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Livro 1 - Sensação e Intervenção Clínica

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PROCESSOS 
PSICOLÓGICOS 
BÁSICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Identificar patologias relacionadas às sensações humanas.
 > Explicar a dor como um problema psicofísico.
 > Relacionar sensação humana e intervenções psicoterapêuticas pertinentes.
Introdução
A sensação é um dos processos fisiológicos fundamentais para a compreensão do 
mundo ao nosso entorno e do nosso próprio organismo. É por meio dos órgãos 
sensoriais que estímulos internos e externos ao nosso corpo são identificados. 
As informações coletadas pelos órgãos dos sentidos sobre esses estímulos são 
levadas ao córtex cerebral e, assim, o indivíduo percebe o ambiente e a si próprio. 
A experiência sensorial é um assunto bastante relevante para o estudo e a prática 
da psicologia, pois nos permite conhecer os elementos que nos cercam mediante 
esse primeiro contato, possibilitando a atribuição de sentido às nossas vivências.
Nem sempre uma experiência sensorial é agradável ou de fácil identificação. 
O estímulo doloroso é um sinal de alerta para o nosso organismo, de modo que 
identificar a sua localidade e a sua intensidade é primordial para a nossa proteção 
e para a manutenção da vida. No entanto, a sensação dolorosa não é apenas 
fisiológica: são vários os fatores que influenciam a percepção da dor. A dor é 
multidimensional. Como qualquer processo humano, tanto a dor quanto outras 
Sensação e 
intervenção clínica
Julianne H. G. Horita
experiências sensoriais podem trazer sofrimento para o indivíduo e, muitas vezes, 
precisam de intervenção. Compreender como as pessoas se relacionam com essas 
experiências é uma ferramenta importante para a atuação profissional em diversas 
áreas do conhecimento, incluindo a psicologia.
Neste capítulo, vamos descrever algumas patologias relacionadas às sensações 
humanas, incluindo a experiência da dor, como problemas psicofísicos. Além 
disso, vamos abordar possíveis intervenções psicoterapêuticas pertinentes às 
alterações das experiências sensoriais.
Quando sentir se torna um problema
Olhos, pele, ouvidos, nariz e língua são as principais portas de entrada dos 
estímulos sensoriais que nos levam a experimentar a vida. No dia a dia, não 
estamos atentos a todas essas experiências — nem seria possível vivermos 
com esse nível de consciência corporal em alerta por tanto tempo. No entanto, 
é preciso conhecê-las a fim de sermos capazes de perceber as suas alterações. 
A título de exemplo, vamos imaginar um cenário juntos.
Você está caminhando por uma praça com a sua mochila nas costas. 
O dia está ensolarado, é quase meio-dia, você sente o calor do sol na 
sua pele e, após um tempo, essa sensação começa a incomodá-lo. Você 
então percebe que o sol está queimando o seu rosto. Logo após, você 
enxerga um banco de madeira (que está sob a sombra de uma árvore) 
a uma curta distância, caminha até ele e se senta. Depois de algum 
tempo, você sente uma pontada no seu estômago e percebe que está 
com fome. Você então tira a mochila das costas, abre o zíper, pega um 
pacote de bolachas que havia guardado, retira uma bolacha do pacote 
e a leva à boca. Enquanto você mastiga, recebe o cheiro e o sabor doce 
da bolacha com satisfação. Você termina de mastigá-la e a engole, 
sentindo-a descer e aliviar um pouco o seu desconforto no estômago.
Quantas experiências sensoriais você consegue identificar na situação 
narrada? Poderíamos, entre outras, elencar a sensação de temperatura (calor) 
por meio da pele, a percepção das imagens por meio da visão e o sabor doce 
pelo paladar. Você já imaginou viver sem alguma dessas experiências? A cena 
parece bastante corriqueira, e é difícil pensar que qualquer alteração nos 
sentidos poderia transformá-la de forma drástica. 
Sensação e intervenção clínica2
Nem todas as informações captadas pelos órgãos sensoriais correspondem 
fielmente à realidade. Muitas vezes, essas informações sofrem a influên-
cia do contexto do dado momento, entre outras variáveis, que nos tornam 
suscetíveis a falsas sensações. Para exemplificar, vamos retornar ao nosso 
cenário, alterando um pouco.
Você enxerga um banco de madeira (que está sob a sombra de uma 
árvore) a uma curta distância, caminha até ele e se senta. Depois de 
algum tempo, você sente uma pontada no seu estômago e percebe que 
está com fome. Você então tira a mochila das costas, abre o zíper e, de 
repente, vê um pequeno inseto voando para dentro da sua mochila. Você 
se afasta num pulo, sente o coração bater mais rápido, as suas mãos frias 
e transpirando, a sua respiração ofegante. Você observa a sua mochila 
por um tempo e não percebe qualquer movimento. Você então respira 
fundo, aproxima-se da mochila e, lentamente, abre-a com as pontas 
dos dedos, tentando manter o rosto afastado, mas não muito. Você olha 
dentro dela e vê uma folha da árvore que está fazendo sombra no banco.
De alguma forma você já deve ter passado por alguma situação parecida 
com a da nossa história. Aqui, não há com o que se preocupar. Por vezes, somos 
enganados pelos nossos sentidos. Porém, em outros casos, as alterações 
sensoriais trazem grandes prejuízos à pessoa que é acometida por elas. As 
ilusões e as alucinações são as alterações mais importantes relacionadas 
às sensações humanas. 
As ilusões podem ser definidas como percepções adulteradas de 
um objeto existente, enquanto as alucinações são caracterizadas 
por percepções bem definidas de objetos sem a presença deles. Apesar de a 
alucinação ter essa particularidade, de uma percepção diante da ausência do 
estímulo sensorial, é essencial compreendê-la aqui, uma vez que os indivíduos 
que apresentam esse sintoma descrevem as suas sensações de forma muito 
específica (DALGALARRONDO, 2019).
As ilusões e alucinações mais comuns são as visuais e as auditivas. As 
ilusões costumam se manifestar em quadros de alterações do nível de cons-
ciência, do humor e da afetividade. As alucinações, de modo geral, são mais 
presentes em pessoas com transtornos mentais graves. A pessoa pode relatar, 
com clareza, ter escutado uma voz, visto uma pessoa, sentido passar um 
inseto na sua pele, sentido o cheiro ou o gosto de algo estragado. Além das 
Sensação e intervenção clínica 3
alucinações auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis, temos ainda as 
somáticas, relacionadas a sensações anormais em diferentes partes do corpo 
(como sentir o cérebro encolhendo), e as cinestésicas, sensações referentes ao 
movimento corporal, como sentir o braço se erguendo (DALGALARRONDO, 2019).
Dalgalarrondo (2019) descreve detalhadamente cada um desses tipos 
de alucinações e as suas relações com os diferentes transtornos mentais e 
neurológicos, como a esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Segundo o 
autor, ainda há outras classificações, como a alucinose e a pseudoalucinação. 
Na alucinose, que frequentemente ocorre em quadros psico-orgânicos, o 
indivíduo reconhece a experiência alucinatória como patológica. Já a pseu-
doalucinação é quando a experiência parece uma alucinação, mas não tem 
a mesma concretude, é menos vívida e mais imprecisa. Devido à sua falta de 
especificidade, tem menor valor diagnóstico. 
Por outro lado, temos as alterações que surgem, sobretudo, com mudan-
ças nos limiares das sensações. Quando sentimos de forma mais intensa ou 
quando a sensação parece durar mais do que deveria, ou, ao contrário, quando 
sentimos com pouca intensidade e de modo breve, podemos entender que, 
em alguma parte do processamento dos estímulos, ocorreu uma falha. Essas 
falhas no processamento das informações modificam as sensações, podendo 
causar prejuízos na vida da pessoa. De modo geral, elas podem ser causadas 
por lesões, doenças ou pelo uso de medicamentos.
Os sentidos da gustação e do olfato são os nossos principais sentidos 
químicos, responsáveis por detectar substâncias químicas do ambiente. As 
principais alterações gustativas são: 
 � ageusia, a ausência do paladar;
 � hipogeusia, a diminuição do paladar; 
 � hipergeusia, a sensibilidade gustativa aumentada;
 � disgeusia,a sensação gustativa distorcida (sentir um gosto diferente 
da substância experimentada); 
 � fantogeusia, a sensação de sabores específicos ou desagradáveis sem 
a presença do estímulo. 
Já as principais alterações olfativas são: 
 � anosmia, a incapacidade total ou parcial de sentir odores; 
 � hiposmia, a sensibilidade a odores reduzida; 
 � hiperosmia, a sensibilidade aumentada aos estímulos olfativos; 
 � disosmia, a percepção distorcida dos cheiros; 
 � fantosmia, a percepção do odor sem a presença do estímulo olfativo. 
Sensação e intervenção clínica4
As alterações sensoriais olfativas e gustativas podem ser decor-
rentes de diversos fatores, como infecções virais ou bacterianas, 
lesões, uso de medicamentos ou drogas, neoplasias, transtornos mentais (por 
exemplo, esquizofrenia), etc. Embora apresentem estruturas diferentes, olfato e 
paladar estão intimamente ligados, pois alterações olfativas podem influenciar 
a experiência sensorial gustativa. É crucial a detecção precoce de qualquer 
alteração para que o tratamento seja mais efetivo (PALHETA NETO et al., 2011; 
SCHIFFMAN, 2005).
A audição é um dos sentidos fundamentais para o aprendizado da fala, 
tanto no processo de ouvir a voz dos outros, para realizar a reprodução vocal, 
quanto no processo de ouvir a si próprio, para obter informações sobre o 
desempenho da articulação da fala. A perda auditiva e a surdez são as alte-
rações mais comuns, juntamente ao zumbido, que consiste em uma sensação 
persistente de um ruído, um som geralmente agudo, em um ou em ambos os 
lados, sem estímulos. São muitas as causas possíveis, e esse sintoma ainda 
pode se tornar crônico. Já a perda da sensibilidade auditiva e a surdez podem 
trazer dificuldades sociais aos indivíduos devido à importância da audição 
para a comunicação humana (KANDEL et al., 2014; SCHIFFMAN, 2005). 
É importante ressaltar que a surdez não impossibilita o indivíduo 
de se comunicar, uma vez que a linguagem dos sinais existe para 
estabelecer essa comunicação com o outro.
O órgão mais extenso do nosso corpo é a pele, cujas principais funções 
são a sensação e a proteção do nosso organismo. Por meio dela, obtemos 
informações básicas sobre temperatura, pressão e dor, que nos permitem 
perceber se algo próximo a nós é perigoso ou não e se há algo de errado 
com o nosso corpo. As alterações táteis, assim como as anteriores, podem 
sofrer alterações de sensibilidade aumentada ou reduzida, respectivamente, 
hiperestesia e hipoestesia, bem como a perda da sensibilidade tátil em parte 
ou em todo o corpo, a chamada anestesia. Outras alterações possíveis são a 
parestesia, descrita como uma sensação espontânea desagradável na forma 
de formigamentos, queimações, pontadas ou adormecimentos, e a disestesia, 
que consiste em sensações distorcidas dos estímulos, como sentir frio diante 
de um estímulo quente (DALGALARRONDO, 2019; SCHIFFMAN, 2005).
Sensação e intervenção clínica 5
A nossa visão é um sistema bastante estudado e, portanto, há muitas 
informações sobre o seu mecanismo e as suas estruturas. A luz é o estímulo 
físico que percorre o sistema visual, sendo processada em toda a sua comple-
xidade para a identificação de cores, formas, movimentos e profundidades. São 
várias as patologias possíveis decorrentes de complicações no processamento 
sensorial da visão, podendo estar relacionadas ao reconhecimento de cores 
ou de características específicas das imagens, a um prejuízo no campo ou 
na acuidade visual, acarretando até mesmo na perda completa do sentido 
da visão, etc. (KANDEL et al., 2014).
Para a maioria das alterações citadas anteriormente, se não todas, po-
deríamos incluir o processo de envelhecimento normal como uma possível 
causa. A degradação das estruturas neurais ocorre à medida que nós enve-
lhecemos; consequentemente, o processamento das informações captadas 
pelos estímulos fica prejudicado. Para o idoso, isso significa uma série de 
limitações funcionais e a perda da autonomia, o que impacta diretamente a 
sua qualidade de vida e a sua saúde mental.
Lamas e Paúl (2013) e Lima (2007) apontam que o declínio gradual das 
funções sensoriais no envelhecimento pode trazer consequências 
biopsicossociais, como isolamento social, depressão e ansiedade, além da 
inerente perda funcional. Ressaltam, assim, a importância de se conhecer o 
processo natural do envelhecimento biológico a fim de se preparar para viver 
essa fase da vida com dignidade.
Alterações sensoriais no transtorno de pânico
Segundo o DSM-5, o transtorno de pânico é caracterizado por ataques de 
pânico recorrentes e inesperados, relacionados a um medo intenso, que 
envolvem sintomas como taquicardia, sudorese, tremores, falta de ar ou 
sufocamento, dor ou desconforto torácico, tontura, calafrios ou ondas de 
calor, parestesias, desrealização ou despersonalização, medo de perder 
o controle e de morrer (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Esses 
sintomas ocorrem a partir de uma interpretação equivocada das sensações, 
nas quais o indivíduo acredita que algumas variações sensoriais podem 
representar uma ameaça à sua integridade física, como bem identificaram 
Montiel et al. (2014) no seu estudo sobre distorções cognitivas em pacientes 
com transtorno de pânico. De acordo com os autores, pensamentos como os 
Sensação e intervenção clínica6
de catastrofização (por exemplo, estou sentindo dor, deve ser uma doença 
grave) e generalização (por exemplo, se alguém passar mal, então eu também 
vou passar mal) tendem a desencadear ataques de pânico.
É importante identificar quais sensações estão sendo percebidas de 
modo distorcido para que possamos naturalizar essas experiências. 
A partir disso, o paciente pode compreender que variações sensoriais nem 
sempre significam que algo ruim vai acontecer, o que diminui a sua angústia e 
a possibilidade de novos ataques de pânico.
Alterações sensoriais no transtorno do espectro autista
Para além do comprometimento na comunicação social, na interação social 
e no comportamento, uma das particularidades do transtorno do espectro 
autista (TEA) são as alterações sensoriais. Um dos critérios descritos pelo 
DSM-5 trata da reatividade a estímulos sensoriais, que pode estar aumentada 
ou reduzida, assim como pode haver aparente indiferença a sensações de 
dor ou temperatura e aversão a certos sons e texturas. Também é relatado 
interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente, como cheirar ou 
tocar objetos excessivamente, e atração por estímulos visuais, como luzes 
ou movimento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Um dos comportamentos relacionados às alterações sensoriais nas 
pessoas com TEA que chamam a atenção é a seletividade alimentar. Esse 
comportamento também pode ser observado em crianças sem o transtorno, 
mas é bem mais recorrente em crianças dentro do espectro autista. Devido 
à sensibilidade referente a cheiro, textura, sabor e cor, o ato de comer fica 
restrito a certos alimentos, o que pode causar uma nutrição inadequada 
(POSAR; VISCONTI, 2018; SILVA et al., 2021). 
A relação entre comportamento alimentar e alterações sensoriais não 
tem sido muito explorada no campo científico, o que seria relevante 
para se pensar em estratégias de intervenção com o objetivo de facilitar o cui-
dado com a alimentação das crianças dentro do espectro autista. Pela variedade 
de estímulos sensoriais existentes e pela amplitude de padrões comportamentais 
observados em pessoas com TEA, torna-se pertinente ampliar os estudos das 
disfunções sensoriais nessa população a fim de que seja possível aprimorar as 
intervenções e diminuir o sofrimento provocado por elas.
Sensação e intervenção clínica 7
Até aqui, vimos diversas mudanças que podem acometer os nossos sis-
temas sensoriais e como isso pode ser fonte de sofrimento para o indivíduo, 
principalmente quando essas mudanças estão associadas a algum transtorno. 
A seguir, vamos focar na experiência da dor, que, apesar de afligir aquele que 
a sente, tem uma importante funçãode proteção do organismo.
A dor e as suas dimensões
Falar em dor parece simples, mas não é. Quando nos machucamos, sen-
timos dor e isso parece bastante óbvio, certo? Mas você já parou para 
pensar se duas pessoas com o mesmo tipo de ferimento sentem a mesma 
dor? A sensação dolorosa é atravessada por diversos fatores e pode ser 
modificada de acordo com as nossas experiências prévias de dor. Ela 
pode ser definida como uma sensação relacionada a uma lesão física ou 
a uma possível lesão, que é influenciada por fatores afetivos, cognitivos e 
ambientais. Ou seja, a percepção da dor não é só diferente em indivíduos 
que apresentam algum transtorno: ela é uma experiência única para cada 
ser humano (CARVALHO, 1999). 
De acordo com Carvalho (1999), a dor ainda pode ser classificada em aguda 
ou crônica. A dor aguda é mais breve, associada a lesões, quadros de infecção 
ou inflamação, e geralmente cessa quando a causa é solucionada. Já a dor 
crônica tem como característica a persistência, tanto no tempo, que pode 
durar anos, como no fato de que pode resistir à cura da lesão. A dor crônica 
pode ser intensificada e até mesmo gerada por questões ambientais ou 
outros estressores. Por consequência, pode ocasionar limitações funcionais, 
alterações emocionais e comportamentais e prejuízos nos âmbitos social e 
profissional. Apesar das diferenças, ambos os tipos de dor são experiências 
subjetivas e podem ser modulados pelas emoções.
De acordo com Simurro (2014, p. 27), “[...] a subjetividade do fenômeno da 
dor deve -se ao fato de os aspectos sensoriais estarem intimamente relacio-
nados com os aspectos afetivos e cognitivos dos indivíduos”. Essa explicação 
parte da psicofisiologia, que, ainda segundo a autora, busca relacionar a 
subjetividade humana aos processos fisiológicos do corpo. Dentro dessa 
abordagem, compreendemos que a percepção da dor está envolvida em um 
emaranhado de variáveis, como as emoções, o significado da dor para cada 
indivíduo, estilos de enfrentamento, experiências anteriores de dor, cultura 
e fatores ambientais estressantes.
Sensação e intervenção clínica8
É realmente complexo avaliar e quantificar a dor tendo em vista o seu 
fator multidimensional, mas é primordial realizar uma boa avaliação para a 
definição do tratamento, seja ele medicamentoso ou terapêutico. Há escalas 
unidimensionais, que abordam a dor apenas em relação à sua intensidade, e 
escalas ou questionários multidimensionais, que avaliam múltiplas variáveis. 
Ainda que a maioria das escalas esbarre em alguma limitação na sua avaliação, 
é importante considerar os objetivos clínicos da sua aplicação. De qualquer 
modo, o indicador mais fiel para mensurar a dor continua sendo o relato do 
indivíduo, pois ele é o único que pode dizer sobre a sua dor. Esse relato deve 
ser acolhido, validado e respeitado, mesmo que o avaliador não compreenda 
a origem da dor ou já tenha tentado várias linhas de tratamento.
Embora não haja qualquer marcador biológico da dor, a descrição individual e o 
autorregistro geralmente fornecem evidências acuradas, fidedignas e suficientes 
para detectar a presença e a intensidade da dor. De fato, não há qualquer marcador 
biológico disponível até o presente momento para indicar a presença ou o grau 
da dor, exceto os indicadores manifestados por aqueles vivenciando dor (SILVA; 
RIBEIRO-FILHO, 2011, p. 142).
Algo que não podemos deixar de destacar em relação a esse autorregistro 
é o entrave da comunicação. A pessoa com dor só pode falar da sua sensação 
dolorosa se tiver a habilidade de se comunicar. Isso quer dizer que bebês, 
crianças pequenas, algumas pessoas com deficiências ou pacientes inter-
nados em unidades hospitalares com alteração do nível de consciência não 
conseguiriam relatar a sua dor. Então, como avaliar a dor dessas pessoas?
Silva e Ribeiro-Filho (2011) falam de três indicadores da sensação de dor: 
1. os de autorregistro, obtidos pela autoavaliação, como já mencionado; 
2. os observáveis, essencialmente comportamentais; 
3. os fisiológicos, a partir de alterações biológicas. 
Comumente, a observação do comportamento é feita por um profissional 
ou familiar. Expressões faciais, choro, agitação e tensão muscular são alguns 
comportamentos observados em episódios de dor aguda, mesmo que não se-
jam exclusivos desta. Embora não haja marcadores biológicos da dor, algumas 
alterações fisiológicas relacionadas ao estresse podem ser compreendidas 
como resposta à dor, como alterações na frequência cardíaca, na pressão 
arterial, na respiração, etc. Esses dois últimos indicadores também podem 
ser usados para complementar as informações adquiridas no autorrelato.
Sensação e intervenção clínica 9
E por que entender o fenômeno da dor é importante para a psicologia? Não 
somente pelo simples fato de sermos seres humanos e estarmos sujeitos a 
sentir dor, mas também porque é uma queixa bastante comum nos consultórios 
e em outras áreas de atuação, sobretudo para o psicólogo hospitalar. Nos 
consultórios, as demandas, em geral, são para o tratamento da dor crônica; 
já nos hospitais, mais frequentemente são para o tratamento da dor aguda, 
apesar de não serem incomuns pacientes com dores crônicas.
Além disso, como a abordagem da dor deve ser multidisciplinar, conside-
rando os seus aspectos multidimensionais, é pertinente que os psicólogos 
busquem estudar a complexidade da dor e contribuam cientificamente com 
os estudos da dor do ponto de vista da avaliação psicológica. 
Em um estudo sobre a produção científica psicológica brasileira 
sobre dor e as principais variáveis analisadas, podemos verificar 
que a psicologia brasileira não tem se mostrado presente na área, e os poucos 
que se arriscaram não atenderam às demandas da literatura, pois houve um 
número reduzido de variáveis psicossociais de relevância para o estudo da dor 
(ALMEIDA et al., 2010).
Dor fantasma
A dor no membro fantasma desperta a curiosidade nos profissionais de 
saúde e o seu modo de funcionamento ainda não é bem definido. Ela se ca-
racteriza por sensações dolorosas no membro amputado, como queimação, 
formigamento, etc. Costuma estar presente nos primeiros dias após a perda 
do membro, mas pode se tornar uma condição crônica. 
A interrupção do envio de informações sensoriais de uma parte do corpo 
para o sistema nervoso central causa uma desorganização desse fluxo, ati-
vando as vias da dor. Nós criamos uma imagem corporal por meio das nossas 
percepções e ela está mapeada em nosso córtex cerebral. Assim, a expressão 
da dor fantasma parece estar relacionada à dificuldade de adaptação à 
ausência do membro amputado, em nível tanto fisiológico quanto psíquico 
(DEMIDOFF; PACHECO; SHOLL-FRANCO, 2007).
As abordagens para o tratamento dessa dor envolvem não só medica-
mentos específicos, mas também outras terapêuticas, como relaxamento, 
meditação, exercícios mentais virtuais e o uso de projeção de imagem espelho. 
Sensação e intervenção clínica10
A terapia do espelho consiste em estabelecer uma ilusão do membro fantasma 
com a imagem projetada do membro íntegro no espelho, criando a sensação 
virtual de ter o membro de volta, na intenção de que a pessoa consiga realizar 
movimentos e sentir a resposta do membro fantasma (Figura 1). O objetivo é 
ativar os córtex sensorial e motor para que os estímulos possam promover 
a reorganização do sistema nervoso central e, consequentemente, a redução 
da intensidade da dor (SOUZA; CARQUEJA; BAPTISTA, 2016).
 Figura 1. Técnica da terapia do espelho.
Fonte: Therapeutic background (2021, documento on-line). 
Nesta seção, vimos que a abordagem da dor deve ser feita de modo mul-
tidisciplinar, e isso não é diferente quando tratamos de outras patologias 
relacionadas às alterações sensoriais. Entretanto, precisamos focar no nosso 
papel de psicólogo e em como nós podemos intervir a fim de contribuir para 
a diminuição da angústia daqueles que são acometidos por transtornos e 
disfunções dos sentidos. Adiante, veremos algumas formas de se trabalharcom as patologias mencionadas.
Técnicas psicoterápicas para alterações 
sensoriais
Como vimos até aqui, há uma diversidade de experiências sensoriais e, por 
consequência, múltiplas formas de intervir quando estas estão alteradas. O 
processo psicoterapêutico deve sempre levar em consideração a individuali-
Sensação e intervenção clínica 11
dade da vivência do paciente, então todas as técnicas discutidas aqui devem 
ser aplicadas conforme uma avaliação criteriosa das questões trazidas por 
ele. Uma boa anamnese (entrevista inicial) para identificar a queixa principal 
e obter o contexto em que se dão as alterações das sensações é o ponto de 
partida.
Os indivíduos que sofrem com disfunções sensoriais podem ter dificul-
dade para explicar o que sentem e para serem compreendidos pela família e 
pelos amigos. Esse aspecto traz prejuízos para a vida social da pessoa, que 
acaba por se sentir sozinha e sem o apoio das pessoas próximas. Frequen-
temente, pode ser interessante, para o tratamento, incluir os familiares na 
abordagem. As famílias precisam ser informadas, assim como o paciente, 
sobre o modo de funcionamento desses sintomas para exercerem um papel 
colaborativo no tratamento. Elas precisam compreender as dificuldades 
que essas disfunções impõem à rotina desses pacientes a fim de auxiliá-los 
no que for preciso.
Diante do impacto global que essas disfunções causam na vida do pa-
ciente, a avaliação psicológica também deve incluir uma investigação sobre 
necessidades que não são da competência do psicólogo. Deve-se avaliar, 
por exemplo, se a dor também pode ser aliviada por uma abordagem de um 
fisioterapeuta, se o paciente que vem apresentando sintomas psicóticos 
já foi avaliado por um psiquiatra ou neurologista, se a criança com TEA 
está sendo acompanhada por uma equipe multiprofissional (lembrando 
da importância do trabalho do terapeuta ocupacional com os estímulos 
sensoriais), etc.
É essencial que, na nossa abordagem psicoterapêutica, tenhamos 
uma visão de um cuidado multidisciplinar para orientar pacientes 
e familiares na busca de um cuidado integral.
Na psicologia, temos várias maneiras de abordar as questões psicológicas 
segundo o aporte teórico escolhido pelo psicólogo. Aqui, vamos falar das 
possíveis intervenções para minimizar o sofrimento causado pelas alterações 
das sensações humanas a partir das contribuições da terapia cognitivo-
-comportamental (TCC). No Quadro 1, são apresentadas algumas técnicas 
que serão citadas no decorrer do texto. Entretanto, não vamos entrar na 
discussão do modelo cognitivo em si. O importante é que você conheça 
algumas ferramentas que possam ser úteis na sua prática profissional.
Sensação e intervenção clínica12
Quadro 1. Técnicas da terapia cognitivo-comportamental
Psicoeducação
Psicoeducar o paciente é ensiná-lo sobre as características 
da sua doença, do seu transtorno ou outra condição de 
saúde, como isso implica no seu sofrimento e de que forma 
algumas estratégias podem auxiliá-lo no curso do seu tra-
tamento. A psicoeducação pode ser aplicada tanto no início 
quanto ao longo do tratamento, também surgindo com o 
objetivo de ensinar algo sobre o processo psicoterapêutico.
Treinamento 
de habilida-
des sociais
Busca trabalhar as competências do indivíduo nas interações 
sociais, com a finalidade de melhorar a expressão dos senti-
mentos e desejos, ao mesmo tempo que respeita os próprios 
direitos e os direitos dos outros.
Técnicas de 
relaxamento 
e distração
Consiste na mudança do foco da atenção. Orienta-se que 
a pessoa coloque intencionalmente a sua atenção em um 
objeto específico ou na respiração a fim de desfocar a 
atenção da sensação, do sentimento ou do pensamento que 
está causando sofrimento. No treinamento do relaxamento 
progressivo, a pessoa é orientada a tensionar e relaxar pro-
gressivamente os músculos do corpo com o objetivo de sentir 
o relaxamento corporal pela diminuição da tensão muscular. 
É uma técnica que exige treino regular para alcançar o alívio 
desejado.
Resolução de 
problemas
Terapeuta e paciente elaboram juntos estratégias para 
problemas específicos que se apresentam, listando possíveis 
soluções com base na consideração dos prós e dos contras de 
cada uma delas, a fim de encontrarem uma solução viável.
Fonte: Adaptado de Carvalho, Malagris e Rangé (2019).
Alucinações
A alucinações estão presentes em vários transtornos mentais, principal-
mente nos transtornos psicóticos, como a esquizofrenia. Como já foi dito, é 
fundamental fazer uma avaliação do paciente para compreender como esse 
sintoma se apresenta, as suas origens ou causas, e a qual transtorno ele 
pode estar relacionado. No caso da esquizofrenia, por exemplo, o tratamento 
psicoterapêutico deve buscar ensinar o paciente a identificar e modificar os 
pensamentos relacionados aos sintomas psicóticos, desfazendo o estigma 
sobre eles (psicoeducação) e auxiliando na redução do estresse, na adesão 
ao tratamento e nas habilidades sociais (LOPES; MOTA; SILVA, 2018). 
Sensação e intervenção clínica 13
De modo geral, indivíduos com transtornos psicóticos têm grandes di-
ficuldades no âmbito social, então é importante trabalhar com o treino de 
habilidades sociais e resolução de problemas para diminuir os fatores es-
tressores que possam precipitar o surgimento das alucinações.
Para a prática profissional, é necessário saber ouvir e respeitar o 
relato dessa vivência do paciente. Esse sintoma exerce uma função 
no funcionamento psíquico, mesmo que ele esteja provocando sofrimento, 
como ouvir uma voz dizer “você é uma pessoa fraca” pode estar relacionado a 
crenças de desamparo. Logo, é crucial compreender a função desse sintoma, 
acolher as emoções suscitadas por ele e psicoeducar o paciente de acordo com 
o que foi identificado para facilitar a adesão ao tratamento, tanto psicológico 
quanto medicamentoso.
Transtorno de pânico
De acordo com Carvalho, Malagris e Rangé (2019), ao interpretar as sensações 
corporais como perigosas, o corpo reage com a ansiedade como mecanismo 
de proteção. Logo, a preocupação com as sensações cresce de forma catas-
trófica e acaba provocando o ataque de pânico. Essas interpretações sobre 
as sensações se tornam um fator de manutenção do problema. Aqui, a psi-
coeducação é essencial para compreender esse ciclo e conseguir quebrá-lo.
Uma das formas de lidar com o problema é aprender a conviver com ele. 
Criar estratégias para aceitar a ansiedade, utilizar as técnicas de relaxamento 
e respiração para manejar os sintomas e entender que a evitação só aumenta 
a ansiedade, pois é pelo enfrentamento que o medo se dissipa, são os pontos-
-chave para lidar com esse transtorno (CARVALHO; MALAGRIS; RANGÉ, 2019).
Transtorno do espectro autista
De certo modo, a avaliação das experiências sensoriais em indivíduos com 
esse transtorno costuma ser difícil, uma vez que há um comprometimento na 
comunicação. Portanto, as informações, em geral, são colhidas por meio de 
observações de terceiros, o que pode não corresponder à experiência exata. 
Posar e Visconti (2018) apontam que os padrões comportamentais ca-
racterísticos do TEA poderiam ser mais bem explicados pela compreensão 
da reatividade sensorial. Baseado nisso, os autores consideram que seria 
Sensação e intervenção clínica14
primordial compreender quais entradas sensoriais específicas causam des-
conforto em determinada pessoa para que seja possível reduzi-lo a partir da 
reorganização do seu ambiente e da sua rotina, indicando, ainda, intervenções 
como dessensibilização e salas sensoriais.
O tratamento para o paciente com TEA deve incluir o treinamento de 
habilidades sociais a fim de promover a autonomia e facilitar as interações 
sociais, principalmente se o paciente apresenta algum comprometimento 
cognitivo. Ser capaz de construir e manter uma rede de apoio social e afetiva 
é um grande ganho para o bem-estar do paciente. Como o TEA pode ser diag-
nosticado nos primeiros anos de vida, a participação da família é essencialpara a evolução do tratamento.
Dor crônica
Na dor crônica, é importante explicar, ao paciente, sobre o funcionamento da 
dor e os fatores que podem influenciar a sua intensidade. O paciente precisa 
aprender a identificar os aspectos da sua vida que podem estar interferindo 
na autoavaliação da sua dor. Entender o modo como a dor se manifesta abre 
possibilidades para intervenções mais específicas e outras estratégias de 
controle da dor.
A percepção da dor pode ser intensificada pela atenção que se dá a 
ela. Então, uma técnica básica é se distrair da dor. Você pode escolher 
objetos ou qualquer outra coisa no ambiente para focar a sua atenção. Procure 
descrever detalhadamente o objeto escolhido e perceba que o seu desconforto 
tende a diminuir com essa prática. Outro ponto para desviar o foco da dor é a 
própria respiração. Ao controlar a respiração, inspirando profundamente pelo 
nariz e expirando lentamente pela boca (ou da maneira que for mais confortável 
para você), o corpo relaxa. Desviar a atenção da dor para a respiração promove 
tanto a distração quanto o relaxamento.
A pessoa que sofre com a dor crônica pode ter os relacionamentos interpes-
soais prejudicados pelas constantes queixas sobre a sua dor. Eventualmente, 
as pessoas ao seu redor deixam de encarar com seriedade a sua queixa, 
podendo até ignorá-la e invalidá-la. Quando isso acontece, é importante 
trabalhar as habilidades comunicacionais para que a pessoa saiba pedir ajuda, 
por exemplo, de forma mais clara e objetiva. Aprender a se comunicar e a se 
expressar de maneira mais assertiva propicia que o outro compreenda melhor 
o seu problema, aumentando as chances de obter uma resposta positiva.
Sensação e intervenção clínica 15
Outras disfunções sensoriais
Devido às múltiplas formas de disfunções sensoriais, e retomando o ponto 
de vista da psicofisiologia, devido à subjetividade relacionada às vivências 
sensoriais, falar de intervenções nesses processos se torna bastante complexo. 
Somente a partir da queixa do paciente, diante do seu relato de sofrimento, 
podemos pensar as possíveis estratégias para que ele possa lidar com as suas 
angústias. Quando refletimos sobre a perda total ou parcial de determinado 
sentido, é necessário pensar no impacto causado por ela no ambiente e 
na rotina do indivíduo. Quem determina isso é o próprio paciente. Quando 
afirmamos que conhecemos o mundo por meio das sensações, é interessante 
pensar em como alguém que apresenta uma alteração dos sentidos conhece 
o mundo.
Nesse contexto, Masini (2003) levanta esta importante reflexão, que en-
fatiza a experiência do contato com o mundo a partir dos sentidos de que 
o indivíduo dispõe em constante interação, não apenas como espectador:
Cada órgão dos sentidos interroga o objeto à sua maneira. A criança surda dirige 
e passeia o olhar para saber sobre as pessoas e objetos que a rodeiam de modo 
diferente da criança que dispõe da visão e também da audição. A visão nada seria 
para a criança surda, se não fosse um certo uso que ela faz do olhar. O seu estilo de 
fixar, contemplar, perscrutar, comparar vai revelando novos aspectos dos objetos e 
do seu próprio corpo, ao encontrar diferentes maneiras de explorá-los, compondo 
sua experiência perceptiva (MASINI, 2003, documento on-line).
Do ponto de vista da nossa intervenção, compreender como o paciente 
interage a partir dos seus sentidos e como se comporta em relação ao mundo, 
aos outros e a si mesmo é o principal para se construir o plano terapêutico.
Ao longo deste capítulo, vimos como as sensações podem ser experiencia-
das de formas adulteradas, impactando as nossas vidas como um todo. Ainda, 
conhecemos alterações sensoriais que podem ser vividas por qualquer pessoa 
em algum grau, mas cujas formas mais graves e marcantes estão presentes em 
transtornos e doenças, demandando intervenções para aliviar o sofrimento de 
quem é acometido por elas. Por fim, vimos algumas técnicas psicoterapêuticas 
que podem ser aplicadas no tratamento de algumas condições clínicas que 
apresentam alterações sensoriais. Essas técnicas não devem ser usadas de 
forma rígida e inflexível, sendo necessário uma avaliação aprofundada de 
cada caso para adequar o uso delas às necessidades do paciente. Além disso, 
as estratégias expostas não devem limitar a prática, mas motivar a busca 
pela melhor forma de cuidado.
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