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1 UNIVERSIDADE PAULISTA – CAMPUS SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ANA CAROLINE PACHECO CORREA DE MELO CAIO EDUARDO PEREIRA DUARTE LARISSA CRISTINA BUENO DUARTE MARCELO GABRIEL QUIRINO ODAIR BARRETO ROSA JUNIOR 2 UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA CAMPUS DUTRA – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ÍNDICE 1. RESUMO..................................................................................................................3 2. ABSTRACT .............................................................................................................4 3. INTRODUÇÃO.........................................................................................................4 4. DESENVOLVIMENTO.............................................................................................6 5. 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE.............6 1.1 CONCEITO DE DIREITOS DA PERSONALIDADE..............................................6 1.2 RELAÇÃO ENTRE DIREITOS DA PERSONALIDADE E DIREITO HUMANOS.7 1.3 PRIMCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIRETOS DA PERSONALIDADE.......8 1.4NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE........................10 6. 2MUDANÇAS E INOVAÇÕES DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 EM RELAÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE............................................................................11 7. IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA TUTELA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE ..................................................13 8. PROBLEMA APRESENTADO..............................................................................15 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................16 10. REFERÊNCIAS....................................................................................................18 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2023 3 DIREITOS DA PERSONALIDADE RESUMO Este artigo tem como objetivo geral analisar a evolução dos direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro, por meio da comparação entre as disposições do Código Civil de 1916 e do Código Civil de 2002. A pesquisa adota uma abordagem metodológica bibliográfica, com ênfase na análise crítica de conteúdo. Foram realizadas extensas revisões da literatura, incluindo obras doutrinárias, jurisprudências, artigos científicos e legislação pertinente aos direitos da personalidade. Os principais resultados obtidos revelam que o Código Civil de 2002 trouxe importantes mudanças e inovações na proteção dos direitos individuais, como a ampliação das categorias de direitos reconhecidos e a adequação às transformações sociais e tecnológicas. Entretanto, também foram identificados lacunas e desafios na efetivação desses direitos no contexto contemporâneo. Conclui-se que a evolução dos direitos da personalidade é crucial para a promoção da dignidade humana e a autonomia dos indivíduos, sendo necessário um contínuo aprimoramento jurídico e uma maior conscientização social sobre a importância desses direitos na era digital. Palavras-chave: Direito Civil. Direitos da Personalidade. Evolução. 4 ABSTRACT This article aims to analyze the evolution of personality rights in the Brazilian legal system through a comparison between the provisions of the Civil Code of 1916 and the Civil Code of 2002. The research adopts a bibliographic methodological approach with an emphasis on critical content analysis. Extensive literature reviews were conducted, including doctrinal works, jurisprudence, scientific articles, and relevant legislation related to personality rights. The main results obtained reveal that the Civil Code of 2002 brought significant changes and innovations in the protection of individual rights, such as the expansion of recognized rights categories and adaptation to social and technological transformations. However, gaps and challenges in the enforcement of these rights in the contemporary context were also identified. It is concluded that the evolution of personality rights is crucial for promoting human dignity and individual autonomy, requiring continuous legal improvement and greater societal awareness of the importance of these rights in the digital age. Keywords: Civil Law. Personality Rights. Evolution. INTRODUÇÃO No âmbito do direito civil, os direitos da personalidade desempenham um papel fundamental na proteção dos aspectos mais íntimos e essenciais da vida humana. Ao longo do tempo, esses direitos têm sido objeto de aprimoramento e adaptação às mudanças sociais e tecnológicas (Cardin; Cruz, 2020). No contexto brasileiro, a evolução dos direitos da personalidade pode ser observada através da comparação entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002 (Gonçalves, 2020). Este artigo tem por propósito analisar essa evolução, identificando as diferenças e inovações trazidas pelo novo código na tutela dos direitos individuais. O presente trabalho tem como tema a evolução dos direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro, com foco na comparação entre as disposições do Código Civil de 1916 e do Código Civil de 2002. Serão exploradas as mudanças e avanços ocorridos na proteção dos direitos da personalidade ao longo desse período, considerando a importância desses direitos para a dignidade e autonomia dos indivíduos. 5 A proteção dos direitos da personalidade é uma questão relevante no campo do direito civil, especialmente diante das transformações sociais e tecnológicas (Tepedino; Oliva, 2021). Diante disso, surge a seguinte questão-problema: Quais foram as principais mudanças e inovações trazidas pelo Código Civil de 2002 em relação à tutela dos direitos da personalidade, em comparação com o Código Civil de 1916? O objetivo geral deste artigo é analisar a evolução dos direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro, a partir da comparação entre as disposições do Código Civil de 1916 e do Código Civil de 2002. Para alcançar esse objetivo, os seguintes objetivos específicos serão perseguidos: investigar as concepções e categorias de direitos da personalidade presentes no Código Civil de 1916; identificar as alterações e inovações trazidas pelo Código Civil de 2002 em relação à proteção dos direitos da personalidade; avaliar os impactos das mudanças legislativas na tutela dos direitos individuais no contexto contemporâneo. A relevância deste estudo reside na necessidade de compreender as transformações ocorridas na proteção dos direitos da personalidade ao longo do tempo, especialmente no que diz respeito à transição entre os códigos civis de 1916 e 2002. A análise comparativa permitirá identificar as lacunas e avanços na tutela dos direitos individuais, contribuindo para o aprimoramento do entendimento e da aplicação desses direitos na prática jurídica atual. Além disso, a compreensão da evolução dos direitos da personalidade é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equilibrada, que respeite a dignidade e a autonomia de cada indivíduo. A presente pesquisa está baseada em uma abordagem metodológica predominantemente bibliográfica, tendo sido realizada uma revisão da literatura, buscando obras doutrinárias, jurisprudências, artigos científicos e legislação pertinente aos direitos da personalidade, bem como às mudanças ocorridas no Código Civil de 2002 em relação ao Código Civil de 1916. Além disso, foi adotada uma metodologia qualitativa de abordagem do problema, por meio da análise crítica de conteúdo, buscando identificar e analisar as principais diferenças e inovações presentes nos dispositivos legais de ambos os códigos, relacionando-os com os princípios e valores que fundamentam os direitos da personalidade. O presente artigo está estruturado em trêsseções, com a seguinte organização: 6 Na primeira seção, intitulada “Fundamentos teóricos dos direitos da personalidade”, foram apresentados os conceitos fundamentais dos direitos da personalidade, discutindo sua natureza jurídica, principais características e importância para a proteção da dignidade humana. Na segunda seção, intitulada “Mudanças e inovações no Código Civil de 2002 em relação aos direitos da personalidade”, foi realizada uma análise comparativa entre as disposições do Código Civil de 1916 e do Código Civil de 2002, identificando as alterações e inovações trazidas pelo novo código em relação à proteção dos direitos da personalidade, tendo sido destacados os avanços legislativos e as lacunas remanescentes na tutela dos direitos individuais. Na terceira seção, intitulada “Impactos das mudanças na tutela dos direitos da personalidade na contemporaneidade”, foram avaliados os impactos das mudanças legislativas na tutela dos direitos da personalidade no contexto contemporâneo. Foram discutidas as repercussões dessas transformações na prática jurídica, considerando os desafios e as perspectivas para a efetivação desses direitos no atual cenário social e tecnológico. DESENVOLVIMENTO 1 Fundamentos teóricos dos direitos da personalidade 1.1.1 Conceito de direitos da personalidade Os direitos da personalidade são um conjunto de direitos fundamentais que estão intrinsecamente ligados aos direitos humanos. Esses direitos, também conhecidos como direitos personalíssimos, têm como foco a proteção da dignidade, integridade e liberdade da pessoa humana em sua esfera mais íntima. Essa categoria de direitos abrange elementos essenciais que compõem a individualidade de cada ser humano, indo muito além das garantias tradicionais (Cardin; Cruz, 2020). 7 1.1.2 Relação entre direitos da personalidade e direitos humanos A ligação entre os direitos da personalidade e os direitos humanos é evidente, uma vez que os direitos da personalidade são uma expressão direta do respeito à dignidade de cada indivíduo, que é o cerne dos direitos humanos. Esses direitos visam assegurar que cada pessoa seja tratada com consideração e respeito em todos os aspectos de sua vida. Eles englobam aspectos como o direito à vida, à integridade física e moral, à igualdade, à liberdade de expressão, à privacidade, à imagem, à honra, à identidade, entre outros (Gonçalves, 2020). Segundo Tepedino e Oliva (2021), a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, estabelece princípios fundamentais relacionados à proteção da dignidade e dos direitos de todos os seres humanos. Muitos desses princípios têm uma conexão direta com os direitos da personalidade, uma vez que garantem a cada indivíduo o direito a sua própria identidade e autonomia, além de protegê-lo contra abusos e violações em sua esfera pessoal. Além disso, conforme os autores, os direitos da personalidade estão intrinsecamente ligados à noção de igualdade, pois buscam assegurar que todas as pessoas sejam tratadas de maneira justa e sem discriminação, independentemente de sua origem, raça, gênero, orientação sexual, religião ou qualquer outra característica pessoal. Conforme Santos (2021), os avanços tecnológicos e as mudanças na sociedade contemporânea têm ampliado o escopo dos direitos da personalidade, especialmente no que diz respeito à proteção de dados pessoais e à privacidade em um mundo digital. Nesse contexto, destaca o autor que os direitos da personalidade desempenham um papel crucial na defesa das liberdades individuais em um ambiente cada vez mais conectado. Tal questão será abordada mais especificamente na seção 3 deste artigo. Por ora, o que se tem a dizer é que os direitos da personalidade não apenas complementam, mas também enriquecem os direitos humanos, na medida em que, conforme Tepedino e Oliva (2021), representam a dimensão mais íntima e pessoal dos direitos fundamentais, reforçando a ideia de que cada indivíduo é único e merece respeito e proteção em todos os aspectos de sua vida. Para Santos (2021), 8 a interconexão entre os direitos da personalidade e os direitos humanos é um reflexo do compromisso da sociedade em assegurar que a dignidade humana seja preservada e promovida em todos os contextos, tanto analógicos quanto digitais. 1.1.3 Principais características dos direitos da personalidade Os direitos da personalidade são uma categoria especial de direitos subjetivos que desempenham um papel crucial na proteção da dignidade humana, razão pela qual considerados essenciais, naturais e inatos à pessoa humana, o que os torna inalienáveis e irrenunciáveis. Essas características essenciais moldam a natureza jurídica dos direitos da personalidade e reforçam sua importância na esfera jurídica e social (D’Aquino, 2020). Uma das principais características dos direitos da personalidade é a sua inalienabilidade. Isso significa que esses direitos não podem ser transferidos para outras pessoas, pois estão intrinsecamente ligados à própria personalidade do indivíduo. Essa característica é crucial, uma vez que impede que terceiros interfiram indevidamente na esfera mais íntima da pessoa, protegendo assim sua dignidade e integridade (Gondim Filho; Melo, 2021). A irrenunciabilidade é outra característica marcante desses direitos. Mesmo que alguém não exerça seus direitos da personalidade por um longo período, eles não podem ser voluntariamente renunciados. Isso se deve à inseparabilidade desses direitos da própria personalidade humana. Essa característica assegura que as pessoas não possam renunciar a sua dignidade e integridade de forma irreversível, garantindo uma proteção constante (Paiva; Barros, 2021). Uma característica que merece destaque é a imprescritibilidade desses direitos. Mesmo que uma violação tenha ocorrido há muito tempo, os direitos da personalidade podem ser reivindicados a qualquer momento. Essa característica é vital, pois garante que as pessoas possam buscar reparação e proteção legal para violações passadas, mesmo que o tempo tenha transcorrido (Santos, 2021). Os direitos da personalidade também têm um caráter universal. Eles pertencem a todas as pessoas, independentemente de sua nacionalidade, raça, gênero, idade ou status social. Essa universalidade reflete a ideia de que cada ser humano é detentor desses direitos desde o momento de seu nascimento até sua 9 morte. Portanto, ninguém está excluído da proteção desses direitos fundamentais (Santos, 2021). Outra característica relevante dos direitos da personalidade é sua relação com a dignidade humana. Eles garantem o respeito e o gozo do próprio ser da pessoa em todas as suas manifestações, seja espiritual ou física. Essa ligação estreita entre direitos da personalidade e dignidade humana é fundamental para proteger a integridade e a autodeterminação de cada indivíduo, garantindo que suas características e identidade sejam respeitadas. Além disso, a complexidade dos direitos da personalidade é evidenciada por sua relação com o direito patrimonial, especialmente na era contemporânea, onde o valor econômico pode estar vinculado a esses direitos. Por exemplo, o direito à imagem pode ser explorado comercialmente. No entanto, esses direitos ainda são, em sua essência, não patrimoniais, refletindo a importância de proteger a dignidade humana (Nascimento, 2022). A compreensão das limitações dos direitos da personalidade também é crucial. Embora sejam considerados direitos absolutos, eles não são ilimitados e podem sofrer restrições quando entram em conflito com outros interesses ou direitos protegidos pela ordem jurídica. Portanto, o exercício desses direitos deve ser avaliado à luz dos interesses e fins sociais da sociedade (Nascimento, 2022). 10 1.1.4 Naturezajurídica dos direitos da personalidade No que tange à natureza jurídica dos direitos da personalidade, tem-se que esta tem sido objeto de debate e reflexão na doutrina jurídica ao longo dos anos. Segundo Saba (2020), uma das principais questões levantadas em relação à natureza jurídica dos direitos da personalidade é se a pessoa pode ser considerada titular de direitos sobre si mesma. Conforme o autor, isso equivaleria a justificar o suicídio, uma vez que implicaria que alguém pode exercer controle absoluto sobre a própria vida. No entanto, para Vilela e Espairini (2020), essa visão tem sido contestada por outros juristas que acreditam que a existência de direitos da personalidade é fundamental para proteger a integridade física, moral e emocional das pessoas. Adriano de Cupis, por exemplo, defende que a impossibilidade de uma teoria ius in se ipsum é mais uma questão de construção jurídica do que uma impossibilidade lógica. Ele argumenta que é difícil compreender como alguém pode ter controle sobre animais que tenha adquirido, como propriedade, e não pode ter direitos sobre partes do próprio corpo e aspectos da personalidade. Portanto, ele sustenta que os direitos da personalidade são necessários para proteger a integridade e a individualidade da pessoa (Silva; Dinallo, 2021). A oposição à existência dos direitos da personalidade, no entanto, alega que é impossível distinguir o sujeito do objeto, pois a mesma pessoa seria tanto o sujeito quanto o objeto. Isso levaria à conclusão de que a pessoa é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de si própria, o que é considerado problemático por alguns juristas (Zanini; Queiroz, 2021a). Para resolver essa controvérsia, Pontes de Miranda (apud Zanini; Queiroz, 2021b) argumenta que o direito à personalidade é um direito inato, que nasce com o indivíduo. Ele acredita que esse direito não se refere ao corpo em si, mas sim aos modos de ser físicos e morais da pessoa, enfatizando que, a seu ver, a vida, a integridade física, a liberdade e outros aspectos da personalidade são partes ou qualidades da pessoa que podem ser consideradas separadamente. Neste sentido, destacam Zanini e Queiroz (2021a) que a discussão sobre a natureza jurídica dos direitos da personalidade envolve a distinção entre direito subjetivo e bem jurídico. Alguns argumentam que esses direitos não se encaixam na estrutura clássica de direito subjetivo, que geralmente envolve uma posição que 11 confere controle sobre um bem jurídico. Já Santos (2021) e Silva e Dinallo (2021), por sua vez, reproduzem apontamentos no sentido de que os direitos da personalidade são direitos subjetivos, pois conferem à pessoa o poder de proteger e controlar aspectos essenciais de sua própria vida. Assim, como se pode perceber, a natureza jurídica dos direitos da personalidade é uma questão complexa e em constante debate na doutrina jurídica. Enquanto alguns argumentam que esses direitos não se encaixam na estrutura tradicional de direitos subjetivos, outros defendem que são fundamentais para proteger a integridade e a dignidade da pessoa. Para Vilela e Espairini (2020), a compreensão desses direitos desempenha um papel fundamental na proteção da liberdade, integridade e individualidade de cada indivíduo, garantindo que a lei esteja preparada para lidar com as complexidades da natureza humana. 2 Mudanças e inovações no Código Civil de 2002 em relação aos direitos da personalidade O Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002, ambos marcos na legislação civil brasileira, trouxeram consigo importantes mudanças nas disposições sobre direitos da personalidade, marcando uma evolução significativa na forma como o ordenamento jurídico brasileiro lida com os direitos inerentes à dignidade da pessoa humana (Cardin; Cruz, 2020). Em 1916, quando o Código Civil anterior estava em vigor, as disposições sobre os direitos da personalidade estavam longe de serem abrangentes e adequadas à proteção integral da dignidade da pessoa humana. Isso se deve a diversos fatores que marcaram o contexto legal da época (D’Aquino, 2020). Em primeiro lugar, a legislação daquela época refletia uma compreensão mais restrita dos direitos individuais e da própria concepção de pessoa. O Código Civil de 1916 estava fortemente influenciado pelo Código Civil alemão de 1900, que tinha como foco principal a regulamentação das relações patrimoniais. Esse viés patrimonialista deixou em segundo plano a consideração da pessoa como um ser dotado de uma esfera pessoal que merecia proteção jurídica (Gonçalves, 2020). Além disso, a falta de atenção aos direitos da personalidade pode ser atribuída à época em que o Código de 1916 foi elaborado, tendo em vista que o contexto era um em que a noção de privacidade, intimidade e imagem pessoal 12 estava longe de ser tão valorizada e complexa como é nos dias de hoje. A sociedade e a tecnologia eram muito diferentes, e as ameaças à privacidade e à dignidade da pessoa eram menos evidentes (Saba, 2020). Isso levou a que o Código Civil de 1916 não contemplasse de forma específica e abrangente os direitos da personalidade. Questões como o direito à intimidade, à privacidade e à própria imagem pessoal não estavam claramente definidas. Isso deixou lacunas na legislação que podiam ser exploradas para prejudicar a dignidade e os direitos pessoais dos indivíduos (Paiva, 2021). Portanto, em 1916, a abordagem aos direitos da personalidade era de fato rudimentar, refletindo o contexto da época e a falta de compreensão da importância desses direitos na proteção da dignidade humana. Foi somente com o advento do Código Civil de 2002 que houve uma evolução significativa na forma como o ordenamento jurídico brasileiro lida com os direitos da personalidade, reconhecendo- os como uma categoria específica e ampliando a proteção desses direitos em consonância com os avanços sociais e culturais (Santos, 2021). Por outro lado, o Código Civil de 2002 marcou uma mudança significativa na abordagem dos direitos da personalidade. A legislação mais moderna passou a reconhecer explicitamente esses direitos e tratá-los como uma categoria à parte. O artigo 11 do Código Civil de 2002 estabelece que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Esse dispositivo reconhece a natureza especial desses direitos, que não podem ser objeto de negócios jurídicos que impliquem transferência ou renúncia (Silva; Dinallo, 2021). Além disso, o Código Civil de 2002 ampliou a gama de direitos reconhecidos como direitos da personalidade. Enquanto o Código de 1916 mencionava apenas os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, o novo código acrescentou direitos como o direito à intimidade, à imagem, ao nome, à honra, ao sigilo das comunicações, entre outros (Tepedino; Oliva, 2021). Outra mudança significativa foi a inclusão do dano moral como uma consequência da violação dos direitos da personalidade. O Código Civil de 2002 reconheceu explicitamente a reparação do dano moral como uma categoria distinta, proporcionando uma base jurídica sólida para que as vítimas busquem compensações por danos morais decorrentes de violações de seus direitos pessoais (Zanini; Queiroz, 2021b). 13 Em resumo, a comparação entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002 revela uma evolução marcante na proteção dos direitos da personalidade no Brasil. O Código Civil de 2002 estabeleceu uma base mais sólida e abrangente para a defesa desses direitos, reconhecendo explicitamente a sua importância e ampliando a lista de direitos contemplados. Essa evolução, conforme Nascimento (2022), reflete uma compreensão mais profunda da dignidade da pessoa humana e das necessidades de proteção dos direitos pessoais em uma sociedadecada vez mais complexa. 3 Impactos das mudanças na tutela dos direitos da personalidade na contemporaneidade Os impactos das mudanças na tutela dos direitos da personalidade na contemporaneidade são notáveis, uma vez que refletem as transformações sociais, tecnológicas e jurídicas que moldaram a maneira como entendemos e protegemos a dignidade da pessoa humana. Neste texto, exploraremos esses impactos em detalhes (Cardin; Cruz, 2020). Em épocas passadas, como já mencionado na seção anterior, os direitos da personalidade não eram tratados como uma categoria legal específica. Os códigos civis, como o brasileiro de 1916, tinham uma abordagem predominantemente voltada para os direitos patrimoniais, com pouca atenção dada à proteção da dignidade e dos aspectos pessoais. Questões como privacidade, intimidade, imagem e honra raramente eram contempladas, e a proteção desses direitos estava sujeita a interpretações restritivas (D’Aquino, 2020). Hoje, a realidade é substancialmente diferente. Os direitos da personalidade ganharam destaque nas legislações de diversos países, inclusive no Código Civil Brasileiro de 2002, que dedicou um capítulo específico a esses direitos. Isso reflete uma mudança profunda na consciência jurídica e social, reconhecendo a importância de proteger não apenas os interesses patrimoniais, mas também os aspectos fundamentais da personalidade (Gonçalves, 2020). As mudanças nas disposições sobre os direitos da personalidade na contemporaneidade têm desencadeado uma série de impactos que refletem a evolução da sociedade e a necessidade de proteger a dignidade e a liberdade 14 individuais. Esses impactos abrangem diversos aspectos, e aqui exploraremos essas transformações em detalhes (Saba, 2020). Em primeiro lugar, a ampliação do escopo de proteção é um dos impactos mais notáveis. Os direitos da personalidade, que outrora eram subjugados pela supremacia dos direitos patrimoniais, agora abrangem uma gama muito mais ampla de interesses. Isso inclui a proteção da privacidade, intimidade, imagem, nome e outros aspectos inerentes à personalidade. Essa ampliação garante uma tutela mais completa e precisa dos aspectos fundamentais da dignidade humana, reconhecendo que o ser humano é mais do que um mero titular de bens e propriedades (Paiva, 2021). A era digital trouxe desafios específicos à proteção dos direitos da personalidade. Com o avanço da internet e das redes sociais, a disseminação não autorizada de informações pessoais, fotos e vídeos tornou-se uma preocupação crescente. A contemporaneidade nos força a repensar as formas de proteção, e a legislação está se adaptando para lidar com essas questões. Isso implica na imposição de limites claros às invasões à privacidade online, com ações legais mais rigorosas contra os invasores (Santos, 2021). Além disso, a responsabilização de terceiros se tornou uma realidade mais efetiva. Com o reconhecimento sólido dos direitos da personalidade, indivíduos e empresas que violam esses direitos enfrentam consequências legais mais severas. As ações de reparação por danos morais, por exemplo, têm sido mais frequentes e bem-sucedidas, obrigando aqueles que desrespeitam a dignidade alheia a arcar com as consequências de seus atos (Tepedino; Oliva, 2021). Por fim, a maior proteção dos direitos da personalidade está promovendo uma conscientização social mais profunda sobre a importância da dignidade humana. As pessoas estão mais dispostas a defender seus próprios direitos e a apoiar a proteção dos direitos alheios. Isso reflete uma evolução significativa na maneira como encaramos não apenas os aspectos econômicos, mas também os aspectos mais íntimos e pessoais de cada ser humano (Zanini; Queiroz, 2021a). Em síntese, as mudanças na tutela dos direitos da personalidade na contemporaneidade representam uma resposta necessária às transformações sociais e tecnológicas. Essas mudanças buscam proteger não apenas a integridade física e a propriedade, mas também a dignidade intrínseca de cada ser humano. Isso ilustra o compromisso contínuo da sociedade em garantir que todos os 15 indivíduos possam viver com respeito, dignidade e liberdade em um mundo cada vez mais complexo e interconectado (Zanini; Queiroz, 2021b). De todo modo, o que se tem é que as mudanças na tutela dos direitos da personalidade na contemporaneidade representam um avanço na proteção da dignidade humana. A legislação e a sociedade reconhecem cada vez mais a necessidade de proteger não apenas os interesses econômicos, mas também os aspectos mais íntimos e pessoais de cada indivíduo. Conforme Nascimento (2022), isso reflete uma evolução significativa na maneira como encaramos a dignidade e a liberdade de cada ser humano. PROBLEMAS APRESENTADOS Inicialmente, trata-se de uma questão envolvendo direitos da personalidade de uma jovem cantora e compositora brasileira de música pop. A artista firmou um contrato que concede, com exclusividade e de forma permanente até sua morte, o uso de sua imagem a um fabricante de instrumentos musicais. Durante o curso do contrato, surgiram divergências em relação à utilização da imagem da cantora após o seu falecimento. A questão central é se a cláusula que permite o uso permanente da imagem é válida, considerando os direitos post- mortem e a proteção da dignidade da pessoa falecida. A controvérsia se intensifica diante da necessidade de conciliar o direito contratual do fabricante de instrumentos musicais com os limites impostos pelos direitos da personalidade, especialmente após a morte da cantora. Além disso, surge a discussão sobre a extensão do controle que a cantora exerce sobre sua imagem, mesmo após a sua morte, e se o contrato celebrado respeita os princípios fundamentais da dignidade humana e da autonomia da vontade. A possibilidade de restrições póstumas ao uso da imagem da artista levanta questões éticas e jurídicas, suscitando a necessidade de análise sobre a validade e a razoabilidade das disposições contratuais relacionadas a esse aspecto específico. Diante desses pontos, a controvérsia deve ser abordada sob duas perspectivas: (a) a validade e eficácia da cláusula contratual que autoriza o uso permanente da imagem após a morte da cantora e (b) a conformidade dessa disposição contratual com os princípios éticos e jurídicos que regem os direitos da 16 personalidade, especialmente no que diz respeito à preservação da dignidade da pessoa falecida. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo teve como objetivo geral analisar a evolução dos direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro, comparando as disposições do Código Civil de 1916 com o Código Civil de 2002. Para alcançar esse objetivo, foram estabelecidos três objetivos específicos: investigar as concepções e categorias de direitos da personalidade presentes no Código Civil de 1916, identificar as alterações e inovações trazidas pelo Código Civil de 2002 em relação à proteção dos direitos da personalidade, e avaliar os impactos das mudanças legislativas na tutela dos direitos individuais no contexto contemporâneo. No decorrer da pesquisa, através da metodologia bibliográfica e da análise crítica de conteúdo, foi possível alcançar os objetivos propostos. No primeiro capítulo, foram apresentados os fundamentos teóricos dos direitos da personalidade, contextualizando sua importância para a proteção da dignidade humana. No segundo capítulo, foram identificadas as mudanças e inovações trazidas pelo Código Civil de 2002, como a ampliação das categorias de direitos reconhecidos e a atualização em relação às transformações sociais e tecnológicas. No terceiro capítulo, foram discutidos os impactos dessas mudanças na tutela dos direitos da personalidade na contemporaneidade, destacando desafios e perspectivas. Os principais resultados obtidos revelam queo Código Civil de 2002 representou um avanço significativo na proteção dos direitos da personalidade em relação ao Código Civil de 1916. A atualização legislativa refletiu uma maior compreensão das demandas sociais e tecnológicas, abrangendo novos direitos, como o direito à privacidade digital e o direito ao esquecimento. Essas mudanças foram fundamentais para oferecer uma tutela mais abrangente e adequada aos direitos individuais na era digital. No entanto, também foram identificados lacunas e desafios na efetivação plena dos direitos da personalidade. A rápida evolução tecnológica e as novas formas de interação social trouxeram desafios complexos, como a proteção da imagem e intimidade nas redes sociais, o combate ao cyberbullying e a garantia da segurança de dados pessoais. Essas questões exigem uma constante atualização 17 do ordenamento jurídico e uma ampla conscientização social sobre a importância da proteção dos direitos da personalidade. Como sugestão para estudos futuros, destaca-se a necessidade de investigar a efetividade das medidas legais existentes para a proteção dos direitos da personalidade, bem como a análise dos impactos das novas tecnologias, como inteligência artificial e biometria, nesses direitos. Além disso, é relevante aprofundar a discussão sobre os limites e conflitos entre os direitos da personalidade e outros direitos fundamentais, como a liberdade de expressão. Ademais, seria interessante realizar estudos comparativos com outros ordenamentos jurídicos, a fim de identificar boas práticas e abordagens inovadoras na proteção dos direitos da personalidade. De todo modo, entende-se que este estudo alcançou seus objetivos ao analisar a evolução dos direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro, destacando as mudanças e inovações trazidas pelo Código Civil de 2002 em relação ao Código Civil de 1916. Os resultados obtidos demonstraram que houve avanços significativos na proteção dos direitos individuais, especialmente diante das transformações sociais e tecnológicas. No entanto, também foram identificados lacunas e desafios a serem enfrentados para uma tutela mais efetiva dos direitos da personalidade na contemporaneidade. Espera-se que a pesquisa realizada e aqui apresentada contribua para o aprimoramento do entendimento e aplicação dos direitos da personalidade, bem como para o desenvolvimento de discussões e reflexões sobre a proteção dos direitos individuais em um contexto em constante evolução. A proteção dos direitos da personalidade é essencial para garantir a dignidade e a autonomia dos indivíduos, promovendo um ambiente social mais justo e equilibrado. Por fim, diante da complexidade e das transformações contínuas da sociedade, é fundamental que pesquisadores, profissionais do direito e legisladores estejam atentos às demandas emergentes e continuem a aprofundar seus estudos sobre os direitos da personalidade, visando garantir uma proteção adequada e atualizada desses direitos indispensáveis para a realização plena dos indivíduos na sociedade contemporânea. 18 REFERÊNCIAS CARDIN, Valéria Silva Galdino; CRUZ, Mariana Franco. Os direitos da personalidade no Direito brasileiro: do fenômeno de personalização à cláusula geral de direito da personalidade. Revista do Direito Público, v. 15, n. 2, p. 10-26, 2020. D’AQUINO, Lúcia Souza. Direitos da personalidade e direitos fundamentais: indisponibilidade, disponibilidade relativa ou exercício de direitos? 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