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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO O ESTADO, SUA EVOLUÇÃO E A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA Guilherme Ferreira Silva

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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO O ESTADO, SUA
EVOLUÇÃO E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
1.0 Os tipos de Estados e a evolução histórica
Nina Ranieri (2019) afirma que durante toda a história da humanidade os Estados
estiveram presentes em uma parcela pequena da nossa narrativa. Para chegar a esta
afirmação, a autora faz uma separação conceitual na qual analisa o Estado a partir de
quatro características. Segundo ela, uma organização deve ser considerada como
Estado se:
a) for diferenciada de outras organizações em atividade no mesmo território;
b) for autônoma;
c) for centralizada;
d) os seus setores estiverem coordenados (RANIERI, 2019, p. 21).
É importante, desde já, chamar a atenção do estudante que este critério adotado pela
autora pode variar bastante se comparado com outros teóricos de teoria do Estado e,
inclusive, se percebermos que os elementos de um Estado moderno serão outros mais
específicos e que abarcam a complexidade do seu tempo. De toda forma, se
observarmos as formações sociais que buscaram instituir uma força orgânica, oriunda
de alguma manifestação política, e chamarmos esse ente de Estado, perceberemos
outras formas de Estado mais remotas que são destacadas por outros autores. Para
compreendermos o processo histórico do Estado e como ele chegou à forma moderna
atual, buscaremos expor os traços dos Estados pré-modernos.
1.1 Estado antigo
Ranieri (2019) cita como exemplos de Estados antigos o Egito a partir de 1500 a.C., a
Pérsia do século V a.C., assim como o Japão e a China.
Por outro lado, Sahid afirma que:
Os Estados mais antigos que a história relata foram os grandes impérios que se
formaram no Oriente desde 3.000 anos antes da era cristã. Os maiores e mais antigos
foram os que se formaram na Baixa Mesopotâmia, banhada pelas águas do Tigre e do
Eufrates, e no Egito, banhado pelo Nilo. (SAHID, 2009, p. 101).
É em razão destes exemplos citados por Ranieri que Streck e Morais (2014) também
chamam o Estado antigo como oriental ou teocrático. Os referidos autores apontam
que eram Estados em que a família, a religião, a força econômica, e a estrutura estatal
se misturavam de maneira indissociável. 
Era um Estado que se organizava geralmente pela forma de governo monárquico,
com reis, príncipes ou imperadores, com uma noção de direito em face do Estado
reduzida a quase nada, com uma estrutura social de muitas desigualdades e
hierarquias bem marcantes. 
Enquanto organização burocrática, não havia divisões. Era um Estado unitário, em
que as funções se misturavam entre aqueles que recebiam mais poderes do soberano,
quando este decidia por delegar algumas de suas funções.
A ideologia teocrática guiava não só as vidas particulares como também as relações
estatais, que por sua vez fundava o exercício da força e do governo na explicação
divina. Era comum que os líderes dos Estados fossem considerados deuses na Terra,
como no caso dos faraós do Egito.
Maluf (2009) reforça uma ideia que nos parece coerente com os relatos históricos e
que afasta qualquer romantismo na análise do Estados antigos. O autor afirma que um
traço comum da época era o conflito constante entre as formações estatais, que se
mantinham pela força das suas armas. Desses conflitos, um Estado anexava o
território do outro ao seu poder, inclusive com a escravização do povo vencido.
Outra característica que o autor aponta, e que decorre deste arranjo político, é que de
maneira geral, no Estado antigo, faltava o elemento de um povo, ou nação, em que as
pessoas possuíssem um sentimento de pertencimento àquele Estado.
1.2 Estado grego 
Os Estado grego, também denominado de Estado helênico, pode ser colocado
temporalmente entre os anos dos séculos IX e IV a.C. A evolução e as alterações
neste período foram grandes, o que necessita demarcar alguns fatos para além das
características gerais deste modelo de organização social e estatal de muita
importância para a sociedade ocidental.
A partir do século IX a.C., a Grécia era governada na forma monárquica e no modelo
patriarcal. O Estado era formado por cidades que possuíam grande independência
entre elas. 
Uma característica que geralmente é imaginada pelos estudantes é que o Estado grego
seria democrático. Esse pensamento não pode ser assumido de forma literal,
principalmente se o parâmetro do conceito de democracia for pensado como nos dias
atuais.
Sahid destaca, neste sentido, que:
O Estado grego antigo, geralmente apontado como fonte da democracia, nunca
chegou a ser um Estado democrático na acepção do direito público moderno. O
próprio Estado ateniense, no auge da sua glória, sob a liderança de Péricles,
apresentava, na sua população de meio milhão de habitantes, cerca de 60% de
escravos, sem direitos políticos de qualquer espécie, além de cerca de 20.000
estrangeiros. Resumiam-se a pouco mais de 40.000 os cidadãos que governavam
Atenas e constituíam a soberania do Estado. (Sahid, 2009, p. 105).
Por outro lado, Lopes, Queiroz e Acca (2013) mostram como alguns elementos que
hoje são símbolos da democracia surgiram no Estado grego, como o julgamento
realizado no júri, o qual é decidido por cidadãos e demonstra a igualdade entre os
pares, e a deliberação de decisões políticas em ambientes públicos, que representa a
democracia direta.
Nina Ranieri (2019), por sua vez, diz que as cidades-estados desenvolveram a
democracia dos antigos, aquilo que Said traz como o Conselho dos cidadãos, um
autogoverno com decisões que eram tomadas na ágora, as praças públicas da época.
Os Estados-cidade, também conhecido como polis, passaram por transformações e
assumiram formas diversas de governo, até mesmo com a república democrática
direta. De toda forma, a aristocracia sempre teve papel importante nos governos
gregos. A autora destaca que a forma de criação identitária do cidadão grego era
voltada para o passado, sendo que era necessário a manutenção do seu vínculo com a
cidade, sem uma noção de autonomia semelhante com a que temos hoje.
Neste processo de evolução, Maluf (2009) aponta que no século IV o Estado
ateniense editou seu conjunto de leis, semelhante ao papel de uma Constituição, e
instaurou a Assembleia dos Cidadãos, que passa a assumir o principal papel político
no Estado, o que trazia a substituição do Conselho de Anciãos, com características
nitidamente aristocráticas.
Outro traço marcante do Estado grego era a separação das leis e da esfera pública
com a religião. Apesar de uma narrativa mítica que inspirava o pensamento filosófico
e político, as leis eram necessariamente pautadas em algum fundamento racional.
A filosofia, por sua vez, que trouxe uma herança ao mundo ocidental imensurável, é
um traço marcante do Estado, inclusive com os pensadores sendo ouvidos pela
população e pelos governantes à época.
1.3 Estado romano
O Estado romano perdurou por longo período (754 a.C. a 565 d.C.) e teve grande
importância no mundo ocidental, inclusive com influência no mundo oriental, uma
vez que o império romano conquistou território do lado oriental da Europa, norte da
África e parte da Ásia.
Roma passou por governos diversos neste período. Apesar de ser conhecido como
período do Império Romano, houve governos monárquicos, republicanos, principados
e o imperial. Sahid Maluf (2009) traz que inicialmente o Estado romano era
monárquico, do tipo patriarcal, tendo evoluído da realeza hereditária para a república,
com a presença do Estado-Cidade chamado civitas. 
Ranieri (2019) diz que umas das razões da duração do Estado romano deveu-se à
organização em bases municipais e ao exercício de um poder político soberano,
exercido por um único detentor.
Importante neste cenário político é a forma com que os romanos aceitavam costumes
locais como regrasválidas, ainda que os municípios incorporados ao império
tivessem que se submeter ao poder central. Dessa forma foi possível, ao contrário do
que ocorreu ao povo do Estado grego, incorporar as pessoas dos locais dominados.
Neste sentido,
A partir do século III a.C., foram denominados municipia os territórios pertencentes a
comunidades originariamente independentes que, incorporados ao território estatal
romano, perdiam a natureza de civitas. Às municipia eram impostos certos serviços e
prestações (denominados munera capere) e exigida a submissão às leis romanas,
garantindo-se, contudo, certa autonomia, que se expressava pela preservação de
normas e costumes locais preexistentes. Tal garantia foi especialmente notada no
campo das relações privadas, mas também na organização administrativa. Esta,
exercida pela magistratura e pelas corporações locais, independentemente da forma
de incorporação dos habitantes à cidadania romana, não incluía direitos políticos (em
especial o direito de voto) até prova de inconteste fidelidade e progressiva
latinização. (RANIERI, 2019, P. 27).
O império romano conseguia concretizar as três formas de governos propostas por
Aristóteles, sendo que a realeza era formada pelos cônsules, a democracia pelos
cidadãos em comícios e a aristocracia através do Senado. Maluf também anota
características importantes sobre os direitos e função do Estado romano:
O Estado romano, muito semelhante ao Estado grego, tinha suas características
peculiares: distinguia o direito da moral, limitando-se à segurança da ordem pública;
a propriedade privada era um direito quiritário que o Estado tinha empenho em
garantir; o homem gozava de relativa liberdade em face do poder estatal, não sendo
obrigado, praticamente, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei; o Estado era havido como nação organizada; a vontade nacional era a fonte
legítima do Direito. (SAHID, 2009, p. 111).
O papel dos comícios, apesar de variar durante o império, no período republicano
teve alguma importância, tendo sido determinante na aprovação de algumas leis. Por
outro lado, os magistrados representavam aqueles que mais poderes políticos tinham
em Roma, sendo as pessoas que realmente governavam o império.
Um estudo aprofundado do Estado romano certamente remeterá o estudante a
elementos históricos da formação do Direito enquanto ciência, bem como a origem
dos institutos que são adotados hoje na esfera jurídica. Anotamos aqui a importância
de todo este período para a sociedade ocidental e aquele que deseja ser um operador
do Direito com um conhecimento sólido e aprofundado.
1.4 Estado medieval
O período medieval é compreendido entre os séculos X e XV, apesar da diferença das
datas compreendidas conforme cada autor.
O Estado medieval teve três elementos presentes que o caracterizaram: o
cristianismo, as invasões bárbaras e o feudalismo (STRECK e MORAIS, 2014).
A igreja católica é sempre citada como um elemento político de grande influência na
organização estatal durante este período. O fato de ter sido uma organização que
sobreviveu durante um momento em que os poderes centralizados foram dissipados
deu a ela uma vontade organizacional, perpassando de forma horizontal por diversos
núcleos de poderes da época.
Assim, após as invasões bárbaras e dos povos árabes pelo Europa, e com o fim do
império romano, faltaram poderes políticos organizados e que conseguiram manter-
se. Foi o que acabou por dar origem aos feudos.
Os feudos eram grandes porções de terras de propriedade do senhor feudal que
tinham em sua extensão os vassalos, que produziam nos feudos em troca do uso das
terras e de proteção. A relação era, portanto, estritamente contratual, na qual um cedia
o uso das terras e proteção militar em troca de produção de alimentos e suprimentos
básico para a vida à época.
Morais e Streck apontam as seguintes características deste novo sistema:
A – permanente instabilidade política, econômica e social;
B – distinção e choque entre poder espiritual e poder temporal;
C – fragmentação do poder, mediante a infinita multiplicação de centros internos de
poder político, distribuídos aos nobres, bispos, universidades, reinos, corporações,
etc.;
D – sistema jurídico consuetudinário embasado em regalias nobiliárquicas;
Relações de dependência pessoal, hierarquia de privilégios. (STRECK e MORAIS,
2014, p. 25).
Desse processo histórico não é possível afirmar como cada feudo funcionava e como
essa relação estatal se dava além de tais elementos que se resumiam ao poder destes
senhores feudais. De toda forma, um elemento do fim da idade média que acabou
sendo determinante para o modelo absolutista que seguirá é o fato de senhores
feudais terem realizado conquistas territoriais, anexando outros feudos aos seus e,
assim, formando-se pequenos reinos hereditários.
1.5 Estado moderno
A modernidade é compreendida por muitos com a queda de Constantinopla em 1453
e por outros com a conquista das Américas a partir de 1492. Destacamos que ambos
os fatos históricos são de grande importância e representam a abertura da Europa para
o resto do mundo.
O primeiro deles abre a Europa para o oriente ao passo que acaba com o monopólio
da rota comercia por Veneza, enquanto o segundo abre para a Europa um mundo
ainda inexplorado, com possibilidades ainda desconhecidas de conhecimento e
comércio.
Estes fatos vão ao encontro de um pensamento filosófico que retiraria Deus do centro
das explicações e colocou o homem racional como detentor do poder de explicar,
dominar e até mudar a natureza. Ainda, encontra amparo em uma nova classe social
que estava em ascensão, a burguesia, que necessitava de um Estado que garantisse
segurança e previsibilidade nas relações militares e tributárias, para lograrem êxito
em suas atividades.
Outro fator que deve ser pensado é o advento de teorias que consagraram a ideia de
um Estado absolutista, sendo destaque junto com as teorias contratualistas para a
compreensão do Estado como temos hoje.
Mário Lúcio Quintão Soares traz que,
Assim, o poder dos senhores feudais decaiu, diretamente ameaçado pela extinção
gradual da servidão. O resultado disso foi o deslocamento da coerção política, em um
sentido ascendente, rumo a uma cúpula dotada de poder centralizado e militarizado: o
Estado absolutista. (SOARES, 2011, p. 79).
Este Estado absolutista passa por algumas fases distintas, sendo que, se por um lado
decorre de uma evolução dos reinos feudais, por outras teorias foram sendo
desenvolvidas e solidificadas pela Europa que exigiram justificações dos reis. Neste
sentido, as teorias expostas na Unidade II mostram como os contratualistas trouxeram
explicações sobre o poder do Rei e os limites existentes sobre eles.
As monarquias absolutas encontraram nas Constituições e declarações de direitos
fundamentais uma limitação e uma forma de Estado agora enquanto ente.
Soares (2011) diz que este Estado moderno apresenta duas características marcantes
em seu surgimento, ou o que podemos anotar como a fase de transição, que são o
aparato administrativo de forma burocrática, e que presta alguns serviços públicos, e
o monopólio legítimo da força que poderá ser exercido contra todos que estão sob a
égide de um determinado Estado.
Neste contexto, o pensamento liberal também está presente e é utilizado para
justificar um Estado que detenha este monopólio do poder para que o livre comércio
seja exercido. Apesar de parecer paradoxal em um primeiro momento, a burguesia
percebe que somente com um Estado único e centralizado seria possível garantir
segurança e previsibilidade tributária para o exercício livre de suas atividades. Aqui o
Estado moderno cumpre um papel fundamental, que é afastar qualquer poder
paralelo.Contudo, ele o faz sempre pautado em um liberalismo político-econômico
de contenção sobre o papel deste poder estatal.
Destacamos que, em nossa visão, a Paz de Westphalia (em 1648) pode ser
considerada o principal fato desta transformação estatal eque solidifica os Estado e
seus elementos da era moderna. Paz de Westphalia é o nome dado aos tratados
assinados após a Guerra dos Oitenta Anos e a Guerra dos Trinta Anos, em que
Estados católicos e protestantes disputavam territórios e governos.
Tal fato é de grande importância para o surgimento do Estado moderno, pois os
tratados firmam a necessidade de territórios para a formação de Estados, inclusive
com a delimitação destes territórios e de quem os dominava. Desta característica
também resultou no reconhecimento de poderes políticos soberanos sobre cada
território. Com o acordo de não invasão entres os Estados, foi criado o princípio:
hujus regio, ejus religio (na região deles, a religião deles).
O Estado passa a ser uma pessoa artificial, e com essa entificação também surgem
características comuns que são identificadas pela Teoria Geral do Estado e que,
apesar da divergência de nomenclatura de autor para autor, geralmente se estruturam
em três elementos: a população, o território e o governo soberano. Eis o advento o
Estado moderno.
2.0 O Estado e seus elementos constitutivos
Conforme abordamos no tópico anterior, o Estado manifestou muitas formas de
organização e de governo, sendo certo que muito mudou para ser o que identificamos
hoje. Por outro lado, é com o advento da modernidade e o fim da Idade Média que o
Estado toma a forma conceitual que adotamos na Teoria do Estado atual.
Apesar disso, alguns autores divergem quanto aos elementos que compõem o Estado
e como encará-los. Por isso, alertamos o estudante que faça uma leitura aprofundada
sobre o tema que é cerne da disciplina. Por ora, traremos a posição que
compreendemos ser a mais acertada, e que sintetiza o que os principais autores
brasileiros concluem.
É importante perceber que esses elementos são essenciais para a constituição de um
Estado, o que significa afirmar que eles possuem implicações práticas no
reconhecimento do organismo estatal, seja no âmbito interno e externo. Ou seja, para
que possamos chamar uma sociedade de Estado será necessária a cumulação destes
três elementos: o território, a população e o governo soberano.
Antes de explicarmos cada um destes elementos, frisamos o que Soares (2011) traz
sobre a personalidade jurídica do Estado. A teoria que aborda tal concepção, de que o
Estado é uma pessoa jurídica, foi inicialmente concebida por Gierke, Gerber, Jellinek,
entre outros. Nela, o Estado seria uma pessoa em si, que ganharia um status jurídico
em virtude de sua organização, com o elemento subjetivo composto pelo seu povo,
em um território delimitado que é a representação corpórea e o governo soberano que
exerce a manifestação de vontade dessa pessoa.
Por último, é necessário tomar nota que alguns autores acrescentam um quarto
elemento para a constituição do Estado. Nina Ranieri, por exemplo, considera que a
finalidade é um outro elemento essencial na formação estatal. Geralmente, os autores
que buscam a finalidade como um elemento estão ligados a uma análise mais jurídica
das relações estatais, como Hans Kelsen e Miguel Reale.
Essa finalidade é a própria fundamentação da existência e das ações da organização
pública: é o fim para o qual o Estado é criado e explica sua existência. Nina Ranieri
afirma que “atualmente, a proteção da dignidade humana e a promoção dos direitos
fundamentais prevalecem como fins do Estado.” (RANIERI, 2019, p. 135).
2.1 Território
Azambuja afirma que o território é o próprio corpo físico do estado, um espaço físico
que o compõe. É a partir deste limite que é, em regra, reconhecida a soberania estatal
e suas relações jurídicas internas podem ser formadas.
Faz-se importante perceber que o território é um dos principais critérios para adoção
de uma lei. Ou seja, a regra é que em todo o território é aplicada a lei do Estado.
De início, o referido autor já nos aponta como é essencial o elemento territorial, e traz
como um exemplo de negação o que o povo judeu viveu até o fim da Segunda Guerra
Mundial. Assim, ainda que aquele povo tivesse alguma forma de liderança com
poderes políticos, a ausência de um território impedia-lhes de serem considerados
como um Estado.
Essa noção de território, enquanto elemento, surge com a organização westfaliana,
como mencionamos anteriormente. Dessa forma, o reconhecimento por meio de
tratados entre os Estados de que há uma porção de terras que pertence a um deles, e
que o outro não o violará, é de grande importância para a compreensão desta
característica nos Estados modernos.
No plano da teoria do Estado, há relevância no estudo sobre as fronteiras, pois em
muitos casos elas são disputadas e podem ser alteradas (são as chamadas fronteiras
vivas). Essas áreas de disputas geram tensões e conflitos, inclusive com a
possibilidade de surgir destes espaços geográficos fronteiriços um novo Estado.
Mário Lúcio Quintão Soares destaca duas características básicas do território estatal:
• A delimitação ou o estabelecimento de limites ao poder territorial do Estado:
implica um tríplice significado na vida internacional: é o fator de paz, sinal de
independência e elemento de segurança. Uma zona geográfica fechada possibilita e
estimula a criação e solidificação de uma entidade sociopolítica hermética na qual a
vizinhança atuará unindo para dentro e diferenciando para fora;
• A estabilidade: seus limites não se alteram com frequência e a sua população
sedentária, submetida a uma relativa semelhança de condições espaciais de ordenação
e vida, pode superar disparidades sociais, econômicas e nacionais. (SOARES, 2011,
p. 121).
Esse território é, portanto, um pedaço físico de terra com seu subsolo e também a
atmosfera que o cerca. Inclui-se os rios, lagos e os mares, conforme tratados
internacionais. Contudo, só a partir do momento que há a ocupação do ser humano
sobre essas terras é que faz sentido mencionarmos que essa área é um elemento
estatal, pois é necessário que o poder soberano seja ali exercido, o que inclui a
possibilidade de aplicação do direito, tecnicamente denominada como jurisdição.
Antigamente falava-se que havia uma relação de propriedade entre o príncipe e o
território. Hoje fala-se em uma relação de imperium. Isso pelo poder que o Estado
tem sobre seu povo. A teoria recebe crítica pelas exceções, como os navios mercantes
em alto mar, como aponta Azambuja, que também critica ao afirmar que não há nem
puramente uma propriedade e nem esse império. É na verdade um elemento.
2.2 Poder soberano
As sociedades e organizações humanas acabam se organizando por meio de relações
de poderes, que se manifestam em busca de uma ordem e algum nível de hierarquia.
Esses poderes, por sua vez, são a dinâmica da política, que é essa ordem do poder. É
nessa política que surgem os governos soberanos. O governo estatal possui uma
força, uma coação irresistível em relação aos indivíduos e é independente em relação
aos demais Estados. Sobre o tema, remetemos o estudante à Unidade II.
E este poder soberano como elemento estatal exige que essa relação de poder esteja
presente em um território para identificarmos ali um Estado. Um exemplo de
território que tem povo e governo mas que não é estado são os estados-membros, uma
vez que eles não possuem soberania, apenas autonomia. 
A soberania, portanto, é o poder supremo do estado, que não tem poder semelhante
em seu território competindo com ele. Didaticamente, dividimos esse poder em dois
tipos:
soberania interna:a relação do poder com aquelesque vivem no Estado
soberania externa: a relação do Estado com os demais Estados no âmbito
internacional, apesar de a soberania ser indivisível, cientificamente.
2.3 Povo
Povo é o elemento humano, ou subjetivo, do Estado. É o agrupamento de pessoas
que, ao ganharem complexidade, formam uma sociedade com funções e interesses
diversos, mas que convergem para possuir um mínimo de estabilização social. Há
nesta relação entras as pessoas e o Estado um vínculo jurídico.
Alguns autores, como Azambuja (2008), diferenciam o povo da nação. Este último
conceito remete a um conjunto de pessoas com origem comum, unidos por um
sentimento e aspirações comuns, um sentimento complexo muitas vezes traduzido
como patriotismo.
Há países que abrigam várias nações, e nações divididas em mais de um país. Apesar
do caráter idealista que o termo nação pode ser compreendido, existem nações pelo
mundo. E estes exemplos mostram que o elemento da nação não está necessariamente
ligado à identificação dos Estados, por isso Azambuja (2008) afirma que a nação não
é necessária para constituir o Estado, mas um elemento importante para a grandeza de
um Estado.
O Princípio das nacionalidades, advindo pós revolução francesa, traz que toda nação
teria o direito de se tornar um estado. Contudo, a prática não mostrou êxito nesse
princípio, ainda que na teoria seja muito aceito. A dificuldade de se estabelecer
realmente o que é uma nação e separar movimentos oportunistas de separação
dificultam a aplicação do princípio.
2.4 O Estado democrático
Nina Ranieri afirma que “O Estado democrático, como tipo específico de Estado
moderno, caracteriza-se por associar a supremacia da vontade popular à garantia da
liberdade e à igualdade de direitos” (RANIERI, 2019, p. 315).
É importante perceber que essa noção de Estado democrático parte de uma ideia de
democracia liberal enquanto elemento do Estado de direito. Enquanto isso as pessoas
formam a soberania e a ideia de que a população é livre e que são formalmente
iguais, sendo que o direito deve ser aplicado igualmente a todos.
Esta concepção pode ser lida, revisitada, criticada e até ter nova significação de
acordo com o paradigma estatal que será conjugado, razão pela qual estes elementos
podem ser ampliados e ressignificados.
Neste sentido, é comum vermos outros elementos que configurariam um Estado
democrático, como o direito ao voto, a cargos públicos, liberdade de manifestação e
imprensa, além de instituições livres, independentes e, a depender, autônomas.
No próximo tópico abordaremos modelos de democracia e traremos algumas
reflexões, bem como trataremos das Constituições na Unidade IV. Por isso alertamos
ao estudante que visite estas partes para uma melhor compreensão do Estado
democrático.
3.0 Modelos de democracia
Mário Lúcio Quintão Soares (2011) traz a origem do termo do grego, demokratia, que
remete ao período da Grécia antiga e à participação direta daqueles que eram
considerados cidadãos autônomos. Assim, a origem do termo remete à ideia da
participação popular na governança do Estado.
A democracia é vista, portanto, como o governo do povo e as possibilidades dos
cidadãos participarem do governo. 
Apesar de o termo democracia ser usado cotidianamente por acadêmicos, juristas,
jornalistas, cidadãos em seu cotidiano, há uma variação de significações que
merecem atenção. Assim, apesar da possibilidade da síntese apresentada acima, é
sempre importante que o estudante conheça diversas teorias sobre os sistemas
democráticos.
3.1 Democracia representativa
A democracia representativa é uma conquista das revoluções do final do Século
XVIII, concebida como uma forma de acabar com privilégios e não permitir um
governo de poucos para poucos.
Neste sentido, o direito fundamental ao voto era importante para que o povo pudesse
escolher quem o representaria. James Madison ainda destaca que as eleições
deveriam ser periódicas para que a soberania popular fosse realmente efetiva
(RANIERI, 2019, p. 318).
John Stuart Mill (Ranieri, 2019) também escreveu sobre O Governo Representativo,
em 1861, e cunhou o termo democracia representativa, além de abordar o tema de
forma sistemática.
O autor destacou que, além de não ser possível uma democracia direta em Estados
que possuem mais que uma cidade pequena, na representatividade deveria ser
garantido que minorias pudessem se ver representadas, para evitar uma tirania da
maioria (Ranieri, 2019, p. 319).
Dessa forma, a democracia representativa teria algumas características em comum
para possibilitar a participação popular e garantir também a representatividade das
parcelas de pessoas e suas diferenças. Podemos afirmar, assim, que a democracia é
indireta, pois o governo é gerido por representantes, e que é comum um pluralismo
partidário que consiga trazer a representação das minorias.
Devemos observar que, apesar de teoricamente a democracia representativa ter
ganhado voz na transição para o século XX, na prática ela não era aplicada, visto que
poucos votavam no mundo ocidental. Apenas na segunda metade do século é que a
maioria dos países avançaram neste sentido.
Para ilustrar, vale destacar que no Brasil a mulher só passou a escolher seus
representantes a partir da Constituição de 1946, apesar de uma década antes ter tido o
direito de voto na Constituição de 1934. Nos Estados Unidos da América, por sua
vez, os negros não votavam em sua totalidade até os movimentos civis da década de
1960.
Outro ponto que merece ser pensado sobre a democracia representativa é que ela vem
passando por crises. Rousseau (Ranieri, 2019) afirmou que a democracia enquanto
realizada por representantes deixa de ser um autogoverno, uma vez que a vontade não
se representa, mas só pode ser manifestada em sua plenitude se feita diretamente.
Essa perspectiva anuncia teoricamente aquilo que muitos autores têm chamado de
crise de representatividade, e que demanda outros arranjos democráticos.
A crise da democracia também ocorre de maneira constante na história da América
Latina, incluindo aqui no Brasil. Avritzer (2018) afirma que o valor que a sociedade
brasileira dá à democracia é relativo aos valores e prioridades dadas pelo governo. O
governo que segue um caminho que destoa das forças políticas do momento acaba
sofrendo com instrumentos antidemocráticos. Tivemos a oportunidade de destacar
como nossa história é pautada em medidas de exceção que suspendem os
instrumentos democráticos, e como 21% da população brasileira não tem aversão à
ideia de uma intervenção militar para solucionar os problemas socioeconômicos de
forma autoritária (CRUZ e SILVA, 2018).
No Brasil essa crise ficou evidencia desde as manifestações de julho de 2013,
enquanto a população, de forma geral, manifestou uma forte crítica ao sistema
partidário, por não se sentir representada.
3.2 Democracia direta
O modelo da democracia direta, em que os cidadãos possuem o direito de participar
diretamente das instituições públicas, pode ser percebido como uma forma que não
mais existe nos Estados modernos, em virtude da complexidade e do seu tamanho,
mas também pode ser visto por meio de instrumentos de participação que vão além
da representatividade e, por isso, recebem hoje o nome de democracia participativa.
Esse modelo, na atualidade, surge como resultado da crise da democracia
participativa e como uma crítica à democracia apenas enquanto forma, e exige que
nos instrumentos de governo seja efetivada a representatividade e a participação das
pessoas nos rumos do Estado.
Dessa forma, enquanto a democracia direta em sua essência era o exercício direto do
governo pelos cidadãos gregos, hoje os instrumentos de participação são implantados
em graus, e possibilitam o cidadãode participar das decisões públicas para além do
voto.
O Brasil possui alguns mecanismos de participação direta do povo e, por mesclar a
representatividade com estes instrumentos, é chamado de democracia semidireta.
Podemos elencar algumas formas de participação do povo no governo brasileiro,
como os orçamentos participativos; o controle social da administração pública; os
conselhos gestores como o de saúde, do meio ambiente e de educação; o tribunal do
Júri; a lei de acesso à informação e a lei de transparência, dentre outros. 
A Constituição Federal, por meio do art. 14, deu destaque para três formas de
participação direta que são o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de lei.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015) explica que o plebiscito é uma consulta
extraordinária para alteração de medidas de base da ordem estatal, como formas de
Estado ou de governo. Enquanto o referendo é o poder de aprovar leis após elas terem
sido feitas pelo poder legislativo, podendo ser também a extinção de uma lei.
A iniciativa popular de lei é uma maneira de, a partir de critérios formais, o próprio
povo propor uma nova lei, que será aprovada ou não pelo Poder Legislativo. No
Brasil, o caso de destaque foi a famosa Lei da Ficha Limpa, que essencialmente
alterou a Lei Complementar nº 64, de 1990.
3.3 Democracia deliberativa
Bittar (2016) afirma que a democracia liberal representativa se mostrou insuficiente e
em crise. A falta de representatividade e o sentimento de distância entre eleitores e
seus representantes trouxeram a necessidade de o sistema político se reinventar, e
regimes políticos adotarem novos mecanismos de participação popular.
Vários autores da segunda metade do século XX e dos dias atuais se debruçam em
debates sobre mecanismos e procedimentos nos quais as pessoas poderiam efetivar a
democracia: de terem participação, verem seus direitos fundamentais serem
garantidos na esfera pública e, como consequência, serem parte das decisões de
interesse social.
Na divisão de ondas geracionais de direitos humanos, essa democracia deliberativa
entra como um dos direitos essenciais de todos os indivíduos em face do Estado, que
deve garantir formas de participação e de construção dos projetos de vida por todos
os cidadãos que compõe o Estado. É o sentido material da democracia sendo visto a
partir de procedimentos verticais e horizontais das tomadas de decisão.
Neste sentido, a democracia deliberativa não se dissocia da democracia participativa
e possui instrumentos dela. Todavia, ela valoriza o processo comunicativo e de
amadurecimento da esfera pública. A democracia é vista para além da escolha em si.
Uma dessas teorias, que podemos chamar de prodimentalista (CRUZ, 2016), é
defendida por Habermas. Ela defende um processo comunicativo de deliberação que
extrapole a mera formalidade da representatividade, que seja uma busca contínua por
mais legitimidade nos processos de criação das leis, da execução de políticas públicas
e até das decisões judiciais. 
Para o autor, o legislativo ainda cumpriria o papel de lugar para se estabelecer as
normas que garantam a participação de todos. 
Robert Dahl (Ranieri, 2019), por sua vez, desenvolve uma teoria da poliarquia e
destaca a accountability como amadurecimento da democracia. O termo, que não
possui uma tradução precisa no português, traz elementos do que Robert Dahl quis
trazer como poliarquia, que por sua vez seria a capacidade de uma sociedade
responsabilizar-se por todos os seus cidadãos.
No Brasil, accountability tem sido associado à obrigação de transparência e prestação
de contas dos agentes públicos em suas ações, bem como a responsabilização efetiva
por seus erros. Neste sentido, alguns instrumentos conjugados trariam um grau maior
de responsabilidade de todos os cidadãos pelo regime político e pela esfera pública.
É possível classificarmos accountability em dois tipos: 
Accountability vertical: que seria a possibilidade de os eleitores pedirem contas a
seus representantes; 
Accountability horizontal: que seria a prestação de contas dos governantes aos órgãos
de controle e às instituições criadas com tal objetivo.
A democracia deliberativa necessita dessa percepção de responsabilização para
incluir todos nesse processo democrático. É possível afirmar que nesta ótica a
democracia não é apenas um conceito formal ou material, mas um processo contínuo
de permanente revisão de seus instrumentos.
A noção de accountability não é encontrada facilmente em textos jurídicos. Apesar
disso, a administração pública vem estudando mecanismos que passam diretamente
por regramentos estatais e pelo direito. O estudante ligado na prática do Estado
necessariamente terá de perceber que mecanismos de accountability e compliance são
centrais no debate atual.
4.0 Representação política
Como trouxemos no tópico sobre a democracia, um dos modelos mais usuais de
democracia adotados no mundo moderno é o sistema representativo. Esse sistema
passa por crises e críticas desde o momento que passou a ser adotado. Contudo, ele se
mostra como um mecanismo possível para que a soberania popular seja exercida com
um conteúdo mínimo.
A representação política não exclui as possibilidades e instrumentos de participação
direta e deliberativa, mas tem sido considerada como inevitável diante de um Estado
tão plural e com a quantidade populacional que os Estados contemporâneos possuem.
Na próxima unidade traremos os partidos políticos como institutos que foram criados
juntamente com o avanço e implementação da representação política. Os partidos
trazem consigo a possibilidade de aglomeração de pessoas por identificação de
posições políticas e o fortalecimento das representatividades, enquanto, por outro
lado, também reduzem as individualidades e complexidades sociais e identitárias. 
Nos sistemas de representação temos também as eleições que merecem um destaque
em nossos estudos.
4.1 As eleições
As eleições são os procedimentos para a escolha daqueles que representarão a
vontade popular.
Como já abordamos, Madison dizia que não basta que tenhamos eleições: elas
precisam ocorrer de forma periódica, com a possibilidade de alternância do poder,
com poderes e organizações diversas que possam participar da esfera pública, com
vistas a impedir uma hegemonia de um único pensamento de forma autoritária.
Streck e Morais (2014) apresentam três grandes sistemas eleitorais que são utilizados
para a escolha dos representantes populares, sendo que o ordenamento jurídico
brasileiro adotou dois deles, razão pela qual vamos nos ater a estes.
O primeiro é o sistema majoritário, em que o cargo público será ocupado por aquele
candidato que tiver mais votos. Assim, este mecanismo privilegia a escolha a partir
do conceito de maioria, em que aqueles que fazem parte do maior grupo é que
poderão escolher quem exercerá aquele posto político.
A depender de como o sistema se organizar, é possível encontrarmos mecanismos de
escolha pela maioria absoluta ou relativa. No caso da maioria absoluta, para ela ser
alcançada é necessário que o candidato tenha um total de votos maior do que 50%,
razão pela qual é comum nestes sistemas eleitorais você ter segundo turno.
No Brasil, os cargos de presidente, governador, senadores e prefeitos de Municípios
com mais de duzentos mil eleitores, é necessário que ocorra a maioria absoluta dos
votos válidos para estes cargos. Por tal razão, quando não há essa maioria no primeiro
turno, haverá um segundo turno eleitoral, entre os dois mais votados no primeiro e,
assim, necessariamente teremos uma maioria de votos válidos para um dos dois
candidatos.
É importante perceber que este sistema compartilha com os eleitores a
responsabilidade da escolha do vencedor, ao passo que ao menosa metade deles terá
escolhido aquele que assumirá os cargos de chefe do executivo, já que tal posto não
pode ser exercido senão por uma única pessoa, ao contrário do sistema proporcional.
Por outro lado, é possível que as eleições se deem de forma proporcional, sistema
este originário na Bélgica (STRECK e MORAIS, 2014), que busca efetivar o
princípio da pluralidade política ou partidária.
É certo que a sociedade é plural, John Rawls (2002) afirma que esta é uma premissa a
qual todos os cientistas políticos do mundo contemporâneo não podem fugir.Para
construirmos uma sociedade que seja plural e democrática, são necessários
mecanismos em que possamos escolher parcelas de representatividades da sociedade
que possuam algum quantitativo mínimo em relação proporcional aos cargos
disputados.
Neste sentido, considerando o caráter e a função do legislativo de representar a
população, criar normas e fiscalizar o representante da maioria, é que no sistema
eleitoral brasileiro a escolha dos deputados e vereadores é feita por meio deste
sistema proporcional.
Veremos mais à frente que os partidos políticos e o sistema multipartidário que
adotamos vai ao encontro desta forma eleitoral por possibilitar que as pessoas se
aglutinem em torno de uma legenda e consigam escolher quantos representantes
legislativos lhes forem proporcionais em relação à quantidade de cargos disponíveis.
É por isso que no art. 1º da Constituição Federal o Poder Constituinte deixou
expresso que um dos fundamentos da República é o pluralismo político,
resguardando os princípios da diversidade e sua possibilidade de representação
política.
4.2 O voto
O tema do voto pode ser analisado de algumas formas diferentes, sendo possível
encontrarmos três palavras distintas que estão relacionadas ao ato de escolha dos
representantes, mas que precisam ser separadas e conceituadas adequadamente.
O voto também é dito como sufrágio ou escrutínio. Ocorre que o sufrágio é direito de
votar e ser votado.
Assim, como regra geral, no Brasil todos os cidadãos possuem o direito ao sufrágio
universal, cabendo algumas exceções quanto a requisitos e impedimentos decorrentes
do próprio texto constitucional, uma vez que trata-se de um direito fundamental.
Sahid Maluf (2009) observa que a expressão universal é vista de uma forma relativa,
e dirige-se a uma universalidade de competências. Segundo ele, se levássemos à
literalidade do termo, o Brasil não seria um país com o sufrágio universal, pois estão
excluídos desta classe de direitos os estrangeiros, os menores de 16 anos e os
conscritos durante o período do serviço militar obrigatório.
De toda forma, estas restrições se justificam dentro da lógica constitucional e direitos
humanos atual, sendo exceções aceitas nestes âmbitos argumentativos. A título de
exemplo, o Brasil abarca como titular de direito ao sufrágio os analfabetos desde o
ano de 1985, o que demonstra a inclusão da diversidade e não exclusão por critérios
censitários.
Por outro lado, o escrutínio é a forma pela qual o voto se manifesta, o procedimento
para que o voto seja dado. No Brasil o voto é secreto, público e por meio das urnas
eletrônicas.
Sob esta perspectiva jurídica, o voto é o exercício do sufrágio na sua modalidade
ativa, que é votar, enquanto na modalidade passiva é o direito de ser votado.
O voto, enquanto a manifestação deste direito, carrega consigo um símbolo de lutas e
um processo histórico indissociável da democracia. A luta das mulheres pelo direito
de votar pelo mundo, ou dos negros em países que foram colonizados, são exemplos
de como a democracia representativa, ainda que seja um parâmetro mínimo, tardou a
chegar nos países, ainda que apenas nos ocidentais considerados como democráticos.
5.0 Alexis de Tocqueville e o regime democrático
Alexis de Tocqueville (1805-1859), francês, tem destaque teórico por ter conhecido
os Estados Unidos da América e, a partir de um olhar empírico, desenvolvido uma
análise sobre a liberdade e a democracia na América. 
Desta perspectiva o autor compara os processos revolucionários e os sistemas
políticos na Europa com a América do Norte. Bittar destaca o diferencial do autor da
seguinte forma:
Sua originalidade reside no fato de ter sido o empreendedor que, com meticulosa
dedicação, soube viajar, colher evidências, apontar diferenças comparativas com
outros sistemas políticos e descrever a América em seu nascimento, e a própria
democracia americana (como modelo) em pleno berço de crescimento. Sua tarefa foi
a de beber na fonte límpida para dela descrever as delícias. (BITTAR, 2016, p. 261).
O autor usa de sua viagem para colher o máximo de informações e, ao descrever,
também comparar a democracia encontrada na américa com os problemas na Europa
que dificultaram a consolidação de uma democracia que poderia conciliar liberdade e
igualdade.
Tocqueville (BITTAR, 2016) afirmou, assim, que para a democracia realmente
acontecer é necessário que haja liberdade, igualdade e soberania popular. Aqueles que
fundaram as treze colônias e lutaram pela liberdade, até o momento de formarem o
federalismo, buscaram novos modelos, uma vontade de romper com as antigas
instituições da Europa e criar um novo mundo.
A igualdade aparece como condição para todos buscarem seus projetos de vida. O
sentimento patriota aparece com importância para Tocqueville, que apontou que a
igualdade enquanto valor garantia, por outra via, a efetividade da noção de soberania
popular.
Ao contrário dos modelos meramente teóricos, nos Estados Unidos da América há a
percepção de que todos são iguais e de que desse povo é que decorria a soberania
enquanto poder político estatal. A manifestação do Estado, de suas leis e de sua força
extraí das pessoas, iguais entre si, a legitimidade para garantir a liberdade de todos. A
democracia exige, também, uma soberania justa, que não se paute em abusos, nem
mesmo em nome de maiorias. A justiça é o limite do direito dos homens.
Um outro ponto também observado pelo autor, e que difere o país dos outros na
Europa, estaria ligado à menor desigualdade de riquezas. Se para haver democracia é
necessário garantir a igualdade, por outro lado a redução das desigualdades, como na
América do Norte, seria outro fator importante para o desenvolvimento democrático
neste Estado.
Tocqueville (BITTAR, 2016) tinha encontrado um país em que havia uma pluralidade
ideológica, uma nação com diversas associações cíveis que lutavam por seus direitos
e representatividade, o que já indicava um grande amadurecimento da esfera pública.
Na América, o povo nomeia aquele que faz a lei e aquele que a executa; ele mesmo
constitui o júri que pune as infrações à lei. Não apenas as instituições são
democráticas, em seu princípio, mas também em todos os seus desdobramentos.
Assim, o povo nomeia diretamente seus representantes e os escolhe em geral todos os
anos, a fim de mantê-los mais ou menos em sua dependência. É, pois, realmente o
povo que dirige e, muito embora a forma do governo seja representativa, é evidente
que as opiniões, os preconceitos, os interesses, até as paixões do povo não podem
encontrar obstáculos duradouros que os impeçam de produzir-se na direção cotidiana
da sociedade” (Tocqueville Apud Bittar, 2016, p. 266).
De toda essa análise de Tocqueville, podemos afirmar que o autor teve grande
relevância para o debate da democracia. Por um lado, o autor teoriza e coloca suas
hipóteses em escritos que fomentaram o debate sobre o tema, por outro lado esse
entendimento é realizado a partir de uma análise empírica que dá contornos únicos ao
seu olhar e suas conclusões.
5.1 A crise da multidão: reivindicações globais de democracia
A multidão é composta por pobreza e amor, reproduzindo o comum, e carregaa
possibilidade de atos revolucionários. Só a multidão pode executar esse movimento.
Essa multidão está no que Hardt e Negri (MASCARO, 2019) chamam de império, e
que a soberania muda de formato. Esse formato não exige mais um território bem
delimitado, nem uma bandeira, pois há uma difusão de forma global, muito em razão
da economia. Há nitidamente na análise dos autores que trazemos aqui uma
problematização sobre os elementos do Estado moderno, que foram colocados em
xeque com a globalização e a cada dia mais com a informação fluida.
“Já a multidão corresponde a uma nova forma de inteligência social que, para os que
lhe são exteriores, parece caótica, irracional e anárquica. Contudo, para os que dela
participam, a multidão se identifica com uma estrutura social que tende a preservar
no mais alto grau a individualidade, a autogestão democrática e a espontaneidade,
opondo-se a todos os tipos hierárquicos e centralizados de usufruto do poder social,
desde a forma geral do Estado até formas específicas traduzidas em partidos políticos,
exércitos, grupos guerrilheiros etc” (MATOS, 2014, p. 152)
Andityas Matos (2014) diz também que a multidão rompe a distinção nítida entre a
esfera pública e privada. Por um lado, mencionar a relação como pública permite ao
Estado lançar mão de medidas de segurança e de exceção, ou seja, que supostamente
servem para resguardar o interesse público, para controlar a vida das pessoas até nas
instâncias mais íntimas e até mesmo biológicas. No outro lado, o privado se reduziria
a instâncias econômicas, que por sua vez carregam um símbolo de sagrado, de uma
liberdade irrestrita.
O autor, ao trazer as ideias de Hardt e Negri, critica a estrutura do capitalismo, como
algo que afasta a utopia de algo realmente pluricultural, mas impõe um modelo único.
Por isso uma ideia radical de multidão imporia um rompimento com díades típicas
dos estudos da Teoria do Estado, e colocaria o poder realmente na mão de uma
multidão de pessoas que não necessitam estar agrupadas e enquadradas: uma
revolução que teria a capacidade de romper arquétipos.
5.2 As novas lutas políticas em rede (do biopoder à produção biopolítica – Michael
Hardt e Antônio Negri)
A ideia de multidão abordada por Hardt e Negri (MASCARO, 2019) ganha outro
elemento que avança as perspectivas de lutas por direitos ao inserir o termo rede.
Mascaro (2019) mostra que, com o termo rede, os autores buscam romper as ideias de
massa, proletariado ou povo, pois compreende que essas classes acabam excluindo
sujeitos que estariam inseridos nas lutas políticas.
Essa multidão, portanto, poderia ser encarada como uma rede, sempre em expansão
possível, que consegue abarcar as diferenças para um trabalho comum, costurando
seus pontos de proximidade e convergência. É a passagem da revolta para a
possibilidade de institucionalizar a ação revolucionária. A nova forma de resistência.
Negri dá à multidão e à sua evolução, a partir da modernidade, a dimensão da carne,
o que insere o debate na questão da biopolítica e o biopoder. A multidão enquanto um
corpo, que sofre as negativas de direitos, também é aquele que busca romper as
estruturas de forma revolucionária para suas novas formas de subjetividade, indo
contra o império e na busca da construção por democracia (MARQUES e GOMES,
2013).
É com a reflexão destes autores que propomos o pensar sobre a democracia e a luta
por direitos em um mundo plural e complexo.

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