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História da Terapia Ocupacional Conteudista Prof. Me. Adriano Conrado Rodrigues Revisão Textual Prof.ª Esp. Lorena Garcia Aragão de Souza 2 OBJETIVOS DA UNIDADE Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis- ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão. No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para melhor aproveitamento. • Compreender os aspectos que influenciaram na formação da identidade profissional e a relação entre diferentes culturas; • Conhecer os principais marcos históricos da terapia ocupacional, desde a sua concepção até os dias atuais. 3 Aspectos Ontológicos da Terapia Ocupacional “Se temos uma doença ocupacional, por que não uma terapia ocupacional?” Essa frase foi proferida pelo então arquiteto George E. Barton, por volta de 1914. Além de ser considerada a primeira vez em que o termo “terapia ocupacional” foi citado, ela nos remete a uma situação de causa e efeito. Porém, uma análise mais criteriosa nos leva à busca do entendimento sobre a complexidade do ser humano, ou seja, questões relacionadas à sua existência, à sua consciência, ao seu papel social e às atividades que desenvolve, ao ambiente em que interage, e questões que auxiliem na manutenção da sua saúde e do seu bem-estar. Pode-se dizer também que nascemos a partir do sentimento de compassividade, frente às adversidades; eventos como guerras, pandemias e outras situações em que o ser humano é impactado de forma ampla (física, emocional e socialmente), tendem a demandar a atenção terapêutica ocupacional, e assim acabam por dar evidência sobre a importância desse profissional nos diferentes contextos. Figura 1 – Artigo de Hart e Albert Bushnell (1919, 15 de julho). War pensions and something better Fonte: THE MENTOR ASSOCIATION, 1919, n. p. #ParaTodosVerem: artigo de jornal, datado de 15 de julho de 1919, composto de texto e foto de veteranos de guerra pensionistas norte-americanos (Primeira Guerra Mundial), executando atividades manuais de seus interesses, como proposta para reinserção social, dando a entender que a condução clínica seria oferecida por terapeutas ocupacionais. Fim da descrição. 4 Certamente, isso influenciou ao longo do tempo a formação da identidade desse pro- fissional, nos remetendo aos aspectos ontológicos e epistemológicos da profissão. Enquanto a epistemologia se preocupa com a natureza do conhecimento, de que lugar ele surgiu, como foi formado e quais suas bases, a ontologia, ramo da me- tafísica, está preocupada em identificar as coisas que realmente existem. Na terapia ocupacional, esse “encontro” se dá à medida que pesquisamos e cor- relacionamos os elementos pessoais e constitutivos da profissão – as experiên- cias (e as evidências) da prática contextualizada e dos campos de pesquisa ou o olhar científico para a ocupação humana. Assim, considerando os elementos constitutivos da profissão, temos a seguinte configuração para definição: • Objeto: um substantivo, ao qual é lançado o olhar da profissão. Na tera- pia ocupacional, a ação, o fazer humano, a atividade, o ambiente, o coti- diano, entre outros, têm sido considerados como objetos da profissão; • Objetivos: metas ou resultados que se deseja alcançar a partir da in- tervenção profissional (por exemplo, melhorar o desempenho nas ati- vidades, aumentar a autonomia da pessoa na realização de tarefas de seu interesse, promover independência nas atividades da vida diária ou prática, promover maior participação ou inclusão social, entre outros); no objetivo, o “verbo” é a essência; • Instrumentos de trabalho: caracterizam as intervenções, próprias de cada profissão; recursos terapêuticos e metodologia de trabalho do profissional; • Clientela: uma realidade, uma pessoa ou um grupo, como parte de um contexto institucional ou social. Caracteriza o público-alvo da abordagem terapêutica ocupacional. Ao longo dos mais de cem anos de existência da terapia ocupacional no mundo, e mais de cinquenta anos no Brasil, inúmeras definições foram publicadas. Para um olhar temporal e uma análise da evolução das características ontológicas e epistemológicas da profissão, trago três momentos: A primeira definição de terapia ocupacional, realizada em 1922, pelo médico H. A. Pattison, foi: “qualquer atividade, mental ou física, claramente prescrita e orientada, com o objetivo específico de contribuir para o tratamento e acelerar a recuperação de uma doença ou trauma” (CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C., 2007, págs. 10-16). 5 A literatura brasileira traz uma definição formulada pelo curso de terapia ocupa- cional da Universidade de São Paulo (USP), como segue: É um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emanci- pação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas a problemá- tica específica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente, dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade, elemento cen- tralizador e orientador, na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico. DE CARLO; BARTALOTTI, 2001. p. 63-80 Já o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil (COFFITO) traz a seguinte definição: Profissão nível superior voltada aos estudos, à prevenção e ao tra- tamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéti- cos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da sistematiza- ção e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos, na atenção básica, média com- plexidade e alta complexidade. COFFITO Nessas definições, podemos observar claramente o olhar para a saúde, e a di- mensão em que a terapia ocupacional se posiciona nesse universo, o que tam- bém diz sobre a identidade do profissional, uma vez que tais definições pontuam os objetos, os objetivos, os materiais e a clientela. Assim, temos que a identidade da terapia ocupacional se relaciona intimamente com a visão de saúde e do próprio ser humano, bem como com as atividades que realiza, e assim também evolui ou se constrói na relação tempo e espaço. Na prática, estudar a história da terapia ocupacional significa buscar no passa- do algumas das respostas para dúvidas ou questões do tempo presente, sem reduzir essa busca a uma visão de mundo fora do contexto atual, ou seja, sem conexão com a realidade e as exigências que essa realidade traz. Nesse processo de busca histórica e contextos sociais “vivos” que se compõem a partir de um “acúmulo” contextualizado de experiências é que se forma a ideolo- gia e até a diversidade de recursos empregados na terapia ocupacional. 6 Há que atentar, ainda, para o fato de que uma história de caráter evolucionista (continuidade e periodização linear) pode levar a uma ideia reducionista de pen- samento ou realidade, o que também é característica de determinadas culturas e respalda o uso de modelos ou determinadas abordagens em terapia ocupacional. É importante compreender que, quando evocamos a ideia de terapia ocupacio- nal, temos diferentes âmbitos que se referem desde às práticas de atenção e cuidado a populações específicas, passando pelas propostas de formação téc- nica, profissional e acadêmica de uma área específica de conhecimento, até os processos de regulamentação e institucionalização da profissão. Podemos aqui reconhecer a centralidade das mulheres para o desenvolvimento da terapia ocupacional. É fato o protagonismo de mulheres nesse processo, pro- tagonismo que estaria associado à situação de submissão que caminhou para emancipação de gênero em seus diversos contextoshistóricos, até os dias atuais. É importante compreender como as origens da profissão estão intimamente liga- das à possibilidade de inserção de parte das mulheres (principalmente brancas e de elites urbanas) em outras esferas da vida social, que não apenas as ligadas ao espaço doméstico, destacando a participação nas instituições de ensino, nas instituições de caridade e benemerência (especialmente as de caráter religioso), nas universidades e, também, como parte da resposta a demandas do mercado de trabalho. Algumas dessas mudanças foram possíveis devido ao contexto social estaduni- dense do final do século XIX e início do século XX, em uma sociedade marcada pelo processo de transformação do capital monopolista. Nesse contexto de transformações, mulheres rechaçaram o casamento e dedica- ram suas vidas ao ensino, à enfermagem ou ao trabalho social. Outras, ainda que casadas, pertenciam a legiões e a grupos de caridade e/ou de outros tipos de ajuda social. Essa ampliação de circulação e de inserção em diferentes espaços sociais pôde criar referências femininas em outras esferas públicas. A criação da Hull House, no contexto da Escola de Cívica e Filantropia de Chicago, faz parte desse processo, no qual muitas jovens mulheres foram impulsionadas pelos movimentos feministas da época, que mudaram as noções de ajuda e compromis- so social voluntário (baseado em perspectivas morais e religiosas) para valorizar suas atividades laborais, proporcionando suas inserções em empregos formais. 7 A Hull House era um abrigo de extrema importância para o movimento de mu- lheres em Chicago, tendo contribuído para a formação política, profissional e laboral de muitas mulheres, além de ter oferecido apoio a muitas famílias, prin- cipalmente imigrantes. Figura 2 – Hull House, no início do século XX Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: uma grande casa no estilo mansão, com tijolos à vista, preenchendo todo um quarteirão, com ruas desertas ao seu redor, na cidade de Chicago, EUA. Fim da descrição. Podemos dizer que foi o movimento desses abrigos sociais que permitiu que muitas mulheres (brancas e de elites urbanas) se inspirassem e começassem a desenvolver atividades laborais, uma vez que mulheres pobres, mulheres negras (ou ambas) e mulheres pobres imigrantes, sempre trabalharam, de um modo ou de outro, fora de seus espaços domésticos. Para Morrison e colaboradores (2021), pela primeira vez, aquelas mulheres começaram a observar maneiras al- ternativas de participação social, podendo optar por distanciarem-se de formas tradicionais, como o casamento e a família. As mulheres fundadoras da Hull House buscavam compreender as condições e as circunstâncias em que viviam outras mulheres e as famílias de imigrantes, o que se traduzia, por um lado, em ajuda imediata e, por outro, em elaboração teórica sobre esses temas, tarefa compartilhada com a Universidade de Chicago. Jane Addams e Ellen Gates Starr, como principais fundadoras da Hull House no final dos anos de 1880, Julia Lathrop, uma das primeiras a se incorporar a essa instituição, e Eleanor Clarke Slagle foram as primeiras mulheres responsáveis pelas ações da Hull House. Esse trabalho, no âmbito da ação social, do lidar com 8 demandas da questão social da sociedade capitalista que se levantava sob os alicerces estadunidenses, sob um enfoque político, começa também, para parte dessas mulheres, a oferecer parâmetros para ações que, mais tarde, viriam com- por propostas em torno da terapia ocupacional. Adolf Meyer se junta a essas mulheres e começa a trabalhar com as reformas no tratamento de pessoas tidas como doentes mentais, sendo que um de seus pressupostos era que as deploráveis condições da vida dos pobres e dos traba- lhadores nas cidades que se agigantaram poderiam ser parte das causas que favoreciam ou mantinham situações de enfermidades. Além disso, tentavam responder, também, às críticas da época sobre a ausência de “ciência” nesses “novos métodos” empregados em Psiquiatria, publicando al- guns artigos originados dessas práticas. Em 1910, Adolf Meyer solicita à Julia Lathrop a indicação de uma trabalhado- ra social que pudesse se incorporar ao Hospital Johns Hopkins (na cidade de Baltimore), dirigido por ele, para trabalhar com pessoas tidas como doentes mentais. Lathrop sugere Slagle, que aceita a incumbência. Depois de dois anos de trabalho, Meyer destacava Slagle como a principal refe- rência para o serviço de terapia ocupacional. Ao fim dessa experiência, Slagle regressa a Chicago, em 1913, para fundar a pri- meira escola de terapia ocupacional. As principais dificuldades no desenvolvimento da profissão, para as primeiras terapeutas ocupacionais, centraram-se em dois principais aspectos: 1) o posicio- namento dentro do campo da medicina; 2) a terapia ocupacional ser considerada como uma profissão de mulheres. Desde seus inícios, a terapia ocupacional foi considerada uma nova profissão para mulheres, e, para legitimar-se como uma disciplina profissional a ser reco- nhecida, buscou articulações com a medicina, até então um campo masculino e, assim como hoje, com elevado reconhecimento e poder social. O papel dos ho- mens dentro do mundo visível da medicina, e o das mulheres dentro da invisibi- lidade das redes de caridade e de boas moças e senhoras de bem, conformaram os mecanismos empregados pela primeira geração de terapeutas ocupacionais. As primeiras mulheres consideradas terapeutas ocupacionais foram Eleanor Clarke Slagle, assistente social que se juntou à Hull House, Susan Cox Jonhson, enfermeira que pretendia provar que as ocupações poderiam melhorar a saúde física e mental dos pacientes internados em contextos hospitalares, e Susan 9 Elizabeth Tracy, enfermeira, uma das pioneiras no uso das ocupações como tra- tamento e uma das primeiras a sistematizar suas reflexões. A Primeira Guerra Mundial teve início em 1914, contudo, os Estados Unidos ape- nas se inseriram de forma oficial em 1917, sendo assim, a profissão reconhecida nesse mesmo ano nesse país não surgiu como resultado imediato da Guerra, e sim nesse contexto. Tal momento histórico possibilitou um grande desenvolvimento e uma expansão da profissão, uma vez que a terapia ocupacional se configurou como uma das profissões que compunham as “auxiliares da reconstrução”, lidando com lesões e deficiências geradas pela Guerra, participando ativamente nos processos de reabilitação. A terapia ocupacional teve sua expansão nos Estados Unidos nas primeiras dé- cadas do século XX, experimentando uma importante retomada dessa expansão nos anos da Segunda Guerra Mundial e chegando na América Latina, enquanto programa de formação profissional, a partir da década de 1950, configurando uma segunda onda de crescimento. Na tese de doutorado da terapeuta ocupacional Pamela Cristina Bianchi, apre- sentada pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, em 2019, temos que o conceito de espaço pode advir de território, como uma combinação que conside- ra, ainda, processo e relação, ultrapassando o espaço geográfico físico; nesse se- guimento, articula-se ainda o conceito de comunidade, que compõe com a ideia de coletividade, redes, pertencimento e identidade. Leitura Leia, na íntegra, a tese de Pamela, intitulada “Terapia Ocupacional, Território e Comu- nidade: Desvelando Teorias e Práticas a Partir de um Diálogo Latino-Americano”. A Confederação Latino-americana de Terapia Ocupacional (Clato), fundada em 1997, conta atualmente com os seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e Porto Rico (considerado território dos Estados Unidos da América e não um país independente). https://bit.ly/3EhXT4e https://bit.ly/3EhXT4e 10 As epidemias de poliomielite e a história da loucura (principalmente pelas ideias do tratamento moral) são alguns dos marcos importantes para abordar as histó- rias da terapiaocupacional nos países latino-americanos. A poliomielite foi, durante séculos, uma importante causa de invalidez e de morte infantil, até a criação da vacina contra essa doença, em meados da década de 1950. Na América Latina, os primeiros casos de poliomielite foram identificados e registrados no final do século XIX no México, em 1906 na Argentina, em 1909 no Chile, em 1911 no Brasil, em 1915 na Colômbia e em 1928 na Venezuela. Entretanto, seu reconhecimento epidêmico nesses países foi declarado entre os anos de 1930, 1940 e 1950. A poliomielite epidêmica e suas consequências foi um dos argumentos principais para a criação e/ou para a ampliação dos centros de reabilitação física e hospitais infantis, entre outras instituições de assistência, no contexto latino-americano. Isso pode ser observado pela criação do Hospital Infantil do México, em 1943, do Centro de Reabilitação Infantil no Chile, em 1947, da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, em 1954, entre outros centros de reabilitação e as- sociações que tiveram um crescimento importante, decorrente de investimentos nacionais e articulações internacionais, fruto de preocupações com a circulação de pessoas e mercadorias diante do avanço da epidemia, além de serem algu- mas das principais instituições que começaram, nos anos de 1950, os programas de formação em terapia ocupacional. Esse contexto regional, caracterizado por países latino-americanos sendo obri- gados a lidar com as causas dessas epidemias de poliomielite ao mesmo tempo em que se produziam tecnologias de atenção às pessoas acometidas por essa enfermidade e técnicas de prevenção às infecções, desencadeou o desenvolvi- mento de disciplinas relacionadas com a reabilitação, além da importação de conhecimentos e práticas de países do Norte que, dado o interesse econômico agroexportador que criava laços importantes entre os países dessas regiões, já tinham passado por esse quadro e detinham maiores informações, principal- mente na área da saúde, durante o período posterior à Segunda Guerra Mundial. Tal processo desencadeou a criação e a expansão de carreiras compreendidas, até então, como tecnologias médias, entre elas a terapia ocupacional. Para as histórias da terapia ocupacional nos países da América Latina, tão impor- tantes quanto os centros de reabilitação física criados ou impulsionados pelos interesses postos em torno das epidemias de poliomielite foram os hospitais psiquiátricos e as instituições que lidavam com pessoas tidas como loucas, ou com problemáticas decorrentes da questão social, como detentos, pessoas em situação de rua ou prostitutas. 11 Em 1940, a ONU passa a assumir a coordenação, o planejamento e o supri- mento de reforços em áreas voltadas à reabilitação, partindo de diversas orga- nizações, como a OMS, que se responsabilizou pela formação de profissionais de reabilitação, como médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisiote- rapeutas, entre outros. Em 1951, a ONU começa a enviar emissários para a América Latina a fim de identificar possíveis locais para instalação de um centro de reabilitação. Um desses locais escolhidos foi o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-USP), que já tinha um reconhecimento internacional. No Brasil, tanto a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação quanto o HC- USP começaram a ser assessorados por essas agências internacionais para introduzir práticas especializadas em reabilitação até então inexistentes no Brasil. Além disso, a criação de programas de formação profissional também foi um dos seus resultados, como no caso da própria terapia ocupacional, no Brasil, entre outras profissões que foram criadas e/ou impulsionadas nesse contexto. Ainda sobre formação profissional, alguns técnicos e profissionais que atuavam na área de reabilitação no HC-USP foram enviados aos Estados Unidos para se especializarem. Esse foi o caso de Neyde Tosetti Hauck, assistente social e enfer- meira, que foi estudar terapia ocupacional na New York University, com financia- mento da OMS, além dos terapeutas ocupacionais trazidos ao Brasil para contri- buir com programas de formação profissional. 12 País Instituição Cidade Ano de início Brasil Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro 1956 México Hospital Infantil de México. Cidade do México 1957 Brasil Instituto de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. São Paulo 1958 Argentina Escuela Nacional de Terapia Ocupacional. Buenos Aires 1959 Venezuela Instituto Venezolano de Los Seguros Sociales. Caracas 1959 Brasil Instituto Universitário de Reabilitação da Faculdade de Medicina do Recife. Recife 1962 Brasil Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Belo Horizonte 1962 Chile Facultad de Medicina – Universidad de Chile. Santiago 1963 Colômbia Facultad de Medicina – Universidade Nacional de Colombia. Bogotá 1966 Quadro 1 – Ano de criação de programas de formação profissional em terapia ocupa- cional, em cada país, instituição e cidade, nos dez primeiros anos Fonte: Adaptada de MONZELIA; MORRISON; LOPES, 2019, p. 244 Essa discussão pressupõe a reflexão sobre os modos de vida dos sujeitos, e as relações que eles estabelecem com seus espaços de vida para busca de uma in- tervenção que promova a tessitura da solidariedade nos lugares como uma das finalidades da ação técnica. Nesse processo, destacam-se ainda cinco princípios presentes na atuação tera- pêutica ocupacional com base no território-comunidade: a atuação implicada no 13 coletivo e nas relações sociais; a tessitura de redes formais e informais; a cons- trução de vínculos por meio do uso das atividades; a horizontalidade e a disponi- bilidade nas relações; e as estratégias para lidar com a vulnerabilidade social nos âmbitos micro e macrossocial. É sob esse olhar que surge a terapia ocupacional e que passaremos a abordar a seguir. Marcos Históricos da Terapia Ocupacional A terapia ocupacional comemorou seu centenário em 2017, mas referências ao em- prego das atividades com finalidades de saúde vêm muito anterior à sua fundação. • Em 2600 a.C., os povos chineses já recomendavam a atividade para com- bater doenças; • Em 220 d.C., o grego Hipócrates recomendava o trabalho para garantir o equilíbrio corpo-mente; • Em 1786, o médico psiquiatra Philippe Pinel (principal precursor do pro- cesso de mudança que possibilitou o surgimento do alienismo na socie- dade moderna) reformou a atenção à saúde mental na França, valorizan- do a ocupação como tratamento moral; • Em 1852, o Hospital D. Pedro II – Rio de Janeiro, passou a utilizar a ocu- pação como tratamento; • Em 1898, houve a criação da Colônia Juliano Moreira – Rio de Janeiro, que enfatizou o trabalho no campo como terapia; • Em 1914, a Primeira Grande Guerra Mundial impulsionou a reabilitação físi- ca, recuperando soldados com atividades de carpintaria e pintura; foi nessa fase que o arquiteto norte-americano George Edward Barton criou o termo “terapia ocupacional”, para explicar a utilização das ocupações como terapia; • Em 1917, foi criada a Associação Americana de Terapia Ocupacional (American Occupational Therapy Association – AOTA); essa foi a primeira associação para profissionais terapeutas ocupacionais da história, por- tanto, o “marco zero” da contagem para o centenário da profissão; 14 Figura 3 – Foto dos fundadores da terapia ocupacional, em 1917 Fonte: crefito12.org.br #ParaTodosVerem: seis pessoas (fundadores da terapia ocupacional) dispostas em fotografia, como segue, fileira de trás, da esquerda para a direita: William Rush Dunton, Isabel Newton, Thomas Bessell Kidner; fileira da frente, da esquerda para a direita: Susan Cox Johnson, George Edward Barton, Eleanor Clarke Slagle. Fim da descrição. • Em 1940, houve o movimento internacional de reabilitação, que incenti- vou o início da laborterapia no Brasil; • Em 1944, a médica psiquiatra Nise da Silveira implementouo serviço de terapia ocupacional no Hospital D. Pedro II – Rio de Janeiro; • Em 1945, os países mais atingidos com a Segunda Grande Guerra Mun- dial enfatizaram a implantação de serviços de terapia ocupacional; • Em 1951, a Organização das Nações Unidas – ONU escolheu o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP para implantar um Centro de Reabilitação no Brasil; • Em 1952, houve a fundação da World Federation of Occupational Therapy – WFOT; • Em 1959, houve a criação do Curso Técnico de Alto Padrão em Terapia Ocupacional (formação de dois anos), USP-SP; 15 • Em 1960, houve a criação do primeiro centro de reabilitação profissional do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) – Brasil; • Em 1964, teve início a primeira turma do curso de graduação em terapia ocupacional do Brasil, na Universidade de São Paulo – USP; • Em 1969, houve a regulação da profissão de terapeuta ocupacional no Brasil, através do Decreto-Lei 938, de 13 de Outubro; • Em 1987, houve a publicação da “Carta de Bauru”, promovendo o engaja- mento profissional e social na luta antimanicomial, com o protagonismo dos terapeutas ocupacionais; • Em 1989, houve a fundação da Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais – ABRATO; • Em 1999, houve a publicação da primeira Portaria do Ministério da Saúde do Brasil, que menciona a terapia ocupacional como parte da equipe de Cuidados Prolongados, nas estratégias do Sistema Único de Saúde – SUS; • Em 2009, houve o reconhecimento do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, para as primeiras especialidades da terapia ocupacional – Resolução COFFITO 366/2009; • Em 2011, houve o reconhecimento da terapia ocupacional como parte do Sistema Único de Assistência Social – SUAS; • Em 2012, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO estabeleceu os Parâmetros Assistenciais Terapêuticos Ocu- pacionais; • Em 2014, houve a inclusão da terapia ocupacional na lista de profissões reconhecidas como pertencentes à área de saúde do Mercosul; • Em 2017, houve as comemorações do centenário da terapia ocupacional; • Em 2020, a American Occupational Therapy Association – AOTA publicou no American Journal of Occupational Therapy a “Occupational therapy practice framework: domain and process” ou, como traduzido para a lín- gua portuguesa: “A estrutura da prática em terapia ocupacional: domí- nio e processo”. 16 Leitura Leia o artigo “Occupational Therapy Prac- tice Framework: Domain and Process – Fourth Edition” publicado pelo jornal “Ame- rican Journal of Occupational Therapy” e saiba mais. Figura 4 – Representação visual de todos os aspectos da estrutura da terapia ocupacio- nal: domínio e processo Fonte: AOTA, 2020 #ParaTodosVerem: a figura fornece uma representação visual em forma de círculo, de todos os aspectos do domínio e do processo, e o objetivo abrangente da profissão escrito no centro do círculo: “alcançar saúde, bem-estar e participação na vida por meio do engajamento na ocupação”; os conceitos estão dispostos da extremidade para o centro, nas cores roxa (extremidade), verde (linha média) e laranja (centro); escritos em branco e dourado. Fim da descrição. https://bit.ly/45SqDwl https://bit.ly/45SqDwl 17 Em uma análise atual, considerando dados da realidade geopolítica do Brasil e dados do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil sobre a consolidação da terapia ocupacional nas práticas desse território, vemos que (logicamente não limitando-se somente a isso) há uma maior densidade demo- gráfica nos estados do Norte, do Centro-Oeste, do Sul e do Sudeste. Em contra- partida, o consumo de saúde e educação (redes particulares) é mais evidente nos estados do Sul e Sudeste e escassos no Norte (exceto no Pará), no Nordeste e no Centro-Oeste. A renda familiar, com exceção do Amapá, também apresenta-se mais baixa nos estados do Norte e do Nordeste do Brasil. A presença do terapeuta ocupacional no País se dá em maior quantidade no Sul e no Sudeste, e com precariedade numérica, exceto nos estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco, nos estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste. Justaposto, considerando que o Sistema Único de Saúde preconiza a equidade, a universalidade e a integralidade, nota-se evidência da necessidade desse pro- fissional dos estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste para desenvolver ações junto à população desses estados e oferecer os importantes serviços, que já estão consolidados nas áreas da saúde, da educação e da assistência social. A partir de dados simples como esses, concluímos que os terapeutas ocupacio- nais podem ocupar espaços ainda não explorados, haja vista que nessa perspec- tiva, como ocorre com outras categorias profissionais, a valorização financeira e a empregabilidade são condição sine qua non. Em consonância a essa análise, urge a necessidade dos conselhos regionais e ao Conselho Federal o reconhecimento das especialidades, o fortalecimento e a valida- ção das ações do terapeuta ocupacional, bem como a normatização, a criação e a divulgação dos procedimentos operacionais padrões dentro das especialidades que assim permitem. Sustentarmos a nossa profissão com práticas de excelência e a em- basarmos com evidências científicas é, talvez, o maior desafio dos próximos anos. Assim, contextualizar a terapia ocupacional no cenário nacional, assim como contextualizar a própria prática da terapia ocupacional, nos remete a alguns questionamentos: • O que realmente faz o terapeuta ocupacional num programa de atenção? • Como posso organizar a minha prática num programa de atenção? • O que fazer para que a equipe entenda o meu trabalho e as minhas atri- buições? 18 Esse entendimento depende das variáveis interferentes do processo de trabalho como terapeuta ocupacional, bem como do perfil, do propósito ou das caracte- rísticas do meio de interação ou ambiente de relação. Essa correlação é o norte que dirige a exposição de evidências e “boas práticas” profissionais. Nesse caminho, temos o conceito de trabalho em “rede”, como, por exemplo, a Rede de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde do Brasil. Esse conceito de trabalho em rede nos remete diretamente a um outro conceito, denominado “matriciamento”. Como descrito no texto do “Portal Educação” do Ministério da Saúde Brasileiro: Entende-se por matriciamento, o suporte realizado por profissionais e diversas áreas especializadas, dado a uma equipe interdisciplinar com o intuito de ampliar o campo de atuação e qualificar suas ações. Ou seja, matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produ- zir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-te- rapêutica. O apoio matricial, formulado por Gastão Wagner em 1999, tem possibilitado, no Brasil, um cuidado colaborativo entre a saúde mental e a atenção primária, e essa relação amplia a possibilidade de realizar a clínica ampliada e a integração e diálogo entre diferentes especialidades e profissões. Biblioteca Virtual em Saúde Em resumo, quanto maior o matriciamento entre os serviços (considerando os diferentes níveis de atenção), mais fortalecida e mais eficiente a rede de atenção, a estratégia ou a gestão; eficiência essa que deve ser mensurada a partir das variáveis pautadas, com base nos resultados alcançados. Basicamente, é uma questão de referência e contrarreferência (como preconiza o Sistema Único de Saúde – SUS), e efetivá-la deve ser responsabilidade de cada profissional inserido nesse processo. Por outro lado, dada a complexidade das demandas de educação, saúde e assis- tência social e da própria complexidade do ser humano, a falta de matriciamento e a consequente fragmentação da rede, não só leva à ineficiência dos serviços, como à desorganização e à descaracterização destes, além da frustração dos profissio- nais. O reflexo dissose dá na falta de atenção às demandas e na formação de filas infindáveis como constantemente é observado (ou até por alguns é vivenciado), por cidadãos do Brasil que utilizam a rede pública de atenção básica à Saúde. Cabe ressaltar, ainda, que segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, o núme- ro correto de terapeutas ocupacionais é de um profissional para cada mil pessoas. 19 Vemos que o conceito de rede está intimamente ligado às prerrogativas dos ser- viços, que por sua vez estão intimamente ligados às prerrogativas profissionais. A partir disso, já temos parâmetros para responder as questões inicialmente pautadas. Finalmente, como parte de uma análise criteriosa para o entendimento ou diag- nóstico contextual, pela análise geopolítica proposta, pode-se obter dados va- liosos já disponibilizados para uma avaliação e reflexão do contexto atual da profissão e de possíveis indicadores que justifiquem parte das dificuldades de crescimento e consolidação da profissão no País. Avaliar a distribuição populacional nos permite ter uma base para planejamento da cobertura da atenção, quando correlacionado com a distribuição dos progra- mas e dos serviços. Evidenciar a população que paga por saúde e educação, por exemplo, permite que o gestor ou o profissional estabeleça prioridades na atenção, quando corre- lacionado com as demandas igualmente avaliadas por região. Saber onde há a cobertura de saúde suplementar auxilia no direcionamento/in- vestimento dos recursos públicos, assim como o conhecimento da renda familiar por região, estado ou município. Por fim, nessa breve tomada de dados geoprocessados, analisar a distribuição dos profissionais numa correlação com todos os cenários anteriormente descri- tos dá um indicador quanti-qualitativo de integridade na atenção, evidenciando inclusive a necessidade de inserção de maior número de profissionais no cenário como um todo, o que certamente envolve o número e a distribuição das institui- ções de ensino superior. Os marcos históricos e os caminhos pelos quais a terapia ocupacional vem con- solidando-se (em evidência/relação teoria e prática) evidenciam a correlação com os fundamentos que alicerçam a profissão, além de serem importantes indica- dores para a composição do perfil profissional e do seu impacto nas diferentes demandas sociais, como veremos em breve. MATERIAL COMPLEMENTAR Site Portal Educação https://bit.ly/44ujBN5 Vídeos “A Terapia Ocupacional e o Sistema Único de Assistência Social – Algumas Reflexões” https://bit.ly/3EhNWDL Terapia Ocupacional: História, Objeto-Método-Teoria e Identidade Profissional em Tempos de Pandemia https://bit.ly/3Ei0X0k O Modelo da Ocupação Humana e a Participação Ocupacional https://bit.ly/3L2gGUP Daniel Marinho | 100 Anos da Terapia Ocupacional https://youtu.be/VYfOK_3sr5s Homenagens aos Terapeutas Ocupacionais pelos Seus 100 Anos nos Estados Unidos https://bit.ly/45z0NNZ Leitura A Terapia Ocupacional no Brasil na Perspectiva Sociológica https://bit.ly/47Vu0o3 https://bit.ly/44ujBN5 https://bit.ly/3ncoSZV https://bit.ly/3EhNWDL https://bit.ly/3Ei0X0k https://bit.ly/3L2gGUP https://youtu.be/VYfOK_3sr5s https://bit.ly/45z0NNZ https://bit.ly/3ncoSZV https://bit.ly/47Vu0o3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOTECA Virtual em Saúde. Matriciamento. Disponível em: < h t t p s : / / b v s m s . s a u d e . g o v . b r / m a t r i c i a m e n t o / # ! >. CARLO, M. M. R. de.; BARTALOTTI, C. C. (orgs.). Terapia ocupacional no Brasil: funda- mentos e perspectivas. 4. ed. São Paulo: Plexus, 2001. CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. Terapia ocupacional: fundamentação e prática. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. CONSELHO Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil (COFFITO). Defi- nição de Terapia Ocupacional. Disponível em: < h t t p s : / / w w w . c o f f i t o . g o v . b r / n s i t e / ? p a g e _ i d = 3 3 8 2 >. Acesso em: 21/03/2023. COSTA, E. F. et al. Ciência ocupacional e terapia ocupacional: algumas reflexões. Re- vista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, Rio de Janeiro, v. 1, n. 5, p. 650-663, 2017. Disponível em: < h t t p s : / / r e v i s t a s . u f r j . b r / i n d e x . p h p / r i b t o / a r t i c l e / v i e w / 9 6 8 7 >. Acesso em: 19/03/2023. CRUZ, D. M. C. da. 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No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para melhor aproveitamento. • Conhecer a visão dos principais autores da terapia ocupacional e os mo- delos propostos para fundamentar a prática terapêutica ocupacional. 3 Concepções Teórico-metodológicas Internacionalmente, e mais precisamente nos Estados Unidos da América, as ati- vidades humanas acabavam por direcionar o olhar do terapeuta ocupacional, no qual, dessa maneira, pessoas poderiam estar mais saudáveis e equilibradas. Nesse contexto, diferentes frentes da sociedade procuravam caminhar nessa direção. Validar essa ação até então “empírica” passou a ser o papel dos terapeutas ocu- pacionais daquela época. Essa realidade advém da relação entre economia e sociedade, com influência de evidências médicas e da Psicologia que ali vigora- vam em termos de atenção àquela população, até meados do século XX. A partir disso, estruturar a terapia ocupacional para subsidiar de forma eficiente passou a ser fator prioritário para dar sustentação à profissão. Gerar conhecimento teórico e experiências práticas delineou as ações profissio- nais, levando os profissionais a buscarem explicação em diferentes campos do conhecimento. Estruturando a teoria e a prática profissional, os terapeutas ocupacionais passa- ram a atuar em modelos. Os primeiros modelos de prática foram decorrentes de conceitos predominantemente médicos e da Psicologia. Concomitante, a produção de pontos teóricos e práticos que validaram suas ações e toda essa produção de conhecimento foi possibilitando que a terapia ocupacional ganhasse espaço e atuasse já distante das primeiras explicações sobre o fazer humano, até então sem dados que subsidiassem organizadamente e reconhecidamente seus benefícios. A ação passou a ser analisada sob dife- rentes pontos de vista, como motores, sensoriais, psicológicos e sociais. Isso fez com que a prática profissional ganhasse maior reconhecimento social, com ins- trumentos de avaliação, técnicasespecíficas e capacidade de raciocínio clínico, porém com crescente distanciamento das primeiras bases da profissão, ligadas ao ato de “ocupar-se”, que, por si só, já era considerado “terapêutico”. Dessa forma, com a produção de conhecimento e o impacto causado na direção que a profissão estava caminhando quanto ao perfil profissional, terapeutas ocu- pacionais (nas décadas de 1960 e 1970) começaram uma revisão ou um “resgate” desses valores iniciais da profissão, cuja visão mais ampla e integral do ser hu- mano era remetida à execução de tarefas. 4 As primeiras bases teóricas utilizadas na fundamentação da terapia ocupacional – final de década de 1970 e início dos anos 1980 – foram fortalecidas pela cons- trução de uma linha organizada e que considerava como base o fazer humano. Assim, foram desenvolvidos os primeiros modelos teóricos centrados sobre as ocupações humanas, bem como o desenvolvimento de uma disciplina acadêmi- ca para disseminar o conhecimento e impactar a prática profissional, cujo nome foi ciência ocupacional. Acreditou-se que o desenvolvimento da ciência ocupacional não se deu de forma repentina, mas sim da consciência da necessidade de uma disciplina específica que abarcasse todo esse conhecimento. Nessa perspectiva é que formalmente passa a ser reconhecida a prática da te- rapia ocupacional, suas evidências e, por consequência, a profissão em si, reco- nhecimento esse outorgado pela então Sociedade para a Promoção da Terapia Ocupacional, no ano de 1917 (depois denominada “Associação Americana de Terapia Ocupacional”), evidenciando a ocupação humana aos profissionais e aos pesquisadores. Mais especificamente em 1989, surgiu o programa de doutorado do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade do Sul da Califórnia (USC – EUA), que in- corporou em seu programa a disciplina de ciência ocupacional, sendo berço da primeira publicação nessa nova área do conhecimento. A então professora Mary Reilly (USC – terapeuta ocupacional), que já pesquisava a área das ocupações, o “comportamento ocupacional”, impulsionou a nova dis- ciplina ainda na década de 1960, com pesquisas e práticas. Seus alunos acaba- ram por dar continuidade ao desenvolvimento, com importantes contribuições para a compreensão da ocupação sob o enfoque terapêutico ocupacional, ou seja, na prática profissional. 5 Figura 1 – Mary Reilly (1916-2012) – Grande colaboradora para a validação da disciplina ciência ocupacional na Universidade do Sul da Califórnia Fonte: chan.usc.edu #ParaTodosVerem: fotografia colorida de Mary Reilly, terapeuta ocupacional precursora nos EUA, que impulsionou as primeiras pesquisas e publicações sobre ciência ocupacional. Na imagem, ela está sentada, virada de lado, com as duas mãos sobre o braço esquerdo de sua cadeira; está sorrindo discretamente, e olhando atenta, como se estivesse em pose para a foto. Fim da descrição. Outra grande colaboradora da ciência ocupacional foi a professora Elizabeth Yerxa, que assumiu a coordenação do mesmo departamento na USC, com o ob- jetivo singular de promover o crescimento da terapia ocupacional. Nessa mesma década, os docentes desse departamento submeteram à Universidade uma a proposta de um programa de doutorado em terapia ocu- pacional, que num primeiro momento foi recusada, sob justificativa de que um novo programa deveria ser subsidiado por um departamento cientificamente produtivo, fornecendo maior base teórica e evidências da prática profissional. Foi na década de 1980 que a terapeuta ocupacional Elizabeth Yerxa e os pro- fessores do departamento reuniram consultores para uma formação acadêmi- ca para pesquisas “de ponta”, considerando diferentes áreas do conhecimento acerca da ciência ocupacional. 6 Vídeo Elizabeth Yerxa, precursora da ciência ocu- pacional, foi responsável pela primeira pu- blicação em “ciência ocupacional” (publicada na edição especial do periódico Occupational therapy in health care, em 1989). Veja o vídeo a seguir da Dra. Elizabeth Yerxa sobre 30 anos de ciência ocupacional da USC. Ao fim da década, já havia um novo programa desenvolvido, cuja meta era de aprovar um curso de doutorado original, com atenção à ocupação humana; o projeto obteve sucesso ao pleito, e o departamento responsável foi contemplado com todos os recursos necessários. Com a aposentadoria de Yerxa, a terapeuta ocupacional Florence Clark passou a dirigir os trabalhos de coordenação e a abertura do programa para início em 1989. Já em 1991, Florence Clark – terapeuta ocupacional – e seus colaboradores pu- blicaram um novo artigo no periódico American Journal of Occupational Therapy. Esse artigo expressou evidências acerca da ciência ocupacional como ciência própria para a base prática da terapia ocupacional. Foi a partir daí que a ciência ocupacional passou a despertar interesse da comu- nidade acadêmica, envolvendo profissionais em diferentes espaços de evidência e com o apoio de renomados cientistas de diferentes áreas do saber. Esse movimento impulsionou o crescimento da ciência ocupacional, com maior expressão na Austrália, onde Ann Wilcock liderou grandes iniciativas. Naquele contexto, a ciência ocupacional foi aplicada diretamente ao desenvolvimento de programas comunitários, não necessariamente vinculados no primeiro momen- to aos terapeutas ocupacionais, mas direcionados para a melhoria da saúde da população. O primeiro periódico especializado da disciplina, intitulado como Journal of Occupational Science: Australia, foi lançado em 1993 pela terapeuta ocupa- cional Ann Wilcock. Atualmente, esse periódico científico chama-se “Journal of Occupational Science”, e sua atenção está direcionada à publicação de artigos in- terdisciplinares na área das ocupações humanas. https://bit.ly/3EfUoev https://bit.ly/3EfUoev 7 Hoje em dia, a ciência ocupacional se desenvolve em países da América do Norte, da Europa, da Oceania, da Ásia e da América do Sul, em que, nesse último conti- nente, dou ênfase aos países Chile e Brasil pela relevância científica. Um cresci- mento mais discreto é notado nos países do continente Europeu, onde a ciência ocupacional ainda divide espaço e consideração, sendo menos difundida. Nesse contexto, devemos entender que quando remetida à terapia ocupacio- nal, o desenvolvimento da ciência ocupacional nunca foi unanimidade defendida entre os pesquisadores na cena internacional. Discussões sobre pontos favoráveis e desfavoráveis sobre a pertinência dessa linha científica para fundamentar a terapia ocupacional foram levantados desde o seu surgimento. Apesar disso, é inegável o grande volume de produção acerca dessa disciplina; a ciência ocupacional é estudada por pesquisadores em correla- ção com a terapia ocupacional, principalmente por meio de revisões de literatura. Pode-se dizer que a classificação do ser humano como “um ser ocupacional” foi o que pesquisadores buscaram estudar dentro dessa nova ciência, o que levou ao delineamento de bases e fundamentos para terapia ocupacional. Nessa pers- pectiva, temos aqui um importante marco para a profissão. A ocupação humana representa o constructo da ciência ocupacional, que soma- do aos conceitos de saúde, inclusão e participação das pessoas passa a dimen- sionar os campos de ação. Essa disciplina encontra-se ainda hoje em corrente movimento de crescimento para consolidar-se na proporção de sua importância. Uma boa referência de valor está justamente na formação ou na competência de quem atua nesse campo, seja academicamente, seja na prática profissional. O novo programa de doutorado em ciência ocupacional da Universidade do Sul da Califórnia foi integrado por sete pioneiros pesquisadores (discentes). O pro- grama obteve grande expressão na Academia Americana. Hoje em dia, em âmbito mundial, várias disciplinas em graduação e pós-gradu- ação contemplam áreas da ciência ocupacional, inclusive ligadas diretamente à formação de terapeutas ocupacionais. Hoje, há mais de uma centena depessoas pós-graduadas em ciência ocupacional. No mundo, formaram-se diversos grupos de pesquisa na área da ciência ocu- pacional. O principal foi a Sociedade Internacional para a Ciência Ocupacional (International Society for Occupational Science), voltada a advogar por um mundo “ocupacionalmente justo”, onde as pessoas não só encontrem espaço para o que precisam, mas também para o que querem fazer em suas vidas. 8 Esses grupos direcionados à promoção da ciência ocupacional possuem a missão de aproximar profissionais e instituições ligadas à pesquisa e à educação sobre ocupação humana e a sua relação com saúde e com desenvolvimento, dando evidência e impulsionando o tema em que circulam as produções científicas de maior impacto. A ciência ocupacional já é reconhecida pela Federação Mundial dos Terapeutas Ocupacionais e suas bases teórico-metodológicas já orientam padrões interna- cionais de formação em terapia ocupacional. Muita produção de conhecimento tem sido desenvolvida a partir da ciência ocu- pacional, e essa é uma excelente maneira de consolidar a disciplina mundialmen- te, inclusive com a publicação de livros e artigos, que podem ser bons indicado- res de crescimento e reconhecimento. Figura 3 – O primeiro livro sobre ciência ocupacional, “Occupational Science: the Evolving Discipline”, 1996. Autores e editores: Ruth Zemke e Florence Clark Fonte: Divulgação #ParaTodosVerem: imagem da capa de um livro que aborda a ciência ocupacional. A capa é em azul, representando o espaço, com esboço de um globo e um ponto de luz ao longe; é considerado o primeiro livro sobre o assunto, datado de 1996, cujo título é “Ciência ocupacional: a disciplina em evolução”. Fim da descrição. 9 Figura 4 – Ann Wilcock (1998), quando em seu doutorado na área da saúde comunitária, publicou o segundo livro sobre ciência ocupacional com o título “An occupational perspec- tive of health” ou, em tradução livre “Uma perspectiva ocupacional para a saúde” Fonte: Divulgação #ParaTodosVerem: imagem da capa de um livro que aborda a ciência ocupacional. A capa é nas cores azul e verde, ressaltando um globo terrestre em dourado, datado de 1998, cujo título é “Uma perspectiva ocupacional para a saúde”. Fim da descrição. O número de pesquisas e trabalhos acadêmicos publicados em periódicos espe- cializados também pode ser indicativo de consolidação da ciência ocupacional. Desde 1993, o periódico “Journal of Occupational Science” apresentou crescimento contínuo de edições até 2010, o que reflete no maior número de publicações. Assim como nesse periódico, outros periódicos científicos também aparecem com a ciência ocupacional em evidência e crescentes publicações. Entre eles estão o “The American Journal of Occupational Therapy” e o “The Scandinavian Journal of Occupational Therapy e Work”. Os “Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional” e a “Revista Chilena de Terapia Ocupacional” também apresentam publicações na área da ciência ocupacional, representando grande expressão na América Latina. 10 Essas pesquisas levaram a importantes reflexões sobre as ocupações e o ser hu- mano, o qual passou a ser considerado como “ser ocupacional”. Já é possível dizermos que há uma estrutura conceitual para analisar o conheci- mento gerado por essa ciência. A base se dá principalmente na compreensão do papel central da ocupação, o que nos leva a abordar a ocupação humana numa dimensão mais profunda, considerando suas particularidades e como se orga- nizam os processos ocupacionais nessa lógica. Há que considerar as questões subjetivas presentes nesses conceitos, em que cada pessoa terá uma relação com as atividades sob diferentes aspectos, e que não serão os mesmos de uma para as outras; além de poderem não ter o mesmo significado. Existem muitos fenômenos, como saúde, qualidade de vida, identidade, desenvolvimento huma- no, políticas e estruturas sociais que também podem influenciar essa relação. Na descrição de experiências gerais relacionadas à ocupação humana, podemos também dividir o conhecimento. A ocupação humana pode ser dividida em dife- rentes eixos, como o desenvolvimento de fundamentos teóricos para a terapia ocupacional e a contribuição da ciência ocupacional para alcançar justiça e trans- formação social. As pesquisas atuais sobre essa disciplina trazem uma diversidade ampla de cenários ou públicos e isso também pode ser considerado relevante para o que estamos observando em termos de consolidação da terapia ocupacional como profissão de extremo valor, principalmente nos países considerados em desenvolvimento. Assim, torna-se relevante o reconhecimento de diferentes perspectivas de es- tudo em ciência ocupacional. Está claro que não existe uma visão única sobre ocupação humana, bem como o melhor método de estudo a ser utilizado. Isso pode ser decorrente da relação da disciplina com a terapia ocupacional e dos próprios pesquisadores e profissionais terapeutas ocupacionais, que costu- mam não seguir um único modelo como base. Esse cenário é levado a debates e a reflexões sobre os rumos da ciência ocupacional, seu processo de amadureci- mento e até o impacto no crescimento e na evidência da profissão. Fica claro que no campo da ciência ocupacional indivíduos, famílias, comuni- dades e população são considerados campos de pesquisa e desenvolvimento de práticas. Dentro disso, já correlacionando questões anteriormente trazidas, essas pesquisas direcionam o olhar para as experiências subjetivas das pessoas, bem como a relação das ocupações nos contextos de grupos e comunidades. 11 Como vemos, diferentes métodos e estratégias de pesquisa expressaram a di- versidade de possibilidades, cujos pontos principais de atenção eram a forma, a função e os significados das ocupações humanas. As Ciências Sociais deram modelo metodológico para os desenhos das pesqui- sas, principalmente em análises qualitativas e narrativas. A partir daí, influências das Ciências Biológicas, da Epidemiologia e da saúde pú- blica compuseram novas frentes de desenvolvimento, dando base para a emi- nente necessidade de aporte teórico para a terapia ocupacional, com novos de- senhos de pesquisas quantitativas. O aprofundamento do olhar e a ampliação do saber ao longo dos anos levou à necessidade de um pluralismo metodológico, no qual várias abordagens (quanti- tativas, qualitativas e mistas) e diferentes instrumentos para coleta de dados da prática, como entrevistas, métodos visuais e estudos do uso do tempo, deram subsídio para diferentes caminhos, contemplando, assim, questões mais com- plexas, inerentes ao ser humano e à sua contemporaneidade. Como resultado, temos uma classificação dividida em quatro diferentes níveis interdependentes, para objetivos distintos: • Estudos descritivos que possam descrever e explorar os diferentes aspec- tos e os contextos das ocupações, bem como as experiências e os signifi- cados contidos na relação de uma pessoa com suas atividades ou ações; • Pesquisas que explorem ocupações a partir de conceitos e aspectos de ciências correlacionadas, como aspectos específicos gerados por defici- ências, condição de saúde, questões culturais, questões de vulnerabili- dade ou identitárias; • Pesquisa em ciência ocupacional (preditiva), que aprofunda o olhar do pesquisador, com a busca de padrões de ocupação nas populações, in- fluências temporais, espaciais e sociais dos diferentes contextos. Isso ad- vém de descobertas da pesquisa descritiva e relacional, cujo perfil é de identificação; • Pesquisa que envolve os estudos prescritivos; avalia a efetividade das práticas baseadas na ocupação humana. Esse é o tipo de pesquisa em que há o maior engajamento de terapeutas ocupacionais. É certo que diferentes tipos de pesquisas e diferentes desenhos metodológicos podem contemplar diferentes variáveis e, assim, obter uma maior diversidade de 12 resultados; em sua maior parte, o objeto de pesquisa é o homem e as atividades que exerce (ou ocupações)em sua vida cotidiana. Fica claro, também, que dife- rentes ciências podem contribuir de forma mais completa para referenciar toda a amplitude de ação da terapia ocupacional. Desde que surgiu, muitos autores abordaram os impactos da ciência ocupacional na estruturação da prática da terapia ocupacional, seja para a produção literária, seja para a prática clínica. O consenso se dá à medida que todos os pesquisadores em ciência ocupacional buscam a melhoria da assistência diante da complexidade do ser humano e de suas experiências existenciais (ou a falta delas) nas ocupações, para determinar as práticas que impactem esse objetivo. É interessante observar o quanto a ciência ocupacional se desenvolveu também em termos de aplicação, respondendo a questões sociais ou comunitárias de forma menos positivista e, portanto, mais humanizada. Enquanto por um lado temos as contribuições da ciência ocupacional para o de- senvolvimento de uma perspectiva ocupacional sobre o ser humano, por outro ela se volta para o raciocínio clínico e para a prática terapêutica ocupacional. Alguns estudos têm demonstrado, inclusive, a efetividade de conceitos e teorias da ciência ocupacional em diferentes públicos em que já há a atuação do tera- peuta ocupacional. De forma mais específica, caminhos foram ampliados na compreensão dos sig- nificados ocupacionais, as produções científicas passaram a apresentar evidên- cias importantes para a correlação entre ocupação e espiritualidade, e seus re- sultados passaram assim a ser mensurados, impactando a prática terapêutica ocupacional. Exemplos como esse expressam o quão ricas podem ser as abordagens na com- posição da prática da terapia ocupacional, no campo da ciência ocupacional. Em tempos mais atuais, já no Século XXI, com a consolidação das bases teóricas e metodológicas da ciência ocupacional (determinantes de forma, função e signifi- cado ocupacional), mais possibilidades advieram para as necessidades ocupacio- nais e para a “análise da ocupação compartilhada”, para a “justiça ocupacional” e para a “lacuna ocupacional” – novos conceitos que passaram também a deman- dar atenção. No Brasil, País de diferentes realidades, é possível levantar algumas possibilidades de contribuição com os resultados gerados em pesquisas no campo da ciência 13 ocupacional. A incidência e a prevalência de doenças crônicas como principal problema na saúde da população brasileira, atualmente estão relacionadas a casos de hipertensão arterial e diabetes, que, inclusive, levam a inúmeras outras doenças associadas, se não tratadas a tempo. Quais seriam as ocupações de uma pessoa com hipertensão arterial? Como uma situação de doença crônica pode influenciar nas ocupações desem- penhadas pelos membros de uma família? Como contextos sociais, políticos, econômicos e culturais influenciam as ocupa- ções das pessoas? E como isso pode estar relacionado ao envolvimento em fa- tores de risco para o aparecimento de doenças crônicas, como o sedentarismo, a obesidade, os hábitos alimentares não saudáveis e o tabagismo, por exemplo? Atentemos aqui para a pertinência das práticas baseadas nas ocupações dessas pessoas para melhorar as condições de saúde, bem como a participação na so- ciedade, além de impactar a qualidade de vida e o aumento da participação e da autonomia da população em geral. Mais pesquisas podem gerar ainda mais evi- dências (como já dito ao longo deste texto) sobre a importância dessa disciplina para a composição da prática da terapia ocupacional. Como podemos correlacionar de forma organizada todos esses conceitos em direção da prática terapêutica ocupacional? A compreensão dos conceitos: estrutura da prática, abordagem e modelo de prá- tica indica diferentes formas de organizar a intervenção terapêutica ocupacional; tal compreensão indica terminologias, métodos e formas de avaliar e intervir, além de referenciais específicos que fundamentam as práticas propostas. Estrutura da Prática Esse conceito está presente na publicação da American Occupational Therapy Association – AOTA, no American Journal of Occupational Therapy: “Occupational therapy practice framework: domain and process” ou, como traduzido para a lín- gua portuguesa: “A estrutura da prática da terapia ocupacional: domínio e pro- cesso”, que traz conceitos de base que fundamentam a prática terapêutica ocu- pacional e leva a um estado de resposta sobre os princípios da profissão. A estrutura não serve como uma taxonomia teórica ou um modelo de terapia ocupacional. Isso é tido como uma proposta desenvolvida para nortear a visão que terapeutas ocupacionais norte-americanos podem propor às suas práticas. 14 O domínio nos remete a conceitos, classificando as ocupações por áreas; pro- cesso nos remete à forma de avaliar e intervir. Ambos seguem o olhar sob a ocupação humana como eixo central, e trazem termos como “papel ocupacio- nal”, “desempenho ocupacional” e “processo da terapia ocupacional” como áreas conceituais objetivas. Abordagem A abordagem não traz em si uma questão ocupacional, mas pode determinar os caminhos pelos quais a teoria é colocada em prática, fornecendo meios especí- ficos de tratamento ou intervenção, em acordo com a demanda do paciente ou clientela assistida pelo terapeuta ocupacional. Os modos de intervenção são diversificados e recebem influência da trajetória de formação e experiência do profissional. A abordagem é tida como expressão ideológica do terapeuta ocupacional, ou seja, aquilo que ele acredita que será bom para compor sua prática ou sua intervenção. Modelo de Prática O modelo é definido como um conjunto de ideias derivadas de vários campos de estudo, organizadas para sistematizar e integrar os elementos teóricos e práti- cos; uma ferramenta representativa que ordena, categoriza e simplifica fenôme- nos complexos, ou uma representação simplificada da estrutura e do conteúdo de um fenômeno ou sistema e da complexa relação entre seus conceitos. Os modelos de prática consideram a filosofia da profissão, fornecem termos para descrever, instrumentos para avaliar e orientam a intervenção. A compreensão desses conceitos (estrutura da prática, abordagens e modelo de prática) é muito importante, pois eles indicam uma forma de organizar e dar sub- sídios conceituais e técnicos para a intervenção terapêutica ocupacional. Modelos de Terapia Ocupacional Os modelos de terapia ocupacional aparecem nos países norte-americanos a partir do final da década de 1970, momento em que avançar nos fundamentos da profissão era reflexo da necessidade de avançar também em cientificidade e 15 identidade profissional, na intenção de “quebra” de paradigma do modelo médi- co, para o paradigma da ocupação, organizando as práticas de intervenção para estabelecer uma linguagem única e evidenciar os resultados da terapia ocupacio- nal para maior reconhecimento e inserção nas políticas de saúde (e consequente cobertura à assistência). Ao remontarmos à história e aos fundamentos da terapia ocupacional no que concerne aos fatores de influência na concepção e no desenvolvimento dos mo- delos de prática profissional, vemos que isso emerge ao longo dos anos em cor- relação estreita com o fortalecimento da identidade profissional. Os fundamentos iniciais da profissão que impactaram o desenvolvimento cien- tífico e, por consequência, a necessidade de modelos datam da época em que Eleanor Clarke Slagle – eleita a principal fundadora da primeira escola de forma- ção regular de terapia ocupacional nos Estados Unidos da América (1913-1914) – foi impulsionada para atenção aos soldados feridos na Primeira Guerra Mundial, pautando-se na análise sobre os hábitos de vida. A ideia principal era que hábitos de vida saudáveis levariam os pacientes a uma vida mais saudável. Temos, ainda, que, a partir da década de 1940, com a criação das primeiras en- tidades de classe, apontou-se para a falta de suporte teórico que sustentasse a prática profissional. A buscapor maior conhecimento, inicialmente nas áreas médicas e de Psicologia, conferiu aos profissionais maior domínio nessas áreas (biológicas e emocionais), ou seja, a relação entre patologias e o processo de terapia ocupacional. Mary Reilly, nos anos 1960 e 1970, retratou bem esse cenário, o qual, através do olhar sobre o “comportamento ocupacional”, passou a influenciar as produções teóricas sobre os fundamentos da terapia ocupacional. O comportamento ocupacional partiu do pressuposto de que a ocupação era o centro e o método da área, sob os pontos de vista da Filosofia, da Psicologia, da Sociologia e da Antropologia, buscando fundamentar um princípio geral que norteasse a profissão. O comportamento ocupacional, subsidiado pelos conceitos da adaptação ao tra- balho e ao jogo, da motivação para a ocupação, da adaptação no tempo e dos papéis ocupacionais, definiu os campos de atuação profissional nos EUA, dando base para as pesquisas em terapia ocupacional. 16 Foi somente a partir da década de 1970 que passamos a nos aprofundar nas sin- gularidades da prática terapêutica ocupacional, fortalecendo os princípios e de- finindo os elos de ligação entre as diversas áreas de atuação da profissão; mais especificamente sobre o que se produzia sobre a ocupação humana. Assim surgiu o Modelo da Ocupação Humana, no qual o olhar deixou de ser para a patologia ou para a doença e passou a ser direcionado para o estudo da ocupa- ção ou da ciência ocupacional. No Brasil, os fundamentos da terapia ocupacional analisados a partir das corren- tes filosóficas positivista, humanista e materialista-histórica trouxeram contribui- ções para realizar uma análise crítica do contexto sociopolítico e econômico das práticas em terapia ocupacional realizadas. Mas, ainda assim, houve a necessida- de de ampliação para abordar toda a complexidade das intervenções em terapia ocupacional. Nesse novo olhar, os terapeutas ocupacionais das décadas de 1980 e 1990 pas- saram a considerar o cotidiano das pessoas, bem como a dimensão cultural e a influência/significado das atividades assumidas no dia a dia como fatores de qualidade de vida. A ocupação passa a relacionar-se com o cotidiano através das vivências ou das experiências de vida, considerando, inclusive, o senso comum. Cotidiano surge como conceito crítico na terapia ocupacional no Brasil, em 1988, entendido como construção sócio-histórica que possibilita conhecer as condi- ções concretas de existência de sujeitos e coletivos. A partir de 1990, constitui-se como um dos eixos norteadores de práticas eman- cipatórias. Seu uso desde 2010 cresce na produção nacional, de modo significati- vo, seja como simples termo, noção ou conceito, seja como categoria de análise. Nos anos 2000, os projetos de vida, as atividades do cotidiano e as rotinas das pessoas passam a protagonizar no raciocínio clínico do terapeuta ocupacional; é no cotidiano que temos o uso do tempo, o ambiente em que o indivíduo está inserido, as atividades do seu dia a dia e os papéis que ele assume na vida. Seguimos no século XXI aprofundando cada vez mais a análise do cotidiano como palco de manifestação de singularidades, baseada em referências culturais e nas relações de produção de uma determinada sociedade, e não somente nas áreas de desempenho do sujeito em seu cotidiano, ou seja, a terapia ocupacional no Brasil passa a atuar com base numa correlação de concepções sobre o ser huma- no – elementos de base teórica de diferentes ciências – o que o torna capaz de 17 abarcar as demandas advindas de uma população diversa (nos aspectos cultural e social) e, em grande parte, ocupacionalmente adoecida. A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) da Organização Mundial da Saúde (OMS) traz uma reflexão a partir de um modelo filosófico em que a condição de saúde é estabelecida de uma forma dinâmica, partindo dos seus conceitos, ou seja, da funcionalidade e da incapacidade e dos fatores de contextos pessoal e ambiental. A funcionalidade e a incapacidade estão relacionadas às estruturas e às funções corporais, aos componentes da atividade e da participação em alguma situação da vida real e não dissociadas do contexto pessoal e do ambiental. Esse modelo levanta questões éticas e sociais importantes para dimensionar a reabilitação e a real inclusão de pessoas, quer sejam deficientes ou não. Nesse ideal, a elaboração de políticas públicas, bem como de estratégias de ação depende de informações a partir de dados da necessidade de reabilitação e in- clusão. Daí a importância de estabelecermos uma linguagem única ou universal de classificação. No ano de 2011, um relatório da OMS, em conjunto com o Banco Mundial revelou que cerca de 15% da população mundial, o que corresponde a mais de um bilhão de pessoas, têm algum tipo de deficiência, e que 20% dessas pessoas enfrentam dificuldades expressivas em sua vida cotidiana. Esses números desencadeiam demandas específicas, bem como indicadores de atenção para planejamento fu- turo de gestão. Esses dados (mundiais ou nacionais) revelam o crescimento da população que convive com pessoas deficientes, e que assim pode atentar às reais necessidades de ação para garantir questões básicas como o acesso a serviços de saúde e o respeito aos direitos de cidadão. Nesse processo de evolução científica, resultam dois pontos importantes: o pri- meiro é a questão da evolução tecnológica, que, impulsionada, cresce proporcio- nalmente à necessidade de resolução de problemas complexos, gerando solu- ções para as áreas envolvidas, como, por exemplo, a saúde e a reabilitação; e a necessidade de capacitação profissional ou a educação continuada, pois quanto maior a sustentação teórica, maiores as alternativas de prática possíveis. Próteses biocompatíveis e sensoriais, cadeiras de rodas leves e ágeis, casas in- teligentes, telessaúde com orientações por videochamadas, robótica, jogos 3D, estratégias de atenção territoriais, abordagens em neuroplasticidade são bons exemplos do quanto as novas tecnologias advindas dessas áreas do saber podem determinar uma melhor relação do ser humano com as atividades que realiza. 18 Com relação às atividades (aquelas realizadas na rotina cotidiana pelo ser huma- no), o termo Atividades da Vida Diária (AVD) aparece desde o início das profissões relacionadas à saúde, entre elas a terapia ocupacional. Foi nas duas grandes guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) que houve a aproximação do terapeuta ocupacional com as atividades diárias que executa- va, e essa era uma questão importante, pois caracterizava como o profissional responsável pela reabilitação direcionada à independência nessas atividades ou ocupações trabalhava promovendo inclusão através da terapia ocupacional. Essa abordagem pode ser observada na prática de terapeutas ocupacionais e acaba por caracterizar a profissão. Transcorridos mais de cem anos, essas abordagens que trazem as questões das AVD se desenvolveram conceitualmente e, também, no âmbito prático para o desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisas, cujos resultados compro- vam o efeito das intervenções relacionadas às AVD para diferentes populações e deficiências. Mais uma vez temos a Associação Americana de Terapia Ocupacional (AOTA) protagonizando no cenário teórico-prático terapêutico ocupacional, com o con- ceito de AVD, em 2014. As AVD foram definidas como atividades orientadas em direção aos cuidados com o próprio corpo, também referidas como Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) ou pessoais da vida diária (APVD). São tidas como atividades fundamentais para a manutenção da vida em sociedade. As pessoas que estão satisfeitas com os papéis que desempenham em suas roti- nas, de modo geral, são aquelas que possuem os recursos e as capacidades para desempenhar suas AVD, que são consideradas como uma forma de ocupação e subdivididas em: banho e tomar banho, toalete e higiene, vestir-se, comer e alimentar-se, mobilidade funcional,cuidado com dispositivos pessoais, higiene pessoal e arrumar-se e atividade sexual. Já as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) são aquelas atividades que suportam a vida diária dentro de casa e na comunidade e que, frequentemen- te, requerem interações mais complexas ou elaboradas do que as AVD. Essas atividades incluem cuidar de outras pessoas, cuidados com animais, cuidar de crianças, administração da comunicação, dirigir e ter mobilidade na comunidade, administração das finanças, administração da saúde e a sua manutenção, admi- nistração e estrutura da casa. 19 Na equipe de reabilitação, o terapeuta ocupacional é o profissional mais espe- cializado e indicado para ensinar os pacientes a restaurar seu papel de pessoa independente, à medida que enfoca essas atividades nas suas diferentes abor- dagens de reabilitação e, através de sua análise, incorporando isso no raciocínio clínico profissional. Os processos de reabilitações física, mental ou social que buscam abordar as AVD tendem a promover que os indivíduos retornem gradualmente às suas ativi- dades conforme a melhora de suas capacidades. Por outro lado, a abordagem adaptativa enfoca a terapia centrada nas AVD como um desfecho da reabilitação, ou seja, quando as capacidades não podem ser completamente restauradas e requerem adaptações que modificam o ambiente, a forma de realizar a atividade ou um dispositivo que compense um déficit ou uma deficiência. Dessa forma, interpreta-se que os conceitos de AVD e AIVD como ocupações re- metem a uma abordagem de reabilitação que contemple o uso de tecnologias diversas, da adequação política, cultural, pessoal, ambiental e familiar de forma integrada como parte do escopo de atuação do terapeuta ocupacional. Embora as AVD e AIVD estejam incorporadas na prática desse profissional, a com- plexidade dos casos costuma exigir o envolvimento de outros profissionais ou disciplinas, de forma integrada e compartilhada, incluindo questões essenciais para o desenvolvimento da avaliação, a intervenção e os resultados, os quais compõem o processo da terapia ocupacional. Reuniões periódicas em que os membros da equipe possam trocar informações, estabelecer necessidades e elencar os recursos que serão utilizados na aborda- gem às AVD tendem a fortalecer as características multiprofissionais e interdisci- plinares presentes. As AVD são tidas como atividades que refletem a vida pessoal do indivíduo. O vestuário não se trata apenas do ato de vestir-se e despir-se, mas reflete um estilo e marca uma característica de individualidade. O comer e o alimentar-se não se tratam apenas de deglutir e levar um talher até a boca, mas envolve um momento familiar ou com amigos, tornando-se um ritual social. Banhar-se e en- xugar-se envolve privacidade, tocar o próprio corpo, cuidar de si a cada dia; um momento de relaxar. Nessa perspectiva, o repertório de AVD deve ser refletido entendendo-se a dimensão do impacto da perda de autonomia na vida dos indi- víduos, pensando-se no valor e na representação dessas atividades. 20 Por fim, pensar a reabilitação a partir da análise dos indivíduos partindo das AVD en- volve a integração de diferentes abordagens, pois não se reabilita uma parte do corpo, e sim uma pessoa que realiza atividades significativas e necessárias à sua vida. Identificar se o uso de uma órtese de membro superior interfere na marcha ou avaliar se um melhor posicionamento de cabeça durante a atividade de alimentação de um paciente, no fonoaudiólogo e no terapeuta ocupacional, pode ser possível, bem como determinar o melhor momento para a prescrição de uma cadeira de rodas são exemplos de questões que irão aparecer na rotina de reabilitação do paciente. Esses exemplos espelham ações que envolvem o conhecimento de diferentes disciplinas da área da saúde, além do respeito e a valorização do trabalho em equipe. As ações interdisciplinares permanecem um desafio constante na forma- ção e na atuação dos profissionais que trabalham e/ou desejam trabalhar com reabilitação de pessoas com deficiência e a sua real inclusão. Todo esse aporte conceitual nos leva aos modelos de prática e como foram ela- borados ou pensados e considerados para referenciar as intervenções, gerando evidências e fortalecendo ainda mais as linhas de pesquisa correlacionadas, e fortalecendo o raciocínio clínico dos profissionais. Entre os principais modelos (alguns considerados por terapeutas ocupacionais e pesquisadores no Brasil), podemos citar: • Canadian Model of Occupational Performance and Engagment (CMOP-E); • Modelo da Ocupação Humana; • Person-Environment Occupation (PEO); • Person-Environment-Occupational-Performance (PEOP); • Kawa Model. O ensino de graduação em terapia ocupacional pode ser direcionado curricu- larmente para preparar os alunos para o cenário da saúde, usando estratégias ativas de ensino e aprendizagem com ênfase em um método. Os alunos seguirão estratégias de avaliação e intervenção baseadas em pesquisas e em evidências. A base para o curso pode ser, por exemplo, como o programa curricular de te- rapia ocupacional da Washington University School of Medicine, referenciado no modelo People-Environmental-Occupation-Performance (PEOP), como descrito na figura 5, logo a seguir. 21 Figura 5 – Modelo Curricular – Círculos de interseção (diagrama) representando o pro- grama curricular de terapia ocupacional da Washington University School of Medicine, em St. Louis, EUA Fonte: Adaptada de WashU #ParaTodosVerem: imagem com seis círculos dispostos em interseção, num total de dez setores, representando a base conceitual (conceitos descritos em seus interiores) que caracteriza o programa do curso de terapia ocupacional (e, portanto, o perfil profissional) da universidade. Os setores externos trazem os conceitos de crescimento profissional, imersão em prática baseada em evidências, perspectivas biomédicas e socioculturais, modelo People-Environmental-Occupation-Performance (PEOP) e engajamento cívico. Os setores internos trazem os conceitos de antirracismo, equidade, diversidade, inclusão e justiça. Os círculos possuem fundos em tons pastéis nas cores verde, azul e amarelo, com dizeres (conceitos) centralizados, internamente, em preto. Fim da descrição. O Modelo da Ocupação Humana foi o mais difundido (maior número de publica- ções associadas e evidências da prática); é direcionado à ocupação e é centrado no cliente. Esse modelo é decorrente do trabalho de Gary Kielhofner, a partir de sua atua- ção com pacientes lesados medulares acidentados de guerra. No Brasil, parte dos profissionais busca sustentação nas ciências filosóficas, nas sociais e na Psicologia para as práticas realizadas, por responderem às questões de vulnerabilidade social do País. Ainda, parte dos profissionais parece utilizar as terminologias ou os instrumen- tos disponibilizados pelos modelos, o que auxilia na direção para as práticas realizadas. 22 Concluímos, então, que o crescimento da profissão, historicamente, não ocorre de forma linear e único, e sim, decorre de ciclos, eventos ou acontecimentos, com grande influência do contexto ou das pessoas que serão atendidas; mas é fundamental considerar também a importância de uma linguagem universal – os modelos podem auxiliar nesse processo, com a padronização conceitual e a mensuração/avaliação dos resultados, fortalecendo, portanto, as singularidades do campo profissional ou a interligação entre os diferentes campos de conheci- mento, o que iremos explorar mais profundamente em breve. MATERIAL COMPLEMENTAR Site Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional – Brazilian Journal of Occupational Therapy https://bit.ly/45PUqW6 Vídeos “Avaliação da Participação Ocupacional no Instrumento MOHOST Brasil” https://bit.ly/3PhBPwP Aplicando a Teoria à Prática https://bit.ly/44vRI76 COPM – Medida Canadense de Desempenho Ocupacional https://bit.ly/3OZpcoO https://bit.ly/45PUqW6 https://bit.ly/3ncoSZV
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