Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
I I Nome do professor Sobre a autora Muriel Batista de Oliveira A autora do caderno de estudos é a professora Muriel Batista de Oliveira, brasileira, natural de Rio Grande/RS, bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG, 2002), Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ, 2005) e Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Americana (2016). Especialista em Docência do Ensino Superior (REDENTOR, 2007), Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho (REDENTOR, 2011) e Especialista em Educação Ambiental (FETREMIS, 2014). Professora da Faculdade Redentor desde 2006, nos cursos de Engenharias. Coordena o curso de engenharia civil na modalidade EaD. Tem experiência nas disciplinas de Cálculo 0, Geometria Descritiva, Geometria Analítica, Metodologia Científica, Álgebra Linear, Probabilidade e Estatística, Resistência dos Materiais, Equipamentos, Engenharia de Segurança do Trabalho, Fenômenos de Transporte, Instalações Prediais II, Saneamento e Trabalho de Conclusão de Curso. Atuou como Engenheira Civil, como projetista e responsável técnica de obras públicas e privadas. Apresentação Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)! Continuando sua formação em Engenharia, você tem um novo e grande desafio para concluir as disciplinas do ciclo básico. Nossa disciplina intitula-se Resistência dos Materiais I e aborda conteúdos que são ferramentas importantes para a formação profissional na área de Engenharia. Após terminar esta disciplina você deverá ser capaz de compreender o comportamento dos materiais sujeitos a agentes mecânicos, dentre outros, que atuam sobre peças de formas simples, buscando-se a quantificação dos efeitos através da introdução de hipóteses simplificadoras as quais, ao tempo em que permitem a obtenção de fórmulas matemáticas mais simples que não deixam de representar a realidade prática, nos limites de precisão exigidos pelas necessidades da Engenharia. É importante frisar que nesse caderno você encontrará o básico dos conceitos e aplicações. O conteúdo vai muito além. Vale ressaltar que será muito importante consultar as bibliografias básica e complementar. Acima de tudo, você deverá praticar muito. Sugiro que após cada capítulo, que estarão apresentados divididos em aulas, você busque fazer alguns dos exercícios propostos nas listas e na bibliografia indicada ao final das mesmas. A disciplina foi dividida em sete capítulos divididos em dezesseis aulas, contendo exemplos e atividades a serem resolvidas, sendo importante você manter uma constância em seus estudos. Portanto, não acumule dúvidas! Consulte o professor, participe dos fóruns, releia o caderno, as bibliografias recomendadas, faça os exercícios teóricos e principalmente os práticos, assista aos vídeos sugeridos e outras fontes que você considerar importantes para sua aprendizagem. Não esqueça: é preciso praticar... E muito! . . . Bons estudos! Objetivos A Resistência dos Materiais é um ramo da Mecânica Aplicada que estuda a resistência de materiais de engenharia e seu comportamento mecânico sob ação de carregamentos. A disciplina busca fornecer a você aluno (a) conceitos sobre resistência dos materiais, objetivando prepará-lo (a) para as disciplinas do ciclo profissional onde esses conceitos são aplicados. Este caderno de estudos tem como objetivos: Compreender o comportamento de estruturas mecânicas sujeitas a esforços externos; Analisar elementos que compõem projetos; Interpretar catálogos, manuais e tabelas; Especificar elementos que compõem projetos; Interpretar e distinguir materiais, elementos e suas propriedades nos sistemas; Dimensionar e especificar materiais; Efetuar cálculos e identificar os materiais quanto a sua capacidade de carga e tensões; Analisar o gráfico tensão/deformação e o comportamento de um material; Conhecer as propriedades mecânicas dos materiais; Aplicar conceitos de tensão admissível e fator de segurança; Analisar as classes de resistência: tração, flexão, compressão, cisalhamento, torção, flexotorção e flambagem. Ajudar e dar subsídio para o aluno desenvolver a sua capacidade de projetar sistemas estruturais. Interpretação e de solução de problemas espaciais nas demais disciplinas do curso. Capacitar o acadêmico na habilidade de interpretação e resolução de problemas concretos e abstratos, aumentando sua visão espacial, integrando conhecimentos multidisciplinares e viabilizando a representação de figuras associadas a novos padrões e técnicas de resolução. Sumário AULA 1 - CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TENSÕES 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TENSÕES ................................................................ 12 1.1 Introdução ....................................................................................................... 12 1.2 Forças e tensões .............................................................................................. 19 1.3 Forças axiais, tensões normais ...................................................................... 20 1.4 Tensão de cisalhamento ................................................................................ 21 1.5 Tensões de esmagamento ............................................................................. 22 1.6 Tensões em um plano oblíquo ao eixo ......................................................... 23 1.7 Componente de tensão ................................................................................. 24 1.8 Tensões admissíveis, tensões últimas e coeficiente de segurança ............ 25 AULA 2 - CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TENSÕES EXEMPLOS RESOLVIDOS: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TENSÕES ................................ 35 AULA 3 - CAPÍTULO 2: TENSÃO E DEFORMAÇÃO – CARREGAMENTO AXIAL 2 TENSÃO E DEFORMAÇÃO – CARREGAMENTO AXIAL ............................................. 56 2.1 Introdução ....................................................................................................... 56 2.2 Deformação específica normal sob carregamento axial .......................... 56 2.3 Diagrama tensão-deformação ...................................................................... 57 2.4 Comportamento elástico e plástico dos materiais ...................................... 62 2.5 Lei de Hooke, módulo de elasticidade ......................................................... 66 2.6 Deformação de barras sujeitas a cargas axiais........................................... 67 2.7 Problemas estaticamente indeterminados ................................................... 68 2.8 Coeficiente de Poisson ................................................................................... 69 2.9 Tensões térmicas ............................................................................................. 70 AULA 4 - CAPÍTULO 2: TENSÃO E DEFORMAÇÃO – CARREGAMENTO AXIAL EXEMPLOS RESOLVIDOS: TENSÃO E DEFORMAÇÃO – CARREGAMENTO AXIAL ............. 79 AULA 5 - CAPÍTULO 3: TORÇÃO 3 TORÇÃO .................................................................................................................. 101 3.1 Introdução ..................................................................................................... 101 3.2 Aplicação do método das seções .............................................................. 102 3.3 Deformação em seções transversais circulares ........................................ 103 3.4 Tensões no regime elástico .......................................................................... 104 3.5 Ângulo de torção no regime elástico .........................................................106 3.6 Eixos estaticamente indeterminados .......................................................... 109 3.7 Projeto de eixos de transmissão .................................................................. 109 3.8 Torção em barras de seção não circular ................................................... 110 3.9 Convenção de sinais .................................................................................... 112 AULA 6 - CAPÍTULO 3: TORÇÃO EXEMPLOS RESOLVIDOS - TORÇÃO................................................................................. 121 AULA 7 - CAPÍTULO 4: FLEXÃO PURA 4 FLEXÃO .................................................................................................................... 143 4.1 Introdução ..................................................................................................... 143 4.2 Barras prismáticas em flexão pura .............................................................. 143 4.3 Análise das tensões na flexão pura ............................................................ 144 4.4 Deformação em uma barra simétrica na flexão ....................................... 145 4.5 Tensões e deformações no regime elástico ............................................... 147 4.6 Flexão de barras compostas........................................................................ 150 4.7 Flexão oblíqua ............................................................................................... 152 AULA 8 - CAPÍTULO 4: FLEXÃO PURA EXEMPLOS RESOLVIDOS: FLEXÃO PURA .......................................................................... 161 AULA 9 - CAPÍTULO 5: CARREGAMENTO TRANSVERSAL 5 CARREGAMENTO TRANSVERSAL ............................................................................ 183 5.1 Introdução ..................................................................................................... 183 5.2 Carregamento transversal em barras prismáticas ..................................... 183 5.3 Hipóteses básicas para a distribuição de tensões normais ...................... 186 5.4 Determinação do fluxo de cisalhamento em um plano longitudinal ...... 186 5.5 Determinação da tensão de cisalhamento xy em uma viga ................... 188 5.6 Tensões de cisalhamento xy em seções transversais usuais .................... 189 5.6.1 Cisalhamento em uma seção longitudinal arbitrária ...................... 192 5.6.2 Tensões de cisalhamento em barras de paredes finas ................... 192 5.7 Exemplo resolvido 1 ...................................................................................... 194 5.8 Exemplo resolvido 2 ...................................................................................... 196 AULA 10 - CAPÍTULO 5: CARREGAMENTO TRANSVERSAL EXEMPLOS RESOLVIDOS: CARREGAMENTO TRANSVERSAL ............................................ 203 AULA 11 - CAPÍTULO 6: INTRODUÇÃO AO PRINCÍPIO DOS TRABALHOS VIRTUAIS 6 INTRODUÇÃO AO PRINCÍPIO DOS TRABALHOS VIRTUAIS ..................................... 223 6.1 Introdução ..................................................................................................... 223 6.2 Método do trabalho virtual para deflexões ................................................ 223 6.3 Equações do trabalho virtual para sistemas elásticos .............................. 225 AULA 12 - CAPÍTULO 6: INTRODUÇÃO AO PRINCÍPIO DOS TRABALHOS VIRTUAIS EXEMPLOS RESOLVIDOS: INTRODUÇÃO AO PRINCÍPIO DOS TRABALHOS VIRTUAIS .... 241 AULA 13 - CAPÍTULO 7: ANÁLISE DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES 7 ANÁLISE DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES................................................................. 259 7.1 Introdução ..................................................................................................... 259 7.2 Estado plano de tensões .............................................................................. 261 7.3 Tensões principais e tensão de cisalhamento máxima ............................ 263 7.4 Círculo de Mohr – tensão no plano ............................................................. 266 AULA 14 - CAPÍTULO 7: ANÁLISE DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES EXEMPLOS RESOLVIDOS: ANÁLISE DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES ................................ 278 7.5 Teorias de resistência ................................................................................... 294 7.5.1 Critérios de fratura ................................................................................. 294 7.5.2 Critérios de escoamento ...................................................................... 297 AULA 15 - CAPÍTULO 7: ANÁLISE DE TENSÕES E DEFORMAÇÕES PROBLEMAS PROPOSTOS ................................................................................................. 314 AULA 16 – REVISÃO GERAL Iconografia Capítulo 1: introdução ao estudo das tensões Aula 1 APRESENTAÇÃO DA AULA Nesta aula faremos uma breve revisão de conceitos básicos de estática e estudaremos os conceitos iniciais da Resistência dos Materiais, os tipos de carregamentos aos quais as estruturas podem estar sujeitas, além dos conceitos de tensão normal e de cisalhamento e coeficiente de segurança. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Aplicar os conceitos da estática para calcular as forças internas resultantes em um corpo; Aplicar o conceito de tensão normal Aplicar o conceito de tensão de cisalhamento Aplicar o conceito de coeficiente de segurança para cálculo de tensões admissíveis; Analisar estruturas sujeitas a cargas axiais ou cisalhantes. P á g i n a | 12 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TENSÕES 1.1 Introdução Para iniciarmos nosso estudo na disciplina é importante relembrarmos alguns conceitos e definições para entender onde está situada a Resistência dos Materiais (Figura 1.1): Figura 1.1: Divisões da Mecânica Aplicada. Mecânica Aplicada: Ramo da ciência que, através da aplicação dos princípios de mecânica, busca entender, explicar e prever as ações e reações de corpos em repouso ou movimento. Mecânica do Contínuo: Ramo da ciência que lida com meios contínuos, incluindo sólidos e fluidos. Mecânica dos Sólidos: Estuda a física de sólidos contínuos, com forma definida quando em repouso. Elasticidade: Descreve o comportamento de materiais que retomam sua forma original após a aplicação de esforços mecânicos. Plasticidade: Descreve o comportamento de materiais que têm sua forma original modificada após a aplicação de esforços mecânicos. P á g i n a | 13 Resistência dos Materiais: Estuda a resistência de materiais de engenharia e seu comportamento mecânico sob ação de carregamentos. A teoria da elasticidade e a teoria da plasticidade são áreas da Mecânica Avançada, que com pesquisas contínuas busca além de resolver problemas avançados de engenharia, justificar a maior utilização e as limitações da teoria fundamental da mecânica dos materiais (HIBBELER, 2010). A história da Resistência dos Materiais é uma combinação de teoria e experiência. Cientistas, como Leonardo da Vinci e Galileu Galilei fizeram experiências para determinar a resistência de fios, barras e vigas, sem que tivessem desenvolvido teorias adequadas (pelos padrões de hoje) para explicar os resultados atingidos. Outros gênios, como Leonhard Euler, desenvolveram teorias matemáticas muito antes de qualquer experiência que evidenciasse a importância do seu achado. No início do sec. XVIII Saint-Venant, Poisson e Navier desenvolveram estudos com aplicações da mecânica dos corpos materiais, que foram denominados Resistência dos Materiais. O principal objetivo de um curso de Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos é o desenvolvimento de relações entre as cargasaplicadas a um corpo e as forças internas e deformações nele originadas. Estas relações são obtidas através de métodos matemáticos ou experimentais, que permitam a análise destes fenômenos. Problema: Corpo sujeito a ação de esforços externos (forças, momentos, etc.). Solução: Determinar esforços internos (tensões), deslocamentos e deformações. Normalmente buscamos a solução de três tipos de problemas: Projetos: Definição de materiais, forma e dimensões da peça estudada. Verificações: Diagnosticar a adequação e condições de segurança de um projeto conhecido. Avaliação de capacidade: Determinação da carga máxima que pode ser suportada com segurança. Entre muitos dos conceitos que deve estar claro e que são indispensáveis para a solução de problemas de engenharia estão: Força: é toda a grandeza capaz de provocar movimento, alterar o estado de movimento ou provocar deformação em um corpo. Em análise estrutural as forças são divididas em: P á g i n a | 14 - Forças Externas: atuam na parte externa na estrutura. Podem ser ativas ou reativas. - Ativas: São forças independentes que podem atuar em qualquer ponto de uma estrutura. Correspondem às cargas as quais estaremos submetendo a estrutura, normalmente conhecidas ou avaliadas. Por exemplo: peso do pedestre em uma passarela, peso próprio das estruturas, etc. - Reativas: São forças que surgem em determinados pontos de uma estrutura (vínculos ou apoios), sendo consequência das ações, portanto não são independentes, devendo ser calculadas para se equivalerem as ações e assim preservarem o equilíbrio do sistema. Assim, podemos dizer que sempre que uma peça de estrutura carregada tiver contato com elementos externos ao sistema (vínculo), neste ponto surge uma força reativa. - Forças Internas: são aquelas que mantêm unidos os pontos materiais que formam o corpo sólido da estrutura (solicitações internas). Se o corpo é estruturalmente composto de diversas partes, as forças que mantém estas partes unidas também são chamadas de forças internas (forças desenvolvidas em rótulas). A Figura 1.2 ilustra os esforços internos de Tração, Compressão, Cisalhamento, Flexão, Torção e Esforços combinados. Figura 1.2: Esforços internos: Tração; (b) Compressão; (c) Cisalhamento; (d) Flexão; (e) Torção. P á g i n a | 15 Momento: Momento de uma força é a medida da tendência que tem a força de produzir giro em um corpo rígido. Este giro pode se dar em torno de um ponto (momento polar) ou em torno de um eixo (momento axial). Princípio da superposição de efeitos: "O efeito produzido por um conjunto de forças atuando simultaneamente em um corpo é igual à soma do efeito produzido por cada uma das forças atuando isolada". Deve-se fazer a ressalva de que a validade deste princípio se resume a casos em que o efeito produzido pela força seja diretamente proporcional a mesma. Isto acontece na maioria dos casos estudados. A partir deste princípio podemos dizer que o momento resultante de um sistema de forças é a soma algébrica dos momentos, produzidos em relação ao mesmo ponto, por cada uma das forças atuando isolada. Vínculo: É todo o elemento de ligação (dispositivo mecânico) entre as partes de uma estrutura ou entre a estrutura e o meio externo, cuja finalidade é restringir um ou mais graus de liberdade de um corpo. Os esforços reativos (reações), juntamente com as ações (cargas aplicadas à estrutura) formam um sistema em equilíbrio estático. Uma estrutura espacial possui seis graus de liberdade: três translações e três rotações segundo três eixos ortogonais. A fim de evitar a tendência de movimento da estrutura, estes graus de liberdade precisam ser restringidos. - Vínculos externos: São vínculos que unem os elementos de uma estrutura ao meio externo e se classificam quanto ao número de graus de liberdade restringidos. No caso plano o vínculo pode restringir até 3 graus de liberdade (GL) e, portanto, se classifica em três espécies (Figura 1.3). (a) Primeira espécie ou primeiro gênero (apoio móvel): restringe uma translação; (b) Segunda espécie ou segundo gênero (apoio fixo): restringe duas translações; (c) Terceira espécie ou terceiro gênero (engaste): restringe duas translações e uma rotação. Figura 1.3: Vínculos de primeiro, segundo e terceiro gênero. (a) (b) (c) P á g i n a | 16 Vínculos internos: São aqueles que unem partes componentes de uma estrutura. Compõem as estruturas compostas. Equilíbrio: Sempre que se deseja trabalhar com uma peça componente de uma estrutura ou máquina, devemos observar e garantir o seu equilíbrio externo e interno. - Equilíbrio externo: Para que o equilíbrio externo seja mantido se considera a peça monolítica e indeformável. Diz-se que um corpo está em equilíbrio estático quando as forças atuantes formam entre si um sistema equivalente a zero, isto é, sua resultante e o seu momento em relação a qualquer ponto são nulos. Como se costuma trabalhar com as forças e momentos referenciados a um sistema tri-ortogonal de eixos, desta maneira o equilíbrio se verifica se as seis equações abaixo são satisfeitas: ∑𝐹𝑥 = 0 ∑𝑀𝑥 = 0 (1.1) ∑𝐹𝑦 = 0 ∑𝑀𝑦 = 0 (1.2) ∑𝐹𝑧 = 0 ∑𝑀𝑧 = 0 (1.3) Diante de um caso de carregamento plano e, portanto, apresentando 3 graus de liberdade, as condições de equilíbrio se reduzem apenas às equações: ∑𝐹𝑥 = 0 ∑𝐹𝑦 = 0 ∑𝑀𝑧 = 0 (1.4) Observe que as equações de equilíbrio adotadas devem ser apropriadas ao sistema de forças em questão, e se constituem nas equações fundamentais da estática. - Equilíbrio interno: De uma maneira geral podemos dizer que o equilíbrio externo não leva em conta o modo como o corpo transmite as cargas para os vínculos. O corpo quando recebe cargas vai gradativamente deformando-se até atingir o equilíbrio, onde as deformações param de aumentar (são impedidas internamente), gerando solicitações internas. Estas solicitações internas são responsáveis pelo equilíbrio interno do corpo. O método das seções é utilizado para determinar as resultantes internas em um ponto localizado sobre a seção de um corpo. Em geral, essas resultantes consistem em uma força normal, uma força de cisalhamento, um momento de torção e um momento fletor. A Figura 1.4 ilustra esse procedimento numericamente: P á g i n a | 17 Figura 1.4: Esquema do método das seções. Fonte: HIBBELER (2010) Como vimos, a Resistência dos Materiais é um ramo da Mecânica que estuda as relações entre as cargas externas aplicadas a um corpo deformável e a intensidade das forças internas que agem no interior do corpo. Assim, tem-se envolvido o cálculo das deformações do corpo e o estudo da estabilidade do mesmo quando sujeito a forças externas. O cálculo de uma estrutura depende de três critérios: Estabilidade: Toda estrutura deverá atender às equações universais de equilíbrio estático. Resistência: Toda estrutura deverá resistir às tensões internas geradas pelas ações solicitantes. Rigidez: Além de resistir às tensões internas geradas pelas ações solicitantes, as estruturas não podem se deformar excessivamente. A boa compreensão dos conceitos que envolvem a mecânica dos sólidos está intimamente ligada ao estudo de duas grandezas físicas: A tensão e a deformação, que serão abordadas durante todo o tempo nesta disciplina. Este capítulo, nas aulas 1 e 2, está voltado para o conceito de tensão e a introdução dos métodos usados na análise e projeto de máquinas e estruturas de sustentação, que se constituem de diversos elementos estruturais que podem ser classificados como: blocos, placas, cascas (placas curvas), barras e de outros elementos estruturais complexos (Figuras 1.5 a1.8). P á g i n a | 18 Figura 1.5: Blocos (ex. sapata de fundação e bloco de coroamento de estaca). Figura 1.6: Placas (ex. pavimento de concreto) e Cascas (ex. caldeira, avião, navio, lata). Figura 1.7: Barras: Podem ser retas (vigas, pilares, tirantes e escoras) ou curvas (arcos). P á g i n a | 19 Figura 1.8: Elementos Estruturais complexos (estruturas rebuscadas). 1.2 Forças e tensões Consideremos uma barra reta submetida a duas forças axiais P e P’ (Figura 1.9). Figura 1.9 A força por unidade de área ou a intensidade das forças distribuídas numa certa seção transversal é chamada tensão atuante (σ) “sigma”. A tensão em uma barra se seção transversal A, sujeita a uma força axial P é obtida dividindo-se o módulo P da força pela área A. 𝜎 = 𝑃 𝐴 (1.5) onde: σ: tensão média em qualquer ponto na área da seção transversal; P: força normal interna resultante, que é aplicada no centroide da área da seção transversal. P é determinada pelo método das seções e pelas equações de equilíbrio; A: área da seção transversal da barra. P á g i n a | 20 Obs.: O método das seções é usado para determinar as cargas resultantes internas que agem sobre a superfície do corpo secionado. Unidades: P [N] newton, [lb] libras A [m²] metro², [in²] polegada² σ [N/m²] = [Pa], [Psi ou ksi] Convenção.: A convenção de sinais para as tensões deve ser de tal maneira que não permita que uma mesma tensão tenha valores algébricos de sinais opostos quando se analisa uma face ou outra do solido de tensões. Para as tensões normais: São positivas quando estão associadas à tração (como mostrado na Figura 1.9) e negativas quando estão associadas à compressão. 1.3 Forças axiais, tensões normais Na equação 1.5, σ representa o valor médio das tensões na seção transversal. Para definir a tensão em um dado ponto Q da seção transversal, deve-se considerar uma pequena área ΔA (Figura 1.10). Fazendo ΔA tender a zero, obtém-se a tensão no ponto Q. Figura 1.10 𝜎 = 𝑙𝑖𝑚 ∆𝐴→0 ∆𝐹 ∆𝐴 (1.6) Na equação 1.6 o valor da tensão é diferente do valor obtido com a equação 1.5, pois σ varia ao longo da seção transversal (em 1.6). A distribuição real das P á g i n a | 21 tensões em uma certa seção transversal é estaticamente indeterminada. Na prática, vamos assumir que a distribuição de tensões é uniforme em uma barra carregada axialmente, com a exceção das seções vizinhas ao ponto aplicação da carga. Uma distribuição uniforme de tensões só é possível se a linha de ação das forças aplicadas P e P’ passar pelo centroide da seção considerada (Figura 1.11). A carga centrada será adotada como carregamento atuante em todas as barras do eixo reto das treliças e estruturas reticuladas (barras conectadas por pinos). Cargas excêntricas serão vistas no capítulo 4. Figura 1.11 1.4 Tensão de cisalhamento Consideremos a barra da Figura 1.12 onde duas forças P e P’ são aplicadas na direção transversal à barra. A resultante de intensidade P é chamada de força cortante na seção. Ao dividirmos a força P cortante pela área da seção transversal A obtemos a tensão média de cisalhamento na seção (méd). Figura 1.12 P á g i n a | 22 𝜏𝑚é𝑑 = 𝑃 𝐴 (1.7) Ou, 𝜏𝑚é𝑑 = 𝐹 𝐴 (1.8) Contrariamente ao que foi dito para tensões normais, a distribuição das tensões de cisalhamento na seção transversal não pode ser assumida como uniforme, como será visto no capítulo 5. As tensões de cisalhamento (equação 1.8) são encontradas em parafusos, pinos e rebites ligando membros estruturais ou componentes de máquinas. Sendo estes elementos finos, pode-se desprezar o momento criado pela força F. Por consequência, para equilíbrio, a área da seção transversal do conector e a superfície de fixação entre os elementos estão sujeitos a somente uma única força de cisalhamento simples, sendo assim, P = F. Figura 1.13 1.5 Tensões de esmagamento Os parafusos, pinos e rebites provocam tensão de esmagamento nas barras que estão ligando, ao longo da superfície de contato. A tensão de esmagamento (σe) é obtida dividindo-se a força P pela área que representa a projeção do rebite sobre a seção da chapa. Essa área é igual a t.d, onde t é a espessura da chapa e d é o diâmetro do rebite. (Figura 1.14) P á g i n a | 23 Figura 1.14 Fonte: BEER (2006) 1.6 Tensões em um plano oblíquo ao eixo Consideremos agora tensões que surgem sobre uma seção oblíqua de uma barra sujeita a um par de cargas axiais. Observa-se que ambas as tensões normais e de cisalhamento ocorrem nessa situação. Denotando por θ o ângulo entre a seção e o plano normal (Figura 1.15) e por A0 a área de uma seção perpendicular ao eixo da barra, podemos escrever: Figura 1.15 𝜎 = 𝑃 𝐴0 𝑐𝑜𝑠 ² 𝜃 e 𝜏 = 𝑃 𝐴0 𝑠𝑒𝑛𝜃. 𝑐𝑜𝑠𝜃 (1.10) Observação: σmáx = P A0 para θ = 0° e σ = P 2A0 para θ = 45° τmáx = P 2A0 para θ = 45° e τ = 0 para θ = 0° Um exemplo de aplicação de tensões oblíquas ao eixo será abordado na aula 2. P á g i n a | 24 1.7 Componente de tensão Tomando-se então cada um dos três planos ortogonais yz (vetor normal paralelo ao eixo x), xz (vetor normal paralelo ao eixo y) e xy (vetor normal paralelo ao eixo z) é possível definir três vetores tensões, (Figuras 1.16) que serão fundamentais no estudo da grandeza tensão. Consideremos um pequeno cubo centrado em M (Figura 1.17). Denotamos por σx a tensão normal exercida sobre uma face do cubo perpendicular ao eixo x, e por xy e xz, respectivamente, as componentes y e z da tensão de cisalhamento exercida sobre a mesma face do cubo. Repetindo esse procedimento para as duas outras faces do cubo e observando que xy = yx, yz = zy, zx = xz pode-se concluir que são necessárias seis componentes de tensões para definir o estado de tensão em dado ponto M, ou seja, σx, σy, σz, xy, yz e zx. Figura 1.16: Tensões nos três planos ortogonais. P á g i n a | 25 Figura 1.17: Tensão sob carregamento axial. Convenção: A convenção de sinais as tensões tangenciais é a seguinte: Quando a normal externa do sólido de tensões apontar na mesma direção do eixo coordenado, as tensões tangenciais são positivas quando apontarem para o mesmo sentido do seu respectivo eixo coordenado (como na Figura 1.17). Tensões normais: Estas tensões são resultado de um carregamento que provoca a aproximação ou o afastamento de moléculas que constituem o sólido. Tensões cisalhantes ou tangenciais: Estas tensões são resultado de um carregamento que provoca um deslizamento relativo de moléculas que constituem o sólido. 1.8 Tensões admissíveis, tensões últimas e coeficiente de segurança Um engenheiro responsável pelo projeto de um elemento estrutural ou mecânico, deve restringir a tensão atuante no material a um nível seguro. Além disso, uma estrutura ou máquina em uso contínuo deve ser analisada periodicamente para que se verifiquem quais cargas adicionais seus elementos ou partes podem suportar. Portanto, deve-se fazer os cálculos usando-se uma tensão admissível. P á g i n a | 26 Carga última ou carregamento último: é a força que o membro estrutural ou componente de máquina está no limite de falhar. Deve ser consideravelmente maior do que a carga admissível. Carga admissível: carga que o membro ou componente irá suportar em condições normais de utilização. Coeficiente ou fator de segurança (CS ou FS): é a relação entre o carregamento último e o carregamentoadmissível. 𝐶𝑆 = 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 ú𝑙𝑡𝑖𝑚𝑎 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 (1.11) 𝐶𝑆 = 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 ú𝑙𝑡𝑖𝑚𝑎 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 (1.12) A carga de ruptura é determinada por ensaios experimentais do material e o fator de segurança é selecionado com base na experiência. A escolha de um CS baixo pode levar a possibilidade de ruptura de uma estrutura muito alta, enquanto que um CS muito alto torna projetos antieconômicos ou pouco funcionais. O fator de segurança escolhido é maior que 1, para evitar o potencial de falha. A escolha de um CS deve levar em conta: Modificações nas propriedades dos materiais: a composição resistência e dimensões dos materiais estão sujeitas a pequenas variações durante a fabricação das peças e também durante o transporte, armazenamento ou execução da estrutura; Número de vezes de aplicação de carga: relacionado ao fenômeno de fadiga, que pode levar a uma diminuição do valor da tensão última; Tipo de carregamento do projeto e futuro: existe a possibilidade de alterações futuras na finalidade da máquina ou estrutura que está sendo projetada; Modo de ruptura que pode ocorrer: materiais frágeis rompem repentinamente e materiais dúcteis apresentam grande deformação antes da ruptura. Quando existe possibilidade de ruptura repentina o coeficiente se segurança deve ser maior do que no caso de materiais com ruptura com indícios de colapso; Métodos aproximados e análise: esses métodos são baseados em simplificações e levam a diferenças entre as tensões calculadas e as tensões que realmente atuam na estrutura; P á g i n a | 27 Falta de manutenção ou causas naturais imprevistas: em locais sujeitos a corrosão por ferrugem, por exemplo, devemos adotar um coeficiente de segurança com valor elevado; A importância do membro para estrutura: peças principais de uma estrutura exigem um coeficiente se segurança maior do que peças de secundárias e de contraventamentos. Existem casos em que o colapso não traz risco de morte, e a perda de materiais é mínima, podemos usar um coeficiente de segurança mais baixo. Seus valores, os quais podem ser encontrados em normas de projeto e manuais de engenharia, pretendem manter um equilíbrio entre garantir a segurança pública e ambiental e oferecer soluções de projetos econômicos e razoáveis. Agora, para fecharmos este capítulo, vamos fazer um exemplo para fixar os conceitos de tensão normal, tensão cisalhante, tensão de esmagamento, tensões últimas e coeficiente de segurança, além de calcular os esforços em uma estrutura. Exemplo.: (BEER, 2006) Observe a estrutura abaixo e a seguir responda as seguintes questões apresentando a resolução com todos os cálculos necessários: a) Sabendo-se que a barra AB é feita de aço com a tensão última de 600 MPa, qual o diâmetro da barra para que o CS seja de 3,3? b) O pino do ponto C é feito de aço com tensão última de cisalhamento de 350 MPa. Qual o diâmetro do pino C que leva um CS de cisalhamento de 3,3? c) Qual a espessura necessária das chapas de apoio em C, sabendo-se que a tensão admissível para esmagamento do aço utilizado é de 300 MPa? P á g i n a | 28 Solução: Primeiramente vamos calcular as reações impostas pelo apoio e o valor da força P, considerando positivo o momento no sentido anti-horário, a força vertical para cima e a força horizontal para direita: ∑𝑀𝐶 = 0: 𝑃𝐴𝐵(0,6) − 50(0,3) − 15(0,6) = 0 → 𝑃𝐴𝐵 = 40 𝐾𝑁 ∑𝐹𝑦 = 0: −𝐶𝑦 − 50 − 15 = 0 → 𝐶𝑦 = 65 𝐾𝑁 ∑𝐹𝑥 = 0: 𝐶𝑥 − 𝑃 = 0 → 𝐶𝑥 = 𝑃 = 40 𝐾𝑁 a) Dados: 𝜎𝑈 = 600 𝑀𝑃𝑎, CS = 3,3; 𝑑𝐴𝐵 = ? 𝐶𝑆 = 𝜎𝑈 𝜎𝑎𝑑𝑚 → 3,3 = 600 𝜎𝑎𝑑𝑚 → 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 181,81 𝑀𝑃𝑎 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑃𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 → 181,81 × 106 = 40 × 103 𝐴𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 = 𝜋𝑑2 4 181,81 × 106 = 40 × 103 𝐴𝐴𝐵 → 181,81 × 106 = 40 × 103 𝜋𝑑2 4 → 𝑑2 = 40 × 103 181,81 × 106 × 4 𝜋 𝑑 = √ 40 × 103 81,81 × 106 × 4 𝜋 → 𝒅 = 𝟎, 𝟎𝟏𝟔𝟕𝟒 𝒎 → 𝒅 = 𝟏𝟔, 𝟕𝟒 𝒎𝒎 O diâmetro da barra AB é de aproximadamente 17 mm. b) Dados: 𝜏𝑈 = 350 𝑀𝑃𝑎; CS = 3,3; 𝑑𝐶 = ? 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 𝜏𝑈 𝑐𝑠 = 350 3,3 = 106,06 𝑀𝑃𝑎 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 𝑃𝑐 𝐴𝐶 𝐴𝐶 = 𝜋𝑑𝐶 2 4 Como o pino em C está sujeito a corte duplo dividimos a resultante das forças por dois: 𝑃𝑐 = √𝐶𝑥2 + 𝐶𝑦2 2 → √402 + 652 2 → 𝑃𝑐 = 38,16 𝐾𝑁 106,06 × 106 = 38,16 × 103 𝐴𝐶 𝑑𝑐 = √ 38,16 × 103 106,06 × 106 × 4 𝜋 → 𝒅𝒄 = 𝟎, 𝟎𝟐𝟏𝟒 𝒎 → 𝒅 = 𝟐𝟏, 𝟒 𝒎𝒎 P á g i n a | 29 O diâmetro do pino do ponto C é de aproximadamente 22 mm. c) Dados: 𝜎𝑒 = 300 𝑀𝑃𝑎; 𝑡𝑐 = ? O carregamento do ponto C é 𝑃𝑐 = 38,16 𝐾𝑁 e o diâmetro do pino é 𝑑𝑐 = 0,0214 𝑚 𝜎𝑒 = 𝑃𝑐 𝑡 × 𝑑 → 300 × 106 = 38,16 × 103 𝑡 × 0,0214 𝒕 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟓𝟗𝟒 𝒎 → 𝒕 = 𝟓, 𝟗𝟒 𝒎𝒎 A espessura das chapas de apoio é de aproximadamente 6 mm. Resumo Nesta aula, abordamos: Revisão dos conceitos básicos de estática; Introdução aos tipos de esforços que serão vistos nos capítulos ao longo da disciplina, com foco em carregamento axial; Introdução dos métodos usados na análise e projeto de máquinas e estruturas de sustentação; Conceitos de tensões admissíveis e tensões últimas normais e cisalhantes; Conceito de coeficiente de segurança e critérios para sua escolha; Exemplo resolvido. Fonte: HIBBELER (2010, p. 5 e 17) Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise os tópicos abordados nesta aula em bibliografia presente na Biblioteca Digital e material complementar; Resolva exemplos resolvidos 1.6 a 1.11 do HIBBELER (2010) – Biblioteca Digital e outros que julgar necessários da bibliografia básica; Resolva os exercícios da lista de exercícios 1. Referências Bibliográficas Básica: BEER, F. P. Resistência dos Materiais. 3. ed. São Paulo: McGraw Hill, 2006. HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. POPOV, E.P. Introdução à Mecânica dos Sólidos. São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1978. Complementar: ASSAN, A. E. Resistência dos Materiais. São Paulo, UNICAMP, 2010. BOTELHO, M. H. Resistência dos Materiais para entender e gostar. São Paulo: Studio Nobel, 1998. DI BLASI, C.G. Resistência dos Materiais. Ed. Freitas Bastos. 1990. GERE, J. M. Mecânica dos Materiais. Tradução da 7. Edição Norte- Americana, 2011. LACERDA, F. S. Resistência dos Materiais. Ed. Globo, Rio de Janeiro. 1964. MELCONIAN, S. Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais. Ed. Érica, 2002. NASH, W. A. Resistência dos Materiais. São Paulo. McGraw-Hill do Brasil. 2. ed. 2003. AULA 1 Exercícios 1 – Quais os princípios básicos do estudo da Resistência dos Materiais? 2 – Exemplifique tipos de estruturas que podem ser analisadas sobre o princípio da Resistência dos Materiais. 3 – Qual a finalidade do coeficiente de segurança e quais os critérios utilizados para sua escolha? 4 – Qual a diferença entre tensões normais e tensões cisalhantes em relação as moléculas que constituem o sólido? 5 – Em termos de “carregamentos” qual a diferença entre tensões normais, tensões cisalhantes e tensões de esmagamento? Capítulo 1: introdução ao estudo das tensões Aula 2 APRESENTAÇÃO DA AULA Nesta aula iremos resolver exercícios sobre o conteúdo apresentado na aula 1. Os exemplos ilustrados aqui representam apenas algumas das muitas aplicações das equações para tensão média normal e tensão média de cisalhamento média que são utilizadas em projetos e análise de sistemas estruturais de engenharia. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdodesta aula, você seja capaz de: Relembrar os conceitos de estática; Aplicar os conceitos tensão normal média e tensão de cisalhamento média; Aplicar o conceito de coeficiente de segurança para cálculo de tensões admissíveis; Analisar e interpretar estruturas sujeitas a forças axiais ou cisalhantes. P á g i n a | 35 EXEMPLOS RESOLVIDOS: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TENSÕES Em todas as aplicações das equações para tensão normal média e tensão de cisalhamento média será considerado que a distribuição de tensão é uniformemente distribuída na seção transversal. Primeiramente será necessário considerar cuidadosamente a seção na qual a carga crítica terá ação. A partir da seção definida, o elemento deverá ser dimensionado/projetado para que a área da seção transversal seja suficiente para resistir a tensão aplicada sobre ela. É importante não esquecer que a força resultante interna na seção é determinada pelas equações de equilíbrio. É útil fazer um diagrama de corpo livre (DCL) de um segmento ou seção do elemento de interesse. Consideraremos positivo o momento no sentido anti-horário, a força vertical para cima e a força horizontal para direita. Como símbolo para força normal ou carregamento usaremos P ou N. Exemplo 1.: As duas partes da peça AB são coladas em um plano que forma um ângulo com a horizontal. As tensões ultimas para a união colada valem U = 17 MPa e U = 9 MPa. Determine a faixa de valores de para os quais o coeficiente de segurança é pelo menos igual a 3. Solução.: Para resolvermos esse exercício usaremos as equações 1.10, tensões em um plano oblíquo ao eixo. 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑃 𝐴0 e 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 𝑃 𝐴0 sen 𝜃 . cos 𝜃 P á g i n a | 36 Vamos calcular a área da seção perpendicular ao eixo, ou seja, do retângulo colocado no plano: 𝐴0 = 𝑏 × ℎ = 0,05 × 0,03 = 1,5 × 10 −3 𝑚² O problema nos fornece o valor das tensões últimas 𝜎𝑈 e 𝜏𝑈, mas em problemas de engenharia trabalhamos com a tensão admissível 𝜎𝑎𝑑𝑚 e 𝜏𝑎𝑑𝑚, assim temos que encontrar esses valores a partir do coeficiente de segurança: Dados: 𝐶𝑆 = 3; 𝜎𝑈 = 17 𝑀𝑃𝑎; 𝜏𝑈 = 9 𝑀𝑃𝑎 𝐶𝑆 = 𝜎𝑈 𝜎𝑎𝑑𝑚 → 3 = 17 × 106 𝜎𝑎𝑑𝑚 → 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 5,67 𝑀𝑃𝑎 𝐶𝑆 = 𝜏𝑈 𝜏𝑎𝑑𝑚 → 3 = 9 × 106 𝜏𝑎𝑑𝑚 → 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 3 𝑀𝑃𝑎 Determinando a faixa de valores de 𝜃: Dados: 𝑃 = 10 𝐾𝑁; 𝐴0 = 1,5 × 10 −3 𝑚² ; 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 5,67 𝑀𝑃𝑎 Para tensões normais: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑃 𝐴0 cos² 𝜃 → 5,67 × 106 = 10 × 103 1,5 × 10−3 cos² 𝜃 → cos² 𝜃 = 0,85 Para encontrar o valor do ângulo temos que usar uma identidade trigonométrica: cos² 𝜃 = 1 2 (1 + cos 2𝜃) cos2 𝜃 = 0,85 → 1 2 (1 + cos 2𝜃) = 0,85 → 1 + cos 2𝜃 = 1,7 cos 2𝜃 = 0,7 → 2𝜃 = cos−1 0,7 → 2𝜃 = 45,57 → 𝜽 = 𝟐𝟐, 𝟖° Dados: 𝑃 = 10 𝐾𝑁; 𝐴0 = 1,5 × 10 −3 𝑚² ; 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 3 𝑀𝑃𝑎 Para tensões cisalhantes: 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 𝑃 𝐴0 sen 𝜃 . cos 𝜃 → 3 × 106 = 10 × 103 1,5 × 10−3 ein 𝜃 . cos 𝜃 → sen 𝜃 . cos 𝜃 = 0,45 Para encontrar o valor do ângulo temos que usar uma identidade trigonométrica: sin 𝜃 . cos 𝜃 = 1 2 sen 2𝜃 sen 𝜃 . cos 𝜃 = 0,45 → 1 2 sen 2𝜃 = 0,45 → sen 2𝜃 = 0,9 → 2𝜃 = sen−1 0,9 2𝜃 = 64,16 → 𝜽 = 𝟑𝟐, 𝟏° Resposta.: 𝟐𝟐, 𝟖° ≤ 𝜽 ≤ 𝟑𝟐, 𝟏° P á g i n a | 37 Exemplo 2.: Duas barras circulares maciças estão soldadas em B, como mostrado na figura. Determine a tensão normal na seção média de cada trecho. Solução.: Esta barra possui dois trechos: AB e BC. Primeiramente vamos achar a área de cada barra já que foi pedido a tensão normal e foi dado o carregamento: 𝐴𝐴𝐵 = 𝜋𝑑2 4 = 𝜋 × 0,022 4 = 3,14 × 10−4 𝑚2 𝐴𝐵𝐶 = 𝜋𝑑2 4 = 𝜋 × 0,032 4 = 7,07 × 10−4 𝑚2 Agora vamos calcular a tensão em cada barra: Para a barra AB: 𝑃𝐴𝐵 = 30 𝐾𝑁; 𝐴𝐴𝐵 = 3,14 × 10 −4 𝑚2 𝜎𝐴𝐵 = 𝑃𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 = 30 × 103 3,14 × 10−4 → 𝝈𝑨𝑩 = 𝟗𝟓, 𝟓 × 𝟏𝟎 𝟔𝑷𝒂 → 𝝈𝑨𝑩 = 𝟗𝟓, 𝟓 𝑴𝑷𝒂 Para a barra BC: 𝑃𝐵𝐶 = 80 𝐾𝑁 (já que o extremo fixo, ponto C, suporta a carga total aplicada nas barras, 50 + 30 = 80 KN) e 𝐴𝐵𝐶 = 7,07 × 10 −4 𝑚2 𝜎𝐴𝐵 = 𝑃𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 = 80 × 103 7,07 × 10−4 → 𝝈𝑨𝑩 = 𝟏𝟏𝟑, 𝟐 × 𝟏𝟎 𝟔 𝑷𝒂 → 𝝈𝑨𝑩 = 𝟏𝟏𝟑, 𝟐 𝑴𝑷𝒂 Exemplo 3.: (Adaptado de POPOV, 1978) Uma força de 500 KN é aplicada ao nó B do sistema de duas barras articuladas representadas na figura. Determinar a área necessária para a seção transversal da barra BC se as tensões admissíveis valem 100 MPa à tração e 70 MPa à compressão. P á g i n a | 38 Solução.: Esse exemplo ilustra uma treliça engastada entre os pontos A e C. Primeiramente temos que fazer uma seção nas barras AB e BC (barra de interesse) separando da parte fixa e em seguida calcular o ângulo que as barras AB e BC fazem com a horizontal, bem como da força de 500KN com o eixo horizontal. Ângulo da força: 𝛼 = tan−1 ( 4 3 ) = 53,13° Ângulo da barra AB: 𝛾 = tan−1 ( 3,0 3,0 ) = 45° Ângulo da barra BC: 𝛽 = tan−1 ( 1,5 3,0 ) = 26,56° Após devemos calcular os esforços nas barras: ∑𝐹𝑥 = 0: − 𝑁𝐴𝐵 cos 45° + 𝑁𝐵𝐶 cos 26,56° + 500 cos 53,13° = 0 𝑁𝐴𝐵 = 𝑁𝐵𝐶 cos 26,56° + 300 cos 45° → 𝑁𝐴𝐵 = 0,89𝑁𝐵𝐶 + 300 cos 45° ∑𝐹𝑦 = 0: − 𝑁𝐴𝐵 sen 45° − 𝑁𝐵𝐶 sen 26,56° + 500 sen 53,13° = 0 −( 0,89𝑁𝐵𝐶 + 300 cos 45° ) sen 45° − 𝑁𝐵𝐶 sen 26,56° + 500 sen53,13° = 0 𝑜𝑏𝑠: sen45°= cos45° −0,89𝑁𝐵𝐶 − 300 − 0,45𝑁𝐵𝐶 + 400 = 0 → −0,89𝑁𝐵𝐶 − 0,45𝑁𝐵𝐶 = 300 − 400 −1,34𝑁𝐵𝐶 = −100 → 𝑁𝐵𝐶 = −100 −1,34 𝑁𝐵𝐶 = 74,62 × 10 3 → 𝑁𝐵𝐶 = 74,62𝐾𝑁(𝑡𝑟𝑎çã𝑜) P á g i n a | 39 O problema pede a área da barra BC, assim determinando a força aplicada na barra temos: Dados: 𝜎𝑎𝑑𝑚 (𝑡𝑟𝑎çã𝑜) = 100 𝑀𝑃𝑎; 𝜎𝑎𝑑𝑚 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜) = 70 𝑀𝑃𝑎; 𝐴𝐵𝐶 = ? Utilizaremos o valor da tensão admissível para tração (𝜎𝑎𝑑𝑚 (𝑡𝑟𝑎çã𝑜) = 100 𝑀𝑃𝑎) já que o valor força encontrado foi positivo, o que indica que está tracionando, como mostra no diagrama de corpo livre. 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑃𝐵𝐶 𝐴𝐵𝐶 → 𝜎𝑎𝑑𝑚 𝐵𝐶 = 𝑁𝐵𝐶 𝐴𝐵𝐶 → 100 × 106 = 74,62 × 103 𝐴𝐵𝐶 𝑨𝑩𝑪 = 𝟕𝟒𝟔, 𝟐 × 𝟏𝟎 −𝟔 𝒎² → 𝑨𝑩𝑪 = 𝟕𝟒𝟔, 𝟐 𝒎𝒎² Exemplo 4.: Sabe-se que a haste BE tem seção transversal retangular uniforme de 12 x 25 mm. Determine a intensidade P das forças aplicadas, de forma que a tensão normal em BE seja de +90 MPa. Solução.: Dados: 𝐴𝐵𝐸 = 12 × 25 𝑚𝑚 = 0,012 × 0,025 = 3 × 10 −4 𝑚2; 𝜎𝐵𝐸 = 90𝑀𝑃𝑎 (𝑡𝑟𝑎çã𝑜) P = ? Primeiramente vamos calcular as incógnitas devido aos vínculos, as reações de apoio: Para calcular o valor da força na haste BE, 𝑁𝐵𝐸, temos que usar a fórmula de tensão normal. 𝜎𝐵𝐸 = 𝑁𝐵𝐸 𝐴𝐵𝐸 → 90 × 106 = 𝑁𝐵𝐸 3 × 10−4 → 𝑁𝐵𝐸 = 27 × 10 3𝑁 No ponto C temos uma rótula o que nos permite fazer somatório de momentos à direita ou à esquerda da rótula. Neste caso faremos o somatório de momentos à direita do ponto C encontrando o valor da força vertical em D em função de P: ∑𝑀𝐶 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑖𝑡𝑎 = 0 → 𝐷𝑦(0,25) − 𝑃(0,1) = 0 → 𝐷𝑦 = 0,4𝑃 P á g i n a | 40 Agora basta fazermos momento no ponto A considerando todos os esforços na viga e determinando P. ∑𝑀𝐴 = 0 → 27(0,15) − 𝑃(0,35) − 𝑃(0,45) − 𝑃(0,55) + 0,4𝑃(0,7) = 0 𝑷 = 𝟑, 𝟕𝟗 × 𝟏𝟎𝟑𝑵 → 𝟑, 𝟕𝟗 𝑲𝑵 Exemplo 5.: A haste AB será construída em aço, para o qual a tensão última normal é de 450 MPa. Determine a área da seção transversal para AB admitindo um coeficiente de segurança igual a 3,5. A haste está adequadamente reforçada em torno dos pinos A e B. Solução.: Dados: 𝜎𝑈 = 450 𝑀𝑃𝑎; 𝐶𝑆= 3,5; 𝐴𝐴𝐵 = ? Conhecida a tensão última e o coeficiente de segurança calculamos a tensão admissível. Sabemos que 𝐶𝑆 = 𝜎𝑈 𝐶𝑆 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝜎𝑈 𝐶𝑆 → 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 450 × 106 3,5 → 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 128,57 × 10 6 𝑃𝑎 Considerando que a haste AB está tracionando o ponto B, fazemos somatório de momentos no ponto D encontrando o carregamento da barra AB: ∑𝑀𝐷 = 0: − 𝑁𝐴𝐵 sen 35° (0,8) + 20(0,4) + 8(1,2)(0,2) = 0 𝑁𝐴𝐵 = 21,61 × 10 3 𝑁 Agora tendo a tensão normal admissível e o carregamento da barra AB podemos calcular a área da seção transversal dessa haste: Dados: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 128,57 × 10 6 𝑃𝑎, 𝑁𝐴𝐵 = 21,61 × 10 3 𝑁, 𝐴𝐴𝐵 = ? 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 → 128,57 × 106 = 21,61 × 103 𝐴𝐴𝐵 P á g i n a | 41 𝑨𝑨𝑩 = 𝟏𝟔𝟖, 𝟎𝟖 × 𝟏𝟎 −𝟔 𝒎² → 𝑨𝑨𝑩 = 𝟏𝟔𝟖, 𝟎𝟖 𝒎𝒎² Exemplo 6.: Duas barras de alumínio AB e AC têm, respectivamente, diâmetros iguais a 10 mm e 8 mm. Determinar a maior força vertical P que pode ser aplicada ao conjunto como mostrado na figura. A tensão normal admissível para o alumínio vale 150 MPa. (DCL) Solução.: Fazemos o diagrama de corpo livre e calculamos os esforços nas barras, encontrando NAB e NAC em função de P: ∑𝐹𝑦 = 0: 𝑁𝐴𝐵 sin 45° − 𝑃 = 0 → 𝑁𝐴𝐵 = 1,41𝑃 ∑𝐹𝑥 = 0: − 𝑁𝐴𝐶 + 𝑁𝐴𝐵 cos 45° = 0 → −𝑁𝐴𝐶 + (1,41𝑃) cos 45° = 0 → 𝑁𝐴𝐶 = 𝑃 Agora vamos calcular a área de cada barra: Dados: 𝑑𝐴𝐵 = 10 𝑚𝑚; 𝑑𝐴𝐶 = 8 𝑚𝑚; 𝐴𝐴𝐵 =? ; 𝐴𝐴𝐶 =? 𝐴𝐴𝐵 = 𝜋𝑑2 4 = 𝜋(0,01)2 4 → 𝐴𝐴𝐵 = 7,85 × 10 −5 𝑚2 𝐴𝐴𝐶 = 𝜋𝑑2 4 = 𝜋(0,008)2 4 → 𝐴𝐴𝐶 = 5,02 × 10 −5 𝑚2 Em seguida vamos determinar a maior força vertical P, sendo 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 150 𝑀𝑃𝑎 e 𝐴𝐴𝐶 = 5,02 × 10 −5 𝑚2; 𝐴𝐴𝐵 = 7,85 × 10 −5 𝑚2; 𝑁𝐴𝐵 = 1,41𝑃; 𝑁𝐴𝐶 = 𝑃 Barra AC: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐴𝐶 𝐴𝐴𝐶 → 150 × 106 = 𝑃 5,02 × 10−5 → 𝑷 = 𝟕, 𝟓𝟑 𝑲𝑵 Barra AB: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 → 150 × 106 = 1,41𝑃 7,85 × 10−5 → 𝑃 = 8,35 𝐾𝑁 P á g i n a | 42 A carga máxima a ser aplicada pela força P é aquela que pode ser suportada pelas duas barras, logo, 𝑷𝒎á𝒙 = 𝟕, 𝟓𝟑 × 𝟏𝟎 𝟑𝑵 = 𝟕, 𝟓𝟑 𝑲𝑵, pois se aplicarmos uma carga de 8,35KN a barra AC ela não suportará. Exemplo 7.: (HIBBELER, 2010) Dois cabos de aço AB e AC são usados para suportar a força P indicada na figura. Se ambos cabos têm tensão admissível à tração igual a 200 MPa, determinar o diâmetro mínimo necessário para cada um desses cabos quando P = 5 kN. (DCL) Solução.: Primeiramente vamos calcular o ângulo e, em seguida os esforços nas barras: 𝛼 = tan−1 ( 3 4 ) = 36,86° ∑𝐹𝑥 = 0: − 𝑁𝐴𝐵 cos 30° + 𝑁𝐴𝐶 cos 36,86° = 0 → 𝑁𝐴𝐵 = 𝑁𝐴𝐶 cos 36,86° cos 30° 𝑁𝐴𝐵 = 𝑂, 92𝑁𝐴𝐶 ∑𝐹𝑥 = 0: 𝑁𝐴𝐵 sen 30° + 𝑁𝐴𝐶 sen 36,86° − 5 = 0 (𝑂, 92𝑁𝐴𝐶) sen 30° + 𝑁𝐴𝐶 sen 36,86° = 5 → 1,05𝑁𝐴𝐶 = 5 → 𝑁𝐴𝐶 = 4,76 𝐾𝑁 𝑁𝐴𝐵 = 𝑂, 92𝑁𝐴𝐶 → 𝑁𝐴𝐵 = 0,92(4,76) = 4,38 𝐾𝑁 Dados: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = +200 𝑀𝑃𝑎; 𝑁𝐴𝐵 = 4,38 𝐾𝑁; 𝑁𝐴𝐶 = 4,76 𝐾𝑁; 𝑑𝐴𝐵 =? 𝑑𝐴𝐶 =? Barra AB: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐴𝐵 𝐴𝐴𝐵 → 200 × 106 = 4,38 × 103 𝐴𝐴𝐵 → 𝐴𝐴𝐵 = 21,9 𝑚𝑚² 𝐴𝐴𝐵 = 𝜋𝑑𝐴𝐵 2 4 → 21,9 = 𝜋𝑑𝐴𝐵 2 4 → 𝑑𝐴𝐵 = √ 21,9 × 4 𝜋 P á g i n a | 43 𝒅𝑨𝑩 = 𝟓, 𝟐𝟔 × 𝟏𝟎 −𝟔 𝒎 = 𝟓, 𝟐𝟔 𝒎𝒎² Barra AC: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐴𝐶 𝐴𝐴𝐶 → 200 × 106 = 4,76 × 103 𝐴𝐴𝐶 → 𝐴𝐴𝐶 = 23,8 𝑚𝑚² 𝐴𝐴𝐶 = 𝜋𝑑𝐴𝐶 2 4 → 23,8 = 𝜋𝑑𝐴𝐶 2 4 → 𝑑𝐴𝐶 = √ 23,8 × 4 𝜋 𝒅𝑨𝑪 = 𝟓, 𝟓 × 𝟏𝟎 −𝟔 𝒎 = 𝟓, 𝟓 𝒎𝒎² Exemplo 8.: Cada barra da treliça mostrada na figura tem área transversal igual a 1,25 in². Se a tensão normal admissível para as barras vale 20 ksi, quer à tração quer à compressão, determinar a máxima carga P que pode ser aplicada a esta treliça como indicado. (DCL) Solução.: Primeiramente vamos converter a unidades de medida de pés (ft) para polegadas (in): 3 𝑓𝑡 (𝑝𝑒ç𝑎) × 12 = 36 𝑖𝑛 (𝑝𝑜𝑙𝑒𝑔𝑎𝑑𝑎); 4 𝑓𝑡 × 12 = 48 𝑖𝑛 Podemos fazer uma seção passando pelas barras AD, BD e BC e calculamos o ângulo da barra BD com a horizontal. 𝛼 = tan−1 ( 48 36 ) = 53,13° Agora podemos calcular as forças nas barras: ∑𝐹𝑥 = 0: − 𝑁𝐵𝐷 cos 53,13° + 𝑃 = 0 → 𝑁𝐵𝐷 = 1𝑃 cos 53,13° → 𝑁𝐵𝐷 = 1,66𝑃 ∑𝑀𝐷 = 0: − 𝑁𝐵𝐶(36) − 𝑃(48) = 0 → 𝑁𝐵𝐶 = −48𝑃 36 → 𝑁𝐵𝐶 = −1,33𝑃 P á g i n a | 44 Note que as barras AB e BD estão na mesma linha de ação do ponto D, logo são desprezadas. ∑𝐹𝑦 = 0: − 𝑁𝐴𝐷 − 𝑁𝐵𝐶 − 𝑁𝐵𝐷 sen 53,13° = 0 −𝑁𝐴𝐷 − (−1,33𝑃) − (1,66𝑃) sen 53,13° = 0 → 𝑁𝐴𝐷 = 0 (desprezível) Podemos então determinar a máxima carga P que pode ser aplicada a esta treliça: Dados: 𝐴 = 1,25 𝑖𝑛²; 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 20 𝑘𝑠𝑖 = 20.000 𝑙𝑏 𝑖𝑛² ⁄ ; 𝑃𝑚á𝑥 = ? 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐵𝐷 𝐴 → 20.000 = 1,66𝑃 1,25 → 𝑷 = 𝟏𝟓. 𝟎𝟎𝟔 𝒍𝒃 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐵𝐶 𝐴 → 20.000 = 1,33𝑃 1,25 → 𝑃 = 18.797 𝑙𝑏 𝑷 = 𝟏𝟓. 𝟎𝟎𝟔 𝒍𝒃 que é a carga máxima que todas as barras da treliça podem suportar com segurança. Exemplo 9.: (Adaptado de POPOV, 1978) Dimensionar as barras FC e CB da treliça representada na figura de modo a resistir à ação de uma força indicada P de 650 kN. Admitir para a tensão admissível um valor de 140 MPa. (DCL) Solução.: Para determinar as forças nos membros a serem projetados, primeiramente vamos calcular as reações de apoio. O ângulo da força P com a horizontal é: P á g i n a | 45 𝛼 = tan−1 ( 3 4 ) = 36,86° ∑𝐹𝑥 = 0: 𝐷𝑥 − 650 cos 36,86° = 0 → 𝐷𝑥 = 520 𝐾𝑁 ∑𝑀𝐷 = 0: 𝐸𝑦(3) + 650 cos 36,86° (1,5) − 650 sen 36,86° (2,5) = 0 → 𝐸𝑦 = 65 𝐾𝑁 ∑𝐹𝑦 = 0: 𝐷𝑦 + 𝐸𝑦 − 650 sen 36,86° = 0 → 𝐷𝑦 + 65 − 650 sen 36,86° = 0 𝐷𝑦 = 325 𝐾𝑁 O próximo passo é analisar as barras de interesse e utilizar o método das seções, pois pelo método nos nós seria bem mais trabalhoso. Devemos atentar que uma seção passando pelas duas barras a serem dimensionadas, FC e CB, não resolveria o problema. Seção 1: passando pelas barras FC, AC e AB e analisando a esquerda essa seção temos: Como a barra de interesse é a barra FC, basta fazermos somatório de momentos no ponto A e encontrar o carregamento em FC: ∑𝑀𝐵 = 0: − 𝑁𝐹𝐶(0,75) + 𝐷𝑥(0,75) − 𝐷𝑦(1) = 0 −𝑁𝐹𝐶(0,75) + 520(0,75) − 325(1) = 0 → 𝑁𝐹𝐶 = 86,66 𝐾𝑁 Assim, dados: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 140 𝑀𝑃𝑎; 𝑁𝐹𝐶 = 86,66 𝐾𝑁; 𝐴𝐹𝐶 = ? P á g i n a | 46 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐹𝐶 𝐴𝐹𝐶 → 140 × 106 = 86,66 × 103 𝐴𝐴𝐵 → 𝑨𝑨𝑩 = 𝟔𝟏𝟗 × 𝟏𝟎 −𝟔𝒎 𝑨𝑨𝑩 = 𝟔𝟏𝟗 𝒎𝒎² Da mesma forma a seção 2 vai passar nas barras CG, CB e AB e fazemos a análise à direita da seção: Como a barra de interesse é a barra BC, basta fazermos somatório de forças verticais e encontrar o carregamento em CB: 𝛽𝐶𝐵 = tan −1 ( 0,75 0,5 ) = 56,31° ∑𝐹𝑦 = 0: 𝑁𝐶𝐵 sen 56,31° + 𝐸𝑦 − 650 sen 36,86° = 0 𝑁𝐶𝐵 sen 56,31° + 65 − 650 sen 36,86° = 0 → 𝑁𝐶𝐵 = 390,49 𝐾𝑁 Dados: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 140 𝑀𝑃𝑎; 𝑁𝐹𝐶 = 390,49 𝐾𝑁; 𝐴𝐶𝐵 = ? 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐶𝐵 𝐴𝐶𝐵 → 140 × 106 = 390,49 × 103 𝐴𝐶𝐵 → 𝑨𝑪𝑩 = 𝟐𝟕𝟖𝟗 × 𝟏𝟎 −𝟔𝒎𝟐 𝑨𝑨𝑩 = 𝟐𝟕𝟖𝟗 𝒎𝒎² Exemplo 10.: (BEER, 2006) Para a treliça e o carregamento mostrados na figura, determinar a tensão normal na barra AD indicando se é de tração ou de compressão. Sabe-se que a área da seção transversal desta barra é igual a 1200 mm². P á g i n a | 47 Solução.: No ponto F temos um vínculo de segundo gênero e no ponto G um de primeiro gênero. Então vamos calcular as reações de apoio: ∑𝐹𝑥 = 0: 𝐹𝑥 + 75 = 0 → 𝐹𝑥 = −75 𝐾𝑁 ∑𝑀𝐹 = 0:𝐺𝑦(10) − 75(8) − 200(2,5) = 0 → 𝐺𝑦 = 110 𝐾𝑁 ∑𝐹𝑦 = 0: 𝐹𝑦 + 110 − 200 = 0 → 𝐹𝑦 = 90 𝐾𝑁 Fazemos passar uma seção cortando as barras BA, DA e DE. P á g i n a | 48 Analisando a estrutura à direita da seção, para encontrar o valor do carregamento da barra DA, uma das opções é fazer primeiramente o somatório de momentos no ponto A com o objetivo de encontrar a força na barra DE, para depois fazer o somatório de momentos no ponto B encontrar a força na barra DA. Como a força na barra DA é positiva e está tracionando como indicado na seção, a tensão nessa barra será de tração. Outra opção para encontrar o valor do carregamento da barra DA, seria fazer primeiramente o somatório de momentos no ponto D com o objetivo de encontrar a força na barra BA, para depois fazer o somatório de forças verticais para encontrar o esforço na barra DA. Dados: 𝜎𝑎𝑑𝑚𝐴𝐷 =? 𝐴𝐴𝐷 = 1200 𝑚𝑚²; 𝑁𝐷𝐴 = 190,15 𝐾𝑁 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑁𝐴𝐷 𝐴𝐴𝐷 = 190,15 × 103 1200 × 10−6 → 𝝈𝒂𝒅𝒎 = 𝟏𝟓𝟖, 𝟑𝟑 𝑴𝑷𝒂 Resumo Nesta aula, abordamos: Exemplos aplicados na análise de estruturas de sustentação; Aplicações em estruturas do tipo vigas e treliças com cálculo das forças internas pelo método das seções e uso das equações de equilíbrio; Exemplos com aplicações dos conceitos de tensões admissíveis e tensões últimas; Exemplos com aplicações do conceito de coeficiente de segurança e critérios para sua escolha; Exemplos com aplicações dos conceitos de tensões de tração e de compressão. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise os tópicos abordados nesta aula em bibliografia presente na Biblioteca Digital e material complementar; Resolva exemplos resolvidos 1.12 a 1.15 do HIBBELER (2010) – Biblioteca Digital e outros que julgar necessários da bibliografia básica; Refazer os exercícios da lista de exercícios 1. Referências Bibliográficas Básica: BEER, F. P. Resistência dos Materiais. 3. ed. São Paulo: McGraw Hill, 2006. HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. POPOV, E.P. Introdução à Mecânica dos Sólidos. São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1978. Complementar: ASSAN, A. E. Resistência dos Materiais. São Paulo, UNICAMP, 2010. BOTELHO, M. H. Resistência dos Materiais para entender e gostar. São Paulo: Studio Nobel, 1998. DI BLASI, C.G. Resistência dos Materiais. Ed. Freitas Bastos. 1990. GERE, J. M. Mecânica dos Materiais. Tradução da 7. Edição Norte- Americana, 2011. LACERDA, F. S. Resistência dos Materiais. Ed. Globo, Rio de Janeiro. 1964. MELCONIAN, S. Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais. Ed. Érica, 2002. NASH, W. A. Resistência dos Materiais. São Paulo. McGraw-Hill do Brasil. 2. ed. 2003. AULA 2 Exercícios 1 – (Adaptado de POPOV, 1978) Determinar a tensão no mastro do guincho representado na figura. Todos os elementos estruturais situam-se no mesmo plano vertical e estão ligados por articulações. O mastro é constituído por um tubo de aço com área da seção transversal de 6000 mm2. Desprezar o peso próprio dos elementos estruturais. Resposta.: 2,5 MPa. 2 – (HIBBELER, 2010) O arganéu da âncora suporta uma força de cabo de 3 KN. Se o pino tiver diâmetro de 6 mm, qual será a tensão média de cisalhamento no pino? P á g i n a | 53 Resposta: 53,05 MPa. 3 – (HIBBELER, 2010) Cada uma das barras da treliça tem área de seção transversal de 780 mm². Se a tensão normal média máxima em qualquer barra não pode ultrapassar 140 MPa, determine o valor máximo P das cargas que podem ser aplicadas a treliça. Resposta: 29,78 KN. 4 – (HIBBELER, 2010) Os dois elementos de aço estão interligados por uma solda de topo de angulada de 60°. Determine a tensão de cisalhamento médio e a tensão normal média suportada no plano da solda. Resposta: 4,62 MPa e 8 MPa. 5 – (HIBBELER, 2010) Se a tensão de apoio admissível para o material sob os apoios em A e B for de 2,8 MPa, determine o tamanho das chapas de apoio quadradas A’ e B’ exigidos para suportar a carga. A dimensão da chapa deve ter aproximação de múltiplos de 10 mm. As reações nos apoios são verticais. Considere P = 7,5 KN. P á g i n a | 54 Resposta: 90 mm e 110 mm 6 – (Adaptado de POPOV, 1978) Uma torre utilizada em uma linha de alta tensão é representada na figura. Sabendo-se que a mesma está submetida a uma força horizontal de 540 kN e que as tensões admissíveis valem 100 MPa à compressão e 140 MPa à tração, respectivamente, qual a área necessária para a seção transversal das barras AB e AD? Todas as barras são articuladas. Resposta: 3660 mm² e 5284 mm² Capítulo 2: tensão e deformação – carregamento axial Aula 3 APRESENTAÇÃO DA AULA O capítulo 2, apresentado nas aulas 3 e 4, está voltado para a introdução do conceito de deformação específica, referente à relação tensão deformação, em vários tipos de materiais, e para a determinação de deformações de componentes estruturais sob carregamento axial. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Aplicar o conceito de deformação em uma viga, barra ou placa, submetida a carregamento axial; Relacionar tensão e deformação; Conhecer os métodos experimentais de ensaios de tração e compressão em corpo de provas; Diferenciar materiais frágeis de materiais dúcteis por meio dos ensaios de tração em corpos de prova, conhecendo algumas propriedades mecânicas dos materiais; Interpretar um diagrama tensão-deformação; Aplicar a Lei de Hooke; Calcular deformações em estruturas de sustentação carregadas axialmente; Determinar o coeficiente de Poisson, que relaciona deformação específica axial e transversal; Aplicar o conceito de tensões térmicas. P á g i n a | 56 2 TENSÃO E DEFORMAÇÃO – CARREGAMENTO AXIAL 2.1 Introdução Toda a vez que um corpo tende a mudar de forma e de tamanho pela aplicação de uma força ou carregamento, dizemos que o corpo sofre uma deformação. É importante que as deformações sejam controladas para evitarmos que as deformações excedam os valores admissíveis e que a estrutura venha a falhar no fim ao qual estava destinada. Por meio da análise de deformações podemos também determinar as tensões. 2.2 Deformação específica normal sob carregamento axial Considere a barra BC de comprimento L e seção transversal uniforme de área A. Quando a barra é submetida a uma carga axial P, ocorre uma deformação (delta), ou seja, a barra se alonga (Figura 2.1). Assi, teremos uma diagrama carga- deformação (Figura 2.2). A deformação específica normal da barra á a deformação por unidade de comprimento L: A P e L (2.1) Figura 2.1 Figura 2.2 Fonte: BEER (2010) Quando a barra for de seção variável, a tensão normal varia ao longo da barra e é necessário definirmos a deformação específica normal , em um dado ponto Q, considerando-se um pequeno elemento da barra em torno do ponto Q, e expressando- P á g i n a | 57 se o comprimento do elemento por x (Figura 2.3) e por sua deformação devido ao carregamento, da seguinte forma: lim dx d x (2.2) Figura 2.3 Fonte: BEER (2010) 2.3 Diagrama tensão-deformação Muitas propriedades de um material podem ser determinadas a partir de um ensaio de tração ou compressão, a partir de uma amostra do material (corpo deprova), como ilustrado na Figura 2.4. O resultado desse ensaio pode ser representado num diagrama tensão-deformação. O diagrama tensão-deformação é executado num corpo-de-prova padronizado, tendo como dimensões originais, a seção transversal A0 e o comprimento L0. A máquina de teste (Figura 2.5) é utilizada para aplicar a carga. P á g i n a | 58 Figura 2.4 Figura 2.5 Fonte: <http://www.gdace.uem.br/>. Existem vários tipos de extensômetros para diferentes aplicações de teste, assim como diferentes sistemas de fixação. Os mais comuns são os extensômetros mecânicos, que permitem a medição pelo simples afastamento entre suas pontas ou facas. Em algumas aplicações são usados extensômetros eletrônicos, que funcionam por variação da tensão elétrica, provocada pela deformação do corpo de prova. Mais recentemente surgiram os extensômetros a laser, cuja principal vantagem é a não existência de contato físico com o corpo de prova, eliminando algumas possíveis fontes de erro em relação aos extensômetros convencionais. A tensão considerada no diagrama é a força aplicada P na seção transversal original A0. Da mesma forma, a deformação é obtida diretamente da leitura do extensômetro, ou pela divisão da variação de comprimento ΔL pelo comprimento original L0: 0A P e 0L L Este tipo de extensômetro (Figura 2.6) é denominado de extensômetro axial, capaz de medir a deformação ao longo do eixo longitudinal do corpo de prova. P á g i n a | 59 Figura 2.6: Ensaio de compressão e ensaio de tração com uso de extensômetro. Fonte: <http://www.gdace.uem.br/>. O diagrama tensão-deformação é o gráfico dos correspondentes valores de σ e ε, onde o eixo das ordenadas representa as tensões σ e o eixo das abscissas representa as deformações ε. É importante ressaltar que dois diagramas de dois corpos de prova de um mesmo material não são exatamente idênticos, pois os resultados dependem de várias variáveis como, composição do material, imperfeições microscópicas, fabricação, velocidade de aplicação da carga e temperatura do ensaio. A Figura 2.7 apresenta um diagrama tensão-deformação de um aço usualmente utilizado na engenharia, no qual se pode distinguir diferentes regiões, onde: U = tensão última do material R = tensão de ruptura Y = tensão de escoamento P = limite de proporcionalidade Assista agora ao vídeo que mostra um ensaio de tração em corpo de prova de alumínio. <https://www.youtube.com/watch?v=4bokS5qZN1w>. https://www.youtube.com/watch?v=4bokS5qZN1w P á g i n a | 60 Figura 2.7: Diagrama tensão-deformação em um ensaio de tração de material dúctil. Um corpo-de-prova feito de material frágil (ferro fundido, vidro, pedra) rompe- se sem qualquer aviso prévio de variação da taxa de alongamento (Figura 2.8), enquanto que um corpo-de-prova feito de material dúctil (aço estrutural) escoa depois de uma tensão crítica de escoamento (e ou Y ) ser alcançada (Figura 2.9), ou seja, sofre uma grande deformação antes da ruptura. Assim para materiais frágeis não existe diferença entre tensão última e tensão de ruptura. Além disso, a deformação até a ruptura nos materiais frágeis é muito menor que nos materiais dúcteis (BEER, 2006). P á g i n a | 61 Figura 2.8: Diagrama tensão-deformação para materiais frágeis. Onde: U = tensão última do material R = tensão de ruptura Figura 2.9: Diagrama tensão-deformação para materiais dúcteis. (a) (b) FESTA, Giovanni. Resistência dos Materiais Relação entre Tensões e Deformações (2014) Uma medida usual da dutibilidade de um material é seu alongamento percentual definido como: 𝐴𝑙𝑜𝑛𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 = 100 𝐿𝑅 − 𝐿0 𝐿0 (2.3) onde: L0: comprimento inicial do corpo de prova LR: comprimento final do corpo de prova no instante da ruptura P á g i n a | 62 Da mesma forma, outra medida da dutibilidade é a redução percentual da área, dada por: 𝑅𝑒𝑑𝑢çã𝑜 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑎 á𝑟𝑒𝑎 = 100 𝐴0 − 𝐴𝑅 𝐴0 (2.4) onde: A0: área da seção transversal do corpo de prova AR: área mínima de ruptura do corpo de prova. Para o aço estrutural, uma redução de área de 60 a 70% é comum (BEER, 2006). 2.4 Comportamento elástico e plástico dos materiais Consideremos o Diagrama tensão-deformação convencional e real para um material dúctil (aço), apresentado sem escala (Figura 2.10). Figura 2.10 Fonte: HIBBELER (2010) Comportamento elástico: Quando o corpo-de-prova retorna à sua forma original quando a carga aplicada é removida. O material é considerado linearmente P á g i n a | 63 elástico até o limite superior da tensão, chamado de limite de proporcionalidade, σP (Figura 2.10). Escoamento: Um leve aumento na tensão, acima do limite elástico, resultará numa acomodação do material causando uma deformação permanente. A tensão que causa o escoamento é chamada de tensão de escoamento, σY ou σe. Neste caso, mesmo se a carga for removida, o corpo-de-prova continuará deformado. O corpo-de-prova poderá continuar a se alongar mesmo sem qualquer aumento de carga. Nesta região, o material é denominado perfeitamente plástico. Deformação específica por endurecimento ou Deformação plástica ou permanente: Se ao término do escoamento, uma carga adicional for aplicada ao corpo-de-prova, a tensão continuará a aumentar com a deformação específica continuamente até atingir um valor de tensão máxima (ou limite de resistência), referida por tensão última, σU. Durante a execução do ensaio nesta região, enquanto o corpo-de-prova é alongado, sua área da seção transversal diminui ao longo de seu comprimento nominal, até o ponto que a deformação corresponda a tensão última. Estricção: Ao atingir a tensão última, a área da seção transversal começa a diminuir em uma região localizada do corpo-de-prova, e não mais ao longo do seu comprimento nominal. Este fenômeno é causado pelo deslizamento de planos no interior do material e as deformações reais produzidas pela tensão cisalhante. Uma vez que a área da seção transversal diminui constantemente, esta área só pode sustentar uma carga menor. Assim, o diagrama tensão-deformação tende a curvar-se para baixo até a ruptura do corpo-de-prova com uma tensão de ruptura, σR (Figura 2.11). P á g i n a | 64 Figura 2.11 FESTA, Giovanni. Resistência dos Materiais Relação entre Tensões e Deformações (2014) Segundo Beer (2006), se o material atingir o escoamento e se deformar, quando a carga é retirada as tensões e deformações decrescem de maneira linear, ao longo de uma linha reta CD paralela à reta AB da curva de carregamento (Figura 2.12). A deformação não volta a zero, e isso indica que o material sofreu deformação permanente ou plástica. Para a maioria dos materiais, a deformação plástica atingida não depende apenas da máxima tensão a que o material ficou submetido (deformação lenta), mas depende do tempo de retirada do carregamento e da temperatura (fluência). Figura 2.12 Fonte: Adaptado de BEER (2006) P á g i n a | 65 A área sob a curva tensão-deformação representa a energia de deformação absorvida pelo material. Quando a tensão atinge o limite de proporcionalidade, σP, a energia de deformação é denominada módulo de resiliência. Quando a tensão atingir a tensão de ruptura, σR, a energia de deformação é denominada de tenacidade e representa a área inteira sob o diagrama tensão-deformação (Figura 2.13). Em termos físicos, a resiliência de um material representa a sua capacidade de absorver energia sem sofrer qualquer dano permanente. A tenacidade indica a densidade de energia de deformação do material um pouco antesda sua ruptura. Os materiais com alta tenacidade sofrerão alta distorção devido as cargas acidentais, mas são os mais utilizados em projetos estruturais, pois materiais com baixa tenacidade podem romper subitamente sem dar sinais de um rompimento iminente. Figura 2.13: Módulo de resiliência e módulo de tenacidade. Fonte: BEER (2006) A Fadiga deve ser considerada no projeto de estruturas ou componentes de máquinas que possam estar sujeitos a carregamentos repetidos ou alternados. A fadiga causa falha em componentes estruturais ou de máquinas, após um grande número de carregamentos repetidos (da ordem de milhares ou milhões de vezes), apesar da tensão permanecer na faixa elástica. A ruptura por fadiga é sempre uma ruptura frágil, mesmo para materiais dúcteis. O número de ciclos de carregamentos repetidos ou alternados pode ser determinado de forma experimental para qualquer nível de tensão máxima, obtendo- se uma curva -n, onde é a tensão máxima e n é um determinado número de ciclos. A Figura 2.14 mostra uma curva típica -n para o aço e podemos notar que a medida P á g i n a | 66 que a intensidade das tensões vai baixando, o número de ciclos de carregamento necessário para causar a ruptura aumenta, até atingir um valor das tensões conhecido como limite de duração, para o qual a ruptura não ocorre, mesmo para um número muito grande de ciclos. Figura 2.14: Diagrama Tensão x Número de ciclos – Fadiga. 2.5 Lei de Hooke, módulo de elasticidade Como vimos nos itens anteriores, as estruturas correntes na engenharia são projetadas de modo a sofrerem apenas pequenas deformações, que não ultrapassem os valores do diagrama tensão deformação correspondentes ao trecho reto do diagrama (região elástica). Por consequência, um aumento na tensão provoca um aumento proporcional na deformação. Essa relação é conhecida como Lei de Hooke: “Para pequenas deformações a tensão é diretamente proporcional a deformação”. E pode ser expressa matematicamente como: 𝜎 = 𝐸. 𝜀 (2.5) Nesta equação, E é o módulo de elasticidade longitudinal do material ou módulo de Young. O módulo de elasticidade E é expresso em Pascal ou Psi. Ao maior valor da tensão para o qual a Lei de Hooke é válida se denomina limite de proporcionalidade do material. A equação 2.5 representa a porção inicial em P á g i n a | 67 linha reta do diagrama tensão-deformação até o limite de proporcionalidade. O módulo de elasticidade E representa a inclinação dessa reta (HIBBELER, 2010). Quando o material é dúctil e possui seu início de escoamento em um ponto bem definido do diagrama (Figura 2.9-a), o limite de proporcionalidade coincide com o ponto de escoamento. A Figura 2.15 apresenta o diagrama para ferro puro e aços com diferentes teores de carbono. O limite de proporcionalidade para um tipo particular de aço depende da composição da sua liga. O módulo de elasticidade E, é uma propriedade mecânica que indica a rigidez de um material. Valores comuns de E para outros materiais de engenharia são encontrados em normas de engenharia e materiais de referência. Figura 2.15: Diagrama para ferro puro e aços com diferentes teores de carbono. Fonte: BEER (2006) 2.6 Deformação de barras sujeitas a cargas axiais Consideremos a barra da Figura 2.1. Se a tensão atuante A P não exceder o limite de proporcionalidade do material, podemos aplicar a Lei de Hooke e escrever .E , logo: EA P E . (2.6) Sendo L ou L. (2.7) P á g i n a | 68 E substituindo 2.6 em 2.7, chegamos na equação para cálculo da deformação : AE LP . . (2.8) A equação 2.8 é válida apenas para barras homogêneas, ou seja, de mesmo material (E constante), com área da seção transversal uniforme e constante A, e a carga for aplicada a extremidade da barra. Se a barra é carregada em vários pontos ou consiste em várias seções transversais diferentes e/ou vários materiais, temos: n i ii ii AE LP . . (2.9) Podemos obter a deformação total da barra, , por integração estendida ao comprimento L: L AE Pdx 0 . (2.10) A equação 2.10 deve ser usada no lugar da equação 2.8, quando a área da seção transversal varia como função x e também quando a força interna P depende de x, como o caso de barras sujeitas ao próprio peso. 2.7 Problemas estaticamente indeterminados Problemas em que as forças internas não podem ser calculadas apenas com os recursos da estática, usando os diagramas de corpo livre e as equações de equilíbrio, são ditos estaticamente indeterminados. Para calcular as forças externas (reações) precisamos, além das equações de equilíbrio, complementar com equações da deformação, que podem envolver condições geométricas do problema. O exemplo 9 da aula 4 ilustra um caso de eixos estaticamente indeterminados. P á g i n a | 69 2.8 Coeficiente de Poisson Considere a Figura 2.16. Quando uma força P é aplicada a barra em balanço, homogênea, esta causa uma deformação específica ao longo do eixo longitudinal da viga e em todas as direções transversais, ou seja, ela se alonga e se contrai lateralmente. Da mesma forma, uma força de compressão que age que age sobre um corpo provoca contração na direção da força e, no entanto, seus lados se expandem lateralmente. Essa deformação específica é a deformação específica transversal, e a relação entre ela e a deformação longitudinal é chamada de coeficiente de Poisson (nu). Seu valor é adimensional e único para um determinado material homogêneo e isotrópico, isto é, materiais com as mesmas propriedades em todas as direções. O valor do coeficiente de Poisson, varia entre 0,25 e 0,35. Em casos extremos ocorrem valores baixos como 0,1 (alguns concretos) e elevados como 0,5 (borracha). Figura 2.16 Em termos matemáticos, temos: 𝜈 = | 𝑑𝑒𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑎 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑒𝑟𝑠𝑎𝑙 𝑒𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑎 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑖𝑡𝑢𝑑𝑖𝑛𝑠𝑎𝑙 | (2.11) Sendo a deformação específica na barra E x x , ;0 zy 0 zy a condição de deformação específica na direção x é: E x x e E x zy (2.12) P á g i n a | 70 2.9 Tensões térmicas Além das tensões, mudanças na temperatura também podem provocar deformação dos materiais, ou seja, alterações em suas dimensões. Em geral, se a temperatura aumenta o material expande e se a temperatura diminui o material contrai. Para materiais isotrópicos e homogêneos, uma mudança na temperatura de T graus causa uma deformação linear uniforme em cada direção. Estudos experimentais demonstram que a deformação de um elemento de comprimento L pode ser calculado pela equação 2.13: TLT (2.13) onde: = coeficiente linear de dilatação térmica. Os valores típicos são tabelados. T = variação na temperatura do elemento; L = comprimento inicial do elemento; T = variação no comprimento do elemento devido a temperatura. A mudança no comprimento de um elemento estaticamente determinado pode ser calculada diretamente pela equação 2.13, visto que o elemento está livre para se expandir ou contrair, quando sofrer mudança na temperatura. Mas quando o elemento é estaticamente indeterminado, esses deslocamentos térmicos podem ser restringidos pelos apoios, o que produz tensões térmicas que devem ser consideradas no projeto (Figura 2.17). P á g i n a | 71 Figura 2.17 Chegamos ao final da teoria do capítulo 2!
Compartilhar