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Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação Virgínia Marcondes Marcos R. C. Ketelhut AULA 13 AS QUESTÕES DO SENSO COMUM Como já vimos nas aulas passadas, a filosofia constitui conhecimentos a partir do esforço do ser humano em compreender e dar significado ao mundo, à natureza, às coisas. Ou seja, a filosofia está a serviço da possibilidade de entendimentos sobre a realidade. A filosofia sistematiza os desejos do ser humano e esses desejos tornam a vida cotidiana com sentido. O trabalho, os estudos, o lazer, enfim, a vida do dia-a-dia tem um sentido em si mesma e a filosofia nos auxilia a atribuir esse sentido. Nessa busca por sentido e significados, o ser humano atribui e agrega valores que estão, geralmente, orientando o dia-a-dia das pessoas, por meio da cotidianidade. Essa busca pelo sentido da realidade, das coisas, da natureza, muitas vezes é inconsciente. Ou seja, o ser humano tem uma filosofia que segue e que o orienta, mas às vezes esse mesmo ser humano não tem consciência e não compreende a configuração dessa filosofia, quais são os seus elementos constitutivos. Comumente, o ser humano, no dia-a-dia, não lança mão de uma análise filosófica e crítica da realidade, da natureza, das coisas, para explicar ou se orientar, conscientemente. Com bastante frequência pode-se constatar que o ser humano se vale do senso comum. De experiências, valores e saberes interiorizados sem que haja uma criticidade anterior, mas antes introjetados acriticamente do meio em que vive. A filosofia se coloca, portanto, à disposição de uma mediação crítica sobre o que o ser humano está fazendo, seus sentidos, seus significados e suas finalidades. O Homem nasce em dadas circunstâncias, ou seja, a localidade do nascimento e de vida imprime determinadas características que são adquiridas espontaneamente a depender da realidade a qual o homem está sujeito. Por exemplo: há quem não passe debaixo de uma escada. As pessoas que agem dessa maneira ouviram dizer que dá azar passar em baixo de escadas. Para outras pessoas isso não representa nada. A partir desse modo de entendimento de mundo e de realidade a vida das pessoas vai se constituindo. Assim, determinados entendimentos são transmitidos pela sociedade, de gerações para gerações e dão conta da construção da visão de mundo. Esse tipo de entendimento é chamado de senso comum e representa os conceitos e os valores que as pessoas adquirem espontaneamente, pela convivência social. Bem vindo ao senso comum: ele vai te levar, no máximo, aonde todos chegam. Os saberes do senso comum possibilitam que as pessoas expliquem a vida, os rituais sociais, religiosos, as normas e regras do bem viver, valores e conceitos éticos e morais. Esses saberes, bem como os valores, são incorporados lentamente na cotidianidade, definindo a forma de pensar das pessoas, tudo que se compreende e se organiza a partir dessa visão, desse senso comum da realidade. O senso comum nasce, portanto, dessa maneira de se aceitar as respostas prontas que circulam na sociedade e que “explicam” a realidade, sem que a mesma seja questionada. É uma maneira de ver a vida. É uma maneira de ver a realidade. Essa maneira é sempre acrítica, espontânea e até mítica. O estabelecimento do senso comum ocorre por meio de certo dinamismo. Na vida social e à medida que as pessoas se desenvolvem, sofrem a interferência de novos elementos que surgem, ganham forma, importância e serão constituidores mesmos das pessoas. As gerações passadas transmitem valores, as gerações mais novas os recebem e os transmitem para as gerações mais novas ainda. Dessa maneira, ao mesmo tempo que se recebe valores e entendimentos do senso comum, criam-se novas compreensões da realidade que, por sua vez, são transmitidos às gerações posteriores. O senso comum tem origem nos padrões de conduta do passado, de maneira acrítica, mas também nas formas de compreender o mundo e de agir que nascem e se transmitem durante a existência do ser humano, com aspectos sociais e individuais, inclusive. As visões de mundo que não ganham reconhecimento e importância em dada sociedade, acabam por desaparecer. Por outro lado, aquelas que são reconhecidas, se transformam em costumes, em senso comum. SENSO COMUM: Acrítico Dogmático As visões que compõem o senso comum não têm vinculação efetiva com os elementos da realidade. O desvelamento da realidade produz o senso crítico Desvinculamento da realidade abre espaço para os dogmas transmitidos gerações pós gerações. O desvelamento da realidade produz o senso crítico O SENSO COMUM É UMA MANEIRA DE COMPREENDER O MUNDO, CONSTITUÍDO ACRITICAMENTE, ESPONTANEAMENTE, QUE SE TRADUZ NUMA MANEIRA DE ORGANIZAR A REALIDADE, AS AÇÕES DIÁRIAS, AS RELAÇÕES ENTRE AS PESSOAS, A VIDA DE UM MODO GERAL. Todo mundo (gente comum no senso comum) conhece uma receita de chá para alguém com dor de estômago. SENSO COMUM SENSO CRÍTICO Impreciso Preciso, exato Acrítico Crítico, reconhece a capacidade de errar Imediatismo Busca evidências, testes, análises e controles Assistemático (avulso) Sistemático, organizado, procura conhecer as relações entre os elementos Centrado no aqui e agora Prognosticador: prevê resultados Fragmentariedade Totalizante No bojo do senso comum do dia-a-dia há pensamentos críticos, ocorre o “bom senso” e a vida cotidiana faz perguntas para si mesma, para a realidade, para a natureza, para os acontecimentos. Existe uma ordem na natureza que suscita perguntas ao ser humano. Essa ordem está estabelecida em ciclos, representa determinada ordem. O observador passa a imaginar o funcionamento e busca relações, levanta hipóteses, estuda e analisa as manifestações. Pode-se afirmar que o senso comum se caracteriza, portanto, por ser um tipo de conhecimento acessado, transmitido e alcançado sem maiores reflexões, sem um aprofundamento. Trata-se, dessa forma, de um conhecimento não sistematizado, não pautado em métodos ou técnicas. O senso comum é um ponto de partida, mas não se deve contentar com ele. A filosofia parte do conhecimento comum, do senso comum. Esse conhecimento não pode ser ignorado. A filosofia parte do senso comum, mas não pode permanecer aí. A filosofia proporciona o senso crítico que pode dar origem ao pensamento crítico, científico, numa expressão de entendimento da realidade mais profundo e pautado em regras e métodos científicos. OBSERVAÇÃO PERGUNTA TESTE / EXPERIÊNCIA HIPÓTESE ACEITA SIM NÃO HIPÓTESE Pode-se depreender que a filosofia parte do senso comum para analisar as condições nas quais se originam as pesquisas científicas, ciência e técnica de reflexão, de pensamento que estão a serviço da humanidade. O senso comum não é a melhor maneira nem a mais adequada forma de compreensão da realidade. Entretanto, permanece oferecendo compreensão e direcionamento. O conhecimento verdadeiro oportuniza às pessoas que o buscam a compreensão mais efetiva, trata-se de agregar consciência da ignorância e da realidade. À medida que este conhecimento alargado atinge um número maior de pessoas, nasce o potencial de crítica, de ação que se renova, de mudança. A filosofia busca recuperar a visão da totalidade de possibilidades das mudanças nas concepções de homem, valores e ética. Número do slide 1 AS QUESTÕES DO SENSO COMUM Número do slide 3 Número do slide 4 Número do slide 5 Número do slide 6 Número do slide 7 Número do slide 8 Número do slide 9 Número do slide 10 Número do slide 11 Número do slide 12 Número do slide 13 Número do slide 14 Número do slide 15 Número do slide 16 Número do slide 17 Número do slide 18 Número do slide 19 Número do slide 20 Número do slide 21