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Autores: Prof. Luiz Henrique Cruz de Mello Profa. Fernanda Torello de Mello Colaboradora: Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Zoologia de Vertebrados Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Professores conteudistas: Luiz Henrique Cruz de Mello / Fernanda Torello de Mello Luiz Henrique Cruz de Mello Doutor e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) em Geologia Sedimentar/Paleontologia, e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), de Botucatu. Especialista em Sistemática de Invertebrados Marinhos Fósseis, atuando como pesquisador, educador e professor universitário. Lecionou na Unesp/Bauru, na Universidade Federal de Sergipe e na Universidade Paulista (UNIP). Fernanda Torello de Mello Doutora e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) em Geologia Sedimentar/Paleontologia, e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), de Botucatu. Especialista em Tafonomia de Invertebrados Fósseis, atuando como pesquisadora, educadora e professora universitária. Lecionou na Unesp/Bauru, na Universidade Federal de Sergipe e na Universidade Paulista (UNIP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M527z Mello, Luiz Henrique Cruz de. Zoologia de Vertebrados. / Luiz Henrique Cruz de Mello, Fernanda Torello de Mello. – São Paulo: Editora Sol, 2016. 140 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-132/16, ISSN 1517-9230. 1. Zoologia de Vertebrados. 2. Origem. 3. Evolução. I. Mello, Fernanda Torello de. II. Título. CDU 596 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Nascimento Juliana Mendes Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Sumário Zoologia de Vertebrados APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS AMNIOTAS .................................................................................................. 11 1.1 Ancestralidade e surgimento das linhagens de amniotas ................................................... 13 1.2 Adaptações para a vida terrestre ................................................................................................... 15 1.2.1 Ovos amnióticos ...................................................................................................................................... 16 1.2.2 Tegumento impermeável ..................................................................................................................... 17 1.2.3 Respiração aérea ..................................................................................................................................... 18 1.2.4 Alterações na musculatura ................................................................................................................. 18 1.2.5 Alterações no sistema cardiovascular ............................................................................................ 18 1.2.6 Eficiência na excreção ........................................................................................................................... 18 1.2.7 Desenvolvimento do sistema nervoso ............................................................................................ 19 1.3 Classe Reptilia ........................................................................................................................................ 19 1.3.1 Sistemática ................................................................................................................................................ 21 1.3.2 Caracterização geral .............................................................................................................................. 23 2 ORDEM TESTUDINES ...................................................................................................................................... 28 2.1 Sistemática .............................................................................................................................................. 29 2.2 História evolutiva ................................................................................................................................. 30 2.3 Morfologia............................................................................................................................................... 31 2.4 Ecologia .................................................................................................................................................... 34 3 ORDEM SPHENODONTA ............................................................................................................................... 37 3.1 Sistemática .............................................................................................................................................. 37 3.2 História evolutiva ................................................................................................................................. 37 3.3 Morfologia............................................................................................................................................... 38 3.4 Ecologia .................................................................................................................................................... 38 4 ORDEM SQUAMATA ....................................................................................................................................... 39 4.1 Sistemática .............................................................................................................................................. 40 4.2 História evolutiva ................................................................................................................................. 40 4.3 Morfologia............................................................................................................................................... 40 4.3.1 Subordem Serpentes ............................................................................................................................. 41 4.3.2 Subordem Lacertilia ...............................................................................................................................44 4.4 Ecologia .................................................................................................................................................... 46 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade II 5 RÉPTEIS DIAPSIDA – ARCHOSAURIA ....................................................................................................... 56 5.1 Ordem Crocodilia .................................................................................................................................. 56 5.1.1 Sistemática ................................................................................................................................................ 56 5.1.2 História evolutiva .................................................................................................................................... 56 5.1.3 Morfologia ................................................................................................................................................. 57 5.1.4 Ecologia ...................................................................................................................................................... 60 5.2 Ordens extintas ..................................................................................................................................... 62 5.2.1 Sistemática ................................................................................................................................................ 62 5.2.2 História evolutiva .................................................................................................................................... 62 5.2.3 Caracterização dos grupos .................................................................................................................. 63 6 CLASSE AVES ..................................................................................................................................................... 72 6.1 Sistemática .............................................................................................................................................. 72 6.2 História evolutiva ................................................................................................................................. 73 6.3 Morfologia............................................................................................................................................... 74 6.4 Ecologia .................................................................................................................................................... 85 Unidade III 7 OS SINAPSIDA ................................................................................................................................................... 93 7.1 Sistemática .............................................................................................................................................. 93 7.2 História evolutiva ................................................................................................................................. 94 8 CLASSE MAMMALIA ....................................................................................................................................... 95 8.1 Sistemática .............................................................................................................................................. 96 8.2 História evolutiva ................................................................................................................................. 97 8.3 Morfologia.............................................................................................................................................100 8.4 Ecologia ..................................................................................................................................................109 7 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 APRESENTAÇÃO A zoologia é a porta de entrada para o conhecimento a respeito de uma grande variedade de formas e hábitos de seres vivos chamados de animais. Por meio desse ramo da biologia podemos obter e desenvolver o conhecimento sobre animais dos mais diferentes tipos, nos mais diversos lugares. A taxonomia e a sistemática cuidam da nomenclatura, deixando clara a composição de cada grupo e suas relações. A anatomia e a morfologia cuidam da descrição minuciosa dos indivíduos, gerando informações para a caracterização de cada espécie e a distinção em relação a outras classes. Existe, ainda, a relação com etologia, ecologia, genética, fisiologia, entre tantos outros ramos. Atualmente a grande biodiversidade dos animais tem nos invertebrados sua principal representação, com os insetos e outros artrópodes sendo os protagonistas desse cenário. No entanto, outro grupo de animais divide atenção com os invertebrados, nem tanto pela sua diversidade, mas pela sua representatividade nos ecossistemas: são os vertebrados. A evolução biológica levou os animais por caminhos distintos que culminaram no surgimento dos vertebrados. Sua característica básica – a presença de um endosqueleto formado por vértebras e coluna vertebral – é um grande diferencial em relação aos invertebrados. Contudo, não podemos nos esquecer de que a raiz dos vertebrados está entre os invertebrados. No ar, na água (doce ou salgada) ou na terra (sobre ela e em seu interior), podemos notar a presença marcante dos vertebrados, ocupando diversos nichos ecológicos e participando de inúmeras relações ecológicas. Eles são, efetivamente, parte fundamental para o funcionamento dos ecossistemas. Como se não bastasse tudo isso, nós, seres humanos, somos mais uma pequena peça desse grandioso e complexo quebra-cabeça da história dos vertebrados. Assim, nossa disciplina tem como objetivo tratar de parte dessa história, identificando a origem dos vertebrados pertencentes ao grupo dos amniotas junto ao de tetrápodes primitivos, entendendo as relações filogenéticas entre esses animais, bem como caracterizando cada um dos grupos envolvidos. Para tanto, o aluno terá contato com informações sobre as características morfológicas, fisiológicas e comportamentais comuns e diagnósticas dos grupos estudados, de modo a componha um conhecimento amplo sobre os animais vertebrados, muito útil no restante do curso e na vida profissional do biólogo, bacharel ou licenciado. A partir das informações os alunos serão convidados a irem além, identificando os principais grupos extintos e viventes, caracterizando morfologicamente os animais e classificando sua história evolutiva. Para iniciar sua orientação por esses caminhos destacamos que a Unidade I deste livro-texto tratará das características dos amniotas primitivos que os tornaram aptos a explorar e dominar os ambientes terrestres. Além disso, terá início o estudo de alguns dos principais grupos de répteis com representantes extintos e viventes, tais como cobras, lagartos e tartarugas. A Unidade II irá caracterizar a linhagem evolutiva das aves, abordando os grupos de répteis que estão na origem dessa classe, bem como os grupos extintos e viventes de aves. A Unidade III trará a linhagem evolutiva dos mamíferos, abordando os conjuntos de répteis que estão na origem, do mesmo modo que seus grupos extintos e viventes. INTRODUÇÃO Animais fazem parte de nossas vidas, e muitos chegam a ser fundamentais para nossa sobrevivência. Não podemos esquecer, entretanto, que os animais são elementos naturais (bióticos) dos ecossistemas e exercem 8 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 papel importante nos ambientes naturais. Assim, todo conhecimento sobreos animais é útil em um sentido mais amplo, para compreendermos e entendermos o funcionamento dos ecossistemas. Eles são engrenagens dos ecossistemas e apresentam uma história evolutiva muito rica e extensa. Figura 1 – Representação das relações entre os reinos de seres vivos Nos diversos ecossistemas terrestres e aquáticos os animais vertebrados ocupam vários nichos ecológicos, estando distribuídos pela terra, pela água e pelo ar. Nas cadeias e teias alimentares desempenham papéis de consumidores de diferentes níveis, como é o caso dos grandes predadores no topo das cadeias alimentares. Dessa forma, é possível entender sua participação nos processos biogeoquímicos, bem como a interação com os elementos abióticos. Produtores Herbívoros Decompositores Detritívoros Insetos carnívoros Carnívoros Figura 2 – Representação de um ecossistema com seus elementos bióticos e abióticos, incluindo possíveis relações ecológicas entre eles (cadeia alimentar) 9 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Assim os animais devem ser encarados como seres vivos que têm de ser conhecidos por suas características particulares e individuais, como parte de um contexto ecológico e evolutivo. Portanto, para um desenvolvimento mais produtivo dos conhecimentos sobre os animais vertebrados, um dos grupos com maior biodiversidade, sua sistemática e caracterização morfológica serão sempre acompanhadas por um contexto ecológico (como utilizam o ambiente e se relacionam com outros animais) e evolutivo (sua ancestralidade e linhagens evolutivas). Peixes Myxinoidea + Petromyzontoidea (90) Chondrichthyes (950) Actinopterygii ~27.000 Actinistia + Dipnoi (8) Urodela (500) Gymnophiona (165) Testudinia (300) Crocodilia (23) Aves 9.000 Mammalia 4.800 Lepidosauria 7.750 Anura 4.800 Aves Répt eis An fíb io s M am iferos Figura 3 – Biodiversidade dos vertebrados Na tentativa de construir uma visão mais interativa e completa da Biologia e de seus componentes animais, na presente disciplina terá prosseguimento o estudo dos vertebrados, dando atenção aos chamados tetrápodes amnióticos, tanto de seus grupos extintos quanto dos atuais. Observação Conforme observado pelo biólogo ucraniano-estadunidense Theodosius Dobzhansky, em biologia nada faz sentido exceto à luz da evolução (DOBZHANSKY, 1973). Dessa forma, o estudo dos animais vertebrados deve, obrigatoriamente, incorporar uma visão evolucionista. 11 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS Unidade I 1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS AMNIOTAS Os anfíbios se destacam entre os vertebrados por terem sido os primeiros do grupo a invadirem o ambiente terrestre. Suas adaptações morfológicas e fisiológicas permitiram a eles a utilização de recursos disponíveis tanto em terra quanto na água. No entanto, todas as novidades evolutivas do grupo não foram suficientes para torná-los totalmente independentes da água. Ainda são dependentes da umidade do ambiente para manter seu corpo hidratado e também para realizar a reprodução, inclusive porque suas larvas respiram por meio de brânquias. Desse ponto de vista, a conquista do ambiente terrestre pelos anfíbios não foi total, mas tiveram a importância de terem sido os primeiros, abrindo alternativas para que um novo grupo tivesse origem e levasse a cabo essa conquista. Sem dúvidas, o estudo da morfologia e da fisiologia dos vertebrados é fundamental para o entendimento desse e de outros eventos na evolução do grupo, com evidente influência em sua classificação (HICKMAN; ROBERTS; LARSON, 2004). Lembrete Os anfíbios foram os primeiros vertebrados a conquistarem o ambiente terrestre, mas não os primeiros seres vivos a fazerem isso. Antes deles as briófitas e alguns artrópodes já haviam tido êxito. Durante o estudo dos primeiros grupos de animais vertebrados foram introduzidos alguns termos que se referem a características morfológicas específicas, capazes de classificá-los em dois ou mais grupos. Exemplos disso são os grupos dos ágnatas e dos gnatostomados, denominações com base na ausência e na presença de mandíbula nos vertebrados, respectivamente. O quadro a seguir traz essas e outras denominações. 12 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Quadro 1 – Sistemática dos cordados. Notar que Agnatha e Gnathostomata são nomes que, embora tradicionais, estão em discussão quanto à sua validade Filo Chordata Protochordata Subfilo Urochordata Subfilo Cephalochordata Subfilo Vertebrata ou Craniata Classe Myxini Agnatha Anamniotas Tetrápodes Classe Cephalaspidomorphi Classe Actinopterygii Classe Sarcopterygii Classe Chondrichthyes Classe Amphibia Gnathostomata Classe Reptilia Amniotas Classe Aves Classe Mammalia Para a sequência da disciplina será muito útil a fixação das definições de tetrápodes, anamniotas e amniotas. Um animal tetrápode (ou tetrápoda) é definido como aquele com quatro membros locomotores. Esses membros podem assumir a forma de braços, pernas, asas, nadadeiras, entre outras. No momento oportuno serão estudados grupos de tetrápodes chamados de ápodas, ou seja, sem membros locomotores (por exemplo, serpentes), uma vez que seus membros degeneraram-se ao longo da evolução. Ainda assim são considerados tetrápodes, pois possuem ancestrais tetrápodes ou vestígios dos membros locomotores. Observação Cuidado com a palavra tetrápode para não a utilizar de modo errado. Não confunda com quadrúpedes, que são animais com quatro pés (patas) que ficam apoiados no chão durante o deslocamento. Confrontando essa informação com o quadro anterior é possível compreender que todos os tetrápodes são gnatostomados. Logo, todo vertebrado não tetrápode pode ser considerado um peixe (ágnatos, condríctes, sarcopterígios ou actinopterígios). Outra definição importante envolve a divisão dos vertebrados em anamniotas e amniotas. Nos primeiros, o embrião se desenvolve protegido por apenas uma membrana extraembrionária denominada córion (classes Myxini, Cephalaspidomorpha, Condrichthyes, Actinopterygii, Sarcopterygii e Amphibia). Nos amniotas eles se desenvolvem dentro de três membranas extraembrionárias chamadas âmnio, córion e alantoide, além do saco vitelínico (Reptilia, Aves e Mammalia) (HICKMAN; ROBERTS; LARSON, 2004). Detalhes da morfologia e da fisiologia de cada um desses ovos serão fornecidos mais adiante. 13 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS Observe atentamente que, nas definições dadas, em nenhum momento foi mencionada a palavra ovo. Há uma forte tendência dos profissionais envolvidos em Biologia (biólogos ou não) a definirem as condições amniótica e anamniótica com base na característica do ovo relativa a ter ou não casca. De fato os vertebrados anamnióticos possuem ovos frágeis e gelatinosos, sem casca resistente ao redor. A) B) Figura 4 – Exemplos de ovos anamnióticos (a) de anfíbio anuro e amnióticos (b) de ave No entanto, essa ideia está incompleta, especialmente para os amniotas, uma vez que podem ou não se desenvolver dentro de ovos. Para identificar tais situações são utilizados os termos para os embriões: • ovíparos: desenvolvidos dentro de ovos que são colocados no ambiente (aves, crocodilos, ornitorrinco etc.); • ovovivíparos: crescidos em ovos que ficam retidos dentro da fêmea até o nascimento do filhote (algumas serpentes); • vivíparos: gerados na fêmea, sem ovo (cavalo, cachorro,elefante e baleia). Portanto o mais correto é definir as condições amniota e anamniota com base nos anexos embrionários, e não no ovo, uma vez que as estruturas irão existir mesmo na ausência dele, como ocorre nos mamíferos placentários. O domínio dos conceitos anteriores é importante para a compreensão dos grupos de vertebrados que serão estudados a seguir, incluindo sua morfologia, fisiologia e ecologia. 1.1 Ancestralidade e surgimento das linhagens de amniotas Os amniotas correspondem aos animais conhecidos como répteis, aves e mamíferos. Do ponto de vista sistemático, corresponde a um grupo monofilético (AMORIM, 2010). Todos são gnatostomados e tetrápodes, embora a morfologia associada a essas características seja bem diversificada, ou seja, mandíbulas e membros podem estar demonstrados de várias maneiras. Os amniotas primitivos, entre eles os répteis, correspondem aos primeiros grupos de vertebrados a reunir um conjunto de características morfológicas, fisiológicas, ecológicas e comportamentais que representam a independência definitiva em relação à água ambiental. A origem desse conjunto está relacionada a grupos extintos de anfíbios. 14 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Observação Alguns répteis (por exemplo, crocodilos) e mamíferos (baleias) retomaram a condição ancestral de todos os tetrápodes, que é o hábito aquático. A título de recapitulação, a base dos tetrápodes é colocada em alguns gêneros de sarcopterígios extintos, como Eusthenopteron, Panderichthys e Tiktaalik. Deles surgiram os primeiros tetrápodes (chamados tetrápodes primitivos) representados por Acanthostega e Ichthyostega, cuja aparência geral era muito diferente daquela dos anfíbios atuais, mas já apresentava as feições básicas que caracterizam esse grupo. Foi durante o Período Carbonífero que os tetrápodes primitivos sofreram grande diversificação e se distribuíram de modo amplo pelo planeta, provavelmente motivados pelo clima mais apropriado e por suas consequências. Nessa época, surgiram grupos importantes para o restante da evolução dos vertebrados: Temnospondyli, Lepospondyli e Anthracosauria. Os temnospôndilos são a base dos anfíbios atuais, enquanto os antracossauros originaram os demais vertebrados (grupo dos amniotas) (HICKMAN; ROBERTS; LARSON, 2004). Essa linhagem, portanto é a seguida a partir de agora. Os anfíbios do grupo extinto chamado Anthracosauria formaram um grupo bastante diversificado que existiu no final da Era Paleozoica, mais especificamente nos Períodos Carbonífero e Permiano, até o final do Período Triássico (na América do Norte e na Europa). Seu nome significa “lagarto do carvão”, bastante sugestivo por fazer referência à semelhança com os répteis e também à época em que existiram, uma vez que o Período Carbonífero produziu muito carvão (VITT; CALDWELL, 2013). Portanto, os répteis possuem uma história muito antiga, com cerca de 300 milhões de anos (HICKMAN; ROBERTS; LARSON, 2004). Tinham crânios robustos, em forma de abóbada, com chifres tabulares proeminentes e pouco movimento da cabeça (crânio cinético). O corpo, em uma visão geral, era semelhante ao apresentado por lagartos atuais, o que lhes rendeu a denominação de tetrápodes reptilomorfos (ou seja, com formato de réptil). Algumas espécies eram terrestres, enquanto outras retomaram o hábito aquático dos ancestrais, sendo secundariamente aquáticas. Deve-se destacar, entretanto, que se trata de um grupo de vertebrados anamniotas (POUGH, JANIS, HEISER, 2009). Ao final do Período Carbonífero já podiam ser encontradas quatro linhagens de amniotas. A denominação desses grupos está apoiada na morfologia do crânio desses animais (HICKMAN; ROBERTS; LARSON, 2004; VITT; CALDWELL, 2013). São elas: • Anapsida ou anapsídios: animais que possuem crânio sem aberturas na região temporal (ou fenestras temporais). Atualmente, essa condição está representada nas tartarugas, embora nelas deva ser secundária, tendo surgido a partir de um ancestral diapsida. Os grupos Anapsida originais estão todos extintos. Surgiu no Período Triássico (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). • Diapsida ou diapsídios: espécies que exibem crânio com dois pares de aberturas temporais de cada lado. Deu origem aos mais importantes e representativos grupos de répteis, incluindo as aves. 15 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS • Euriapsida ou euriapsídios: indivíduos detentores de crânio com uma abertura temporal superior de cada lado, entre os ossos parietal, pós-orbital e esquamosal. Correspondem aos répteis marinhos extintos mais bem-sucedidos e diversificados, sendo genericamente conhecidos como ictiossauros e sauropterígios. Viveram ao longo da Era Mesozoica (VITT; CALDWELL, 2013). Hoje em dia são considerados um subgrupo dos Diapsida. • Sinapsida ou sinapsídios: criaturas que têm crânio com uma abertura temporal inferior de cada lado. Correspondem aos répteis que originaram os mamíferos e, antes disso, os grandes répteis pelicossauros, do final da Era Paleozoica, e terápsidos, da Mesozoica. A representação a seguir também permite observar que a condição anapsida original (primitiva) deve ter dado origem às condições sinapsida e diapsida, e esta, por sua vez, gerou as condições euriapsida e anapsida mais derivada (presente nas tartarugas). Qj J Sq Sq Sq Sq P PP P Po PoPo Po Orbit Euriapsida Diapsida Sinapsida Anapsida Figura 5 – Morfologia craniana das quatro linhagens de amniotas. Setas indicam o sentido da evolução, representando as condições primitivas (ancestrais) e as derivadas (descendentes). Legenda: Orbit = órbita ocular; Po = osso pós-orbital; Sq = osso esquamosal; J = osso jugal; P = osso parietal; Qj = osso quadrado-jugal Vale ressaltar que nos répteis atuais essas aberturas são ocupadas por grandes músculos que elevam e fecham a mandíbula, com provável influência no modo de alimentação que, no caso da evolução dos amniotas, passou a ser feita em ambiente terrestre, e não mais aquático (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.2 Adaptações para a vida terrestre As linhagens de amniotas que surgiram na Era Paleozoica foram resultado de um processo evolutivo que atuou para promover a independência dos animais em relação à água ambiental. Isso significa, basicamente, que essas espécies puderam afastar-se dos corpos d’água doce (lagos e rios), tendo explorado novos ambientes e nichos ecológicos nos quais a água não estava presente em grande quantidade. Vale lembrar que os anfíbios já haviam explorado o ambiente terrestre no entorno dos corpos d’água, mas ainda se mostravam muito dependentes da umidade. Logo, essa não foi uma primazia dos répteis. Contudo, os répteis e outros grupos de amniotas primitivos foram os primeiros vertebrados a conquistarem a independência da água. 16 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Para que isso fosse possível, os répteis tiveram de apresentar soluções anatômicas, fisiológicas e comportamentais para diminuir ou evitar a perda de água do corpo, sustentá-lo fora da água, respirar em uma atmosfera mais seca, obter alimento em diferentes ambientes e conseguir se reproduzir longe da água. 1.2.1 Ovos amnióticos Os ovos amnióticos representam uma parte das soluções para a vida longe da água. Esse foi um elemento crítico no desenvolvimento dos amniotas, pois seus ovos são maiores do que aqueles dos anamniotas, produzindo filhotes maiores que darão origem a adultos maiores (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). Neles estão presentes as três membranas extraembrionárias que fornecem um sistema completode manutenção da vida ao embrião. Comparativamente, os ovos anamnióticos dependem muito da umidade do ambiente e de outras características como temperatura e gases, devendo ficar mergulhados nela ou, pelo menos, em locais muito úmidos. Além disso, as larvas, quando nascem, precisam respirar na água e se alimentar nela, isto é, saem do ovo ainda muito imaturas. Nos amniotas o ovo simula as condições do ambiente com alimento, trocas gasosas, proteção, umidade etc. Portanto, conseguem reproduzir as circunstâncias ambientais e também suprir as necessidades básicas do embrião em um ambiente protegido e controlado. Cápsula externa Cápsula interna Câmara previtelínica Óvulo Córion (membrana vitelínica) Córion Âmnio Cavidade aminiótica Olho Saco vitelino Alantoide Intestino Embrião Casca A) B) Figura 6 – Tipos de ovos e suas estruturas. A) ovo anamniótico; B) ovo amniótico As vantagens do ovo amniótico são garantidas pela presença das três membranas extraembrionárias e do saco vitelínico, a saber: • âmnio: membrana que dá nome à condição do ovo. Envolve o embrião e o líquido que está ao seu redor, acomodando, dando proteção e delimitando um meio aquoso para seu crescimento; • alantoide: tem a função de armazenar as excretas metabólicas. Possui muita vascularização e, portanto, participa das trocas gasosas; • cório: está ao redor dos demais elementos, dando proteção e permitindo a respiração (trocas gasosas) devido à sua grande vascularização; 17 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS • saco vitelínico: contém os nutrientes que irão nutrir o embrião durante a longa gestação e, em alguns casos, mesmo após o nascimento. Embora não seja encontrada em todas as situações, a maioria dos ovos amnióticos possui casca resistente (coriácea ou mineralizada) e flexível, tendo um papel de suporte mecânico e barreira semipermeável. Dessa forma, permite que as trocas gasosas sejam realizadas, evitando a perda de água excessiva. Deve ser levado em conta que o ovo amniótico não é garantia de independência da água, uma vez que ele não reúne toda a umidade necessária para o embrião. Prova disso é que vários répteis precisam colocar seus ovos em ambiente terrestre, porém úmido. Há que se lembrar, ainda, que existe a condição ovovivípara na qual o ovo, além de ter a estrutura típica, fica no interior do corpo da mãe recebendo proteção extra. Associada à presença do ovo amniótico parece estar a condição de fecundação interna, isso porque a casca resistente não poderia ser penetrada pelo espermatozoide se o ovo estivesse colocado no ambiente. Logo, essa etapa deve ser anterior à formação da casca (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Lembrete Vale lembrar que peixes condrictes possuem ovo anamniótico, mas com cápsula resistente ao redor. Na maioria dos mamíferos (marsupiais e placentários) a condição amniótica se modificou bastante, embora as funções tenham sido preservadas, ou seja, há partes que proporcionam os mesmos efeitos. O saco vitelínico, por exemplo, não existe nesses grupos, mas está representado pela placenta (temporária ou permanente), que permite a transferência de nutrientes, gases e excretas entre a mãe e o embrião (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.2.2 Tegumento impermeável Um fator determinante para o sucesso dos amniotas em terra firme foi a diminuição da desidratação (perda de água) pela pele. Isso se deu por meio do desenvolvimento de um tegumento grosso, resistente e impermeável, em substituição à pele úmida, frágil e glandular dos anfíbios. Obviamente a nova estrutura da pele desses animais impede a respiração cutânea, mas traz outras vantagens (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Essa derme adquiriu tais características ao incorporar estruturas queratinizadas (por exemplo, escamas, pelos, penas, unhas, cascos, garras) que dão resistência, além de lipídios que repelem a água. Determinados grupos de répteis têm proteção extra de composição óssea, como os osteodermos dos crocodilianos e as placas ósseas dos testudíneos (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 18 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Observação Queratina é uma proteína fibrosa presente em várias partes do corpo dos amniotas e sintetizada no tecido epitelial. Em répteis e aves está presente na forma de betaqueratina. 1.2.3 Respiração aérea É certo que a respiração aérea não surgiu nos amniotas, haja vista que peixes pulmonados e anfíbios já possuíam essa função. No entanto, os amniotas a aperfeiçoaram. Os pulmões são mais desenvolvidos por terem vários estágios até o aparecimento dos alvéolos, o que aumenta a superfície de trocas gasosas. De maneira complementar, o mecanismo de movimentação do ar também ficou mais eficiente com a presença de músculos específicos. Isso tudo deu suporte a uma taxa metabólica maior desses animais, além de suprir a extinção da respiração cutânea. Contudo, algumas estratégias auxiliares à respiração podem ser observadas, sobretudo nos répteis, como trocas gasosas através da mucosa da faringe e da cloaca (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.2.4 Alterações na musculatura O estilo de vida terrestre exigiu adequações também na forma de alimentação, afinal de contas os peixes podem sugar a água e, com ela, vem seu alimento. Os anfíbios já passaram a capturar seu alimento em meio terrestre e tiveram de desenvolver musculatura no crânio, especificamente na mandíbula, para aprisionar o alimento vivo. Os répteis, por sua vez, aumentaram ainda mais a eficiência dessa musculatura, podendo capturar animais maiores, mais fortes e que poderiam fornecer maior valor energético. Houve expansão da musculatura associada às maxilas que usam as aberturas temporais para fixação, conforme comentado anteriormente. Até mesmo a língua se modificou de modo que auxiliasse na movimentação da comida dentro da boca (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.2.5 Alterações no sistema cardiovascular É nítida a diferenciação sofrida pelo coração dos amniotas. As alterações envolvem modificações anatômicas (por exemplo, ventrículos totalmente separados no coração) que visam a que o sangue venoso não se misture ao arterial ao longo do trajeto, melhorando a eficiência da circulação na oxigenação dos tecidos e aumentando a pressão sanguínea. Essas duas inovações são fundamentais para sustentar os níveis de atividade e metabolismo dos amniotas (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.2.6 Eficiência na excreção Uma maneira de melhorar a economia de água de um animal é alterar sua excreção. Desse ponto de vista, esse foi um procedimento fundamental para o sucesso dos amniotas em terra firme. A excreção de amônia e ureia com grande perda de água, típica dos peixes e anfíbios, foi substituída por processos mais eficientes. Algumas adaptações envolveram rins mais eficientes, como no caso dos mamíferos, 19 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS e alteração dos compostos nitrogenados a serem eliminados, como o ácido úrico de aves e répteis (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.2.7 Desenvolvimento do sistema nervoso Toda e qualquer alteração morfológica e fisiológica deve ser acompanhada pelo desenvolvimento de um sistema nervoso capaz de integrar e coordenar as novas funções. Além disso, a nova vida em ambiente terrestre exigiu o desenvolvimento de órgãos dos sentidos adequados à captação dos estímulos típicos do referido tipo de ambiente. Assim, nos amniotas surgem inovações no encéfalo, que se torna cada vez mais complexo e maior, atingindo seuápice nos mamíferos. Órgãos dos sentidos altamente modificados também surgiram, como os órgãos de Jacobson e as fossetas loreais e labiais de alguns répteis (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 1.3 Classe Reptilia A análise da classe Reptilia deve se iniciar com a colocação de uma questão sistemática. De acordo com os estudos filogenéticos essa classe é considerada um grupo parafilético (AMORIM, 2010; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Isso é o equivalente a dizer que ela não é válida dos pontos de vista sistemático e taxonômico. A explicação para isso é que a sistemática só aceita como válidos os grupos chamados monofiléticos, ou seja, aqueles formados por um ancestral e todos os seus descendentes (AMORIM, 2010). De acordo com a visão tradicional dos répteis o grupo inclui as tartarugas, os lagartos, as serpentes, as anfisbenas, os crocodilianos, os tuatara e outros, extintos, como os dinossauros. No entanto, aplicando-se as regras da monofilia, deveria incluir também as aves, já que seu ancestral direto foi um réptil do grupo dos dinossauros saurisquianos. Portanto, ao se utilizar a classificação com classe Reptilia, as aves devem ser incluídas, ou então, caso o grupo Aves seja tratado de modo independente, deve-se abandonar a denominação Reptilia e utilizar a denominação de cada uma das subclasses e ordens correspondentes (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). A utilização da classificação antiga no título deste item tem como objetivo chamar a atenção para o debate sistemático na Biologia. Além disso, ao longo do texto será feita referência ao grupo dos répteis preservando-se a visão tradicional que já está mais estabelecida e faz parte do senso comum. Herpetologia é a área da biologia que estuda os anfíbios e os répteis, e herpetólogos são os profissionais que se dedicam ao seu estudo. 20 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Ur oc ho rd at a Ce ph alo ch or da ta M yx in i Ce ph ala sp id om or ph i Ch on dr ch th ye s Ac tin op te ry gi i Sa rc op te ry gi i Am ph ibi a Te stu di ne s Le pi do sa ur ia Cr oc od ilia Av es M am m ali a 1 2 3 4 6 8 5 7 9 10 11 12 Sinapomorfias 1 Notocorda; tubo nervoso dorsal; fendas faríngeas; cauda pós-anal, endóstilo 2 Notocorda e tubo nervoso dorsal apenas na fase larval 3 Esqueleto axial por toda a vida; miômeros musculares 4 Cabeça e encéfalo distintos; órgãos sensoriais especializados; rim pronéfrico; crista neural 5 Pele nua com glândulas mucosas; olhos degenerados; notocorda persistente 6 Dois ou três pares de canais semicondutores; rim mesonéfrico 7 Pele nua; disco oral sugador; estágio larval longo; sete pares de brânquias 8 Maxilas; apêndices pares; filamentos branquiais lateralmente aos elementos de sustentação das brânquias 9 Corpo fusiforme; cauda heterocerca; escamas placoides; esqueleto cartilaginoso 10 Pulmão ou bexiga natatória; esqueleto ósseo 11 Elementos únicos de sustentação no esqueleto; cinturas nas nadadeiras ou nos membros 12 Membros pares para locomoção terrestre Figura 7 – Cladograma mostrando relações de parentesco hipotéticas dos cordados. Observação: os táxons identificados como Testudines, Lepidosauria e Crocodilia correspondem aos animais viventes tradicionalmente considerados como répteis. Números correspondem às sinapomorfias de cada clado (ver legenda) 21 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS 1 2 3 4 5 Te stu di ne s Archosauria Le pi do sa ur ia Cr oc od ilia Av es M am m ali a Diapsida Sinapsida Amniota Sinapomorfias 1 Crânio anapsida 2 Ovo com membranas extraembrionárias – âmnio, córion e alantoide 3 Betaqueratina na epiderme, características do crânio 4 Crânio diapsida 5 Crânio sinapsida Figura 8 – Cladograma mostrando relações de parentesco hipotéticas dos grupos viventes de amniotas, incluindo a relação com os anfíbios 1.3.1 Sistemática Entre as linhagens de amniotas primitivos (Anapsida, Diapsida e Euriapsida) é possível reconhecer alguns grupos monofiléticos que correspondem aos répteis e às aves. As informações a seguir são modificadas de Pough, Janis e Heiser (2009) e Hickman Jr., Roberts e Larson (2013). Cada uma dessas categorias é considerada uma subclasse. Na subclasse Anapsida existe apenas uma ordem extinta: Captorhinida. Vale lembrar que tal condição surgiu novamente em um grupo de Diapsida para formar as tartarugas. Na subclasse Diapsida existem as superordens Lepidosauria, Ichthyosauria, Sauropterygia e Archosauria. Merecem destaque aqueles grupos que possuem representantes atuais como as ordens Squamata (por exemplo, lagartos, serpentes e anfisbenas), Sphenodonta (antigamente chamado de Rhinchocephallia, cujo exemplar atual é o tuatara), Saurischia (caracterizado atualmente pelas aves) e Crocodilia (crocodilos e jacarés). Os Archosauria correspondem aos crocodilianos e aves juntos. Dinossauro seria uma denominação antiga (ou popular) que reúne alguns representantes extintos das ordens Saurischia e Ornithischia. Dentre os Saurischia existem as subordens Sauropodomorpha e Theropoda. Nesta última, entre dinossauros bípedes e carnívoros estão os ancestrais das aves. Há, ainda, a ordem Testudines, cujos membros viventes são tartarugas, cágados e jabotis, que anteriormente eram chamados de 22 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I quelônios (Chelonia) e colocados na subclasse Anapsida. Os Lepidosauria, juntamente com os Testudines e Archosauria, formam o grupo conhecido como Diapsida. Por sua vez, a subclasse Synapsida é constituída por formas extintas de animais que combinam características de répteis e de mamíferos, antigamente chamados de répteis mamaliformes, mas que hoje em dia são designados apenas como Sinapsida. Eles estão na linhagem dos mamíferos, sendo considerados seu grupo ancestral. Seus principais representantes foram os pelicossauros do final da Era Paleozoica e os terápsidas da Era Mesozoica. Os grupos mencionados estão sintetizados a seguir. Quadro 2 – Classificação dos amniotas, com destaque para os primeiros amniotas e os répteis atuais. Filo Chordata Classe Reptilia Subclasse Anapsida Ordem Captorhinida ϯ Subclasse Diapsida Ordem Testudines Superordem Lepidosauria Ordem Squamata Subordem Lacertilia Subordem Serpentes Ordem Sphenodonta Superordem Ichthyosauria ϯ Superordem Sauropterygia ϯ Ordem Plesiosauria ϯ Superordem Archosauria Ordem Crocodilia Ordem Pterosauria ϯ Ordem Saurischia Subordem Sauropodomorpha ϯ Subordem Theropoda Ordem Ornithischia ϯ Subclasse Synapsida Ordem Pelycosauria ϯ Ordem Therapsida ϯ = grupo extinto 23 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS Tartarugas Lagartos Cobras Crocodilos Aves Mamíferos Terapsídeos Dinossauros Pterossauros Ictiossauros Tecodontes Cotilossauros Anfíbio ancestral Anfíbios atuais Figura 9 – Filogenia dos amniotas. Destaque para a representação de grupos extintos de répteis (ictiossauros, pterossauros e dinossauros) Assim, das 18 ordens de répteis que surgiram e se desenvolveram durante a Era Mesozoica, apenas 4 incluem os répteis viventes, perfazendo um total aproximado de 10.272 espécies, conforme detalhado a seguir. Quadro 3 – Total de espécies de répteisatuais Ordem Número de espécies Testudines 341 Crocodilia 25 Squamata 9.905 Sphenodonta 1 Total: 10.272 Fonte: Reptile Database (2015). 1.3.2 Caracterização geral A palavra réptil está relacionada ao hábito de rastejar, compartilhado por muitas de suas espécies. Há mais de 7 mil classes viventes, dispersas pelos ecossistemas tropicais e pela maioria dos ecossistemas temperados ao redor do planeta. Embora o grupo seja reconhecido como o primeiro a adquirir a 24 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I independência da água ambiental, alguns grupos regressaram à condição ancestral e hoje exibem hábito aquático em água doce e água salgada (por exemplo, tartarugas marinhas). Entre os répteis viventes o hábito rastejador é predominante. Para entender isso basta lembrar um jacaré, uma serpente, um lagarto e um jaboti. No entanto, entre os membros extintos houve hábitos diferenciados, como nos dinossauros, nos répteis aquáticos (os ictiossauros), e nos répteis voadores, como os pterossauros. A seguir serão fornecidas mais informações sobre o hábito de vida desses animais em cada grupo estudado. Independentemente do hábito de vida, todo réptil apresenta pele seca, resistente, sem glândulas desenvolvidas, como uma resposta ao hábito terrestre, de modo que diminua a perda de água pela superfície do corpo e, também, como forma de protegê-lo do contato com o ambiente decorrente do hábito rastejador comentado anteriormente. Para que essas funções fossem cumpridas perfeitamente a superfície do corpo desenvolveu revestimento externo na forma de escamas queratinizadas. Embora elas tenham nome, posição e função semelhantes às das escamas dos peixes, não são homólogas, conforme comprovado por suas estruturas bem distintas (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Nos répteis, trata-se de uma estrutura epidérmica com uma base dérmica composta, muitas vezes, por ossos dérmicos (osteodermos) e camada de células com pigmentos (melanócitos). Tal estrutura permite que, em alguns casos, cada escama responda com movimentos próprios ajudando no deslocamento do animal, como observado nas serpentes. Epiderme Derme Articulação flexívelMelanóforosOsteodermo Escama A) B) Figura 10 – Tegumento dos répteis. A) Estrutura das escamas epidérmicas. B) Exemplo de troca de camada queratinizada É fato bastante conhecido que muitos répteis realizam ecdise, popularmente conhecida como troca de pele, ou seja, promovem a reposição de suas camadas queratinizadas externas para que possam aumentar de tamanho. A camada antiga é descartada e uma nova é produzida. Serpentes e lagartos são exemplos desses animais. Até mesmo alguns testudíneos trocam as placas de queratina que cobrem o casco. Outros grupos têm osteodermos muito desenvolvidos, como ocorre nos crocodilianos, representando uma modificação importante na estrutura da derme. Há, no entanto, modificações ainda mais profundas, como o casco ósseo de muitos testudíneos, conforme será detalhado posteriormente (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 25 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS A sustentação do corpo ocorre, na maioria dos casos, com quatro membros, normalmente com cinco dedos em cada. Essas mesmas estruturas promovem a movimentação dos animais, que podem correr, andar, nadar e escalar, mas ao olharmos para o passado vemos que também puderam voar (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). A) B) C) Figura 11 – Variedade dos membros locomotores em répteis. A) Quatro membros para locomoção terrestre. B) Quatro membros para locomoção aquática. C) Condição ápoda Para a realização de movimentos tão diferentes são necessárias adaptações específicas, como o formato de remo das nadadeiras das tartarugas. Uma modificação mais extrema corresponde aos membros vestigiais ou mesmo ausentes (condição ápoda) observada em serpentes e alguns lagartos (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Os membros se articulam por meio das cinturas escapular e pélvica com o esqueleto axial (coluna e crânio). Todo o esqueleto é ossificado. Em sua região anterior, nota-se a formação da caixa torácica com a participação de costelas e osso esterno, este último ausente nas serpentes. Na extremidade existe um crânio com um único côndilo occipital, isto é, uma formação óssea da base do crânio que se articula com a primeira vértebra (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). A caixa torácica dá forma ao animal e também protege alguns de seus órgãos, como os pulmões. Comparativamente, o pulmão reptiliano é mais desenvolvido do que o anfíbio. Possui grande superfície para trocas gasosas, devido ao início de formação dos alvéolos pulmonares. Esse grau de desenvolvimento se justifica porque a respiração pulmonar é a única opção existente nos répteis. Vale lembrar que, embora os anfíbios tenham um pulmão mais simples, eles possuem a ação complementar da respiração cutânea. 26 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Laringe Traqueia Brônquio Bronquíolo Diafragma Conjunto de alvéolos Pulmão A) B) C) Figura 12 – Comparação entre A) pulmão saculiforme dos anfíbios modernos, B) pulmão com início de desenvolvimento alveolar dos répteis e C) pulmão alveolar dos mamíferos Nos répteis há poucas espécies que apresentam estratégias auxiliares para troca gasosa, como a cloaca e a faringe de algumas tartarugas marinhas, e até mesmo a pele em serpentes marinhas. No entanto, nenhum réptil exibe respiração branquial, nem mesmo os aquáticos. Assim, quando se pensa em crocodilo ou tartaruga marinha, que passam muito tempo nadando ou mergulhando, deve-se lembrar que eles não conseguem respirar dentro da água e, portanto, devem voltar à superfície para aspirar o ar (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). O oxigênio captado do ar é levado para o corpo através do sistema cardiovascular. Esse sistema apresenta algumas novidades em relação àquele encontrado nos anfíbios, e mesmo entre os répteis podemos encontrar importantes variações. A circulação é fechada, dupla (circulação sistêmica e pulmonar) e incompleta na maioria dos répteis (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). O coração é o foco das variações. Nos répteis, exceto crocodilianos, o órgão é descrito como formado por um seio venoso, um átrio completamente dividido em duas câmaras (átrios direito e esquerdo) e um ventrículo dividido de forma incompleta em três câmaras. Os crocodilianos apresentam um seio venoso, dois átrios e dois ventrículos (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Desse ponto de vista, podemos considerar que a circulação dos crocodilianos é fechada, dupla e completa, e seu coração é mais semelhante ao de aves e mamíferos do que ao dos outros répteis. As diferenças na estrutura do coração levam a mudanças na circulação. O coração reptiliano típico possui comunicação entre as câmaras ventriculares e, com isso, há mistura parcial do sangue arterial com o venoso. Por sua vez, nos crocodilianos as cavidades atriais e ventriculares são totalmente separadas, o que impede a mistura entre os tipos sanguíneos (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). A circulação tem, entre outras funções, a capacidade de distribuir o calor pelo corpo desses animais. Os répteis são ectotérmicos e, portanto, do ponto de vista fisiológico, são considerados conformadores (MOYES; SCHULTE, 2010), uma vez que dependem da temperatura do ambiente para se aquecer e elevar seu metabolismo. Daí o hábito que a maioria apresenta de ficar exposto algumas horas por dia ao sol. A ectotermia é uma característica ancestral dos vertebrados e compartilhadacom ágnatos, peixes e anfíbios (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 27 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS Portanto, animais ectotérmicos necessitam de mecanismos comportamentais para regularem a temperatura de seus corpos. Para muitas espécies de lagartos a temperatura corporal quando os animais estão em atividade fica entre 33 e 38 ºC, enquanto nas serpentes pode-se observar a variação entre 28 e 34 ºC (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Ao se posicionarem sob o sol os répteis procuram a melhor posição para que os raios luminosos transfiram a energia necessária. Isso pode exigir pequenos movimentos de tempos em tempos para compensar a movimentação do Sol. Outra estratégia diz respeito à melanina da pele, que pode ser espalhada pela superfície do corpo, tornando o animal mais escuro e permitindo absorção de calor mais rápida, ou o inverso, quando o animal precisa se resfriar. Isso mesmo. Os répteis precisam se resfriar. Embora necessitem da energia solar para se aquecerem, apresentam um limite máximo relativo à temperatura corporal (denominado faixa de temperatura de atividade). Uma vez atingido esse limite devem realizar comportamentos para se resfriarem. Exemplo disso é o que fazem as tartarugas que não podem movimentar a melanina nem mudar a forma do corpo, restando a elas alternar períodos sob o sol com períodos nas sombras, ou então dentro e fora da água (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Portanto, as atividades dos répteis estão limitadas, no tempo e no espaço, pelas condições ambientais. A) B) Figura 13 – Estratégias de termorregulação ectotérmica desenvolvidas por A) lagartos e B) tartarugas Saiba mais Conheça mais sobre a biologia dos répteis assistindo ao ótimo documentário: LIFE – Reptiles & Amphibians. Dir. Paul Spillenger. Inglaterra: British Broadcasting Corporation (BBC), 2009. 62 minutos. Lembrete Vale a pena lembrar que os termos sangue quente e sangue frio não são mais utilizados por não refletirem as condições verdadeiras observadas nos respectivos grupos animais. 28 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I O sistema digestório é completo, com a conformação típica da maioria dos vertebrados, ou seja, boca, cavidade bucal, faringe, esôfago, estômago, intestino e ânus. Há novidades interessantes envolvendo a movimentação das maxilas e os dentes das serpentes, além do estômago dos crocodilianos. O sistema excretor é formado por rins metanéfricos, pares que apresentam como excreta principal o ácido úrico com consistência pastosa, pois economiza muita água. Esse tipo de rim é formado por metanefrídios, ou seja, nefrídios tubulares e com uma abertura interna que drena o celoma e uma abertura externa (nefridióporo) que lança o seu conteúdo para o exterior (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Nota-se uma grande diferença em relação ao sistema nervoso dos anfíbios, uma vez que o encéfalo já apresenta telencéfalo e cerebelo bem-desenvolvidos. Essa configuração justifica, ao menos em parte, os comportamentos mais complexos desenvolvidos em relação aos peixes e anfíbios. Órgãos dos sentidos exclusivos, como o órgão de Jacobson no céu da boca de lagartos e serpentes e as fossetas loreais e labiais de serpentes, auxiliam na captura de estímulos ambientais que serão processados pelo cérebro (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Mais informações sobre os órgãos dos sentidos serão fornecidas na descrição de cada grupo. Conforme mencionado anteriormente, as novidades anatômicas e fisiológicas do grupo serviram para desenvolver uma reprodução independente da água. Nesse contexto, os répteis são dioicos (possuem sexos separados), nem sempre com dimorfismo sexual. A fecundação é interna, e o órgão copulatório (pênis ou hemipênis) é introduzido na cloaca da fêmea. As condições ovípara e vivípara são as principais, embora a ovoviviparidade e a partenogênese já tenham sido registradas (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). 2 ORDEM TESTUDINES Também chamada de Chelonia, essa ordem tem uma história bastante antiga, com origem aproximada no início do Período Triássico da Era Mesozoica. Corresponde às diferentes espécies identificadas como tartarugas, cágados e jabutis, sendo facilmente identificados pela sua anatomia única. A) B) Figura 14 – Exemplos de animais testudíneos 29 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS Observação É correto chamar todos os testudíneos de tartarugas. Contudo, o termo jabuti é o mais usado para as formas terrestres, enquanto cágado é mais frequente para muitas espécies de água doce e tartaruga é empregado para espécies marinhas e algumas de água doce. 2.1 Sistemática Essa ordem conta com aproximadamente 341 espécies viventes, distribuídas por quase todo o planeta em ambientes tão variados quanto oceanos, florestas, lagos e desertos. Esse total está organizado em 13 famílias, que, por sua vez, estão reunidas nas subordens Pleurodira e Cryptodira, sendo a última a mais diversificada e abundante (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Essa divisão obedece a um critério bastante simples e fácil de ser observado. Os membros da subordem Pleurodira flexionam (dobram) o pescoço-cabeça para o lado, para que fique escondido sob a margem da carapaça. Normalmente cágados ou tartarugas de água doce apresentam essa característica, como é o caso da tartaruga-pescoço-de-cobra-australiana (Chelodina longicollis). Por outro lado, os membros da subordem Cryptodira conseguem retrair o pescoço-cabeça ficando com essas partes entre as cinturas escapulares e sob a proteção da carapaça (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). As tartarugas marinhas e os jabutis comumente apresentam essa característica. Há de se destacar, ainda, que algumas espécies, como as tartarugas marinhas, não conseguem desenvolver esses movimentos com o pescoço-cabeça, mas a análise de seu esqueleto e de sua musculatura indica que elas pertencem à subordem Cryptodira. Apesar das posições sistemáticas e taxonômicas adotadas aqui, a classificação do grupo está em constante revisão (CRAWFORD et al., 2015). Os Cryptodira são encontrados, hoje em dia, nos hemisférios Norte e Sul, com formas aquáticas e terrestres na América do Norte e terrestres na África. Estão ausentes na Austrália e Antártida. Já os Pleurodira são localizados apenas no hemisfério Sul (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). A) B) Figura 15 – Representação do movimento do pescoço-cabeça que caracteriza as duas subordens de Testudines. A) Flexão do pescoço em Pleurodira. B) Retração do pescoço em Cryptodira 30 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I No Brasil são conhecidas duas espécies de jabutis (Chelonoidis denticulatus e C. carbonarius). Entre formas terrestres e de água doce, apenas na Amazônia, são 15 conhecidas, sendo a mais evidente a tartaruga-da-amazônia (Podocmenis expansa) (FERRARA, 2012). Com relação às tartarugas marinhas, são cinco espécies: tartaruga-verde ou aruanã (Chelonia mydas), a tartaruga-cabeçuda ou mestiça (Caretta caretta), a tartaruga-de-oliva (Lepidochelys olivacea), a tartaruga-de-pente ou legítima (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-de-couro ou gigante (Dermochelys coriacea) (GLIESCH-SILVA, 2015). 2.2 História evolutiva Esse grupo parece ter surgido há cerca de 220 milhões de anos (Período Triássico), estando os fósseismais antigos em depósitos sedimentares da Alemanha, Tailândia e Argentina (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Sua origem, entretanto, não está clara e é motivo de intenso debate (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). Algumas vezes são tratados como fósseis vivos devido à sua morfologia estruturalmente conservativa ao longo das últimas eras geológicas. Tal fato faz que seja um grupo de grande interesse em estudos genéticos, taxonômicos e evolutivos. Contudo, essa aparente monotonia nas características externas esconde uma rica história de mudanças fundamentais em muitos sistemas do corpo (GAFFNEY, 1990). Um dos fósseis mais antigos pertence à espécie Proganochelys quenstedti, interpretado como de hábito semiaquático, com dentes, carapaça alta, grande e arqueada, além de outras características do esqueleto que não estão mais presentes nas tartarugas atuais (GAFFNEY, 1990). Figura 16 – Proganochelys quenstedti. Reconstituição da espécie de tartaruga mais antiga conhecida Atualmente os testudíneos correspondem a um grupo comum, bem conhecido, mas que nem de longe apresenta a mesma diversidade e abundância de antes. De acordo com SILVA (2015) quase 60% das espécies de tartarugas atuais estão em risco de extinção, porcentagem essa que tem aumentado muito nos últimos 10 anos, sendo considerado o grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta, superando aves, mamíferos, peixes cartilaginosos, peixes ósseos e anfíbios. Sua morfologia é uma mistura de características derivadas e outras primitivas que mudaram muito pouco desde a origem no Período Triássico. 31 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS 2.3 Morfologia A anatomia externa e interna bastante típica e única nos dias de hoje nem sempre foi assim. Inicialmente seus representantes possuíam dentes e sua carapaça era menor do que nos atuais. Para o lugar dos dentes surgiram placas queratinizadas rígidas, de margem afiada e em formato de bico (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Talvez sua principal característica seja a presença do casco, provavelmente a chave para seu sucesso evolutivo. Essa cobertura externa funciona como uma armadura. Corresponde a duas estruturas intimamente unidas: a parte dorsal, a carapaça propriamente dita, e a parte ventral, o plastrão (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). A carapaça tende a ter uma curvatura maior do que a do plastrão, tornando-se convexa. Essa é uma diferença evidente, especialmente para as espécies terrestres. Já nas aquáticas ou semiaquáticas, como as tartarugas marinhas e os cágados, a diferença de curvatura é menor, uma vez que eles precisam de uma forma mais hidrodinâmica para se movimentarem na água com grande facilidade. Para todas as condições existem, entretanto, exceções. A espécie Terrapene carolina, conhecida como tartaruga-caixa (box turtle), possui um plastrão bastante peculiar, por ser articulado. Ele é formado por duas partes móveis que se articulam e fecham as duas extremidades do casco após o animal recolher a cabeça, a cauda e os membros (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). PlastrãoCarapaça A) B) Figura 17 – Morfologia externa de testudines. A) Esquema representativo da carapaça e do plastrão. B) Espécime de jabuti gigante das Ilhas Galápagos com carapaça e plastrão evidentes O casco é formado por uma camada externa de queratina e uma interna, óssea, permanecendo com o animal durante toda a vida. No entanto, passa por alterações ao longo do tempo. À medida que esses animais crescem, novas camadas de queratina são formadas por baixo das antigas, acompanhando o desenvolvimento deles (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Por sua vez, a parte óssea do casco é composta por ossos dérmicos, vértebras e costelas, todos fundidos em uma única estrutura. Devido a essa característica ímpar entre os vertebrados, apenas as duas extremidades da coluna vertebral, ou seja, o pescoço e a cauda, possuem vértebras com articulação. Além disso, têm as cinturas pélvica (posterior) e escapular (anterior) articuladas com o restante do esqueleto pelo lado de dentro das costelas (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Se compararmos com a situação em outros tetrápodes, as cinturas se ligam ao esqueleto pelo lado de fora das costelas. 32 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Plastrão CarapaçaCostelas Vértebras fusionadas Pescoço Figura 18 – Morfologia interna de testudines. Destaque para a fusão da coluna, das costelas e do casco Observação Investigações recentes indicam que nos estágios embrionários iniciais dos testudíneos as cinturas possuem o mesmo padrão dos demais tetrápodes. Com o desenvolvimento elas migram para uma posição interna às costelas (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Nem todas as tartarugas possuem o casco inteiramente ossificado. Em algumas, por exemplo, a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), existe uma moldura ossificada recoberta por pele grossa semelhante ao couro. Nelas as placas ósseas são bem pequenas e ficam mergulhadas no tecido conjuntivo. Algo parecido ocorre com o jabuti africano Malacochersus tornieri, cujo casco é flexível devido à pouca ossificação (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). E as partes do corpo que não estão dentro dos cascos? Como estão cobertas? A cabeça e o pescoço, os membros anteriores e posteriores e a cauda são recobertas por escamas de diferentes tamanhos e consistências, que podem ser coloridas ou apresentarem padrões de coloração. Assim como nos demais répteis elas protegem essas partes do corpo dos atritos e desgastes frequentes pelo contato com o solo ou outros elementos do ambiente (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). A) B) Figura 19 – Aspectos da pele dos testudíneos e sua típica cobertura de escamas Existem diferenças importantes relacionadas às patas que estão diretamente ligadas ao hábito de vida. Espécies terrestres têm membros fortes, cilíndricos e com pés grossos e largos, frequentemente 33 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS comparados às patas dos elefantes. Em alguns as patas são mais delicadas, porém resistentes, apropriadas à escavação (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). As tartarugas de água doce, devido ao seu hábito semiaquático, possuem membros mais finos e ágeis, com pés largos e membranas interdigitais que ajudam na locomoção aquática. Por sua vez, as tartarugas marinhas possuem patas bem diferenciadas com forma de remo ou nadadeira, especializadas para nadar longas distâncias (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Figura 20 – Exemplar de tartaruga-de-orelha-vermelha (Trachemys scripta). Destaque para as patas adaptadas à natação em rios e lagos De acordo com as características descritas previamente é possível compreender que o casco corresponde, também, à caixa torácica. Pelo modo como seus elementos estão unidos não é possível que essa caixa torácica seja expandida e contraída durante a respiração. Assim, existe musculatura específica (peitoral e abdominal) que controla entrada e saída de ar dos pulmões. Ao se deslocarem, o movimento do corpo também ajuda na ventilação pulmonar (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Conforme mencionado anteriormente, além do pulmão é possível encontrarmos tipos complementares de respiração nos testudíneos, especialmente nas formas aquáticas. Contudo, nenhuma delas possui brânquias. Espécies aquáticas conseguem retirar boa parte do oxigênio de que precisam, quando estão mergulhadas, da água bombeada para dentro e para fora da cavidadebucal, da faringe e da cloaca, que são regiões densamente vascularizadas (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). A despeito dessa influência negativa na respiração, o casco oferece muitas vantagens, entre elas, proteger a cabeça e os membros. No entanto, nem todas as tartarugas conseguem recolher sua cabeça e seus membros sob a carapaça. Exemplo disso são as tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) e a tartaruga-mordedora (Chelydra serpentina), que têm cascos reduzidos (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). O sistema cardiovascular é típico dos répteis não crocodilianos, possuindo dois átrios totalmente separados e um ventrículo único que pode, durante a contração, ficar momentaneamente repartido pela crista muscular existente em seu interior, minimizando tanto quanto possível a mistura entre sangue venoso e arterial (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). 34 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I Quanto à excreção, são classificados como uricotélicos, tendo o ácido úrico como seu principal (entre 80% e 90%) resíduo nitrogenado. Nas espécies marinhas ou de estuários, os rins não dão conta de eliminar todo o sal ingerido com o alimento e a água. Assim, é necessária a presença de uma glândula acessória (glândula de sal) localizada na cabeça do animal (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). O sistema digestório não apresenta nenhuma característica nova ou exclusiva que mereça destaque, seguindo o padrão descrito para os répteis. Seu sistema nervoso é formado por um cérebro pequeno, mas com telencéfalo bem-desenvolvido, o que lhes confere boa capacidade de memorização e aprendizagem. Para audição conta com orelha média e interna, embora testes tenham mostrado que sua resposta aos sons é muito pequena, o que justificaria o fato de as tartarugas serem, na maioria das vezes, consideradas mudas. Tal característica é compensada pelo olfato e pela visão bem-desenvolvidos (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Observação É comum observarmos os sons emitidos por jabutis machos durante o acasalamento. Embora haja exceções, as tartarugas marinhas atingem tamanhos maiores do que as terrestres ou de água doce. Exemplo disso é a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), considerada a maior espécie atual com até 2 m de comprimento de casco e até 725 kg. As tartarugas-verdes (Chelonia mydas) também são grandes, embora atinjam apenas a metade do peso de suas parentes, ficando perto dos 360 kg. Essa peculiaridade reflete uma característica de outros vertebrados, como as baleias, que conseguem ter tamanhos e pesos muito grandes devido à sustentação realizada pela água em que vivem (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Como toda regra tem sua exceção, alguns jabutis também podem possuir tamanho avantajado, chegando a centenas de quilos. É o caso dos jabutis-gigantes das Ilhas Galápagos (Chelonoidis nigra) (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Embora ectotérmicos como todos os répteis, alguns testudíneos, como a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), conseguem manter a sua temperatura corporal bem maior do que a da água por onde circulam graças à geração de calor pelos músculos e ao isolamento corporal que evita a perda desse calor gerado internamente (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). 2.4 Ecologia Tartarugas podem ser consideradas onívoras, embora algumas espécies sejam preferencialmente carnívoras e outras herbívoras. Entre elas está a tartaruga mordedora (Chelydra serpentina) que come carniça, anfíbios, peixes, crustáceos etc. Outra carnívora, a espécie Macroclemys temminckii, ou tartaruga aligátor, é caçadora de emboscada. Quando mergulhada, deixa sua boca aberta e move a ponta de sua língua, que tem forma um pouco alongada, lembrando um pequeno verme. Isso atrai peixes ou outros 35 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS animais atrás de uma refeição fácil que acabam sendo surpreendidos pelo fechamento das rápidas mandíbulas (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Entre as tartarugas marinhas os alimentos mais difundidos são as águas-vivas, esponjas e algas (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). São animais dioicos com dimorfismo sexual discreto e fecundação interna. Normalmente as fêmeas são maiores do que os machos, e o plastrão delas é plano, enquanto nos machos é côncavo, para que, ao assumir a posição de cópula sobre a fêmea, seus cascos possam se encaixar de modo que permita a penetração do pênis na cloaca da fêmea. A cópula das tartarugas marinhas ocorre mesmo dentro da água, e o casal formado nada junto impulsionado apenas pela fêmea, uma vez que os membros do macho a estão segurando. Como são muito longevos, alguns com idade estimada em 150 anos (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013), a idade reprodutiva (maturidade sexual) é atingida após alguns anos, variando entre 5 e 11 anos em jabutis (SILVA, 2015). É importante destacar que a maioria dos testudíneos tem idade bem menor do que muitos pensam. Espécies pequenas chegam a 14 anos, enquanto as maiores podem viver até os 50 ou pouco mais (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). Saiba mais Conheça o Projeto Pé-de-pincha de proteção de um quelônio amazônico. Criado em 1999 por comunitários da cidade de Terra Santa no Pará e por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas. Acesse: <http://pedepincha.com.br>. Cientistas têm descoberto que entre machos e fêmeas de muitas espécies existe uma intensa comunicação, que era perceptível apenas em jabutis. O chamado comportamento de corte envolve sinais químicos (feromônios), visuais (cor das patas), táteis (toque das garras durante o nado) e até sonoros (sons guturais dos jabutis) (POUGH; JANIS; HEISER, 2009; HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013; SILVA, 2015). Segundo Ferrara, Vogt e Sousa-Lima (2013), muitas espécies de tartarugas terrestres são conhecidas por produzirem sons durante a corte e o acasalamento (por exemplo, Gopherus agassizii, Chelonoidis carbonaria, Astrochelys radiata), embora faltem dados sobre o mecanismo de produção desses sons ou sua função. Em relação às tartarugas aquáticas há pouca informação sobre o mesmo comportamento. De acordo com os autores, sabe-se que a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) parece produzir três tipos diferentes de ruídos quando está fora da água. Para as classes de água doce Chelodina oblonga foram identificadas 17 categorias de sons. Todas essas evidências parecem desmistificar a crença de que tartarugas são surdas. Os dados têm mostrado que deve haver uma frequência sonora especialmente favorável para a audição desses animais. Todas as espécies são ovíparas e depositam seus ovos na superfície do solo ou em ninhos cavados pelas próprias fêmeas. Animais pequenos colocam 4 ou 5 ovos, enquanto as grandes tartarugas marinhas 36 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 07 /1 6 Unidade I podem colocar mais de 100. A consistência da casca também varia de acordo com o grupo taxonômico, podendo ser flexível ou dura (POUGH; JANIS; HEISER, 2009). Após a postura os ovos são abandonados, e não existe cuidado parental (HICKMAN JR.; ROBERTS; LARSON, 2013). Assim, os ovos ficam largados à própria sorte, interagindo com os elementos do ambiente (temperatura, umidade, predação) conforme eles variam. Talvez por isso, em algumas famílias a temperatura do ninho tenha papel decisivo na determinação do sexo dos filhotes. A relação observada pelas pesquisas é que baixas temperaturas durante a incubação produzem machos, enquanto altas temperaturas produzem fêmeas. Algo parecido é conhecido para crocodilianos e alguns grupos de lagartos. Vale considerar que a temperatura pode variar dentro de um
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