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Psicologia do Trabalho Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Gisele L. Fernandes Revisão Textual: Profa. Ms. Sandra Regina F. Moreira Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional • Relação Homem-Trabalho • Psicodinâmica do Trabalho • Estresse · Objetiva-se que o estudante, ao concluir a unidade de estudo, seja capaz de reconhecer fatores intrínsecos e extrínsecos ao trabalho e como esses interferem na relação do homem com o trabalho. · Pretende-se ainda que o estudante possa definir estresse e identificar as fontes potenciais relacionadas aos fatores ambientais, individuais e organizacionais de estresse e suas consequências físicas, psicológi- cas e comportamentais. OBJETIVO DE APRENDIZADO Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional Relação Homem-Trabalho O trabalho pode ser visto como um mero ganha-pão, ou como a parte mais significativa da vida interior, pode ser encarado como uma expiação ou como uma expressão exuberante de si mesmo (MILLS, 1976, p. 233). A preocupação com a relação homem-trabalho não é recente. Presente desde os primórdios dos tempos, tal preocupação se intensifica com o advento da industriali- zação, produtividade, melhor posicionamento da empresa no mercado competitivo, além da qualidade de vida no trabalho que são questões que permeiam essa relação do homem com o trabalho. Dejours, médico francês, com formação em psicossomática e psicanálise, pesqui- sador da Psicodinâmica do Trabalho, alerta para o que chama de “paradoxo psíquico do trabalho”, afirmando que para uns, o trabalho pode ser fonte de prazer, enquanto para outros, o trabalho é visto como causa de fadiga e sofrimento (DEJOURS, AB- DOUCHELI e JAYET, 1994, p. 22). Em um texto já bastante antigo, Mills ao analisar o significado do Trabalho, revela que ao longo da história da humanidade, o termo “trabalho” já esteve mais relacio- nado à pena, ao sofrimento, do que ao prazer. Para os gregos antigos, o trabalho deveria ser realizado apenas pelos escravos, já que embrutecia a alma e o espírito. Para os hebreus o trabalho era fruto da condenação de Deus pelos pecados. Os primeiros cristãos acreditavam que o trabalho era sim uma punição ao pecado, mas servia ao propósito de “afastar os pensamentos maus provocados pelo ócio”. Só com Lutero, o trabalho adquire certa importância, considerado “a base e a chave da vida” ao ser associado aos dons apresentados pelo apostolo Paulo, nas Escrituras Sagradas (MILLS, 1976, p. 234). A partir da análise da relação Homem-Trabalho, Mills formula a hipótese de que, na atualidade, embora estejamos nos referindo a um texto da década de 1970, a afirmação ainda se faz atual, a satisfação que o ato de trabalhar pode proporcionar ao trabalhador está mais relacionada aos fatores extrínsecos a ele, do que aos fatores intrínsecos. Para Mills, “nas condições modernas” do trabalho atual o homem não tem mais a liberdade de organizar seu próprio trabalho, de decidir como fazê-lo. Não há mais autonomia, não tem mais domínio sobre o produto de seus esforços. Embora o trabalhador da atualidade se sinta mais valorizado, mais bem preparado e com mais ferramentas que os antigos artesões dos séculos passados, Mills coloca que o modelo artesanal do passado permitia ao trabalhador pelo menos seis motivos de satisfação. O primeiro deles é fazer um bom trabalho, um bom produto, algo sobre o qual ele sinta orgulho. O segundo, à um vínculo entre o artesão e seu produto, a ponto que o artesão consegue visualizar seu produto acabado, ainda que não tenha nem mesmo começado a fazê-lo. Terceiro, o artesão é livre para realizar seu trabalho de acordo 8 9 com seus planos e pode modificá-los, se necessário. Para o artesão, seu trabalho é uma forma de aprimorar suas habilidades e essa é a quarta fonte de satisfação, pois não há separação entre trabalho e lazer, a quinta e última fonte, para o artesão seu trabalho é a base de sua vida. Ou seja, a relação do artesão com seu trabalho é muito distante da realidade da maioria dos trabalhadores atuais, que, segundo o autor desconhecem o impacto e o resultado de seu trabalho, não conseguem vê-lo no todo. E, por isso, não veem diferença e/ou valor no que fazem. Por tal motivo, nas condições atuais outras fontes de satisfação têm tomado o lugar do trabalho. A renda e as motivações econômicas é uma delas. O salário rece- bido pelo trabalho realizado pode ser considerado, segundo o autor, um dos motivos para se exercer atividades laborais. Além deste, Mills aponta também status e o po- der como prazeres oriundos do ato de trabalhar. Para Mills o simples fato de ter um emprego, mesmo que não se goste do trabalho executado, pode permitir ao homem algum tipo de prazer. Em nossa sociedade, o estar empregado é motivo de status. Um exemplo da importância do emprego em nossa sociedade pode ser o da presença, quase que constante, dele quando somos apresentados a alguém: “ah! Este é fulano, ele trabalha em tal empresa”. Reparem também que muitas vezes o nome da empresa em que trabalhamos muitas vezes ocu- pa o lugar do nosso sobrenome: - Olá, eu sou o fulano, da empresa tal. As pessoas de modo geral, valorizam o estar empregado, o ter uma ocupação. Em contrapartida, o desempregado pode se sentir inferiorizado perante o grupo da qual pertence. Por isso, algumas vezes as pessoas mantêm empregos dos quais não gostam, porque sem estes, se sentiriam inferiorizadas. “Nesse meio-tempo, qualquer satisfação que os homens obtenham com o seu trabalho ocorre no interior desse quadro de alienação; toda a satisfação que a vida lhes proporciona ocorre fora dos limites do trabalho; trabalho e vida estão profundamente separados”. (MILLS, 1976, p. 253) Ainda sobre os prazeres extrínsecos ao trabalho, Mills chama a atenção também para o fato de que algumas pessoas acreditam que o trabalho esteja completamente separado do entretenimento. Como se, nas palavras de Mills a “cada dia os homens vendessem pequenas parcelas de si mesmos para tentar comprá-las de novo a cada noite e fim de semanacom a moela do divertimento”, ou seja, trabalham durante a semana para viverem às noites e nos finais de semana, separando totalmente traba- lho e vida. “Toda a satisfação que a vida lhes proporciona ocorre fora dos limites do trabalho; trabalho e vida estão profundamente separados” (1976, p. 253). Vale ressaltar mais uma vez que, embora as análises apresentadas por Mills datem de 1976, podemos afirmar que muitas delas são bastantes coerentes com situações de muitos trabalhadores na atualidade. Muitos vivem a imagem do trabalho durante a semana, mas, aos finais de semana e feriados, vestem a imagem alimentada “pelas personalidades e acontecimentos divulgados pelos veículos de comunicação de mas- sa” (1976, p. 253): situação que deixa o homem à mercê de grande frustração e, obviamente, estresse. 9 UNIDADE Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional “Será que o seu trabalho, utilizando as palavras de Mills, é ‘um mero ganha-pão’ ou ‘a parte da mais significativa da vida’?” Ex pl or Por isso mesmo, analisar a relação homem-trabalho torna-se relevante, à medida que, a despeito do fato de que “essa atividade traz para os homens e para a sociedade retornos favoráveis: pelo efeito de um aumento do consumo doméstico, e, além disso, de uma melhoria do conforto material” o trabalho “gera na própria empresa problemas sociais e humanos que tem, por sua vez, consequências às vezes menos vantajosas sobre a vida comum e a saúde dos homens e mulheres que ela emprega” (DEJOURS, 1996, p.150). A saúde mental no trabalho, aspecto por vezes negligenciado por empresas e profissionais, ao contrário do que muitos acreditam, pode resultar em prejuízo tanto para o trabalhador quanto para a empresa. E é papel de qualquer gestor a promoção de saúde mental no ambiente organizacional. Psicodinâmica do Trabalho Muito se tem falado sobre a importância do capital humano nas organizações. Sobre a importância do conhecimento, da vantagem competitiva, que o capital humano pode trazer às organizações. Utilizando as palavras de Fleury, quando se trata de competência, é necessário considerar que o “indivíduo agrega valor econômico à organização”, mas que esta tem a função de agregar “valor social ao indivíduo”. Assim ao tratar do capital humano, do indivíduo na organização, faz-se necessário abordar aspectos relacionados à Psicodinâmica do Trabalhador Moderno. Qual a relação do homem atual com seu trabalho? Como anda a saúde mental do trabalhador? Tal trabalhador tem consciência do significado daquilo que realiza? Os custos com a negligência a tais questões não são pequenos. Os transtornos mentais ocasionam desde perda da produtividade, até conflitos interpessoais e aumento no custo de vida. Segundo dados do Ministério da Saúde (2001) houve um aumento de 15% do número de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho entre os anos de 1994 e 1998, sendo que os transtornos mentais são a terceira maior incidência nos casos de auxílio-doença por incapacidade para o trabalho ou aposentadoria por invalidez. Aspectos relacionados à saúde do trabalhador foram abordados no 14º Congres- so Latino-Americano de Serviços de Saúde. (SAÚDE MENTAL EM FOCO, 2009). Na palestra “Saúde do Trabalhador: os adoecimentos causados pelo atual modelo social e econômico”, o psiquiatra Rubens Hirsel Bergel, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, apresentou dados relevantes sobre a saúde mental do trabalhador brasileiro. Segundo Bergel, três a cada 10 brasileiros apresentam problemas de saúde devido ao estresse no trabalho. 10 11 Para o palestrante, enquanto nos Estados Unidos o prejuízo gerado por funcionários doentes chega a US$ 150 bilhões por ano, no Brasil, esse número pode ser de aproximadamente 3% do PIB (Produto Interno Bruto). Problemas como absenteísmo e presenteísmo, segundo Bergel, tem origem em fatores relacionados: à saúde, a problemas pessoais, vícios com álcool ou drogas, es- tresse, depressão, pessimismo, dentre outros (SAÚDE MENTAL EM FOCO, 2009). Palavra de origem latina, Absenteísmo se refere ao hábito de estar ausente. No ambiente organizacional é utilizado para nomear a ausência do trabalhador, o número de horas perdidas, seja por faltas, atrasos ou saídas. Ex pl or Presenteísmo denomina a situação na qual o empregado, ainda que presente no local de trabalho, mas não apresenta produtividade devida. Ex pl or Ainda no 14º Congresso Latino-Americano de Serviços de Saúde, doutor Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, ao proferir palestra sobre Depressão, Absenteísmo e Qualidade de Vida, apontou a depressão como a maior causa de incapacitação, uma vez, que reduz a qualidade de vida e piora o desempenho no trabalho. Silva chamou ainda a atenção para a visão deturpada que a população tem acerca das doenças psicossomáticas. Segundo o palestrante 75% das pessoas acreditam que depressão trata-se de uma forma de fraqueza emocional e 45% culpam a vítima, supondo falta de força de vontade. Todavia, cinco em cada 20 pessoas consideradas normais são acometidas de depressão e na população brasileira a prevalência de depressão está entre 20% a 25%, geralmente em pessoas na faixa etária dos 40 anos (SAÚDE MENTAL EM FOCO, 2009). Palavra de origem grega, Psicossomática é a junção de psique (alma em grego) e soma (corpo, no mesmo idioma). Doenças Psicossomáticas são relativas às manifestações orgânicas, manifestações no corpo, cuja origem é psicológica. Ex pl or O doutor Antonio Geral da Silva ressalta: “um funcionário custa muito caro. Invista em um ambiente melhor de trabalho. Entendam que se trata de doença, não é falta de caráter ou de vontade” (SAÚDE MENTAL EM FOCO, 2009). Sabe-se que é crescente o número de pessoas que de alguma maneira tem sua saúde física e mental afetada pelo ambiente de trabalho. Fatores como exigências, pressões, mudanças, sobrecarga de trabalho, estão cada vez mais presentes no cotidiano das organizações, contribuindo para o estresse ocupacional. 11 UNIDADE Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional Bridges, no livro “Um mundo sem empregos” de 1995, já afirmava que a diminuição dos empregos resultaria na dissolução dos empregos convencionais, forçando as organizações a acrescentarem novas responsabilidades aos profissionais que ficassem. “Assim, os funcionários que ficam, tendem a pegar os pedaços deixados pelos que saem, tornando as descrições de cargo cada vez menos eficientes e sem sentido” (p. 29). Para Lida (2001), as causas do estresse ocupacional relacionam-se as exigências físicas ou mentais exageradas, podendo incidir mais fortemente naqueles trabalhadores já afetados por outros fatores, como conflitos com a chefia ou até um problema familiar (LIDA, 2001). As empresas precisam voltar a sua atenção para as questões que envolvem a saúde mental dos funcionários. Assim, compreender os transtornos relacionados ao estresse, torna-se essencial a qualquer gestor, na medida em que lhe permite administrar de forma mais eficaz suas consequências. As repercussões tanto para o profissional quanto para a organização geradas pelo efeito do estresse ocupacional justificam medidas de prevenção e apoios contínuos. Estresse Robbins citando Schuler define estresse como “uma condição dinâmica na qual um indivíduo é confrontado com uma oportunidade, limitação ou demanda em relação a alguma coisa que ele deseja e cujo resultado é percebido, simultaneamente, como importante e incerto” (2005, p. 438). A definição é interessante, pois traz pontos importantes sobre o estresse. Primeiro, é uma condição dinâmica, ou seja, há um movimento de forças. Segundo, esse movimento de forças confronta o indivíduo com situações as quais exige dele uma decisão (uma escolha, uma restrição de possibilidades; e/ou disputa). Terceiro, a decisão, e respectivamente à ação, que foi desencadeada por forças opostas, deve ser adotada diante de uma situaçãoque merece consideração, pois é relevante, mas também duvidosa, instável. Ou seja, esse indivíduo está diante de muita pressão. Considerando a definição da ciência física, da qual o termo foi retirado, que estresse refere-se a uma tensão ou pressão aplicada sobre determinado material capaz de deformá-lo, fica mais fácil imaginar a pressão existente. O termo estresse foi conhecido no século XIX por engenheiros germânicos para representar a tensão resultante da aplicação de uma força sobre um corpo. Foi o biólogo canadense Hans Selye, que na década de 1920, levou o termo para a medicina. Ex pl or 12 13 Fatores Potenciais de Estresse Robbins sintetiza três fontes potenciais do estresse: (1) Fatores Ambientais; (2) Fatores Individuais; e (3) Fatores Organizacionais. O Quadro 1 apresenta os componentes de cada um dessas fontes de estresse. Quadro 1 – Fontes potenciais de estresse Fontes de Estresse Componentes Fatores ambientais Incerteza econômica Incerteza política Incerteza tecnológica Terrorismo Fatores individuais Problemas familiares Problemas econômicos Personalidade Fatores Organizacionais Demandas das tarefas Demandas dos papéis Demandas interpessoais Estrutura organizacional Liderança organizacional Estágio da vida da organização Fonte: Adaptada de Robbins, 2005, p. 440. A história recente de nosso país traz situações que resultam em incerteza política e consequentemente econômica. Os impeachments dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e da Dilma Roussef desencadearam incertezas nas organizações, e, também nos cidadãos, sendo exemplos de fatores ambientais potenciais de estresse. Vale destacar que, evidentemente, os impeachments não são os únicos motivos para a crise do país, mas contribuem para o ambiente de incerteza e por isso estão sendo utilizados como exemplo nesse texto. Avanços tecnológicos também podem ser fontes potenciais de estresse, quer por ameaça em ocupar o lugar do ser humano, como por exemplo, o emprego das pessoas, quer pela dificuldade que algumas pessoas ainda têm de adaptar-se a eles, especialmente os imigrantes digitais. O conceito “imigrante digital“, assim como o de “nativo digital” foi criado por Marc Prensky em 2001. O primeiro, imigrante digital, faz referência aqueles que não nasceram em uma atmosfera psicológica e que tiveram que se adaptar às novas tecnologias. O segundo, nativo digital, são os nascidos a partir de meados de 1980 e que passaram a vida toda convivendo com as novas tecnologias”. Ex pl or O último fato ambiental apresentado no Quadro 1, embora não conste no quadro de Robbins é descrito por ele, uma vez que esse tem sido mais um dos fatores potenciais de estresse. O autor comenta que os estadunidenses, depois do evento de 11 de setembro de 2001, desenvolveram uma nova fonte de estresse relacionadas as aglomerações e edifícios muito altos. 13 UNIDADE Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional Como comentado, as incertezas políticas e econômicas desencadeadas pelos processos de impeachments dos ex-presidentes mencionados resultaram em crise econômica, o que fez com que muitos trabalhadores perdessem seus empregos. E o desemprego é mais uma, dentre tantos outras, ocorrência que desencadeia problemas econômicos para a população, o que também é um fator potencial de estresse, mas nesse caso individual. Se a crise economia e o desemprego podem ser considerados como possíveis ocorrências desencadeadoras de problemas econômicos; podemos afirmar que o inverso também pode ocorrer. Ou seja, a estabilidade econômica e a fartura de recursos também podem contribuir para a geração de problemas econômicos para o indivíduo. Muitos cidadãos ao se verem com boas condições financeiras gastam mais do que deveriam, ingressam em uma onda frenética de consumo, que pode sim desencadear problemas econômicos futuros por se gastar mais do que os rendimentos recebidos. A forma como lidamos com situações fonte de estresse também é considerada um fator potencial, ou não, de estresse. Por isso a personalidade é descrita como fator potencial individual. Por fim os fatores organizacionais são vários. Dejours afirma que as organizações do trabalho são as principais fontes das pressões do trabalho que, por sua vez, põem em risco “o equilíbrio psíquico e a saúde mental”. (1996, p. 153). O tipo de tarefa realizada; a existência ou não de autonomia nas decisões relacionadas ao trabalho; os papéis que devem ser desempenhados; a sobrecarga de trabalho; o estilo da liderança; os relacionamentos interpessoais, entre outros fatores, fazem com que a organização seja uma fonte potencial de estresse. Os fatores de estresse nem sempre ocorrem de forma isolada, mas são cumulativos, intensificando ainda mais a possibilidade de desencadear estresse. Consequências do Estresse Além das fontes potenciais de estresse, é importante que estejamos sempre atentos às consequências do estresse. Tomando como base a organização proposta por Robbins, o Quadro 2 apresenta algumas das principais consequências do estresse, conforme os sintomas apresentados. 14 15 Quadro 2 – Consequências do estresse Consequências do Estresse Sintomas Físicas Dor de cabeça Aumento da pressão sanguínea Doenças e/ou ataques cardíacos Mudança no metabolismo Aumento do ritmo respiratório Psicológicos Ansiedade Tensão Depressão Diminuição da satisfação Irritabilidade Procrastinação Comportamentais Produtividade Absenteísmo Presenteísmo Rotatividade/Turnover Distúrbio do sono Alterações nos hábitos alimentares/no consumo de drogas legais ou ilegais Inquietação Fonte: Adaptada de Robbins, 2005, p. 440. Turnover, termo em Inglês cujo signifi cado na Língua Portuguesa pode ser rotatividade, movimento, volume de negócios, entre outras possíveis traduções, é utilizado na área de gestão de pessoas como conceito para a entrada e saída de funcionários em um determinado período de tempo. Aumento do turnover em algumas empresas e/ou departamento dessas, ou seja, alta rotatividade de funcionários, pode indicar a existência de algum problema na gestão de pessoas. Ex pl or O Quadro 2 traz apenas alguns exemplos de cada um dos sintomas desencadea- dos pelo estresse. Muitos outros descobertos ou não são possíveis, uma vez que se trata de uma doença psicossomática. A diversidade de sintomas, a relação de cada um desses sintomas e o estresse, além das diferenças entre cada indivíduo e os sintomas, fazem com que essa doen- ça seja ainda mais difícil de ser compreendida e administrada, tornando-a suscetível ainda a muitos erros de diagnóstico e preconceitos. Por todas consequências que as relações homens-trabalhos podem desencadear, inclusive o estresse, é importante que o gestor considere os aspectos relacionados à saúde do colaborador como essencialmente parte de sua atuação como líder. “Não é impossível à emergência, um dia, da noção de responsabilida- de empresarial em relação à saúde mental das populações que depen- dem efetivamente e socialmente dos trabalhadores que ela empresa.” (DEJOURS, 1996, p. 173) 15 UNIDADE Psicodinâmica do Trabalho: o Estresse no Ambiente Organizacional Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Comportamento Organizacional ROBBINS, Stephen P. (2005) Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall. Leitura Desafios da Sociedade do Conhecimento e Gestão de Pessoas em Sistemas de Informação PESTANA, M. C. et. al. Desafios da sociedade do conhecimento e gestão de pessoas em sistemas de informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n. 2, p. 77-84, maio/ago. 2003. https://goo.gl/gWeHkU Estresse e Fatores Psicossociais REIS, Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos; FERNANDES, Sônia Regina Pereira; e GOMES, Almiralva Ferraz. (2010). Estresse e Fatores Psicossociais. Psicologia, Ciência e Profissão, Vol. 30. Nº 4, p. 712-725 https://goo.gl/e2njRN Sofrimento no trabalho na visão de Dejours RODRIGUES, Patrícia Ferreira;ALVARO, Alex Leandro Teixeira; e RONDINA, Regina. (2006). Sofrimento no trabalho na visão de Dejours. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. Ano IV. N º 7, Nov. Periódicos semestral. https://goo.gl/sWMgdY Uma nova classe média no Brasil da ultima década? O debate a partir da perspectiva sociológica. SCALON, Celi; e SALATA, André. (2012). Uma nova classe média no Brasil da ultima década? O debate a partir da perspectiva sociológica. Sociedade e Estado. Vol. 27. Nº 2. Brasília, Maio e Ago., https://goo.gl/cj2eQx 16 17 Referências BRIDGES, W. (1995). Job Shift: um Mundo sem Empregos. São Paulo: MB Books. DEJOURS, Christophe. (1996). Uma visão do Sofrimento Humano nas Organizações. Em: CHANLAT, Jean-François (organizador). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. Ofélia de Lanna Sette Torres (organizadora); tradução e adaptação Arakey Martins Rodrigues; revisão técnica Carlos O. Bertero, 3º Ed. São Paulo: Atlas. DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E. & JAYET, C. (1994). Psicodinâmica do Trabalho - Contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação Prazer, Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Editora Atlas S.A. LIDA, Itiro. (2001) Ergonomia: projeto e produção. 7ed. São Paulo: Edgar Blucher. MILLS, Wright. (1976) A Nova Classe Média. Rio de Janeiro: Zahar Editores. MINISTÉRIO DA SAÚDE. (2001) Manual de procedimentos para serviço da saúde: Doenças Relacionadas ao Trabalho. Brasília. ROBBINS, Strephen P. (2005). Comportamento Organizacional. 11º ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall. SAÚDE MENTAL EM FOCO. (2009) Em busca de novas perspectivas. Módulo de saúde mental é sucesso no Congresso Latino-Americano de Serviços de Saúde. SINDHOSP. Ano 02, Boletim nº 08, Jul/Ago/Set, 2009.. 17
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