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2016 - Adriano Rodrigues de Azevedo

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UFRRJ 
INSTITUTO DE FLORESTAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICAS 
EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO 
 
 
 
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E MUDANÇAS 
CLIMÁTICAS: A IMPORTÂNCIA DA 
AGROECOLOGIA E DA APICULTURA COMO 
ALTERNATIVAS PARA MITIGAÇÃO DE 
IMPACTOS 
 
 
 
Adriano Rodrigues de Azevedo 
 
2016 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE FLORESTAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICAS EM 
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 
 
 
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A 
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA E DA APICULTURA COMO 
ALTERNATIVAS PARA MITIGAÇÃO DE IMPACTOS 
 
 
ADRIANO RODRIGUES DE AZEVEDO 
 
Sob a orientação do Professor 
André Felippe Nunes-Freitas 
 
Dissertação submetida como requisito 
parcial para obtenção do grau de 
Mestre em Ciências, no Programa de 
Pós-Graduação em Práticas em 
Desenvolvimento Sustentável. 
 
 
Rio de Janeiro, RJ 
Agosto de 2016 
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICAS EM DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL 
ADRIANO RODRIGUES DE AZEVEDO 
Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em 
Ciências, no Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável 
da UFRRJ. 
DISSERTAÇÃO APROVADA EM 26/08/2016 
André Felippe Nunes de Freitas. Prof. Dr. UFRRJ. 
(Orientador) 
Kátia Cilene Tbai.'Rof. Dr.a UFRRJ (Membro Interno) 
Gustavo Si 
	
Pereira. Prof. Dr. - IRRJ 
nbro Externo) 
iii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
363.7 
A994p 
T 
 
Azevedo, Adriano Rodrigues. 
 Produção de alimentos e mudanças climáticas: a 
importância da agroecologia e da apicultura como alternativas 
para mitigação de impactos / Adriano Rodrigues de Azevedo, 
2016. 
 86 f. 
 
 Orientador: André Felippe Nunes-Freitas. 
 Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rural 
do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas. 
 Bibliografia: f. 78-86. 
 
 1. Mudanças climáticas - Teses. 2. Agropecuária – Teses. 
3. Produção - Sustentabilidade – Teses. 4. Apicultura – 
Teses. I. Nunes-Freitas, André Felippe. II. Universidade 
Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Florestas. III. 
Título. 
iv 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"O homem, ministro e intérprete da natureza, 
faz e entende tanto quanto constata, pela 
observação dos fatos ou pelo trabalho da mente, 
sobre a ordem da natureza; não sabe nem pode 
mais... Ciência e poder do homem coincidem, 
uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se 
o efeito. Pois a natureza não se vence, se não 
quando se lhe obedece. E o que à contemplação 
apresenta-se como causa é regra na prática." 
 
 Francis Bacon, Novum Organum, 1561-1626. 
 
 
 
 
 
v 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha família e aos homens 
e mulheres que se esforçam para tornar a vida 
melhor no planeta Terra. 
vi 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Ao apoio da minha esposa Lúcia Helena Munch, psicóloga, amiga, parceira e empreendedora 
do Projeto Mel de Teresópolis. 
À toda a minha família, companheiros fraternos e amorosos de jornada. 
Ao meu orientador André Felippe Nunes-Freitas que, desde o primeiro momento em que nos 
conhecemos, trouxe-me bons ensinamentos, atitude positiva e o aterramento necessário para 
minha mente filosófica. 
Aos doutos professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 
Ao Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável 
Às abelhas, um exemplo para a humanidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
vii 
 
RESUMO 
 
 
AZEVEDO, Adriano Rodrigues. Produção de alimentos e mudanças climáticas: a 
importância da agroecologia e da apicultura como alternativas para mitigação de 
impactos. Dissertação (Mestrado em Práticas em Desenvolvimento Sustentável). Instituto de 
Florestas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2016. 
 
Este estudo parte da análise de dados do Quinto Relatório do Painel Intergovernamental sobre 
Mudanças Climáticas – IPCC, que apresenta de forma científica as implicações que o 
aquecimento global terá sobre os ecossistemas terrestres e a sociedade humana. A partir destes 
dados, em dois capítulos, foram analisados os prós e os contras da grande agropecuária 
convencional brasileira em relação à necessidade de adaptação ao atual cenário de mudanças 
climáticas. O fato do Brasil ser um dos maiores produtores alimentícios do planeta eleva o seu 
nível de importância nas discussões globais. As análises indicam que ao mesmo tempo em que 
a agropecuária contribui para a estabilidade econômica e alimentar do país, representa um 
poderoso atraso nas ações de preservação ambiental, diminuição de emissões, transição 
agroecológica e conservação da biodiversidade. Por meio de dados oficiais e revisão teórica, 
constatou-se também um grave declínio de polinizadores no mundo e o grau considerável de 
dependência destes pelas culturas brasileiras. Dentre os polinizadores, a abelha Apis mellifera 
é a que mais se destaca e traz mais benefícios para a espécie humana, sendo necessária para a 
manutenção da produção alimentícia mundial e para o bem estar humano e animal, através de 
diversos tipos de serviços ecossistêmicos. Pelo alto nível de envolvimento do Brasil com a 
agropecuária convencional, concluiu-se que dificilmente ocorrerá uma transição agroecológica 
significativa no curto ou médio prazo, o que fortalece a necessidade de se incrementar a 
apicultura e a agroecologia nacionais – ainda insuficientes – como forma de se minimizar os 
impactos do aquecimento global e gerar mais condições de adaptação. 
 
 
Palavras chave: Mudanças climáticas, agropecuária, produção sustentável e apicultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
viii 
 
ABSTRACT 
 
 
AZEVEDO, Adriano Rodrigues. Food production and climate change: the importance of 
agroecology and beekeeping as impact mitigation alternatives. Dissertation (Masters in 
Practice in Sustainable Development). Institute of Forestry, Rural Federal University of Rio de 
Janeiro, Seropédica, RJ, 2016. 
 
This study is the analysis of data from the Fifth Intergovernmental Panel on Climate Change 
(IPCC) Report, which presents scientifically the implications that global warming will have on 
terrestrial ecosystems and human society. From these data, in two chapters, the pros and cons 
of large Brazilian conventional farming on the need to adapt to the current scenario of climate 
change were analyzed. The fact that Brazil is one of the largest food producers in the world 
raises its level of importance in global discussions. The analyzes indicate that while agriculture 
and livestock contributes to economic stability and the country's food, is a powerful delay in 
the actions of environmental conservation, reduced emissions, agroecological transition and 
biodiversity conservation. Through official data and theoretical review also found themselves 
a serious decline of pollinators in the world and the considerable degree of dependence of these 
by Brazilian cultures. Among the pollinators, Apis mellifera honeybee is the one that stands out 
and brings more benefits to the human species, is necessary for maintaining global food 
production and human and animal well-being, through various types of ecosystem services. 
Because the high level of involvement of Brazil with conventional agriculture and livestock, it 
was concluded that hardly occur a significant agroecological transition in the short or medium 
term, which strengthens the need to improve apiculture and national agroecology - still 
insufficient - as a way of minimize the impacts of global warming and generatemore conditions 
to adaptation. 
 
 
Keywords: Climate change, agriculture, sustainable production and beekeeping. 
 
 
 
 
 
 
ix 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
ABEMEL – Associação Brasileira de Exportadores de Mel 
ANA – Agência Nacional de Águas 
APIMONDIA – Federação internacional de apicultores (sigla em inglês) 
AR5 – Fifth Assessment Report 
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social 
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CCD – Colapso da Desordem das Colônias (sigla em inglês) 
CI – Conservação Internacional (sigla em Inglês) 
CIAPO - Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica 
CNAPO – Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica 
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (sigla em inglês) 
FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável 
GEE – Gás do efeito estufa 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária 
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 
IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (sigla em inglês) 
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário 
MMA – Ministério do Meio Ambiente 
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
ONG – Organização Não Governamental 
PFT – Produtividade de Fator Total 
PIB – Produto Interno Bruto 
PLANAPO - Plano Nacional da Agroecologia e Produção Orgânica 
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (sigla em inglês) 
SDGS – Susteinable Development Goals 
USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (sigla em inglês) 
WWF – Fundo Mundial da Natureza (sigla em inglês) 
 
x 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO 01 
CAPÍTULO 1 - Relações entre agropecuária extensiva brasileira, aquecimento global e a 
importância da biodiversidade para a produção de alimentos 09 
1.1 - O IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas 09 
1.2 - Emissões e aquecimento global – AR-5 10 
1.3 - Contribuição da agropecuária no aquecimento global e na degradação ambiental 16 
1.4 - A contradição brasileira: grande produtor, grande poluidor 20 
1.5 - Relações entre desmatamento e agropecuária extensiva na Amazônia 24 
1.6 - Sinais contraditórios nas políticas públicas brasileiras 27 
1.7 - A importância das abelhas e outros polinizadores na segurança alimentar 30 
1.8 - Conclusão 34 
CAPÍTULO 02 - Objetivos do desenvolvimento sustentável, produção orgânica e 
agroecológica e contribuição apícola para a produção de alimentos no Brasil 36 
2.1 - Um breve histórico sobre desenvolvimento sustentável 36 
2.2 - Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 38 
2.3 - Relações entre os Objetivos 2 e 12: combate à fome, produção sustentável de alimentos e 
consumo consciente 41 
2.4 - Produção agroecológica e orgânica no Brasil 47 
2.5 - Relação entre produção convencional e agroecológica/orgânica no Brasil 56 
2.6 - Serviços ecossistêmicos e abelhas 61 
2.7 - Apicultura, meliponicultura e produção alimentar brasileira 68 
2.8 - Conclusão 75 
CONCLUSÃO GERAL 76 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78 
1 
 
INTRODUÇÃO 
 
Aristóteles inicia sua reflexão na famosa obra Metafísica elencando a sapiência como 
conhecimento das causas e afirma que todos os homens, por natureza, tendem ao saber 
(ARISTÓTELES, 2002). Ainda neste conjunto de textos, escritos no Século IV A.C., o filósofo 
dá primazia ao sentido da visão, como aquele que proporciona mais conhecimentos do que 
todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas. 
Ora, dentro da história conhecida, o homem do século XXI conta com o mais incrível 
aparato tecnológico, inimaginável há até poucas décadas atrás. Não só palavras, mas imagens 
em tempo real, povoam o dia a dia de uma grande parte das cidades do planeta, através dos 
mais diversos aparelhos eletrônicos. Mesmo os melhores discursos – que guardam o seu valor 
– se ofuscam diante da realidade vista, e a realidade hodierna é que o planeta está passando por 
acelerada transformação plurisetorial, em grande parte, causada pelo próprio homem (IPCC, 
2013). Certamente, o Século XXI será palco de grandes mudanças na biosfera e a visualização 
destes efeitos tornou-se fácil e democrática pelo advento da rede global. 
Esta pesquisa pauta-se em tríplice expediente que consiste em: análise de dados do 
quinto e último relatório do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o 
AR5. As diretrizes deste relatório atualizado foram usadas como ferramenta orientadora para 
avaliar a coerência ou não de determinadas práticas produtivas e de consumo em um cenário de 
aquecimento global; análise de dados relativos a parte da produção extensiva de alimentos no 
Brasil, bem caracterizada na grande agropecuária brasileira, com suas potencialidades tanto 
para assegurar a segurança alimentar1 como para gerar enorme destruição de ecossistemas e 
elevadíssimo nível de emissão de gases do efeito estufa; e análise de produções rurais 
consideradas sustentáveis em conjunto com o aporte de símbolos e práticas sociais que teóricos 
ambientalistas e ecologistas apresentam como alternativa à transição de modelos predatórios de 
produção para outros que se adequem aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, 
estabelecidos pela ONU através de 17 SDGs – Sustainable Development Goals (UNITED 
NATIONS, 2014). Por último, realizou-se reflexão sobre os resultados encontrados, no intuito 
de se construir entendimento a respeito da adequação ou não das práticas produtivas rurais 
brasileiras ao que seria desejável como modelo agroecológico de baixa emissão de gases do 
 
1 Entende-se por segurança alimentar a garantia de acesso a alimentos de qualidade, na quantidade suficiente para 
suprir todas as necessidades nutricionais humanas. 
2 
 
efeito estufa, fator imperativo para que, globalmente, se atinja a difícil meta de aumento de 
somente 2º C na temperatura média planetária, em relação ao período pré-industrial (IPCC, 
2013). 
O Quinto Relatório do IPCC, apresentado em 2013, reforça os prognósticos já 
mostrados no relatório Quatro, de 2007. É extremamente provável2 que a origem do 
aquecimento global atual seja antropogênica. Mesmo os cenários mais otimistas, construídos 
através do trabalho conjunto de milhares de cientistas de todo o mundo, indicam acelerada 
continuidade no degelo no Ártico, na Antártica e na Groelândia, acidificação e elevação de 
oceanos, aumento de eventos extremos, mais secas e inundações, perdas irreparáveis na 
biodiversidade e uma série de desdobramentos que atingem a produção de alimentos e geram 
desequilíbrio social (IPCC, 2007). Desde a primeira Conferência da ONU sobre o Meio 
Ambiente, em 1972, na Suécia, já se realizaram até o momento vinte Conferências Mundiais 
(COPs) abrangendo ambiente e clima e observa-se um crescente envolvimento da sociedade na 
busca de informações e soluções. Portanto, o estado de conhecimento atual sobre o tema é 
amplo, democrático e largamente difundido pelos mais diversos meios, sejam públicos ou 
acadêmicos. Todavia, esta pesquisa revela um descompasso entre a quantidade de informações 
públicas fornecidas e a capacidade de resposta sincronizada entre governos, grupos de interesse 
e cidadãos na direção do que seria um turning point, um verdadeiro ponto de mutação (CAPRA, 
2004) no que se refere à maneira de se produzir e consumir alimentos. 
Para Marengo (2014), as projeções de clima para o futuro indicam mais processos 
dinâmicos ocorrendo na atmosfera, com aumento de umidade e ventos extremos, além de outros 
fenômenos com maior frequência e intensidade.Como consequência, empresas e produções 
sofrerão direta ou indiretamente os efeitos do aquecimento global. Isso porque, se por um lado, 
torna-se mais difícil manter os níveis de produção e operacionalidade, por outro, passa a ocorrer 
maior pressão por parte dos consumidores para a constante implementação de práticas mais 
sustentáveis. 
Em importante levantamento realizado pela Fundação Brasileira para o 
Desenvolvimento Sustentável – FBDS sobre a relação das mudanças climáticas e eventos 
extremos, Silveira Pinto (2014) mostra que devido ao impacto causado pela elevação da 
temperatura, das nove culturas responsáveis por 85% do PIB da agroindústria brasileira, 
somente a cana de açúcar deverá aumentar sua área potencial de cultivo até 2050. De acordo 
 
2 Extremamente provável: possibilidade de ocorrência entre 95% a 100% 
3 
 
com pesquisa realizada por Assad e Pinto (2008), caso não ocorram inovações tecnológicas 
significativas, todas as outras culturas deverão perder algo em torno de 15% de sua área de 
cultivo. O pior cenário seria para a soja, com perdas de aproximadamente 35% de área útil. 
 Lutzenberger (2001), pensador e ambientalista brasileiro, destaca o contrassenso em se 
destruir florestas nativas para o plantio moderno de soja destinada à ração animal do mercado 
exterior. Acrescenta que, no sul do Brasil, até o final do século XX, a grande floresta subtropical 
do vale do Uruguai foi completamente devastada e queimada para a implementação da 
monocultura. Obviamente, justapondo-se à incrível perda de biodiversidade, deve-se considerar 
também o elevado nível de emissão deste modelo produtivo e sua contribuição para o 
aquecimento global. 
Em uma ampla pesquisa realizada em 782 municípios da região norte do país, Rivero et 
al. (2009) concluem que a pecuária bovina é a atividade produtiva que mais se utiliza de solos 
dos estados que compõem o bioma amazônico e por isso representa a maior fonte de impacto 
em toda a região. Seus dados revelam que a pecuária é a causa mais direta do desmatamento na 
Amazônia e que o crescimento da agricultura de grande porte acaba por potencializar o impacto 
da atividade sobre o desflorestamento. Como em boa parte do território nacional, pratica-se a 
pecuária de baixa densidade e pouco investimento, fato que corrobora para a contínua expansão 
e invasão de novas áreas, que são desmatadas e queimadas rusticamente para o plantio de pastos, 
causando enorme perda de biodiversidade e emissão de gases do efeito estufa. 
Já Fernandes et al. (2011), em estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa 
Agropecuária – EMBRAPA, pondera que, apesar da pecuária contribuir com 22% das emissões 
totais no planeta (70 a 100 milhões de toneladas/ano), especialmente pela emissão de Metano, 
há que se haver maior equidade na divulgação de aspectos negativos da grande pecuária 
brasileira, posto que além de representar uma importante fonte de divisas para o pais, contribui 
de forma substancial para a segurança alimentar global, tanto pela proteína da carne como pelo 
leite e seus derivados. Uma reflexão interessante sobre as possíveis causas da incessante força 
interventiva do homem científico sobre a natureza é feita por Walter (2008), quando faz crítica 
ao que entende como “deficiência do Iluminismo racionalista” em incorporar a ideia de que as 
relações humanas não se dão somente em função de interesses imediatos, quando há mediação 
homem-natureza(técnica), mas também no campo das relações intersubjetivas, onde ocorre 
todo um processo simbólico de significação (relação homem-homem), e bens intangíveis, 
culturais e até imateriais passam a ser considerados em outras instâncias de valoração. 
4 
 
Do ponto de vista de uma economia mais ampla, Novaes (2008) revela a incongruência 
na formação dos custos da grande agropecuária, nos quais nunca são contabilizados realmente 
os múltiplos danos que a atividade causa ao meio ambiente, ao clima e até mesmo à sociedade. 
Segundo o autor, o próprio modelo moderno mecanizado e a automação de processos acabam 
forçando um contínuo deslocamento campo-cidade, exacerbando nos centros urbanos inflados 
todos os tipos de demandas sociais que geram custos bilionários, fato que raramente é associado 
como um efeito direto das escolhas produtivas no interior do país. 
Diante da evidência do atual quadro climático planetário tornar-se uma ameaça real a 
ser considerada pelos governos, May (2014) aponta sinais contraditórios nas políticas nacionais 
em relação ao enfrentamento de interesses e circunstâncias que seguem na direção contrária ao 
que seria desejável para implementação de atividades sustentáveis. De fato, sendo a grande 
agropecuária tão poluente e destrutiva (FAO, 2006) e, mesmo assim, ocupar um espaço tão 
gigantesco num país continental como o Brasil, contando com todo apoio governamental para 
sua expansão, não é difícil vislumbrar a incerteza do cenário ambiental brasileiro. 
Por outro lado, destacam-se importantes iniciativas que, a partir da década de 60, vêm 
surgindo e abrindo caminho no cenário ordinário mundial através dos movimentos 
socioambientais, ecológicos e teóricos em favor de uma grande mudança de paradigma 
(CAPRA, 2004), no que diz respeito à forma de interação entre homem e meio ambiente. Estes 
precursores trazem, em diversas linhas de ação e pensamento, opções de enfrentamento para o 
problema ambiental em consonância com a sociedade, problema que acabou por tomar uma 
proporção inimaginável. 
A Ecologia Social (BOOKCHIN, 2004), a Ecologia Profunda (NAESS, 1973), a 
agroecologia (LUTZENBERGER, 2001), o movimento orgânico, a apicultura e a 
meliponicultura como formas de preservação ecológica e manutenção de polinizadores 
(WIESE, 1987; IMPERATRIZ-FONSECA, 2012), o fortalecimento da agricultura familiar 
(MDA - PRONAF), o reconhecimento de culturas e conhecimentos ancestrais (DIEGUES, 
1994) e a própria ruralidade (CARNEIRO, 2012) vêm formando uma base de apoio para a 
confluência de novas energias que precisam emergir no cenário de discussão globalizado. Uma 
vez que a problemática ambiental é mundial, se observará que esta “ciência em formação” é, 
por natureza, interdisciplinar e interativa, mobilidade importantíssima para a adaptação rápida 
às recorrentes transformações que as mudanças climáticas globais estão causando na biosfera e 
na sociedade (McCORMICK,1992). 
5 
 
De acordo com Quarto Relatório do IPCC (2007), o potencial de mitigação é estimado 
com o uso de diferentes tipos de abordagens. As abordagens bottom-up baseiam-se na avaliação 
das opções de mitigação, ressaltando as tecnologias e regulamentações específicas. São estudos 
tipicamente setoriais, sem mudanças macroeconômicas. Já os estudos top-down avaliam o 
potencial econômico das opções de mitigação. Usam quadros coerentes do ponto de vista global 
e informações agregadas sobre as opções de mitigação, captando as respostas macroeconômicas 
e do mercado (IPCC, 2007). 
Tanto os estudos bottom-up quanto os estudos top-down indicam que há um potencial 
econômico substancial para a mitigação das emissões globais de gases de efeito estufa ao longo 
das próximas décadas, o qual poderia compensar o crescimento projetado das emissões globais 
ou reduzir as emissões para níveis inferiores aos atuais (IPCC, 2007). Em outras palavras, 
existem possibilidades econômicas viáveis e oportunidades na readequação dos sistemas de 
produção e consumo rumo aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (UNITED 
NATIONS, 2015). 
Dessa forma, a justificativa deste estudo repousa na necessidade premente de se “lançar 
luzes” sobre os processos produtivos no campo brasileiro, uma vez que, somadas, agropecuária 
e mudanças no uso da terra geram aproximadamente 61,20 % das emissões do país (SEEG, 
2013) e parece recorrente a construção midiática de que esses setores “seguram” a economiado Brasil, enquanto o custo ambiental desses espaços naturais tomados e transformados de 
maneira extremamente agressiva acaba, sub-repticiamente, escamoteado, tanto para a opinião 
pública, como na própria formação do preço de venda das commodities para exportação 
(ACSELRAD, 2004). Em outras palavras, ainda que o volume de informações sobre mudança 
do clima e produções rurais seja elevado, nem de longe verifica-se no Brasil – e porque não 
dizer, no mundo – uma posição confortável e coerente em relação ao tamanho do desafio 
climático. Certamente, quanto mais relações forem feitas entre os dados científicos e as práticas 
humanas, mais ferramentas de apoio se construirão na direção da mitigação e da adaptação ao 
aquecimento global, finalmente encarado como uma realidade pela maioria das pessoas e 
instituições. 
De forma sincera, mas sem a pretensão de esgotar o assunto, este estudo espera 
contribuir com mais um “fio” para a construção dessa nova teia (CAPRA, 2004) de identidades 
(CASTELLS, 1999) em torno de alternativas viáveis para produção de alimentos, que sejam 
menos invasivas à biodiversidade, aos ecossistemas e à vida, e mais coerentes com os dados 
científicos apresentados pelo IPCC, que indicam reiteradamente a necessidade imediata de 
6 
 
mudança estratégica. Para isso, se valeu de referencial teórico atualizado, tanto da academia, 
como de órgãos oficiais e organizações sociais do terceiro setor que elucidassem os pontos 
positivos e negativos de considerável parte das produções alimentícias nacionais no campo. 
Nesse sentido, partindo do pressuposto de que a agropecuária extensiva no Brasil, a 
despeito dos danos ambientais e climáticos que gera, ocupa uma posição de grande destaque na 
economia e nas práticas produtivas nacionais e que o próprio governo federal fomenta e apoia 
a sua manutenção e expansão – inclusive com financiamentos –, essa pesquisa encontra 
sustentação para elaborar a seguinte hipótese: 
Mesmo com um reconhecido protagonismo no cenário internacional quanto ao 
enfrentamento das mudanças climáticas e ações socioambientais consideradas positivas, 
observa-se ainda uma resposta insuficiente por parte dos atores nacionais no que se refere 
aos desafios que a adaptação a um sistema de aquecimento global exige, empurrando os 
objetivos de um cenário brasileiro mais sustentável para um futuro distante e incerto. 
A construção deste objeto de pesquisa – no caso a análise de práticas produtivas rurais 
brasileiras e sua coerência em relação aos cenários apresentados pelo Quinto Relatório do IPCC 
(AR5) – vem de encontro ao conjunto de esforços da sociedade para gerar condições de 
mitigação e adaptação às negativas consequências da mudança do clima em praticamente todos 
os setores do planeta. Para isso, a pesquisa serve-se de dois vieses: análise crítica de práticas 
produtivas com alto poder de interferência e emissão; e análise crítica de modelos produtivos 
agroecológicos que se integrem mais harmonicamente à paisagem e emitam menos, elencando-
os como alternativas socioambientais viáveis ou não. 
Diante da complexidade do caso brasileiro, esta dissertação tem como objetivo: 
Analisar se a grande agropecuária extensiva do Brasil direciona-se de alguma forma 
para o desenvolvimento sustentável em áreas importantes como meio ambiente, sociedade e 
economia, elencando os prós e os contras destas produções e sua coerência ou não em relação 
à realidade de aquecimento global demonstrada no quinto relatório do IPCC. Dessa forma, em 
contraponto, o estudo visa avaliar os seguintes objetivos específicos: 
1) apresentar dados de práticas produtivas sustentáveis que vêm desempenhando um 
papel de protagonismo na busca do desenvolvimento sustentável; 
7 
 
2) analisar criticamente o cenário brasileiro no que tange às formas de produção de 
alimentos e práticas socioambientais, na busca de soluções mais sustentáveis dentro de um 
quadro de mudanças climáticas. 
 
A estrutura desta dissertação é formada por introdução, dois capítulos e considerações 
finais. O primeiro capítulo trata dos seguintes tópicos: contextualização abrangente sobre os 
dados do Quinto relatório do IPCC, incluindo prognósticos e cenários; consequências das 
mudanças climáticas globais na sociedade, economia e segurança alimentar; as relações da 
grande agropecuária brasileira com o meio ambiente e a mudança do clima; prós e contras da 
agropecuária extensiva para economia, para o meio ambiente e para o clima; contradições de 
algumas políticas públicas brasileiras no que tange ao financiamento de atividades altamente 
emissoras de gases do efeito estufa; painel sobre a importância vital dos polinizadores na 
produção de alimentos, em especial das abelhas Apis mellifera; quantificação parcial de 
resultados do serviço ecossistêmico realizado pela polinização apícola; apresentação das 
características do CCD – Síndrome do Colapso das Colônias e sua grande ameaça; e 
consequências que um sumiço generalizado de abelhas Apis mellifera causaria na segurança 
alimentar mundial. 
Em contraposição à problemática levantada no primeiro capítulo, o segundo capítulo 
apresenta: contextualização dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (SDGs) 
propostos pela ONU; análise sobre a abrangência possível do que seja sustentabilidade; 
simbologias e identidades que se criam em torno de práticas sustentáveis; distinção entre 
agroecologia e produção orgânica; novas possibilidades na produção alimentícia brasileira; 
exemplos de produções consideradas sustentáveis e análise de seu grau de colaboração na 
segurança alimentar brasileira; a atual abrangência produtiva da agroecologia no Brasil; 
oportunidade produtiva apícola em relação às diretrizes do Novo Código Florestal Brasileiro; e 
produção de produtos apícolas e produções agrícolas polinizadas como incremento importante 
na qualidade e quantidade produtiva alimentícia. 
A metodologia utilizada na formatação desta dissertação baseou-se no estabelecimento 
de referencial teórico multidisciplinar, análise de dados de órgãos oficiais nacionais e 
internacionais e pesquisa bibliográfica sobre os temas relacionados. A construção da síntese 
buscou o atingimento dos objetivos na relação dos dados encontrados e o referencial teórico 
escolhido. O formato de escrita seguiu o constructo da “narrativa em capítulos”, conforme 
8 
 
manual de teses e dissertações da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A escolha foi 
intencional, uma vez que é notória a natureza transdisciplinar do Programa de Pós-Graduação 
em Práticas em Desenvolvimento Sustentável, onde, inclusive, são considerados diferentes 
tipos de produto final para a conclusão de curso. 
O formato prevê fluidez na apresentação dos dados, com uma introdução mais 
abrangente, englobando visão geral da pesquisa realizada, objeto de pesquisa, estado atual do 
conhecimento, justificativa do trabalho, contribuição esperada, objetivos, hipótese e escolhas 
metodológicas. Na sequência, o conteúdo e a discussão são apresentados em dois capítulos com 
suas conclusões e as considerações finais como síntese, seguidas de todas as referências 
bibliográficas. 
Na tentativa de promover um diálogo entre disciplinas como geografia, biologia, 
sociologia, climatologia e ecologia, dados quantitativos são apresentados na fluência da 
narrativa que intenta evidenciar problemas e possíveis soluções em caráter qualitativo. Optou-
se por manter as figuras e os quadros em conjunto com a parte escrita, formando um todo lógico. 
Longe portanto de ter a pretensão de esgotar assuntos tão complexos, envolvidos na realidade 
atual numa espécie de teia relacional que se transforma constantemente (CAPRA, 2004), esta 
pesquisa utiliza-se da interdisciplinaridade (PIAGET, 1983) como um meio para, a exemplo da 
física quântica, vislumbrar conjuntos de “possibilidades” melhores como fim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
CAPÍTULO1 
 
Relações entre agropecuária extensiva brasileira, aquecimento global e a importância da 
biodiversidade para a produção de alimentos 
 
1.1 – O IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas 
É um fato social (DURKHEIM, 1974)3 bastante reconhecido o advento da temática 
ambiental na vida cotidiana das pessoas, de forma crescente e irreversível. Há mais de uma 
década, pesquisas apresentadas pelo IPCC apontam na direção de que o aquecimento do sistema 
climático terrestre é uma realidade, devido especialmente ao aumento contínuo nas emissões 
antropogênicas de gases do efeito estufa (GEE), a partir 1950 (IPCC, 2013). Essas emissões 
ocorrem de maneira natural na dinâmica planetária, mas atividades humanas como 
desmatamento, grandes monoculturas fertilizadas, pecuária, geração de energia não sustentável 
e utilização de combustíveis fósseis, contribuem exponencialmente no lançamento de gases 
como o Metano (CH4), o Dióxido de Carbono (CO2) e o Óxido Nitroso (N2O) na atmosfera. O 
acúmulo destes gases forma uma camada que dificulta que o excesso de raios solares seja 
refletido da superfície de volta ao espaço em forma de radiação infravermelha, gerando 
elevação na temperatura média do planeta, com consequências em todo o conjunto da 
biodiversidade (MARENGO, 2014). 
O IPCC é o principal organismo internacional de análise sobre as mudanças climáticas 
e conta com a colaboração de mais de 2.500 cientistas de todo o mundo. Ele foi criado através 
de importante esforço entre a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das 
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o objetivo de transmitir informações 
científicas claras e atualizadas sobre as potencialidades ambientais e socioeconômicas da 
mudança do clima. Para isso, subdivide-se em três grupos de trabalho: 
Grupo 1: avalia os aspectos científicos do sistema climático e as mudanças do clima. 
Grupo 2: avalia a vulnerabilidade dos sistemas naturais e socioeconômicos às mudanças do 
clima, as consequências negativas e positivas dessas mudanças e as opções para a adaptação a 
elas. 
 
3 Parte-se da consideração que as mudanças climáticas atuam sobre a sociedade de forma geral, exterior e 
coercitiva. 
10 
 
Grupo 3: avalia as opções para limitar as emissões de GEE e outras formas de mitigação das 
mudanças do clima. 
 
Nessas avaliações, o termo “provável” é usado para indicar a probabilidade de 
ocorrência maior que 66%; “muito provável”, uma probabilidade maior que 90%; e 
“extremamente provável”, uma probabilidade acima de 95%. Para efeito deste estudo, utilizou-
se somente uma parte dos dados do Quinto Relatório do IPCC, especialmente do grupo de 
trabalho 1, visando-se a contextualização destas informações com a segunda parte do objeto 
desta pesquisa, que relaciona os impactos gerados pela produção de alimentos na grande 
agropecuária brasileira com os dados do IPCC. 
 
1.2 - Emissões e aquecimento global – AR5 
 
 No final de setembro de 2013, foi apresentada a contribuição do Grupo 1 ao Quinto 
Relatório de Avaliação (AR5) (IPCC, 2013). Reiterando dados do Quarto relatório, o estudo 
reafirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde 1950, muitas das 
mudanças observadas não têm precedentes em décadas ou milênios. Os oceanos e a atmosfera 
se aqueceram, a quantidade de gelo e neve diminuíram, o nível do mar se elevou e as 
concentrações de GEE aumentaram. Cada uma das últimas três décadas tem sido 
sucessivamente mais quentes na superfície terrestre do que qualquer década anterior desde 1850 
(IPCC, 2013). No Hemisfério Norte, o período 1983-2012 constitui provavelmente os trinta 
anos mais quentes dos últimos 1.400 anos (CONS. LEG., 2013). Na Figura 1, pode-se verificar 
a variação no período: 
 
11 
 
 
 Figura 1: elevação da temperatura anual a partir do ano 1850. Fonte: IPCC Fifth Report Grafics, 
2013. 
 
 Dados do Quinto Relatório levando em conta cálculos em tendência linear, revelam que 
a temperatura média global do oceano e da terra mostra aumento de 0,85 {0,65 a 1,06} ºC no 
período 1880-2012. O aumento total entre a média do período 1850-1900 e do período 2003-
2012 é 0,78 {0,72 a 0,85} ºC. Mudanças em muitos eventos extremos de tempo e clima têm 
sido observadas desde 1950. É muito provável que o número de dias e noites frios tenha 
diminuído e o número de dias e noites quentes tenha aumentado em escala global (IPCC, 2013). 
 Em relação aos oceanos, destacam-se os seguintes números: 
 O aumento na energia armazenada no sistema climático é dominado 
pelo aquecimento dos oceanos, contribuindo com mais de 90% da energia 
acumulada entre 1971 e 2010. Em escala global, o aquecimento dos oceanos é 
maior próximo à superfície, sendo que a camada dos 75 m superiores se aqueceu 
em 0,11 {0,09 a 0,13} ºC por década, no período 1971-2010 (IPCC, 2013. 
Summary for policymakers, p.8). 
 Considerando as duas últimas décadas, as camadas de gelo da 
Groenlândia e Antártida perderam massa, os glaciares continuaram a encolher 
por todo o mundo e o gelo do mar Ártico e a cobertura de neve do Hemisfério 
Norte continuaram a diminuir em extensão. A taxa média de perda de gelo da 
camada de gelo da Antártida provavelmente aumentou de 30 {-37 a 97} Gt/ano 
12 
 
no período 1992-2001 a 147 {72 a 221} Gt/ano no período 2002-2011 (IPCC, 
2013. Summary for policymakers, p.9). 
 É muito provável que a extensão média anual do mar Antártico tenha 
aumentado à taxa de 1,2% a 1,8% por década (variação de 0,13 a 0,20 milhão 
km2 por década) entre 1979 e 2012. A taxa de aumento do nível do mar desde 
meados do Século XIX tem sido maior que a taxa média durante os dois 
milênios anteriores. No período 1901-2010, o nível do mar médio global 
aumentou em 0,19 {0,17 a 0,21} m. Os dados e aproximações do nível do mar 
indicam uma transição no final do Século XIX ao início do Século XX de taxas 
médias relativamente baixas de aumento em relação aos dois milênios 
anteriores a taxas maiores de aumento. É provável que a taxa média global de 
aumento do nível do mar tenha continuado a aumentar desde o início do Século 
XX. É muito provável que a taxa média do aumento global do nível do mar foi 
de 1,7 {1,5 a 1,9} mm/ano entre 1901 e 2010, 2,0 {1,7 a 2,3} mm/ano entre 
1971 e 2010 e 3,2 {2,8 a 3,6} mm/ano entre 1993 a 2010 (IPCC, 2013. Summary 
for policymakers, p.9). 
 No que se refere às emissões de gases do efeito estufa, fato que guarda estreita relação 
não só com as práticas sociais de consumo, mas também com as formas de produção, o AR5 
apresenta dados bastante preocupantes: 
 As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido 
nitroso aumentaram a níveis sem precedentes no mínimo nos últimos 800.000 
anos. As concentrações de CO2 aumentaram em 40% desde a época pré-
industrial; primariamente, pela emissão de combustíveis fósseis e, 
secundariamente, pelas mudanças do uso da terra. O oceano tem absorvido 
cerca de 30% das emissões antropogênicas de dióxido de carbono, causando sua 
acidificação. As concentrações atmosféricas dos GEE dióxido de carbono, 
metano e óxido nitroso aumentaram todas desde 1750 devido à atividade 
humana. Em 2011, as concentrações desses três gases foram 391 ppm4, 1803 
ppb5 e 324ppb, e excederam os níveis pré-industriais em 40%, 150% e 20%, 
respectivamente (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.11). 
 De 1750 a 2011, as emissões de CO² da combustão de combustíveis 
fósseis e da produção de cimento liberaram 365 {335 a 395} GtC para 
atmosfera, enquanto o desmatamento e outras mudanças no uso da terra 
 
4 Ppm: Parte por milhão. 
5 Ppb: Parte por bilhão. 
13 
 
liberaram 180{100 a 260} GtC. Isso resulta em emissões antropogênicas 
cumulativas de 545 [460 a 630] GtC. Dessas emissões antropogênicas 
cumulativas de CO², 240 {230a 250} GtC se acumularam na atmosfera, 155 
{125 a 185} GtC foram absorvidas pelo oceano e 150 {60 a 240} GtC se 
acumularam nos ecossistemas terrestres naturais (IPCC, 2013. Summary for 
policymakers, p.12). 
 Foi detectada influência humana no aquecimento da atmosfera e do oceano, em 
alterações no ciclo global da água, em reduções no gelo e neve, na elevação do nível médio do 
mar e em mudança em alguns eventos climáticos extremos. Essa evidência da influência 
humana cresceu desde o 4º Relatório. É extremamente provável que ela tenha sido a causa 
dominante do aquecimento observado desde meados do Século XX (IPCC, 2013). A Figura 2 
mostra que já havia evolução de emissões antrópicas desde o Quarto relatório do IPCC. 
 
 
Figura 2 - Emissões antrópicas globais dos principais gases de efeito estufa entre 1970 e 2004, 
em Giga-toneladas (bilhões de toneladas) de CO2-eq por ano. Fonte: IPCC, AR4, WG3, 2007. 
 
14 
 
 Entre boa parte das informações disponíveis sobre o clima terrestre, é bastante 
recorrente o entendimento de que as emissões continuadas de GEE causarão mais aquecimento 
e alterações em todos os componentes do sistema climático. Para limitar as mudanças do clima, 
serão necessárias reduções substanciais e sustentadas de emissões em todo o planeta (IPCC, 
2013), fato que só é possível através de ações globais de governos e cidadãos, independente de 
classe, religião ou direcionamento político. Todavia, a partir do momento em que isso aconteça, 
os atuais efeitos ainda perdurarão por décadas ou séculos. 
Dentre algumas das perspectivas climáticas globais alcançadas através de possíveis 
cenários traçados, o Quinto relatório revela que é provável que a variação da temperatura global 
de superfície no final do Século XXI exceda 1,5 ºC em relação a 1850-1900 para todos os 
cenários exceto um (RCP2.6). Os cenários mais pessimistas relacionam-se ao nível de emissão 
continuada. O aquecimento continuará além de 2100 em todos os cenários exceto um (RCP2.6) 
e continuará a exibir variabilidade interanual a decenal e não será uniforme regionalmente 
(IPCC, 2013). Abaixo, um quadro comparativo entre evolução de cenários projetados pelo 
IPCC e probabilidade da temperatura global permanecer abaixo dos níveis indicados (Quadro 
1). 
 
Quadro 01: Probabilidade evolutiva da temperatura global permanecer abaixo dos níveis 
indicados durante o século XXI (relativo a 1850-1900). Modificado a partir de IPCC Fifth 
Report Grafics (2013). 
 
 
 
 
Cenários do 
IPCC 
1,5ºC 2ºC 3ºC 4ºC 
RCP2.6 
Mais improvável 
que provável 
Provável Provável Provável 
RCP4.5 Improvável 
Mais improvável 
que provável 
Provável Provável 
RCP6.0 Improvável Improvável 
Mais improvável 
que provável 
Provável 
RCP8.5 Improvável Improvável Improvável 
Mais improvável 
que provável 
15 
 
 No que tange aos fenômenos atmosféricos e ao ciclo das águas: 
Alterações no ciclo global da água em resposta ao aquecimento no 
Século XXI não serão uniformes. O contraste na precipitação entre regiões 
úmidas e secas e entre estações úmidas e secas aumentará, embora possa haver 
exceções regionais. Em muitas regiões secas de média latitude e subtropicais, a 
precipitação média provavelmente irá diminuir, enquanto em muitas regiões 
úmidas de média latitude a precipitação provavelmente aumentará no final deste 
século, de acordo com um cenário (RCP8.5). Eventos de precipitação extrema 
sobre a maior parte das massas de terra das médias latitudes e sobre regiões 
tropicais úmidas muito provavelmente se tornarão mais intensos e mais 
frequentes no final deste século, à medida que a temperatura média global de 
superfície aumenta (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.23). 
 A mudança do clima afetará os processos do ciclo do carbono de tal 
forma que exacerbará o aumento do CO2 na atmosfera. A absorção adicional de 
carbono pelo oceano irá aumentar sua acidificação. As emissões cumulativas do 
CO2 serão fortemente determinantes para o aquecimento médio global de 
superfície pelo Século XXI e além dele. A maior parte dos aspectos da mudança 
do clima persistirá por muitos séculos, ainda que as emissões de CO2 sejam 
interrompidas, o que representa um comprometimento multissecular substancial 
de mudança do clima criado pelas emissões de CO2 passadas, atuais e futuras 
(IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.27). 
 
Por fim, no relatório para construtores de políticas públicas, o AR5 apresenta a atual meta a ser 
perseguida por todos os atores globais: 
 
 Para limitar o aquecimento causado apenas pelas emissões 
antropogênicas de CO2 em menos que 2 ºC desde o período 1861-1880, com 
probabilidade >33%, >50% e >66%, é necessário que as emissões cumulativas 
de CO2 de todas as fontes antropogênicas fiquem entre 0 e cerca de 1.560GtC, 
0 e cerca de 1.210 GtC e 0 e cerca de 1.000 GtC, respectivamente, desde aquele 
período. Até 2011, já foram emitidas 531{446 e 616} GtC. Uma meta de 
aquecimento menor ou uma maior probabilidade de ficar abaixo de uma meta 
específica de aquecimento requerem que as emissões cumulativas de CO2 sejam 
menores (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.27). 
16 
 
 Grande parte da mudança do clima antropogênica resultante das 
emissões de CO2 é irreversível numa escala de tempo multissecular a milenar, 
exceto no caso de remoção líquida de CO2 da atmosfera num período 
sustentado. As temperaturas de superfície permanecerão aproximadamente 
constantes em níveis elevados por muitos séculos após a completa interrupção 
de emissões antropogênicas líquidas de CO2. Devido a grandes escalas de tempo 
de transferência de calor da superfície do oceano para águas profundas, o 
aquecimento do oceano continuará por séculos. Dependendo do cenário, cerca 
de 15% a 40% do CO2 emitido continuará na atmosfera por mais de 1000 anos 
(IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.28). 
Em síntese, o AR5 reafirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco, sendo 
que muitas das mudanças observadas desde os anos 1950 não tem precedentes em décadas ou 
milênios. O aquecimento médio global da terra e do oceano foi de 0,85ºC no período 1880-
2012 (IPCC, 2013). A influência humana no sistema climático é clara, o que é evidenciado a 
partir do aumento das concentrações de GEE na atmosfera, do forçamento radioativo positivo, 
do aquecimento observado e da compreensão do sistema climático. O incremento da capacidade 
tecnológica dos países e a exportação de modelos e maquinários mais potentes para áreas onde 
o desenvolvimento avançava em ritmo natural, têm contribuído para a contínua interferência 
em ecossistemas originários restantes e a elevação de emissões em novas áreas do planeta. 
 
1.3 - Contribuição da agropecuária no aquecimento global e na degradação ambiental 
 
Parece não haver dúvidas de que um cenário de aquecimento global comprovado deve 
impelir em todos os atores sociais – governos, instituições e cidadãos – uma reavaliação de 
práticas e identidades (CASTELLS, 1999) na direção da mitigação e adaptação, e a ciência 
talvez seja a maior aliada de todos nestes tempos de mudanças climáticas. De fato, a pecuária é 
importantíssima mantenedora da segurança alimentar no mundo, transformando palha e capim 
em fontes de proteína riquíssimas como a carne e o leite (FERNANDES, 2011), com todas as 
suas derivações (no caso da pecuária extensiva). Sendo um destacado produtor de alimentos, o 
Brasil figura no cenário mundial como detentor do maior rebanho bovino comercial do planeta, 
posição que, como se verá, tem um preço. 
17 
 
O relatório da Food and Agriculture Organization of the United Nations – FAO 
“Livestock’s long shadow” (Longa sombra da pecuária), lançado em 2006, apresentou a 
produção pecuária mundial como uma grande vilã, colocando-a quanto a produção CO2 (ou 
equivalente) acima da emissão do sistema mundial de transportes, consumidor contumaz dos 
combustíveis fósseis (FAO, 2006).De acordo com o documento, a produção de carne dobrará 
nas próximas décadas. De 229 milhões de toneladas em 1999, passará para 465 milhões de 
toneladas em 2050 e o leite de 580 milhões de toneladas para 1.043 milhões de toneladas. O 
estudo sugere a clara necessidade de se reduzir pela metade os impactos por unidade de 
produção, uma vez que, hegemonicamente, a pecuária extensiva de baixo investimento toma a 
maior parte das áreas do globo destinadas a esse fim. 
Ainda segundo a FAO (2006), o setor da agropecuária é de longe o que mais se utiliza 
de terras para fins antropogênicos. A área total ocupada por pastagens equivale a 26% da 
superfície sem gelo do planeta. Além disso, as áreas destinadas a produções de base para ração 
animal consomem 33% das terras aráveis. Ao todo, 70% das explorações agrícolas e 30% da 
superfície do planeta estão, direta ou indiretamente, destinados à produção de gado. 
A expansão da produção bovina está diretamente ligada ao desmatamento, 
especialmente na América Latina. Cerca de 20% das pradarias e pastagens do mundo e 73% de 
pastagens de áreas secas foram degradadas de alguma forma, principalmente através do sobre 
pastoreio, da compactação e da erosão criados pela ação do gado (FAO, 2006). 
Rivero et al. (2009) apresentaram importante pesquisa sobre as causas do desmatamento 
na Amazônia, onde foi verificado que a pecuária bovina figura como a principal atividade de 
uso do solo na região e tem demonstrado crescimento em todos os estados, sendo a prática 
econômica de maior impacto ambiental e que gera, em conjunto com as queimadas, as maiores 
emissões. O estudo mostra que a pecuária bovina está fortemente associada ao desmatamento 
na região Amazônica e que o crescimento da agricultura em larga escala – muitas vezes visando 
produção de ração animal – em vez de reduzir, aumenta o efeito sobre o desmatamento 
(RIVERO, 2009). 
Para Melado (2007), um dos efeitos nefastos da pecuária extensiva é que geralmente ela 
se associa ao desmatamento e à queimada. A queima de cada hectare de floresta, com 250 t de 
matéria seca, lança no espaço 500t de CO2. Com a posterior lavra do solo para a agricultura, 
ocorre a “queima” da matéria orgânica, reduzindo o seu teor. Supondo uma redução de 3,5% 
para 1,5%, são mais 80t de CO2 lançados na atmosfera. Ainda segundo o autor, a fermentação 
18 
 
ocorrida no rumem de um único bovino de corte a pastar, produz de 40 a 70 kg/animal/ano de 
metano, o que, devido à potência superior desse GEE, resulta entre 1 e 1,7t/animal/ano de CO2 
equivalente. 
 O metano é o segundo gás em importância na escala relativa a causadores do efeito 
estufa. Possui um potencial 25 vezes maior que o dióxido de carbono. Subproduto gerado da 
fermentação ocorrida durante o trato digestório dos bovinos e outros ruminantes, ele é expelido 
por meio do chamado “arroto”. Também ocorre na fermentação anaeróbica dos dejetos e nos 
lixões. Considerando avaliações globais de emissões, contribui com algo em torno de 22% (70 
a 100 milhões t/ano) das emissões totais (FERNANDES, 2011), um volume, portanto, que não 
pode ser ignorado. 
 De acordo com a FAO, o setor agropecuário é responsável pelo maior número de 
emissões de gases responsáveis por gerar maior aquecimento na atmosfera. O relatório de 2006 
põe em sua conta 9% de emissão antropogênica de CO2, 37% do metano e 65% do óxido nitroso, 
gás com potencial 296 vezes maior que o CO², liberado no estrume dos animais e nas culturas 
fertilizadas. No caso da amônia antropogênica, a pecuária é responsável por 64% das emissões 
que contribuem significativamente para a formação de chuva ácida e acidificação dos 
ecossistemas (FAO, 2006). A Figura 3 revela a elevação de emissões do setor nas últimas 
décadas. 
 
Figura 3: Emissões equivalentes em t CO2 no setor agropecuário brasileiro. Fonte: SEEG – 
Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, 2013. 
19 
 
O enorme consumo de água e a sua contaminação é outro pesado impacto que a 
agropecuária gera. Só a pecuária consome 8% da água doce do volume total usado pela 
humanidade (FAO, 2006), considerando nessa conta a irrigação de lavouras destinadas à ração 
animal. As principais fontes de poluição ocorrem pela eutrofização, lançamento de hormônios, 
antibióticos, produtos químicos, dejetos animais, fertilizantes e pesticidas, além de sedimentos 
erodidos das pastagens e beiras de rios. A erosão é outro grande problema que a pecuária 
acarreta. Com a compactação de solos, reduz-se a absorção de águas para os lençóis freáticos, 
ressecando a terra e tornando-a menos produtiva, colaborando para queimadas e desertificação 
(NOVAES, 2008). Abaixo, observa-se a desproporção no uso de água entre seis produções, 
com destaque para a carne (Figura 4). 
Figura 4: proporção entre kg de produto e volume de água necessário para produção. Fonte: 
Agência Nacional de Águas (ANA – MMA, 2016). 
 
 Outra consideração importante em relação a pecuária extensiva é o fato de que por onde 
ela prospera decresce enormemente a biodiversidade. Verifica-se desde o final do século XX 
uma acelerada e anormal perda de espécies vegetais e animais. Vinte e quatro serviços 
ecossistêmicos estão em declínio (FAO, 2006), dentre os principais, o de polinização 
entomófila, responsável pela produção de mais de 70% cadeia alimentar vegetal do planeta 
20 
 
(WIESE, 1987; IMPERATRIZ-FONSECA, 2012). Adiante, este estudo tratará da importância 
da polinização, especialmente por abelhas. 
A pecuária representa 20% da biomassa animal terrestre e ocupa 30% de áreas que um 
dia foram destinadas à vida selvagem (FAO, 2006). Como a atividade é muito expansiva e 
invade áreas onde ecossistemas milenares funcionavam, acaba por gerar conflitos entre 
humanos e predadores e também facilita a multiplicação de espécies invasoras, bem como o 
desequilíbrio do microclima e das águas. Trezentas e seis das oitocentas e vinte e cinco 
ecorregiões terrestres identificadas pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), na avaliação 
de seus biomas, registraram a presença do gado como uma ameaça. 
 Como revelam os dados, fica claro que a agropecuária extensiva, da maneira como 
usualmente é conduzida, representa ameaça real e imediata à biodiversidade e ao próprio 
sistema humano de produção de alimentos a médio/longo prazo, uma vez que seus processos 
são absolutamente insustentáveis, e, contraditoriamente, atentam contra a própria vida. A 
atividade afeta negativamente clima, ar, águas, terras e biodiversidade e contribui de diversas 
maneiras para o aquecimento global. 
 É preciso considerar também, dentro do relatório da FAO, que há toda uma gama de 
alternativas possíveis e viáveis de aprimoramento dos processos produtivos agropecuários, no 
intuito de gerar rápida e drástica diminuição nas emissões e nos danos ambientais, todavia, 
observa-se que a implementação dessas mudanças in situ está longe de ser uma realidade 
mundial, ainda que venha ocorrendo em espaços e setores particularizados e específicos. Novas 
tendências produtivas e produções sustentáveis serão analisadas no capítulo dois desta 
dissertação. 
 
1.4 - A contradição brasileira: grande produtor, grande poluidor 
 
No que diz respeito ao Brasil, vê-se que, ao mesmo tempo em que o país serve de 
exemplo no campo socioambiental com iniciativas importantes como o biodiesel, o etanol, os 
programas de distribuição de renda e diminuição da pobreza, a criação de Unidades de 
Conservação, a delimitação substancial de Reservas Indígenas e Extrativistas, o Novo Código 
Florestal (Lei 12.651 de 25 de maio de 2012) – ainda que insuficiente – e os programas de apoio 
à agricultura familiar e aos povos tradicionais, por outro lado, prossegue num caminho 
21 
 
insustentável, principalmente quando desponta no cenário mundial como um grande exportador 
de commodities alimentícias de baixo valor agregado (NOVAES, 2008). Ora, aquilo que é 
apresentadocomo um ganho do ponto de vista econômico e produtivo, representa grave desastre 
ecológico para imensas áreas dos cinco biomas nacionais, onde pouquíssimo se considera os 
efeitos e distúrbios sobre os ecossistemas, que simplesmente desaparecem para dar lugar a 
pastos e imensas monoculturas, bem como toda uma infraestrutura relacionada, como 
matadouros, estradas, usinas de transformação, armazéns e até cidades. 
Em qualquer análise multisetorial abrangente, não é difícil perceber que o custo 
ambiental da produção agroextensiva não se incorpora de forma real na formação de valor dos 
produtos, que são exportados “a preços competitivos” ou especulados no mercado financeiro 
de commodities, deixando um gigantesco passivo ambiental para futuras gerações de 
brasileiros, com todas as suas nefastas consequências. Isto fica claro na discussão de 
diagnósticos setoriais de gestão de recursos naturais, agricultura sustentável e cidades 
sustentáveis e pouco avanço deve haver, caso os custos embutidos no modelo agropecuário 
brasileiro não sejam revelados na abrangência necessária ao quadro climático atual (NOVAES, 
2008). 
Para Rodrigues e Barbosa (2011), a geração de externalidades ocorre quando as ações – 
de produção ou consumo – de um agente econômico produzem efeitos que afetam outros. Do 
ponto de vista das empresas ou produções agropecuárias organizadas, as externalidades 
transformam-se em custos ambientais para a sociedade na medida em que elas poluem ou 
degradam o meio ambiente e não tomam medidas mitigadoras suficientes. 
Segundo Varian (2006), a principal característica de externalidades é que há bens com 
os quais as pessoas se importam e que não são vendidos nos mercados, sendo a ausência desses 
mercados para as externalidades que causam problemas durante a provisão eficiente de 
recursos. A ocorrência da externalidade é sempre representada pela desproporção ou não 
equidade entre ganhos e perdas de dois ou mais grupos e isso não se aplica somente aos bens 
tangíveis. Um exemplo marcante de benefícios intangíveis são os serviços ambientais culturais. 
Uma externalidade pode ocorrer quando alguém obtém benefícios adicionais sem nada pagar 
ou quando é verificada perda ou danos a um agente sem a devida compensação. Assim, na 
presença de externalidades, os cálculos privados de custos ou benefícios diferem dos custos ou 
benefícios da sociedade, devido à maior amplitude e diversidade de seus valores (SERÔA DA 
MOTTA, 1997). 
22 
 
Analisando, por exemplo, os modelos utilizados nas grandes monoculturas e produções 
com mecanização intensiva no Brasil, verifica-se a necessidade de total remoção da cobertura 
vegetal nativa em alguns dias ou até horas, tendo como consequência uma incalculável perda 
da biodiversidade, gerando, na sequência, uma série de interrupções de serviços ecossistêmicos 
essenciais (LUTZENBERGER, 2001), bem como a emissão de toneladas de CO2 (algo em 
torno de 200 ton./ha)6 para atmosfera, e este primeiro custo nunca é avaliado com profundidade. 
A remoção da cobertura implica em deixar o solo nu na entressafra (quando não há o 
plantio direto), exposto à erosão eólica e pluvial, que carrega a camada superior de terra, tarefa 
facilitada pela aragem. Isso pode significar uma perda média de até dez quilos de solo por quilo 
de grãos produzidos nas culturas desse tipo (NOVAES, 2008). Também implica ainda deixar o 
solo exposto à erosão solar, que elimina parte da microfauna do solo, indispensável às culturas. 
No Brasil, documentos oficiais já de 1997 apontavam uma perda de um bilhão de toneladas de 
solo fértil por ano (NOVAES, 2008). Um custo adicional crescente que passa a ocorrer é a 
necessidade de reposição dessa fertilidade por insumos químicos poluentes de preço elevado e 
que emitem grandes quantidades de óxido nitroso no ambiente (IPCC, 2013). 
 Alguns números impressionam pelo seu volume. Pesquisas da ONG Conservação 
Internacional (CI – Brasil) estimam que aproximadamente 60% da vegetação nativa do Cerrado 
foi suprimida especialmente para a produção de grãos que, em sua maioria, servirão de 
alimento aos bovinos, não a humanos (NOVAES, 2008). Estudos desta ONG ambientalista 
apontam para o desaparecimento do bioma até 2030. É importante considerar que o Cerrado é 
o segundo maior bioma brasileiro, riquíssimo em recursos e biodiversidade, e ocupava 
originalmente uma área de 2.038.953 Km² (IBGE, 2010). Com características únicas no 
mundo, o bioma abriga em suas chapadas nascentes das principais bacias hidrográficas do País: 
do Amazonas, do Prata e do São Francisco e funciona como um “reservatório de água”, com 
importantes pontos de recarga para o Aquífero Guarani e lenções freáticos. 
A partir de 1970, o Cerrado tornou-se a principal área de produção de grãos do País, 
trazendo ganhos econômicos e levando o Brasil a ser um dos maiores exportadores de 
leguminosas no planeta. Ao contrário de outros biomas, a produção moderna na região conta 
com aparato tecnológico capaz de gerar grandes transformações na paisagem, rapidamente, 
deixando enormes passivos ambientais, como introdução de espécies exóticas, altas emissões 
de gases de efeito estufa, fragmentação de habitats, uso de agroquímicos que contaminam o 
 
6 Considerando área de Mata Atlântica com 400 ton./ha. de biomassa (LEMOS et al., 2012). 
23 
 
solo e os recursos hídricos e o descontrole do sistema de queimadas, típico da região, o que 
elevou a perda substancial de biodiversidade (IBGE, 2010). Conforme dados do INPE na 
Figura 5, o bioma é o mais atingido pelas queimadas: 
 
Figura 5: desproporção de queimadas no Cerrado em relação a outros biomas brasileiros. Fonte: 
Dados do INPE: elaboração Bernhard J. Smid, 2013. 
 
Como se constata, o preço desta forma de comércio e produção de alimentos é a total 
descaracterização de enormes áreas – do tamanho de países – com toda a sua flora e fauna, o 
que, evidentemente, contribui para o desequilíbrio climático-ambiental, seja pelas queimadas 
(dióxido de carbono), seja pela pecuária (metano), seja pelas monoculturas (óxido nitroso). No 
Brasil, a principal fonte de emissão de CO² é a destruição vegetal natural, com destaque para 
o desmatamento na Amazônia, e as queimadas no Cerrado. Juntas essas atividades de mudança 
e uso da terra e florestas geram 75% da emissão brasileira deste gás e coloca o Brasil entre os 
maiores emissores de gases do efeito estufa para a atmosfera (IBGE, 2010). 
Nestes indicadores sobre desenvolvimento sustentável apresentados pelo IBGE, em 
2010, verificou-se que o Censo Agropecuário de 2006, comparado com os anteriores, mostrou 
clara intensificação de atividade agropecuária no Brasil. Houve um aumento significativo de 
lavouras e pastagens plantadas sobre áreas de pastagens naturais. Segundo o órgão, estes 
resultados têm importantes implicações sobre a sustentabilidade da atividade agropastoril. A 
intensificação, por um lado, representa aumento de produtividade por unidade de área e isso é 
24 
 
positivo. Mas por outro, significa aumento do uso de fertilizantes e de agrotóxicos e de riscos 
de contaminação ambiental. Ela também agrava a redução das variedades de cultivares em uso, 
o que representa séria ameaça à diversidade de espécies vegetais e animais, incluindo os insetos 
polinizadores, especialmente abelhas. Vale ainda ressaltar que por onde avança o grande 
agronegócio, decresce as possibilidades da agricultura familiar, que gera empregos no campo 
e tende a ser menos destrutiva. 
Outro aspecto relevante também apontado por Novaes (2008) refere-se ao quanto a 
mecanização intensiva tem contribuído para o intenso êxodo rural brasileiro acontecido nas 
últimas décadas. Cerca de 40 milhões de pessoas transferiram-se das zonas rurais para as 
cidades em quarenta anos e são parte importante do contingente de 107 milhões de pessoas que 
se acresceu à populaçãourbana de 1960 a 2000. Esse deslocamento contribuiu fortemente para 
a expansão urbana caótica que o país experimentou e experimenta. De fato, talvez não se associe 
suficientemente os custos adicionais que os grandes centros urbanos passam a ter com estruturas 
de habitação, energia, saneamento básico, limpeza urbana, transportes, segurança, educação, 
saúde e lazer com o chamado “desenvolvimento” em áreas rurais com características regionais 
tão marcantes como o Cerrado e a Amazônia. 
 
1.5 - Relações entre desmatamento e agropecuária extensiva na Amazônia 
 
Dos cerca de 4 milhões de km² da Amazônia brasileira originariamente cobertos por 
florestas, 20% foi desflorestado, majoritariamente para dar lugar a pastos, áreas agrícolas e a 
consequente venda ilegal da madeira. Nas últimas quatro décadas, houve forte aceleração desse 
processo nas bordas sul e leste da Amazônia Legal que formam o chamado “Arco do 
Desmatamento” e formações de vegetações características como florestas estacionais e formas 
de transição do Cerrado estão em risco de desaparecimento (IBGE, 2010). 
Para Arima et al. (2005), a expansão da pecuária na Amazônia se dá pelos seguintes 
fatores: baixo preço de terras com pouco controle governamental; boa pluviosidade regional e 
condições agroclimáticas que geram baixo investimento; crédito público subsidiado, pago na 
maioria das vezes pela venda da madeira ilegal do desmatamento; e constante prática de 
grilagem, com desmatamentos em terras da União visando a posse para posterior venda a 
produtores rurais (ARIMA et al., 2005). 
25 
 
Em uma abrangente análise feita por Rivero et al. (2009) sobre as relações entre pecuária 
e desmatamento na Amazônia, observou-se como o processo transformador/destrutivo 
apresenta dinâmica própria, uma vez que iniciado. A partir de dados do PRODES (INPE, 2008) 
para desmatamento, foram estudados 782 municípios da região e quatro patamares de 
desmatamento foram estabelecidos: municípios com menos de 20% de área desmatada, 
municípios com 20% a menos de 50% de área desmatada, municípios com 50% a menos de 
80% de área desmatada e municípios com mais de 80% de área desmatada. Para se alcançar o 
percentual de área desmatada, considerou-se a extensão de toda área sem floresta no ano 2000 
(RIVERO et al., 2009) (Quadro 2). 
 
Quadro 2 - Número de municípios por classe de percentual de desmatamento – 2000-2006. 
Fonte: INPE (2008). 
 
 ANOS 
% 
Desmatamento 
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 
<20 446 391 387 371 367 360 354 
20-50 115 129 125 130 127 127 127 
50-80 117 139 140 144 145 146 150 
>80 103 122 129 136 142 148 150 
 
A pesquisa analisou e agrupou a quantidade de municípios por percentual efetivo de 
desmatamento entre 2000 a 2006 e pôde-se comprovar importante variação na distribuição da 
participação de cada um deles. Somente houve redução nos municípios com menos de 20% de 
área de não floresta desmatada, tomando como parâmetro final o ano de 2006. Por outro lado, 
observou-se crescimento em todos os outros grupos, especialmente dos municípios na faixa 
acima de 80% e entre 50-80% de área de não floresta desmatada no mesmo período (RIVERO 
et al., 2009). 
26 
 
Como observado no quadro 2, onde o desmatamento ocorreu com maior intensidade, 
acabou por gerar uma continuidade no “progresso expansionista” de atividades agropecuárias. 
Em outras palavras, aquilo que é extinto em um determinado lugar, no caso milhares e milhares 
de km² de florestas com toda a biodiversidade interior, não tende a retornar ao seu estado 
original mediante a presença humana. Ou seja, com a “área limpa”, o fomento próprio e 
histórico da região pende à perpetuidade, associando cultivos e pastagens como investimento 
em áreas já ocupadas – sem falar da fatídica grilagem –, gerando também mais expansão. 
Ainda considerando a análise de Rivero et al. (2009), além da dinâmica 
exclusivamente expansionista associada à incorporação de novas áreas para a produção 
agropecuária regional, dentro das áreas antigas, o desmatamento também continua acontecendo. 
Pois, de acordo com os dados, os municípios que têm os menores percentuais de áreas 
desmatadas, são maiores em tamanho, o que representa diferença em termos de volume de área 
desmatada para cada classe de município. Isso reforça o fato de que, além da expansão para 
novas áreas, o desmatamento continua ocorrendo (mesmo que em proporções menores) nas 
áreas da chamada fronteira consolidada (RIVERO et al., 2009) como observa-se na Figura 6: 
 
 
Figura 6: expansão do desmatamento no Bioma Amazônico. Fonte: PRODES/INPE, 2009. 
 
27 
 
Diante deste cenário, parece evidente que pesa contra os biomas nacionais não só o fato 
de significativa parcela da população ainda depender diretamente da extração de recursos 
naturais básicos para sobrevivência, mas, principalmente, a realidade do país ainda protagonizar 
uma produção alimentícia rural expansionista, extensiva e subvalorizada, tendo nesse tipo de 
negócio importante parte de suas receitas e, por conta disso, fornecer largo apoio governamental 
para a continuidade dessas atividades, incluindo financiamentos. Produções reconhecidamente 
consumidoras de ecossistemas e altamente geradoras de gases do efeito estufa, como a pecuária 
e as grandes monoculturas, não só recebem apoio financeiro de instituições públicas, como são 
fomentadas e estimuladas pelo próprio governo federal, o que acaba por gerar uma espécie de 
indefinição quanto a que posicionamento efetivo o país pretende assumir no combate ao 
desmatamento e ao aquecimento global. 
 
1.6 - Sinais contraditórios nas políticas públicas brasileiras 
 
Outra iniciativa governamental que tem gerado pressões ambientais e sociais são os 
assentamentos da reforma agrária realizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária - INCRA na região Amazônica. Já em 2008, o próprio Ministério do Meio Ambiente 
(MMA) anunciava que esses projetos figuravam entre as seis primeiras posições na lista de 
responsáveis pelo desmatamento Amazônico. Segundo Brandão Jr. e Souza Jr. (2006), até 2004, 
15% do desmatamento registrado dentro da Amazônia ocorreu no interior de assentamentos do 
INCRA. 
Em estudo de caso realizado no Pará, Calandino et al. (2012) demonstraram haver 
proporcionalmente maior área desmatada no interior dos assentamentos dessa região do que nas 
áreas exteriores e elencou as seguintes causas para o fenômeno: aculturação dos assentados na 
dinâmica regional de desmatamento; vulnerabilidade econômica dos assentados, com atraso ou 
falta de financiamento e assistência técnica governamental; demora na definição de titularidade 
da terra; lotes de tamanho reduzido que não permitem a rotatividade e variação das culturas, 
resultando em desflorestamento; modelos de assentamentos tradicionais, não agroecológicos, 
onde prevalece a lógica do mercado e a necessidade de uso de insumos químicos e agrotóxicos, 
bem como formação de monoculturas comerciais; e “assentamentos de papel”, onde a 
conhecida ilegalidade e corrupção de agentes públicos tomam terreno e criam mecanismos 
fictícios para mera exploração da madeira e grilagem. 
28 
 
Não há dúvidas de que o processo de reforma agrária brasileiro vem se desenrolando 
com dificuldades, especialmente a partir dos anos 70 com o incentivo estratégico do governo 
militar (Le TOURNEAU et al., 2010), e que, de fato, nas duas últimas décadas, ganhou novo 
fôlego e certa adesão popular, culminando justamente com os assentamentos na região 
amazônica. Todavia, a questão ambiental associada às mudanças climáticas acabou por tomar 
espaço nas agendas prioritárias tanto de governos como da sociedade e, neste contexto, acabou 
por gerar o que Le Tourneau et al. (2010) chama de “aparente contradição” entre proteção social 
e proteção ambiental, entendendo que uma mediação eficiente do estado poderia equacionar 
ambas as necessidadesurgentes, tendo em vista a viabilidade econômica e a sustentabilidade 
na execução dos projetos, fato que efetivamente ainda não acontece. 
Certamente, não é objetivo desta pesquisa fazer crítica à iniciativa da reforma agrária, 
mas o viés buscado é a análise da coerência de iniciativas socioambientais e métodos produtivos 
com a realidade de aquecimento global e a necessidade de mudança objetiva de práticas que 
dificultam o processo de mitigação e adaptação no conjunto da sociedade. Não é necessária 
grande expertise para vislumbrar que a forma como esses assentamentos foram feitos gera nova 
escala de problemas, transformando-os praticamente numa ação deliberada de setores 
ideológicos do governo para ocupação e desmatamento de áreas ermas por famílias sem 
recursos e de contextos socioambientais totalmente diferentes. Certamente, ambos, floresta e 
assentados, merecem destino mais adequado. 
Estima-se que a Amazônia estoque algo entre 80 a 120 bilhões de toneladas de carbono. 
Sua destruição, considerando a biodiversidade que abriga, representaria certamente duro golpe 
na vida sobre a Terra e liberaria o equivalente a 50 vezes as emissões anuais de GEE de todos 
os Estados Unidos da América, gerando, sequencialmente, uma série de desequilíbrios 
climáticos e ambientais. Numa publicação denominada Farra do Boi na Amazônia, a ONG 
Greenpeace demonstra que a pecuária é o principal vetor de destruição ambiental no bioma, 
sendo responsável por 80% do desflorestamento regional e 14% do acumulado global anual. 
O estudo revela as ambições do governo federal de dobrar a produção bovina nas 
próximas décadas – objetivos já anunciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento – MAPA e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – e as 
ações que vêm sendo feitas para atingir essa meta. A principal delas é o investimento financeiro 
massivo, de bilhões de reais, justamente nas empresas e conglomerados que tradicionalmente 
dominam o setor e vêm estendendo seu arco de ação exatamente no bioma Amazônico, onde 
predomina um cenário de falta de governança, com terras e mão de obra baratas. Em análises 
29 
 
via satélite e documentos oficiais para autorizações de desmatamento entre 2006-2007, 
constatou-se que mais de 90% da destruição florestal no período eram ilegais. 
Outro dado importante e perturbador na pesquisa do Greenpeace, refere-se a própria 
participação acionária do governo Federal em algumas das principais empresas exportadoras 
de carne. Os dados da ONG indicam que houve a liberação de mais de U$2,65 bilhões pelo 
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre 2007 e 2009 para a 
consolidação estratégica de compra de ações dessas empresas. Ora, esses dados deixam 
transparecer um significativo embate de forças dentro do próprio governo Federal. Como foi 
apresentado anteriormente, sem dúvida, o Brasil é um destacado player internacional nas 
questões socioambientais e de mudanças climáticas, com ações consistentes que muitos países 
desenvolvidos ainda não tomaram e uma matriz energética relativamente limpa. Todavia, 
parece delinear-se nesta pesquisa que o grande “calcanhar de Aquiles” brasileiro (SCHAEFFER 
et al., 2008) é a agropecuária extensiva e o conjunto ramificado de impactos negativos que ela 
produz. Considerando que os atores envolvidos no fomento e execução dessa atividade são 
poderosos e abrangem o próprio governo e a demanda interna e internacional por carnes e grãos 
que são crescentes, não é difícil vislumbrar um horizonte ambiental ainda mais difícil, talvez a 
médio e longo prazo. 
Não só a carne, mas também o couro dos animais possui enorme mercado internacional, 
com marcas famosas e mercados de distribuição de alimentos mundiais gigantes como clientes. 
Há que se considerar aqui que toda essa produção é montada para abastecer a demanda de 
consumidores que escolhem esses produtos e deveriam saber claramente a que custo toda essa 
abundancia é produzida e que isso, sim, também tem relação com a devastação da Amazônia e, 
consequentemente, com o aquecimento global. O terceiro setor, a mídia e a própria academia 
desempenham papel fundamental na divulgação ampla de informações que envolvem as 
produções e esse exercício é próprio da democracia, o que pode resultar em maior regulação do 
setor. 
Nessa situação dicotômica, a incongruência contábil na formação do valor de produtos 
não agroecológicos sinalizada por Novaes (2008) parece dialogar com os “sinais contraditórios” 
apontados por May et al. (2014), quando evidencia a existência a nível macro de “políticas 
federais contraditórias” em permanente transformação, que acabam por enfraquecer o já 
pusilânime empoderamento de atores e políticas locais na direção de algum tipo de 
sustentabilidade. É o caso, por exemplo, da regulamentação federal do ICMS Ecológico e sua 
ação impositiva verticalizada, apartada de realidades regionais, que precisam assumir um maior 
30 
 
protagonismo em relação às decisões que abrangem os recursos naturais de seu entorno e o 
desenvolvimento a longo prazo. 
 Frente a esse quadro, no que tange à produção de alimentos, urge não só a necessidade 
de se produzir mais, mas, principalmente, de se produzir melhor (CAPRA, 2004). Os dados 
mostram – e isso não é novidade – que grandes monoculturas e pecuária extensiva, aparte sua 
importância vital na geração de divisas e manutenção da segurança alimentar, criam um grau 
de insustentabilidade enorme em seu entorno (LUTZENBERGER, 2001) e contribuem de 
maneira contumaz para o aquecimento global, para perda de biodiversidade, para a degradação 
ambiental e para a diminuição de recursos vitais como água, ar, terras férteis e serviços 
ecossistêmicos. 
Um desdobramento preocupante da perda de biodiversidade e da mudança do clima é 
justamente o declínio de polinizadores responsáveis por esse serviço ambiental em inúmeras 
culturas vegetais das quais se servem humanos e animais (GARÓFALO, 2013). A redução de 
polinizadores diminui ou extingue a ocorrência de diferentes espécies vegetais e desequilibra 
toda a cadeia trófica local, fato que, além de gerar diminuição da oferta de alimentos, aumenta 
a necessidade do uso de agrotóxicos e fertilizantes que emitem mais óxido nitroso, em escalas 
cada vez maiores, uma vez que novas áreas têm que ser utilizadas. Assim, é de suma 
importância o desenvolvimento pelo globo das formas de produção alternativas e menos 
agressivas, como a agricultura familiar tradicional, a produção orgânica e a agroecologia. De 
fato, o monoideísmo de “crescimento material” como condição principal de desenvolvimento, 
não pode mais ser sustentado a despeito dos danos que a tomada de espaços naturais necessários 
para este fim provoca (ACSELRAD, 2004). 
 
1.7 - A importância das abelhas e outros polinizadores na segurança alimentar 
 
A subtração contínua e extensa de espécies vegetais nativas, o envenenamento 
ambiental e as mudanças do clima têm produzido modificações ecossistêmicas e estão 
impactando diretamente os insetos polinizadores (IMPERATRIZ-FONSECA et al., 2007), 
especialmente a abelha Apis mellifera, considerada responsável direta ou indiretamente pela 
polinização de aproximadamente 70% da produção alimentar de base mundial (USDA, 2015). 
Essa perda de biodiversidade compromete a manutenção do equilíbrio ecológico 
(GARÓFALO, 2013). Marcadamente, a partir de 1994, tem-se verificado o sumiço de milhões 
31 
 
de colônias de abelhas Apis mellifera, em especial na Europa e nos EUA, causado pelo CCD – 
Colony Collapse Disorder, e teme-se a expansão deste fenômeno pelo Brasil. No meio 
científico, até o momento, elege-se um grupo de causas para a desorientação desses insetos, 
dentre elas, as mudanças do clima e seus desdobramentos (APIMONDIA, 2015; ELLIS, 2014) 
O CCD, ou Síndrome do colapso das colônias, em português, é o principal problema 
apícola mundial e

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