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ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 2 ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 3 REVISTA CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO CLEO ASSESSORIA E EDITORA EM EDUCAÇÃO ISSN 2764-7838 DOI http://doi.org/10.29327/7168886 CNPJ 29.288.827/0001-24 DIRETOR CLEONILDO DE LIMA CAMPOS EDITOR (ES) JEFFERSON FERNANDO DE PINHO E SILVA JENNYFER DE PINHO E SILVA DESIGNER GRÁFICO WENDER TALLIS LARA PERIÓDICO – MENSAL VEICULAÇÃO – IMPRESSO DIGITAL 30/01/2023 PÚBLICO GERAL VOLUME 1 CLEO ASSESSORIA E EDITORA EM EDUCAÇÃO FONE (65) 99325 – 8356 CLEO.ASSESSORIAACADEMICA@HOTMAIL.COM CUIABÁ – MT mailto:CLEO.ASSESSORIAACADEMICA@HOTMAIL.COM ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 4 AUTORES VOLUME 1 – CUIABÁ – 2023 REVISTA CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO FACULDADE IGUAÇU – CLEO EDITORA PERIÓDICO MENSAL SUMÁRIO 1. ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................... 7 2. ERA UMA VEZ A QUESTÃO RACIAL: OS LIVROS DE LITERATURA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES ............................................................................................ 18 3. A CANTIGA DE RODA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................................................................................... 27 PSICOMOTRICIDADE E O BRINCAR PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................................................... 35 4. A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................ 49 5. A INCLUSÃO DA INTERNET NA EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................... 67 6. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NAS SÉRIES INICIAIS: ESTUDO DE CASO ............... 74 7. O AUXÍLIO DO LIVRO DIDÁTICO COMO INSTRUMENTO AUXILIADOR NO SEGMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.................................................. 82 8. A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DE MIDÍA COMO FERRAMENTA TECNOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ....................................................................... 90 ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 5 AUTORES VOLUME 1 -2023 ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL MARLI RODRIGUES DOS SANTOS JANAINA VIEIRA DE ARAÚJO CLEONICE RIBEIRO DO NASCIMENTO ERA UMA VEZ A QUESTÃO RACIAL: OS LIVROS DE LITERATURA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES GONÇALINA LAURA DE MAGALHÃES JANAINA VIEIRA DE ARAÚJO CLEONICE RIBEIRO DO NASCIMENTO GILSON CARDOSO SANTIAGO A CANTIGA DE RODA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL GONÇALINA LAURA DE MAGALHÃES OZALHA TRINDADE DE SOUZA JUVELINA BATISTA SE SOUZA CRUZ PSICOMOTRICIDADE E O BRINCAR PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL GONÇALINA LAURA DE MAGALHÃES VIVIANA BENEDETT MALHEIROS A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL GONÇALINA LAURA DE MAGALHÃES ROSELENE SOARES DOS SANTOS ALESSANDRA CARLA RINSCHEDE BENEVIDES STEFANNI DAYANE DE OLIVEIRA LIMA A INCLUSÃO DA INTERNET NA EDUCAÇÃO INFANTIL ADÉLIA NONATA DA SILVA ROSELENE SOARES DOS SANTOS JUVELINA BATISTA SE SOUZA CRUZ A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NAS SÉRIES INICIAIS: ESTUDO DE CASO STEFANNI DAYANE DE OLIVEIRA LIMA AZUIL MÁRCIO BASTOS ADÉLIA NONATA DA SILVA O AUXÍLIO DO LIVRO DIDÁTICO COMO INSTRUMENTO AUXILIADOR NO SEGMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS STEFANNI DAYANE DE OLIVEIRA LIMA ADÉLIA NONATA DA SILVA A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DE MIDÍA COMO FERRAMENTA TECNOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 6 STEFANNI DAYANE DE OLIVEIRA LIMA ADÉLIA NONATA DA SILVA ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 7 ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL MARLI RODRIGUES DOS SANTOS JANAINA VIEIRA DE ARAÚJO CLEONICE RIBEIRO DO NASCIMENTO Resumo: O presente estudo aborda o tema da adaptação das crianças na Educação Infantil. O assunto é de total importância para o início da vida escolar, a experiência e as peculiaridades do processo. O objetivo e investigação da problemática foram “Estratégias de inserção da criança na escola em um processo menos doloroso para o desenvolvimento infantil”. A abordagem da pesquisa foi qualitativa com a técnica de cunho bibliográfico. Verificaram-se entre os estudos categorias comuns, em uma análise conceitual concluiu-se que os envolvidos no processo: criança, pais, professores e instituição precisam ser interagentes. A afetividade e a formação dos educadores, o ambiente escolar e o adequado planejamento para a inserção escolar infantil, são algumas estratégias para a adaptação menos dolorosa e bem sucedida. INTRODUÇÃO Todas as fases da vida do ser humano são essenciais, em especial quando criança, as descobertas do viver, aprender. A inserção no ambiente escolar e sua adaptação são extremamente importantes pela representatividade vital e social que isso implica no futuro. Dependendo da rotina e necessidade familiar, as crianças começam a frequentar cada vez mais cedo uma creche ou escola, por esse motivo a adaptação da criança requer muitos cuidados. Torna-se inicialmente um processo doloroso para todos os envolvidos, pois a criança se desprende dos cuidados, rotina e cultura aprendida e vivenciada em seu lar, para o convívio e interação social. Também, para a família, que precisa trabalhar e precisa deixar a criança na creche desde cedo. Por outro lado, as educadoras com um olhar afetivo e individualizado, em cada situação com a necessidade do bom senso, experiência e atitudes. Por fim, a escola com a excelência no planejamento, propiciando um bom ambientefavorável e com o devido acompanhamento nesse processo. O devido acolhimento da criança no ambiente escolar modifica sua percepção social no decorrer do avanço nas séries escolares. A adaptação da criança na Educação Infantil é um momento muito difícil, sendo esse acontecimento considerado uma transição do ambiente familiar para outro totalmente desconhecido, que precisa ser explorado, conhecido, identificado. Conforme Santos (2012), a criança pode ter certa dificuldade de se adaptar a um ambiente e a uma pessoa que não faça parte do seu convívio familiar, sendo na escola ou em qualquer outro lugar. Corroborando com Oliveira (2018), o processo de adaptação escolar precisa do total envolvimento das famílias, pois a criança necessita do apoio familiar para conseguir se tornar um membro pertencente à instituição. Sendo os familiares mediadores na apresentação do novo espaço, pessoas e rotina, a forma em que reagem as famílias que ressignifica a experiência para a criança. Justifica-se a escolha e relevância do tema, em virtude da atuação profissional, fazer parte do processo, experiências e vivências, instigaram a escolha do assunto e pesquisa para aprofundar os conhecimentos sobre a adaptação das crianças na creche. Para isso, ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 8 elencou-se a problemática do estudo: Quais estratégias de inserção da criança na Educação Infantil poderão auxiliar tornando o processo menos doloroso para o desenvolvimento infantil? Ao investigar o problema, na tentativa de respostas, ideias, soluções, amenização, foram definidas a metodologia para que isso fosse possível. O estudo teve a pesquisa teórica, pois esse tipo de pesquisa é aquele cujo questionamento incide sobre um determinado arcabouço teórico-conceitual. A abordagem da pesquisa foi qualitativa, pois segundo Lakatos e Marconi (2012) possui a facilidade de poder descrever a complexidade de um determinado problema, analisar a interação, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupossociais, apresentar essascontribuições no processo de mudança com a criação ou formação de opiniões,em maior grau de profundidade. A técnica e instrumentos de coleta de dados foram bibliográficos, que elucidaram a compreensão do estudo e problema coma pesquisa em uma parte da bibliografia que já se tornou exposta em relação ao tema de estudo. O objetivo geral do estudo foi: Estratégias de inserção da criança na escola em um processo menos doloroso para o desenvolvimento infantil. Para agregar conhecimento e obter maior compreensão do estudo, elencaram-se objetivos específicos, sendo: identificar os envolvidos no processo de adaptação; destacar a importância da afetividade no processo; sugerir estratégias para a melhor inserção da criança na creche. Em busca das respostas para a inquietação do problema elencado, foi possível encontrar em dezessete trabalhos acadêmicos, com pesquisas qualitativas e quantitativas que contribuíram para nortear o assunto. Desses estudos, foram selecionados seis autores que escreveram sobre a temática abordada. Percebeu-se entre as pesquisas, que houve pontos comuns, determinando-se categorias. Em concordância com esses estudos, obteve-se oalcance e as contribuições para os objetivos específicos e respostas ao problema da pesquisa. O presente estudo foi estruturado em duas partes, a fundamentação teórica e a discussão de resultados. Na primeira desenvolveu-se umembasamento teórico, de acordo com a temática, contemplaram-se os trabalhos científicos já publicados. A partir desses estudos, obtiveram-se mais informações, ampliando o conhecimento sobre o assunto. Norteou-se por palavras-chave e foi buscado em livros mais informações, com isso ampliou-se a visão sobre o tema. Entre os autores pesquisados, reiterou-se Craidy e Kaercher (2007), que abordaram sobre a importância do processo de adaptação, a acolhida ao novo ambiente, um olhar inicial nas rotinas diferenciadas, as exigências da capacidade da criança, bem como dos participantes que compõem todo o processo sistêmico, família e escola. Logo, no decorrer da pesquisa, corroborou-se com Silva e Bezerra (2019), que contemplaram a receptividade das professoras, pois faz toda a diferença nesse acolhimento. Também, os estudos de Oliveira (2018) reverenciaram a afetividade como algo importante na educação, na acolhida às crianças, memorou que a educadora deve ser afetiva, contribuindo para que o processo tenha êxito, cumprindo aos objetivos. Na segunda parte do estudo, foi aprofundada a leitura, realizando comparativos, analisando as categorias comuns, construindo um alinhamento para amenizar e encontrar respostas ao problema do estudo, bem como sequenciar os objetivos específicos. Abordou-se sobre os envolvidos no processo de adaptação da criança na Educação Infantil, também, a importânciada afetividade com as crianças, bem como, estratégias para a melhor inserção das crianças, finalizando a discussão de resultados com a apresentação dos fatores ou categorias que mais se destacaram sobre os estudos da temática. ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 9 • FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A inserção da criança na Educação Infantil é muito importante para avida. Desde o nascimento, até o momento de começar a frequentar uma creche, a criança vive em um mundo que ela construiu, com aqueles mais próximos, ou seja, seus familiares. A adaptação com pessoas diferentes, novos espaços, convívio com outras crianças, transforma a rotina iniciando uma nova fase, essa, deve transcorrer da melhor forma possível. De acordo com Craidy e Kaercher, (2007): Adaptação: ao entrar na creche ou pré-escola a criança se depara com um novo ambiente, composto de adultos e crianças com os quais ela nunca interagiu. O distanciamento da família por longas horas do dia e a inserção em um novo ambiente, com rotinas específicas, exigirão da criança uma grande capacidade de adaptação. No entanto, este aspecto não diz respeito apenas à criança, mas exige de sua família e também dos/as profissionais que atuam na escola infantil um processo de adaptação. (p.33) Ainda, de acordo com Craidy e Kaercher (2007), verifica-se a importância do processo de adaptação, esse novo ambiente, rotinas diferenciadas, exigem muito da capacidade da criança, bem como dos participantes que compõem esse processo sistêmico, família e escola. Noentanto, corroborando com as autoras, elas definem que cabe à creche ou pré- escola estabelecer, se possível, um sistema gradativo de adaptação para cada criança, em que nos primeiros dias ela possa ficar apenas algumas horas e aospoucos vá se acostumando àquele novo ambiente, até que permaneça em tempo integral, se for o caso. Silva (2016) sustenta que A vida de qualquer criança, geralmente, tem início no ambiente familiar, sendo os próprios familiares, as pessoas mais importantes nas suas vidas. Portanto, ao sair de sua zona de conforto, a criança experimenta um sentimento de ansiedade. Esse sentimento pode gerar agressividade ou sofrimento na criança, despertando atitudes incompatíveis com o interesse coletivo. Para mediar esse conflito, o educador deve acolher a criança, ajudando-a a superar esse momento e contribuindo para o seu desenvolvimento. Assim, as atitudes dos próprios professores são exemplos para os alunos, gerando regras de convivência em sociedade que são de vital importância para o aprendizado e equilíbrio deles. (p.19) Pode-se dizer que a comunidade, tem um papel especial e fundamental, com responsabilidades, segundo Zini (2013, p.29), “entende-se que a comunidade é o papel central dos três protagonistas do sistema social escolar: crianças, professores e pais como os geradores do projeto educacional”. A escola como um ambiente coletivo, baseado na participação e na gestão social, no trabalho coletivo, na sociabilidade e nos objetivos e ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 10 valores compartilhados. Silva e Bezerra (2019) salientam que a adaptação é um processo de mudanças, sejam elas às novas professoras, aos colegas de sala ou ao ambiente escolar. É um período difícil, onde os pais e as crianças seseparam, muitas vezes pela primeira vez, o que faz gerar sentimentos de tensões, medo e insegurança por parte da criança, dos familiares e também dos profissionais que compõem a escola, todos saem da sua zona de conforto, para vivenciar novas experiências em um ambiente coletivo. Esse processo compreende a inserção da criança na fase educacional, também sanar uma necessidade da família, que precisa deixar a criança na escola ou creche para trabalhar. Já os sentimentos das famílias variam entre alívio porconseguir uma vaga para suas crianças e poderem, principalmente, participar do mercado de trabalho, e culpa, sensação de abandono das crianças, insegurança com relação aos cuidados oferecidos à criança, na instituição, que deixam de ser individualizados em casa, para o cuidado o coletivo das instituições (OLIVEIRA apud MARANHÃO e SARTI, 2008). Quando chega o momento, a necessidade da família deixar a criança na escola e/ou às mesmas, estar com a idade necessária para frequentar a creche, compete à educadora perceber quais são as características daquela criança, seu jeito de ser e de se relacionar com o novo ambiente que agora passará a frequentar, bem como a maneira como interage com os/as colegas e com as pessoas que dela cuidam/educam. Craidy e Kaercher (2007) salientam que é preciso respeitar o ritmo de cada criança, bemcomo suas manifestações de medo e ansiedade. Também, os pais e as mães, ou seja, a família da criança deve ter o direito de circular nas dependências da escola, recebendo todas as informações necessárias sobre a rotina desenvolvida naquela instituição. As educadoras têm um papel fundamental na acolhida das crianças, por serem profissionaispreparadas, consideradas, os principais elos nessa adaptação das crianças no âmbito escolar. Silva e Bezerra (2019) afirmam que a receptividade das professoras também faz toda a diferença nesse acolhimento, sendo interessante que nesse período as crianças se deparem com professoras que se permitam participar de todas as atividades de forma conjunta, visto que o contato afetivo nesse momento é fundamental. As principais estratégias promotoras da adaptação infantil à creche, defendidas pelas educadoras e as professoras, são a afetividade e a ludicidade, sendo o objetivo dessas profissionais a conquista da confiança das crianças, assim como levá-las a se sentirem seguras, no espaço creche; entretanto, constatou-se a inexistência de uma propostapedagógica, coletiva ou individual, de um trabalho sistematizado visando à adaptação infantil. (OLIVEIRA, 2018, p.85) Corroborando com Oliveira (2018), a afetividade é algo importante na educação, nessa acolhida às crianças, a educadora sendo afetiva, pode contribuir para que o ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 11 processo tenha êxito, cumprindo aos objetivos. A afetividade pode ser considerada como uma capacidade pode ser a disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno, é o que acontece com as crianças, por meio de sensações ligadas á tonalidades agradáveis ou desagradáveis. Barreto (1998) define afetividade como: [...] o conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob as formas de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre de impressão de dor ou de prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza (p. 71). La Taille et al (1992) ressaltam a teoria de Henri Wallon, sobre a afetividade, em que diz: A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se lentamente, a vida racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturados, com o predomínio da primeira. (p.90) As educadoras precisam de formação suficiente, vivências e reciprocidade, para tornar-se um ser afetivo, bem como de conduzir esseprocesso com firmeza e neutralidade. De acordo com Oliveira (2018), é preciso investimento na formação docente, tanto inicial como continuada, para que esses profissionais tenham a oportunidade de auxiliar ou promover um desenvolvimento infantil saudável. “O desenvolvimento da criança está diretamente relacionadoao papel que a família/responsáveis e os educadores desempenham na primeira infância, uma vez que estão muito próximos. Pode- se dizer que a família é o primeiro transmissor de conhecimento à criança, pois são os pais ou responsáveis que transmitem os valores com os quais desejam formar o filho para a vida. Já a escola amplia esses ensinamentos iniciados pela família”. (Silva et al, 2016, p.43) Cada criança tem um desenvolvimento diferenciado, em relação ao tempo de aprendizagem, nesse contexto pode-se dizer que cada criança se adapta também de uma forma diferente. De acordo com Lillard (2017, p. 25) “...as filosofias educacionais do passado não enfatizavam a existência da infância como uma entidade por si mesma, essencial à completude da vida humana, nem discutiam a autoconstrução incomum da criança...” que ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 12 Montessori tinha observado em suas salas de aula. O papel da família e dos educadores, nesse processo torna-se fundamental. O ensino/aprendizagem começa pela família e continua sua moldagem na escola. Lillard (2017) acreditava que a infância não é meramente um estágio a ser completado a caminho da idade adulta, mas é “o outro polo da humanidade”. “O aumento do número de creches e a intensa disputa por vagas, no Brasil, são fatores que refletem mudanças na família, a qual hoje precisa compartilhar a educação de suas crianças com instituições de qualidade, para que geralmente os responsáveis pelas crianças possam trabalhar fora (do lar) e auxiliar no sustento familiar”. (Oliveira, 2018, p.62) No momento em que a criança, deve iniciar sua rotina escolar, começa uma fase diferenciada em sua vida. A rotina, hábitos e costumes, vivências e muito mais, irão agregar ou modificar o que já havia aprendido em casa com os pais, sendo esse fator positivo ou até inicialmente negativo em relação como a criança irá compreender, absorver aquilo que não eracostumeiro em seu cotidiano. “As rotinas podem tornar-se uma tecnologia de alienação quando não consideram o ritmo, a participação, a relação como mundo, a realização, a fruição, a liberdade, a consciência, a imaginação e as diversas formas de sociabilidade dos sujeitos nela envolvidos; quando se tornam apenas uma sucessão de eventos, de pequenas ações, prescritas de maneira precisa, levando as pessoas a agir e a repetir gestos e atos em uma sequencia de procedimentos que não lhes pertence nem está sob seu domínio”. (Barbosa, 2008, p.39) Essa rotina poderá ser facilmente adaptada se o ambiente físico for atrativo, interessante, em acordo com Barbosa (2008) o espaço físico é o lugardo desenvolvimento de múltiplas habilidades e sensações e, a partir da sua riqueza e diversidade, ele desafia permanentemente aqueles que o ocupam. Esse desafio constrói-se pelos símbolos e pelas linguagens que o transformam e o recriam continuamente. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS • Educação Infantil Existem muitos estudos, que relacionam a evolução da sociedadeem virtude da industrialização. Com essa evolução, as mulheres começaram a trabalhar “fora” de casa e com isso, as crianças ficavam com cuidadoras. De acordo com Haddad (1993), citado por Oliveira (2018), os movimentos feministas ressignificaram o atendimento às crianças, nas instituições ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 13 de Educação Infantil, defendendo que tais instituições deveriam atender todas as mulheres, independentemente de sua classe social ou necessidade de trabalhar fora do lar, o que contribuiu no aumento de instituições de Educação Infantil mantidas pelo poder público. A “educação” que a família desenvolve, desde o nascimento da criança, com a inserção da mesma na escola terá o complemento por parte da escola, além da interação social entre outros, que de acordo com a Base Nacional Comum Curricular reitera que “Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional.A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada” BNCC (2016). Com a evolução dos tempos, as creches foram acompanhando todo o cenário evolutivo, mesmo que ainda há a necessidade de melhorias em muitas das realidades em nosso País, podemos compreender um grande avanço. Desde os ambientes, como o pedagógico, com as oportunidades de qualificação das educadoras e maiores investimentos em virtude das políticas públicas, transformam a Educação Infantil. • Envolvidos no Processo de adaptação A base estrutural para o ser humano encontra-se na família, essapor sua vez, é a primeira que entra no processo, onde está a criança. Logo, podemos destacar a creche como um todo, com suas educadoras. A mãe (ou parente mais próximo) e a educadora são as pessoas que estão em maior proximidade com a criança dentro do processo de adaptação dela, podendo ser as principais mediadoras desse início, desenvolvimento e total adaptabilidade acreche. Oliveira (2018) em seus estudos corrobora que o processo de adaptaçãodas crianças na Educação Infantil pode ser muito doloroso, não só para a criança, como para seus familiares, principalmente para a mãe, que tem um vínculo muito forte com a criança, pois inicia a primeira separação da criança de sua família, por um período do dia. Com a evolução dos tempos, a necessidade da família trabalhar, principalmente a mulher como figura de mãe, indo para o mercado de trabalho, é preciso da segurança na escolha da creche, confiar nas educadoras e contribuir para que a criança tenha confiança no decorrer desse processo, ficar na escola, gostar da professora, do ambiente e do pedagógico. Reiterando Rodrigues (2017, p. 53) “[...] a família e a escola têm uma participação íntima, pois é um meio favorável à aprendizagem de sentimentos que marcam a vida da criança. Por isso, já nos primeiros anos escolares, o professor deve ser competente em preparar a criança para viver em coletividade”. A tríade, família, criança e escola, seu equilíbrio, são as peçasfundamentais para que o processo tenha sucesso. Afetividade na inserção das crianças A receptividade, sentimentos, atitudes são importantes dentro do processo de adaptação das crianças na Educação Infantil. A forma em que a criança é recebida na Educação Infantil, adaptada e os cuidados das educadoras poderão refletir no seu desenvolvimento pessoal, em questões de interação com as pessoas, aprendizagem, confiança, até mesmo o “espelho”sobre o respeito e carinho com os demais. Lisboa (1998) diz que para umdesenvolvimento pessoal adequado: ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 14 As creches e escolas são de grande importância para desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças [...]. Nesses locais, elas têm de aprender a brincar com as outras, respeitar limites, controlar a agressividade, relacionar-se com o adulto e aprender sobre si mesma e seus amigos, tarefa estas de natureza emocional [...] fundamental para as crianças menores de seis anos é que elas se sintam importantes livres e queridas. (p. 63) A afetividade entra nesse processo quando as escolhas da criança podem ser moldadas ou melhoradas de acordo com os valores estabelecidos no papel das educadoras, interferindo diretamente na confiança e formação educacional. • Estratégias para a melhor inserção da criança na creche Os envolvidos no processo de adaptação das crianças (escola/educadoras e os pais) precisam ter estratégias para a melhor e mais rápida inserção, estas, porém, devem ser equilibradas e de acordo com cada criança. A “separação” das crianças dos pais, em virtude de ir para uma creche inicia cada vez mais cedo, cada criança tem perspectivas, sentimentos diferenciados. Klaus (2000) apud Tourinho (2005) salienta que hoje em nossa cultura as crianças ingressam cada vez mais cedo em creches ou pré-escolas e, nesta fase, a criança ainda não se percebe como um ser independente da mãe, logo, segundo Klaus (2000) apud Tourinho (2005 p. 42) “é comum o sentimento de medo da criança frente à separação materna”. Para o autor, ensinar a dar tchau ou brincar de esconder, são algumas das formas de trabalhar o sentimento de ausência e permanência para minimizar os efeitos da separação precoce e favorecer o período de adaptação. De acordo com a BNCC (2016, p.36) as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar. A adaptação da criança na Educação Infantil é um momento muito difícil, doloroso, pois a transição do ambiente familiar, com seus hábitos e costumes para um ambiente totalmente desconhecido. O correto acolhimento, afetividade, experiência profissional das educadoras e suas competências, poderão ser estratégias para tornar a adaptação na Educação Infantil, menos dolorosa e amena. • Formação das educadoras e competências As educadoras precisam de uma formação inicial, pode-se iniciar com magistério, logo a graduação em pedagogia e/ou as formações pedagógicas existentes. Essa formação de acordo com Chalot (2007, p.90) a ideia de formação implica ao indivíduo que se deve dotar de certas habilidades para conseguir desenvolver as competências, que irão se desenvolver no decorrer de suas vivências práticas, com a realidade das crianças nesse processo de adaptação. ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 15 Reiterando Garcia (1999), a formação inicial do professor cumpretrês funções: a primeira é uma formação e treinamento do professor ligado com a função que irá desempenhar. A segunda, voltada ao controle de certificação, que permite ao indivíduo exercer a profissão. A terceira é o diálogo entre duas incumbências, a de ser um agente transformador do sistema educativo e a de “contribuir para a socialização e reprodução da cultura dominante. Os professores (educadores) devem ser capazes de cumprir as exigências das novas tarefas educacionais, terem a competência de saber trabalhar em conjunto com as famílias. Michels (2006) afirma que: “[..] dizem respeito ao que o professor deve saber: trabalhar em parceria com a comunidade escolar, resolver problemas da escola, achar soluções criativas a problemas concernentes ao processo ensino-aprendizagem de seus alunos, até mesmo às situações da comunidade em que a escola está inserida”. (MICHELS, 2006 apud OLIVEIRA, 2018,p.98). Sobre as contribuições de Chalot (2007), não basta definir as competências docentes, interessa a capacidade de se relacionar com as famílias, como também é digno de preocupação o fato de esses profissionais possuírem ou não as competências que devem formar nas crianças, como valores éticos, morais, respeito ao próximo, aceitação das diferenças entre as pessoas. • Acolhimento afetivo O adequado acolhimento poderá ser o primeiro passo que deixará a criança mais calma, o primeiro início do entrelaçamento das relações, que vão se intensificando na jornada diária, vão revelando as diferentes formas de compreensão que as crianças constroem acerca de tempos e espaços até então desconhecidos e intensificados com a ampliação dos laços sociais e as trocas relacionais entre pares, revelando hipóteses e modos diversos de ir compreendendo o processo vivido na inserção. Conforme Oliveira (2018) “Este período de transição do ambiente familiar, que se caracteriza por ser intimista, exclusivo e acolhedor, para um ambiente novo, coletivo, disciplinar e social, que é o ambiente institucionalizado, gera um desequilíbrio cognitivo e emocional, propício ao desenvolvimento individual, com a elaboração de estruturas necessárias a resolução das novas demandas do meio. Na Educação Infantil este processo pode ser atraente para a criança se amparada por um adulto de referência, no entanto, altamente aterrorizante se a criança se sentir sozinha e ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 16 desamparada, já que os sentimentos de confiança, autonomia e iniciativa estão em formação, e a criança em intensa relação de dependência com o adulto”. (p. 11) As contribuições do autor condizem com a realidade dessa fase de adaptação, especialmente quando ele aborda sobre a questão do adulto de referência, com o acolhimento sentindo-se amparada, segura em uma nova realidade. As relações familiares e o carinho dos pais têm uma enorme influência sobre a evolução dos filhos, essa afetividade inicial é muito importante. Essa ideia vem dos estudos de Chalita (2004, p. 23), que a reforça, quando diz que “[..] a família tem como função primordial a de proteção, tendo,sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos[..]”. A referência inicial será a mãe ou aquela pessoa que cuidou desde onascimento da criança, na escola, o acolhimento da educadora, os cuidados, o afeto começam a fazer parte desse mundo diferenciado da criança, que por sua vez será a nova realidade, a frequência em uma creche que surtirá efeito na inserção escolar, de forma psíquica e social. Reiterando alguns autores, como Rossetti-Ferreira & Vitória (1993) apud Oliveira (2011 p.68), o período de adaptação deveria ocorrer nos primeiros contatos dos pais com a creche, pois através de um primeiro contato bem estruturado pela instituição, onde os pais possam esclarecer dúvidas e conhecer o ambiente que irá abrigar seus filhos, e a escola possa obter informações preliminares sobre a criança, minimizam-se angústias que possam influenciar no ingresso da criança na instituição. Para outros, o período de adaptação ocorreria a partir do momento de ingresso da criança na instituição até o final do primeiro mês. Nas creches ou instituições de Educação Infantil, no período de adaptação, e muito além dele, precisa de boa proposta pedagógica aberta também às famílias, compreender que elas têm sua cultura diferenciada, hábitos e costumes, que de imediato os bebês e/ou crianças maiores acostumaram-se com eles. Nesta perspectiva, fica evidente que as crianças pequenas e suas famílias devem encontrar nos centros de Educação Infantil, um ambiente físico e humano, através de estruturas e funcionamento adequados que propiciem experiências e situações planejadas intencionalmente, de modo a democratizar o acesso de todos, aos bens culturais e educacionais que proporcionam uma qualidade de vida mais justa e feliz. (COSTA; LIMA, 2017, p.2 apud OLIVEIRA, 2018, p.232). A família, precisa estar inserida nesse processo para compreender também que a partir daquele momento a criança receberá, melhorará e/ou agregará hábitos, costumes e uma nova vivência. Em uma visão geral, a conclusão equilibrada entre os estudos analisados, através das pesquisas realizadas pelos mesmos, reitera que a adaptação das crianças que iniciam sua vida escolar na creche/EducaçãoInfantil pode ser um processo muito doloroso, para a criança e complexo para todos os outros envolvidos: pais e professores. Contribuem que a maneira ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 17 como é realizada o acolhimento, deve ser interagente, com um bom planejamento por parte da instituição educadora e professores, priorizarem um ambiente organizado para recepcionar e acolher as crianças. Os envoltos categóricos dos estudos, em suas perspectivas constituem-se como os fatores responsáveis para planejar, sua ação detalhada poderá amenizar o processo doloroso vivido pelas crianças, durante sua adaptação escolar, tornando o mais natural possível. CONCLUSÕES A inserção das crianças na Educação Infantil, com a devida adaptação, é um assunto comprovado em termos de importância para o desenvolvimento social. Considera-se todo o conjunto envolvido nesse primeiro acolhimento infantil, englobando o processo de adaptar como interagente, pois todos envolvidos buscam a participação e um entendimento integral do que se vivência. O objetivo é que a inserção na educação formal tenha êxito e seja correto, com foco na criança, ela gostar, se adaptar, socializar com o novo ambiente e pessoas que ali compartilham e seguem as novas rotinas, aprendendo ou agregando uma nova cultura. Corroborando com os autores estudados, os trabalhos acadêmicos já desenvolvidos trouxeram uma visão contingente sobre o assunto, pois em cada situação de adaptação, as crianças carregam os preceitos familiares, umarotina e valores que são a sua essência. Considera-se a afetividade uma grande aliada nesse processo, bem como a experiência e formação contínua das educadoras. Também, o correto planejamento da instituição escolar, a organização para a recepção da família,e o apoio em sua participação na adaptação dos seus filhos. A responsabilidade de todos os envolvidos, principalmente da equipe escolar, com a competência de mediar possíveis conflitos, sendo um momento muito delicado por se tratar de crianças, que em seu elo familiar, nunca saíram de perto de pessoas conhecidas, tornando-se um momento de construção social. Foram evidenciados os objetivos específicos do estudo, em que se alinharam com o problema elencado. Reitera-se que a afetividade entre as educadoras e as crianças é fundamental para uma adaptação bem-sucedida, todos os envolvidos no processo precisam de estratégias para que a inserção da criança seja a mais acolhedora possível. A família deve preparar a criança para essa socialização, a escola precisa ter um planejamento adequado e as professoras uma formação suficiente com habilidades técnicas e humanas paraa acolhida. Estudar esse tema foi de extrema relevância, pois profissionalmente houve aprendizagem significativa, um novo olhar em virtude do processo de inserção de uma criança na escola. Também, a amplitude de pesquisar no meio acadêmico, possibilitou contribuir um pouco com a temática escolhida, que ainda é pouco abordada pelos profissionais, estudantes e demais interessados no assunto. Sugere-se a continuidade do estudo, desenvolver pesquisas quantitativas adequando o qualitativo, criar categorias com estudos de caso, avaliando a cultura do local, ambiente escolar e a maneira que as famílias preparam seus filhos para iniciar sua vida escolar. Também, complementariam estudos psicossociais com o acompanhamento das famílias, em conjunto com os demais envolvidos no processo. . ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 18 ERA UMA VEZ A QUESTÃO RACIAL: OS LIVROS DE LITERATURA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES GONÇALINA LAURA DE MAGALHÃES JANAINA VIEIRA DE ARAÚJO CLEONICE RIBEIRO DO NASCIMENTO GILSON CARDOSO SANTIAGO Resumo Este estudo faz uma breve reflexão sobre a importância da Literatura Infanto-juvenil para a construção da identidade étnico-racial na Educação Infantil. O objetivo é fazer uma discussão acerca dos caminhos possíveis para uma construção identitária, que valorize e reconheça a beleza da criança negra. Para tal reconhecimento contamos com Lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino da História e da Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do Brasil afirmando os direitos da população negra nos diferentes âmbitos. Para nos ajudar a compreender este processo e as práticas dos docentes, utilizamos os conceitos de Racismo, Identidade, Empoderamento, Literatura entre outros. São muitos os desafios encontrados em nosso cotidiano, a partir dessas explanações pretendemos ampliar as discussões sobre práticas educativas e pedagógicas reflexões sobre o processo de inclusão e os caminhos necessários para promover a igualdade racial na educação e na sociedade como um todo. Introdução O presente trabalho é um recorte da minha monografia de conclusão do curso de Pedagogia. Optei por fazer um trabalho bibliográfico, que me possibilitou maiorconhecimento em torno do tema relações Étnico-Racial na Educação Infantil, com o propósito de compreender como se dá essas relações dentro da escola evidenciando osegmento da Educação Infantil. Acreditando que é nessa etapa que os conflitos sociais surgem e influenciam diretamente na identidade da criança negra. Sendo através dos livros e autores que puder fortalecer a minha caminhada teórica. A literatura surge então com a minha experiência enquanto bolsista do PROALE2, que viu na literatura um caminho possível para a promoção e construção identitária e a valorização dos fenótipos negros. O PROALE reforçou a minha ideia de falar sobre as relações étnico- raciais, permitindo um maior contato comcontos, mitos, lendas e biografias que reforçaram a minha identidade, enquanto professora negra e, ampliação de literaturas e conhecimento sobre autores que nem mesmo sabia que existiam. Ampliando esses horizontes em busca da diversidade, percebi melhora no trabalho com as crianças, pois tínhamos opções de leitura e uma abordagem maior sobre as questões raciais. A construção identitária da criança deve contar com estímulos, suportes e conteúdos capazes de valorizar e reconhecer a beleza de cada criança, por isso a importância do livrona educação infantil, e o papel central do professor nesse segmento que seleciona esses livros e produz atividades que pode ou não ajudar nessa construção identitária. Vejo que o trabalho do professor, nesse sentindo, é apresentar uma literatura que visa uma construção de identidade positiva, já que a educação infantil ainda precisa do lúdico e o livro traz essa perspectiva mais descontraída para que as crianças entendam de forma mais “leve” o que é: O preconceito? O que é o racismo? O que é ser negro? E nesse sentindo o que vemos são professores que buscam no livro um caminho para construir projetos e possibilitar ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 19 construção de identidades diversas. Assim, indago se o livro poderia ser um suporte para construção da autoestima e valorização da beleza negra? Essa pergunta surgiu a partir do meu trabalho como bolsista no PROALE, ao presenciar tantos professores a procura de livro e que abordem a temática racial e outras questões como forma de introduzir o trabalho em sala de aula. Entretanto, o que me chamou a atenção é como muitos desses livros têm sido usados. Desde que comecei a trabalhar no PROALE percebi que não existem livros específicos para determinada faixa etária ou temática, pois um livro transborda essas definições, a forma como é tratada a leitura e como ela é recebida pelos alunos é que definem as inúmeras facetas que um livro pode apresentar. O Programa de Alfabetização e Leitura – PROALE – foi instituído em 1991, na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, e realiza desde então um conjunto de ações orientadas principalmente para o incentivo à leitura e a formação continuada de professores e outros profissionais da Educação que se ocupam de questões relacionadas a alfabetização, letramento, leitura, escrita, literatura. Eles nos mostram que para além das páginas existe um mundo de imaginações e de adaptações possíveis para qualquer público. Realizo uma análise sobre alguns livros do PROALE que os professores mais trabalham com esse segmento. Procurei apresentar os pontos positivos e negativos, com o objetivo de valorizar e reconhecer nesses livros caminhos possíveis de construir a diversidade e fortalecer o processo identitário da criança. O contato com os livros deve começar desde cedo, pois os livros propiciarão ao universo infantil um mundo de fantasias, imaginação e uma compreensão maior de si e do outro. Para além das princesas e príncipes do padrão estético que nos é apresentado, o livro quando bem escolhido e quando integra o segmento étnico, leva a criança a reinventar parte da história, em que ela se vê como personagem sem perder o encantamento da tradição dos contos de fadas. Perceber o livro como um dos vários instrumentos de suporte metodológico necessários nessa construção positiva da identidade negra faz entender que existe um caminho possível a ser iniciado na Educação infantil, ou seja, uma construção lúdica a respeito de quem somos. É o leitor quem cria, constrói o sentido a partir de seus conhecimentos, em sua expectativa e em sua intenção de leitura. No caso do aluno, porém, a intensão é do professor. Quem deseja que a leitura seja feita porque é importante, necessária para aexplicitação de um assunto, para a ampliação de um conhecimento, ou por qualquer outro motivo, é o professor. Só ele pode transformar o que precisa ser lido em algo significativo e prazeroso. (BRAGA; SILVESTRE, 2009, p. 22). Daí a importância do professor selecionar os livros que estarão nas salas de aula, nos cantinhos de leitura. Uma vez que, o acesso e seleção dos mesmos, demonstra preocupação com a qualidade e com o conteúdo que está sendo passado para essas crianças. Visto que, majoritariamente as crianças das escolas públicas são negras e por isso, devem se sentir representadas no espaço escolar, através dos brinquedos, livros, dentre outros objetos, já que passaram a maior parte do tempo dentro da escola. Na busca de uma construção identitária da criança negra, analisarei 4 livros que nos ajudam a entender como os livros infanto-juvenis podem ser grandes suportes para a valorização e negação da identidade. Adotaremos o livro e a literatura infantil como um dos pontos de partida plausíveis de se trabalhar na Educação Infantil, segmento em que se busca ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 20 dentre outras coisas o conhecimento e o respeito de si e do outro tornando o livro um suporte metodológico que é muito manuseado pelas crianças e usado em atividades pelos professores. Sem o objetivo de esgotar a literatura afrodescendente infantil voltada para as questõesraciais, buscaremos apresentar resumidamente as histórias, discutir e analisar o conteúdo de cada livro, visando olhar pontos positivos e negativos, que nos ajudem a discorrer a importância dessas literaturas na construção identitária da criança negra, mas também levar um conteúdo que possibilite que seu imaginário seja amplo, incentivando a formação do pensamento, estimulando-a a criticidade. • Era uma vez... Os livros selecionados abaixo foram experimentados por diversas etapas da Educação Básica. Todas as experiências que me foram relatadas usavam o livro como instrumento para ajudar os alunos a construírem sua identidade histórica, estética e cultural, tendo o livro como base para uma leitura seguida de atividades, projetos e trabalhos contínuos de valorização racial ou somente para uma leitura sem compromisso político e cultural com o tema. Os exemplos abaixo são para nos inspirar a pensar sobre as questões que podemos levar aos nossos alunos para além da história que vão ouvir. • Menina bonita do laço de fita Era uma vez uma menina linda, linda, os olhos dela pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes. Os cabelos eram enroladinhos e bem negro feito fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa que nem o pelo da pantera negra. Sua mãe gostava de fazer trancinhas em seus cabelos. Ela ficava parecendo uma princesa das terras da África, ou uma fada do Reino do luar. Do lado da casa dela morava um coelho branco, que achava a menina a pessoa mais linda e por isso queria descobrir o segredo pra ser tão pretinha. A menina não sabia e por isso inventava sempre uma história. O coelho muito insistente perguntou pela penúltima vez: menina bonita do laço de fita qual o seu segredo para ser tão pretinha? A menina não sabia, mas inventou... “Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba, quando era pequenina”. “O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar” Por isso, daí alguns dias ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez: A menina não sabia e já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada quando a mãe respondeu: - Artes de uma avó preta que ela tinha... O coelho viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade porque a gente se parece mesmo é com os pais, os tios, os avós ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 21 e até com parentes tortos. E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a meninatinha que procurar uma coelha preta para casar. O coelho não perdeu tempo e foi logo casando com uma coelha preta, que tiveram muitos filhotes de todas as cores. E quandoa coelha sai narua e alguém pergunta o seu segredo para ser tão pretinha ela responde: - Conselhos da minha madrinha. Menina bonita do laço de fita um livro que nos traz muitos questionamentos. Os professores gostam de trabalhar com esse livro por trazer uma linguagem clara e ilustrações bastante ricas tanto para Educação Infantil quanto para as primeiras séries iniciais. Esse livroé usado como forma de apresentar às crianças a valorização da cor da pele. A afirmação surge com o meu trabalho no PROALE e os vários relatos sobre o livro tão requisitado, que emgeral as crianças gostam muito da história, mas, precisamos ponderar que algumas crianças poderão sentir-se desconfortáveis ao falar sobre si e suas origens e haverá crianças que não se reconhecerão nessa história por uma negação histórica sobre os negros. Percebemos que essa história se assemelha a de muitas crianças que não passaram por um processo de construção de identidade, pois as respostas dadas pela menina sobre a sua cor, lembram o racismo que muitas crianças sofrem para justificar a sua cor negando cada vez mais a suas origens. Ainda que a menina não seja discriminada pelo coelho, que por sinal a admirava muito esta não conhecia sua origem e dava desculpas para ser tão pretinha. Acredito que o livro traz muitos pontos de partida a serem levados em conta e um deles é a importância de se trabalhar desde cedo aquela famosa atividade da árvore genealógica, traçando uma grande linha do tempo sobre o nossas origens, mostrando fotos às crianças de seus antepassados como forma de resgatar uma memória coletiva, carregada de significado sobre quem somos, ou seja, tal atividade vai além do livro, estimulando as crianças a tornarem-se pesquisadoras de si mesmas. Assim como no livro em que a mãe traz o sentindo da ancestralidade trazendo o exemplo da avó. De acordo com Martins (2011, p. 17) “Nós nos reconhecemos e nos reconstruímos na relação com o outro. O caráter relacional da identidade é o eixo que conduz nossos sentimentos, pensamentos e ações”. Valorizar a negritude a partir da literatura infantil é levar possibilidades das crianças se reconhecerem em outros referenciais. Tantos pontos de partida e tantas chegadas, a literatura nos permitetrabalhar os muitos caminhos que o livro traz e, Menina bonita do laço de fita é um exemplo disso. • As tranças de Bintou Fonte: Diouf (2010) ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 22 Bintou é uma menina negra que tinha cabelo curto e crespo. “Meu cabelo é bobo e sem graça tudo o que eu tenho são quatro birotes na cabeça”. Bintou queria tranças nos cabelos, mas a tradição de seu povo era que apenas mulheres adultas poderiam ter tranças. Bintou então aproveita a visita de sua avó e pergunta por que as meninas não podem usar tranças? Sua avó conta a história de uma menina que só pensava o quanto era bonita, e de tanto que os outros a admiravam ela se tornou vaidosa e egoísta... A avó que sabia de tudo explica que a menina irá crescer e terá muito tempo para usar tranças. Então um dia quando Bintou resolveu caminhar pela praia, ela vê dois homens prestes a se afogar, mas Bintou foi rápida e esperta pegando o caminho mais curto e mais perigoso para buscar ajuda até a vila, e assim fez. Bintou ajudou a salvar os dois homens e foi reconhecida pelo seu feito na vila. Perguntaram – “Diga-nos o que você mais deseja?” Antes que ela pudesse responder sua irmã falou: TRANÇAS. Bintou mal podia esperar pelas tranças e quando sentou no chão e sua avó passou um óleo perfumado, mas ela sentia que sua avó estava fazendo os birotes e quando terminou não tinha coragem de olhar para o espelho. Sua avó a encorajou abrir os olhos e quando Bintou abriu os olhos viu pássaros amarelos e azuis em seu cabelo. E ela falou –“Foi-se a menina sem graça com quatro birotes na cabeça. Eu sou Bintou. Meu cabelo é negro e brilhante. Meu cabelo é macio e bonito. Eu sou a menina dos pássaros no cabelo. O sol me segue e estou muito feliz”. Mais uma História que nos faz pensar a questão étnico-racial das crianças negra, e mais do que focalizar na cor da pele ou no cabelo da menina o livro traz como ponto central o brincar como forma de trazer o real motivo da infância. Sabemos que o cabelo é muito importante para a autoestima das mulheres, mas não tem que ser o alvo de nossas crianças. Estimular nos pequenos o interesse para o que vestir e como se pentear, por exemplo, os ajudaa desenvolver a autoestima e a vontade de parecerem bem e bonitos, contribuindo para a autoconfiança em várias situações sociais. O problema começa quando a vaidade torna-se excessiva, não dando espaço para serem crianças. Muitas meninas iniciam a vaidade cedo e acabam chegando ao extremo dela, com consentimento muitas vezes dos pais. A insatisfação da menina com seus birotes no começo do livro podem ser associados à insatisfação das crianças que rejeitam seu cabelo e sua beleza para serem aceitos pelos outros, impondo a si mesmo outros padrões estéticos (branco, loiro, alisado) considerados como padrões de beleza, no mundo ocidental. O livro tem ilustrações riquíssimas trazendo a beleza negra, a beleza de uma vila, de seu povo e de seus costumes com detalhes e cores vibrantes demonstrando que alegria impera nesse povo, e não vemos como de costume os estereótipos da África com fome, pobreza e outros aspectos que faz a criança repudiar e se afastar da cultura e dos saberes que a constitui. Percebemos que a ancestralidade é uma questão muito forte principalmente para ensinar aos mais novos os ritos de passagem os mitos e lendas que irão perpetuar de geração ageração. A diversidade cultural está presente no povo afrodescendente, através dosconhecimentos e valores que permeiam a vida familiar, deste modo, é importante mostrar às crianças como esses costumes surgem e a importância desses conhecimentos para a construção da nossa cultura. Entendemos nessa história como Bintou precisava da aprovação, do olhar e do cuidado do outro para sentir valorizada com os seus birotes, a diversidade pode ocorrer naturalmente quando as crianças têm bons exemplos em casa e na sala de aula. Elogios fazem parte dessa construção identitária e esse livro traz um importante ponto a ser destacado que cada criança tem sua beleza e quando essa valorização está exposta em livro infantil, por exemplo, traz como possibilidade um referencial possível de alcançar, ou seja, a criança se reconhece na literatura. Mesmo aquelas que negam ou ignoram a identidade negra, vê de forma positiva a beleza negra ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 23 sendo exaltada num livro, na atitude e nas ilustrações que despertam a belezaque por tanto tempo foi invisibilizada pela mídia, pelas indústrias de brinquedos por exemplo. É importante perceber que o ideal de beleza de Bintou são as tranças e tem sua irmã como referencial a ser seguido, apresentar o encanto e a diversidade dos cabelos negros faz com que esses indivíduos amem a si mesmo. Deste modo o problema de Bintou não era os birotes e sim os birotes sem graça. E quando todos esperavam que avó fizesse tranças Bintou apareceu com birotes enfeitados cheios de flores e pássaros, ressaltando que a beleza está em nós, basta um toque, um elogio, um cuidado especial, um incentivo e ela desabrocha como flor. Além dessa estética negra carregada de sentindo e valorização, o livro de Bintou ressalta que os ritos de passagem fazem parte da tradição presente na diversidade cultural africana e brasileira. A nossa cultura também traz diversos rituais como batizados, aniversários, ritos de passagem de aprendizado e crescimento, dentre outros que merecem ser revistos até problematizados com as crianças. As tranças de Bintou é um exemplo de literatura que nos desafia a pensar a diversidade a ser trabalhada desde a Educação Infantilcomo forma de conhecer e respeitar o outro pelo o que ele é. Bia na África Fonte: Dreguer (2007) Bia é uma menina de 8 anos com descendência africana que acompanha a sua mãe diplomata quando está prestes a morar 1 ano em Angola. Bia fica um pouco receosa com a proposta, com medo de como seria começar novas amizades, conhecer novos lugares, nova escola, mas a sua mãe consegue convencê-la. Nessa viagem Bia conhece a verdadeira África, aquela livre de estereótipos e claro se encantam por um continente cheio de belezas. Antes de chegar ao seu destino, as duas visitam o Egito, onde constatam a influência árabe na religião, na arquitetura, na língua, além de conhecerem vários monumentos. Passando pelo Quênia, observam o contraste entre a grande capital, Nairóbi e uma reserva de animais selvagens. Enfim ao chegar à Angola depois de uma viagem muito longa Bia acaba gostando de aprender mais sobre onde iria morar. Em Angola Bia frequenta a escola, faz novas amizades e vai descobrindo outra cultura, com palavras, sotaques, gostos, e sabores diferentes, mas também reconhecendo nossas raízes africanas na religião, na dança, música, alimentação, e a desigualdade social presente em ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 24 grandes cidades e países. Ao retornar para o Brasil, Bia sente-se enriquecida, sobretudo pela descoberta da imensa diversidade do continente africano e pela valorização da cultura de seus antepassados, o que desperta nela o orgulho de ser negra. Bia na África é um livro que faz parte da série Viagens da Bia que inclui os volumes “Bia na Europa” “Bia na Ásia”. Nessas viagens ela conhece as influências que os outros países trouxeram para o Brasil. Bia convida o leitor a embarcar numa viagem de descobertas e de conhecimentos sobre nossas raízes africanas vista pela lente curiosa de uma criança, que cada vez tem perguntas e descobertas a fazer. Embora o livro seja um pouco grande, ele pode ser adaptado a qualquer faixa etária ou segmento. O livro é riquíssimo em detalhes, podendo desdobrar-se em projetos, pesquisas, e até semanas culturais sobre a diversidade de jogos, palavras, músicas, danças, nomes que estão presentes na cultura brasileira e que desconhecemos o significado e sua origem. A capa do livro traz de forma bastante colorida uma imagem de uma menina negra viajando e descobrindo a África, mostrando que as crianças que lerem esse livro farão grandes descobertas. O livro é um estimulador para fazermos perguntas e ir de encontro de possíveis respostas. É legal perceber que mesmo que saibamos que exista pobreza na África, essa não ganha destaque nesse livro, pelo contrário os pontos positivos desse continente e seus países são vistos de forma rica, desconstruindo nas crianças a falsa ideia de ser “país de negros pobres que passam fome”. A ilustração do livro traz elementos culturais importantes que mostram um continentee seus países globalizados e desenvolvidos muito além dos safaris. “De onde será que vem essa visão da África que a gente tem?” Uma pergunta importante para pensarmos os pré- conceitos que acabamos por reproduzir muitas vezes no ambiente escolar. O livro é escrito a partir do olhar da Bia, que traz consigo seus medos, suas inseguranças, sonhos, e molecagens. No começo da história vemos como é composta a sua família, Bia tem os pais separados que vivem felizes suas vidas. Apesar da tendência das histórias inferiorizarem os negros e retratar o sofrimento e o trabalho escravo, nessa história os pais de Bia são muito bem sucedidos, mostrando que os negros têm êxito e sucesso no trabalho. Apresentar esses indivíduos como exemplo faz com que as crianças vejam que elas também, enquanto negras, podem alcançar cargos de alto escalão. As páginas do livro descortinam um mundo de descobertas, aulas de História e Geografia vão se configurando pela curiosidade de uma criança. Aborda a escravidão, a fome e a miséria, não como foco principal da história, afinal essas questões também fazem parte do nosso presente, das lutas por direitos que hoje temos e por isso não pode ser esquecido. Ao término da viagem Bia, ficamos com gosto de quero mais, um verdadeiro convite os professores e alunos a conhecerem mais sobre nossa cultura e mesmo que nós e nossos alunos ainda que não consigam de fato viajar até a África o livro nos mostra um dos caminhospara o conhecimento. Articulamos a partir dessa viagem tecnologia, conhecimento de mundo, curiosidade e vontade de aprender mais sobre nossa cultura, que tem como fonte a África. O livro se transborda e consegue nos levar para muitos horizontes possíveis de valorização cultural para as crianças. Apresentar uma literatura que consiga fazer a criança imaginar-se dentro dessa incrível aventura é afirmar que elas terão oportunidades de viajar o mundo. É possível ser feliz mesmo que num país racista cheio de preconceitos, que esmagam sonhos e qualquer chance de negros chegarem mais longe que o ensino médio. Ter referenciais que nos mostram meios que isso possa acontecer, ainda que em número pequeno, é fortalecer a luta pela diversidade num país que deveria ser para todos, com chances reais de crescimento, sem extinção de raça, cor e gênero. ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 25 Peppa Fonte: Rando (2009) História de uma menina que tinha cabelo no qual podemos chamar de crespo ou cacheado, um cabelo resistente e forte, tão forte que era capaz de coisas incríveis. Até a página 10, Peppa se mostrava muito feliz com o seu cabelo, mas um belo dia andava pela rua quando avistou um salão de beleza, na frente do salão havia um cartaz que deixou muito intrigada, mal podia dormir pensando como ficaria seu cabelo. Então resolveu pegar suas economias e ficar com o seu cabelo macio e lisinho, foram dezesseis horas quarenta e oito minutos até que ela pudesse ter o seu cabelo incrível! Mas ao sair do salão tinha uma lista de proibições que deveria ser seguida a risca. Peppa parecia tão triste, tudo era tão chato até que chegou o verão, o que a deixou muito irritada, pois o calor que começava lá no dedão dos pés subia até as orelhas. Ela foi ficando cada vez mais vermelha mais nervosa e insuportável e então não aguentando tanto calor, que se jogou na piscina e TCHIBUMMMM!!! E lá se foi o cabelão liso e sedoso de Peppa. Apesar da história não definir a cor da personagem, Peppa tem o cabelo do qual podemos caracterizar como cacheado ou crespo. O livro traz uma perspectiva pejorativa sobreo cabelo da personagem no qual a leva fazer coisas que uma criança na verdade não conseguiria fazer. Quem conseguiria puxar uma geladeira com o cabelo? Aparentemente com as ilustrações Peppa se mostra muito feliz com o seu cabelo forte. Mas percebemos o tom pejorativo sobre o cabelo da personagem, que faz simulações de que o cabelo de Peppa é tão duro que não consegue ser cortado com uma tesoura normal e precisa de um alicate para fazer o trabalho. As alusões que são apresentadas neste livro podem causar nas crianças um sentimento negativo sobre si mesmas, dizendo que seu cabelo é duro, que seucabelo é difícil de tratar, que seu cabelo é ruim. Quando Peppa se depara no salão de beleza com a foto de uma mulher, deseja sercomo ela. Percebemos que o processo identitário ainda é muito confuso para muitas crianças, pois esse se dá nos conflitos entre o eu e outro. Vemos que a propaganda de uma mulher de pele clara, com cabelos lisos, representa um ideal de beleza, como se nossas crianças devessem negar suas características e procurar um salão de beleza capaz de fazer esse trabalho árduo. Percorremos o livro e encontramos um salão que não está acostumado com a sua beleza e seu cabelo afro, tratando o cabelo da personagem com objetos de marcenaria, a ilustração deixa claro como a cabelereira fica exausta com dedos machucados, por tercuidadodos cabelos de Peppa. A desvalorização é tão real que o pente, a escova quebram e precisa de um alicate, ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 26 uma furadeira com lixa, materiais que de fato não encontramos nos salões de beleza, reforçando a ideia do cabelo “duro” “difícil”, não é o que o que dita à moda. O olhar espantado de todos “como se dissesse que cabelo é esse” revela o racismo velado, que crianças passam no seu dia a dia. Segundo os olhos dos outros agora sim o cabelode Peppa estava Incrível. A questão do cabelo e da estética são pontos importantes para qualquer pessoa e não seria diferente para as crianças que acabam por ficarem reféns de estereótipos e padrões estéticos a serem conquistados artificialmente. Esse livro me fazlembrar às vezes em que neguei o meu cabelo, por achar que se eu alisasse o cabelo ficaria mais bonito e seria aceita. Entender que a beleza está em cada um, do jeito que somos, faz parte de um processo longo de aceitação e qualquer alteração estética que queira mudar a nossa essência de forma violenta deve ser revista. Segundo a ilustração Peppa sai com um sorriso, que não dura muito tempo, pois, Peppa sai com uma lista de proibições que a restringe a ser criança. Qual o preço que nossas crianças precisam pagar para ter a beleza considerada legítima? O que elas estão deixando de fazer, quando impomos o preço da beleza? Considerações Finais Os livros nos trazem reflexões importantes para ser trabalhado com as crianças e paraa nossa própria formação, a começar por um debate sobre a nossa própria beleza de forma a valorizá-la com livros que realmente tragam elementos de respeito e valorização da diversidade. Levar um livro com segmento étnico não garante que o reconhecimento e a diversidade sejam trabalhados. É importante explorar cada livro ou história contada, levando os alunos a criarem seus próprios roteiros, é interessante que toda a comunidade escolar esteja envolvida para potencializar as atividades que serão previstas, para que não se torne só mais uma atividade que usou o livro como suporte metodológico. Diante das explanações em torno dos livros infantis feito acima, percebemos que o livro quando bem escolhido pode ser um aliado para aproximar as crianças dos problemas e conflitos existentes da vida, lidar com essas situações exigem um nível de amadurecimento que começa desde pequeno e perpassam os anos. Uma ajuda importante para as crianças na hora de adquirir essa compreensão pode ser vista na literatura, pois a fantasia facilita a compreensão das crianças. Conforme Silva (2010, p. 47) O papel da escola na escolha dos livros utilizados nas séries iniciais é fundamental. É responsabilidade da escola estar atenta para a escolha do acervo de sua biblioteca, devendo optar por livros que contribuam para a formação de uma identidade positiva do negro e, simultaneamente, proporcionar aos alunos não negros o contato com a diversidade e as especificidades da cultura africana, deixando, assim, para trás, uma visão estereotipada e preconceituosa das idiossincrasias dos referenciais afrodescendentes. Assim conclui-se que pensar em propostas pedagógicas com uso do livro é pensar em um trabalho literário que contemple a diversidade, que ofereça oportunidades para os pequenos leitores, no sentido de ampliar o conhecimento sobre si e sobre o outro, numa perspectiva que conhecer seja aprender a respeitar a diversidade que nos constitui. Cada livro em si, já traz diversas formas de como se abordar a questão racial, mas a forma como o trabalho será conduzido dependerá de uma consciência política dos professores e da consciência sobre o processo histórico e cultural de como o negro tem sido entendido e tratado. ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 27 A CANTIGA DE RODA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL GONÇALINA LAURA DE MAGALHÃES OZALHA TRINDADE DE SOUZA JUVELINA BATISTA SE SOUZA CRUZ RESUMO O estudo da música nas salas de aula traz benefícios ao desenvolvimento global de crianças de todas as idades, entre eles, podemos citar: a melhora da coordenação motora, a concentração e disciplina, a melhora no trabalho em equipe, o aumento da capacidade auditiva e o estímulo do raciocínio matemático. O ensino da música na educação é defendido, inclusive, em documentos oficiais, como o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI), o qual compreende a música como linguagem e área de conhecimento, possuindo conteúdos e metodologias próprias. Existem várias formas de se trabalhar com a música na educação básica. O presente artigo tratará, especialmente, sobre o gênero cantiga de roda. Esse tipo de canção é um instrumento pedagógico auxiliar no âmbito da educação infantil por juntar sons, movimentos, brincadeira e interação coletiva. Diante disso, temos como questão norteadora: A cantiga de roda é um instrumento interessante e eficiente no trabalho com a musicalização na educação infantil? Para respondê-la, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos, teses acadêmicas e documentos oficiais, que tratem da importância da música e da cantiga de roda na educação infantil. Além disso, foi realizado uma análise dos elementos musicais – letra, melodia, harmonia e ritmo – de algumas cantigas de roda. Concluímos que o trabalho com cantigas é eficiente na educação infantil por ser um convite ao movimento e à brincadeira, atividades essenciais ao desenvolvimento integral da criança. Já a análise dos elementos musicais, possibilitou observar que as cantigas de roda possuem letras curtas e repetitivas, melodias e ritmos simples que são facilmente entendidos e apropriados pelas crianças. Portanto, a cantiga de roda é uma interessante ferramenta pedagógica, ajudando no desenvolvimento das crianças de maneira lúdica, agradável e divertida. Palavras-chave: Musicalização Infantil, Educação Infantil, Cantiga de Roda. INTRODUÇÃO A presente pesquisa pretende averiguar se o gênero cantiga de roda é uma ferramenta pedagógica interessante para trabalhar a musicalização na educação infantil, através de uma pesquisa bibliográfica e da análise musical de algumas canções. O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI (BRASIL, 1998), dá ênfase para o trabalho com a música na educação infantil, trazendo orientações, objetivos e conteúdos a serem trabalhados pelos educadores. A concepção adotada pelo documento compreende a música como linguagem e área de conhecimento, possuindo conteúdos e metodologias próprias. ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 28 Nesse intuito, o gênero cantiga de roda é interessante, pois com letras, melodias, itmos, gestos simples, repetitivos e de fácil compreensão, elas são facilmente assimiladas e apropriadas pelas crianças pequenas. As cantigas são ricas em referências culturais de determinados povos, como ressalta a pesquisadora Benita Michahelles “… na simplicidade das suas melodias, ritmos e palavras, guardam séculos de sabedoria e a riqueza condensada do imaginário popular”. (MICHAHELLES, 2011, p.4). Do ponto de vista pedagógico, estes jogos infantis são considerados completos, como explica a Pesquisadora Melita Bona: Brincando de roda, a criança exercita o raciocínio e a memória, estimula o gosto pelo canto, desenvolve naturalmente os músculos aos ritmos das danças ingênuas. As artes da Poesia, da Música e da Dança uniram-se nos brinquedos de rodas infantis, realizando a síntese magnífica de elementos imprescindíveis à educação escolar. (BONA, 2006, p. 42). Porém, essa prática muito utilizada no passado, vem perdendo espaço ao longo dos anos e, hoje, raramente, observamos as crianças brincando de roda. Ademais, as cantigas vêm sendo trabalhadas de maneira descontextualizada, com a repetiçãodas mesmas canções e gestos de maneira mecânica, subaproveitando o potencial pedagógico da musicalização. Diante disso, o que se propõe nessa pesquisa é avaliar se a cantiga de roda é uma modalidade de canção pedagogicamente interessante para a educação infantil, pensando nos objetivos, justificativas e contextualizações. A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL A criança entra em contato com os sons que estão ao seu redor desde antes do seu nascimento. Os primeiros estímulos recebidos pelos pequeninos são a voz materna, conversando e cantando, a voz das pessoas que os cercam, os sons do ambiente em que vivem, da natureza, como o vento a chuva e dos animais, as músicas da televisão, rádio, e os sons gerados pelo grupo social em que estão inseridos. As crianças permeiam suas atividades com sons e músicas, cantando enquanto brincam, emitindo sons para ilustrarem suas atividades, imitando animais, carrinhos e aviões, como uma trilha sonora para a brincadeira. Portanto, esse início do processo de musicalização nos bebês e crianças se dá de forma natural. A música estimula o desenvolvimento em vários aspectos, entre eles: o aperfeiçoamento auditivo, pelo contato com os diversos estímulos sonoros, diferentes ritmos e gêneros musicais; a organização dos pensamentos, à medida que as crianças comparam as ações musicais com os sentimentos causados por elas; o aprimoramento das habilidades motoras, enquanto se movimentam, dançam e cantam para acompanhar os sons e músicas; o desenvolvimento da socialização e do trabalho em equipe, nas rodas de música, jogos musicais, uso de instrumentos de pequena percussão e cantigas de roda. O ensino da música nas escolas é defendido por estudos e documentos oficiais, entre eles as RCNEI: A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente. (RCNEI 1998, p. 45). É muito importante que a criança tenha contato com a música desde pequena, para que ela crie um vocabulário auditivo de sons e estilos musicais diversos, construindo um capital cultural importante para a formação de um indivíduo mais completo. Porém, esse trabalho deve ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 29 ser planejado, para que a criança tenha os benefícios inerentes ao estudo da música de maneira organizada, progressiva e natural, através de atividades prazerosas e estimulantes. A pesquisadora Karen Ildete Stahl Soler destaca em sua pesquisa: O código musical é apreendido pela vivência, pela familiarização, pelo contato cotidiano. Assim, ser sensível à música não é somente uma questão de gosto ou empatia, e sim ter uma sensibilidade adquirida (muitas vezes de modo pré-consciente), em que as possibilidades de cada indivíduo são trabalhadas e preparadas de modo que ele compartilhe da experiência musical, consciente ou não consciente disso. Para entender música, não basta escutar, é preciso dispor de instrumentos de percepção que permitam ao indivíduo decodificar a obra, entendê-la e aprendê-la. Quando esses instrumentos específicos não existem, o indivíduo se orienta por referenciais vindos do cotidiano que não permitem que a música, em geral, seja interpretada de acordo com sua especificidade. (SOLER, 2008, p. 17). É importante também destacar que para cada idade ou grupo de crianças, existe uma metodologia, objetos e atividades diferentes, adequadas às suas características e necessidades e que possam contribuir para o seu desenvolvimento de maneira contínua e progressiva. Para a educação infantil, a música está intimamente ligada ao gesto e ao movimento corporal. O corpo traduz a audição em movimentos. Nesse sentido, atividades que unem música e movimento, como a cantiga de roda, são importantes para essa etapa da educação. AS BRINCADEIRAS MUSICAIS Existem vários tipos de canções e brinquedos musicais, que fazem parte do universo infantil. Os documentos do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), afirmam o seguinte: Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc. (RCNEI, 1998, p. 71). Os acalantos, também conhecidos como cantigas de ninar ou cantigas de berço, são canções suaves, que acalmam, trazem aconchego e fazem as crianças adormecerem. São exemplos de acalantos: “Nana, nenê”; “Boi da Cara Preta”; “Dorme – Dorme”; “Embala José”; entre outros. Os Brincos são brincadeiras musicais rítmicas, geralmente com melodias de poucas notas (às vezes só duas, como “Serra”), que se repetem o tempo todo. Os brincos são acompanhados por movimentos corporais. São exemplos de brincos: “Serra, Serra, Serrador”; “Bambalalão” e “Palminhas de Guiné”. As Parlendas são brincadeiras rítmicas recitativas, não apresentam uma melodia, sendo que as palavras são recitadas em uma mesma nota. São exemplos de parlendas: “Hoje é Domingo”; “Barra Manteiga”; “Lá em cima do Piano”; “Adoletá”; entre outros. Cantigas de roda ou canções de roda são brincadeiras musicais, onde geralmente os participantes formam uma roda de mãos dadas e cantam canções conhecidas por todos, executando movimentos circulares com ou sem coreografias. Essas canções geralmente têm melodias, ritmos e letras simples e repetitivas, podendo ser assimiladas e reproduzidas com facilidade pelos integrantes do grupo, sejam crianças ou adultos. Nessa modalidade, as crianças usam o movimento e a brincadeira, gestos naturais e espontâneos dentro do processo de aprendizagem do universo infantil. ISSN 2764-7838 DOI - http://doi.org/10.29327/7168886 30 A CANTIGA DE RODA A cantiga de roda, como a música brasileira, é uma construção de misturas entre influências de vários povos, desde os povos originários do Brasil (indígenas), passando pelos colonizadores de diversas nacionalidades, até as influências atuais. Essa mistura é destacada pelo pesquisador Veríssimo de Melo: Influências de várias culturas, principalmente lusitana, africana, ameríndia espanhola e francesa plasmaram de tal sorte a contextura dessa cantiga infantil, que hoje não é fácil precisar, cientificamente, onde começa a influência lusitana ou termina a africana ou indígena. (MELO, 1981, p. 190). Esse gênero de canção é uma manifestação popular, na maioria de autoria anônima, passado oralmente de geração a geração. Nessa transmissão oral, as cantigas são transformadas, adaptando-se às características das crianças que brincam, como região, origem, questões sociais, habilidades das crianças envolvidas, entre outras. Apesar disso, essas canções mantém uma conexão com o tradicional, como aponta a pesquisadora Rose Marie Garcia: “A dinâmica cultural atua sobre as brincadeiras infantis, fazendo-se evoluir e adaptar-se a cada época, mantendo, contudo, os elos tradicionais”. (GARCIA 1989, p. 13). As cantigas de roda são praticadas em todas as regiões do Brasil, incorporando elementos próprios de cada local. Essas cantigas, muito executadas em outros tempos, vêm perdendo espaço na sociedade atual, de modo que quase não vemos crianças brincando com elas. Muitos são os fatores que contribuíram para a diminuição do interesse pelas mesmas, entre eles, podemos citar o uso cada vez maior das tecnologias. Televisões, computadores, tablets e celulares são objetos de uso diário de adultos e crianças, mudando comportamentos, valores e atitudes, contribuindo para o afastamento das pessoas de atividades tradicionais, como aponta a pesquisadora Monique
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