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CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 A Relação dos Seres Humanos com os Estímulos do Ambiente Lucelmo Lacerda Estímulos Reforçadores Primários e Secundários Vamos voltar lá ao comecinho, às aulas sobre Behaviorismo Radical. Lembrem-se que o comportamento humano possui 3 níveis de controle: a) o filogenético (a base biológica); b) o ontogenético (a história de vida do indivíduo); e c) a cultura. O primeiro nível, filogenético, não faz parte de minha história individual, vem antes de mim, trata-se da seleção de características e comportamentos selecionados na história da espécie, em milhões e milhões de anos. A mudança de ambiente na África central, aproximadamente onde hoje fica o Chade, fez com que os primatas que, aleatoriamente, tinham um rabo um pouco menor e andavam de maneira mais apoiada em somente dois membros, isto é, de modo bípede, tivessem uma vantagem nesse novo contexto com muito menos árvores. Os primatas com rabos menores e com maior bipedismo se equilibravam e locomoviam um pouco melhor e, por isso mesmo, tinham mais acesso à comida e podiam se livrar mais rapidamente de ameaças e por isso vivam mais, melhor e tinham mais filhotes, que tinham mais probabilidade também de terem rabos um pouquinho menores do que a média e entre estes filhotes, aqueles de rabos ainda menores tinham mais vantagem e por isso, maior probabilidade de legar seus genes e apresentarem o bipedismo. Isso aconteceu de maneira consistente durante milhares de gerações, criando uma espécie simplesmente sem rabo e totalmente bípede na idade adulta. Esta característica biológica dos seres humanos, implicada diretamente no comportamento de andar, parte fundamental da forma com que o ser humano interage com o ambiente, foi selecionada no nível filogenético, eu não vivi nada disso, foi muito antes de eu nascer, ainda que tenha impacto em que eu sou e como me comporto, esta é uma característica não aprendida. Considere então que no campo da Análise do Comportamento usamos outra palavra como sinônimo de “aprendizagem”, que é “condicionamento”, então um comportamento que não é aprendido, mas já está presente independentemente disso também é chamado de Incondicionado. Assim, se CBI of Miami 4 um comportamento for inato ao organismo, o chamamos de Incondicionado, como os comportamentos respondentes, que já estudamos lá atrás. Mas isto também é apresentado na relação que os indivíduos estabelecem com estímulos do ambiente, um estímulo pode exercer uma influência sobre um organismo que lhe é inata, não aprendida e, portanto, incondicionada, enquanto outras relações diferentes precisam ser ensinadas e, portanto, são condicionadas. Está difícil de entender ainda, eu sei, mas calma lá. O que é um estímulo reforçador ou um estímulo punidor? Vamos voltar por aí para que possamos entender direitinho. Um estímulo é uma mudança física do ambiente, ok, estes estímulos, quando se seguem a um comportamento, isto é, são consequências a ele, podem alterar a probabilidade deste comportamento acontecer no futuro, podem aumentar a probabilidade de o comportamento acontecer no futuro – e neste caso o chamamos de estímulo reforçador – ou podem diminuir a probabilidade de comportamento ocorrer no futuro – e neste caso o chamamos de estímulo punidor. Assim que nascemos, em geral, certos estímulos nos são aversivos, como a dor, o frio mais intenso, o calor mais intenso, a sensação de fome ou de sede, ou seja, são estímulos que nos comportamos para evitar, daí que também sejam punidores incondicionados, isto é, não aprendidos. Outros estímulos, por sua vez, são geralmente reforçadores, como o leite, o toque da mamãe, a retirada do frio, do calor, da sujeira. À medida em que o tempo passa, aprendemos a lidar com outros variados estímulos e a relação com eles é aprendida, condicionada, como nossa relação com o celular, com os livros, com a televisão, com os jogos de tabuleiro, com as várias manifestações da linguagem, entre outros. A própria dor, que inicialmente é punidora, pode se tornar reforçadora, veja o caso dos sadomasoquistas, para os quais a dor é pareada com estímulos sexuais e se torna também excitante ou ainda as muitas pessoas que passam a detestar leite, que se torna um estímulo aversivo. Estes estímulos incondicionados também são chamados de primários, são aqueles essenciais porque dizem respeito a nossa sobrevivência, alimentar-se, ir ao banheiro defecar ou urinar, beber água. CBI of Miami 5 Enquanto os estímulos condicionados são chamados de secundários, porque são aprendidos e, apesar de muito importantes para nossa vida, não dizem respeito a nossa sobrevivência, mas a nossa qualidade de vida. Reforçadores Naturais e Arbitrários Há uma outra classificação importante a atentarmos aqui, que diz respeito a reforçadores naturais e arbitrários, que é fundamental reconhecer porque impacta diretamente em nossa prática como Analistas do Comportamento, porque nós podemos utilizar, em um processo de ensino, reforçadores arbitrários ou naturais, mas sempre é preciso levar o processo de ensino de modo que o comportamento, ao final, fique sob controle dos reforçadores naturais da tarefa, esse é sempre nosso objetivo. O que significa um reforçador natural? É aquele que mantém o comportamento quando ele aparece na vida real, fora de um procedimento de ensino. O que significa um reforçador arbitrário? É aquele que alguém planeja e implementa em um procedimento de ensino e que se difere do que mantém o comportamento na vida real. Imagine o caso de Zezinho, ele é um menino com autismo, que não gosta de brincar de carrinho, que é a brincadeira predileta de seus amiguinhos da escola e primos da mesma idade. Qual é o reforçador natural da atividade de brincar de carrinho? Se divertir na interação com os amigos e com os carrinhos de brinquedo. Mas como dito, isso não é reforçador para Zezinho, ele só quer saber de celular. O Analista do Comportamento poderia arranjar as coisas de tal modo que Zezinho, para jogar no celular, deve antes brincar de carrinho, o que faz com que o reforçador do carrinho, para ele, seja diferente do que o mantem na vida real, a diversão em si, o celular, neste caso, é um reforçador arbitrário. E é um problema a utilização de reforçadores arbitrários? Não, eles podem e devem ser utilizados, pois podem ser mais fáceis de manipular em diversos contextos, além de serem os únicos eficazes também em uma série de situações. Imagine que estamos ensinando um adolescente a pedir para ir ao shopping, não podemos levar ao shopping em todas as tentativas, mas CBI of Miami 6 podemos oferecer um reforçador arbitrário ao pedido, desde que, sempre, todas as vezes, encaminhemos o comportamento para seu reforço natural ao fim do processo de intervenção. Assim, eu posso ensinar o Zezinho a brincar de carrinho com oreforçamento por meio do celular, mas ao fim, devemos tê-lo ensinado a gostar do carrinho e se divertir com ele. E como isso acontece? Por meio do condicionamento respondente, o reforçamento pelo celular “transfere estímulos” para o comportamento que o precedeu, isso é chamado de Princípio de Premack, que pode ser assim formulado: Todo comportamento de alta probabilidade, quando emitido contingente à emissão de um comportamento de baixa probabilidade, tende a aumentar a probabilidade deste comportamento a que seguiu. Deixe-me explicar um pouco melhor este Princípio: Imagine uma situação de liberdade total, a pessoa pode fazer o que bem quiser, sem ninguém ver ou controlar. Imagine que ela jogue videogame por 6 horas, este é, portanto, um comportamento de alta probabilidade e digamos que ela leia livros por somente 20 minutos, em média. Digamos que então se estabeleça uma contingência em que, para que ela possa jogar videogame, ela deva antes ler e que isso ocorra consistentemente por algum tempo. Após algumas semanas, se colocado novamente em uma situação de total liberdade, o comportamento de ler, ainda assim, deve ocorrer em maior probabilidade, a pessoa aprende a “gostar” de ler. Reforçadores Específicos e Generalizados Outro conceito importante é este de reforçadores específicos e generalizados. Imagine que estejamos em uma conversa com alguém, que nos pergunta as horas, você ou eu normalmente olhamos em nosso relógio, observamos a disposição dos ponteiros e respondemos que horas são. Mas qual é o reforçador deste comportamento? Nosso interlocutor pode sorrir, pode agradecer, talvez só sair correndo para um compromisso para o qual está atrasado, não há uma consequência específica e direta para este nosso comportamento, trata-se de um reforçamento generalizado. CBI of Miami 7 Agora vejamos uma outra situação completamente diferente, em que chegamos em um balcão e dizemos “Uma água, por favor!”, neste caso não adianta que o atendente sorria para mim, me elogie, toque em minha mão, me dê um joinha, o reforçador para este meu comportamento é um só, específico, é a água, me dê a água e aí sim, meu comportamento terá alcançado sua função, que é um reforçador específico. Quando trabalhamos com uma intervenção comportamental, uma intervenção ABA, podemos utilizar reforçadores específicos, que podem ser muito interessantes, podem funcionar muito bem. Mas outra forma de trabalhar, que é a mais utilizada, é por meio do reforço condicionado generalizado, ou seja, utilizamos algo que aprendemos que tem o valor reforçador generalizado, em geral trata-se de um conjunto de fichas, que em princípio não possuem valor nenhum, mas nós ensinados aos clientes que elas poderão ser trocadas por coisas diversas (daí o generalizado). Um outro exemplo deste tipo de reforçamento é o dinheiro, que em si mesmo não nos serve de nada, mas ele é um reforçador condicionado generalizado e pode ser trocado por diversas coisas diferentes e por isso mesmo é tão poderoso. Ocorre que a utilização de reforçadores condicionados generalizados praticamente impede a saciação, isto porque eu posso usar o reforçador para trocar por algo que eu queira agora e quando eu já tiver isto que eu queria, eu posso continuar me comportando para ter acesso agora a uma outra coisa, e outra, e outra, ou seja, sempre há motivação para coisas novas. Daí que seja imprescindível que aprendamos a trabalhar com a Economia de Fichas, porque ela é extremamente útil no contexto terapêutico e escolar, pois permite uma maior fluidez no trabalho, já que não se precisa disponibilizar o reforçador em cada tentativa com acerto e sim ao completar as fichas de uma prancha e também para reduzir o reforçamento e, portanto, a saciação, já que o reforço ocorre em pequenas porções, pois são necessárias várias fichas para ter acesso, além da possibilidade de utilizar as fichas para diferentes reforçadores, generalizando assim a relação de reforçamento.