocasionar transtornos e prejuízos à Oficina. O ideal é que seja um Mestre de total confiança do Venerável Mestre. 59 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSTURA Como vimos no diagrama do Templo, o Tesoureiro ocupa uma mesa de formato triangular no Ocidente, no topo da Coluna do Sul, próximo à balaustrada que separa o Ocidente do Oriente. Deve possuir boa impostação de voz, para que suas palavras sejam ouvidas em qualquer lugar do Templo. Deve manter estreito relacionamento com os demais membros da administração da Loja, notadamente com o Irmão Hospitaleiro, a quem deve informar sobre os obreiros em atraso com os metais para que ele possa investigar a necessidade da Oficina lhe prestar auxílio financeiro, e de ter contato permanente com o Venerável Mestre para lhe dar pleno conhecimento das condições financeiras da Loja. É importante ter transparência no desempenho de suas funções, informando à Oficina frequentemente sobre a administração financeira da Loja. O dinheiro sempre foi motivo de discórdia entre os homens, e na Maçonaria não é muito diferente, portanto, é fundamental que os obreiros tenham confiança no trabalho do Tesoureiro, isso influencia beneficamente a harmonia da Loja. Deve fazer constantes consultas ao Poder Central e Grande Oriente Estadual, ou Distrital se for o caso, de modo a não incorrer em falhas na quitação das taxas e emolumentos e não causar prejuízos ao funcionamento da Oficina. Deve ter sempre à mão material para escrita, anotações e, principalmente, talonário de recibos, para comprovação da quitação dos obreiros. O talonário de recibos também deve contemplar a anotação dos valores arrecadados no Tronco de Solidariedade, pois apesar do fundo de beneficência não se constituir em tesouro da Loja, os valores não destinados à beneficência imediata ficarão sob sua guarda e responsabilidade. Ressaltando que a movimentação destes valores só se dará mediante determinação do Hospitaleiro, e após a aprovação da maioria da assembleia. Deve observar rigorosamente os prazos para os diversos pagamentos, de modo a não causar prejuízos para a Oficina, que poderão inclusive coloca-la na irregularidade. Não é recomendável manter em seu poder grandes recursos em espécie. Esta medida geralmente é estabelecida no regimento interno da Loja, que determina os valores máximos em espécie que poderão ser retidos pelo Tesoureiro para despesas urgentes. Mas caso o regimento interno não vislumbre esta matéria, entendo que o bom senso deverá prevalecer. Deve manter os balancetes permanentemente atualizados, e não apenas formalizá- los no momento de sua apresentação nas sessões de finanças, lembrando que a Comissão de Finanças da Loja possui a prerrogativa de examinar os documentos contábeis da Oficina a qualquer tempo. 60 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA O Tesoureiro só fala quando a palavra está na Coluna do Sul, e o faz sentado, pois ocupa uma mesa e é uma das Dignidades da Loja, o que lhe concede essa prerrogativa. O ritual atual estabelece sua manifestação obrigatória em todas as sessões ordinárias, para declinar o valor arrecadado no giro do Tronco de Solidariedade. Essa tarefa, no entanto, ficará a cargo do Orador nas demais sessões, cabendo a ele, inclusive, a determinação do Tronco de Solidariedade permanecer sob malhete nas Sessões Magnas. Neste caso, o Tronco de Solidariedade será informado pelo Tesoureiro na sessão ordinária seguinte, independentemente do Grau. Deve observar o devido sigilo em relação aos obreiros com dificuldades financeiras para a quitação das mensalidades da Loja de modo a não causar constrangimentos. Porém, é necessário que mantenha o Hospitaleiro sempre ciente destas situações para que ele possa agir em auxílio do Irmão com dificuldades financeiras. O Tesouro da Loja só pode ser movimentado com a aprovação da assembleia, porém, existe a prerrogativa do Venerável Mestre efetuar despesas ad referendum, para situações emergenciais, que deverão ser objeto de aprovação posterior pelos membros da Oficina. O valor máximo para tais despesas geralmente é estabelecido no regimento interno da Loja, e quando não o for, deve prevalecer o bom senso de não efetuar despesas muito onerosas. Cabe ressaltar, que na hipótese da Oficina não aprovar a destinação dos recursos aplicados desta maneira, o Venerável Mestre e o Tesoureiro se responsabilizarão solidariamente pela reposição dos valores ao Tesouro da Loja. No Rito Adonhiramita, a Joia do Tesoureiro é no formato de duas chaves cruzadas, como vemos na imagem ao lado. Ela representa a guarda do Tesouro da Loja, e esta é a posição que os guardas medievais assumiam quando cruzavam suas lanças para impedir o acesso a recintos restritos nos palácios, aqui substituídas pelas chaves do cofre. Alguns autores defendem tratar-se de uma chave para abrir e outra para fechar. Discordo dessa hipótese por não fazer sentido no meu entendimento, pois a chave efetivamente cumpre ambas as funções. O Tesoureiro exerce uma função exclusivamente material, portanto, não vislumbro qualquer associação místico- esotérica no simbolismo da Joia. 61 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CONSTITUIÇÃO DO GOB O ESTATUTO DA LOJA Destaco, por entender oportuno, alguns trechos da Carta Magna do Grande Oriente do Brasil, que estabelecem direitos referentes à autonomia das Lojas Simbólicas, cuja execução estará a cargo do Tesoureiro. O artigo 16 da Constituição do Grande Oriente do Brasil estabelece o seguinte: “A autonomia da Loja será assegurada: (...) II – pela administração própria, no que diz respeito ao seu peculiar interesse e às suas necessidades, tais como a) fixação e arrecadação das contribuições de sua competência; b) aplicação de suas rendas; c) organização e manutenção de serviços assistenciais, sociais, cívicos e de ordem cultural; d) utilização e gestão de seu patrimônio”. Ou seja, vemos aqui que existe a permissibilidade legal para aplicação dos recursos do Tesouro da Loja, ressaltando que as Oficinas não possuem a característica de gerar lucro. Esta medida visa, dentre outras hipóteses, a proteção dos recursos da Loja contra eventuais desvalorizações da moeda nacional, e a garantia da manutenção da Oficina no que diz respeito a sua saúde financeira. O artigo 21 da Carta Magna apresenta uma advertência: “A Loja que não estiver em dia com suas obrigações pecuniárias para com o Grande Oriente do Brasil ou para com os Grandes Orientes dos Estados ou do Distrito Federal a que estiver jurisdicionada, poderá ter, por estes, em conjunto ou isoladamente, decretada a suspensão dos seus direitos, após sessenta dias da respectiva notificação de débito, até final solução”. O estatuto social da Loja também é uma obrigação estabelecida na Constituição do Grande Oriente do Brasil, especificamente nos artigos 93 a 95, que determina a inserção de algumas normas comuns a todas as Oficinas, e algumas delas, que transcrevo a seguir, são de competência do Tesoureiro. “Art. 93 Recebida a Carta Constitutiva, a Loja elaborará e aprovará, em seis meses, seu Estatuto Social, remetendo duas cópias ao Conselho Federal para análise e parecer, sendo tais cópias assinadas pelas Dignidades. Parágrafo único. Idêntico procedimento será adotado nas alteraçõessupervenientes. Art. 94 No Estatuto das Lojas deverá constar, obrigatoriamente: (...) 62 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS COMPROMISSOS FINANCEIROS AS SESSÕES DE FINANÇAS V – que se sujeita às leis maçônicas e civis; VIII – que não possui fins lucrativos e econômicos; IX – o destino dos recursos obtidos de qualquer espécie; X – que não haverá remuneração e benefícios de qualquer espécie aos seus dirigentes e membros; XI – que o exercício financeiro se encerrará sempre em trinta e um de dezembro; XIII – o destino de seus bens em caso de dissolução; Art. 95 Aprovado o Estatuto da Loja, o mesmo será levado ao registro no Cartório do Registro de Pessoas Jurídicas da Comarca a que pertencer, tomando-se as demais providências no sentido de cumprir a legislação não-maçônica concernente às pessoas jurídicas. Parágrafo único. O Estatuto da Loja só entrará em vigor após o registro a que se refere este artigo”. Cabe ao Tesoureiro ficar atento para honrar todos os compromissos financeiros da Loja. É evidente que cada Oficina possui suas peculiaridades, e assim, despesas que nem sempre são comuns a todas as Lojas Simbólicas. No entanto, existem despesas que são comuns a todas as Lojas, e dentre elas destaco: O pagamento das taxas e emolumentos do Poder Central, tanto da Oficina quanto dos obreiros; as taxas e emolumentos do Poder Estadual ou Distrital, tanto da Oficina quanto dos obreiros; aluguel do Templo, evidentemente para as Lojas que não possuem imóvel próprio; IPTU do e condomínio do Templo, para o caso das Lojas que possuem imóvel próprio; contas de água, luz, telefone, gás, internet, etc.; despesas de manutenção do Templo; profissionais contratados para assessoramento, como contadores, por exemplo; eventuais despesas cartorárias, como registro de estatuto; aquisição de material litúrgico e administrativo; aquisição de comendas, diplomas e certificados, tanto para a Loja quanto para os obreiros; despesas bancárias; custo de manutenção e hospedagem de sites na internet e nas redes sociais; insumos para os ágapes e comemorações, e os tributos referentes à Receita Federal, pois para o fisco a Loja Simbólica é uma empresa que possui CNPJ. As Oficinas devem realizar quatro sessões de finanças por exercício, uma a cada três meses, tratando da aprovação das contas do trimestre anterior. As normas para sua realização são estabelecidas no artigo 109 do Regulamento Geral da Federação, nos seguintes termos: 63 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA “As sessões ordinárias de finanças serão realizadas no Grau 1, sendo convocadas por edital com antecedência mínima de quinze dias. § 1º - Para a realização da sessão ordinária de finanças é indispensável o parecer prévio da comissão de finanças, não se admitindo que seja tratado qualquer outro assunto. § 2º - Aos Aprendizes e Companheiros é vedada qualquer participação que não seja a apresentação de propostas, discussão e votação dos assuntos constantes da pauta da sessão. § 3º - Se durante a sessão ocorrer qualquer questionamento relativo à conduta de Companheiros ou Mestres Maçons, o assunto será apreciado em outra sessão, no respectivo grau. § 4º - Somente podem tomar parte das sessões ordinárias de finanças, os membros da Loja que tiverem, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) de frequência nas respectivas sessões ordinárias da Loja nos últimos doze meses, excetuando-se os dispensados, e que até o mês anterior estejam quites com suas obrigações pecuniárias”. Ou seja, embora no Rito Adonhiramita os Aprendizes e Companheiros não façam uso do verbo nas sessões, a não ser em ocasiões especiais, as sessões de finanças são uma dessas exceções, onde lhes é permitido se manifestar. Esta medida é relativamente recente, no passado as sessões de finanças eram realizadas exclusivamente no Grau de Mestre Maçom. No entanto, Aprendizes e Companheiros contribuem pecuniariamente para a Loja, dessa forma, me parece razoável que eles tenham poder de voto, notadamente porque não há nenhum ensinamento restrito nas sessões de finanças. Não deve haver visitantes nas sessões de finanças, posto que serão tratados assuntos de interesse exclusivo dos obreiros da Oficina, e mesmo que participassem, os visitantes não teriam poder de voto. Há que se ressaltar que a ausência de ritualística não é prevista, é apenas tolerada, já que boa parte das Lojas têm como tradição realizar as sessões de finanças de modo informal. Ainda assim, há necessidade da presença de sete Mestres para abrir a Loja, é obrigatória a gravação de balaústre, e a circulação do Tronco de Solidariedade. O Livro da Lei, o Compasso e o Esquadro devem estar no Templo. Na ausência de ritualística nas sessões de finanças, deixo como sugestão o seguinte roteiro: 1. Prece proferida pelo Orador; 2. Declaração de abertura dos trabalhos pelo Venerável Mestre; 3. Leitura do edital de convocação por parte do Secretário; 4. Apresentação dos balancetes pelo Tesoureiro; 5. Leitura do parecer da Comissão de Finanças pelo relator; 6. Concessão da palavra para dirimir eventuais dúvidas; 7. Declaração do Orador para votação ou correção de inconformidades; 8. Votação para aprovação dos balancetes; 9. Concessão da palavra para apreciação de assuntos exclusivamente relacionados a finanças, que não tenham sido contemplados nos balancetes; 10. Concessão da palavra para dirimir dúvidas com relação às propostas apresentadas; 11. Manifestação do Orador quanto à legalidade das propostas e votação; 12. Votação para aprovação das moções; 13. Circulação do Tronco de Solidariedade, neste caso o valor arrecadado será informado pelo Orador; 64 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS BALANCETES A PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA 14. Prece de encerramento proferida pelo Orador, e 15. Declaração de encerramento dos trabalhos pelo Venerável Mestre. Não existe um modelo, ou um padrão, para a lavratura dos balancetes, mas devemos ter em mente que estamos tratando de uma documentação contábil, portanto, alguns elementos são fundamentais para a correta prestação de contas do Tesouro da Oficina aos obreiros do quadro. A primeira recomendação é que devem ser elaborados mensalmente, porém, organizados por trimestre, já que é esta a periodicidade de sua apresentação à Loja. Devem obrigatoriamente ser assinados pelo Tesoureiro, e conter todos os documentos necessários para a comprovação da destinação dos recursos, tais como: recibos, notas fiscais e comprovantes de todas as despesas; demonstrativo do fluxo de caixa; demonstrativo de receitas e despesas; demonstrativo da movimentação bancária, informando o saldo na data do encerramento de cada mês; demonstrativos separados dos saldos do tesouro da Loja e do fundo de beneficência, etc. Os balancetes devem ser submetidos à análise prévia da Comissão de Finanças, que será responsável pela elaboração e apresentação de parecer antes da votação nas sessões de finanças. Os balancetes devem ser apresentados em Loja pelo Tesoureiro nas sessões de finanças, mas a Comissão de Finanças tem a prerrogativa de examiná-los a qualquer tempo. Após a apresentação, deve ser lido o parecer da Comissão de Finanças antes de ser votada sua aprovação. Se rejeitados, deverão ser objeto de ratificação e saneamento das inconformidades, e novamente apresentados na próxima sessão de finanças, juntamente com os balancetes do respectivo trimestre. A proposta orçamentária tem o objetivo de estabelecer a projeção de receitas e despesas para o exercício financeiro seguinte. Deve ser apresentada no mês de outubro a cada ano, e terá sua execução posta em prática pela maioria simples dos votos da maioria dos obreiros do quadro presentesda sessão. Cabe ao Tesoureiro seu planejamento e sua apresentação à Loja. 65 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS Da mesma forma que o ocorrido com os balancetes, não há um modelo ou padrão para seu planejamento e apresentação, mas o bom senso nos sugere a contemplação dos seguintes elementos no seu dimensionamento: Projeção das despesas fixas da Oficina e dos Obreiros, sendo fundamental para tanto o prévio conhecimento da lei orçamentária aprovada para o Poder Central e Estadual ou Distrital; 1. Projeção das taxas e emolumentos dos Poderes Central, Estadual ou Distrital, tanto da Loja quanto dos obreiros, sendo igualmente necessário o conhecimento prévio dos valores a serem praticados, que são aprovados na lei orçamentária; 2. Projeção das despesas de aluguel do Templo, para as Lojas que se reúnem em imóvel de terceiros, atentando-se para o aniversário de correção de valores estabelecido no contrato; 3. Projeção das despesas de manutenção e conservação do Templo; 4. Projeção das despesas com prestadores de serviços, como por exemplo contadores, serventes, cozinheiros, etc. 5. Projeção dos tributos federais, estaduais e municipais devidos à Loja; 6. Projeção das despesas com a manutenção e hospedagem de sites da Loja na internet e nas redes sociais, quando for o caso; 7. Projeção de despesas eventuais da Oficina e dos Obreiros, ou seja, aquelas que não se enquadram no rol das despesas fixas, mas que poderão interferir na saúde financeira da Loja, como aquisição de equipamentos, contratação de serviços, etc.; 8. Projeção das despesas referentes à aquisição de materiais litúrgicos e administrativos; 9. Projeção das despesas com comendas, diplomas e certificados, tanto dos obreiros quanto da Oficina; 10. Projeção das despesas referentes às taxas de Iniciação, Regularização, etc.; 11. Projeção das receitas obtidas através da mensalidade dos obreiros. É recomendável que ao dimensionar o valor da mensalidade dos obreiros, seja projetado superavit, por menos expressivo que seja, para que o Tesouro da Loja possa absorver o custo de eventuais emergências, não contempladas na proposta orçamentária, e dessa forma não onerar os Irmãos do quadro com cotas extras. Cabe ao Tesoureiro o desempenho das seguintes funções ritualísticas: Conferir o resultado da coleta do Tronco de Solidariedade, e informa-lo na Palavra à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular. Guardar o montante do Tronco de Solidariedade que não for utilizado de forma imediata, compondo o fundo de beneficência da Loja. Remeter os documentos contábeis para análise da Comissão de Finanças. Apresentar balancetes e propostas orçamentárias nas sessões de finanças. Notificar os obreiros em atraso por mais de três meses, sem que seja necessária a autorização do Venerável Mestre, ou seja, o Tesoureiro o faz de ofício. Autorizar conjuntamente com o Venerável Mestre, despesas ad referendum em conformidade com os limites estabelecidos no Regimento Interno da Oficina. Autorizar acordos de parcelamento das dívidas com obreiros desnivelados, que deverão ser comunicados à Oficina, ressaltando que esses acordos não poderão ser 66 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A MEDALHA CUNHADA CONCLUSÃO pactuados após a notificação do obreiro desnivelado. Nesse caso, sua situação será analisada pela assembleia dos obreiros. Utiliza-se esta expressão apenas com relação ao valor coletado no Tronco de Solidariedade. Um quilograma equivale a um real, e um grama equivale a um centavo. Por exemplo, R$200,50, duzentos reais e cinquenta centavos, equivalem à medalha cunhada de duzentos quilos e quinhentos gramas. A medalha é cunhada no valor total arrecadado. Isso quer dizer que não é uma moeda comercial, ou seja, não pode ser utilizada para adquirir nenhum bem ou serviço. É como se o dinheiro depositado no Tronco de Solidariedade fosse fundido pela energia dos obreiros numa moeda única com valor nominal igual à importância arrecadada. Serve apenas para a caridade e beneficência. O Tesoureiro apenas a guarda, a movimentação é feita pelo Hospitaleiro mediante aprovação da assembleia. O cargo de Tesoureiro é de enorme responsabilidade. A regularidade da Loja depende diretamente de sua atuação. Geralmente é um cargo de difícil preenchimento por conta da responsabilidade envolvida. Requer disciplina e atenção ao cumprimento dos prazos de pagamento de taxas e emolumentos. Requer muito tempo e dedicação, mais fora das sessões do que no interior do Templo. É comum ser visto com antipatia quando cobra o compromisso financeiro dos obreiros, mas esta medida é fundamental e necessária para o funcionamento da Loja. Nenhuma Loja Simbólica pode existir sem um Tesoureiro. 67 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O LACRE OS LACRES MEDIEVAIS O CHANCELER Vou iniciar a análise do cargo de Chanceler pelo exame de uma peça que evoluiu para se tornar seu símbolo, e que pelos avanços tecnológicos passou a ser raramente utilizada, o lacre. Os lacres também são chamados de selos, e sempre estiveram associados à ideia de inviolabilidade, e de sigilo. As tumbas e sarcófagos dos faraós do antigo Egito, por exemplo, eram lacradas, e todos os documentos sigilosos da antiguidade possuíam um lacre. A Bíblia faz referência a documentos lacrados, como o Livro dos Sete Selos da narrativa Livro das Revelações, o Apocalipse de João Evangelista, que guarda estreita relação com o Rito Adonhiramita. A ideia foi amplamente difundida durante a Idade Média, e foi a partir daí que se inseriu na Maçonaria Especulativa. Na Idade Média passam a ser utilizados lacres de cera colorida com pós e resinas, também conhecidos como selos, para fechar os documentos oficiais e restritos. Eram gravados no papel com sinetes e anéis que continham a marca ou selo real, o brasão da família, ou algum símbolo que identificasse o autor do documento. A cera era derretida e o anel ou sinete eram pressionados sobre a porção depositada ainda quente sobre o papel formando um desenho. A cera resfriava e solidificava, criando uma película espessa que necessitava ser rompida para que o documento pudesse ser lido. Eram símbolo de status para quem os utilizava, pois eram caros para serem produzidos, o que praticamente restringia seu uso à nobreza. Estes lacres de cera selavam documentos secretos e sigilosos, e atestavam a legitimidade dos documentos, passando a serem usados como timbres. Os lacres medievais originaram os carimbos e as chancelas, de produção menos onerosa, e que empregava de tinta ao invés da cera derretida. 68 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O TIMBRE A INSPIRAÇÃO O timbre, que também é chamado de chancela, se refere a uma marca ou símbolo gravado num papel. A ferramenta ou instrumento que produz o timbre na verdade se chama timbrador. O timbrador é um carimbo primitivo, com um eixo para empunhadura maior que o habitual para que seja aplicada maior força vertical sobre a superfície a ser timbrada, e para esta tarefa utiliza tanto tinta, quanto simples pressão para produzir marca d´água através de seu relevo negativo. Os timbradores foram substituídos pelos carimbos, e atualmente as mesmas funções são obtidas pelo uso de códigos de barras, QR codes e selos holográficos. Raras são as Lojas que ainda utilizam a chancela ou o timbre em seus documentos para lhes emprestar autenticidade. Por esta e outras razões, a tendência atual é que as funções do Chanceler se tornem apenas simbólicas e alusivas à tradição. Creio que a inspiração dos ritualistas para a inserção do cargo de Chanceler nas Loja modernas teve origemem dois oficiais, o cancellarius do Império Romano, e o chanceler medieval. No Império Romano havia um oficial que era encarregado de restringir o acesso a certos recintos, como os tribunais ou os aposentos do imperador, por exemplo, e para tanto utilizava peças de madeira, que na verdade eram grades móveis, de onde se originou o termo cancela, que usamos atualmente para definir a peça utilizada em estacionamentos de veículos e passagens de trens, para permitir a passagem apenas a credenciados ou no momento oportuno, no caso das ferrovias. Este oficial possuía uma listagem das pessoas cujo acesso era permitido, enquanto que outras, com as quais já estava familiarizado, eram poupadas desta triagem. Esta tarefa se assemelha, de certo modo, a uma das tarefas do Chanceler das Lojas Simbólicas, que colhe a assinatura dos obreiros, sejam do quadro ou visitantes, no livro de presenças. 69 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA CONCEITOS DO CHANCELER O CHANCELER NA MAÇONARIA A denominação cancellarius certamente originou o vocábulo chanceler, que passou a ser utilizado na Idade Média pelo oficial responsável pela agenda dos reis e nobres. Era o chanceler que guardava o selo real e o entregava ao rei ou nobre para gravação nos documentos. Esta era a função original do Chanceler da Loja Simbólica, aplicar o timbre da Oficina nos documentos oficiais. Como vimos, o cancellarius, ancestral do chanceler, atuava como uma espécie de secretário imperial particular na Roma antiga. Nos reinos medievais, geralmente atuava como conselheiro ou primeiro-ministro. Era ele quem guardava e transportava o selo real, da mesma forma que arquivava os documentos importantes dos reinos e palácios. Na França era denominado Guarda dos Selos, expressão que o Grande Oriente do Brasil adotou para os secretários do Grão-Mestrado incumbido das tarefas do Chanceler. Na verdade, o Secretário da Guarda dos Selos é um misto de Secretário e Chanceler. Nas Ordens Militares de Cavalaria, o chanceler era geralmente o cargo logo abaixo do Grão-Mestre, o que sugere que este oficial possuía estreita ligação com os comandantes das ordens, além de gozar de sua confiança. Atualmente no Brasil, o termo é utilizado com referência à diplomacia, às relações exteriores. O Chanceler das Lojas Simbólicas não deixa de atuar como relações públicas da Loja, notadamente quando recebe os visitantes e autoridades para coleta de seu ne varietur no livro de presença, ocasião na qual sempre faz as honras da casa. Originalmente possuía a característica de assessoramento direto ao Venerável Mestre, e tudo indica que suas funções eram exercidas pelo Secretário. Ao que parece, o cargo foi inserido nos rituais em ocasião posterior ao cargo de Secretário, em virtude do desdobramento de cargos praticado pelos diversos Ritos, e pelos mais variados motivos. 70 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSERÇÃO NOS RITUAIS ASSOCIAÇÃO COM A CABALA No entanto, ao longo do tempo, teve novamente algumas de suas funções transferidas para o Secretário, e creio que o avanço tecnológico tenha sido um dos principais motivos, pois o uso do timbre pelas Lojas passou a ser cada vez mais raro, somado ao fato das Oficinas cada vez menos utilizarem correspondências físicas. Com isso, perdeu muito do seu simbolismo original, e atualmente possui atribuições bastante reduzidas. O Chanceler não é mencionado em nenhuma das edições da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita. Também não está relacionado entre os Mestres da Loja no primeiro ritual Adonhiramita brasileiro, publicado pelo Grande Oriente do Brasil em 1836. Sua primeira aparição num ritual Adonhiramita só acontece em 1963, após a separação da administração dos Graus Simbólicos e Graus Filosóficos, ocorrida dez anos antes, com a fundação do Mui Poderoso e Sublime Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas, e a instituição da figura da Oficina-Chefe do Rito. Este, portanto, foi o segundo ritual Adonhiramita referente aos Graus Simbólicos sob a administração exclusiva do Grande Oriente do Brasil, o primeiro foi publicado em 1954. E isso pode suscitar a hipótese do cargo ter sido enxertado no Rito Adonhiramita com base na prática de outros Ritos, com o objetivo de homogeneizar a administração das Lojas Simbólicas no Brasil. O fato é que a partir daí sempre esteve presente em nossos rituais, e suas funções foram estabelecidas de modo muito sucinto apenas do Regulamento Geral da Federação, que é comum a todos os Ritos praticados no âmbito do Grande Oriente do Brasil, o que reforça a hipótese do parágrafo anterior. Aos ritualistas Adonhiramitas, parece ter sido apenas permitido determinar a sua posição no Templo, que está localizada de modo invertido em relação a outros Ritos, como veremos mais à frente. Se fizermos a associação com o traçado da Árvore da Vida, veremos que o lugar do Chanceler em Loja corresponde à emanação da sefirote Gevurah, a Disciplina, a Justiça, a Força e a Reverência, que se refere aos limites e fronteiras. Gevurah é considerada a sefirote concentradora das forças, é a quinta emanação ou sefirote, e está associada ao número 5, relacionado ao homem e suas associações. 71 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A ASTROLOGIA A POSIÇÃO NA PROCISSÃO O LUGAR NO TEMPLO A posição do Chanceler no Templo é soba a projeção da Constelação da Ursa Maior de nossa Abóbada Celeste. A Ursa Maior é uma das constelações mais antigas conhecidas pelo homem, e a mais cultuada pelos povos antigos, pois é visível o ano inteiro no hemisfério Norte. Por esta razão os egípcios a consideravam símbolo da imortalidade. As Escolas de Mistérios fizeram a associação com o urso, que hiberna na caverna durante o inverno e “renasce” na primavera, como uma representação do Rito de Iniciação. Na formação da Procissão para ingresso no templo, o Chanceler se posiciona na fila à direita do Mestre de Cerimônias, correspondente à Coluna do Norte. Sua ordenação é atrás do Bibliotecário, e na frente do 2° Vigilante. O Chanceler é o último Oficial da Coluna do Norte. Em Loja, o Chanceler ocupa uma mesa de formato triangular no topo da Coluna do Norte, próximo à balaustrada que separa o Ocidente do Oriente, e do Mestre de Cerimônias. É o Oficial mais afastado do 2° Vigilante. 72 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES O Cargo de Chanceler é preenchido através de eleição direta, nos termos do artigo 126 do Regulamento Geral da Federação. É uma das sete dignidades da Loja. Compete ao Chanceler Ter a seu cargo o controle de presenças, mantendo sempre atualizado o índice de frequência, para que possa ser consultado a qualquer momento. Comunicar à Loja a quantidade de Irmãos presentes à sessão, os Irmãos aptos a votarem e serem votados, e os Irmãos cujas faltas excedam o limite permitido por lei. Expedir e assinar juntamente com o Venerável Mestre os certificados de presença dos Irmãos visitantes. Anunciar os aniversariantes do quadro de obreiros. Manter atualizados os registros de controle da identificação e qualificação dos Irmãos do quadro, cônjuges e dependentes. Remeter prancha ao maçom cujas faltas excedam o limite permitido por lei e solicitando justificativa por escrito, sem a necessidade de comunicação ou autorização do Venerável Mestre, este é um dever de ofício. 73 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A FALTA DE FREQUÊNCIA REQUISITOS Encontra-se em condição irregular, o maçom de qualquer Grau que totalize menos de 50% de frequência não justificada apuradanos últimos 12 meses, nos termos do que dispõe o artigo 76 do Regulamento Geral da Federação. O maçom em situação irregular por frequência não poderá participar das Sessões de Finanças, concorrer a cargos da administração da Loja, e poderá não ter direito a voto por decisão administrativa da Loja, uma vez que ele ainda não foi considerado irregular. Situação irregular e irregularidade são coisas distintas. O maçom infrequente deverá ser notificado para justificar sua ausência dentro do prazo de 30 dias, conforme o artigo 77 do Regulamento Geral da Federação. Esta notificação não o torna irregular, de acordo com o §1° do mesmo artigo. Esgotado este prazo, o Venerável Mestre convocará Sessão Extraordinária para deliberar sobre a suspensão do maçom infrequente, devendo este ser avisado com o mínimo de 15 dias de antecedência da data da Sessão, em observação ao §2° do mesmo artigo. Nesta sessão, o maçom infrequente terá o direito de expor seus motivos, conforme o §3° do mesmo artigo. Caso as justificativas sejam rejeitadas pela assembleia, o Venerável Mestre o declarará irregular, e comunicará à Secretaria da Guarda dos Selos no prazo máximo de 72 horas após a sessão, nos termos do §4° do mesmo artigo. Após isso, será publicado o ato em Boletim Oficial, e o maçom terá seus direitos suspensos, mas poderá regularizar-se na mesma Loja ou em outra de sua escolha, conforme previsto nos parágrafos 5° e 6° do mesmo artigo. Os requisitos básicos para que um Mestre Maçom aspire à função de Chanceler são aqueles comuns a todos os maçons, que aliás, juramos sobre o Livro da Lei, compromisso e dedicação. O Chanceler deve ter disponibilidade de tempo, pois vai dispender algumas horas de trabalho fora do Templo para organizar as planilhas de frequência, o cadastro dos obreiros e outras tarefas relacionadas à Loja, como dados estatísticos de Irmãos visitantes, por exemplo. Para que possa desempenhar estas funções com eficiência é fundamental que seja assíduo às sessões, e pontual em relação a seu horário de chegada no Templo. Se cabe a ele abrir o livro de presenças e anotar o comparecimento dos obreiros, não é razoável que chegue atrasado nas sessões, ou exatamente no horário previsto para seu início. Deve possuir organização e disciplina, pois estes são requisitos relevantes para o bom desempenho do cargo. A responsabilidade deve estar a seu lado, pois o sucesso da administração da Oficina depende de seu bom trabalho, bem como a situação individual de cada um dos obreiros. Deve ter iniciativa, notadamente para interpelar os obreiros inadimplentes com a frequência sem a necessidade de autorização ou ordem do Venerável Mestre, e informar ao Hospitaleiro a ausência repentina dos Irmãos, para que este possa investigar as causas do seu afastamento, e eventualmente reclamar o auxílio da Loja em benefício deste Irmão. 74 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSTURA A JOIA Deve ter habilidade de efetuar cálculos, notadamente no que diz respeito ao cálculo dos percentuais de presença exigidos pela legislação vigente, que deve igualmente conhecer, ao menos no que diz respeito ao desempenho de suas funções. É essencial que mantenha bom relacionamento com todos os obreiros do quadro, e também com os Irmãos visitantes, pois de certo modo, desempenhará as funções de relações públicas da Loja, e para tanto, deve ser simpático e amigável. Como vimos, o Chanceler ocupa uma mesa triangular no Ocidente, no topo da Coluna do Norte, próximo à balaustrada que divide o Oriente do Ocidente. Deve possuir boa impostação de voz, pois deverá ser ouvido por toda Loja, e usará do verbo em todas as sessões ordinárias, obrigatoriamente, anunciando os aniversariantes e comunicando o número de obreiros presentes na sessão, indicando a quantidade de Irmãos visitantes. Deve desenvolver e estabelecer bom e frequente relacionamento com os demais membros da administração da Loja, notadamente com o Secretário e Hospitaleiro, cujas tarefas dependem se sua colaboração. Da mesma forma deve manter contato permanente com o Venerável Mestre. É essencial que tenha sempre à mão material para escrita e anotações, e do mesmo modo, quantidade suficiente de certificados de presença para distribuir aos Irmãos visitantes. É imprescindível manter atualizadas as planilhas de frequência. O Chanceler só fala quando a palavra está na Coluna do Norte, e o faz sentado. No meu entendimento, por questão de hierarquia, deve ser o primeiro Oficial a fazer uso do verbo na Coluna. É recomendável que procure promover o relacionamento entre Irmãos e familiares fora do Templo, e entre as Lojas coirmãs, sugerindo a realização de eventos de confraternização e sessões conjuntas. É ele quem recepciona os Irmãos visitantes, levando o livro de presenças para colher suas assinaturas, e deve fazer as honras da casa, ou seja, agir como o relações públicas da Oficina. A Joia do Chanceler tem como símbolo um timbrador, embora muitos tratem como chancela como vimos. Ela representa o selo da Loja e tem o objetivo de atestar a legitimidade dos documentos oficiais emitidos pela Oficina. É uma função exclusivamente material, portanto, não vislumbro qualquer associação místico-esotérica como possível. 75 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS O CERTIFICADO DE PRESENÇA Cabe ao Chanceler executar as seguintes funções: Coletar a assinatura dos Irmãos do quadro e visitantes no livro de Presença. Preencher e assinar, juntamente com o Venerável Mestre, os certificados de presença a serem entregues aos visitantes. Anunciar os aniversários dos membros do quadro, das cunhadas, dos sobrinhos, etc. Mencionar ocasiões importantes, como o aniversário de fundação da Loja, o aniversário de Iniciação dos Irmãos, etc. Informar o número de maçons presentes na sessão, contabilizando os membros do quadro e os Irmãos visitantes É importantíssimo informar a identificação e qualificação dos Irmãos visitantes ao Orador, pois caberá a ele fazer os agradecimentos pela presença e participação nos trabalhos, e será enormemente prejudicado se estes dados não chegarem às suas mãos em tempo hábil. Não é o Chanceler quem agradece a presença dos visitantes, isso é atribuição exclusiva do Orador. Como vimos, o Chanceler usa o verbo na etapa da Palavra à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular, e pode fazê-lo tanto como Chanceler, cumprindo suas funções, como membro do quadro, para fazer qualquer comunicação pessoal desejável. O certificado de presença é de entrega obrigatória aos Irmãos visitantes, conforme dispõe o Regulamento Geral da Federação. Não existe um modelo padrão, ficando a critério da Loja sua diagramação. No entanto, o bom senso recomenda algumas práticas desejáveis, como ser elegante e criativo, já que a imagem da Loja será associada a ele, conter no mínimo o nome do Irmão visitante, a Loja e Oriente a que pertence, a data da visita, o Grau e qualidade da sessão, além de um breve texto declarando o agradecimento pela visita. Opcionalmente pode conter o Rito que o Irmão visitante pratica, o Nome Histórico quando aplicável, e o número do documento de identificação, salientando que é recomendável que não tenha grande dimensão. O certificado de presença será assinado pelo Chanceler e pelo Venerável Mestre, e após isso entregue pelo Mestre de Cerimônias ao visitante, preferencialmente no decorrer da sessão. 76 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Nada impede, aliás julgo bastante desejável, que haja modelos diferentes para sessões especiais, como magnas, de Iniciação, etc. 77 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICANO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA A INSPIRAÇÃO A LEI DE AMRA O HOSPITALEIRO O vocábulo hospitaleiro deriva do latim hospes, que significava em Roma tanto o hóspede quanto o hospedeiro. Hospitaleiro, portanto, é um adjetivo que em sua origem designa aquele que acolhe, que hospeda por bondade ou caridade. Esse verbete gerou no francês medieval a expressão hospital, que designava originalmente um local de abrigo, uma hospedagem, e foi somente a partir do século XVI que assumiu a conotação de um local onde doentes são tratados, tal qual compreendemos hoje. Logo de plano, vemos que o conceito de hospitalaria está relacionado à caridade, ao auxílio e serviço ao próximo, o que igualmente ocorre nos hospitais modernos, mas é importante observar que o vocábulo não está associado à doença, como a princípio podemos entender. Entendo que os ritualistas possam ter utilizado como fonte de inspiração para a instituição do cargo na Maçonaria o antigo Egito, através da Lei de Amra, os princípios estabelecidos na tradição-judaico cristã através da Bíblia, e nas Ordens Militares de Cavalaria da Idade Média, particularmente da Ordem dos Hospitalatários ou Hospitalários. Vamos analisar resumidamente cada uma destas hipóteses. A Lei de Amra era uma doutrina considerada sagrada entre os antigos egípcios, e que provavelmente foi absorvida pelos hebreus, que de lá saíram, e adaptada aos conceitos religiosos da tradição judaico-cristã. Era uma lei ou tratado de natureza mística, que no entendimento dos egípcios era capaz de produzir efeitos ao mesmo tempo morais, éticos e psíquicos, bem ao estilo da metodologia que os sacerdotes adotaram para a ordenação daquela sociedade. 78 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Segundo a doutrina egípcia, a Lei de Amra está associada ao Princípio Cósmico da Reciprocidade, da Causalidade e da Prosperidade, e pode ser resumida da seguinte maneira: “Se orarmos e pedirmos a Deus alguma ajuda ou bênção em virtude de algum problema ou dificuldade pessoal, que julgamos fora de nosso controle ou possibilidades, contraímos o dever não só do agradecimento a ELE, mas também de estender a outros, desinteressadamente, uma pequena parcela do benefício solicitado (não necessariamente recebido), sempre que possível”. Há aqui neste enunciado alguns princípios bastante interessantes, e creio que podem ser perfeitamente encontrados na doutrina maçônica. O primeiro deles diz respeito a recorrer à divindade para obter auxílio nas situações difíceis do dia a dia, princípio este contido em diversas religiões, e nos Ritos teístas da Maçonaria moderna, como é o caso do Rito Adonhiramita. Julgo o segundo princípio dos mais interessantes, feita a súplica, obrigatoriamente o suplicante assume perante o Universo o compromisso de socorrer ao próximo, mesmo que seu pedido não tenha sido atendido, ou seja, a caridade e o entendimento de que todos nós necessitamos de algum tipo de auxílio é estimulada. O terceiro diz respeito exatamente ao conceito da Lei de Amra e ao Princípio Cósmico da Prosperidade, que traduzido pelas diferentes religiões e correntes filosóficas resumidamente significa que o homem foi criado para ser feliz e próspero, e não para ser alvo de punições e expiação. No entanto, as correntes místicas entendem que este princípio é um fluxo contínuo de energia, que jamais deve ser contido, sob a pena de nós mesmos sermos os prejudicados. A posição das mãos exibida nesta seção ilustra muito bem esse entendimento. É como se morássemos nas margens de um rio e todos os dias estendêssemos nossas mãos para pegar certa quantidade de água para beber, mas não mais que isso, apenas o necessário para saciar nossa sede. O fluxo do rio continua, e vai beneficiar a todos no prosseguimento do seu curso, assim como já fez no trecho anterior ao que estávamos. Do contrário, se nós, ou aquele que estiver antes de nós, construir uma represa para conter esse fluxo, sob o pretexto de não sofrer falta de água no futuro, estaríamos egoisticamente prejudicando o equilíbrio, e cedo ou tarde, apesar da aparente fartura de água, consequências nocivas certamente iriam ocorrer conosco, a começar pela luta dos demais para obter um recurso natural que na verdade jamais foi nosso. Para o equilíbrio do Universo é necessário que todos estejam bem, e não somente nós, e isso me parece claro na doutrina maçônica. Enfim, assim como o ar que respiramos não escolhe os pulmões que vai abastecer, e estes, por sua vez, não retêm mais do que a quantidade necessária para sobrevivermos, todos as Energias Cósmicas estão ao nosso dispor, sem favoritismo, não é benéfico, e aliás nem possível, conter seu fluxo. 79 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O PROFETA MALAQUIAS O CONCEITO CRISTÃO A tradição judaico-cristã é farta de exemplos e citações que nos estimulam ao sentimento e à prática da caridade, porém, para sustentar meus argumentos, escolhi mencionar o Livro de Malaquias, cuja autoria é atribuída ao profeta que o nomeia. É o último livro do Antigo Testamento, e na verdade é uma narrativa bem curta. Cronologicamente situa-se após o retorno do Cativeiro da Babilônia, e seu objetivo era restabelecer a fé judaica, que havia sido negligenciada durante o período do cativeiro. Alguns autores entendem inclusive, que o profeta se dirige diretamente aos sacerdotes judeus, como admoestação. Mas o que Malaquias resumidamente faz nos textos é exortar a necessidade do estabelecimento do compromisso de dar o que temos de melhor para a obra de IAVEH, e não reter egoisticamente o que de melhor há para nós. A mim parece uma clara releitura da Lei de Amra dos egípcios, e para estimular a prática entre seu povo estabelece o conceito de recompensa divina premiando os bons atos e o desprendimento. Isto me parece claro nos trechos a seguir. “Porque, quando ofereceis animal cego para o sacrifício, isso não é mau? (...)” (Malaquias, 1; 8) “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma benção tal que não haja lugar suficiente para recolherdes.” (Malaquias, 3; 10) Estes conceitos parecem ter sido absorvidos pela doutrina cristã, e de certa forma pela própria Maçonaria mais tarde. Há muitas citações sobre amor ao próximo e caridade nos evangelhos, a própria doutrina cristã se caracteriza pela regra de amar ao próximo como a ti mesmo, mas escolhi um trecho das epístolas de Pedro para ilustrar o conceito sobre o Hospitaleiro que a doutrina cristã emprestou aos rituais maçônicos. “Antes de tudo, exercei profundo amor fraternal uns para com os outros, porquanto o amor cobre uma multidão de pecados. Sede hospitaleiros uns para com os outros, sem vos queixar. Servi uns aos outros de acordo com o dom que cada um recebeu, como bons administradores da multiforme graça de Deus.” (1 Pedro, 4, 6-9) 80 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS CAVALEIROS HOSPITALATÁRIOS A influência das Ordens Medievais de Cavalaria na Maçonaria se deu através d Ordem Hospitalar de São João de Jerusalém, conhecidos também como Hospitalários. Esses são os Cavaleiros Maçons de Jerusalém mencionados em nossos rituais, e no meu entendimento, se sua influência nos rituais maçônicos foi maior que a dos famosos Templários, no mínimo foi semelhante. A Ordem dos Hospitalatários foi a primeira das Ordens Militares de Cavalaria medievais. Foi fundada durante a primeira Cruzada, em 1099, por Godfrey de Bouilon. Sua origem não foi tão glamurosa quantose pretende, na verdade foi financiada por comerciantes do distrito de Amalfi, na Itália, com o objetivo inicial de proteger a rota comercial e prestar auxílio aos peregrinos. Tinham como patrono São João Batista, nome sob o qual fundaram um hospital da Terra Santa e seguiam originalmente as regras Agostinianas. Em 1120, quando Raymond du Puy foi nomeado Grão-Mestre, adotou as regras Beneditinas e passou a atuar nas Cruzadas como um dos braços militares da Igreja, na verdade o primeiro. Foi a única das Ordens Militares de Cavalaria que sobreviveu às Cruzadas, embora atualmente seja uma ordem honorífica, evidentemente sem a característica militar que a notabilizou. Atualmente tem a denominação de Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São de Jerusalém, de Malta e de Rodes. 81 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS CONCEITOS DA MAÇONARIA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA ASSOCIAÇÃO COM A ASTRONOMIA Foi provavelmente dessa Ordem que se originou a designação do cargo de Hospitaleiro na Maçonaria moderna. A Maçonaria moderna atribuiu, muito provavelmente com base nas influências que vimos anteriormente, os seguintes conceitos para as funções do Hospitaleiro: • Amor fraternal e incondicional ao próximo; • Caridade; • Solidariedade; • Compaixão; • Acolhimento; • Humildade traduzida na disposição de servir; • Beneficência; • Filantropia; • Altruísmo; • Empatia, e • Compartilhamento. Ressalto que a Caridade é o último e mais elevado degrau de nossos Templos, onde está assentado o Trono do Venerável Mestre, ou seja, apesar de ocupar o Altar da Sabedoria, o mais alto cargo das Lojas Simbólicas está alicerçado na Caridade, no amor fraternal e incondicional ao próximo. Não vislumbro associação do cargo de Hospitaleiro com a Árvore da Vida. Temos observado que as associações são referentes aos cargos que possuem altares ou mesas, e no caso do Cobridor Interno pela sua posição oposta a Kether, representada pelo Venerável Mestre. Assim como o Mestre de Cerimônias, o Hospitaleiro transita em todas as sessões pelos caminhos entre as emanações, carregando essas energias que deposita e transporta na bolsa do Tronco de Solidariedade. Da mesma forma não há, pelo menos em meu entendimento, nenhuma relação entre a posição no Templo do Hospitaleiro e a decoração da Abóbada Celeste. Como temos visto, os astros ali representados simbolizam na maioria às Dignidades da Loja, ou a elementos doutrinários. 82 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NA PROCISSÃO POSIÇÃO NO TEMPLO No cortejo de entrada, o Hospitaleiro se posiciona atrás do Mestre de Banquetes e antes do Tesoureiro, na fileira representativa da Coluna do Sul. No interior do Templo, o Hospitaleiro ocupa uma cadeira no topo da Coluna do Sul, ao lado do Tesoureiro. 83 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES REQUISITOS O cargo de Hospitaleiro é ocupado por indicação direta do Venerável Mestre, sem a necessidade de eleição para tal. É m Oficial, e não uma Dignidade da Loja. Não há regulamentação para o cargo no Regulamento Geral da Federação, suas atribuições são estabelecidas nos rituais. Como tenho dito e repetido, compromisso e dedicação são qualidades desejáveis e esperadas no perfil de todos os maçons, mas os ocupantes de cargo carregam consigo uma responsabilidade maior, e nesse sentido, elas são exponencialmente ampliadas. O Hospitaleiro deve ter disponibilidade de tempo, pois vai precisar se dedicar à Loja mesmo fora das sessões, prestando auxílio aos Irmãos necessitados. Para isso deve nutrir boa relação com todos os obreiros do quadro, e manter a necessária discrição, para não causar constrangimentos a qualquer Irmão por conta de sua eventual má situação. Deve executar o cargo com responsabilidade e iniciativa, sem aguardar qualquer comando do Venerável Mestre para verificar as condições dos Irmãos que porventura necessitem de auxílio, ressaltando que nem sempre esse socorro será material, as condições psicológicas e de saúde dos membros do quadro da Loja igualmente cevem ser objeto de atenção por parte do Hospitaleiro. A Hospitalaria é um posto que requer que o Mestre esteja atento dentro e fora do templo. É fundamental que seja amigável, de modo a deixar o Irmão necessitado confortável para relatar seu problema. Deve escutar mais do que falar nesse caso. Agindo dessa maneira vai angariar para si a confiança dos obreiros, e disto o Hospitaleiro sem dúvida necessita, que os Irmãos tenham nele a confiança de seu empenho na prestação do auxílio de que necessitam. 84 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSTURA A postura e o comportamento do Hospitaleiro são solenes a maior parte do tempo, ao menos durante as sessões. Deve transportar o Tronco de Solidariedade segurando pelas duas mãos, com a direita à frente e a esquerda no coração. Deve receber os óbolos pelo lado direito de quem está ofertando, e fazê-lo esticando o braço esquerdo e oferecendo a bolsa, ao mesmo tempo em que gira sua cabeça para a direita, emprestando privacidade para o obreiro de quem está colhendo a doação. “Mas quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a tua direita”. (Mateus, 6, 3) Deve circular na forma do símbolo matemático do infinito, na verdade está representando o trânsito aparente do Sol no firmamento, no fenômeno denominado analema. Nesse momento deve se movimentar com elegância e circunspecção. Geograficamente, como vimos, ocupa um assento no Ocidente, na Coluna do Sul, ao lado do Irmão Tesoureiro. Deve ser solícito e atento ao comportamento dos Irmãos, observando qualquer alteração de humor ou comportamento que possam ensejar a existência de problemas de saúde ou financeiros que reclamem o auxílio da Loja. Deve manter estreito relacionamento com todos os membros da Loja, notadamente com o Chanceler e o Tesoureiro. O primeiro vai lhe fornecer a informação dos obreiros que repentinamente deixaram de comparecer às sessões, o que pode indicar problemas de saúde, por exemplo, e o segundo lhe prestará informações sobre aqueles que eventualmente têm dificuldade de pagar suas mensalidades, o que pode suscitar a necessidade de socorro pecuniário por parte da Oficina. Deve manter contato permanente com o Venerável Mestre, e deixa-lo ciente de todas as suas ações e das condições dos obreiros necessitados. O Hospitaleiro só fala quando a palavra está na Coluna do Sul, e o faz sempre de Pé e à Ordem. Deve visitar os Irmãos enfermos e em dificuldades, e da mesma forma investigar os afastamentos repentinos dos Irmãos. Deve comunicar imediatamente ao Venerável Mestre os Irmãos que se encontram com problemas, mas sobretudo deve ser discreto em sua atuação. Deve propor auxílio, material ou não, aos Irmãos necessitados, a entidades externas, e profanos, sem a necessidade de qualquer comando do Venerável Mestre para fazê-lo. O Hospitaleiro socorre de ofício. Pode propor campanhas de arrecadação de bens e alimentos para socorro de Irmãos e necessitados, bem como da circulação de Troncos de Solidariedade especiais para determinada finalidade. Pode, da mesma forma, propor a realização de eventos beneficentes a serem promovidos pela Oficina. 85 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA AS LENDAS DO TRONCO DE SOLIDARIEDADE Todas essas propostas devem ser apresentadas na Ordem do Dia, pois todas elas requererão a aprovação da assembleia para sua concretização. O Hospitaleiro pode presidir a Comissão de Beneficência, mas não pode integrar aComissão de Finanças, nos termos do que dispõe o artigo 122, inciso III, da Constituição do Grande Oriente do Brasil. A Joia do Hospitaleiro é em formato de bolsa. Representa exatamente o recipiente utilizado para a coleta dos óbolos dos obreiros. Não é um tronco de árvore, nem a caixa de madeira das igrejas, justamente porque é transportada no ambiente do Templo, ou seja, é um recipiente móvel de coleta de doações. A Hospitalaria é uma função exclusivamente material, embora evidentemente haja conceitos filosóficos associados, mas não vislumbro qualquer associação místico-esotérica na Joia do cargo, embora estes princípios, como vimos, estejam implícitos na função. Abro aqui um parêntese, para comentar uma lenda que é corrente no meio maçônico, mas não traduz a verdade histórica, ou seja, trata-se apenas de uma lenda. Existem textos que ora associam a prática aos Cavaleiros Templários, ora aos maçons operativos. Diz-se que estas instituições tinham como hábito esconder dinheiro em troncos ocos de árvore nas florestas para que os aldeãos necessitados lá buscassem o auxílio. Isso jamais ocorreu. Em primeiro lugar por ser impraticável, imagine o rebuliço criado quando os pobres descobrissem o esconderijo e o número de desavenças que se instauraria. Ademais, uma vez escolhido o local de depósito, certamente seus benfeitores, que pela narrativa pretendiam permanecer incógnitos, seriam espreitados e teriam sua identidade descoberta, e muito provavelmente a partir daí seriam assediados. Outro fato relevante é que nem as Ordens de Cavalaria, nem as guildas de pedreiros medievais tinham essa conduta beneficente como norma. 86 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O TRONCO DE SOLIDARIEDADE A FINALIDADE DO TRONCO DE SOLIDARIEDADE Me parece que o autor da lenda pretendia apenas justificar o uso da expressão tronco para designar a bolsa de coleta das doações dos obreiros durante as sessões, mas a razão verdadeira não é essa, como veremos adiante. Aliás, nem todos os Ritos adotam a expressão tronco para designar esse recipiente de coleta, e se verificarmos os rituais de outros idiomas isso fica mais claro ainda. Apesar da ficção, a narrativa descreve princípios morais válidos, como aliás qualquer lenda o faz, e nesse caso tem o propósito de estimular a prática da caridade de modo desinteressado e anônimo, ambos princípios presentes no Tronco de Solidariedade. Tudo leva a crer que o vocábulo tronco, utilizado para designar o recipiente de coleta dos óbolos dos Irmãos no Rito Adonhiramita trate-se de um falso cognato, ou seja, uma daquelas palavras de outro idioma que tem grafia e foneticamente semelhantes na língua portuguesa, mas que se referem a outra coisa, como latir em espanhol ou parents no inglês. O verbete francês tronc foi traduzido em nossos Rituais literalmente como tronco, mas na verdade, no idioma de origem, designa as caixas de esmola feitas de madeira que eram colocadas na porta das igrejas para coleta de doações. O verbete que designa esta peça em português é gazofilácio, ou simplesmente caixa de esmolas. A primeira palavra é de pronúncia complicada e pouco usual, e a segunda não retrata a bolsa móvel que utilizamos. Assim sendo, parece que tronco empresta um certo ar de elegância e mistério, mas é necessário conhecer sua real origem. O Tronco de Solidariedade é uma etapa obrigatória em qualquer sessão. Nenhum obreiro pode cobrir o Templo definitivamente sem comparecer ao Tronco de Solidariedade, e no caso de precisar sair antes do encerramento dos trabalhos, o maçom deverá permanecer entre Colunas, após a saudação de praxe, após isso, aguarda o Hospitaleiro efetuar a coleta, declara seu compromisso de sigilo e sai. Entendo que para obtermos a correta compreensão da finalidade do Tronco de Solidariedade seja necessário fazermos distinção em relação a alguns vocábulos de significado semelhante, evidentemente considerando que os ritualistas não escolheram o termo por acaso. 87 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA AS CONSTITUIÇÕES DE ANDERSON A CONSTITUIÇÃO DO GOB Neste raciocínio, vemos o verbete solidariedade, que é o vocábulo utilizado no Rito Adonhiramita, ser traduzido nos dicionários como equivalente a um ato de bondade e compreensão com o próximo, ou um sentimento, uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um determinado grupo, ou seja, restrito a pessoas que compartilham a mesma realidade. Já filantropia, por vezes utilizada como sinônimo, refere-se ao amor à humanidade, ao auxílio prestado a todo e qualquer ser humano em necessidade, independentemente do grupo social em que vive, seja ele compartilhado por nós ou não. A outra palavra utilizada como tendo o mesmo sentido é beneficência, termo que inclusive é utilizado por outros Ritos para designar o Tronco de Solidariedade, mas notem que seu sentido é o mais amplo de todos, pois beneficência, resumidamente falando, refere-se ao ato ou virtude de fazer o bem desinteressadamente. Todos, sem dúvida, podem ser aplicados à prática do Tronco de Solidariedade, cabe-nos investigar, de acordo com a Doutrina Maçônica, qual era a intenção real dos ritualistas. As Constituições de Anderson, publicadas em 1723, em seus Regulamentos Gerais 7, estabelecem o seguinte: “É adequado a todo novo Irmão quando de sua Iniciação vestir a Loja, isto é, todos os Irmãos presentes, e fazer oferenda de algo para o alívio de indigentes e Irmãos em desgraça, de acordo com o que o novo Irmão ache apropriado para estes, superior e acima à menor margem estabelecida pelo regimento interno da mesma Loja; tal caridade deve ser entregue ao Mestre ou Vigilante, ou Tesoureiro, se os membros acharem apropriado escolher alguém. E todo candidato deve também solenemente prometer se submeter às Constituições, Deveres e Regulamentos e outras práticas benéficas que lhe serão comunicadas em hora e lugar convenientes”. O texto deixa claro que ao ingressar na Ordem, o Aprendiz estaria obrigado a fazer uma doação que teria como alvo um desafortunado da sociedade, ou um Irmão da Loja que estivesse em necessidade. A Constituição em vigor do Grande Oriente do Brasil, não cita exatamente o Tronco de Solidariedade, mas dispõe sobre os deveres da Loja Simbólica. 88 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O RITUAL DE APRENDIZ No inciso IV, do artigo 24, da Seção “Deveres da Loja”, está estabelecido o seguinte: “Prestar assistência material e moral aos membros de seu quadro, bem como aos dependentes de membros falecidos que pertenciam a seu quadro, de acordo com as possibilidades da Loja e as necessidades do assistido”. Este texto denota a obrigatoriedade das Lojas Simbólicas prestarem auxílio aos membros e seus dependentes, notadamente depois de falecidos, prática infelizmente que não é observada na maioria de nossas Oficinas. O que vemos aqui, evidentemente dito em outras palavras, é que somos nós os filhos da viúva a quem se refere o Hospitaleiro, solicitando auxílio na nossa Iniciação. Parece claro que, constitucionalmente, o auxílio prioritário das Lojas é para com seus próprios membros. A razão da circulação do Tronco de Solidariedade é a primeira instrução que o Aprendiz recebe na Sessão Magna de Iniciação, após a transmissão das Palavras, Toque, Sinais e Marcha, e é proferida pelo Orador. O ritual expõe que é “(...) destinada à coleta de recursos para o nobre exercício da beneficência...” ou seja, deste texto entende- se que o Tronco de Solidariedade é uma prática cujo objetivo é fazer o bem ao próximo, mas parece muito vago. Ainda nas Sessões Magnas deIniciação, o Hospitaleiro sussurra aos nossos ouvidos: “(...) no exercício permanente e atuante da beneficência, tem esta Loja maçônica um grande número de infelizes, viúvas e órfãos, aos quais assiste diariamente...” Mas quem, na verdade, são as viúvas e os órfãos? A leitura da Constituição do Grande Oriente do Brasil pode nos levar ao entendimento de serem as cunhadas, viúvas de nossos Irmãos falecidos, e os órfãos nossos sobrinhos, não é verdade? 89 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O LEMA DA MAÇONARIA A COMISSÃO DE BENEFICÊNCIA Talvez examinando o lema da Maçonaria cheguemos a alguma conclusão em relação ao real destino do Tronco de Solidariedade. O lema original da Maçonaria, ainda utilizado pelas Lojas de língua inglesa, é Amor Fraternal, Alívio e Verdade, Brotherly Love, Relief and Truth, no original. Na França foi modificado para Liberdade, Igualdade e Fraternidade, lema dos revolucionários, e que foi adotado pela Maçonaria brasileira, inclusive pelo Rito Adonhiramita. Do lema britânico original, vemos o amor fraternal, ou fraternidade, simbolizando o sentimento de tolerância, de respeito e de tratamento igualitário que deve existir entre os maçons. O alívio se refere ao socorro, à caridade e solidariedade, que deve reinar como sentimento e como atitude dos maçons entre si. E a verdade é o compromisso e o objetivo de todos nós, que somos seus buscadores, combatendo o fanatismo, a tirania, a ignorância e as superstições. Ou seja, depois de analisar todos estes elementos, me parece claro que todas as constituições e regulamentos maçônicos estabelecem o auxílio aos próprios Irmãos do quadro como prioritário. É evidente, e creio que ninguém irá se opor, que na hipótese da Oficina ter a felicidade de possuir apenas obreiros prósperos, ou que o fundo de beneficência guarde valores elevados, que a beneficência seja estendida ao mundo profano. Mas julgo igualmente relevante salientar que a caridade não é a principal motivação da Maçonaria, existem outras instituições, aliás, bastante conhecidas, cujo objetivo é exclusivamente este. A Maçonaria se propõe a aperfeiçoar o homem, e permitir assim seu progresso e evolução, é uma associação filosófica, ou especulativa se preferirmos manter a denominação da Maçonaria moderna, não operativa. Evoluímos quando praticamos boas ações, e quando demonstramos compaixão pelo próximo, mas antes, temos a obrigação firmada em compromisso sobre o Livro da Lei, de auxiliar nossos Irmãos em infortúnio. A Comissão de Beneficência está diretamente ligada às funções do Hospitaleiro. É uma comissão permanente e obrigatória na administração da Oficina, nos termos do que dispõe o artigo 128 do Regulamento Geral da Federação. É constituída por três Mestres, designados diretamente pelo Venerável Mestre, e pode ser presidida pelo Hospitaleiro. 90 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS É regulamentada pelo artigo 134 do Regulamento Geral da Federação, que lhes dá as seguintes atribuições: I – Conhecer as condições dos Obreiros do Quadro, visitando-os, e quando algum estiver necessitado, independentemente de seu pedido, reclamar da Loja o auxílio cabível; II – Emitir parecer sobre propostas relacionadas com assuntos de beneficência. Cabe ao Hospitaleiro solicitar a movimentação do fundo de beneficência da Oficina, mas para sua concretização e necessário em primeiro lugar o parecer favorável da Comissão de Beneficência da Loja, e por último, e mais importante, a aprovação da maioria simples dos obreiros do quadro presentes na sessão onde a moção for apreciada, podendo inclusive a assembleia divergir do parecer da comissão, e decidir contrariamente a ele. Chamo atenção ao primeiro inciso do artigo 134, que determina que toda a Comissão de Beneficência, e não apenas o Hospitaleiro, deve se empenhar em visitar os Irmãos do quadro, necessitados ou com problemas de saúde, e apresentar à Loja pedido de socorro em seu favor. Nos termos do que dispõe nosso ritual, são funções ritualísticas do Hospitaleiro circular com o Tronco de Solidariedade, entregar o total coletado ao Tesoureiro e auxiliá-lo na conferência. Deve também controlar o fluxo do fundo de beneficência, entendendo-se que este é formado pelo montante arrecadado no giro do Tronco de Solidariedade durante as sessões e ainda não doado. No Rito Adonhiramita o Hospitaleiro não possui fala ritualística. 91 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A TROCA DE FUNÇÕES Durante a circulação do Tronco de Solidariedade o Hospitaleiro troca momentaneamente de função com o Cobridor Interno, exatamente para que ele possa fazer sua doação, e o Cobridor Interno possa fazer o mesmo com o Cobridor Externo e 1° Experto, evidentemente nas Lojas que possuem Mestres nestas funções. A movimentação de ambos Oficiais sempre gera curiosidade, inclusive nos maçons praticantes do Rito Adonhiramita, que imaginam qual a razão disso. Na verdade, essa é uma prática militar, a troca da guarda do Palácio de Buckingham na Inglaterra se dá de forma muito parecida, portanto, não vislumbro qualquer conotação mística envolvida. A ideia é que os 360 graus de visão do Templo estejam sempre visíveis pelos dois Oficiais, olhando um sobre o ombro do outro o tempo todo do giro, e notadamente a porta do Templo, que jamais deve ficar desguarnecida. Na troca, o Tronco de Solidariedade é seguro pela mão esquerda, e a espada pela mão direita, tanto do Cobridor quanto do Hospitaleiro. O Hospitaleiro, após segurar a espada, assume o Sinal de Guarda, e ambos permanecem de pé. O giro do movimento é sinistrogiro, ou seja, no sentido horário. Resumidamente falando, o Hospitaleiro se movimenta para o seu lado esquerdo. O Hospitaleiro oferece amor 92 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA OS DOIS EXPERTOS O IRMÃO EXPERTO Experto deriva do latim expertus, que significa perito, conhecedor, hábil, especialista, mais ou menos como no termo inglês expert, que gerou o neologismo expertise na língua portuguesa, referindo-se a uma especialização ou vasto conhecimento adquirido sobre determinada atividade. O Experto na Maçonaria, e particularmente no Rito Adonhiramita, é exatamente isso, um especialista, e logo veremos em que. O termo poderia ser gravado como esperto, grafia usual em nosso idioma, mas a palavra ao longo dos tempos ganhou conotação pejorativa, e talvez por essa razão os ritualistas tenham mantido a forma mais próxima do original. Na França o cargo era chamado de Frére Terrible, ou Le Terrible, o “Irmão Terrível”, termo que foi adotado posteriormente no Brasil e consta de nossos rituais com relação ao 1° Experto nas Sessões Magnas de Iniciação. Em alguns rituais surge com a denominação de “Irmão Sacrificador”. Este foi um cargo que sofreu enorme sincretismo desde as Ilhas Britânicas. Nossos rituais apontam para a existência de dois Expertos nas Lojas Simbólicas, o 1° e o 2°, como são chamados. O 1° Experto trabalha exclusivamente do lado de fora do Templo nas sessões ordinárias. Não vota nas matérias simples da Loja, mas é convidado a participar do Escrutínio Secreto, e a comparecer no Saco de Propostas e Informações e no Tronco de Solidariedade. Atua intensamente nas Iniciações, onde recebe a denominação de Irmão Terrível. Se não houver uma alteração em nossos rituais, permitindo que em determinado momento da sessão este Oficial possa ingressar no Templo, creio que a tendência seja assumir o status de cargo virtual ou simbólico na maioria das Oficinas, aliás, isso já ocorre atualmentee com certa frequência. 93 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSPIRAÇÃO AZRAEL, O ANJO DA MORTE Apesar disso o cargo possui enorme simbolismo Iniciático, ele é o guia do candidato durante as Iniciações, é o primeiro Irmão a ter contato com o candidato, após o padrinho e os sindicantes, evidentemente, e é nele que o profano deve depositar sua confiança. Possui traje diferenciado nesta ocasião, o balandrau, sendo o único Mestre Adonhiramita com previsão de fazê-lo de acordo com os rituais. Nas sessões ordinárias o traje é comum a todos os Mestres. Os ritualistas pretendiam com este traje emprestar um ar de mistério ao 1° Experto, e isso certamente causaria sensível impacto no candidato, mas, paradoxalmente, ele não pode vê-lo. Quem sabe nossos futuros rituais não corrijam esse deslize? Já o 2° Experto trabalha exclusivamente no interior do Templo, embora em algumas ocasiões saia e retorne, exatamente para confabular, ao menos simbolicamente, com o 1° Experto e se assegurar da segurança e sigilo dos trabalhos. Participa ritualisticamente tanto das sessões ordinárias quanto das Magnas e especiais. A tendência atual, pelo menos é o que ocorre num bom número de Lojas, é assumir as funções de 1° Experto nas Iniciações. Na ausência do 1° Experto é ele o especialista em detectar intrusos, tanto fora quanto dentro do Templo, por isso é Experto, e nesse sentido, trabalha como auxiliar direto do 1° Vigilante. Sob o ponto de vista mítico e arquetípico, vejo os Expertos com referências na tradição judaico-cristã, e na Ordem dos Assassinos, que existiu no Oriente Médio, no período da primeiras Cruzadas. Enxergo nessas duas fontes certa associação com os conceitos que o cargo atualmente possui em nossas Lojas. Vamos examinar resumidamente essas hipóteses. Na tradição hebraica os anjos não eram alados, a leitura de diversos trechos do Antigo Testamento ou da Torá, nos quais os seres humanos não identificam de imediato estar na presença de um ser celestial, não deixa dúvidas sobre isso. Foi a iconografia cristã que lhes atribuiu as asas, com as quais os identificamos de imediato atualmente, e creio que esta representação ou alegoria, por sua vez, tenha sofrido influência da mitologia grega. 94 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A ORDEM DOS ASSASSINOS AS ASSOCIAÇÕES MÍTICAS A tradição judaico-cristã entende que este ser espiritual ou celestial recolhe as almas dos mortais no Plano Material e as conduz para o Plano Espiritual. Lhe atribuiu o nome de Azrael, e na doutrina cristã é apenas o Anjo da Morte, ou simplesmente Morte. Assim sendo, não é uma entidade maléfica como às vezes imaginamos, Ele não provoca a morte, apenas conduz as almas a um outro Plano da Existência, ou seja, é um guia celestial que faz a transição entre os estados de consciência ou da alma. Nos rituais maçônicos, é exatamente o 1° Experto quem conduz o candidato, após sua “morte” como profano, para renascer como Iniciado. Talvez os Amados Irmãos tenham referência da Ordem dos Assassinos através das plataformas de videogame, ou do filme daí originado, mas essa Ordem realmente existiu. Na verdade, era uma seita esotérica islâmica, ismaelita e fundamentalista, fundada no século XI. Combatiam os muçulmanos que julgavam infiéis, e os executavam de forma eficiente e discreta. Segundo os historiadores inspiraram-se em antigos rituais de Iniciação gnósticos e possuíam sinais secretos, e isto teria sido absorvido pelos Templários. Era uma Ordem conhecida pela fidelidade e devoção de seus membros. Usavam uniforme nos quartéis, e trajes com capuz em ação. Se infiltravam na multidão disfarçados e em grupos, sempre em número de três. Executavam os infiéis, segundo eles, de forma silenciosa e discreta, geralmente usando punhais e facas, de forma rápida e sem provocar nenhum ruído. Os pesquisadores afirmam que eles se associaram-se aos Cavaleiros Templários logo após a fundação da Ordem do Templo, exatamente por combaterem o mesmo inimigo, ainda que por razões diferentes, e que esta associação ocasionou influências tanto nas técnicas de combate quanto nos ritos de iniciação, e a prática de reconhecimento velado, através de toques, sinais e palavras. É mais ou menos com a mesma postura e motivação, que o Irmão Terrível age simbolicamente nas Iniciações do Rito Adonhiramita na Cena da Traição. Da mesma forma que apontei hipóteses para a inspiração dos ritualistas em episódios da tradição judaico-cristã e na História, e nesse caso a motivação também era religiosa, vislumbro a possibilidade de determinados arquétipos das diversas mitologias 95 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ANÚBIS, O DEUS CHACAL CARONTE, O BARQUEIRO terem sido examinados pelos ritualistas para a formatação do cargo de Experto que conhecemos na atualidade. Percebo associações possíveis com os antigos mistérios egípcios, com a mitologia greco-romana, com a astrologia, e com a Cabala hebraica. Vamos igualmente abordar de forma resumida cada uma destas hipóteses. No antigo Egito politeísta, Anúbis era a divindade responsável pela condução das almas ao Tuat, o reino dos mortos. Era representado na forma metamórfica com corpo de homem e cabeça de chacal. Não era um guardião, como muitos podem imaginar, era um condutor, um guia, que cuidava da condução das almas até o Tribunal de Osíris, protegendo-as para que nada sofressem durante o trajeto entre os dois Planos da Existência. Era Anúbis que no Tribunal de Osíris retirava os corações dos homens e os pesava na Balança de Maat, deusa da justiça para os egípcios. Aqueles que possuíssem o coração mais leve que a pluma de avestruz, o que simbolizaria a pureza de sua alma, adquiriam o direito à ressurreição e à vida eterna no Tuat. Ao contrário, os que tinham o coração mais pesado, eram devorados pelo crocodilo Ammit, e simplesmente deixavam de existir. Em ambos os casos era Anúbis quem guiava as almas até seu destino final, a ressurreição ou a extinção. Era chamado pelos egípcios de Mestre dos Segredos. Na mitologia grega, era o barqueiro que transportava as almas até o Hades, sobre as águas do Rio Estige, ou Aqueronte para alguns se chamava Caronte. Seu nome significa “brilho intenso”. Caronte era filho de Nix (a noite) e Érebo (as trevas). Era irmão de Moros (o destino), Ker (a desgraça), Tânatos (a morte), Hipnos (o sonho), Geras (a velhice), Ezis (a dor), Apate (o engano), Nêmesis (o castigo), Eris (a discórdia), Filotes (a ternura) e Momo (o sarcasmo). Uma genealogia bastante interessante. 96 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A ÁRVORE DA VIDA A ABÓBADA CELESTE Caronte teria nascido num tempo tão distante que não havia memória possível para lembrar dele. Da mesma forma que nos mitos anteriores, trata-se de um arquétipo do condutor de nossa consciência a outros Planos da Existência. Examinando o desenho da Árvore da Vida do Sepher Yetzirah, e comparando com a planta baixa do Templo Adonhiramita, percebemos que não há associação com nenhuma sefirote. Estas, como sabemos, referem-se às emanações das posições geográficas das Dignidades da Loja e do Cobridor Interno. Mas se acompanharmos o traçado dos 22 caminhos possíveis entre elas, veremos que o 2° Experto segue o trajeto entre Netzach, a vitória, e Malkuth, o reino. Parece razoável se relacionarmos às atribuições do cargo de Experto. Já o 1° Experto está fora do Templo, portanto, literalmente fora do alcance destas emanações. O Experto é uma das exceções quando observamos a Abóbada Celeste de nossos Templos, cujos astros normalmente se referem às Dignidades.Ele está associado a Antares, da Constelação de Escorpião, que era considerada uma estrela guardiã pelos antigos persas. Essa associação vai se tornar mais clara nos Graus Filosóficos. A denominação, na verdade, é o resultado da aglutinação do prefixo anti, que designa oposição, e Áries, a divindade grega, ou seja, Antares era na antiguidade considerada a estrela opositora à Áries, cuja denominação romana, Marte, nomeou um dos planetas de nosso sistema solar. Assim, se Áries representava a guerra, Antares simbolizava a paz. Há ainda que se ressaltar que o escorpião, constelação da qual Antares faz parte, era um dos símbolos do deus da morte para os antigos gregos. 97 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSERÇÃO NOS RITUAIS A POSIÇÃO NA PROCISSÃO As primeiras evidências da introdução do cargo de Experto na Maçonaria se referem a rituais da Escócia anteriores a 1700, que mencionam um Mestre que interpelava os visitantes para identificação, porém, não há a denominação de Experto. Mas no caso do Rito Adonhiramita, ambos os Expertos eram mencionados na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, já com a determinação de um trabalhar do lado de fora do templo, e outro pelo lado de dentro, conforme se infere da leitura do seguinte trecho: “Para que uma Loja possa estar coberta regularmente, não basta que a porta que a fecha seja dupla, são necessárias ainda duas salas de entrada. A primeira é ocupada por um Irmão Cobridor, que abre a porta para todos que chegam; e a segunda, que separa a Loja da primeira sala, é chamada a Sala dos Passos Perdidos, onde fica o Experto. Quem deseja ser admitido na Loja, estando na primeira sala, bate à porta dos Passos Perdidos; o Experto abre-a, recebe-o e pergunta-lhe sobre os principais pontos da Maçonaria e sobretudo manda-o fazer a marcha e os sinais; e, quando o interrogado é reconhecido Maçom, o Experto manda-o entrar na Loja, com as formalidades habituais. É preciso lembrar que este Irmão, ao entrar, deve pegar a mão do segundo Experto, que se encontra na Loja, para dar-lhe o toque e a palavra de passe do Grau que possui; em seguida, põe-se entre os Vigilantes, na posição do citado Grau, faz o sinal e saúda o Venerável que, então interroga-o sobre o catecismo. Esses cuidados dos Expertos e essa conduta dos Irmãos devem ser praticados em todas as Lojas regulares”. Vemos aqui ainda o requinte do visitante ser examinado duplamente pelos dois Expertos, e também pelo Venerável Mestre. Isso demonstra o cuidado com o sigilo e a segurança que acompanhavam as Lojas do século XVIII. No cortejo de entrada, o 2° Experto se posiciona na fileira correspondente à Coluna do Sul, atrás do primeiro último Mestre Maçom sem cargo. Observe-se que o 1° Experto trabalha fora do Átrio, na Sala dos Passos Perdidos. 98 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSIÇÃO NO TEMPLO ATRIBUIÇÕES DO 1° EXPERTO No Templo, o 2° Experto ocupa um assento próximo ao 1° Vigilante, na base da Coluna do Sul. O cargo de 1° Experto é preenchido através de indicação direta do Venerável Mestre, sem a necessidade de eleição. É um Oficial, e não uma Dignidade. Não há regulamentação para o cargo no Regulamento Geral da Federação, suas funções e atribuições são estabelecidas nos rituais. Boa parte das Lojas utiliza-se do 2° Experto para desempenhar suas funções e sequer nomeia um Mestre para ocupar o cargo. Geralmente ele só atua ritualisticamente nas Sessões Magnas de Iniciação, quando se denomina “Irmão Terrível”. Nas sessões ordinárias trabalha do lado externo do Templo, controlando o acesso à sessão. Conforme já vimos, o 1° Experto é o único Mestre no Rito Adonhiramita que usa balandrau, mas apenas nas Sessões Magnas. 99 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES DO 2° EXPERTO REQUISITOS A POSTURA O cargo de 2° Experto também é preenchido através de indicação direta do Venerável Mestre sem a necessidade de eleição. Também é um Oficial, e não uma Dignidade. Da mesma forma que o 1° Experto, não há regulamentação para o 2° Experto no Regulamento Geral da Federação. Suas funções e atribuições igualmente são estabelecidas nos rituais, mas diferentemente do 1° Experto atua no interior do Templo, saindo apenas em algumas ocasiões e retornando logo em seguida. Repito sempre que compromisso e dedicação devem ser qualidades ou atributos comuns a todos os maçons, mas no caso dos Mestres que ocupam cargos em Loja estes aspectos são bastante relevantes e necessários, e se aplica aos dois Expertos, como todas as demais observações que farei. Já que é de responsabilidade dos Expertos efetuar o reconhecimento dos Irmãos visitantes, e imprescindível que tenham bom conhecimento do ritual, sobretudo no que diz respeito aos procedimentos praticados pelos outros Ritos, para que não cometa nenhuma injustiça. No caso do 1° Experto deve-se somar algum talento para a interpretação, pois boa parte da dramatização da Sessão Magna de Iniciação estará a seu cargo. Devem ambos os ocupantes dos cargos possuir, boa dicção, pois há momentos ritualísticos em que falarão com a porta do Templo entreaberta, e devem ser ouvidos por todos que estão dentro do Templo. Acima de tudo devem ter atenção. A segurança da Loja e o sigilo das sessões estão diretamente ligadas à atuação de ambos. Ambos Expertos obrigatoriamente usam espadas. O 1° Experto deve trazê-la embainhada do lado de fora do Templo, enquanto o 2° Experto pode mantê-la numa base enquanto está sentado. 100 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA A CONDUÇÃO DO CANDIDATO Ambos devem transmitir seriedade no exercício de suas funções, mas não mau humor ou desconfiança. O termo exato para definir suas atribuições talvez seja prudência. A circula dentro do Templo é sempre executada no traçado do símbolo matemático do infinito, ou do analema, que entendo ser a descrição mais adequada, lembrando que no Átrio e na Sala dos Passos Perdidos, área de atuação do 1° Experto, não há ritualística. No interior do Templo devem se movimentar com elegância e circunspecção, o ar de mistério será aplicado ao 1° Experto através do uso do balandrau. O 2° Experto, como vimos, ocupa um assento no Ocidente, na base da Coluna do Sul, ao lado do Altar do 1° Vigilante, e deve estar sempre atento a tudo o que ocorre nas sessões, verificando a postura e o comportamento de todos os presentes na sessão, e comunicando imediatamente ao 1° Vigilante qualquer anormalidade ritualística ou suspeição que venha a observar. A Joia do Experto é um punhal, e é comum aos dois, tanto o 1° quanto o 2° Expertos. Alude à proximidade para o combate e agilidade no manuseio, estando associada à ideia de “eliminar” intrusos. Isso porque para efetuar o reconhecimento de visitantes eles deverão se aproximar, o que fortalece a associação com a Ordem dos Assassinos como vimos anteriormente. Mas lógico que tudo isso é simbólico. Apesar do punhal ostentado nas Joias, ambos os Oficiais ambos usam espadas, e não punhais no exercício de suas funções. Embora todos os artigos se refiram às sessões ordinárias, entendo ser conveniente desviar um pouco desta norma para falar da ação do 1° Experto durante as Sessões Magnas de Iniciação. Como sabemos, o candidato é entregue pelo padrinho à guarda do 1° Experto nas Iniciações, onde atua sob a designação de Irmão Terrível. Deve prestar bastante atenção na sua fala neste momento: “Sou vosso guia, tende confiança em mim e nada receeis”. 101 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA TRAIÇÃO E CÂMARA ARDENTE FUNÇÕES RITUALÍSTICAS DO 1° EXPERTOE é exatamente isso. A partir deste momento, e até que o candidato seja admitido maçom, o 1° Experto é o responsável direto pela sua segurança e sua condução através dos diversos ambientes. Não deve permitir jamais que ele seja molestado, ridicularizado, ou alvo de trotes e brincadeiras de mau gosto. Deve exigir o correto comportamento dos demais Irmãos, restritos aos termos do ritual e evitando excessos que possam causar prejuízos ao candidato. As dramatizações pretendem impregnar seu íntimo psicologicamente, mas jamais assustá-lo. É o 1° Experto que introduz o candidato na Câmara de Reflexões, e também é ele quem o retira de lá, de sua morte simbólica como profano para o renascimento como Iniciado. A primeira impressão que o candidato terá da Loja na qual está ingressando, e da Maçonaria de modo geral, será causada pelo 1° Experto. É enorme sua responsabilidade iniciática. Voltarei a falar sobre a Sessão Magna de Iniciação, pois creio que o cargo de 1° Experto assim demanda. A Cena da Traição e a Câmara Ardente são etapas ritualísticas integrantes da Sessão Magna de Iniciação, e são exclusivas do Rito Adonhiramita, constando de nossos rituais desde 1896, em exemplar publicado pelo Grande Oriente do Brasil. É uma alusão ao Juramento que faremos, mas também ao martírio de São João Batista, nosso Patrono. Ambas contam com a participação direta do 1° Experto, é ele quem interpela o Irmão traidor, e quem faz justiça. “(...) Sois, meu Irmão, um respeitável membro com mais de meio século de idade maçônica, e durante esse tempo tendes dado irrefutáveis provas de constante zelo, inexcedível amor à nossa instituição e proverbial honradez...” diria o Venerável Mestre. Nas sessões ordinárias, nas Lojas em que o cargo é exercido, o 1° Experto auxilia na triagem dos obreiros que ingressarão no Templo, mas sua atuação é bem mais intensa nas Sessões Magnas de Iniciação. 102 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS DO 2° EXPERTO É o 1° Experto quem recebe o candidato do padrinho, e o destitui dos metais, preparando- o nos termos do ritual. Introduz o candidato na Câmara de Reflexões, lhe entrega o testamento, dirimindo quaisquer dúvidas que venha a ter no seu preenchimento, recolhendo-o depois de preenchido, e transportando-o na ponta de sua espada para o interior do Templo. Deve acompanhar e cuidar do candidato durante todo o processo de Iniciação. Conduz o candidato ao Templo nas ocasiões previstas no ritual, entrega-lhe a Taça Sagrada para que ele beba, e o conduz nas Três Viagens. Participa intensamente da Cena da Traição, o que requer interpretação dramática convincente. Possui diversas e extensas falas ritualísticas ao longo da Iniciação. Nas sessões ordinárias é auxiliar dos Cobridores Externo e Interno na proteção do Templo, também realizando o Telhamento de Irmãos visitantes que sejam desconhecidos dos Irmãos do quadro. Não participa das atividades no interior do Templo nas sessões ordinárias, à exceção do Escrutínio Secreto e do comparecimento ao Saco de Propostas e Informações e Tronco de Solidariedade. O 2° Experto participa do Revigoramento da Chama Sagrada, juntamente com o Arquiteto e o Mestre de Cerimônias, e com os demais obreiros fora do Templo, à exceção do Cobridor Interno. Verifica, em atendimento à determinação do 1° Vigilante, se o Templo está coberto. Circula com a urna para recolher as esferas de votação no Escrutínio Secreto. É auxiliar do 1° Vigilante, e em alguns Ritos seu substituto direto, mas não é o caso do Rito Adonhiramita. Participa, com os mesmos Mestres que executaram o Revigoramento da Chama Sagrada, de seu Adormecimento. Possui fala ritualística nas sessões ordinárias, embora seja uma frase bem curta. Fala de seu lugar, quando a palavra está na Coluna do Sul, de Pé e à Ordem, sem portar a espada, que deve permanecer em sua base. Nas Lojas em que o cargo de 1° Experto não é exercido, é ele quem efetua o Telhamento de Irmãos visitantes desconhecidos dos Irmãos do quadro. 103 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA VERIFICANDO A COBERTURA DOS TRABALHOS REVIGORANDO E ADORMECENDO A CHAMA Para fazer a verificação da cobertura dos trabalhos, o 1° Experto levanta-se após receber o comando do 1° Vigilante, para entre Colunas, faz a vênia ao Venerável Mestre e sai do Templo para fazer a averiguação. Retorna circulando pelo Sul, posta-se na frente de seu assento, voltado para o Venerável Mestre, e declama sua fala. O posicionamento do 1° Experto é exatamente o mesmo nas duas etapas, alinhado com o Altar dos Perfumes, de onde pegará e devolverá o acendedor e o abafador, de acordo com a etapa. 104 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA HOMENAGEM Cegos, tensos e assustados. Foi a mão firme do 1° Experto que nos guiou pelos difíceis e tortuosos caminhos, pelos perigos das provas, e que nos protegeu de todas as ameaças, imagináveis e apenas em nossa mente durante a Iniciação. Nenhum de nós teria se tornado maçom sem a dedicação e empenho deste Oficial, a quem devemos justas, sinceras e eternas homenagens. Paradoxalmente os rituais colocam fora do Templo justamente o Mestre que nos faz nele entrar. Se há um Mestre que simbolize o processo Iniciático na Maçonaria, este, sem dúvida alguma, é o Irmão Terrível, que literalmente nos conduziu das trevas para a Luz! 105 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA A ARQUITETURA NA ANTIGUIDADE O ARQUITETO O vocábulo arquiteto deriva da aglutinação dos verbetes gregos arkhein, que significa comandar, e tekton, que designa um artesão, um construtor. Com o passar do tempo passou a designar o mestre de obras ou construtor chefe. No latim originou o verbete architectus, com o mesmo significado. Porém, no latim, a partícula arqui traduz igualmente a ideia de superioridade, supremacia, e autoridade, como vemos nos verbetes arqui-inimigo, arcebispo, etc. A Maçonaria moderna designou o Princípio Criador como Grande Arquiteto do Universo exatamente com base nesse sentido de superioridade, de supremacia. Até a Idade Moderna o arquiteto era o profissional responsável pelo planejamento e execução das obras na sua totalidade, lembrando que a profissão de engenheiro surgiu apenas a Revolução Industrial. Geralmente os arquitetos da antiguidade também eram pintores e escultores. Na antiguidade os arquitetos eram considerados homens sábios. Planejavam, dirigiam e executavam as obras do início ao fim, tinham enorme prestígio junto aos reis, nobres e líderes das nações. A arquitetura é um elemento fundamental para o trabalho dos historiadores e pesquisadores. Habitações, palácios, templos, arenas, teatros, etc. revelam aspectos culturais, econômicos e sociais das antigas civilizações, e os templos tem papel diferenciado nesta análise. Enquanto os palácios, por exemplo, associavam ao edifício o gosto dos monarcas, limitando a criatividade dos arquitetos em certo ponto, nos templos a liberdade de criação era plena, e os arquitetos procuravam retratar sem reservas os conceitos filosóficos das civilizações. Enquanto os palácios eram erguidos em homenagem aos homens, 106 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA AS 7 MARAVILHAS DO MUNDO ANTIGO os templos eram construídos para a adoração da divindade. Para os povos antigos a capacidade e a habilidade de construir representava a aproximação do homem à divindade, e dava ao homem a sensação de poder, a capacidade de criar e interferir napaisagem e na própria Natureza. A harmonia, o ritmo, e a beleza das construções provocavam enorme impacto psicológico em quem as observava. A função de arquiteto e a construção de templos eram tão importantes para os povos antigos, que na tradição judaico-cristã o próprio IAVEH determinou a construção de um templo aos hebreus. Tanto isto é verdade, que a pujança das antigas civilizações foi retratada nas Sete Maravilhas do Mundo Antigo, que se referiam à grandes e imponentes construções, ou seja, exatamente as obras dos homens. São elas: Os Jardins suspensos da Babilônia, supostamente erguidos por Nabucodonosor, e tratava-se de uma construção em patamares ou camadas, a exemplo dos zigurates ou mastabas dos egípcios, mas que possuía o requinte da irrigação e drenagem de seus vários planos, o que era notável para a época. Infelizmente não há vestígios de sua existência. A estátua de Zeus, no santuário de Olímpia, na Grécia, construída pelo escultor Fídias, evidentemente não era um edifício, mas ratifica a característica dos antigos de associar a arquitetura e a escultura quase como a mesma arte. Certamente pelo fato de esculturas dessa envergadura reclamarem uma estrutura robusta para sua sustentação. O Templo de Artêmis, em Éfeso, na Grécia, construído pelo arquiteto Quersifrão, e seu filho Metágenes, foi o maior templo da antiguidade. Sofreu várias reformas, e foi completamente destruído em 269 pelos godos. 107 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O Mausoléu de Halicarnasso, ou Mausoléu de Mausolo, foi construído na cidade de Halicarnasso na atual Turquia. Foi erguido para receber os despojos do rei Mausolo, de onde derivou o nome que hoje utilizamos para designar túmulos. Era um edifício de 45 metros de altura com as fachadas ricamente decoradas por relevos. Foi destruído por um terremoto, e sua base utilizada pelos Cavaleiros Hospitalatários em 1494 para a construção de uma fortificação. O Colosso de Rodes. Novamente uma estátua, de proporções gigantescas, integra a lista das 7 Maravilhas do Mundo Antigo. Foi erguida em homenagem a Helios, a divindade que representava o Sol na mitologia grega. Foi completamente destruída por um terremoto em 226 a.C. O Farol de Alexandria tinha entre 120 e 137 metros de altura. Durante muitos séculos foi a estrutura mais alta do mundo. Foi danificado por 3 terremotos entre 956 e 1323, restando apenas suas ruínas como lembrança. A última pedra do edifício original foi retirada e utilizada em 1480 para construção da cidadela de Qaitbay. 108 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A TORRE DE BABEL AS PIRÂMIDES DO EGITO A Grande Pirâmide, ou Pirâmide de Quéops, é a única das 7 Maravilhas do Mundo Antigo que resistiu aos séculos e permanece desafiando nosso entendimento até nossos dias. Sua importância é tão relevante que abordarei alguns de sus aspectos separadamente mais à frente. A Torre de Babel não é uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo, mas é a primeira construção mítica da tradição judaico-cristã, e representa o domínio das técnicas de construção pela civilização pós-diluviana. De acordo com o relato bíblico era um imenso zigurate em formato de parafuso, um tronco cilíndrico em revolução, remetendo ao conceito da espiral que será enunciado por Fibonacci apenas no Renascimento, o que descreve um conhecimento fantástico para a Idade do Bronze. Este mito faz parte da primeira versão da Lenda do Terceiro Grau adotada pela Maçonaria moderna, e guarda estreita relação com o Rito Adonhiramita, afinal, durante muito tempo fomos chamados de Cavaleiros Noaquitas, mas isso será melhor abordado nos Graus Filosóficos. Segundo alguns autores maçônicos, a dispersão das línguas da narrativa bíblica na verdade representa a expansão da arte de construir pelos quatro cantos do planeta e em todas as nações, através da dispersão dos pedreiros durante a construção. Teria nascido aí a Maçonaria. As pirâmides do Egito encontram-se em Gizé, no Vale dos Reis, e a principal construção é a pirâmide de Kuphu, Queóps para os gregos, o maior dos edifícios, também chamado de Grande Pirâmide. Formavam um conjunto de três edificações distintas, Quéops, Quéfren e Miquerinos. 109 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O TEMPLO DE LUXOR O TEMPLO DE SALOMÃO É a mais notável das construções do mundo antigo, e utilizou técnicas de construção ainda enigmáticas para nós. O material predominante era a pedra, que era milimetricamente talhada e encaixada, chegando a pesar cerca de uma tonelada cada uma. Possuía medidas relacionadas à Terra e algumas constelações com notável exatidão. Suas proporções foram objeto de estudo de muitos matemáticos e filósofos gregos, dentre eles Pitágoras de Samos. Segundo alguns autores não era um túmulo, mas um centro de Iniciação aos Mistérios de Ísis. Permanece de pé até nossos dias, desafiando nossa inteligência. O Templo de Luxor, no Egito, também conhecido como Templo de Karnac. Sua construção foi iniciada pelo faraó Amenhotep III, e foi dedicado ao deus Amon, que era associado ao Sol, originando a divindade Amon-Rá. Possui em sua decoração um simbolismo fantástico gravado nas pedras. Supõe-se que a adoção do conceito estético de colunas em espaços ritmados tenha surgido aí, e após isso copiado pelos gregos. Alguns autores defendem que as dimensões do Tabernáculo do Deserto tenham sido inspiradas nele, e outros afirmam que o Pavimento Mosaico de nossos Templos atuais também se originou aí. Suas ruínas ainda existem. O Templo de Jerusalém, erguido por Salomão, também não é uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo, é uma construção mítica. De acordo com a narrativa bíblica foi uma evolução do Tabernáculo do Deserto. Passou a se constituir na base da Doutrina Maçônica após a adoção como versão definitiva da Lenda do Terceiro Grau, por volta de 1730. Sua construção é descrita no primeiro Livro dos Reis, e segundo Livro das Crônicas, da tradição judaico-cristã. 110 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS GRANDES ARQUITETOS MÍTICOS VITRÚVIO Fictícia ou não, é a obra mais importante dos hebreus, apesar de ter sido edificada pelos construtores fenícios. O Templo de Jerusalém foi erguido no reinado de Salomão, foi destruído por Nabucodonosor, e reconstruído por Zorobabel após o retorno do Cativeiro da Babilônia. Foi reformado, ampliado e redecorado por Herodes, o Grande, e totalmente destruído no ano 70 pelos romanos durante o Cerco de Jerusalém. Não existe comprovação arqueológica da existência do primeiro templo erguido por Salomão, alguns supõem que o Muro das Lamentações corresponda à base original. Ao longo dos tempos a História registrou alguns arquitetos míticos, que influenciaram como arquétipos as sociedades posteriores e igualmente as Escolas de Mistério, dentre elas a Maçonaria. Dentre os principais destaco: Phaleg, da tradição judaico-cristã. É um arquiteto mítico, que teria sido o construtor da Torre de Babel. Imhotep, do Egito, que também era médico, goza da possibilidade de ter realmente existido, atribui-se a ele a construção da Pirâmide de Saqqara, túmulo do faraó Djoser. Dédalo, da Grécia. É um arquiteto mítico, que teria sido o construtor do labirinto de Minos, da lenda de Perseu e o Minotauro. Adonhiram, hebreu. Arquiteto mítico, que teria sido o construtor doTemplo de Jerusalém. A maioria dos Ritos identifica o arquiteto do Templo de Salomão como Hiram Abiff. Vitrúvio, de Roma. Comprovadamente existiu, e foi o codificador da arquitetura moderna. Marcus Vitruvius Pollio, ou simplesmente Vitrúvio, foi um arquiteto que viveu em Roma, no século I. É considerado o pai da arquitetura moderna, e foi o autor da obra intitulada De Architectura, em 10 volumes, que se tornou referência para o que se chama de arquitetura clássica. Foi ele quem classificou as cinco Ordens de Arquitetura de interesse da Doutrina Maçônica. Estabeleceu três princípios básicos para os edifícios, Venustas, Firmitas, Utilitas, Beleza, Firmeza e Utilidade. 111 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O COLEGIA FABRORUM AS GUILDAS MEDIEVAIS DE PEDREIROS Há uma corporação de construtores da antiguidade que frequentemente é mencionada na literatura maçônica, trata-se do Colegia Fabrorum, que existiu em Roma, aproximadamente de 500 a.C. ao ano 400 de nossa Era. Foi instituído no período de expansão do Império Romano, e era uma fantástica fábrica itinerante de construir, que acompanhava as legiões romanas nos territórios conquistados e restauravam os prédios destruídos nas batalhas. Tinham o urbanismo como principal foco, eram, como disse, reconstrutores das cidades destruídas pelas legiões romanas. Apesar de existir correntes que defendam a origem de nosso Patrono, São João Batista, a eles, na verdade eram politeístas, e adoravam os deuses romanos. Alguns autores os consideram a origem das guildas medievais de pedreiros, outros apontam o balandrau como originário desta associação. O que se sabe de verdade, é que o estilo românico de arquitetura, amplamente utilizado nas igrejas medievais, e que antecedeu o gótico, originou-se deles. As guildas medievais de pedreiros existiram por toda a Europa, e não apenas na Inglaterra como a literatura maçônica por vezes sugere. Na Inglaterra elas se organizaram como sindicatos primitivos. Eram protecionistas e corporativistas, defendiam a prática da arte de construir apenas por artesãos habilitados, a quem transmitiam as técnicas em segredo, para manter a hegemonia. 112 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A REVOLUÇÃO CULTURAL NA ALEMANHA O ESTILO GÓTICO DE ARQUITETURA Eram uma escola de arquitetura primitiva, mas apesar disso, os pedreiros eram na maioria analfabetos. Mesmo assim possuíam conhecimento de matemática, desenho, física e geometria notável para a época, e literalmente acima da média. Em seu declínio, permitiram o ingresso de estranhos à profissão, dando origem ao período especulativo, os chamados maçons aceitos, cujo modelo institucional foi adotado pela Maçonaria moderna. Se deixarmos um pouco de lado as ilhas britânicas e olharmos para o outro lado da Europa, e particularmente acho que nós, Adonhiramitas, deveríamos fazer esse exercício com mais frequência, veremos as raízes de vários conceitos adotados pela Maçonaria moderna florescerem no território da atual Alemanha. E como isso se deu? O Império Romano entrou em declínio. Os povos germânicos primeiro atacam Roma, depois, dão sustentação ao Império Romano Ocidental dando origem às nações medievais da Europa. Surgem lá as Ordens de Cavalaria, no século VI, posteriormente encampadas pela Igreja Romana. Nasce o estilo gótico de arquitetura em meados do século XII, que foi justamente o estilo de construção que notabilizou as corporações medievais de pedreiros. Surge a imprensa, em 1430, através da invenção dos caracteres móveis por Johannes Gutenberg. É lá que se dá o movimento de Reforma Religiosa, em 1517, através de Martinho Lutero. Embora alguns autores defendam o contrário, e desqualifiquem sua influência, queiram ou não, Frederico II da Prússia desempenhou papel importante na Maçonaria. É lá também que se dá o início da revolução na música, por intermédio de Beethoven, Brahms, Bach e outros. O próprio movimento Iluminista, que vai influenciar a Maçonaria francesa mais à frente, ganha força e prestígio na Alemanha através de Immanuel Kant. Alguns autores assumem a denominação gótico como derivada do verbete godos, que designava os povos germânicos, outros a associam ao termo designativo de Deus em alemão, Gott. Sou partidário da segunda corrente, realmente entendo o estilo gótico como um estilo divino. O estilo gótico revolucionou a arquitetura medieval. As construções ganharam altura e um contraste fenomenal de luz e sombras, através dos grandes vitrais. As colunas se 113 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CATEDRAL DE COLÔNIA OS PRIMEIROS TEMPLOS DA MAÇONARIA OS PAINÉIS DOS GRAUS tornaram mais esbeltas, dando a sensação de leveza e elevação aos céus. As catedrais góticas simbolizavam a pequenez do homem diante da grandiosidade de Deus e do Universo. Este estilo de arquitetura trouxe de volta a gravação de símbolos na pedra, a exemplo dos egípcios. Como disse anteriormente, foi o estilo que notabilizou as associações de pedreiros medievais. A Catedral de Colônia, na Alemanha, foi um marco do estilo gótico europeu. Foi iniciada em 1248, e levou 600 anos para ser concluída. Oscar Argolo, na obra Os Segredos da Maçonaria, afirma que um ritual que chamou de Primitivo do Egito, era praticado pelos maçons operativos desta construção, e que este ritual seria a base do Rito Adonhiramita, que afirma ser praticado desde 1617, com 7 Graus. Como sabemos, as primeiras Lojas maçônicas se reuniam em tabernas, pátios de igrejas e locais improvisados, não havia Templos. Como o espaço das reuniões era montado e desmontado, era necessário que os maçons se dispusessem a fazê-lo, e parece ter surgido daí a inspiração para o cargo de Arquiteto nas Lojas modernas, como montadores, construtores simbólicos dos Templos. Os Templos surgiram mais tarde, com a evolução dos rituais e organização das Lojas, e foram baseados na organização espacial do parlamento britânico, e não no Templo de Salomão, cujas proporções contidas em nossos rituais e instruções devem ser entendidas apenas como simbólicas. Como vimos e sabemos, as Lojas do início do século XVIII eram montadas e desmontadas. 114 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O ARQUITETO NA MAÇONARIA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA Os Painéis dos Graus eram desenhados no chão, antes o início das reuniões, e depois diligentemente apagados para não deixar vestígios. Todos os símbolos de cada Grau deviam estar representados neste desenho, e deveriam ser reconhecidos pelos maçons, o que nos faz supor que o maçom responsável pela sua feitura devia ser um bom desenhista. Este Painel primitivo era cercado por um cordão, justamente para evitar o pisoteio sobre ele, o que mais tarde se transformou na Corda de 81 Nós nos Ritos de origem francesa. Já o espaço reservado no chão para o desenho do Painel do Grau, passou a ser ocupado pelo Pavimento Mosaico nos Templos físicos. O Painel do Grau, por sua vez, passou a ser representado primeiro por tapetes, e depois por um quadro emoldurado, tal qual o conhecemos atualmente. Como vimos, o Mestre que desenhava o Painel do Grau, e organizava a decoração do espaço nas primeiras Lojas do século XVIII, muito provavelmente inspirou, em ocasião posterior é claro, o cargo que foi denominado de Arquiteto nas Lojas atuais. Este Mestre devia ter habilidade para desenhar, e igualmente, noção de proporção, além do que, montava e desmontava a Oficina, e a Loja só passava a existir após sua atuação, ou seja, simbolicamente o trabalho de um arquiteto, embora todos os MestresMaçons também o sejam. Não se sabe ao certo quando e onde foi inserido como cargo nos rituais, mas muito provavelmente isso ocorreu na França. A primeira menção explícita nos rituais Adonhiramitas só ocorreu em 1963, no ritual do Grau de Aprendiz publicado pelo Grande Oriente do Brasil. Mas é importantíssimo ressaltar que o Arquiteto das Lojas Adonhiramitas não simboliza ou representa Adonhiram. Na representação da Árvore da Vida, o Arquiteto não está associado a nenhuma das emanações das sefirotes. 115 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A ASTRONOMIA POSIÇÃO NA PROCISSÃO No entanto, vemos que geograficamente no espaço do Templo, o Arquiteto se localiza entre a emanação de Hod, a mente individual, a lógica e a razão, e de Malkuth, o Plano Material, no caminho que percorre, e que ambas emanações estão diretamente associadas a Yesod, a base ou fundamento. Parece razoável. Se observarmos a Abóbada Celeste de nossos Templos, veremos que o Arquiteto está localizado na proximidade da projeção de Regulus, estrela da constelação de Leão. Regulus era considerada pelos antigos persas como a Estrela Rainha. Já os romanos a chamavam de Coração do Leão. Regulus é uma das quatro estrelas consideradas guardiãs dos Pontos Cardeais pelos antigos persas. É a guardiã do Norte. Simboliza criatividade, liderança e sucesso, sem dúvida atributos presentes nas atribuições do Arquiteto. Na formação do cortejo de entrada, no Átrio, o Arquiteto posiciona-se na fileira correspondente à Coluna do Norte, na frente do Bibliotecário. É o primeiro Oficial da Coluna. 116 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NO TEMPLO ATRIBUIÇÕES No interior do Templo, o Arquiteto tem assento na base da Coluna do Norte, próximo do 2° Vigilante. O cargo de Arquiteto é preenchido através de indicação direta do Venerável Mestre, sem a necessidade de eleição. É um Oficial, e não uma Dignidade. Possui um assento, como vimos, em local definido no Templo, e não em uma mesa ou altar. Não há regulamentação para o cargo no Regulamento Geral da Federação. Suas funções e atribuições são estabelecidas nos rituais. Porém, em relação à Loja, possui funções ritualísticas e administrativas, que poderão ser estabelecidas no Regimento Interno da Oficina. 117 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS POSTURA A JOIA O Mestre que aspira desempenhar as funções de Arquiteto deve possuir compromisso e dedicação. Deve ter disponibilidade de tempo, pois já que montará e desmontará a Loja, deve ser o primeiro a chegar no Templo e o último a sair. Deve ter responsabilidade e bastante atenção, notadamente para verificar as condições de uso dos materiais litúrgicos, estoque de carvão, incenso, etc. Apesar da denominação do cargo, não é necessário e nem determinante que o Mestre possua formação em arquitetura. Mas se há um obreiro com habilidade em design, e criatividade, a atribuição de criar e formatar os símbolos e documentos oficiais da Loja deve ser do Arquiteto por razões tanto práticas quanto simbólicas. O Arquiteto obrigatoriamente usa espada nas sessões. Assim como todos os maçons Adonhiramitas, circula no Templo executando o traçado do símbolo matemático do infinito, a lemniscata de Bernouli, representando o trânsito aparente do Sol no firmamento, no fenômeno denominado analema. E deve se movimentar com elegância e circunspecção. Ocupa, como vimos, um assento no Ocidente, na base da Coluna do Norte, ao lado do Altar do 2° Vigilante. Deve estar sempre atento à queima das velas, e informar ao Mestre de Cerimônias sobre a necessidade de substituição ou revigoramento se necessário. Usa o verbo quando a palavra está na Coluna do Norte, de seu lugar, de Pé e à Ordem. A Joia do Arquiteto de uma trolha, termo derivado do latim trulia, que significa colher de pedreiro. 118 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS E ADMINISTRATIVAS REVIGORAMENTO DA CHAMA SAGRADA A trolha, ou colher de pedreiro, está diretamente relacionada ao período operativo da Maçonaria. A Joia simboliza a habilidade de fabricação e manuseio da argamassa de ligação das pedras que serão utilizadas nas construções. Nas guildas de pedreiros medievais, só os artesãos que possuíam conhecimento sobre a liga da argamassa eram admitidos, os que não sabiam eram denominados cowans em inglês, de onde se derivou a expressão brasileira goteira para designar intrusos. A trolha não serve para aparar arestas, alisar paredes, ou eliminar imperfeições nas superfícies. A ferramenta que se dispõe a este papel na construção civil chama-se desempenadeira. A trolha, ou colher de pedreiro, serve para misturar a massa e transportá-la para a superfície na qual será aplicada. Foi a interpretação equivocada da função desta ferramenta que originou a alteração do termo Trolhamento para Telhamento em nossos rituais. O Arquiteto participa do Revigoramento e do Adormecimento da Chama Sagrada ou Fogo Eterno. Eventualmente forma o Pálio para Abertura e Fechamento do Livro da Lei, mas não é obrigatória sua participação. Cuida da montagem e desmontagem do Templo, executando a distribuição e colocação de Joias, espadas, materiais ritualísticos e litúrgicos, equipamento de som, bandeiras e estandarte, etc., em seus respectivos lugares para o início das sessões. O Arquiteto também é o responsável pela conservação e manutenção do Templo, notadamente nas Oficinas que possuem Templo próprio. Cabe ao Arquiteto o controle do estoque dos materiais ritualísticos e litúrgicos, cuidando para que nada falte para a realização das sessões. Cabe a ele, igualmente, a conservação e manutenção dos materiais ritualísticos e litúrgicos da Oficina. A etapa de Revigoramento da Chama Sagrada é executada antes dos obreiros ingressarem no Templo. Permanecem em seu interior o Cobridor Interno, o Arquiteto, o 2° Experto e o Mestre de Cerimônias. 119 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ADORMECIMENTO DA CHAMA SAGRADA Esses Oficiais representam o Quaternário, os Quatro Elementos, os Quatro Pontos Cardeais. Todos devem estar munidos de espadas, mas trazê-las embainhadas, luvas e chapéus. Devem se dirigir ao Oriente sem formalidades, porque a Loja ainda não foi aberta, ou seja, não há circulação ritualística nem a execução de Sinais. O Cobridor Interno guarda a porta do Templo, de Pé, e em Sinal de Guarda, o 2° Experto posiciona-se à sudeste, próximo ao Altar dos Perfumes, o Mestre de Cerimônias fica ao centro, no eixo e em frente ao Altar dos Juramentos, e o Arquiteto à nordeste. O 2° Experto pega o acendedor no Altar dos Perfumes e o acende, utilizando fósforos ou equipamento similar. Repassa-o ao Mestre de Cerimônias, que por sua vez irá entrega-lo ao Arquiteto. O Arquiteto pega o acendedor, levanta-o à altura dos olhos, declama a prece constante do ritual, e revigora a Chama Sagrada ou Fogo Eterno. Após isso, repassa o acendedor ao Mestre de Cerimônias e este o entrega ao 2° Experto, que irá apaga-lo com o abafador e instrui-lo no Altar dos Perfumes. Esta formação traça o desenho imaginário de um triângulo, com o vértice voltado para baixo, representando o Plano Material, que superposto ao triângulo do Altar dos Juramentos, com o vértice voltado para cima, representando o Plano Espiritual, forma a figura do Hexagrama, Estrela de Davi, ou Signo de Salomão, de grande significado na Doutrina Maçônica. Se expandirmos este diagrama até a posição do CobridorInterno, veremos traçada uma das representações do enxofre utilizadas pelos alquimistas. Não posso afirmar que esta foi a intenção dos ritualistas, mas a semelhança parece muito evidente para tratar-se de simples coincidência. A etapa de Adormecimento da Chama Sagrada, ou Fogo Eterno, ocorre após o encerramento dos trabalhos, e novamente com todos os Irmãos fora do templo, à exceção daqueles que realizaram o Revigoramento. 120 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A liturgia é a mesma, apenas em sentido inverso, ou seja, ao invés do acendedor, o que será repassado ao Arquiteto será o abafador, que será igualmente elevado à altura dos seus olhos, e nesta posição ele fará a prece constante dos rituais. Após esta etapa o Templo está desfeito, e não há mais circulação ritualística nem Sinais. 121 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O QUE É HARMONIA? ETIMOLOGIA CONCEITO O MESTRE DE HARMONIA É importante sabermos o que vem a ser harmonia, para que então possamos falar sobre seu uso na Maçonaria. Harmonia pode ser definida como a combinação de elementos ligados por uma relação de pertinência, que produz uma sensação agradável e de prazer. Também pode ser entendida como a disposição bem ordenada entre as partes de um todo. Ainda traduz a ideia de ausência de conflitos, da paz e da concórdia entre as pessoas. E por fim, como a consonância ou sucessão agradável de sons. A palavra harmonia é de origem grega, vindo de αρμονία, ou seja, “armonía”, tendo o significado de concordância, consonância. Harmonia também era o atributo que os gregos davam à deusa Sêmele, mãe de Dionísio. Harmonia é a sintonia existente entre os diversos elementos que podem compor uma obra artística, um grupo social, um estado de espírito. Os sinônimos de harmonia são equilíbrio, concórdia, ordem, entendimento, acordo, conciliação. O conceito de harmonia também é atribuído a um grupo de pessoas que tem um objetivo comum, trabalhando em equipe para atingir a meta, ou ainda, com referência a um casal que consegue viver sem brigas, em clima harmônico, de boa convivência. Harmonia refere-se, principalmente, a um sentido de prazer entre as pessoas, ou mesmo à concordância de opiniões ou sentimentos. 122 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A HARMONIA MUSICAL Um elemento harmônico num conjunto tanto pode ser um objeto que está em consonância com outros, quanto uma pessoa em paz com o grupo social em que vive. A harmonia, enfim, reflete exatamente a forma equilibrada que existe em tudo que podemos apreciar como belo. A música é um dos principais elementos da nossa cultura. Há indícios de que desde a pré-história já se produzia música, provavelmente como consequência da observação dos sons da natureza. São de cerca do ano de 60.000 a.C. os vestígios de uma flauta de osso, e de 3.000 a.C. a presença de liras e harpas na Mesopotâmia. No panteão grego, por exemplo, Apolo é a divindade que rege as artes. Por isso vemos várias representações suas, nas quais ele porta uma lira. Vale lembrar, que na Grécia antiga, apenas a música e a poesia eram consideradas manifestações artísticas, da maneira como as compreendemos atualmente. Música é uma palavra de origem grega. Vem de musiké téchne, a arte das musas, e se constitui, basicamente, de uma sucessão de sons entremeados por curtos períodos de silêncio, organizada ao longo de um determinado tempo. Assim, é uma combinação de elementos sonoros que são percebidos pela audição. Isso inclui variações nas características do som, tais como duração, altura, intensidade e timbre, que podem ocorrer em diferentes ritmos, melodias ou harmonias. Em música, a duração de um som está relacionada ao tempo, mas não como ele é medido, por exemplo, em um relógio. A relação entre o tempo de duração das notas musicais e o tempo das pausas cria o ritmo. Altura é a forma como o ouvido humano percebe a frequência dos sons. As baixas frequências são percebidas como sons graves e as mais altas como sons agudos, ou tons graves e tons agudos. Tom é a altura de um som na escala geral dos sons. Intensidade é a percepção da amplitude da onda sonora. Também é chamada frequentemente de volume ou pressão sonora. O timbre nos permite distinguir se sons de mesma frequência foram produzidos por instrumentos diferentes. Por exemplo, quando ouvimos uma nota tocada por um saxofone, e depois a mesma nota, com a mesma altura, produzida por um trompete, podemos imediatamente identificar os dois sons como tendo a mesma frequência, mas com características sonoras muito distintas. A História da música é muito antiga, visto que desde os primórdios os homens produziam diversas formas de sonoridade. Lembre-se, portanto, que a música é um tipo de arte que trabalha com a harmonia entre os sons, o ritmo, a melodia, a voz. Todos esses elementos são importantes e podem nos transportar para outro tempo e espaço, resgatar memórias e reacender emoções. 123 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS VERSOS E AS NOTAS MUSICAIS A IMPORTÂNCIA DO SOM ORIGEM DAS NOTAS MUSICAIS Vale ressaltar, por relevante, que os nomes das sete notas musicais foram criados pelo monge italiano Guido d´Arezzo, mestre do coro da Catedral d´Arezzo, na Toscana (Itália), por volta de 1030, que utilizou as primeiras sílabas dos versos latinos, de um hino escrito em honra de São João Batista. UT QUEANT LAXIS (Para que possam) RESONARE FIBRIS (ressoar as) MIRA GESTORUM (maravilhas dos teus feitos) FAMULI TUORUM (com largos cantos) SOLVE POLLUTI (apaga os erros) LABII REATUM (dos lábios manchados) SANTE IOANNES. (Ó São João) A nota SI é formada pelas iniciais de SANCTE IOANNES. A sílaba sol chegou a ser mais tarde encurtada para “SO”, para uniformizar todas as sílabas de modo a terminarem todas por uma vogal, mas a mudança logo foi revertida. “NO PRINCÍPIO ERA O VERBO, E O VERBO ESTAVA COM DEUS, E O VERBO ERA DEUS”. Evangelho de João Segundo as mais antigas Escolas Esotéricas ou Colégios Iniciáticos, o Universo teria sido formado a partir da Vibração do Som da Voz da Inteligência Criadora. As antigas Tradições do leste, do Oriente Médio e do Oeste concordam nesse ponto. 124 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA UM POUCO DA HISTÓRIA DA MÚSICA A MÚSICA ATRAVÉS DOS TEMPOS Observamos que, a Luz não foi a primeira manifestação da Criação. Por isso, os antigos dão tanta importância ao som em si, preocupando-se extremamente em construir e desenvolver da melhor maneira as suas melodias. A história da música começa milhares de anos atrás, na pré-história. As primeiras formas de música poderiam ter surgido na Idade da Pedra, cerca de 3 milhões de anos atrás. Este é o momento em que os humanos fizeram uso da pedra para criar ferramentas. Um dos instrumentos musicais mais antigos descobertos é a flauta Divje Babe, que remonta a aproximadamente 43.000 anos. Foi encontrado na Eslovênia em 1995, e é um osso do fêmur de urso com duas perfurações circulares. Estima-se que o idioma tenha aparecido cerca de 50.000 a 150.000 anos atrás, vários milhares de anos após a origem da espécie Homo Sapiens, cerca de 300.000 anos atrás. É possível que as primeiras formas de linguagem tenham levado às primeiras formas de música vocal. Nas civilizações antigas, a música era associada a fontes de inspiração religiosa e cultural. A civilização egípcia tinha múltiplas associações com a música.No período neolítico egípcio, a música era usada em rituais e magia. A música mais antiga foi escrita em cuneiforme cerca de 3400 anos atrás, em Ugarit, na Síria. Os gregos relacionavam a música com a religião e a mitologia. A avaliação de certos instrumentos foi dada por sua origem nos mitos. Por exemplo, a lira, era um instrumento criado por Hermes; a flauta, conhecida como aulos, por Athena; e a seringa, criada por Pan. 125 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA Dentro da civilização grega, a música fazia parte de festivais, cerimônias religiosas, casamentos, jogos, funerais e banquetes, conhecidos como simpósios. A música também recebeu poderes terapêuticos contra o desconforto físico e mental. Foi alegado que ela poderia influenciar qualquer um que a ouvisse moralmente e em sua alma. Em Roma antiga, no período de 27 a.C. a 305 d.C., a música fazia parte de diferentes atividades dentro de sua cultura. Foi ouvida em jogos, eventos religiosos, funerais e outras festividades. A Idade Média varia do século V, com a queda do Império Romano, ao século XV, com a descoberta da América. Um dos aspectos mais relevantes para a música nesse período foi a grande influência da Igreja Católica, que liderava muitas dimensões na sociedade europeia. A música na Idade Média era caracterizada pela monofonia, isto é, o canto e a música seguiam uma única linha melódica. Este período pode ter durado até o século XII. Mais tarde, a polifonia seria desenvolvida, abrindo caminho para harmonia, expansão do ritmo e complexidade do som. Uma das canções monofônicas mais reconhecidas que foram mantidas vivas ao longo do tempo são os cantos gregorianos, intimamente relacionados à tradição da igreja. Durante o período renascentista, entre os séculos XV e XVI, foram geradas novas formas de composição e mais diversidade de estilos musicais. Muitas das músicas tocadas durante esse período continuaram a servir à religião, continuando os estilos conhecidos como massa e motete, que se desenvolveram no final do século XIV. A música do período barroco, que vai de 1600 a 1750, foi caracterizada pelo tom de grandeza, drama e energia contidos nas composições, que também faziam parte de uma grande variedade de estilos. Na era da música clássica, a música instrumental começou a ganhar força, com formas como a sinfonia, o concerto ou a sonata. Entre os músicos mais destacados desse período estão Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart, Christoph Willibald Gluck e Ludwig van Beethoven, em seus anos de juventude. No romantismo, a partir do século XIX, a música se tornou uma forma de expressão ligada ao emocional e ao dramático. Entre os meios de comunicação mais dominantes estão ópera, orquestra, piano e canto com acompanhamento de piano. Entre os compositores mais destacados do romantismo estão Robert Schumann, Frédéric Chopin, Vincenzo Bellini Hector Berlioz, Johann Strauss II, Pyotr I. Tchaikovsky, Giuseppe Verdi, Richard Strauss, Giacomo Puccini e Jean Sibelius. Muito do que determinou o desenvolvimento da música moderna, do século XX até os dias atuais, foi o trabalho de Arnold Schoenberg e Igor Stravinsky. Posteriormente, os avanços no nível eletrônico ao longo do século XX promoveram o desenvolvimento de dispositivos como rádio, mídia gravadora, amplificadores e instrumentos musicais em versões eletrônicas, que produziram um aumento acelerado da produção musical, sua difusão e nascimento de novos gêneros. Nos primórdios da música de hoje, o jazz pode ser mencionado na década de 1920. Os instrumentos de percussão começaram a ser mais relevantes. Mais tarde, surgiriam mais estilos como swing, bebop, rock. Mas fica aqui o registro que em 27 de novembro de 1916 foi registrado o primeiro samba cujo título era “Pelo Telefone” de autoria de Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga, que mais tarde incluiu como parceiro o Jornalista Mauro de Almeida. 126 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O EFEITO DA MÚSICA NO HOMEM A MÚSICA NA MAÇONARIA A música, que é um modelo físico de energia manifesto no mundo exterior. Demonstra certos padrões espirituais de energia, normalmente só acessíveis por percepções internas altamente desenvolvidas. A música, como uma mensagem sonora, deve penetrar nos sentidos do ouvinte, causando-lhe sensações das mais variadas, alegria, tristeza, exaltação, depressão, agrado, euforia, relaxamento, etc. Se um compositor, pela força de sua música, consegue atuar sobre o ouvinte, com as sensações correndo em sua mente, então ele alcança o seu objetivo. Cada um de nós responde de maneira diferente a uma certa obra artística. Essa resposta depende de milhares de fatores condicionados à enorme quantidade de individualidade que possuímos. O uso da música nos rituais maçônicos tem como objetivo unificar o ser exterior com o ser interior. Produz-se, com esta prática, um tipo de meditação sonora. Segundo os mais antigos Colégios Iniciáticos, o Universo teria sido criado a partir da vibração do som, sendo a harmonia o elemento equilibrante. A música faz parte dos trabalhos maçônicos, e o bom rendimento das sessões ritualísticas tem imensa contribuição das funções desempenhadas pelo Mestre de Harmonia. Nas Lojas Maçônicas da Europa do século XVII, a harmonia musical era constituída por conjuntos de sopro formados basicamente por clarinetas, trompas, fagotes e corni de basetto. Quase sempre possuíam cravos ou pianos e contavam com a participação de cantores amadores ou profissionais. Tão grande era o interesse dispensado à harmonia musical, que muitas Lojas organizavam e editavam hinários e cancioneiros maçônicos para execução durante as sessões. A música é uma das Sete Artes Liberais. Tem o dom de preparar o ambiente para a meditação, e para o culto espiritual. Não só acalma, ameniza, conforta, como pode curar certos tipos nervosos e ajudar na cura de processos orgânicos. Esotericamente, os sons penetram de tal forma no íntimo dos seres humanos que lhes dão harmonia e paz. Em 127 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INCLUSÃO NOS RITUAIS ATRIBUIÇÕES função do ritmo, da melodia e da mensagem, o inverso é possível, ou seja, a desestabilização emocional, a afloração de sentimentos menos nobres. A música utilizada tem que ser analisada em razão da mensagem que se pretende transmitir. Ela deve causar sensações de paz e tranquilidade, e propiciar um estado de consciência espiritualmente puro a todos os Amados Irmãos que adentrarem ao Templo. O Mestre de Harmonia, programando músicas cantadas ou de ritmo não condizente com as sessões, simplesmente porque se identifica com essas peças, e as acha bonitas, notoriamente não estará contribuindo para a harmonia da sessão, e a formação da concentração necessária, pois induz sentimentos outros que levam os Irmãos a fazerem imagens mentais que os tirem da manutenção da egrégora pelo efeito dos sons e do ritmo. Por esse motivo, as músicas devem ser de caráter neutro, pois a melodia maçônica deve ser aquela que induza o Irmão a uma introspecção, a uma comunhão com seu Eu Interior, e com o Cosmo, e não propiciando o desvio dos pensamentos para ambientes externos nos quais, costumeiramente aquela melodia é ouvida. A Música, por existir desde os primórdios dos tempos, certamente também esteve presente na Maçonaria Operativa. Depois, já na Maçonaria Especulativa, o gosto pela música nas Lojas Maçônicas se desenvolveu ainda mais e tomou rumos de grandes participações. Talvez, devido a parte litúrgica que é executada em nossas sessões, os músicos que ingressaram na Ordem, como Mozart, Liszt, Beethoven, Haydn, Sibelius, e outros, não resistiram e compuseram obras diversas e maravilhosas. O cargo de Mestre de Harmonia foi incluído nassessões maçônicas a partir do ano de 1969, conforme Ritual do 1º Grau, Aprendiz Maçom, do Rito Adonhiramita. Publicado pelo Grande Oriente do Brasil. O seu posicionamento em Loja era atrás do 2º Vigilante, ficando entre este, e o Cobridor Interno. Mais tarde, esse posicionamento mudou como veremos mais à frente. De acordo com o Regulamento Geral da Federação, em seu capítulo X, “DA ADMINISTRAÇÃO”, SEÇÃO VII, “Dos Oficiais”, no art. 106, “Do Mestre de Harmonia”, compete a ele acompanhar as sessões, desde o seu início, com música orquestrada propicia, e fazer soar, nos momentos oportunos, o Hino Maçônico, o Hino 128 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS A JOIA Nacional Brasileiro e o Hino à Bandeira Nacional, que serão cantados pelos presentes. Ressalte-se que o Hino Nacional só é executado em Sessões Magnas de Iniciação, e o Hino à Bandeira somente em Sessões Magnas. Em Sessões Ordinárias não se executa hino cívico, somente o Hino à Maçonaria. Para o bom desempenho das funções de Mestre de Harmonia, são necessários os seguintes materiais e equipamentos: • Hino Nacional, na íntegra • Hino à Bandeira, primeira e última estrofes • Roteiro musical, ou seja, em qual momento, que tipo de música, qual a duração • Equipamento de som, podendo ser utilizado CD’s, pendrives, ou outras mídias • Ritual para acompanhamento da sessão e da inserção da peça musical O Mestre de Harmonia deve ser zeloso com todos os materiais e quipamentos sob sua guarda. Ser precavido para testar os equipamentos e midias antes do início das sessões. Ser sensível na escolha das peças musicais adequadas para cada momento das sessões. Ser sensível quanto ao volume adequado das peças musicais. Ser atento ao desenvolvimento das sessões, para iniciar a música no momento exato e com duração adequada ao ato. Vale ressaltar que a função do Mestre de Harmonia, embora de grande importância, não é privilégio de nenhum doutor em música. A lira é um instrumento de cordas conhecido pela sua vasta utilização durante a antiguidade. As récitas poéticas dos antigos gregos eram acompanhadas pelo seu som, ainda que o instrumento não tivesse origem helênica. O gênero de instrumento a que pertence a lira teve o seu alvorecer na Ásia, e sua entrada na Grécia, através da Trácia ou da Lídia. A Lira é o símbolo da música. 129 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA PROCISSÃO POSIÇÃO NO TEMPLO Seus registros são tão antigos quanto os da flauta e da ocarina, havendo gravações iconográficas do instrumento na cultura egípcia, mais precisamente na tumba do faraó Ramsés III (1198-1166 a.C.), e em cavernas iraquianas (2900 a.C.). Igualmente há relatos históricos de que o instrumento era encontrado na Babilônia e na Mesopotâmia por volta do ano 500 a.C. e, conforme relatos bíblicos, a harpa, ou lira, bem como a flauta, se faziam presentes na cultura judaica, desde antes do dilúvio (Gênesis 4, 21) “O nome do seu irmão era Jubal, esse foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta”. Sendo instrumentos bastante utilizados nos cerimoniais e festas. Suas cordas eram feitas de tripa ou de tendões de boi ou carneiro. Há quem afirme que os braços primitivos deste instrumento eram feitos com chifres de cabra. O Mestre de Harmonia não se posiciona na Procissão, pois imediatamente após o Revigoramento da Chama Sagrada ele ingressa no Templo, e se posiciona para receber os Amados Irmãos com música própria. O Mestre de Harmonia posiciona-se à sudoeste da Loja. 130 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATUAÇÃO EM LOJA De acordo com o Ritual do Grau 1, publicado pelo Grande Oriente do Brasil, edição 2009, o Mestre de Cerimônias possui as seguintes atribuições ritualísticas: Logo após o Revigoramento da Chama Sagrada, toma seu lugar em Loja para receber os Amados Irmãos com o Hino à Maçonaria. Porém, a execução do Hino à Maçonaria não é prevista em Ritual, trata-se de uma tradição consagrada ao longo dos tempos. Executa música própria, para a Cerimônia da Incensação (pág. 84). Executa música própria, para o Cerimonial do Fogo (pág. 88). Por tradição, executa música própria na formação do Pálio e durante a Abertura do Livro da Lei, o que não é previsto no Ritual. Executa música própria na circulação do Saco de Propostas e Informações (pág. 108). Executa música própria, após o Ingresso de Autoridades e Visitantes (pág. 114). Executa música própria quando do Escrutínio Secreto (pág. 117) Executa música própria na circulação do Tronco de Solidariedade (pág. 121) Por tradição, executa música própria no Fechamento do Livro da Lei, o que não é previsto no Ritual. Por tradição, executa música própria no Adormecimento do Fogo, o que não é previsto no Ritual. Executa música própria no momento da Saída do Templo, caso não haja Cadeia de União ou Corrente Fraternal (pág. 142). 131 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA HINO À MAÇONARIA D. Pedro I, Irmão Guatimozim Da luz que de si difunde Sagrada filosofia! Surgiu no mundo assombrado A pura Maçonaria Estribilho Maçons, alerta! Tende firmeza! Vingai direitos Da natureza! Da razão, parte sublime Sacros cultos merecia Altos heróis adoraram A pura Maçonaria Estribilho Da razão suntuoso Templo Um grande rei erigia, Foi, então, instituída, A pura Maçonaria Estribilho Nobres inventos não morrem, Vencem do tempo a porfia, Há de os séculos afrontar A pura Maçonaria. Estribilho Humanos, sacros direitos, Que calcara a tirania, Vai, ufana, restaurando, A pura Maçonaria Estribilho Da Luz depósito augusto Recatando a hipocrisia, Guarda em si, com zelo santo, A pura Maçonaria Estribilho Cautelosa, esconde e nega À profana gente ímpia, Seus mistérios majestosos, A pura Maçonaria Estribilho Do mundo o Grande Arquiteto Que o mesmo mundo alumia, Propício, protege, ampara A pura Maçonaria. Estribilho 132 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA O ÁGAPE O MESTRE DE BANQUETES A palavra banquete vem do italiano banchete, alguns etimologistas apontam para o francês banquet como origem, porém, em ambas hipóteses, significa o pequeno banco em que os comensais se sentavam para fazer as refeições Com o passar do tempo a expressão passou a designar a própria refeição que era servida. A princípio os banquetes eram qualquer refeição servida, mesmo a mais frugal. Com o passar do tempo a expressão passou a definir refeições fartas. Em Roma, por exemplo, os banquetes se confundem com orgias. A expressão ágape, utilizada para designar banquetes no meio maçônico, foi utilizada inicialmente pelos cristãos, que serviam refeições após as reuniões e missas. O costume foi abolido em 397 sob a alegação da Igreja Romana de que eram cometidos excessos que conflitavam com a doutrina. Na Maçonaria brasileira as refeições servidas após as Sessões são chamadas de Ágapes. Os gregos classificavam o Amor em 10 tipos ou manifestações diferentes, que originaram termos específicos. Nenhum outro idioma possui esta diversidade. O ágape dos gregos se referia ao amor fraternal, incondicional, puro e desprovido de qualquer interesse. Nas epístolas de Paulo de Tarso aos coríntios, é do ágape que ele está falando. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, eu seria como o metal que soa ou o címbalo que retine” (1 Coríntios, 13) Os romanos traduziram o conceito de ágape como caridade, termo que designao último dos degraus de nossos Templos, e na minha opinião dá causa a uma série de equívocos em relação aos propósitos da Maçonaria. 133 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O BANQUETE DE PLATÃO O LIVRO DO GÊNESIS Na minha opinião, a Maçonaria moderna é neoplatônica. Vários de seus elementos doutrinários vêm da filosofia de Platão, mesmo que algumas vezes revivida por algum filósofo moderno. Há um relato de Platão que se denomina “O Banquete”. Nele, o filósofo narra que certa ocasião, na casa de Agatão, outro filósofo grego, Sócrates era o principal convidado para um banquete, e em virtude dos excessos cometidos na festa anterior, Pausânias propôs que ao invés de beber todos falassem sobre o amor. O texto narra o debate travado entre Sócrates, Agatão, Pausânias, Eriximaco e Aristófanes, que diga-se de passagem, deve ter sido algo incomum e magnífico. Nestes escritos, Platão expõe sua doutrina sobre o amor. Recomendo a sua leitura. “Do suor do teu rosto comerás o teu pão” Gênesis 3, 19 Adão e Eva, os pais da humanidade de acordo com a tradição judaico-cristã, foram expulsos dos Jardins do Éden por terem comido do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. “Eritis sicut dii, scientis bonum et malum”, “sereis como deuses, com o conhecimento do bem e do mal”, teria lhes dito a serpente. O casal do Paraíso pode não ter logrado êxito em seu intento, mas o mito demonstra o momento em que o alimento assume o papel de elemento modificador da natureza humana. A narrativa bíblica está associada ao período Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada. Nesse período da História, o homem sai de seu refúgio nas cavernas, para procurar comida e água para seu sustento. O alimento assume a condição de elemento primordial para a sobrevivência da espécie humana, e realmente era uma tarefa árdua, pois os primeiros homens eram extrativistas. Para tanto o homem primitivo utilizava instrumentos rudimentares de caça e pesca, feitos de ossos, galhos de árvores e pedras lascadas. 134 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA PERÍODO NEOLÍTICO A IMAGEM ARQUETÍPICA DA COMIDA Em determinado momento, o homem domina o fogo, ou melhor dizendo, a técnica de provocar chamas e como utilizá-las a seu favor, e a partir daí não para mais de evoluir intelectualmente. Torna-se nômade e extrativista, colhendo apenas o que está a seu redor, e não cultivando ou criando animais. Quando a região que habitava exauria seus recursos, simplesmente se mudava para outro lugar. No período Neolítico, ou Idade da Pedra Polida, o homem desenvolve técnicas de agricultura, a domesticação de animais, e desenvolve instrumentos e ferramentas mais complexos. Torna-se sedentário e gregário, dando origem aos primeiros povoados. Reúne-se ao redor das fogueiras para compartilhar o alimento. São contadas histórias dos ancestrais, ensinadas as técnicas de caça, pesca, agricultura e domesticação de animais. As fogueiras e a comida servida unem os membros das famílias, tribos e clãs. O alimento assume o papel de elemento de aglutinação, de estímulo ao relacionamento grupal e ao espírito de fraternidade. Como arquétipo, podemos vislumbrar os seguintes conceitos associados ao alimento: A primeira manifestação, aquela que vai contribuir substancialmente para a instalação e manutenção da organização social. A chave simbólica para os costumes dos povos, pois através dos hábitos de alimentação somos capazes de deduzir as características dos diversos povos. Os alimentos não são apenas comidos, mas pensados e sentidos, o que lhes empresta a sensação de prazer. A alimentação é um fator fundamental para a sobrevivência, ninguém sobrevive sem ingerir alimentos, é uma função fisiológica do ser humano. 135 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A COMIDA E A DIVINDADE OS BANQUETES MÍTICOS A comida é uma recompensa, o fruto do trabalho. Neste sentido é superveniente à riqueza, é a primeira de nossas necessidades básicas, em suma trabalhamos para comer. Comer é um prazer sensitivo que nos traz a sensação de felicidade. Por outro lado, o excesso de comida, a gula, vai se transformar num dos Sete Pecados Capitais durante a Idade Média, o que vai nos remeter à disciplina e ao autocontrole. Não foi exatamente Deus quem fez o homem à sua imagem, foi o contrário. O primeiro fruto do trabalho do homem foi justamente a comida para seu sustento. Era o que ele tinha de melhor a oferecer. Era lógico, portanto, que oferecesse comida à divindade como sinal de agradecimento. Vemos isso desde o Livro do Gênesis no episódio de Caim e Abel. Os hebreus realizavam sacrifícios e oferendas a IAVEH como demonstração de gratidão ou expiação, desde Abraão até o Templo de Jerusalém. Os egípcios realizavam festivais de cerveja para os deuses. Os romanos faziam festas do vinho em homenagem a Baco. Os celtas faziam oferendas de frutas aos deuses da colheita. As religiões de origem africana fazem oferendas de alimentos aos orixás. O homem presumia que a comida agradava à divindade tanto quanto agradava a ele mesmo. Vemos os banquetes povoarem as narrativas das religiões e da mitologia de todos os povos. No antigo Egito, no mito de Ísis e Osíris, temos o banquete de Osíris. No judaísmo temos a Pessach. No cristianismo a Santa Ceia. E na mitologia nórdica o banquete de Valhala. Vou abordar cada um deles resumidamente. 136 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O BANQUETE DE OSÍRIS A ÚLTIMA CEIA Na mitologia egípcia, Osíris é enganado por Seth, deus das trevas, durante um banquete. Segundo o mito, Seth exibiu uma urna funerária a todos os presentes, e afirmou que a daria de presente ao convidado que tivesse suas medidas coincidentes com ela. Ocorre, no entanto, que se tratava de um ardil, pois a urna tinha sido construída com base nas medidas de Osíris, e assim, só seu corpo caberia nela. Osíris, após experimentar a urna, foi aprisionado é sequestrado, em seguida foi morto e esquartejado, dando origem ao Mito de Ísis e Osíris que era a base doutrinária das antigas Escolas de Mistérios do Egito. Ou seja, Osíris foi enganado em sua boa-fé durante um banquete, onde todos se confraternizavam despreocupadamente, inclusive ele. Isso quer dizer que todos nós ficamos vulneráveis diante da comida. Jesus reuniu seu círculo íntimo de discípulos para uma última refeição antes de sua morte Na verdade, eles celebravam um ritual hebreu relacionado à saída do Egito, a “Passagem”, ou Pessach, que se refere ao patriarca bíblico Moisés. Este ritual ganhou enorme significado no cristianismo, e as refeições ganham o conceito de sacralidade. É comum entre os cristãos abençoar os alimentos e agradecer pela sua obtenção antes de consumi-los. A Eucaristia dos católicos revive este ritual. Surgem na civilização ocidental os conceitos de alimento do corpo e do espírito, e também a virtude do compartilhamento: “Dai de comer aos que tem fome”. (Mateus, 14, 16) 137 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A CEIA DE VALHALA O BANQUETE NAS ESCOLAS DE MISTÉRIO O BANQUETE NA MAÇONARIA OPERATIVA Na mitologia nórdica, Odin resolve dar um banquete para os deuses e reúne 12 deles. Loki, que não havia sido convidado, surge de repente e instiga Hoder, que era cego, a atirar uma flecha que atinge e mata acidentalmente Baldur, um dos deuses mais queridos. Alguns autores defendem a origem da superstição em relação ao número 13 nessa lenda. Origina-se dela também, a crença de quepessoas que aparecem de surpresa nos banquetes, acabam protagonizando algum acontecimento ruim. A partir daí entende-se, disfarçado sobre a regra de etiqueta, que apenas convidados podem participar de banquetes. As Escolas de Mistérios da antiguidade ficavam afastadas dos centros urbanos, o candidato fazia longas e cansativas viagens para chegar. Para restaurar suas forças após as provas, era servido um banquete que também simbolizava uma recompensa pela Iniciação, já que as provas a que era submetido eram físicas também, e não apenas psicodramas como atualmente praticamos. Assim, os banquetes passam a fazer parte dos rituais de Iniciação aos antigos mistérios, costume que vai se estender até nossos dias. Não havia banquetes nas guildas de pedreiros medievais, período que conhecemos como Maçonaria Operativa. Os pedreiros livres viviam nos canteiros das obras. Essa é a origem do termo canteiro em português, que se refere ao profissional que trabalha com pedras, e à expressão lodge no inglês, que deu origem ao termo Lojas na Maçonaria brasileira, se referindo exatamente a estes alojamentos provisórios. Eles faziam suas refeições em conjunto, e em local próximo ao trabalho, num refeitório improvisado. 138 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O BANQUETE NA MAÇONARIA ESPECULATIVA O BANQUETE RITUALÍSTICO Com o passar do tempo, os pedreiros recém iniciados na arte ofereciam refeições aos mais antigos. Esse costume permanece sendo praticado na Lojas modernas. As refeições serviam para irmaná-los. Como sabemos, as quatro Lojas fundadoras da Grande Loja de Londres e Westminster se reuniam em tavernas. Portanto, é legítimo presumirmos que era comum nessa época comerem e beberem após as reuniões. Não havia o cargo de Mestre de Banquetes, mas certamente havia um maçom responsável pela organização das refeições. As Constituições de Anderson, promulgadas em 1723, fazem menção às refeições maçônicas. A partir daí, progressivamente, são estabelecidos padrões de comportamento nos banquetes que identificavam um maçom, como segurar uma taça, por exemplo. Com o passar do tempo, foram criados os Banquetes Ritualísticos, também chamados de Lojas de Mesa, e inseridos nos rituais. No meu entendimento é possível que a execução de música em nossas sessões tenha se originado dos Banquetes Ritualísticos, pois neles havia a execução de hinos e cânticos. 139 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A COMIDA E O RELACIONAMENTO HUMANO A Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, publicada por Guillemain de Saint-Victor, em 1781, contém o ritual para Loja de Mesa. Existe uma ordenação em relação à ocupação da mesa, uma hierarquia de brindes, e vocabulário próprio, como por exemplo: • Pólvora Vermelha = vinho tinto • Pólvora Forte = vinho branco • Pólvora Fraca = água • Pedra Bruta = pão • Materiais = comida • Telhas = pratos • Espadas = facas • Copo = canhão • Garrafa = barrica • Areia = sal, etc. Estas definições são as constantes da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita. A partir da Maçonaria norte-americana, os solstícios são comemorados com um banquete ritualístico, um em homenagem a São João Batista, e outro em honra de São João Evangelista. Algumas Lojas brasileiras também adotam esse costume. As Constituições de Anderson estabelecem a realização de uma festa anual obrigatória, no dia 24 de junho, consagrado a São João Batista, que de modo alternativo pode ser realizada no dia de São João Evangelista, mas não em ambas as datas. No mundo dos negócios, é comum convidarmos clientes para almoçar ou jantar quando pretendemos estabelecer uma relação comercial. Quando se faz o cortejo costuma-se convidar para jantar. Quando comemoramos datas festivas fazemos festas, churrascos, etc. Quando recebemos alguém em nossas casas, nos preocupamos em servir algum alimento ou bebida. As famílias tradicionais reúnem-se diariamente à mesa para as refeições. A comida está associada a um prazer, logo, os relacionamentos se tornam mais intensos quando estamos felizes. Além do que, há o conceito de que compartilhar o alimento é uma atitude nobre. As refeições, mesmo no meio profano, se constituem numa espécie de ritual. 140 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O MESTRE DE BANQUETE NAS LOJAS MODERNAS A CABALA E A ABÓBADA CELESTE A PROCISSÃO Não se sabe exatamente quando o cargo foi inserido nos rituais. No que diz respeito ao Rito Adonhiramita, ele surge explicitamente apenas no século passado, no ritual de 1963, publicado pelo Grande Oriente do Brasil, na seção correspondente à descrição do Templo, onde seu lugar em Loja é determinado. Não há associação do Mestre de Banquetes com nenhuma das sefirotes da Árvore da Vida do Sepher Yetzirah, já que as sefirotes de modo geral referem-se às emanações das posições geográficas das Dignidades e do Cobridor Interno. O Mestre de Banquetes ocupa um assento comum, sem qualquer destaque, na Coluna do Sul, como veremos adiante. Da mesma forma, não há relação astrológica ou astronômica entre a Abóbada Celeste e o cargo de Mestre de Banquetes. Na formação do cortejo de entrada, durante a Procissão, o Mestre de Banquetes posiciona-se na fileira correspondente à Coluna do Sul, após o 2° Experto e antes do Hospitaleiro. 141 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NO TEMPLO ATRIBUIÇÕES No interior do Templo, o Mestre de Banquetes ocupa um assento no topo da Coluna do Sul, na primeira fileira, próximo ao Tesoureiro. O Cargo é preenchido através de indicação direta do Venerável Mestre, não é um cargo eletivo. É um Oficial, e não uma Dignidade. Como vimos, possui assento em local definido na Coluna do Sul, atrás do Tesoureiro, e não ocupa mesa ou altar. 142 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS POSTURA Não há regulamentação para o cargo no Regulamento Geral da Federação nem nos Rituais. Suas funções e atribuições não são normatizadas, dependem da interpretação subjetiva de cada Oficina, e deve ser estabelecida no Regimento Interno da Loja. Não possui funções ritualísticas, apenas administrativas. A exemplo de todo maçom, deve ter compromisso e dedicação. Deve ter disponibilidade de tempo, pois irá desempenhar suas funções fora do horário de funcionamento da Oficina. Deve ter vocação para organizar refeições, e ser capaz de organizá-las. Não é necessário ter formação em gastronomia. Deve conhecer a preferência dos obreiros com relação à comida e bebida para providenciar os insumos necessários para uma refeição aprazível. Deve ter prática em relação à quantidade de comida e bebida a serem servidos em conformidade com o número de participantes. Não deve gastar em demasia na elaboração dos ágapes. A postura do Mestre de Banquetes é comum a todo Mestre Maçom. Ocupa um assento no Ocidente, na Coluna do Sul atrás do Tesoureiro. Usa o verbo de seu lugar, de Pé e à Ordem, quando a palavra está franqueada à Coluna do Sul. 143 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS E ADMINSITRATIVAS FUNÇÕES RITUALÍSTICAS E ADMINISTRATIVAS No Rito Adonhiramita, a Joia do Mestre de Banquetes é no formato de um cálice, ou de uma taça, se preferirmos. Simboliza exatamente os brindes realizados nas Lojas de Mesa. Não há nenhum sentido místico ou esotérico nesta representação. O Mestre de Banquetes não possui função ritualística. Cabe a ele planejar e executar ágapes após as sessões, etambém festas ocasionais, sendo nesses casos o responsável por contratar cozinheiros, garçons e auxiliares de cozinha quando necessário, assim como alugar espaços adequados para eventos especiais. Também deve providencias o aluguel de mesas, cadeiras, toalhas, talheres e decoração quando necessário. É sua responsabilidade comprar os insumos necessários para os ágapes, e elaborar o cardápio das refeições. Pode sugerir a realização de eventos de confraternização entre os familiares dos obreiros. Nos ágapes, deve desempenhar as funções como um cerimonialista. Eventualmente, o Venerável Mestre pode nomear uma comissão temporária para a organização de eventos de maior porte, e nesse caso o ideal é que o Mestre de Banquetes a presida. O Mestre de Banquetes pode solicitar a nomeação de um auxiliar Ad Hoc. Na verdade, o Mestre de Banquetes desempenha uma função das mais tradicionais nas Lojas modernas, já que tudo começou nas tavernas inglesas. É um cargo que pode contribuir substancialmente para estimular o relacionamento fraternal entre os obreiros da Loja e seus familiares, e ao mesmo tempo contribuir no combate à evasão maçônica. 144 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA É um Oficial que trabalha silenciosa e discretamente, mas capaz de semear o espírito fraterno. No meu entendimento, todas as Lojas deveriam designar um Mestre dedicado para esta função. 145 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA A ESCRITA O BIBLIOTECÁRIO O verbete Biblioteca vem do grego, da aglutinação de biblion, que significa livros, e tekhé, que quer dizer caixa grande ou depósito. Numa tradução livre podemos dizer que os gregos se referiam a um depósito de livros. Já o substantivo bibliotecário vem do latim bibliotecharius, e se refere ao administrador das bibliotecas, aquele que guarda e cuida dos livros. O conjunto de livros sagrados da tradição judaico-cristã, por exemplo, se denomina Bíblia exatamente por reunir vários livros diferentes. Atualmente, bibliotecário é o profissional que se gradua em Biblioteconomia. Quando falamos em livros nos referimos, por consequência, à escrita. Os primeiros registros do dia a dia da humanidade surgem nas pinturas rupestres das cavernas, e datam de 40.000 anos. Não se trata propriamente da escrita, mas foi a primeira tentativa do homem de registrar sua história. Foi a partir daí que o homem desenvolveu símbolos para facilitar a transmissão e a perpetuação do conhecimento através das gerações. Os primeiros alfabetos eram desenhos, ideogramas, por assim dizer. A escrita cuneiforme surgiu na Mesopotâmia em 3500 a.C., e na mesma época, surgem os hieróglifos dos egípcios. As gravações dos símbolos dessa escrita primitiva eram feitas em argila, ossos, cascas de árvore, rochas e peles de animais. A linguagem escrita começa a se desenvolver, e o conhecimento passa a ser transmitido de forma mais eficiente. 146 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS ALFABETOS DA ANTIGUIDADE AS PRIMEIRAS ORDENAÇÕES Dentre as formas de escrita das antigas civilizações destacam-se o alfabeto egípcio, o fenício e o hebraico. Alfabeto Egípcio Alfabeto Fenício Alfabeto Hebraico Os alfabetos fenício e hebraico foram derivados do alfabeto egípcio. Percebemos claramente a evolução dos desenhos ou ideogramas para sinais gráficos mais elaborados, que representavam fonemas, e eram agrupados em palavras com pontuação, regras gramaticais e ortográficas. Eram considerados alfabetos mágicos e sagrados Aquele que é considerado um dos primeiros livros do mundo ocidental é o Código de Hamurabi, escrito na Babilônia, no ano 1700 a.C. Tratava-se de uma ordenação jurídica, que continha conceitos de moral e religiosidade. Mais tarde surge o Livro dos Mortos, no Egito, por volta de 1580 a.C. Embora não haja uma cronologia precisa, estima-se que as Tábuas da Lei, ou os Dez Mandamentos dos hebreus, tenha surgido por volta de 622 a.C. Tinham em comum a característica serem compilações de regras de moral, ética e religiosidade para a organização social destas civilizações. 147 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS LIVROS A ORIGEM DO BIBLIOTECÁRIO No Livro dos Mortos é inserido o conceito da recompensa divina. Alguns autores entendem que as Tábuas da Lei de Moisés foram baseadas no Livro dos Mortos. Com o domínio da escrita, o conhecimento passou a ser registrado em livros, e os primeiros exemplares foram gavados em tabletes de argila. Os primeiros registros dessa técnica são datados de 3200 a.C., na Mesopotâmia. Basicamente tratavam de leis, assuntos administrativos e religiosos. A partir de então, e de modo a preservar seu conteúdo, os papiros e pergaminhos eram enrolados e guardados em cilindros de metal, madeira ou argila. O papel chegou à Europa apenas no século XII, trazido da China. A partir de 1450, com a invenção da imprensa, os livros passaram a ser mais difundidos. Ao contrário das gravações em paredes e nas pedras, os livros tinham a propriedade de serem portáteis. Os egípcios se deram conta disso, e desenvolveram os papiros, que eram fabricados a partir de uma planta com esse nome, nativa das margens do rio Nilo. Em Pérgamo, na atual Turquia, foi desenvolvida uma superfície têxtil de couro, em substituição ao papiro, por conta de uma proibição da importação do papiro, de onde se originou a expressão pergaminho. As primeiras bibliotecas que se tem notícia surgiram na Mesopotâmia em 2000 a.C. A organização dos documentos era acompanhada de marcadores para consulta. As tábuas de argila eram protegidas por uma espécie de envelope primitivo, no qual era gravado um resumo do conteúdo. Os primeiros cuidadores, organizadores de livros e de documentos, surgiram nesta época. Desde sua origem, o bibliotecário se relaciona diretamente à cultura dos povos. 148 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA O BIBLIOTECÁRIO NA MAÇONARIA A mais famosa das bibliotecas da antiguidade foi a Biblioteca de Alexandria, no Egito. Entre 286 a.C. e 416, reuniu o maior acervo de cultura e ciência da antiguidade. Na Biblioteca de Alexandria, o bibliotecário atuava também como tutor de reis e príncipes, orientando- os sobre a leitura mais adequada. O chefe dos bibliotecários devia possuir cultura humanista e ser um filólogo. Seus bibliotecários sem dúvida eram eruditos. Após sobreviver a vários saques, incêndios, e até a um terremoto, a Biblioteca de Alexandria foi definitivamente extinta entre os séculos V e VII, sendo que cristãos e muçulmanos trocam acusações acerca da responsabilidade sobre esse lamentável fato. Evidentemente não havia Bibliotecário nas Lojas Operativas, mesmo porque, a maioria dos pedreiros-livres era analfabeta. O cargo, portanto, é exclusivo do período especulativo. É possível que o cargo na Maçonaria moderna tenha sido inspirado na Royal Society britânica, pois muitos maçons participavam desta associação de estudiosos. Com o passar do tempo, a inserção de elementos filosóficos na Maçonaria, e a liberdade que seus membros possuíam de estudar literatura não recomendada pela igreja, certamente contribuíram para a formação de bibliotecas nas Lojas especulativas. 149 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O ALFABETO MAÇÔNICO O BIBLIOTECÁRIO NAS LOJAS CONTEMPORÂNEAS Alguns autores atribuema criação do alfabeto adotado pela Maçonaria ao alquimista alemão Cornelius Agrippa (1486-1535). O Alfabeto Maçônico também é conhecido como Cifra Maçônica, ou Cifra Pigpen. Pigpen, significa chiqueiro no idioma inglês, e se refere exatamente aos “quadrados”, ou “cercados”, nos quais os símbolos são inseridos. Existem versões inglesa e alemã desse alfabeto, geralmente utilizamos a versão inglesa. Trata-se de uma codificação obtida através de uma chave formada por 18 quadrados e dois “X”, que formam quadrantes em esquadria e ângulos. Não é mais utilizado nos documentos maçônicos, pois a criptografia é das mais simples, e a decodificação torna-se bastante fácil. Atualmente possui apenas valor histórico. O Alfabeto Maçônico aparece como símbolo no Painel do Grau. A Palavra Semestral, no âmbito do Grande Oriente do Brasil, é transmitida através deste alfabeto, para que seja decifrada pelo Venerável Mestre. O esquema é muito simples, um quadrado é dividido em seis quadrados menores, nele inscritos, formando 9 células, cujas bordas externas não possuem linhas, ou seja, são células abertas. Esse esquema é repetido, formando 18 células no total. Neste segundo quadrado, em todas as células é acrescido um ponto. Em seguida, traçam-se dois “X”, e da mesma forma, no segundo “X”, é inserido um ponto em cada um dos quatro ângulos formados. Resta agora inserir as letras do alfabeto ocidental em cada uma dessas células, preenchendo-se primeiro os quadrados, começando pela letra “A”, e alternando-se em cada quadrado e célula de forma sequencial. O resultado será uma sequência alternada das letras, desde o “A” até o “R”. Em seguida toma-se os “X”, preenchendo-os da mesma forma, iniciando-se pelo “S”, alternando-se as figuras em sequência de cima para baixo, e da direita para a esquerda. Pronto! Está decifrado o Alfabeto Maçônico. Não se sabe ao certo quando o cargo de Bibliotecário foi inserido nos rituais modernos. Ao que parece, sua inserção foi bem recente, provavelmente no século XX. 150 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA NA ABÓBADA CELESTE A POSIÇÃO NA PROCISSÃO No Rito Adonhiramita, ele surge apenas entre 1986, no ritual de Aprendiz Maçom publicado pelo Grande Oriente do Brasil, numa nota de rodapé, e em 2003, em nova edição do mesmo ritual, de forma mais explícita, no trecho correspondente à descrição da planta do Templo. Tudo leva a crer que o cargo de Bibliotecário no Rito Adonhiramita tenha sido absorvido do Rito Escocês Antigo e Aceito. Não há associação com nenhuma sefirote, ao menos, no que sou capaz de enxergar. As sefirotes, com relação aos Templos Adonhiramitas, parecem referir-se quase que exclusivamente às emanações supostamente localizadas nas posições geográficas das Dignidades e do Cobridor Interno. O Bibliotecário ocupa um assento comum, sem qualquer destaque, na Coluna do Norte. Da mesma forma, não há relação astrológica, ou astronômica entre a Abóbada Celeste de nossos Templos e o cargo de Bibliotecário. Nesse sentido, há que se ressaltar que a atual configuração da Abóbada Celeste é datada de 1963, ocasião anterior à inserção do cargo de Bibliotecário em nossos rituais. Na formação do cortejo de entrada, na Procissão, o Bibliotecário coloca-se à frente do Chanceler, e atrás do Arquiteto, na fileira correspondente à Coluna do Norte. 151 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSIÇÃO NO TEMPLO ATRIBUIÇÕES No interior do Templo, o Bibliotecário ocupa um assento no topo da Coluna do Norte, próximo ao Chanceler. O Cargo de Bibliotecário é preenchido através de indicação direta do Venerável Mestre, não é um cargo eletivo. É um Oficial, e não uma Dignidade. 152 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS POSTURA Possui assento em local definido na Coluna do Norte, atrás do Chanceler. Não ocupa mesa ou altar. Não há regulamentação para o cargo no Regulamento Geral da Federação, nem nos rituais. Suas funções e atribuições não são normatizadas, portanto, dependem da interpretação subjetiva de cada Oficina, e geralmente são estabelecidas no Regimento Interno. O Bibliotecário não possui funções ritualísticas, apenas administrativas. Compromisso e dedicação são requisitos básicos de todos os maçons, mas são sempre realçados quando ocupamos um cargo. O Mestre que pretende ocupar o cargo de Bibliotecário deve ter disponibilidade de tempo, pois na realidade vai trabalhar fora do horário das sessões. Deve ter interesse em pesquisa e na leitura, e também possuir bom nível de conhecimento. Não é necessário ter formação em biblioteconomia, basta que goste de ler e de livros. Não pode desempenhar o cargo com base em suas convicções pessoais, deve ser isento, isso é importantíssimo, pois estará auxiliando a pesquisa dos obreiros, e cada um de nós tem seu próprio interesse literário. Deve estar disponível para prestar auxílio aos Irmãos, indicando a literatura mais adequada aos seus objetivos. A postura do Bibliotecário é comum a todo Mestre Maçom, mesmo porque, ele não possui função ritualística. Ocupa um assento no Ocidente, na Coluna do Norte atrás do Chanceler. Usa o verbo de seu lugar, de Pé e à Ordem, quando a palavra está na Coluna do Norte. 153 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS E ADMINISTRATIVAS A BIBLIOTECA DA LOJA No Rito Adonhiramita, a Joia do Bibliotecário é um livro aberto, com uma pena sobreposta. Simboliza o compromisso de transmitir o conhecimento através da leitura. Não há nenhum sentido místico ou esotérico nesta representação . O Bibliotecário não possui função ritualística. Deve reunir, guardar, cuidar, catalogar e armazenar o acervo cultural da Oficina. Deve ler e pesquisar sobre assuntos relacionados ao Rito e à Maçonaria em geral. Pode propor à Loja a aquisição de material literário, e a realização de eventos culturais. Deve montar o acervo de peças de arquitetura apresentadas no Quarto do Hora de Instrução. Deve indicar a literatura adequada ao interesse dos Irmãos, e que possam esclarecer as dúvidas dos obreiros. Deve reunir no acervo, indistintamente, material relacionado a todas as correntes do pensamento maçônico, sem qualquer predileção. Deve supervisionar o processo de empréstimo e devolução de exemplares da biblioteca da Oficina aos obreiros do quadro. Deve promover e incentivar a leitura, a pesquisa, e fomentar o enriquecimento do conhecimento dos obreiros. É recomendável organizar um espaço com condições adequadas para guarda do acervo literário físico da Oficina, evidentemente se a configuração do Templo assim permitir. Podem e devem ser utilizados recursos digitais de armazenamento de conteúdo, como por exemplo Pen drives, cartões de memória, CD-ROM e DVDs, unidades de 154 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA CONCLUSÃO armazenamento móveis, armazenamento na nuvem virtual, páginas na internet com acesso restrito, cabendo sempre que possível proceder à digitalização de conteúdo, bem como produzir conteúdos audiovisuais. Apesar de ser uma função bem recente em nossos rituais, o Bibliotecário tem enorme responsabilidade sobre a preservação e a transmissão da Doutrina Maçônica. Com os atuais recursos tecnológicos, as opções disponíveis para o desempenho do cargo são praticamente ilimitadas. É um cargo que pode contribuir substancialmente para evitar a evasão maçônica ao estimular o estudo, a pesquisa, e principalmente a oferta de conhecimento aos membros mais novos da Ordem. É um Oficialque trabalha silenciosa e discretamente, mas capaz de semear o interesse e o amor pela Maçonaria. No meu entendimento, todas as Lojas deveriam designar um Mestre dedicado para esta função. 155 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA O ESTANDARTE DE UR O PORTA-BANDEIRA & O PORTA- ESTANDARTE O vocábulo estandarte vem do latim extendere, significando estender. Numa tradução livre, estandarte seria algo a ser estendido para visualização à distância. Os estandartes evoluíram ao longo dos tempos, assumindo formatos e tamanhos dos mais variados. Existem estandartes nos estilos clássico, barroco, moderno, etc. Vários utensílios se originaram do conceito de estandarte, alguns que nem suspeitamos, como bandeiras, flâmulas, brasões, escudos, logotipos, cartazes, outdoors, etc. Possuem utilização civil, militar e religiosa. Estão relacionados à cultura dos povos. O Porta-Estandarte, por evidente, é aquele oficial encarregado de zelar, transportar e exibir o estandarte. Já a palavra bandeira vem do latim bandum, que significa sinal, símbolo. As bandeiras são uma evolução dos estandartes, e seus simbolismos se confundem. Igualmente possuem utilização civil, militar e religiosa. As bandeiras das nações possuem formato padronizado, estabelecido pelo número de “panos”, e geralmente são retangulares. Possuem forma ritual de serem exibidas e dobradas para o transporte. São o símbolo das nações. À exemplo dos estandartes, também estão relacionadas à cultura dos povos. O Porta-Bandeira, por evidente, é o oficial encarregado de zelar e conduzir a bandeira. O consenso entre os historiadores, é de que o Estandarte de Ur tenha originado os estandartes modernos. Foi criado pela civilização sumeriana, e data de 2600 a.C. Alguns citam 3.500 a.C. 156 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ L’ÁQUILA ROMANA É uma peça de madeira trapezoidal, que possui gravações em relevo nas quatro faces, onde são narradas cenas de guerra e da vida cotidiana dos sumerianos. Ao que parece, foi desenvolvido para contar a história do povo numa espécie de livro tridimensional. Não era um elemento fixo, como as paredes dos templos egípcios, por exemplo, era mais parecido com um livro, pois podia ser transportado. “Os filhos de Israel armarão suas tendas, cada um debaixo de suas bandeiras, segundo a insígnia da casa de seus pais; ao redor, defronte da Tenda da Congregação, armarão suas bandeiras”. Números 2, 2 Esta citação é do Livro dos Números, do Antigo Testamento. É um dos volumes que compõem o Pentateuco dos cristãos, e a Torá dos judeus. Este capítulo, da citação, dispõe sobre a organização espacial das tribos de Israel, e sua identificação visual através de estandartes, que continham símbolos e cores, durante a peregrinação dos hebreus pelo deserto. A ordenação e disposição das tendas segue a orientação dos pontos cardeais, agrupando três a três as doze tribos seguidoras de Moisés. Esta passagem da narrativa bíblica inspirou as Ordens Medievais de Cavalaria e a própria Maçonaria moderna. A águia, que simbolizava o Império Romano, estava inserida no mais famoso estandarte da antiguidade. Ao mesmo tempo que despertava o temor nos inimigos, aumentava o moral das tropas. Era exibida orgulhosamente nos territórios conquistados, e simbolizava o poder e a supremacia de Roma. Sua popularidade só é comparável à da cruz cristã. 157 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA AS ORDENS MILITARES DE CAVALARIA A insígnia S.P.Q.R., significa Senatus Populus Que Romanus, “Senado e Povo de Roma” Inspirou, como emblema militar, as Ordens de Cavalaria da Idade Média. As Ordens de Cavalaria medievais usaram e abusaram dos estandartes. Era por meio deles que cada uma se identificava. Os estandartes vão aos poucos sendo substituídos, ou complementados, por flâmulas, bandeiras e brasões. Eram logomarcas medievais, pois diferentemente de Roma, as Ordens Medievais de Cavalaria eram concorrentes em fama e poder. Foram intensamente difundidos durante as Cruzadas, quando possuíam como elemento comum a cruz cristã. Posteriormente, os exércitos dos reinos europeus adotaram a prática. Nesta época, tomar posse do estandarte do adversário era uma imensa humilhação, por isso, um cavaleiro era designado para protegê- lo com a própria vida se necessário. 158 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSPIRAÇÃO O PORTA-ESTANDARTE NA MAÇONARIA Tanto nas Ordens Militares de Cavalaria, quanto na Maçonaria Especulativa, o cargo de Porta-Estandarte foi inspirado num oficial romano chamado Vexillarius, pois o estandarte em latim era designado como vexillo. Por essa razão, o estudo dos estandartes se denomina vexilologia. O padrão dos estandartes modernos se originou do modelo romano. O vexilo dos romanos era hasteado numa lança, e era atado no seu lado horizontal superior para que fosse erguido e visto à distância. Os vexilos identificavam as legiões. Geralmente utilizavam animais como símbolo, e cada um tinha um simbolismo especial, que atribuía àquele grupamento de soldados atributos como coragem, destreza, astúcia, inteligência, etc. A exemplo da l’Áquila, eram exibidos com orgulho. A inspiração do cargo de Porta-Bandeira também é essa. Alguns autores afirmam que as corporações medievais de pedreiros utilizavam bandeiras e estandartes para sua identificação. No entanto, ao que se sabe, as lojas operativas costumavam ser identificadas através de suas “Marcas”, que eram gravadas diretamente na pedra. É provável que o cargo tenha se inserido nas Lojas modernas após 1717. Apesar da coroa britânica não ser contrária à prática da Maçonaria, o mesmo não se dava em outros países. As perseguições religiosas e políticas que a Maçonaria sofreu no século XVIII, certamente não recomendavam a adoção de insígnias que identificassem os locais de reunião dos maçons. É provável que o cargo tenha sido inserido nos Rituais a partir do século XIX, e com maior frequência a partir do século XX. No Rito Adonhiramita, a primeira menção ao cargo de Porta-Estandarte ocorre no Ritual de 1963, publicado pelo Grande Oriente do Brasil, na seção correspondente à descrição do Templo, e seu assento 159 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O PORTA-BANDEIRA NA MAÇONARIA O ESTANDARTE DA LOJA era no Oriente, porém, atrás do Orador e não na posição atual. Da mesma forma que ocorreu com o Porta- Estandarte, é bastante provável que o cargo tenha se incorporado à Maçonaria em passado recente, e suspeito, inclusive, que seja uma prática apenas das Lojas brasileiras. Tudo leva a crer, que o cargo tenha sido inserido nos rituais em ocasião posterior à inserção do Porta- Estandarte. No Rito Adonhiramita, a primeira menção ao cargo de Porta-Bandeira também se dá no ritual de 1963, publicado pelo Grande Oriente do Brasil, igualmente na seção dedicada à descrição do Templo, e seu assento também era em localização diferente, no Oriente, porém, atrás do Secretário e não na posição atual. O estandarte da Oficina deve conter o Título Distintivo da Loja, ou seja, o nome, o número, e o título honorífico de recompensa, caso o possua, a expressão “Federada ao Grande Oriente do Brasil”, nos termos do que dispõe o art. 17, da Constituição do Grande Oriente do Brasil, a expressão “Jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil Estadual ou Distrital”, exigência contida no mesmo artigo da Carta Magna, a data da fundação da Loja, o Rito praticado, e os elementos simbólicos que identificama Oficina. Não há padronização, podendo ser criado livremente pela Oficina, porém deve ser submetido ao Grande Oriente do Brasil para aprovação. É regulamentado pelo inciso III, do artigo 85, do Regulamento Geral da Federação. Deve ser sagrado em Sessão Magna, que será dirigida por Comissão Especial designada pelo Grão-Mestrado Estadual ou Distrital. 160 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A BANDEIRA DO BRASIL INGRESSO DO PAVILHÃO NACIONAL A bandeira do Brasil, ou Pavilhão Nacional, foi instituída por maçons, quatro dias após a Proclamação da República, ou seja, no dia 19 de novembro de 1889, data comemorativa do Dia da Bandeira. Talvez essa seja a razão de ser homenageada nas Lojas brasileiras. Apesar disso, não há qualquer simbolismo maçônico atrelado ao Pavilhão Nacional. Na verdade, é a mesma bandeira do Império, substituindo-se o Brasão Imperial Português, pelo círculo azul cravejado de estrelas com a faixa “Ordem e Progresso”. O verde representa a Casa de Bragança, família de D. Pedro I, e o amarelo, ou ouro, a Casa de Habsburgo de D. Leopoldina, não o verde das matas e o ouro brasileiro como se supõe. A inovação é o círculo, ou esfera azul, que representa o céu com as estrelas vistas no Brasil, na noite do dia 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República. A divisa “Ordem e Progresso”, teria sido inspirada no positivismo de Augusto Comte, e a bandeira teria sido instituída pelo Marechal Deodoro da Fonseca, maçom e primeiro presidente do Brasil, em substituição ao modelo apresentado pelo também maçom Lopes Trovão, que tratava-se de uma cópia da bandeira norte-americana, substituindo-se o vermelho e o azul pelo verde e amarelo. A exibição da bandeira do Brasil se tornou obrigatória nos Templos maçônicos após a Constituição de 1934 promulgada pelo então presidente da república, Getúlio Dornelles Vargas. O ingresso do Pavilhão Nacional nos Templos maçônicos é previsto no ritual, e regulamentado pelo Decreto N° 1.476 de 17 de maio de 2016, promulgado pelo Grande Oriente do Brasil. Isso ocorre apenas em Sessões Magnas, nas sessões ordinárias ele deve estar no Oriente, do lado direito do Altar da Sabedoria. O ingresso do Pavilhão Nacional é acompanhado de uma Guarda de Honra, formada por 13 Mestres, munidos de espadas e estrelas, e conduzida pelo Mestre de Cerimônias. 161 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA SAUDAÇÃO AO PAVILHÃO NACIONAL A DECLAMAÇÃO Antes do encerramento dos trabalhos, deverá ser retirado do Templo, acompanhado pelos mesmos Mestres da Guarda de Honra formada para seu ingresso. A Saudação ao Pavilhão Nacional só ocorre em Sessões Magnas. O momento da execução, as formalidades, e o texto da saudação constam dos rituais. A saudação pode ser executada por qualquer Mestre Maçom, que será designado na ocasião pelo Venerável Mestre, incluindo Irmãos visitantes e praticantes de outros Ritos. Porém, não se segura ou se toca no pano da Bandeira do Brasil, o Mestre que vai fazer a saudação deve apenas olhar para ela. Ela deve ser segura pelo Porta-Bandeira, pelo mastro, no Oriente, em ângulo reto do lado direito de seu corpo. Todos devem estar em Sinal de Ordem, e os Mestres descobertos. A Guarda de Honra será formada por 3 Mestres, todos munidos de espadas, incluindo nesses três o Mestre de Cerimônias. A Guarda de Honra permanece no Ocidente, antes dos degraus que levam ao Oriente, com as espadas dirigidas para o chão, formando um ângulo de 45 graus. Além da Guarda de Honra, deve ser formada uma Comissão, composta por treze Mestres das Colunas do Norte e do Sul, todos munidos de espadas e estrelas. A Comissão permanece no Ocidente, de pé, em frente a seus respectivos lugares. Após a saudação, o Mestre que declamou o texto retorna a seu lugar sem necessidade de qualquer comando, pois já foi comandando anteriormente, e executam-se a primeira e última estofes do Hino à Bandeira, que devem ser cantadas em uníssono por todos os obreiros. Nesse momento, todos permanecem de pé, e os Mestres descobertos, não se executa qualquer Sinal, os braços ficam estendidos ao longo do corpo, na posição militar de “sentido”, e com o rosto voltado para o Pavilhão Nacional. Ao término da execução do Hino à Bandeira, todos retornam ao Sinal de Ordem. A Guarda e a Comissão são desfeitas à ordem do Venerável Mestre, e o Porta-Bandeiras retorna a seu lugar, colocando antes, a bandeira do Brasil no seu pedestal. “Bandeira do Brasil, que acabais de assistir aos nossos Trabalhos. Inspirai-nos sempre com a vossa divisa ORDEM E PROGRESSO, fonte asseguradora da fraternidade e da evolução, ideais supremos da humanidade na sua marcha infinita através dos séculos, e recebei dos obreiros aqui reunidos o compromisso de fidelidade maçônica, no 162 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA ASSOCIAÇÃO COM A ASTRONOMIA POSIÇÃO NA PROCISSÃO serviço dos supremos interesses do grande país de que sois símbolo augusto, pleno de generosidade e de nobreza”. Não há associação de nenhum dos dois cargos com as sefirotes da Árvore da Vida. De modo geral, as sefirotes referem-se às emanações sobre as posições geográficas das Dignidades, e do Cobridor Interno. O Porta-Bandeira ocupa um assento no Oriente, na parede de fundo do Templo, do lado direito do Venerável Mestre. O Porta-Estandarte ocupa um assento no Oriente, na parede de fundo do Templo, do lado esquerdo do Venerável Mestre. Também não há associação do posicionamento dos cargos de Porta-Estandarte e Porta-Bandeira com a Abóbada Celeste de nossos Templos. Porém, no que se refere à bandeira do Brasil, a estrela Spica, a mais brilhante da constelação de Virgem, que é representada em nossa Abóbada, é a única estrela acima da faixa “Ordem e Progresso”. Na formação do cortejo de entrada, o Porta-Estandarte e o Porta-Bandeira posicionam-se na fileira central, correspondente ao Oriente. 163 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O LUGAR EM LOJA ATRIBUIÇÕES O Porta-Estandarte fica atrás do último Mestre Instalado sem cargo, e o Porta- Bandeira atrás dele, antes do Secretário. No interior do Templo, ambos os cargos localizam-se no Oriente, próximos à parede de fundo. O Porta-Estandarte fica à sudeste, e o Porta-Bandeira a noroeste. Ambos os cargos são preenchidos através de indicação direta do Venerável Mestre, portanto, não são cargos eletivos. São Oficiais, e não Dignidades. 164 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS POSTURA Possuem assentos em local definido no Oriente, em ambos os lados do Venerável Mestre. Não ocupam mesas ou altares. Não há regulamentação para os cargos no Regulamento Geral da Federação, apenas nos rituais, onde suas funções e atribuições são normatizadas. Possuem funções tanto ritualísticas quanto administrativas. Para ocupar qualquer um dos cargos, é necessário ser Mestre Maçom, mas não há interstício de colação de Grau, e tampouco requer a ocupação por um Mestre Instalado. Ambos os cargos requerem compromisso e dedicação, além de assiduidade. Um representa a Loja, e outro nossa Pátria. Devem, portanto, possuir sentimento cívico. O Porta-Bandeira deve conhecer o simbolismo do Pavilhão Nacional, e o Porta- Estandarte deve conhecer o simbolismo do Estandarte da Loja. A postura de ambos os cargos é comum a todo Mestre Maçom. Os dois ocupam assentos no Oriente, em ambos os lados do Venerável Mestre, na parede de fundo do Templo. Nenhum dos dois tocaou segura o Estandarte da Loja, ou o Pavilhão Nacional. Permanecem sentados ao lado deles durante as sessões, fazendo sua guarda Usam o verbo quando a palavra está no Oriente, de seus lugares, de Pé e à Ordem. 165 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA DO PORTA-BANDEIRA A JOIA DO PORTA-ESTANDARTE FUNÇÕES DO PORTA-ESTANDARTE O Porta-Estandarte deve segurar o Estandarte da Loja pela haste, à sua frente e à direita em posição vertical, tanto parado quanto em movimento. O topo do pano deve estar acima de sua cabeça. O Porta-Estandarte deve ir à frente do cortejo de ingresso ao Templo nas ocasiões de Sessões Conjuntas. O Porta-Bandeira deve segurar o Pavilhão Nacional pelo mastro, à sua frente do lado direito em posição levemente inclinado para a frente quando estiver se movimentando. Segura o mastro com as duas mãos, a esquerda segura o mastro à altura do ombro direito e a mão direita o faz na altura da cintura. O Pavilhão Nacional deve ser manuseado nos termos da legislação civil, já que trata-se de uma postura cívica, que se sobrepõe aos rituais maçônicos. A Joia do Porta-Bandeira é uma bandeira do Brasil estilizada. Simboliza exatamente o Pavilhão Nacional. Não há nenhum sentido místico ou esotérico nesta representação. A Joia do Porta-Estandarte é um estandarte estilizado. Simboliza exatamente o Estandarte da Loja. Também não há nenhum sentido místico ou esotérico nesta representação. O Porta-Estandarte deve permanecer guardando o Estandarte da Loja. 166 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES DO PORTA-BANDEIRA CONCLUSÃO Na Sessão Magna de Sagração do Estandarte da Loja, ele cumpre ritualística específica. O Porta-Estandarte deve zelar pela conservação do Estandarte da Loja, e entrega- lo em perfeitas condições a seu sucessor. Em visitação a outras Oficinas, nas Sessões Conjuntas, deve carregar o Estandarte da Loja, e ingressar como o primeiro maçom do cortejo, colocando-se ao lado do Porta-Estandarte da Loja visitada, e repousando o Estandarte da Loja no Oriente, ao lado do Estandarte da Loja visitada. Nessa ocasião, tomará assento em lugar próximo ao que o Estandarte da Loja for colocado, mas a posição do Porta-Estandarte descrita no ritual será ocupada pelo Oficial da Loja anfitriã. O Porta-Bandeira deve permanecer guardando o Pavilhão Nacional durante as sessões. Nas Sessões Magnas, deve dar ingresso e retirar o Pavilhão Nacional do Templo, e também exibi-lo durante a Saudação. O Porta-Bandeira é o responsável pela conservação do Pavilhão Nacional, e também das bandeiras do Grande Oriente do Brasil, embora não as manuseie ritualisticamente. Deve preservar seu bom estado de conservação, e entrega-la íntegra para seu sucessor, incluindo nesta tarefa as bases, os mastros e os pedestais. Em visitação a outras Oficinas, nas Sessões Conjuntas, não carrega o Pavilhão Nacional, e suas funções na sessão serão desempenhadas pelo Porta-Bandeira da Loja anfitriã. Nessa ocasião, ocupará lugar em Loja conforme sua qualidade, não na posição do Porta-Bandeira, e não necessariamente no Oriente, a não ser que seja Mestre Instalado. Apesar de executarem funções discretas nas sessões ordinárias, o Porta-Bandeira e o Porta-Estandarte possuem um simbolismo relevante para as Lojas. São cargos que estimulam o amor à Pátria e à própria Oficina. Os ocupantes destes cargos devem considerar o desempenho das funções como uma grande honraria. Apesar de não serem cargos obrigatórios, o ideal é que as Oficinas designem um Mestre para executar estas funções. 167 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA INSPIRAÇÃO O COBRIDOR Na Maçonaria britânica, o Cobridor Interno se chama Inner Guard, guarda interno, e o Cobridor Externo Tyler, no inglês medieval, “aquele que protege”, ou protetor. Esse vocábulo derivou do inglês antigo tigeler, derivado, por sua vez de tigele, que significa telha. Isso deu origem à ideia de que “cobrir o Templo” é colocar telhas, o que no meu entendimento, não é, e jamais foi. Na França, recebeu a denominação de Tuiler, que se referia ao profissional que fazia os arremates de telhas. Numa tradução livre, seria “telhador”. O Brasil acompanhou a interpretação francesa, e denominou o cargo como Cobridor, Externo e Interno. Ou seja, a confusão sobre a função e o simbolismo do cargo se originou a partir da versão francesa. Mas alguma coisa deve chamar nossa atenção, a Joia do cargo não é uma telha, como seria natural se a associação estivesse correta. Independentemente da tradução que possamos atribuir ao verbete designativo do cargo, a inspiração foi nas sentinelas, e não nos construtores de telhado medievais. Os Cobridores guardam a entrada do Templo, impedem o acesso a curiosos e profanos. São guardas, não há dúvida. Assim sendo, são de inspiração militar. Sentinelas, guardas, e guardiões, são encontrados ao longo da História sempre com o objetivo de vigiar, e restringir o acesso a palácios, templos e locais reservados. Este é o real sentido do cargo, vigiar, não fazer telhados. 168 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSERÇÃO NOS RITUAIS OS DOIS COBRIDORES Provavelmente, o cargo de Cobridor é tão antigo quanto o de Venerável Mestre e dos Vigilantes. Tudo indica que constasse desde os primeiros Rituais. É mencionado na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, nos seguintes termos: “Para que uma Loja possa estar coberta regularmente, não basta que a porta que a fecha seja dupla, são necessárias ainda duas salas de entrada. A primeira é ocupada por um Irmão Cobridor, que abre a porta para todos que chegam; e a segunda, que separa a Loja da primeira sala, é chamada a Sala dos Passos Perdidos, onde fica o Experto (...)”. Ao que parece, originalmente o Cobridor não participava das sessões, e à medida que a segurança dos Templos cresceu, foi instituído o cargo interno a quem se atribuiu função ritualística. No Brasil, no ritual Adonhiramita do Grau de Aprendiz Maçom, publicado pelo Grande Oriente do Brasil, em 1836, há apenas menção ao Cobridor Externo. O cargo de Cobridor Interno surge no ritual de Aprendiz, igualmente publicado pelo Grande Oriente do Brasil, em 1896. Originalmente, sua posição em Loja era atrás do Altar do 2° Vigilante. COBRIDOR EXTERNO Atua do lado externo do Templo, no Átrio, e na Sala dos Passos Perdidos. Jamais acessa o Templo. Não vota nas matérias simples da Loja. Vota no Escrutínio Secreto, e comparece no Tronco de Solidariedade. Em função das atuais condições de segurança dos Templos, o cargo praticamente não é exercido nas Lojas. Como está fora do Templo, não possui função ritualística. Não participa da Procissão. COBRIDOR INTERNO Atua do lado interno do Templo. Tem atuação ritualística em todas as sessões. É um dos cargos obrigatórios para a abertura da Loja. Ninguém entra ou sai do Templo sem sua permissão. Só ele abre, ou fecha a porta do Templo. Não participa da Procissão. 169 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA “COBRIR A OFICINA ÀS VISTAS PROFANAS” A IDENTIFICAÇÃO DE QUEM CHEGA O verbo cobrir empregado na expressão não se refere a executar telhados, deve ser interpretado no sentido de ocultar a visão, encobrir, esconder, não permitir que algo seja visto. Essa tarefa pode ser executada com um pano, uma venda ou simplesmente fechando a porta de um cômodo sem janelas, os nossos Templos. Nas Escolas Iniciáticas do antigo Egito, ser Iniciado nos Mistérios de Ísis era tido como “retirar o véu de Ísis”,ou seja, desvendar. Neste sentido basta que lembremos que todos entramos vendados no Templo em nossa Iniciação. Devemos lembrar também, que a fala do Cobridor Interno se refere a “zelar pela segurança de nossos trabalhos”, ou seja, vigiar o acesso e impedir a entrada de intrusos, e não construir telhados, os rituais nunca exibiram texto neste sentido. “(...) verificar a identidade dos obreiros...” Cabe ao Cobridor Interno identificar aqueles que se dirigirem ao Templo, e fazer a triagem, permitindo a entrada apenas àqueles que são identificados como maçons. Foi esta função que gerou a controvérsia sobre as expressões Trolhamento e Telhamento. Os Sinais, os Toques, as Palavras, e as Baterias, chamam-se Cobridor do Grau nos rituais. Sempre foi o Irmão Experto o responsável por fazer esta verificação, e não o Cobridor. Neste sentido, nos socorre a Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita: “Quem deseja ser admitido na Loja, estando na primeira sala, bate à porta dos Passos Perdidos; o Experto abre-a, recebe-o e pergunta-lhe sobre os principais pontos da Maçonaria e sobretudo manda-o fazer a marcha e os sinais...” 170 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA TROLHAMENTO x TELHAMENTO OS COWANS A modificação, em nosso ritual, do termo Trolhamento, para Telhamento, se deu com base numa lenda criada apenas para esse fim, e no entendimento equivocado do real manuseio dos instrumentos utilizados na construção civil. A lenda conta que ladrões entravam à noite no Templo de Salomão, para roubar o pagamento dos Aprendizes e Companheiros que era guardado nas duas Colunas. Ao descobrirem o furto, e para evitar novas investidas, o Templo foi então coberto com telhas. Porém, isso não refreou o ímpeto dos ladrões, que removiam algumas telhas para facilitar sua entrada, recolocando-as diligentemente de novo em seu lugar original. Ocorre que ao recolocá-las, ficavam falhas que permitiam a entrada da água das chuvas. Teria saído daí também a expressão Goteira, para designar curiosos e falsos maçons. Este relato é uma invenção, não corresponde com a Lenda do Terceiro Grau, e nem com o relato bíblico do Primeiro Livro dos Reis e Segundo Livro das Crônicas. Na Bíblia, as duas colunas eram vestibulares, ou seja, ficavam do lado de fora do templo, que jamais foi coberto. O equívoco quanto ao uso das ferramentas de obra, se deu em virtude de alguns autores defenderem que a trolha, ou colher de pedreiro, serve para aparar arestas e deixar as superfícies lisas, se referindo assim, à tarefa de apaziguar rusgas e litígios entre os Irmãos. Mas isso também não corresponde à verdade, em obra, a ferramenta que faz esse papel, chama-se desempenadeira, e para que as superfícies fiquem mais lisas, utiliza-se uma espuma, vulgarmente chamada de “camurça” em algumas regiões do país. A trolha serve para misturar a massa, e transportá-la da caixa de mistura para a superfície na qual será empregada. Nossos rituais ensinam que Harmonia, a Paz, e a Concórdia, são a tríplice argamassa que liga as nossas obras, esse é o simbolismo da trolha. Quando são examinados pelo Experto, é a qualidade que cada maçom traz consigo que é simbolicamente avaliada, para que seja permitido a ele participar dos trabalhos. Este conceito está relacionado à expressão inglesa Cowan, que é a origem do termo goteira em nosso meio, quando nos referimos aos falsos maçons. Na Maçonaria Operativa, os cowans eram os pedreiros que não conheciam as técnicas de fabricação da argamassa. Eram chamados também de “pedreiros de pedras secas” Podem ser comparados aos ajudantes de pedreiro da atualidade. Apesar de membros das guildas os segredos da arte não eram ensinados a eles Na Maçonaria Especulativa o termo passou a definir bisbilhoteiros, curiosos, profanos que tentavam ver ou ouvir o que se passava nas reuniões 171 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA ASSOCIAÇÃO COM A ASTRONOMIA O responsável por descobrir esses intrusos era o Cobridor. Quando descobertos, o Cobridor avisava aos demais maçons, e o intruso era amarrado debaixo da calha dos telhados, para que a água da chuva caísse sob sua cabeça como forma de castigo. Quando não havia chuva, o intruso era surrado, e davam-lhe um banho de água fria. Esta é a origem do termo goteira utilizado na Maçonaria brasileira. Como vemos, a trolha está associada desde os tempos operativos ao conhecimento da Arte Real. Na comparação com o traçado da Árvore da Vida, não há associação do Cobridor Externo com as sefirotes, pois ele atua fora do Templo, ou seja, longe de suas emanações. Já o Cobridor Interno, está associado à Malkuth, a décima e última das sefirotes na escala da Árvore da Vida, representando o Reino, o Plano Material, a base do Pilar da Sabedoria, o eixo do equilíbrio. Malkuth é associada ao número DEZ, a Década pitagórica, que representa o retorno à Unidade Primordial, à Emanação, a Causa, pois reduzido, o número volta à unidade, 10 = 1 + 0 = 1. Se a copa da Árvore da Vida é Kether, onde nascem os frutos, Malkuth representa a raiz, nascida da germinação das sementes originadas da morte dos frutos gerados em Kether, agora como um outro ser vivo, simbolizando o ciclo eterno e universal de nascimento-vida-morte-renascimento. O desenho da Árvore da Vida também está associado ao corpo humano. No Rito Adonhiramita, particularmente, este homem está deitado. Assim, se Kether é a sua cabeça coroada, Malkuth são os pés que lhe possibilitarão ser reerguido. Malkuth é conhecida também como “A Porta”. A Árvore da Vida cresce em espiral infinita, portanto, Malkuth é Kether da próxima esfera e vice-versa. Esta associação deu origem à tradição do Venerável Mestre anterior ocupar o lugar de Cobridor Interno na administração seguinte. O Cobridor Interno não faz a guarda física apenas, mas também o faz esotérica, metafísica e espiritualmente falando. O Cobridor Externo não possui associação com a Abóbada Celeste de nossos Templos, pois está fora dele. Já o Cobridor Interno, está associado ao planeta Vênus. 172 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O COBRIDOR E O VENERÁVEL MESTRE Embora Vênus, Afrodite para os gregos, seja uma divindade associada à beleza e ao amor, astrológica e esotericamente representa o ingresso nos mistérios. O símbolo alquímico de Vênus, que é utilizado hoje como representação do feminino, lembra a espada do Cobridor em posição invertida, apontando para a emanação divina representada pelo círculo. No baralho comum, o Cobridor está associado ao Rei do naipe de espadas, que representa o rei Davi, pai do rei Salomão, ou seja, a ancestralidade de Salomão, os conceitos de Malkuth e Kether, raiz e fruto, origem e descendência, são de novo representados. A inversão das figuras da lâmina, que evidentemente objetivam a visualização de ambos os lados da mesa de jogo, sugere novamente a inversão, ou sucessão entre os cargos de Venerável Mestre e Cobridor Interno. As lâminas do baralho moderno, ou convencional, foram inspiradas nos arcanos do tarô. Segundo alguns autores, o tarô foi inventado pelos sábios egípcios como forma de preservação dos arcanos dos mistérios, pois o vício dos jogos era o meio mais eficiente de transmissão da doutrina, já que os homens eram atraídos naturalmente. A carta do Rei de Espadas no tarô representa não apenas a autoridade, e o poder, mas a capacidade intelectual adquirida através da experiência. 173 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A POSIÇÃO NA PROCISSÃO O LUGAR EM LOJA No cortejo de entrada, o Cobridor Externo não aparece, pois ele está no espaço anterior ao Átrio, a Sala dos PassosPerdidos. Já o Cobridor Interno, que também não aparece, está no interior do Templo desde o Revigoramento da Chama Sagrada, guardando a porta do Templo. O Cobridor Externo, por evidente, não está no interior do Templo. O Cobridor Interno, posiciona-se numa cadeira, em frente a porta de entrada, no eixo central da Loja, lado simetricamente oposto ao Venerável Mestre. 174 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O HEXAGRAMA ATRIBUIÇÕES Se traçarmos retas imaginárias entre as Três Luzes da Loja, veremos desenhado um triângulo com o vértice voltado para cima. Representa o Plano Espiritual, a Chama Sagrada, ou Fogo Eterno, desdobrada e manifestada em Sabedoria, Força e Beleza. Se traçarmos retas imaginárias entre as duas Dignidades com assento no Oriente, Orador e Secretário, e o Cobridor Interno, veremos desenhado um triângulo com o vértice voltado para baixo. Representa o Plano Material, a lei, a ordem e a vigília, ou, se preferirmos, organização, tempo e espaço. Se sobrepusermos essas duas figuras, veremos traçado o Hexagrama, a Estrela de Davi. Ambos os cargos são preenchidos através de indicação direta do Venerável Mestre, não são cargos eletivos, são Oficiais, e não Dignidades. O Cobridor Externo atua fora do Templo, e o Cobridor Interno possuí assento em local definido no Ocidente, junto à porta do Templo, e de costas para ela no eixo do Venerável Mestre. Até o ritual publicado pelo Grande Oriente do Brasil em 1963, a posição do Cobridor Interno era atrás do Altar do 2° Vigilante, por isso, ele ainda é considerado um Oficial da Coluna do Norte. Além disso, o ingresso no Templo se dá “das trevas para a luz”, ou seja, da parte menos iluminada, Norte nos padrões do hemisfério norte, para a de maior claridade. Não ocupam mesas ou altares. Não há regulamentação para os cargos no Regulamento Geral da Federação, apenas nos rituais, onde suas funções e atribuições são normatizadas. Possuem funções apenas ritualísticas. 175 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS POSTURA O ritual exige apenas que o ocupante do cargo de Cobridor Interno seja um Mestre Maçom, sem a necessidade de observação de qualquer interstício desde a colação do Grau. Apesar disso, diante de todo o simbolismo que vimos, a tradição recomenda que o cargo seja ocupado pelo Venerável Mestre da administração anterior. Em relação ao Cobridor Externo não há a necessidade de sequer ser um Mestre Instalado. Ambos devem ter compromisso, dedicação e assiduidade, pois a segurança dos trabalhos estará a seu cargo. É necessário que cheguem ao Templo bem antes do horário previsto para o início das sessões, a fim de desempenhar com eficiência suas funções. Devem conhecer bem os rituais, serem atentos, diligentes, terem boa audição, boa dicção, e boa impostação de voz, para serem ouvidos em qualquer ponto dentro do Templo, e eventualmente fora dele também. Deve possuir conhecimento da Bateria praticada pelos demais Ritos, e também dos diferentes paramentos. Devem, ambos, ter bom senso para definir o melhor momento para interromper a sessão com qualquer comunicado. Por exemplo, não é recomendável que o processo de abertura da Loja seja interrompido, em qualquer uma de suas etapas, para o ingresso de Irmãos retardatários. Como o Cobridor Externo não atua na ritualística, abordarei apenas o Cobridor Interno. Com a Loja aberta, o Cobridor Interno deve permanecer sentado, de costas para a porta do Templo, e de frente para o Venerável Mestre, com a espada segura pelas duas mãos, entre suas pernas, com a ponta apoiada no chão. Essa postura pode parecer incoerente, por ficar de costas para a entrada do Templo, mas ao menos simbolicamente, há um Oficial fazendo a guarda externa, além disso, ele guarda também as energias em circulação no interior do Templo, que serão liberadas ao encerramento dos trabalhos, quando abrir a porta. 176 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS Esta postura também objetiva aterrar as energias inservíveis em circulação no interior do Templo, e trocá-las com a espada do Mestre de Cerimônias, toda vez que ele cruza o espaço entre Colunas. Quando de pé deve, manter sempre o Sinal de Guarda, com a espada segura pela mão direita, e empunhadura à altura de seu coração, sem tocar no corpo. Faz uso da palavra de pé, em Sinal de Guarda, quando a palavra está na Coluna do Norte. Não executa a Bateria, nem os movimentos da Aclamação. Mantém-se de pé com o Sinal de Guarda. Mas se descobre nas ocasiões requeridas. Jamais deixa sua posição desguarnecida. Quando é necessário sair dessa posição outro Mestre deverá substitui-lo temporariamente. No caso da Cadeia de União, ou Corrente Fraternal, deve deixar sua espada com a ponta voltada para a porta do Templo simbolizando sua guarda permanente. Desde o Revigoramento da Chama Sagrada permanece no interior do Templo, e só deixa sua posição quando a Chama Sagrada é adormecida. Tanto o Cobridor Externo, quanto o Cobridor Interno. possuem como Joia duas espadas cruzadas, apontadas para baixo. Simbolizam a guarda. As espadas substituem as lanças utilizadas pelos guardas dos castelos e palácios medievais, que as cruzavam para impedir o acesso de intrusos. Representa simultaneamente a guarda material e física, e a guarda espiritual ou metafísica. O Cobridor Externo guarda o acesso ao Átrio. É a barreira física entre a Sala dos Passos Perdidos e o espaço sagrado do Templo. Não possui função ritualística, e nem pode ter, pois atua fora dos Templos. O Cobridor Interno guarda o acesso ao local mais sagrado de nossas reuniões, que é o Templo. Possui apenas funções ritualísticas. O Cobridor Interno interpela o Mestre de Cerimônias no ingresso dos obreiros, responde diretamente o Interrogatório ao Venerável Mestre, e não aos Vigilantes. 177 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O COBRIDOR E A CHAMA SAGRADA AS VIBRAÇÕES ARGENTINAS É ele quem indica, durante sua fala, o lugar em Loja e as funções não apenas dele, mas também das Três Luzes, o Venerável Mestre, e os Irmãos Vigilantes. Deduz-se daí, que ele assim o faz porque possui a experiência de ter exercido os cargos, ou seja, supõe-se que seu conhecimento tenha sido adquirido porque passou pela progressão hierárquica das Lojas Simbólicas, até ser Instalado como Venerável Mestre, posto maior das Oficinas. Executa as Doze Vibrações Argentinas na abertura da Loja, e no encerramento dos trabalhos. Troca de funções com o Mestre de Cerimônias durante a Cerimônia da Incensação. Assim o faz, porque o Mestre de Cerimônias é o Oficial que transita simbolicamente entre os Planos, e incensa ele mesmo o Átrio, para purificar o ambiente, quando na maioria das vezes incensa simbolicamente o 1° Experto e o Cobridor Externo. Dessa maneira, não haverá necessidade dos Irmãos retardatários, e que cobrem o Templo temporariamente, passarem por nova purificação. Troca de funções novamente com o Mestre de Cerimônias na circulação do Saco de Propostas e Informações, e com o Hospitaleiro no giro do Tronco de Solidariedade. Só o Cobridor Interno pode abrir ou fechar a porta do Templo. O Cobridor Interno identifica quem bate à porta do Templo, e faz comunicados eventuais ao Venerável Mestre. Faz a cobertura do Revigoramento e do Adormecimento da Chama Sagrada. É o último maçom a deixar o Templo. É ele quem fecha a porta. O Cobridor Interno permanece guardando a porta do Templo, de pé em Sinal de Guarda, voltado para o Oriente, tanto no Revigoramento, quanto no Adormecimento da Chama Sagrada. O diagrama dos Oficiasque executam o Revigoramento e o Adormecimento da Chama Sagrada, forma um dos símbolos utilizados pela alquimia para indicar o elemento Enxofre. Cabe ao Cobridor Interno executar as Doze Vibrações Argentinas na abertura da Loja, e no encerramento dos trabalhos. É uma etapa ritualística das mais tradicionais, e surge descrita pela primeira vez no Ritual de Aprendiz Maçom do Rito Adonhiramita publicado pelo Grande Oriente do Brasil em 1896. 178 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A TROCA DE FUNÇÕES As pancadas se denominam Argentinas, porque derivam do verbete latino argentum, que designa a prata, que era um dos metais empregados na Idade Média para a fabricação dos sinos. Segundo os fabricantes de sinos medievais, era exatamente o percentual de prata adicionado na liga de metais que proporcionava a clareza do timbre, e a pureza do som dos sinos. Logo, o correto é que sejam executadas num sino, e não num tímpano como é descrito alternativamente nos rituais desde 1896. Os sinos podem reproduzir individualmente qualquer uma das sete notas da escala musical, sendo aconselhável sob o ponto de vista místico que reproduzam o chamado Lá Fundamental, nota comum e responsável pela afinação de todos os instrumentos musicais, e que segundo a tradição chinesa representa o som da criação do Universo. Cada batida deve observar o intervalo de 3 segundos entre cada uma. Simbolizam, a exemplo das comunidades medievais, a convocação para os trabalhos, e o convite ao descanso. Estão associadas às 12 horas de trabalho, desde o meio-dia até a meia-noite, aos 12 signos do zodíaco, em substituição às Colunas Zodiacais, que jamais integraram a decoração dos Templos Adonhiramitas, e ainda simbolizam o estímulo progressivo dos sete chakras principais relacionados às Emanações Cósmicas, e os cinco chakras secundários, associados aos sentidos objetivos. O Cobridor Interno troca de funções com o Mestre de Cerimônias na Cerimônia de Incensação, e na circulação do Saco de Propostas e Informações, e com o Hospitaleiro no giro do Tronco de Solidariedade. É uma prática militar, não há conotação mística. A troca de guarda no Palácio de Buckingham, na Inglaterra, por exemplo, é executada com um procedimento semelhante. O turíbulo, o Saco de Propostas e Informações, e o Tronco de Solidariedade. são seguros pela mão esquerda, e sua espada é repassada ao Mestre de Cerimônias, ou ao Hospitaleiro, pela mão direita. Ao retornar às suas funções, este procedimento é executado na ordem inversa. A espada de quem ocupa a função de Cobridor Interno é segura sempre pela mão direita. 179 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA CONCLUSÃO O giro na troca de funções é sinistrogiro, no sentido horário. O Cobridor Interno se movimenta na direção de seu lado esquerdo. O objetivo é que os 360 graus de visão do Templo estejam sempre cobertos, ou seja, um olha sobre o ombro do outro. Apesar de aparentemente desempenhar uma função discreta, e sem muito glamour, o Cobridor Interno tem atuação ritualística intensa e relevante em todas as sessões. Por tudo que vimos, me parece recomendável manter a tradição de preencher o cargo com o Venerável Mestre da administração anterior. É uma função de enorme responsabilidade, envolvendo aspectos tanto físicos quanto metafísicos. Zela simbolicamente pela segurança material e espiritual dos trabalhos, e dos obreiros. É um dos sete cargos obrigatórios e necessários para abrir uma Loja Simbólica no Rito Adonhiramita. É um dos cargos mais antigos da Maçonaria Especulativa, juntamente com o de Venerável Mestre, e dos Irmãos Vigilantes. Deve ser ocupado preferencialmente por um Mestre experiente. 180 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA A INSPIRAÇÃO OS VIGILANTES Na Maçonaria britânica, os Irmãos Vigilantes se chamam Warden, supervisor. O Primeiro Vigilante é o Senior Warden, e o Segundo Vigilante é o Junior Warden. De plano, vemos aí uma relação entre o ocupante da função e a experiência que ele possui, o que, no meu entendimento, é de suma importância. Na França, os cargos receberam a denominação de Surveillaint, exatamente supervisor, o Primeiro Vigilante Premier, e o Segundo Vigilante Deuxième. Mas a versão do francês para o português deu origem a certa confusão em relação ao simbolismo do cargo. No Brasil, sem motivo aparente, as denominações dos cargos foram traduzidas como Vigilantes, mantendo a ordenação numérica, Primeiro e Segundo. Ou seja, a confusão sobre a função e o simbolismo dos cargos se originou a partir da versão para o português, afinal, quem vigia é o Cobridor, e os Vigilantes absolutamente não são feitores. Os Vigilantes na verdade não vigiam suas Colunas, eles supervisionam e orientam os trabalhos dos maçons ali situados, sejam eles Aprendizes, Companheiros, ou Mestres. Independentemente da tradução do verbete designativo dos cargos, a inspiração certamente foi nas guildas medievais de pedreiros, e em nenhum herói mítico. Não havia graduação na Maçonaria Operativa como a conhecemos hoje, no modo especulativo. Havia um mestre e seus aprendizes. Nessa época, havia certamente aprendizes mais experientes, que poderiam auxiliar os mestres e supervisionar as obras. Essa tarefa, nas guildas de pedreiros medievais, acaba se confundido com a hierarquia posteriormente adotada de companheiros, ou seja, aprendizes mais experientes. Mas este é o conceito do cargo de Vigilante, auxiliar o mestre na condução e supervisão das obras. 181 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSERÇÃO NOS RITUAIS O CONCEITO NA MAÇONARIA ESPECULATIVA Os cargos de Vigilantes e de Venerável Mestre são os mais antigos da Maçonaria Especulativa, e são obrigatórios em todos os Ritos. Constam desde os primeiros rituais maçônicos e da Constituição de Anderson, de 1723, nos seguintes termos: “Toda promoção entre os maçons será baseada no seu real valor e mérito pessoal, pois assim serão os Lordes melhor servidos, os Irmãos não serão envergonhados, nem a Arte Real menosprezada. Dessa forma nem o Mestre nem os Vigilantes são escolhidos pela idade, mas sim por seus méritos”. Como vimos, desde a primeira ordenação oficial da Maçonaria moderna, a pretensão é que o cargo de Vigilante seja ocupado por capacidade, e não por tempo de Loja. Embora as Três Luzes da Maçonaria sejam o Livro da Lei, o Compasso e o Esquadro, Os Vigilantes posteriormente foram chamados, juntamente com o Venerável Mestre, de “Três Luzes da Loja” ou “Três Luzes Menores”. Há ainda autores que intitulam esses cargos como “Três Luzes Ritualísticas”. O certo é que, da mesma forma que uma Loja não pode ser aberta sem a presença do Esquadro, do Compasso, e do Livro da Lei, uma Oficina não pode existir sem o preenchimento destes cargos, seja em que Rito ou Potência for. No primeiro ritual Adonhiramita publicado no Brasil pelo Grande Oriente do Brasil, em 1836, por exemplo, os Vigilantes são citados como Dignidades que abrem as Lojas. Não há dúvida, como vimos, de que os Vigilantes foram inspirados nas guildas de pedreiros medievais. A diferença é que as funções não eram exercidas por mestres, mas sim por aprendizes mais experientes que depois se transformaram nos companheiros. As expressões Senior Warden e Junior Warden, revelam exatamente a relação com a experiência adquirida pelos pedreiros medievais. Apesar dessa denominação, é pouco provável que fizessem a supervisão de qualquer trabalho, pois praticamente toda gerência das obras cabia ao mestre, sendo mais certo sua atuação como orientadores dos pedreiros maisnovos e inexperientes. Não vejo, portanto, qualquer possibilidade de associação com os heróis míticos e divindades das antigas civilizações. 182 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA “JUSTO E PERFEITO” Na Maçonaria Especulativa, os Vigilantes auxiliam na construção do edifício moral e social, a Grande Obra dos maçons. A expressão “Justo e Perfeito” transformou-se num jargão maçônico, e numa espécie de cumprimento informal pelo qual nos identificamos no meio profano, pelo menos aqui no Brasil. Ao término das sessões, o Orador deve declarar que os trabalhos transcorreram “justos e perfeitos”, para que o Venerável Mestre possa fechar a Loja. Esta expressão foi associada aos Vigilantes, supondo-se que “justo” se refere ao nivelamento horizontal das pedras, conferido pelo nível; e “perfeito” ao nivelamento vertical, aferido pelo prumo. Esta tese baseou-se numa lenda, que narra supostas sabotagens ocorridas entre lojas operativas rivais, executadas quando pedreiros de outras guildas infiltravam-se em determinadas obras, e desalinhavam propositalmente as pedras, fosse na horizontal ou vertical, para que as paredes fossem construídas fora da esquadria, comprometendo assim o prazo de conclusão dos edifícios. É uma lenda, um mito criado apenas com a intenção de ilustrar os princípios maçônicos, isso jamais ocorreu. As catedrais e palácios medievais levavam décadas, e até séculos, para serem concluídas, a concorrência entre as guildas não era tão feroz assim, havia trabalho para todos, pelo menos no período de opulência dos reinos e do clero. Uma guilda era incapaz de assumir duas obras simultâneas, muitas delas se dedicaram exclusivamente a uma obra por mais de um século. Ademais, desde 1717, pelo menos oficialmente, os maçons são exclusivamente especulativos, ou seja, construímos apenas edifícios morais, e não prédios físicos. A expressão se refere na verdade a Noé, o patriarca bíblico, único ser humano considerado justo e perfeito por IAVEH, que o incumbiu de preservar os seres viventes e transmitir o conhecimento para a civilização pós-diluviana, conforme relato do Livro do Gênesis, 6, 9. A Lenda Noaquita, aliás, foi a primeira versão da Lenda do Terceiro Grau adotada pela Maçonaria moderna. Na reforma das Constituições de Anderson, ocorrida em 1738, ele afirma que “um maçom é obrigado na sua dependência a observar a lei moral como um verdadeiro Noaquita... Por estarem todos de acordo com os três grandes artigos de Noé”. Portanto, quando o Orador pronuncia “Justo e Perfeito”, ele está afirmando que os trabalhos foram executados com justiça, observando-se todas as regras morais e éticas de comportamento, e que não são necessárias correções, por isso estão perfeitos. 183 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS PUNHOS O COLAR No Rito Adonhiramita, os Vigilantes usam punhos na cor azul celeste, com bordados dourados nas extremidades. Os punhos do 1° Vigilante têm o símbolo do Nível, e os do 2° Vigilante o do Prumo. Ambos são investidos dos punhos na Sessão Magna de Instalação e Posse das administrações. Os punhos representam a autoridade dos Vigilantes. Na hipótese da ausência dos titulares dos cargos, os Mestres que os substituírem devem utilizar os punhos durante aquela sessão. Por essa razão, é recomendável que os punhos sejam guardados no próprio Templo, e não fiquem de posse dos titulares dos cargos. Os punhos são uma espécie de bracelete, ou luvas de cano longo, chamados de gauntlet em inglês, e no início da Maçonaria Especulativa formavam uma peça única com as luvas. Foram inspirados nas luvas do período operativo, feitas de tecido mais grosso, que tinham como função proteger os punhos e parte do antebraço dos pedreiros. Adotaram oficialmente o formato e o simbolismo que conhecemos hoje em 1884. Diferentemente dos demais Mestres e Oficiais, os Vigilantes no Rito Adonhiramita não usam faixas, mas sim colares, onde são penduradas as respectivas joias do cargo. Possuem a cor azul celeste e bordados em dourado. São investidos deles na Sessão Magna de Instalação e Posse das administrações. Não possuem simbolismo por si só, na verdade são apenas a peça do vestuário em que a Joia do cargo é pendurada, esta sim possui simbolismo próprio. Os colares sempre foram utilizados como adornos desde as primeiras civilizações, simbolizando um status diferenciado para que os utilizava, geralmente os colares eram acompanhados de joias, amuletos, símbolos religiosos e místicos. Tratava-se de um adorno para ser visto à distância. Os colares Adonhiramitas também possuem essa função de visibilidade à distância. Da mesma forma que os punhos, nos casos de substituição temporária dos titulares dos cargos, os Mestres que desempenharem as funções durante as sessões deverão utilizá- 184 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O MALHETE A PEDRA BRUTA los. Por essa razão também devem ser guardados no Templo, e não com os titulares dos cargos. Os Vigilantes usam malhetes para simbolizar o seu poder, entendendo-se a expressão “poder” como instrumento de demonstração de autoridade, e nenhum dom metafísico, paranormal ou sobrenatural. Recebem os malhetes na Sessão Magna de Instalação e Posse da administração da Loja. Na antiguidade os malhetes, martelos, maços e instrumentos similares representavam o poder, pois amplificavam a força de quem os usava. A representação mitológica mais relevante deste conceito é a do martelo Mjolnir, da divindade nórdica Thor, deus do trovão. No período operativo, era um maço maior, que possibilitava golpes de maior intensidade, e vem daí o simbolismo na Maçonaria Especulativa. Geralmente são feitos de madeira, mas não há uma padronização quanto ao material nem ao seu tamanho. Simbolicamente, não são o mesmo instrumento utilizado no desbaste da Pedra Bruta. A Pedra Bruta fica na base do altar do 2° Vigilante. Representa a inteligência humana no seu estado mais rudimentar e a alma humana pouco evoluída. Isso significa moldar a personalidade, e retificar a conduta pessoal. Seu simbolismo está atrelado ao cargo de 2° Vigilante. Desbastar e esquadrejar a Pedra Bruta é a tarefa dos Aprendizes, e cabe ao 2° Vigilante orientar e auxiliar os Aprendizes nesta tarefa. Não se ensina o ângulo do corte, ou a intensidade da força aplicada pelo maço, mas identifica-se as imperfeições, e se propõe a correção. Apontar os erros neste sentido, é uma questão didática e necessária, e não deve ser encarada pelos Aprendizes como constrangimento. Da mesma forma, a correção deve ser conduzida com cuidado e habilidade pelo 2° Vigilante, para não ocasionar constrangimentos, humilhação, ou quaisquer outros sentimentos indesejáveis no Aprendiz. 185 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A PEDRA POLIDA A DISCIPLINA A Pedra Polida fica na base do altar do 1° Vigilante. Representa a inteligência moldada e evoluída de seu aspecto primário e primitivo, pronta para ser empregada na construção do edifício social. É o estágio seguinte ao Grau de Aprendiz. Seu simbolismo está atrelado ao cargo de 1° Vigilante. Polir a Pedra Bruta é a tarefa dos Companheiros Maçons. Isso significa aperfeiçoar a personalidade e requintar nossa conduta, que foram preparadas e fundamentadas no Grau anterior. Cabe ao 1° Vigilante orientar e auxiliar os Companheiros nesta tarefa. Usar o maço e o cinzel para tornar uma superfície perfeitamente lisa é uma tarefa difícil, e um trabalho individual intransferível. Há um ensinamento dos mais relevantes aqui, nenhum de nós possui luz própria, apenas refletimos a luz emanada do Grande Arquiteto do Universo, e quanto mais formos capazesde polir a superfície de nossas Pedras, que já foram Brutas, mais reluzentes, e arautos da Verdadeira Luz seremos. “Cumprir as obrigações do Estado em que a Providência nos colocou...” Esta é a primeira obrigação de um maçom, se refere à disciplina, à ordem, à submissão da vontade, e ao respeito, seja à família, à sociedade, à Pátria, ao Grande Arquiteto do Universo, à Ordem, e, principalmente, a si mesmo. Os Aprendizes são auxiliados pelo 2° Vigilante a moldar sua postura, sob os pontos de vista ético e moral, e da mesma forma o são os Companheiros pelo 1° Vigilante. Neste raciocínio, obedecer não deve ser confundido como condição de inferioridade, mas de humildade, de reconhecimento de que qualquer um de nós tem condição de evoluir e se tornar um ser humano melhor, e que sempre teremos algo a aprender. Apontar os erros, neste sentido, é uma questão didática e necessária, e não uma coação ou imposição. 186 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INVERSÃO DAS COLUNAS O SOL E O MERIDIANO Os Aprendizes e Companheiros devem ser orientados a acompanhar as sessões pelo ritual, observar e prestar atenção em tudo o que ocorre no Templo, e manter postura correta durante os trabalhos. No Rito Adonhiramita, as Colunas são invertidas em relação a outros Ritos, como o Rito Escocês Antigo e Aceito por exemplo. Esta posição se deu muito provavelmente em função da obra de Samuel Prichard, “Maçonaria Dissecada”, de 1730. Assim, o 2° Vigilante fica na Coluna do Norte, denominada Coluna “J”, à esquerda de quem entra no Templo, e o 1° Vigilante na Coluna do Sul, Coluna “B”, à direita. O Norte é a parte mais escura, e que recebe menor claridade no hemisfério norte, é lá que se sentam os Aprendizes, que não são ainda capazes de se expor a uma intensidade maior de luz. O Sul é a parte mais iluminada no hemisfério norte, é lá que sentam os Companheiros, já habituados à claridade. Nos Templos Adonhiramitas as Colunas se encontram alinhadas no mesmo eixo, lado a lado, como no pórtico do Templo de Salomão, porém, do lado de dentro. “Para melhor observarem a passagem do Sol pelo meridiano...” Meridianos são eixos imaginários, que partem dos dois polos extremos do planeta, Norte e Sul. Portanto, vistos da posição dos Vigilantes, seriam curvas sucessivas partindo do Oriente (Leste), e se encerrando atrás deles no Ocidente (Oeste). Assim, é possível visualizar, de modo imaginário, é claro, o trânsito aparente do Sol no firmamento, iniciando sua carreira atrás do Trono do Venerável Mestre, e progressivamente atingir o zênite, no centro do Templo, localizado exatamente no eixo Norte-Sul. 187 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O INTERROGATÓRIO ASSOCIAÇÃO COM A CABALA O que os ritualistas pretendiam, é que os Vigilantes enxergassem simbolicamente o meio-dia, o período do dia em que supostamente as sombras são mais verticais, portanto todas iguais, quando se iniciam nossos trabalhos. Durante o processo de Abertura da Loja, no Rito Adonhiramita, é feito um Interrogatório pelo Venerável Mestre, dirigido ao Cobridor Interno e aos Vigilantes. Aparentemente é uma etapa desnecessária, pois todos em Loja devem saber as respostas, já que são maçons. Isto é um resquício dos antigos catecismos, que eram repetidos exaustivamente para os Aprendizes a fim de que eles se conscientizassem de suas obrigações. Saint-Victor, na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, faz severas críticas a esta etapa, e afirma que foi corrompida, considerando os procedimentos dos cristãos primitivos e das Ordens Medievais de Cavalaria, propondo inclusive sua extinção. O fato é que nunca deixaram de existir em nossos rituais. E na maioria das vezes, apesar da repetição, nos damos conta que pouco aprendemos. É quase impossível vencer nossas paixões, submeter nossa vontade e ser reconhecido como maçom por outro Irmão. Entendo, assim como os ritualistas, que devemos ser advertidos sempre disso, e que os verbos estão no infinitivo para nos alertar que a tarefa é contínua e interminável. Esse é o combate que todo maçom deve travar diariamente consigo mesmo, na eliminação progressiva de seu ego, de modo a que seu Mestre Interior possa se libertar das amarras que o prendem. Na correspondência entre o desenho da Árvore da Vida e a distribuição dos cargos em Loja no Rito Adonhiramita, O 2° Vigilante está associado a HOD, a Glória, relacionada ao número OITO. HOD é associada à mente individual, intelectual, à lógica, à força da mente, à criatividade, logo à Beleza de nossas obras. Nos Arcanos Menores das Escolas de Mistério, HOD está relacionada aos pedreiros, aos construtores da forma. Alguns autores associam HOD ao avental maçônico, porque está relacionada ao trabalho de construir. 188 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A ASTRONOMIA A PROCISSÃO Mas para sua perfeita manifestação, é necessário estar harmonizada pela sefirote oposta, NETZACH, associada ao 1° Vigilante, ou seja, os dois Vigilantes devem trabalhar juntos e harmonicamente. NETZACH é a Vitória, relacionada a IEOVAH SABAOTH, o Senhor dos Exércitos e ao número SETE. É a sefirote da firmeza, da sustentação, a Força de nossas Colunas. NETZACH aproxima a mente intelectual e lógica da fé, que vai levar à espiritualidade, por isso chama-se “Inteligência Oculta”. HOD e NETZACH são respectivamente as bases dos pilares da Severidade e da Misericórdia. Na correspondência com a Abóbada Celeste de nossos Templos, O 2° Vigilante está associado à Lua, à parte mais escura do Templo, e à noite. A Lua simboliza os ritmos biológicos e os ciclos da vida, nascimento – vida – morte – renascimento. É por esse lado mais escuro que ingressamos na Maçonaria. O 1° Vigilante não está associado a nenhum astro real, mas a um símbolo maçônico, a Estrela de Cinco Pontas, que representa o homem e o Companheiro Maçom, cujo significado será aprofundado no Grau seguinte. No cortejo de entrada, o 2° Vigilante posiciona-se na fileira correspondente à Coluna do Norte, à direita do Mestre de Cerimônias, e fica atrás do Chanceler. É o último Mestre da Coluna do Norte a ingressar no Templo, e dirige-se diretamente a seu Altar, sem a necessidade de circulação. Na saída, em relação à Coluna do Norte, o Arquiteto e o Cobridor Interno deverão nele permanecer para o Adormecimento da Chama Sagrada. Nesta ocasião, deverá completar a circulação, seguindo pelo Norte até o limite do Ocidente e Oriente, e descer pelo Sul, até a porta do Templo. O 1° Vigilante coloca-se do lado oposto, na fileira correspondente à Coluna do Sul, à esquerda do Mestre de Cerimônias, e se posiciona atrás do Tesoureiro. É o último Mestre do Ocidente a ingressar no Templo. Deve fazer a circulação ritualística, seguindo pelo Norte, até chegar em seu Altar na base da Coluna do Sul. Na saída, seguirá diretamente para a porta do Templo sem a necessidade de circulação, lembrando que em relação à Coluna do Sul, o 2° Experto deverá permanecer no interior do Templo para o Adormecimento da Chama Sagrada. 189 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NO TEMPLO O HEXAGRAMA O 2° Vigilante ocupa um Altar, na base da Coluna do Norte. O 1° Vigilante ocupa um Altar, na base da Coluna do Sul. No Rito Adonhiramita, a posição das colunas é paralela, e os Vigilantes trabalham lado a lado. Se traçarmos retas imaginárias entre as Três Luzes da Loja, veremos desenhado um triângulo com o vértice voltado para cima. Representa o Plano Espiritual. Ou seja, a Chama Sagrada, ou Fogo Eterno, desdobrada e manifestada em Sabedoria, Força e Beleza.190 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES Se traçarmos retas imaginárias entre as duas Dignidades com assento no Oriente, Orador e Secretário, e no Ocidente, o Cobridor Interno, veremos desenhado um triângulo com o vértice voltado para baixo. Representa o Plano Material, a lei, a ordem e a vigília, ou, se preferirmos, a organização, o tempo, e o espaço. Se sobrepusermos essas duas figuras, veremos traçado o Hexagrama, a Estrela de Davi. Nessa hipótese, os Vigilantes são a base do Triângulo Espiritual, representado pelos dois Vigilantes e o Venerável Mestre. Os cargos de Vigilante são preenchidos através de eleição direta, apurada pela maioria simples de votos da assembleia. São cargos eletivos. Os Vigilantes são duas, das sete Dignidades de uma Loja, e cargos obrigatórios. O 1° Vigilante possuí assento em local definido no Ocidente, do lado Sul do Templo, na base da Coluna da Força. O 2° Vigilante possui assento em local definido no Ocidente, do lado Norte do Templo, na base da Coluna da Beleza. Ocupam altares, e não mesas, que ficam em patamar mais elevado que o piso do Templo no Ocidente, respectivamente, Altar da Beleza e Altar da Força. Os cargos possuem regulamentação muito simples no Regulamento Geral da Federação, nos seguintes termos: “Art. 119 – Os Vigilantes têm a direção das Colunas da Loja, conforme determina o respectivo ritual. Art. 120 – Compete ao Primeiro Vigilante I – Substituir o Venerável Mestre de acordo com o Estatuto ou ritual II – Instruir os maçons sob sua responsabilidade de acordo com o ritual Art. 121 – Compete ao Segundo Vigilante I – Substituir o Primeiro Vigilante de acordo com o Estatuto ou ritual II – Instruir os maçons sob sua responsabilidade de acordo com o ritual”. Ambos os cargos possuem funções apenas ritualísticas. 191 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA REQUISITOS POSTURA O ritual e os regulamentos determinam apenas que o ocupante dos cargos de Vigilante sejam Mestres, sem a necessidade de cumprimento de interstício desde a colação do Grau, e também não sem a obrigatoriedade de serem Mestres Instalados. Devem ter compromisso, zelo e dedicação, bem como assiduidade, pois Aprendizes e Companheiros dependem de sua atuação. Além disso, a Loja não poderá ser aberta sem a sua presença. Devem conhecer bem os rituais, e os princípios maçônicos. Devem ser atentos, além de possuir boa dicção e impostação de voz, para que suas falas sejam ouvidas e compreendidas em qualquer lugar do Templo. Devem ser experientes, e demonstrar qualidades de organização, planejamento e liderança. É imprescindível possuir didática apurada, pois a transmissão da Doutrina e sua preservação depende diretamente de seu desempenho. Acima de tudo, devem possuir bom senso e capacidade de avaliação. Devem se mostrar solícitos com Aprendizes e Companheiros, mas também com qualquer Mestre de suas Colunas. Por todas essas razões, devem ter postura exemplar em Loja. A Maçonaria é uma Escola de Mistérios, e os vigilantes são seus principais professores, pois são os instrutores dos Aprendizes e dos Companheiros. Serão observados como exemplos pelos maçons mais novos, portanto, a postura, e a conduta de ambos, deve ser a mais perfeita possível. Mais do que nenhuma outra Dignidade, Oficial ou Mestre, devem atuar estritamente de acordo com o ritual. Não devem errar na leitura, nem titubear na execução da ritualística. Devem tratar os obreiros de suas respectivas Colunas com fraternidade, porém exercendo sua autoridade, e exigindo destes o comportamento compatível, e o cumprimento do dever. Devem estar atentos à queima das velas de seus Altares, substituindo-as quando necessário, ou revigorando-as quando possível. 192 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A JOIA DO 2° VIGILANTE A JOIA DO 1° VIGILANTE FUNÇÕES RITUALÍSTICAS – 2° VIGILANTE Seus altares jamais devem ser desguarnecidos com a Loja aberta. Na hipótese de ausência temporária, outro Mestre deverá substitui-los. Devem ter em mente que simbolizam a Beleza e a Força, duas das Colunas de Sustentação de nossos Templos. Usam o verbo sentados, pois ocupam altares, e são os últimos a falar em suas respectivas Colunas. A Joia do 2° Vigilante é um Prumo estilizado. O prumo é um instrumento utilizado na construção civil para aferir o alinhamento das paredes com relação ao plano vertical. É uma herança dos símbolos das corporações medievais de pedreiros. Simboliza, doutrinariamente, a retidão que deve nortear a conduta de todos os maçons, que não deve permitir qualquer desvio ou inclinação. Não há qualquer conotação mística. A Joia do 1° Vigilante é o Nível, instrumento utilizado na construção para aferir o alinhamento horizontal das paredes. É, igualmente, uma herança dos símbolos do período operativo. Simboliza, doutrinariamente, a consciência de que todos somos iguais, nivelados da mesma maneira pelo Grande Arquiteto do Universo. Nenhum maçom é melhor ou pior que outro. Não há nenhuma conotação mística. O 2° Vigilante comanda a Coluna do Norte, a Coluna “J”, o Setentrião, simbolicamente a parte menos iluminada em nossos Templos, com base na posição do Sol no hemisfério norte. Lá se sentam os Aprendizes. É o responsável pela instrução dos Aprendizes, e auxilia o Venerável Mestre a abrir e fechar a Loja. Executa o Revigoramento e o Adormecimento da Chama da Beleza, que foi desdobrada em seu Altar. Usa o malhete ritualisticamente, e não sua espada. Concede e cassa a palavra na sua Coluna. 193 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA FUNÇÕES RITUALÍSTICAS – 1° VIGILANTE O CERIMONIAL DO FOGO É o responsável pelo planejamento do Quarto de Hora de Instrução nas sessões do Grau de Aprendiz. É o 2° Vigilante quem solicita o aumento de salário dos Aprendizes. O exame do Grau será efetuado pela Comissão de Admissão e Graus. Deve orientar os Aprendizes na formulação de seus trabalhos. É incensado por três vezes pelo Mestre de Cerimônias, na Cerimônia da Incensação. Quando o 2° Vigilante se levanta, toda a Coluna do Norte se levanta, sem necessidade de comando, devendo todos ficarem de pé, sem estar à Ordem. O 1° Vigilante comanda a Coluna do Sul, a Coluna “B”, o Meridião, simbolicamente, parte mais iluminada que o Norte em nossos Templos. com base na posição do Sol no hemisfério norte. Lá se sentam os Companheiros. Comanda também todo o Ocidente, incluindo o 2° Vigilante, e não apenas a Coluna do Sul. É o responsável pela instrução dos Companheiros, e também auxilia o Venerável Mestre a abrir e fechar a Loja. Executa o Revigoramento e o Adormecimento da Chama da Força, desdobrada em seu Altar. Usa o malhete ritualisticamente, e não sua espada. Concede e cassa a palavra na sua Coluna, e em todo o Ocidente, se necessário. É o responsável pelo planejamento do Quarto de Hora de Instrução nas sessões do Grau de Companheiro. É o 1° Vigilante quem solicita o aumento de salário dos Companheiros. O exame do Grau será efetuado pela Comissão de Admissão e Graus. Deve orientar os Companheiros na formulação de seus trabalhos. É incensado por três vezes pelo Mestre de Cerimônias, durante a Cerimônia da Incensação. Quando o 1° Vigilante se levanta, todo o Ocidente se levanta, sem a necessidade de comando, devendo todos ficarem de pé, sem estar à Ordem. No Cerimonial do Fogo, cabe aos Vigilantes revigorar as Chamas de suas respectivas Colunas, Força e Beleza. 194 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA CONCESSÃO DA PALAVRA O desdobramento da Chama sagrada se dá exatamente nesta ordem, SABEDORIA = Venerável Mestre, FORÇA= 1° Vigilante, e BELEZA = 2° Vigilante. No Adormecimento do Fogo, a ordem de execução é inversa, BELEZA, FORÇA e SABEDORIA. Há uma fala ritualística para os Vigilantes em ambas as cerimônias. O acendedor, ou abafador, deve ser elevado à altura de seus olhos durante a fala, e antes de revigorar ou adormecer as Chamas. Os Vigilantes recebem o acendedor, ou o abafador, do Mestre de Cerimônias pelo seu lado esquerdo, passivo, aquele que recebe, e o devolvem pelo lado direito, ativo, aquele que dá. No caso das Chamas eventualmente se apagarem, cabe a eles mesmos a revigorar, após receber o acendedor do Mestre de Cerimônias. Nas sessões do Grau de Aprendiz, há apenas uma vela no candelabro das Três Luzes, que totalizam exatamente a idade do Aprendiz. Não existe proibição da adição de iluminação cênica nos Altares, como por exemplo, luzes elétricas acesas ou apagadas sincronizadamente. Cabe aos Vigilantes conceder a palavra em suas respectivas Colunas. A Coluna do Norte faz uso do verbo em primeiro lugar. Fazem isso apenas dizendo: “- Podeis falar, Amado Irmão”. A indicação de quem recebe a concessão deve ser clara para não gerar dúvidas, se for o caso o obreiro pode ser nominado. O ideal é que a palavra circule em conformidade com a hierarquia dos cargos nas duas Colunas, iniciando pelo Chanceler na do Norte, e pelo Tesoureiro na do Sul, encerrando pelos Mestres sem função em ambas as Colunas. No Rito Adonhiramita, Aprendizes e Companheiros não falam durante as sessões, a não ser para defender seus trabalhos entre Colunas, no exame de Grau, também realizado entre Colunas, no Escrutínio Secreto, e nas sessões de finanças. A palavra pode ser cassada por um golpe de malhete pelo 2° Vigilante na Coluna do Norte, e da mesma maneira em todo o Ocidente pelo 1° Vigilante. São motivos para cassar a palavra, a falta de decoro, assuntos de outros Graus, instruções inadequadas, matérias não relacionadas com a Doutrina, etc. O Venerável Mestre tem a prerrogativa de interferir nesse processo, caso necessário. A palavra não retorna. Não existe mais a concessão “por graça”. Só poderá ser concedida novamente “pela ordem”, nas hipóteses em que forem necessários 195 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA BATERIA INCESSANTE E USO DO MALHETE esclarecimentos sobre alguma matéria em apreciação, ou “por questão de ordem”, nos casos em que houver descumprimento de normas ritualísticas ou legais. Não há obrigatoriedade de autorizar desfazer o Sinal do Grau durante a fala dos obreiros. O que os rituais preveem é essa concessão para os Irmãos que possuem dificuldade em manter a postura, e os visitantes de outros Ritos, que não possuem essa prática. Quando é concedido o desfazimento do Sinal, a expressão utilizada é: “-Podeis desfazer o Sinal, Amado Irmão”. Ninguém fala “à vontade” em Loja. A palavra circula em Loja nas seguintes ocasiões: na leitura do Balaústre, para dirimir dúvidas, ou sugerir correções; na Ordem do Dia, para apresentação de propostas, e solicitação de esclarecimentos sobre a matéria que está sendo apreciada; na Palavra Análoga ao Quarto de Hora de Instrução, para os comentários referentes à peça de arquitetura apresentada; na Palavra à Bem da Ordem em Geral e do Quadro em Particular, para a apresentação de comunicados relevantes, e de interesse da Loja ou da Ordem, e na Palavra Análoga ao Ato, referente às sessões especiais, restrita a observações referentes ao ato praticado durante a reunião. Os aplausos maçônicos previstos no ritual são executados com os malhetes, no caso das Três Luzes da Loja. De modo geral, é o Venerável Mestre quem comanda seu início e fim, mas no caso do Venerável Mestre receber uma homenagem, por exemplo, essa Bateria será comandada pelo 1° Vigilante. Na hipótese do Venerável Mestre não comandar a Bateria Incessante, mesmo que possa fazê-lo, e o 1° Vigilante tenha o entendimento que ela deve ser executada, é recomendável que permaneça passivo. Essa postura pode provocar a interpretação de questionamento da autoridade do Venerável Mestre, e causar constrangimentos desnecessários. O 2° Vigilante jamais comanda a Bateria Incessante. A Bateria Incessante é uma homenagem por aplausos maçônicos, e não deve ser utilizada de outra forma, ou com outro objetivo. Quando o malhete não está sendo utilizado ritualisticamente, deve ser mantido sobre o altar, e não junto ao peito. A Bateria do Grau, sempre que a circunstância reclame, é executada com o malhete pelas Três Luzes da Loja. Os malhetes também são utilizados para interromper determinada etapa ritualística, e dar início a outra. Esotericamente, os malhetes tem a propriedade, através de pancadas secas e bruscas, de alternar a frequência vibratória da Loja. O golpe deve ser firme, mas não violento. 196 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA EM VISITA A OUTRAS LOJAS AS INSTRUÇÕES Há quem defenda o uso dos paramentos de Vigilante, quando em visita a outras Lojas. Não é esta minha opinião. Entendo que essa prática não é adequada. O representante da Loja é o Venerável Mestre, e apenas ele deve ir paramentado em visita a outras Oficinas. Nesta ocasião, o Venerável Mestre ocupará assento no Oriente, como Mestre Instalado, e nesse caso estará visivelmente representando a Loja e recebendo as honras, ou, caso haja a possibilidade, sentará ao lado esquerdo do Venerável Mestra da Loja visitada, a convite deste. Quanto aos Vigilantes, na minha opinião, devem usar os paramentos de Mestre Maçom, ou Mestre Instalado, conforme o caso, e da mesma forma ocupar lugares de acordo com sua qualidade e Grau, lembrando que a direção que fazem na Loja na qual estão investidos no cargo é ritualística, e não administrativa, ou seja, não há representatividade fora dela. Tanto no que se refere aos Aprendizes, quanto aos Companheiros, a instrução destes é da competência exclusiva dos respectivos Vigilantes, e não pode ser delegada, apesar de ser permitido que outros Mestres ocupem o Quarto de Hora de Instrução. O recomendável é que a apresentação seja avaliada pelos Vigilantes, para que estes possam constatar sua validade, considerando o estágio de aprendizado dos Aprendizes e Companheiros. Cabe a eles, portanto, o planejamento das instruções a serem ministradas de forma progressiva e cumulativa. O ingresso de novos Aprendizes e Companheiros em suas Colunas, não deve prejudicar o ritmo e o andamento dos ensinamentos já ministrados aos mais antigos. A instrução não deve se restringir às sessões, Aprendizes e Companheiros devem ser acompanhados e orientados pelos Vigilantes permanentemente, inclusive, e principalmente, fora do Templo. É importante ter em mente que cada caso é um caso, a evolução da aprendizagem é individual, os Vigilantes devem estar atentos para atuar de acordo com a necessidade de cada um de seus “alunos”. 197 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA AS FERRAMENTAS DIGITAIS O QUARTO DE HORA DE INSTRUÇÃO Os Vigilantes são os professores e educadores dos Aprendizes e Companheiros, devem, inclusive, indicar a literatura mais adequada a cada situação. É recomendável constar do currículo mínimo de aprendizado dos Aprendizes e Companheiros as seguintes disciplinas: • História da Maçonaria; • História do Rito; • Ritualística; • Simbolismo do Grau, e • Legislação Maçônica. É fundamental que os Vigilantes tenham o entendimento que interstício regulamentar não significa obrigatoriedade de aumento de salário. A promoção dos Aprendizes e Companheiros deve ser concedida por mérito, por aproveitamento. Na minha opinião, a tecnologia deve ser aliada dos Vigilantes no desempenho das funções de instrutores dos Aprendizes e Companheiros.As ferramentas digitais atualmente disponíveis, e acessíveis a todos, oferecem recursos valiosos para o aprofundamento das instruções e ensinamentos, como complementação do conteúdo apresentado nos Templos. São opções digitais, dentre as inúmeras possibilidades: Grupos de Aprendizes e Companheiros, dirigidos pelos respectivos Vigilantes no WhatsApp, Telegram, Signal, etc.; videoaulas em plataformas de videoconferência, dirigidas especificamente a cada Grau; disponibilização de conteúdo online para estudo e indicação de fontes confiáveis na internet, etc. Ressalto que com a oferta de grupos maçônicos da atualidade nas redes sociais, é imprescindível que os vigilantes acompanhem a participação dos Aprendizes e Companheiros neles, para que não haja prejuízo de sua formação. O período de nossas sessões destinado à transmissão de ensinamentos aos Aprendizes e Companheiros, no Rito Adonhiramita, é denominado Quarto de Hora de Instrução, e não deve ser negligenciado, pois o tempo é mínimo diante da complexidade da Doutrina. A responsabilidade sobre o que será apresentado é dos Vigilantes, que poderão delegar a instrução a outro Mestre à sua escolha. É importante, no entanto, que o conteúdo seja previamente examinado para constatação da validade em relação à progressão do aprendizado. 198 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A LINHA DE SUCESSÃO CONCLUSÃO Devem ser apresentadas peças de arquitetura voltadas para o simbolismo e a ritualística, para melhor aproveitamento da visualização da decoração dos Templos. Devem ser referentes à Doutrina do Rito praticado pela Loja, pois os Aprendizes e Companheiros estão em formação. Devem ser evitados os seguintes temas, dentre outros: Doutrina e simbolismo de outros Ritos, diferentes do praticado pela Loja; textos de autoestima ou motivacionais; textos referentes a religiões; assuntos estranhos à Maçonaria, e temas políticos. Boa parte das Oficinas atualmente, mantém a prática da ordenação cronológica como fator de ocupação dos cargos de Vigilante, em função do tempo de Ordem, do e ingresso na Loja. Creio que esta não seja a opção mais adequada, ao menos se não forem acrescidos outros requisitos. Diante do que vimos até aqui, fica clara a necessidade que os Vigilantes sejam obreiros preparados para o desempenho das tarefas. O futuro da Loja, do Rito e da Ordem em geral depende diretamente de suas atuações. A meritocracia tem perigosamente se afastado da prática das Lojas, e os prejuízos começam a se acumular, e se tornar cada vez mais evidentes. O prazer de frequentar a Loja, o estímulo ao amor pela Maçonaria, e o interesse nos estudos, depende do trabalho dos Vigilantes. Essa é uma medida das mais importantes para combater a evasão maçônica. É dever das Lojas formar novos maçons, e torna-los Mestres bem preparados. Os Vigilantes, mais do que outros Mestres, Oficiais, e Dignidades, devem ser exemplos, devem ser admirados pelos Aprendizes e Companheiros. É importante salientar também, que os Vigilantes estão inseridos na cadeia de comando, e na linha de sucessão da Oficina, ou seja, estão aprendendo como dirigir a Loja, iniciando por uma Coluna apenas, instruindo novos membros, que são os Aprendizes; dirigindo todo o Ocidente, e também obreiros mais instruídos, que são os Companheiros, e se formando como líderes. Os Vigilantes são dois, dos três cargos mais importantes de uma Loja. São suas Luzes, eles as dirigem. Não existem Lojas Simbólicas sem eles. Por tudo que vimos, me parece recomendável que o Mestre que irá ocupar o cargo esteja bem preparado, e ciente do 199 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA compromisso e responsabilidade que estará assumindo. O futuro da Loja, do Rito, e da própria Ordem, depende diretamente deles. Não pode haver negligência no desempenho dos cargos. Venerável é um adjetivo associado a alguém digno de veneração. E é como Vigilante que o Mestre Maçom demonstrará essa qualidade. Acima de tudo, devemos ter em mente que os Vigilantes também estão aprendendo, e nesse sentido, todo apoio, amplo e incondicional, deve ser concedido a eles. 200 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ETIMOLOGIA VENERANÇA E VENERALATO O VENERÁVEL MESTRE Na Maçonaria britânica, o Venerável Mestre se denomina Worshipfull Master, exatamente Venerável Mestre, se traduzido para o português. Na França o verbete correspondente é le Vénérable, igualmente Venerável Mestre, e assim foi traduzido para o nosso idioma. Venerável é um adjetivo de dois gêneros, que designa alguém digno de veneração e respeito. É esse exatamente o conceito do Mestre que dirige a Loja, alguém digno de admiração e respeito por parte dos demais obreiros. Ou seja, o termo se refere a uma qualidade, ou condição, conquistada pela conduta, exemplo, e atitudes, que é observada pelos outros, e não por nós mesmos. O Venerável Mestre é o maçom que mais deve se aproximar da expressão “ser reconhecido como tal”. No jargão maçônico, os vocábulos “venerança”, ou “veneralato”, se referem ao período de gestão de um Venerável Mestre. Os verbetes constam inclusive de alguns dicionários informais da língua portuguesa. As regras ortográficas, para a formação de palavras na língua portuguesa, foram fielmente observadas na criação de ambos os verbetes, que são dois substantivos derivados do verbo venerar. No entanto, na minha opinião, ambos os termos estão incorretos conceitualmente. Venerável é aquele que é digno, passível, de veneração, ou adoração, e, portanto, corresponde analogamente aos adjetivos admirável, ou adorável, por exemplo. Ou seja, estamos nos referindo a um sentimento de terceiros em relação à pessoa, como no caso dos atores, cantores, e jogadores de futebol famosos, por exemplo. 201 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ORIGEM E INSPIRAÇÃO A INSERÇÃO NOS RITUAIS Nestes exemplos, jamais ouvimos alguém se referir ao período de “admirância” ou “admiralato” de alguém, inclusive porque falamos de um intervalo efêmero de tempo. No meu entendimento, portanto, o correto seria nos referirmos como período de gestão ou administração do Venerável Mestre. Apesar disso, e como somos testemunhas, a prática do uso destes termos virou quase uma tradição entre nós. O cargo de Venerável Mestre nas Lojas modernas, foi inspirado nas guildas de pedreiros medievais, o chamado período operativo da Maçonaria. Porém, nessa época, a denominação era apenas mestre, e também foi assim no início formal da Maçonaria Especulativa, no século XVII. O mestre nas corporações de pedreiros de ofício da Idade Média, era o profissional mais habilidoso, e que melhor conhecia as técnicas construtivas. Era um cargo vitalício, e geralmente hereditário, sendo repassado a filhos, sobrinhos e familiares, e não por mérito, como podemos eventualmente supor. Lembremo-nos que eram corporações, no sentido exato do termo. Os pedreiros que obtinham a formação completa, usualmente se desligavam da loja em que trabalhavam, e fundavam a sua própria, dando assim origem a outra linhagem de pedreiros. Eram os mestres operativos, que dirigiam a construção e a administração destas empresas medievais de construção civil, ou escolas práticas de arquitetura, se preferirmos. Também era ele quem admitia novos membros, e os submetia a um rito de passagem, transmitindo os toques e sinais que os identificariam como pedreiros livres, que, no entanto, nada tinha de parecido com a liturgia praticada pelas Lojas modernas. Cada um dos mestres das guildas, possuía sua marca individual, que era uma espécie de assinaturadas obras realizadas. Não há qualquer associação do cargo com heróis míticos. O cargo de Venerável Mestre, juntamente com o dos Vigilantes, é o mais antigo da Maçonaria moderna, e é obrigatório em todos os Ritos. Consta desde os primeiros rituais maçônicos, e das Constituições de Anderson, publicadas em 1723, que fazem a seguinte descrição: 202 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O CONCEITO DA MAÇONARIA ESPECULATIVA A INSTALAÇÃO “Toda promoção entre os maçons será baseada no seu real valor e mérito pessoal, pois assim serão os Lordes melhor servidos, os Irmãos não serão envergonhados, nem a Arte Real menosprezada. Dessa forma nem o Mestre nem os Vigilantes são escolhidos pela idade, mas sim por seus méritos”. Embora as Três Luzes da Maçonaria sejam o Livro da Lei, o Compasso e o Esquadro, posteriormente O Venerável Mestre foi batizado juntamente com os Vigilantes como uma das “Três Luzes da Loja”, “Três Luzes Menores”, ou ainda, “Três Luzes Ritualísticas”. O Venerável Mestre é citado como “Grão-Mestre da Loja”, na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita. Não há dúvida de que o cargo de Venerável Mestre foi inspirado nas guildas de pedreiros medievais. A diferença fundamental, e evidente, é que na Maçonaria Especulativa ele não dirige construções físicas. Com a adoção do conceito de Lojas Simbólicas, o Venerável Mestre passou a exercer a direção de uma associação filosófica, cujos novos membros eram admitidos através de Iniciações. Surgiu então, uma escala hierárquica de aprendizado, denominados de Graus Simbólicos, que passaram a ser concedidos exclusivamente pelo Venerável Mestre da Loja. Inicialmente, o Venerável Mestre era assessorado por poucos oficiais, e com o passar do tempo, e o surgimento dos Ritos, novas funções foram criadas. Não há registros de Cerimônias de Instalação antes de 1717. Nas Constituições de Anderson, promulgadas em 1723, são relacionados os requisitos para o cargo de Mestre Eleito, que vai dirigir a Loja, mas não se trata de um ritual. A direção da Loja era transmitida de forma simples, do Venerável anterior para o próximo. A primeira descrição da Cerimônia de Instalação surge em 1760, na obra Three Distinct Knocks (Três Batidas Distintas). 203 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A INSPIRAÇÃO DA INSTALAÇÃO O QUE É INSTALAR? Mais tarde, em 1775, William Preston na obra “Ilustrações da Maçonaria”, descreve os deveres do Mestre da Loja. Ao que parece, o formato definitivo foi adotado somente em 1827, pela Grande Loja Unida da Inglaterra, e vem sendo aperfeiçoado desde então. Segundo alguns autores, a prática da Instalação era própria da Maçonaria inglesa, e não foi adotada pela França, a não ser pelo Rito Adonhiramita. Na Maçonaria brasileira, o Cerimonial de Instalação do Venerável Mestre foi inserido somente em 1927, pela Grande Loja. A adoção pelo Grande Oriente do Brasil só se deu em 1968, com a publicação de um ritual que continha a ritualística para todos os Ritos praticados pelas Lojas federadas, o que ocorre até nossos dias. Cada Rito possui um procedimento particular. A Comissão de Instalação, formada exclusivamente por Mestres Instalados, é nomeada pelo Grão-Mestre, a pedido da Oficina. Muito provavelmente, a Cerimônia de Instalação do Venerável Mestre, foi inspirada na coroação dos reis britânicos. Esta, por sua vez, remonta à tradição celta, que sugere a coroação do primeiro rei da Irlanda no ano 500. Trata-se de uma tradição mística, associada à mitologia das ilhas britânicas, e ao povo denominado Thuata Dé Dannam, tribo primitiva que habitava a ilha. A coroação, ou sagração dos reis, se dava numa pedra denominada Lia Fail, uma espécie de oráculo, e que servia como um trono de pedra no ritual. É possível, inclusive, que o mito da espada Excalibur das lendas arturianas, que estava cravada numa pedra, e poderia somente ser removida por um rei digno, tenha se inspirado na tradição celta também. Há, no entanto, uma clara influência dos ritos de sagração de cavaleiros medievais, que da mesma forma, pode ter sido inspirada na antiga tradição celta, e sincretizada posteriormente com a prática cristã. Há diferença entre Instalação, investidura e posse. As demais dignidades da Loja são empossadas, apenas o Venerável Mestre é Instalado. Instalar é colocar algo em seu devido lugar, para que assuma uma posição definitiva, ou com maior duração, e também para que possa funcionar de forma eficiente e correta. 204 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA MESTRE INSTALADO É GRAU? No caso do Venerável Mestre, ele é Instalado numa cadeira situada no Oriente, no eixo central do Templo, no Altar da Sabedoria. Isso quer dizer que ele recebe a autorização para sentar- se no local mais elevado do Templo, para que dali possa dirigir com maior eficiência a Oficina. É por isso que existe uma hierarquia de posição nas cadeiras do Altar da Sabedoria, sendo a central ocupada exclusivamente pela maior autoridade da Loja, o Venerável Mestre. Ao ser instalado nesta cadeira, o Venerável Mestre está investido da responsabilidade de guardar a Coluna da Sabedoria, e em decorrência desta função, recebe o direito de manusear a Espada Flamígera. . O Mestre Instalado não é um Grau, é uma qualidade. O Mestre Instalado é um Mestre Maçom do Grau 3, porém, possui atributos exclusivos, que lhe são conferidos na Cerimônia de Instalação, é isso o que o diferencia dos demais Mestres. Há ensinamentos e fundamentos que são conferidos apenas durante a Cerimônia de Instalação. Na Maçonaria brasileira, no âmbito do Grande Oriente do Brasil, e na maioria dos Ritos, instituiu-se tratar os Mestres que deixaram de ser Veneráveis Mestres com o título de Mestres Instalados. Há uma corrente que entende o procedimento como incorreto, porque assim que se deixa o cargo de Venerável Mestre deixa-se também a cadeira na qual o Mestre Maçom foi Instalado. Particularmente discordo, pois os atributos da Instalação não são jamais removidos. Os ex-Veneráveis Mestres não comandam mais as Oficinas, mas são os únicos além do Venerável Mestre, que possuem autoridade para fazer as mesmas coisas, inclusive Instalar novos Veneráveis Mestres, e manusear a Espada Flamígera, se necessário. Os Mestres Instalados gozam da prerrogativa de sentarem no Oriente, mesmo sem ocupar cargos, aliás, são os únicos que podem fazer isso à exceção das autoridades maçônicas. 205 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O TRONO DE SALOMÃO OS PUNHOS É comum entre os maçons brasileiros, se referir à cadeira ocupada pelo Venerável Mestre nos Templos maçônicos como “Trono de Salomão”. No meu entendimento a associação é incorreta. O Venerável Mestre não personifica o rei Salomão, de modo geral, no Rito Adonhiramita, todo Mestre Maçom representa simbolicamente Adonhiram. Salomão não possuía um trono no Templo de Jerusalém, que aliás, era frequentado em seu interior apenas pelos sacerdotes levitas. Seu trono ficava no palácio, outra construção, também descrita no primeiro Livro dos Reis, e segundo Livro das Crônicas. Salomão não fazia reuniões de maçons no Templo de Jerusalém, como alguns de nós talvez possam imaginar, sua associação com a Doutrina Maçônica é alegórica, tudo a seu respeito em nossa Doutrina é lenda. O Venerável Mestre ocupa um lugar no Altar da Sabedoria, e, portanto, entendo que o lugar principal deve ser deve ser tratado como “Trono da Sabedoria”, ou simplesmente cadeira do Venerável Mestre. No Rito Adonhiramita, o Venerável Mestre usa punhos na cor azul escuro, com bordados dourados nas extremidades. Possuemo símbolo de um esquadro envolto em dois ramos de acácia. O Venerável Mestre é investido dos punhos na Sessão Magna de Instalação e Posse das administrações. Os punhos representam a sua autoridade e poder. Na hipótese da ausência do titular do cargo, o Mestre que o substituir durante aquela sessão não deve utilizar os punhos. Os punhos são uma espécie de bracelete, ou luvas de cano longo, chamados de gauntlet em inglês, e no início da Maçonaria Especulativa formavam uma peça única com as luvas. 206 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O COLAR O AVENTAL Foram inspirados nas luvas do período operativo, que eram feitas de tecido mais grosso, e tinham como função proteger as mãos, os punhos. e parte do antebraço dos pedreiros. Adotaram oficialmente o formato e o simbolismo que conhecemos hoje em 1884. Diferentemente dos demais Mestres e Oficiais no Rito Adonhiramita, o Venerável Mestre, a exemplo dos Vigilantes, não usa faixa, mas sim um colar onde é pendurada a Joia do cargo, que possui a cor azul escuro no fundo, e bordados em dourado. É investido dele na Sessão Magna de Instalação e Posse das administrações. Não possui simbolismo por si só, na verdade é apenas a peça do vestuário na qual a Joia do cargo é pendurada, esta sim possui simbolismo próprio. Os colares sempre foram utilizados como adornos desde as primeiras civilizações, simbolizando um status diferenciado para que os utilizava. Geralmente os colares eram acompanhados de joias, amuletos, símbolos religiosos e místicos. Tratava-se de um adorno pessoal para ser visto à distância, assim como o é na Maçonaria. Da mesma forma que os punhos, nos casos de substituição temporária do titular do cargo, o Mestre que desempenhar a função durante aquela sessão não deverá utilizá- lo. No Rito Adonhiramita, o Venerável Mestre usa um avental na cor azul escuro com bordados em dourado nas extremidades e abeta. É investido dele na Sessão Magna de Instalação e Posse das administrações. É decorado com símbolos do Sol, da Lua, de estrelas, do Tau invertido, na abeta e nas duas borlas, e de um Esquadro emoldurado por dois ramos de acácia. Simboliza a qualidade de Venerável Mestre. 207 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O MALHETE A ESPADA FLAMÍGERA O Venerável Mestre usa o malhete para simbolizar o seu poder, entendendo-se esta expressão como instrumento de demonstração de autoridade, e não de um dom metafísico, paranormal ou sobrenatural. Recebe o malhete na Sessão Magna de Instalação e Posse da administração da Loja. Na antiguidade, os malhetes, martelos, maços, e instrumentos similares, também representavam o poder, pois amplificavam significativamente a força de quem os usava. A representação mitológica mais relevante deste conceito é a do martelo Mjolnir da divindade nórdica Thor, deus do trovão. No período operativo era um maço maior, que possibilitava golpes de maior intensidade. Ele partia as pedras e as separava em porções menores, de acordo com o uso pretendido. Vem daí o simbolismo na Maçonaria Especulativa, o Venerável Mestre organiza e distribui os obreiros da Loja nas funções de acordo com sua aptidão. Geralmente é feito de madeira, mas não há uma padronização nem no que se refere ao material, nem às dimensões. Não são é o mesmo instrumento de desbaste da Pedra Bruta, no caso do Venerável Mestre, também é uma representação dos cetros reais. Este, na minha opinião, é o símbolo maior da qualidade, autoridade, e poder do Venerável Mestre. É chamada de Flamígera, e não de flamejante porque é feita de fogo, e há uma sutil diferença entre os dois vocábulos. Flamígero é o objeto constituído de fogo, e flamejante é o objeto que lança chamas. Nas Lojas Simbólicas, é representada por uma espada de aço com a lâmina ondulada, simbolizando exatamente chamas. Seu simbolismo foi retirado do Livro do Gênesis da tradição-judaico cristã, onde é descrita no capítulo 3, versículo 24. “Deus baniu Adão e Eva e no lado leste estabeleceu seus querubins e uma espada Flamígera que se movia em todas as direções, evitando assim que alguém tivesse acesso à árvore da vida”. O Venerável Mestre, portanto, é o guardião da Coluna da Sabedoria, invisível em nossos Templos, cujo acesso só é permitido por ele. 208 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A ADMINISTRAÇÃO DA LOJA OS RECURSOS MATERIAIS OS RECURSOS HUMANOS Assim como o querubim bíblico, o Venerável Mestre é investido de um poder que não é próprio dele, mas emanado do Grande Arquiteto do Universo. É com esse poder que ele se torna capaz de Iniciar maçons, batizar, conferir Graus, filiar e regularizar obreiros. A Espada Flamígera é sempre empunhada com a mão esquerda, pois representa um poder passivo. Resumidamente falando, é uma espada forjada na Luz Divina, que é simbolicamente sua matéria prima. É o Venerável Mestre quem administra e dirige a loja, e para tanto, serve-se de um tripé que é constituído de recursos materiais, recursos humanos, e da própria Doutrina. Constituem-se como recursos materiais, o espaço físico nas quais as reuniões são realizadas, ou seja, o Templo; os materiais litúrgicos e administrativos; o mobiliário; os elementos decorativos do Templo; as Joias dos cargos; o Estandarte da Loja; o Pavilhão Nacional; a bandeira do Grande Oriente do Brasil; equipamentos de som; o tesouro da Loja, e o Fundo de Beneficência. São recursos humanos da Oficina, os obreiros do quadro da Loja; os eventuais prestadores de serviço; os colaboradores; as Dignidades, e os Oficiais. 209 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA OS CARGOS DA LOJA AS COMISSÕES A DOUTRINA A estrutura organizacional da Loja se divide em cargos eletivos, que são as Dignidades, em número de sete, e os cargos de indicação direta, nomeados pelo Venerável Mestre sem a necessidade de eleição, que são os Oficiais. As Dignidades são, além do próprio Venerável Mestre, os dois Vigilantes, o Orador, o Secretário, o Tesoureiro, e o Chanceler. São Oficiais os seguintes cargos, Mestre de Cerimônias, Hospitaleiro, Cobridores Interno e Externo, 1° e 2° Expertos, Arquiteto, Mestre de Harmonia, Porta-Bandeira, Porta-Estandarte, Mestre de Banquetes, e Bibliotecário. As Dignidades tomam posse na Sessão Magna de Instalação, e os Oficiais podem tomar posse na sessão ordinária seguinte, que será, nesta hipótese, uma sessão simplificada. Os Oficiais são nomeados através de ato administrativo do Venerável Mestre, que deve ser lido pelo Secretário antes da investidura. Irmãos filiados podem concorrer a cargos eletivos, e também ser nomeados como Oficiais. Existem três Comissões permanentes e obrigatórias, nos termos do que dispõe o artigo 128 do Regulamento Geral da Federação, que devem fazer parte da administração da Loja, são elas, a Comissão de Admissão e Graus, que cuida da análise do ingresso de obreiros, e dos pedidos de aumento de salário; a Comissão de Finanças, que fiscaliza a atuação do Tesoureiro, e a Comissão de Beneficência, que cuida da filantropia praticada pela Oficina. Todas são nomeadas pelo Venerável Mestre, e compostas por três Mestres. O Orador não pode integrar as Comissões, conforme vedação contida no inciso II, do artigo 122, da Constituição do Grande Oriente do Brasil. O Tesoureiro e o Hospitaleiro não podem participar da Comissão de Finanças, com vedação contida no inciso III, do mesmo artigo da Carta Magna do Grande Oriente do Brasil. O Venerável Mestre pode nomear comissões temporárias, para atuar em determinadas funções, como a realização de sessões especiais, comemorações, e outorga de comendas concedidaspela Loja, nos termos do que dispõe o artigo 129 do Regulamento Geral da Federação. As Comissões podem examinar a qualquer tempo toda a documentação da Loja referente às suas atribuições, nos termos do que dispõe o artigo 130 do Regulamento Geral da Federação. Chamo de Doutrina, o conjunto de normas, regras, e procedimentos, que envolvem a legislação maçônica, os rituais, a ritualística, e a liturgia. 210 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A LEGISLAÇÃO MAÇÔNICA A RITUALÍSTICA No âmbito do Grande Oriente do Brasil, a legislação maçônica a ser seguida pelas Oficinas é constituída das seguintes leis e ordenações: • Constituição do Grande Oriente do Brasil, e dos Grandes Orientes Estadual ou Distrital; • Regulamento Geral da Federação, RGF, Lei N°0099 de 9 de dezembro de 2008; • Código Disciplinar Maçônico, Lei N°165, de 7 de novembro de 2016; • Conselho de Família, Lei N°171, de 5 de abril de 2017; • Código Eleitoral Maçônico, Lei N°153, de 8 de setembro de 2015; • Código de Processo Penal Maçônico, Lei N°002, de 16 de abril de 1979; • Comissão Processante das Lojas, Lei N°132, de 25 de setembro de 2012; • Regimento de Recompensas, Lei N°88, de 21 de setembro de 2006; • Estatuto e Regimento Interno da Loja, e • Rituais de todos os Graus Toda a legislação deve estar permanentemente atualizada. Ritualística é o desenvolvimento dos rituais, deve ser rigorosamente observada em todas as sessões. Compõe-se do comportamento dos obreiros, falas e gestos. É conduzida pelo Mestre de Cerimônias, e executada por todos os obreiros presentes no Templo. É composta de Sinais, esquadrias, movimentação em Loja, pedido da palavra, etc. Define a identidade do Rito, jamais deve ser negligenciada, e cabe ao Venerável Mestre observar e fazer cumprir essas regras. 211 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA A LITURGIA O SOL E O VENERÁVEL MESTRE A liturgia das sessões é composta pelos cerimoniais, que são etapas especiais, nas quais simbolismos cênicos e dramatizações são executadas. Deve ser realizada de modo solene, e cabe ao Venerável Mestre observar e fazer cumprir a correta liturgia das sessões. “Assim como, por vontade do Grande Arquiteto do Universo, o Sol aparece no Oriente para principiar sua carreira e romper o dia, o Venerável Mestre ali tem assento, para abrir a Loja, ajudar os obreiros com seus conselhos e iluminá-los com as suas luzes”. O Venerável Mestre não é o Sol, mas marca o local onde o astro-rei nasce. É uma das razões de possuir uma posição fixa, e no eixo central do Templo. Em linguagem geográfica, é do Trono do Venerável Mestre que saem os paralelos que cruzam o templo de Leste a Oeste, e por onde trafega o Sol. É isso que observam, por comparação, os Vigilantes através da perpendicular do meridiano. Portanto, o Venerável Mestre é o exemplo máximo a ser replicado pelos demais obreiros. Como guardião da Coluna da Sabedoria, é o Venerável Mestre quem distribui a luz do conhecimento nas doses necessárias para os obreiros. A civilização nasceu no Oriente, e foi de lá que as luzes do conhecimento retornaram ao Ocidente após as trevas da Idade Média. Foi ao Venerável Mestre que suplicamos pela Luz em nossa Iniciação, e foi ele que nos concedeu. 212 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ASSOCIAÇÃO COM A CABALA ASSOCIAÇÃO COM A ASTRONOMIA Na correspondência com a Árvore da Vida, o Venerável Mestre está associado a emanação de KETHER, a Coroa, relacionada ao número UM, a causa, o princípio, a origem, a fonte. As demais sefirotes são um desdobramento desta emanação primordial. KETHER é associada à luz, e ao ponto. Trabalha com os Quatro Mundos, ou Quatro Dimensões, que são ATZILUT, a emanação; BERIÁ, a criação; YETZIRÁ, a formação e ASSYIÁ, a ação. KETHER também está associada ao Tetragrama Sagrado, IOD-HE-VAU-HE e aos Quatro Elementos Primordiais, FOGO, ÁGUA, TERRA e AR. KETHER também é intitulada de “Ancião dos Dias”, o Primeiro Logos. Está relacionada com o AJÑA CHAKRA, o Chakra Coronário. Representa a união com o Criador. O Venerável Mestre está associado ao Sol, mais precisamente ao local de seu nascimento, que é simbólico em nossos Templos. O Sol simboliza o princípio ativo, positivo e masculino. O pai. O Sol é o centro gerador da vida, da vitalidade e do poder da criação. O Sol se relaciona à ampliação da consciência humana para um estado superior através da Sabedoria. Era considerado uma divindade para várias culturas antigas. Para algumas civilizações era a própria manifestação física do Criador, como no Atonismo dos egípcios. 213 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA POSIÇÃO NA PROCISSÃO LUGAR NO TEMPLO Durante a formação do cortejo de entrada, o Venerável Mestre posiciona-se na fileira correspondente ao Oriente, em frente ao Mestre de Cerimônias. É o último maçom do cortejo, atrás dele, ficam apenas o Grão-Mestre ou Adjunto, na hipótese de terem optado por entrar “em família”. É o último a ingressar no Templo, e o primeiro a sair após o encerramento dos trabalhos. O Venerável Mestre, no Rito Adonhiramita, ocupa o mesmo lugar no Templo que em outros Ritos, ou seja, um assento, chamado de trono, ou cadeira, que fica no Altar da Sabedoria, no eixo central do Templo, no Oriente. 214 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA O HEXAGRAMA A OCUPAÇÃO DO ALTAR DA SABEDORIA Se traçarmos retas imaginárias entre as Três Luzes da Loja, veremos desenhado um triângulo com o vértice voltado para cima. Representa o Plano Espiritual. A Chama Sagrada, ou Fogo Eterno, desdobrada e manifestada em Sabedoria, Força e Beleza. Se traçarmos retas imaginárias entre as duas Dignidades com assento no Oriente, Orador e Secretário, e o Cobridor Interno, veremos desenhado um triângulo com o vértice voltado para baixo. Representa o Plano Material, a lei, a ordem e a vigília, ou, se preferirmos, a organização, o tempo e o espaço. Se sobrepusermos essas duas figuras, veremos traçado o Hexagrama, a Estrela de Davi. Nessa hipótese, o Venerável Mestre situa-se no ponto de origem, o vértice do Triângulo Espiritual. O Altar da Sabedoria deve possuir no mínimo três, e no máximo cinco cadeiras. A cadeira central é sempre ocupada pelo Venerável Mestre da Oficina. Esta disposição é regulamentada pelo Decreto n° 1.469, de 12 de fevereiro de 2016. Na primeira cadeira à direita do Venerável Mestre, sentam-se o Grão-Mestre Geral, ou o Grão-Mestre Geral Adjunto. Na primeira cadeira à esquerda do Venerável Mestre, sentam-se o Grão-Mestre Estadual ou Distrital, ou seus Adjuntos. 215 OS CARGOS EM LOJA SIMBÓLICA NO RITO ADONHIRAMIRA ATRIBUIÇÕES Se o Grão-Mestre Geral ou seu Adjunto não estiverem presentes na sessão, ocupam a primeira cadeira à direita o Grão-Mestre Estadual ou Distrital, ou seus Adjuntos. Na ausência destas autoridades, as cadeiras serão ocupadas de acordo com a Faixa de Tratamento em ordem hierárquica dos Irmãos presentes na sessão, do mais alto cargo à direita, para o mais baixo à esquerda. Não estando presentes na sessão as autoridades relacionadas, não há obrigatoriedade de ocupação dos assentos ao lado do Venerável Mestre. O cargo de Venerável Mestre é preenchido através de eleição direta, apurada por maioria simples de votos da assembleia. É um cargo eletivo, a maior das sete Dignidades de uma Loja, e representante legal desta. O cargo possui regulamentação nos artigos 115 a 117 do Regulamento Geral da Federação, que dispõe competir ao Venerável Mestre: 1. Presidir os trabalhos, manter a ordem e não influenciar