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2 ANGELA MARIA LA SALA BATÀ O ESPAÇO INTERIOR DO HOMEM Iniciação à Meditação Tradução PIER LUIGI CABRA EDITORA PENSAMENTO SÃO PAULO 3 Título do Original: Lo spazio interiore dell'uomo (Avviamento alla meditazione) SUMÁRIO Introdução 4 Capítulo I - O homem pluridimensional 7 Capítulo II - O espaço interior do homem 11 Capítulo III - Os caminhos da expansão da consciência 15 Capítulo IV - A pura consciência e o mundo do ser 20 Capítulo V - A meditação, técnica fundamental para o desenvolvimento da consciência 24 Capítulo VI - Meditação psicológica 29 Capítulo VII - Resultados da meditação psicológica 33 Capítulo VIII - A meditação espiritual (1ª Parte) 37 Capítulo IX - A meditação espiritual (2ª Parte) 41 Capítulo X - Resultados da meditação espiritual 45 Capítulo XI - Inconvenientes e perigos que derivam da meditação 49 Capítulo XII - A meditação criativa como meio de utilizar as energias 54 Capítulo XIII - Equilíbrio entre vida interior e vida exterior 58 Capítulo XIV - O segundo nascimento 62 Capítulo XV - A expansão da consciência 66 Bibliografia 70 4 INTRODUÇÃO Todo e qualquer trabalho de meditação é, na realidade, uma experiência individual; acredito, portanto, que não seja, possível estabelecer regras gerais para um argumento tão sutil e específico. Todavia, comunicar aos outros as próprias experiências serve sempre como estímulo, confronto e esclarecimento. Tendo isso em mente, resolvi escrever este livro, fruto de experiências e reflexões sobre a meditação, tanto individuais como de grupo, depois de muitos e muitos anos de prática interior. O que mais me impressionou no decorrer de todos estes anos de trabalho foi a contínua repetição de dificuldades e problemas semelhantes em quase todos aqueles que estavam começando, pela primeira vez, a prática da meditação; isso, apesar de um desejo sincero e de uma profunda seriedade em alcançar o objetivo. Cheguei à conclusão de que essas dificuldades eram inevitáveis para nós ocidentais e eram devidas, fundamentalmente, ao nosso temperamento racional e extrovertido. Portanto, elas tinham de ser enfrentadas e resolvidas levando-se em consideração este detalhe. A meditação é, na realidade, uma prática muito mais comum no Oriente do que no Ocidente, onde, até alguns anos atrás, era considerada um exercício espiritual reservado somente àqueles que se haviam dedicado à vida religiosa. Ao contrário, atualmente, o interesse em relação à meditação espalhou-se também pelo Ocidente e, apesar de uma certa confusão devida às inúmeras técnicas e ensinamentos, mais ou menos válidos, existentes, é um sinal positivo de um novo despertar da consciência, de uma necessidade interior de reencontrar o mundo do Ser, e de sair do estado de crise e alienação em que parece ter caído a humanidade. O Oriente está se aproximando do Ocidente. A mentalidade racional, positiva, científica do Ocidente abre-se à modalidade intuitiva, mística, introvertida do Oriente, por uma instintiva necessidade de integração e de complemento. Oriente e Ocidente representam de forma simbólica uma polaridade que poderia ser expressa com as seguintes palavras de Jung: "O Oriente está para o Ocidente, como o inconsciente está para o consciente." Não se pode negar que nós ocidentais somos completamente diferentes dos orientais; e as razões são facilmente perceptíveis. Basta pensar no patrimônio cultural, social e religioso cujas manifestações e origens são completamente diversas. Essa diversidade, porém, reside sobretudo em nosso temperamento que, como acabei de mencionar, tende à racionalidade, à extroversão, ao ativismo, enquanto os orientais têm um temperamento cujas características são a introversão, a intuição, a receptividade, a reflexão meditativa... Nossa diversidade, todavia, não deve ser considerada como uma inferioridade, e sim como a expressão de uma modalidade psicológica diferente, com características, qualidades e tendências que se baseiam no polo consciente da psique, na racionalidade e no aspecto positivo-ativo da dualidade humana. O Ocidente representa simbolicamente, por esta razão, um dos dois polos da 5 humanidade, com uma função oposta mas complementar e equilibradora frente ao Oriente, que representa o outro polo, isto é, o inconsciente, entendido em senso lato. Mesmo no indivíduo analisado independentemente do contexto em que vive, existe esta polaridade entre consciente e inconsciente, entre modalidade positiva e modalidade receptiva, polaridade que deveria ter uma função equilibradora e conduzir gradativamente à totalidade entre Ser e Vir a ser. O que acontece na realidade, porém, é que geralmente há a predominância de um ou de outro polo, e o equilíbrio entre os dois não pode ser alcançado a não ser após graduais e sucessivas integrações, após amadurecimentos e tomadas de consciência, que muitas vezes custam um trabalho árduo e muito sofrimento. A hipertrofia do polo consciente é uma característica do Ocidente, enquanto a predominância do inconsciente é uma característica do Oriente. Esta exigência de meditação que, cada vez mais, se está difundindo no Ocidente, poderia, portanto, ser o sintoma que revela uma tendência espontânea a integrar-se com dimensões de consciência mais profundas e a abrir-se ao outro polo da natureza humana, que não somente "subconsciente", mas também "Superconsciente" e, por isso mesmo, representa a parte espiritual, autêntica do homem, o Ser, ainda latente. De fato, as dificuldades que nós, ocidentais, normalmente encontramos no início desta prática meditativa são semelhantes às que se apresentam quando procuramos nos interiorizar e conhecer a nós mesmos profundamente, entrar em contato com o nosso eu mais profundo. Apesar dessas dificuldades, a exigência de meditação permanece, a aspiração a reencontrar a si mesmos e ao mundo do Ser não diminui pois, como diriam os orientais, o Si pressiona para manifestar-se, o outro polo de nossa natureza exige ser conhecido e o homem, se realmente tiver alcançado o momento evolutivo mais adequado, não encontrará paz e tranquilidade enquanto não conseguir responder a esse apelo silencioso, mas potente. A meu ver, aproximar-se da meditação pressupõe ter alcançado um determinado grau de maturidade, uma autêntica exigência de conhecer a si mesmo, de realizar-se, de ir ao encontro do Divino. Muitas vezes a decisão de empreender um trabalho de meditação é precedida por um período de insatisfação e de crise, que nos leva a procurar, cada vez mais frequentemente, momentos de silêncio, de recolhimento, de solidão. Este é o primeiro sinal de uma espécie de "meditação espontânea", que revela a existência de uma resposta natural e um chamamento interior que provém do Si Superconsciente. No decorrer deste livro, veremos como é possível colaborar com este chamamento do Si, vencer as dificuldades iniciais e treinar-nos para a verdadeira meditação, que não é uma técnica exterior, uma fórmula, um método que, com alguns detalhes empíricos, nos induz a um estado de auto-hipnose e de relaxamento semiadormecido, e sim uma manifestação da consecução de um nível de consciência, uma abertura da mente e do coração na direção do Divino, uma gradativa fusão com o mundo do Ser, depois de ter vencido os obstáculos criados por antigos automatismos, por falsas identificações e pela tendência inata à extroversão. Ao escrever este livro, meu desejo era exatamente contribuir de alguma maneira para esse "crescimento"; ele foi escrito visando àqueles que começam a sentir a exigência de se abrirem, com a meditação, para as dimensões mais altas da consciência e que, mesmo estando prontos para tal, ainda encontram grandes dificuldades. 6 Por essa razão, pareceu-me oportuno introduzir, antes da análise específica sobre a meditação, alguns capítulos nosquais chamei a atenção para o "espaço interior" do homem, para os níveis de consciência mais profundos, e para o mundo da "pura consciência" e do Ser, que muito frequentemente permanecem ocultos e ignorados dentro de nós. Além disso, dividi o trabalho de meditação em duas fases que chamei de meditação psicológica e meditação espiritual. A primeira fase pode ser chamada de "psicológica" porque, na realidade, é uma preparação para a meditação específica; ela tem a finalidade de nos ajudar a superar as dificuldades eventuais que nosso temperamento e nossa identificação com o polo exterior (isto é, por exemplo, incapacidade de concentração mental, dificuldade para relaxar, apegos afetivos, condicionamentos etc.) venham porventura a enfrentar. Essa fase termina espontaneamente quando, com a ajuda da meditação, conseguimos reencontrar em nós mesmos um "centro de pura autoconsciência" que, gradativamente, nos ajuda a superar os obstáculos e a instaurar um novo ritmo. Começa, então, a segunda fase, a da meditação "espiritual", caracterizada por uma união gradual com o Si, e que produz efeitos bem-definidos sobre os veículos da personalidade, purificando-os e transformando-os, e sobre a consciência do indivíduo, que se torna cada vez mais completo, harmônico e consciente de sua realidade espiritual. Como afirmei no começo, o que escrevi é fruto de experiências de anos de trabalho interior. Essas experiências podem ser subjetivas e incompletas, e não têm, portanto, a presunção de querer ser "ensinamentos", mas sim tão-somente a expressão de um desejo de compartilhar com outros aquilo que pude experimentar e perceber. Angela Maria La Sala Batà Roma, outubro de 1983 7 Capítulo I O HOMEM PLURIDIMENSIONAL "Acabou a aventura exterior! A aventura está em nosso íntimo. A liberdade está em nós. O espaço está em nós!" (Satprem.) O homem é misteriosa e admiravelmente a unidade de medida da criação. Ele é o microcosmo que reflete em si o macrocosmo e, portanto, é o campo de experiência e de conhecimento que está à nossa disposição para compreender o mistério da vida e chegar à descoberta da realidade. Jung afirma: "...0 cosmo e o homem obedecem, em última análise, a leis comuns. O homem é um cosmo em miniatura e não é separado do grande cosmo por nenhum limite determinado. As mesmas leis regulam a ambos, e entre um e outro há um caminho a interligá-los. A psique e o cosmo estão em relação um com o outro, da mesma forma que o mundo interior o está com o mundo exterior." Por isso, a chave para compreender e resolver o enigma da existência é o conhecimento de si mesmo, entendido como gradual tomada de consciência de todos os aspectos, de todas as energias e faculdades que constituem o homem, até chegar à realização de sua verdadeira essência: o Si. Há todo um mundo dentro de nós, um "espaço" que devemos explorar e conquistar, antes de descobrirmos nossa verdadeira origem e o significado profundo e misterioso do fato de sermos homens. Diz-se que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Por isso, nele está o segredo da vida e nele se encontra o caminho principal que nos levará de volta ao Absoluto. Então, se volvermos nossa atenção para o mundo interior, e aprendermos a nos interiorizar, nos tornaremos sensíveis às realidades subjetivas, que tão frequentemente esquecemos ou mesmo ignoramos, voltados como estamos para o ativismo, a vida exterior, a experiência sensorial, o conhecimento objetivo... O homem tem dentro de si todas as gradações de realidade, desde o nível espiritual mais alto, até à matéria mais densa, e vive, portanto, em várias dimensões. O que vemos, o corpo físico, é somente o invólucro mais externo, mais denso, que vive na dimensão material, a mais ilusória na totalidade pluridimensional humana. Ele é o resultado último daquele ser que chamamos "homem", considerado, de acordo com as teorias esotéricas, uma centelha divina, um núcleo da Consciência Universal que, encarnando-se e revestindo- se de matéria física, acaba, "manifestando-se". Ele tem, portanto, origem divina e simbolicamente é como uma árvore com as raízes no Céu, segundo as poéticas palavras do Upanishad: "A árvore eterna tem suas raízes no Céu e estende para baixo seus ramos." Todavia, o homem, por não ter consciência desta sua natureza divina, como que 8 vivendo na periferia de si mesmo, identificado com seu invólucro material e condicionado pelos sentidos físicos, deve percorrer para trás um longo caminho a fim de reencontrar a si mesmo atravessando diferentes níveis e dimensões, que constituem uma gradação de realidades subjetivas. Este percurso feito "para trás" e que se inicia com uma gradativa interiorização leva na direção da prática da meditação, o meio mais adequado e eficaz para entrar em contato com os mundos interiores e para desenvolver a consciência dos níveis subjetivos de realidade que ligam o homem exterior ao Divino. É contudo necessário que nos preparemos para esta prática com extremo cuidado. Antes de mais nada, é preciso convencermo-nos, possivelmente experimentando-as, da existência de diferentes dimensões da realidade nas quais vivemos sem saber. Nesse sentido, a psicologia poderá nos ajudar; ela também se está voltando para um conceito pluridimensional do homem. A psicologia humanística (ou da terceira força), que se afirmou gradativamente em todo o mundo nestes últimos decênios, orientou-se claramente nesta direção, pois considera o homem de forma mais completa e total em relação à psicanálise freudiana. Victor Frankl, por exemplo, fala de três dimensões humanas, a biológica, a psicológica e a "noética" (de nous = espírito). Abraham Maslow fala de uma "psicologia do ser", isto é, de uma psicologia que estuda também aquele núcleo autêntico do homem, que constitui seu eu real, sua verdadeira identidade. Roberto Assagioli, fundador da psicossíntese, afirma a existência no homem de um nível "transpessoal", isto é, de uma dimensão interior que transcende os limites do egoísmo, da materialidade, da experiência sensorial, dos condicionamentos biológicos e psicológicos, em que o homem revela sua realidade e sua verdadeira natureza. Portanto, atualmente, não existe mais aquele receio de se falar em "espírito" e em "alma" no que diz respeito ao homem, e nos aproximamos cada vez mais da descoberta de verdades que há pouco tempo atrás eram admitidas somente pelo esoterismo. Atualmente não se fala mais somente a respeito de "subconsciente", mas também de "superconsciente", como referência a uma dimensão interior do homem mais elevada, livre e espiritual, mas ainda inconsciente que, todavia, é a mais autêntica e verdadeiramente "humana". Admite-se, então, que no homem existe um nível biológico, um nível psicológico e um nível espiritual, mesmo que inconsciente. Traçando uma analogia com o que afirma o esoterismo, o nível biológico do homem corresponde ao corpo físico-etérico; o nível psicológico ao corpo emotivo e ao corpo mental concreto; e o nível espiritual (noético, segundo Victor Frankl), ao Si, considerado o Verdadeiro Homem. Quem está encerrado no materialismo mais limitado e vive inconsciente de si mesmo poderá julgar essa concepção pluridimensional do homem como sendo algo incrível, pois trata-se de alguém que está condicionado pelos sentidos físicos e pela mente concreta, que se baseia no raciocínio lógico, e é incapaz de ir além dos conceitos racionais. Na realidade, os sentidos físicos e a mente nos fornecem uma interpretação não só limitada, mas também ilusória do mundo objetivo. De fato, não percebemos a natureza atômica da matéria e dela obtemos uma 9 impressão de solidez, estaticidade e densidade, completamente errada. "...0 corpo deve ser concebido como vazio, ou melhor, como um sistema solar em miniatura, com elétrons que giram num espaço relativamente enorme. Dentro em breve, nossoscorpos serão sistemas de energia em equilíbrio." (Arthur Osborne: II senso dell'esistenza personale. ) Com isso em mente, devemos convencer-nos de que temos uma visão parcial e alterada de nós mesmos, inclusive num nível puramente material. Não é de surpreender, portanto, se não percebemos as demais dimensões que constituem nossa natureza complexa e que se compõem de energias mais sutis e refinadas do que a física. Conforme mencionamos anteriormente, o homem, de acordo com o esoterismo, compõe-se do corpo físico-etérico (contrapartida energética do físico), do corpo emotivo ou astral, do corpo mental e do Si (ou Verdadeiro Homem). Descreveremos a seguir, em poucas linhas, cada um desses elementos. O corpo físico-etérico tem uma estrutura dual, isto é, dispõe de uma parte densa e visível e de uma parte invisível, composta de uma energia mais sutil do que a física, chamada "etérica". Esta contrapartida energética do corpo físico denso é a mais importante entre as duas, pois representa a nascente de vitalidade, de força e de saúde do homem, enquanto o corpo físico denso é apenas um autômato. Não podemos perceber o corpo etérico, pois ainda não temos desenvolvida a sensibilidade em relação às formas sutis e estamos identificados com a forma densa exterior. Por outro lado, nestes últimos decênios a própria ciência está se aproximando da descoberta desse "duplo" do corpo físico, composto de energia etérica, como decorrência de pesquisas e experiências de diferentes tipos, entre as quais, fotografias feitas com uma máquina fotográfica especial (a câmara de Kirlian), que revelaram a presença de um halo de luz colorida em volta de corpos, objetos, plantas etc. Essas irradiações foram denominadas "corpo bioplasmático" e, com toda a probabilidade, constituem a demonstração da existência do corpo etérico mencionado nas doutrinas esotéricas. O corpo emotivo e o mental apresentam-se, em seu conjunto, nas pessoas de evolução mediana, como sendo parte integrante de um único corpo, pois estão misturados e são interdependentes. EIes constituem o nível psicológico, ou "psique", que a psicologia menciona continuamente, correspondente ao sânscrito "kama-manas" (desejo-mente) . Temos consciência somente parcial desses dois corpos e, ainda assim, somente do ponto de vista psicológico, sob a forma de desejos, emoções, sentimentos (no que diz respeito ao corpo emotivo), e sob a forma de pensamentos, conceitos, raciocínios, ideias (no que se relaciona com o corpo mental). Todavia, não percebemos o que vem a ser a vida e a atividade desses dois corpos, que se exprimem em níveis de consciência interiores, completamente inconscientes para nós. Somente no sonho podemos ter contatos e experiências a respeito dessas outras dimensões, e somente na consciência de vigília trazemos lembranças fragmentárias e confusas a respeito delas. De fato, no decorrer do sono, nos refugiamos em nosso corpo emotivo (ou astral) e, às vezes, mesmo no corpo mental concreto, desenvolvendo uma verdadeira vida nesse nível. A consciência dos níveis astral e mental pode ser desenvolvida através de técnicas adequadas e pela purificação do corpo físico, pois o obstáculo principal para a percepção 10 desses níveis é a impureza e o peso da matéria que compõe o cérebro físico, o "ponto de apoio" da consciência. No que respeita à dimensão "espiritual", ou "Superconsciente", torna-se ainda mais difícil a percepção consciente, pois durante longo tempo ela permanece latente e "inconsciente"; isso se deve ao fato de que o homem se identificou com a parte mais externa de si mesmo, o corpo físico, ou então com a parte psicológica. A consciência do Si deve "despertar" lentamente, isto é, tomar consciência de si mesma, lutando contra as identificações, os condicionamentos, os falsos "eus", que o homem construiu à sua volta sem o saber. O trabalho que devemos levar adiante, então, para conhecer a nós mesmos em nossa totalidade pluridimensional, é uma gradativa interiorização e sensibilização em relação aos níveis mais sutis de nosso ser, desenvolvendo uma capacidade de percepção diferente da que conhecemos e que costumamos utilizar; essa capacidade é a "consciência". Por isso, o caminho da auto-realização é, na realidade, um caminho de desenvolvimento, do despertar da consciência. A meditação, conforme veremos nos próximos capítulos, é um dos meios mais idôneos para desenvolver a consciência e a sensibilidade necessárias para descobrir nossas dimensões interiores e, assim, despertarmos finalmente para a realidade de nós mesmos. Esta consciência desenvolve-se sobretudo com a meditação, mas é estimulada inclusive pelas experiências que vivemos no mundo objetivo, caso saibamos ver seu significado profundo e transformá-las em sabedoria. Poderíamos dizer que a meditação e a experiência são os dois polos de um mesmo caminho de desenvolvimento, e deveriam alternar-se ritmicamente em nossa vida, como uma respiração simbólica, um movimento de nossas energias de fora para dentro, e de dentro para fora. Desta maneira, poderemos alcançar um perfeito equilíbrio e a realização de que, também neste aspecto, somos o reflexo e a imagem do Uno, pois, como dizem os orientais, o universo manifesto é governado pela "grande respiração de Brahma", isto é, pela cíclica alternância de "manvantara" (ciclo de manifestação) e "pralaya" (ciclo de repouso e retiro). Mesmo no microcosmo, representado pelo homem, repete-se esta respiração rítmica em todos os níveis. No nível físico com a respiração, no nível psicológico com a alternância de extroversão e introversão, no nível existencial com a sucessão da vida e da morte, e no nível espiritual com o equilíbrio entre experiência exterior e meditação. Vamos nos preparar para um trabalho a ser feito sobre nós mesmos, visando a aumentar o campo de nossa consciência e a incluir em nosso conhecimento e em nossa experiência subjetiva todos os níveis e dimensões de nosso ser, transformando-nos, assim, em homens completos e realizados. 11 Capítulo II O ESPAÇO INTERIOR DO HOMEM "Assim como existem universos fora do nosso, há universos dentro do nosso. Assim como há céus fora do nosso, há céus dentro do nosso. Assim como há sóis além do nosso, também há sóis dentro do nosso...” (Mead: "Assim no alto, como embaixo.") Dissemos no capítulo anterior que o processo de autorealização do homem é, na realidade, um gradativo desenvolvimento da consciência, pois, conforme afirma Sri Aurobindo, a evolução outra coisa não é que "uma lenta transformação da energia em consciência". Porém, antes de falar sobre as diferentes fases deste trabalho de auto-realização, parece-me imprescindível refletirmos sobre o termo "consciência", para compreender seu significado real do ponto de vista espiritual; este é muito mais profundo e amplo do que aquele que, comumente, é atribuído a esta palavra. De acordo com as doutrinas espiritualísticas e esotéricas, a consciência é a própria essência do Absoluto, que permeia toda a manifestação e, portanto, é considerada a energia fundamental do Universo, a Vida que preenche e anima tudo o que existe em todos os níveis, desde o átomo até o Espírito. Annie Besant, em seu livro Estudo sobre a consciência, afirma: "Consciência e Vida são idênticas: dois nomes para uma única coisa, que varia somente em função do fato de ela ser observada de dentro ou de fora. Não há vida sem consciência, e não há consciência sem vida." Essa consciência-vida manifesta-se sob vários aspectos e em diferentes medidas; além disso, está sujeita a desenvolvimento e a expansão contínuos. Podemos levar em consideração quatro grandes subdivisões da consciência: 1) a consciência simples 2) a consciência individualizada 3) a consciência de grupo ou consciência universal 4) a consciência divina ou cósmica A consciência simples é aquela sensibilidade inconsciente, aquela inteligêncianatural que existe em todas as coisas, sob todas as formas, em todos os reinos da natureza: em toda a matéria, até mesmo no átomo. Constatou-se cientificamente a existência de uma receptividade, uma capacidade de sensibilidade e de resposta em toda a matéria. Já em 1890 Edison afirmava: "Não acredito que a matéria seja inerte, nem tampouco que ela obedeça a uma força externa. Parece-me que cada átomo possui uma determinada quantidade de inteligência primordial. É suficiente observar as mil maneiras com que os átomos de hidrogênio se combinam com os de outros elementos, formando as diferentes substâncias." 12 Essa é a consciência simples a respeito da qual o esoterismo fala e que testemunha a presença em tudo aquilo que existe e mesmo no infinitamente pequeno, da Vida Divina, da energia Universal que emana do Absoluto. Essa energia chama-se "consciência" pois, potencialmente, contém o germe daquilo em que se transformará quando tiver encontrado o veículo adequado para se exprimir em sua essência, e esse veículo é o homem. No homem, a "consciência simples", ou "consciência inconsciente", individualiza-se, isto é, torna-se consciente de si mesma, produzindo o estágio da consciência individualizada, que marca um momento muito importante e decisivo para a evolução da consciência, um "ponto de mutação". De fato, a esta altura, iniciam-se um crescimento e um desenvolvimento muito mais rápidos e conscientes, pois o homem pode colaborar para sua própria evolução voluntariamente, por ser autoconsciente. No homem, a consciência-vida universal encontrou, afinal, o instrumento adequado para revelar sua divina origem e para realizar o objetivo central de toda a evolução: fazer com que a Consciência Universal passe de um estado potencial e latente de consciência para um estado de auto reconhecimento e de consciência de si mesma. Somente o homem, ou melhor, o estágio evolutivo que o homem representa, oferece o terreno adequado para produzir essa passagem, pois nele, afinal, o Espírito e a Matéria, os dois polos da manifestação, se unem para dar vida ao Filho, ou seja, à autoconsciência ou consciência individualizada. Na forma humana, ponto culminante da evolução material, o Espírito Universal pode projetar uma parte de si (a Mônada, centelha divina) que, ao unir-se com a matéria (o corpo físico) onde está oculta a consciência-vida, produz o individuo humano, ser maravilhoso que terá de demonstrar a realidade da encarnação de Deus, devido à sua evolução consciente. O sentido do eu do homem, que parece ser sua prisão, é, ao contrário, a semente da Consciência Divina. O eu passa através de um longo processo de crescimento e de metamorfose, de gradativas expansões, até reconhecer-se no Si, centelha do Absoluto, do Eu Divino, o único Eu de toda a manifestação. Este, porém, é um aspecto que analisaremos mais adiante. Por enquanto, esta observação é suficiente para compreender como é necessário desenvolver a consciência para conhecer realmente a nós mesmos e às diferentes dimensões interiores das quais não temos consciência. O terceiro estágio é a "consciência de grupo" ou "consciência universal", que marca uma expansão ulterior da consciência, pois o eu, que a essa altura já se reconheceu em sua verdadeira essência, o Si, não mais está fechado sob a cúpula ilusoriamente protetora da separatividade e do egoísmo, mas adquire a consciência da Unidade, do Amor, da Fraternidade. Neste estágio, o homem não sente mais os limites da incomunicabilidade e da centralização sobre si mesmo, mas expande-se para seus semelhantes com um sentimento de empatia, de participação, de cooperação, experimentando cada vez mais claramente a essencial unidade da consciência e das energias. Sua consciência amplia-se cada vez mais, incluindo "grupos" sempre mais amplos, até que acaba encerrando o Todo. Assim, verifica-se a passagem para aquele estágio que e chamado da "consciência cósmica ou divina", da qual podemos somente intuir a essência ou perceber fugazes traços 13 em momentos de elevação, pois é uma experiência inefável de totalidade, de identificação com tudo o que existe, que representa o vértice da expansão da consciência no homem realizado. O estágio que mais nos diz respeito, em termos do estudo que estamos elaborando sobre a constituição interior do homem, é o da consciência individualizada que dura por todo o ciclo evolutivo do homem na terra, e que, por sua vez, pode ser subdividido em vários graus e aspectos. De acordo com a subdivisão que chegou até nós da Antiga Sabedoria do Upanishad, estes graus ou "posições" da consciência individualizada no homem são os seguintes: a) consciência de vigília b) consciência de sono sem sonhos c) consciência de sonho d) consciência pura ou consciência do Ser Levar em consideração essas subdivisões pode nos ajudar na análise que estamos desenvolvendo a respeito das dimensões interiores do homem e da vida que ele leva em seus corpos sutis, sem ter absoluta consciência disso. De fato, a consciência que o homem tem no decorrer do dia (consciência de vigília) é muito limitada, condicionada e, geralmente, falsa e imaginada. Ela corresponde ao "consciente" da psicanálise, que é o outro polo do inconsciente. Além disso, a consciência de vigília difere de pessoa para pessoa em termos de conteúdos, extensão, profundidade, grau de autenticidade e de sensibilidade. No decorrer do sono, a consciência parece esvaecer-se no nada e, quando não sonhamos, estamos numa escuridão total e numa inconsciência aparente. "Aparente" porque na verdade pode haver um tipo de consciência, enquanto dormimos o sono profundo e sem sonhos, que não é registrada pelo cérebro físico e da qual não temos lembrança ao despertar. Ao contrário, a consciência que temos no sonho é a vaga lembrança das dimensões astral e mental, que mencionamos, e as imagens que vemos e de que nos lembramos ao despertar, mesmo que, parcialmente, testemunhem a existência dessas dimensões. No sonho, entretanto, o estado de consciência que experimentamos é diferente daquele da vigília, pois não há autoconsciência. O eu é espectador passivo, ou então, é arrastado por emoções e impulsos muitas vezes ilógicos, mas muito mais intensos do que aqueles que sente no decorrer da consciência de vigília. Mas também, neste caso, o estado de consciência é diferente, variando de pessoa para pessoa, pois aqueles que são mais evoluídos têm mais lucidez e autocontrole, mesmo na vida onírica, e são mais conscientes. O homem, de fato, deveria chegar a desenvolver a "continuidade de consciência", isto é, a ter sempre, seja quando desperto como durante o sono, povoado de sonhos ou não, a consciência do centro de autoconsciência, permanecendo livre, separado, consciente, e capaz de gerir todas as energias sutis, enfrentando todas as experiências que porventura aparecerem. Todos esses estados de consciência, porém, não representam a verdadeira "consciência", mas são modificações e reflexos desta. Somente quando conseguimos nos identificar com o Si, que é o nosso verdadeiro Eu, poderemos experimentar aquele estado 14 comumente chamado de "pura consciência". Nesse estágio, não há mais ilusões, condicionamentos, identificações; há, sim, a realidade do Ser, a consciência autêntica, livre, sem conteúdos (e, por isso, "pura"), que poderia ser definida como subjetividade absoluta. É o Si que conhece a si mesmo, que experimenta a si mesmo como centro de autoconsciência, acima e além de todas as energias pessoais, de todos os conteúdos psicológicos, as emoções, os pensamentos, as sensações físicas. Ao alcançarmos a experiência interior da "pura consciência", percebemos como os demais estágios de consciência que havíamos experimentado anteriormente eram limitados, ilusórios e falsos e percebemos ter confundido com a realidade aquilo que era somente um reflexo, uma sombra distorcida, uma projeção do Ser autêntico. E, sobretudo,tomamos consciência da falsidade daquela estrutura egoística que até então havíamos acreditado fosse o nosso "eu" e que, ao contrário, era somente um conjunto de mecanismos, de hábitos, de presunçosas pretensões e orgulhosas obstinações. As vezes esse "eu" arquitetado, chamado ego pelos orientais, é muito forte e difícil de se superar, resistindo até mesmo à luz da "pura consciência", opondo sua obstinada e cega vontade mecânica à realidade do Ser que quer penetrar nele para libertá-lo e transformá-lo. Neste caso, existe a meditação, que pode ajudar a superar "o nó de obstinação do ego" (assim o chama Sri Aurobindo), pois essa prática favorece aquela atitude de abandono, de receptividade, de abertura para níveis Superconscientes, ideal para fazer afluir, de forma espontânea e sem luta, as energias e a consciência do Si, escolhendo as cristalizações e as resistências do ego de um modo doce e silencioso. Pode acontecer, eventualmente, não se conhecer a própria efetiva maturidade interior, e não se ter a consciência de já haver superado, nos níveis interiores, determinadas exigências e condicionamentos pessoais, pois estamos identificados com o eu superficial, que nos leva a adotar hábitos e mecanismos que na realidade não nos interessam mais. Dessa maneira, inconscientemente, reprimimos nossa efetiva maturidade e criamos falsas barreiras e obstáculos à luz do Si. Isso produz uma problemática toda específica e uma série de sofrimentos psíquicos e físicos que, todavia, gradativamente, podem ser superados com o autoconhecimento, com o desenvolvimento da consciência e com a meditação. Assim, poderemos nos libertar da prisão do ego e alcançar a pureza e a verdade do nosso Ser Real. 15 Capítulo III OS CAMINHOS DA EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA "O supraconsciente é o verdadeiro fundamento, e não o subconsciente. Não é analisando-se os segredos da lama de onde floresce a flor do lótus que explicamos sua existência. O segredo da flor do lótus está no arquétipo divino que floresce para sempre nas alturas, na luz." (Sri Aurobindo: Letters, II.) Toda a vida do homem é uma gradativa tomada de consciência de seu verdadeiro Ser, de sua realidade profunda: o Si, oculto, latente, "inconsciente" dentro dele. Todo evento, toda experiência que encontramos em nosso caminho são estímulos para despertar a consciência do Si latente, mas que "pressiona" continuamente para alcançar a luz, para manifestar-se e atuar. Devemos nos tornar aquilo que somos. Esta frase deveria ser a palavra de ordem do verdadeiro esoterista que tem consciência de que, na realidade, a evolução outra coisa não é senão uma passagem da inconsciência para a verdadeira consciência, para a consciência real, a consciência do Si. Ela é como uma semente: profundamente oculta dentro de nós, mas que aos poucos cresce, brota e se expande, colocando à mostra todo o seu esplendor e sua origem divina, e transformando, com seu crescimento, o indivíduo num Verdadeiro Homem. Esse crescimento e expansão da consciência não seguem uma única direção, mas ampliam-se de forma "circular" e global. De fato, sua meta é a totalidade e o desenvolvimento completo do homem. Para entender mais facilmente esse processo de crescimento da consciência poderíamos sintetizar seus movimentos nas seguintes três direções: a) para baixo (isto é, para o inconsciente inferior) b) horizontalmente (isto é, para os outros e para o mundo objetivo) c) para o alto (isto é, para o Superconsciente e o Si) Os termos "baixo", "alto", "horizontal" são, obviamente, simbólicos, pois nas dimensões interiores não existem o espaço, as distâncias, os lugares, da forma que os conhecemos no plano físico; existem, isto sim, diferentes níveis vibratórios, vários comprimentos de onda, que produzem estados mais ou menos elevados de consciência. Portanto, ao dizer "baixo" entendemos uma vibração mais lenta, que produz um estado de consciência mais obscuro e limitado, e ao dizer "alto", ao contrário, pretendemos exprimir uma vibração mais rápida, que produz um estado de consciência mais refinado e luminoso. Voltamos agora às três direções de desenvolvimento da consciência anteriormente mencionadas, e apresentamos abaixo um esquema simbólico que poderá nos ajudar a entender melhor esse processo. 16 Neste esquema, aparece uma cruz dentro de um circulo, o que pretende indicar o movimento circular das energias. No centro da cruz está o Eu, entendido como centro de autoconsciência e que constitui o ponto de partida da ulterior expansão da consciência. Isso significa que somente no momento em que o homem for capaz de se colocar no centro, de sentir e experimentar seu Eu, como centro de verdadeira autoconsciência, poderá começar a expandir sua consciência, pois estará desidentificado de seus veículos pessoais e terá alcançado a atitude do Espectador. A seguir, examinaremos cada uma das três direções da expansão da consciência. a)Para baixo (isto é, para o inconsciente inferior). Esta direção nos leva a conhecer e integrar no consciente nosso inconsciente inferior que, de certa forma, representa nosso passado. Isso porque seus conteúdos são formados de energias instintivas, de impulsos e desejos reprimidos, de traumas removidos, de automatismos e condicionamentos que se posicionaram sem que soubéssemos... Além disso, há todo o nosso passado evolutivo, ancestral, proveniente de encarnações precedentes e que foi gravado nos mais profundos níveis do inconsciente . Isso tudo constitui um pesado fardo, uma espécie de lastro, que pode dificultar nosso crescimento. Por isso, devemos tentar nos livrar dele se quisermos caminhar mais rapidamente para a auto-realização. Conhecer e anexar o inconsciente inferior, todavia, não é nada fácil, já que muitas vezes existem em nós obstáculos e resistências que nos impedem de "libertar" as energias bloqueadas naqueles níveis e de ver Claramente dentro de nós mesmos. Para superar estas dificuldades é preciso, antes de mais nada, dar um passo para o alto. Isso quer dizer que é necessário ter alcançado uma certa capacidade de desidentificação e ter reencontrado nosso centro de autoconsciência, pois (conforme afirma Satprem) "... a descida é proporcionai à subida". Na realidade, o inconsciente inferior só pode ser conhecido e libertado se possuirmos 17 a verdadeira consciência, mesmo em sua forma inicial, e se tivermos alcançado um determinado nível de maturidade interior, que nos dê a capacidade de "nos aceitar" e de ver a nós mesmos pelo que somos, sem com isso perder a confiança em nós mesmos, sem nos deixar envolver por eventuais conteúdos negativos que podem se manifestar, e sem criar sentimentos de culpa em relação a nós próprios. Sri Aurobindo afirma: "Só depois de ter conseguido obter algum resultado positivo, e após ter-se verificado uma estabilização sobre uma base positiva, pode-se, então, sem perigo algum, subverter os elementos adversos, ocultos no subconsciente para destruí-los e eliminá-los com a força da calma divina, da luz e da consciência divina." (Letters, 11.) b)Horizontalmente (isto é, para o mundo objetivo). Quando começamos a desenvolver a verdadeira consciência, nosso sentido de separatividade diminui e começa um gradativo e lento processo de sensibilização em nós mesmos, para com tudo o que havíamos julgado "externo", de maneira errônea: os outros, a natureza, o universo etc. O invólucro que nos encerrava e nos deixava isolados começa a ficar permeável e pouco a pouco adquirimos a noção do contínuo intercâmbio que se verifica em termos de energias e vibrações entre os seres humanos entre si, e entre os seres humanos e tudo o que existe em todos os níveis. Isso leva a um aumento de empatia, de sensibilidade, de receptividade, de amor, de sentimento de união, que pode ser utilizado para finalidades espirituais, tanto no campo do serviço à humanidade, comono que diz respeito ao conhecimento intuitivo e metafísico. c)Para o alto (isto é, para o Superconsciente e o Si). Esta direção da expansão da consciência é, na realidade, a mais importante, pois é a que torna possíveis as outras duas; mesmo que o homem não tenha consciência do fato e possa até ter a impressão de não ter alcançado nenhuma abertura para o Superconsciente. O alto é a nossa real dimensão humana, conforme dissemos; é o nosso Ser Real superconsciente, que se revela à consciência de superfície em determinados momentos, com sensações fugazes, com momentos de iluminação, com estados de consciência diferentes dos costumeiros, com intuições e inspirações elevadas tornando-se, assim, a prova de que nós "somos muito mais" do que demonstramos habitualmente. De nossa parte, nós mesmos podemos favorecer essas manifestações assumindo atitudes e adotando métodos dos quais falaremos a seguir. O mais importante, o que deve ser levado em consideração é que a nossa sensação de progredir "do baixo para o alto" é ilusória e errada pois, na realidade, é o "alto" (isto é, o Si), que imperceptível e silenciosamente "desce" na consciência ordinária, ou melhor, aflora, pois o Si não está acima de nós como personalidade, mas no centro de nos mesmos. É nós mesmos". O aparente esforço que fazemos para progredir, para crescer é, na realidade, o sinal da pressão que o Si exerce por dentro para sair à luz do sol, para manifestar-se. O que podemos fazer do chamado "baixo" é nos abrir, abandonar-nos, superar os obstáculos que podem impedir essa manifestação do Si latente. Além do mais, podemos 18 colher e nutrir esses momentos de espontânea manifestação de conteúdos e energias superiores que, às vezes, se verificam em nós. A atitude que melhor pode favorecer esta abertura para o Superconsciente e a compreensão de seus conteúdos é a da escuta interior e da atenção receptiva. A seguir, enumeramos alguns dos estados de consciência que podem ser considerados como manifestações do Superconsciente. - momentos de intuição; - solução repentina de um problema difícil; - aumento de criatividade; - afastamento e desdramatização; - sensação de libertação; - aumento da sensação de beleza; - alegria pura; - serena capacidade de sacrifício; - aceitação confiante dos eventos e da vida; - sensação de transcendência pelo tempo e pelo espaço; - capacidade de entrega feliz de si mesmo; - compreensão do significado profundo das coisas, - auto-esquecimento; - aumento da capacidade de amar e compreender; - sensação de unidade com todos os seres e com o mundo; - reconhecimento repentino da própria finalidade na vida. Esta lista, naturalmente, não está completa e é possível haver muitos outros sinais e estados de consciência produzidos pela afluência das energias do Superconsciente. Eles podem ser esporádicos e momentâneos, como que lampejos repentinos de luz, ou então mais permanentes e duradouros. Neste segundo caso, deles resultam amadurecimentos e mudanças interiores, dos quais o primeiro e fundamental entre todos é a estabilização da natureza emotiva, isto é, a consecução de uma sensação de separação e de serenidade inalteráveis, que permanecem mesmo nos momentos difíceis e dolorosos, como um pano de fundo estável e firme. Outro efeito pode ser uma nova orientação da própria vida, voltada para objetivos e valores mais elevados do que os anteriores, juntamente com uma intensa exigência de autoformação, de trabalhar sobre si mesmo, não entendida como tensão ou esforço de crescimento, mas como adesão total ao objetivo e à vontade do Si e como impulso natural para transformar a natureza inferior na superior. As diferentes fases da expansão da consciência para o alto poderiam, então, ser sintetizadas da seguinte maneira: - abrir-se a si mesmo; - superar os obstáculos; - abandonar-se a si mesmo; - ter confiança no Si; - compreender a natureza das energias que afluem; 19 - assimilá-las; - colaborar com elas; - interpretá-las; - utilizá-las para a própria transformação. Tudo isso, naturalmente, é favorecido pela meditação, que na realidade é um processo de abertura para o Superconsciente e o Si, abertura que leva gradualmente à expansão da consciência nas três direções que mencionamos e descrevemos, pois, como vimos, a partir do momento que o "baixo" recebe a luz do alto, também ele se ilumina e a consciência se amplia, superando a própria e ilusória separatividade e a limitadora identificação com o ego, reencontrando desta maneira a sensação de totalidade e unidade originária. 20 Capítulo IV A PURA CONSCIENCIA E O MUNDO DO SER "O que Existe em si dispôs as portas da alma de tal modo que elas só possam ser abertas de dentro para fora." (Upanishad) "O sadhaka que se manteve fiel à disciplina necessária para afastar o Si de sua identificação com o ego, a mente, a vida e o corpo, chega... à realização de uma pura, imóvel existência autoconsciente sem divisões, tranquila, inativa, não perturbada pela ação do mundo." (Sri Aurobindo: Sintese da ioga, vol. II) Essas palavras de Sri Aurobindo exprimem, de forma sintética, a essência do estado de consciência chamado pura consciência, que corresponde ao "quarto estado" de consciência (de acordo com o Upanishad) depois dos outros três: consciência de vigília, de sono e de sonho. Ao conseguirmos nos desidentificar da falsa consciência superficial e nos libertarmos dos condicionamentos e das estruturas que aprisionam nosso verdadeiro eu, sentimos esta dimensão da consciência que é "pura", pois não tem conteúdos, projeções, objetos. De fato, poderia chamar-se "subjetividade absoluta" pois representa o centro de nós mesmos, o Eu autêntico que se auto reconhece e experimenta a si mesmo. Trata-se de uma experiência interior toda especial que nos abre as portas do mundo do Ser, onde tudo aparece na pura, branca imobilidade do sem tempo, do Eterno Presente, e onde existe tão somente a consciência e uma paz profunda, infinita, permeada de alegria. "0 estado de pura consciência é, em sua própria natureza, cheio de bem- aventurança... " (Sete estados de consciência, Anthony Campbell). O homem tende naturalmente a alcançar este estado, que é a manifestação de seu verdadeiro ser e todo seu longo e tortuoso caminho evolutivo, através de diversas vidas, tem como única finalidade fazer com que passe de um estado de escuridão e de inconsciência, para um estado de pleno despertamento e liberdade. Esse caminho por dentro de nós, para reencontrar a nós mesmos, não é somente um auto reconhecimento e um conhecimento de si mesmo, mas é também um processo de crescimento, que traz consigo a necessidade de conseguir superações, mudanças, amadurecimentos. De fato, a meditação que nos conduz à descoberta dos nossos níveis profundos e ao contato com nossa realidade, deve ser acompanhada por um trabalho de autoafirmação e de purificação, caso contrário, poderia causar um dualismo, uma cisão entre a visão interior e a realização concreta. O Si ao encarnar-se, identificou-se conforme afirmamos anteriormente, com os veículos pessoais, "esquecendo-se" de si mesmo, e o homem que caiu na inconsciência, construiu para si um "eu" falso, tornou-se vítima de automatismos, condicionamentos, ilusões, hábitos cerceadores... Tudo isso constitui o conjunto de obstáculos, dificuldades, impurezas que ele deve reconhecer e superar se 21 pretende alcançar a "pura consciência" do Si e a verdadeira felicidade. O trabalho de autoformação é sobretudo um processo de libertação dos condicionamentos e da falsa consciência; por isso, requer também a capacidade de reencontrar em si mesmo a nascente da autenticidade, da verdade e do conhecimento. Por esta razão, todos os Instrutores espirituais afirmam que para reencontrar o Si, que é nosso verdadeiro Eu, devemos ser capazes de prescindirde apoios, sejam eles teorias, crenças, guias espirituais, doutrinas, devoções passivas etc. ... A "pura consciência" pode ser alcançada quando o eu, tendo-se libertado de todos os apoios e as projeções, torna-se apto a "ficar só", a recusar toda forma de apoio externo, toda teoria puramente intelectual, toda fé cega, baseada tão somente sobre a emotividade e a necessidade de segurança, e de enfrentar, portanto, o desconhecido, atirando-se no aparente "vazio" que é o mundo do Ser. São João da Cruz afirma que Deus "é encontrado nas trevas"; isso quer dizer que o encontramos quando renunciamos à falsa luz da mente racional, dos apegos e das ilusões sensoriais. Por esta razão devemos ser capazes de atingir a experiência direta da realidade do Ser e a consciência do Si, que é a nascente da Força interior e do Conhecimento, pois trata-se de um reflexo do Divino. A "pura consciência", então, é o resultado desse trabalho de purificação e de libertação das infraestruturas, de identificações e esquemas. É uma passagem "do ter para o ser". O caminho para atingir este objetivo é longo e difícil; apesar disso, está cheio de alegrias, criatividade e energia vivificante. O ideal é vivê-lo e considerá-lo como uma gradativa conquista de dimensões cada vez mais profundas e reais de si mesmo, como uma sucessão de expansões de consciência para espaços cada vez mais amplos e luminosos; encarando-o assim, tem-se a sensação de um aumento dentro de si do entusiasmo e do ardor da aspiração, juntamente com a firme decisão de percorrê-lo. Além disso, torna-se cada vez mais claro e marcado o sentido oculto nesse processo interior, que constitui a finalidade central da vida do homem, destinado a ser o ponto de encontro e de união do Espírito com a Matéria. O que dá a confirmação interior da verdade do que estamos dizendo é a experiência subjetiva de alegria, liberdade, vitalidade, que brota de todo amadurecimento, de todo desenvolvimento de consciência que conseguimos alcançar. De fato, todas as vezes que conseguimos evocar uma mínima parte desta consciência do Ser, aflui em nós uma torrente de luz, de felicidade, de força, mesmo que esta conquista nos tenha custado uma renúncia, uma aparente perda, uma separação... Muitos não conseguem operar essa evolução pois não sabem deixar sua ilusória segurança e não conseguem separar-se do "conhecido", para ir ao encontro do desconhecido e continuam a sofrer e a viver na inconsciência e na identificação com o ego. A esta altura, é preciso mencionar os obstáculos e as resistências que impedem o livre desenvolvimento da consciência e que não são responsabilidades do limite evolutivo do indivíduo, mas de uma sua problemática psicológica inconsciente toda especial que pode e deve ser reconhecida e resolvida. Esta problemática deve-se ao excessivo desenvolvimento da parte consciente do indivíduo, à mente racional e à vontade pessoal preponderante, que se condensam no ego, isto é, naquele eu construído e falso de que falamos, que por sua natureza se opõe sempre, embora inconscientemente, ao Si. Pessoas deste tipo podem 22 inclusive ser suficientemente evoluídas, porém, é como se ignorassem, ou desejassem ignorar, sua maturidade espiritual, pois estão identificados com o ego, e "removeram" de seu lado consciente as aspirações, os impulsos e as exigências espirituais. Pode acontecer que, de vez em quando, sintam em si mesmas o impulso e a necessidade do transcendente; porém, ao tentarem adequar-se a ele, deparam-se com estranhas resistências e dificuldades interiores que tornam todo e qualquer esforço inútil. Isso acaba provocando conflitos e mal estares que podem inclusive desembocar em verdadeiras neuroses. Neste caso é necessário desenvolver um cuidadoso trabalho de análise e de integração com o inconsciente, superando os condicionamentos e as rígidas estruturas inconscientes do eu superficial, e abrir-se ao Superconsciente, deixando de lado o orgulho e a vontade pessoal. Na verdade, este é um trabalho de libertação das energias e dos conteúdos superiores removidos e bloqueados, e de reconhecimento dos valores transcendentes e transpessoais, que pressionam querendo manifestar-se. (1) 1 - Vide Capítulo IV da segunda parte do meu livro Medicina psico-espiritual, Editora Pensamento, São Paulo, 1984. Eric Fromm, em seu livro Ter ou ser afirma que todo homem, por natureza, possui no mais profundo de si mesmo, o conhecimento da verdade, mas que, no decorrer de seu desenvolvimento pessoal, com relação ao ambiente e à sociedade, é obrigado a "removê- lo", perdendo, desta maneira, sua sensibilidade e sua capacidade de perceber a realidade profunda das coisas. Isso acontece sobretudo com os ocidentais, de temperamento extrovertido, mental e hiperativo. De fato, o desenvolvimento da consciência, favorecido pela meditação, nos leva a reencontrar, gradativamente, este conhecimento da verdade e esta sensibilidade espontânea ao mundo do Ser, libertando-nos de obstáculos e de remoções, mesmo sendo rígidos e estruturados. Utiliza-se a expressão "mundo do Ser" para indicar a dimensão do Si Real, pois quando conseguimos percebê-lo "nos tornamos o que somos". De fato, quando estamos na periferia de nossa consciência, identificados com os veículos e com seus conteúdos, não somos nós mesmos, somos somente uma projeção, um reflexo da realidade de nós mesmos. Mergulhamos no vir a ser perdendo a consciência do ser, daquilo que é. "Ser" significa viver conscientemente, experimentar continuamente a realidade profunda das coisas, sem se deixar levar pelas aparências exteriores, e agir "a partir do centro de consciência" com autenticidade, espontaneidade e criatividade. "Ser" significa deixar a energia do Si fluir através dos veículos e, desta maneira, exprimir a realidade de si mesmos. Significa exprimir-se totalmente em harmonia com as leis cósmicas e divinas. Alcançar este estado interior pode parecer muito difícil à primeira vista, pois nos afastamos da percepção desta realidade, tornando-nos "inconscientes" de nós mesmos; mas, na realidade, voltar à dimensão do "ser" é um movimento natural da consciência, uma vez que ela tenha sido libertada dos condicionamentos e das falsas identificações. Eis por que a técnica fundamental que pode nos ajudar a alcançar este estado é o abandono, a abertura, o silêncio, a "rendição" interior, entendida como o oposto do esforço, da tensão, da luta. "O movimento na direção dele (o estado de pura consciência) deve ser natural. Ele pode ser alcançado não através do controle, e sim através do "deixar acontecer"... (Sete 23 estados de consciência, de Anthony Campbell). Esse "deixar acontecer", esse abandono é, na maior parte dos indivíduos, difícil, porque pode parecer um estado de inércia, de passividade, de indiferença, quando, ao contrário, é um estado de abertura durante o qual somente a personalidade se torna receptiva, "vazia", sensível à orientação e à energia do Si, reconhecendo afinal sua verdadeira função que é a de ser instrumento e canal do Divino. No começo há uma fase de separação e de imobilidade interior, como resultado dessa atitude de abandono, pois aflora a "pura consciência" que, por ser um estado subjetivo, no qual prevalece o ser sobre o vir a ser, procura calma, paz e silenciosa espera. Numa segunda etapa, porém, manifesta-se também o aspecto vontade e atividade do Si, que toma posse dos veículos pessoais e age de acordo com uma proposta e um objetivo de caráter transcendente e universal. Sri Aurobindo fala de um Brahma passivo e de um Brahma ativo, como de dois polos do Purusha (Espírito), que devem ser ambos manifestados e expressos na vida do homem â medida que ele se aproxima da auto-realização espiritual. Realizar o Si, de fato, não leva a uma fuga do mundo, a um estado de transcendência inativa, mas sim à união de Ser e Vir a Ser, de Espírito e 'Matéria. "Este simultâneo estado de passividade interior e de atividadeexterior é uma condição de liberdade completa. O iogue... age sem agir; não é ele quem age, mas a Natureza Universal guiada pelo Senhor da Natureza." (Síntese da ioga, vol, II.) Estas palavras de Sri Aurobindo indicam claramente o estado de equilíbrio entre Ser e Vir a Ser, que se revela como capacidade de manter um estado de consciência imóvel, sereno, imperturbável, mesmo quando a personalidade age nos três níveis objetivos (físico, emotivo, mental) movida pelas energias do aspecto ativo do Si (a natureza ou shakti). Para poder chegar a este objetivo, todavia, devemos, antes de mais nada, ser capazes de reencontrar a "pura consciência", de enuclear nosso centro de autoconsciência autêntico, a Testemunha silenciosa, de permanecer firmes no Ser, livres e sem apoios. Numa segunda etapa, apresentar-se-á de forma espontânea o impulso para expressar na vida o aspecto dinâmico e ativo do Si, para nos reunir ao outro polo de nós mesmos e transformar a matéria inerte e automática num veículo de criatividade e de serviço ao Divino. 24 Capítulo V A MEDITAÇÃO, TÉCNICA FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIENCIA Com base em tudo o que dissemos nos capítulos precedentes fica claro que o homem, do ponto de vista de sua consciência ordinária, é incompleto e limitado e tem em si mesmo uma ampla área de consciência que ainda deve ser explorada e ativada. Esta área de consciência tem diferentes níveis e degraus, dos quais o mais elevado corresponde à dimensão do Ser, onde vive e vibra a sua verdadeira Essência, o Si, que representa o núcleo autêntico de sua natureza de origem universal e divina. Na humanidade comum existe uma espécie de cisão entre a consciência superficial, centralizada no eu ordinário, e o Si. Para chegar a superar esta cisão os amadurecimentos que conseguimos como consequência das provas e das experiências que a vida nos proporciona não são suficientes; o que é necessário, é um meticuloso trabalho que possa favorecer e acelerar o processo de unificação entre a personalidade e o nosso verdadeiro Ser. Este trabalho é constituído pela autoformação e sobretudo pela meditação. De fato, a meditação nos oferece a possibilidade de construir conscientemente a ponte entre os dois polos de nossa natureza, a matéria e o Espírito, o consciente e o Superconsciente, que correspondem, respectivamente, às duas modalidades de nossa consciência, seja a voltada para o exterior, o mundo objetivo, seja a voltada para o interior, o mundo subjetivo e espiritual. O homem, no decorrer de um longo período evolutivo, identifica-se com o aspecto voltado para o exterior, e tem consciência somente da personalidade, deixando de lado, esquecido na escuridão e na inconsciência, o outro polo de sua natureza. Desta maneira, mesmo sua verdadeira essência e a dimensão espiritual permanecem inconscientes e latentes. Por essa razão, o longo caminho evolutivo do homem poderia ser considerado na realidade um processo gradativo de integração, de unificação e de síntese entre a personalidade e o Si, entre a matéria e o Espírito, as "duas colunas do Templo Universal". Efetivamente, a cisão é apenas aparente, pois trata-se de uma "falta de consciência", de uma ilusão. Na realidade, mesmo sem o percebermos, estamos "unidos" aos mundos hiperfísicos e ao Si. Vivemos na inconsciência e na ignorância de nossa unidade substancial e por esta razão não sabemos utilizar todas as nossas energias e potencialidades, e nos identificamos com um eu ilusório e arquitetado. As vezes, mesmo quando já existe um certo grau de unificação entre os dois polos de sua natureza, o indivíduo pode ter consciência disso. Neste caso, a meditação serve para que ele tome consciência desse fato e o torne, então, aproveitável e profícuo. A primeira fase da meditação é sobretudo um processo de interiorização e de sensibilização para com o mundo subjetivo, para com o outro polo de nossa consciência. Robert Ornstein afirma em seu livro The Psychology of Consciousness: "A meditação constitui uma tentativa deliberada de separar-se, por um determinado período, do ritmo da 25 vida cotidiana e afastar-se da modalidade ativa da consciência normal para entrar na modalidade complementar de receptividade e de obscuridade. É uma tentativa de inibir a modalidade comum da consciência e cultivar uma segunda modalidade, possível ao homem." Se examinarmos as diferentes tradições esotéricas que se referem à meditação em todo o mundo e através dos tempos, descobriremos que, por trás de uma infinita variedade de técnicas adequadas a cada grupo religioso ou a um determinado país onde a meditação é praticada, existe uma semelhança fundamental em seus objetivos, e isto é o que mencionávamos anteriormente: afastar-se da modalidade ativa, extrovertida, racional da consciência, para produzir um despertar da modalidade receptiva, interior, intuitiva, que possuímos sem saber. Esta segunda modalidade nos aproxima do mundo do Ser e torna- nos sensíveis à consciência do Si, que vai além da mente, além da racionalidade, além da atividade e do vir a ser. Uma prova científica que o homem possui dessas duas modalidades, mesmo no nível físico, nos é fornecida pelos estudos feitos sobre o cérebro humano, estudos que levaram à descoberta de que ele é dividido em dois hemisférios, cada um com funções diferentes e complementares. O hemisfério esquerdo, que governa as funções do lado direito do corpo, é racional, analítico, verbal, lógico, sequencial... O hemisfério direito, que governa as funções do lado esquerdo do corpo, é global, intuitivo, não verbal, artístico, imaginativo, criativo etc. Com a meditação é ativado o lado direito do cérebro que muitas vezes, sobretudo entre os ocidentais, é menos ativo do que o lado esquerdo e, portanto, menos desenvolvido. Constatou-se, entretanto, que nos orientais, que praticam regularmente a meditação, o hemisfério direito é bem mais desenvolvido. O homem maduro e harmônico, deveria poder utilizar ambas as modalidades; elas refletem a polaridade de sua consciência, para poder chegar à completa auto-realização. Esta dualidade da natureza humana foi reconhecida desde os tempos mais antigos em quase todas as culturas e tradições. É só citar a antiga filosofia chinesa que considera o Absoluto, o Uno como uma totalidade, contendo em si os dois eternos opostos princípios de Yang e Yin, que em seu conjunto formam o Tao. O homem revive em si mesmo esta polaridade universal inicialmente como cisão e conflito e, numa segunda etapa, como complemento e harmonia. A seguir, apresentamos algumas destas polaridades que podemos encontrar em nós mesmos e em todo o cosmos, para entender melhor esta verdade universal, que representa a chave da evolução cósmica e humana. Yang Yin Masculino Feminino 26 Ativo Passivo Consciente Inconsciente Tempo Espaço Céu Terra Sol Lua Dia Noite Explícito Implícito Focalizado Difundido Racional Intuitivo Centrífugo Centrípeto Intelectual Sensitivo Sequencial Simultâneo Raciocínio Experiência Vontade Consciência Logos Eros Concentração Expansão Dedução Indução Iniciativa Abandono Com base nesta enumeração, à qual poderíamos acrescentar muitas outras polaridades que se referem à modalidade ativa e à passiva, resulta que os aspectos enumerados são opostos, porém, complementares. Em outras palavras, tomados separadamente, são incompletos e unilaterais; no entanto, tomados em conjunto, produzem uma unidade harmônica e equilibrada. Quando começamos a praticar a meditação logo percebemos o grau de 27 desenvolvimento de nossa modalidade receptiva e, consequentemente, o grau de atividade de nosso hemisfério cerebral direito, dependendo do sucesso ou não desta prática. Alguns se deparam com obstáculos e dificuldades desde a primeira fase da meditação, que é a da interiorização e da abstração do mundo objetivo. De fato, mesmoesforçando-se por desligar-se do mundo externo, fechando os olhos e permanecendo imóveis e em silêncio, não conseguem desligar-se dele. O mundo externo permanece sempre presente em sua consciência subjetiva com imagens, sensações, pensamentos e lembranças. A abstração completa lhes é difícil e ainda mais difícil é o despertar da sensibilidade para o mundo interior e da modalidade receptiva da consciência. Abandonar a modalidade ativa, racional, extrovertida à qual estão acostumados é uma tarefa árdua, que requer paciência, treino e constância. Por esta razão, no começo é necessário utilizar técnicas de "apoio", como por exemplo a concentração sobre a respiração, ouvir músicas adequadas, a repetição de um mantra etc. Extremamente útil é conseguir um relaxamento físico adequado, que geralmente ajuda a acalmar mesmo o emotivo e a criar, portanto, um estado de tranquilidade interior. Não devemos esquecer que a meditação não é somente uma técnica, e sim o efeito de um amadurecimento, de uma profunda exigência espiritual e, portanto, os obstáculos que eventualmente encontrarmos em sua atuação são proporcionais ao grau deste amadurecimento e desta exigência. Devemos nos aproximar da meditação movidos por um impulso puro, isto é, estimulados por uma real aspiração espiritual e por uma autêntica exigência de integração com nossa natureza mais profunda e com o Si. Praticar a meditação para obter a felicidade, o sucesso, a saúde, o poder, ou por mera curiosidade, pode levar apenas ao insucesso ou à ilusão. Todavia, se o impulso de praticá-la é espontâneo e puro, provindo do mais profundo de nós mesmos, brotará a luz e a energia que nos levarão a alcançar o mundo da realidade e do Ser. É bem verdade que também pode haver obstáculos, mesmo quando a motivação é pura e a aspiração autêntica; neste caso, porém, eles nos revelam a presença de problemas de caráter psicológico em nós, isto é, de condicionamentos, automatismos inconscientes, impurezas e bloqueios de energias, de que não temos consciência, e que, todavia, pouco a pouco serão evidenciados e desfeitos exatamente com a ajuda da meditação feita com constância e por um período de tempo suficientemente longo. O condicionamento mais intenso é o da extroversão que, juntamente com o da excessiva racionalidade, constitui a principal dificuldade dos ocidentais para a meditação. Essa dificuldade pode ser superada, como veremos adiante, com determinados exercícios e técnicas, cuja finalidade é exatamente favorecer a concentração mental e o controle do pensamento, que levam ao silêncio e ao despertar da capacidade intuitiva da mente. Outro obstáculo muito comum é o proporcionado pela expectativa dos resultados, que gera uma sensação de tensão, de ansiedade e de esforço tão intenso a ponto de impedir o abandono, a calma, a receptividade necessários ao bom êxito da meditação. Para poder realmente alcançar o estado de meditação, devemos colocar-nos numa atitude de completa tranquilidade interior, de relaxamento, de abertura, de receptividade, eliminando todo e qualquer esforço, tensão ou ansiedade. É preciso ter plena confiança na realidade profunda de nós mesmos e no Divino, e abrir-nos ao mundo do Ser, latente em nós. Por esta razão, as qualidades mais adequadas a uma favorável atitude na meditação 28 são a constância, a paciência, a ausência de pressa e de ansiedade; a capacidade de relaxamento e de saber aguardar confiantes. Os resultados muitas vezes sofrem um "atraso". Isto é, manifestam-se somente após um determinado período de tempo e não no decorrer da meditação; além disso, esses resultados podem ser diferentes dos que esperávamos. Podem ser sutis mudanças em nosso caráter, novas orientações em nossa vida, mudança em nossa maneira de julgar os valores da existência, apuração em nossos gostos e em nossas exigências, aumento de clareza mental, serenidade e sabedoria... Tudo isso se dá de forma lenta e quase despercebida, a ponto de muitas vezes os outros se darem conta antes de nós e chamarem nossa atenção para isso. A meditação é um estímulo a um processo natural de crescimento que tende, num primeiro momento, para a harmonia interior e, a seguir, para a integração com a parte mais profunda e real de nós mesmos: o Si. Ela nos leva gradual e docemente para a verdadeira consciência e encontra seu ponto alto quando nos permite alcançar um estado interior de liberdade, unidade, amor e luz, estável e duradouro. Na realidade, com a meditação só favorecemos o impulso do Si para atuar, para se exprimir; impulso que ignoramos, do qual não temos consciência, mas que sempre está presente em nós, silencioso e incansável. Dia virá em que a meditação será parte natural de nós mesmos, será um estado de consciência habitual que se integrará com a ação exterior. Ação e meditação, modalidade ativa e modalidade receptiva, vida exterior e vida interior, serão vividas como os dois polos de uma única realidade: o ser humano integrado e completo. 29 Capítulo VI MEDITAÇÃO PSICOLOGICA "Todos os procedimentos do conhecimento de si se encontram no caminho que leva ao Conhecimento do verdadeiro Si." (Sri Aurobindo: Síntese de ioga, vol. II.) Antes de começar a descrever as diferentes fases e os vários tipos de meditação, é preciso determo-nos sobre algumas considerações de caráter geral, que nos poderão ajudar a compreender mais claramente qual é a verdadeira essência desta prática e qual a sua importância. Ao iniciar o trabalho de meditação, verificam-se gradativamente algumas claras mudanças em nossa vida, pois, sem o percebermos claramente, ao meditar, dirigimos nossas energias psíquicas para um novo horizonte, e isso produz efeitos e transformações em nossa personalidade. Um destes efeitos é o aparecimento da exigência de purificação e de autoformação, juntamente com um claro e premente impulso de crescimento e de aperfeiçoamento. Mesmo dedicando à meditação apenas meia hora de manhã cedo, obtém-se um certo resultado, porque a duração da meditação não é importante; o que interessa é a "qualidade" e a "correta atitude da consciência" em relação a ela. Se esses dois requisitos estiverem presentes, qualquer que seja o tempo dedicado à prática, produzir-se-á no decorrer da meditação uma abertura para os níveis superconscientes de nós mesmos, com consequente afluxo de energias espirituais nos veículos, que tendem para objetivos bem explícitos. No decorrer do dia, essas energias são absorvidas pela personalidade e começa então um lento e gradual processo de transformação e de purificação do indivíduo. Se tal resultado não se manifestar, isso significa que a meditação foi feita somente como uma técnica mecânica e exterior, e não produz nenhuma abertura para as energias do Si. A verdadeira meditação abre uma porta para uma dimensão mais alta do que a habitual e constrói uma ponte, conforme já dissemos, para o polo mais profundo de nós mesmos. Por isso, quando decidimos iniciar um trabalho de meditação, tacitamente decidimos nos transformar e modificar nossa vida. Mais cedo ou mais tarde, teremos de perceber que a meditação, após um determinado período de tempo de prática regular, estimula e ativa até mesmo partes do cérebro até então adormecidas, despertando aspectos superiores de nós mesmos ainda latentes e não manifestados. Na realidade, a meditação é uma abertura para o Superconsciente e faz aflorar todas as qualidades e faculdades mais nobres, mais elevadas do homem, que representam sua natureza intrínseca e autêntica. Por isso, devemos nos aproximar da meditação com seriedade e consciência de seu verdadeiro valor e significado. 30 A meditação tem início com a interiorização, isto é, com a abstração da atenção do mundo exterior e dos objetos (pratiahara); por isso, aconselha-se fechar os olhos ao meditar. Porém, não é suficiente "não enxergar" com os olhos o mundo exterior, é precisoesquecê-la, abstrair-se completamente dele, para poder perceber a dimensão interior, a realidade do mundo subjetivo. Para quem está no início desta prática, a dimensão interior constitui-se basicamente de conteúdos psicológicos (emoções, pensamentos, imagens, lembranças etc.) que devem ser considerados também como "objetos" em relação à verdadeira consciência. Portanto, mesmo estes conteúdos psíquicos devem ser afastados e acalmados se nossa intenção é chegar a uma verdadeira interiorização e a uma abstração completa, que nos permitam tornar-nos sensíveis à realidade interior, tão viva e "substancial" quanto a exterior. É claro que se faz necessário muito treino, exercícios e desenvolvimento de técnicas para superar a tendência à extroversão e o hábito de viver superficialmente, além de ser preciso acalmar os contínuos movimentos das energias dos três veículos. Este conjunto de técnicas e de treinamentos constitui uma fase preparatória para a meditação propriamente dita; fase necessária que poderia ser chamada "fase psicológica". O processo meditativo, portanto, poderia ser subdividido em dois períodos chamados: 1) meditação psicológica 2) meditação espiritual No decorrer do período ou fase de meditação psicológica deve-se procurar habituar os veículos pessoais a se tornarem calmos, receptivos, silenciosos e eliminar os obstáculos internos devidos às sensações, emoções e mobilidade excessiva da mente. Esse trabalho de tranquilizarão dos três veículos é chamado "alinhamento inferior" e constitui-se de três estágios: a) relaxamento do corpo físico b) tranquilização do corpo emotivo ou astral c) silêncio e calma do corpo mental O relaxamento do corpo físico serve para preparar e favorecer a calma interior e sobretudo a emotiva que está estritamente relacionada com a distensão e a tranquilidade do corpo físico; além disso, é sua função permitir a nós mesmos esquecermos as sensações corpóreas. Há inúmeras técnicas para a obtenção de um bom relaxamento do corpo. Acredito ser supérfluo mencioná-las aqui, pois são bastante conhecidas. A tranquilização emotiva, caso não tenha sido alcançada juntamente com o relaxamento físico, pode ser obtida com várias técnicas entre as quais a visualização de imagens que inspirem calma, serenidade, paz, pois a energia que compõe o corpo emotivo é extremamente sensível às imagens. Também pode ser obtida com a repetição de palavras ou frases-estímulo que sugiram a paz, a estabilidade, a calma etc. (1) 1 - Vide Capítulo IX do meu livro Do eu inferior ao eu superior, Editora Pensamento, São Paulo, 1984. No que diz respeito ao silêncio e à calma mentais, o trabalho é extremamente mais complexo e quase sempre requer treinamentos e exercícios de vários tipos, que devem ser praticados por um período de tempo relativamente longo. 31 Conforme já afirmamos, o corpo mental tem uma função muito importante na meditação devido à sua natureza "dual". De fato, é o único veículo da personalidade que participa ao mesmo tempo da personalidade e do mundo do Si. O corpo mental está subdividido numa parte inferior, ou concreta, que se apresenta antes do pensamento racional, lógico, discursivo, e numa parte superior, que se apresenta antes do pensamento intuitivo, abstrato, criativo, impessoal, que já pertence à dimensão espiritual do Si. Para alcançar esse resultado, devemos passar por uma fase de exercícios de concentração mental (dharana) através dos quais poderemos desenvolver o poder do pensamento concentrado e focalizado, obediente à vontade do Si; e depois por uma fase de meditação com semente (dhyana) no decorrer da qual se desenvolve a capacidade reflexiva da mente, e o poder de aprofundar um conceito, uma ideia, até alcançar seu significado simbólico e universal. De acordo com Patanjali, a concentração mental e a meditação com semente constituem-se de sete estágios: 1) Escolha do objeto sobre o qual concentrar-se. 2) O retrair-se da consciência mental do mundo externo, de forma que os meios de percepção e de experiência (os cinco sentidos) sejam acalmados e a consciência não se volte mais para o exterior. 3) A consciência se concentra e se fixa na cabeça. 4) A mente se fixa e a atenção volta-se exclusivamente para o objeto escolhido. 5) A visualização ou percepção imaginativa deste objeto e o raciocínio lógico sobre ele. 6) A extensão dos conceitos que foram formulados, passando do específico e determinado para o geral, universal e cósmico. 7) Procurar chegar àquilo que está por trás da forma escolhida como objeto de concentração, isto é, chegar à ideia que a produziu. Este procedimento eleva gradativamente a consciência e permite ao aspirante transferir-se do lado forma para o lado vida da manifestação. (Os sutra ioga, de Patanjali, livro III.) A concentração é a fase preparatória da meditação com semente. A diferença está não na técnica, mas na qualidade do sujeito escolhido para a concentração. Do exame deste tipo de treinamento, resulta claramente que a concentração mental, qualquer que seja o objeto escolhido, é a preparação para a meditação propriamente dita, mesmo a de caráter "reflexivo" cuja finalidade é criar a ponte mental entre a personalidade e o Si. A meditação psicológica, portanto, é uma preparação dos veículos inferiores para o silêncio e a calma, e poderia mesmo ser chamado de "meditação com semente". De fato, quando usamos a mente para refletir e meditar sobre um determinado pensamento, isso leva gradualmente a superar a própria mente e o nível racional e a entrar em um estado de consciência livre de conteúdos, calmo, silencioso, desidentificado do intelecto mas, ao mesmo tempo, atento e desperto. Sri Aurobindo afirma: "É uma concentração que procede através da ideia e utiliza o 32 pensamento, a forma e o nome como chaves que abrem as portas da Verdade escondida atrás de cada pensamento, cada forma, cada nome, para a mente concentrada; isso porque através da ideia o Ser mental eleva-se, além de qualquer expressão, para Aquele que é expresso, do qual a ideia é somente um instrumento." (Síntese da ioga, vol. II.) Portanto, pouco a pouco, exatamente através do uso consciente e voluntário da mente, é possível alcançar o superamento dela mesma e sua desidentificação, alcançando- se então um estado todo especial chamado por alguns estudiosos da meditação de "estado de atenção ativa". Na realidade, esta é uma qualidade de atenção diferente, conforme afirma Corrado Pensa num de seus escritos sobre a meditação que cito a seguir: "... a atenção comumente é passiva, ou seja, acende e apaga dependendo do interesse para com os objetos-eventos que aparecem à sua frente. Enquanto na "qualidade diferente de atenção", isto é, na atenção ativa, o eixo desloca-se dos objetos-eventos para a atenção... Ficamos atentos ao estar atentos... A proposta da meditação é cultivar esta atenção ou consciência não identificada com os conteúdos mentais e, portanto, é profundamente diferente da consciência comumente entendida que consiste nesta identificação... " (Do ensaio: Psicologia e religião na procura contemplativa.) A finalidade principal, então, na meditação psicológica, é conseguir acalmar os movimentos dos veículos pessoais para desidentificar-se deles e atingir um estado de consciência livre e independente e um "fundo consciencial" que, mesmo vazio e sem conteúdos, tenha a qualidade da atenção atenta e consciente. É o que as doutrinas esotéricas chamam de "atitude do Espectador ou da Testemunha silenciosa", que na realidade é um nível de consciência muito próximo da consciência do Si, digamos, um seu reflexo. Ele constitui uma importante meta alcançada, pois permite-nos ter o ponto de apoio necessário para poder dar início a uma meditação mais profunda e criativa. A mente, que em geral constitui o maior obstáculo na fase de preparação ou alinhamento inferior, deve ser treinada para seguir direções bem precisas
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