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6 Apostila - A Relação dos Seres Humanos com os Estímulos do Ambiente

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A Relação dos Seres Humanos com os Estímulos do Ambiente 
Lucelmo Lacerda 
 
Estímulos Reforçadores Primários e Secundários 
Vamos voltar lá ao comecinho, às aulas sobre Behaviorismo Radical. 
Lembrem-se que o comportamento humano possui 3 níveis de controle: a) o 
filogenético (a base biológica); b) o ontogenético (a história de vida do 
indivíduo); e c) a cultura. 
O primeiro nível, filogenético, não faz parte de minha história individual, 
vem antes de mim, trata-se da seleção de características e comportamentos 
selecionados na história da espécie, em milhões e milhões de anos. 
A mudança de ambiente na África central, aproximadamente onde hoje 
fica o Chade, fez com que os primatas que, aleatoriamente, tinham um rabo um 
pouco menor e andavam de maneira mais apoiada em somente dois membros, 
isto é, de modo bípede, tivessem uma vantagem nesse novo contexto com 
muito menos árvores. Os primatas com rabos menores e com maior bipedismo 
se equilibravam e locomoviam um pouco melhor e, por isso mesmo, tinham 
mais acesso à comida e podiam se livrar mais rapidamente de ameaças e por 
isso vivam mais, melhor e tinham mais filhotes, que tinham mais probabilidade 
também de terem rabos um pouquinho menores do que a média e entre estes 
filhotes, aqueles de rabos ainda menores tinham mais vantagem e por isso, 
maior probabilidade de legar seus genes e apresentarem o bipedismo. Isso 
aconteceu de maneira consistente durante milhares de gerações, criando uma 
espécie simplesmente sem rabo e totalmente bípede na idade adulta. 
Esta característica biológica dos seres humanos, implicada diretamente 
no comportamento de andar, parte fundamental da forma com que o ser 
humano interage com o ambiente, foi selecionada no nível filogenético, eu não 
vivi nada disso, foi muito antes de eu nascer, ainda que tenha impacto em que 
eu sou e como me comporto, esta é uma característica não aprendida. 
Considere então que no campo da Análise do Comportamento usamos 
outra palavra como sinônimo de “aprendizagem”, que é “condicionamento”, 
então um comportamento que não é aprendido, mas já está presente 
independentemente disso também é chamado de Incondicionado. Assim, se 
 
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um comportamento for inato ao organismo, o chamamos de Incondicionado, 
como os comportamentos respondentes, que já estudamos lá atrás. Mas isto 
também é apresentado na relação que os indivíduos estabelecem com 
estímulos do ambiente, um estímulo pode exercer uma influência sobre um 
organismo que lhe é inata, não aprendida e, portanto, incondicionada, 
enquanto outras relações diferentes precisam ser ensinadas e, portanto, são 
condicionadas. 
Está difícil de entender ainda, eu sei, mas calma lá. O que é um estímulo 
reforçador ou um estímulo punidor? Vamos voltar por aí para que possamos 
entender direitinho. Um estímulo é uma mudança física do ambiente, ok, estes 
estímulos, quando se seguem a um comportamento, isto é, são consequências 
a ele, podem alterar a probabilidade deste comportamento acontecer no futuro, 
podem aumentar a probabilidade de o comportamento acontecer no futuro – e 
neste caso o chamamos de estímulo reforçador – ou podem diminuir a 
probabilidade de comportamento ocorrer no futuro – e neste caso o chamamos 
de estímulo punidor. 
Assim que nascemos, em geral, certos estímulos nos são aversivos, como 
a dor, o frio mais intenso, o calor mais intenso, a sensação de fome ou de 
sede, ou seja, são estímulos que nos comportamos para evitar, daí que 
também sejam punidores incondicionados, isto é, não aprendidos. Outros 
estímulos, por sua vez, são geralmente reforçadores, como o leite, o toque da 
mamãe, a retirada do frio, do calor, da sujeira. 
À medida em que o tempo passa, aprendemos a lidar com outros 
variados estímulos e a relação com eles é aprendida, condicionada, como 
nossa relação com o celular, com os livros, com a televisão, com os jogos de 
tabuleiro, com as várias manifestações da linguagem, entre outros. A própria 
dor, que inicialmente é punidora, pode se tornar reforçadora, veja o caso dos 
sadomasoquistas, para os quais a dor é pareada com estímulos sexuais e se 
torna também excitante ou ainda as muitas pessoas que passam a detestar 
leite, que se torna um estímulo aversivo. 
Estes estímulos incondicionados também são chamados de 
primários, são aqueles essenciais porque dizem respeito a nossa 
sobrevivência, alimentar-se, ir ao banheiro defecar ou urinar, beber água. 
 
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Enquanto os estímulos condicionados são chamados de secundários, 
porque são aprendidos e, apesar de muito importantes para nossa vida, não 
dizem respeito a nossa sobrevivência, mas a nossa qualidade de vida. 
 
Reforçadores Naturais e Arbitrários 
Há uma outra classificação importante a atentarmos aqui, que diz respeito 
a reforçadores naturais e arbitrários, que é fundamental reconhecer porque 
impacta diretamente em nossa prática como Analistas do Comportamento, 
porque nós podemos utilizar, em um processo de ensino, reforçadores 
arbitrários ou naturais, mas sempre é preciso levar o processo de ensino de 
modo que o comportamento, ao final, fique sob controle dos reforçadores 
naturais da tarefa, esse é sempre nosso objetivo. 
O que significa um reforçador natural? É aquele que mantém o 
comportamento quando ele aparece na vida real, fora de um procedimento de 
ensino. 
O que significa um reforçador arbitrário? É aquele que alguém planeja e 
implementa em um procedimento de ensino e que se difere do que mantém o 
comportamento na vida real. 
Imagine o caso de Zezinho, ele é um menino com autismo, que não gosta 
de brincar de carrinho, que é a brincadeira predileta de seus amiguinhos da 
escola e primos da mesma idade. Qual é o reforçador natural da atividade de 
brincar de carrinho? Se divertir na interação com os amigos e com os carrinhos 
de brinquedo. Mas como dito, isso não é reforçador para Zezinho, ele só quer 
saber de celular. O Analista do Comportamento poderia arranjar as coisas de 
tal modo que Zezinho, para jogar no celular, deve antes brincar de carrinho, o 
que faz com que o reforçador do carrinho, para ele, seja diferente do que o 
mantem na vida real, a diversão em si, o celular, neste caso, é um reforçador 
arbitrário. 
E é um problema a utilização de reforçadores arbitrários? Não, eles 
podem e devem ser utilizados, pois podem ser mais fáceis de manipular em 
diversos contextos, além de serem os únicos eficazes também em uma série 
de situações. Imagine que estamos ensinando um adolescente a pedir para ir 
ao shopping, não podemos levar ao shopping em todas as tentativas, mas 
 
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podemos oferecer um reforçador arbitrário ao pedido, desde que, sempre, 
todas as vezes, encaminhemos o comportamento para seu reforço natural ao 
fim do processo de intervenção. 
Assim, eu posso ensinar o Zezinho a brincar de carrinho com oreforçamento por meio do celular, mas ao fim, devemos tê-lo ensinado a gostar 
do carrinho e se divertir com ele. E como isso acontece? Por meio do 
condicionamento respondente, o reforçamento pelo celular “transfere 
estímulos” para o comportamento que o precedeu, isso é chamado de 
Princípio de Premack, que pode ser assim formulado: Todo comportamento 
de alta probabilidade, quando emitido contingente à emissão de um 
comportamento de baixa probabilidade, tende a aumentar a probabilidade 
deste comportamento a que seguiu. 
Deixe-me explicar um pouco melhor este Princípio: Imagine uma situação 
de liberdade total, a pessoa pode fazer o que bem quiser, sem ninguém ver ou 
controlar. Imagine que ela jogue videogame por 6 horas, este é, portanto, um 
comportamento de alta probabilidade e digamos que ela leia livros por somente 
20 minutos, em média. Digamos que então se estabeleça uma contingência em 
que, para que ela possa jogar videogame, ela deva antes ler e que isso ocorra 
consistentemente por algum tempo. Após algumas semanas, se colocado 
novamente em uma situação de total liberdade, o comportamento de ler, ainda 
assim, deve ocorrer em maior probabilidade, a pessoa aprende a “gostar” de 
ler. 
 
Reforçadores Específicos e Generalizados 
Outro conceito importante é este de reforçadores específicos e 
generalizados. Imagine que estejamos em uma conversa com alguém, que nos 
pergunta as horas, você ou eu normalmente olhamos em nosso relógio, 
observamos a disposição dos ponteiros e respondemos que horas são. Mas 
qual é o reforçador deste comportamento? Nosso interlocutor pode sorrir, pode 
agradecer, talvez só sair correndo para um compromisso para o qual está 
atrasado, não há uma consequência específica e direta para este nosso 
comportamento, trata-se de um reforçamento generalizado. 
 
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Agora vejamos uma outra situação completamente diferente, em que 
chegamos em um balcão e dizemos “Uma água, por favor!”, neste caso não 
adianta que o atendente sorria para mim, me elogie, toque em minha mão, me 
dê um joinha, o reforçador para este meu comportamento é um só, específico, 
é a água, me dê a água e aí sim, meu comportamento terá alcançado sua 
função, que é um reforçador específico. 
Quando trabalhamos com uma intervenção comportamental, uma 
intervenção ABA, podemos utilizar reforçadores específicos, que podem ser 
muito interessantes, podem funcionar muito bem. Mas outra forma de trabalhar, 
que é a mais utilizada, é por meio do reforço condicionado generalizado, ou 
seja, utilizamos algo que aprendemos que tem o valor reforçador generalizado, 
em geral trata-se de um conjunto de fichas, que em princípio não possuem 
valor nenhum, mas nós ensinados aos clientes que elas poderão ser trocadas 
por coisas diversas (daí o generalizado). 
Um outro exemplo deste tipo de reforçamento é o dinheiro, que em si 
mesmo não nos serve de nada, mas ele é um reforçador condicionado 
generalizado e pode ser trocado por diversas coisas diferentes e por isso 
mesmo é tão poderoso. Ocorre que a utilização de reforçadores condicionados 
generalizados praticamente impede a saciação, isto porque eu posso usar o 
reforçador para trocar por algo que eu queira agora e quando eu já tiver isto 
que eu queria, eu posso continuar me comportando para ter acesso agora a 
uma outra coisa, e outra, e outra, ou seja, sempre há motivação para coisas 
novas. 
Daí que seja imprescindível que aprendamos a trabalhar com a Economia 
de Fichas, porque ela é extremamente útil no contexto terapêutico e escolar, 
pois permite uma maior fluidez no trabalho, já que não se precisa disponibilizar 
o reforçador em cada tentativa com acerto e sim ao completar as fichas de uma 
prancha e também para reduzir o reforçamento e, portanto, a saciação, já que 
o reforço ocorre em pequenas porções, pois são necessárias várias fichas para 
ter acesso, além da possibilidade de utilizar as fichas para diferentes 
reforçadores, generalizando assim a relação de reforçamento.

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