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DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE Olá! Neste tópico vamos aprender sobre o tema: Dignidade e equilíbrio social no conceito Constitucional brasileiro que é um dos tópicos importantes quando se fala em Direitos humanos no Brasil, cuja necessidade é reconhecer alguns dos diversos institutos da Constituição Federal de 1988, como mecanismo de defesa. É constante o trabalho para erradicar o racismo no Brasil na atualidade, porém são esforços muitas das vezes sem sentido pois encontram barreiras, fato é que conforme pudemos visualizar, o racismo e o preconceito existem sim e precisam ser debatidos de forma inteligente. Assim como já mencionado anteriormente é fato que a educação tem um papel importantíssimo quando se trata em forjar o caráter humano, levando-os a ver e pensar diferente. Bons estudos! AULA 04 – DIGNIDADE E EQUILÍBRIO SOCIAL Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo. Compreender o conceito de psicologia Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia Conhecer as áreas de atuação do psicólogo. Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais do tema Dignidade e equilíbrio social, entenderá como ocorre no território brasileiro o instituto da dignidade humana que se trata de uma cláusula pétrea da Constituição Federal de 1988 e o que ainda precisa ser feito em relação às questões relacionadas a dignidade em busca de um equilíbrio social. Ao final desses estudos, você será capaz de: Compreender o conceito de Dignidade Humana no Brasil Identificar elementos que contribuem para o equilíbrio social no Brasil. 4 DIFICULDADES TEÓRICAS NA JUSTIFICAÇÃO RACIONAL DA DIGNIDADE HUMANA Weyne (2013) traz um estudo de Sarlet (2007) sobre a dignidade humana no âmbito da evolução do pensamento ocidental, onde traz uma constatação que toda ordem constitucional, de forma direta ou indireta, invoca tal ideia adere indubitavelmente à concepção jusnaturalista que vivenciava seu apogeu no século XVIII, segundo a qual “o homem, em virtude tão somente de sua condição humana e independentemente de qualquer outra circunstância, é titular de direitos que devem ser reconhecidos e respeitados por seus semelhantes e pelo Estado” (WEYNE, 2013, p. 152). O citado autor acrescenta que, da mesma forma, acabou sendo recepcionada, sobretudo a partir do pensamento cristão e humanista, “uma fundamentação metafísica da dignidade da pessoa humana, que, na sua manifestação jurídica, significa uma última garantia da pessoa humana em relação a uma total disponibilidade por parte do poder estatal e social” (WEYNE, 2013, p. 152). Conforme essa tese, a ideia de dignidade humana transmitida às ordens jurídicas contemporâneas fundamenta-se em duas concepções metafísicas: A ontológica e A teológica. Com efeito, a ideia de uma dignidade humana universalmente válida e atribuída aos seres humanos unicamente em virtude da sua condição humana parece pressupor uma ontologia, quer dizer, o conhecimento da essência do ser humano, para além, portanto, da diversidade de culturas e de tradições. Essa posição ontológica, todavia, envolve uma questão preliminar que raramente os juristas estão dispostos a enfrentar com a profundidade necessária, a saber: é possível conhecer o ser humano como tal a sua essência para, a partir daí, extrair uma dignidade que lhe é inerente? Essa e outras dificuldades teóricas das concepções ontológica e teológica serão avaliadas nesta aula. Além da ontológica e da teológica, é conveniente incluir, no rol das concepções filosóficas em que se fundamenta a ideia de dignidade humana recepcionada pelo discurso jurídico atual, outras duas: em primeiro lugar, a concepção Kantiana, que, ao contrário do que sugerem alguns autores, não deve situar-se, por questão de coerência, dentro da concepção ontológica, conforme será visto; em segundo lugar, a concepção intuicionista, que, embora não se proponha exatamente a justificar a dignidade humana, parece ter sido uma perspectiva escolhida pelo legislador na elaboração de documentos normativos nacionais e internacionais sobre direitos humanos, sendo não raro usada, pelos juristas, como critério para a interpretação e para a aplicação do princípio da dignidade humana. A concepção Kantiana é o objeto central desta apostila. 4.1 A concepção ontológica Ao estudar a concepção ontológica da dignidade humana entende-se que é o conceito que considera a dignidade humana como um atributo intrínseco à essência do ser humano, ou seja, se trata da qualidade integrante da própria condição humana, a qual constitui um elemento que qualifica o ser humano como tal e que, por isso, pode ser reconhecida, respeitada, promovida e protegida, não podendo ser criado ou retirado, embora possa ser violado, porque existe em cada pessoa como algo próprio. Esse entendimento parece ser amplamente adotado no plano jurídico e político, e fica evidente a partir de um olhar sobre a jurisprudência brasileira e estrangeira e os instrumentos éticos e jurídicos internacionais, que muitas vezes remetem a uma perspectiva inerente. Para Weyne (2013), o principal exemplo de que a concepção ontológica é admitida pelos documentos éticos e jurídicos internacionais é a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que, em seu Preâmbulo, proclama a dignidade inerente e os direitos iguais e inalienáveis, o que é reproduzido por muitos outros instrumentos a exemplo da Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º inciso III. Assim, a doutrina brasileira se debruça sobre esse tema, pois a dignidade humana se trata de uma vida digna, e quando se busca a igualdade entende-se necessário um equilíbrio social entre os indivíduos, de forma que o propósito deste princípio constitucional vai muito além da mera defesa desse entendimento, na medida em que, difícil tarefa é formular uma conceituação jurídica de dignidade humana, a qual, resultou numa interpretação aparentemente capaz de restringir o uso indiscriminado desse princípio: [...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (WEYNE, 2013, p. 156). Conclui-se, então, que a dignidade humana possui um aspecto multidimensional que pode ser identificado como causador de maiores preocupações no que tange à compatibilização de dimensões, muitas vezes antagônicas, além de reunir a dupla perspectiva ontológica e instrumental: [...], procura destacar tanto a sua necessária faceta intersubjetiva e, portanto, relacional, quanto a sua dimensão simultaneamente negativa (defensiva) e positiva (prestacional) ”. Assim, tal autor acaba vinculando dimensões que, por serem incompatíveis entre si – como, por exemplo, a ontológica e a intersubjetiva ou a ontológica e a kantiana –, conferem um improdutivo sincretismoao conceito citado, tornando-o, pelo menos do ponto de vista teórico, carente de uma reflexão mais profunda sobre a sua justificação filosófica (WEYNE, 2013, p. 156). Já Nunes (2002), traz o entendimento de que, embora alegue extrair o seu entendimento da razão histórica, concorda abertamente com uma perspectiva intrínseca: O ser humano é digno porquê é então, a dignidade nasce com a pessoa. É- lhe inata. Inerente à sua essência. Acrescenta ele que a formulação sobre o ser é de conjugação única e tautológica. O ser é. Ser é ser, basta a formulação: sou. É basicamente esse o argumento que oferece para lidar com a questão do que vem a ser a dignidade humana (NUNES, 2002, p. 49). Nesse horizonte, Kant (1974) entende que a ideia é “um conceito necessário da razão ao qual não pode ser dado nos sentidos um objeto que lhe corresponda” (KANT, 1974, p. 302). Os conceitos da razão pura são, pois, ideias transcendentais que consideram todo o conhecimento de experiência determinado por uma totalidade absoluta de condições. O autor explica que, tais conceitos não são forjados arbitrariamente, visto que “são dados pela própria razão, pelo que se relacionam, necessariamente, com o uso total do entendimento” (KANT, 1974, p. 304); eles também se caracterizam por ser transcendentes e, por conseguinte, ultrapassar os limites de toda a experiência, de tal modo que nunca pode surgir um objeto adequado à ideia transcendental. A ideia é, assim, o conceito de um maximum que nunca pode ser dado na realidade (in concretum) de maneira adequada, e, no uso teórico da razão, é esse o seu próprio objetivo. Em contrapartida, no uso prático da razão, a ideia ou seja, o inteligível, e não o sensível, é que é o real para Kant: a ideia da razão prática pode fazer-se sempre real, embora dada só em parte in concreto, e é mesmo a condição indispensável de todo o uso prático da razão. A realização desta ideia é sempre limitada e defeituosa, mas em limites que é impossível determinar e, por conseguinte, sempre sob a influência do conceito de uma integralidade absoluta. A ideia prática é, pois, sempre altamente fecunda e incontestavelmente necessária em relação às ações reais (NUNES, 2002). A razão pura tem nela a causalidade necessária para produzir, efetivamente, o que o seu conceito contém; pelo que se não pode dizer da sabedoria, de certo modo displicentemente, que é apenas uma ideia; mas justamente, por ser a ideia da unidade necessária de todos os fins possíveis, deverá servir de regra para toda a prática, como condição originária, ou, pelo menos, limitativa. Entre as ideias transcendentais, interessa examinar a tendência da razão à unidade das condições do fenômeno. Nesse caso, a razão toma as quatro classes das categorias do entendimento utilizadas em toda a síntese quantidade, qualidade, relação e modalidade e as conduz para além das condições de possibilidade da experiência, produzindo quatro ideias cosmológicas referentes aos conceitos de mundo e de natureza. Em cada uma dessas ideias, encontram-se duas maneiras opostas de conceber mundo e natureza, as antinomias da razão pura, para as quais Kant procurará dar uma solução. A terceira antinomia é a mais importante e também a única que se comentará aqui, por suas consequências práticas. A tese afirma que, além da causalidade segundo as leis da natureza, há uma causalidade pela liberdade, como incondicio- nado, na origem de uma série causal, que é necessária admitir para explicar o que acontece no mundo; já a antítese diz que “Não há liberdade, pois tudo no mundo acontece unicamente em virtude das leis da natureza”. Em sentido transcendental, a liberdade é a faculdade de iniciar por si um estado, cuja causalidade não esteja subordinada, segundo a lei natural, a outra causa que a determine quanto ao tempo. Nesse sentido, a liberdade só pode ser uma ideia transcendental, que, em primeiro lugar, nada contém da experiência até porque toda esta supõe uma determinação causal dos fenômenos e, em segundo lugar, “é uma lei geral, até da própria possibilidade de toda a experiência, que tudo o que acontece deva ter uma causa e, por conseguinte, também a causalidade da causa, causalidade que, ela própria, aconteceu ou surgiu, deverá ter, por sua vez, uma causa”. Como o conhecimento teórico não obtém a totalidade das condições na relação causal por mais longe que ele se estenda no campo da sensibilidade, a razão cria a ideia de uma espontaneidade que poderia começar a agir por si mesma, sem que outra causa a tivesse precedido para a determinar a agir segundo a lei da causalidade. Assim, a liberdade funciona e, inclusive, torna-se necessária como um princípio regulador que limita a validade objetiva do conhecimento teórico, evitando a sua expansão até as coisas em si. Deve-se antecipar, aliás, que é nessa ideia transcendental da liberdade que se fundamenta o seu sentido prático, segundo o qual ela “é a independência do arbítrio frente à coação dos impulsos da sensibilidade”, o que separa o arbítrio humano do arbítrio animal. Sem dúvida, o arbítrio humano é sensível (arbitrium sentitivum), na medida em que é afetado (patologicamente) pela sensibilidade; no entanto, não é puramente animal (arbitrium brutum), mas sim livre (arbitrium liberum), porque a influência da sensibilidade não torna necessária a sua ação: o ser humano “possui a capacidade de determinar-se por si, independentemente da coação dos impulsos sensíveis”. Apesar dessa importância, considerando que a liberdade é apenas uma ideia, o uso teórico da razão somente pode apresentá-la de modo problemático e negativo, isto é, como um conceito que não contém contradição (pelo pensamento), mas cuja realidade objetiva não pode ser provada (pelo conhecimento). O próprio Kant faz questão de ressalvar que, muito embora não se possa conhecer o objeto como coisa em si, é possível, pelo menos, pensá-lo como tal, porque, em caso contrário, chegar-se-ia à proposição absurda de que haveria fenômeno (aparência) sem haver algo que aparecesse. Dessa maneira, o ser humano, do ponto de vista da receptividade da sensibilidade, é um dos fenômenos do mundo sensível e, por conseguinte, uma das causas da natureza cuja causalidade deve estar submetida às leis empíricas; do ponto de vista da razão e do entendimento, entretanto, o ser humano é, sem dúvida, um objeto meramente inteligível, porque a sua ação não pode de maneira nenhuma ser atribuída àquela receptividade. Sendo possível considerar o homem e a sua vontade em dois sentidos diferentes, como fenômeno, submetidos às leis determinísticas da natureza e como coisa em si submetido apenas às leis determinantes da razão, pode-se conciliar o princípio da causalidade segundo as leis da natureza com o princípio da causalidade pela liberdade. 4.2 Pode a educação fazer justiça à singularidade do outro? Para Hermann (2014), a questão do outro e seu significado para a ética em educação exige, inicialmente, o deslocamento do horizonte da metafísica, que enclausura as possibilidades de abertura à alteridade, para o horizonte da facticidade. Isso implica reconhecer um problema para a educação, pois o sujeito autônomo e autodeterminado se constitui num processo de autorrelação e reflexividade, sem apelo à exterioridade. Ou seja, já na constituição do sujeito moderno o outro não é considerado. O problema refere-se, então, ao desaparecimento na relação com o outro, com a diferença e com o estranho. Podemos lembrar o quanto a educação se debate com essa questão nos conhecidos esforços pedagógicos em atender às peculiaridades dos alunos, desde a introdução de procedimentos metodológicospara tornar o ensino mais ajustado às diferenças individuais, a reforma curricular com vistas a atender demandas históricas de reconhecimento denegado às minorias, o acolhimento de ações pedagógicas com ênfase nos artefatos culturais que enfatizam novos modos de subjetivação, a implantação de diferentes modalidades de tecnologias digitais no ensino com ênfase na dimensão interativa, incluindo também a preocupação com as peculiaridades do desenvolvimento psíquico, moral e intelectual dos alunos e, sobretudo, as reiteradas defesas da interação entre professor e aluno. Movimentos pedagógicos diversos, desde a Escola Nova, reafirmam a necessidade de atender às diferenças, sem, contudo, dimensionar o problema de forma adequada. Tais iniciativas fazem parte de nosso ideário, mas não apreendem o problema da alteridade, porque esbarram em dificuldades estruturais, “entulhos”, para usar um termo de Heidegger (1995a), em que o outro e a diferença ficam referidas a um critério de normalização. A questão não é tratar a alteridade e a diferença epistemologicamente ou pelo método, mas pelo tratamento ético, que dá visibilidade a algo que foi encoberto na tradição metafísica e, sobretudo, busca reconhecimento do outro, que tem a dignidade lesada ao ser excluído pela rigidez de princípios morais. A ética tradicional não põe em evidência o outro, ao contrário, ou ele é deposto pela consciência ou é uma concessão da vontade. Em ambos os casos a diferença é negada. Nessa medida, como analisamos anteriormente, o sujeito tende a se perturbar diante daquilo que é estranho à sua estrutura e isso ocorre nos processos educativos, sobretudo na relação entre professores e alunos. Somos sempre surpreendidos pela tentação de definir, delimitar o outro. Nenhuma diferença ou singularidade é, feita por nós, ou seja, ela acontece e nós somos colocados nessa diferença, é ela que nos convoca. Nessa perspectiva, Hermann (2014) defende uma peculiar lógica de resposta que perceba o outro para além de nossa própria compreensão, que reconheça sua inevitabilidade e sua singularidade e que produza respostas fora das normalizações existentes. As abordagens fenomenológica e hermenêutica criam uma nova consciência metodológica da questão do outro, abrindo perspectivas inovadoras ao problema. É necessário, contudo, destacar que as posições discutidas nesta pesquisa sobre a questão do outro não são idênticas. O autor menciona que se trata da existência de um movimento de conversação na busca de compreender o que é o estranho, o outro e a diferença, uma busca de verdade implícita no encontro. Por isso defende o diálogo. Nessa busca de entendimento, realizamos um encontro com o outro que expande nosso horizonte. O diálogo só é possível porque há um outro, uma diferença, um interlocutor radicalmente distinto com qual mantemos uma conversação e, nesse processo, nos transformamos. O autor menciona ainda que a racionalidade comunicativa pode superar os processos de exclusão e de dominação do outro pelas possibilidades contidas no diálogo, que se embasa na força do modelo hermenêutico de entendimento adquirido em nossas conversas cotidianas e desenvolvido metodologicamente. De acordo com essa posição seria, então, inconsistente a ideia de um universo fechado em si mesmo, incomensurável em relação a outros universos semelhantes em que não poderíamos nos comunicar (HERMANN, 2014). Pelo esforço hermenêutico, os participantes de um diálogo podem perceber a unilateralidade de suas perspectivas (que provém de contextos culturais específicos) e alargá-las até perceber que podem se aproximar. Existe uma desconfiança em relação ao consenso e não considera que o diálogo possa equilibrar o próprio e o estranho, o eu e o outro, sem roubar sua estranheza. Propõe uma descrição fenomenológica do outro como acontecimento, ou seja, há sempre uma dimensão inapreensível do outro, que exige que o eu suspenda a intenção racional de tornar o outro disponível para mim. Não creio, contudo, que para responder à pergunta deste epílogo seja produtivo destacar as oposições entre os autores, mas colocar essas contribuições no âmbito de uma constelação (HERMANN, 2014). Na constelação encontram-se campos de força, conteúdos em movimento, tensões entre as diversas camadas de sentido, que postas em perspectiva ajudam a explicitá-las. Assim, o pensar constelador permite ver as diferentes interpretações a respeito do outro sob nova luz. Nesse jogo entre suas diferenças, que escapa a lógica da identidade, podemos responder à questão se a educação atende à singularidade do outro. Percebe-se que a singularidade nunca é totalmente aprendida, e em qualquer intervenção educativa há que se reconhecer um espaço de inapreensibilidade do outro. Isso, contudo, não impede as possibilidades contidas no diálogo enquanto um modo de aproximação, pois o jogo e a fusão de horizontes buscam um entendimento que expande nosso próprio horizonte para reconhecer o outro. A relação entre estranheza e familiaridade, constitutiva de todo o compreender, exige a exposição ao outro e o acolhimento de sua pergunta. E, nesse processo, nosso entendimento não permanece fechado em si mesmo, pois o impacto do diálogo provoca quebras e rupturas que forçam a revisão de posição (HERMANN, 2014). O alerta de que as tensões e aporias na relação com a alteridade não estabelecem uma coerência e trazem os riscos de uma centralização redutora do outro, põe em cena os possíveis problemas e lacunas da experiência dialógica, nem sempre visíveis. Mas a essa suspeita quanto aos problemas que se interpõem à acessibilidade do outro pode-se contrapor a insistência de Gadamer de que é no acontecer do diálogo que o sentido surge, pois é no encontro com o outro que a verdade acontece. “O que importa, é experimentar o tu como um u, isto é, não passar ao largo de suas pretensões e permitir que ele nos diga algo” (GADAMER, 1999c, p. 366). Seria uma concessão inaceitável ao ideal de transparência pensarmos que uma aproximação do outro não reconheceria que algo sempre nos escapa, que fica algo “de não dito, quando se diz algo” (GADAMER, 2000, p. 211), como nos alertou. Desse modo, os processos educativos mantêm uma relação tensa com a singularidade do outro, pois ele nos confronta com os limites de nossas próprias possibilidades. Ao dialogar, fundir horizontes, produzir acordos, há o perigo de se passar por cima das heterogeneidades e singularidades que nos interpelam, mas não é menor o risco de nos fascinarmos com a inacessibilidade e indecidibilidade que nos afastam de uma unidade e de um mundo comum. No recurso a um pensamento constelador, que expõe as aporias e diferentes camadas de sentido, pode-se reconhecer que a questão da justiça à singularidade do outro situa-se numa dimensão ambivalente e paradoxal e desfaz as seguranças e as certezas metafísicas da representação do outro. Será, então, que todos os esforços históricos de constituir um projeto educativo que reconheça o outro estão fadados ao fracasso? Para o autor essa resposta oscila num espaço estranho entre sim e não, pois a negação de muitas experiências históricas que permitiram o outro ser acolhido seria impossível, desconhecer a tendência da educação em abordar o outro num esquema prévio de representação seria manter-se numa ilusão. Cada diálogo, cada compreensão e cada acordo constituem um avanço na busca de um sentido da alteridade, mas nunca se esgotam em suas possibilidades, pois a ação educativa com frequência subtrai a alteridade do outro. Por isso a pergunta se a educação faz justiça à alteridade tem que se estabelecer no movimento paradoxal da educação já anunciado por Kant, pois, assim, ganha em compreensão e pode abrir-se em novas perspectivas, na direção de uma responsabilidade para com o outro. A defesa da experiência estéticaé um caminho para essa abertura, pois a vertigem que esse tipo de experiência provoca joga a experiência de si mesmo na capacidade de ser outro. Isso nos permite sermos nós mesmos sendo outros. A sensibilidade aflorada na experiência estética não é pobre nem restrita, ao contrário, pode nos abrir para o imprevisível e o inesperado, criando condições para perceber o acontecimento do outro. A educação tem na experiência estética uma aliada para remover os “entulhos”, desbloquear nossas rígidas estruturas de apropriação, aplainando o caminho para que a multiplicidade de vozes do outro se faça audível. Uma questão própria da ética em educação refere-se às normas universais. Como sabemos, aceitar a normatividade universal ou recusá-la em favor do particularismo é, ainda, um dos temas centrais no debate filosófico contemporâneo e assume especial relevância para a filosofia da educação, porque a normatividade é indissociável da sociabilidade, da constituição de um mundo comum. Aqui, mais uma dúvida se interpõe, pois, a norma representa algo externo, que gera a submissão da diferença e força nossas ações a uma resposta normalizada. A essa questão, contudo, pode-se contrapor o modo como as normas são produzidas e aplicadas. Se elas se constituem na discursividade e continuamente são contestadas e revisadas, já estão deslocadas para um cenário pós-metafísico, podem incorporar novas reivindicações históricas e não permanecer inflexíveis. Nesse sentido, Habermas afirma: Para que nos libertemos dos grilhões de uma falsa e apenas presumível universalidade de princípios seletivamente esgotados e aplicados de uma forma insensível ao contexto, sempre foram necessários, e ainda o são hoje em dia, movimentos sociais e lutas políticas, no sentido de podermos aprender, a partir das experiências dolorosas e do sofrimento irreparável dos humilhados e ofendidos, dos feridos e violentados, que ninguém pode ser excluído em nome do universalismo moral – nem as classes subprivilegiadas nem as nações exploradas, nem as mulheres domesticadas nem as minorias marginalizadas (HABERMAS, 1991, p. 115). Desse modo, o confronto entre a universalidade da regra e a singularidade do outro sublinha o caráter paradoxal da educação. Sem normas não há sociabilidade possível, e com elas tendemos a processos de apropriação e exclusão do outro. Estaríamos assim novamente diante da incomensurabilidade dos mundos? 4.3 Resumindo Conforme se observa a dignidade humana é intrínseca de todo ser humano, não havendo diferença entre os indivíduos, mas busca a isonomia, e o equilíbrio social, havendo a necessidade da conscientização entre os seres humanos. Assim, o ambiente escolar é um lugar onde se pode disseminar a semente da igualdade, da dignidade pois o Brasil ainda é um país onde existem muitas diferenças, em nível econômico e social e até mesmo conforme mencionado na aula anterior, onde existe ainda o preconceito e a discriminação, os quais precisam ser disseminados. Na próxima aula vamos conversar sobre: Inclusão Socioeducacional. Até lá... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 04/11/2022. GADAMER, 1999c GADAMER, 2000 HEIDEGGER, Martin. Caminos de bosque. Trad. Helena Cortés e Arturo Leite. Madrid: Alianza Universidad, 1995a. HERMANN, Nadja. Ética & educação: outra sensibilidade. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. HABERMAS, 1991 KANT, Immanuel. Prolegômenos. Tradução de Tânia Maria Bernkopf. In: Kant. Crítica da razão pura e outros textos filosóficos. São Paulo: Abril Cultural, 1974, p. 99- 193. NUNES, Luiz Antonio Rizzato. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2002. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. WEYNE, Bruno Cunha. O princípio da dignidade humana: reflexões a partir da filosofia de Kant. 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