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Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-1 Apontamentos Teóricos de Elementos de Máquinas I: Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais (Revisões) Autoria: Rosa Marat-Mendes Atualizado por: Mário Alberto Vieira 2020/2021 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-2 Índice Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais .................................................................... 3 2.1. Conceito de tensão .............................................................................................................................. 3 2.1.1. Tração pura .................................................................................................................................................... 3 2.1.2. Flexão pura .................................................................................................................................................... 4 2.1.3. Torção pura ................................................................................................................................................... 5 2.2. Resistência ............................................................................................................................................ 7 2.3. Coeficiente de segurança ............................................................................................................... 10 2.4. Critérios de falha ............................................................................................................................... 11 2.4.1. Critério da tensão de corte máxima (Tresca) ............................................................................... 11 2.4.2. Critério da energia de distorção (von Mises) ............................................................................... 12 2.5. Anexo: Tabelas de propriedade mecânicas de alguns aços ............................................... 13 2.6. Exercícios de Aplicação Propostos ............................................................................................. 16 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-3 Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais 2.1. Conceito de tensão Segundo a teoria da mecânica dos sólidos, a tensão mecânica é a medida que expressa a distribuição de forças por unidade de área em torno de um volume infinitesimal dentro de um corpo material. Desta forma, a distribuição de forças que atuam num ponto da superfície desse volume infinitesimal é única e terá componentes na direção normal e tangencial, denominadas respetivamente por tensão normal e tensão de corte, indicadas pelos símbolos gregos, 𝜎 e 𝜏, respectivamente. Desta forma, é possível escrever um tensor das tensões que caracterize o estado de tensões num determinado volume: 𝝈 = [ 𝜎11 𝜎12 𝜎13 𝜎21 𝜎22 𝜎23 𝜎31 𝜎32 𝜎33 ] ≡ [ 𝜎𝑥 𝜏𝑥𝑦 𝜏𝑥𝑧 𝜏𝑦𝑥 𝜎𝑦 𝜏𝑦𝑧 𝜏𝑧𝑥 𝜏𝑧𝑦 𝜎𝑧 ] ( 2.1 ) A unidade em SI para tensão é o pascal (Pa), que é uma medida de força por unidade de área. A unidade da tensão é a mesma que a da pressão. Grandezas de engenharia são normalmente medidas em megapascal (MPa) ou gigapascal (GPa). Sendo as unidades de pascal = [Pa] = [N/m2], [MPa] = 106 [Pa] ou [MPa] = [N/mm2]. 2.1.1. Tração pura A hipótese de uma distribuição de tensões uniforme pode ser, por vezes, considerada em projeto. O resultado é normalmente designada por tração pura, flexão pura ou torção pura, dependendo de como a carga é aplicada ao corpo em estudo. A hipótese de tensão uniforme significa que se cortarmos uma barra numa secção distante das extremidades e eliminarmos um bocado, pode-se substituir o seu efeito pela aplicação de uma força uniformemente distribuída de magnitude, 𝜎𝐴, à extremidade cortada (Figura 2.2). Figura 2.1 – Componentes tridimensionais da tensão num volume infinitesimal. https://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7a https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_Internacional_de_Unidades https://pt.wikipedia.org/wiki/Pascal_(unidade) https://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7a https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rea https://pt.wikipedia.org/wiki/Press%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/MPa https://pt.wikipedia.org/wiki/GPa Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-4 Figura 2.2 - Ensaio de Tração. Diz-se então que a tensão é uniformemente distribuída e é dada por: 𝜎 = 𝐹 𝐴 ( 2.2 ) em que: 𝜎 – tensão normal ou nominal à tração (letra grega Sigma) [𝑃𝑎]; 𝐹 – força aplicada [𝑁]; 𝐴 – área da secção transversal [𝑚2]. Se a tensão normal tiver sinal positivo (+) → A tensão diz-se de tração Se a tensão normal tiver sinal negativo (-) → A tensão diz-se de compressão Exemplo 2.1 Sabendo que, uma barra retangular com 20𝑚𝑚 × 10𝑚𝑚 de lado, está a ser traccionada por uma força de 50𝑘𝑁, a tensão normal de tração exercida na barra é de 25𝑀𝑃𝑎, i.e, A tensão máxima que se está a exercer na barra é dada pela equação ( 2.2 ) e sabendo que a área é dada por 𝐴 = 𝑙𝑎𝑑𝑜 × 𝑙𝑎𝑑𝑜, vem então: 𝜎 = 𝐹 𝐴 = 50 × 103 0.020 × 0.010 = 25 × 106 𝑃𝑎 = 25𝑀𝑃𝑎 2.1.2. Flexão pura Uma barra submetida à ação de dois conjugados iguais e de sentidos opostos que atuam no mesmo plano longitudinal, está a ser sujeita à flexão pura. O eixo 𝑥 é coincidente com o eixo neutro da secção. O plano 𝑥𝑧 coincide com o plano neutro. O eixo neutro coincide com o eixo centroidal da secção transversal (Figura 2.3). (a) (b) Figura 2.3 - (a) Flexão pura numa viga; (b) Distribuição das tensões de flexão. A tensão de flexão varia linearmente com a distância ao eixo neutro 𝑦 e é dada por: Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-5 𝜎𝑥 = − 𝑀𝑦 𝐼 ( 2.3 ) em que 𝐼 é o segundo momento de área em torno de 𝑧. A tensão é máxima quando 𝑦 tiver a maior distância ao eixo neutro, dessa forma, a tensão de flexão máxima é dada por: 𝜎𝑚𝑎𝑥 = 𝑀𝑐 𝐼 ( 2.4 ) em que: 𝜎𝑚𝑎𝑥 – tensão normal máxima de flexão (letra grega Sigma) [𝑃𝑎]; 𝑀 – Momento fletor aplicado [𝑁𝑚]; 𝐼 – segundo momento de inércia de área [𝑚4]; 𝑐 – distância máxima ao eixo neutro [𝑚] (para barras submetidas à flexão pura, com secção simétrica nos dois eixos, a linha neutra passa pelo centro geométrico da secção enquanto as tensões permanecerem em regime elástico). Exemplo 2.2 Numa barra quadrangular com 10𝑚𝑚 de lado, sujeita a um momento fletor de 20𝑁𝑚, a tensão máxima de flexão é de 1200𝑀𝑝𝑎, i.e, A tensão máxima de flexão que se está a exercer na barra é dada pela equação ( 2.4) e sabendo que o momento de Inércia é da dado por 𝐼 = 𝑏ℎ3 12 = 0.010×0.0103 12 = 8.33 × 10−10𝑚4 (Tabela 2.1), vem então: 𝜎𝑚𝑎𝑥 = 𝑀𝑐 𝐼 = 20 × 0.010 2 8.33 × 10−10 = 1200𝑀𝑃𝑎 2.1.3. Torção pura Torção refere-se à rotação de uma barra quando carregada por momentos (ou torques) que tendem a produzir rotação sobre o eixo longitudinal da barra (Figura 2.4(a)). Num veio sujeito à ação de dois momentos de torção ou torque representados por 𝑀𝑡 ou 𝑇, os dois momentos de torção têm sentidos opostos e a mesma intensidade podendo ser representados por setas curvas ou setas de vetores de torção ao longo dos eixos de torção da barra (Figura 2.4(b)). Os vetores são setas que obedecem à regra da mão direita. Folhas de Apoioà unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-6 (a) (b) Figura 2.4 – (a) Torção de uma chave de fenda devido a um torque 𝑇 aplicado no cabo; (b) Modo de representação do Momento de torção ou Torque. A tensão de torção em veios é dada pela equação ( 2.5 ), sabendo que terá de obedecer às seguintes condições: • todas as seções transversais permanecem planas e circulares e todos os raios permanecem retos; • o ângulo de rotação entre uma extremidade da barra e outra é pequeno, nem o comprimento da barra e nem o seu raio irão variar. 𝜏𝑚𝑎𝑥 = 𝑀𝑡 𝑐 𝐽 ( 2.5 ) em que: 𝜏𝑚𝑎𝑥 – tensão de torção máxima (letra grega Tau) [𝑃𝑎]; 𝑀𝑡 ou 𝑇 – momento de torção ou torque aplicado [𝑁𝑚]; 𝐽 – segundo momento polar de inércia de área [𝑚4]; 𝑐 – distância máxima ao eixo neutro [𝑚] (para veios submetidos à torção pura, a linha neutra passa pelo centro geométrico da secção, logo 𝑐 = 𝑟𝑎𝑖𝑜). Exemplo 2.2 Num veio com um diâmetro de 10𝑚𝑚 e um momento torçor aplicado de 20𝑁𝑚, a tensão de corte máxima aplicada ao veio é de 12.73𝑀𝑃𝑎, i.e., A tensão de corte máxima que está a ser exercido ao veio é dada pela equação ( 2.5 ), 𝜏𝑚𝑎𝑥 = 𝑀𝑡𝑐 𝐽 , e sabendo que o momento polar de Inércia é da dado por 𝐽 = 1 2 𝜋𝑟4 = 1 2 𝜋 × (0.05)4 = 9.82 × 10−6𝑚4 (Tabela 2.1), vem então: 𝜏𝑚𝑎𝑥 = 𝑀𝑡𝑐 𝐽 = 20 × 0.010 2 9.82 × 10−6 = 10,18 𝑘𝑃𝑎 Salete Souza de Oliveira Buffoni 1 - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL METALÚRGICA DE VOLTA REDONDA SALETE SOUZA DE OLIVEIRA BUFFONI RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Torção Definições: Torção se refere ao giro de uma barra retilínea quando carregada por momentos (ou torques) que tendem a produzir rotação sobre o eixo longitudinal da barra. Veja a Figura 1. Figura 1 – Torção de uma chave de fenda devido a um torque T aplicado no cabo. Exemplos de barras em torção: Hastes, eixos, eixos propulsores, hastes de direção e brocas de furadeiras. Caso idealizado do carregamento de torção Salete Souza de Oliveira Buffoni 2 Figura 2- Barra submetida à torção pelo torque T1 e T2. Momentos que produzem giro na barra, como os momentos T1 e T2 da Figura 2, são chamados de torques ou momentos torçores. Membros cilíndricos submetidos a torques e que transmitem potência através de rotação são chamados de eixos. Ex: o girabrequim de um automóvel ou o eixo propulsor de um navio. A maioria dos eixos tem seções transversais circulares,sólidas ou tubulares Objetivo: • Desenvolver fórmulas para as deformações e tensões em barras circulares submetidas à torção. • Analisar o estado de tensão conhecido como cisalhamento puro e obtemos a relaçào entre os módulos de elasticidade E e G em tração e cisalhamento, respectivamente. • Análise de eixos de rotação e determinação da potência que eles transmitem. Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-7 Tabela 2.1 – Segundos momentos de área de superfícies com formas geométricas usuais. 2.2. Resistência Resistência é uma propriedade de um material ou de um elemento mecânico. A resistência de um elemento depende da escolha, do tratamento e do processo de fabrico do material. Tensão é algo que acontece a uma peça devido à aplicação de uma força, mas resistência é uma propriedade inerente à peça devido ao uso de certo material e determinado processo de fabrico. Muitas das resistências estáticas dependem da informação obtida através de ensaios de tração padronizados. Estes ensaios utilizam provetes maquinados segundo dimensões pré-estabelecidas (Figura 2.5). Traciona-se lentamente o provete enquanto se observam as cargas e as deformações correspondentes. A força 𝐹 é convertida em tensão por meio da equação no final do ensaio obtém-se um gráfico denominado diagrama tensão-extensão ou tensão-deformação. Figura 2.5 – Provete típico para um ensaio de tração. A deformação ou extensão normal é calculada por: 𝜀 = 𝑙 − 𝑙0 𝑙0 ( 2.6 ) Retângulo Semicírculo Triângulo Quarto de círculo Circulo Elipse 𝐹 𝐹 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-8 Nestas folhas, por se basearem no livro de “Elementos de Máquinas de Shigley”, será usada a letra 𝑆 maiúscula para designar resistência (tensão como propriedade do material), com os subscritos para designar o tipo de resistência. Consequentemente 𝑆𝑆 é a resistência ao corte, 𝑆𝑦 é a resistência à cedência, 𝑆𝑢 é a resistência à rotura e 𝑆𝑓 é a resistência final. De acordo com as práticas de engenharia, empregam-se as letras do alfabeto grego 𝜎 (sigma) e 𝜏 (tau) para designar, respectivamente, tensões normais e de corte. A Figura 2.6 representa diagramas de tensão-extensão típicos para materiais dúcteis e frágeis. Materiais dúcteis deformam-se muito mais do que materiais frágeis. Figura 2.6 – Diagrama tensão-extensão: (a) material dúctil; (b) material frágil. 𝑶 − 𝒑𝒍 → região linear elástica Qualquer carregamento do material nesta região não altera as dimensões do provete. O ponto 𝑝𝑙 é o limite de proporcionalidade, esse é o ponto em que a linha começa e deixa de ser reta. A relação tensão-extensão uniaxial nessa região linear é dada pela lei de Hooke em que a inclinação da reta representa o módulo de elasticidade ou módulo de Young: 𝜎 = 𝜀𝐸 ( 2.7 ) ponto 𝒆𝒍 → limite de elasticidade É a maior tensão que o material pode suportar sem sofrer uma extensão permanente quando a carga for retirada, ou seja, a partir desse ponto a deformação passa a ser plástica e o material apresentará deformação permanente quando a carga for retirada. Entre o ponto 𝑝𝑙 e 𝑒𝑙 o diagrama não é uma linha reta perfeita, no entanto ainda se considera regime elástico. ponto 𝒚 → tensão de cedência (Yield Strength) (𝑺𝒚 ou 𝝈𝒄) Este ponto caracteriza o inicio da deformação plástica. É a tensão que produz uma pequena quantidade de deformação permanente, ou seja de 0,2% (𝜀 = 0.002). Se o provete for descarregado neste ponto, este vai sofrer um aumento de comprimento permanente definido por 𝑂𝑎. ponto 𝒖 → tensão de rotura (Ultimate or Tensile Strength) (𝑺𝒖 𝒐𝒖 𝑺𝒖𝒕 ou 𝝈𝒓) Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-9 A tensão correspondente a esse ponto é a tensão de rotura ou de tração e é a maior tensão que o material atinge no diagrama tensão-extensão. ponto 𝒇 → tensão final (Fracture Strength) (𝑺𝒇 ou 𝝈𝒇) Alguns materiais, a partir da tensão de rotura a carga decresce dando-se finalmente a fratura no ponto 𝑓. Há no entanto outros, tais como o ferro fundido e o aço de alta resistência, fraturam enquanto a curva ainda está a subir (Figura 2.6 (b)) e a tensão de rotura é coincidente com a tensão final. Desta forma, pode-se concluir que os materiais dúcteis, são materiais que permitem grandes deformações plásticas antes da fratura. Quando o carregamento atinge um certo valor máximo (𝑆𝑢𝑡), o diâmetro do provete começa a diminuir, devido à perda de resistência local. Após este valor, um carregamento mais baixo é suficiente para manter o corpo a se deformar, até se dar a rotura (𝑆𝑓). Esta rotura dá-se segundo uma superfície em forma de cone, que forma um ângulo aproximado de 45° com a superfície perpendicular ao carregamento (Figura 2.7(a)). Materiais dúcteis são exemplo do cobre, do aço macio e do alumínio. Quanto aos materiaisfrágeis, são materiais que fraturam após uma pequena deformação plástica ou nenhuma. Para os materiais com comportamento frágil, não existe diferença entre a tensão de rotura e a tensão final (𝑆𝑢𝑡=𝑆𝑓), além de que a deformação até à rotura é muito menor nos materiais frágeis do que nos materiais dúcteis. A Figura 2.7(b) mostra que a rotura se dá numa superfície perpendicular ao carregamento. Pode-se concluir daí que a rotura dos materiais frágeis se deve principalmente a tensões normais. Um material frágil é um material que possui uma elevada dureza (> 500~600) e uma baixa ductilidade (elongation) (< 5~8%) São exemplos desses materiais, os aços de alta resistência e os ferros fundidos. superfície de fratura com aspeto fibroso e baço superfície de fratura com aspeto granular e brilhante (a) (b) Figura 2.7 – (a) rotura de um material dúctil; (b) rotura de um material frágil. O comportamento dúctil vs frágil depende do material, da temperatura, do estado de tensão e da velocidade de deformação. Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-10 2.3. Coeficiente de segurança Como já foi visto no capítulo da Introdução ao Projeto, as incertezas do projetista relativas a itens tais como a Resistência do Material, o tipo de Carregamento e outros fatores aleatórios, são contabilizados num coeficiente de segurança, fator de correção da tensão de Resistência numa tensão admissível. Se o critério do projeto for o de evitar a deformação plástica do órgão, a tensão de Resistência é a tensão de cedência e o componente deve ser projetado de tal forma que a tensão de cedência seja consideravelmente maior que a tensão normal que essa peça ou elemento irá suportar em condições normais de funcionamento. Se pelo contrário, o critério for o de evitar a rotura, a tensão de Resistência será a tensão de rotura do material. A tensão máxima a que o componente pode estar submetido é chamada de tensão admissível, 𝜎𝑎𝑑𝑚 e o coeficiente de segurança é dado por: 𝑛 = 𝑇𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 ou 𝑛 = 𝑆 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 (𝜎 𝑜𝑢 𝜏) ( 2.8 ) De onde se depreende que a tensão admissível para esforços normais, vem dada por: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝜎𝑐 𝑜𝑢 𝜎𝑟 𝑛 ( 2.9 ) A determinação do valor a ser adotado para o coeficiente de segurança, nas muitas aplicações possíveis, é um dos mais importantes problemas de engenharia. A escolha de um coeficiente de segurança baixo pode levar a uma possibilidade de rotura. Por outro lado, um coeficiente de segurança muito alto leva a projetos antieconómicos e pouco funcionais. Deste modo, quando o coeficiente de segurança não é estabelecido à partida por códigos de projeto ou por normas relativos ao tipo de órgão ou estrutura a dimensionar, este será um parâmetro de difícil escolha. A escolha do coeficiente de segurança não é assim uma tarefa fácil e o “grande segredo” prende-se com a “boa experiência” do projetista. A título ilustrativo, poder-se-á considerar alguns valores típicos de coeficiente de segurança relativos ao tipo de material utilizado, ou seja, o coeficiente de segurança do material, e ao tipo de carregamento que esse material está sujeito, ou seja, o coeficiente de segurança relativo ao carregamento (Tabela 2.2). Tabela 2.2 – Parâmetros para o cálculo do coeficiente de segurança. Coeficiente de segurança do material, 𝒏𝟏 Materiais dúcteis de estrutura uniforme, por ex.: Aço 1.5 − 2.0 Materiais frágeis, por ex.: Ferro Fundido 2.0 – 3.0 Madeira 3.0 – 4.0 Coeficiente de segurança relativo ao carregamento, 𝒏𝟐 Carga gradualmente aplicada 1 Carga subitamente aplicada (sem ser considerada ainda choque) 2 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-11 Choques 3 – 5 O coeficiente de segurança total será, deste modo dado por: 𝑛 = 𝑛1 × 𝑛2 ( 2.10 ) 2.4. Critérios de falha De forma a considerar estados combinados (biaxiais ou triaxiais) de tensão nos materiais, que são aqueles mais comummente encontrados no mundo real, têm vindo a ser estudadas teorias ou critérios de falha, que têm em conta as variáveis que determinam a falha de um material (de uma peça) que permita, por meio do cálculo, proceder ao adequado dimensionamento ou verificação desse modo de falha. No projeto mecânico, a falha dúctil (materiais dúcteis) é razoavelmente controlada pela Tensão de cedência e pelo critério de Von-Mises (menos conservador que o de Tresca, mas com validação experimental suficiente). A falha frágil (materiais frágeis) é razoavelmente controlada pela tensão de rotura do material, desde que todas as tensões principais tenham o mesmo sinal. Quando alguma das tensões principais tiver sinais contrários, sugere-se a aplicação de outros critérios mais apropriados (por exemplo o critério de Mohr). São apresentados de seguida, dois dos principais critérios de falha existentes na literatura para materiais dúcteis. 2.4.1. Critério da tensão de corte máxima (Tresca) O caso mais comum de corte de um material dúctil, como o aço carbono, é o deslizamento que ocorre ao longo dos planos de contato dos cristais que, aleatoriamente ordenados, formam-se no próprio material. Esse deslizamento deve-se à tensão de corte e, se fizermos um provete fino altamente polido e o submetermos a um ensaio de tração simples poderá ser visto como a tensão provoca o corte do material em que as linhas apresentadas mostram claramente os planos de deslizamento, que ocorrem a aproximadamente 45° do eixo do provete - Figura 2.8. A cedência inicial está associada ao aparecimento da primeira linha de deslizamento na superfície do provete e, conforme a deformação aumenta, mais linhas de deslizamento aparecem até́ que todo o provete tenha cedido. Se este deslizamento for considerado o mecanismo real de falha, então a tensão que melhor caracteriza esta falha é a tensão de corte nos planos de deslizamento. Este critério só é aplicável à falha por cedência, pois só nesta está implícito um mecanismo de corte. A falha ocorre sempre que a tensão de corte máxima aplicada atinja a tensão de corte máxima que está presente no provete de tração quando este entra em cedência. 𝜏𝑚𝑎𝑥 ≥ 𝑠𝑠𝑦 𝑛 ( 2.11 ) Em que 𝑆𝑠𝑦 é a tensão de corte à cedência e é dada pela relação: 𝑆𝑠𝑦 = 𝑆𝑦 2 ( 2.12 ) Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-12 Figura 2.8 – Linhas de corte a 45º num ensaio de tração de um aço. 2.4.2. Critério da energia de distorção (von Mises) Embora a teoria da tensão de corte máxima (tresca) forneça uma hipótese razoável para a cedência em materiais dúcteis, a teoria da energia de distorção máxima (von Mises) correlaciona-se melhor com os dados experimentais e, deste modo, é geralmente preferida. Nesta teoria, considera-se que a cedência ocorre quando a energia associada à mudança de forma de um corpo sob carregamento multiaxial for igual à energia de distorção num provete de tração, quando a cedência ocorre na tensão de cedência uniaxial (𝑆𝑦). Este critério, tal como o anterior também só é aplicável à falha por cedência. A falha ocorre sempre que a energia de distorção verificada num ponto qualquer da peça considerada, atinja o valor da energia de distorção presente no provete de tração quando este entra em cedência. Para um estado geral de tensões principais a falha ocorre se a tensão máxima atingir a tensão de cedência: [ (𝜎1 − 𝜎2) 2 + (𝜎2 − 𝜎3) 2 + (𝜎3 − 𝜎1) 2 2 ] 1 2 ≥ 𝑆𝑦 ( 2.13 ) A equação equivalente de von-Mises para um estado tridimensional genéricoé dada por: 𝜎′ = [𝜎𝑥 2 + 𝜎𝑦 2 + 𝜎𝑧 2 − 𝜎𝑥𝜎𝑦 − 𝜎𝑦𝜎𝑧 − 𝜎𝑧𝜎𝑥 + 3(𝜏𝑥𝑦 2 + 𝜏𝑦𝑧 2 + 𝜏𝑥𝑧 2)] 1 2 ( 2.14 ) Para tensões planas a equação de von Mises vem dada por: 𝜎′ = [𝜎𝑥 2 − 𝜎𝑥𝜎𝑦 + 𝜎𝑦 2 + 3(𝜏𝑥𝑦 2)] 1 2 ≥ 𝑆𝑦 𝑛 ( 2.15 ) Para um estado de corte puro à cedência vem: √3(𝜏𝑥𝑦 2) ≥ 𝑆𝑦 𝑛 𝑜𝑢 𝜏𝑥𝑦 ≥ 𝑆𝑦 √3𝑛 ( 2.16 ) Onde a tensão de cedência ao corte é dada por: 1 - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL METALÚRGICA DE VOLTA REDONDA PROFESSORA: SALETE BUFFONI DISCIPLINA: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Critérios de Falha Os elementos estruturais e os componentes de máquinas são projetados de modo que o material que os compõem, sendo material dúctil, não venha a escoar pela ação dos carregamentos esperados. Dessa forma quando o engenheiro precisa elaborar um projeto com um determinado material, o mesmo deve estabelecer um limite superior para o estado de tensão que defina a falha do material. Se o material for dúctil, geralmente a falha será especificada pelo início do escoamento; se o material for frágil, ela será especificada pela fratura. Esses modos de falha são prontamente definidos se o elemento estiver submetido a um estado de tensão uniaxial, como no caso de tensão simples; Caso o elemento esteja submetido a estados de tensão biaxial ou triaxial, o critério para ruptura fica mais difícil de estabelecer. Na prática da Engenharia estudam-se quatro teorias para prever a ruptura de um material submetido a um estado multiaxial de tensões. Utilizam-se estas teorias para se calcular as tensões admissíveis descritas em muitas normas de projeto. Materiais Dúcteis Teoria da Tensão de Cisalhamento Máxima ou Critério do Escoamento de Tresca O caso mais comum de escoamento de um material dúctil, como o aço, é o deslizamento que ocorre ao longo dos planos de contato dos cristais que, aleatoriamente ordenados, formam o próprio material. Esse deslizamento deve-se a tensão de cisalhamento e, se fizermos um corpo de prova com uma tira fina altamente polida e a submetermos a um ensaio de tração simples poderá ser visto como a tensão provoca o escoamento do material como está no esboço da Figura 1. Figura1 - Escoamento do aço. As linhas apresentadas na Figura 1 mostram claramente os planos de deslizamento, que ocorrem a aproximadamente 45º do eixo da tira. Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-13 𝑆𝑠𝑦 = 𝑆𝑦 √3 e 𝜏𝑥𝑦 ≥ 𝑆𝑠𝑦 𝑛 ( 2.17 ) 2.5. Anexo: Tabelas de propriedades mecânicas de alguns aços Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-14 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-15 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-16 2.6. Exercícios de Aplicação Propostos IP.1. Um veio de secção circular de alumínio 𝐴𝐼𝑆𝐼 2011 tem uma força 𝐹 axial aplicada ao longo do eixo de 100𝑘𝑁. Qual deve ser o diâmetro mínimo do veio, sabendo que o coeficiente de segurança pretendido é de 2? IP.2. Um veio de secção circular em aço AISI 1018 está sujeito à ação de uma força axial F de 22,5kN. Sabendo que o coeficiente de segurança é de 3. Qual deve ser o menor diâmetro, d, do veio? IP.3. Um veio de secção circular de aço AISI 1144 está sujeito a uma força vertical F de 100kN aplicada a 0,1m do encastramento. Qual deve ser o menor valor do raio do veio, r, sabendo que o coeficiente de segurança é de 3 (despreze efeitos de concentração de tensões no encastramento). IP.4. Uma barra de aço AISI 1018 de secção rectangular 20 × 60mm está submetida a um momento flector Mf. Sabendo que se pretende usar um coeficiente de segurança de 2, qual o máximo momento flector que pode ser aplicado à barra? 𝑭 𝑭 𝑴𝒇 𝑴𝒇 F F Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-17 IP.5. Uma barra retangular oca em alumínio AISI 2011 está sujeita a um momento fletor numa das extremidades e está encastrada na outra. Sabendo que se pretende usar um coeficiente de segurança de 3, qual o valor do momento fletor máximo que pode ser aplicado? (despreze efeitos de concentração de tensões no encastramento) IP.6. Um veio de alumínio AISI 7075 está sujeito a um momento torsor de Mt = T = 5 Nm. O coeficiente de segurança pretendido é de 3. Qual deve ser o diâmetro mínimo, D, do veio. IP.7. Um veio oco de alumínio AISI 7075 está sujeito a um momento torsor, M𝑡. O coeficiente de segurança pretendido é de 3. Determinar qual o momento torsor máximo que pode ser aplicado: a) Quando o veio tem um diâmetro exterior d𝑜 = 100mm, um diâmetro interior di = 50mm e um comprimento 𝑙 = 250mm. b) Quando o veio é maciço e do mesmo material com o mesmo peso e o mesmo comprimento que o da alínea a). 𝑴𝒇 120 𝑚𝑚 80 64 104 𝑀𝑡 𝑀𝑡 Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais ESTSetúbal/IPS Página MM-18 IP.8. Considere um veio de alumínio 7075, sujeito a um momento torsor de 5 N.m, tendo um raio de 2 mm e um comprimento de 0.5 m. Sabendo que se pretende um coeficiente de segurança de 3, verifique o veio através dos critérios de falha de Tresca e von Mises. IP.9. A Máquina de ensaios biaxiais existente no IPS tem a capacidade de realizar ensaios a provetes de materiais em duas direções distintas e perpendiculares. Assumindo que um provete cruciforme (conforme figura) é tracionado na direção 1 com 20 kN, e na direção 2 com 10 kN, determine a tensão de von Mises equivalente e a tensão de Tresca equivalente. Repita o exercício com a força em 2 igual a 20 kN. A secção do provete é de 10 x 20 mm.
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