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Parasitas e as Infecções Digestivas e Geniturinárias Parasitologia Clínica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria EDINÉIA BONIN AUTORIA Edinéia Bonin Olá! Sou analista de Alimentos, mestre em Ciência de Alimentos e doutoranda em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com experiência técnico-profissional de mais de cinco anos na área de Microbiologia. Passei por empresas multinacionais nas quais desenvolvi experiência em análise de laboratório físico-química e microbiológica. Sou apaixonada pela leitura e pelo que faço, e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora TeleSapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Leishmania e Leishmaniases: Os Parasitos ...................................... 10 Leishmania Braziliensis ou as Leishmaníase Tegumentares Americanas .......................................................................................................................................... 10 Leishmania Mexicana e as Leishmaníase Cutânea das Américas ........................................................................................................................... 17 Leishmania Donovani ou Leishmaníase Visceral ................................ 19 Flagelados das Vias Digestivas e Geniturinárias: Tricomoníase e Giardíase .........................................................................................................23 Trichomonas Urogenital .............................................................................................................23 Trichomonas Tenax e Trichomonas Hominis ........................................ 30 Giardíase .............................................................................................................................34 Platyhelminthes: Parasitos do Homem ............................................ 37 Introdução aos Platyhelminthes...........................................................................................37 Schistosoma Mansoni e Esquistossomose: o Parasita e a Doença ................................................................................................................................ 40 Schistosoma e Esquistossomose: Epidemiologia e Controle ....44 Infecção pela Fascíola e Ciclo de Vida .............................................49 Classe Trematoda........................................................................................................................... 49 Fascíola Hepática e Fasciolíase ....................................................................... 50 Teníase e Cisticercose ..............................................................................................53 Echinococcus Granulosus e Hidatidose ................................................... 58 Hymenolepis Nana e Himenolepíase .............................................................................60 7 UNIDADE 03 Parasitologia Clínica 8 INTRODUÇÃO O aprendizado faz com que você conheça e forme um pensamento crítico de novas descobertas, busque um material que auxilie e ajude a compreender com mais facilidade os desafios do estudo. Conheça o gênero da Leishmania, parasita protozoário que causa 2 milhões de novos casos de leishmaniose a cada ano, infectando 12 milhões de pessoas, é a segunda principal causa de morte por infecção parasitária e a 12° no mundo, perdendo posto, apenas, para malária, sua forma de manifestação clínica pode ser cutânea, mucocutânea e visceral. Outro conhecimento abordado nesta unidade será o grupo dos Trichomonas, que são protozoários flagelados com três a cinco flagelos anteriores, outras organelas e uma membrana ondular, que habitam vários ambientes, entre os quais parasitas e comensais. As quatro espécies de Trichomonas que colonizam o ser humano são: T. vaginalis encontrados no trato geniturinário de ambos os sexos, T. tenax na cavidade bucal, T. hominis no intestino, e a Giardia lamblia que causa a infecção denominada de giardíase. O grupo dos Platyhelminthes consistindo de trematódeos e cestoides, entre os Trematodas temos o Schistosoma manso, que causa a esquistossomose, e as infecções causadas por Fascíola hepática (fasciolose), Taenia Solium (cisticercose) e Saginata (teníase), Echinococcus granulosus (hidatidose) e Hymenolepis nana (himenolepíase). Aos futuros profissionais e estudantes, sejam bem-vindos a conhecer e entender a Leishmania e os Platyhelminthes, que infectam o homem, e seus graves problemas de saúde pública. Seja multiplicador de boas ações do conhecimento. Parasitologia Clínica 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Parasitas e as infecções digestivas e geniturinárias. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar a doença leishmaníase e gênero da Leishmania. 2. Apontar os problemas relacionados ao gênero das Trichomonas e Giardia lamblia. 3. Identificar os Platyhelminthes que parasitam o homem. 4. Explicar o ciclo de vida das Tênias. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Parasitologia Clínica 10 Leishmania e Leishmaniases: Os Parasitos OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender que o protozoário do gênero Leishmania, de localização intracelular, caracterizada por lesões cutâneas, mucosas e viscerais, transmitida pela picada do inseto díptero da família Phlebotomus e Lutzomyia, são encontrados em reservatório domésticos e silvestres, podemos considerar como zoonose. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Leishmania Braziliensis ou as Leishmaníase Tegumentares Americanas O parasita protozoário Leishmania causa 2 milhões de novos casos de leishmaniose por ano, atinge 12 milhões de pessoas a qualquer momento e é um grande problema de saúde em todo o mundo. O gênero Leishmania, por Ross (1903), envolve agentes que causam, no homem e nos animais, doenças com amplo espectro (BRASIL, 2019). VOCÊ SABIA? Segundo a Organização Mundial da Saúde, a leishmaniose é a segunda principal causa de morte por infecção parasitária e a 12ª principal causa de morte por doenças infecciosas em todo o mundo. Além disso, a incidência de leishmaniose está aumentando devido ao desenvolvimento em áreas de floresta e a mudanças na população por conflitos. Parasitologia Clínica 11 As leishmanioses são um grupo de doenças causadas porprotozoários flagelados do gênero Leishmania transmitidas pela picada de flebotomíneos, nas quais podem variar de úlceras localizadas a doença sistêmica. O gênero Leishmania é composto por várias espécies e subespécies de protozoários flagelados, que são agrupados por mais de 20 espécies de protozoários unicelulares, digenéticos, encontradas nas formas promastigotas e amastigotas. As espécies de Leishmania que infectam seres humanos podem manifestar-se em três formas clínicas diferentes: cutânea, mucocutânea e visceral, as duas formas principais: visceral (a forma mais séria da doença) e tegumentar (na forma cutânea ou mucocutânea). A doença afeta com mais frequência, as pessoas mais pobres e está associada à desnutrição, à moradia, ao sistema imunológico do indivíduo e às condições sociais e econômicas. A leishmaniose também está associada a mudanças ambientais como o desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e a urbanização. A principal forma de transmissão do parasita para o homem e outros hospedeiros mamíferos é por meio da picada de fêmeas de dípteros da família Psychodidae, gênero Lutzomyia, conhecidos popularmente como mosquito palha. Os cães são os principais reservatórios domésticos de Leishmania, sendo o principal responsável pela manutenção desse agente na área urbana. Os cães infectados, especialmente os assintomáticos, são potenciais fontes de infecções para o vetor. A morfologia entre as diferentes espécies do gênero Leishmania é muito semelhante. Portanto, a taxonomia é baseada em múltiplas características, temos algumas mais relevantes que são por meio de: bioquímicos, estudo de isoenzimas (zimodemas); imunobiológicos, uso de anticorpos monoclonais específicos (serodemas) para subespécie e hibridação do DNA dos quinetoplastos (esquizodemas); comportamento biológico de Leishmania, em animais experimentais, o vetor ou nos meios de cultura in vitro. Parasitologia Clínica 12 O entendimento da epidemiologia dos cães é essencial para o planejamento do controle de infecção humana e canina. Para isso, é importante saber a intensidade de transmissão entre os cães, a proporção deles em áreas de risco e a diferenciação entre os cães infectados e sadios para permitir o controle dos animais infectados. O ciclo biológico pode ser descrito a partir da ingestão da forma amastigota pelas fêmeas do mosquito durante o repasto sanguíneo. Esses insetos possuem o aparelho bucal curto e rígido, que é capaz de dilacerar tecidos e vasos sanguíneos do hospedeiro, proporcionando um misto de sangue, linfa e restos celulares durante a telmatofagia, importantes para a ingestão das formas infectantes. No hospedeiro invertebrado, o parasita se prolifera por fissão binária no intestino do inseto e se transforma em flagelado promastígota metacíclica e que será introduzido por meio da picada. Ao ser introduzido no hospedeiro vertebrado, a forma promastígota é englobada por histiócitos, dentro deles, os protozoários perdem o flagelo e sofrem fissão binária, originando formas amastigotas nos fagolisossomos da célula hospedeira, alguns são liberados para infectar outras células, e outros, juntamente com os histiócitos, são ingeridos por insetos por meio da picada. A leishmaniose constitui-se um grave problema de saúde pública no mundo e também um importante problema veterinário. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de um bilhão de pessoas estão vivendo em áreas endêmicas de risco de infecção. Estima-se que ocorra de 700.000 a 1.000.000 de novos casos por ano e que 20.000 a 30.000 casos irão ao óbito anualmente. A leishmaniose é frequentemente encontrada em pacientes em estados imunossuprimidos por HIV, transplantes de órgãos, tumores e pacientes que fazem quimioterapia. Parasitologia Clínica 13 Quadro 1 – Espécie e subespécie de Leishmania de importância para o homem Subgênero Viannia Subgênero Leishmania Espécies do complexo braziliensis: Espécies do complexo donovani: Leishmania braziliensis Leishmania chagasi Leishmania guayanensis Leishmania chagasi Leishmania paramensis Espécie mexicana: Leishmania peruviana Leishmania mexicana Leishmania lainsonai Leishmania amazonenses Leishmania pifanoi Leishmania venezuelense Fonte: Atias (1998). A L. braziliensis provoca no homem lesões denominadas de úlcera- de-Bauru, caracterizada por feridas, aparecem lesões únicas e em pequeno número, porém o número aumenta com formação de graves lesões, com infecções crônicas, como mostra a Figura 1. Esse tipo de Leishmania é responsável pelas lesões mais destrutivas. No Pará, o vetor da L. braziliensis é a Lu. Wellcomei (flebotomíneos que compõem uma subfamília de insetos), o homem adquire a infecção durante todo período estacional das chuvas, durante o dia. O vetor não possui hábitos domiciliares, assim o homem o adquire na mata. Em outros estados, a doença é causada pelo desmatamento e mudança no meio ambiente. Na região de Minas Gerais e Espírito Santo, a transmissão da doença ocorre em áreas de mata secundária, e a maior incidência é moradores jovens e adultos das áreas rurais. As regiões do corpo mais afetadas são as expostas (braços, membros inferiores, cabeça e face), porém, em plantação de banana, próximo das residências já foram registrado casos, e com isso é considerado que, no Brasil, os vetores da Leishmania estão tanto no ambiente silvestre quanto no peridomicílio. Animais domésticos como cavalos, burros e cães são infectados, acredita- Parasitologia Clínica 14 se que esses animais são reservatórios domésticos da Leishmania, os dados não são claros sobre esses estudos (NASCIMENTO, 2013). Figura 1 – L. braziliensis isolada de leishmaniose cutânea Fonte: Wikimedia Commons. A Leishmaniose tegumentar americana é uma enfermidade infecciosa, não contagiosa, que acomete pele e mucosas, apresenta uma cadeia complexa de transmissão, estando sujeita, em uma mesma região, a diversos determinantes, tais como: desequilíbrio ecológico produzido pela invasão do homem aos nichos naturais da doença, variações sazonais e a susceptibilidade da população. Na América, são reconhecidas onze espécies dermotrópicas de Leishmania causadoras de doença humana e oito espécies somente em animais. No Brasil, já foram identificadas 7 espécies, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As três principais são L. braziliensis, L. guyanensis, L. amazonensis, e mais recentemente as espécies L. lainsoni, L. naiffi, L. lindenberg, L. shawi foram identificadas em estados da região Norte e Nordeste. A L. tegumentar americana no Brasil, até a 1940, estava intimamente relacionada com a penetração do homem em zonas de florestas em desbravamento, pois a derrubada de mata para o plantio, a construção de Parasitologia Clínica 15 estradas, ferrovias, hidrelétricas e a implantação de povoados favoreciam o contato do homem com os reservatórios e vetores. Na região amazônica, ainda hoje observa-se o padrão epidemiológico de transmissão no ciclo silvestre. É uma doença endêmica em vários estados brasileiros, somando 134.571 de casos confirmados entre 2010 e 2015, preocupa os órgãos responsáveis pela saúde, principalmente pela possibilidade do desenvolvimento de lesões mutilantes envolvendo a mucosa nasal, bucal e faríngea. Foi adotado um programa de controle da leishmaniose centrado nas seguintes medidas: diminuir a densidade populacional do vetor, identificação e o sacrifício dos cães infectados, e o tratamento das pessoas doentes. A literatura relata associação de leishmaniose e câncer em humanos (MANO-SOUSA et al., 2019). O ciclo de transmissão é geralmente complexo e, geralmente, há especificidade entre reservatórios e vetores de cada subespécie de Leishmania. Os vetores parasitas são espécies do gênero Lutzomyia, demonstrados na Figura 2, que geralmente têm habitat em áreas rurais,com fêmeas hematófagas transmitindo a infecção. Os mosquitos vivem em locais escuros e úmidos, como cavidades de árvores, cavernas, rachaduras entre pedras. É importante conhecer os hábitos dos vetores para a implementação de medidas de controle e prevenção desse parasitismo. Figura 2 – Mosquito da espécie do gênero Lutzomyia Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 16 A transmissão depende do contato humano. O padrão de transmissão depende de onde a picada ocorre e pode ser: intradomicílio, quando o vetor entra no domicílio das pessoas, peridomiciliar, quando o contato homem-vizinho ocorre em torno do endereço rural, onde as pessoas são expostas à picada do vetor quando entram na floresta ou realizam atividades (geralmente agrícolas) em lugares questão localizados os reservatórios dos parasitas (foco de transmissão). Tanto na transmissão intra quanto na peridomiciliar, ambos os sexos são afetados em proporções semelhantes (no entanto, quando a transmissão é basicamente intradomiciliar, crianças menores de quatro anos são as mais afetadas, na transmissão rural, adultos e, especialmente, homens são afetados). Os reservatórios naturais do parasita são os vertebrados selvagens (principalmente, roedores), e os animais domésticos têm um papel menor (reservatórios secundários). Os animais naturalmente infectados, geralmente, não apresentam lesões óbvias na pele, sendo necessárias biópsias e culturas para testes parasitológicos. Todas as Leshmanias de importância médica produzem lesões na pele e algumas delas têm a capacidade de produzir lesões mucosas. O diagnóstico definitivo requer demonstração do parasita. O diagnóstico clínico baseia-se nas características mencionadas anteriormente, sendo as mais importantes: lesão com duração superior a quatro semanas, não dolorosa, com fundo granulomatoso espesso e bordas violetas endurecidas, o contexto epidemiológico. Obviamente, de acordo com as características climáticas e ecológicas da área, é importante diferenciar de outras lesões cutâneas, como lesões pirogênicas, feridas contaminadas, ulcerações varicosas, micoses cutâneas. O diagnóstico de lesões mucosas deve ser diferenciado de micose, neoplasias da cavidade orais, linfomas, sífilis. O diagnóstico parasitológico requer a demonstração de amastigotas no esfregaço da lesão, de promastigotas por meio dos meios de cultura in vitro. A coleta de amostras para investigação da doença ocorre com esfregaço da lesão, biopsia, cultivos e testes sorológicos. Diagnóstico, tratamento precoce, gestão ambiental, educação, participação da comunidade e proteção pessoal combatem vetores e Parasitologia Clínica 17 reservatórios.. A proteção individual é baseada no uso de repelentes ou impregnação de vestidos com permetrina, que estabelece uma barreira entre o sujeito e o vetor, impedindo a mordida. É recomendável para turistas ou pessoas que entram em áreas endêmicas por curtos períodos de tempo. O controle vetorial geralmente é feito com o uso de inseticidas residuais, seu efeito é temporário e só será eficiente se a transmissão for intra-residencial. Leishmania Mexicana e as Leishmaníase Cutânea das Américas Leishmania mexicana é o agente causal da leishmaniose cutânea no México e na América Central, parasita protozoário intracelular obrigatório que causa a forma cutânea da leishmaniose. Essa espécie de Leishmania é encontrada na América. A infecção por L. mexicana ocorre quando um indivíduo é picado por um flebotomíneo infectado que injeta promastigotas infecciosas, elas são transportadas nas glândulas salivares e expulsas pela probóscide, diretamente para a pele. O ciclo de vida dela e de outras espécies de Leishmania, apresentado na Figura 3, começa quando um flebotomíneo infectado infecta as promastigotas na pele do hospedeiro mamífero. Esses promastigotas são englobadas por células fagocíticas, como macrófagos e células dendríticas. Os parasitas são mantidos dentro de um vacúolo parasitóforo, então eles se transformam em amastigotas e se dividem até chegar a membrana celular. A partir disso, são liberados para infectar novas células como estágio amastigotas. Quando uma mosca da areia não infectada morde um reservatório de mamífero infectado, a mosca da areia ingere os amastigotas, portanto eles se transformam em promastigotas e se dividem no intestino médio da mosca, essas promastigotas migram para a probóscide e são capazes de produzir a doença de Leishmaniose. Não ocorre estágio sanguíneo no ciclo biológico da L. mexicana. Parasitologia Clínica https://en.wikipedia.org/wiki/Leishmaniasis 18 Figura 3 – Ciclo de vida da Leishmania Fonte: Wikimedia Commons. A L. mexicana pode induzir manifestações clínicas cutâneas e difusas em humanos. O tipo cutâneo desenvolve uma úlcera no local da picada, em que os amastigotas não se espalham e as úlceras tornam-se visíveis alguns dias ou vários meses após a picada inicial. O tipo cutâneo difuso começa quando o amastigota se difunde pela pele e se transforma em metástase para outro tecido. Esse tipo não produz úlceras e não há tratamento. O tratamento da leishmaniose causada por L. mexicana consiste em antimoniais pentavalentes, injetado diretamente na úlcera ou intramuscular. A leishmaniose cutânea é a forma mais comum de leishmaniose e provoca lesões na pele, formação de úlceras únicas ou múltiplas, em locais exposto do corpo, nas quais deixam cicatrizes permanentes e deficiências graves. Cerca de 95% dos casos ocorrem na América, no mediterrâneo, Oriente Médio e na Ásia, sendo a maior parte nos países Afeganistão, Argélia, Brasil, Colômbia, Irã e Síria, como ilustrado na Figura 4. Parasitologia Clínica 19 Figura 4 – Característica de leishmaniose cutânea Fonte: Wikimedia Commons. Estima-se que um milhão de novos casos ocorram mundialmente por ano. A leishmaniose mucocutânea é compreendida como a destruição parcial ou total da membrana da mucosa do nariz, boca e garganta. Cerca de 90% dos casos ocorrem no Brasil, Bolívia, Etiópia e Peru. Leishmania Donovani ou Leishmaníase Visceral A Leishmaniose visceral, forma mais grave da doença, é letal se não tratada, e é causada por espécies do complexo Leishmania donovani. A Leishmaniose visceral é popularmente conhecida de calazar (significa “doença negra”) é uma zoonose que acomete os humanos, canídeos domésticos (Figura 5) e animais silvestres, cuja apresentação clínica varia de formas assintomáticas até o quadro clássico da parasitose. Se deixada sem tratamento, a doença é fatal em 95% dos casos dentro de 2 anos após o início da doença. O quadro clássico da parasitose é evidenciado pela presença de febre, anemia, hepatoesplenomegalia, tosse seca, leucopenia e hipergamaglobulinemia. Com a progressão da doença, outras manifestações clinicas se desenvolvem, em especial a diarreia, icterícia, vômito e o edema periférico. Esses sintomas dificultam o diagnóstico diferencial com outras patologias, retardando sua Parasitologia Clínica 20 identificação. As espécies causadoras são pertencentes ao complexo Leishmania donovani. No Brasil, o agente etiológico encontrado é a Leishmania chagasi, espécie semelhante a L. infantum encontrada no Mediterrâneo e na Ásia. Figura 5 – Leishmaniose visceral lesões em cães Fonte: Wikimedia Commons. Os flebotomíneos fêmeas precisam de sangue para a reprodução, por isso infectam homens ou animais. As fêmeas infectadas são as responsáveis por transmitir a doença quando os promastigotas inoculam os hospedeiros suscetíveis. Nos mamíferos, os promastigotos entram em monócitos ou macrófagos por meio de receptores específicos, onde tornam-se amastigotas, e multiplicam-se apenas dentro dessas células do sistema retículo-endotelial. No intestino do mosquito, os amastigotos se tornam promastigotas e são divididos por fissão binária. Na lesão de porta de entradado parasita, existem histiócitos com amastigotas em seu interior. Os órgãos mais afetados são reticuloendotelial, como baço, fígado, medula óssea e gânglios linfáticos. O baço aumenta consideravelmente de tamanho, é nodular e em casos crônicos, há fibrose. A hepatomegalia é causada por hiperplasia reticuloendotelial e infiltrado linfomonocitário dos espaços portais. Na medula óssea, há presença de amastigotas intracelulares e depressão das séries vermelha e branca. Os Parasitologia Clínica 21 nós mesentéricos são os mais comprometidos. Outros órgãos, como rins e pulmões, também podem ser alterados. A pele geralmente apresenta nódulos, ulcerações por hiperpigmentação ou despigmentação. Nas áreas endêmicas, a maioria das pessoas infectadas não apresenta sintomas (varia entre 30-100%). O período médio de incubação é de 2 a 4 meses. Caracterizada por febre crônica, perda de peso, hepatoesplenomegalia (predominantemente esplenomegalia), pancitopenia (anemia, hemorragia, infecções intercorrentes). Alguns indivíduos podem desenvolver doença oligo sintomática, caracterizada por tosse, diarreia, febre baixa ou leve, ausência de visceromegalia e perda de peso. Alguns sinais podem aparecer mais tarde, como hemorragias nasais, gengivais intestinal, bem como hepatoesplenomegalia, micropoliadenopatia e edema em membros inferiores, em alguns casos, existem desconfortos digestivos: vômitos, dores epigástricas, perda de apetite, o que leva à perda de peso, nas crianças pode comprometer o crescimento. Nos casos graves, pode levar ao comprometimento das defesas do organismo e infecções como tuberculose, pneumonia, disenteria, sarampo, podendo levar à morte. Os sinais cutâneos mais frequentes são aparecimento de nódulos subcutâneos, ulcerações cutâneas e mudanças de cor. L. visceral é uma doença de preocupação mundial, pois é crônica e grave que afeta mais de 300.000 pessoas anualmente, sendo responsável por 20 mil mortes anualmente. Estima-se que sejam diagnosticados 50 a 90 mil casos por ano em todo o mundo. A OMS afirma que 90% dos novos casos reportados em 2015 estão localizados em 7 países: Brasil, Etiópia, Índia, Quênia, Somália, Sudão e no Sudão do Sul. No Brasil, a LV apresenta ampla distribuição geográfica, além de possuir alta letalidade, quando não iniciado o tratamento adequado em tempo hábil. O período de 2010 a 2015 houve 22.044 casos novos confirmados no país, sendo 3.770 de casos apenas em 2015. A pouca iniciativa de campanhas de combate ao vetor, medidas de profilaxia, a escassez de recursos e a atual falta de infraestrutura dos serviços de saúde, em especial no que concerne ao diagnóstico da infecção por Leishmania, na população canina e humana, tornam as atuais medidas de controle pouco efetivas. Parasitologia Clínica 22 As medidas de controle são múltiplas e devem ser integradas. Inclui ações de diagnóstico e eliminação de cães infectados, combate a vetores, por meio da aplicação de inseticidas de ação residual, diagnóstico e tratamento precoce de pessoas infectadas (África e Índia, tratamento de pacientes que foram infectados leishmaniose dérmica). As ações de controle também envolvem atividades educacionais e participação da comunidade. IMPORTANTE: As terapias medicamentosas para a leishmaniose, como drogas antimoniais pentavalente e anfotericina B, são tóxicas e a resistência a medicamentos está aumentando para muitas espécies de Leishmania. Para aumentar esse problema, não existem vacinas altamente eficazes para a infecção ou, sem dúvida, para qualquer outro parasita protozoário. RESUMINDO: O parasita protozoário Leishmania causa 2 milhões de no- vos casos de leishmaniose por ano, atinge 12 milhões de pessoas a qualquer momento e é um grande problema de saúde em todo o mundo. A principal forma de transmissão do parasita para o homem e outros hospedeiros mamíferos é a picada de fêmeas de dípteros da família Psychodidae, gê- nero Lutzomyia, conhecidos popularmente como mosquito palha. O ciclo biológico pode ser descrito a partir da inges- tão da forma amastigota pelas fêmeas do mosquito durante o repasto sanguíneo. O ciclo de transmissão é geralmente complexo e geralmente há especificidade entre reservató- rios e vetores de cada subespécie de Leishmania. Os vetores parasitas são espécies do gênero Lutzomyia, que geralmen- te têm habitat em áreas rurais, com fêmeas hematófagas transmitindo a infecção. A L. visceral é uma doença de preo- cupação mundial, pois é crônica e grave que afeta mais de 300.000 pessoas anualmente, sendo responsável por 20 mil mortes anualmente. Estima-se que sejam diagnosticados 50 a 90 mil casos por ano em todo o mundo. Parasitologia Clínica 23 Flagelados das Vias Digestivas e Geniturinárias: Tricomoníase e Giardíase OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você terá entendido um pouco mais sobre as espécies do gênero Trichomonas que são parasitas do homem, são encontrados no trato geniturinário, cavidade bucal e no intestino, e nenhum deles produz cistos. São conhecidos apenas em seu estado de trofozoíto, e também sobre os flagelados intestinais Giardia lamblia. Entenderemos as formas de contágio, ciclo de biológico e meios de transmissão. . Os Trichomonas apresentam as seguintes características morfológicas: um citosoma, grupo de flagelos anteriores gratuitos, um flagelo adicional sobre a margem externa de uma membrana ondulada e um axostyle proeminente, que geralmente emerge da extremidade traseira do corpo. Todas as espécies do gênero Trichomonas são parasitas e nenhum deles produz cistos, portanto, são conhecidos apenas em seu estado de trofozoíto, multiplicam-se de maneira assexuada por fissão binária longitudinal, iniciada pela divisão do núcleo seguida pela separação do citoplasma em dois organismos. O ser humano é colonizado por bactérias, fungos e protozoários específicos. Entre os microrganismos, encontra-se os Trichomonas que são protozoários flagelados com três a cinco flagelos anteriores, outras organelas e uma membrana ondular, que habitam vários ambientes, entre os quais parasitas e comensais. As quatro espécies de Trichomonas que colonizam o ser humano são: T. vaginalis, encontrados no trato geniturinário de ambos os sexos, T. tenax, na cavidade bucal, e T. hominis, no intestino. Trichomonas Urogenital O Trichomonas vaginalis, protozoário flagelado unicelular e cosmopolita, é encontrado no trato geniturinário de homens e mulheres, Parasitologia Clínica 24 em todo o mundo. Possui forma de pêra, com membrana ondulante curta revestida de flagelos, mede 7 a 23 µm de comprimento por 5 a 12 µm de largura, é maior que um leucócito polimorfonuclear, mas menor que as células epiteliais maduras. Movimenta-se por rotação e oscilação. Os T. hominis, T. tenax e T. vaginalis não são caracteristicamente distinguíveis (MACIEL et al., 2004). Possui um axostyle espesso com mais grânulos siderofílicos ao seu redor e um citosoma muito pouco evidente. O complexo blefaroplástico é único, está localizado no polo anterior do corpo e é composto por um núcleo cinetônico e um corpúsculo basal de onde emergem os flagelos. A membrana indutora é uma extensão protoplásmica que ocupa os dois terços anteriores do corpo; em sua borda livre é o flagelo posterior e, em sua base, lacosta ou filamento fibrilar. O corpo parabasal (aparelho de Golgi) é uma formação de piriforme, vizinha ao núcleo. O núcleo encavalado, cariosoma com cromatina granular e subcentral uniformemente distribuído. O citoplasma possui uma estrutura granular fina, com grande quantidade de grânulos e vacúolos siderofílicos digestivo, contrátil e excretora. É dividido por fissão binária longitudinal e não forma cistos. O parasita viaja facilmente em todas as direções, com movimentos de rotação e balanço pelos flagelos ou pseudópodes. Embora a infecção durante o banho seja altamente improvável, ocasionalmente, podeser contratado entre adultos, por meio de piscinas, águas termais e pelo uso compartilhado de roupas íntimas, toalhas. Habita a vagina e a uretra da mulher e na próstata, vesículas e uretra do homem. A infecção por T. vaginalis, necessariamente transmitida pelo trofozoíto, tem como principal mecanismo de transmissão o contato sexual. Essa fonte de transmissão intravenosa foi invocada em meninas e mulheres virgens. Não é incomum observar a propagação da infecção de mães infectadas para suas filhas. O trofozoíto é muito lábil e é facilmente destruído no ambiente, principalmente na ausência de umidade, temperatura e condições de pH adequadas. Os Trichomonas sucumbem rapidamente a temperaturas acima de 40°C ou contra a ação da luz solar direta e 35 a 40 minutos em água. No entanto, eles podem sobreviver em esponjas molhadas por várias horas, sendo capazes de obter culturas positivas em amostras de coletadas a partir de roupas molhadas até 24 horas após a inoculação, Parasitologia Clínica 25 indicando a possibilidade de transmissão por esse mecanismo. Na urina, o Trichomonas é capaz de sobreviver por mais de 24 horas, sendo comum encontrá-lo na urina sedimentada ou centrifugada de homens e mulheres, em que pode permanecer ativo por horas, com ondulações progressivas e movimentos pseudópodes. Pode sobreviver até cinco horas em águas entre 18 e 29°C e com um pH de 4,9 a 7,5. Os Trichomonas alimentam-se de bactérias, leucócitos e exsudatos celulares. Na mulher, os parasitas alimentam-se da superfície mucosa da vagina, ingerindo bactérias e leucócitos e, às vezes, por fagocitose ou por monócitos de macrófagos, característica da T. vaginalis ilustrado na Figura 6. Figura 6 - Trichomonas vaginalis Fonte: Wikimedia Commons. Sua epidemiologia é a prevalência atual de tricomoníase, na população em geral é desconhecida, porque a doença não é notificada e devido à baixa sensibilidade relativa dos métodos de diagnóstico comumente usados. Entretanto, sua prevalência em grupos específicos de pacientes, varia dependendo do nível de atividade sexual, composição racial de população estudada e métodos de diagnóstico utilizados. A tricomoníase é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais Parasitologia Clínica 26 comuns, com uma incidência anual estimada em 108 milhões de mulheres em todo o mundo e 2,5 a 3 milhões de casos por ano nos Estados Unidos. Mulheres sexualmente ativas têm alto risco de ter tricomoníases. A incidência mais alta ocorre entre os 20 e os 49 anos, período de maior atividade sexual. A infecção é de maior prevalência em pacientes com múltiplos parceiros sexuais, e entre as prostitutas, T. vaginalis estão presentes entre 50 a 75% destas mulheres. Cerca de 13 a 25% das mulheres atendidas em consultas ginecológicas apresentam tricomoníase. Nas mulheres assintomáticas, a prevalência de culturas positivas é de 3 a 15% (MACIEL et al., 2004). Figura 7 – Ciclo de vida da T. vaginalis que ocasiona a infecção tricomoníases Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 27 A ocorrência simultânea de mais de uma doença sexualmente transmissível é frequente e encontrada em altas taxas de incidência em populações de alto risco para outras doenças sexualmente transmissíveis. A infecção concomitante por Neisseria gonorrhoeae está entre 20 e 50%. No entanto, as infecções fúngicas são detectadas com menos frequência entre mulheres com tricomoníase. Os mecanismos de antagonismo entre as duas infecções não são conhecidos, mas o T. vaginalis é encontrado em um meio relativamente alcalino, enquanto os fungos requerem um pH vaginal mais ácido. Nas mulheres grávidas, o T. vaginalis, pode ser encontrado em 20 a 30%, embora apenas 5 a 10% seja acompanhado por sintomas. A incidência de infecção nos homens é menor que nas mulheres e, geralmente, é assintomática. 100% dos parceiros sexuais de homens com tricomoníase têm a infecção, confirmando sua importância na disseminação. A prevalência de T. vaginalis está entre homens assintomáticos, entre 3% e 10%, enquanto em pacientes com uretrite e prostatite inespecífica é de 1% a 20%. A tricomoníase é mais frequente entre as mulheres negras. O motivo dessa diferença racial é desconhecido, mas pode estar relacionado a fatores socioeconômicos, como educação e renda, condições de vida e unidades de saúde. Patologia: a T. vaginalis não pode viver naturalmente sem uma estreita associação com o tecido vaginal, uretra ou próstata. Alguns dias após a chegada à vagina, a proliferação de colônias flageladas causa degeneração e descamação do epitélio vaginal, com infiltração de leucócitos, aumentou as secreções vaginal que tornaram-se abundante e com características especiais (NEVES, 2005), (líquidas, verdes ou amarelas), com grande número de tricomoníases e leucócitos. O orifício uretral, glândulas vestibulares e clitóris ficam intensamente inflamados. Quando a infecção aguda muda para o estado crônico, que, geralmente, ocorre uma atenuação dos sintomas, a secreção perde sua aparência purulenta devido à diminuição do número de tricomoníases e leucócitos, e o aumento das células epiteliais e ao estabelecimento de uma flora bacteriana mista. Parasitologia Clínica 28 Nos homens, a infecção é geralmente assintomática, embora possa causar uretrite ou prostatite irritativa. É necessário um grande número de parasitas para causar sintomas. Ocasionalmente, um pequeno número de tricomoníases pode ser encontrado em uma paciente sem sintomas, com pH vaginal normal e flora vaginal, que pode ser interpretada como um estado portador. Nas mulheres, o estabelecimento ou desenvolvimento de T. vaginalis é influenciado por fatores gerais, como o nível de estrogênio circulante, uma vez que a produção depende deles de glicogênio pelas células vaginais. Nos estágios pré-púbere, lactação e pós-menopausa, a estimulação vaginal da produção de estrogênio é perdida, o pH é anormalmente alto e a flora normal pode ser substituída por flora mista. Nessas circunstâncias, a vagina não favorece a infecção, apesar do efeito da diminuição da acidez; no entanto, a administração tópica ou sistêmica de estrogênio pode causar uma infecção subclínica que se tornará sintomática. Altos níveis de esteroides sexuais, como ocorre durante a gravidez, parecem promover o desenvolvimento de sintomas refratários. Na paciente grávida, o corrimento vaginal aumenta devido à secreção de muco devido a um colo uterino hiperativo e hiperativo. A baixa acidez vaginal causada por sangue menstrual, mucorréia cervical, sêmen e infecções concomitantes como Gardnerella vaginalis, favorece o estabelecimento de Trichomonas. Os sintomas são mais frequentes e importantes no sexo feminino, no homem, causa pouco ou nenhum sintoma, uma vez que, no trato urogenital masculino, o parasita não encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento. As variadas formas clínicas da doença provavelmente dependem do número e virulência do parasita e da resistência do hospedeiro. A presença ou a ausência de sintomas está aparentemente associada à quantidade de Trichomonas e ao valor do pH no trato vaginal, pois quando há sintomas e mais valores de pH alcalino, há um número maior de parasitas. A infecção assintomática não tem uma prevalência definida. No entanto, vários estudos mostraram que 10% a 50% das mulheres infectadas com T. vaginalis não apresentam sintomas. Aproximadamente Parasitologia Clínica 29 apenas 25% deles são detectados por exame direto, uma vez que, em geral, apresentam menor número de parasitas. A importância de conhecer o grupo de indivíduos assintomáticos é que servem como portadores “saudáveis”, não suspeitos, e podem transmitir o parasita sexualmente a outro indivíduo e desenvolver infecção sintomática, por outro lado, os sintomas podem aparecer em alguns casos no hospedeiro previamente assintomático.Nas mulheres, existem três formas de apresentação clínica: assintomática, subclínica e vulvovaginite. A manifestação clínica mais frequente é a vulvovaginite de evolução aguda ou crônica. T. vaginalis é a causa de 20 a 25% de vulvovaginite. O período de incubação varia de 4 a 28 dias e os sintomas e sinais comuns são leucorreia, vulvite, prurido vulvar e disúria. O quadro clínico clássico descrito na tricomoníase com presença de leucorreia purulenta e espumosa e irritação vaginal como características estão presentes em uma minoria de mulheres e tem sido questionado em sua sensibilidade e especificidade. O corrimento vaginal é o sintoma mais frequente e é descrito apenas em metade dos pacientes com tricomoníase, na maioria deles (70%), é de apresentação aguda, com duração inferior a trinta anos dias. No entanto, pelo exame físico, a leucorreia é encontrada em aproximadamente 80% das mulheres infectadas. A qualidade da leucorreia ocasionalmente sugere o possível diagnóstico de tricomoníase, embora T. vaginalis possa ser encontrado com qualquer tipo de descarga. A leucorreia pode ser variável em quantidade, amarelada, esverdeada ou cinza, manchada de sangue, com espuma, odor inodoro ou forte. Outros sintomas são pruridos vulvar, queimação e irritação genital, doloroso, que pode causar dispareunia intensa. No exame ginecológico, a presença de um colo uterino alterado com aparência edemacia, eritematosa e friável, com áreas pontuais de exsudato, é patognomônica, mas sua prevalência de 2% a 3% não ajuda no diagnóstico frequente. O exsudato inflamatório também pode cobrir a mucosa vaginal e a vulvite é marcada pela presença de eritema, dor e Parasitologia Clínica 30 edema. As manifestações clínicas são inespecíficas e qualquer causa de cervicite e vulvovaginite pode simular a causada por T. vaginalis. Em relação aos sinais e sintomas subjetivos, entre as mulheres com e sem tricomoníase, existem apenas diferenças significativas em relação à presença de leucorreia espumosa, mas não em relação a outros sintomas como disúria, secreção total (aguda ou crônica), qualidade e quantidade de corrimento, leucorreia e prurido vulvar. Além disso, nenhuma das seguintes variáveis clínicas ou epidemiológicas foi associada significativamente ao diagnóstico de tricomoníase: idade, frequência da relação sexual, data da última relação sexual, dia do ciclo menstrual em que a paciente foi examinada e utilizada de antibióticos recentes. No homem, a tricomoníase pode ser responsável pela morbidade, mas geralmente é assintomática. Pode causar uretrite, prostatite, cistite, epidemite, raramente, esterilidade reversível. A infecção pode ser latente e, portanto, essencialmente pouco sintomática ou pode ser responsável por irritação persistente ou uretrite recorrente. Na uretrite específica, T. vaginalis foi detectada em 10% a 20% dos indivíduos. O envolvimento da próstata é frequente no estágio crônico da infecção. SAIBA MAIS: Saiba mais sobre o agente etiológico tricomoníase e quais os principais diagnósticos, o artigo de revisão de Maciel et al. (2004), aspectos clínicos, patogênese e diagnóstico de Trichomonas vaginalis. Acesse clicando aqui. Trichomonas Tenax e Trichomonas Hominis Trichomonas tenax é conhecido como um parasita anaeróbico comum da cavidade oral e encontrado nas glândulas submaxilares. Causa a infecção tricomoníase, é comumente encontrado na cavidade oral e em pacientes com falta de higiene bucal e doença periodontal envolvida (MACIEL et al., 2004). A ocorrência de T. tenax depende da idade do hospedeiro. Diferentes fatores são responsáveis pela transmissão do Parasitologia Clínica 31 parasita, que inclui incidência pela saliva por meio do beijo ou aplicação de pratos poluídos e água potável. Dependendo do estado de saúde bucal, o nível de contaminação é relatado entre 0 e 25%. Figura 8 – Característica da Trichomonas tenax Fonte: Wikimedia Commons. Conforme a Figura 8, sua aparência é piriforme flagelada, com 5-16 µm de comprimento e 2-15 µm de largura, com quatro flagelos livres de comprimento aproximadamente igual e um quinto na membrana ondulada, que não atinge a extremidade posterior do corpo. Possui um citossoma próximo à extremidade anterior e, no lado oposto da membrana ondulante, um axostil espesso que se estende por uma distância considerável atrás do corpo, possui núcleo ovoide com poucos grânulos de cromatina e cariossoma excêntrico, e seu citoplasma é finamente granular. T. tenax só pode viver na cavidade bucal e aparentemente não sobrevive à passagem pelo trato digestivo. Eles são protozoários comensais inofensivos, que se alimentam de microrganismos e detrito celular, sendo mais abundante em Parasitologia Clínica 32 indivíduos com falta de higiene bucal, estando entre dentes e gengivas, em cavidades de cárie dentária e criptas tonsilares (PESSOA, 1942). A transmissão do T. tenax de um indivíduo para outro é direta, por meio do beijo e do uso comum de alimentos e bebidas contaminados. Esse organismo é muito resistente às mudanças de temperatura e sobrevive várias horas na água, sendo a infecção amplamente distribuída no mundo, com uma prevalência que varia entre 0 e 25%. O diagnóstico é feito pela descoberta de Trichomonas, a partir de amostras obtidas do tártaro entre os dentes, das margens gengivais das gengivas ou das criptas das amígdalas, por exame direto ou por cultura em meios especiais. Não é necessário tratamento específico, é indicado apenas melhorar a higiene bucal do paciente, para reduzir ou eliminar a infecção. Ultimamente, T. tenax tem sido identificado como um agente causador de infecção pulmonar e é considerado uma infecção oportunista em pacientes com câncer, abscesso. Embora a questão de sua possível patogenicidade seja resolvida, as infecções devem ser tratadas com metronidazol. A prevenção é alcançada por meio da higiene adequada da cavidade oral e evitando a exposição a infecção. Trichomonas hominis ou Pentatrichomonas hominis foi designado como uma espécie do gênero Pentatrichomonas, por possuir cinco flagelos anteriores, diferentemente do gênero Trichomonas que têm quatro flagelos, organismo comensal do trato intestinal do homem, outros primatas e vários animais domésticos. Em sua morfologia, difere em alguns aspectos da Trichomonas: seu tamanho é de 8 a 20 µm de comprimento e 3 a 14 µm de largura (Figura 9), um dos flagelos acima se origina e se move independentemente dos outros e apresenta um sexto, ao longo da membrana ondulante, que continua como um longo flagelo livre. Parasitologia Clínica 33 Figura 9 – Trichomonas hominis ou Pentatrichomonas hominis Fonte: Wikimedia Commons. O habitat é exclusivamente no lúmen do intestino grosso e na região do apêndice cecal, sobrevivendo às condições ácidas do estômago. A transmissão de trofozoítos ocorre pelo consumo de alimentos ou água potável contaminada por depoimentos ou por vetores mecânicos. Sua prevalência está relacionada às más condições sanitárias do meio ambiente, com números até 14%. A infecção é encontrada com mais frequência em climas quentes e em crianças menores de dez anos. O diagnóstico depende da identificação do parasita móvel em amostras de fezes frescas. Nas fezes formadas, o organismo é difícil de identificar, porque arredonda e não exibe os movimentos característicos do estado ativo. A prevenção depende do saneamento comunitário e da higiene pessoal. Parasitologia Clínica 34 Giardíase Este flagelado intestinal possui vários nomes, porém o nome correto é Giardia lamblia, um protozoário patogênico que se encontra no duodeno e no jejuno, responsável pela giardíase em seres humanos, conforme a Figura 10. Foi descoberta por Leeuwenhoek (1681), que analisou suas próprias fezes. Esse protozoário tem como característica a forma de coração, de 10 a 20 µm de comprimento, apresentaquatro pares de flagelos, dois núcleos com cariossomos centrais e dois axóstilos, a formação de trofozoíto geralmente aderido na mucosa do duodeno, com simetria bilateral e também formam cistos que são encontrados nas fezes. Possuem movimentos de oscilação ou dança inconfundível (MEIRELES, 2007). Figura 10 – Giardia lamblia responsável pela giardíase em seres humanos Fonte: Wikimedia Commons. A G. lamblia é anaeróbica e vive em pH 6,0 a 7,0, com este pH os trofozoítos reproduzem-se e multiplicam-se assexuadamente por divisão binária longitudinal. Durante a fase aguda da doença, ocorre a diarreia crônica, em alguns casos graves, acompanhada de dor abdominal difusa, meteorismo e náusea. O ciclo biológico é do tipo monoxênico, quando ocorre a contaminação humana por meio da água ou alimentos contaminados, acontece a ingestão de cistos maduros e, o desencistamento com o Parasitologia Clínica 35 ácido do estômago, é completado no duodeno. Depois desse processo, os trofozoítos (giárdia) começam a colonização por divisão, com poucos dias há a formação de milhares de trofozoítos que formam um tapete no duodeno. Continuando o ciclo, depreende-se do duodeno e segue junto com o bolo alimentar, chegando no jejuno e depois no ceco. Os trofozoítos iniciam o processo de encistamento, ficando em formato arredondado, ocorre divisão dos núcleos e perda do flagelo, em torno de si forma uma membrana cística resistente, como se fosse uma casca dura, dando ao parasita a forma oval, como mostra a Figura 11. A liberação dos cistos pelas fezes dos pacientes depende muito do paciente. O cisto em contato com a água pode permanecer viável até dois meses. Os cistos podem ser estudados em laboratório passando por meio ácido similar ao do estômago, em temperatura de 37°C (COURA, 2013). Figura 11 – Ciclo vida Giardia lamblia Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 36 A giardíase é formada a partir da colonização de 100 cistos em uma pessoa, levando 10 dias para incubação e de 10 a 30 dias para manifestar a infecção. Todo ano, 58 milhões de casos de diarreia que ocorrem em crianças são devido a protozoários, e a Giárdia é responsável pela metade desses casos e foi incluída na Iniciativa de Doenças Negligenciadas por prejudicar o potencial para o desenvolvimento e melhoria socioeconômica de seres humanos. Porém, alguns pacientes são assintomáticos e está evoluindo para cura, pelo sistema imunológico protetor. RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir: entre os microrganismos, encontra-se os Trichomonas que são protozoários flagelados com três a cinco flagelos anteriores. As quatro espécies de Trichomonas que colonizam o ser humano são: T. vaginalis encontrados no trato geniturinário de ambos os sexos, T. tenax, na cavidade bucal, e T. hominis, no intestino. T. vaginalis: habita a vagina e a uretra da mulher e na próstata, vesículas e uretra do homem. A infecção por T. vaginalis, necessariamente transmitida pelo trofozoíto, tem como principal mecanismo de transmissão o contato sexual. A infecção é de maior prevalência em pacientes com múltiplos parceiros sexuais. O T. tenax é comumente encontrado na cavidade oral e em pacientes com falta de higiene bucal e doença periodontal envolvida. A transmissão de trofozoítos ocorre pelo consumo de alimentos ou água potável contaminada por depoimentos ou por vetores mecânicos. Giardia lamblia, um protozoário patogênico que se encontra no duodeno e no jejuno, é responsável pela giardíase em seres humanos. Porém, alguns pacientes são assintomáticos e está evoluindo para cura, pelo sistema imunológico protetor. Parasitologia Clínica 37 Platyhelminthes: Parasitos do Homem OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender que a classe dos helmintos constitui um grupo muito numeroso, com três filos: Platyhelminthes, Aschelminthes e Acanthocephala, incluindo espécies de vida livre e parasitárias. Principalmente, os Platyhelminthes, com características achatadas, nematódea, são vermes como corpo cilíndrico e, como os Acanthocephalas são distinguidos. Vamos aprender sobre esses grupos de parasitas.. Introdução aos Platyhelminthes Consistindo de trematódeos e cestódeos, os Platyhelminthes são caracterizados por sua aparência achatada ou cilíndrica, com simetria bilateral, sem cavidade celomática. Com exceção de alguns plenários, todos são parasitas. A superfície do corpo é coberta pelo tegumento, consistindo de uma camada citoplasmática sincicial contínua, com núcleos celulares localizados profundamente abaixo da camada muscular. Sua principal função é a absorção metabólica das trocas eletrônicas. O sistema muscular é organizado em uma camada superficial colocada abaixo do tegumento, que cobre o corpo em toda a sua extensão, nos trematódeos essa camada muscular é única e nos cestoides pode haver outra camada muscular profunda. As ventosas e a faringe têm uma musculatura muito poderosa. O sistema digestivo, ausente nos cestódeos, nos trematódeos, é constituído por uma boca, uma faringe e um intestino que termina no fundo do saco. O sistema nervoso é do tipo ganglionar cefálico, com troncos nervosos longitudinais e comissuras transversais com funções molares. O sistema excretor, além de sua função excretora, atua como um sistema osmorregulador e termorregulador. Parasitologia Clínica 38 O sistema reprodutivo é extremamente complexo, mas segue um esquema comum: todos os cestoides, e quase todos os trematódeos (com exceção dos esquistossomos), são hermafroditas. O sistema reprodutivo macho, é constituído pelos testículos, um sistema de túbulos no qual algumas glândulas fluem e órgão copulador retrátil. O sistema reprodutivo das fêmeas consiste em um ovário, está conectado ao oótipo, onde os ovos são produzidos. Além disso, existem algumas glândulas, como as glândulas vitelinas, de aparência ramificada, que secretam seus produtos no oviduto. Os vermes planos são caracterizados por apresentar ciclos evolutivos complexos, com estágios larvais morfologicamente e funcionalmente muito diferentes dos estágios adultos. Figura 12 – Grupo dos Platyhelminthes Fonte: Wikimedia Commons. Na classe Trematoda, os vermes adultos não possuem epiderme e cílios externos, o corpo é recoberto por uma cutícula, com ventosas, presença de tubo digestivo, não possui anus, hermafrodita ou não, geralmente tem o corpo achatado, não possuem sistema circulatório, conforme Figura 13. O ovo tem coloração clara ou marrom escura, oval, em algumas espécies como Schistosoma, o ovo ao ser eliminado já contém uma larva (miracídio), nas espécies de Fascíola, Eurytrema, o ovo é liberado sem estar embrionado, a larva é formada com o ovo no meio Parasitologia Clínica 39 externo. Para dar continuidade no ciclo de vida, as larvas necessitam de molusco, quando a larva for liberada na água (Schistosoma e Fascíola) ocorre a penetração no molusco aquático e quando a larva permanecer no ovo, tem que ser ingerido por um molusco para dar continuidade ao ciclo (HORNINK et al., 2013). Figura 13 – Classe dos Trematoda Fonte: Wikimedia Commons. A classe dos Cestoda são endoparasitas que não contém epiderme, cavidade geral e sistema digestivo, os órgãos de localização estão na extremidade anterior, corpo alongado e formado de segmento, recobertos por uma cutícula. O cestódeo possui três regiões característica: escólice, localiza-se nos órgãos de fixação, pescoço, que sustenta o escólice e, por último, estróbilo. É nos Cyclophyllidea que são encontradas as espécies de parasitas de maior importância para a parasitologia humana, os Cysticercus e a Taenia (COURA, 2013). A classe Nematoda tem o corpo cilíndrico e alongado, desprovido de células, sem revestimento epitelial, tamanho de mm oucm, sexos em geral separados (dioicos), sendo o macho menor que a fêmea, nos machos o alongamento da cauda pode formar a bolsa copuladora. Nas Ascaris e Ancylostomas, o embrião se desenvolve dentro do ovo no meio externo (COURA, 2013). Parasitologia Clínica 40 Schistosoma Mansoni e Esquistossomose: o Parasita e a Doença Na classe Trematoda, encontra-se a família Schistomatidae, apresenta sexo separado, são parasitas de vasos sanguíneos de mamíferos e aves. A denominação de Schistosoma mansoni por Sambon em 1907. Das cinco espécies que causam doença ao homem (Schistosoma haematobium, Schistosoma japonicum, Schistosoma mekongi e Schistosoma intercalatum), apenas o Schistosoma mansoni é nativo das Américas. No ciclo da esquistossomose, estão envolvidos dois hospedeiros: • Hospedeiro definitivo: o homem é o principal hospedeiro definitivo. Nele, o parasita desenvolve a forma adulta e reproduz- se sexuadamente. Os ovos são eliminados por meio das fezes no ambiente, ocasionando a contaminação das coleções hídricas naturais (córregos, riachos, lagoas) ou artificiais (valetas de irrigação, açudes e outros). • Hospedeiro intermediário: o ciclo biológico do S. mansoni depen- de da presença do hospedeiro intermediário no ambiente. Os ca- ramujos gastrópodes aquáticos, pertencentes à família Planorbi- dae e gênero Biomphalaria, são os organismos que possibilitam a reprodução assexuada do parasita (SOUSA et al., 2011). No Brasil, a doença é popularmente conhecida de barriga d´água ou mal-do-caramujo, atinge um milhão de pessoas, sendo considerado uma região endêmica, dividida em duas fases: inicial e tardia. Na fase inicial assintomática, o hospedeiro tem contato na infância com o parasita, a doença pode ser confundida com outras, pois o hospedeiro é assintomático, já sintomático, o hospedeiro apresenta dermatite cercariana e outros sintomas característicos da doença. A fase tardia é caracterizada pela forma crônica: inicia com seis meses após a infecção e pode durar anos. Suas formas clínicas podem ser hepatointestinal, a descoberta da doença ocorre acidentalmente, pois a pessoa não apresenta sintomas, com exame das fezes e descoberta Parasitologia Clínica 41 de ovos; hepática, alteração no tamanho do fígado e endurecimento; hepatoesplênica compensada, aparecimento de varizes no esôfago, aumento do baço, sintomas como aumento de pressão no sistema de veias que leva o sangue dos órgãos abdominais para o fígado, hemorragia digestiva, sintomas que acometem mais jovens e adolescentes; e hepatoesplênica descompensada, estado mais grave da doença responsável pela morte, perda de funcionalidade do fígado, surte de hemorragia digestiva, o diagnóstico precoce previne este quadro. Em contato com a água e sob condições favoráveis de temperatura, luminosidade e salinidade, os ovos são rompidos, deixando livre as larvas ou miracídeos. Essa larva ciliada, que possui aproximadamente 24 horas de vida livre, nada ativamente em busca de seu hospedeiro intermediário, um caracol, que penetra por meio de suas partes nuas, preferencialmente nas bases das antenas ou do pé. Após a penetração, o miracídeo é transformado em um esporocisto primário. A partir do décimo quarto dia, formam-se esporocistos secundários, que posteriormente migram para alojar-se no hepatopâncreas do molusco. Na glândula digestiva, sofrem modificações acentuadas e formam- se as cercárias de colabifurcados, por meio da estimulação da luz e do calor, são eliminadas na água. As cercárias podem sobreviver entre 24 e 48 horas e encontrar o hospedeiro definitivo, homem ou outros animais vertebrados, penetram ativamente por meio da pele ou membranas mucosas. Durante a penetração, elas perdem a cauda e se tornam esquistossomose. Por meio da circulação sanguínea, essas larvas atingem o coração, pulmões e fígado, para finalmente alojar, a partir do trigésimo dia, nas veias mesentéricas do sistema portal, lá amadurecem sexualmente e começam a postura de ovos. A fêmea vive no canal ginecóforo do macho, Schistosoma significa fenda do corpo, ambos possuem duas ventosas oral e ventral, ilustrado na Figura 14. Parasitologia Clínica 42 Figura 14 – Schistosoma mansoni a fêmea vive no canal ginecóforo do macho Fonte: Wikimedia Commons. O macho apresenta o tegumento com tubérculos, que variam em aparência nas diferentes espécies. A fêmea, depois de fertilizada, vai para os capilares e vênulas da parede intestinal, onde libera seus ovos. Cada fêmea produz entre 300 e 1000 ovos diariamente, imaturos e precisam de 6 a 7 dias para se tornarem ovos viáveis e maduros, que constituem 95% dos ovos, eliminados pelas fezes do homem. A doença ocasionada pelo Schistosoma tem a patogenicidade dependente da carga parasitaria adquirida, idade, nutrição e resposta imunológica da pessoa. A chamada dermatite do nadador ocorre quando o Schistosoma penetra na pele do homem, ocorre erupção, comichão, edema e dor. Após a penetração das cercárias na pele, os esquistossomos se instalam no pulmão, após alguns dias são encontrados nos vasos do fígado. Parasitologia Clínica 43 VOCÊ SABIA? A patogenicidade da esquistossomose depende dos ovos. Um pequeno número de ovos, quando conseguem chegar na luz intestinal, causa pequenas lesões, que são reparadas pelo sistema imunológico, porém uma grande quantidade de ovos pode provocar hemorragias, formação de pequenas úlceras, edema na submucosa, já os ovos que chegam até o fígado causam alterações graves. Os ovos produzem e liberam pelos poros um antígeno que forma inflamações granulomatosa, responsáveis por variações clínicas e complicações digestivas e circulatórias. Na fase aguda, ocorre infecção com duração de 50 a 120 dias, acompanhada de calafrios, sudorese, perda de peso, febre, cólicas, disenteria, dor de cabeça, tosse, no pulmão, ocorre simulação de tuberculose. Já na fase crônica, o paciente apresenta quadro de diarreia mucosanguinolenta, fibrose da alça retossigmoide, tonturas, sensação de plenitude gástrica, prurido (coceira) anal, palpitações, impotência, emagrecimento, fezes sanguinolentas são ocasionadas pela passagem de muitos ovos para a luz intestinal, ocasionando hemorragia e edema, o fígado apresenta aumento de volume e endurecimento com numerosos granulomas, desenvolvimento de varizes nas regiões do umbigo, inguinal e esôfago. Nos casos mais crônicos, ocorre o aumento do fígado e baço ou forma hepatoesplênica, hemorragia digestiva, hipertensão pulmonar e morte desenvolvida pela doença esquistossomose, ocasiona a ascite (barriga d´agua), como na Figura 15. Parasitologia Clínica 44 Figura 15 – Ascite ou barriga d’água ocasionada pelo Schistosoma mansoni Fonte: Wikimedia Commons. Schistosoma e Esquistossomose: Epidemiologia e Controle A esquistossomose mansoni é uma doença de ocorrência tropical, registrada em 54 países, principalmente na África e Leste do Mediterrâneo, atinge as regiões do Delta do Nilo e países como Egito e Sudão. Atinge também a América do Sul, destacando-se a região do Caribe, Venezuela e Brasil (BRASIL, 2019). Estima-se que haja um total de duzentos milhões de pessoas parasitadas e, destas, 60 milhões estão infectadas por S. mansoni, entre 500 e 600 milhões de pessoas estão expostas à infecção devido a condições de pobreza, ignorância, moradia precária, práticas higiênicas precárias e disponibilidade limitada ou inexistente de serviços de saúde. A explicação mais aceita para o início da esquistossomose na América é que ela foi trazida por escravos africanos. As populações africanas imigrantes teriam sido infectadas por S. mansoni e S. haematobium. Para a manutenção desse último, é necessária a presença de caracóis do gênero Bulinus, para o primeiro, os caracóis do Parasitologia Clínica 45 gênero Biomphalaria são muito extensos. Esse gênero é representado por mais de vinte espéciesna América, mas existem três espécies principais que servem como hospedeiros intermediários: B. glabra, B. lenagophila e B. straminea. A expansão da esquistossomose ameaça especialmente para as ilhas do Caribe, Argentina, Paraguai e Uruguai. Por esse motivo, a implementação de medidas de controle para impedir a introdução dessa doença é muito importante. Estima-se que cerca de 1,5 milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados, sendo que a ocorrência está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores. Atualmente, a doença é detectada em todas as regiões do país. As áreas endêmicas e focais abrangem os Estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte (faixa litorânea), Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais (predominantemente no Norte e Nordeste do Estado). No Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal, a transmissão é focal. No Brasil, as espécies Biomphalaria glabrata, Biomphalaria straminea e Biomphalaria tenagophila de caracóis estão envolvidas na disseminação da esquistossomose. Há registros da distribuição geográfica das principais espécies em 24 estados, localizados, principalmente, nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Figura 14 – Distribuição da esquistossomose na área endêmica, por município no Brasil dados de 2009 – 2017 Fonte: SISPCE/SVS/MS (2019). Parasitologia Clínica 46 Os fatores que favorecem a instalação ou disseminação da parasitose são migrações (internas e externas), construção de sistemas de irrigação e grandes reservas de água, falta de condições básicas de saneamento, ausência de água potável e esgoto, operações agrícolas e assim por diante. A esquistossomose é uma doença cuja transmissão ocorre em área rural e nas periferias das cidades relacionadas ao déficit no saneamento e defecação em locais inadequados. Há evidências de que as crianças não têm imunidade concomitante, pois estão adquirindo novas cargas parasitárias em cada contato com o parasita, em vez disso, os adultos têm esse tipo de imunidade. A forma intestinal é a mais frequente e seus sinais e sintomas mais comuns são diarreia mucosa ou mucossanguinolento, alternando ou não com constipação, cólicas abdominais. Durante o exame físico, a dor é sentida na palpação do caminho das cólicas, especialmente no sigmoide. O fígado, quando aumentado, é palpado sob a flange costal, que caracteriza a forma hepatointestinal (que se assemelha à forma intestinal em todo o reto). Na maioria dos casos, é indolor, de consistência normal ou ligeiramente aumentada. Os exames laboratoriais revelam uma contagem global normal de glóbulos brancos, com eosinofilia discreta e testes normais da função hepática. O diagnóstico, é obtido pelo achado dos ovos S. mansoni nas fezes, uma vez que a sintomatologia é difícil de diferenciar de outras parasitoses intestinais, embora a presença de fezes com sangue seja mais comum na esquistossomose. A biópsia hepática ou exame patológico demonstra granulomas nas fases produtivas e, nos casos mais antigos, na fase de cicatrização por fibrose. A forma hepatoesplênica é considerada sinônimo de gravidade e é caracterizada pelo crescimento do fígado e do baço. Pode ser apresentado de três formas: compensado, descompensado ou complicado. A forma hepatoesplênica compensada assemelha-se em sua sintomatologia à forma intestinal ou hepatointestinal. O exame físico revela um aumento especialmente no lobo esquerdo do fígado, palpável sob a crista costal, e é duro e com nódulo. O baço também cresce, mas não muito, o que o diferencia da malária ou da leishmaniose visceral. Na forma Parasitologia Clínica 47 hepatoesplênica descompensada, o paciente apresenta juba, ascite, e, no exame físico, a condição geral é muito comprometida, com palidez, afinamento, abdome globular, bases torácicas alongadas e presença de circulação colateral. O estudo patológico revela uma formação reativa hiperplásica ao redor dos ovos de S. mansoni. Os ovos de S. mansoni são encontrados em praticamente todos os tecidos e órgãos do corpo humano. Associações mórbidas comuns com esquistossomose, apresentando concomitância com Salmonellose e outras enterobactérias do vírus da hepatite B, mascarando e confundindo o quadro clínico e patológico. Controle da esquistossomose deve ser abordado sob dois pontos de vista: controle da transmissão e controle da doença. O controle da transmissão envolve a redução da infecção humana e do caracol a esses níveis, o que permite interromper o ciclo evolutivo e, assim, impedir a transmissão da parasitose. O controle de doenças significa reduzir a morbidade, principalmente, tentando interromper o aparecimento de formas hepatoesplênica. Para resolver isso, a quimioterapia parece ser a primeira opção. Após os tratamentos com esquistossomicidas, a prevalência da doença diminui significativamente e o quadro clínico melhora rapidamente, mesmo com involução dos casos da forma hepatoesplênica inicial. Também foi demonstrado que, apesar da persistência de reinfecções, o aparecimento de novos casos de forma hepatoesplênica diminui consideravelmente. Parasitologia Clínica 48 RESUMINDO: Trematódeos e cestódeos, os Platyhelminthes são caracterizados por sua aparência achatada ou cilíndrica, com simetria bilateral, sem cavidade celomática. O sistema reprodutivo é extremamente complexo, mas segue um esquema comum: todos os cestoides e quase todos os trematódeos são hermafroditas. Trematoda encontra-se seis espécies que causam doença ao homem: Schistosoma haematobium, Schistosoma japonicum, Schistosoma mekongi e Schistosoma intercalatum, apenas o Schistosoma mansoni é nativo das Américas, homem é o principal hospedeiro definitivo e o hospedeiro intermediário é o caramujo, infecção ascite ou barriga d’água ocasionada pelo Schistosoma mansoni, desenvolvendo a doença esquistossomose. Parasitologia Clínica 49 Infecção pela Fascíola e Ciclo de Vida OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você terá aprendido as doenças parasitárias produzidas por Trematoda, Fascíola hepática, cujo ciclo participam, como hospedeiros, os animais herbívoros definitivos e os humanos e, como hospedeiro intermediário, um pequeno caracol de água doce. Também aprenderá sobre a migração de parasitas no homem, e sua localização superior nas vias biliares determina um quadro clínico caracterizado por um estado de hipersensibilidade e sintomas hepatobiliares.. Classe Trematoda A classe Trematoda possui diferentes famílias e espécies que parasitam humanos, em diferentes regiões do mundo, dependendo exclusivamente do hábito alimentar das populações. A Fasciola hepática foi descrita por Lineu em 1758, é um parasita de canais biliares de caprinos, ovinos, bovinos e suínos e outros mamíferos silvestres. É encontrada em áreas alagadas, úmidas, locais que ocorre inundação. No Brasil, a incidência da Fasciola hepática foi registrada pela primeira vez em 1918, em ovinos e bovinos no estado do Rio Grande do Sul, um ano depois já foi encontrado em outros estados. Quando a ocorrência em animais é alta, os parasitas podem infectar o homem. Esse parasita é conhecido como baratinha do fígado entre os criadores de animais, conforme a Figura 16, fígado infectado por parasita hepático. Parasitologia Clínica 50 Figura 16 – Fígado de ovelha com vesícula biliar inflamada e ducto biliar infectado por parasita hepático adultos, Fasciola hepática Fonte: Wikimedia Commons. O verme adulto tem formato de folha (foliáceo), cor pardo- acinzentada, ventosa oral com faringe curta, é hermafrodita, as fêmeas possuem ovário ramificado e os machos possuem dois testículos ramificados. Fascíola Hepática e Fasciolíase Fasciola hepática é um Trematoda digenético,com aparência de folha lanceolada, com cone cefálico fino diferenciada, como mostra a Figura 17. Mede de 2 a 3 cm de comprimento e de 1 a 1,5 cm de largura, é marrom esbranquiçado; seu tegumento é constituído por camada citoplasmática contínua, sem limites celulares, cujos núcleos estão abaixo da camada músculo superficial. É coberto por inúmeros espinhos. Possui duas ventosas musculares, uma peribucal anterior e outra ventral ou acetábulo. É hermafrodita e seus órgãos sexuais estão na porção central do parasita. Tem um intestino muito ramificado. O parasita adulto está localizado nos ductos biliares de ovelhas, gado ou porcos e, acidentalmente, no homem. Ele se move por meio de movimentos de replantação e coloca apenas algumas centenas de ovos marrons amarelados, aos quais possuem Parasitologia Clínica 51 pigmentos biliares, e com um opérculo visível em um de seus polos. Os ovos chegam por meio da bile para o intestino, e de lá para fora com as fezes do hospedeiro. Figura 17 – Característica da Fasciola hepática Fonte: Wikimedia Commons. Eles apenas continuam a desenvolver os ovos que caem na água de bacias hidrográficas ou valas com poucas substâncias orgânicas em decomposição. Dependendo da temperatura (1°C e 30°C), dentro de duas a três semanas, os ovos dão origem a um primeiro estado miracídio, oval e coberto de cílios, que medem cerca de 130 a 180 µm, escapando do ovo por meio do opérculo. O miracídio nada livremente sendo estimulado pela luz, para encontrar seu hospedeiro caracol de água doce do gênero Lymnaea columela e L. viatrix, a larva é atraída pela substância expelida pelo caracol, formando um esporocisto, no interior dele. Parasitologia Clínica 52 VOCÊ SABIA? As cercas são arredondadas com uma cauda longa e fina não bifurcada. Essas larvas ativamente deixam o caracol e nadam em direção às plantas que crescem na água, para aderir em suas folhas, ocorre a perda do rabo. Possui uma grande vitalidade e constitui a forma infecciosa para os hospedeiros definitivos, as metacercárias contidas na grama ou em alguns vegetais, especialmente o agrião, são ingeridas pelos animais e homem, continuam seu desenvolvimento no trato digestivo, onde seu envelope se dissolve e forma a larva jovem, que desloca-se até a parede intestinal, depois de 3 a 15 dias forma a capsula de Glisson, migrando para penetrar no fígado, posteriormente atinge a forma adulta, após dois meses da infecção. A fascíolose é um processo inflamatório crônico do fígado e dutos biliares, ocorre de duas formas: lesões provocadas pela migração de formas imaturas no parênquima hepático e lesões nas vias biliares causada pelo verme adulto. É uma zoonose na qual a forma de infecção para o homem, são através de larvas derivadas de caramujos, infectados por ovos expelidos com as fezes de ovinos e bovinos, contaminados. Transmissão ocorre através da água e verduras contaminadas com a metacercária (TESSELE et al., 2013). Parasitologia Clínica 53 Figura 18 – Ciclo de vida da Fascíola hepática Fonte: Wikimedia Commons. Teníase e Cisticercose Na família da Taeniidae, temos duas espécies de cestódeo, que tem o homem com hospedeiro definitivo e obrigatório, são denominadas popularmente com solitárias, são a Taenia solium e a Taenia saginata, e tem os bovinos e suínos como hospedeiros intermediários, causando a cisticercose. Os casos clínicos são ocasionados pelo número e tamanho, das larvas ou cisticerco (BRASIL, 2010). A teníase e a cisticercose são causadas pela mesma espécie, porém em diferente fase. A teníase é causada pela forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata, elas habitam o intestino delgado do homem. Já a cisticercose é causada pela presença de larva nos tecidos ou carne dos hospedeiros intermediários como suíno e bovino. De 1786 a 1789, Werner e Goeze verificaram que a forma do suíno e homem são iguais, e em 1758, Linnaeus identifica a Taenia, e o gênero Cysticercus, foi descrito por Zeder em 1800. Parasitologia Clínica 54 Figura 19 – Ilustração da Taenia solium (A, C) – Taenia saginata (B, D) Fonte: Wikimedia Commons. As Taenia são divididas em cabeça ou escólex, colo ou pescoço e corpo. A cabeça é responsável pela fixação do parasita na mucosa do intestino delgado, possui quatro ventosas arredondadas, a Taenia solium tem um rostro armado contendo 25 a 50 acúleos. O colo é a zona de crescimento de proglotes jovens, suas células estão em constante reprodução. O corpo é formado por vários proglotes ou anéis interligados, podendo atingir três metros na Taenia solium e oito metros na Taenia saginata, as proglotes são divididas em jovens, velhas e grávidas. Cada proglotes tem sua forma de nutrição e reprodução individual. O tegumento é responsável pela nutrição, as proglotes jovens exibem o início da genitária masculina e são mais curtas, isso permite a fecundação com a mesma proglotes, pois o órgão feminino aparece mais tarde. As proglotes mais velhas possuem os dois órgãos, masculino e feminino, apto para fecundação, já as proglotes grávidas, contêm, em seu corpo, um útero cheio de ovos, maduros e férteis, imaturos e inférteis, característica de uma Taenia grávida, conforme a Figura 20 (COURA, 2013). Parasitologia Clínica 55 Figura 20 – Característica morfológica da proglote de uma Taenia grávida Fonte: Wikimedia Commons. A proglote da T. solium é quadrangular, com útero ramificado por 12 pares de dendrítica, podem armazenar 80 mil ovos, e a T. saginata tem o formato retangular, 26 ramificações e 160 mil ovos. Taênias possuem ovos esféricos e medem 30 µm, não tem diferença entre as duas espécies, embrióforo é a casca de proteção. Cysticercus cellulosae é a larva da T. solium, constituído de cabeça, quatro ventosas, rostro, colo e vesícula contendo líquido em seu corpo. Cysticercus bovis é a larva da T. saginata, diferencia-se apenas na ausência de rostro. O ciclo biológico ocorre da seguinte forma: o homem libera no meio ambiente as proglotes grávidas, ou com o rompimento da proglote no intestino pode liberar os ovos para o meio externo. Com os ovos inseridos no solo, o hospedeiro intermediário, suíno para T. solium e bovino para T. saginata, se alimenta e ingere os ovos, que, no estômago, a casca sofre ação da pepsina, e no intestino os sais biliares, atuam para ativação, penetram no intestino, posteriormente chegam a corrente circulatória e por vias sanguíneas chegam a todos os tecidos e órgãos. Parasitologia Clínica 56 Os cisticercos se desenvolvem nos tecidos da pele, musculo esquelético e do coração, olhos e cérebro e também músculos com maior movimento como língua, coração e cérebro. A transmissão para o homem ocorre devido a ingestão de carne crua ou malcozida de suínos ou bois infectados. Quando o cisticerco é ingerido, sofre ação do suco gástrico, e fixa-se com o auxílio da cabeça na mucosa do intestino delgado, onde obtém nutrição até forma em uma tênia adulta, após três meses ocorre a liberação das proglotes grávidas, para iniciar um novo ciclo. Figura 21 – Ilustração do ciclo biológico da T. solium e T. saginata Fonte: Wikimedia Commons. A infecção ocasionada pela tênia pode provocar alergia por meio de substâncias excretadas, hemorragia, destruição do epitélio e inflamações, a competição entre o parasita e o hospedeiro por alimento, gera consequências para a saúde do hospedeiro, como tontura, astenia, aumento do apetite, náuseas, dores abdominais, vômitos e perda de peso, devido à infecção. Porém, a cisticercose que causa lesões graves, depende da localização e do número de parasitas, o cisticerco pode se Parasitologia Clínica 57 instalar na medula espinhal e no cérebro, após a infecção e o mesmo estiver maduro, este morre e desenvolve inflamação e calcificação do mesmo, o paciente que tiver o cisticerco na cabeça, pode ter dor de cabeça, vômitos, confusões metais, alucinações,
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