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PROC ELETRONICO - AULA 1

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PROCESSO ELETRÔNICO
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Karla Knihs
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CONVERSA INICIAL
A construção do mundo como o conhecemos hoje é produto de uma série de transformações
cada vez mais rápidas relativamente à utilização de tecnologias. Da pedra lascada (sim, uma
tecnologia primitiva) até a internet, a história da humanidade é permeada por Revoluções Industriais
e tecnológicas.
Você sabia que existem leis que não são escritas? Sabia que, na Idade Média, como quase
ninguém sabia ler, em grande medida, a lei decorria de práticas e costumes e de decisões reiteradas
sobre um tema? Mais tarde, depois da popularização e facilitação do acesso ao papel, somadas à
alfabetização da maior parte da população, não se pensou mais em criar leis sem escrevê-las.
Esse é só um exemplo de como as Revoluções Industriais e tecnológicas nos trazem novas
possibilidades, o que, juntamente com a globalização e com o crescimento do mundo digital, reflete
diretamente nas relações jurídicas dentro de uma “sociedade da informação”.
Já temos dinheiro eletrônico, diário oficial eletrônico e, claro, processo eletrônico. Não pensamos
mais em trabalhar (ou até mesmo nos divertir) sem auxílio do aparato digital. Nosso trabalho está,
portanto, diretamente ligado ao conhecimento desta matéria, já que o processo judicial e o processo
notarial são eletrônicos.
Assim, nesta aula, vamos estudar a nossa atual sociedade de informação, refletindo sobre como
o direito tutela a utilização da internet para a comunicação, coleta e guarda de informações. Para
começar, vamos pensar no seguinte caso:
Imagine que um médico é acusado de facilitar a morte de pacientes em uma UTI. O caso ganha
repercussão nacional, sendo amplamente divulgado pela mídia. Após o devido processo legal, se
comprova que a conduta imputada ao médico inexistiu, e que ele é, portanto, inocente. Contudo, a
busca pelo nome do médico nos mecanismos de busca na internet, anos depois, ainda traz como
resultado as reportagens da época, com as falsas acusações.
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Há evidentes prejuízos à vida e aos direitos de personalidade do médico. Como o Direito tutela a
questão?
Não precisa responder agora! Ao final da aula, voltaremos a esta questão.
TEMA 1 – AS ERAS DAS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS E A ATUAL
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Em um primeiro momento, pode parecer estranho falarmos de Revolução Industrial e sociedade
de informação sem antes falarmos do processo eletrônico em si e do seu histórico. Mas, sem
compreender esse histórico, não conseguimos compreender a racionalidade contida em nossa atual
forma de ver o mundo digital, e nem o porquê de termos alcançado o patamar atual de
desenvolvimento. Da mesma forma, não conseguiremos entender os “medos” que permeiam a nossa
geração.
Assim, consideramos que as Revoluções Industriais estão diretamente ligadas ao
desenvolvimento da atual sociedade de informação, na medida em que elas proporcionam enormes
mudanças econômicas, sociais e políticas por meio da incorporação de novas tecnologias.
Vejamos:
Primeira Revolução Industrial: século XVIII (1760 a 1850) – Europa Ocidental;
Ocorrem mudanças significativas na forma como a sociedade se relaciona com o meio;
Há a implantação de novas formas de produção que transformaram o setor industrial;
Novo padrão de consumo;
Substituição da energia produzida pelo homem por outras formas de energias (vapor,
eólica e hidráulica);
Substituição da produção artesanal e manufatura pela indústria ou maquinofatura;
Novas relações de trabalho;
Marcos como o desenvolvimento da máquina a vapor e da locomotiva;
Na comunicação, o telégrafo é criado como um dos primeiros meios de comunicação
quase instantânea;
Menos tempo para a fabricação e aumento da produtividade;
Melhor escoamento de matérias-primas e bens;
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Maior acesso aos bens produzidos;
Segunda Revolução Industrial: segunda metade do século XIX até meados do século XX
(durante a Segunda Guerra Mundial). Estados Unidos, Japão e demais países da Europa;
Utilização do petróleo como fonte de energia (motor à combustão);
A eletricidade também passa a ser usada para o funcionamento de motores;
Substituição do ferro pelo aço;
Ciência: incentivo às pesquisas, especialmente no campo da medicina;
Terceira Revolução Industrial: após a Segunda Guerra Mundial (metade do século XX) –
Globalização;
Avanços tecnológicos no setor industrial;
Avanço científico globalizado;
Capitalismo financeiro;
Biotecnologia/genética;
Robótica;
Telecomunicações;
Eletrônicos;
Transporte;
Internet;
Quarta Revolução Industrial – (atual): Indústria 4.0 – Global;
Mundo digital diretamente conectado ao mundo físico;
Pessoas digitalmente próximas;
Inovações tecnológicas cada vez mais rápidas e que alteram drasticamente as relações de
produção e as relações humanas;
Hiperconsumo;
Distanciamento físico e hiperconexão.
Pudemos perceber, então, que estamos passando por uma nova Revolução Industrial, o que
impacta diretamente no modo como encaramos as relações entre os indivíduos e a sociedade. No
âmbito dos processos eletrônicos, podemos perceber de forma mais específica essa característica:
De início, os computadores substituíram as velhas máquinas de escrever. Depois, vieram os
scanners, as impressoras de alta velocidade, sem se falar na conexão à internet, que permitiu a
consulta de jurisprudência e dos andamentos processuais sem a necessidade de se sair do
escritório ou dos gabinetes. Os registros cartoriais também se tornaram digitais. Por fim, o velho
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processo de papel sofreu transformação. Vivemos a era do processo eletrônico ou do processo
judicial realizado por meio eletrônico. (Bertoncini; Corrêa, 2013, p. 456)
Estamos, portanto, na Era da Sociedade da Informação, na qual a internet e a informatização são
instrumentos para a realização dos mais diversos tipos de trabalhos, desde a produção industrial até
a tutela de direitos.
Essa Sociedade da Informação também surgiu no século XX e é marcada pelo enorme e cada vez
mais fácil acesso a fontes de informação, sejam elas quais forem. A gestão e a proteção das
informações são as novas preocupações, pois sabemos que há riscos, tais como a exposição de
informações indevidas, a venda de informações confidenciais, a perda de informações e dados, entre
tantos outros problemas que surgem diariamente na era digital.
Além disso, a sociedade da informação tem como principal característica a agilidade e eficiência
dos processos de comunicação, com o incremento das tecnologias de informação e comunicação
(TICs). Essa facilidade de acesso à informação e a valorização do conhecimento refletem diretamente
na organização da sociedade, desde a educação (você certamente está estudando em casa) até a
economia, a saúde, o Governo, o Judiciário e a própria Democracia.
Diante disso, não só o acesso e a distribuição, mas também a organização e a proteção das
informações começam a ganhar cada vez mais importância, razão pela qual todo profissional que
trate direta ou indiretamente da organização, da segurança e da consistência dos registro e das
informações tende a ser mais valorizado, tanto no mercado de trabalho quanto na própria sociedade.
É o caso de todos que trabalham nas áreas jurídicas e notariais, em que obrigatoriamente se
utilizará o processo eletrônico. Afinal, é inútil ter conhecimento e não saber usá-lo.
TEMA 2 – TUTELA CONSTITUCIONAL E O TRATAMENTO LEGAL DO
USO DA INTERNET
A Constituição de 1988 traz um extenso rol de Direitos Fundamentais que possuem estreita
relação com o uso adequado da internet. Em nossa Sociedade da Informação, na quala internet é um
instrumento tão poderoso de comunicação, troca de dados e informações, surgem diariamente
situações que desafiam o direito, posto que conflitam com as garantias previstas na Constituição. É
comum nos depararmos com notícias de crimes, fraudes, vazamentos de dados, fotos íntimas,
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mensagens etc. Assim, é necessário analisar, sob a ótica constitucional, a tutela de direitos específicos
que estão ligados ao uso da internet.
O primeiro direito diz respeito à privacidade. A Constituição Federal (Brasil, 1988) afirma, em seu
art. 5º, inciso X, que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Em um mundo de exposição exacerbada e de crescimento das mais diversas redes sociais, o que
significa direito à privacidade? Em linhas gerais, a privacidade se refere a informações que as
pessoas não gostariam que se tornassem públicas.
Na internet, a proteção à privacidade do usuário compreende três esferas: 1) durante a
navegação pela rede mundial; 2) privacidade de terceiros; 3) a proteção jurídica efetiva, tendo em
vista a dificuldade de responsabilização em razão das características da Internet.
Segundo Teixeira (2020, p. 30):
A violação da privacidade dá à vítima o direito de buscar a reparação do dano junto ao agente
causador, que, demonstrado o dano e nexo causal, responderá, patrimonialmente, pelo ato
praticado. A lesão à vida privada pode ser de ordem patrimonial ou moral, sendo assegurada à
vítima uma indenização proporcional ao dano causado.
Outro tema importante diz respeito ao sigilo da correspondência, da comunicação e dos
dados. A correspondência, a comunicação e os dados das pessoas são invioláveis, de tal forma que
ninguém pode ter acesso ao seu conteúdo e nem romper seu sigilo. O conteúdo deve ficar restrito
àquele que emite e àquele que recebe. A violação atinge diretamente o direito à privacidade, razão
pela qual é necessária proteção dos dados e fatos privados de cada pessoa.
Teixeira (2020, p. 30) afirma que o “sigilo da correspondência, da comunicação e dos dados são
questões bem problemáticas no âmbito da internet, tendo em vista a grande possibilidade de serem
devassados”.
Outro direito constitucional que traz bastante discussão diz respeito à liberdade de expressão.
Nos termos do art. 5º da Constituição Federal (Brasil, 1988), o inciso IV afirma que “é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, ao passo que o inciso IX afirma que “é
livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
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de censura ou licença”. Assim, a liberdade de expressão diz respeito à garantia de que as pessoas
possam buscar e receber informações, bem como manifestar suas opiniões sem medo de represálias.
Há, portanto, combate à censura, o que não significa dizer que as opiniões possam ser
criminosas ou expor terceiros. Os limites éticos, morais e legais do exercício da liberdade de
expressão costumam causar grandes discussões nos tribunais devido à dicotomia “direito à
privacidade versus liberdade de expressão”.
Por fim, temos o direito ao esquecimento digital. Segundo Teixeira (2020, p. 36), “direito ao
esquecimento (ou direito de ser esquecido) consiste no fato de a pessoa ter o direito a pleitear que
as informações a seu respeito sejam apagadas de determinado banco de dados”.
Esse Direito foi reconhecido como inerente à proteção da privacidade, e na VI Jornada de Direito
Civil de 2013 foi aprovado o Enunciado n. 531 com a seguinte redação: “A tutela da dignidade da
pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento”.
Todos esses direitos estão interligados à nossa disciplina, principalmente porque há uma
preocupação cada vez maior com a segurança e o correto tratamento dos dados, bem como do uso
da internet.
TEMA 3 – O MARCO CIVIL DA INTERNET – MCI (LEI 12.965/2014) E
SEU REGULAMENTO
Como se percebe, a tutela de Direitos no âmbito da Internet possui dificuldades e peculiaridades
que exigem atenção do legislador. Contudo, o Brasil até muito recentemente ainda não tinha uma
posição clara a respeito da proteção jurídica à privacidade e de outros bens jurídicos diante da
Tecnologia da Informação, mesmo com o desenvolvimento da internet e o seu alcance em território
pátrio (Teixeira, 2020, p. 35).
Apesar de já terem tramitado no Congresso Nacional inúmeros projetos de lei a fim de dar um
tratamento jurídico específico para as questões jurídicas relacionadas à internet, somente em 23 de
abril de 2014 foi promulgada a Lei 12.965, conhecida como Marco Civil da Internet (MCI). Já a Lei
Geral de Proteção de Dados (LGPD) foi publicada apenas em 2018 – Lei 13.709/2018.
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Conforme Teixeira (2020, p. 39), o Marco Civil da Internet é uma lei principiológica que
estabelece parâmetros gerais acerca de princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet
no Brasil, além de determinar algumas diretrizes a serem seguidas pelo Poder Público sobre o
assunto.
Os três grandes pilares da Lei 12.965/2014 são:
Garantia à liberdade de expressão;
Inviolabilidade da privacidade;
Neutralidade no uso da internet.
Como regra geral, temos, então, que o usuário da internet pode se expressar escrevendo e
postando o que bem entender, sendo que o conteúdo somente pode ser removido pelo provedor
mediante ordem judicial, salvo se se tratar de conteúdo pornográfico. Caso haja prejuízo a outrem
em decorrência de abuso do direito à liberdade de expressão, o prejudicado pode pleitear
indenização por danos morais e materiais.
Além disso, tutelando especificamente o direito à privacidade, a lei garante o sigilo dos dados
pessoais do usuário e do que ele acessa na rede e do conteúdo de suas comunicações. Assim, não é
permitido monitorar ou fiscalizar os pacotes de dados (conteúdos) transmitidos pelos usuários na
internet, sendo que o acesso a esses dados necessita de ordem judicial (Teixeira, 2020, p. 39).
O princípio da neutralidade é assim descrito:
A neutralidade (ou princípio da neutralidade) no uso da internet consiste no fato de que o acesso à
internet pelo usuário pode dar-se de forma livre para quaisquer fins: realizar pesquisas ou compras,
estabelecer comunicações, como por e-mail, utilizar redes sociais em geral, jogar games, visualizar
e postar textos, fotos e vídeos etc. Dessa forma, o tratamento deve ser neutro, não podendo haver
diferenciação em razão do uso realizado pelo internauta, sendo possível apenas serem oferecidos
pacotes com valores diversos para fins da velocidade na navegação. Assim, o usuário pode usar a
conexão à internet para o fim que desejar (e-mails, blogs etc.) sem precisar pagar valores distintos
para tanto e sem estar sujeito à fiscalização do provedor. (Teixeira, 2020, p. 39)
Segundo o art. 2º do MCI, o uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à
liberdade de expressão, bem como:
O reconhecimento da escala mundial da rede;
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Os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios
digitais;
A pluralidade e a diversidade;
A abertura e a colaboração;
A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
Afinalidade social da rede.
Além disso, são princípios reconhecidos no art. 3º do MCI:
Garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos
da Constituição Federal;
Proteção da privacidade;
Proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
Preservação e garantia da neutralidade de rede;
Preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas
compatíveis comos padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
Responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;
Preservação da natureza participativa da rede;
Liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os
demais princípios estabelecidos no MCI.
A proteção ao usuário é pensada com base na necessidade do consentimento para a coleta e o
registro de dados. Assim, a lei trata especificamente das questões que envolvem a captação de dados
(como, por exemplo, cookies) e a formação de banco de dados (mailing list) e sua cessão ou
comercialização para terceiros, in verbis:
Art. 7º – O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os
seguintes direitos:
I – inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;
II – inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na
forma da lei;
III – inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;
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IV – não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua
utilização;
V – manutenção da qualidade contratada da conexão à internet;
VI – informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com
detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a
aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua
qualidade;
VII – não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e
de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado
ou nas hipóteses previstas em lei;
VIII – informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e
proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que:
a) justifiquem sua coleta;
b) não sejam vedadas pela legislação; e
c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações
de internet;
IX – consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais,
que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais;
X – exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet,
a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda
obrigatória de registros previstas nesta Lei;
XI – publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet e de
aplicações de internet;
XII – acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais,
intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e
XIII – aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo
realizadas na internet. (Brasil, 2014, grifo nosso)
O MCI trouxe um capítulo específico para tratar sobre a atuação do Poder Público no
desenvolvimento da internet. Destacamos o art. 24 da Lei 12.965/2014:
Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil:
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I – estabelecimento de mecanismos de governança multiparticipativa, transparente, colaborativa e
democrática, com a participação do governo, do setor empresarial, da sociedade civil e da
comunidade acadêmica;
II – promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet, com participação do Comitê
Gestor da internet no Brasil;
III – promoção da racionalização e da interoperabilidade tecnológica dos serviços de governo
eletrônico, entre os diferentes Poderes e âmbitos da Federação, para permitir o intercâmbio de
informações e a celeridade de procedimentos;
IV – promoção da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos, inclusive entre os
diferentes âmbitos federativos e diversos setores da sociedade;
V – adoção preferencial de tecnologias, padrões e formatos abertos e livres;
VI – publicidade e disseminação de dados e informações públicos, de forma aberta e estruturada;
VII – otimização da infraestrutura das redes e estímulo à implantação de centros de
armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados no País, promovendo a qualidade
técnica, a inovação e a difusão das aplicações de internet, sem prejuízo à abertura, à neutralidade e
à natureza participativa;
VIII – desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet;
IX – promoção da cultura e da cidadania; e
X – prestação de serviços públicos de atendimento ao cidadão de forma integrada, eficiente,
simplificada e por múltiplos canais de acesso, inclusive remotos. (Brasil, 2014)
No ano de 2016, o Decreto 8.771/2016 foi publicado, regulamentando a Lei 12.965/2014 e
tratando basicamente de três assuntos: neutralidade da rede; proteção aos registros, aos dados
pessoais e às comunicações privadas; e fiscalização da transparência.
A regulamentação tem por finalidade tratar das hipóteses admitidas de discriminação de pacotes
de dados na internet e de degradação de tráfego; indicar procedimentos para guarda e proteção de
dados por provedores de conexão e de aplicações; apontar medidas de transparência na requisição
de dados cadastrais pela administração pública; e estabelecer parâmetros para fiscalização e
apuração de infrações.
TEMA 4 – LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD (LEI
13.709/2018)
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A Lei Geral de Proteção de Dados, Lei n. 13.709/2018, dispõe sobre o tratamento de dados
pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou
privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre
desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
A LGPD alcança relações jurídicas estabelecidas digital e fisicamente, atingindo a todos que
pratiquem tratamento de dados pessoais, podendo ser uma pessoa física ou uma pessoa jurídica (de
direito público, como a União, Estados e Municípios e suas autarquias, ou de direito privado, como
sociedades empresárias, associações, fundações, partidos políticos, igrejas etc.), nos termos do art. 1º,
caput, c/c o art. 3º, caput.
Ainda, conforme o art. 4º da Lei n. 13.709/2018, a LGPD não se aplica ao tratamento de dados
pessoais quando: praticado por pessoa natural para fins exclusivamente particulares e não
econômicos; praticado para fins exclusivamente jornalísticos, artísticos ou acadêmicos;
operacionalizado para fins exclusivos de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado ou
atividades de investigação e repressão de infrações penais, ou ainda resultantes de fora do território
nacional e que não sejam objeto de comunicação, uso compartilhado de dados com agentes de
tratamento brasileiros ou objeto de transferência internacional de dados com outro país que não o
de proveniência, desde que o país de proveniência proporcione grau de proteção de dados pessoais
adequado ao previsto na Lei n. 13.709/2018.
A LGPD, em seu art. 5º, assim conceitua o que são “dados”:
Dado pessoal: informação relacionada à pessoa natural identificada ou identificável;
Dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião
política, filiação a sindicato ou à organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado
referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma
pessoa natural;
Dado anonimizado: dado relativo à titular que não possa ser identificado, considerando a
utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de seu tratamento;
Banco de dados: conjunto estruturadode dados pessoais, estabelecido em um ou em vários
locais, em suporte eletrônico ou físico.
Na tutela à proteção dos dados, o art. 2º da LGPD trouxe os seguintes fundamentos quanto à
proteção de dados pessoais:
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O respeito à privacidade;
A autodeterminação informativa;
A liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;
A inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
O desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
Os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da
cidadania pelas pessoas naturais.
Além de estrita observância ao princípio da boa-fé, as atividades de tratamento de dados
pessoais deverão observar também aos seguintes aspectos:
Finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e
informados ao titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com
essas finalidades;
Adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de acordo
com o contexto do tratamento;
Necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas
finalidades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação
às finalidades do tratamento de dados;
Livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração
do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais;
Qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e atualização dos
dados, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento;
Transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis
sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os
segredos comerciais e industriais;
Segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais
de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração,
comunicação ou difusão;
Prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamento
de dados pessoais;
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Não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios
ilícitos ou abusivos;
Responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas
eficazes e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção de
dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas.
TEMA 5 – BASES LEGAIS PARA REALIZAR TRATAMENTO DE DADOS
SEGUNDO A LGPD
Para que se possa realizar tratamento de dados, é preciso que esteja presente uma das dez
hipóteses ou bases legais de tratamento, a saber:
1. Mediante o fornecimento de consentimento pelo titular: a LGPD exige que o consentimento
seja fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre a manifestação inequívoca de
vontade do titular. O consentimento pode ser revogado a qualquer tempo, bastando a
comunicação expressa do titular;
2. Para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador: aqui o exemplo
facilita o entendimento da regra. Vamos imaginar que o RH de uma empresa precisa transmitir
os dados de seus empregados à Secretaria Especial do Ministério da Economia, com a devida
entrega da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Nesse caso, trata-se de cumprimento
de obrigação legal;
3. Pela Administração Pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários
à execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em
contratos, convênios ou instrumentos congêneres: a Administração Pública somente não
estará obrigada a cumprir com as exigências da LGPD no caso de tratamento de dados feito
exclusivamente para fins de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado ou
atividades de investigação ou de repressão de infrações penais. Os serviços notariais e de
registro exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, terão o mesmo
tratamento dispensado aos órgãos públicos, devendo fornecer acesso aos dados por meio
eletrônico para a Administração Pública. Esta é obrigada a fornecer ao titular dos dados
informações claras e inequívocas sobre a base legal para o tratamento dos dados, a finalidade e
quais os procedimentos utilizados ao longo do ciclo de vida do dado dentro dos sistemas da
Administração Pública;
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4. Para a realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a
anonimização dos dados pessoais: existem várias formas de garantir o anonimato dos
respondentes de pesquisa, devendo a entidade pesquisadora garantir que os dados estejam
seguros, sem expor as pessoas que responderam;
5. Quando necessário para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares
relacionados a contrato do qual seja parte o titular, a pedido do titular dos dados: o
tratamento de dados se dará a pedido do próprio titular dos dados para garantir a execução de
um contrato ou de seus procedimentos preliminares. Um exemplo é a contratação de nuvem
para armazenamento de arquivos;
6. >Para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral, esse
último nos termos da Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem): essa
hipótese procura garantir o direito de produção de provas de uma parte contra a outra nesses
tipos de processo;
7. Para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros: trata-se da
proteção de bens jurídicos fundamentais. Por exemplo, pode um hospital pedir ao médico o
histórico do paciente para garantir a vida ou o tratamento de um paciente;
8. Para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de
saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária: as organizações de assistência médica
recebem dados sensíveis, e com base na redação do LGPD, devem se adequar e adotar medidas
efetivas para seu tratamento;
9. Quando necessário para atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiros,
exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam
a proteção dos dados pessoais.
O art. 10 da LGPD determina que o legítimo interesse do controlador somente poderá
fundamentar tratamento de dados pessoais para finalidades legítimas, consideradas por meio
de situações concretas, que incluem, mas não se limitam a: apoio e promoção de atividades do
controlador e proteção, em relação ao titular, do exercício regular de seus direitos ou prestação
de serviços que o beneficiem, respeitadas as legítimas expectativas dele e os direitos e
liberdades fundamentais. Quando o tratamento for baseado no legítimo interesse do
controlador, somente os dados pessoais estritamente necessários para a finalidade pretendida
poderão ser tratados. O controlador deverá adotar medidas para garantir a transparência do
tratamento de dados baseado em seu legítimo interesse. A autoridade nacional poderá solicitar
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ao controlador relatório de impacto à proteção de dados pessoais, quando o tratamento tiver
como fundamento seu interesse legítimo, observados os segredos comerciais e industriais.
10.   Para a proteção do crédito, inclusive quanto ao disposto na legislação pertinente: essa
previsão tem por finalidade que titulares de dados pessoais se utilizem de uma brecha
legislativa pedir a exclusão de órgão de proteção ao crédito, por exemplo, ou de cobranças por
dívidas contraídas.
NA PRÁTICA
Vamos voltar ao caso visto no começo da aula: imagine que um médico é acusado de facilitar a
morte de pacientes em umaUTI. O caso ganha repercussão nacional, sendo amplamente divulgado
pela mídia. Após o devido processo legal, comprova-se que a conduta imputada ao médico inexistiu,
e que ele é, portanto, inocente. Contudo, a busca pelo nome do médico, anos depois, ainda traz
como resultado as reportagens da época, com as falsas acusações.
Você já identificou que o caso trata do direito ao esquecimento. O já anteriormente citado
Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil de 2013, que tratou do direito ao esquecimento, assim
ponderou, com base no art. 11 do Código Civil:
Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação vêm-se acumulando nos dias atuais.
O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge
como parcela importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui a ninguém o
direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade de
discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que
são lembrados.
O indivíduo, muitas vezes não querendo ser lembrando por fatos ocorridos, pleiteia que a
informação seja apagada dos registros. Não se trata necessariamente de um direito novo, podendo
ser visto como um direito instrumental que visa resguardar outros direitos, como o da privacidade.
FINALIZANDO
Chegamos ao final desta aula sobre Processo Eletrônico, na qual estudamos os seguintes
aspectos: a evolução histórica e o fomento da tecnologia, que criaram a atual sociedade de
informação; a proteção constitucional à privacidade, ao sigilo de correspondência, da comunicação e
14/04/2023, 20:23 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/17
dos dados; a liberdade de expressão; e o direito ao esquecimento digital. Vimos também os aspectos
gerais sobre o Marco Civil da Internet e seu regulamento; os aspectos gerais sobre a Lei Geral de
Proteção de Dados (LGPD); e as bases legais para a realização do tratamento de dados.
REFERÊNCIAS
BAIOCCO, E. A introdução de novas tecnologias como forma de racionalizar a prestação
jurisdicional: perspectivas e desafios. 177 f. Dissertação (Mestrado em Direito ) – Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível em: <https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/27134?
show=full>. Acesso em: 10 ago. 2021.
BERTONCINI, M. E. S. N.; Corrêa, F. A. Processo eletrônico como instrumento da cidadania.
Revista Jurídica Unicuritiba, v. 2, n. 31, p. 454-473, 2013. Disponível em:
<http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/608/469>. Acesso em: 10 ago. 2021.
BRASIL. TJDFE. Processo Judicial eletrônico chega aos cartórios extrajudiciais do DF.
Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2017/novembro/processo-
judicial-eletronico-chega-aos-cartorios-extrajudiciais-do-df>. Acesso em: 10 ago. 2021.
TEIXEIRA, T. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

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