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Fatos, atos e negócios jurídicos

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IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL - FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
1. Conceitos iniciais
O mundo por si só é dinâmico,
decorrentes de fatos que ocasionam
efeitos em todos os âmbitos, logo, pode
provocar alterações também no mundo
jurídico. Dessa forma, os fatos jurídicos,
qualquer ocorrência com repercussão
para o direito, dividem-se em dois
grandes grupos: os fatos jurídicos
naturais e humanos.
Assim, os fatos jurídicos naturais
(stricto sensu - sentido estrito) são
aqueles decorrentes de fenômenos
naturais que, independentemente da
atuação humana, produzem efeitos
jurídicos, podem ser:
a) ordinários, que acontecem com
regularidade (previsíveis) no
decurso do tempo;
b) extraordinários, que não ocorrem
com regularidade, enquadrando
como caso fortuito ou força maior.
Por outro lado, os fatos jurídicos
humano (fato jurígeno) é definido pela
presença da vontade humana (elemento
volitivo), abrangendo tanto os atos
lícitos quanto os ilícitos (arts. 186, 187
e 188, CC), sendo o primeiro também
chamado de atos jurídicos em sentido
amplo (lato sensu), subclassificado em:
a) ato jurídico em sentido estrito
(stricto sensu): mera realização
da vontade humana de um
determinado direito, sem a criação
de instituto jurídico próprio;
b) negócio jurídico: fato jurídico
com elemento volitivo, conteúdo
lícito e regulação de deveres e
direitos próprios dos envolvidos;
c) ato-fato jurídico: comportamento
derivado do homem, que produz
efeitos jurídicos, mas desprovido
de voluntariedade e consciência
em direção ao resultado jurídico
existente.
Ademais, no ato jurídico em sentido
estrito há uma manifestação de vontade
do agente, mas as suas consequências
são as previstas em lei e não na
vontade das partes, previsto no art. 185
do CC, visto que determina que as
regras do negócio jurídico podem ser
também aplicadas à ele.
Fato
qualquer
ocorrência
Fato
jurídico
lato
sensu
Fato
natural
Ordinário
nascimento e morte
Extraor-
dinário
Caso fortuito
evento totalmente
imprevisível
Força maior
evento previsível,
mas inevitável)
Fato
humano
Lícito
Ato
jurídico
lato
sensu
Negócio jurídico
composição de
vontades
(interesses)
- Cria instituto
próprio, novo
Ex.: Contrato
Ato jurídico
stricto sensu
Efeitos legais
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
- Não cria algo
novo
Ex.: Pagamento
Ilícito
Penal,
Administrativo e
Civil (art. 186, CC)
= abuso de direito
(art. 187, CC)
Fato não jurídico
2. Negócio jurídico
O negócio jurídico é uma espécie do
gênero ato jurídico em sentido amplo,
sendo um ato cujo fim é modificar as
relações jurídicas entre os particulares.
Por meio de uma declaração de vontade,
segundo o princípio da autonomia
privada, com a finalidade negocial, para
criar, adquirir, transferir, modificar ou
extinguir direitos.
Assim, pode ser entendido como fato
jurídico que consiste em uma declaração
de vontade à qual o ordenamento jurídico
atribuirá os efeitos designados como
desejados, desde que sejam
respeitados os pressupostos de
existência, os requisitos de validade e
os fatores de eficácia (impostos pela
norma jurídica).
2.1 Principais classificações
A classificação do negócio jurídico tem
como objetivo enquadrar um determinado
instituto jurídico, bem como demonstrar
a sua natureza jurídica, assim, os
principais enquadramentos são:
a) quanto às manifestações de
vontade dos envolvidos:
i. unilaterais: declaração de vontade
emana de apenas uma pessoa, com um
único objetivo, classificados ainda em
receptícios (o destinatário deve ter
ciência) e não receptícios;
ii. bilaterais: há duas manifestações
de vontade coincidentes sobre o objeto
ou bem jurídico tutelado;
iii. plurilaterais: envolvem mais de
duas partes, com interesses coincidentes
no plano jurídico.
b) quanto às vantagens
patrimoniais para os
envolvidos:
i. gratuitos: outorgam vantagens sem
impor ao beneficiário a obrigação de uma
contraprestação, ou seja, não envolvem
sacrifício patrimonial de todas as partes;
ii. onerosos: envolvem sacrifícios e
vantagens patrimoniais para todas as
partes no negócio.
c) quanto aos efeitos, no aspecto
temporal:
i. inter vivos: produção de efeitos
durante a vida dos negociantes ou
interessados;
ii. mortis causa: efeitos só ocorrem
após a morte de determinada pessoa.
d) quanto à necessidade ou não de
solenidades e formalidades:
i. formais ou solenes: obedecem a
uma forma ou solenidade prevista em lei
para a sua validade e aperfeiçoamento;
i. informais ou não solenes: admitem
forma livre, constituindo regra geral (art.
107, CC), em sintonia com o princípio da
operabilidade, no sentido de simplicidade
ou de facilitação.
e) quanto à independência ou
autonomia:
i. principais ou independentes: não
dependem de qualquer outro negócio
jurídico para terem existência e validade;
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
ii. acessórios ou dependentes:
existência está subordinada a outro
negócio jurídico, denominado principal.
f) quanto às condições pessoais
especiais dos negociantes:
i. impessoais: não dependem de
qualquer condição especial dos
envolvidos, podendo a prestação ser
cumprida tanto pelo obrigado quanto por
um terceiro;
ii. personalíssimos ou intuitu
personae: dependentes de uma
condição especial de um dos
negociantes, havendo uma obrigação
infungível.
g) quanto à sua causa
determinante:
i. causais ou materiais: motivo
consta expressamente do seu conteúdo;
ii. abstratos ou formais: aqueles cuja
razão não se encontra inserida no
conteúdo, decorrendo dele naturalmente.
h) quanto ao momento de
aperfeiçoamento:
i. consensuais: geram efeitos a partir
do momento em que há o acordo de
vontades entre as partes;
ii. reais: geram efeitos a partir da
entrega do objeto, do bem jurídico
tutelado.
i) quanto à extensão dos efeitos:
i. constitutivos: geram efeitos ex
nunc, a partir da sua conclusão;
ii. declarativos: geram efeitos ex
tunc, a partir do momento do fato que
constitui o seu objeto.
2.2 Elementos constitutivos
2.2.1 Elementos essenciais do negócio
jurídico
O negócio jurídico tem três planos:
existência, validade e eficácia, ou seja,
pressupostos, requisitos e efeitos.
Assim, o plano de existência não é
previsto expressamente no CC, porém,
trata-se do plano substantivo do
negócio jurídico, com os pressupostos
de composição deste, sendo eles:
a) manifestação de vontade;
b) objeto;
c) forma;
d) agente.
* para memorizar: MOFA.
Na falta de um desses requisitos, o
negócio jurídico é inexistente.
Em continuidade, tem-se no plano de
validade, as caracterśticas para os
substantivos anteriores, visto que
qualifica o negócio para que ele tenha
aptidão de gerar efeitos, ficando dessa
forma:
a) manifestação de vontade: livre e
de boa fé;
b) objeto: possível, determinado ou
determinável;
c) forma: prescrita ou não defesa em
lei;
d) agente: capaz.
Os pressupostos de validade estão
previstos no art. 104 do CC.
Por fim, o plano de eficácia refere-se
à produção dos efeitos jurídicos do
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
negócio, pressupondo que este seja
existente e válido.
Plano de eficácia
condição, termo, encargo
ou modo, consequências
do inadimplemento e outros
efeitos do negócio
Plano de validade
capacidade, liberdade;
licitude; possibilidade e
determinabilidade
adequação;
requisitos da validade
P. existência
- agente;
- vontade;
- objeto;
- forma
pressupostos
de existência
2.2.2 Elementos naturais ou
identificadores do negócio jurídico
Os elementos naturais do negócio
jurídico são aqueles que identificam
determinado negócio jurídico celebrado.
Têm a sua origem nos efeitos comuns do
negócio, sem que exista a menção
expressa da sua existência, nascendo
como consequência comum da norma
jurídica.
Portanto, pode estar presente nos três
planos do negócio.
2.2.3 Elementos acidentais do negócio
jurídico
Os negócios jurídicos para sua
formação precisam inicialmente existir,
ou seja, passando pelo plano de
existência, precisam ser válidos, o que
está dentro do plano de validade, e as
consequências dos negócios jurídicos,
com a criação, modificação ou extinção
dedireitos, ocorrem no chamado plano
de eficácia.
Dessa forma, os elementos acidentais
podem ou não estar presentes no
negócio jurídico (não são obrigatórios),
sendo acrescentados pela vontade das
partes para modificação dos negócios
jurídicos, sendo eles: condição, termo e
o encargo ou modo.
2.2.3.1 Condição
A condição é o elemento acidental do
negócio jurídico, que relaciona os seus
efeitos a evento futuro e incerto (art.
121, CC).
Possuindo três elementos,
voluntariedade, futuridade e incerteza,
isto é:
a) voluntariedade: as partes devem
querer e determinar o evento;
b) futuridade: o evento não pode se
referir a fato passado ou presente;
c) incerteza: deve ser incerto na
mente da pessoa e, também, na
realidade, se o fato futuro for
certo, como a morte, não será
mais condição, mas sim termo.
Desta forma, enquanto a condição não
se implementar, os efeitos do negócio
jurídico não podem ser exigidos.
Em regra, os negócios jurídicos de
natureza patrimonial admitem condição.
Entretanto, cabe esclarecer que nem
todos os negócios jurídicos admitem o
condicionamento de seus efeitos à
imposição de uma condição, chamados
de atos puros, que são:
a) os negócios jurídicos que, por sua
natureza, não admitem incerteza,
como a aceitação e a renúncia de
herança;
b) os atos jurídicos em que os seus
efeitos são determinados em lei;
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
c) os atos jurídicos de Direito de
Família, em que não a atuação do
princípio da autonomia da
vontade;
d) os atos referentes ao exercício
dos Direitos de Personalidade,
como o direito à vida, à
integridade física, à honra e à
dignidade pessoal.
Ademais, a condição possui diferentes
classificações, quanto à licitude,
possibilidade e a origem.
a) quanto à licitude:
Refere às condições em concordância
ou não com o ordenamento jurídico,
ordem pública e aos bons costumes.
Assim, as condições ilícitas, podem se
subdividir em: perplexas, que tiram os
efeitos do negócio jurídico; e puramente
potestativas, que há puro arbítrio de
apenas uma das partes (art. 122, CC).
Já o art. 123 do CC dispõe sobre
certas condições que provocam a
nulidade do negócio jurídico, inclusive
não sendo possível a convalidação do
negócio jurídico.
b) quanto à possibilidade:
Refere-se a possibilidade ou não da
condição no plano físico e jurídico, sendo
que as impossíveis invalidam o negócio
jurídico quando suspensivas (art. 123, I,
CC). Ademais, o art. 124 do CC dispõe
sobre as condições não escritas.
c) quanto à origem:
Divide em três, causal quando decorre
de evento da natureza, potestativa,
quando depende da vontade das partes,
subdividindo em puramente potestativa,
quando há a vontade de apenas uma das
partes, e simplesmente potestativa, em
que há vontade de todas as partes
envolvidas. Por fim, de origem mista,
conta com vontade das partes e ainda de
eventos da natureza.
d) quanto aos efeitos:
A condição pode ser suspensiva,
quando suspende a aquisição e o
exercício do direito de fato (art. 125, CC).
* para memorizar: SE.
Pode ser também resolutiva, quando
não suspende a aquisição e nem o
exercício do direito. É aquela condição
em que a pessoa já tem o direito, o qual
se extingue quando da ocorrência da
condição (art. 127, CC).
* para memorizar: ENQUANTO.
Nos negócios de duração
continuada, a condição resolutiva não
gera a extinção dos atos anteriores tendo
em vista a conservação do negócio
jurídico (art. 128, CC).
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
Outras disposições sobre condições
estão previstas nos seguintes artigos do
CC:
2.2.3.2 Termo
Termo é o elemento acidental do
negócio jurídico, que relaciona o seu
efeito a um evento futuro e certo.
* para memorizar: QUANDO.
Assim, existe o termo inicial e final,
podendo ter como unidade de medida a
hora, dia, mês ou ano. Portanto, o termo
inicial não suspende a aquisição do
direito por ser evento futuro, mas dotado
de certeza (art. 131, CC).
A contagem do prazo ocorre de acordo
com as disposições do art. 132 do CC:
O termo possui diferentes
classificação, sendo elas:
a) quanto à origem:
Pode ser legal, quando decorre de lei
ou convencional, decorrente da vontade
e do acordo das partes.
b) quanto à certeza:
Pode ser certo e determinado,
quando afirma-se que irá ocorrer o termo
e quando, ou incerto ou indeterminado,
sabe o que o evento ocorrerá, mas não
sabe quando.
Ademais, existem atos que não
admitem termo:
a) aceitação ou a renúncia da
herança;
b) adoção;
c) emancipação;
d) reconhecimento de filho e outros.
Por fim, o Termo Final resolve os
efeitos do negócio jurídico.
2.2.3.3 Encargo
Encargo é o elemento acidental do
negócio jurídico, trata-se de ônus
adicional que é introduzido no ato de
liberalidade, seja por doação,
testamento ou declarações unilaterais de
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
vontade, Assim é uma cláusula
acessória que restringe a liberdade do
beneficiário no que diz respeito à forma
de utilização do bem ou do valor
recebido.
Não suspendendo a aquisição nem o
exercício do direito, exceto se houver
previsão no ato de instituição do encargo
(art. 136, CC).
Portanto, se a cláusula de imposição
do encargo não for cumprida, o ato de
liberalidade poderá ser revogado por
meio de ação judicial própria.
Por fim, em regra, o encargo ilícito ou
impossível é considerado não escrito
(inexistente). Mas, se esse for o motivo
determinante do negócio jurídico, o
negócio será nulo (art. 137, CC).
Espécies Carac. TIpo de NJ Aquisição Exercício
Suspensiva
SE
Evento
futuro e
incerto
Bilateral Suspende Suspende
Resolutiva
ENQUANT
O
Evento
futuro e
incerto
Bilateral Nãosuspende
Não
suspende
Termo
QUANDO
Evento
futuro e
certo
Bilateral Nãosuspende Suspende
Encargo
PARA QUE
Disposição
de vontade
de um
agente
Unilateral
Não
suspende,
salvo
previsão
Não
suspende,
salvo
previsão
3. Representação
A representação consiste no instituto
que permite a atuação jurídica de uma
pessoa em nome de outra, constituindo
uma verdadeira legitimação, em que
seus poderes podem ser conferidos por
lei ou voluntariedade do interessado (art.
115, CC).
Assim, em relação à classificação,
pode ser de três espécies:
a) legal: conferida pela lei;
b) judicial: nomeado pelo juiz;
c) convencional: concedida pelo
interessado.
Ademais, aquele que recebe os
poderes é chamado de representante.
Aliás, não deve ser realizada de qualquer
forma, sendo a primeira que o
representante atua em nome do
representado nos limites dos seus
poderes (art. 116,CC).
Dessa forma, caso o representante
ultrapasse essa máxima, haverá o
excesso de poder, podendo ser
responsabilizado por isso (art. 118, CC).
Sob essa ótica, enquanto não houver
ratificação dos atos, o representante será
um mero gestor de negócios (art. 665,
CC).
Além disso, podem ocorrer situações
em que exista conflito de interesses
entre o representante e o representando,
inclusive abrindo possibilidade para
anulabilidade do negócio jurídico
celebrado (art. 119, CC).
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
Desse modo, só haverá anulabilidade
do negócio jurídico se o conflito de
interesse for de conhecimento do
terceiro beneficiado, caso esse esteja de
boa-fé, não se admite a anulabilidade.
Posto isso, o conflito de interesses
pode se manifestar de duas formas:
a) abuso de poder: atuação do
representante com falta de
poderes ou contrários à sua
destinação;
b) excesso de poder: representante
ultrapassa os limites da atividade
representativa.
Assim, em ambas as situações o
negócio jurídico é celebrado sem poder
de representação, podendo ser anulado,
logo, o prazo decadencial para a busca
de anulação do ato é de 180 dias, a
contar da conclusão do negócio ou
cessação da incapacidade (art. 119,
CC).
3.1 Contrato consigo mesmo
Pode ocorrer algumas situações
específicas no contexto da representação
a dupla representação e a dupla
qualidade de representação, isto é:
a) dupla representação: ambas as
partes celebrantes do negócio
jurídico se manifestam por meio de
um mesmo representante, em
que somente os representados
adquirem direitos e obrigações;
b) dupla qualidadede
representação: representante
atua como duplo papel, atuando
como representante e dono do
negócio jurídico, fazendo um
contrato consigo mesmo ou
autocontratação.
Portanto, essa última modalidade é
permitida desde que a lei ou
representado autorize sua realização (art.
117, CC).
Além do mais, há possibilidade que o
representante transfere a outrem os
poderes recebidos, chamado de
substabelecimento.
Por fim, existe a modalidade de
mandato em causa própria, relacionada
a dupla qualidade de representação,
quando o mandatário recebe poderes
para alienar determinado bem, por
determinado preço, a terceiro e inclusive
a si próprio. Além disso, a sua
revogação não tem eficácia, não se
extinguindo pela morte do
representado, como também é
dispensado de prestar contas do
exercício do referido mandado.
4. Defeitos e vícios do negócio jurídico
A vontade é elemento fundamental
para que os atos e negócios jurídicos
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
sejam efetivados, devendo ocorrer de
forma livre, espontânea e clara, para que
o negócio alcance os efeitos almejados.
Assim, compreende como vícios da
vontade ou do consentimento: erro, dolo,
coação, estado de perigo e lesão. Há
também a fraude como credores e o
enquadramento ou não da simulação
como vício social.
4.1 Do erro e da ignorância
O erro é uma falsa noção em relação
a uma pessoa, ao objeto do negócio ou
a um direito, que acomete a vontade de
uma das partes do negócio jurídico,
sendo passível de anulação, desde que o
erro seja substancial (art. 138, CC).
Para tanto, o erro será substancial
quando (art. 139, CC):
a) interessar à natureza do negócio
(error in negotio);
b) interessar ao objeto principal da
declaração (error in corpore);
c) interessar a algumas das
qualidades a ele essenciais (error
in substantia);
d) interessar identidade ou qualidade
essencial da pessoa a quem se
refira a declaração de vontade
(erro in persona);
e) erro de direito e não implicar
recusa à aplicação da lei (erro de
direito ou erro iuris).
Ademais há ainda o erro acidental,
que diz respeito aos elementos
secundários e não essenciais ao negócio
jurídico, este não gera anulabilidade,
visto que não atinge o plano de sua
validade (art. 142, CC).
Assim, nos casos de erro quanto ao
objeto ou pessoa, não será o negócio
jurídico anulado se for possível
identificar posteriormente.
Ademais, o falso motivo, em regra,
não pode gerar anulabilidade do negócio,
a não ser que seja expresso como razão
determinante do negócio, conhecido
como erro quanto ao fim colimado (art.
140, CC).
De acordo com o art. 141 do CC, a
transmissão errônea da vontade por
meios interpostos é anulável nos
mesmos casos em que ocorre a
declaração direta, devendo recair sobre
elemento substancial do negócio (art.
139, CC) e que o destinatário da
declaração possa perceber seu equívoco
(art. 138, CC).
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
Há ainda o erro material retificável
(art. 143, CC), que não possibilita a
anulação do negócio por erro de cálculo,
mas autoriza sua retificação da
declaração de vontade.
Prevê o art. 144 do CC que o erro não
prejudica a validade do negócio jurídico
se a pessoa, a quem dirige a
manifestação de vontade, oferecer
realizar conforme a vontade real do
manifestante.
4.2 Do dolo
Define-se como o artifício ardiloso
empregado para enganar alguém, a fim
de benefício próprio, em que o negócio
praticado com ele é anulável (art. 145,
CC), havendo algumas modalidades:
a) dolo essencial: uma das partes
do negócio utiliza artifícios
maliciosos, para levar a outra a
praticar um ato que não praticaria
normalmente, visando a obter
vantagem, com vistas ao
enriquecimento sem causa;
b) dolo acidental: que não é causa
para o negócio, não pode gerar a
sua anulabilidade, mas somente
a satisfação das perdas e danos
a favor do prejudicado, assim,
haverá dolo acidental quando o
negócio seria praticado pela parte,
embora de outro modo (art. 146,
CC);
c) dolo de terceiro: ocorre quando a
parte a quem se aproveita tiver ou
devesse ter conhecimento. Em
caso contrário, ainda que válido o
negócio jurídico, o terceiro
responderá por todas as perdas
e danos da parte a quem
ludibriou (art. 148, CC);
d) dolo de representante legal: de
uma das partes só obriga o
representado a responder
civilmente até a importância do
proveito que teve. Mas, se for do
representante convencional, o
representado responderá
solidariamente com ele por perdas
e danos (art. 149, CC);
Ademais, a omissão intencional para
benefício próprio configura dolo também
(art. 147, CC), e caso ambas as partes
tenham condutas dolosas, não poderão
arguir a anulabilidade do negócio jurídico
(art. 150, CC).
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
Por fim, o dolo recebe ainda algumas
classificações doutrinárias, sendo elas:
a) Quanto ao conteúdo:
- Dolus bonus (dolo bom):
refere-se ao dolo tolerável, sendo
exageros do comerciante em
relação ao produto, não sendo
passível de anulação, a não ser
que seja o negócio celebrado por
publicidade enganosa;
- Dolus malus (dolo mau): ação ou
omissão a fim de enganar alguém
e lhe causar prejuízo, aqui é o
caso da publicidade enganosa,
sendo então o negócio anulável;
b) Quanto à conduta das partes:
- Dolo positivo (ou comissivo):
aquele praticado por uma ação,
conduta positiva;
- Dolo negativo (ou omissivo):
aquele praticado por uma
omissão;
- Dolo recíproco ou bilateral:
situação em que ambas as partes
agem dolosamente, uma tentando
prejudicar o outro.
4.3 Da coação
Definida como a pressão física ou
moral exercida sobre o negociante,
visando obrigá-lo a assumir uma
obrigação que não lhe interessa,
assim, para que vicie o negócio jurídico é
preciso que tenha relevância (art. 151,
CC).
Assim, pode ser classificada como:
a) física (vis absoluta):
constrangimento corporal que
retira toda capacidade de
manifestação de vontade, sendo
então uma nulidade absoluta;
b) coação moral ou psicológica
(vis compulsiva): fundada de
temor iminente e considerável à
pessoa do negociante, à sua
família, à pessoa próxima ou aos
seus bens, gerando anulabilidade
do ato (art. 151, CC).
Dessa forma, para que possa influir a
gravidade da pressão exercida, o
magistrado deverá levar em
consideração sexo, a idade, a condição,
a saúde, o temperamento do paciente e
todas as demais circunstâncias do
caso concreto (art. 152, CC).
Para tanto, o prazo decadencial para
propositura de ação anulatória é de
quatro anos, contados de quando
cessar a coação (art. 178, CC).
IZABELLA FERREIRA REIS - 2024
Ademais, a coação exercida por
terceiro gera anulabilidade do negócio,
desde que o beneficiado dela tiver ou
devesse ter conhecimento,
respondendo ambos por perdas e danos
(art. 154, CC).
Por outro lado, o negócio jurídico
permanecerá válido se o negociante
beneficiado não tiver ou não devesse
ter conhecimento, mas, não afasta o
dever de indenizar (art. 155, CC).
Por fim, não constituem coação (art.
153, CC):
a) ameaça relacionada com exercício
regular de um direito reconhecido;
b) mero temor reverencial ou receio
de desagradar alguém.
4.4 Do estado de perigo
Haverá estado de perigo toda vez que
o próprio negociante, ou alguém próximo,
estiver em perigo, estando a outra parte
ciente e usando a situação para
celebrar o negócio (art. 156, CC).
Assim, o juiz decidirá pelas
circunstâncias fáticas e regras da razão.
Portanto, é preciso a presença de dois
elementos, o objetivo, o grande temor
do negociante que acaba celebrando o
negócio por uma prestação exorbitante, e
o subjetivo, conhecimento da situação
de risco que atinge a ele.
Logo, a sanção aplicada é a
anulação, havendo o prazo decadencial
de quatro anos, a contar da data da
celebração do ato, para ação anulatória
(arts. 171 e 178, CC).
4.5 Da lesão
Por lesão compreende-se a
desproporção das prestações, que
gera uma onerosidade excessiva e um
prejuízo a uma das partes, em razão da
inexperiência ou necessidade do
lesado (art. 157, CC). Havendo, assim,
dois elementos, objetivo na onerosidade
excessiva, subjetivo ,a necessidade ou
inexperiência.
IZABELLA FERREIRA REIS -2024
Por fim, não se deve confundir lesão
com estado de perigo, conforme quadro
abaixo:
Lesão Estado de perigo
Elemento subjetivo:
premente
necessidade ou
inexperiência
Elemento subjetivo:
perigo que acomete o
próprio negociante,
pessoa de sua família
ou amigo íntimo,
sendo esse de
conhecimento do
outro negociante
Elemento objetivo:
prestação
manifestamente
desproporcional
(lesão objetiva)
Elemento objetivo:
obrigação
excessivamente
onerosa (lesão
objetiva)
Aplica-se a revisão
negocial pela regra
expressa do art. 157,
§2°, CC, hipótese de
subsunção
Há entendimento
doutrinário de
aplicação analógica
do art. 157, $2°, CC,
visando à
conservação negocial.
Adotada essa tese, há
hipótese de
integração, não de
subsunção.
4.6 Da fraude contra credores
Os negócios de transmissão gratuita
de bens ou remissão de dívida, se os
praticar o devedor já insolvente, ou por
eles reduzido à insolvência, ainda
quando o ignore, poderão ser anulados
pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos. Igual direito
assiste aos credores cuja garantia se
torna insuficiente (art. 158, CC).
Para tanto, há o elemento subjetivo,
que é a intenção de prejudicar, e o
objetivo, diminuição patrimonial do
devedor ou criado um estado de
insolvência (eventus damni).
Além disso, somente os credores que
já o eram no momento da disposição
poderá promover tal ação, atentando-se
ao prazo decadencial de quatro anos,
contados da celebração do negócio
fraudulento (art. 178, CC).
Ainda acerca da anulabilidade do
negócio, é preciso ter em mente a
seguinte questão:
Disposição onerosa de
bens com intuito de fraude.
Conclui fraudulento
(consilium fraudis) + evento
danosos (eventus damni)
Disposição gratuita de bens
ou remissão de dívida
Basta o evento danosos
(eventus damni)
Bem como será anulável os contratos
onerosos do devedor insolvente quando
esta, ou houver motivo para ser,
conhecida do outro contratante (art.
159, CC).
Assim, anulados os negócios
fraudulentos, a vantagem resultante
reverterá em proveito do acervo sobre
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que se tenha de efetuar o concurso de
credores (art. 165, CC)
Em continuidade, se o adquirente dos
bens do devedor insolvente não tiver
pago o preço e este for próximo ao valor
da dívida, deverá depositá-lo em juízo,
denominada fraude não ultimada, mas,
caso seja preço inferior, para a
conservação dos bens, poderá depositar
o montante que lhes corresponda ao
valor real (art. 160, CC).
Por fim, presumirá fraudulenta o
privilégio do devedor à algum dos seus
credores (art. 163, CC).
4.7 Simulação
A simulação do negócio jurídico ocorre
quando há uma falsa declaração de
vontade de quem praticou o negócio, de
forma a fazer parecer real o acordo que
tem por origem uma ilicitude, fugindo de
obrigações ou prejudicar terceiros (art.
167, CC).
4.8 Invalidade do negócio jurídico
Existem três tipos de invalidade, a
inexistência, a segunda nulidade e a
terceira a anulabilidade.
4.8.1 Da inexistência
Refere-se ao negócio jurídico que não
gera efeitos por não preencher seus
requisitos mínimos, sejam eles gerais ou
categorias.
4.8.2 Da nulidade absoluta
A nulidade é conceituada pela doutrina
como a sanção imposta pela lei, nas
hipóteses em que não estão
preenchidos os requisitos básicos
para a existência válida do ato negocial.
Assim, a nulidade absoluta ofende
regramentos ou normas de ordem
pública, sendo o negócio absolutamente
inválido, a saber (art. 166, CC):
a) celebrado por absolutamente
incapaz, sem a devida
representação;
b) objeto for ilícito, impossível,
indeterminado ou indeterminável;
c) motivo determinante for ilícito;
d) negócio sem formalidade e
solenidade prescrita em lei;
e) objetivo fraudar a lei imperativa;
f) quando a lei expressamente
declarar.
4.8.3 Da nulidade relativa ou
anulabilidade
Na anulabilidade o negócio jurídico
não o considera nulo em essência, mas
sim anulável, vide art. 171 do CC.
Assim, não deve ser confundida com a
nulidade, sendo que esta remete ao
âmbito privado da pessoa prejudicada,
podendo ser sanada a qualquer
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momento, sendo suprida pelo juiz a favor
dos interesses das partes, para tanto:
a) negócio celebrado por
relativamente incapaz, sem a
devida assistência;
b) erro, dolo, coação moral, lesão,
estado de perigo ou fraude contra
credores.
Nos casos de anulabilidade, o seu
reconhecimento deverá ser pleiteado por
meio da denominada ação anulatória.
Negócio nulo Negócio anulável
- Negócio celebrado por
absolutamente incapaz,
sem devida representação;
- Objeto ilícito, impossível,
indeterminado ou
indeterminável;
- Motivo a ambas as partes
for ilícito;
- Desrespeito à forma ou
preterida alguma
solenidade.
- Negócio celebrado por
relativamente incapaz, sem
a devida assistência;
- Quando houver vício
acometendo o negócio
jurídico: erro, dolo, coação
moral/psicológica, estado
de perigo, lesão e fraude
contra credores
- Lei prevê anulabilidade
- Objetivo o negócio de
fraude à lei imperativa;
- Lei prevê a nulidade
absoluta (nulidade textual)
ou proibir o ato sem
cominar sanção (nulidade
virtual);
- Negócio simulado, incluída
a reserva mental;
- Presença de coação física
(vis absoluta).
- Nulidade absoluta
(nulidade);
- Ação declaratória de
nulidade, imprescritível;
- Não pode ser suprida nem
sanada, inclusive pelo juiz.
Exceção: conversão do
negócio jurídico (art. 170,
CC).
- Nulidade relativa
(anulabilidade);
- Ação anulatória, com
previsão de prazos
decadenciais;
Pode ser suprida, sanada,
inclusive pelas partes
(convalidação livre);
- Ministério Público não
pode intervir na ação
anulatória, somente os
interessados. Não cabe
decretação de ofício pelo
juiz.
- Sentença da ação
anulatória tem efeitos inter
partes. Quanto ao debate
de serem tais efeitos ex
nunc ou ex tunc, há uma
tendência atual em se
seguir a última posição

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