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14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17 PROCESSO ELETRÔNICO AULA 1 Prof.ª Karla Knihs 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/17 CONVERSA INICIAL A construção do mundo como o conhecemos hoje é produto de uma série de transformações cada vez mais rápidas relativamente à utilização de tecnologias. Da pedra lascada (sim, uma tecnologia primitiva) até a internet, a história da humanidade é permeada por Revoluções Industriais e tecnológicas. Você sabia que existem leis que não são escritas? Sabia que, na Idade Média, como quase ninguém sabia ler, em grande medida, a lei decorria de práticas e costumes e de decisões reiteradas sobre um tema? Mais tarde, depois da popularização e facilitação do acesso ao papel, somadas à alfabetização da maior parte da população, não se pensou mais em criar leis sem escrevê-las. Esse é só um exemplo de como as Revoluções Industriais e tecnológicas nos trazem novas possibilidades, o que, juntamente com a globalização e com o crescimento do mundo digital, reflete diretamente nas relações jurídicas dentro de uma “sociedade da informação”. Já temos dinheiro eletrônico, diário oficial eletrônico e, claro, processo eletrônico. Não pensamos mais em trabalhar (ou até mesmo nos divertir) sem auxílio do aparato digital. Nosso trabalho está, portanto, diretamente ligado ao conhecimento desta matéria, já que o processo judicial e o processo notarial são eletrônicos. Assim, nesta aula, vamos estudar a nossa atual sociedade de informação, refletindo sobre como o direito tutela a utilização da internet para a comunicação, coleta e guarda de informações. Para começar, vamos pensar no seguinte caso: Imagine que um médico é acusado de facilitar a morte de pacientes em uma UTI. O caso ganha repercussão nacional, sendo amplamente divulgado pela mídia. Após o devido processo legal, se comprova que a conduta imputada ao médico inexistiu, e que ele é, portanto, inocente. Contudo, a busca pelo nome do médico nos mecanismos de busca na internet, anos depois, ainda traz como resultado as reportagens da época, com as falsas acusações. 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/17 Há evidentes prejuízos à vida e aos direitos de personalidade do médico. Como o Direito tutela a questão? Não precisa responder agora! Ao final da aula, voltaremos a esta questão. TEMA 1 – AS ERAS DAS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS E A ATUAL SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Em um primeiro momento, pode parecer estranho falarmos de Revolução Industrial e sociedade de informação sem antes falarmos do processo eletrônico em si e do seu histórico. Mas, sem compreender esse histórico, não conseguimos compreender a racionalidade contida em nossa atual forma de ver o mundo digital, e nem o porquê de termos alcançado o patamar atual de desenvolvimento. Da mesma forma, não conseguiremos entender os “medos” que permeiam a nossa geração. Assim, consideramos que as Revoluções Industriais estão diretamente ligadas ao desenvolvimento da atual sociedade de informação, na medida em que elas proporcionam enormes mudanças econômicas, sociais e políticas por meio da incorporação de novas tecnologias. Vejamos: Primeira Revolução Industrial: século XVIII (1760 a 1850) – Europa Ocidental; Ocorrem mudanças significativas na forma como a sociedade se relaciona com o meio; Há a implantação de novas formas de produção que transformaram o setor industrial; Novo padrão de consumo; Substituição da energia produzida pelo homem por outras formas de energias (vapor, eólica e hidráulica); Substituição da produção artesanal e manufatura pela indústria ou maquinofatura; Novas relações de trabalho; Marcos como o desenvolvimento da máquina a vapor e da locomotiva; Na comunicação, o telégrafo é criado como um dos primeiros meios de comunicação quase instantânea; Menos tempo para a fabricação e aumento da produtividade; Melhor escoamento de matérias-primas e bens; 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/17 Maior acesso aos bens produzidos; Segunda Revolução Industrial: segunda metade do século XIX até meados do século XX (durante a Segunda Guerra Mundial). Estados Unidos, Japão e demais países da Europa; Utilização do petróleo como fonte de energia (motor à combustão); A eletricidade também passa a ser usada para o funcionamento de motores; Substituição do ferro pelo aço; Ciência: incentivo às pesquisas, especialmente no campo da medicina; Terceira Revolução Industrial: após a Segunda Guerra Mundial (metade do século XX) – Globalização; Avanços tecnológicos no setor industrial; Avanço científico globalizado; Capitalismo financeiro; Biotecnologia/genética; Robótica; Telecomunicações; Eletrônicos; Transporte; Internet; Quarta Revolução Industrial – (atual): Indústria 4.0 – Global; Mundo digital diretamente conectado ao mundo físico; Pessoas digitalmente próximas; Inovações tecnológicas cada vez mais rápidas e que alteram drasticamente as relações de produção e as relações humanas; Hiperconsumo; Distanciamento físico e hiperconexão. Pudemos perceber, então, que estamos passando por uma nova Revolução Industrial, o que impacta diretamente no modo como encaramos as relações entre os indivíduos e a sociedade. No âmbito dos processos eletrônicos, podemos perceber de forma mais específica essa característica: De início, os computadores substituíram as velhas máquinas de escrever. Depois, vieram os scanners, as impressoras de alta velocidade, sem se falar na conexão à internet, que permitiu a consulta de jurisprudência e dos andamentos processuais sem a necessidade de se sair do escritório ou dos gabinetes. Os registros cartoriais também se tornaram digitais. Por fim, o velho 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/17 processo de papel sofreu transformação. Vivemos a era do processo eletrônico ou do processo judicial realizado por meio eletrônico. (Bertoncini; Corrêa, 2013, p. 456) Estamos, portanto, na Era da Sociedade da Informação, na qual a internet e a informatização são instrumentos para a realização dos mais diversos tipos de trabalhos, desde a produção industrial até a tutela de direitos. Essa Sociedade da Informação também surgiu no século XX e é marcada pelo enorme e cada vez mais fácil acesso a fontes de informação, sejam elas quais forem. A gestão e a proteção das informações são as novas preocupações, pois sabemos que há riscos, tais como a exposição de informações indevidas, a venda de informações confidenciais, a perda de informações e dados, entre tantos outros problemas que surgem diariamente na era digital. Além disso, a sociedade da informação tem como principal característica a agilidade e eficiência dos processos de comunicação, com o incremento das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Essa facilidade de acesso à informação e a valorização do conhecimento refletem diretamente na organização da sociedade, desde a educação (você certamente está estudando em casa) até a economia, a saúde, o Governo, o Judiciário e a própria Democracia. Diante disso, não só o acesso e a distribuição, mas também a organização e a proteção das informações começam a ganhar cada vez mais importância, razão pela qual todo profissional que trate direta ou indiretamente da organização, da segurança e da consistência dos registro e das informações tende a ser mais valorizado, tanto no mercado de trabalho quanto na própria sociedade. É o caso de todos que trabalham nas áreas jurídicas e notariais, em que obrigatoriamente se utilizará o processo eletrônico. Afinal, é inútil ter conhecimento e não saber usá-lo. TEMA 2 – TUTELA CONSTITUCIONAL E O TRATAMENTO LEGAL DO USO DA INTERNET A Constituição de 1988 traz um extenso rol de Direitos Fundamentais que possuem estreita relação com o uso adequado da internet. Em nossa Sociedade da Informação, na quala internet é um instrumento tão poderoso de comunicação, troca de dados e informações, surgem diariamente situações que desafiam o direito, posto que conflitam com as garantias previstas na Constituição. É comum nos depararmos com notícias de crimes, fraudes, vazamentos de dados, fotos íntimas, 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/17 mensagens etc. Assim, é necessário analisar, sob a ótica constitucional, a tutela de direitos específicos que estão ligados ao uso da internet. O primeiro direito diz respeito à privacidade. A Constituição Federal (Brasil, 1988) afirma, em seu art. 5º, inciso X, que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Em um mundo de exposição exacerbada e de crescimento das mais diversas redes sociais, o que significa direito à privacidade? Em linhas gerais, a privacidade se refere a informações que as pessoas não gostariam que se tornassem públicas. Na internet, a proteção à privacidade do usuário compreende três esferas: 1) durante a navegação pela rede mundial; 2) privacidade de terceiros; 3) a proteção jurídica efetiva, tendo em vista a dificuldade de responsabilização em razão das características da Internet. Segundo Teixeira (2020, p. 30): A violação da privacidade dá à vítima o direito de buscar a reparação do dano junto ao agente causador, que, demonstrado o dano e nexo causal, responderá, patrimonialmente, pelo ato praticado. A lesão à vida privada pode ser de ordem patrimonial ou moral, sendo assegurada à vítima uma indenização proporcional ao dano causado. Outro tema importante diz respeito ao sigilo da correspondência, da comunicação e dos dados. A correspondência, a comunicação e os dados das pessoas são invioláveis, de tal forma que ninguém pode ter acesso ao seu conteúdo e nem romper seu sigilo. O conteúdo deve ficar restrito àquele que emite e àquele que recebe. A violação atinge diretamente o direito à privacidade, razão pela qual é necessária proteção dos dados e fatos privados de cada pessoa. Teixeira (2020, p. 30) afirma que o “sigilo da correspondência, da comunicação e dos dados são questões bem problemáticas no âmbito da internet, tendo em vista a grande possibilidade de serem devassados”. Outro direito constitucional que traz bastante discussão diz respeito à liberdade de expressão. Nos termos do art. 5º da Constituição Federal (Brasil, 1988), o inciso IV afirma que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, ao passo que o inciso IX afirma que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/17 de censura ou licença”. Assim, a liberdade de expressão diz respeito à garantia de que as pessoas possam buscar e receber informações, bem como manifestar suas opiniões sem medo de represálias. Há, portanto, combate à censura, o que não significa dizer que as opiniões possam ser criminosas ou expor terceiros. Os limites éticos, morais e legais do exercício da liberdade de expressão costumam causar grandes discussões nos tribunais devido à dicotomia “direito à privacidade versus liberdade de expressão”. Por fim, temos o direito ao esquecimento digital. Segundo Teixeira (2020, p. 36), “direito ao esquecimento (ou direito de ser esquecido) consiste no fato de a pessoa ter o direito a pleitear que as informações a seu respeito sejam apagadas de determinado banco de dados”. Esse Direito foi reconhecido como inerente à proteção da privacidade, e na VI Jornada de Direito Civil de 2013 foi aprovado o Enunciado n. 531 com a seguinte redação: “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento”. Todos esses direitos estão interligados à nossa disciplina, principalmente porque há uma preocupação cada vez maior com a segurança e o correto tratamento dos dados, bem como do uso da internet. TEMA 3 – O MARCO CIVIL DA INTERNET – MCI (LEI 12.965/2014) E SEU REGULAMENTO Como se percebe, a tutela de Direitos no âmbito da Internet possui dificuldades e peculiaridades que exigem atenção do legislador. Contudo, o Brasil até muito recentemente ainda não tinha uma posição clara a respeito da proteção jurídica à privacidade e de outros bens jurídicos diante da Tecnologia da Informação, mesmo com o desenvolvimento da internet e o seu alcance em território pátrio (Teixeira, 2020, p. 35). Apesar de já terem tramitado no Congresso Nacional inúmeros projetos de lei a fim de dar um tratamento jurídico específico para as questões jurídicas relacionadas à internet, somente em 23 de abril de 2014 foi promulgada a Lei 12.965, conhecida como Marco Civil da Internet (MCI). Já a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) foi publicada apenas em 2018 – Lei 13.709/2018. 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/17 Conforme Teixeira (2020, p. 39), o Marco Civil da Internet é uma lei principiológica que estabelece parâmetros gerais acerca de princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, além de determinar algumas diretrizes a serem seguidas pelo Poder Público sobre o assunto. Os três grandes pilares da Lei 12.965/2014 são: Garantia à liberdade de expressão; Inviolabilidade da privacidade; Neutralidade no uso da internet. Como regra geral, temos, então, que o usuário da internet pode se expressar escrevendo e postando o que bem entender, sendo que o conteúdo somente pode ser removido pelo provedor mediante ordem judicial, salvo se se tratar de conteúdo pornográfico. Caso haja prejuízo a outrem em decorrência de abuso do direito à liberdade de expressão, o prejudicado pode pleitear indenização por danos morais e materiais. Além disso, tutelando especificamente o direito à privacidade, a lei garante o sigilo dos dados pessoais do usuário e do que ele acessa na rede e do conteúdo de suas comunicações. Assim, não é permitido monitorar ou fiscalizar os pacotes de dados (conteúdos) transmitidos pelos usuários na internet, sendo que o acesso a esses dados necessita de ordem judicial (Teixeira, 2020, p. 39). O princípio da neutralidade é assim descrito: A neutralidade (ou princípio da neutralidade) no uso da internet consiste no fato de que o acesso à internet pelo usuário pode dar-se de forma livre para quaisquer fins: realizar pesquisas ou compras, estabelecer comunicações, como por e-mail, utilizar redes sociais em geral, jogar games, visualizar e postar textos, fotos e vídeos etc. Dessa forma, o tratamento deve ser neutro, não podendo haver diferenciação em razão do uso realizado pelo internauta, sendo possível apenas serem oferecidos pacotes com valores diversos para fins da velocidade na navegação. Assim, o usuário pode usar a conexão à internet para o fim que desejar (e-mails, blogs etc.) sem precisar pagar valores distintos para tanto e sem estar sujeito à fiscalização do provedor. (Teixeira, 2020, p. 39) Segundo o art. 2º do MCI, o uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como: O reconhecimento da escala mundial da rede; 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/17 Os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais; A pluralidade e a diversidade; A abertura e a colaboração; A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e Afinalidade social da rede. Além disso, são princípios reconhecidos no art. 3º do MCI: Garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal; Proteção da privacidade; Proteção dos dados pessoais, na forma da lei; Preservação e garantia da neutralidade de rede; Preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis comos padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas; Responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei; Preservação da natureza participativa da rede; Liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos no MCI. A proteção ao usuário é pensada com base na necessidade do consentimento para a coleta e o registro de dados. Assim, a lei trata especificamente das questões que envolvem a captação de dados (como, por exemplo, cookies) e a formação de banco de dados (mailing list) e sua cessão ou comercialização para terceiros, in verbis: Art. 7º – O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I – inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II – inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III – inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/17 IV – não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização; V – manutenção da qualidade contratada da conexão à internet; VI – informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua qualidade; VII – não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei; VIII – informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que: a) justifiquem sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet; IX – consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais; X – exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei; XI – publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet e de aplicações de internet; XII – acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e XIII – aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na internet. (Brasil, 2014, grifo nosso) O MCI trouxe um capítulo específico para tratar sobre a atuação do Poder Público no desenvolvimento da internet. Destacamos o art. 24 da Lei 12.965/2014: Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil: 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/17 I – estabelecimento de mecanismos de governança multiparticipativa, transparente, colaborativa e democrática, com a participação do governo, do setor empresarial, da sociedade civil e da comunidade acadêmica; II – promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet, com participação do Comitê Gestor da internet no Brasil; III – promoção da racionalização e da interoperabilidade tecnológica dos serviços de governo eletrônico, entre os diferentes Poderes e âmbitos da Federação, para permitir o intercâmbio de informações e a celeridade de procedimentos; IV – promoção da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos, inclusive entre os diferentes âmbitos federativos e diversos setores da sociedade; V – adoção preferencial de tecnologias, padrões e formatos abertos e livres; VI – publicidade e disseminação de dados e informações públicos, de forma aberta e estruturada; VII – otimização da infraestrutura das redes e estímulo à implantação de centros de armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a difusão das aplicações de internet, sem prejuízo à abertura, à neutralidade e à natureza participativa; VIII – desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet; IX – promoção da cultura e da cidadania; e X – prestação de serviços públicos de atendimento ao cidadão de forma integrada, eficiente, simplificada e por múltiplos canais de acesso, inclusive remotos. (Brasil, 2014) No ano de 2016, o Decreto 8.771/2016 foi publicado, regulamentando a Lei 12.965/2014 e tratando basicamente de três assuntos: neutralidade da rede; proteção aos registros, aos dados pessoais e às comunicações privadas; e fiscalização da transparência. A regulamentação tem por finalidade tratar das hipóteses admitidas de discriminação de pacotes de dados na internet e de degradação de tráfego; indicar procedimentos para guarda e proteção de dados por provedores de conexão e de aplicações; apontar medidas de transparência na requisição de dados cadastrais pela administração pública; e estabelecer parâmetros para fiscalização e apuração de infrações. TEMA 4 – LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD (LEI 13.709/2018) 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/17 A Lei Geral de Proteção de Dados, Lei n. 13.709/2018, dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. A LGPD alcança relações jurídicas estabelecidas digital e fisicamente, atingindo a todos que pratiquem tratamento de dados pessoais, podendo ser uma pessoa física ou uma pessoa jurídica (de direito público, como a União, Estados e Municípios e suas autarquias, ou de direito privado, como sociedades empresárias, associações, fundações, partidos políticos, igrejas etc.), nos termos do art. 1º, caput, c/c o art. 3º, caput. Ainda, conforme o art. 4º da Lei n. 13.709/2018, a LGPD não se aplica ao tratamento de dados pessoais quando: praticado por pessoa natural para fins exclusivamente particulares e não econômicos; praticado para fins exclusivamente jornalísticos, artísticos ou acadêmicos; operacionalizado para fins exclusivos de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado ou atividades de investigação e repressão de infrações penais, ou ainda resultantes de fora do território nacional e que não sejam objeto de comunicação, uso compartilhado de dados com agentes de tratamento brasileiros ou objeto de transferência internacional de dados com outro país que não o de proveniência, desde que o país de proveniência proporcione grau de proteção de dados pessoais adequado ao previsto na Lei n. 13.709/2018. A LGPD, em seu art. 5º, assim conceitua o que são “dados”: Dado pessoal: informação relacionada à pessoa natural identificada ou identificável; Dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou à organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural; Dado anonimizado: dado relativo à titular que não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de seu tratamento; Banco de dados: conjunto estruturadode dados pessoais, estabelecido em um ou em vários locais, em suporte eletrônico ou físico. Na tutela à proteção dos dados, o art. 2º da LGPD trouxe os seguintes fundamentos quanto à proteção de dados pessoais: 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/17 O respeito à privacidade; A autodeterminação informativa; A liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; A inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; O desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e Os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais. Além de estrita observância ao princípio da boa-fé, as atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar também aos seguintes aspectos: Finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e informados ao titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com essas finalidades; Adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de acordo com o contexto do tratamento; Necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finalidades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às finalidades do tratamento de dados; Livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais; Qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento; Transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os segredos comerciais e industriais; Segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou difusão; Prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamento de dados pessoais; 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/17 Não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou abusivos; Responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas eficazes e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas. TEMA 5 – BASES LEGAIS PARA REALIZAR TRATAMENTO DE DADOS SEGUNDO A LGPD Para que se possa realizar tratamento de dados, é preciso que esteja presente uma das dez hipóteses ou bases legais de tratamento, a saber: 1. Mediante o fornecimento de consentimento pelo titular: a LGPD exige que o consentimento seja fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre a manifestação inequívoca de vontade do titular. O consentimento pode ser revogado a qualquer tempo, bastando a comunicação expressa do titular; 2. Para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador: aqui o exemplo facilita o entendimento da regra. Vamos imaginar que o RH de uma empresa precisa transmitir os dados de seus empregados à Secretaria Especial do Ministério da Economia, com a devida entrega da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Nesse caso, trata-se de cumprimento de obrigação legal; 3. Pela Administração Pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em contratos, convênios ou instrumentos congêneres: a Administração Pública somente não estará obrigada a cumprir com as exigências da LGPD no caso de tratamento de dados feito exclusivamente para fins de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado ou atividades de investigação ou de repressão de infrações penais. Os serviços notariais e de registro exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, terão o mesmo tratamento dispensado aos órgãos públicos, devendo fornecer acesso aos dados por meio eletrônico para a Administração Pública. Esta é obrigada a fornecer ao titular dos dados informações claras e inequívocas sobre a base legal para o tratamento dos dados, a finalidade e quais os procedimentos utilizados ao longo do ciclo de vida do dado dentro dos sistemas da Administração Pública; 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/17 4. Para a realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a anonimização dos dados pessoais: existem várias formas de garantir o anonimato dos respondentes de pesquisa, devendo a entidade pesquisadora garantir que os dados estejam seguros, sem expor as pessoas que responderam; 5. Quando necessário para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares relacionados a contrato do qual seja parte o titular, a pedido do titular dos dados: o tratamento de dados se dará a pedido do próprio titular dos dados para garantir a execução de um contrato ou de seus procedimentos preliminares. Um exemplo é a contratação de nuvem para armazenamento de arquivos; 6. >Para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral, esse último nos termos da Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem): essa hipótese procura garantir o direito de produção de provas de uma parte contra a outra nesses tipos de processo; 7. Para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros: trata-se da proteção de bens jurídicos fundamentais. Por exemplo, pode um hospital pedir ao médico o histórico do paciente para garantir a vida ou o tratamento de um paciente; 8. Para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária: as organizações de assistência médica recebem dados sensíveis, e com base na redação do LGPD, devem se adequar e adotar medidas efetivas para seu tratamento; 9. Quando necessário para atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiros, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais. O art. 10 da LGPD determina que o legítimo interesse do controlador somente poderá fundamentar tratamento de dados pessoais para finalidades legítimas, consideradas por meio de situações concretas, que incluem, mas não se limitam a: apoio e promoção de atividades do controlador e proteção, em relação ao titular, do exercício regular de seus direitos ou prestação de serviços que o beneficiem, respeitadas as legítimas expectativas dele e os direitos e liberdades fundamentais. Quando o tratamento for baseado no legítimo interesse do controlador, somente os dados pessoais estritamente necessários para a finalidade pretendida poderão ser tratados. O controlador deverá adotar medidas para garantir a transparência do tratamento de dados baseado em seu legítimo interesse. A autoridade nacional poderá solicitar 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/17 ao controlador relatório de impacto à proteção de dados pessoais, quando o tratamento tiver como fundamento seu interesse legítimo, observados os segredos comerciais e industriais. 10. Para a proteção do crédito, inclusive quanto ao disposto na legislação pertinente: essa previsão tem por finalidade que titulares de dados pessoais se utilizem de uma brecha legislativa pedir a exclusão de órgão de proteção ao crédito, por exemplo, ou de cobranças por dívidas contraídas. NA PRÁTICA Vamos voltar ao caso visto no começo da aula: imagine que um médico é acusado de facilitar a morte de pacientes em umaUTI. O caso ganha repercussão nacional, sendo amplamente divulgado pela mídia. Após o devido processo legal, comprova-se que a conduta imputada ao médico inexistiu, e que ele é, portanto, inocente. Contudo, a busca pelo nome do médico, anos depois, ainda traz como resultado as reportagens da época, com as falsas acusações. Você já identificou que o caso trata do direito ao esquecimento. O já anteriormente citado Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil de 2013, que tratou do direito ao esquecimento, assim ponderou, com base no art. 11 do Código Civil: Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação vêm-se acumulando nos dias atuais. O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge como parcela importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui a ninguém o direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados. O indivíduo, muitas vezes não querendo ser lembrando por fatos ocorridos, pleiteia que a informação seja apagada dos registros. Não se trata necessariamente de um direito novo, podendo ser visto como um direito instrumental que visa resguardar outros direitos, como o da privacidade. FINALIZANDO Chegamos ao final desta aula sobre Processo Eletrônico, na qual estudamos os seguintes aspectos: a evolução histórica e o fomento da tecnologia, que criaram a atual sociedade de informação; a proteção constitucional à privacidade, ao sigilo de correspondência, da comunicação e 14/04/2023, 20:23 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/17 dos dados; a liberdade de expressão; e o direito ao esquecimento digital. Vimos também os aspectos gerais sobre o Marco Civil da Internet e seu regulamento; os aspectos gerais sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD); e as bases legais para a realização do tratamento de dados. REFERÊNCIAS BAIOCCO, E. A introdução de novas tecnologias como forma de racionalizar a prestação jurisdicional: perspectivas e desafios. 177 f. Dissertação (Mestrado em Direito ) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível em: <https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/27134? show=full>. Acesso em: 10 ago. 2021. BERTONCINI, M. E. S. N.; Corrêa, F. A. Processo eletrônico como instrumento da cidadania. Revista Jurídica Unicuritiba, v. 2, n. 31, p. 454-473, 2013. Disponível em: <http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/608/469>. Acesso em: 10 ago. 2021. BRASIL. TJDFE. Processo Judicial eletrônico chega aos cartórios extrajudiciais do DF. Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2017/novembro/processo- judicial-eletronico-chega-aos-cartorios-extrajudiciais-do-df>. Acesso em: 10 ago. 2021. TEIXEIRA, T. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
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