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Prévia do material em texto

História da Terapia Ocupacional
Conteudista
Prof. Me. Adriano Conrado Rodrigues
Revisão Textual
Prof.ª Esp. Lorena Garcia Aragão de Souza
 2
OBJETIVOS DA UNIDADE
Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line 
para que você assista à videoaula. Será muito importante para o 
entendimento do conteúdo.
Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis-
ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão. 
No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para 
melhor aproveitamento.
• Compreender os aspectos que influenciaram na formação da identidade 
profissional e a relação entre diferentes culturas;
• Conhecer os principais marcos históricos da terapia ocupacional, desde 
a sua concepção até os dias atuais.
 3
Aspectos Ontológicos da 
Terapia Ocupacional
“Se temos uma doença ocupacional, por que não uma terapia ocupacional?” 
Essa frase foi proferida pelo então arquiteto George E. Barton, por volta de 1914. 
Além de ser considerada a primeira vez em que o termo “terapia ocupacional” 
foi citado, ela nos remete a uma situação de causa e efeito. Porém, uma análise 
mais criteriosa nos leva à busca do entendimento sobre a complexidade do ser 
humano, ou seja, questões relacionadas à sua existência, à sua consciência, ao 
seu papel social e às atividades que desenvolve, ao ambiente em que interage, e 
questões que auxiliem na manutenção da sua saúde e do seu bem-estar.
Pode-se dizer também que nascemos a partir do sentimento de compassividade, 
frente às adversidades; eventos como guerras, pandemias e outras situações em 
que o ser humano é impactado de forma ampla (física, emocional e socialmente), 
tendem a demandar a atenção terapêutica ocupacional, e assim acabam por dar 
evidência sobre a importância desse profissional nos diferentes contextos.
Figura 1 – Artigo de Hart e Albert Bushnell (1919, 15 de julho). War pensions and 
something better
Fonte: THE MENTOR ASSOCIATION, 1919, n. p.
#ParaTodosVerem: artigo de jornal, datado de 15 de julho de 1919, composto de texto e foto de veteranos 
de guerra pensionistas norte-americanos (Primeira Guerra Mundial), executando atividades manuais de 
seus interesses, como proposta para reinserção social, dando a entender que a condução clínica seria 
oferecida por terapeutas ocupacionais. Fim da descrição.
 4
Certamente, isso influenciou ao longo do tempo a formação da identidade desse pro-
fissional, nos remetendo aos aspectos ontológicos e epistemológicos da profissão. 
Enquanto a epistemologia se preocupa com a natureza do conhecimento, de que 
lugar ele surgiu, como foi formado e quais suas bases, a ontologia, ramo da me-
tafísica, está preocupada em identificar as coisas que realmente existem.
Na terapia ocupacional, esse “encontro” se dá à medida que pesquisamos e cor-
relacionamos os elementos pessoais e constitutivos da profissão – as experiên-
cias (e as evidências) da prática contextualizada e dos campos de pesquisa ou o 
olhar científico para a ocupação humana.
Assim, considerando os elementos constitutivos da profissão, temos a seguinte 
configuração para definição: 
• Objeto: um substantivo, ao qual é lançado o olhar da profissão. Na tera-
pia ocupacional, a ação, o fazer humano, a atividade, o ambiente, o coti-
diano, entre outros, têm sido considerados como objetos da profissão;
• Objetivos: metas ou resultados que se deseja alcançar a partir da in-
tervenção profissional (por exemplo, melhorar o desempenho nas ati-
vidades, aumentar a autonomia da pessoa na realização de tarefas de 
seu interesse, promover independência nas atividades da vida diária ou 
prática, promover maior participação ou inclusão social, entre outros); 
no objetivo, o “verbo” é a essência;
• Instrumentos de trabalho: caracterizam as intervenções, próprias de cada 
profissão; recursos terapêuticos e metodologia de trabalho do profissional;
• Clientela: uma realidade, uma pessoa ou um grupo, como parte de um 
contexto institucional ou social. Caracteriza o público-alvo da abordagem 
terapêutica ocupacional.
Ao longo dos mais de cem anos de existência da terapia ocupacional no mundo, 
e mais de cinquenta anos no Brasil, inúmeras definições foram publicadas. Para 
um olhar temporal e uma análise da evolução das características ontológicas e 
epistemológicas da profissão, trago três momentos:
A primeira definição de terapia ocupacional, realizada em 1922, pelo médico 
H. A. Pattison, foi: “qualquer atividade, mental ou física, claramente prescrita e 
orientada, com o objetivo específico de contribuir para o tratamento e acelerar 
a recuperação de uma doença ou trauma” (CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C., 2007, 
págs. 10-16).
 5
A literatura brasileira traz uma definição formulada pelo curso de terapia ocupa-
cional da Universidade de São Paulo (USP), como segue: 
É um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação 
e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emanci-
pação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas a problemá-
tica específica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais, 
apresentam, temporariamente ou definitivamente, dificuldade na 
inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia 
Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade, elemento cen-
tralizador e orientador, na construção complexa e contextualizada 
do processo terapêutico.
DE CARLO; BARTALOTTI, 2001. p. 63-80
Já o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil (COFFITO) 
traz a seguinte definição: 
Profissão nível superior voltada aos estudos, à prevenção e ao tra-
tamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, 
perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéti-
cos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da sistematiza-
ção e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento 
de projetos terapêuticos específicos, na atenção básica, média com-
plexidade e alta complexidade.
COFFITO
Nessas definições, podemos observar claramente o olhar para a saúde, e a di-
mensão em que a terapia ocupacional se posiciona nesse universo, o que tam-
bém diz sobre a identidade do profissional, uma vez que tais definições pontuam 
os objetos, os objetivos, os materiais e a clientela.
Assim, temos que a identidade da terapia ocupacional se relaciona intimamente 
com a visão de saúde e do próprio ser humano, bem como com as atividades que 
realiza, e assim também evolui ou se constrói na relação tempo e espaço. 
Na prática, estudar a história da terapia ocupacional significa buscar no passa-
do algumas das respostas para dúvidas ou questões do tempo presente, sem 
reduzir essa busca a uma visão de mundo fora do contexto atual, ou seja, sem 
conexão com a realidade e as exigências que essa realidade traz.
Nesse processo de busca histórica e contextos sociais “vivos” que se compõem a 
partir de um “acúmulo” contextualizado de experiências é que se forma a ideolo-
gia e até a diversidade de recursos empregados na terapia ocupacional.
 6
Há que atentar, ainda, para o fato de que uma história de caráter evolucionista 
(continuidade e periodização linear) pode levar a uma ideia reducionista de pen-
samento ou realidade, o que também é característica de determinadas culturas e 
respalda o uso de modelos ou determinadas abordagens em terapia ocupacional.
É importante compreender que, quando evocamos a ideia de terapia ocupacio-
nal, temos diferentes âmbitos que se referem desde às práticas de atenção e 
cuidado a populações específicas, passando pelas propostas de formação téc-
nica, profissional e acadêmica de uma área específica de conhecimento, até os 
processos de regulamentação e institucionalização da profissão.
Podemos aqui reconhecer a centralidade das mulheres para o desenvolvimento 
da terapia ocupacional. É fato o protagonismo de mulheres nesse processo, pro-
tagonismo que estaria associado à situação de submissão que caminhou para 
emancipação de gênero em seus diversos contextoshistóricos, até os dias atuais.
É importante compreender como as origens da profissão estão intimamente liga-
das à possibilidade de inserção de parte das mulheres (principalmente brancas 
e de elites urbanas) em outras esferas da vida social, que não apenas as ligadas 
ao espaço doméstico, destacando a participação nas instituições de ensino, nas 
instituições de caridade e benemerência (especialmente as de caráter religioso), 
nas universidades e, também, como parte da resposta a demandas do mercado 
de trabalho.
Algumas dessas mudanças foram possíveis devido ao contexto social estaduni-
dense do final do século XIX e início do século XX, em uma sociedade marcada 
pelo processo de transformação do capital monopolista.
Nesse contexto de transformações, mulheres rechaçaram o casamento e dedica-
ram suas vidas ao ensino, à enfermagem ou ao trabalho social.
Outras, ainda que casadas, pertenciam a legiões e a grupos de caridade e/ou 
de outros tipos de ajuda social. Essa ampliação de circulação e de inserção em 
diferentes espaços sociais pôde criar referências femininas em outras esferas 
públicas.
A criação da Hull House, no contexto da Escola de Cívica e Filantropia de Chicago, faz 
parte desse processo, no qual muitas jovens mulheres foram impulsionadas pelos 
movimentos feministas da época, que mudaram as noções de ajuda e compromis-
so social voluntário (baseado em perspectivas morais e religiosas) para valorizar 
suas atividades laborais, proporcionando suas inserções em empregos formais.
 7
A Hull House era um abrigo de extrema importância para o movimento de mu-
lheres em Chicago, tendo contribuído para a formação política, profissional e 
laboral de muitas mulheres, além de ter oferecido apoio a muitas famílias, prin-
cipalmente imigrantes.
Figura 2 – Hull House, no início do século XX
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: uma grande casa no estilo mansão, com tijolos à vista, preenchendo todo um quarteirão, 
com ruas desertas ao seu redor, na cidade de Chicago, EUA. Fim da descrição.
Podemos dizer que foi o movimento desses abrigos sociais que permitiu que 
muitas mulheres (brancas e de elites urbanas) se inspirassem e começassem a 
desenvolver atividades laborais, uma vez que mulheres pobres, mulheres negras 
(ou ambas) e mulheres pobres imigrantes, sempre trabalharam, de um modo 
ou de outro, fora de seus espaços domésticos. Para Morrison e colaboradores 
(2021), pela primeira vez, aquelas mulheres começaram a observar maneiras al-
ternativas de participação social, podendo optar por distanciarem-se de formas 
tradicionais, como o casamento e a família.
As mulheres fundadoras da Hull House buscavam compreender as condições e as 
circunstâncias em que viviam outras mulheres e as famílias de imigrantes, o que 
se traduzia, por um lado, em ajuda imediata e, por outro, em elaboração teórica 
sobre esses temas, tarefa compartilhada com a Universidade de Chicago.
Jane Addams e Ellen Gates Starr, como principais fundadoras da Hull House no 
final dos anos de 1880, Julia Lathrop, uma das primeiras a se incorporar a essa 
instituição, e Eleanor Clarke Slagle foram as primeiras mulheres responsáveis 
pelas ações da Hull House. Esse trabalho, no âmbito da ação social, do lidar com 
 8
demandas da questão social da sociedade capitalista que se levantava sob os 
alicerces estadunidenses, sob um enfoque político, começa também, para parte 
dessas mulheres, a oferecer parâmetros para ações que, mais tarde, viriam com-
por propostas em torno da terapia ocupacional.
Adolf Meyer se junta a essas mulheres e começa a trabalhar com as reformas 
no tratamento de pessoas tidas como doentes mentais, sendo que um de seus 
pressupostos era que as deploráveis condições da vida dos pobres e dos traba-
lhadores nas cidades que se agigantaram poderiam ser parte das causas que 
favoreciam ou mantinham situações de enfermidades. 
Além disso, tentavam responder, também, às críticas da época sobre a ausência 
de “ciência” nesses “novos métodos” empregados em Psiquiatria, publicando al-
guns artigos originados dessas práticas.
Em 1910, Adolf Meyer solicita à Julia Lathrop a indicação de uma trabalhado-
ra social que pudesse se incorporar ao Hospital Johns Hopkins (na cidade de 
Baltimore), dirigido por ele, para trabalhar com pessoas tidas como doentes 
mentais. Lathrop sugere Slagle, que aceita a incumbência. 
Depois de dois anos de trabalho, Meyer destacava Slagle como a principal refe-
rência para o serviço de terapia ocupacional.
Ao fim dessa experiência, Slagle regressa a Chicago, em 1913, para fundar a pri-
meira escola de terapia ocupacional.
As principais dificuldades no desenvolvimento da profissão, para as primeiras 
terapeutas ocupacionais, centraram-se em dois principais aspectos: 1) o posicio-
namento dentro do campo da medicina; 2) a terapia ocupacional ser considerada 
como uma profissão de mulheres.
Desde seus inícios, a terapia ocupacional foi considerada uma nova profissão 
para mulheres, e, para legitimar-se como uma disciplina profissional a ser reco-
nhecida, buscou articulações com a medicina, até então um campo masculino e, 
assim como hoje, com elevado reconhecimento e poder social. O papel dos ho-
mens dentro do mundo visível da medicina, e o das mulheres dentro da invisibi-
lidade das redes de caridade e de boas moças e senhoras de bem, conformaram 
os mecanismos empregados pela primeira geração de terapeutas ocupacionais.
As primeiras mulheres consideradas terapeutas ocupacionais foram Eleanor 
Clarke Slagle, assistente social que se juntou à Hull House, Susan Cox Jonhson, 
enfermeira que pretendia provar que as ocupações poderiam melhorar a saúde 
física e mental dos pacientes internados em contextos hospitalares, e Susan 
 9
Elizabeth Tracy, enfermeira, uma das pioneiras no uso das ocupações como tra-
tamento e uma das primeiras a sistematizar suas reflexões.
A Primeira Guerra Mundial teve início em 1914, contudo, os Estados Unidos ape-
nas se inseriram de forma oficial em 1917, sendo assim, a profissão reconhecida 
nesse mesmo ano nesse país não surgiu como resultado imediato da Guerra, e 
sim nesse contexto.
Tal momento histórico possibilitou um grande desenvolvimento e uma expansão 
da profissão, uma vez que a terapia ocupacional se configurou como uma das 
profissões que compunham as “auxiliares da reconstrução”, lidando com lesões 
e deficiências geradas pela Guerra, participando ativamente nos processos de 
reabilitação. 
A terapia ocupacional teve sua expansão nos Estados Unidos nas primeiras dé-
cadas do século XX, experimentando uma importante retomada dessa expansão 
nos anos da Segunda Guerra Mundial e chegando na América Latina, enquanto 
programa de formação profissional, a partir da década de 1950, configurando 
uma segunda onda de crescimento.
Na tese de doutorado da terapeuta ocupacional Pamela Cristina Bianchi, apre-
sentada pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, em 2019, temos que o 
conceito de espaço pode advir de território, como uma combinação que conside-
ra, ainda, processo e relação, ultrapassando o espaço geográfico físico; nesse se-
guimento, articula-se ainda o conceito de comunidade, que compõe com a ideia 
de coletividade, redes, pertencimento e identidade.
Leitura
Leia, na íntegra, a tese de Pamela, intitulada 
“Terapia Ocupacional, Território e Comu-
nidade: Desvelando Teorias e Práticas a 
Partir de um Diálogo Latino-Americano”.
A Confederação Latino-americana de Terapia Ocupacional (Clato), fundada em 
1997, conta atualmente com os seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, 
Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, 
Uruguai, Venezuela e Porto Rico (considerado território dos Estados Unidos da 
América e não um país independente).
https://bit.ly/3EhXT4e
https://bit.ly/3EhXT4e
 10
As epidemias de poliomielite e a história da loucura (principalmente pelas ideias 
do tratamento moral) são alguns dos marcos importantes para abordar as histó-
rias da terapiaocupacional nos países latino-americanos.
A poliomielite foi, durante séculos, uma importante causa de invalidez e de morte 
infantil, até a criação da vacina contra essa doença, em meados da década de 
1950. Na América Latina, os primeiros casos de poliomielite foram identificados 
e registrados no final do século XIX no México, em 1906 na Argentina, em 1909 
no Chile, em 1911 no Brasil, em 1915 na Colômbia e em 1928 na Venezuela. 
Entretanto, seu reconhecimento epidêmico nesses países foi declarado entre os 
anos de 1930, 1940 e 1950.
A poliomielite epidêmica e suas consequências foi um dos argumentos principais 
para a criação e/ou para a ampliação dos centros de reabilitação física e hospitais 
infantis, entre outras instituições de assistência, no contexto latino-americano. 
Isso pode ser observado pela criação do Hospital Infantil do México, em 1943, 
do Centro de Reabilitação Infantil no Chile, em 1947, da Associação Brasileira 
Beneficente de Reabilitação, em 1954, entre outros centros de reabilitação e as-
sociações que tiveram um crescimento importante, decorrente de investimentos 
nacionais e articulações internacionais, fruto de preocupações com a circulação 
de pessoas e mercadorias diante do avanço da epidemia, além de serem algu-
mas das principais instituições que começaram, nos anos de 1950, os programas 
de formação em terapia ocupacional.
Esse contexto regional, caracterizado por países latino-americanos sendo obri-
gados a lidar com as causas dessas epidemias de poliomielite ao mesmo tempo 
em que se produziam tecnologias de atenção às pessoas acometidas por essa 
enfermidade e técnicas de prevenção às infecções, desencadeou o desenvolvi-
mento de disciplinas relacionadas com a reabilitação, além da importação de 
conhecimentos e práticas de países do Norte que, dado o interesse econômico 
agroexportador que criava laços importantes entre os países dessas regiões, já 
tinham passado por esse quadro e detinham maiores informações, principal-
mente na área da saúde, durante o período posterior à Segunda Guerra Mundial.
Tal processo desencadeou a criação e a expansão de carreiras compreendidas, 
até então, como tecnologias médias, entre elas a terapia ocupacional.
Para as histórias da terapia ocupacional nos países da América Latina, tão impor-
tantes quanto os centros de reabilitação física criados ou impulsionados pelos 
interesses postos em torno das epidemias de poliomielite foram os hospitais 
psiquiátricos e as instituições que lidavam com pessoas tidas como loucas, ou 
com problemáticas decorrentes da questão social, como detentos, pessoas em 
situação de rua ou prostitutas.
 11
Em 1940, a ONU passa a assumir a coordenação, o planejamento e o supri-
mento de reforços em áreas voltadas à reabilitação, partindo de diversas orga-
nizações, como a OMS, que se responsabilizou pela formação de profissionais 
de reabilitação, como médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisiote-
rapeutas, entre outros. Em 1951, a ONU começa a enviar emissários para a 
América Latina a fim de identificar possíveis locais para instalação de um centro 
de reabilitação. 
Um desses locais escolhidos foi o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina 
da Universidade de São Paulo (HC-USP), que já tinha um reconhecimento 
internacional.
No Brasil, tanto a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação quanto 
o HC- USP começaram a ser assessorados por essas agências internacionais 
para introduzir práticas especializadas em reabilitação até então inexistentes 
no Brasil. 
Além disso, a criação de programas de formação profissional também foi um dos 
seus resultados, como no caso da própria terapia ocupacional, no Brasil, entre 
outras profissões que foram criadas e/ou impulsionadas nesse contexto.
Ainda sobre formação profissional, alguns técnicos e profissionais que atuavam 
na área de reabilitação no HC-USP foram enviados aos Estados Unidos para se 
especializarem. Esse foi o caso de Neyde Tosetti Hauck, assistente social e enfer-
meira, que foi estudar terapia ocupacional na New York University, com financia-
mento da OMS, além dos terapeutas ocupacionais trazidos ao Brasil para contri-
buir com programas de formação profissional.
 12
País Instituição Cidade Ano de início
Brasil Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro.
Rio de 
Janeiro 1956
México Hospital Infantil de México. Cidade do México 1957
Brasil
Instituto de Reabilitação 
do Hospital das Clínicas da 
Universidade de São Paulo.
São Paulo 1958
Argentina Escuela Nacional de Terapia Ocupacional.
Buenos 
Aires 1959
Venezuela Instituto Venezolano de Los Seguros Sociales. Caracas 1959
Brasil
Instituto Universitário de 
Reabilitação da Faculdade de 
Medicina do Recife.
Recife 1962
Brasil Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Belo 
Horizonte 1962
Chile Facultad de Medicina – Universidad de Chile. Santiago 1963
Colômbia Facultad de Medicina – Universidade Nacional de Colombia. Bogotá 1966
Quadro 1 – Ano de criação de programas de formação profissional em terapia ocupa-
cional, em cada país, instituição e cidade, nos dez primeiros anos
Fonte: Adaptada de MONZELIA; MORRISON; LOPES, 2019, p. 244
Essa discussão pressupõe a reflexão sobre os modos de vida dos sujeitos, e as 
relações que eles estabelecem com seus espaços de vida para busca de uma in-
tervenção que promova a tessitura da solidariedade nos lugares como uma das 
finalidades da ação técnica.
Nesse processo, destacam-se ainda cinco princípios presentes na atuação tera-
pêutica ocupacional com base no território-comunidade: a atuação implicada no 
 13
coletivo e nas relações sociais; a tessitura de redes formais e informais; a cons-
trução de vínculos por meio do uso das atividades; a horizontalidade e a disponi-
bilidade nas relações; e as estratégias para lidar com a vulnerabilidade social nos 
âmbitos micro e macrossocial. 
É sob esse olhar que surge a terapia ocupacional e que passaremos a abordar 
a seguir.
Marcos Históricos da Terapia 
Ocupacional
A terapia ocupacional comemorou seu centenário em 2017, mas referências ao em-
prego das atividades com finalidades de saúde vêm muito anterior à sua fundação.
• Em 2600 a.C., os povos chineses já recomendavam a atividade para com-
bater doenças;
• Em 220 d.C., o grego Hipócrates recomendava o trabalho para garantir o 
equilíbrio corpo-mente;
• Em 1786, o médico psiquiatra Philippe Pinel (principal precursor do pro-
cesso de mudança que possibilitou o surgimento do alienismo na socie-
dade moderna) reformou a atenção à saúde mental na França, valorizan-
do a ocupação como tratamento moral;
• Em 1852, o Hospital D. Pedro II – Rio de Janeiro, passou a utilizar a ocu-
pação como tratamento;
• Em 1898, houve a criação da Colônia Juliano Moreira – Rio de Janeiro, que 
enfatizou o trabalho no campo como terapia;
• Em 1914, a Primeira Grande Guerra Mundial impulsionou a reabilitação físi-
ca, recuperando soldados com atividades de carpintaria e pintura; foi nessa 
fase que o arquiteto norte-americano George Edward Barton criou o termo 
“terapia ocupacional”, para explicar a utilização das ocupações como terapia;
• Em 1917, foi criada a Associação Americana de Terapia Ocupacional 
(American Occupational Therapy Association – AOTA); essa foi a primeira 
associação para profissionais terapeutas ocupacionais da história, por-
tanto, o “marco zero” da contagem para o centenário da profissão;
 14
Figura 3 – Foto dos fundadores da terapia ocupacional, em 1917
Fonte: crefito12.org.br
#ParaTodosVerem: seis pessoas (fundadores da terapia ocupacional) dispostas em fotografia, como segue, 
fileira de trás, da esquerda para a direita: William Rush Dunton, Isabel Newton, Thomas Bessell Kidner; 
fileira da frente, da esquerda para a direita: Susan Cox Johnson, George Edward Barton, Eleanor Clarke 
Slagle. Fim da descrição.
• Em 1940, houve o movimento internacional de reabilitação, que incenti-
vou o início da laborterapia no Brasil; 
• Em 1944, a médica psiquiatra Nise da Silveira implementouo serviço de 
terapia ocupacional no Hospital D. Pedro II – Rio de Janeiro;
• Em 1945, os países mais atingidos com a Segunda Grande Guerra Mun-
dial enfatizaram a implantação de serviços de terapia ocupacional; 
• Em 1951, a Organização das Nações Unidas – ONU escolheu o Hospital 
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – 
HCFMUSP para implantar um Centro de Reabilitação no Brasil; 
• Em 1952, houve a fundação da World Federation of Occupational Therapy 
– WFOT;
• Em 1959, houve a criação do Curso Técnico de Alto Padrão em Terapia 
Ocupacional (formação de dois anos), USP-SP;
 15
• Em 1960, houve a criação do primeiro centro de reabilitação profissional 
do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) – Brasil;
• Em 1964, teve início a primeira turma do curso de graduação em terapia 
ocupacional do Brasil, na Universidade de São Paulo – USP;
• Em 1969, houve a regulação da profissão de terapeuta ocupacional no 
Brasil, através do Decreto-Lei 938, de 13 de Outubro;
• Em 1987, houve a publicação da “Carta de Bauru”, promovendo o engaja-
mento profissional e social na luta antimanicomial, com o protagonismo 
dos terapeutas ocupacionais;
• Em 1989, houve a fundação da Associação Brasileira dos Terapeutas 
Ocupacionais – ABRATO;
• Em 1999, houve a publicação da primeira Portaria do Ministério da 
Saúde do Brasil, que menciona a terapia ocupacional como parte da 
equipe de Cuidados Prolongados, nas estratégias do Sistema Único de 
Saúde – SUS;
• Em 2009, houve o reconhecimento do Conselho Federal de Fisioterapia 
e Terapia Ocupacional – COFFITO, para as primeiras especialidades da 
terapia ocupacional – Resolução COFFITO 366/2009; 
• Em 2011, houve o reconhecimento da terapia ocupacional como parte 
do Sistema Único de Assistência Social – SUAS;
• Em 2012, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – 
COFFITO estabeleceu os Parâmetros Assistenciais Terapêuticos Ocu-
pacionais;
• Em 2014, houve a inclusão da terapia ocupacional na lista de profissões 
reconhecidas como pertencentes à área de saúde do Mercosul; 
• Em 2017, houve as comemorações do centenário da terapia ocupacional;
• Em 2020, a American Occupational Therapy Association – AOTA publicou 
no American Journal of Occupational Therapy a “Occupational therapy 
practice framework: domain and process” ou, como traduzido para a lín-
gua portuguesa: “A estrutura da prática em terapia ocupacional: domí-
nio e processo”.
 16
Leitura
Leia o artigo “Occupational Therapy Prac-
tice Framework: Domain and Process – 
Fourth Edition” publicado pelo jornal “Ame-
rican Journal of Occupational Therapy” e 
saiba mais.
Figura 4 – Representação visual de todos os aspectos da estrutura da terapia ocupacio-
nal: domínio e processo
Fonte: AOTA, 2020
#ParaTodosVerem: a figura fornece uma representação visual em forma de círculo, de todos os aspectos do 
domínio e do processo, e o objetivo abrangente da profissão escrito no centro do círculo: “alcançar saúde, 
bem-estar e participação na vida por meio do engajamento na ocupação”; os conceitos estão dispostos da 
extremidade para o centro, nas cores roxa (extremidade), verde (linha média) e laranja (centro); escritos em 
branco e dourado. Fim da descrição.
https://bit.ly/45SqDwl
https://bit.ly/45SqDwl
 17
Em uma análise atual, considerando dados da realidade geopolítica do Brasil e 
dados do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil sobre 
a consolidação da terapia ocupacional nas práticas desse território, vemos que 
(logicamente não limitando-se somente a isso) há uma maior densidade demo-
gráfica nos estados do Norte, do Centro-Oeste, do Sul e do Sudeste. Em contra-
partida, o consumo de saúde e educação (redes particulares) é mais evidente nos 
estados do Sul e Sudeste e escassos no Norte (exceto no Pará), no Nordeste e no 
Centro-Oeste. A renda familiar, com exceção do Amapá, também apresenta-se 
mais baixa nos estados do Norte e do Nordeste do Brasil.
A presença do terapeuta ocupacional no País se dá em maior quantidade no Sul 
e no Sudeste, e com precariedade numérica, exceto nos estados do Rio Grande 
do Norte, da Paraíba e de Pernambuco, nos estados do Norte, do Nordeste e do 
Centro-Oeste.
Justaposto, considerando que o Sistema Único de Saúde preconiza a equidade, 
a universalidade e a integralidade, nota-se evidência da necessidade desse pro-
fissional dos estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste para desenvolver 
ações junto à população desses estados e oferecer os importantes serviços, que 
já estão consolidados nas áreas da saúde, da educação e da assistência social.
A partir de dados simples como esses, concluímos que os terapeutas ocupacio-
nais podem ocupar espaços ainda não explorados, haja vista que nessa perspec-
tiva, como ocorre com outras categorias profissionais, a valorização financeira e 
a empregabilidade são condição sine qua non.
Em consonância a essa análise, urge a necessidade dos conselhos regionais e ao 
Conselho Federal o reconhecimento das especialidades, o fortalecimento e a valida-
ção das ações do terapeuta ocupacional, bem como a normatização, a criação e a 
divulgação dos procedimentos operacionais padrões dentro das especialidades que 
assim permitem. Sustentarmos a nossa profissão com práticas de excelência e a em-
basarmos com evidências científicas é, talvez, o maior desafio dos próximos anos. 
Assim, contextualizar a terapia ocupacional no cenário nacional, assim como 
contextualizar a própria prática da terapia ocupacional, nos remete a alguns 
questionamentos:
• O que realmente faz o terapeuta ocupacional num programa de atenção?
• Como posso organizar a minha prática num programa de atenção?
• O que fazer para que a equipe entenda o meu trabalho e as minhas atri-
buições?
 18
Esse entendimento depende das variáveis interferentes do processo de trabalho 
como terapeuta ocupacional, bem como do perfil, do propósito ou das caracte-
rísticas do meio de interação ou ambiente de relação. Essa correlação é o norte 
que dirige a exposição de evidências e “boas práticas” profissionais.
Nesse caminho, temos o conceito de trabalho em “rede”, como, por exemplo, 
a Rede de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde do Brasil. Esse conceito de 
trabalho em rede nos remete diretamente a um outro conceito, denominado 
“matriciamento”.
Como descrito no texto do “Portal Educação” do Ministério da Saúde Brasileiro: 
Entende-se por matriciamento, o suporte realizado por profissionais 
e diversas áreas especializadas, dado a uma equipe interdisciplinar 
com o intuito de ampliar o campo de atuação e qualificar suas ações. 
Ou seja, matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produ-
zir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção 
compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-te-
rapêutica. O apoio matricial, formulado por Gastão Wagner em 1999, 
tem possibilitado, no Brasil, um cuidado colaborativo entre a saúde 
mental e a atenção primária, e essa relação amplia a possibilidade de 
realizar a clínica ampliada e a integração e diálogo entre diferentes 
especialidades e profissões.
Biblioteca Virtual em Saúde
Em resumo, quanto maior o matriciamento entre os serviços (considerando os 
diferentes níveis de atenção), mais fortalecida e mais eficiente a rede de atenção, 
a estratégia ou a gestão; eficiência essa que deve ser mensurada a partir das 
variáveis pautadas, com base nos resultados alcançados. Basicamente, é uma 
questão de referência e contrarreferência (como preconiza o Sistema Único de 
Saúde – SUS), e efetivá-la deve ser responsabilidade de cada profissional inserido 
nesse processo.
Por outro lado, dada a complexidade das demandas de educação, saúde e assis-
tência social e da própria complexidade do ser humano, a falta de matriciamento e 
a consequente fragmentação da rede, não só leva à ineficiência dos serviços, como 
à desorganização e à descaracterização destes, além da frustração dos profissio-
nais. O reflexo dissose dá na falta de atenção às demandas e na formação de filas 
infindáveis como constantemente é observado (ou até por alguns é vivenciado), 
por cidadãos do Brasil que utilizam a rede pública de atenção básica à Saúde. 
Cabe ressaltar, ainda, que segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, o núme-
ro correto de terapeutas ocupacionais é de um profissional para cada mil pessoas.
 19
Vemos que o conceito de rede está intimamente ligado às prerrogativas dos ser-
viços, que por sua vez estão intimamente ligados às prerrogativas profissionais. 
A partir disso, já temos parâmetros para responder as questões inicialmente 
pautadas.
Finalmente, como parte de uma análise criteriosa para o entendimento ou diag-
nóstico contextual, pela análise geopolítica proposta, pode-se obter dados va-
liosos já disponibilizados para uma avaliação e reflexão do contexto atual da 
profissão e de possíveis indicadores que justifiquem parte das dificuldades de 
crescimento e consolidação da profissão no País.
Avaliar a distribuição populacional nos permite ter uma base para planejamento 
da cobertura da atenção, quando correlacionado com a distribuição dos progra-
mas e dos serviços.
Evidenciar a população que paga por saúde e educação, por exemplo, permite 
que o gestor ou o profissional estabeleça prioridades na atenção, quando corre-
lacionado com as demandas igualmente avaliadas por região.
Saber onde há a cobertura de saúde suplementar auxilia no direcionamento/in-
vestimento dos recursos públicos, assim como o conhecimento da renda familiar 
por região, estado ou município.
Por fim, nessa breve tomada de dados geoprocessados, analisar a distribuição 
dos profissionais numa correlação com todos os cenários anteriormente descri-
tos dá um indicador quanti-qualitativo de integridade na atenção, evidenciando 
inclusive a necessidade de inserção de maior número de profissionais no cenário 
como um todo, o que certamente envolve o número e a distribuição das institui-
ções de ensino superior.
Os marcos históricos e os caminhos pelos quais a terapia ocupacional vem con-
solidando-se (em evidência/relação teoria e prática) evidenciam a correlação com 
os fundamentos que alicerçam a profissão, além de serem importantes indica-
dores para a composição do perfil profissional e do seu impacto nas diferentes 
demandas sociais, como veremos em breve.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Site
Portal Educação
https://bit.ly/44ujBN5 
Vídeos
“A Terapia Ocupacional e o Sistema Único de Assistência Social – 
Algumas Reflexões”
https://bit.ly/3EhNWDL
Terapia Ocupacional: História, Objeto-Método-Teoria e Identidade 
Profissional em Tempos de Pandemia
https://bit.ly/3Ei0X0k
O Modelo da Ocupação Humana e a Participação Ocupacional
https://bit.ly/3L2gGUP
Daniel Marinho | 100 Anos da Terapia Ocupacional 
https://youtu.be/VYfOK_3sr5s 
Homenagens aos Terapeutas Ocupacionais pelos Seus 100 Anos nos 
Estados Unidos
https://bit.ly/45z0NNZ
 
Leitura
A Terapia Ocupacional no Brasil na Perspectiva Sociológica
https://bit.ly/47Vu0o3
https://bit.ly/44ujBN5
https://bit.ly/3ncoSZV 
https://bit.ly/3EhNWDL
https://bit.ly/3Ei0X0k
https://bit.ly/3L2gGUP
https://youtu.be/VYfOK_3sr5s
https://bit.ly/45z0NNZ
https://bit.ly/3ncoSZV 
https://bit.ly/47Vu0o3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIOTECA Virtual em Saúde. Matriciamento. Disponível em: < h t t p s : / / b v s m s . s a u d 
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CARLO, M. M. R. de.; BARTALOTTI, C. C. (orgs.). Terapia ocupacional no Brasil: funda-
mentos e perspectivas. 4. ed. São Paulo: Plexus, 2001.
CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. Terapia ocupacional: fundamentação e prática. 1. ed. 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
CONSELHO Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil (COFFITO). Defi-
nição de Terapia Ocupacional. Disponível em: < h t t p s : / / w w w . c o f f i t o . g o v . b r / n s i t e 
/ ? p a g e _ i d = 3 3 8 2 >. Acesso em: 21/03/2023.
COSTA, E. F. et al. Ciência ocupacional e terapia ocupacional: algumas reflexões. Re-
vista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, Rio de Janeiro, v. 1, n. 5, 
p. 650-663, 2017. Disponível em: < h t t p s : / / r e v i s t a s . u f r j . b r / i n d e x . p h p / r i b t o / a r t i c l e 
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CRUZ, D. M. C. da. Os modelos de terapia ocupacional e as possibilidades para a prá-
tica e pesquisa no Brasil. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacio-
nal, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 504-517, 2018. Disponível em: < h t t p s : / / w w w . r e s e a r 
c h g a t e . n e t / p u b l i c a t i o n / 3 2 8 8 0 3 9 9 5 _ O s _ m o d e l o s _ d e _ t e r a p i a _ o c u p a c i o n a l _ e _ a s 
_ p o s s i b i l i d a d e s _ p a r a _ p r a t i c a _ e _ p e s q u i s a _ n o _ B r a s i l _ M o d e l s _ o f _ p r a c t i c e _ i n _ o c 
c u p a t i o n a l _ t h e r a p y _ a n d _ p o s s i b i l i t i e s _ f o r _ c l i n i c a l _ p r a c t i c e _ a n d _ r e s e a r c h _ i n _ B 
r a z i l >. Acesso em: 19/03/2023.
MORRISON, R. et al. Por que uma Ciência Ocupacional na América Latina? Possíveis 
relações com a terapia ocupacional com base em uma perspectiva pragmatista. Ca-
dernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 29, p. 1-13, 2021. Disponí-
vel em: < h t t p s : / / w w w . s c i e l o . b r / j / c a d b t o / a / f 8 F V w 6 f f p v R X g z J F 4 B x 8 7 G g / >. Acesso 
em: 19/03/2023.
PEDRAL, C.; BASTOS, P. Terapia ocupacional: metodologia e prática. 1. ed. Rio de 
Janeiro: Rubio, 2008.
Fundamentos da Terapia Ocupacional
Conteudista
Prof. Me. Adriano Conrado Rodrigues
Revisão Textual
Prof.ª Esp. Lorena Garcia Aragão de Souza
 2
OBJETIVO DA UNIDADE
Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line 
para que você assista à videoaula. Será muito importante para o 
entendimento do conteúdo.
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ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão. 
No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para 
melhor aproveitamento.
• Conhecer a visão dos principais autores da terapia ocupacional e os mo-
delos propostos para fundamentar a prática terapêutica ocupacional.
 3
Concepções 
Teórico-metodológicas
Internacionalmente, e mais precisamente nos Estados Unidos da América, as ati-
vidades humanas acabavam por direcionar o olhar do terapeuta ocupacional, 
no qual, dessa maneira, pessoas poderiam estar mais saudáveis e equilibradas. 
Nesse contexto, diferentes frentes da sociedade procuravam caminhar nessa 
direção.
Validar essa ação até então “empírica” passou a ser o papel dos terapeutas ocu-
pacionais daquela época. Essa realidade advém da relação entre economia e 
sociedade, com influência de evidências médicas e da Psicologia que ali vigora-
vam em termos de atenção àquela população, até meados do século XX. A partir 
disso, estruturar a terapia ocupacional para subsidiar de forma eficiente passou 
a ser fator prioritário para dar sustentação à profissão.
Gerar conhecimento teórico e experiências práticas delineou as ações profissio-
nais, levando os profissionais a buscarem explicação em diferentes campos do 
conhecimento. 
Estruturando a teoria e a prática profissional, os terapeutas ocupacionais passa-
ram a atuar em modelos. Os primeiros modelos de prática foram decorrentes de 
conceitos predominantemente médicos e da Psicologia.
Concomitante, a produção de pontos teóricos e práticos que validaram suas 
ações e toda essa produção de conhecimento foi possibilitando que a terapia 
ocupacional ganhasse espaço e atuasse já distante das primeiras explicações 
sobre o fazer humano, até então sem dados que subsidiassem organizadamente 
e reconhecidamente seus benefícios. A ação passou a ser analisada sob dife-
rentes pontos de vista, como motores, sensoriais, psicológicos e sociais. Isso fez 
com que a prática profissional ganhasse maior reconhecimento social, com ins-
trumentos de avaliação, técnicasespecíficas e capacidade de raciocínio clínico, 
porém com crescente distanciamento das primeiras bases da profissão, ligadas 
ao ato de “ocupar-se”, que, por si só, já era considerado “terapêutico”.
Dessa forma, com a produção de conhecimento e o impacto causado na direção 
que a profissão estava caminhando quanto ao perfil profissional, terapeutas ocu-
pacionais (nas décadas de 1960 e 1970) começaram uma revisão ou um “resgate” 
desses valores iniciais da profissão, cuja visão mais ampla e integral do ser hu-
mano era remetida à execução de tarefas.
 4
As primeiras bases teóricas utilizadas na fundamentação da terapia ocupacional 
– final de década de 1970 e início dos anos 1980 – foram fortalecidas pela cons-
trução de uma linha organizada e que considerava como base o fazer humano.
Assim, foram desenvolvidos os primeiros modelos teóricos centrados sobre as 
ocupações humanas, bem como o desenvolvimento de uma disciplina acadêmi-
ca para disseminar o conhecimento e impactar a prática profissional, cujo nome 
foi ciência ocupacional. 
Acreditou-se que o desenvolvimento da ciência ocupacional não se deu de forma 
repentina, mas sim da consciência da necessidade de uma disciplina específica 
que abarcasse todo esse conhecimento.
Nessa perspectiva é que formalmente passa a ser reconhecida a prática da te-
rapia ocupacional, suas evidências e, por consequência, a profissão em si, reco-
nhecimento esse outorgado pela então Sociedade para a Promoção da Terapia 
Ocupacional, no ano de 1917 (depois denominada “Associação Americana de 
Terapia Ocupacional”), evidenciando a ocupação humana aos profissionais e aos 
pesquisadores.
Mais especificamente em 1989, surgiu o programa de doutorado do Departamento 
de Terapia Ocupacional da Universidade do Sul da Califórnia (USC – EUA), que in-
corporou em seu programa a disciplina de ciência ocupacional, sendo berço da 
primeira publicação nessa nova área do conhecimento. 
A então professora Mary Reilly (USC – terapeuta ocupacional), que já pesquisava 
a área das ocupações, o “comportamento ocupacional”, impulsionou a nova dis-
ciplina ainda na década de 1960, com pesquisas e práticas. Seus alunos acaba-
ram por dar continuidade ao desenvolvimento, com importantes contribuições 
para a compreensão da ocupação sob o enfoque terapêutico ocupacional, ou 
seja, na prática profissional.
 5
Figura 1 – Mary Reilly (1916-2012) – Grande colaboradora para a validação da disciplina 
ciência ocupacional na Universidade do Sul da Califórnia
Fonte: chan.usc.edu
#ParaTodosVerem: fotografia colorida de Mary Reilly, terapeuta ocupacional precursora nos EUA, que 
impulsionou as primeiras pesquisas e publicações sobre ciência ocupacional. Na imagem, ela está sentada, 
virada de lado, com as duas mãos sobre o braço esquerdo de sua cadeira; está sorrindo discretamente, e 
olhando atenta, como se estivesse em pose para a foto. Fim da descrição.
Outra grande colaboradora da ciência ocupacional foi a professora Elizabeth 
Yerxa, que assumiu a coordenação do mesmo departamento na USC, com o ob-
jetivo singular de promover o crescimento da terapia ocupacional.
Nessa mesma década, os docentes desse departamento submeteram à 
Universidade uma a proposta de um programa de doutorado em terapia ocu-
pacional, que num primeiro momento foi recusada, sob justificativa de que um 
novo programa deveria ser subsidiado por um departamento cientificamente 
produtivo, fornecendo maior base teórica e evidências da prática profissional.
Foi na década de 1980 que a terapeuta ocupacional Elizabeth Yerxa e os pro-
fessores do departamento reuniram consultores para uma formação acadêmi-
ca para pesquisas “de ponta”, considerando diferentes áreas do conhecimento 
acerca da ciência ocupacional.
 6
Vídeo
Elizabeth Yerxa, precursora da ciência ocu-
pacional, foi responsável pela primeira pu-
blicação em “ciência ocupacional” (publicada 
na edição especial do periódico Occupational 
therapy in health care, em 1989). Veja o vídeo a 
seguir da Dra. Elizabeth Yerxa sobre 30 anos 
de ciência ocupacional da USC.
Ao fim da década, já havia um novo programa desenvolvido, cuja meta era de 
aprovar um curso de doutorado original, com atenção à ocupação humana; o 
projeto obteve sucesso ao pleito, e o departamento responsável foi contemplado 
com todos os recursos necessários.
Com a aposentadoria de Yerxa, a terapeuta ocupacional Florence Clark passou 
a dirigir os trabalhos de coordenação e a abertura do programa para início em 
1989.
Já em 1991, Florence Clark – terapeuta ocupacional – e seus colaboradores pu-
blicaram um novo artigo no periódico American Journal of Occupational Therapy. 
Esse artigo expressou evidências acerca da ciência ocupacional como ciência 
própria para a base prática da terapia ocupacional.
Foi a partir daí que a ciência ocupacional passou a despertar interesse da comu-
nidade acadêmica, envolvendo profissionais em diferentes espaços de evidência 
e com o apoio de renomados cientistas de diferentes áreas do saber. 
Esse movimento impulsionou o crescimento da ciência ocupacional, com maior 
expressão na Austrália, onde Ann Wilcock liderou grandes iniciativas. Naquele 
contexto, a ciência ocupacional foi aplicada diretamente ao desenvolvimento de 
programas comunitários, não necessariamente vinculados no primeiro momen-
to aos terapeutas ocupacionais, mas direcionados para a melhoria da saúde da 
população.
O primeiro periódico especializado da disciplina, intitulado como Journal of 
Occupational Science: Australia, foi lançado em 1993 pela terapeuta ocupa-
cional Ann Wilcock. Atualmente, esse periódico científico chama-se “Journal of 
Occupational Science”, e sua atenção está direcionada à publicação de artigos in-
terdisciplinares na área das ocupações humanas. 
https://bit.ly/3EfUoev
https://bit.ly/3EfUoev
 7
Hoje em dia, a ciência ocupacional se desenvolve em países da América do Norte, 
da Europa, da Oceania, da Ásia e da América do Sul, em que, nesse último conti-
nente, dou ênfase aos países Chile e Brasil pela relevância científica. Um cresci-
mento mais discreto é notado nos países do continente Europeu, onde a ciência 
ocupacional ainda divide espaço e consideração, sendo menos difundida.
Nesse contexto, devemos entender que quando remetida à terapia ocupacio-
nal, o desenvolvimento da ciência ocupacional nunca foi unanimidade defendida 
entre os pesquisadores na cena internacional.
Discussões sobre pontos favoráveis e desfavoráveis sobre a pertinência dessa 
linha científica para fundamentar a terapia ocupacional foram levantados desde 
o seu surgimento. Apesar disso, é inegável o grande volume de produção acerca 
dessa disciplina; a ciência ocupacional é estudada por pesquisadores em correla-
ção com a terapia ocupacional, principalmente por meio de revisões de literatura.
Pode-se dizer que a classificação do ser humano como “um ser ocupacional” foi 
o que pesquisadores buscaram estudar dentro dessa nova ciência, o que levou 
ao delineamento de bases e fundamentos para terapia ocupacional. Nessa pers-
pectiva, temos aqui um importante marco para a profissão.
A ocupação humana representa o constructo da ciência ocupacional, que soma-
do aos conceitos de saúde, inclusão e participação das pessoas passa a dimen-
sionar os campos de ação. Essa disciplina encontra-se ainda hoje em corrente 
movimento de crescimento para consolidar-se na proporção de sua importância. 
Uma boa referência de valor está justamente na formação ou na competência de 
quem atua nesse campo, seja academicamente, seja na prática profissional.
O novo programa de doutorado em ciência ocupacional da Universidade do Sul 
da Califórnia foi integrado por sete pioneiros pesquisadores (discentes). O pro-
grama obteve grande expressão na Academia Americana.
Hoje em dia, em âmbito mundial, várias disciplinas em graduação e pós-gradu-
ação contemplam áreas da ciência ocupacional, inclusive ligadas diretamente à 
formação de terapeutas ocupacionais. Hoje, há mais de uma centena depessoas 
pós-graduadas em ciência ocupacional.
No mundo, formaram-se diversos grupos de pesquisa na área da ciência ocu-
pacional. O principal foi a Sociedade Internacional para a Ciência Ocupacional 
(International Society for Occupational Science), voltada a advogar por um mundo 
“ocupacionalmente justo”, onde as pessoas não só encontrem espaço para o que 
precisam, mas também para o que querem fazer em suas vidas.
 8
Esses grupos direcionados à promoção da ciência ocupacional possuem a missão 
de aproximar profissionais e instituições ligadas à pesquisa e à educação sobre 
ocupação humana e a sua relação com saúde e com desenvolvimento, dando 
evidência e impulsionando o tema em que circulam as produções científicas de 
maior impacto.
A ciência ocupacional já é reconhecida pela Federação Mundial dos Terapeutas 
Ocupacionais e suas bases teórico-metodológicas já orientam padrões interna-
cionais de formação em terapia ocupacional.
Muita produção de conhecimento tem sido desenvolvida a partir da ciência ocu-
pacional, e essa é uma excelente maneira de consolidar a disciplina mundialmen-
te, inclusive com a publicação de livros e artigos, que podem ser bons indicado-
res de crescimento e reconhecimento.
Figura 3 – O primeiro livro sobre ciência ocupacional, “Occupational Science: the Evolving 
Discipline”, 1996. Autores e editores: Ruth Zemke e Florence Clark
Fonte: Divulgação
#ParaTodosVerem: imagem da capa de um livro que aborda a ciência ocupacional. A capa é em azul, 
representando o espaço, com esboço de um globo e um ponto de luz ao longe; é considerado o primeiro livro 
sobre o assunto, datado de 1996, cujo título é “Ciência ocupacional: a disciplina em evolução”. Fim da descrição.
 9
Figura 4 – Ann Wilcock (1998), quando em seu doutorado na área da saúde comunitária, 
publicou o segundo livro sobre ciência ocupacional com o título “An occupational perspec-
tive of health” ou, em tradução livre “Uma perspectiva ocupacional para a saúde”
Fonte: Divulgação
#ParaTodosVerem: imagem da capa de um livro que aborda a ciência ocupacional. A capa é nas cores 
azul e verde, ressaltando um globo terrestre em dourado, datado de 1998, cujo título é “Uma perspectiva 
ocupacional para a saúde”. Fim da descrição.
O número de pesquisas e trabalhos acadêmicos publicados em periódicos espe-
cializados também pode ser indicativo de consolidação da ciência ocupacional. 
Desde 1993, o periódico “Journal of Occupational Science” apresentou crescimento 
contínuo de edições até 2010, o que reflete no maior número de publicações. 
Assim como nesse periódico, outros periódicos científicos também aparecem com 
a ciência ocupacional em evidência e crescentes publicações. Entre eles estão o 
“The American Journal of Occupational Therapy” e o “The Scandinavian Journal of 
Occupational Therapy e Work”. 
Os “Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional” e a “Revista Chilena de Terapia 
Ocupacional” também apresentam publicações na área da ciência ocupacional, 
representando grande expressão na América Latina. 
 10
Essas pesquisas levaram a importantes reflexões sobre as ocupações e o ser hu-
mano, o qual passou a ser considerado como “ser ocupacional”.
Já é possível dizermos que há uma estrutura conceitual para analisar o conheci-
mento gerado por essa ciência. A base se dá principalmente na compreensão do 
papel central da ocupação, o que nos leva a abordar a ocupação humana numa 
dimensão mais profunda, considerando suas particularidades e como se orga-
nizam os processos ocupacionais nessa lógica. Há que considerar as questões 
subjetivas presentes nesses conceitos, em que cada pessoa terá uma relação 
com as atividades sob diferentes aspectos, e que não serão os mesmos de uma 
para as outras; além de poderem não ter o mesmo significado. Existem muitos 
fenômenos, como saúde, qualidade de vida, identidade, desenvolvimento huma-
no, políticas e estruturas sociais que também podem influenciar essa relação.
Na descrição de experiências gerais relacionadas à ocupação humana, podemos 
também dividir o conhecimento. A ocupação humana pode ser dividida em dife-
rentes eixos, como o desenvolvimento de fundamentos teóricos para a terapia 
ocupacional e a contribuição da ciência ocupacional para alcançar justiça e trans-
formação social.
As pesquisas atuais sobre essa disciplina trazem uma diversidade ampla de 
cenários ou públicos e isso também pode ser considerado relevante para o 
que estamos observando em termos de consolidação da terapia ocupacional 
como profissão de extremo valor, principalmente nos países considerados em 
desenvolvimento.
Assim, torna-se relevante o reconhecimento de diferentes perspectivas de es-
tudo em ciência ocupacional. Está claro que não existe uma visão única sobre 
ocupação humana, bem como o melhor método de estudo a ser utilizado.
Isso pode ser decorrente da relação da disciplina com a terapia ocupacional e 
dos próprios pesquisadores e profissionais terapeutas ocupacionais, que costu-
mam não seguir um único modelo como base. Esse cenário é levado a debates e 
a reflexões sobre os rumos da ciência ocupacional, seu processo de amadureci-
mento e até o impacto no crescimento e na evidência da profissão.
Fica claro que no campo da ciência ocupacional indivíduos, famílias, comuni-
dades e população são considerados campos de pesquisa e desenvolvimento 
de práticas. Dentro disso, já correlacionando questões anteriormente trazidas, 
essas pesquisas direcionam o olhar para as experiências subjetivas das pessoas, 
bem como a relação das ocupações nos contextos de grupos e comunidades. 
 11
Como vemos, diferentes métodos e estratégias de pesquisa expressaram a di-
versidade de possibilidades, cujos pontos principais de atenção eram a forma, a 
função e os significados das ocupações humanas. 
As Ciências Sociais deram modelo metodológico para os desenhos das pesqui-
sas, principalmente em análises qualitativas e narrativas.
A partir daí, influências das Ciências Biológicas, da Epidemiologia e da saúde pú-
blica compuseram novas frentes de desenvolvimento, dando base para a emi-
nente necessidade de aporte teórico para a terapia ocupacional, com novos de-
senhos de pesquisas quantitativas.
O aprofundamento do olhar e a ampliação do saber ao longo dos anos levou à 
necessidade de um pluralismo metodológico, no qual várias abordagens (quanti-
tativas, qualitativas e mistas) e diferentes instrumentos para coleta de dados da 
prática, como entrevistas, métodos visuais e estudos do uso do tempo, deram 
subsídio para diferentes caminhos, contemplando, assim, questões mais com-
plexas, inerentes ao ser humano e à sua contemporaneidade.
Como resultado, temos uma classificação dividida em quatro diferentes níveis 
interdependentes, para objetivos distintos:
• Estudos descritivos que possam descrever e explorar os diferentes aspec-
tos e os contextos das ocupações, bem como as experiências e os signifi-
cados contidos na relação de uma pessoa com suas atividades ou ações;
• Pesquisas que explorem ocupações a partir de conceitos e aspectos de 
ciências correlacionadas, como aspectos específicos gerados por defici-
ências, condição de saúde, questões culturais, questões de vulnerabili-
dade ou identitárias; 
• Pesquisa em ciência ocupacional (preditiva), que aprofunda o olhar do 
pesquisador, com a busca de padrões de ocupação nas populações, in-
fluências temporais, espaciais e sociais dos diferentes contextos. Isso ad-
vém de descobertas da pesquisa descritiva e relacional, cujo perfil é de 
identificação; 
• Pesquisa que envolve os estudos prescritivos; avalia a efetividade das 
práticas baseadas na ocupação humana. Esse é o tipo de pesquisa em 
que há o maior engajamento de terapeutas ocupacionais.
É certo que diferentes tipos de pesquisas e diferentes desenhos metodológicos 
podem contemplar diferentes variáveis e, assim, obter uma maior diversidade de 
 12
resultados; em sua maior parte, o objeto de pesquisa é o homem e as atividades 
que exerce (ou ocupações)em sua vida cotidiana. Fica claro, também, que dife-
rentes ciências podem contribuir de forma mais completa para referenciar toda 
a amplitude de ação da terapia ocupacional.
Desde que surgiu, muitos autores abordaram os impactos da ciência ocupacional 
na estruturação da prática da terapia ocupacional, seja para a produção literária, 
seja para a prática clínica.
O consenso se dá à medida que todos os pesquisadores em ciência ocupacional 
buscam a melhoria da assistência diante da complexidade do ser humano e de 
suas experiências existenciais (ou a falta delas) nas ocupações, para determinar 
as práticas que impactem esse objetivo.
É interessante observar o quanto a ciência ocupacional se desenvolveu também 
em termos de aplicação, respondendo a questões sociais ou comunitárias de 
forma menos positivista e, portanto, mais humanizada.
Enquanto por um lado temos as contribuições da ciência ocupacional para o de-
senvolvimento de uma perspectiva ocupacional sobre o ser humano, por outro 
ela se volta para o raciocínio clínico e para a prática terapêutica ocupacional. 
Alguns estudos têm demonstrado, inclusive, a efetividade de conceitos e teorias 
da ciência ocupacional em diferentes públicos em que já há a atuação do tera-
peuta ocupacional.
De forma mais específica, caminhos foram ampliados na compreensão dos sig-
nificados ocupacionais, as produções científicas passaram a apresentar evidên-
cias importantes para a correlação entre ocupação e espiritualidade, e seus re-
sultados passaram assim a ser mensurados, impactando a prática terapêutica 
ocupacional. 
Exemplos como esse expressam o quão ricas podem ser as abordagens na com-
posição da prática da terapia ocupacional, no campo da ciência ocupacional. 
Em tempos mais atuais, já no Século XXI, com a consolidação das bases teóricas e 
metodológicas da ciência ocupacional (determinantes de forma, função e signifi-
cado ocupacional), mais possibilidades advieram para as necessidades ocupacio-
nais e para a “análise da ocupação compartilhada”, para a “justiça ocupacional” e 
para a “lacuna ocupacional” – novos conceitos que passaram também a deman-
dar atenção.
No Brasil, País de diferentes realidades, é possível levantar algumas possibilidades 
de contribuição com os resultados gerados em pesquisas no campo da ciência 
 13
ocupacional. A incidência e a prevalência de doenças crônicas como principal 
problema na saúde da população brasileira, atualmente estão relacionadas a 
casos de hipertensão arterial e diabetes, que, inclusive, levam a inúmeras outras 
doenças associadas, se não tratadas a tempo.
Quais seriam as ocupações de uma pessoa com hipertensão arterial? 
Como uma situação de doença crônica pode influenciar nas ocupações desem-
penhadas pelos membros de uma família? 
Como contextos sociais, políticos, econômicos e culturais influenciam as ocupa-
ções das pessoas? E como isso pode estar relacionado ao envolvimento em fa-
tores de risco para o aparecimento de doenças crônicas, como o sedentarismo, 
a obesidade, os hábitos alimentares não saudáveis e o tabagismo, por exemplo?
Atentemos aqui para a pertinência das práticas baseadas nas ocupações dessas 
pessoas para melhorar as condições de saúde, bem como a participação na so-
ciedade, além de impactar a qualidade de vida e o aumento da participação e da 
autonomia da população em geral. Mais pesquisas podem gerar ainda mais evi-
dências (como já dito ao longo deste texto) sobre a importância dessa disciplina 
para a composição da prática da terapia ocupacional.
Como podemos correlacionar de forma organizada todos esses conceitos em 
direção da prática terapêutica ocupacional?
A compreensão dos conceitos: estrutura da prática, abordagem e modelo de prá-
tica indica diferentes formas de organizar a intervenção terapêutica ocupacional; 
tal compreensão indica terminologias, métodos e formas de avaliar e intervir, 
além de referenciais específicos que fundamentam as práticas propostas.
Estrutura da Prática
Esse conceito está presente na publicação da American Occupational Therapy 
Association – AOTA, no American Journal of Occupational Therapy: “Occupational 
therapy practice framework: domain and process” ou, como traduzido para a lín-
gua portuguesa: “A estrutura da prática da terapia ocupacional: domínio e pro-
cesso”, que traz conceitos de base que fundamentam a prática terapêutica ocu-
pacional e leva a um estado de resposta sobre os princípios da profissão.
A estrutura não serve como uma taxonomia teórica ou um modelo de terapia 
ocupacional. Isso é tido como uma proposta desenvolvida para nortear a visão 
que terapeutas ocupacionais norte-americanos podem propor às suas práticas. 
 14
O domínio nos remete a conceitos, classificando as ocupações por áreas; pro-
cesso nos remete à forma de avaliar e intervir. Ambos seguem o olhar sob a 
ocupação humana como eixo central, e trazem termos como “papel ocupacio-
nal”, “desempenho ocupacional” e “processo da terapia ocupacional” como áreas 
conceituais objetivas. 
Abordagem
A abordagem não traz em si uma questão ocupacional, mas pode determinar os 
caminhos pelos quais a teoria é colocada em prática, fornecendo meios especí-
ficos de tratamento ou intervenção, em acordo com a demanda do paciente ou 
clientela assistida pelo terapeuta ocupacional.
Os modos de intervenção são diversificados e recebem influência da trajetória 
de formação e experiência do profissional. A abordagem é tida como expressão 
ideológica do terapeuta ocupacional, ou seja, aquilo que ele acredita que será 
bom para compor sua prática ou sua intervenção.
Modelo de Prática
O modelo é definido como um conjunto de ideias derivadas de vários campos de 
estudo, organizadas para sistematizar e integrar os elementos teóricos e práti-
cos; uma ferramenta representativa que ordena, categoriza e simplifica fenôme-
nos complexos, ou uma representação simplificada da estrutura e do conteúdo 
de um fenômeno ou sistema e da complexa relação entre seus conceitos.
Os modelos de prática consideram a filosofia da profissão, fornecem termos para 
descrever, instrumentos para avaliar e orientam a intervenção.
A compreensão desses conceitos (estrutura da prática, abordagens e modelo de 
prática) é muito importante, pois eles indicam uma forma de organizar e dar sub-
sídios conceituais e técnicos para a intervenção terapêutica ocupacional.
Modelos de Terapia 
Ocupacional
Os modelos de terapia ocupacional aparecem nos países norte-americanos a 
partir do final da década de 1970, momento em que avançar nos fundamentos 
da profissão era reflexo da necessidade de avançar também em cientificidade e 
 15
identidade profissional, na intenção de “quebra” de paradigma do modelo médi-
co, para o paradigma da ocupação, organizando as práticas de intervenção para 
estabelecer uma linguagem única e evidenciar os resultados da terapia ocupacio-
nal para maior reconhecimento e inserção nas políticas de saúde (e consequente 
cobertura à assistência).
Ao remontarmos à história e aos fundamentos da terapia ocupacional no que 
concerne aos fatores de influência na concepção e no desenvolvimento dos mo-
delos de prática profissional, vemos que isso emerge ao longo dos anos em cor-
relação estreita com o fortalecimento da identidade profissional.
Os fundamentos iniciais da profissão que impactaram o desenvolvimento cien-
tífico e, por consequência, a necessidade de modelos datam da época em que 
Eleanor Clarke Slagle – eleita a principal fundadora da primeira escola de forma-
ção regular de terapia ocupacional nos Estados Unidos da América (1913-1914) – 
foi impulsionada para atenção aos soldados feridos na Primeira Guerra Mundial, 
pautando-se na análise sobre os hábitos de vida. 
A ideia principal era que hábitos de vida saudáveis levariam os pacientes a uma 
vida mais saudável.
Temos, ainda, que, a partir da década de 1940, com a criação das primeiras en-
tidades de classe, apontou-se para a falta de suporte teórico que sustentasse a 
prática profissional.
A buscapor maior conhecimento, inicialmente nas áreas médicas e de Psicologia, 
conferiu aos profissionais maior domínio nessas áreas (biológicas e emocionais), 
ou seja, a relação entre patologias e o processo de terapia ocupacional.
Mary Reilly, nos anos 1960 e 1970, retratou bem esse cenário, o qual, através do 
olhar sobre o “comportamento ocupacional”, passou a influenciar as produções 
teóricas sobre os fundamentos da terapia ocupacional.
O comportamento ocupacional partiu do pressuposto de que a ocupação era 
o centro e o método da área, sob os pontos de vista da Filosofia, da Psicologia, 
da Sociologia e da Antropologia, buscando fundamentar um princípio geral que 
norteasse a profissão. 
O comportamento ocupacional, subsidiado pelos conceitos da adaptação ao tra-
balho e ao jogo, da motivação para a ocupação, da adaptação no tempo e dos 
papéis ocupacionais, definiu os campos de atuação profissional nos EUA, dando 
base para as pesquisas em terapia ocupacional.
 16
Foi somente a partir da década de 1970 que passamos a nos aprofundar nas sin-
gularidades da prática terapêutica ocupacional, fortalecendo os princípios e de-
finindo os elos de ligação entre as diversas áreas de atuação da profissão; mais 
especificamente sobre o que se produzia sobre a ocupação humana.
Assim surgiu o Modelo da Ocupação Humana, no qual o olhar deixou de ser para 
a patologia ou para a doença e passou a ser direcionado para o estudo da ocupa-
ção ou da ciência ocupacional.
No Brasil, os fundamentos da terapia ocupacional analisados a partir das corren-
tes filosóficas positivista, humanista e materialista-histórica trouxeram contribui-
ções para realizar uma análise crítica do contexto sociopolítico e econômico das 
práticas em terapia ocupacional realizadas. Mas, ainda assim, houve a necessida-
de de ampliação para abordar toda a complexidade das intervenções em terapia 
ocupacional.
Nesse novo olhar, os terapeutas ocupacionais das décadas de 1980 e 1990 pas-
saram a considerar o cotidiano das pessoas, bem como a dimensão cultural e 
a influência/significado das atividades assumidas no dia a dia como fatores de 
qualidade de vida. 
A ocupação passa a relacionar-se com o cotidiano através das vivências ou das 
experiências de vida, considerando, inclusive, o senso comum.
Cotidiano surge como conceito crítico na terapia ocupacional no Brasil, em 1988, 
entendido como construção sócio-histórica que possibilita conhecer as condi-
ções concretas de existência de sujeitos e coletivos. 
A partir de 1990, constitui-se como um dos eixos norteadores de práticas eman-
cipatórias. Seu uso desde 2010 cresce na produção nacional, de modo significati-
vo, seja como simples termo, noção ou conceito, seja como categoria de análise. 
Nos anos 2000, os projetos de vida, as atividades do cotidiano e as rotinas das 
pessoas passam a protagonizar no raciocínio clínico do terapeuta ocupacional; 
é no cotidiano que temos o uso do tempo, o ambiente em que o indivíduo está 
inserido, as atividades do seu dia a dia e os papéis que ele assume na vida.
Seguimos no século XXI aprofundando cada vez mais a análise do cotidiano como 
palco de manifestação de singularidades, baseada em referências culturais e nas 
relações de produção de uma determinada sociedade, e não somente nas áreas 
de desempenho do sujeito em seu cotidiano, ou seja, a terapia ocupacional no 
Brasil passa a atuar com base numa correlação de concepções sobre o ser huma-
no – elementos de base teórica de diferentes ciências – o que o torna capaz de 
 17
abarcar as demandas advindas de uma população diversa (nos aspectos cultural 
e social) e, em grande parte, ocupacionalmente adoecida.
A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) da Organização Mundial da 
Saúde (OMS) traz uma reflexão a partir de um modelo filosófico em que a condição 
de saúde é estabelecida de uma forma dinâmica, partindo dos seus conceitos, ou seja, 
da funcionalidade e da incapacidade e dos fatores de contextos pessoal e ambiental. 
A funcionalidade e a incapacidade estão relacionadas às estruturas e às funções 
corporais, aos componentes da atividade e da participação em alguma situação 
da vida real e não dissociadas do contexto pessoal e do ambiental. Esse modelo 
levanta questões éticas e sociais importantes para dimensionar a reabilitação e a 
real inclusão de pessoas, quer sejam deficientes ou não. 
Nesse ideal, a elaboração de políticas públicas, bem como de estratégias de ação 
depende de informações a partir de dados da necessidade de reabilitação e in-
clusão. Daí a importância de estabelecermos uma linguagem única ou universal 
de classificação.
No ano de 2011, um relatório da OMS, em conjunto com o Banco Mundial revelou 
que cerca de 15% da população mundial, o que corresponde a mais de um bilhão 
de pessoas, têm algum tipo de deficiência, e que 20% dessas pessoas enfrentam 
dificuldades expressivas em sua vida cotidiana. Esses números desencadeiam 
demandas específicas, bem como indicadores de atenção para planejamento fu-
turo de gestão.
Esses dados (mundiais ou nacionais) revelam o crescimento da população que 
convive com pessoas deficientes, e que assim pode atentar às reais necessidades 
de ação para garantir questões básicas como o acesso a serviços de saúde e o 
respeito aos direitos de cidadão.
Nesse processo de evolução científica, resultam dois pontos importantes: o pri-
meiro é a questão da evolução tecnológica, que, impulsionada, cresce proporcio-
nalmente à necessidade de resolução de problemas complexos, gerando solu-
ções para as áreas envolvidas, como, por exemplo, a saúde e a reabilitação; e a 
necessidade de capacitação profissional ou a educação continuada, pois quanto 
maior a sustentação teórica, maiores as alternativas de prática possíveis.
Próteses biocompatíveis e sensoriais, cadeiras de rodas leves e ágeis, casas in-
teligentes, telessaúde com orientações por videochamadas, robótica, jogos 3D, 
estratégias de atenção territoriais, abordagens em neuroplasticidade são bons 
exemplos do quanto as novas tecnologias advindas dessas áreas do saber podem 
determinar uma melhor relação do ser humano com as atividades que realiza. 
 18
Com relação às atividades (aquelas realizadas na rotina cotidiana pelo ser huma-
no), o termo Atividades da Vida Diária (AVD) aparece desde o início das profissões 
relacionadas à saúde, entre elas a terapia ocupacional. 
Foi nas duas grandes guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) que houve a 
aproximação do terapeuta ocupacional com as atividades diárias que executa-
va, e essa era uma questão importante, pois caracterizava como o profissional 
responsável pela reabilitação direcionada à independência nessas atividades ou 
ocupações trabalhava promovendo inclusão através da terapia ocupacional. Essa 
abordagem pode ser observada na prática de terapeutas ocupacionais e acaba 
por caracterizar a profissão. 
Transcorridos mais de cem anos, essas abordagens que trazem as questões das 
AVD se desenvolveram conceitualmente e, também, no âmbito prático para o 
desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisas, cujos resultados compro-
vam o efeito das intervenções relacionadas às AVD para diferentes populações e 
deficiências. 
Mais uma vez temos a Associação Americana de Terapia Ocupacional (AOTA) 
protagonizando no cenário teórico-prático terapêutico ocupacional, com o con-
ceito de AVD, em 2014. As AVD foram definidas como atividades orientadas em 
direção aos cuidados com o próprio corpo, também referidas como Atividades 
Básicas da Vida Diária (ABVD) ou pessoais da vida diária (APVD). São tidas como 
atividades fundamentais para a manutenção da vida em sociedade. 
As pessoas que estão satisfeitas com os papéis que desempenham em suas roti-
nas, de modo geral, são aquelas que possuem os recursos e as capacidades para 
desempenhar suas AVD, que são consideradas como uma forma de ocupação 
e subdivididas em: banho e tomar banho, toalete e higiene, vestir-se, comer e 
alimentar-se, mobilidade funcional,cuidado com dispositivos pessoais, higiene 
pessoal e arrumar-se e atividade sexual.
Já as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) são aquelas atividades que 
suportam a vida diária dentro de casa e na comunidade e que, frequentemen-
te, requerem interações mais complexas ou elaboradas do que as AVD. Essas 
atividades incluem cuidar de outras pessoas, cuidados com animais, cuidar de 
crianças, administração da comunicação, dirigir e ter mobilidade na comunidade, 
administração das finanças, administração da saúde e a sua manutenção, admi-
nistração e estrutura da casa.
 19
Na equipe de reabilitação, o terapeuta ocupacional é o profissional mais espe-
cializado e indicado para ensinar os pacientes a restaurar seu papel de pessoa 
independente, à medida que enfoca essas atividades nas suas diferentes abor-
dagens de reabilitação e, através de sua análise, incorporando isso no raciocínio 
clínico profissional.
Os processos de reabilitações física, mental ou social que buscam abordar as 
AVD tendem a promover que os indivíduos retornem gradualmente às suas ativi-
dades conforme a melhora de suas capacidades.
Por outro lado, a abordagem adaptativa enfoca a terapia centrada nas AVD como 
um desfecho da reabilitação, ou seja, quando as capacidades não podem ser 
completamente restauradas e requerem adaptações que modificam o ambiente, 
a forma de realizar a atividade ou um dispositivo que compense um déficit ou 
uma deficiência.
Dessa forma, interpreta-se que os conceitos de AVD e AIVD como ocupações re-
metem a uma abordagem de reabilitação que contemple o uso de tecnologias 
diversas, da adequação política, cultural, pessoal, ambiental e familiar de forma 
integrada como parte do escopo de atuação do terapeuta ocupacional. 
Embora as AVD e AIVD estejam incorporadas na prática desse profissional, a com-
plexidade dos casos costuma exigir o envolvimento de outros profissionais ou 
disciplinas, de forma integrada e compartilhada, incluindo questões essenciais 
para o desenvolvimento da avaliação, a intervenção e os resultados, os quais 
compõem o processo da terapia ocupacional. 
Reuniões periódicas em que os membros da equipe possam trocar informações, 
estabelecer necessidades e elencar os recursos que serão utilizados na aborda-
gem às AVD tendem a fortalecer as características multiprofissionais e interdisci-
plinares presentes.
As AVD são tidas como atividades que refletem a vida pessoal do indivíduo. O 
vestuário não se trata apenas do ato de vestir-se e despir-se, mas reflete um 
estilo e marca uma característica de individualidade. O comer e o alimentar-se 
não se tratam apenas de deglutir e levar um talher até a boca, mas envolve um 
momento familiar ou com amigos, tornando-se um ritual social. Banhar-se e en-
xugar-se envolve privacidade, tocar o próprio corpo, cuidar de si a cada dia; um 
momento de relaxar. Nessa perspectiva, o repertório de AVD deve ser refletido 
entendendo-se a dimensão do impacto da perda de autonomia na vida dos indi-
víduos, pensando-se no valor e na representação dessas atividades. 
 20
Por fim, pensar a reabilitação a partir da análise dos indivíduos partindo das AVD en-
volve a integração de diferentes abordagens, pois não se reabilita uma parte do corpo, 
e sim uma pessoa que realiza atividades significativas e necessárias à sua vida.
Identificar se o uso de uma órtese de membro superior interfere na marcha 
ou avaliar se um melhor posicionamento de cabeça durante a atividade de 
alimentação de um paciente, no fonoaudiólogo e no terapeuta ocupacional, 
pode ser possível, bem como determinar o melhor momento para a prescrição 
de uma cadeira de rodas são exemplos de questões que irão aparecer na rotina 
de reabilitação do paciente. 
Esses exemplos espelham ações que envolvem o conhecimento de diferentes 
disciplinas da área da saúde, além do respeito e a valorização do trabalho em 
equipe. As ações interdisciplinares permanecem um desafio constante na forma-
ção e na atuação dos profissionais que trabalham e/ou desejam trabalhar com 
reabilitação de pessoas com deficiência e a sua real inclusão. 
Todo esse aporte conceitual nos leva aos modelos de prática e como foram ela-
borados ou pensados e considerados para referenciar as intervenções, gerando 
evidências e fortalecendo ainda mais as linhas de pesquisa correlacionadas, e 
fortalecendo o raciocínio clínico dos profissionais.
Entre os principais modelos (alguns considerados por terapeutas ocupacionais e 
pesquisadores no Brasil), podemos citar:
• Canadian Model of Occupational Performance and Engagment (CMOP-E);
• Modelo da Ocupação Humana;
• Person-Environment Occupation (PEO);
• Person-Environment-Occupational-Performance (PEOP);
• Kawa Model.
O ensino de graduação em terapia ocupacional pode ser direcionado curricu-
larmente para preparar os alunos para o cenário da saúde, usando estratégias 
ativas de ensino e aprendizagem com ênfase em um método. Os alunos seguirão 
estratégias de avaliação e intervenção baseadas em pesquisas e em evidências. 
A base para o curso pode ser, por exemplo, como o programa curricular de te-
rapia ocupacional da Washington University School of Medicine, referenciado no 
modelo People-Environmental-Occupation-Performance (PEOP), como descrito na 
figura 5, logo a seguir.
 21
Figura 5 – Modelo Curricular – Círculos de interseção (diagrama) representando o pro-
grama curricular de terapia ocupacional da Washington University School of Medicine, em 
St. Louis, EUA
Fonte: Adaptada de WashU
#ParaTodosVerem: imagem com seis círculos dispostos em interseção, num total de dez setores, 
representando a base conceitual (conceitos descritos em seus interiores) que caracteriza o programa 
do curso de terapia ocupacional (e, portanto, o perfil profissional) da universidade. Os setores externos 
trazem os conceitos de crescimento profissional, imersão em prática baseada em evidências, perspectivas 
biomédicas e socioculturais, modelo People-Environmental-Occupation-Performance (PEOP) e engajamento 
cívico. Os setores internos trazem os conceitos de antirracismo, equidade, diversidade, inclusão e justiça. 
Os círculos possuem fundos em tons pastéis nas cores verde, azul e amarelo, com dizeres (conceitos) 
centralizados, internamente, em preto. Fim da descrição.
O Modelo da Ocupação Humana foi o mais difundido (maior número de publica-
ções associadas e evidências da prática); é direcionado à ocupação e é centrado 
no cliente.
Esse modelo é decorrente do trabalho de Gary Kielhofner, a partir de sua atua-
ção com pacientes lesados medulares acidentados de guerra.
No Brasil, parte dos profissionais busca sustentação nas ciências filosóficas, nas 
sociais e na Psicologia para as práticas realizadas, por responderem às questões 
de vulnerabilidade social do País.
Ainda, parte dos profissionais parece utilizar as terminologias ou os instrumen-
tos disponibilizados pelos modelos, o que auxilia na direção para as práticas 
realizadas.
 22
Concluímos, então, que o crescimento da profissão, historicamente, não ocorre 
de forma linear e único, e sim, decorre de ciclos, eventos ou acontecimentos, 
com grande influência do contexto ou das pessoas que serão atendidas; mas é 
fundamental considerar também a importância de uma linguagem universal – 
os modelos podem auxiliar nesse processo, com a padronização conceitual e a 
mensuração/avaliação dos resultados, fortalecendo, portanto, as singularidades 
do campo profissional ou a interligação entre os diferentes campos de conheci-
mento, o que iremos explorar mais profundamente em breve.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Site
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional – Brazilian Journal of 
Occupational Therapy
https://bit.ly/45PUqW6 
 
Vídeos
“Avaliação da Participação Ocupacional no Instrumento MOHOST 
Brasil”
https://bit.ly/3PhBPwP
Aplicando a Teoria à Prática
https://bit.ly/44vRI76
COPM – Medida Canadense de Desempenho Ocupacional
https://bit.ly/3OZpcoO
https://bit.ly/45PUqW6
https://bit.ly/3ncoSZV

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