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Brasília-DF. Terapias de Casal e Famílias Com siTuações espeCíFiCas Elaboração Karina Santos da Fonseca Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE ÚNICA TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS .............................................................. 9 CAPÍTULO 1 HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR ................................................................................................. 9 CAPÍTULO 2 TERAPIAS DE CASAL................................................................................................................ 16 CAPÍTULO 3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA E SUA EFICÁCIA ........................................................................... 25 CAPÍTULO 4 O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS ABORDAGENS E SUAS CRÍTICAS .......................................... 32 CAPÍTULO 5 ACONSELHAMENTO MATRIMONIAL E AS IMPLICAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E METODOLÓGICAS ......................................................................................................... 49 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 58 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O assistente social no exercício de suas atribuições possui a necessidade do conhecimento de terapias de casais e famílias. Por isso, torna-se relevante a obtenção de informações relevantes sobre terapias, escolha de cônjuge, amor e casamento. Este caderno, portanto, tem como objetivo proporcionar informações acerca de Terapias de Casal e Famílias com Situações Específicas, com o compromisso de orientar os profissionais da área de Serviço Social, para que possam desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia. Objetivos » Conhecer os diversos modelos de terapias familiares. » Cuidar das famílias que expressam, das formas mais variadas, a questão social. » Ampliar a reflexão sobre sua prática e a realidade de seus usuários, considerando o contexto social além do familiar, construindo estratégias mais adequadas em suas intervenções. 9 UNIDADE ÚNICA TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS CAPÍTULO 1 História da terapia familiar “A família é uma unidade social que enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento. Estes diferem de acordo com os parâmetros das diferenças culturais, mas têm raízes universais”. (MINUCHIN) O conceito de família está diretamente relacionado a uma unidade fundamental que acompanha a formação e o desenvolvimento do ser humano. Sua composição ocorre por pessoas que estabelecem entre si profundas ligações emotivas, que são naturalmente complexas e diferentes ao longo da vida e muitas vezes unem várias gerações, podendo possuir elementos que, não tendo ligação biológica com a família, são afetivamente muito importantes no enredo das relações familiares. A família designa assim um conjunto de elementos emocionalmente ligados entre si. A Terapia Familiar é um diálogo que se constrói e desenvolve no tempo, envolvendo um terapeuta disponível e uma família normalmente em grande sofrimento. É uma procura de novas alternativas que não passam por resolver problemas e corrigir erros, mas, principalmente, por colocar em evidência a competência da própria família, ativando a sua participação na resolução dos seus problemas. Os Terapeutas não transformam, suscitam ocasiões favoráveis às mudanças, costumam orientar o seu foco de intervenção mais para o modo como os padrões de interação sustentam um problema, do que propriamente para a identificação das suas causalidades. Considera-se que a família como um todo é maior do que a soma das partes. A Terapia familiar, muitas vezes esta associada à sua variante de terapia de casal, e conhecida como terapia familiar sistêmica devido à sua origem no seio do modelo sistêmico, é um tipo de terapia que se aplica a casais ou famílias, dos quais os 10UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS membros possuem algum nível de relacionamento. A terapia familiar sistêmica tende a compreender os problemas em termos de sistemas de interação entre os membros de uma família. Desse modo, os relacionamentos familiares são considerados como fator determinante para a saúde mental e os problemas familiares são vistos mais como um resultado das interações sistêmicas, do que como uma característica particular de um indivíduo. O Pensamento Sistêmico surgiu no século XX em contraposição ao pensamento “reducionista-mecanicista” herdado dos filósofos da Revolução Científica do século XVII, como Descartes, Bacon e Newton. O Pensamento Sistêmico é uma forma de abordagem da realidade que compreende o desenvolvimento humano sobre a perspectiva da complexidade, o mesmo não nega a racionalidade científica, porém acredita que ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano, sendo assim deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais. Considerado como componente do paradigma emergente, representado por cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários campos. Por definição, aliás, o pensamento sistêmico inclui a interdisciplinaridade. É importante destacar, o Pensamento Sistêmico é percebido por meio da abordagem sistêmica que lança seu olhar não somente para o indivíduo isoladamente, pois considera também seu contexto e as relações aí estabelecidas. Para se pensar de forma sistêmica é necessário ter uma nova forma de olhar o mundo e o homem, além disso, também é exigida mudança de postura por parte dos cientistas, postura esta que propicia ampliar o foco e entender que o indivíduo não é o único responsável por ser portador de um sintoma, mas sim que existem relações que mantém este sintoma. De acordo com Capra (1996), o pensamento sistêmico tem raízes teóricas na biologia organísmica, na física quântica, na psicologia Gestalt e na ecologia. É uma disciplina, e não uma tecnologia, porque constitui um regime de ordem livremente consentida pela pessoa ou grupo interessado. Entretanto, é possível “empacotar”(codificar) os princípios da dinâmica de sistemas como tecnologia de modelagem matemática (BRIDGELAND,1998). A terapia familiar sistêmica consiste em uma abordagem terapêutica da qual todos os indivíduos participam da sessão, a família funciona como um todo, que as pessoas interagem umas com as outras e influenciam essas relações em apoio mútuo. 11 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA O terapeuta familiar pode oferecer uma melhora das interações no interior do sistema familiar e fazer um processo de recodificação de mensagens, que possibilita a maior compreensão nas suas comunicações. Também pode facilitar uma busca e descoberta de novos caminhos de relação sistêmica, incitar a todos para atuarem e descobrirem que convém introduzir mudanças para favorecer uma evolução e um amadurecimento ao paciente identificado e em todo sistema. A terapia familiar evoluiu a partir de uma multiplicidade de influências tendo recebido contribuições de diferentes áreas do conhecimento. Desde o início da formulação da psicanálise, Freud considerou e ressaltou em seus estudos as relações familiares em “Fragmento da Análise de um Caso de Histeria” (1905), ele afirma que devemos prestar tanto atenção às condições humanas e sociais dos enfermos quanto aos dados somáticos e aos sintomas patológicos, ressaltando que o interesse do psicanalista deve dirigir-se sobretudo para as relações familiares dos pacientes. Freud faz referência à família em vários outros momentos de sua obra. Em uma das suas Conferências ele se refere às resistências externas, emergentes das circunstâncias do paciente, de seu ambiente, que interferem no processo analítico e que podem explicar um grande número de fracassos terapêuticos. Ressalta que, muitas vezes, quando a neurose tem relação com os conflitos entre os membros de uma família, os membros sadios preferem não prejudicar seus próprios interesses ao invés de colaborar na recuperação daquele que está doente. Todavia, apesar da preocupação com as relações familiares e da importância que atribui a elas, Freud, como sabemos, não desenvolveu uma teoria da família nem tampouco uma técnica de atendimento familiar. Na área “psi”, podemos ressaltar algumas postulações teóricas de autores que colaboram para o surgimento da terapia familiar. Um importante precursor, sem dúvida, foi Adler que enfatiza, na sua teoria do desenvolvimento da personalidade, a importância dos papéis sociais e das relações entre estes papéis na etiologia da patologia. Influenciado pelas teorias de Adler, Sullivan coloca que a doença mental tem origem nas relações interpessoais perturbadas e que um entendimento mais completo do indivíduo só pode ser alcan çado no contexto de sua família e de seus grupos sociais. Sullivan coloca, assim, a patologia na relação, na dimensão interacional. Paralelamente a Sullivan, Frieda Fromm-Reichman estuda a relação mãe-filho como possível fonte de patologia e formula o conceito de mãe esquizofrenogênica para explicar, em termos etiológicos, a relação do paciente esquizofrênico com sua mãe. No final da Segunda Guerra, surge o movimento das comunidades terapêuticas, proposto por Maxwell-Jones, para a reformulação da assistência psiquiátrica. O conjunto das relações imediatas do paciente internado passou a ser considerado no seu tratamento. A ideia fundamental é que a melhora do quadro clínico do paciente vai ocorrer na medida 12 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS em que ansiedades e conflitos surgidos nas relações entre os membros da comunidade hospitalar possam ser trabalhados. Em seguida, Pichon-Rivière inclui a família na sua compreensão da doença mental e desenvolve a noção de “bode expiatório” como depositário da patologia que é de toda a família. Todos estes movimentos, formulações teóricas e novas compreensões da patologia propiciaram o surgimento dos primeiros estudos no campo da terapia familiar propriamente dita. No início da década de 1950, ao mesmo tempo em que crescia, a partir da produção teórica, a consciência da importância da família no desenvolvimento e na manutenção da patologia mental, a prática clínica vigente era regida por regras que ressaltavam que o contato com a família do paciente não deveria ser feito. Esta situação postergou a divulgação do trabalho clínico inicial com famílias e tornou a pesquisa, neste período, o modo mais facilmente aceitável de se atenderem famílias, facilitando a aprendizagem sobre seu funcionamento e sobre as possibilidades terapêuticas de atendimento conjunto. Assim, os primeiros autores importantes na área da terapia familiar, produziram conceitos teóricos relevantes sobre estrutura e dinâmica da família, ao longo do desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa. Esta pesquisa inicial foi realizada com a população esquizofrênica, tendo em vista ser a esquizofrenia uma doença frequente, de longa duração, com alto índice de reincidência, e muito resistente aos métodos terapêuticos vigentes. O problema social dela decorrente justificou a aplicação de verbas públicas na investigação desta patologia, o que ocorreu, neste momento, sobretudo nos Estados Unidos e na Inglaterra. Dentre os vários grupos de pesquisa que se organizaram, o grupo de Gregory Bateson, cujo trabalho foi desenvolvido em Palo Alto, tem como resultado, em 1956, a primeira publicação na área; o artigo clássico intitulado “Toward a Theory of Schizophrenia” que são postuladas as bases familiares da etiologia da esquizofrenia e formulado o conceito de duplo-vínculo. Segundo estes autores, para que tenha lugar uma situação de duplo-vínculo são necessárias as seguintes condições: duas pessoas com um alto nível de envolvimento (em geral a mãe e o seu bebê);um paradoxo infringido pela mãe ao bebê que é chamado de “vítima”; a repetição desta experiência que passa a ser habitual; a impossibilidade da “vítima” de abandonar o campo, ou seja, escapar ao paradoxo. Aos poucos, o foco destes estudos, inicialmente voltados para famílias com pacientes esquizofrênicas foi se ampliando, abrangendo famílias com pacientes neuróticos e eventualmente famílias sem patologias sérias. Os trabalhos mostraram que os fenômenos descobertos nas famílias esquizofrênicos eram elementos básicos na dinâmica familiar. Constata-se que os mesmos princípios interacionais estavam presentes em todas as famílias, embora em graus diferentes. A patologia não representava 13 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA (assim como não representa no indivíduo) uma situação qualitativamente diferente, mas uma exacerbação de determinados padrões. Na década de 1950, surgiu nos Estados Unidos a Terapia de Família. Inúmeros fatores contribuíram para que o seu surgimento ocorresse nesse país e nessa época, dentre os quais podemos citar como sendo um dos mais relevantes o pós-guerra. Nessa época, as transformações que ocorriam nos Estados Unidos em diversas áreas, como o aumento da industrialização, a participação das mulheres no mercado de trabalho, novas tecnologias, relações sociais modificadas, aumento do acesso à educação, entre outras, foram as consequências da consolidação da expansão que já vinha ocorrendo desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com (PONCIANO, 1999) todas essas transformações, gerou um clima de otimismo e fé no futuro, o que favoreceu o aumento das famílias e a crença de que a família era um lugar da felicidade. A Segunda Guerra proporcionou um ambiente intelectual e diversificado com a imigração, de vários profissionais de diversas áreas da Europa para os Estados Unidos. Esses imigrantes levaram consigo suas histórias e experiências vividas durante a guerra e esses acontecimentos tiveram efeito importante sobre as disciplinas relacionadas com a saúde mental. Isso porque, em situações de guerras a capacidade que as pessoas costumam ter de possuir o controle sobre as próprias vidas e destino parece ser posta à mercê de forças sobre as quais elas não têm nenhum controle. Para Bloch e Rambo (1998) a consciência da importância do contexto social sobre a vida dos indivíduos nessa época aumentou rapidamente e adquiriu maior complexidade. Neste contexto, de forma paralela ocorreu a união de psicanalistas judeu-europeus com psiquiatras militares norte-americanos parcialmente treinados que retornavam aos Estados Unidos sem muita perspectiva profissional, o que resultou no crescimento do movimento psicanalítico, e abriu as portas para terapias ativas que vieram suplantar a psiquiatria biológica inicial. Em um curto período de tempo o movimento psicanalítico dominou o cenário psiquiátrico norte-americano, ao mesmo tempo em que começaram a surgir sinais de descontentamento com essa teoria. Segundo Bloch e Rambo (1998), o descontentamento com esse modelo teve origem em alguns pontos, sendo os principais, o caráter limitado do modelo freudiano de desenvolvimento psicológico feminino; as mudanças dos paradigmas nas ciências sociais e naturais, o que inclui a física pós-einsteiniana, a teoria da informação, a cibernética, a linguística e a teoria geral dos sistemas; a consciência dos limites das noções de saúde mental e a tomada de consciência em relação à importância do contexto, o que segundo os críticos estaria em desacordo com a psicanálise, já que esta teria seu enfoque voltado 14 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS para a história passada, na experiência interna do indivíduo expressa em sequencias intrapsíquicas. O trabalho inicial centrado na família iniciou-se como pesquisa voltada, principalmente, para famílias com pacientes esquizofrênicos e delinquentes, que não estavam se beneficiando dos tratamentos convencionais. As primeiras e principais pesquisas direcionadas às famílias com pacientes esquizofrênicos foram as realizadas por Gregory Bateson, Don Jackson, Weakland, Haley, Bowen, Lidz, Whitaker, Malone, Scheffen e Birdwhistle, a maioria descrita no livro organizado por Bateson et al (1980) “Interación familiar”. Já as pesquisas direcionadas às famílias com delinquentes tiveram seu marco inicial no projeto Wiltwick, realizado por Minuchin, no início da década de 1960. Segundo Grandesso (2000), essas pesquisas representam o início de um novo campo que começava a se desenvolver e que tinha como principal característica a mudança de foco da prática terapêutica no indivíduo e processos intrapsíquicos, para a família, com ênfase nas interações entre seus membros. Diferente de outras correntes teóricas, como a psicanálise, por exemplo, que tinha no seu início suas formulações centradas em torno de um autor principal, esse novo campo começou a se desenvolver com muitas influências, vindas de diversos campos e autores. As influências mais marcantes na formação desse campo foram da Teoria Novos aportes filosóficos, as questões da linguagem, a construção conjunta de significados (construtivismo e construcionismo social), as contribuições da nova física e os novos conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro e da mente, formam um pano de fundo para o surgimento de novas escolas de Terapia Família, que sem abandonar completamente os pressupostos anteriores, passam a explorar as narrativas dos diversos membros de uma família novas descrições para as histórias familiares, que tragam mais recursos para o funcionamento da família. O Terapeuta deixa de ser um observador externo, um expert em detectar problemas, para se transformar em um articulador, um mediador de conversações, mais preocupado em conhecer como esta família se organiza e opera, além de quais significados que são ou não compartilhados por seus membros. No Brasil, podemos destacar como grandes nomes da Terapia Familiar dentre outros: Marilene Grandesso, Maria José Esteves, Terezinha Féres, Rosa Macedo, Sandra Fedulo, Roberto Faustino( Recife), Rosana Rapizzo, Luiz Carlos Prado. É possível compreendermos que o sistema familiar vive interações que repercutem no seu desempenho, tanto em seu ambiente interno como externo. Desta forma, conseguimos entender um dos principais pilares da Terapia Familiar que é a circularidade que estuda atenciosamente, as sequências interacionais dos familiares, para um olhar 15 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA mais aprofundado acerca dos fatores que estão “segurando” o padrão comportamental familiar. Sabe-se que todo sistema faz parte de um sistema maior, por esse motivo, é importante relacionar a família, observando-se sua rede de subsistemas, mediante a leitura de contextos mais amplos, ou seja: indivíduo, grupo, comunidade, sistema de crenças, cultural, político. A família é compreendida como um sistema aberto, e, dependendo de como “administra” suas relações, poderá “trabalhar” para diante de um desafio, problema, continuar na sua zona de conforto e não propiciar a mudança, ficando na homeostase. Pode também “trabalhar” no favorecimento da mudança buscando condições de superação e novos significados. É importante ressaltar que, a Terapia Familiar dos dias atuais, tem seus paradigmas baseados na Ciência Pós Moderna e se apoia aos seguintes conceitos: » Complexidade (Não existe só uma realidade): base no multiverso; há diferentes olhares, múltiplos significados acerca de um mesmo fato. » Imprevisibilidade: Compreender que as imprevisibilidades existem, pois muitos fatos não estão sob o nosso controle; » Intersubjetividade-Influências recíprocas entre o observador e a realidade observada: negação da neutralidade. Ou seja, enquanto participante do processo terapêutico, o terapeuta, também, coloca nesse percurso suas vivências. A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida daspessoas é moldada pelas interações tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos. O contexto familiar é compreendido de forma menos objetiva e mais complexa, na qual vai em busca dos diversos significados dos membros familiares e da família como um todo. O terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo de curar feridas e também de mobilizar talentos e recursos. 16 CAPÍTULO 2 TERAPIAS DE CASAL O campo da terapia de casal tem como desafio a possibilidade de uma revisão simples, pois muitas correntes, tendências, diferentes abordagens e perspectivas afloraram e conviveram em períodos históricos e gerações de psicólogos, simultaneamente. A evolução das abordagens, metodologias e teorias tampouco é linear, o que impede uma descrição simples da história do campo. A história não é neutra, nem é uma revisão, o que obriga o autor a definir seus parâmetros. Desta forma, a reflexão sobre o campo doxológico da psicoterapia de casal, e não realizar uma profunda descrição histórica. Porém, a história tem consequências, pois cria o contexto no qual nossos atos adquirem significados, e sugerem direções e objetivos. O campo da Terapia de Casal tem sido visto, por seus praticantes, ao longo dos anos, bem como apontar momentos pivotais e contribuições teóricas consideradas seminais, indicando mudanças de objetivos, metodologias e teorias envolvidas. As revisões do campo da psicoterapia de casal apresentam algumas características notáveis que revelam “mitos” e discordâncias, dos autores que trataram o tema, sobre pontos importantes como as raízes históricas, filiações, e importância de autores seminais. É significativa, primeiramente, a existência de poucas revisões, históricas ou conceituais, sobre o desenvolvimento do campo, comparativamente a outras modalidades de atendimento clínico psicológico, o que leva Gurman e Fraenkel, (2002) a afirmar que: “A Psicoterapia de Casal é uma área da prática psicoterapêutica que é longa em história, mas curta em tradição”(p. 199) Tem sido comum, autores afirmarem desconsiderando outros autores, em uma aderência a identificações teóricas de sua época, a ascendência recente da terapia de casal, como fazem Olson (1970), Haley (1984a) entre outros (FRAMO, 1996; BRODERICK; SCHRADER, 1991). Esses mesmos autores, colocam que a delimitação das raízes tradicionais da Terapia de Casal também é divergente, contribuindo para o mito da ascendência recente, como apontam Gurman e Fraenkel (2002). Os trabalhos de revisão parecem discordar sobre quais critérios de recorte e de importância deveriam ser considerados, na construção de uma história da Psicoterapia de Casal. Conceitualmente, portanto, diferentes origens históricas e conceituais são atribuídas à Psicoterapia de Casal, desde desdobramentos da tradição do Aconselhamento Matrimonial à Terapia Sistêmica de Famílias, passando por aplicações da Psicanálise e da abordagem da Psicologia Comportamental 17 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA e Cognitiva à situação conjugal. Outro desacordo, entre os revisores, está na avaliação dos avanços realizados e da maturidade do campo da Psicoterapia de Casal, sendo que, muitas vezes, são citados e discutidos os mesmos autores e trabalhos como referência e validação de suas conclusões. Gurman e Jacobson em sua revisão de 1995, por exemplo, declararam que a terapia de casal havia chegado à maturidade em função de sua: ...maior atenção ao significado dos valores pessoais e culturais; uma mais balanceada apreciação da interdependência de fatores interpessoais e intrapsíquicos no relacionamento do casal (...). Um aumento da ênfase nas intervenções operacionais uma abordagem mais honesta da eficácia da terapia de casal; e ligações mais sólidas com relevantes profissões e disciplinas. (p. 6.) Johnson e Lebow (2000) questionaram essa assertiva considerando-a prematura. Gurman e Fraenkel (2002) discordam desta crítica, considerando que Johnson e Lebow (2000) apontam exatamente para sua conclusão ao citarem, neste mesmo artigo como base para sua argumentação, muitos dos mesmos trabalhos, autores e contribuições mencionados por Gurman e Jacobson (1995). Esta discordância colocada por eles parece estar também relacionada com o viés teórico do revisor que, ao abordar o desenvolvimento do campo, tende a ressaltar as contribuições de sua linha teórica. Com frequência o campo é descrito metaforicamente, com imagens que corresponderiam a uma perspectiva de desenvolvimento e crescimento rápido. E, sua longa história é, frequentemente, esquecida ou desconsiderada, bem como suas contribuições e importância. Olson (1970), que parece ter sido o primeiro revisor da história do campo, escreveu ao longo dos anos, sucessivas revisões sobre os desdobramentos e descobertas. O campo da Terapia de Casal descreveu em 1970 como sendo o mais “novo” e que “não havia ainda desenvolvido uma sólida base teórica e que suas principais hipóteses e princípios ainda deveriam ser testados” (OLSON, 1970, p. 501). Seis anos após, considerou que o campo havia “saído de sua infância” e mostrava “sinais de maturidade” (OLSON; SPRENKLE, 1976. p. 326). Em 1980, Olson afirmou que o campo já havia chegado à “jovem maturidade” (OLSON; RUSSEL; SPRENKEL, 1980, p. 974). Gurman e Fraenkel (2002) consideram esta afirmativa otimista, mas não fundamentada. Este tipo de discordância parece permear as revisões sobre o campo. É curioso que a primeira e única revisão do campo de Psicoterapia de Casal realizada após o ano 2000, publicada em revista especializada indexada ao “Psiclit”, tenha sido no periódico “Family Process” (GURMAN; FRAENKEL, 18 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS 2002). Pois, como nota Framo (1989), quando da criação da AFTA, “Americam Family Therapy Academy”, no final da década de 1970, a então AAMFC “Americam Association for Marriage and Family Conseling” e atual AAMFT “Americam Association for Marriage and Family Therapy” reagiu com verdadeiro alarme, pois: “do ponto de vista da AFTA o campo do Aconselhamento Conjugal e Terapia de Família eram duas áreas separadas cada qual com sua própria história, conceitos, e práticas”. (FRAMO, 1989, p. 12). Essa importância é apontada por Gurman e Fraenkel (2002), os autores do artigo de revisão, ao notarem que: A ironia de que a série especial de artigos sobre terapia de casal seja publicada aqui, em vez de algum outro periódico afiliado ao tema, não pode ser minimizada. Muitos dos primeiros pioneiros da Terapia de Família explicitamente destacaram que Terapia de Casal não era o foco central no seu trabalho, ou efetivamente a colocaram em esquecimento meramente por não mencionar o seu papel. (p. 200). Ainda na atualidade, já que, na maior parte dos livros sobre terapia de família, o tema não é mencionado ou, quando o é, aparece apenas em uma porção reduzida do texto. Isto revela outro importante mito: o da pequena importância da Terapia de Casal na prática clínica. Esse mito parece ter duas importantes fontes. Por meio de um ponto de vista é colocado, que a da tradição clínica de atendimento individual, na qual a entrada de qualquer outro membro da família na terapia, e em especial a do parceiro, era e é, na maioria dos modelos, vista como arriscada e ameaçadora aos objetivos terapêuticos. A quase totalidade dos modelos desenvolvidos para psicoterapia no século XX seguiu este padrão. E mesmo os modelos de atendimento de psicoterapia de grupo contra indicavam a presença de membros da mesma família no grupo terapêutico, e mais ainda do parceiro conjugal. A tradição da Terapia Sistêmica de Famílias de acordo com outro ponto de vista incluiu a família como um todo e, aparentemente, minimizou o foco no casal. Isto se revela em livros-texto sobre Terapia Sistêmica de Família como o de Nichols e Schawartz (1998), que possui aproximadamente2% de suas páginas dedicadas à Terapia de Casal, ou o livro de Gurman e Kniskern (1981) que dedica apenas um quarto dos capítulos ao tema. Isto não significa que autores do campo da Terapia Sistêmica de Família não reconheçam ou não apontem a importância da abordagem do casal no tratamento da família. Pois, como Nataniel Akerman (1970) apontou: “a terapia da desordem conjugal é o núcleo da abordagem para a mudança familiar” (p. 124). Essa relevância também é dada por outros autores como Virginia Satir, Donald Jackson, Jay Haley, Salvador Minuchim, e Murray Bowen. Isto parece indicar que se a Terapia de Família e Terapia 19 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA de Casal compartilharam um mesmo conjunto de técnicas e de conceitos há sinais der mudança, na medida em que cada campo está gerando abordagens, conceitos e técnicas próprias (FRAENKEL, 1997). Em uma das pesquisas realizada por Rait (1988) indicou que metade das demandas nas clínicas de Terapia de Família era ligada a questões conjugais. Esse resultado está de acordo com o estudo de Simmons e Doherty (1995), que encontrou que problemas conjugais (58%) excediam problemas de toda a família (42%), em famílias em atendimento. E em um estudo nacional, Simmons e Doherty (1995) verificaram que Terapeutas de Família tratavam duas vezes mais casais que famílias. O mesmo padrão foi encontrado no estudo de Whishman, Dixon e Jonhson (1997), demonstrando que o tratamento de problemas conjugal domina a prática do campo de Terapia de Família. Essa situação não é nova em absoluto, nem específica da clínica de famílias. Em 1960, Gurim, Vernoff e Feld verificaram que cerca de 40% dos clientes pesquisados, sobre os motivos de procurar psicoterapia, viam seus problemas como sendo de natureza conjugal. No Brasil não dispomos, ainda, de nenhum estudo sobre o tema. O tamanho e a importância das demandas de atendimento referentes às questões ligadas à conjugalidade, não podem ser negados, mas como responder a elas? E mais, o que é Psicoterapia de Casal ou Terapia de casal, uma vez que diferentes autores utilizam diversas nomenclaturas para se referir a práticas de intervenção psicológica com casais? Esta é uma importante questão cuja resposta mudou de acordo tanto com a filiação teórica do praticante, quanto com o período histórico, levando a diferentes propostas de modelos de atendimento, com diversos formatos, tais como: cada membro do casal, simultaneamente atendido em sessões individuais, com terapeutas diferentes; cada membro do casal, simultaneamente atendido, em sessões individuais com o mesmo terapeuta; cada membro do casal atendido em sessões individuais, com o mesmo terapeuta consecutivamente, ou seja, à análise de um cônjuge seguia-se a análise do outro; do casal em conjunto com o mesmo terapeuta; atendimento em conjunto do casal com a família nuclear, extensa ou transgeracional (GURMAN; FRAENKEL, 2002). Ainda do ponto de vista de Gurman e Fraenkel, orientações teóricas parecem ter predominado em diferentes momentos em diferentes grupos, como psicanálise, humanismo, sistêmica, comportamental cognitiva além de abordagens sociais. Isto revela, de um lado, a riqueza teórica e técnica do campo, e de outro, coloca um desafio extremo de descrever o desenvolvimento da área, de uma maneira que possibilite a compreensão destes desdobramentos e o estado atual do campo. Diversos autores de revisões, quando examinados em conjunto, parecem concordar que predominam na história conceitual da Psicoterapia de Casal pelo menos quatro fases metodológicas e conceituais (GURMAN; FRAENKEL, 2002; GURMAN; JACOBSON 1995; JOHNSON; LEBOW, 2000). Nessas fases de certas correntes teóricas parecem ter predominado 20 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS no campo, e certo método para atendimento parece ter sido desenvolvido e aceito como o mais adequado. A primeira fase começa com a abordagem do Aconselhamento Matrimonial, que se orientava por teorias psicológicas ecléticas e indiferenciadas. A segunda fase caracterizou-se com a aplicação do método e de teorias psicanalíticas ao casal. Já a terceira fase foi marcada pela introdução do enfoque sistêmico familiar. E a quarta fase com a diversificação de modelos, abordagens e o aparecimento de esforços de articulação entre propostas. Abordar uma revisão teórica, ainda que sumária, por esta perspectiva, parece útil, pois, além de possibilitar a compreensão dos motivos pelos quais os mitos dominantes do campo da Psicoterapia de Casal surgiram, também torna possível discernir não só os impasses teórico-metodológicos, mas também apontar direções de desenvolvimentos possíveis, indicando as principais e mais robustas descobertas do campo. Assim, ao traçar uma breve revisão conceitual serão abordados a orientação teórica dominante ou significativamente nova, em um período, o método adotado, e autores significativos de acordo com as interpretações dos autores das revisões. De acordo com Clarck e Jung, a história da Terapia de Casal apresenta diferentes inícios, de acordo com o critério de corte adotado por diferentes revisores. Os trabalhos de pioneiros como C.C. Jung que escreveu no contexto de sua obra, já no início do século XX, sobre aspectos ligados ao relacionamento conjugal, e pesquisaram aspectos ligados à transmissão transgeracional de complexos inconscientes, podem ser adotados como ponto de partida Porém, a contribuição não é sequer mencionada pela maioria dos revisores. No entanto, todos apontam para as contribuições ocorridas no início do século XX, nos EUA, como significativas. Tal posição parece dever-se ao fato de que a maior parte das escolas de Terapia de Casal ter surgido, nos EUA, durante o século XX. Gurman e Fraenkel (2002) incluem em sua revisão o período do Aconselhamento Matrimonial que, por sua natureza peculiar, oferece campo para divergências como antecedente ou mesmo membro da tradição da Psicoterapia de Casal. Seguiremos o esquema de interpretação de Gurman e Fraenkel (2002), para os quais a história do Aconselhamento Matrimonial é a primeira fase, no sentido histórico, sendo a de menor contribuição teórica e metodológica, mas que respondeu de maneira algo ingênua, à demanda por tratamento psicológico das relações conjugais. Para Gurman e Fraenkel as contribuições do pensamento psicanalítico à Terapia de Casal podem talvez serem divididas em três períodos, segundo as tendências metodológicas, teóricas e contribuições técnicas. O primeiro período vai da década de 1930 até a década de 1960, sendo caracterizado por experimentações e aplicação dos princípios 21 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA e técnicas psicanalíticas tradicionais à situação de tratamento do casal. Ocorre, em um segundo período, que vai da metade da década de 1960 até a década de 1980, um arrefecimento do interesse na aplicação da psicanálise à situação conjugal. Por um lado, devido às criticas do próprio movimento psicanalítico ao uso da psicanálise em situações não tradicionais, e, por outro, devido ao interesse despertado pelo movimento de Terapia Sistêmica de Família, que elaborou fortes críticas à abordagem psicanalítica, considerando-a excessivamente personalista e voltada ao intrapsíquico. Desta maneira, eles colocam que somente a partir da década de 1980 é possível o aparecimento de um interesse renovado na abordagem psicanalítica, caracterizando um novo período que se estende até os dias de hoje. No entanto, importantes contribuições foram feitas pelos pioneiros em suas tentativas de responder à demanda crescente de atendimento por parte dos casais. O que é colocado por Gurman e Fraenkel é o seguinte: As intervenções psicanalíticas de casal desenvolveram-se de modo autônomo em relação ao Aconselhamento Matrimonial. É importante notar que, neste período, apenas psiquiatras eram admitidos como psicanalistas. Assim,um grupo de profissionais interessados em responder à demanda das dificuldades conjugais, incluindo problemas psiquiátricos, e insatisfeitos com os resultados do método analítico tradicional iniciaram uma série de experimentações e modificações na técnica, de um modo algo ambivalente. Aparentemente a questão era: como fazer tratamento em casais com uma técnica desenvolvida e voltada para o indivíduo? A seleção do parceiro na formação do casal e fatores que levavam à manutenção das relações conjugais, mesmo em situações de extremo estresse, já despertava o interesse de psicanalistas neste período. Obernoff (1931) apresentou um trabalho sobre a Psicanálise de Casais, descrevendo a relação das neuroses na formação do sintoma do casal. Anos depois, em 1938, Obernoff apresentou um artigo sobre Psicanálise Conjugal Consecutiva na qual a análise de um dos esposos começava quando terminava a do outro. Mittelman (1948) propôs outro enfoque ao descrever o tratamento conjugal como processo de análise individual concomitante de ambos os esposos pelo mesmo analista. Essas abordagens despertaram, obviamente, críticas e restrições, pois contrariavam dramaticamente o método tradicional, no qual, qualquer contato com qualquer membro da família, deveria ser evitado, sob pena de “contaminação” da transferência Greene (1965). Para Mittelman (1948), ao realizar a, provavelmente, primeira sessão de casal conjunta na abordagem psicanalítica, motivado pela diferença das histórias dos casais, que não combinavam em aspectos significativos (SAGER, 1966). Embora, essa intervenção 22 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS tenha sido considerada, teoricamente, incorreta para a abordagem psicanalítica e, politicamente, incorreta para o período, revela a essência da hipótese que guiava a intervenção nos casais; era tarefa do terapeuta destacar e corrigir as percepções distorcidas de ambos os cônjuges, permitindo uma relação liberta da irracionalidade. Assim, de acordo com Mittelman caberia ao analista decidir ou auxiliar na decisão do que era “mais racional”. Mesmo Mittelman (1948) sentia-se ambivalente quanto a sessões conjuntas e acreditava que este método só deveria ser usado em casos específicos, que atingiriam não mais que 20% das situações, e que os demais seriam mais beneficiados com análises em separado com diferentes analistas. Outras cautelosas experimentações ocorreram durante o final da década de 1950 e início da década de 1960, mas, como nota Sager (1966), “estas contribuições não evidenciavam nenhum desenvolvimento significativo da teoria” (p. 460). De fato, envolviam propostas de diferentes formatos para terapia, como a “Terapia Colaborativa” no qual dois analistas atendiam o casal, comunicando-se sobre os processos, com o objetivo de manter o casamento (MARTIM, 1965). Tratamentos combinados também foram propostos com sessões conjuntas, com sessões individuais e de grupo com vários propósitos e combinações (GREENE, 1965). É importante notar que nos métodos de tratamento conjugal psicanalítico conjuntos a visão individual prevalecia, embora desafiando a aderência aos métodos clássicos como a livre associação e a análise dos sonhos. A análise da transferência continuou como instrumento central do trabalho terapêutico, ampliada para incluir a transferência recíproca entre os cônjuges e a importância do “real” (GREENE, 1965; GURMAN; FRAENKEL, 2002). Foi durante a década de 1960 que ocorreu uma mudança na abordagem psicanalítica de casal, prevalecendo à realização de sessões conjuntas, no entanto, esta transição não foi feita sem ambivalência. Watson (1963), por exemplo, recomendava, em um artigo sobre o tratamento conjunto do casal, a realização de duas ou três sessões de anamnése com cada um dos cônjuges antes da realização de sessões conjuntas. Tal prescrição seguia o pressuposto da necessidade do analista compreender o modo de conexão e sistema comunicativo do casal, bem como seus padrões de homeostase. Estes deveriam ser apreciados por meio de uma cuidadosa avaliação dos aspectos psicodinâmicos e desenvolvimentais de cada um dos cônjuges individualmente. Como aponta Manus, a abordagem psicanalítica de casal começava a emergir oferecendo hipóteses que orientaram o campo, “A mais influente hipótese é que o conflito conjugal é baseado na interação neurótica dos parceiros... um produto da psicopatologia de um ou ambos parceiros” (p. 449). Leslie (1964), em um artigo clássico dos anos de 1960, 23 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA coloca que a técnica central de trabalho com casais era a identificação de distorções nas percepções mútuas dos parceiros, na transferência e contratransferência, e sua correção, permitindo a plena manifestação do conflito na sessão e sua direta alteração. Mesmo diante do aumento e prevalência de métodos de abordagem conjunta do casal, a visão teórica e as técnicas terapêuticas permaneceram sem maiores mudanças. A ênfase ainda era na interpretação das defesas, que agora incluíam as defesas do casal além das individuais, o uso das técnicas de associação livre realizada conjuntamente pelo casal, e análise dos sonhos, que agora incluíam além das associações individuais, as associações do cônjuge (SAGER, 1967a; GURMAN; FRAENKEL, 2002). Sager (1967b), um dos mais influentes terapeutas de casal do período, ilustra bem esta ambivalência ao escrever: “Eu não estou envolvido primariamente em tratar desarmonias conjugais, que são um sintoma, mas em tratar os dois indivíduos no casamento”. (p. 1985). Esse autor (SAGER 1967a, 1967b) ainda mantinha-se ligado à perspectiva tradicional psicanalítica, com forte ênfase nos processos de transações transferenciais trianguladas e na atenção aos elementos edípicos. Mas, no mesmo ano, ele escrevia sobre os riscos do terapeuta envolver-se em diálogos com os cônjuges que, ao tentarem falar apenas com o terapeuta evitariam o diálogo com o parceiro. Sager (1967a) apontava a importância de o terapeuta evitar assumir um lugar onipotente e encaminhar a sessão para que os cônjuges, ao dialogarem, desenvolvessem suas próprias e criativas soluções. Conforme Skynner, essa ambivalência técnica refletia uma ambivalência teórica ainda maior para os psicanalistas do período. O lugar central daquilo que tradicionalmente seria o caráter distintivo da Psicanálise, ou seja, a análise da transferência. Ao avaliar a produção do período, uma década mais tarde, influenciado pela escola das relações objetais nota que a abordagem psicodinâmica parece ter perdido o seu caminho, na identificação das técnicas indutoras de mudança do casal, ao focar de modo inapropriado o conceito de transferência, e as técnicas interpretativas. Retrospectivamente notou que, na abordagem psicanalítica de casal, os conflitos inconscientes deveriam ser considerados presentes e totalmente desenvolvidos em padrões projetivos. E que esses poderiam ser melhores trabalhados diretamente do que por meio de métodos indiretos como a interpretação da transferência. A ambivalência em relação ao núcleo central da teoria psicanalítica parecia não oferecer, no final da década de 1960, uma saída simples para o impasse teórico e técnico levando a uma diminuição temporária de interesse na abordagem psicanalítica. Essa sofreu, ainda na década de sessenta, fortes críticas das escolas de Terapia de Família, que começavam a expandir o seu movimento. Como notam Broderick e Scharder (1991), o artigo de Sager (1966) sobre uma revisão histórica do desenvolvimento da Terapia de Casal de orientação psicanalítica “parece ser o verdadeiro zênite de seu desenvolvimento independente” (p. 17). 24 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS De acordo com Gurman e Fraenkel, ausência de desenvolvimentos teóricos e técnicos próprios e as fortes críticas, tanto da Psicanálise mais ortodoxa como da abordagem da Terapia de Família, levaram a umperíodo de declínio de interesse na Terapia Psicanalítica de Casais. Apenas na década de 1980, com importantes mudanças teóricas e novas metodologias, é que surgiu um novo interesse na aplicação do enfoque psicanalítico à clínica da conjugalidade. 25 CAPÍTULO 3 Abordagem terapêutica e sua eficácia A discussão dos aspectos metodológicos e epistemológicos relacionados às pesquisas de eficácia psicoterapêutica parece ser relevante, não só pela necessidade de balizamento da proposta de um novo modelo de Terapia de Casal de orientação construcionista social nos estudos sobre eficácia e eficiência psicoterapêutica, mas, também, pelos importantes insigths que estes resultados convidam, em relação ao campo da Terapia de Casal. Além disto, é necessário o conhecimento de tais resultados para justificar a escolha desta direção de pesquisa teórica na construção de um modelo terapêutico. (KOPTA, LUGUER, SANDERS; HOWARD, 1999; CHAMBLESS; OLLENDICK, 2001). Desde o fim do século XIX, com o estabelecimento da Psicologia como disciplina científica e do aparecimento de métodos de tratamento psicológicos para os distúrbios emocionais, em sua diversificada sintomatologia, tem surgido uma multiplicidade de escolas e sistemas psicoterápicos (MARX; HILLIX, 1978). De pouco mais de dez métodos de tratamento presentes na década de vinte do século XX, assistimos a uma explosão exponencial de propostas de escolas e modelos, que dá origem a mais de 30 escolas na década de 1950, aproximadamente 180 na década de 1970, e mais de 400 no fim do século XX (BURTON, 1978; MILLER, HUBLLE; DUNCAN, 1995; CHAMBLESS, OLLENDICK, 2001). Essas diversas abordagens e modelos, alguns com diferenças pouco relevantes, outros absolutamente incompatíveis entre si, ancoram-se em pressupostos radicalmente diferentes, com bases epistêmicas diversas e diferentes visões de antropologia filosófica, daí decorrendo diferentes teorias etiológicas e psicopatológicas, propondo tratamentos e técnicas diferentes e, muitas vezes, conflitantes. Tal situação pode ser vista como decorrente do processo de constituição da Psicologia enquanto ciência, e da psicoterapia enquanto um de seus campos de aplicação, que tem buscado construir seu objeto desenvolvendo teorias e métodos. Todavia, a construção de uma ciência não se dá de maneira meramente cumulativa e linear a partir da definição de um campo de saber, mas por meio de um complexo processo que, na história da ciência, pode durar gerações, como aponta Kuhn (1975), que ao tentar descrever o processo de constituição de uma ciência, destaca várias etapas. A princípio, com a emergência de um campo de estudos e descobertas, surge um problema ou um grupo de problemas relacionados, para os quais são propostos teorias e métodos. Criam-se escolas que disputam a prioridade de domínio do campo. Nenhuma escola ou grupo, neste período pré-paradigmático, é capaz de demonstrar a superioridade 26 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS de sua abordagem ou métodos sobre as outras. Em um segundo momento, surge um paradigma, quando uma abordagem parece obter sucesso ao explicar os problemas propostos pelo novo campo de estudo, fornecendo um modelo teórico e metodológico aplicável às diversas situações de pesquisa: Considero paradigma as realizações científicas universalmente reconhecidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. (KUHN, 1975, p. 13). Segundo Kuhn (1975), a fase paradigmática é o período da chamada ciência normal. Certos problemas, contudo, não são abordados por serem considerados pouco importantes ou mesmo sem significado. Dados contraditórios podem emergir até mesmo das pesquisas orientadas pelo paradigma. A reação inicial da comunidade de praticantes de uma dada ciência é desprezar estes dados e problemas, considerando-os como não significativos ou como passíveis de explicação apenas “mais tarde”, quando a “ciência” avançar o suficiente. O acúmulo de dados e de problemas não resolvidos e incompatíveis com o paradigma dominante pode tornar-se, com o tempo, de tal monta que não podem mais ser negados, instalando-se uma crise paradigmática. Os fundamentos, que até então haviam guiado as pesquisas e a produção científica, são abalados. Propõem-se novas linhas de abordagem, novas propostas de solução dos problemas, exploram-se caminhos alternativos, surgem novas escolas e sistemas que disputam a prioridade de aplicação e domínio metodológico. Esta disputa ocorre até que uma nova “gestalt” parece surgir na forma de uma nova estrutura estável e modelar, que passa a dominar o campo da ciência tornando-se o novo paradigma emergente. Apesar de a psicologia científica ter mais de um século de existência, ainda apresenta uma disputa entre escolas e sistemas que tentam impor-se como paradigma (MARX; HILLIX, 1978). O debate sobre validade da psicoterapia situa-se, portanto, não só no campo de discussão de critérios de escolha de tratamento, fundamentados em uma dada escola, mas também no estabelecimento de critérios de definição paradigmática. Os debates sobre a validação dos métodos de psicoterapia refletem esta disputa, lembrando-nos que a construção de métodos de avaliação também está sujeita à interpretação paradigmática, tornando complexa a questão. Assim, desde o início do século XX, praticamente a partir do aparecimento de escolas e métodos de tratamento psicoterapêutico, iniciaram-se discussões sobre indicações e eficácia de métodos de tratamento (MARX; HILLIX, 1978; GARSK; LYNN, 1985). O método de avaliação do tratamento psicoterapêutico era unicamente o método clínico de estudo de caso, que muitos psicoterapeutas consideram, ainda hoje, como 27 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA o único válido para se avaliar um dado procedimento. Eysenck, em 1952, deu início às discussões sobre a validade dos métodos terapêuticos propondo o uso de um método comparativo experimental para um teste de eficácia. Embora seus resultados tenham gerado controvérsia, levaram ao desenvolvimento do método de estudo comparativo controlado, padrão utilizado desde a década de setenta em pesquisas de eficácia. A grande quantidade de trabalhos realizados dentro desta metodologia gerou a necessidade de avaliação dos diferentes resultados alcançados. Diversas tentativas de comparação de resultados foram realizadas desde análises qualitativas sobre os resultados de pesquisas (WACHTEL, 1981; LAZARUS, 1980; MARKS; GELDER, 1966; MARMOR, 1971; ALPORT, 1960; BURTON, 1978; WEIL, 1978; GROF, 1988), como tentativas de desenvolvimento de metodologias metaestatísticas de avaliação dos resultados. Evidenciou-se, então, que várias formas de terapia eram efetivas, mas não muito diferentes entre si na sua eficácia. Este resultado ficou conhecido como o veredicto “Dodô”, em uma referência ao livro de Lewis Carol “Alice no País das Maravilhas”, no qual o pássaro Dodô, após uma corrida proclama; “Every body has won, and all must have prizes” (LUBORSKY; SINGER; LUBORVSKY, 1975, p. 1006). Este intrigante resultado foi confirmado posteriormente por Smith, Glass e Miller (1980a) que sugeriram, como alternativa, um procedimento quantitativo para integrar os resultados de estudos sobre eficácia em psicoterapia. O procedimento incluiu uma meta-análise estatística na qual o parâmetro estatístico principal foi à magnitude de efeito, que era obtida ao se dividir a diferença média de um grupo tratado e um grupo de controle pelo desvio padrão do grupo de controle. Deste modo, obtém-se a magnitude de efeito, que é uma média padronizada da diferença e pode ser utilizada nas comparações de um grande número de estudos, que utilizam procedimentos e medidas diferentes. Tal conceituação permitia a comparação de medidas tomadas por diferentes métodos de avaliação, respeitando os critérios de mensuração de cada abordagem. Sendo as seguintesas principais conclusões: » As diversas formas de terapia tiveram um resultado positivo. A média da magnitude de efeito foi 0,85, chegando a 0,93 quando se eliminaram os tratamentos placebo e técnicas de aconselhamento indiferenciadas. » Não houve grau diferenciado de melhora quando se compararam terapias de distintas orientações teóricas, como psicanálise, comportamental, cognitivista, centrada no cliente. Nem as diversas modalidades ─ verbal, comportamental, ou expressiva ─ obtiveram resultados diferenciados. As comparações simples e não controladas sugeriram que a hipnoterapia, a dessensibilização sistemática e a terapia cognitivista eram mais efetivas. 28 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS Porém, esta diferença desaparece se levarmos em conta o tipo de cliente e de medições de resultados. As várias formas de terapia, independente de orientação, foram mais efetivas com clientes depressivos, com fobias simples ou com casos análogos. » As intervenções breves versus as intervenções em longo prazo, as de grupo versus as individuais, terapeutas experimentados versus novatos, obtiveram resultados similares. » Os resultados positivos da psicoterapia diminuem dois anos após o tratamento; a média da magnitude de efeito cai para 0,50. Além disto, cerca de 9% dos resultados terapêuticos são negativos, resultado similar para todas as formas de terapia estudadas. Dados os resultados sobre as pesquisas de eficácia no campo das psicoterapias, Garske e Lynn em 1985 chegaram a uma conclusão em dois níveis. Primeiro muitos tipos e formas de psicoterapia são modestamente efetivas. Segundo, em termos do grau e de extensão da eficácia, as psicoterapias parecem ser mais parecidas que diferentes. A sofisticação emergente neste campo de investigação poderia muito bem proporcionar dados que alterem estas conclusões no futuro. Por hora, apesar das pretensões de diversos partidários e críticos, a avaliação que acabamos de apresentar é parcimoniosa e justa. (p. 631) Dez anos após, em uma revisão sobre o tema, Miller, Hubble e Duncan (1995), ao avaliar o campo de pesquisa sobre eficácia das psicoterapias, notam que, apesar de inúmeros desenvolvimentos em técnicas de pesquisa, o quadro geral não se alterou. Notando que inclusive formas emergentes de psicoterapia como Terapia Cognitiva e Terapia de Família e Casal também demonstraram sua eficácia. Com o desenvolvimento e divulgação de métodos de tratamento centrados na família e no casal durante a década de 1960 e 1970. Certo número de estudos sobre sua eficácia foi realizado. Porém, apenas na década de 1980 é que foram realizados estudos meta- estatísticos, pois só então certo número de modelos e abordagens de terapia de família e casal foram avaliados, usando o método de estudo comparativo controlado. Esses estudos meta-estatísticos avaliavam tipicamente tanto estudos de família e casal simultaneamente, uma vez que no espírito da época, supunham que abordagens de família e de casal eram as mesmas. Estudos meta-estatísticos, como os de Hahlweg e Markaman (1988) e Hazelrigg, Cooper e Borduin (1987), demonstraram a eficácia geral destas formas de tratamento, 29 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA sem contudo pesquisar outros aspectos. Shadish, Montgomery, Wilson, Wilson, Bright e Okuwumabua (1993) aperfeiçoaram o método de comparação, procurando examinar diferenças entre métodos de diversas orientações teóricas, bem como as diferenças de resultados entre terapia individual e de casal. Utilizaram 163 estudos que haviam sido publicados, entre 1963 e 1988, sobre teste de eficácia em psicoterapia, e incluíram em sua análise teses e dissertações sobre o tema, que não foram consideradas nos estudos anteriores. A análise desses estudos seguiu os padrões recomendados pelo “National Researsh Council” (1992), não incluindo estudos quase-experimentais, mas apenas os randomizados. Suas conclusões foram: » Clientes tratados em terapia de casal e terapia de família têm melhoras superiores aos indivíduos não tratados nos pós-testes, sendo a estimativa de magnitude de efeito similar aos das metas análises anteriores. » Certas abordagens de tratamento parecem ter resultados superiores em algumas comparações realizadas em estudos tipo grupo experimental e de controle não ajustados, mas quando são realizadas correções na análise da regressão estas diferenças desaparecem. » Diferenças similares aparecem em estudos de comparação entre diferentes orientações teóricas de tratamento, mas também desaparecem quando se realiza uma análise da regressão. » Se todos os tratamentos são igualmente bem projetados, implementados, medidos e relatados não se encontram diferenças significativas entre as abordagens. » Houve uma consistente falha das terapias humanísticas em alcançar resultados positivos em qualquer análise: O outro resultado é a falha consistente das terapias humanísticas de alcançar efeitos positivos significativos em qualquer análise. Estes resultados convidam a uma séria pausa para reflexão e, esperamos, encorajem novos estudos sobre suas causas. (SHADISH et al, 1993, p. 999). Pinsof e Wynne (1995a, 1995b) revisaram grande parte dos estudos sobre eficácia de terapia de família e casal publicados até então, encontrando seis características nos estudos bem controlados sobre eficácia terapêutica: 30 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS » Ocorriam em ambiente clínico controlado, como laboratórios de pesquisa. » Focavam um problema ou uma desordem psiquiátrica específica e definível. » Envolviam pelo menos dois grupos ou condições: um experimental, que recebia o tratamento, e um grupo de controle que, em uma lista de espera, recebia um tratamento alternativo. » Os grupos eram randômicos. » Os tratamentos eram especificados e dirigidos por manuais, sendo a performance do terapeuta monitorada durante o tratamento. » Todos os clientes eram avaliados em medidas antes e depois por meio de avaliações padronizadas. Em experimentos mais recentes uma avaliação “follow-up” era realizada constituindo uma terceira medida. Consideraram como critério de validação a existência de pelo menos dois estudos independentes com resultados significativos, concomitantemente com a ausência de resultados negativos em qualquer outro estudo, chegando às seguintes conclusões: » Terapia de família apresenta resultados melhores do que abordagem individual para: esquizofrenia, alcoolismo em adultos, adição em drogas em adultos e adolescentes, desordem de conduta em adolescentes, anorexia em adolescentes, autismo infantil, agressões e dificuldades em atenção, no transtorno de déficit de atenção/hipermotividade, processos demenciais, fatores de risco cardiovascular. » Terapia de Família é ainda melhor do que a ausência de tratamento nos casos anteriores e ainda para: obesidade na adolescência; anorexia na adolescência, desordens da conduta na infância, obesidade infantil, doenças crônicas na infância. » A abordagem de Terapia de Casal mostrou-se mais efetiva do que a abordagem individual para depressão de mulheres em casamento disfuncional e para casamentos disfuncionais. » Evidenciou-se, ainda, ser melhor do que a ausência de tratamento para todos os casos indicados acima e, mais, para obesidade de adultos e hipertensão de adultos (PINSOF; WYNNE, 1995b, 2000). 31 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA » Não se encontrou nenhum estudo que demonstrasse efeitos adversos da terapia de família e de casal. » Tampouco se evidenciaram dados suficientes para apoiar a superioridade de uma abordagem de Terapia de Família e Casal sobre outras. » Os dados indicavam que a abordagem de casal e de família possui um custo efetivo melhor do que o tratamento padrão em hospitais. » Terapia de Família e Casal não são suficientes para tratar sozinhasdesordens mentais crônicas como esquizofrenia, desordens afetivas mono e bipolares, adicções, autismo e desordens severas de conduta. » Em todos os casos em que Terapias de Família e Casal foram utilizadas em combinação com outros tratamentos, como psicofarmacoterapia, o resultado final foi potencializado. Tais resultados confirmaram a eficácia geral do tratamento dos modelos de terapia de família e casal. Porém, isto não significa que não haja limites e restrições a estes estudos, relativos à sua fundamentação epistemológica e metodológica. 32 CAPÍTULO 4 O desenvolvimento de novas abordagens e suas críticas Nas diversas revisões abordadas, os autores concordam que, durante a década de 1970 e início da década de 1980 importantes desenvolvimentos críticos foram realizados em um contexto mais amplo, mas com profundas repercussões sobre o campo da terapia de casal. Pelo menos três importantes aspectos do conhecimento foram fortemente questionados, levantando importantes questões sobre a teoria e prática da Terapia de Casal. Embora, cada um destes aspectos apontasse para diferentes perspectivas, todos questionaram pressupostos que até então, orientavam de forma inconsciente, muitas das produções no campo da Terapia de Casal. Revelado por meio do movimento feminista pontos críticos do pensamento científico, ao identificar seus pressupostos falocêntricos e patriarcal. A expansão do olhar da produção científica, sobre a conjugalidade, para além dos padrões da sociedade ocidental judaico-cristã, revelou novos aspectos sobre a conjugalidade presentes nas diferentes culturas, descortinando importantes questões. Além disso, o chamado pós-modernismo, com sua crítica sobre os aspectos fundacionais do conhecimento, apontou novas direções de inquirição envolvendo profundamente o pesquisador e o contexto da produção. Em conjunto e, cada qual a seu modo, estas linhas de questionamento imprimiram novas direções na pesquisa, no pensar sobre a conjugalidade e no tratamento de suas demandadas. É importante ressaltar que, Goldner coloca que a visão crítica do feminismo, com o estudo das dimensões, socialmente construídas, das diferenças entre gêneros, levou à compreensão de que as crenças estabelecidas sobre a diferenciação de papéis na sociedade ocidental ocultavam aspectos históricos de expectativas implícitas e explícitas de pressões sociais. Assim, as crenças sobre a construção de complementaridades dos papéis entre parceiros, em uma relação conjugal, foram desafiadas, revelando preconceitos enraizados que atravessavam não só muitas das leituras teóricas, mas também intervenções na prática clínica da Psicoterapia de Casal. Por exemplo, a crença sustentada, tanto academicamente como no imaginário popular, de que, naturalmente, os homens são mais instrumentais e as mulheres mais emocionais e, por isso, os primeiros são mais hábeis neste nível de comunicação, é compreendida na visão feminista, como mais uma prescrição social na forma de uma descrição científica do que a afirmação de um fato científico. Esta visão de complementaridade emerge a partir das demandas de forças econômicas, sociais e políticas que surgem com o começo da 33 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA revolução industrial, que assinalava o local de produção de cada gênero. Os homens trabalhando fora de casa e as mulheres fornecendo a logística por meio dos cuidados do lar. Desta forma, para sustentar as necessidades de um modelo de produção, que requeria que os homens passassem o dia fora a trabalho e, às vezes, períodos ainda maiores em viagens de trabalho sustentou-se uma crença que descrevia os homens como possuidores de poucos dos atributos necessários para a criação da prole. E, por sua vez, as mulheres eram descritas como menos dotadas para solução de problemas e administração, como nota, entre muitos, Goldner (1985) ao afirmar que; (...) a complementaridade conjugal deve ser entendida como não apenas um arranjo psicológico entre marido e esposa, mas, também... Estruturando relações intimas no contexto mais amplo das relações sócias. (p. 31). Além disto, Goldner (1985) colocou em relevo que esta prescrição, além de aumentar a rígida complementaridade em gerações de funcionamento de famílias e casais, acentuou, prescritivamente, produções de subjetividades cindidas ou, pelo menos, com desenvolvimento parcial. Pensadores sistêmicos, até este período, ao participarem socialmente dessa crença, negligenciaram a hierarquia de gêneros, situando-a em uma hierarquia transgeracional, em suas construções teóricas e intervenções, compactuando, assim, para manutenção deste status quo. Outro foco de crítica foi o uso do conceito de circularidade nas relações do casal que supunha uma coparticipação, de ambas as partes, na emergência e manutenção de situações de constrangimento, intimidação e violência nas quais, muitas vezes, as mulheres eram vítimas, deixando uma conotação de que não só ambas as partes eram responsáveis igualmente pela situação de violência, como também as mulheres responsáveis pela manutenção de sua condição de vítimas (AVIS, 1992). Como preconizada por Akerman Violence Project (GOLDNER, PENN, SHEINBERG; WALKER, 1990), a crítica feminista, coloca que a construção de teorias circulares, como proposta pela perspectiva sistêmica, serve também como manutenção de uma descrição socialmente construída. E ainda que, na visão linear de causalidade, no caso, de que homens são os responsáveis únicos pela violência contra as mulheres, é outra visão possível e mais moralmente comprometida com a proteção das vitimas. Assim, eles apontam que nós, enquanto seres sociais, escolhemos quando e quais teorias pelo menos no campo das ciências humanas, usaremos para abordar e ressaltar um aspecto da realidade e, ainda, qual sentido construiremos. Goldner nota, ainda, a posição paradoxal da mulher no campo da Terapia de Casal a qual, ao funcionar como monitor do bem-estar emocional do casal. Sinaliza ao marido 34 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS a necessidade de auxílio e tipicamente marca a primeira sessão. Portanto, considera que a escolha teórica implica em uma responsabilidade moral, por convidar a uma práxis social. Além destas críticas à concepção sistêmica do funcionamento do casal e família, as feministas notaram que a terapia é construída por estereótipos de gênero. Hare-Mustin (1978) aponta para os padrões paternalísticos da hierarquia do relacionamento do terapeuta-cliente, com o terapeuta, deliberadamente ou não, reforçando o papel estereotipado de comportamento, como nos modelos de terapias focadas na solução de problemas do casal. Entretanto, a esposa, uma vez em terapia, alia-se ao terapeuta, para manter o casal em terapia, e simultaneamente inibe a terapia, evitando críticas ao marido, que sinaliza o uso do seu poder de veto, caso não goste do que escutar. Esta situação caracteriza-se como típica do exercício de poder e introduz a esposa em uma situação paradoxal. Papp (2000), a partir destas críticas, desenvolveu diversas técnicas para trabalhar e romper com as crenças de gêneros limitadoras. Apter coloca que outras críticas à Terapia de Casal como, por exemplo, o multiculturalismo, o feminismo desafia crenças e estereótipos relacionados com a distribuição de parcerias no cuidado com os filhos e distribuição de tarefas como cuidados com a casa e o lar e o trabalho fora de casa. Goldner observa que embora exista uma vasta literatura feminista, tanto no campo da história, da psicanálise e da sociologia, a produção de obras com críticas feministas ao casal e a família emerge, curiosamente, quando as autoras feministas experimentam a transformação da maternidade em suas vidas e seus paradoxos na nossa cultura. Tipicamente, o nascimento do primeiro filho, em nossa cultura, faz emergir de modo inegável as diferenças sociais e culturais dos estereótipos e papéisdo homem e da mulher. Tal situação não pode ser naturalizada e, mesmo em uma época de múltiplas experiências em formas de conjugalidade e famílias, estudos como o de Gottman têm demonstrado que o impacto da divisão de trabalho doméstico na vida do casal influencia não somente o nível de bem-estar e satisfação conjugal, mas, até mesmo, o nível de longevidade. As crenças e preconceitos sobre o relacionamento conjugal e parental nas famílias, ao desafiarem o movimento feminista revelou importantes aspectos das dificuldades maritais que se referem às diferentes maneiras como os dois membros de um casal heterossexual experienciam e acessam os limites de poder e de diferentes expectativas quanto à intimidade. Para Gurman e Fraenkel, ao mesmo tempo em que o campo da terapia de casal recebia críticas do movimento feminista, ocorria o reconhecimento da importância da 35 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA diversidade das experiências dos casais, em função das diferenças sociais, econômicas, étnicas e geográficas. Apontando que, estas diferenças não poderiam ser simplesmente compreendidas como desvios dos padrões normais, isto é, socialmente dominantes. A única exceção é sobre os trabalhos com casais homossexuais e da perspectiva feminista, a maior parte dos trabalhos sobre aspectos multiculturais está expressa em obras gerais de estudos sobre famílias. Até o presente, existem poucos trabalhos específicos sobre estas importantes questões, como os trabalhos de Black (2000), Fraenkel e Wilson (2000), Mohr (2000), Perel (2000). De forma resumida, dois pontos principais são enfatizados nestes trabalhos. Primeiramente as normas referentes à qualidade e quantidade de intimidade, da distribuição de poder entre os cônjuges, o grau de envolvimento de outras pessoas na intimidade do casal (família, amigos, amantes) e outros aspectos nucleares da vida do casal, variam de acordo com as etnias, grupos sociais, classes econômicas, orientações sexuais entre outras afiliações e identificações psicossociais. É importante ressaltar que em segundo lugar, dependendo do lugar de cada grupo dentro do contexto social mais amplo, a afiliação e identificação psicossocial provêm privilégios e dificuldades aos padrões de condições de vida e opressão social. E é evidente que esses fatores influenciam tanto o processo do relacionamento do casal como a satisfação conjugal. Logo, uma vez que o casal e cada um dos seus participantes estão imersos nesta teia político-econômico-social, torna-se importante levar em conta a construção de um contexto compreensivo da experiência conjugal, que será significada e marcada por estas questões. Para o contexto brasileiro, a observação feita para a sociedade norte americana mostra-se pertinente e pode ser aplicada: ... para as famílias afro-americanas habitantes das cidades, a realidade do dia a dia, com o racismo, a discriminação, o classicismo, a pobreza, a violência, o crime e as drogas criam forças que continuamente ameaçam a sobrevivência da família. (BOYD-FRANKLIN, 1993 p. 361). De acordo com Gurman e Fraenkel (2002) notam que a emergência da perspectiva multicultural possui implicações de longo alcance, tanto para a teorização como para a prática clínica, e que tais questões encontram-se ainda muito pouco exploradas. Quase que igualmente às questões emergentes propostas pelo movimento feminista, o impacto das diferenças culturais que acompanham os níveis de opressão e privilégios, bem como de inclusão da dimensão sócio-cultural do terapeuta com suas afiliações e privilégios, marcam de forma inevitável suas crenças e intervenções. As identificações socioculturais, étnicas, econômicas e políticas do terapeuta proveem uma base para o viés de sua leitura, construção de suas experiências e intervenções que podem estar 36 UNIDADE ÚNICA │ TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS marcadas pela reprodução de uma política de manutenção de privilégios e poder de classe, afetando todo o processo terapêutico; da formação da aliança terapêutica até a construção e realização de intervenções. É imprescindível pontuar que cada casal deve ser visto como uma combinação única de condições socioculturais e, assim, a perspectiva multicultural parece requerer dos terapeutas uma abordagem mais colaborativa, mais etnográfica e antropológica, na qual ele deve investigar o contexto dos valores e expectativas que caracterizam suas culturas e, consequentemente, o significado particular de seus problemas e do que seria um estado “adequado”. A flexibilidade, na construção hierárquica, na terapia é um ponto crítico, principalmente, quando a raça, o nível sócio-econômico e o cultural colocam o terapeuta em uma aparente posição superior dentro do contexto do encontro terapêutico, muitas vezes assinalado, como um lugar de poder e saber. Cabe ressaltar, proficiência e hierarquia não são inerentemente atitudes antiéticas, pois podem ser utilizadas em um encontro colaborativo e respeitoso sobre as diferenças. A hierarquia deve ser vista como funcional no momento do encontro terapêutico e não transpor padrões de relacionamento socialmente marcados, construindo subjetividades restringidas. Desde a década de 1980, a dimensão cultural, tem ganhado destaque, como um dos campos possíveis de desdobramentos teóricos mais significativos dentro do campo da Psicoterapia em geral e também da Psicoterapia de Casal. Desde então, o campo da Ciência e o da Psicoterapia têm recebido forte impacto das criticas pós-modernas, em especial, do Construtivismo (WATZLAWICK, 1994), do Construcionismo Social (ANDERSON; GOOLISHIAN, 1988; GERGEN, 1998), das Teorias de Solução de Problemas (WHITE; EPSTON, 1991) e de abordagens derivadas destas abordagens. Sucintamente, pode-se dizer que, o pós-modernismo crítica o realismo, isto é, a crença em uma realidade objetiva, que poderia ser conhecida, sem referência ao observador, por meio do método científico. Propõe como alternativa, um conceito da realidade socialmente construída, relativa ao contexto social e histórico do conhecedor. Esta nova epistemologia resultou em inúmeras mudanças no campo da Terapia Sistêmica Familiar e, também, na Terapia de Casal. Entre elas alguns pontos se destacam. O primeiro seria a mudança do terapeuta de especialista a colaborador, na investigação do casal sobre o significado de suas dificuldades e possibilidades de solução. Ocorreu, também, uma modificação da descrição das interações como sequencias comportamentais e cibernéticas para uma compreensão de construção de significados articulados. Isto levou a uma busca da compreensão de como a linguagem do casal é usada para descrever as dificuldades do relacionamento, não só qualificando os problemas, mas também limita as possibilidades de solução. Este deslocamento colocou uma ênfase no aspecto único de cada situação clínica e do significado singular de cada experiência. 37 TERAPIAS DE CASAL E FAMÍLIAS COM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS │ UNIDADE ÚNICA Essa nova abordagem tem auxiliado aos casais a perceber como o impacto de certa descrição problematiza e limita suas ações. Possibilita, portanto, que se desidentifiquem destas descrições, criando novas alternativas de experiências criativas, desafiando crenças limitadoras, derivadas das ideologias dominantes e fundacionais. Esta desconstrução de significados convida à construção de novos significados para a identidade nuclear do casal, levando à oportunidade de mudança e renovação. Por outro lado, surgiram críticas de que esta perspectiva levaria a um trabalho muito mais com indivíduos, em sua experiência relacional, que com casais em interação (MINUCHIM, 1998). É possível que ao se interessar pelo modo como a experiência é construída, certos autores tenham colocado uma ênfase maior na experiência tal como o indivíduo a vive. Porém, cabe ressaltar que, dentro desta perspectiva, o Construcionismo Social busca compreender como a
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