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ENERGIA PSÍQUICA A DINÂMICA DA CAMILA SOUZA Como tudo começou...1 O conceito...3 Mas como isso acontece na prática?...5 A dinâmica...7 Regressão e progressão...9 Mas como a energia se transforma?...11 Índice Como tudo começou As primeiras ideias mais nítidas de Jung acerca do tema da energia psíquica aparecem expressas no livro 5 das Obras Completas: Símbolos da Transformação. Sua versão original é de 1911/12, mas o material encontrado na versão atual conta com alterações que foram acontecendo no decorrer das edições. Foi um conceito importante e sua conceituação é um dos marcos do rompimento que aconteceu entre Freud e Jung. De maneira geral, a libido é entendida por Freud como de característica sexual, embora possa às vezes se revestir ou se associar a outras funções. É importante observar o contexto em que Freud estava inserido e seu contato com pacientes cuja problemática sexual estava muito presente de maneira direta ou indireta. Quando Jung conheceu Freud, já veio com uma carga de experiência com pacientes com psicose e 1 percebia em sua prática clínica que a sexualidade não era a questão central ou a única presente em muitos dos casos que acompanhou. Já em seu texto “Psicologia da Demência Precoce” que pode ser encontrado no livro 3 das Obras Completas (Psicogênese das Doenças Mentais), Jung usa a expressão “energia psíquica” como maneira de explicar de forma mais ampla a regressão da libido em casos de esquizofrenia. A psicose poderia ser compreendida não só como a falta de afluxos sexuais (como propunha Freud), mas uma falta de instintos diversos. Nos livros Psicologia do Inconsciente (7/1) e O eu e o inconsciente (7/2) também é possível encontrar Jung falando sobre o tema, mas é nitidamente no livro “A energia psíquica” (8/1) que o tema é abordado mais amplamente. Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1928, quando sua teoria da libido realmente tomou mais forma, nessa época Jung tinha um pouco mais de 50 anos. 2 O conceito A energia psíquica, ou libido, pode ser compreendida como a somatória dos mais diversos instintos que nos são próprios, nossas necessidades biológicas e estados emocionais. Tem um caráter que ao mesmo tempo é psicológico e fisiológico. Como Jung define, a energia psíquica pode ser entendida como: “(...) um valor energético que pode transmitir-se a qualquer área, ao poder, à fome, ao ódio, à sexualidade, à religião etc. (...)” (Símbolos da Transformação, p.167) Jung propunha que a psique não poderia ser compreendida apenas de maneira causal, mas também em seu caráter finalista. O movimento da energia psíquica traz uma intencionalidade, um “para que”. Em um caso real é importante nos questionarmos não só sobre a causa do conflito que o paciente vive, mas também em que direção esse conflito lhe dirige, qual sua intenção? Jung supunha a psique como um sistema energético relativamente fechado, o que leva a suposição de que a 3 energia seria sempre a mesma. Estando disponível de um lado, estaria indisponível de outro. Outra condição própria da psique seria a busca por um estado de homeostase (equilíbrio), o que leva o movimento da energia psíquica a uma função compensatória. Ou seja, se o sujeito dá demasiado valor a certo conteúdo consciente, o movimento natural da psique será o de compensar esse exagero direcionando a energia psíquica ao seu oposto. 4 Mas como isso acontece na prática? Um importante conceito que precisamos compreender na psicologia junguiana é o “complexo”. Jung define os complexos como agrupamentos de conteúdos psíquicos e afetos de natureza semelhante. Por exemplo, o complexo materno será formado por todas as experiências e predisposições instintivas relacionadas a vivência da maternidade e experiência de cuidado. O que é importante compreender aqui é que esses núcleos são mais ou menos carregados de energia psíquica e a transformação desses complexos e movimentação da energia é a base do nosso funcionamento mental. Quanto mais inconsciente e mais energizado estiver um complexo, mas perturbador ele tende a ser, causando 5 sofrimento. No processo de análise, a exploração das fantasias inconscientes pode permitir a conscientização, ainda que parcial, do complexo e suas exigências. É através desse confronto muitas vezes doloroso com as demandas intempestivas do inconsciente que temos a possibilidade de transformação. 6 A dinâmica Para compreendermos como se dá a dinâmica da energia psíquica, alguns conceitos precisam ficar bem entendidos. São conceitos que Jung empresta da física para tentar descrever os fatores que influenciam o movimento da psique. Princípio de equivalência Segundo esse princípio, sempre que a energia é gasta em uma determinada situação, uma mesma quantidade de energia surge em outro lugar ainda que em outra forma. Ou seja, a energia não se perde. Princípio da entropia O princípio de entropia favorece um movimento em direção da equalização das diferenças energéticas. Ou seja, em um sistema praticamente fechado como a psique, a energia tende a se mover do polo mais energizado para o menos energizado. Por essa razão dizemos que a psique sempre busca um estado de equilíbrio. Fator de extensividade. Jung busca esse conceito na física para falar sobre a transformação da energia. 7 Em termos práticos, diz respeito a transformação da energia (no nosso caso aqui, psíquica) de uma natureza para outra. Por exemplo, a transformação de uma energia presente em conflitos inconscientes, em uma energia disponível para a consciência. O que é importante sabermos aqui é que a energia, mesmo depois de transformada carregaria características de sua antiga função para a nova. 8 Regressão e progressão Diante do medo ou da falta de uma adaptação adequada, podemos sentir a frustração como um estado que tende a provocar o represamento da libido. A energia psíquica uma vez represada, toma o movimento contrário, regride. Em regressão, pode expressar-se de maneira mais primitiva. O desafio do estado de regressão da libido é a de que essa força se transforme e assim se torne mais adequada para a adaptação do sujeito tanto às demandas externas como internas. Muitas vezes a energia que falta na consciência se encontra aprisionada em conflitos inconscientes e a única maneira de retomá-la é permitindo que as fantasias inconscientes se expressem e possam ser acolhidas conscientemente. Somente compreendendo e atendendo ainda que parcialmente as demandas do inconsciente é que a vida pode voltar a florir. Um erro muito comum é o de se confundir a 9 extroversão e a introversão com os estados de progressão e regressão da libido. Jung deixa bem claro que eles não são necessariamente correspondentes. Tudo vai depender da atitude consciente. Ou seja, uma pessoa naturalmente introvertida vive sua regressão da libido na expressão da atitude mais inconsciente, que no caso dela é a extroversão. O que acontece na regressão é que a atitude consciente é compensada pela atitude inconsciente. Quando nos encontramos sem saída, o recurso necessário para enfrentar o problema pode estar inconsciente e por isso também pouco adequado e lapidado. O esforço necessário na regressão é semelhante ao de ir buscar em um deposito abandonado peças antigas que descartamos por acharmos que não eram úteis ou que nos atrapalhavam. Ali podem estar uma sensibilidade adormecida, uma criatividade reprimida, desejos incompatíveis 10 com a vida que foi construída, sonhos despedaçados, um coração partido, etc. Tantas coisas, e agora vamos andando nos corredores desse depósito na busca de algum recurso que precisa ser resgatado seja para resolver algum problema, seja para voltar a ver algum propósitona vida. O primeiro desafio é esse, o de reconhecer os aspectos de nós que precisam ser resgatados na regressão. Mas depois também vem uma atividade nada fácil, levar esses itens pesados, às vezes sujos e atrapalhados para o salão principal. Ou seja, o desafio é o de conseguir transformar o que antes era inconsciente, em consciente. E mais que isso, adaptá-lo a vida. Encontrar para ele espaço e função. 2 Mas como a energia se transforma? A energia psíquica, como proposto por Jung, ao se transformar carrega características de sua natureza anterior. Em um caso real podemos pensar na energia que anima um complexo inconsciente que ao ser tornar consciente continua com certas características de sua origem. Mas como essa energia poderia se transformar e assim se tornar consciente? É através dos símbolos. O símbolo é a maneira como o inconsciente consegue se apresentar para a consciência. E como é de se imaginar, ele carrega certas características que são próprias do inconsciente, como a linguagem mito- poética. Ou seja, não é tão útil tentarmos interpretar um símbolo muito racionalmente como quem desvenda um código. É mais proveitoso agir com ele como quem lê uma poesia ou aprecia uma obra de arte. 11 Encarar o símbolo de maneira muito literal e racional faz com que percamos a possibilidade de contato justamente com o que pode ser mais útil para a consciência: o seu aspecto misterioso e dinâmico. E é através da apreensão ainda que parcial dos símbolos que a energia se transforma e pode trazer consigo importantes insights para a mudança da atitude consciente. 12 P S I C Ó L O G A C L Í N I C A E S P E C I A L I S T A E M P S I C O L O G I A J U N G U I A N A C R P . 0 6 / 1 1 2 0 9 1 Camila Souza
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