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Terapias de Casal e Familias com Situacoes Especificas

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Brasília-DF. 
Terapias de Casal e Famílias Com 
siTuações espeCíFiCas
Elaboração
Karina Santos da Fonseca
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS .............................................................. 9
CAPÍTULO 1
HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR ................................................................................................. 9
CAPÍTULO 2
TERAPIAS DE CASAL................................................................................................................ 16
CAPÍTULO 3
ABORDAGEM TERAPÊUTICA E SUA EFICÁCIA ........................................................................... 25
CAPÍTULO 4
O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS ABORDAGENS E SUAS CRÍTICAS .......................................... 32
CAPÍTULO 5
ACONSELHAMENTO MATRIMONIAL E AS IMPLICAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E 
METODOLÓGICAS ......................................................................................................... 49
PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 58
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
6
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
O assistente social no exercício de suas atribuições possui a necessidade do conhecimento 
de terapias de casais e famílias. 
Por isso, torna-se relevante a obtenção de informações relevantes sobre terapias, 
escolha de cônjuge, amor e casamento. 
Este caderno, portanto, tem como objetivo proporcionar informações acerca de Terapias 
de Casal e Famílias com Situações Específicas, com o compromisso de orientar os 
profissionais da área de Serviço Social, para que possam desempenhar suas atividades 
com eficiência e eficácia.
Objetivos
 » Conhecer os diversos modelos de terapias familiares. 
 » Cuidar das famílias que expressam, das formas mais variadas, a questão 
social. 
 » Ampliar a reflexão sobre sua prática e a realidade de seus usuários, 
considerando o contexto social além do familiar, construindo estratégias 
mais adequadas em suas intervenções.
9
UNIDADE ÚNICA
TERAPIAS DE 
CASAL E FAMÍLIAS 
COM SITUAÇÕES 
ESPECÍFICAS
CAPÍTULO 1
História da terapia familiar
“A família é uma unidade social que enfrenta uma série de tarefas de 
desenvolvimento. Estes diferem de acordo com os parâmetros das 
diferenças culturais, mas têm raízes universais”. (MINUCHIN)
O conceito de família está diretamente relacionado a uma unidade fundamental que 
acompanha a formação e o desenvolvimento do ser humano. Sua composição ocorre por 
pessoas que estabelecem entre si profundas ligações emotivas, que são naturalmente 
complexas e diferentes ao longo da vida e muitas vezes unem várias gerações, podendo 
possuir elementos que, não tendo ligação biológica com a família, são afetivamente 
muito importantes no enredo das relações familiares.
A família designa assim um conjunto de elementos emocionalmente ligados entre si.
A Terapia Familiar é um diálogo que se constrói e desenvolve no tempo, envolvendo um 
terapeuta disponível e uma família normalmente em grande sofrimento.
É uma procura de novas alternativas que não passam por resolver problemas e corrigir 
erros, mas, principalmente, por colocar em evidência a competência da própria família, 
ativando a sua participação na resolução dos seus problemas.
Os Terapeutas não transformam, suscitam ocasiões favoráveis às mudanças, costumam 
orientar o seu foco de intervenção mais para o modo como os padrões de interação 
sustentam um problema, do que propriamente para a identificação das suas causalidades. 
Considera-se que a família como um todo é maior do que a soma das partes.
A Terapia familiar, muitas vezes esta associada à sua variante de terapia de casal, e 
conhecida como terapia familiar sistêmica devido à sua origem no seio do modelo 
sistêmico, é um tipo de terapia que se aplica a casais ou famílias, dos quais os 
10UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
membros possuem algum nível de relacionamento. A terapia familiar sistêmica tende 
a compreender os problemas em termos de sistemas de interação entre os membros de 
uma família. Desse modo, os relacionamentos familiares são considerados como fator 
determinante para a saúde mental e os problemas familiares são vistos mais como um 
resultado das interações sistêmicas, do que como uma característica particular de um 
indivíduo.
O Pensamento Sistêmico surgiu no século XX em contraposição ao pensamento 
“reducionista-mecanicista” herdado dos filósofos da Revolução Científica do século 
XVII, como Descartes, Bacon e Newton. 
O Pensamento Sistêmico é uma forma de abordagem da realidade que compreende 
o desenvolvimento humano sobre a perspectiva da complexidade, o mesmo não nega 
a racionalidade científica, porém acredita que ela não oferece parâmetros suficientes 
para o desenvolvimento humano, sendo assim deve ser desenvolvida conjuntamente 
com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais. Considerado como 
componente do paradigma emergente, representado por cientistas, pesquisadores, 
filósofos e intelectuais de vários campos. Por definição, aliás, o pensamento sistêmico 
inclui a interdisciplinaridade. É importante destacar, o Pensamento Sistêmico é 
percebido por meio da abordagem sistêmica que lança seu olhar não somente para 
o indivíduo isoladamente, pois considera também seu contexto e as relações aí 
estabelecidas.
Para se pensar de forma sistêmica é necessário ter uma nova forma de olhar o mundo e 
o homem, além disso, também é exigida mudança de postura por parte dos cientistas, 
postura esta que propicia ampliar o foco e entender que o indivíduo não é o único 
responsável por ser portador de um sintoma, mas sim que existem relações que mantém 
este sintoma. 
De acordo com Capra (1996), o pensamento sistêmico tem raízes 
teóricas na biologia organísmica, na física quântica, na psicologia 
Gestalt e na ecologia. É uma disciplina, e não uma tecnologia, porque 
constitui um regime de ordem livremente consentida pela pessoa ou 
grupo interessado. Entretanto, é possível “empacotar”(codificar) os 
princípios da dinâmica de sistemas como tecnologia de modelagem 
matemática (BRIDGELAND,1998).
A terapia familiar sistêmica consiste em uma abordagem terapêutica da qual todos 
os indivíduos participam da sessão, a família funciona como um todo, que as pessoas 
interagem umas com as outras e influenciam essas relações em apoio mútuo.
11
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
O terapeuta familiar pode oferecer uma melhora das interações no interior do sistema 
familiar e fazer um processo de recodificação de mensagens, que possibilita a maior 
compreensão nas suas comunicações. Também pode facilitar uma busca e descoberta 
de novos caminhos de relação sistêmica, incitar a todos para atuarem e descobrirem 
que convém introduzir mudanças para favorecer uma evolução e um amadurecimento 
ao paciente identificado e em todo sistema.
A terapia familiar evoluiu a partir de uma multiplicidade de influências tendo recebido 
contribuições de diferentes áreas do conhecimento. Desde o início da formulação da 
psicanálise, Freud considerou e ressaltou em seus estudos as relações familiares em 
“Fragmento da Análise de um Caso de Histeria” (1905), ele afirma que devemos prestar 
tanto atenção às condições humanas e sociais dos enfermos quanto aos dados somáticos 
e aos sintomas patológicos, ressaltando que o interesse do psicanalista deve dirigir-se 
sobretudo para as relações familiares dos pacientes. Freud faz referência à família em 
vários outros momentos de sua obra. Em uma das suas Conferências ele se refere às 
resistências externas, emergentes das circunstâncias do paciente, de seu ambiente, que 
interferem no processo analítico e que podem explicar um grande número de fracassos 
terapêuticos. Ressalta que, muitas vezes, quando a neurose tem relação com os conflitos 
entre os membros de uma família, os membros sadios preferem não prejudicar seus 
próprios interesses ao invés de colaborar na recuperação daquele que está doente. 
Todavia, apesar da preocupação com as relações familiares e da importância que atribui 
a elas, Freud, como sabemos, não desenvolveu uma teoria da família nem tampouco 
uma técnica de atendimento familiar.
Na área “psi”, podemos ressaltar algumas postulações teóricas de autores que colaboram 
para o surgimento da terapia familiar. Um importante precursor, sem dúvida, foi Adler 
que enfatiza, na sua teoria do desenvolvimento da personalidade, a importância dos 
papéis sociais e das relações entre estes papéis na etiologia da patologia. Influenciado 
pelas teorias de Adler, Sullivan coloca que a doença mental tem origem nas relações 
interpessoais perturbadas e que um entendimento mais completo do indivíduo só pode 
ser alcan çado no contexto de sua família e de seus grupos sociais. Sullivan coloca, 
assim, a patologia na relação, na dimensão interacional. Paralelamente a Sullivan, 
Frieda Fromm-Reichman estuda a relação mãe-filho como possível fonte de patologia 
e formula o conceito de mãe esquizofrenogênica para explicar, em termos etiológicos, a 
relação do paciente esquizofrênico com sua mãe.
No final da Segunda Guerra, surge o movimento das comunidades terapêuticas, proposto 
por Maxwell-Jones, para a reformulação da assistência psiquiátrica. O conjunto das 
relações imediatas do paciente internado passou a ser considerado no seu tratamento. A 
ideia fundamental é que a melhora do quadro clínico do paciente vai ocorrer na medida 
12
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
em que ansiedades e conflitos surgidos nas relações entre os membros da comunidade 
hospitalar possam ser trabalhados. Em seguida, Pichon-Rivière inclui a família na 
sua compreensão da doença mental e desenvolve a noção de “bode expiatório” como 
depositário da patologia que é de toda a família. Todos estes movimentos, formulações 
teóricas e novas compreensões da patologia propiciaram o surgimento dos primeiros 
estudos no campo da terapia familiar propriamente dita.
No início da década de 1950, ao mesmo tempo em que crescia, a partir da produção 
teórica, a consciência da importância da família no desenvolvimento e na manutenção 
da patologia mental, a prática clínica vigente era regida por regras que ressaltavam que 
o contato com a família do paciente não deveria ser feito.
Esta situação postergou a divulgação do trabalho clínico inicial com famílias e tornou 
a pesquisa, neste período, o modo mais facilmente aceitável de se atenderem famílias, 
facilitando a aprendizagem sobre seu funcionamento e sobre as possibilidades 
terapêuticas de atendimento conjunto. Assim, os primeiros autores importantes na 
área da terapia familiar, produziram conceitos teóricos relevantes sobre estrutura e 
dinâmica da família, ao longo do desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa. 
Esta pesquisa inicial foi realizada com a população esquizofrênica, tendo em vista ser a 
esquizofrenia uma doença frequente, de longa duração, com alto índice de reincidência, 
e muito resistente aos métodos terapêuticos vigentes. O problema social dela decorrente 
justificou a aplicação de verbas públicas na investigação desta patologia, o que ocorreu, 
neste momento, sobretudo nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Dentre os vários grupos de pesquisa que se organizaram, o grupo de Gregory Bateson, 
cujo trabalho foi desenvolvido em Palo Alto, tem como resultado, em 1956, a primeira 
publicação na área; o artigo clássico intitulado “Toward a Theory of Schizophrenia” 
que são postuladas as bases familiares da etiologia da esquizofrenia e formulado o 
conceito de duplo-vínculo. Segundo estes autores, para que tenha lugar uma situação 
de duplo-vínculo são necessárias as seguintes condições: duas pessoas com um alto 
nível de envolvimento (em geral a mãe e o seu bebê);um paradoxo infringido pela 
mãe ao bebê que é chamado de “vítima”; a repetição desta experiência que passa a 
ser habitual; a impossibilidade da “vítima” de abandonar o campo, ou seja, escapar 
ao paradoxo. Aos poucos, o foco destes estudos, inicialmente voltados para famílias 
com pacientes esquizofrênicas foi se ampliando, abrangendo famílias com pacientes 
neuróticos e eventualmente famílias sem patologias sérias. Os trabalhos mostraram 
que os fenômenos descobertos nas famílias esquizofrênicos eram elementos básicos 
na dinâmica familiar. Constata-se que os mesmos princípios interacionais estavam 
presentes em todas as famílias, embora em graus diferentes. A patologia não representava 
13
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
(assim como não representa no indivíduo) uma situação qualitativamente diferente, 
mas uma exacerbação de determinados padrões.
Na década de 1950, surgiu nos Estados Unidos a Terapia de Família. Inúmeros fatores 
contribuíram para que o seu surgimento ocorresse nesse país e nessa época, dentre os 
quais podemos citar como sendo um dos mais relevantes o pós-guerra. Nessa época, as 
transformações que ocorriam nos Estados Unidos em diversas áreas, como o aumento 
da industrialização, a participação das mulheres no mercado de trabalho, novas 
tecnologias, relações sociais modificadas, aumento do acesso à educação, entre outras, 
foram as consequências da consolidação da expansão que já vinha ocorrendo desde a 
Segunda Guerra Mundial.
De acordo com (PONCIANO, 1999) todas essas transformações, gerou um clima de 
otimismo e fé no futuro, o que favoreceu o aumento das famílias e a crença de que 
a família era um lugar da felicidade. A Segunda Guerra proporcionou um ambiente 
intelectual e diversificado com a imigração, de vários profissionais de diversas áreas 
da Europa para os Estados Unidos. Esses imigrantes levaram consigo suas histórias e 
experiências vividas durante a guerra e esses acontecimentos tiveram efeito importante 
sobre as disciplinas relacionadas com a saúde mental. Isso porque, em situações de 
guerras a capacidade que as pessoas costumam ter de possuir o controle sobre as 
próprias vidas e destino parece ser posta à mercê de forças sobre as quais elas não têm 
nenhum controle. Para Bloch e Rambo (1998) a consciência da importância do contexto 
social sobre a vida dos indivíduos nessa época aumentou rapidamente e adquiriu maior 
complexidade.
Neste contexto, de forma paralela ocorreu a união de psicanalistas judeu-europeus com 
psiquiatras militares norte-americanos parcialmente treinados que retornavam aos 
Estados Unidos sem muita perspectiva profissional, o que resultou no crescimento do 
movimento psicanalítico, e abriu as portas para terapias ativas que vieram suplantar a 
psiquiatria biológica inicial. Em um curto período de tempo o movimento psicanalítico 
dominou o cenário psiquiátrico norte-americano, ao mesmo tempo em que começaram 
a surgir sinais de descontentamento com essa teoria.
Segundo Bloch e Rambo (1998), o descontentamento com esse modelo teve origem 
em alguns pontos, sendo os principais, o caráter limitado do modelo freudiano de 
desenvolvimento psicológico feminino; as mudanças dos paradigmas nas ciências sociais 
e naturais, o que inclui a física pós-einsteiniana, a teoria da informação, a cibernética, 
a linguística e a teoria geral dos sistemas; a consciência dos limites das noções de saúde 
mental e a tomada de consciência em relação à importância do contexto, o que segundo 
os críticos estaria em desacordo com a psicanálise, já que esta teria seu enfoque voltado 
14
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
para a história passada, na experiência interna do indivíduo expressa em sequencias 
intrapsíquicas.
O trabalho inicial centrado na família iniciou-se como pesquisa voltada, principalmente, 
para famílias com pacientes esquizofrênicos e delinquentes, que não estavam se 
beneficiando dos tratamentos convencionais. As primeiras e principais pesquisas 
direcionadas às famílias com pacientes esquizofrênicos foram as realizadas por Gregory 
Bateson, Don Jackson, Weakland, Haley, Bowen, Lidz, Whitaker, Malone, Scheffen e 
Birdwhistle, a maioria descrita no livro organizado por Bateson et al (1980) “Interación 
familiar”. Já as pesquisas direcionadas às famílias com delinquentes tiveram seu marco 
inicial no projeto Wiltwick, realizado por Minuchin, no início da década de 1960.
Segundo Grandesso (2000), essas pesquisas representam o início de um novo campo 
que começava a se desenvolver e que tinha como principal característica a mudança 
de foco da prática terapêutica no indivíduo e processos intrapsíquicos, para a família, 
com ênfase nas interações entre seus membros. Diferente de outras correntes teóricas, 
como a psicanálise, por exemplo, que tinha no seu início suas formulações centradas 
em torno de um autor principal, esse novo campo começou a se desenvolver com muitas 
influências, vindas de diversos campos e autores. As influências mais marcantes na 
formação desse campo foram da Teoria 
Novos aportes filosóficos, as questões da linguagem, a construção conjunta de 
significados (construtivismo e construcionismo social), as contribuições da nova física 
e os novos conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro e da mente, formam 
um pano de fundo para o surgimento de novas escolas de Terapia Família, que sem 
abandonar completamente os pressupostos anteriores, passam a explorar as narrativas 
dos diversos membros de uma família novas descrições para as histórias familiares, 
que tragam mais recursos para o funcionamento da família. O Terapeuta deixa de ser 
um observador externo, um expert em detectar problemas, para se transformar em um 
articulador, um mediador de conversações, mais preocupado em conhecer como esta 
família se organiza e opera, além de quais significados que são ou não compartilhados 
por seus membros.
No Brasil, podemos destacar como grandes nomes da Terapia Familiar dentre outros: 
Marilene Grandesso, Maria José Esteves, Terezinha Féres, Rosa Macedo, Sandra 
Fedulo, Roberto Faustino( Recife), Rosana Rapizzo, Luiz Carlos Prado.
É possível compreendermos que o sistema familiar vive interações que repercutem no seu 
desempenho, tanto em seu ambiente interno como externo. Desta forma, conseguimos 
entender um dos principais pilares da Terapia Familiar que é a circularidade que 
estuda atenciosamente, as sequências interacionais dos familiares, para um olhar 
15
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
mais aprofundado acerca dos fatores que estão “segurando” o padrão comportamental 
familiar. Sabe-se que todo sistema faz parte de um sistema maior, por esse motivo, é 
importante relacionar a família, observando-se sua rede de subsistemas, mediante a 
leitura de contextos mais amplos, ou seja: indivíduo, grupo, comunidade, sistema de 
crenças, cultural, político.
A família é compreendida como um sistema aberto, e, dependendo de como “administra” 
suas relações, poderá “trabalhar” para diante de um desafio, problema, continuar na 
sua zona de conforto e não propiciar a mudança, ficando na homeostase. Pode também 
“trabalhar” no favorecimento da mudança buscando condições de superação e novos 
significados.
É importante ressaltar que, a Terapia Familiar dos dias atuais, tem seus paradigmas 
baseados na Ciência Pós Moderna e se apoia aos seguintes conceitos:
 » Complexidade (Não existe só uma realidade): base no multiverso; há 
diferentes olhares, múltiplos significados acerca de um mesmo fato.
 » Imprevisibilidade: Compreender que as imprevisibilidades existem, pois 
muitos fatos não estão sob o nosso controle;
 » Intersubjetividade-Influências recíprocas entre o observador e a realidade 
observada: negação da neutralidade. Ou seja, enquanto participante do 
processo terapêutico, o terapeuta, também, coloca nesse percurso suas 
vivências.
A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida daspessoas é moldada pelas 
interações tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos. O 
contexto familiar é compreendido de forma menos objetiva e mais complexa, na qual 
vai em busca dos diversos significados dos membros familiares e da família como um 
todo. O terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo 
de curar feridas e também de mobilizar talentos e recursos.
16
CAPÍTULO 2
TERAPIAS DE CASAL
O campo da terapia de casal tem como desafio a possibilidade de uma revisão simples, 
pois muitas correntes, tendências, diferentes abordagens e perspectivas afloraram 
e conviveram em períodos históricos e gerações de psicólogos, simultaneamente. A 
evolução das abordagens, metodologias e teorias tampouco é linear, o que impede uma 
descrição simples da história do campo. A história não é neutra, nem é uma revisão, 
o que obriga o autor a definir seus parâmetros. Desta forma, a reflexão sobre o campo 
doxológico da psicoterapia de casal, e não realizar uma profunda descrição histórica. 
Porém, a história tem consequências, pois cria o contexto no qual nossos atos adquirem 
significados, e sugerem direções e objetivos. 
O campo da Terapia de Casal tem sido visto, por seus praticantes, ao longo dos anos, 
bem como apontar momentos pivotais e contribuições teóricas consideradas seminais, 
indicando mudanças de objetivos, metodologias e teorias envolvidas. As revisões do 
campo da psicoterapia de casal apresentam algumas características notáveis que revelam 
“mitos” e discordâncias, dos autores que trataram o tema, sobre pontos importantes 
como as raízes históricas, filiações, e importância de autores seminais. É significativa, 
primeiramente, a existência de poucas revisões, históricas ou conceituais, sobre o 
desenvolvimento do campo, comparativamente a outras modalidades de atendimento 
clínico psicológico, o que leva Gurman e Fraenkel, (2002) a afirmar que:
“A Psicoterapia de Casal é uma área da prática psicoterapêutica que é longa em história, 
mas curta em tradição”(p. 199) 
Tem sido comum, autores afirmarem desconsiderando outros autores, em uma aderência 
a identificações teóricas de sua época, a ascendência recente da terapia de casal, 
como fazem Olson (1970), Haley (1984a) entre outros (FRAMO, 1996; BRODERICK; 
SCHRADER, 1991). 
Esses mesmos autores, colocam que a delimitação das raízes tradicionais da Terapia 
de Casal também é divergente, contribuindo para o mito da ascendência recente, como 
apontam Gurman e Fraenkel (2002). Os trabalhos de revisão parecem discordar sobre 
quais critérios de recorte e de importância deveriam ser considerados, na construção de 
uma história da Psicoterapia de Casal. Conceitualmente, portanto, diferentes origens 
históricas e conceituais são atribuídas à Psicoterapia de Casal, desde desdobramentos 
da tradição do Aconselhamento Matrimonial à Terapia Sistêmica de Famílias, 
passando por aplicações da Psicanálise e da abordagem da Psicologia Comportamental 
17
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
e Cognitiva à situação conjugal. Outro desacordo, entre os revisores, está na avaliação 
dos avanços realizados e da maturidade do campo da Psicoterapia de Casal, sendo que, 
muitas vezes, são citados e discutidos os mesmos autores e trabalhos como referência e 
validação de suas conclusões. Gurman e Jacobson em sua revisão de 1995, por exemplo, 
declararam que a terapia de casal havia chegado à maturidade em função de sua: 
...maior atenção ao significado dos valores pessoais e culturais; uma mais 
balanceada apreciação da interdependência de fatores interpessoais e 
intrapsíquicos no relacionamento do casal (...). Um aumento da ênfase 
nas intervenções operacionais uma abordagem mais honesta da eficácia 
da terapia de casal; e ligações mais sólidas com relevantes profissões e 
disciplinas. (p. 6.) 
Johnson e Lebow (2000) questionaram essa assertiva considerando-a prematura. 
Gurman e Fraenkel (2002) discordam desta crítica, considerando que Johnson e Lebow 
(2000) apontam exatamente para sua conclusão ao citarem, neste mesmo artigo como 
base para sua argumentação, muitos dos mesmos trabalhos, autores e contribuições 
mencionados por Gurman e Jacobson (1995). 
Esta discordância colocada por eles parece estar também relacionada com o viés 
teórico do revisor que, ao abordar o desenvolvimento do campo, tende a ressaltar as 
contribuições de sua linha teórica. 
Com frequência o campo é descrito metaforicamente, com imagens que corresponderiam 
a uma perspectiva de desenvolvimento e crescimento rápido. E, sua longa história 
é, frequentemente, esquecida ou desconsiderada, bem como suas contribuições e 
importância. Olson (1970), que parece ter sido o primeiro revisor da história do campo, 
escreveu ao longo dos anos, sucessivas revisões sobre os desdobramentos e descobertas. 
O campo da Terapia de Casal descreveu em 1970 como sendo o mais “novo” e que 
“não havia ainda desenvolvido uma sólida base teórica e que suas principais hipóteses 
e princípios ainda deveriam ser testados” (OLSON, 1970, p. 501). Seis anos após, 
considerou que o campo havia “saído de sua infância” e mostrava “sinais de maturidade” 
(OLSON; SPRENKLE, 1976. p. 326). 
Em 1980, Olson afirmou que o campo já havia chegado à “jovem maturidade” (OLSON; 
RUSSEL; SPRENKEL, 1980, p. 974). Gurman e Fraenkel (2002) consideram esta 
afirmativa otimista, mas não fundamentada. Este tipo de discordância parece permear 
as revisões sobre o campo. É curioso que a primeira e única revisão do campo de 
Psicoterapia de Casal realizada após o ano 2000, publicada em revista especializada 
indexada ao “Psiclit”, tenha sido no periódico “Family Process” (GURMAN; FRAENKEL, 
18
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
2002). Pois, como nota Framo (1989), quando da criação da AFTA, “Americam Family 
Therapy Academy”, no final da década de 1970, a então AAMFC “Americam Association 
for Marriage and Family Conseling” e atual AAMFT “Americam Association for Marriage 
and Family Therapy” reagiu com verdadeiro alarme, pois: “do ponto de vista da AFTA 
o campo do Aconselhamento Conjugal e Terapia de Família eram duas áreas separadas 
cada qual com sua própria história, conceitos, e práticas”. (FRAMO, 1989, p. 12).
Essa importância é apontada por Gurman e Fraenkel (2002), os autores do artigo de 
revisão, ao notarem que: 
A ironia de que a série especial de artigos sobre terapia de casal seja 
publicada aqui, em vez de algum outro periódico afiliado ao tema, não 
pode ser minimizada. Muitos dos primeiros pioneiros da Terapia de 
Família explicitamente destacaram que Terapia de Casal não era o foco 
central no seu trabalho, ou efetivamente a colocaram em esquecimento 
meramente por não mencionar o seu papel. (p. 200). 
Ainda na atualidade, já que, na maior parte dos livros sobre terapia de família, o tema 
não é mencionado ou, quando o é, aparece apenas em uma porção reduzida do texto. 
Isto revela outro importante mito: o da pequena importância da Terapia de Casal na 
prática clínica. Esse mito parece ter duas importantes fontes. 
Por meio de um ponto de vista é colocado, que a da tradição clínica de atendimento 
individual, na qual a entrada de qualquer outro membro da família na terapia, e 
em especial a do parceiro, era e é, na maioria dos modelos, vista como arriscada e 
ameaçadora aos objetivos terapêuticos. A quase totalidade dos modelos desenvolvidos 
para psicoterapia no século XX seguiu este padrão. E mesmo os modelos de atendimento 
de psicoterapia de grupo contra indicavam a presença de membros da mesma família 
no grupo terapêutico, e mais ainda do parceiro conjugal. 
A tradição da Terapia Sistêmica de Famílias de acordo com outro ponto de vista incluiu 
a família como um todo e, aparentemente, minimizou o foco no casal. Isto se revela em 
livros-texto sobre Terapia Sistêmica de Família como o de Nichols e Schawartz (1998), 
que possui aproximadamente2% de suas páginas dedicadas à Terapia de Casal, ou 
o livro de Gurman e Kniskern (1981) que dedica apenas um quarto dos capítulos ao 
tema. Isto não significa que autores do campo da Terapia Sistêmica de Família não 
reconheçam ou não apontem a importância da abordagem do casal no tratamento da 
família. Pois, como Nataniel Akerman (1970) apontou: “a terapia da desordem conjugal 
é o núcleo da abordagem para a mudança familiar” (p. 124). Essa relevância também 
é dada por outros autores como Virginia Satir, Donald Jackson, Jay Haley, Salvador 
Minuchim, e Murray Bowen. Isto parece indicar que se a Terapia de Família e Terapia 
19
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
de Casal compartilharam um mesmo conjunto de técnicas e de conceitos há sinais der 
mudança, na medida em que cada campo está gerando abordagens, conceitos e técnicas 
próprias (FRAENKEL, 1997). 
Em uma das pesquisas realizada por Rait (1988) indicou que metade das demandas 
nas clínicas de Terapia de Família era ligada a questões conjugais. Esse resultado está 
de acordo com o estudo de Simmons e Doherty (1995), que encontrou que problemas 
conjugais (58%) excediam problemas de toda a família (42%), em famílias em 
atendimento. E em um estudo nacional, Simmons e Doherty (1995) verificaram que 
Terapeutas de Família tratavam duas vezes mais casais que famílias. O mesmo padrão 
foi encontrado no estudo de Whishman, Dixon e Jonhson (1997), demonstrando que o 
tratamento de problemas conjugal domina a prática do campo de Terapia de Família. 
Essa situação não é nova em absoluto, nem específica da clínica de famílias. Em 1960, 
Gurim, Vernoff e Feld verificaram que cerca de 40% dos clientes pesquisados, sobre 
os motivos de procurar psicoterapia, viam seus problemas como sendo de natureza 
conjugal. No Brasil não dispomos, ainda, de nenhum estudo sobre o tema. O tamanho 
e a importância das demandas de atendimento referentes às questões ligadas à 
conjugalidade, não podem ser negados, mas como responder a elas? E mais, o que 
é Psicoterapia de Casal ou Terapia de casal, uma vez que diferentes autores utilizam 
diversas nomenclaturas para se referir a práticas de intervenção psicológica com casais? 
Esta é uma importante questão cuja resposta mudou de acordo tanto com a filiação 
teórica do praticante, quanto com o período histórico, levando a diferentes propostas 
de modelos de atendimento, com diversos formatos, tais como: cada membro do casal, 
simultaneamente atendido em sessões individuais, com terapeutas diferentes; cada 
membro do casal, simultaneamente atendido, em sessões individuais com o mesmo 
terapeuta; cada membro do casal atendido em sessões individuais, com o mesmo 
terapeuta consecutivamente, ou seja, à análise de um cônjuge seguia-se a análise do 
outro; do casal em conjunto com o mesmo terapeuta; atendimento em conjunto do casal 
com a família nuclear, extensa ou transgeracional (GURMAN; FRAENKEL, 2002). 
Ainda do ponto de vista de Gurman e Fraenkel, orientações teóricas parecem ter 
predominado em diferentes momentos em diferentes grupos, como psicanálise, 
humanismo, sistêmica, comportamental cognitiva além de abordagens sociais. Isto 
revela, de um lado, a riqueza teórica e técnica do campo, e de outro, coloca um desafio 
extremo de descrever o desenvolvimento da área, de uma maneira que possibilite a 
compreensão destes desdobramentos e o estado atual do campo. Diversos autores de 
revisões, quando examinados em conjunto, parecem concordar que predominam na 
história conceitual da Psicoterapia de Casal pelo menos quatro fases metodológicas e 
conceituais (GURMAN; FRAENKEL, 2002; GURMAN; JACOBSON 1995; JOHNSON; 
LEBOW, 2000). Nessas fases de certas correntes teóricas parecem ter predominado 
20
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
no campo, e certo método para atendimento parece ter sido desenvolvido e aceito 
como o mais adequado. A primeira fase começa com a abordagem do Aconselhamento 
Matrimonial, que se orientava por teorias psicológicas ecléticas e indiferenciadas. A 
segunda fase caracterizou-se com a aplicação do método e de teorias psicanalíticas ao 
casal. Já a terceira fase foi marcada pela introdução do enfoque sistêmico familiar.
E a quarta fase com a diversificação de modelos, abordagens e o aparecimento de 
esforços de articulação entre propostas. Abordar uma revisão teórica, ainda que 
sumária, por esta perspectiva, parece útil, pois, além de possibilitar a compreensão 
dos motivos pelos quais os mitos dominantes do campo da Psicoterapia de Casal 
surgiram, também torna possível discernir não só os impasses teórico-metodológicos, 
mas também apontar direções de desenvolvimentos possíveis, indicando as principais 
e mais robustas descobertas do campo. Assim, ao traçar uma breve revisão conceitual 
serão abordados a orientação teórica dominante ou significativamente nova, em um 
período, o método adotado, e autores significativos de acordo com as interpretações 
dos autores das revisões. 
De acordo com Clarck e Jung, a história da Terapia de Casal apresenta diferentes 
inícios, de acordo com o critério de corte adotado por diferentes revisores. Os trabalhos 
de pioneiros como C.C. Jung que escreveu no contexto de sua obra, já no início do 
século XX, sobre aspectos ligados ao relacionamento conjugal, e pesquisaram aspectos 
ligados à transmissão transgeracional de complexos inconscientes, podem ser adotados 
como ponto de partida Porém, a contribuição não é sequer mencionada pela maioria 
dos revisores. No entanto, todos apontam para as contribuições ocorridas no início do 
século XX, nos EUA, como significativas.
Tal posição parece dever-se ao fato de que a maior parte das escolas de Terapia de Casal 
ter surgido, nos EUA, durante o século XX. Gurman e Fraenkel (2002) incluem em 
sua revisão o período do Aconselhamento Matrimonial que, por sua natureza peculiar, 
oferece campo para divergências como antecedente ou mesmo membro da tradição da 
Psicoterapia de Casal. Seguiremos o esquema de interpretação de Gurman e Fraenkel 
(2002), para os quais a história do Aconselhamento Matrimonial é a primeira fase, 
no sentido histórico, sendo a de menor contribuição teórica e metodológica, mas que 
respondeu de maneira algo ingênua, à demanda por tratamento psicológico das relações 
conjugais.
Para Gurman e Fraenkel as contribuições do pensamento psicanalítico à Terapia de Casal 
podem talvez serem divididas em três períodos, segundo as tendências metodológicas, 
teóricas e contribuições técnicas. O primeiro período vai da década de 1930 até a 
década de 1960, sendo caracterizado por experimentações e aplicação dos princípios 
21
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
e técnicas psicanalíticas tradicionais à situação de tratamento do casal. Ocorre, em 
um segundo período, que vai da metade da década de 1960 até a década de 1980, um 
arrefecimento do interesse na aplicação da psicanálise à situação conjugal. Por um 
lado, devido às criticas do próprio movimento psicanalítico ao uso da psicanálise em 
situações não tradicionais, e, por outro, devido ao interesse despertado pelo movimento 
de Terapia Sistêmica de Família, que elaborou fortes críticas à abordagem psicanalítica, 
considerando-a excessivamente personalista e voltada ao intrapsíquico.
Desta maneira, eles colocam que somente a partir da década de 1980 é possível o 
aparecimento de um interesse renovado na abordagem psicanalítica, caracterizando um 
novo período que se estende até os dias de hoje. No entanto, importantes contribuições 
foram feitas pelos pioneiros em suas tentativas de responder à demanda crescente de 
atendimento por parte dos casais.
O que é colocado por Gurman e Fraenkel é o seguinte: As intervenções psicanalíticas de 
casal desenvolveram-se de modo autônomo em relação ao Aconselhamento Matrimonial. 
É importante notar que, neste período, apenas psiquiatras eram admitidos como 
psicanalistas. Assim,um grupo de profissionais interessados em responder à demanda 
das dificuldades conjugais, incluindo problemas psiquiátricos, e insatisfeitos com os 
resultados do método analítico tradicional iniciaram uma série de experimentações 
e modificações na técnica, de um modo algo ambivalente. Aparentemente a questão 
era: como fazer tratamento em casais com uma técnica desenvolvida e voltada para o 
indivíduo?
A seleção do parceiro na formação do casal e fatores que levavam à manutenção 
das relações conjugais, mesmo em situações de extremo estresse, já despertava o 
interesse de psicanalistas neste período. Obernoff (1931) apresentou um trabalho 
sobre a Psicanálise de Casais, descrevendo a relação das neuroses na formação 
do sintoma do casal. Anos depois, em 1938, Obernoff apresentou um artigo sobre 
Psicanálise Conjugal Consecutiva na qual a análise de um dos esposos começava 
quando terminava a do outro. Mittelman (1948) propôs outro enfoque ao descrever 
o tratamento conjugal como processo de análise individual concomitante de ambos 
os esposos pelo mesmo analista. Essas abordagens despertaram, obviamente, 
críticas e restrições, pois contrariavam dramaticamente o método tradicional, no 
qual, qualquer contato com qualquer membro da família, deveria ser evitado, sob 
pena de “contaminação” da transferência Greene (1965).
Para Mittelman (1948), ao realizar a, provavelmente, primeira sessão de casal conjunta 
na abordagem psicanalítica, motivado pela diferença das histórias dos casais, que não 
combinavam em aspectos significativos (SAGER, 1966). Embora, essa intervenção 
22
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
tenha sido considerada, teoricamente, incorreta para a abordagem psicanalítica 
e, politicamente, incorreta para o período, revela a essência da hipótese que guiava 
a intervenção nos casais; era tarefa do terapeuta destacar e corrigir as percepções 
distorcidas de ambos os cônjuges, permitindo uma relação liberta da irracionalidade.
Assim, de acordo com Mittelman caberia ao analista decidir ou auxiliar na decisão do que 
era “mais racional”. Mesmo Mittelman (1948) sentia-se ambivalente quanto a sessões 
conjuntas e acreditava que este método só deveria ser usado em casos específicos, que 
atingiriam não mais que 20% das situações, e que os demais seriam mais beneficiados 
com análises em separado com diferentes analistas.
Outras cautelosas experimentações ocorreram durante o final da década de 1950 
e início da década de 1960, mas, como nota Sager (1966), “estas contribuições não 
evidenciavam nenhum desenvolvimento significativo da teoria” (p. 460). De fato, 
envolviam propostas de diferentes formatos para terapia, como a “Terapia Colaborativa” 
no qual dois analistas atendiam o casal, comunicando-se sobre os processos, com o 
objetivo de manter o casamento (MARTIM, 1965). Tratamentos combinados também 
foram propostos com sessões conjuntas, com sessões individuais e de grupo com vários 
propósitos e combinações (GREENE, 1965).
É importante notar que nos métodos de tratamento conjugal psicanalítico conjuntos a 
visão individual prevalecia, embora desafiando a aderência aos métodos clássicos como 
a livre associação e a análise dos sonhos. A análise da transferência continuou como 
instrumento central do trabalho terapêutico, ampliada para incluir a transferência 
recíproca entre os cônjuges e a importância do “real” (GREENE, 1965; GURMAN; 
FRAENKEL, 2002).
Foi durante a década de 1960 que ocorreu uma mudança na abordagem psicanalítica 
de casal, prevalecendo à realização de sessões conjuntas, no entanto, esta transição não 
foi feita sem ambivalência. Watson (1963), por exemplo, recomendava, em um artigo 
sobre o tratamento conjunto do casal, a realização de duas ou três sessões de anamnése 
com cada um dos cônjuges antes da realização de sessões conjuntas. Tal prescrição 
seguia o pressuposto da necessidade do analista compreender o modo de conexão e 
sistema comunicativo do casal, bem como seus padrões de homeostase. Estes deveriam 
ser apreciados por meio de uma cuidadosa avaliação dos aspectos psicodinâmicos e 
desenvolvimentais de cada um dos cônjuges individualmente.
Como aponta Manus, a abordagem psicanalítica de casal começava a emergir oferecendo 
hipóteses que orientaram o campo, “A mais influente hipótese é que o conflito conjugal 
é baseado na interação neurótica dos parceiros... um produto da psicopatologia de um 
ou ambos parceiros” (p. 449). Leslie (1964), em um artigo clássico dos anos de 1960, 
23
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
coloca que a técnica central de trabalho com casais era a identificação de distorções 
nas percepções mútuas dos parceiros, na transferência e contratransferência, e sua 
correção, permitindo a plena manifestação do conflito na sessão e sua direta alteração.
Mesmo diante do aumento e prevalência de métodos de abordagem conjunta do casal, a 
visão teórica e as técnicas terapêuticas permaneceram sem maiores mudanças. A ênfase 
ainda era na interpretação das defesas, que agora incluíam as defesas do casal além 
das individuais, o uso das técnicas de associação livre realizada conjuntamente pelo 
casal, e análise dos sonhos, que agora incluíam além das associações individuais, as 
associações do cônjuge (SAGER, 1967a; GURMAN; FRAENKEL, 2002). Sager (1967b), 
um dos mais influentes terapeutas de casal do período, ilustra bem esta ambivalência 
ao escrever: “Eu não estou envolvido primariamente em tratar desarmonias conjugais, 
que são um sintoma, mas em tratar os dois indivíduos no casamento”. (p. 1985). 
Esse autor (SAGER 1967a, 1967b) ainda mantinha-se ligado à perspectiva tradicional 
psicanalítica, com forte ênfase nos processos de transações transferenciais trianguladas 
e na atenção aos elementos edípicos. Mas, no mesmo ano, ele escrevia sobre os riscos do 
terapeuta envolver-se em diálogos com os cônjuges que, ao tentarem falar apenas com 
o terapeuta evitariam o diálogo com o parceiro. Sager (1967a) apontava a importância 
de o terapeuta evitar assumir um lugar onipotente e encaminhar a sessão para que os 
cônjuges, ao dialogarem, desenvolvessem suas próprias e criativas soluções.
Conforme Skynner, essa ambivalência técnica refletia uma ambivalência teórica ainda 
maior para os psicanalistas do período. O lugar central daquilo que tradicionalmente 
seria o caráter distintivo da Psicanálise, ou seja, a análise da transferência. Ao avaliar 
a produção do período, uma década mais tarde, influenciado pela escola das relações 
objetais nota que a abordagem psicodinâmica parece ter perdido o seu caminho, na 
identificação das técnicas indutoras de mudança do casal, ao focar de modo inapropriado 
o conceito de transferência, e as técnicas interpretativas. Retrospectivamente notou 
que, na abordagem psicanalítica de casal, os conflitos inconscientes deveriam ser 
considerados presentes e totalmente desenvolvidos em padrões projetivos. E que esses 
poderiam ser melhores trabalhados diretamente do que por meio de métodos indiretos 
como a interpretação da transferência.
A ambivalência em relação ao núcleo central da teoria psicanalítica parecia não oferecer, 
no final da década de 1960, uma saída simples para o impasse teórico e técnico levando 
a uma diminuição temporária de interesse na abordagem psicanalítica. Essa sofreu, 
ainda na década de sessenta, fortes críticas das escolas de Terapia de Família, que 
começavam a expandir o seu movimento. Como notam Broderick e Scharder (1991), o 
artigo de Sager (1966) sobre uma revisão histórica do desenvolvimento da Terapia de 
Casal de orientação psicanalítica “parece ser o verdadeiro zênite de seu desenvolvimento 
independente” (p. 17).
24
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
De acordo com Gurman e Fraenkel, ausência de desenvolvimentos teóricos e técnicos 
próprios e as fortes críticas, tanto da Psicanálise mais ortodoxa como da abordagem 
da Terapia de Família, levaram a umperíodo de declínio de interesse na Terapia 
Psicanalítica de Casais. Apenas na década de 1980, com importantes mudanças 
teóricas e novas metodologias, é que surgiu um novo interesse na aplicação do enfoque 
psicanalítico à clínica da conjugalidade.
25
CAPÍTULO 3
Abordagem terapêutica e sua eficácia
A discussão dos aspectos metodológicos e epistemológicos relacionados às pesquisas de 
eficácia psicoterapêutica parece ser relevante, não só pela necessidade de balizamento 
da proposta de um novo modelo de Terapia de Casal de orientação construcionista 
social nos estudos sobre eficácia e eficiência psicoterapêutica, mas, também, pelos 
importantes insigths que estes resultados convidam, em relação ao campo da Terapia 
de Casal. Além disto, é necessário o conhecimento de tais resultados para justificar a 
escolha desta direção de pesquisa teórica na construção de um modelo terapêutico. 
(KOPTA, LUGUER, SANDERS; HOWARD, 1999; CHAMBLESS; OLLENDICK, 2001). 
Desde o fim do século XIX, com o estabelecimento da Psicologia como disciplina 
científica e do aparecimento de métodos de tratamento psicológicos para os distúrbios 
emocionais, em sua diversificada sintomatologia, tem surgido uma multiplicidade 
de escolas e sistemas psicoterápicos (MARX; HILLIX, 1978). De pouco mais de dez 
métodos de tratamento presentes na década de vinte do século XX, assistimos a uma 
explosão exponencial de propostas de escolas e modelos, que dá origem a mais de 30 
escolas na década de 1950, aproximadamente 180 na década de 1970, e mais de 400 no 
fim do século XX (BURTON, 1978; MILLER, HUBLLE; DUNCAN, 1995; CHAMBLESS, 
OLLENDICK, 2001). 
Essas diversas abordagens e modelos, alguns com diferenças pouco relevantes, outros 
absolutamente incompatíveis entre si, ancoram-se em pressupostos radicalmente 
diferentes, com bases epistêmicas diversas e diferentes visões de antropologia 
filosófica, daí decorrendo diferentes teorias etiológicas e psicopatológicas, propondo 
tratamentos e técnicas diferentes e, muitas vezes, conflitantes. Tal situação pode ser 
vista como decorrente do processo de constituição da Psicologia enquanto ciência, e 
da psicoterapia enquanto um de seus campos de aplicação, que tem buscado construir 
seu objeto desenvolvendo teorias e métodos. Todavia, a construção de uma ciência não 
se dá de maneira meramente cumulativa e linear a partir da definição de um campo de 
saber, mas por meio de um complexo processo que, na história da ciência, pode durar 
gerações, como aponta Kuhn (1975), que ao tentar descrever o processo de constituição 
de uma ciência, destaca várias etapas.
A princípio, com a emergência de um campo de estudos e descobertas, surge um problema 
ou um grupo de problemas relacionados, para os quais são propostos teorias e métodos. 
Criam-se escolas que disputam a prioridade de domínio do campo. Nenhuma escola 
ou grupo, neste período pré-paradigmático, é capaz de demonstrar a superioridade 
26
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
de sua abordagem ou métodos sobre as outras. Em um segundo momento, surge um 
paradigma, quando uma abordagem parece obter sucesso ao explicar os problemas 
propostos pelo novo campo de estudo, fornecendo um modelo teórico e metodológico 
aplicável às diversas situações de pesquisa:
Considero paradigma as realizações científicas universalmente 
reconhecidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluções 
modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. 
(KUHN, 1975, p. 13).
Segundo Kuhn (1975), a fase paradigmática é o período da chamada ciência normal. 
Certos problemas, contudo, não são abordados por serem considerados pouco 
importantes ou mesmo sem significado. Dados contraditórios podem emergir até 
mesmo das pesquisas orientadas pelo paradigma. A reação inicial da comunidade de 
praticantes de uma dada ciência é desprezar estes dados e problemas, considerando-os 
como não significativos ou como passíveis de explicação apenas “mais tarde”, quando 
a “ciência” avançar o suficiente. O acúmulo de dados e de problemas não resolvidos e 
incompatíveis com o paradigma dominante pode tornar-se, com o tempo, de tal monta 
que não podem mais ser negados, instalando-se uma crise paradigmática.
Os fundamentos, que até então haviam guiado as pesquisas e a produção científica, 
são abalados. Propõem-se novas linhas de abordagem, novas propostas de solução dos 
problemas, exploram-se caminhos alternativos, surgem novas escolas e sistemas que 
disputam a prioridade de aplicação e domínio metodológico. Esta disputa ocorre até 
que uma nova “gestalt” parece surgir na forma de uma nova estrutura estável e modelar, 
que passa a dominar o campo da ciência tornando-se o novo paradigma emergente.
Apesar de a psicologia científica ter mais de um século de existência, ainda apresenta 
uma disputa entre escolas e sistemas que tentam impor-se como paradigma (MARX; 
HILLIX, 1978). O debate sobre validade da psicoterapia situa-se, portanto, não só no 
campo de discussão de critérios de escolha de tratamento, fundamentados em uma 
dada escola, mas também no estabelecimento de critérios de definição paradigmática. 
Os debates sobre a validação dos métodos de psicoterapia refletem esta disputa, 
lembrando-nos que a construção de métodos de avaliação também está sujeita à 
interpretação paradigmática, tornando complexa a questão.
Assim, desde o início do século XX, praticamente a partir do aparecimento de escolas 
e métodos de tratamento psicoterapêutico, iniciaram-se discussões sobre indicações 
e eficácia de métodos de tratamento (MARX; HILLIX, 1978; GARSK; LYNN, 1985). 
O método de avaliação do tratamento psicoterapêutico era unicamente o método 
clínico de estudo de caso, que muitos psicoterapeutas consideram, ainda hoje, como 
27
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
o único válido para se avaliar um dado procedimento. Eysenck, em 1952, deu início às 
discussões sobre a validade dos métodos terapêuticos propondo o uso de um método 
comparativo experimental para um teste de eficácia. Embora seus resultados tenham 
gerado controvérsia, levaram ao desenvolvimento do método de estudo comparativo 
controlado, padrão utilizado desde a década de setenta em pesquisas de eficácia. A grande 
quantidade de trabalhos realizados dentro desta metodologia gerou a necessidade de 
avaliação dos diferentes resultados alcançados. 
Diversas tentativas de comparação de resultados foram realizadas desde análises 
qualitativas sobre os resultados de pesquisas (WACHTEL, 1981; LAZARUS, 1980; 
MARKS; GELDER, 1966; MARMOR, 1971; ALPORT, 1960; BURTON, 1978; WEIL, 1978; 
GROF, 1988), como tentativas de desenvolvimento de metodologias metaestatísticas 
de avaliação dos resultados. Evidenciou-se, então, que várias formas de terapia eram 
efetivas, mas não muito diferentes entre si na sua eficácia.
Este resultado ficou conhecido como o veredicto “Dodô”, em uma referência ao livro de 
Lewis Carol “Alice no País das Maravilhas”, no qual o pássaro Dodô, após uma corrida 
proclama; “Every body has won, and all must have prizes” (LUBORSKY; SINGER; 
LUBORVSKY, 1975, p. 1006). Este intrigante resultado foi confirmado posteriormente 
por Smith, Glass e Miller (1980a) que sugeriram, como alternativa, um procedimento 
quantitativo para integrar os resultados de estudos sobre eficácia em psicoterapia. O 
procedimento incluiu uma meta-análise estatística na qual o parâmetro estatístico 
principal foi à magnitude de efeito, que era obtida ao se dividir a diferença média de um 
grupo tratado e um grupo de controle pelo desvio padrão do grupo de controle. Deste 
modo, obtém-se a magnitude de efeito, que é uma média padronizada da diferença e 
pode ser utilizada nas comparações de um grande número de estudos, que utilizam 
procedimentos e medidas diferentes. Tal conceituação permitia a comparação de 
medidas tomadas por diferentes métodos de avaliação, respeitando os critérios de 
mensuração de cada abordagem. Sendo as seguintesas principais conclusões:
 » As diversas formas de terapia tiveram um resultado positivo. A média da 
magnitude de efeito foi 0,85, chegando a 0,93 quando se eliminaram os 
tratamentos placebo e técnicas de aconselhamento indiferenciadas.
 » Não houve grau diferenciado de melhora quando se compararam terapias 
de distintas orientações teóricas, como psicanálise, comportamental, 
cognitivista, centrada no cliente. Nem as diversas modalidades ─ verbal, 
comportamental, ou expressiva ─ obtiveram resultados diferenciados. As 
comparações simples e não controladas sugeriram que a hipnoterapia, a 
dessensibilização sistemática e a terapia cognitivista eram mais efetivas. 
28
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
Porém, esta diferença desaparece se levarmos em conta o tipo de cliente 
e de medições de resultados. As várias formas de terapia, independente 
de orientação, foram mais efetivas com clientes depressivos, com fobias 
simples ou com casos análogos. 
 » As intervenções breves versus as intervenções em longo prazo, as de 
grupo versus as individuais, terapeutas experimentados versus novatos, 
obtiveram resultados similares.
 » Os resultados positivos da psicoterapia diminuem dois anos após o 
tratamento; a média da magnitude de efeito cai para 0,50. Além disto, 
cerca de 9% dos resultados terapêuticos são negativos, resultado similar 
para todas as formas de terapia estudadas.
Dados os resultados sobre as pesquisas de eficácia no campo das psicoterapias, Garske 
e Lynn em 1985 chegaram a uma conclusão em dois níveis.
Primeiro muitos tipos e formas de psicoterapia são modestamente 
efetivas. Segundo, em termos do grau e de extensão da eficácia, as 
psicoterapias parecem ser mais parecidas que diferentes. A sofisticação 
emergente neste campo de investigação poderia muito bem proporcionar 
dados que alterem estas conclusões no futuro. Por hora, apesar das 
pretensões de diversos partidários e críticos, a avaliação que acabamos 
de apresentar é parcimoniosa e justa. (p. 631)
Dez anos após, em uma revisão sobre o tema, Miller, Hubble e Duncan (1995), ao avaliar 
o campo de pesquisa sobre eficácia das psicoterapias, notam que, apesar de inúmeros 
desenvolvimentos em técnicas de pesquisa, o quadro geral não se alterou. Notando 
que inclusive formas emergentes de psicoterapia como Terapia Cognitiva e Terapia de 
Família e Casal também demonstraram sua eficácia.
Com o desenvolvimento e divulgação de métodos de tratamento centrados na família e 
no casal durante a década de 1960 e 1970. Certo número de estudos sobre sua eficácia 
foi realizado. Porém, apenas na década de 1980 é que foram realizados estudos meta-
estatísticos, pois só então certo número de modelos e abordagens de terapia de família 
e casal foram avaliados, usando o método de estudo comparativo controlado. Esses 
estudos meta-estatísticos avaliavam tipicamente tanto estudos de família e casal 
simultaneamente, uma vez que no espírito da época, supunham que abordagens de 
família e de casal eram as mesmas.
Estudos meta-estatísticos, como os de Hahlweg e Markaman (1988) e Hazelrigg, 
Cooper e Borduin (1987), demonstraram a eficácia geral destas formas de tratamento, 
29
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
sem contudo pesquisar outros aspectos. Shadish, Montgomery, Wilson, Wilson, Bright 
e Okuwumabua (1993) aperfeiçoaram o método de comparação, procurando examinar 
diferenças entre métodos de diversas orientações teóricas, bem como as diferenças de 
resultados entre terapia individual e de casal. Utilizaram 163 estudos que haviam sido 
publicados, entre 1963 e 1988, sobre teste de eficácia em psicoterapia, e incluíram em 
sua análise teses e dissertações sobre o tema, que não foram consideradas nos estudos 
anteriores.
A análise desses estudos seguiu os padrões recomendados pelo “National Researsh 
Council” (1992), não incluindo estudos quase-experimentais, mas apenas os 
randomizados. Suas conclusões foram: 
 » Clientes tratados em terapia de casal e terapia de família têm melhoras 
superiores aos indivíduos não tratados nos pós-testes, sendo a estimativa 
de magnitude de efeito similar aos das metas análises anteriores.
 » Certas abordagens de tratamento parecem ter resultados superiores em 
algumas comparações realizadas em estudos tipo grupo experimental 
e de controle não ajustados, mas quando são realizadas correções na 
análise da regressão estas diferenças desaparecem.
 » Diferenças similares aparecem em estudos de comparação entre diferentes 
orientações teóricas de tratamento, mas também desaparecem quando se 
realiza uma análise da regressão.
 » Se todos os tratamentos são igualmente bem projetados, implementados, 
medidos e relatados não se encontram diferenças significativas entre as 
abordagens.
 » Houve uma consistente falha das terapias humanísticas em alcançar 
resultados positivos em qualquer análise:
O outro resultado é a falha consistente das terapias humanísticas de 
alcançar efeitos positivos significativos em qualquer análise. Estes 
resultados convidam a uma séria pausa para reflexão e, esperamos, 
encorajem novos estudos sobre suas causas. (SHADISH et al, 1993, 
p. 999).
Pinsof e Wynne (1995a, 1995b) revisaram grande parte dos estudos sobre eficácia de 
terapia de família e casal publicados até então, encontrando seis características nos 
estudos bem controlados sobre eficácia terapêutica:
30
UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
 » Ocorriam em ambiente clínico controlado, como laboratórios de pesquisa.
 » Focavam um problema ou uma desordem psiquiátrica específica e 
definível.
 » Envolviam pelo menos dois grupos ou condições: um experimental, que 
recebia o tratamento, e um grupo de controle que, em uma lista de espera, 
recebia um tratamento alternativo.
 » Os grupos eram randômicos.
 » Os tratamentos eram especificados e dirigidos por manuais, sendo a 
performance do terapeuta monitorada durante o tratamento.
 » Todos os clientes eram avaliados em medidas antes e depois por meio de 
avaliações padronizadas. Em experimentos mais recentes uma avaliação 
“follow-up” era realizada constituindo uma terceira medida.
Consideraram como critério de validação a existência de pelo menos dois estudos 
independentes com resultados significativos, concomitantemente com a ausência de 
resultados negativos em qualquer outro estudo, chegando às seguintes conclusões:
 » Terapia de família apresenta resultados melhores do que abordagem 
individual para: esquizofrenia, alcoolismo em adultos, adição em drogas 
em adultos e adolescentes, desordem de conduta em adolescentes, 
anorexia em adolescentes, autismo infantil, agressões e dificuldades em 
atenção, no transtorno de déficit de atenção/hipermotividade, processos 
demenciais, fatores de risco cardiovascular.
 » Terapia de Família é ainda melhor do que a ausência de tratamento 
nos casos anteriores e ainda para: obesidade na adolescência; anorexia 
na adolescência, desordens da conduta na infância, obesidade infantil, 
doenças crônicas na infância.
 » A abordagem de Terapia de Casal mostrou-se mais efetiva do que a 
abordagem individual para depressão de mulheres em casamento 
disfuncional e para casamentos disfuncionais.
 » Evidenciou-se, ainda, ser melhor do que a ausência de tratamento para 
todos os casos indicados acima e, mais, para obesidade de adultos e 
hipertensão de adultos (PINSOF; WYNNE, 1995b, 2000).
31
TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
 » Não se encontrou nenhum estudo que demonstrasse efeitos adversos da 
terapia de família e de casal.
 » Tampouco se evidenciaram dados suficientes para apoiar a superioridade 
de uma abordagem de Terapia de Família e Casal sobre outras.
 » Os dados indicavam que a abordagem de casal e de família possui um 
custo efetivo melhor do que o tratamento padrão em hospitais.
 » Terapia de Família e Casal não são suficientes para tratar sozinhasdesordens mentais crônicas como esquizofrenia, desordens afetivas 
mono e bipolares, adicções, autismo e desordens severas de conduta.
 » Em todos os casos em que Terapias de Família e Casal foram utilizadas 
em combinação com outros tratamentos, como psicofarmacoterapia, o 
resultado final foi potencializado.
Tais resultados confirmaram a eficácia geral do tratamento dos modelos de terapia 
de família e casal. Porém, isto não significa que não haja limites e restrições a estes 
estudos, relativos à sua fundamentação epistemológica e metodológica.
32
CAPÍTULO 4
O desenvolvimento de novas 
abordagens e suas críticas
Nas diversas revisões abordadas, os autores concordam que, durante a década de 1970 
e início da década de 1980 importantes desenvolvimentos críticos foram realizados em 
um contexto mais amplo, mas com profundas repercussões sobre o campo da terapia 
de casal. Pelo menos três importantes aspectos do conhecimento foram fortemente 
questionados, levantando importantes questões sobre a teoria e prática da Terapia de 
Casal. Embora, cada um destes aspectos apontasse para diferentes perspectivas, todos 
questionaram pressupostos que até então, orientavam de forma inconsciente, muitas 
das produções no campo da Terapia de Casal.
Revelado por meio do movimento feminista pontos críticos do pensamento científico, 
ao identificar seus pressupostos falocêntricos e patriarcal. A expansão do olhar 
da produção científica, sobre a conjugalidade, para além dos padrões da sociedade 
ocidental judaico-cristã, revelou novos aspectos sobre a conjugalidade presentes 
nas diferentes culturas, descortinando importantes questões. Além disso, o 
chamado pós-modernismo, com sua crítica sobre os aspectos fundacionais do 
conhecimento, apontou novas direções de inquirição envolvendo profundamente o 
pesquisador e o contexto da produção. Em conjunto e, cada qual a seu modo, estas 
linhas de questionamento imprimiram novas direções na pesquisa, no pensar sobre a 
conjugalidade e no tratamento de suas demandadas. 
É importante ressaltar que, Goldner coloca que a visão crítica do feminismo, com o 
estudo das dimensões, socialmente construídas, das diferenças entre gêneros, levou 
à compreensão de que as crenças estabelecidas sobre a diferenciação de papéis na 
sociedade ocidental ocultavam aspectos históricos de expectativas implícitas e explícitas 
de pressões sociais. Assim, as crenças sobre a construção de complementaridades 
dos papéis entre parceiros, em uma relação conjugal, foram desafiadas, revelando 
preconceitos enraizados que atravessavam não só muitas das leituras teóricas, mas 
também intervenções na prática clínica da Psicoterapia de Casal. Por exemplo, a crença 
sustentada, tanto academicamente como no imaginário popular, de que, naturalmente, 
os homens são mais instrumentais e as mulheres mais emocionais e, por isso, os 
primeiros são mais hábeis neste nível de comunicação, é compreendida na visão 
feminista, como mais uma prescrição social na forma de uma descrição científica do 
que a afirmação de um fato científico. Esta visão de complementaridade emerge a partir 
das demandas de forças econômicas, sociais e políticas que surgem com o começo da 
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TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
revolução industrial, que assinalava o local de produção de cada gênero. Os homens 
trabalhando fora de casa e as mulheres fornecendo a logística por meio dos cuidados 
do lar. Desta forma, para sustentar as necessidades de um modelo de produção, que 
requeria que os homens passassem o dia fora a trabalho e, às vezes, períodos ainda 
maiores em viagens de trabalho sustentou-se uma crença que descrevia os homens 
como possuidores de poucos dos atributos necessários para a criação da prole. E, por 
sua vez, as mulheres eram descritas como menos dotadas para solução de problemas e 
administração, como nota, entre muitos, Goldner (1985) ao afirmar que; 
(...) a complementaridade conjugal deve ser entendida como não 
apenas um arranjo psicológico entre marido e esposa, mas, também... 
Estruturando relações intimas no contexto mais amplo das relações 
sócias. (p. 31).
Além disto, Goldner (1985) colocou em relevo que esta prescrição, além de aumentar 
a rígida complementaridade em gerações de funcionamento de famílias e casais, 
acentuou, prescritivamente, produções de subjetividades cindidas ou, pelo menos, 
com desenvolvimento parcial. Pensadores sistêmicos, até este período, ao participarem 
socialmente dessa crença, negligenciaram a hierarquia de gêneros, situando-a em uma 
hierarquia transgeracional, em suas construções teóricas e intervenções, compactuando, 
assim, para manutenção deste status quo.
Outro foco de crítica foi o uso do conceito de circularidade nas relações do casal 
que supunha uma coparticipação, de ambas as partes, na emergência e manutenção 
de situações de constrangimento, intimidação e violência nas quais, muitas vezes, 
as mulheres eram vítimas, deixando uma conotação de que não só ambas as partes 
eram responsáveis igualmente pela situação de violência, como também as mulheres 
responsáveis pela manutenção de sua condição de vítimas (AVIS, 1992).
Como preconizada por Akerman Violence Project (GOLDNER, PENN, SHEINBERG; 
WALKER, 1990), a crítica feminista, coloca que a construção de teorias circulares, 
como proposta pela perspectiva sistêmica, serve também como manutenção de uma 
descrição socialmente construída. E ainda que, na visão linear de causalidade, no caso, 
de que homens são os responsáveis únicos pela violência contra as mulheres, é outra 
visão possível e mais moralmente comprometida com a proteção das vitimas. Assim, 
eles apontam que nós, enquanto seres sociais, escolhemos quando e quais teorias pelo 
menos no campo das ciências humanas, usaremos para abordar e ressaltar um aspecto 
da realidade e, ainda, qual sentido construiremos. 
Goldner nota, ainda, a posição paradoxal da mulher no campo da Terapia de Casal a 
qual, ao funcionar como monitor do bem-estar emocional do casal. Sinaliza ao marido 
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UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
a necessidade de auxílio e tipicamente marca a primeira sessão. Portanto, considera 
que a escolha teórica implica em uma responsabilidade moral, por convidar a uma 
práxis social. Além destas críticas à concepção sistêmica do funcionamento do casal 
e família, as feministas notaram que a terapia é construída por estereótipos de 
gênero. Hare-Mustin (1978) aponta para os padrões paternalísticos da hierarquia 
do relacionamento do terapeuta-cliente, com o terapeuta, deliberadamente ou não, 
reforçando o papel estereotipado de comportamento, como nos modelos de terapias 
focadas na solução de problemas do casal. 
Entretanto, a esposa, uma vez em terapia, alia-se ao terapeuta, para manter o casal em 
terapia, e simultaneamente inibe a terapia, evitando críticas ao marido, que sinaliza o 
uso do seu poder de veto, caso não goste do que escutar. Esta situação caracteriza-se 
como típica do exercício de poder e introduz a esposa em uma situação paradoxal. Papp 
(2000), a partir destas críticas, desenvolveu diversas técnicas para trabalhar e romper 
com as crenças de gêneros limitadoras.
Apter coloca que outras críticas à Terapia de Casal como, por exemplo, o multiculturalismo, 
o feminismo desafia crenças e estereótipos relacionados com a distribuição de parcerias 
no cuidado com os filhos e distribuição de tarefas como cuidados com a casa e o lar e o 
trabalho fora de casa. 
Goldner observa que embora exista uma vasta literatura feminista, tanto no campo da 
história, da psicanálise e da sociologia, a produção de obras com críticas feministas ao 
casal e a família emerge, curiosamente, quando as autoras feministas experimentam 
a transformação da maternidade em suas vidas e seus paradoxos na nossa cultura. 
Tipicamente, o nascimento do primeiro filho, em nossa cultura, faz emergir de modo 
inegável as diferenças sociais e culturais dos estereótipos e papéisdo homem e da 
mulher. Tal situação não pode ser naturalizada e, mesmo em uma época de múltiplas 
experiências em formas de conjugalidade e famílias, estudos como o de Gottman têm 
demonstrado que o impacto da divisão de trabalho doméstico na vida do casal influencia 
não somente o nível de bem-estar e satisfação conjugal, mas, até mesmo, o nível de 
longevidade. 
As crenças e preconceitos sobre o relacionamento conjugal e parental nas famílias, 
ao desafiarem o movimento feminista revelou importantes aspectos das dificuldades 
maritais que se referem às diferentes maneiras como os dois membros de um casal 
heterossexual experienciam e acessam os limites de poder e de diferentes expectativas 
quanto à intimidade. 
Para Gurman e Fraenkel, ao mesmo tempo em que o campo da terapia de casal 
recebia críticas do movimento feminista, ocorria o reconhecimento da importância da 
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TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
diversidade das experiências dos casais, em função das diferenças sociais, econômicas, 
étnicas e geográficas. Apontando que, estas diferenças não poderiam ser simplesmente 
compreendidas como desvios dos padrões normais, isto é, socialmente dominantes.
A única exceção é sobre os trabalhos com casais homossexuais e da perspectiva feminista, 
a maior parte dos trabalhos sobre aspectos multiculturais está expressa em obras gerais 
de estudos sobre famílias. Até o presente, existem poucos trabalhos específicos sobre 
estas importantes questões, como os trabalhos de Black (2000), Fraenkel e Wilson 
(2000), Mohr (2000), Perel (2000). De forma resumida, dois pontos principais 
são enfatizados nestes trabalhos. Primeiramente as normas referentes à qualidade 
e quantidade de intimidade, da distribuição de poder entre os cônjuges, o grau de 
envolvimento de outras pessoas na intimidade do casal (família, amigos, amantes) e 
outros aspectos nucleares da vida do casal, variam de acordo com as etnias, grupos 
sociais, classes econômicas, orientações sexuais entre outras afiliações e identificações 
psicossociais.
É importante ressaltar que em segundo lugar, dependendo do lugar de cada grupo dentro 
do contexto social mais amplo, a afiliação e identificação psicossocial provêm privilégios 
e dificuldades aos padrões de condições de vida e opressão social. E é evidente que esses 
fatores influenciam tanto o processo do relacionamento do casal como a satisfação 
conjugal. Logo, uma vez que o casal e cada um dos seus participantes estão imersos 
nesta teia político-econômico-social, torna-se importante levar em conta a construção 
de um contexto compreensivo da experiência conjugal, que será significada e marcada 
por estas questões. Para o contexto brasileiro, a observação feita para a sociedade norte 
americana mostra-se pertinente e pode ser aplicada:
... para as famílias afro-americanas habitantes das cidades, a realidade 
do dia a dia, com o racismo, a discriminação, o classicismo, a pobreza, a 
violência, o crime e as drogas criam forças que continuamente ameaçam 
a sobrevivência da família. (BOYD-FRANKLIN, 1993 p. 361).
De acordo com Gurman e Fraenkel (2002) notam que a emergência da perspectiva 
multicultural possui implicações de longo alcance, tanto para a teorização como para a 
prática clínica, e que tais questões encontram-se ainda muito pouco exploradas.
Quase que igualmente às questões emergentes propostas pelo movimento feminista, o 
impacto das diferenças culturais que acompanham os níveis de opressão e privilégios, 
bem como de inclusão da dimensão sócio-cultural do terapeuta com suas afiliações e 
privilégios, marcam de forma inevitável suas crenças e intervenções. As identificações 
socioculturais, étnicas, econômicas e políticas do terapeuta proveem uma base para o 
viés de sua leitura, construção de suas experiências e intervenções que podem estar 
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UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
marcadas pela reprodução de uma política de manutenção de privilégios e poder de 
classe, afetando todo o processo terapêutico; da formação da aliança terapêutica até a 
construção e realização de intervenções.
É imprescindível pontuar que cada casal deve ser visto como uma combinação única 
de condições socioculturais e, assim, a perspectiva multicultural parece requerer dos 
terapeutas uma abordagem mais colaborativa, mais etnográfica e antropológica, na 
qual ele deve investigar o contexto dos valores e expectativas que caracterizam suas 
culturas e, consequentemente, o significado particular de seus problemas e do que 
seria um estado “adequado”. A flexibilidade, na construção hierárquica, na terapia é 
um ponto crítico, principalmente, quando a raça, o nível sócio-econômico e o cultural 
colocam o terapeuta em uma aparente posição superior dentro do contexto do encontro 
terapêutico, muitas vezes assinalado, como um lugar de poder e saber. Cabe ressaltar, 
proficiência e hierarquia não são inerentemente atitudes antiéticas, pois podem ser 
utilizadas em um encontro colaborativo e respeitoso sobre as diferenças. A hierarquia 
deve ser vista como funcional no momento do encontro terapêutico e não transpor 
padrões de relacionamento socialmente marcados, construindo subjetividades 
restringidas.
Desde a década de 1980, a dimensão cultural, tem ganhado destaque, como um dos 
campos possíveis de desdobramentos teóricos mais significativos dentro do campo 
da Psicoterapia em geral e também da Psicoterapia de Casal. Desde então, o campo 
da Ciência e o da Psicoterapia têm recebido forte impacto das criticas pós-modernas, 
em especial, do Construtivismo (WATZLAWICK, 1994), do Construcionismo Social 
(ANDERSON; GOOLISHIAN, 1988; GERGEN, 1998), das Teorias de Solução de 
Problemas (WHITE; EPSTON, 1991) e de abordagens derivadas destas abordagens.
Sucintamente, pode-se dizer que, o pós-modernismo crítica o realismo, isto é, a crença 
em uma realidade objetiva, que poderia ser conhecida, sem referência ao observador, 
por meio do método científico. Propõe como alternativa, um conceito da realidade 
socialmente construída, relativa ao contexto social e histórico do conhecedor. Esta nova 
epistemologia resultou em inúmeras mudanças no campo da Terapia Sistêmica Familiar 
e, também, na Terapia de Casal. Entre elas alguns pontos se destacam. O primeiro 
seria a mudança do terapeuta de especialista a colaborador, na investigação do casal 
sobre o significado de suas dificuldades e possibilidades de solução. Ocorreu, também, 
uma modificação da descrição das interações como sequencias comportamentais e 
cibernéticas para uma compreensão de construção de significados articulados. Isto levou 
a uma busca da compreensão de como a linguagem do casal é usada para descrever as 
dificuldades do relacionamento, não só qualificando os problemas, mas também limita 
as possibilidades de solução. Este deslocamento colocou uma ênfase no aspecto único 
de cada situação clínica e do significado singular de cada experiência.
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TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA
Essa nova abordagem tem auxiliado aos casais a perceber como o impacto de certa 
descrição problematiza e limita suas ações. Possibilita, portanto, que se desidentifiquem 
destas descrições, criando novas alternativas de experiências criativas, desafiando 
crenças limitadoras, derivadas das ideologias dominantes e fundacionais. Esta 
desconstrução de significados convida à construção de novos significados para a 
identidade nuclear do casal, levando à oportunidade de mudança e renovação.
Por outro lado, surgiram críticas de que esta perspectiva levaria a um trabalho muito 
mais com indivíduos, em sua experiência relacional, que com casais em interação 
(MINUCHIM, 1998). É possível que ao se interessar pelo modo como a experiência é 
construída, certos autores tenham colocado uma ênfase maior na experiência tal como o 
indivíduo a vive. Porém, cabe ressaltar que, dentro desta perspectiva, o Construcionismo 
Social busca compreender como a

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