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UFRRJ INSTITUTO DE FLORESTAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICAS EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DISSERTAÇÃO PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA E DA APICULTURA COMO ALTERNATIVAS PARA MITIGAÇÃO DE IMPACTOS Adriano Rodrigues de Azevedo 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICAS EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA E DA APICULTURA COMO ALTERNATIVAS PARA MITIGAÇÃO DE IMPACTOS ADRIANO RODRIGUES DE AZEVEDO Sob a orientação do Professor André Felippe Nunes-Freitas Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências, no Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro, RJ Agosto de 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICAS EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ADRIANO RODRIGUES DE AZEVEDO Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências, no Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável da UFRRJ. DISSERTAÇÃO APROVADA EM 26/08/2016 André Felippe Nunes de Freitas. Prof. Dr. UFRRJ. (Orientador) Kátia Cilene Tbai.'Rof. Dr.a UFRRJ (Membro Interno) Gustavo Si Pereira. Prof. Dr. - IRRJ nbro Externo) iii 363.7 A994p T Azevedo, Adriano Rodrigues. Produção de alimentos e mudanças climáticas: a importância da agroecologia e da apicultura como alternativas para mitigação de impactos / Adriano Rodrigues de Azevedo, 2016. 86 f. Orientador: André Felippe Nunes-Freitas. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Florestas. Bibliografia: f. 78-86. 1. Mudanças climáticas - Teses. 2. Agropecuária – Teses. 3. Produção - Sustentabilidade – Teses. 4. Apicultura – Teses. I. Nunes-Freitas, André Felippe. II. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Florestas. III. Título. iv "O homem, ministro e intérprete da natureza, faz e entende tanto quanto constata, pela observação dos fatos ou pelo trabalho da mente, sobre a ordem da natureza; não sabe nem pode mais... Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática." Francis Bacon, Novum Organum, 1561-1626. v Dedico este trabalho à minha família e aos homens e mulheres que se esforçam para tornar a vida melhor no planeta Terra. vi AGRADECIMENTOS Ao apoio da minha esposa Lúcia Helena Munch, psicóloga, amiga, parceira e empreendedora do Projeto Mel de Teresópolis. À toda a minha família, companheiros fraternos e amorosos de jornada. Ao meu orientador André Felippe Nunes-Freitas que, desde o primeiro momento em que nos conhecemos, trouxe-me bons ensinamentos, atitude positiva e o aterramento necessário para minha mente filosófica. Aos doutos professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ao Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável Às abelhas, um exemplo para a humanidade. vii RESUMO AZEVEDO, Adriano Rodrigues. Produção de alimentos e mudanças climáticas: a importância da agroecologia e da apicultura como alternativas para mitigação de impactos. Dissertação (Mestrado em Práticas em Desenvolvimento Sustentável). Instituto de Florestas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2016. Este estudo parte da análise de dados do Quinto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, que apresenta de forma científica as implicações que o aquecimento global terá sobre os ecossistemas terrestres e a sociedade humana. A partir destes dados, em dois capítulos, foram analisados os prós e os contras da grande agropecuária convencional brasileira em relação à necessidade de adaptação ao atual cenário de mudanças climáticas. O fato do Brasil ser um dos maiores produtores alimentícios do planeta eleva o seu nível de importância nas discussões globais. As análises indicam que ao mesmo tempo em que a agropecuária contribui para a estabilidade econômica e alimentar do país, representa um poderoso atraso nas ações de preservação ambiental, diminuição de emissões, transição agroecológica e conservação da biodiversidade. Por meio de dados oficiais e revisão teórica, constatou-se também um grave declínio de polinizadores no mundo e o grau considerável de dependência destes pelas culturas brasileiras. Dentre os polinizadores, a abelha Apis mellifera é a que mais se destaca e traz mais benefícios para a espécie humana, sendo necessária para a manutenção da produção alimentícia mundial e para o bem estar humano e animal, através de diversos tipos de serviços ecossistêmicos. Pelo alto nível de envolvimento do Brasil com a agropecuária convencional, concluiu-se que dificilmente ocorrerá uma transição agroecológica significativa no curto ou médio prazo, o que fortalece a necessidade de se incrementar a apicultura e a agroecologia nacionais – ainda insuficientes – como forma de se minimizar os impactos do aquecimento global e gerar mais condições de adaptação. Palavras chave: Mudanças climáticas, agropecuária, produção sustentável e apicultura. viii ABSTRACT AZEVEDO, Adriano Rodrigues. Food production and climate change: the importance of agroecology and beekeeping as impact mitigation alternatives. Dissertation (Masters in Practice in Sustainable Development). Institute of Forestry, Rural Federal University of Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2016. This study is the analysis of data from the Fifth Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) Report, which presents scientifically the implications that global warming will have on terrestrial ecosystems and human society. From these data, in two chapters, the pros and cons of large Brazilian conventional farming on the need to adapt to the current scenario of climate change were analyzed. The fact that Brazil is one of the largest food producers in the world raises its level of importance in global discussions. The analyzes indicate that while agriculture and livestock contributes to economic stability and the country's food, is a powerful delay in the actions of environmental conservation, reduced emissions, agroecological transition and biodiversity conservation. Through official data and theoretical review also found themselves a serious decline of pollinators in the world and the considerable degree of dependence of these by Brazilian cultures. Among the pollinators, Apis mellifera honeybee is the one that stands out and brings more benefits to the human species, is necessary for maintaining global food production and human and animal well-being, through various types of ecosystem services. Because the high level of involvement of Brazil with conventional agriculture and livestock, it was concluded that hardly occur a significant agroecological transition in the short or medium term, which strengthens the need to improve apiculture and national agroecology - still insufficient - as a way of minimize the impacts of global warming and generatemore conditions to adaptation. Keywords: Climate change, agriculture, sustainable production and beekeeping. ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABEMEL – Associação Brasileira de Exportadores de Mel ANA – Agência Nacional de Águas APIMONDIA – Federação internacional de apicultores (sigla em inglês) AR5 – Fifth Assessment Report BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CCD – Colapso da Desordem das Colônias (sigla em inglês) CI – Conservação Internacional (sigla em Inglês) CIAPO - Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica CNAPO – Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (sigla em inglês) FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável GEE – Gás do efeito estufa IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (sigla em inglês) MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário MMA – Ministério do Meio Ambiente OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONG – Organização Não Governamental PFT – Produtividade de Fator Total PIB – Produto Interno Bruto PLANAPO - Plano Nacional da Agroecologia e Produção Orgânica PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (sigla em inglês) SDGS – Susteinable Development Goals USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (sigla em inglês) WWF – Fundo Mundial da Natureza (sigla em inglês) x SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 CAPÍTULO 1 - Relações entre agropecuária extensiva brasileira, aquecimento global e a importância da biodiversidade para a produção de alimentos 09 1.1 - O IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas 09 1.2 - Emissões e aquecimento global – AR-5 10 1.3 - Contribuição da agropecuária no aquecimento global e na degradação ambiental 16 1.4 - A contradição brasileira: grande produtor, grande poluidor 20 1.5 - Relações entre desmatamento e agropecuária extensiva na Amazônia 24 1.6 - Sinais contraditórios nas políticas públicas brasileiras 27 1.7 - A importância das abelhas e outros polinizadores na segurança alimentar 30 1.8 - Conclusão 34 CAPÍTULO 02 - Objetivos do desenvolvimento sustentável, produção orgânica e agroecológica e contribuição apícola para a produção de alimentos no Brasil 36 2.1 - Um breve histórico sobre desenvolvimento sustentável 36 2.2 - Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 38 2.3 - Relações entre os Objetivos 2 e 12: combate à fome, produção sustentável de alimentos e consumo consciente 41 2.4 - Produção agroecológica e orgânica no Brasil 47 2.5 - Relação entre produção convencional e agroecológica/orgânica no Brasil 56 2.6 - Serviços ecossistêmicos e abelhas 61 2.7 - Apicultura, meliponicultura e produção alimentar brasileira 68 2.8 - Conclusão 75 CONCLUSÃO GERAL 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78 1 INTRODUÇÃO Aristóteles inicia sua reflexão na famosa obra Metafísica elencando a sapiência como conhecimento das causas e afirma que todos os homens, por natureza, tendem ao saber (ARISTÓTELES, 2002). Ainda neste conjunto de textos, escritos no Século IV A.C., o filósofo dá primazia ao sentido da visão, como aquele que proporciona mais conhecimentos do que todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas. Ora, dentro da história conhecida, o homem do século XXI conta com o mais incrível aparato tecnológico, inimaginável há até poucas décadas atrás. Não só palavras, mas imagens em tempo real, povoam o dia a dia de uma grande parte das cidades do planeta, através dos mais diversos aparelhos eletrônicos. Mesmo os melhores discursos – que guardam o seu valor – se ofuscam diante da realidade vista, e a realidade hodierna é que o planeta está passando por acelerada transformação plurisetorial, em grande parte, causada pelo próprio homem (IPCC, 2013). Certamente, o Século XXI será palco de grandes mudanças na biosfera e a visualização destes efeitos tornou-se fácil e democrática pelo advento da rede global. Esta pesquisa pauta-se em tríplice expediente que consiste em: análise de dados do quinto e último relatório do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o AR5. As diretrizes deste relatório atualizado foram usadas como ferramenta orientadora para avaliar a coerência ou não de determinadas práticas produtivas e de consumo em um cenário de aquecimento global; análise de dados relativos a parte da produção extensiva de alimentos no Brasil, bem caracterizada na grande agropecuária brasileira, com suas potencialidades tanto para assegurar a segurança alimentar1 como para gerar enorme destruição de ecossistemas e elevadíssimo nível de emissão de gases do efeito estufa; e análise de produções rurais consideradas sustentáveis em conjunto com o aporte de símbolos e práticas sociais que teóricos ambientalistas e ecologistas apresentam como alternativa à transição de modelos predatórios de produção para outros que se adequem aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU através de 17 SDGs – Sustainable Development Goals (UNITED NATIONS, 2014). Por último, realizou-se reflexão sobre os resultados encontrados, no intuito de se construir entendimento a respeito da adequação ou não das práticas produtivas rurais brasileiras ao que seria desejável como modelo agroecológico de baixa emissão de gases do 1 Entende-se por segurança alimentar a garantia de acesso a alimentos de qualidade, na quantidade suficiente para suprir todas as necessidades nutricionais humanas. 2 efeito estufa, fator imperativo para que, globalmente, se atinja a difícil meta de aumento de somente 2º C na temperatura média planetária, em relação ao período pré-industrial (IPCC, 2013). O Quinto Relatório do IPCC, apresentado em 2013, reforça os prognósticos já mostrados no relatório Quatro, de 2007. É extremamente provável2 que a origem do aquecimento global atual seja antropogênica. Mesmo os cenários mais otimistas, construídos através do trabalho conjunto de milhares de cientistas de todo o mundo, indicam acelerada continuidade no degelo no Ártico, na Antártica e na Groelândia, acidificação e elevação de oceanos, aumento de eventos extremos, mais secas e inundações, perdas irreparáveis na biodiversidade e uma série de desdobramentos que atingem a produção de alimentos e geram desequilíbrio social (IPCC, 2007). Desde a primeira Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, em 1972, na Suécia, já se realizaram até o momento vinte Conferências Mundiais (COPs) abrangendo ambiente e clima e observa-se um crescente envolvimento da sociedade na busca de informações e soluções. Portanto, o estado de conhecimento atual sobre o tema é amplo, democrático e largamente difundido pelos mais diversos meios, sejam públicos ou acadêmicos. Todavia, esta pesquisa revela um descompasso entre a quantidade de informações públicas fornecidas e a capacidade de resposta sincronizada entre governos, grupos de interesse e cidadãos na direção do que seria um turning point, um verdadeiro ponto de mutação (CAPRA, 2004) no que se refere à maneira de se produzir e consumir alimentos. Para Marengo (2014), as projeções de clima para o futuro indicam mais processos dinâmicos ocorrendo na atmosfera, com aumento de umidade e ventos extremos, além de outros fenômenos com maior frequência e intensidade.Como consequência, empresas e produções sofrerão direta ou indiretamente os efeitos do aquecimento global. Isso porque, se por um lado, torna-se mais difícil manter os níveis de produção e operacionalidade, por outro, passa a ocorrer maior pressão por parte dos consumidores para a constante implementação de práticas mais sustentáveis. Em importante levantamento realizado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável – FBDS sobre a relação das mudanças climáticas e eventos extremos, Silveira Pinto (2014) mostra que devido ao impacto causado pela elevação da temperatura, das nove culturas responsáveis por 85% do PIB da agroindústria brasileira, somente a cana de açúcar deverá aumentar sua área potencial de cultivo até 2050. De acordo 2 Extremamente provável: possibilidade de ocorrência entre 95% a 100% 3 com pesquisa realizada por Assad e Pinto (2008), caso não ocorram inovações tecnológicas significativas, todas as outras culturas deverão perder algo em torno de 15% de sua área de cultivo. O pior cenário seria para a soja, com perdas de aproximadamente 35% de área útil. Lutzenberger (2001), pensador e ambientalista brasileiro, destaca o contrassenso em se destruir florestas nativas para o plantio moderno de soja destinada à ração animal do mercado exterior. Acrescenta que, no sul do Brasil, até o final do século XX, a grande floresta subtropical do vale do Uruguai foi completamente devastada e queimada para a implementação da monocultura. Obviamente, justapondo-se à incrível perda de biodiversidade, deve-se considerar também o elevado nível de emissão deste modelo produtivo e sua contribuição para o aquecimento global. Em uma ampla pesquisa realizada em 782 municípios da região norte do país, Rivero et al. (2009) concluem que a pecuária bovina é a atividade produtiva que mais se utiliza de solos dos estados que compõem o bioma amazônico e por isso representa a maior fonte de impacto em toda a região. Seus dados revelam que a pecuária é a causa mais direta do desmatamento na Amazônia e que o crescimento da agricultura de grande porte acaba por potencializar o impacto da atividade sobre o desflorestamento. Como em boa parte do território nacional, pratica-se a pecuária de baixa densidade e pouco investimento, fato que corrobora para a contínua expansão e invasão de novas áreas, que são desmatadas e queimadas rusticamente para o plantio de pastos, causando enorme perda de biodiversidade e emissão de gases do efeito estufa. Já Fernandes et al. (2011), em estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, pondera que, apesar da pecuária contribuir com 22% das emissões totais no planeta (70 a 100 milhões de toneladas/ano), especialmente pela emissão de Metano, há que se haver maior equidade na divulgação de aspectos negativos da grande pecuária brasileira, posto que além de representar uma importante fonte de divisas para o pais, contribui de forma substancial para a segurança alimentar global, tanto pela proteína da carne como pelo leite e seus derivados. Uma reflexão interessante sobre as possíveis causas da incessante força interventiva do homem científico sobre a natureza é feita por Walter (2008), quando faz crítica ao que entende como “deficiência do Iluminismo racionalista” em incorporar a ideia de que as relações humanas não se dão somente em função de interesses imediatos, quando há mediação homem-natureza(técnica), mas também no campo das relações intersubjetivas, onde ocorre todo um processo simbólico de significação (relação homem-homem), e bens intangíveis, culturais e até imateriais passam a ser considerados em outras instâncias de valoração. 4 Do ponto de vista de uma economia mais ampla, Novaes (2008) revela a incongruência na formação dos custos da grande agropecuária, nos quais nunca são contabilizados realmente os múltiplos danos que a atividade causa ao meio ambiente, ao clima e até mesmo à sociedade. Segundo o autor, o próprio modelo moderno mecanizado e a automação de processos acabam forçando um contínuo deslocamento campo-cidade, exacerbando nos centros urbanos inflados todos os tipos de demandas sociais que geram custos bilionários, fato que raramente é associado como um efeito direto das escolhas produtivas no interior do país. Diante da evidência do atual quadro climático planetário tornar-se uma ameaça real a ser considerada pelos governos, May (2014) aponta sinais contraditórios nas políticas nacionais em relação ao enfrentamento de interesses e circunstâncias que seguem na direção contrária ao que seria desejável para implementação de atividades sustentáveis. De fato, sendo a grande agropecuária tão poluente e destrutiva (FAO, 2006) e, mesmo assim, ocupar um espaço tão gigantesco num país continental como o Brasil, contando com todo apoio governamental para sua expansão, não é difícil vislumbrar a incerteza do cenário ambiental brasileiro. Por outro lado, destacam-se importantes iniciativas que, a partir da década de 60, vêm surgindo e abrindo caminho no cenário ordinário mundial através dos movimentos socioambientais, ecológicos e teóricos em favor de uma grande mudança de paradigma (CAPRA, 2004), no que diz respeito à forma de interação entre homem e meio ambiente. Estes precursores trazem, em diversas linhas de ação e pensamento, opções de enfrentamento para o problema ambiental em consonância com a sociedade, problema que acabou por tomar uma proporção inimaginável. A Ecologia Social (BOOKCHIN, 2004), a Ecologia Profunda (NAESS, 1973), a agroecologia (LUTZENBERGER, 2001), o movimento orgânico, a apicultura e a meliponicultura como formas de preservação ecológica e manutenção de polinizadores (WIESE, 1987; IMPERATRIZ-FONSECA, 2012), o fortalecimento da agricultura familiar (MDA - PRONAF), o reconhecimento de culturas e conhecimentos ancestrais (DIEGUES, 1994) e a própria ruralidade (CARNEIRO, 2012) vêm formando uma base de apoio para a confluência de novas energias que precisam emergir no cenário de discussão globalizado. Uma vez que a problemática ambiental é mundial, se observará que esta “ciência em formação” é, por natureza, interdisciplinar e interativa, mobilidade importantíssima para a adaptação rápida às recorrentes transformações que as mudanças climáticas globais estão causando na biosfera e na sociedade (McCORMICK,1992). 5 De acordo com Quarto Relatório do IPCC (2007), o potencial de mitigação é estimado com o uso de diferentes tipos de abordagens. As abordagens bottom-up baseiam-se na avaliação das opções de mitigação, ressaltando as tecnologias e regulamentações específicas. São estudos tipicamente setoriais, sem mudanças macroeconômicas. Já os estudos top-down avaliam o potencial econômico das opções de mitigação. Usam quadros coerentes do ponto de vista global e informações agregadas sobre as opções de mitigação, captando as respostas macroeconômicas e do mercado (IPCC, 2007). Tanto os estudos bottom-up quanto os estudos top-down indicam que há um potencial econômico substancial para a mitigação das emissões globais de gases de efeito estufa ao longo das próximas décadas, o qual poderia compensar o crescimento projetado das emissões globais ou reduzir as emissões para níveis inferiores aos atuais (IPCC, 2007). Em outras palavras, existem possibilidades econômicas viáveis e oportunidades na readequação dos sistemas de produção e consumo rumo aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (UNITED NATIONS, 2015). Dessa forma, a justificativa deste estudo repousa na necessidade premente de se “lançar luzes” sobre os processos produtivos no campo brasileiro, uma vez que, somadas, agropecuária e mudanças no uso da terra geram aproximadamente 61,20 % das emissões do país (SEEG, 2013) e parece recorrente a construção midiática de que esses setores “seguram” a economiado Brasil, enquanto o custo ambiental desses espaços naturais tomados e transformados de maneira extremamente agressiva acaba, sub-repticiamente, escamoteado, tanto para a opinião pública, como na própria formação do preço de venda das commodities para exportação (ACSELRAD, 2004). Em outras palavras, ainda que o volume de informações sobre mudança do clima e produções rurais seja elevado, nem de longe verifica-se no Brasil – e porque não dizer, no mundo – uma posição confortável e coerente em relação ao tamanho do desafio climático. Certamente, quanto mais relações forem feitas entre os dados científicos e as práticas humanas, mais ferramentas de apoio se construirão na direção da mitigação e da adaptação ao aquecimento global, finalmente encarado como uma realidade pela maioria das pessoas e instituições. De forma sincera, mas sem a pretensão de esgotar o assunto, este estudo espera contribuir com mais um “fio” para a construção dessa nova teia (CAPRA, 2004) de identidades (CASTELLS, 1999) em torno de alternativas viáveis para produção de alimentos, que sejam menos invasivas à biodiversidade, aos ecossistemas e à vida, e mais coerentes com os dados científicos apresentados pelo IPCC, que indicam reiteradamente a necessidade imediata de 6 mudança estratégica. Para isso, se valeu de referencial teórico atualizado, tanto da academia, como de órgãos oficiais e organizações sociais do terceiro setor que elucidassem os pontos positivos e negativos de considerável parte das produções alimentícias nacionais no campo. Nesse sentido, partindo do pressuposto de que a agropecuária extensiva no Brasil, a despeito dos danos ambientais e climáticos que gera, ocupa uma posição de grande destaque na economia e nas práticas produtivas nacionais e que o próprio governo federal fomenta e apoia a sua manutenção e expansão – inclusive com financiamentos –, essa pesquisa encontra sustentação para elaborar a seguinte hipótese: Mesmo com um reconhecido protagonismo no cenário internacional quanto ao enfrentamento das mudanças climáticas e ações socioambientais consideradas positivas, observa-se ainda uma resposta insuficiente por parte dos atores nacionais no que se refere aos desafios que a adaptação a um sistema de aquecimento global exige, empurrando os objetivos de um cenário brasileiro mais sustentável para um futuro distante e incerto. A construção deste objeto de pesquisa – no caso a análise de práticas produtivas rurais brasileiras e sua coerência em relação aos cenários apresentados pelo Quinto Relatório do IPCC (AR5) – vem de encontro ao conjunto de esforços da sociedade para gerar condições de mitigação e adaptação às negativas consequências da mudança do clima em praticamente todos os setores do planeta. Para isso, a pesquisa serve-se de dois vieses: análise crítica de práticas produtivas com alto poder de interferência e emissão; e análise crítica de modelos produtivos agroecológicos que se integrem mais harmonicamente à paisagem e emitam menos, elencando- os como alternativas socioambientais viáveis ou não. Diante da complexidade do caso brasileiro, esta dissertação tem como objetivo: Analisar se a grande agropecuária extensiva do Brasil direciona-se de alguma forma para o desenvolvimento sustentável em áreas importantes como meio ambiente, sociedade e economia, elencando os prós e os contras destas produções e sua coerência ou não em relação à realidade de aquecimento global demonstrada no quinto relatório do IPCC. Dessa forma, em contraponto, o estudo visa avaliar os seguintes objetivos específicos: 1) apresentar dados de práticas produtivas sustentáveis que vêm desempenhando um papel de protagonismo na busca do desenvolvimento sustentável; 7 2) analisar criticamente o cenário brasileiro no que tange às formas de produção de alimentos e práticas socioambientais, na busca de soluções mais sustentáveis dentro de um quadro de mudanças climáticas. A estrutura desta dissertação é formada por introdução, dois capítulos e considerações finais. O primeiro capítulo trata dos seguintes tópicos: contextualização abrangente sobre os dados do Quinto relatório do IPCC, incluindo prognósticos e cenários; consequências das mudanças climáticas globais na sociedade, economia e segurança alimentar; as relações da grande agropecuária brasileira com o meio ambiente e a mudança do clima; prós e contras da agropecuária extensiva para economia, para o meio ambiente e para o clima; contradições de algumas políticas públicas brasileiras no que tange ao financiamento de atividades altamente emissoras de gases do efeito estufa; painel sobre a importância vital dos polinizadores na produção de alimentos, em especial das abelhas Apis mellifera; quantificação parcial de resultados do serviço ecossistêmico realizado pela polinização apícola; apresentação das características do CCD – Síndrome do Colapso das Colônias e sua grande ameaça; e consequências que um sumiço generalizado de abelhas Apis mellifera causaria na segurança alimentar mundial. Em contraposição à problemática levantada no primeiro capítulo, o segundo capítulo apresenta: contextualização dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (SDGs) propostos pela ONU; análise sobre a abrangência possível do que seja sustentabilidade; simbologias e identidades que se criam em torno de práticas sustentáveis; distinção entre agroecologia e produção orgânica; novas possibilidades na produção alimentícia brasileira; exemplos de produções consideradas sustentáveis e análise de seu grau de colaboração na segurança alimentar brasileira; a atual abrangência produtiva da agroecologia no Brasil; oportunidade produtiva apícola em relação às diretrizes do Novo Código Florestal Brasileiro; e produção de produtos apícolas e produções agrícolas polinizadas como incremento importante na qualidade e quantidade produtiva alimentícia. A metodologia utilizada na formatação desta dissertação baseou-se no estabelecimento de referencial teórico multidisciplinar, análise de dados de órgãos oficiais nacionais e internacionais e pesquisa bibliográfica sobre os temas relacionados. A construção da síntese buscou o atingimento dos objetivos na relação dos dados encontrados e o referencial teórico escolhido. O formato de escrita seguiu o constructo da “narrativa em capítulos”, conforme 8 manual de teses e dissertações da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A escolha foi intencional, uma vez que é notória a natureza transdisciplinar do Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável, onde, inclusive, são considerados diferentes tipos de produto final para a conclusão de curso. O formato prevê fluidez na apresentação dos dados, com uma introdução mais abrangente, englobando visão geral da pesquisa realizada, objeto de pesquisa, estado atual do conhecimento, justificativa do trabalho, contribuição esperada, objetivos, hipótese e escolhas metodológicas. Na sequência, o conteúdo e a discussão são apresentados em dois capítulos com suas conclusões e as considerações finais como síntese, seguidas de todas as referências bibliográficas. Na tentativa de promover um diálogo entre disciplinas como geografia, biologia, sociologia, climatologia e ecologia, dados quantitativos são apresentados na fluência da narrativa que intenta evidenciar problemas e possíveis soluções em caráter qualitativo. Optou- se por manter as figuras e os quadros em conjunto com a parte escrita, formando um todo lógico. Longe portanto de ter a pretensão de esgotar assuntos tão complexos, envolvidos na realidade atual numa espécie de teia relacional que se transforma constantemente (CAPRA, 2004), esta pesquisa utiliza-se da interdisciplinaridade (PIAGET, 1983) como um meio para, a exemplo da física quântica, vislumbrar conjuntos de “possibilidades” melhores como fim. 9 CAPÍTULO1 Relações entre agropecuária extensiva brasileira, aquecimento global e a importância da biodiversidade para a produção de alimentos 1.1 – O IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas É um fato social (DURKHEIM, 1974)3 bastante reconhecido o advento da temática ambiental na vida cotidiana das pessoas, de forma crescente e irreversível. Há mais de uma década, pesquisas apresentadas pelo IPCC apontam na direção de que o aquecimento do sistema climático terrestre é uma realidade, devido especialmente ao aumento contínuo nas emissões antropogênicas de gases do efeito estufa (GEE), a partir 1950 (IPCC, 2013). Essas emissões ocorrem de maneira natural na dinâmica planetária, mas atividades humanas como desmatamento, grandes monoculturas fertilizadas, pecuária, geração de energia não sustentável e utilização de combustíveis fósseis, contribuem exponencialmente no lançamento de gases como o Metano (CH4), o Dióxido de Carbono (CO2) e o Óxido Nitroso (N2O) na atmosfera. O acúmulo destes gases forma uma camada que dificulta que o excesso de raios solares seja refletido da superfície de volta ao espaço em forma de radiação infravermelha, gerando elevação na temperatura média do planeta, com consequências em todo o conjunto da biodiversidade (MARENGO, 2014). O IPCC é o principal organismo internacional de análise sobre as mudanças climáticas e conta com a colaboração de mais de 2.500 cientistas de todo o mundo. Ele foi criado através de importante esforço entre a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o objetivo de transmitir informações científicas claras e atualizadas sobre as potencialidades ambientais e socioeconômicas da mudança do clima. Para isso, subdivide-se em três grupos de trabalho: Grupo 1: avalia os aspectos científicos do sistema climático e as mudanças do clima. Grupo 2: avalia a vulnerabilidade dos sistemas naturais e socioeconômicos às mudanças do clima, as consequências negativas e positivas dessas mudanças e as opções para a adaptação a elas. 3 Parte-se da consideração que as mudanças climáticas atuam sobre a sociedade de forma geral, exterior e coercitiva. 10 Grupo 3: avalia as opções para limitar as emissões de GEE e outras formas de mitigação das mudanças do clima. Nessas avaliações, o termo “provável” é usado para indicar a probabilidade de ocorrência maior que 66%; “muito provável”, uma probabilidade maior que 90%; e “extremamente provável”, uma probabilidade acima de 95%. Para efeito deste estudo, utilizou- se somente uma parte dos dados do Quinto Relatório do IPCC, especialmente do grupo de trabalho 1, visando-se a contextualização destas informações com a segunda parte do objeto desta pesquisa, que relaciona os impactos gerados pela produção de alimentos na grande agropecuária brasileira com os dados do IPCC. 1.2 - Emissões e aquecimento global – AR5 No final de setembro de 2013, foi apresentada a contribuição do Grupo 1 ao Quinto Relatório de Avaliação (AR5) (IPCC, 2013). Reiterando dados do Quarto relatório, o estudo reafirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde 1950, muitas das mudanças observadas não têm precedentes em décadas ou milênios. Os oceanos e a atmosfera se aqueceram, a quantidade de gelo e neve diminuíram, o nível do mar se elevou e as concentrações de GEE aumentaram. Cada uma das últimas três décadas tem sido sucessivamente mais quentes na superfície terrestre do que qualquer década anterior desde 1850 (IPCC, 2013). No Hemisfério Norte, o período 1983-2012 constitui provavelmente os trinta anos mais quentes dos últimos 1.400 anos (CONS. LEG., 2013). Na Figura 1, pode-se verificar a variação no período: 11 Figura 1: elevação da temperatura anual a partir do ano 1850. Fonte: IPCC Fifth Report Grafics, 2013. Dados do Quinto Relatório levando em conta cálculos em tendência linear, revelam que a temperatura média global do oceano e da terra mostra aumento de 0,85 {0,65 a 1,06} ºC no período 1880-2012. O aumento total entre a média do período 1850-1900 e do período 2003- 2012 é 0,78 {0,72 a 0,85} ºC. Mudanças em muitos eventos extremos de tempo e clima têm sido observadas desde 1950. É muito provável que o número de dias e noites frios tenha diminuído e o número de dias e noites quentes tenha aumentado em escala global (IPCC, 2013). Em relação aos oceanos, destacam-se os seguintes números: O aumento na energia armazenada no sistema climático é dominado pelo aquecimento dos oceanos, contribuindo com mais de 90% da energia acumulada entre 1971 e 2010. Em escala global, o aquecimento dos oceanos é maior próximo à superfície, sendo que a camada dos 75 m superiores se aqueceu em 0,11 {0,09 a 0,13} ºC por década, no período 1971-2010 (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.8). Considerando as duas últimas décadas, as camadas de gelo da Groenlândia e Antártida perderam massa, os glaciares continuaram a encolher por todo o mundo e o gelo do mar Ártico e a cobertura de neve do Hemisfério Norte continuaram a diminuir em extensão. A taxa média de perda de gelo da camada de gelo da Antártida provavelmente aumentou de 30 {-37 a 97} Gt/ano 12 no período 1992-2001 a 147 {72 a 221} Gt/ano no período 2002-2011 (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.9). É muito provável que a extensão média anual do mar Antártico tenha aumentado à taxa de 1,2% a 1,8% por década (variação de 0,13 a 0,20 milhão km2 por década) entre 1979 e 2012. A taxa de aumento do nível do mar desde meados do Século XIX tem sido maior que a taxa média durante os dois milênios anteriores. No período 1901-2010, o nível do mar médio global aumentou em 0,19 {0,17 a 0,21} m. Os dados e aproximações do nível do mar indicam uma transição no final do Século XIX ao início do Século XX de taxas médias relativamente baixas de aumento em relação aos dois milênios anteriores a taxas maiores de aumento. É provável que a taxa média global de aumento do nível do mar tenha continuado a aumentar desde o início do Século XX. É muito provável que a taxa média do aumento global do nível do mar foi de 1,7 {1,5 a 1,9} mm/ano entre 1901 e 2010, 2,0 {1,7 a 2,3} mm/ano entre 1971 e 2010 e 3,2 {2,8 a 3,6} mm/ano entre 1993 a 2010 (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.9). No que se refere às emissões de gases do efeito estufa, fato que guarda estreita relação não só com as práticas sociais de consumo, mas também com as formas de produção, o AR5 apresenta dados bastante preocupantes: As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram a níveis sem precedentes no mínimo nos últimos 800.000 anos. As concentrações de CO2 aumentaram em 40% desde a época pré- industrial; primariamente, pela emissão de combustíveis fósseis e, secundariamente, pelas mudanças do uso da terra. O oceano tem absorvido cerca de 30% das emissões antropogênicas de dióxido de carbono, causando sua acidificação. As concentrações atmosféricas dos GEE dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram todas desde 1750 devido à atividade humana. Em 2011, as concentrações desses três gases foram 391 ppm4, 1803 ppb5 e 324ppb, e excederam os níveis pré-industriais em 40%, 150% e 20%, respectivamente (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.11). De 1750 a 2011, as emissões de CO² da combustão de combustíveis fósseis e da produção de cimento liberaram 365 {335 a 395} GtC para atmosfera, enquanto o desmatamento e outras mudanças no uso da terra 4 Ppm: Parte por milhão. 5 Ppb: Parte por bilhão. 13 liberaram 180{100 a 260} GtC. Isso resulta em emissões antropogênicas cumulativas de 545 [460 a 630] GtC. Dessas emissões antropogênicas cumulativas de CO², 240 {230a 250} GtC se acumularam na atmosfera, 155 {125 a 185} GtC foram absorvidas pelo oceano e 150 {60 a 240} GtC se acumularam nos ecossistemas terrestres naturais (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.12). Foi detectada influência humana no aquecimento da atmosfera e do oceano, em alterações no ciclo global da água, em reduções no gelo e neve, na elevação do nível médio do mar e em mudança em alguns eventos climáticos extremos. Essa evidência da influência humana cresceu desde o 4º Relatório. É extremamente provável que ela tenha sido a causa dominante do aquecimento observado desde meados do Século XX (IPCC, 2013). A Figura 2 mostra que já havia evolução de emissões antrópicas desde o Quarto relatório do IPCC. Figura 2 - Emissões antrópicas globais dos principais gases de efeito estufa entre 1970 e 2004, em Giga-toneladas (bilhões de toneladas) de CO2-eq por ano. Fonte: IPCC, AR4, WG3, 2007. 14 Entre boa parte das informações disponíveis sobre o clima terrestre, é bastante recorrente o entendimento de que as emissões continuadas de GEE causarão mais aquecimento e alterações em todos os componentes do sistema climático. Para limitar as mudanças do clima, serão necessárias reduções substanciais e sustentadas de emissões em todo o planeta (IPCC, 2013), fato que só é possível através de ações globais de governos e cidadãos, independente de classe, religião ou direcionamento político. Todavia, a partir do momento em que isso aconteça, os atuais efeitos ainda perdurarão por décadas ou séculos. Dentre algumas das perspectivas climáticas globais alcançadas através de possíveis cenários traçados, o Quinto relatório revela que é provável que a variação da temperatura global de superfície no final do Século XXI exceda 1,5 ºC em relação a 1850-1900 para todos os cenários exceto um (RCP2.6). Os cenários mais pessimistas relacionam-se ao nível de emissão continuada. O aquecimento continuará além de 2100 em todos os cenários exceto um (RCP2.6) e continuará a exibir variabilidade interanual a decenal e não será uniforme regionalmente (IPCC, 2013). Abaixo, um quadro comparativo entre evolução de cenários projetados pelo IPCC e probabilidade da temperatura global permanecer abaixo dos níveis indicados (Quadro 1). Quadro 01: Probabilidade evolutiva da temperatura global permanecer abaixo dos níveis indicados durante o século XXI (relativo a 1850-1900). Modificado a partir de IPCC Fifth Report Grafics (2013). Cenários do IPCC 1,5ºC 2ºC 3ºC 4ºC RCP2.6 Mais improvável que provável Provável Provável Provável RCP4.5 Improvável Mais improvável que provável Provável Provável RCP6.0 Improvável Improvável Mais improvável que provável Provável RCP8.5 Improvável Improvável Improvável Mais improvável que provável 15 No que tange aos fenômenos atmosféricos e ao ciclo das águas: Alterações no ciclo global da água em resposta ao aquecimento no Século XXI não serão uniformes. O contraste na precipitação entre regiões úmidas e secas e entre estações úmidas e secas aumentará, embora possa haver exceções regionais. Em muitas regiões secas de média latitude e subtropicais, a precipitação média provavelmente irá diminuir, enquanto em muitas regiões úmidas de média latitude a precipitação provavelmente aumentará no final deste século, de acordo com um cenário (RCP8.5). Eventos de precipitação extrema sobre a maior parte das massas de terra das médias latitudes e sobre regiões tropicais úmidas muito provavelmente se tornarão mais intensos e mais frequentes no final deste século, à medida que a temperatura média global de superfície aumenta (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.23). A mudança do clima afetará os processos do ciclo do carbono de tal forma que exacerbará o aumento do CO2 na atmosfera. A absorção adicional de carbono pelo oceano irá aumentar sua acidificação. As emissões cumulativas do CO2 serão fortemente determinantes para o aquecimento médio global de superfície pelo Século XXI e além dele. A maior parte dos aspectos da mudança do clima persistirá por muitos séculos, ainda que as emissões de CO2 sejam interrompidas, o que representa um comprometimento multissecular substancial de mudança do clima criado pelas emissões de CO2 passadas, atuais e futuras (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.27). Por fim, no relatório para construtores de políticas públicas, o AR5 apresenta a atual meta a ser perseguida por todos os atores globais: Para limitar o aquecimento causado apenas pelas emissões antropogênicas de CO2 em menos que 2 ºC desde o período 1861-1880, com probabilidade >33%, >50% e >66%, é necessário que as emissões cumulativas de CO2 de todas as fontes antropogênicas fiquem entre 0 e cerca de 1.560GtC, 0 e cerca de 1.210 GtC e 0 e cerca de 1.000 GtC, respectivamente, desde aquele período. Até 2011, já foram emitidas 531{446 e 616} GtC. Uma meta de aquecimento menor ou uma maior probabilidade de ficar abaixo de uma meta específica de aquecimento requerem que as emissões cumulativas de CO2 sejam menores (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.27). 16 Grande parte da mudança do clima antropogênica resultante das emissões de CO2 é irreversível numa escala de tempo multissecular a milenar, exceto no caso de remoção líquida de CO2 da atmosfera num período sustentado. As temperaturas de superfície permanecerão aproximadamente constantes em níveis elevados por muitos séculos após a completa interrupção de emissões antropogênicas líquidas de CO2. Devido a grandes escalas de tempo de transferência de calor da superfície do oceano para águas profundas, o aquecimento do oceano continuará por séculos. Dependendo do cenário, cerca de 15% a 40% do CO2 emitido continuará na atmosfera por mais de 1000 anos (IPCC, 2013. Summary for policymakers, p.28). Em síntese, o AR5 reafirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco, sendo que muitas das mudanças observadas desde os anos 1950 não tem precedentes em décadas ou milênios. O aquecimento médio global da terra e do oceano foi de 0,85ºC no período 1880- 2012 (IPCC, 2013). A influência humana no sistema climático é clara, o que é evidenciado a partir do aumento das concentrações de GEE na atmosfera, do forçamento radioativo positivo, do aquecimento observado e da compreensão do sistema climático. O incremento da capacidade tecnológica dos países e a exportação de modelos e maquinários mais potentes para áreas onde o desenvolvimento avançava em ritmo natural, têm contribuído para a contínua interferência em ecossistemas originários restantes e a elevação de emissões em novas áreas do planeta. 1.3 - Contribuição da agropecuária no aquecimento global e na degradação ambiental Parece não haver dúvidas de que um cenário de aquecimento global comprovado deve impelir em todos os atores sociais – governos, instituições e cidadãos – uma reavaliação de práticas e identidades (CASTELLS, 1999) na direção da mitigação e adaptação, e a ciência talvez seja a maior aliada de todos nestes tempos de mudanças climáticas. De fato, a pecuária é importantíssima mantenedora da segurança alimentar no mundo, transformando palha e capim em fontes de proteína riquíssimas como a carne e o leite (FERNANDES, 2011), com todas as suas derivações (no caso da pecuária extensiva). Sendo um destacado produtor de alimentos, o Brasil figura no cenário mundial como detentor do maior rebanho bovino comercial do planeta, posição que, como se verá, tem um preço. 17 O relatório da Food and Agriculture Organization of the United Nations – FAO “Livestock’s long shadow” (Longa sombra da pecuária), lançado em 2006, apresentou a produção pecuária mundial como uma grande vilã, colocando-a quanto a produção CO2 (ou equivalente) acima da emissão do sistema mundial de transportes, consumidor contumaz dos combustíveis fósseis (FAO, 2006).De acordo com o documento, a produção de carne dobrará nas próximas décadas. De 229 milhões de toneladas em 1999, passará para 465 milhões de toneladas em 2050 e o leite de 580 milhões de toneladas para 1.043 milhões de toneladas. O estudo sugere a clara necessidade de se reduzir pela metade os impactos por unidade de produção, uma vez que, hegemonicamente, a pecuária extensiva de baixo investimento toma a maior parte das áreas do globo destinadas a esse fim. Ainda segundo a FAO (2006), o setor da agropecuária é de longe o que mais se utiliza de terras para fins antropogênicos. A área total ocupada por pastagens equivale a 26% da superfície sem gelo do planeta. Além disso, as áreas destinadas a produções de base para ração animal consomem 33% das terras aráveis. Ao todo, 70% das explorações agrícolas e 30% da superfície do planeta estão, direta ou indiretamente, destinados à produção de gado. A expansão da produção bovina está diretamente ligada ao desmatamento, especialmente na América Latina. Cerca de 20% das pradarias e pastagens do mundo e 73% de pastagens de áreas secas foram degradadas de alguma forma, principalmente através do sobre pastoreio, da compactação e da erosão criados pela ação do gado (FAO, 2006). Rivero et al. (2009) apresentaram importante pesquisa sobre as causas do desmatamento na Amazônia, onde foi verificado que a pecuária bovina figura como a principal atividade de uso do solo na região e tem demonstrado crescimento em todos os estados, sendo a prática econômica de maior impacto ambiental e que gera, em conjunto com as queimadas, as maiores emissões. O estudo mostra que a pecuária bovina está fortemente associada ao desmatamento na região Amazônica e que o crescimento da agricultura em larga escala – muitas vezes visando produção de ração animal – em vez de reduzir, aumenta o efeito sobre o desmatamento (RIVERO, 2009). Para Melado (2007), um dos efeitos nefastos da pecuária extensiva é que geralmente ela se associa ao desmatamento e à queimada. A queima de cada hectare de floresta, com 250 t de matéria seca, lança no espaço 500t de CO2. Com a posterior lavra do solo para a agricultura, ocorre a “queima” da matéria orgânica, reduzindo o seu teor. Supondo uma redução de 3,5% para 1,5%, são mais 80t de CO2 lançados na atmosfera. Ainda segundo o autor, a fermentação 18 ocorrida no rumem de um único bovino de corte a pastar, produz de 40 a 70 kg/animal/ano de metano, o que, devido à potência superior desse GEE, resulta entre 1 e 1,7t/animal/ano de CO2 equivalente. O metano é o segundo gás em importância na escala relativa a causadores do efeito estufa. Possui um potencial 25 vezes maior que o dióxido de carbono. Subproduto gerado da fermentação ocorrida durante o trato digestório dos bovinos e outros ruminantes, ele é expelido por meio do chamado “arroto”. Também ocorre na fermentação anaeróbica dos dejetos e nos lixões. Considerando avaliações globais de emissões, contribui com algo em torno de 22% (70 a 100 milhões t/ano) das emissões totais (FERNANDES, 2011), um volume, portanto, que não pode ser ignorado. De acordo com a FAO, o setor agropecuário é responsável pelo maior número de emissões de gases responsáveis por gerar maior aquecimento na atmosfera. O relatório de 2006 põe em sua conta 9% de emissão antropogênica de CO2, 37% do metano e 65% do óxido nitroso, gás com potencial 296 vezes maior que o CO², liberado no estrume dos animais e nas culturas fertilizadas. No caso da amônia antropogênica, a pecuária é responsável por 64% das emissões que contribuem significativamente para a formação de chuva ácida e acidificação dos ecossistemas (FAO, 2006). A Figura 3 revela a elevação de emissões do setor nas últimas décadas. Figura 3: Emissões equivalentes em t CO2 no setor agropecuário brasileiro. Fonte: SEEG – Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, 2013. 19 O enorme consumo de água e a sua contaminação é outro pesado impacto que a agropecuária gera. Só a pecuária consome 8% da água doce do volume total usado pela humanidade (FAO, 2006), considerando nessa conta a irrigação de lavouras destinadas à ração animal. As principais fontes de poluição ocorrem pela eutrofização, lançamento de hormônios, antibióticos, produtos químicos, dejetos animais, fertilizantes e pesticidas, além de sedimentos erodidos das pastagens e beiras de rios. A erosão é outro grande problema que a pecuária acarreta. Com a compactação de solos, reduz-se a absorção de águas para os lençóis freáticos, ressecando a terra e tornando-a menos produtiva, colaborando para queimadas e desertificação (NOVAES, 2008). Abaixo, observa-se a desproporção no uso de água entre seis produções, com destaque para a carne (Figura 4). Figura 4: proporção entre kg de produto e volume de água necessário para produção. Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA – MMA, 2016). Outra consideração importante em relação a pecuária extensiva é o fato de que por onde ela prospera decresce enormemente a biodiversidade. Verifica-se desde o final do século XX uma acelerada e anormal perda de espécies vegetais e animais. Vinte e quatro serviços ecossistêmicos estão em declínio (FAO, 2006), dentre os principais, o de polinização entomófila, responsável pela produção de mais de 70% cadeia alimentar vegetal do planeta 20 (WIESE, 1987; IMPERATRIZ-FONSECA, 2012). Adiante, este estudo tratará da importância da polinização, especialmente por abelhas. A pecuária representa 20% da biomassa animal terrestre e ocupa 30% de áreas que um dia foram destinadas à vida selvagem (FAO, 2006). Como a atividade é muito expansiva e invade áreas onde ecossistemas milenares funcionavam, acaba por gerar conflitos entre humanos e predadores e também facilita a multiplicação de espécies invasoras, bem como o desequilíbrio do microclima e das águas. Trezentas e seis das oitocentas e vinte e cinco ecorregiões terrestres identificadas pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), na avaliação de seus biomas, registraram a presença do gado como uma ameaça. Como revelam os dados, fica claro que a agropecuária extensiva, da maneira como usualmente é conduzida, representa ameaça real e imediata à biodiversidade e ao próprio sistema humano de produção de alimentos a médio/longo prazo, uma vez que seus processos são absolutamente insustentáveis, e, contraditoriamente, atentam contra a própria vida. A atividade afeta negativamente clima, ar, águas, terras e biodiversidade e contribui de diversas maneiras para o aquecimento global. É preciso considerar também, dentro do relatório da FAO, que há toda uma gama de alternativas possíveis e viáveis de aprimoramento dos processos produtivos agropecuários, no intuito de gerar rápida e drástica diminuição nas emissões e nos danos ambientais, todavia, observa-se que a implementação dessas mudanças in situ está longe de ser uma realidade mundial, ainda que venha ocorrendo em espaços e setores particularizados e específicos. Novas tendências produtivas e produções sustentáveis serão analisadas no capítulo dois desta dissertação. 1.4 - A contradição brasileira: grande produtor, grande poluidor No que diz respeito ao Brasil, vê-se que, ao mesmo tempo em que o país serve de exemplo no campo socioambiental com iniciativas importantes como o biodiesel, o etanol, os programas de distribuição de renda e diminuição da pobreza, a criação de Unidades de Conservação, a delimitação substancial de Reservas Indígenas e Extrativistas, o Novo Código Florestal (Lei 12.651 de 25 de maio de 2012) – ainda que insuficiente – e os programas de apoio à agricultura familiar e aos povos tradicionais, por outro lado, prossegue num caminho 21 insustentável, principalmente quando desponta no cenário mundial como um grande exportador de commodities alimentícias de baixo valor agregado (NOVAES, 2008). Ora, aquilo que é apresentadocomo um ganho do ponto de vista econômico e produtivo, representa grave desastre ecológico para imensas áreas dos cinco biomas nacionais, onde pouquíssimo se considera os efeitos e distúrbios sobre os ecossistemas, que simplesmente desaparecem para dar lugar a pastos e imensas monoculturas, bem como toda uma infraestrutura relacionada, como matadouros, estradas, usinas de transformação, armazéns e até cidades. Em qualquer análise multisetorial abrangente, não é difícil perceber que o custo ambiental da produção agroextensiva não se incorpora de forma real na formação de valor dos produtos, que são exportados “a preços competitivos” ou especulados no mercado financeiro de commodities, deixando um gigantesco passivo ambiental para futuras gerações de brasileiros, com todas as suas nefastas consequências. Isto fica claro na discussão de diagnósticos setoriais de gestão de recursos naturais, agricultura sustentável e cidades sustentáveis e pouco avanço deve haver, caso os custos embutidos no modelo agropecuário brasileiro não sejam revelados na abrangência necessária ao quadro climático atual (NOVAES, 2008). Para Rodrigues e Barbosa (2011), a geração de externalidades ocorre quando as ações – de produção ou consumo – de um agente econômico produzem efeitos que afetam outros. Do ponto de vista das empresas ou produções agropecuárias organizadas, as externalidades transformam-se em custos ambientais para a sociedade na medida em que elas poluem ou degradam o meio ambiente e não tomam medidas mitigadoras suficientes. Segundo Varian (2006), a principal característica de externalidades é que há bens com os quais as pessoas se importam e que não são vendidos nos mercados, sendo a ausência desses mercados para as externalidades que causam problemas durante a provisão eficiente de recursos. A ocorrência da externalidade é sempre representada pela desproporção ou não equidade entre ganhos e perdas de dois ou mais grupos e isso não se aplica somente aos bens tangíveis. Um exemplo marcante de benefícios intangíveis são os serviços ambientais culturais. Uma externalidade pode ocorrer quando alguém obtém benefícios adicionais sem nada pagar ou quando é verificada perda ou danos a um agente sem a devida compensação. Assim, na presença de externalidades, os cálculos privados de custos ou benefícios diferem dos custos ou benefícios da sociedade, devido à maior amplitude e diversidade de seus valores (SERÔA DA MOTTA, 1997). 22 Analisando, por exemplo, os modelos utilizados nas grandes monoculturas e produções com mecanização intensiva no Brasil, verifica-se a necessidade de total remoção da cobertura vegetal nativa em alguns dias ou até horas, tendo como consequência uma incalculável perda da biodiversidade, gerando, na sequência, uma série de interrupções de serviços ecossistêmicos essenciais (LUTZENBERGER, 2001), bem como a emissão de toneladas de CO2 (algo em torno de 200 ton./ha)6 para atmosfera, e este primeiro custo nunca é avaliado com profundidade. A remoção da cobertura implica em deixar o solo nu na entressafra (quando não há o plantio direto), exposto à erosão eólica e pluvial, que carrega a camada superior de terra, tarefa facilitada pela aragem. Isso pode significar uma perda média de até dez quilos de solo por quilo de grãos produzidos nas culturas desse tipo (NOVAES, 2008). Também implica ainda deixar o solo exposto à erosão solar, que elimina parte da microfauna do solo, indispensável às culturas. No Brasil, documentos oficiais já de 1997 apontavam uma perda de um bilhão de toneladas de solo fértil por ano (NOVAES, 2008). Um custo adicional crescente que passa a ocorrer é a necessidade de reposição dessa fertilidade por insumos químicos poluentes de preço elevado e que emitem grandes quantidades de óxido nitroso no ambiente (IPCC, 2013). Alguns números impressionam pelo seu volume. Pesquisas da ONG Conservação Internacional (CI – Brasil) estimam que aproximadamente 60% da vegetação nativa do Cerrado foi suprimida especialmente para a produção de grãos que, em sua maioria, servirão de alimento aos bovinos, não a humanos (NOVAES, 2008). Estudos desta ONG ambientalista apontam para o desaparecimento do bioma até 2030. É importante considerar que o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, riquíssimo em recursos e biodiversidade, e ocupava originalmente uma área de 2.038.953 Km² (IBGE, 2010). Com características únicas no mundo, o bioma abriga em suas chapadas nascentes das principais bacias hidrográficas do País: do Amazonas, do Prata e do São Francisco e funciona como um “reservatório de água”, com importantes pontos de recarga para o Aquífero Guarani e lenções freáticos. A partir de 1970, o Cerrado tornou-se a principal área de produção de grãos do País, trazendo ganhos econômicos e levando o Brasil a ser um dos maiores exportadores de leguminosas no planeta. Ao contrário de outros biomas, a produção moderna na região conta com aparato tecnológico capaz de gerar grandes transformações na paisagem, rapidamente, deixando enormes passivos ambientais, como introdução de espécies exóticas, altas emissões de gases de efeito estufa, fragmentação de habitats, uso de agroquímicos que contaminam o 6 Considerando área de Mata Atlântica com 400 ton./ha. de biomassa (LEMOS et al., 2012). 23 solo e os recursos hídricos e o descontrole do sistema de queimadas, típico da região, o que elevou a perda substancial de biodiversidade (IBGE, 2010). Conforme dados do INPE na Figura 5, o bioma é o mais atingido pelas queimadas: Figura 5: desproporção de queimadas no Cerrado em relação a outros biomas brasileiros. Fonte: Dados do INPE: elaboração Bernhard J. Smid, 2013. Como se constata, o preço desta forma de comércio e produção de alimentos é a total descaracterização de enormes áreas – do tamanho de países – com toda a sua flora e fauna, o que, evidentemente, contribui para o desequilíbrio climático-ambiental, seja pelas queimadas (dióxido de carbono), seja pela pecuária (metano), seja pelas monoculturas (óxido nitroso). No Brasil, a principal fonte de emissão de CO² é a destruição vegetal natural, com destaque para o desmatamento na Amazônia, e as queimadas no Cerrado. Juntas essas atividades de mudança e uso da terra e florestas geram 75% da emissão brasileira deste gás e coloca o Brasil entre os maiores emissores de gases do efeito estufa para a atmosfera (IBGE, 2010). Nestes indicadores sobre desenvolvimento sustentável apresentados pelo IBGE, em 2010, verificou-se que o Censo Agropecuário de 2006, comparado com os anteriores, mostrou clara intensificação de atividade agropecuária no Brasil. Houve um aumento significativo de lavouras e pastagens plantadas sobre áreas de pastagens naturais. Segundo o órgão, estes resultados têm importantes implicações sobre a sustentabilidade da atividade agropastoril. A intensificação, por um lado, representa aumento de produtividade por unidade de área e isso é 24 positivo. Mas por outro, significa aumento do uso de fertilizantes e de agrotóxicos e de riscos de contaminação ambiental. Ela também agrava a redução das variedades de cultivares em uso, o que representa séria ameaça à diversidade de espécies vegetais e animais, incluindo os insetos polinizadores, especialmente abelhas. Vale ainda ressaltar que por onde avança o grande agronegócio, decresce as possibilidades da agricultura familiar, que gera empregos no campo e tende a ser menos destrutiva. Outro aspecto relevante também apontado por Novaes (2008) refere-se ao quanto a mecanização intensiva tem contribuído para o intenso êxodo rural brasileiro acontecido nas últimas décadas. Cerca de 40 milhões de pessoas transferiram-se das zonas rurais para as cidades em quarenta anos e são parte importante do contingente de 107 milhões de pessoas que se acresceu à populaçãourbana de 1960 a 2000. Esse deslocamento contribuiu fortemente para a expansão urbana caótica que o país experimentou e experimenta. De fato, talvez não se associe suficientemente os custos adicionais que os grandes centros urbanos passam a ter com estruturas de habitação, energia, saneamento básico, limpeza urbana, transportes, segurança, educação, saúde e lazer com o chamado “desenvolvimento” em áreas rurais com características regionais tão marcantes como o Cerrado e a Amazônia. 1.5 - Relações entre desmatamento e agropecuária extensiva na Amazônia Dos cerca de 4 milhões de km² da Amazônia brasileira originariamente cobertos por florestas, 20% foi desflorestado, majoritariamente para dar lugar a pastos, áreas agrícolas e a consequente venda ilegal da madeira. Nas últimas quatro décadas, houve forte aceleração desse processo nas bordas sul e leste da Amazônia Legal que formam o chamado “Arco do Desmatamento” e formações de vegetações características como florestas estacionais e formas de transição do Cerrado estão em risco de desaparecimento (IBGE, 2010). Para Arima et al. (2005), a expansão da pecuária na Amazônia se dá pelos seguintes fatores: baixo preço de terras com pouco controle governamental; boa pluviosidade regional e condições agroclimáticas que geram baixo investimento; crédito público subsidiado, pago na maioria das vezes pela venda da madeira ilegal do desmatamento; e constante prática de grilagem, com desmatamentos em terras da União visando a posse para posterior venda a produtores rurais (ARIMA et al., 2005). 25 Em uma abrangente análise feita por Rivero et al. (2009) sobre as relações entre pecuária e desmatamento na Amazônia, observou-se como o processo transformador/destrutivo apresenta dinâmica própria, uma vez que iniciado. A partir de dados do PRODES (INPE, 2008) para desmatamento, foram estudados 782 municípios da região e quatro patamares de desmatamento foram estabelecidos: municípios com menos de 20% de área desmatada, municípios com 20% a menos de 50% de área desmatada, municípios com 50% a menos de 80% de área desmatada e municípios com mais de 80% de área desmatada. Para se alcançar o percentual de área desmatada, considerou-se a extensão de toda área sem floresta no ano 2000 (RIVERO et al., 2009) (Quadro 2). Quadro 2 - Número de municípios por classe de percentual de desmatamento – 2000-2006. Fonte: INPE (2008). ANOS % Desmatamento 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 <20 446 391 387 371 367 360 354 20-50 115 129 125 130 127 127 127 50-80 117 139 140 144 145 146 150 >80 103 122 129 136 142 148 150 A pesquisa analisou e agrupou a quantidade de municípios por percentual efetivo de desmatamento entre 2000 a 2006 e pôde-se comprovar importante variação na distribuição da participação de cada um deles. Somente houve redução nos municípios com menos de 20% de área de não floresta desmatada, tomando como parâmetro final o ano de 2006. Por outro lado, observou-se crescimento em todos os outros grupos, especialmente dos municípios na faixa acima de 80% e entre 50-80% de área de não floresta desmatada no mesmo período (RIVERO et al., 2009). 26 Como observado no quadro 2, onde o desmatamento ocorreu com maior intensidade, acabou por gerar uma continuidade no “progresso expansionista” de atividades agropecuárias. Em outras palavras, aquilo que é extinto em um determinado lugar, no caso milhares e milhares de km² de florestas com toda a biodiversidade interior, não tende a retornar ao seu estado original mediante a presença humana. Ou seja, com a “área limpa”, o fomento próprio e histórico da região pende à perpetuidade, associando cultivos e pastagens como investimento em áreas já ocupadas – sem falar da fatídica grilagem –, gerando também mais expansão. Ainda considerando a análise de Rivero et al. (2009), além da dinâmica exclusivamente expansionista associada à incorporação de novas áreas para a produção agropecuária regional, dentro das áreas antigas, o desmatamento também continua acontecendo. Pois, de acordo com os dados, os municípios que têm os menores percentuais de áreas desmatadas, são maiores em tamanho, o que representa diferença em termos de volume de área desmatada para cada classe de município. Isso reforça o fato de que, além da expansão para novas áreas, o desmatamento continua ocorrendo (mesmo que em proporções menores) nas áreas da chamada fronteira consolidada (RIVERO et al., 2009) como observa-se na Figura 6: Figura 6: expansão do desmatamento no Bioma Amazônico. Fonte: PRODES/INPE, 2009. 27 Diante deste cenário, parece evidente que pesa contra os biomas nacionais não só o fato de significativa parcela da população ainda depender diretamente da extração de recursos naturais básicos para sobrevivência, mas, principalmente, a realidade do país ainda protagonizar uma produção alimentícia rural expansionista, extensiva e subvalorizada, tendo nesse tipo de negócio importante parte de suas receitas e, por conta disso, fornecer largo apoio governamental para a continuidade dessas atividades, incluindo financiamentos. Produções reconhecidamente consumidoras de ecossistemas e altamente geradoras de gases do efeito estufa, como a pecuária e as grandes monoculturas, não só recebem apoio financeiro de instituições públicas, como são fomentadas e estimuladas pelo próprio governo federal, o que acaba por gerar uma espécie de indefinição quanto a que posicionamento efetivo o país pretende assumir no combate ao desmatamento e ao aquecimento global. 1.6 - Sinais contraditórios nas políticas públicas brasileiras Outra iniciativa governamental que tem gerado pressões ambientais e sociais são os assentamentos da reforma agrária realizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA na região Amazônica. Já em 2008, o próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA) anunciava que esses projetos figuravam entre as seis primeiras posições na lista de responsáveis pelo desmatamento Amazônico. Segundo Brandão Jr. e Souza Jr. (2006), até 2004, 15% do desmatamento registrado dentro da Amazônia ocorreu no interior de assentamentos do INCRA. Em estudo de caso realizado no Pará, Calandino et al. (2012) demonstraram haver proporcionalmente maior área desmatada no interior dos assentamentos dessa região do que nas áreas exteriores e elencou as seguintes causas para o fenômeno: aculturação dos assentados na dinâmica regional de desmatamento; vulnerabilidade econômica dos assentados, com atraso ou falta de financiamento e assistência técnica governamental; demora na definição de titularidade da terra; lotes de tamanho reduzido que não permitem a rotatividade e variação das culturas, resultando em desflorestamento; modelos de assentamentos tradicionais, não agroecológicos, onde prevalece a lógica do mercado e a necessidade de uso de insumos químicos e agrotóxicos, bem como formação de monoculturas comerciais; e “assentamentos de papel”, onde a conhecida ilegalidade e corrupção de agentes públicos tomam terreno e criam mecanismos fictícios para mera exploração da madeira e grilagem. 28 Não há dúvidas de que o processo de reforma agrária brasileiro vem se desenrolando com dificuldades, especialmente a partir dos anos 70 com o incentivo estratégico do governo militar (Le TOURNEAU et al., 2010), e que, de fato, nas duas últimas décadas, ganhou novo fôlego e certa adesão popular, culminando justamente com os assentamentos na região amazônica. Todavia, a questão ambiental associada às mudanças climáticas acabou por tomar espaço nas agendas prioritárias tanto de governos como da sociedade e, neste contexto, acabou por gerar o que Le Tourneau et al. (2010) chama de “aparente contradição” entre proteção social e proteção ambiental, entendendo que uma mediação eficiente do estado poderia equacionar ambas as necessidadesurgentes, tendo em vista a viabilidade econômica e a sustentabilidade na execução dos projetos, fato que efetivamente ainda não acontece. Certamente, não é objetivo desta pesquisa fazer crítica à iniciativa da reforma agrária, mas o viés buscado é a análise da coerência de iniciativas socioambientais e métodos produtivos com a realidade de aquecimento global e a necessidade de mudança objetiva de práticas que dificultam o processo de mitigação e adaptação no conjunto da sociedade. Não é necessária grande expertise para vislumbrar que a forma como esses assentamentos foram feitos gera nova escala de problemas, transformando-os praticamente numa ação deliberada de setores ideológicos do governo para ocupação e desmatamento de áreas ermas por famílias sem recursos e de contextos socioambientais totalmente diferentes. Certamente, ambos, floresta e assentados, merecem destino mais adequado. Estima-se que a Amazônia estoque algo entre 80 a 120 bilhões de toneladas de carbono. Sua destruição, considerando a biodiversidade que abriga, representaria certamente duro golpe na vida sobre a Terra e liberaria o equivalente a 50 vezes as emissões anuais de GEE de todos os Estados Unidos da América, gerando, sequencialmente, uma série de desequilíbrios climáticos e ambientais. Numa publicação denominada Farra do Boi na Amazônia, a ONG Greenpeace demonstra que a pecuária é o principal vetor de destruição ambiental no bioma, sendo responsável por 80% do desflorestamento regional e 14% do acumulado global anual. O estudo revela as ambições do governo federal de dobrar a produção bovina nas próximas décadas – objetivos já anunciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – e as ações que vêm sendo feitas para atingir essa meta. A principal delas é o investimento financeiro massivo, de bilhões de reais, justamente nas empresas e conglomerados que tradicionalmente dominam o setor e vêm estendendo seu arco de ação exatamente no bioma Amazônico, onde predomina um cenário de falta de governança, com terras e mão de obra baratas. Em análises 29 via satélite e documentos oficiais para autorizações de desmatamento entre 2006-2007, constatou-se que mais de 90% da destruição florestal no período eram ilegais. Outro dado importante e perturbador na pesquisa do Greenpeace, refere-se a própria participação acionária do governo Federal em algumas das principais empresas exportadoras de carne. Os dados da ONG indicam que houve a liberação de mais de U$2,65 bilhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre 2007 e 2009 para a consolidação estratégica de compra de ações dessas empresas. Ora, esses dados deixam transparecer um significativo embate de forças dentro do próprio governo Federal. Como foi apresentado anteriormente, sem dúvida, o Brasil é um destacado player internacional nas questões socioambientais e de mudanças climáticas, com ações consistentes que muitos países desenvolvidos ainda não tomaram e uma matriz energética relativamente limpa. Todavia, parece delinear-se nesta pesquisa que o grande “calcanhar de Aquiles” brasileiro (SCHAEFFER et al., 2008) é a agropecuária extensiva e o conjunto ramificado de impactos negativos que ela produz. Considerando que os atores envolvidos no fomento e execução dessa atividade são poderosos e abrangem o próprio governo e a demanda interna e internacional por carnes e grãos que são crescentes, não é difícil vislumbrar um horizonte ambiental ainda mais difícil, talvez a médio e longo prazo. Não só a carne, mas também o couro dos animais possui enorme mercado internacional, com marcas famosas e mercados de distribuição de alimentos mundiais gigantes como clientes. Há que se considerar aqui que toda essa produção é montada para abastecer a demanda de consumidores que escolhem esses produtos e deveriam saber claramente a que custo toda essa abundancia é produzida e que isso, sim, também tem relação com a devastação da Amazônia e, consequentemente, com o aquecimento global. O terceiro setor, a mídia e a própria academia desempenham papel fundamental na divulgação ampla de informações que envolvem as produções e esse exercício é próprio da democracia, o que pode resultar em maior regulação do setor. Nessa situação dicotômica, a incongruência contábil na formação do valor de produtos não agroecológicos sinalizada por Novaes (2008) parece dialogar com os “sinais contraditórios” apontados por May et al. (2014), quando evidencia a existência a nível macro de “políticas federais contraditórias” em permanente transformação, que acabam por enfraquecer o já pusilânime empoderamento de atores e políticas locais na direção de algum tipo de sustentabilidade. É o caso, por exemplo, da regulamentação federal do ICMS Ecológico e sua ação impositiva verticalizada, apartada de realidades regionais, que precisam assumir um maior 30 protagonismo em relação às decisões que abrangem os recursos naturais de seu entorno e o desenvolvimento a longo prazo. Frente a esse quadro, no que tange à produção de alimentos, urge não só a necessidade de se produzir mais, mas, principalmente, de se produzir melhor (CAPRA, 2004). Os dados mostram – e isso não é novidade – que grandes monoculturas e pecuária extensiva, aparte sua importância vital na geração de divisas e manutenção da segurança alimentar, criam um grau de insustentabilidade enorme em seu entorno (LUTZENBERGER, 2001) e contribuem de maneira contumaz para o aquecimento global, para perda de biodiversidade, para a degradação ambiental e para a diminuição de recursos vitais como água, ar, terras férteis e serviços ecossistêmicos. Um desdobramento preocupante da perda de biodiversidade e da mudança do clima é justamente o declínio de polinizadores responsáveis por esse serviço ambiental em inúmeras culturas vegetais das quais se servem humanos e animais (GARÓFALO, 2013). A redução de polinizadores diminui ou extingue a ocorrência de diferentes espécies vegetais e desequilibra toda a cadeia trófica local, fato que, além de gerar diminuição da oferta de alimentos, aumenta a necessidade do uso de agrotóxicos e fertilizantes que emitem mais óxido nitroso, em escalas cada vez maiores, uma vez que novas áreas têm que ser utilizadas. Assim, é de suma importância o desenvolvimento pelo globo das formas de produção alternativas e menos agressivas, como a agricultura familiar tradicional, a produção orgânica e a agroecologia. De fato, o monoideísmo de “crescimento material” como condição principal de desenvolvimento, não pode mais ser sustentado a despeito dos danos que a tomada de espaços naturais necessários para este fim provoca (ACSELRAD, 2004). 1.7 - A importância das abelhas e outros polinizadores na segurança alimentar A subtração contínua e extensa de espécies vegetais nativas, o envenenamento ambiental e as mudanças do clima têm produzido modificações ecossistêmicas e estão impactando diretamente os insetos polinizadores (IMPERATRIZ-FONSECA et al., 2007), especialmente a abelha Apis mellifera, considerada responsável direta ou indiretamente pela polinização de aproximadamente 70% da produção alimentar de base mundial (USDA, 2015). Essa perda de biodiversidade compromete a manutenção do equilíbrio ecológico (GARÓFALO, 2013). Marcadamente, a partir de 1994, tem-se verificado o sumiço de milhões 31 de colônias de abelhas Apis mellifera, em especial na Europa e nos EUA, causado pelo CCD – Colony Collapse Disorder, e teme-se a expansão deste fenômeno pelo Brasil. No meio científico, até o momento, elege-se um grupo de causas para a desorientação desses insetos, dentre elas, as mudanças do clima e seus desdobramentos (APIMONDIA, 2015; ELLIS, 2014) O CCD, ou Síndrome do colapso das colônias, em português, é o principal problema apícola mundial e
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