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14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/14 PROCESSO ELETRÔNICO AULA 2 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/14 Prof.ª Karla Knihs CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo(a) a esta aula. Nela, começaremos a estudar o sistema legislativo que embasa a utilização do processo eletrônico a partir de seu histórico, compreendendo a maneira como o tema se desenvolveu antes mesmo da edição da atual Lei do Processo Eletrônico (Lei n. 11.419/2016). Além disso, vamos estudar as diferenças entre os conceitos sensíveis para a utilização da Lei n. 11.419/2016, tais como meio eletrônico, documento eletrônico e prova eletrônica. Ainda, estudaremos os princípios aplicáveis ao processo eletrônico. Por fim, vamos refletir sobre as vantagens da utilização do processo eletrônico. Apesar da grande adesão à tecnologia em nosso dia a dia – os smartphones se tornaram quase que uma extensão da pessoa – nos dias atuais ainda encontramos resistência na utilização dos meios eletrônicos, o que é compreensível, tendo em vista que apenas as gerações mais novas nasceram no mundo digital. A chamada “geração glass”, ou seja, dos nascidos a partir de 2010, crescerá em um mundo digital, mas antes deles nós temos a geração dos baby boomers (1945-1964), a geração X (1965-1978), a geração Y (1979-1992) e a geração Z (1993-2009). Obviamente, quanto menos contato há com as novidades, maior é a desconfiança e mais difícil é a adaptação. Com a adoção do processo eletrônico não foi diferente. Houve um tempo em que nós precisávamos nos deslocar até os fóruns, diariamente, para protocolar petições; debruçarmos-nos nos balcões com o número dos autos em mãos, para poder olhar as últimas movimentações; e, se quiséssemos tirar uma cópia de algum despacho ou documento, era necessário realizar a carga do processo. Havia uma empresa de xerox em cada andar do prédio. Chique era quem possuía “canetas digitalizadoras”, uma espécie de scanner portátil. Isso hoje é quase impensável, mas era realidade há 15 anos. Contudo, será que podemos dizer que o processo eletrônico contribuiu com a melhoria do acesso à justiça? Será que o processo eletrônico segue a mesma principiologia que era aplicável 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/14 anteriormente? Como se deu essa evolução? Vamos refletir sobre essas e outras questões e, ao final da aula, poderemos traçar algumas conclusões. Boa aula! TEMA 1 – HISTÓRICO LEGISLATIVO DO PROCESSO ELETRÔNICO Apenas em 2006 foi publicada a Lei n. 11.419/06, chamada Lei do Processo Eletrônico. Antes disso, porém, em 1991, a Lei do Inquilinato trouxe o art. 58, inc. IV, que mostrou a possibilidade da utilização de outras formas de citação, intimação ou notificação, verbis: IV - desde que autorizado no contrato, a citação, intimação ou notificação far-se-á mediante correspondência com aviso de recebimento, ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, também mediante telex ou fac-símile, ou, ainda, sendo necessário, pelas demais formas previstas no Código de Processo Civil. (Brasil, 1991, on-line) Conforme nos informam Bertoncini e Corrêa (2013, p. 459 e ss.), a Lei n. 9.800 de 1991 foi a primeira a sinalizar a possibilidade de utilização de meios tecnológicos no âmbito do Poder Judiciário. A redação dispôs que era possível a “utilização de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita”. No ano de 2001 tivemos a edição da Medida Provisória n. 2.002-2 10, de 24 de agosto de 2001, que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira — ICP-Brasil, visando “garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras”. Ainda no ano de 2001 tivemos a publicação da Lei n. 10.259/2001, que disciplinou a criação dos Juizados Especiais Federais e impulsionou, de certa forma, a informatização no âmbito da Justiça Federal. Segundo Teixeira (2020, p. 238), “o referido diploma legal permitiu a utilização de sistemas informáticos para a recepção de peças processuais, sem a exigência de envio dos originais, como na Lei do Fax”. 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/14 Conforme nos informam Bertoncini e Corrêa (2013, p. 460), o processo eletrônico apenas começou a ser utilizado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região no ano de 2004. Com a edição de Emenda Constitucional 45/2004, que previu de forma objetiva a necessidade da celeridade processual, utilizou-se a rapidez como um dos grandes argumentos para o desenvolvimento e a implantação do processo eletrônico, o que não significa dizer que esse processo foi rápido e fácil. Elton Baiocco (2012, p. 71) traz uma espantosa estatística na diminuição da morosidade processual no TRF da 4ª Região já no ano de 2005: Em termos de tempo médio de tramitação dos processos, consideradas as datas de distribuição e de prolação da sentença, o Setor de Estatísticas do TRF da 4ª Região apurou substancial redução no primeiro semestre de 2005: a duração média de 789,51 dias dos processos autuados em meio físico (papel) passou para apenas 37,83 dias nos Juizados exclusivamente virtuais. Se é razoável supor que não se alcançaria igual desempenho com a migração integral para o processo eletrônico – em razão de condicionantes estruturais, culturais e outras –, tamanho avanço não pode ser desprezado. Ao contrário. Considera-se o ano de 2006 como o marco do processo eletrônico no Brasil, quando houve a alteração do artigo 154 do Código de Processo Civil, trazendo a possibilidade da prática e comunicação de atos processuais por meios eletrônicos. Por fim, a Lei n. 11.419, de dezembro de 2006, dispôs sobre a informatização do processo judicial, alterando a Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil e deu outras providências. Assim, a nova redação do art. 154, § 2º do CPC trouxe que “Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na forma da lei”. Apesar de que quando da publicação da Lei n. 11.419/2006 já houvesse alguns sistemas de processo eletrônico sendo utilizados no país, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 21 de junho de 2011, lançou o chamado Processo Judicial Eletrônico, ou PJe. Esse sistema começou a ser desenvolvido pelo CNJ em parceria com diversos tribunais do país, sendo cada vez mais utilizado, tendo em vista que foi adotado como padrão para a tramitação de processos judiciais eletrônicos no Brasil. Ainda no ano de 2017 temos notícia da utilização do PJE nos Cartórios Extrajudiciais: A Secretaria Especial do Processo Judicial Eletrônico — SEPJE comunica que, desde o dia 16/10, o Sistema PJe está todo configurado para o envio dos ofícios aos cartórios extrajudiciais do Distrito 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/14 Federal. A proposta, apresentada pela Associação dos Notários e Registradores do Distrito Federal – ANOREG/DF, no Ofício 579, de 3 de outubro de 2017, foi prontamente acolhida pelo TJDFT, dando assim início ao uso do Sistema PJe por todas as serventias extrajudiciais do DF. (TJDFT, 2017) Por todo o exposto, podemos conceituar o processo eletrônico como o mesmo processo anterior a essa legislação, mas sem a utilização de papel e com a automação de algumas fases. TEMA 2 – PANORAMA DA LEI N. 11.419/2006 E DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O marco do processo eletrônico no Brasil é a Lei n. 11.419/2006, que dispõe sobre a informatização do procedimento judicial, dispondo amplamente sobre o processo de informatização, bem como sobre os meios necessários para a implantação do processo eletrônicoem todo o sistema de Justiça. A Lei é dividida em quatro capítulos. No Capítulo I, a lei trata da informatização do processo judicial (artigos 1º a 4º). O Capítulo II refere-se à comunicação eletrônica dos atos processuais (artigos 5º a 7º). O Capítulo III disciplina o processo eletrônico (artigos 8º a 13º) e o Capítulo IV traz as disposições gerais e finais (artigos 14º a 22º). Vejamos os principais aspectos da Lei: 1. A lei não só autoriza o processo eletrônico, mas também permite sua aplicação, indistintamente, em todos os tipos de processo e em qualquer grau de jurisdição. 2. A necessidade da utilização de assinatura eletrônica e credenciamento dos usuários perante o Poder Judiciário; 3. Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrônico no dia e na hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciário, do qual deverá ser fornecido protocolo eletrônico. Quando a petição eletrônica for enviada para atender ao prazo processual, serão consideradas tempestivas as transmitidas até às 24 (vinte e quatro) horas do seu último dia. 4. No art. 4º, a lei permitiu a utilização, por parte dos Tribunais, de Diário da Justiça eletrônico, o que possibilita a eliminação de papel. O Diário da Justiça é o modo oficial de tornar públicos todos os atos do Poder Judiciário. 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/14 5. Quanto à contagem de prazo, a regra geral, quando o Diário da Justiça é impresso em papel, é a do Código de Processo Civil, ou seja, a contagem inicia-se no primeiro dia útil seguinte ao da publicação. Com a utilização do Diário da Justiça eletrônico, há alteração na contagem, a qual é realizada no primeiro dia útil seguinte à data em que é considerado publicado o Diário da Justiça eletrônico, sendo que esta data é o primeiro dia útil seguinte à data da disponibilização da informação, o que, na prática, acaba por elevar o tempo para a prática de atos processuais. 6. As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem. 7. As citações, inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando. 8. As cartas precatórias, rogatórias, de ordem 86 e, de um modo geral, todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder Judiciário, bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feitas preferencialmente por meio eletrônico. 9. Os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente, a rede mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas. Todos os atos processuais do processo eletrônico serão assinados eletronicamente. 10. No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico. 11. A partir da vigência da Lei n. 11.419/2006, os atos de distribuição e protocolo de petições em formato digital não necessitam mais ser realizados necessariamente por servidores do Poder Judiciário. 12. A Lei n. 11.419/2006 confere aos documentos juntados em processo eletrônico o efeito de original, desde que haja garantia da origem e de seu signatário. 13. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total ou parcialmente por meio eletrônico. 14. O acesso a banco de dados público passou a ser reconhecido. 15. Os sistemas a serem desenvolvidos pelos órgãos do Poder Judiciário deverão usar, preferencialmente, programas com código aberto, acessíveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores, priorizando-se a sua padronização. 16. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à justiça, a parte deverá informar, ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o número no cadastro de pessoas físicas ou jurídicas, 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/14 conforme o caso, perante a Secretaria da Receita Federal. 17. Os livros cartorários e demais repositórios dos órgãos do Poder Judiciário poderão ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrônico. Já o novo CPC, ainda que reitere procedimentos (Lei n. 11.419/2006), perdeu uma grande oportunidade, que era a de promover a necessária unificação das regras e dos procedimentos relativos à tramitação processual. Segundo Barreto (2015): Em sentido oposto, a insegurança jurídica restou pavimentada, tendo em vista a delegação de poderes ao CNJ e ainda, supletivamente, aos tribunais, para ‘regulamentar a prática e a comunicação oficial de atos processuais por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos sistemas, disciplinando a incorporação progressiva de novos avanços tecnológicos e editando, para esse fim, os atos que forem necessários, respeitadas as normas fundamentais do Código (art. 196). Existem em funcionamento cerca de 40 sistemas informatizados diferentes adotados pelos vinte e sete TJs, por cinco TRFs, pelo STJ e pelo STF. Apenas a Justiça Trabalhista cuidou de adotar um sistema único. Acresce-se a essa realidade o fato de que cada um dos Tribunais instituíra deveres processuais através de atos infralegais, que adentram matéria de ordem processual e absolutamente díspares entre si. Dentre as inovações trazidas pelo novo CPC, destacam-se os artigos a seguir: Art. 198. As unidades do Poder Judiciário deverão manter gratuitamente, à disposição dos interessados, equipamentos necessários à prática de atos processuais e à consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele constantes. Parágrafo único. Será admitida a prática de atos por meio não eletrônico no local onde não estiverem disponibilizados os equipamentos previstos no caput. Art. 199. As unidades do Poder Judiciário assegurarão às pessoas com deficiência acessibilidade aos seus sítios na rede mundial de computadores, ao meio eletrônico de prática de atos judiciais, à comunicação eletrônica dos atos processuais e à assinatura eletrônica. [...] Art. 194. Os sistemas de automação processual respeitarão a publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e de seus procuradores, inclusive nas audiências e sessões de julgamento, observadas as garantias da disponibilidade, independência da plataforma computacional, acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, serviços, dados e informações que o Poder Judiciário administre no exercício de suas funções. Art. 195. O registro de ato processual eletrônico deverá ser feito em padrões abertos, que atenderão aos requisitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não repúdio, conservação e, nos casos que tramitem em segredo de justiça, confidencialidade, observada a infraestrutura de chaves públicas unificada nacionalmente, nos termos da lei. [...] 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/14 Art. 334, § 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico, nos termos da lei. [...] Art. 367, § 6º A gravação a que se refere o § 5º também pode ser realizada diretamente por qualquer das partes, independentemente de autorização judicial. [...] Art. 937, § 4º É permitido ao advogado com domicílio profissional em cidade diversa daquela onde está sediado o tribunal realizar sustentação oral por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que o requeira até o dia anterior ao da sessão. Os arts. 236, parágrafo 6º, art. 453, parágrafo 1º e art. 461, parágrafo 2º regem a admissão da prática de atos processuais por videoconferência, ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, no depoimento pessoal da parte, na oitiva de testemunhas e na acareação, nos casos em que esses residam em comarca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo”. (Barreto, 2015) Um dos efeitos da pandemiafoi justamente o crescimento da utilização das ferramentas de videoconferência para a realização de audiências e demais atos que, anteriormente, só seriam possíveis presencialmente. TEMA 3 – DISTINÇÃO ENTRE MEIO ELETRÔNICO, DOCUMENTO ELETRÔNICO E PROVA ELETRÔNICA Para o disposto na Lei n. 11.419/2006, considera-se meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos digitais. Por transmissão eletrônica, a lei entende toda forma de comunicação a distância com a utilização de redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de computadores. Há a utilização da assinatura eletrônica, com as seguintes formas de identificação inequívoca do signatário: a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica; b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos respectivos. É importante elucidar, também, a diferença entre documento eletrônico e prova eletrônica: enquanto documento eletrônico é todo registro que tem como meio físico um suporte eletrônico, apenas se considera prova eletrônica o documento que possua efetivamente a capacidade de armazenar informações de forma que se impeça ou se permita detectar eliminação ou adulteração de conteúdo. 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/14 A Lei n. 11.419/2006 tornou o documento eletrônico expressamente admissível como meio de prova. Assim, conforme a redação da lei, a força probante deste tipo de documento (eletrônico) passa a equivaler à de outros documentos tradicionais como o documento cartular (em papel) quando este apresentar determinados requisitos. Conforme dispõe o caput do art. 11, os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos autos do processo eletrônico com garantia da origem e de seu signatário serão considerados originais para todos os efeitos legais. Além disso, o § 1º do art. 11 prevê que os documentos escaneados juntados ao processo têm a mesma força probante dos originais. Assim, equivalerão aos documentos originais os documentos escaneados e juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas autoridades policiais, pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos e privados. Por fim, frise-se que o § 3º do art. 11 da Lei n. 11.419/2006 preconiza que os originais dos documentos digitalizados (escaneados) ou reproduzidos mecanicamente deverão ser preservados pelo seu detentor até o trânsito em julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para interposição de ação rescisória. TEMA 4 – PRINCÍPIOS PROCESSUAIS APLICÁVEIS AO PROCESSO ELETRÔNICO Com o desenvolvimento do processo eletrônico, algumas das maiores discussões dizem respeito aos princípios processuais. Isso porque, com a incorporação das novas tecnologias à nossa realidade e ao Processo Judicial, a principiologia continua devendo ser aplicada, ainda que de uma nova maneira. Assim, é importante ressaltar que alguns princípios deverão ser relativizados diante do processo eletrônico, o que não quer dizer que não devam ser observados. Tanto é assim que alguns autores defendem a ideia de uma nova teoria geral para o processo eletrônico, com novos pressupostos e condição da ação, visando a garantia dos direitos fundamentais. Os princípios que visam garantir integridade e segurança no processo eletrônico são: Princípio do devido processo legal Previsto pelo artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal, garante que o indivíduo só será 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/14 privado de sua liberdade ou terá seus direitos restringidos mediante um processo legal, exercido pelo Poder Judiciário, por meio de um juiz natural, assegurados o contraditório e a ampla defesa. Princípio da imparcialidade do juiz Decorre da Constituição Federal de 1988, que veda o juízo ou tribunal de exceção, na forma do artigo 5º, XXXVII, garantindo que o processo e a sentença sejam conduzidos pela autoridade competente que sempre será determinada por regras estabelecidas anteriormente ao fato. Princípio da igualdade Consiste em dar tratamento isonômico às partes. Princípio do contraditório e da ampla defesa Decorre do art. 5º, LV, da Constituição Federal, que determina que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Princípio da ação Afirma que aquele que busca o direito deve provocar o sistema judiciário, e, assim, a partir desse estímulo inicial, o poder público poderá agir na busca da realização da justiça. Princípios da disponibilidade e indisponibilidade Diz respeito à possibilidade ou não de alguém apresentar em juízo a sua pretensão, do modo como bem entenda. Princípios do dispositivo e da livre investidura das provas A iniciativa das alegações e das provas compete às partes, já que o juiz é um sujeito imparcial e, portanto, não pode agir de ofício. As partes podem, livremente, produzir as suas provas, desde que as provas sejam lícitas. Princípio da oralidade Recomenda a prevalência da palavra falada sobre a escrita nos processos, em determinados atos processuais. Princípio da motivação das decisões judiciais Nas decisões e sentenças, o juiz deve expor as razões de seu convencimento pautado em aspectos racionais. Princípio da publicidade Todos os atos processuais são públicos, estando disponíveis para acesso e consulta, tanto para as partes, quanto por qualquer pessoa interessada, salvo casos expressos em Lei. 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/14 Princípio da lealdade processual Consiste no dever de todos os sujeitos da relação processual atuar no feito de modo condizente com a moralidade, a fim de que este atinja seu objetivo: a solução da lide. Princípio da instrumentalidade e da economia processual Pelo princípio da instrumentalidade das formas, ainda que com vício, se o ato atinge sua finalidade sem causar prejuízo às partes, não se declara sua nulidade. Segundo o princípio da economia processual, a atividade jurisdicional deve ser prestada sempre com vistas a produzir o máximo de resultados com o mínimo de esforços, evitando-se, assim, gasto de tempo e dinheiro inutilmente. Princípio do duplo grau de jurisdição Tem a finalidade de garantir a realização de um novo julgamento, por parte dos órgãos superiores, daquelas decisões proferidas em primeira instância. Nota-se, assim, que o processo eletrônico é utilizado com vistas, também, a garantir às partes, com mais eficácia, o seu Direito, de forma mais célere, mais transparente e de maneira mais rápida. TEMA 5 – VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DO PROCESSO ELETRÔNICO Segundo Teixeira (2020, p. 256 e ss.), o processo eletrônico trouxe consigo muitas vantagens às partes, aos patronos, ao Judiciário e à sociedade em geral. Para o autor, entre as principais vantagens do processo eletrônico podemos citar que os prazos poderão ser todos comuns, já que as partes podem ter vista dos autos simultaneamente, a qualquer tempo. Além disso, não é mais necessária a carga física do processo. Isso, com certeza, traz também celeridade processual “com a economia de aproximadamente 70% do tempo de duração do processo, quanto à sua parte burocrático - administrativa”. (Teixeira, 2020, p. 256) Teixeira (2020, p. 257) também ressalta que o meio ambiente é preservado com a implantação do processo eletrônico: Antes do advento do processo eletrônico, por ano, eram consumidas aproximadamente 46 mil toneladas de papel pelos processos judiciais impressos no Brasil, o que equivale a 690 mil árvores. Cada processo físico custava em média R$ 20,00, entre papel, grampos etc. Considerando que à época eram cerca de 70 milhões de processos em andamento, o custo anual ficava em R$ 1.400.000.000,00. Essenúmero seria ainda maior ao se considerar que o ano de 2012 foi encerrado 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/14 com 92 milhões de processos em andamento, conforme levantamento do Conselho Nacional de Justiça. Além disso, temos: diminuição do trabalho braçal dos serventuários; direcionamento de funcionários de atendimento e trâmites burocráticos para setores mais técnicos e intelectuais, como de conciliação; diminuição dos custos com afastamento por acidentes ou doenças. Igualmente, o processo eletrônico traz a possibilidade de avaliar melhor o desempenho dos servidores, já que o sistema registra a atuação de cada um nos processos. Ainda, temos a vantagem da diminuição de grandes instalações físicas para fóruns e arquivos. Isso se reflete, também, em um custo menor na implantação de varas, principalmente quanto ao espaço físico e número de serventuários, e quanto ao transporte de processos. (Teixeira, 2020). No âmbito processual, há maior facilidade em identificar casos de prevenção, litispendência e coisa julgada. Além disso, o controle automático dos prazos processuais e da numeração sequencial de documentos traz mais segurança jurídica. A correção de erros também é facilitada, bem como, se evitam alegações repetitivas, tais como “concluso” e “ao MP”. Sem dúvida, uma das maiores vantagens é a diminuição do deslocamento físico, com o acesso imediato e remoto, independentemente de local e horário, a decisões, expedientes, mandados etc. (Teixeira, 2020). Por fim, uma das maiores vantagens diz respeito à otimização no cumprimento de cartas precatórias e rogatórias, o que contribui, sobremaneira, para a celeridade processual. NA PRÁTICA Imagine que em uma audiência, o juiz resolva realizar o interrogatório dos réus de maneira eletrônica. Contudo, uma das partes não consegue acesso à gravação da audiência, por falha no sistema da Justiça. Nesse caso, podemos dizer que o processo eletrônico é prejudicial? Não, pois os princípios que orientam o processo garantem às partes a tutela em casos assim. FINALIZANDO 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/14 Muito se discutiu e se discute sobre a segurança dos meios eletrônicos, e com o processo eletrônico não é diferente. Esse fenômeno é comum ao ser humano, conforme nos informa Teixeira (2020, p. 258): Quando veio a máquina de escrever, muitos também não confiavam nela. No passado, houve um tempo em que acórdãos anulavam decisões proferidas por máquina de escrever. Estamos em um tempo de transição, do papel para o digital, não apenas no processo judicial, mas na vida cotidiana como um todo. Isso inclui o setor privado, os entes públicos e as pessoas no geral. Se pensarmos friamente, a segurança que muitos ainda veem no papel (em detrimento do digital) não é tão segura assim, sobretudo se tomarmos o fato de que o papel é suscetível a perecimento em caso de incêndio, alagamento, perda, subtração etc. O digital, por sua vez, pode ser objeto de armazenamento em mais de um terminal, além dos sistemas de segurança para manter a integridade do documento e a realização de backups. É inegável a necessidade de informatizar efetivamente o Poder Judiciário, não só o processo judicial, mas também os processos administrativos e as serventias extrajudiciais. REFERÊNCIAS BAIOCCO, E. A introdução de novas tecnologias como forma de racionalizar a prestação jurisdicional: perspectivas e desafios. Dissertação (Pós-graduação em Direito) — Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Jurídicas, Curitiba, 2012. Disponível em: https://acervodigital.ufp r.br/handle/1884/27134?show=full. Acesso em: 20 mar. 2021. BERTONCINI, M. E. S. N.; CORRÊA, F. A. Processo eletrônico como instrumento da cidadania. Revista Jurídica Unicuritiba, Curitiba, v. 2, n. 31 (2013). Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/608/469. Acesso em: 20 mar. 2021. TEIXEIRA, T. Direito digital e processo eletrônico. 5. ed. São Paulo: Saraiva: 2020. (Minha Biblioteca). TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Processo Judicial eletrônico chega aos cartórios extrajudiciais do DF, 2017. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/in stitucional/imprensa/noticias/2017/novembro/processo-judicial-eletronico-chega-aos-cartorios-extra judiciais-do-df. Acesso em: 20 mar. 2021. https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/27134?show=full https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2017/novembro/processo-judicial-eletronico-chega-aos-cartorios-extrajudiciais-do-df 14/04/2023, 20:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/14
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